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........... - 7 - Prefácio O SER político eclode em sonetos desenhados pelos dedos e esculpidos nos pensamentos. Evidência clara da angústia do poeta frente a tantas desigualdades sociais existentes no mundo, representadas em universos interiores e exteriores, que vão se constituindo em todas as instâncias da atividade do indivíduo, na família, no trabalho, enfim, em seu convívio social. O Poeta não sabe e nem pode calar. Manifesta-se. Vive intensamente as injustiças e as desigualdades. Critica. Conclama a todos a pensarem, a agirem diante da infâmia, do descaso e do sofrimento. Revigora-se na identificação da mesquinhez da humanidade e reage diante dos mastodontes da ignorância do povo e da prepotência dos que detêm o poder, a “Autoridade Máxima”. O “Pão e Circo” de Roma ainda é o alimento servido aos aflitos, aos desesperados. Num ambiente de trabalho onde o esforço do aprimoramento pessoal é engolido pela indecência dos privilégios eleitoreiros, surge a poesia em “Meritocracia”, “Merecimento” e a abominável realidade das indicações despudoradas relatadas em “QI”. A angústia “simbolista” do autor ao avaliar o quadro social de nosso país é o combustível que mantém acesa a chama que alimenta a vontade de lutar contra o mal. O mal que há em todos nós, no ser humano, estereotipado no mau político, desonesto, representante de todo egoísmo e orgulho que há em nosso íntimo: “(...)Quem é essa gente que elege bandidos? Que vota em palhaços, ladrões, descarados? Por simples migalhas já são corrompidos E vendem seus votos por meros trocados?(...)”

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Prefácio

O SER político eclode em sonetos desenhados pelos dedos

e esculpidos nos pensamentos. Evidência clara da angústia do poeta frente a tantas desigualdades sociais existentes no mundo, representadas em universos interiores e exteriores, que vão se constituindo em todas as instâncias da atividade do indivíduo, na família, no trabalho, enfim, em seu convívio social.

O Poeta não sabe e nem pode calar. Manifesta-se. Vive intensamente as injustiças e as desigualdades. Critica. Conclama a todos a pensarem, a agirem diante da infâmia, do descaso e do sofrimento. Revigora-se na identificação da mesquinhez da humanidade e reage diante dos mastodontes da ignorância do povo e da prepotência dos que detêm o poder, a “Autoridade Máxima”. O “Pão e Circo” de Roma ainda é o alimento servido aos aflitos, aos desesperados.

Num ambiente de trabalho onde o esforço do aprimoramento pessoal é engolido pela indecência dos privilégios eleitoreiros, surge a poesia em “Meritocracia”, “Merecimento” e a abominável realidade das indicações despudoradas relatadas em “QI”.

A angústia “simbolista” do autor ao avaliar o quadro social de nosso país é o combustível que mantém acesa a chama que alimenta a vontade de lutar contra o mal. O mal que há em todos nós, no ser humano, estereotipado no mau político, desonesto, representante de todo egoísmo e orgulho que há em nosso íntimo:

“(...)Quem é essa gente que elege bandidos? Que vota em palhaços, ladrões, descarados? Por simples migalhas já são corrompidos E vendem seus votos por meros trocados?(...)”

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Mas o autor não enxerga apenas o erro, o mal. O autor é esperançoso e confia em si e na humanidade. Esclarece que podemos mudar a realidade dos fatos e que devemos lutar para transformar a sociedade. Podemos ter representantes que lutem pela educação, pela igualdade, pela conquista de dias melhores, pois há, pelo menos o “Discurso do Político Honesto” a se contrapor ao “Discurso do Político Desonesto”.

Já na segunda parte, com uma abordagem mais cotidiana, o autor eleva as qualidades humanas e situa o leitor numa atmosfera de busca de equilíbrio por meio da moralidade, da religiosidade, da participação social e política. Exalta profissões como a do Professor, “Mestre dos Mestres”, a do edificador, “Soneto de um Pedreiro”. Destaca o sofrimento do alcoólatra, do viciado, da prostituta, do pedinte, do presidiário. É a realidade que nos cerca e que nos faz distinguir o certo do errado, mesmo quando não temos certeza do que isto significa no campo do julgamento

Comtempla o mar, o rio, a natureza. Contempla o espírito, buscando “Respostas da Alma”. Orienta à “Onipresença” do homem diante da vida, como à imagem de Deus. Fala da “Fé”, da “Prece”, do “Ser Feliz” na simplicidade e na contemplação. Ensina-nos que “sem fé todas as conquistas são vazias”. Adverte-nos a sermos sábios, cantando ao atravessarmos temporais, pois a “Sabedoria” é advinda da humildade.

Entrega-se o autor, na terceira parte, à paixão, ao romantismo, ao sentimento. Rasga a fronteira da dor e exala o perfume de todas as flores que o jardineiro, ou “Florista”, cultiva. Jura “Amor Eterno” e se embriaga no “Desconsolo” com o fim de um amor, com a “Separação”, mas não tem medo nem vergonha de pedir “Reconciliação”. O “Amor” agora é que move o poeta, é sua inspiração, como, no fundo, é a de todos os poetas.

Esta viagem da qual participamos, cujo timoneiro e capitão é Hélio Cabral Filho, faz-nos participar da consciência social e

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Posteridade Escrevi meus versos Na areia da praia Bem perto do mar, Pra que a onda espumante No seu vai e vem Os pudesse apagar. E veio a marola Lambendo a areia E as ondas passaram, E vi que meus versos, Os meus pobres versos Não se apagaram.

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política do Brasil e do mundo, faz-nos navegar por ceus e por mares da odisseia humana em busca de razões que nossa razão ainda não conhece. Ao final da trajetória, limitada nesta nau de folhas e poemas, deparamo-nos com a descoberta de que a poesia é ilimitada e nos faz contemplar o amor pela vida, dando-nos a certeza de que não há limites para a mente humana.

Agradeço ao autor por mais este presente que oferece a todos!

Ary Martins Maio de 2013

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POLÍTICAS E SOCIAIS Trôpego e inválido Não cresce, não prospera o povo estático; A nação conformista, morna, plácida... O povo fraco, de atitude flácida; O cidadão indiferente, apático... Quem não se movimenta ante a denúncia; Quem não se mostra indignado, enfático, Diante de um problema sintomático, É um povo que à verdade faz renúncia! Não vinga uma nação que segue hermética, Não vendo a exploração tão problemática, Nem mesmo a injustiça tão frenética. Um povo é pobre e tem visão raquítica, Quando reclama a condição dramática Mas não protesta a enganação política.

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Tempos eternos Jamais te deixarei minha querida! Estarei do teu lado eternamente; Mesmo na ausência eu estarei presente, Até depois do fim da minha vida... Não quero no teu peito ser corrente, Que prende, que controla, que castiga... Eu quero ser a sombra que te abriga, Agindo assim silenciosamente. Quando não mais na vida ouvir meus passos, Nem sentir no meu peito algum lampejo, A natureza mostrará meus traços: A chuva no teu corpo – os meus desejos; A quentura do sol – os meus abraços; O vento nos teus lábios – os meus beijos.

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Ausência Estou perto de ti, e estou distante; De mãos dadas contigo e vou sozinho; Vou do teu lado, mas eu vou avante; Mesmo que juntos num mesmo caminho. Nossa união é fraca, é inconstante... Mostras um rumo, e eu me desalinho; Sou teu amado, mas não sou amante; Tu és a flor e eu sou o teu espinho... E assim vamos nós dois: inseparáveis. No entanto separados de nós dois, Cada um disfarçando, indisfarçáveis... Pensamos num começo agora, pois Ficamos cada vez mais vulneráveis, Como se fosse ter um fim depois.

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Pão e circo Eu moro no país do faz de conta; Dos golpes, das propinas, falcatruas.... Muita grana no bolso dos pilantras, Desgraças e misérias pelas ruas. São: Só desculpas e respostas prontas! E nada se resolve ou se atenua. Políticos lavrando as próprias contas; Crianças famintas, iletradas, nuas... A nossa Educação é um barbarismo; Nossa Saúde mofa no hospital... A Segurança é mero oportunismo. Eu moro no país da “coisa-e-tal!” Que faz do pão: o assistencialismo; Do circo: a bola, a bunda ou o carnaval.

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Lamentos Eu tenho reclamado da injustiça Que tanto prejudica a minha vida; No entanto eu sou só medo, só preguiça, Minh’alma é de coragem desprovida. Na hora de lutar pela justiça Eu deixo as minhas armas escondidas, Minha postura é sempre tão omissa E a consciência sempre reprimida. Não posso olhar nos olhos de quem luta, Pois tamanha é a vergonha que me invade, E tamanha é a desonra que me imputa. Não posso mais gritar: _Deslealdade! Pois minha voz foi pouca, foi oculta E não transpareci dignidade.

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Repouso Adoro quando dormes no meu peito E quando te aconchegas nos meus braços; Aquecendo ainda mais o nosso leito, Estreitando ainda mais os nossos laços. Momento divinal e tão perfeito, Amenizando as dores e os cansaços. É tão silencioso esse teu jeito, Que o som do coração é o teu compasso. E assim tranquilamente adormecida, Sentindo o meu perfume e o meu calor, Percebo que te sentes protegida... Sem pressas, sem anseios, sem pudor, Meus braços envolvendo a tua vida, Teus sonhos embalando o meu amor.

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Parceria A nossa caminhada teve início, Naquele mesmo instante em que nos vimos; Um momento abençoado e tão propício; Pra nossa estrada, vidas e destinos. E tudo veio em nosso benefício; Crescemos e choramos e sorrimos; Valorizamos cada sacrifício, Em tudo o que nós dois já construímos. E assim seguimos juntos, abraçados; Tornando cada dia bem melhor... Cada qual se sentindo mais amado. E em nosso sentimento acolhedor, Deixamos nossos passos – lado a lado – Marcados nas areias desse amor.

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Louvores (o outro lado) Eu tenho reclamado da injustiça Que tanto prejudica a minha vida; Portanto, eu sou vontade movediça, Na força dessa luta combatida. Na hora de lutar pela justiça Eu mostro as minhas armas destemidas; Assim minha consciência logo atiça A gana de vencer essa partida. Eu mostro a minha cara nessa luta, Tamanha a valentia que me invade, A honra e a coragem resoluta. Eu tenho sempre em mim dignidade. A minha voz jamais ficou oculta, Pois nunca aceitarei deslealdade.

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Expectador Tenho muita vergonha do meu medo, Da minha omissão, da covardia, Da indignação que me alicia, Dos danos imorais que não percebo. Tenho receio de apontar o dedo A qualquer injustiça ou covardia; Por tratar a crueldade com ironia, E a impunidade como um brinquedo... Tenho muita vergonha de mim mesmo, Por permitir o mal correr a esmo, Por ver prevalecer a intolerância. Tenho vergonha da passividade, Por transformar-me - com serenidade – Na vítima da própria ignorância...

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Minha Flor Tudo nesse teu corpo me completa: Teus lábios têm meu gosto mais querido; Teu cheiro meu perfume preferido. Teus olhos minha cor mais predileta. Tua vida em minha vida se completa; O teu sorriso é o meu maior abrigo; O sol que dá mais brilho e colorido; A luz que no meu mundo se projeta... O gosto doce dos teus doces beijos; O calor dos teus braços nos meus braços; A troca de carícias e desejos... Assim eu vou somando essa paixão; Te amando enquanto houver na vida espaço, Na eternidade do meu coração....

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Noite Quando no nosso peito a solidão se aninha, E fica ali sozinha só chocando a dor, Um forte tremor nos passa pela espinha E logo desalinha um medo sofredor. A flor do sofrimento quando brota; E quando sopra o vento da desgraça, Não passa o tempo, a vida não desloca, Tudo se embota, sem prazer, sem graça... Embaça os nossos olhos a tristeza E come em nossa mesa a nostalgia... Na cama fria dorme uma incerteza: Se um dia ainda presa ao coração Essa saudade em vão e sem sentido Terá sobrevivido a solidão...

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Discurso de um político desonesto Eu quero um povo omisso e acomodado; Que assiste ser lesado e nada diz; Que deixa se iludir, de ser roubado; Que não enxerga um palmo do nariz... Eu quero um povo inculto e conformado; Indiferente pelo mal que eu fiz; Bem fácil de deixar ser subornado; Que sabe que eu engano e pede bis... Um povo que não liga eu ser canalha; Que vê corrupção, mas não se afeta; Que vê a roubalheira e não se abala... Eu gosto dessa gente bem quieta, Que se contenta com qualquer migalha E que se vende por qualquer merreca...

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Discurso de um político honesto Eu quero um povo forte e preparado; Onde a corrupção não lhe condiz; Que não permite ser subjugado; Que tem orgulho e amor por seu país. Eu quero um povo culto e bem informado, Cobrando-me a promessa, a diretriz; Difícil de enganar, de ser lesado; Que sabe o meu passado, o que eu já fiz. Um povo que protesta qualquer falha; Critica uma postura não correta; Que aponta a roubalheira e não se cala... Eu gosto quando o povo se inquieta; Seu voto não barganha, não se abala, E cobra a honestidade mais completa.

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Dupla infernal Pouco depois que tu me abandonaste, Conheci duas novas companheiras, Para ocupar o espaço que deixaste; No quarto, no colchão, na cabeceira... Eu sei que elas não prestam. São dois trastes. São falsas, debochadas e encrenqueiras. Mas valorizam o que recusaste, E ficarão comigo a vida inteira. Trouxeram junto à infelicidade; Muito remorso, dor, perturbação... Muita amargura e insensibilidade. Vivem zombando do meu coração. Uma delas eu chamo de saudade, E a outra companheira: solidão.

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Minha flor Eu quero a cada dia seduzir-te; Cada minuto mais te conquistar; Cada segundo quero enfim pedir-te, Um pouco mais de espaço pra te amar. Todo o momento, quero divertir-te; Fazer você sorrir, você sonhar. Eu quero nos meus braços conduzir-te; E a cada instante a ti me declarar... Eu quero te trazer felicidade; O presente, a surpresa, a novidade... Fazer teu mundo mais encantador. Eu quero iluminar a tua vida; Plantar na tua estrada percorrida Milhões de flores de alegria e amor.

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QI Bendita seja a minha ignorância; Bendita seja a minha estupidez; A hipocrisia, a infâmia, a intolerância; Bendita seja a minha insensatez. Bendito o meu cinismo, toda a vez Que vejo a honestidade e a temperança... Prefiro o jogo sujo, a mesquinhez, Mostrando o meu valor, minha importância. Eu quero é me dar bem, quero “barbadas”. Importa é ter o bolso bem polpudo E dar - a quem trabalha – gargalhadas! Pra que ter formação ou ter estudo? O esforço e a inteligência valem nada, Pois, tendo um bom padrinho, eu tenho tudo!

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Desigualdade social Uma doença afeta a sociedade E torna o seu progresso insustentável: É o ferimento da Desigualdade. - Um cancro estrutural e deplorável – As causas desse mal que nos invade É toda a indiferença indisfarçável; A incompetência; a desumanidade; A fome de poder insaciável... Existe uma vacina necessária E alguns remédios com poderes Pra conseguir a cura humanitária: A execução da lei e aos seus preceitos, Os líderes cumprindo os seus deveres, O povo construindo os seus direitos.

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Intenso e imenso amor Pode até ser clichê, lugar-comum; Posso até parecer muito infantil; Mas quero te dizer: Nunca se viu Amor igual ao meu – lugar nenhum! Meu coração lhe diz: – batendo a mil – Contando na existência um a um, Jamais alguém viveu amor algum; Nem sentimento assim ninguém sentiu. Podes pensar que sou exagerado, Mostrando um romantismo tentador; Querendo ter você sempre ao meu lado. Mas só assim meu mundo tem valor: Teu corpo no meu corpo entrelaçado E dentro do meu peito o teu amor.

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Coração que só apanha Meu coração é insensato e tolo; Meu coração é bobo e vulnerável. Qualquer desilusão não tem consolo E toda a dor sentida é inevitável. Pra cada ingratidão preciso pô-lo De volta ao seu lugar desconfortável. Pra quem ele se entrega eu não escolho, Nem sou por seu desprezo o responsável. Meu coração é um saco de pancadas, Sofrendo a crueldade, a estupidez; Tristezas, amarguras, bordoadas... Meu coração no amor não tem mais vez... Ferido por alheias punhaladas Ou vítima da própria insensatez.

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Meritocracia A minha formação tem sido inútil, E os meus conhecimentos imprestáveis; A minha experiência é tola, é fútil; Meus sonhos, ideais, inalcançáveis. O meu aprendizado não é útil; Minhas ideias são inaplicáveis; A minha voz não vibra ou repercute; Minhas propostas são impraticáveis. O meu entusiasmo deceparam; Desmoronaram-me a perseverança; Até a motivação me detonaram. Perdi, no meu talento, a confiança; Por conta da ganância me roubaram, O pouco que restava de esperança.

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Autoridade máxima Transforma o seu convívio em tribunal; Ele é o próprio júri e o promotor, Ou, então, é o juiz sentenciador, Que julga além do bem e além do mal. O dedo sempre em riste, acusador, Querendo ser o mestre da moral; Parece, ou quer mostrar-se, ser o tal, De todas as sentenças detentor. Da humanidade escala o Evereste, Da sociedade escala o Aconcágua, Com a toga da verdade, então, se veste. E lá do alto aponta mil defeitos; Sentindo ser “um deus por sobre as águas”, A perfeição acima dos perfeitos...

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Relação inesquecível Te amo ainda mesmo com a distância; Não pense que com o tempo eu te perdi; A tua ausência só me traz lembranças; E mesmo sem lhe ter, não te esqueci. Não tê-la do meu lado com constância, Serviu pra que eu gostasse mais de ti, Pois a saudade só cresceu a ânsia, De reviver contigo o que eu vivi. Me lembro de você tão caidinha; Mesmo sabendo o risco, até o perigo; Que a nossa relação tanto mantinha. Um dia desses, meu amor, te digo, Eu voltarei pra resgatar a minha Felicidade que eu deixei contigo...

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Gélidos sentimentos Meu coração sozinho vive exposto; Meus lábios buscam em vão os lábios teus; Não vejo mais sorrisos no teu rosto; Teus olhos já não olham os olhos meus. Teus beijos - já não sinto - o doce gosto; São pedaços de gelo os lábios teus... A tua indiferença é o meu desgosto; Teus braços já não buscam os braços meus. Assim vamos vivendo nesse inverno; Repleto de mentiras, de ilusões; A neve permanente, o gelo eterno... Dois corpos desprovidos de paixões; Assim vamos sofrendo o frio interno, Na dor que congelou dois corações.

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Tudo junto e misturado Conversando com um mestre linguiceiro, Um moderno político afamado, Questionava qual era o seu esmero Pros embutidos e pros defumados. Respondeu-lhe o pseudo cozinheiro: “_ Vão alguns condimentos processados, Gorduras saturadas, vão temperos, Um pouquinho de tudo – misturados... Assim nasce a linguiça, tão impura. Não sei se de alimento a classifica... Pra ser sincero mesmo essa finura, Nenhum ingrediente a classifica.” E o estadista então conjectura: “_ Assim também é que se faz política!”

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Filosofando Nós andamos parados demais; Nós vivemos morrendo de medo; E seguimos voltando pra traz; Nos perdemos achando que é cedo... Diferentes, nós somos iguais; Cada qual apontando seu dedo. Na ironia nós somos formais; Quando é sério, tornamos brinquedo. Nessa vida banal e simplória, Cada um é apenas, na história, Um carona ou um mero refém... Passageiros de um mundo de enganos, No vagão do destino embarcamos, Sem saber aonde vai esse trem!

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Flor II Eu era um jardineiro entristecido, Pois meu jardim não tinha luz nem cor; De toda a graça era desguarnecido; Só tinha erva daninha sem valor. Depois que apareceste minha flor, O meu jardim ficou bem mais florido; Fizeste a minha vida ter sentido, Plantando no meu peito o teu amor. Trouxeste a primavera para mim, Depois de um inverno frio e dolorido, Encheste de beleza o meu jardim. Tu foste a seiva que me ressurgiu; A chuva no meu mundo ressequido; Um sol na minha vida que se abril.

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Três palavras Ainda não ouvi da tua boca Aquela frase de que mais espero, De um modo destacado e bem sincero Ou sussurrando de uma forma rouca... Ouvir o “_Eu te amo!” é o que mais quero; Penso que seja uma cobrança pouca. Mesmo sabendo que por mim és louca E que esse sentimento eu considero. Mas me perguntas toda enraivecida: “_ Já sabes desse amor, pra que dizer?!” E eu logo te respondo assim, querida: Eu peço-te essa mínima expressão, Apenas pra que eu possa perceber, Se falas o que sente o coração...

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Censuras e proibições Vem-me calar a boca - se puderes! Se fores corajoso e destemido! Vem-me desafiar se então tiveres, Um pingo de visão do próprio umbigo! Nem penses em meter tuas colheres Nos pratos onde eu tenho me nutrido! Nem ponhas teu nariz intrometido Se um soco bem direto não quiseres! Nem sonhes em rasgar minhas bandeiras, Ou mesmo entrincheirar minhas estradas, Ou proibir, fechar, minhas fronteiras! Se queres me enfrentar nessas jornadas, Veraz o punho firme, as mãos guerreiras, E a voz, a vida, a força redobradas!...

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Merecimento Reclamas do salário miserável? Choras, lamentas tuas condições? Condenas teu estado deplorável E contra tudo faz condenações? E sonhas ganhar mais. A vida estável; Prosperidades e bajulações; Um emprego decente, bom rentável; Festejos com picanhas e salmões... No entanto não te mexes, não reages, Na hora de lutar tu és contrário. Diante das batalhas nada fazes, Se vives se omitindo, temerário, Mereces as migalhas que recebes, Cada migalha desse teu salário!

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Morbidez Eu sinto a solidão mostrar seu rosto; E vejo uma carranca de amargura; A máscara da dor só me tortura, Numa expressão sofrida de desgosto. Percebo um leito frio – a sepultura - ; Do barro em minha boca eu sinto o gosto; Pousado em minha vida, vejo o monstro Da minha tortuosa desventura. O coração em mim já não palpita, O sangue não transcorre e não circula, Nem a respiração se precipita... O teu desprezo foi minha desgraça; Minh’alma afunda pela lama impura, Enquanto o coração se despedaça.

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Jardim esquecido Aquela despedida foi o fruto Da nossa relação inconsequente. O nosso coração está de luto, Morreu o nosso amor eternamente. Brotou, nasceu, cresceu irresoluto, Sem aquele vigor resplandecente. Nosso cuidado sempre diminuto E nosso tratamento displicente. Não existiram podas nem enxertos, Foi só indiferença e menosprezo, Cobranças, frustrações e desconcertos... Morreu o nosso amor, nossa paixão, Pelas ervas daninhas do desprezo, Pelas pragas malditas da ilusão.

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Ser ou não ser... Fico intrigado, pensativamente; E isso me enlouquece e me exaspera: E se a verdade – essa maldita fera – (Olhos nos olhos) fosse dita sempre? E se a gente falasse, frente a frente, A qualquer um, da forma mais sincera, Não aquilo que a pessoa espera, E sim o que se passa em nossa mente? Se cada um mostrasse o que é profundo, A ferida, o veneno, a imperfeição... Que grande caos seria o nosso mundo!... O peito aberto em plena exposição. A alma se despindo em um segundo; E as máscaras caindo pelo chão!...

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GPS Tem gente que se perde na procura De algum caminho ou mesmo algum atalho Que o leve até o sucesso; a um bom trabalho; A vida mais serena, mais segura... Tem gente que se perde na aventura, Buscando o nada – feito um bom paspalho – Querendo ter nas mãos (num só estalo), Qualquer conquista nobre, grande e pura. São incansáveis peregrinações, Em busca do prazer, amor, riqueza... No entanto, encontra apenas frustrações. E assim vai construindo uma certeza: Ninguém pode exigir em ter nas mãos, Aquilo que não põe na própria mesa...

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Beijo Junto de um beijo acompanha Mais do que um gesto carnal, Mais que um carinho que assanha, Ou de um contato labial. Nesse trejeito gostoso, Língua(gem) proporcional, O seu início é de gozo Também de gozo é o final. Há, junto de todo beijo, Carinho, ardência, desejo, Que acende, nos entontece. O coração descontrola, A mente se desarvora E o corpo todo estremece.

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Soneto do meu abandono Por te faze chorar não me perdoo, Eu não valo uma lágrima sequer. Não mereço do peito que magoo Um sentimento mísero qualquer. Fui pássaro perdido nesse voo E fiz da liberdade meu mister. Meu ninho eu desprezei; não me perdoo Por te fazer sofrer minha mulher. Como é que pude te enganar querida E como pude destruir tua vida E desmontar teu nobre coração. Eu não mereço teu perdão querida, Pois troquei a certeza de uma vida, Pela incerteza e só desilusão.

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Ressurreição Acorde homem, antes que os abutres Ataquem seu cadáver fedorento. Levante dessa cova! Ande! Lute! E limpe-se dos vermes pestilentos. Abra seus olhos. Não, não se desculpe! Não precisas ter tanto acanhamento. Não permita que o medo lhe sepulte... Nem seja preguiçoso e sonolento. Não se afunde na areia movediça. Não se deixe pregar em qualquer cruz, Com atitude fraca e submissa. Despreze os preconceitos e os tabus. Para os chacais os medos são carniças Toda omissão é tripa aos urubus...

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Expatriado (“Tô vendo tudo, tô vendo tudo Mas fico calado, faz de conta que sou mudo.” Meu país - Zé Ramalho Quem é essa gente com os ombros caídos, Com os pés se arrastando; com os olhos cansados...? Quem é esse povo passivo, abatido, De gestos medrosos e apalermados? Quem é essa gente que elege bandidos? Que vota em palhaços, ladrões, descarados? Por simples migalhas já são corrompidos E vendem seus votos por meros trocados? Quem é esse povo que foge da luta? Que é sempre roubado, mas vive feliz? Que apenas assiste? Que apenas escuta? Se um povo só enxerga o seu próprio nariz, Se cala e consente a mais torpe conduta? Não é o meu povo, nem é meu país!

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Eclipse do coração Meu peito enegreceu tão de repente. Tristemente apagou-se a luz que tinha. Havia dentro dele um sol ardente, E muito amor desse calor provinha. No meu canteiro havia tantas flores, Agora só há mesmo erva daninha. Morreram todas, só restaram dores. Morreu até toda esperança minha. Tudo mudou depois que foste embora; Não há mais luz, nem cor, nem vida. Agora Só há angústia e muita solidão. Hoje o meu mundo é um fatal deserto, É todo de tristeza recoberto, E predomina sempre a escuridão.

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Joia Ah! Se eu pudesse te encontrar agora Iria te dizer o que não pude. Toda a tristeza jogaria fora E desprezava essa saudade rude. Todo esse pranto que em meu peito flora, Regando a solidão que tanto ilude, Afoga o coração, me desarvora... E ainda espero que essa dor se mude. Ah! Se eu pudesse te dizer, diria Que foste a joia de maior valor E se soubesse não lhe perderia. Pois, hoje eu sou um pobre sonhador, Tive nas mãos uma riqueza um dia, Que era a joia desse teu amor. .

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Deus inculto O poderoso Zeus da atualidade, Do seu Olimpo altivo e onipotente, Com sua inquestionável autoridade, Aponta o dedo assustadoramente... E ai de quem mostrar contrariedade! Ou mesmo perpassar na sua frente, Será banido com ferocidade, “Exterminado permanentemente!” É o deus dos deuses no seu universo; E pensa ser o justo, o intocável, Com seu comportamento tão perverso... ... No entanto, ao demonstrar os seus “poderes”, Transforma-se num ser abominável; No mais medíocre dos medíocres seres!

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MORAIS E COTIDIANAS

Não leia Se não tens tempo não leia estes versos. Despreza este soneto se tens pressa; Não passa desta linha mal impressa, Se és impaciente e controverso. Se a sensibilidade não interessa; Se queres sentimentos mais expressos, Retorna à correria, aos teus acessos; E deixa pra quem gosta esta conversa. Num mundo objetivo e tão dinâmico; De muita pressa e muita efervescência; E tudo mais formal e mais mecânico; Não perca o tempo, nem a paciência. Deixe o poema a quem não é tirânico, E sabe apreciar essa existência!

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Classificados Procura-se uma musa inspiradora, Que faça renascer um grande amor. Que não seja fingida, enganadora E nunca descortine alguma dor. Não quero uma paixão devastadora, E sim um sentimento de valor; Que seja uma visão encantadora, Principalmente em seu interior. Não precisa mostrar experiência, Basta que seja sincera e muito amiga, E tenha compreensão e paciência. Procuro uma mulher. A inspiração Que consiga plantar na minha vida A obra-prima do meu coração.

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Soneto do teu abandono A nossa cama agora está tão fria, E nosso quarto tão abandonado. A nossa casa agora está vazia, O nosso mundo agora é desolado. Nesse lar já habitou muita alegria E tudo aqui já foi valorizado. Mas hoje é só silêncio, é nostalgia, A triste solidão dorme ao meu lado. Nosso passado vivo recordando. Minha alegria era ver teu sorriso; Minha tristeza era te ver chorando. Nada é mais “nosso“. Nem é meu, Querida! Tirastes do meu mundo o paraíso, Lavastes do meu peito a própria vida.

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Redundância Viver bem é mostrar-se equilibrado Nas emoções, no seu comportamento; Saber dosar o próprio sentimento; Não ser “nervoso”, nem precipitado. É ter o coração harmonizado; É controlar o seu temperamento; Fortalecer os relacionamentos; E rejeitar o que é demasiado. Pois todo o excesso, toda a demasia Só deixa a nossa vida mais vazia, Sem graça, sem tempero, até sem gosto... O muito transbordando é sem proveito; Pois basta um gesto pra expandir o peito, Basta um sorriso para enfeitar o rosto...

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Religiosidade Para que eu possa ser um bom Cristão Eu devo demonstrar ter caridade. Para que eu possa ser um Cidadão Eu devo caminhar na honestidade. Para que eu seja Pai com perfeição, Só sendo um bom exemplo de verdade. Também para que eu seja um bom Irmão Meus atos devem ter sinceridade. Sendo fiel serei um bom Marido; Com bondade, um bom Filho me conclamo; Sendo leal serei um bom Amigo. Se a Deus, a Pátria e a Humanidade eu amo, E, se esse amor carrego assim comigo, Serei, com todo orgulho, um Ser - humano.

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Minha culpa Que pena - meu amor - me amaste tanto, Que pena não te amei, nunca te quis. Eu só causei-lhe dor, lhe trouxe pranto E lhe tornei assim tão infeliz. Teu corpo eu encobri de um negro manto; Deixei no coração uma cicatriz; Nos olhos eu deixei profundo pranto; Na alma, essa “incisão”, fui eu que fiz... ... Nessa injusta lavoura que vivemos, Plantamos muito amor em nossa lida, E só desilusão é que colhemos. Tu me quiseste, eu não te quis, querida. Nem sempre temos o que merecemos Na ingratidão suprema dessa vida.

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Gratas ilusões Permita-me sonhar que tu me amas, Pois sou um pobre fantasiador! Prefiro o fingimento que proclamas Do que a certeza do teu desamor. Permita imaginar que me derramas Vasta paixão. Eu sou um sonhador! Prefiro conviver com tuas tramas Do que não tê-la minha linda flor! Pode até desdenhar meu sentimento, Também ignorar meu sofrimento, E dar as costas para a minha dor. Nem ligue no peito essa ferida, Pois melhor no meu sonho é amar tua vida, Melhor na vida é sonhar teu amor.

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Ser pai Ser pai é ter a vida partilhada, Como um pedaço da sua própria vida; É ter a esperança consagrada; Com a felicidade repartida. Ser pai é indicar a caminhada, É chorar, é sofrer na despedida; É festejar a glória da chegada, Jamais se acostumar com a partida. Não basta registrar paternidade, Precisa acompanhar cada momento, Nas alegrias, nas dificuldades. Não é só dar amor, só dar carinho, É ser para o seu filho um grande exemplo, Servindo-lhe de luz no seu caminho.

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Soneto da saudade Saudade é uma janela aberta para a vida Onde nos debruçamos para apreciar As paisagens de um tempo (visão resumida), Que nas telas da alma tentamos pintar. Muitas brisas revolvem nossa dor vivida; A chuva na vidraça faz-nos recordar, Algum sonho desfeito, uma ilusão perdida, Um momento tristonho, uma perda, um lugar... Da janela notamos pedaços do tempo, Bons momentos vividos, lembranças presentes, As nuvens de alegrias e os ressentimentos. O tempo vai passando, e a saudade revela, As visitas perdidas, pessoas ausentes Que passaram em frente da nossa janela.

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No dia dos namorados Fiz de tudo pra encontrar Do mundo o maior presente, E assim, merecidamente, Poder, enfim, te ofertar. Consegui então juntar: O amor que seduz a gente, O riso mais comovente, Um coração exemplar... Mesmo assim, infelizmente, Não consegui completar Teu presente neste dia. Pois se eu quisesse te dar Do mundo o maior presente, A ti mesma eu te daria.

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Soneto da separação II “_ Até que a morte vos separe um dia!” Foi quase uma sentença, um veredicto. Depois de toda a pompa, todo o rito E a mais tradicional alegoria... Reclamo sempre aquele “sim” maldito; O beijo sem paixão, sem alegria; O formalismo tolo, sem magia; O elo que até hoje infelicito. Ali se deu início a decadência Da nossa relação enfraquecida, Da nossa conturbada convivência. O amor não se conjuga pela sorte! Não foi desejo nos unir a vida, Nem precisou nos separar a morte.

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Mestre dos Mestres É pai e mãe dos nossos próprios filhos, E foi o nosso pai e mãe também. Sua vida é dedicada para o bem, Com ensinamentos para os certos trilhos. Nem sempre merecemos nota cem, No entanto temos dele os mais tranquilos E nobres sentimentos; e o seu brilho Jamais deixa de lado - exclui ninguém... Os seus conhecimentos são vitais; Maior profissional, com mais valor, Pois dele é que se formam os demais. É a luz da nossa estrada. É um benfeitor. Os seus exemplos são fundamentais. Abençoado seja o Professor.

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Soneto ao casamento Que Deus abençoe essa data tão linda, Que Deus abençoe essa nobre união, Juntando duas vidas em uma só vida E dois corações em um só coração. Que seja essa data jamais esquecida Pois ela retrata o valor da paixão, Assim festejada, importante e vivida, De tão exemplar e feliz comunhão. Que Deus abençoe essa eterna aliança, Que venha trazer mais saúde e alegria, Mais luz, mais conquistas, amor e esperança. Que as rosas da vida não tragam espinhos; Que a bênção Divina, com sua magia, Recubra de flores os vossos caminhos.

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Soneto da separação Aqui termina nossa desventura; Aqui termina a nossa triste história, Tão difamada, tão contraditória, Tão fraca, tão amarga, tão insegura. Foi só uma convivência obrigatória, Pautada na tristeza e na amargura. Éramos presos de uma vida escura; Escravos da ilusão condenatória. Agora vou seguindo livre e solto; Não levo mágoas nem lamentações. Tu levas quase nada e deixas pouco... Ficam lembranças, más recordações... Dois corpos que morreram um pro outro, Sem vida, sem amor, dois corações.

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O amor Quem pode dizê-lo, senão quem o sente? Quem pode sabê-lo senão quem o tem? Quem pode vivê-lo senão frente a frente? Quem pode senti-lo sem ter um alguém? Dois corpos unidos num corpo somente; Duas almas unidas no seio do bem. Podemos achá-lo num breve repente, Num rápido instante perdê-lo também. Se é fúria, meiguice ou se é só bondade, Quem pode dizer se é mentira ou verdade? Se é dar, receber, ou sofrer, ou chorar?... Não é a verdade suprema e exposta, É tão pessoal, não existe resposta; O amor é o amor, não precisa explicar...!

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Procissão Domingo. O povo veste roupas bonitas, Vai à procissão. As ruas ornadas com flores e fitas, Tapetes ao chão. Rosários e cruzes; e vestes benditas; E velas na mão. O povo prossegue com a alma contrita De grande emoção. Promessas, pedidos e graças rogadas, A forte emoção; as sofridas jornadas... A fé que conduz... Verônica, as rezas, e Cristo radioso... ...em verdade, cada qual desse meu povo Carrega uma cruz.

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O rio O tempo passa como um rio que corre. A vida segue nessa força errante, No mar dessa existência logo morre, Levando águas para um fim distante. O tempo é como a água, não percorre A mesma trajetória, o mesmo instante... A vida não transborda, só transcorre, Nas curvas das saudades inconstantes... O rio vai procurando outras nascentes; A vida vai passando em correntezas, Buscando, sem saber, outras vertentes... O tempo vai passando sem represas; A vida corre sinuosamente, Deságua pelo mar das incertezas...

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Cartão (Junto a um buquê de rosas) Nunca ofereci dei flores a uma rosa, Também nunca fiz versos a uma flor. A própria poesia eu não fiz prosa E nem versos de amor ao próprio amor. Porém tu és a flor bela e formosa; Tu és a poesia, és o amor; Tu és a devoção silenciosa Deste teu poeta e admirador. Dou-te estes meus versos sem espinhos, São flores que brotaram da paixão, Plantadas pra enfeitar os teus caminhos. E nessa mais sublime inspiração, Mando-te em flores todo o meu carinho, Mando-te em versos o meu coração.

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Reconciliação Você não quis meu arrependimento; Também não quis me dar o seu perdão; Mostrou ainda ter ressentimentos E muita mágoa no seu coração. Foi insensível o seu comportamento; Sem um pingo sequer de compaixão; Julgou, me condenou todo o momento; Não quis me dar a absolvição. Você não quis curar nossas feridas E nem remediar as cicatrizes, Nem reconciliar as nossas vidas. Tu me desdenhas, mas te contradizes, Por conta das chegadas e partidas, Tornamo-nos nós dois mais infelizes...

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Dor incomum Qualquer dor por mais fraquinha, Qualquer martírio profundo, Qualquer tristeza do mundo, Também é tristeza minha... Toda a maldade daninha, O ser por mais vagabundo, O ato mais furibundo, A miséria que definha... Tudo eu carrego nos ombros, As mazelas, os escombros, Misérias, desilusões... Eu levo o peso da vida, De toda a alma sofrida, De todos os corações...

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Soneto de um Pedreiro O abençoado e doce lar que habitas, A igreja em que tu rezas, as calçadas, Os bares ou as lojas que visitas, São frutos destas mãos tão calejadas, Os ricos casarões, as palafitas, Escolas, cemitérios, as estradas... Cimentos e tijolos, pedras, britas, Nos prédios, nas paredes levantadas. Não tenho a formação de um engenheiro. Da areia, da argamassa eu sou doutor. A vida é a minha obra o meu canteiro... Eu não levanto apenas “moradias “. Eu sou um operário, um construtor De sonhos, de prazer e de alegrias.

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Desconsolo O fim do nosso amor foi tão cruel; Sofremos essa dor indesejada. Em nossos corações corria o fel De uma paixão amarga e desprezada... Eu fui tão displicente e infiel; Tu foste tão imatura e enciumada. Cobrimos de tristezas nosso céu. Cobrimos de amargura a nossa estrada. O nosso amor foi triste e enfadonho; Nossa união foi só um pesadelo; Talvez o pesadelo mais medonho. Abraço a solidão o tempo inteiro. Olho no espelho: só alguém tristonho, Olho do lado: só um travesseiro...

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Amor extremo “Te amo como nunca amei ninguém.” Tu és a mulher mais amada e querida; Te adoro, te venero e quero bem; Te amo mais que tudo nessa vida... Te amar é a razão que me mantém Mais vivo, de maneira extrovertida. No peito o meu amor não de detém, Expande-se de forma indefinida. És o sangue que agita em minhas veias; És a batida do meu coração; O fogo que me aquece e me incendeia... O meu amor por ti é o mais profundo; É a interminável multiplicação De todo o amor que existe nesse mundo.

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Soneto de uma prostituta Mulher de vida fácil, o povo diz... No entanto é tão difícil a minha vida. A multidão me julga outra perdida, O “bom cristão” me torce o seu nariz. Eu visto essa mortalha tão sofrida; É minha profissão ser meretriz; Carrego no meu peito a cicatriz Da “Madalena sempre arrependida.” A mão que afaga é a mesma que me insulta; Atiram pedras com brutalidade, Como se fosse apenas minha culpa... “O preço do prazer é a falsidade!” A mesma boca que me beija oculta, Escarra e cospe quando em

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Soneto de um alcoólatra esclarecido I A minha vida era uma desgraça; O álcool já talhou minha existência; Vivia submerso na cachaça, Num mundo de lamento e de indolência. Dormia em qualquer banco, em qualquer praça; Da própria covardia era a essência; A vida para mim não tinha graça, Matava-me aos poucos sem clemência. Perdi o meu trabalho, os meus amigos, Perdi tudo o que eu tinha nesse mundo, Meus filhos tão amados, tão queridos... Eu era um fracassado, um vagabundo, Vivia a lamentar os meus “castigos”, No poço da ilusão triste e profundo...

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Florista Eu sou um boêmio de mulheres tantas O amor pra mim é só variedade. Meu sentimento e o meu prazer são feitos De gozo, amor e sem fidelidade. Enquanto houver espaço no meu peito E houver o gosto do prazer na idade, Eu viverei dessas virtudes santas E morrerei com essa liberdade. Eu não iludo os corações alheios, Nunca escondi essa vontade em mim: Ter de mulheres meus canteiros cheios. Eu sou um apaixonado jardineiro, Que cuida e que cultiva o seu jardim, Amando cada flor o tempo inteiro.

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Réu Não julgue em mim apenas meus defeitos, Nem tente condenar meus sentimentos, E nem abuse dos meus ferimentos, Da mágoa que carrego no meu peito. Encare os meus pecados com respeito, Meus crimes, os meus falsos juramentos; Respeito ao menos meu depoimento, As juras da defesa, o meu direito... Se queres me julgar faça sem medo, Não tenho nesta vida algum segredo Que possa denegrir o meu valor. Mas não me julgues pelas minhas penas, As causas sofredoras, obscenas... Nem me condenes pela minha dor...

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Soneto de um alcoólatra esclarecido II ....Mas, hoje eu resgatei a esperança E superei as minhas amarguras, Recuperei a autoconfiança E tenho a consciência mais segura. Agi com muita fé, perseverança, E tive que mudar minha postura; Admitir portar uma doença Que tinha tratamento e tinha cura. A cada dia eu dou um novo passo Pra ir à busca do meu novo espaço, Reencontrar minha moral perdida. Eu vou-me recompor com sobriedade. E resgatar minha dignidade Dar mais valor pra minha própria vida!..

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Soneto de um pedinte Te peço um pão, um prato de comida Pra alimentar a mim e aos filhos meus; Eu sou um excluído dessa vida. Dá uma esmola pelo amor de Deus! O pouco que me dá a tua mão amiga Em dobro voltará aos bolsos teus. Eu tenho essa existência tão sofrida, Uma esmolinha pelo amor de Deus! Eu sei, sou desprezado e sou mal visto. Não faço parte dessa sociedade, Nem sempre sou aceito ou sou benquisto... ...No entanto, eu sou Cristão. Não negues isto! Pois somos filhos de uma Divindade. Somos irmãos, somos irmãos em Cristo!

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Lua II Nessa infinita orquestra cintilante, Tu és a maestrina em nosso mundo, Dos desertos inóspitos, distantes, Aos mares e oceanos mais profundos. Os teus mistérios são interessantes, Teus ciclos valorizam-se em segundos, Trazendo inspiração para os amantes E dias mais intensos, mais profundos. O cético te vê com indiferença, Astrólogos reduzem-te a magias, Explora-te, disseca-te a ciência... Só o poeta compreende os sonhos teus, Conhece as tuas forças e energias, Pois sabe quem te leva é a mão de Deus.

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Noturno V Lua que, nesse céu de purpurina, Retratas vagos lumes fulgurantes, Tu foste a testemunha dos instantes Da minha dor, da minha triste sina... ...Das noites tormentosas, delirantes, Quando fugiu do meu peito a inquilina; Só tu notaste aquela repentina Lágrima que correu no meu semblante. Só tu testemunhaste o abandono, Todas as noites que passei sem sono, Só tu viste meu choro, mais ninguém! E quando me debruço na janela, Oh! Lua, tu me diz (qual sentinela): “_ Poeta, não se iluda, ela não vem!”

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Droga de vício A droga não te solta ou te liberta. A droga só te prende e te escraviza; Desorienta e desestabiliza; E só te danifica e desconcerta. É uma madrasta má, louca, passiva, Que se fingi de boba, mas, esperta, Conserva a porta destrancada, aberta, Depois é tão fatal quanto agressiva. A droga é sempre uma fraqueza extrema, Uma frustrada fuga, um artifício, Que aos poucos te corrompe e te envenena. A droga faz da vida um desperdício, Destrói o que te cerca e te condena A vítima cruel do próprio vício.

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Soneto de um presidiário Estou aqui cumprindo a minha pena; Sou vítima do mau comportamento; A consciência oprime e me condena; Sou prisioneiro do arrependimento. A ociosidade me aliena; Me desespera esse confinamento; A culpa me envergonha, é a dor extrema No cárcere do meu ressentimento. Foi vergonhosa sim minha conduta; A solidão mantém essa sentença; A regeneração é a minha luta... A liberdade é hoje a minha crença. Eu trago uma certeza resoluta: Certeza de que o crime não compensa!

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Conversando com a lua Perguntou-me uma noite a amiga lua: _ Porque está triste poeta? E esse pranto Porque verte em torrente nessa tua Face? Acaso perdeste esse teu canto? Quem dera - ó minha deusa que flutua - Perder meu canto. Nem seria tanto À minha pobre alma que se amua, Não sofreria e nem teria espanto. _ Porque choras então assim baixinho? Eu choro sim, mas por viver sozinho, Sem ter alguém a que me consiga amar. São lágrimas em vão! Porque vertê-las? Eu vivo aqui entre bilhões de estrelas E nem sequer consigo as alcançar..!

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ROMÂNTICAS E SENTIMENTAIS

Demasias “ _ Eu te amo (me disseste) como um louco! Eu faço tudo pra não te perder; Todo esse mundo é pequenino e pouco Se comparado com meu bem querer.” Ora! Digo-te: _Amor (e já estou rouco) Não quero que demais me venhas ter; E nem que o teu amor me seja afoito; E o coração transbordes sem saber Que todo sentimento em abundância É, muitas vezes, cheio de inconstância, Repleto de incerteza e hipocrisia. O amor pra ser amor requer cuidado, Não tem que já nascer exagerado, Tem que crescer aos poucos cada dia...

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Respostas da alma “Sofro... Vejo envasado em desespero e lama Todo o antigo fulgor, que tive na alma boa;” (Respostas na Sombra - Olavo Bilac) “_ Se os homens, que são sempre maldosos e inclementes, Virem um dia com insultos, injúrias e sem compaixão, Provar tua fé e testar a bondade que guardas e sentes, E te exigindo o que tens de mais precioso, o quem lhos

darás?” “_ Meu coração!” “_ Mas se essa gente maldosa te maltratar com ódio

veemente, Surrarem teu corpo, marcarem teu rosto, jogarem-te ao

chão, E assim te ferirem com fúria titânica e rancor contundente, O que tu farás? O que lhos darás em troca da ira?” “ Meu perdão!” “_ E se ainda famintos de sangue e maldade, Com vil barbarismo, sarcasmo e frieza, Furarem tua carne, fazendo teu sangue jorrar a vontade? E tu não podendo-lhes dar o perdão na fatal despedida, O que lhos darás? Teu pranto sofrido? A tua tristeza? Teu ódio? O desprezo? O que lhos darás?” “_ Minha vida!”

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Mar Chora e canta, sem mágoa e sem receio Do vento que o carrega em alvoroço. Canta as conquistas no seu próprio dorso, Chora as tragédias no seu próprio seio. As tempestades, o soberbo esforço Das suas correntezas são os meios De produzir a vida, como em veios Da sua imensidão, do seu colosso. Por ele iniciou nossa existência; Ali, descobrimentos e aventuras, Mostrou o seu valor, sua imponência. Abismos mais profundos são os seus. Maior, em sua nobre arquitetura, Já disse Bilac um dia; “_Só Deus!”

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Intimidades Ninguém conhece o coração alheio; O sofrimento que lhe dilacera; O quanto de amargura ele está cheio; O quanto de tristeza ele encarcera. Ninguém tem compreensão, ou qualquer meio De ver o quanto a angústia se aglomera Em outro coração; e o quanto é feio O interior sombrio que nele impera... O rosto não revela o que se passa Dentro das almas frágeis e indefesas: O ódio, a mágoa, a dor ou a desgraça... Ninguém traduz nos olhos as fraquezas. O lago que se mostra em plena graça, Esconde um lodaçal nas profundezas.

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Construtor Definitivamente a vida é boa, Basta querer que ela seja assim! Se tens vontade o mundo te abençoa E crescem flores pelo teu jardim. É não perder o rumo, indo à toa, Sem um destino certo. Agindo assim, Sem determinação, o tempo escoa, E a tal felicidade tem seu fim. A vida é boa sim, se te concentras, Pra destruir os medos mais medonhos Que no teu coração tanto alimentas. Ninguém vai te ofertar dias risonhos. Terás que usar as próprias ferramentas E construir a vida dos teus sonhos.

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Inimizade Ama teu inimigo, o antagonista; Aquele que te odeia e te despreza. Ama quem te critica e quem te inveja; Até o mau caráter, egoísta... Não tira o agressor da tua lista, Nem tira o pecador da tua reza; Adora, com paixão, a quem te enerva; Compreende quem se diz materialista. Ama até mesmo quem te ergue a espada, O pobre desafeto que te enfada, Até o adversário mais hostil. Adora quem te odeia, com louvores, Pois quem constrói no peito dissabores O próprio coração já destruiu!

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Mãos As mãos são expressões dessa existência. Abertas, abençoam com ternura; Cerradas, com furor, com amargura, Trazem tristezas e maledicência. Podem mostrar carinho e até candura, Mas também esmurrarem com inclemência; Podem trazer o brilho pra ciência, E até torná-la fria e obscura. Um abraço, um aperto, um recomeço, Um ato de alegria, um gesto sério... Mãos que maldizem e que rezam terço... Também fazem misérias sem critério; Podem trazer a vida para um berço, Mas também mandá-la para o cemitério.

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Amarrações Nós, cegos do amor de tão fácil conquista, Dos laços tão simples da paz, da união, Não vemos o bem, bem debaixo da vista; Tampouco o sentimos pelo coração. E assim insensíveis, cruéis, egoístas; Vivemos atados nas decepções. Pois sempre excluímos do topo da lista; As nossas mais fortes, fiéis ligações. Seguimos andando, perdendo pedaços; Sem dar importância aos desembaraços... ....Nascemos, crescemos, morremos a sós... Não desenrolamos os nossos defeitos; Cruzamos o tempo sem laços refeitos; Passamos a vida repletos de nós!

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Sabedoria O sábio sabe agir na quietude Da sua humilde alma grandiosa. Tem força, tem valor, tem atitude, Na impulsão da ação silenciosa. Às vezes essa sábia plenitude, - A sua decisão escrupulosa – O povo ignorante, o povo rude, O julga sem dar fé e sem dar prosa... O sábio segue em frente imperturbável; Pulando e desprezando os lodaçais: A inveja – a incompreensão abominável. Mantém a paz nas guerras mais letais. É odiado e permanece amável, E canta perpassando os temporais.

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Aborto Rejeitar um pedaço do seu ser, É como rejeitar a Mão Divina. A floração da vida interromper, Sendo a mandante da carnificina. Privar o fruto de amadurecer; Cortar a luz – tão fraca e pequenina - O sangue do seu sangue remover; Querer se libertar sendo assassina... Refém do desamor, do desafeto; Jogar no lixo, feito um objeto, Uma alma inocente e tão indefesa... ...Como um botão de flor sendo podado, Um grão de vida sendo desprezado No ventre maternal da natureza...

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Tempestade O vento muda repentinamente; O céu inteiro se desconfigura; Lampejos luzem impressionantemente, Rasgando o horizonte em varredura. O ar fica pesado e imponente; O dia logo vira noite escura; O mar revira-se nervosamente; Trovões ribombam com toda a bravura. Desaba em cachoeira a chuvarada; É gente se esbarrando em correria, Fugindo, se escondendo amedrontada. É tudo um caos, uma desarmonia... ...Mas, lentamente, a natureza irada, Da escuridão ressurge um novo dia.

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O ser feliz A tal felicidade que sonhamos, Tão esperada quanto desejável, Não é um sentimento inalcançável, Distante como os nossos desenganos. Ela é tão simples quanto formidável; Uma flor esquecida em lindos ramos; Um fruto ao nosso alcance e o desprezamos, Por conta de um orgulho indisfarçável. Felicidade dorme em nosso leito; Chora conosco, mas também sorri, Pois tem a nossa cara e o nosso jeito. É o canto divinal de um colibri... Nós a levamos bem dentro do peito, Mas a buscamos sempre por aí!

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O ateu Recordo a obstinada criancinha, Coraçãozinho sem reprovações... Nas missas aos domingos, sentadinha, Mãos postas, a fazer suas orações. A alma tão ingênua, tão “branquinha”, As tímidas, temidas confissões; Ficava ali atenta e quietinha, Ouvindo as homilias e os sermões.... ... Depois que conquistou a sapiência, Perdeu-se, com o seu barco da ilusão, Nos mares conturbados da ciência... O ex-menino é hoje só razão. Deixando Deus dormir nessa inocência, Nas sombras do seu próprio coração.

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Prece Tenho a Ti! Meu peito é a Tua morada; E Tens a mim envolto nos teus braços, Quero seguir tranquilo esse Teus passos E caminhar sempre na Tua estrada. Creio em Ti. És alento aos meus cansaços. O bálsamo da minha ardente chaga; O remédio pra minha dor calada; És o sustento para meus encalços. Eu amo a Ti, aos meus irmãos amando. Tendo a bondade para lhes servir; Humildemente o coração doando. Sou feliz porque és minha alegria. Tu és senhor de tudo, e eu tenho a Ti, Porque sem Ti, Meu Deus, nada eu seria!

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Soneto da bondade A bondade é o maior dos sentimentos; Bem mais do que o amor que é egoísta, Maior do que a paz, sempre intimista, Até do que a fé e seus tormentos. Bondade é sempre como uma conquista; Silenciosa como os pensamentos; É fruto das ações, dos bons exemplos; É forte, é prazerosa, é otimista... Bondade é filha da filantropia; É irmã gêmea da fraternidade; Prima da educação, da cortesia. Bondade é amenizar qualquer ferida; Agir com devoção, com caridade, Doando aos seus irmãos sua própria vida.

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Viver simplesmente Aceita e agradece a vida que tens... No teu coração aquilo que trazes... Pra dar mais valor àquilo que fazes, Não só aos teus ganhos, nem aos teus bens. Não queira endeusar teus raros vinténs; E não se apegar apenas a imagens... Externas belezas tão desejáveis; As futilidades que não deténs... Confia e recebe as bênçãos divinas E segue entregando, em forma de prece, O teu coração com mãos pequeninas. O manto da vida é Deus que nos tece. Há um lema que o tempo assim nos ensina: Entrega, confia, aceita e agradece...

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Fé Eu peço apenas fé nas minhas preces. Eu rogo a Deus que eu tenha firmemente, A fé que me conforta e me engrandece E deixa-me mais forte e persistente. Com fé tenho a esperança que engrandece; Com fé eu tenho o amor benevolente... É o vento da confiança que aparece E faz com que minha vida siga em frente. Sem fé meus sonhos passam sem magias; Os ideais sem fé são triviais; E todas as conquistas são vazias. Prefiro ter ações mais divinais. Não quero crenças vãs ou fantasias, Eu peço apenas Fé... E nada mais.

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Prece da família Que Deus este lar proteja. E que o possa abençoar, Com sua luz benfazeja, Pra tudo se iluminar. E que a bondade se veja Em cada canto e lugar. A alegria sempre esteja Em quem aqui habitar. Que esta família abençoada Possa ter felicidade; E a saúde consagrada Que traga Nosso Senhor: Muita paz, prosperidade, Muita bondade e Amor.

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Soneto excepcional Não me julgues por ser diferente; Não me culpes por não ser “normal”. Nas visões sociais divergentes, Não sou nada de especial. Não me vejas um deficiente, Por fugir do teu convencional. Nos padrões de uma vida aparente, Todo mundo é excepcional. Não existe ninguém tão perfeito, Que não tenha o menor dos defeitos, Uma falha incomum, anormal... Não podemos julgar, dar sentenças... Se esta vida nos dá diferenças, Frente a Deus todo mundo é igual.

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Onipresença Procure olhar pra traz, tranquilamente, E ver superação e aprendizado. Também procure olhar sempre pra frente, Mesmo tendo caído ou tropeçado. Procure olhar pra dentro firmemente, Sentindo o coração abençoado. Procure amar incondicionalmente, Olhando com presteza pro seu lado. Olhe pra baixo, ajude, realize; Doando aos teus irmãos o teu melhor, E dando o teu socorro a quem precise. Olhe pra cima e veja algo maior. Algo que habita em cada ser que vive E em tudo o que circula ao teu redor.

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Prece Obrigado – Senhor! - pelos presentes, Que proporcionas e nos ofereces. As bênçãos que dispões a nossa frente; Como se fossem gloriosas preces. A lua majestosa e reluzente; O sol que nos desperta e nos aquece; O riso angelical dos inocentes A natureza que nos prevalece. Tudo é Divino tudo é formidável, A graça desse mundo (tão preciso); A glória dessa vida admirável. Na luz religiosa da ciência, Obrigado Senhor por estar vivo, Podendo contemplar essa existência.

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Soneto ao livro Com um livro nas mãos me sinto um rei, No castelo encantado da cultura, Por onde o meu saber comandarei, No reino livre da literatura. Sem livros vou perdido e nada sei; Sou cego, surdo e mudo de leitura. Mas com livros nas mãos me encontrarei No reino da emoção e da aventura. O livro é o meu cachorro de papel Pois será sempre o meu melhor amigo Aquele em quem confio - o mais fiel. Ler ou não ler é uma questão veemente: Posso ser um monarca esclarecido, Ou um bobo da corte simplesmente.

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Soneto a juventude Só tu compreenderás o incompreensível, Dos teus caminhos novos e inseguros. Tu tens nas próprias mãos o teu futuro E podes, sim, fazer o impossível... Te sentes incomum e invencível; Podes pintar teu nome em qualquer muro; Tua mente enxerga o infinito – o escuro - Teu coração enxerga o invisível. Tu tens a tua frente uma jornada Tão longa (tão imensa e indefinida), Mas podes construir a própria estrada. Agora é que começas a subida, Levando na mochila quase nada: Os sonhos e esperanças dessa vida.

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Atacantes agressivos Tem gente que é grosseira e indelicada; É rude, ignorante e descortês; Vive atacando – fortemente armada - Com navalhas da própria estupidez. Gente insensível e mal-educada, Que age com ironia e frigidez; Que deixa muita gente melindrada Com seus embates e com seus porquês... Pra combater toda essa gente inculta, Que agride a todos e a tudo insulta, Não seja mais cruel ou venenoso... Rebata com a atitude mais fatal: O teu silencio humilde e generoso, Num sorriso sincero e fraternal.

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Desapego Desfaz o laço que te prende a terra; Desata o nó que te aprisiona a vida. Se há muito peso, a tua a porta emperra, Muita atração impede-te a subida. Abra as algemas dos teus sentimentos; Solta as amarras do teu coração. Não há elevação e nem desprendimento Se há muitas raízes pelo chão. Essa bagagem tão valorizada Pela ganância louca e descabida, É um peso morto nessa curta estrada. Deixa a matéria despojada, ao léu... Quando chegar a hora da partida, Vais livre e solto pelo azul do céu.

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Soneto da esperança Um dia virá um real novo mundo? Um dia também reinará nova era? Irão respeitar a vital primavera? E a vida terá um valor mais profundo? Que há da ganância que pérfida impera? O orgulho estará pelo chão nauseabundo? Vaidade estará em um poço sem fundo? E o tempo fará sua própria quimera? Talvez eu habite esse mundo tão novo, E assista ao final da pobreza sentida. E veja esse povo se unir num só povo. Será o final da miséria da guerra? Terá esse povo o valor pela vida? Também reinará toda a paz sobre a terra?

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No aniversário de minha mãe Cinquenta e quatro anos se passaram, Nessa tua existência tão sofrida; As dores, as tristezas te marcaram O corpo, o coração e a tua vida. Somente nós, teus filhos, te alegraram Um pouco a tua alma reprimida. Embora algumas lágrimas rolaram, Por nossa ingratidão arrependida. Compreendo o teu silêncio, os olhos tristes; As tuas mágoas nunca demonstradas; A solidão que tanto reprimistes... Cinquenta e quatro anos mãe amada... Dizes que sem teus filhos não existes, E nós sem ti – oh mãe – não somos nada.

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Paz e sossego Amo o silêncio pleno e absoluto; A mais sublime e generosa calma; Que faz de mim um ser mais diminuto, Numa viagem dentro de minha alma. A solidão intensa em que me enluto; E a escuridão completa que se espalma, Me fazem ser mais forte e resoluto, Podendo compreender a dor e o trauma. É uma fuga ao extremo consumismo, Ignorando tudo o que é mundano, Desprezando a vaidade e o egoísmo. E sigo interpretando o bem e o mal. Assim eu deixo de ser mais humano, Pra ser um Ser mais espiritual.

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O artista Você não é você quando você atua. Você não é você quando você encena. No palco, no tablado ou mesmo pela rua, Um rosto que disfarça; um gesto que condena... É só transformação; uma mudança plena Da imaginação que logo se acentua. As mãos, o corpo, a voz, a personagem em cena, Na interpretação que busca e perpetua. É o circo; é o fingimento; a dissimulação... O riso; o choro; o medo; a dor extrovertida... O fantoche, o palhaço, a representação... Você é outro, é outra, em máscara fingida; Fazendo dessa arte a perpetuação Da força e da razão da sua própria vida.

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Aflição Não há razão pra que se guardem mágoas; Nem há sentido pra ressentimentos.... O rio nos passa renovando as águas A vida passa reciclando os tempos. Não há porque se levantar espadas, Cerrar o punho em gestos mais violentos, Vociferando, desejando pragas, Como se fossem tormentosos ventos. Palavras doentias, ulcerosas, Pensamentos repletos de rancores São atitudes sempre tormentosas. Quem vive pelos campos das maldades, Cultivam no seu peito dissabores, Colhendo apenas infelicidades.

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Escola da vida Eu agradeço todos os percalços, Todas as quedas, as dificuldades. Eu tenho gratidão pelos fracassos, Pelos tropeços e adversidades. Eu nunca reclamei dos estilhaços, Das críticas mordazes, das maldades, Dos tombos, das rasteiras, dos embaços, Do sofrimento e das hostilidades. Esses apertos, esses desalinhos, Mostraram todas as imperfeições Que pude superar nos meus caminhos. Sempre agradeço essas tribulações. Embora fossem os mais cruéis espinhos, Também me foram as mais fiéis lições.

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Benevolência Ajude o pobre que lhe bate a porta; Ao mendigo faminto dê esmola; Um prato de comida que conforta; Uma roupa quentinha que consola. Bondade é flor que nunca se desfolha; Sagrado adubo pela terra morta. É água pura quando a sede assola; Descanso certo pela estrada torta. Como Jesus nos ensinou um dia, Demonstre compaixão aos indigentes, Com generosidade e simpatia. O coração bondoso é o que mais brilha. Pois, só é rico verdadeiramente, Aquele que divide e compartilha.

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Cúmulos-nimbos Tinha uma nuvem negra e tenebrosa Por sobre sua cabeça nebulosa; Com raios e trovões; com tempestades... As mais assustadoras crueldades. Com chuvas de arrogância impiedosas; Ganância em trovoadas estrondosas; Com raios de egoísmos, falsidades... E ventos perpetrados de maldades. Ao seu redor o clima sempre instável; O tempo sempre frio, desagradável; Torós eternos de maledicências. Neves de discórdia, intransigência... ... E nessas intempéries tão letais, Foi vítima dos próprios temporais...

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Amanhecer Hoje eu decidi, com toda vontade, A partir do próximo amanhecer, Vou mudar alguns detalhes; vou ter Muito mais amor e felicidade. A partir do próximo amanhecer, Não vou mais olhar pra traz com piedade; Quero refletir, com serenidade; E, com meus erros, me fortalecer. Não vou julgar ninguém; vou entender As pessoas como são de verdade, No profundo e íntimo do seu ser.., Vou sonhar, cantar mais e mais viver... Eu vou voar e ter mais liberdade A partir do próximo amanhecer.

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Dúvidas Talvez “o depois” seja tarde; Talvez amanhã ninguém ame. Quem sabe esse fogo que arde Talvez nunca mais nos inflame. Quem sabe amanhã o covarde Mais valente e audaz se proclame. Não peça que a dor se retarde, Nem mesmo que o amor se derrame. Talvez nem nos venha o futuro; Quem sabe até mesmo não exista Esse tempo assim tão escuro... Talvez seja até muito cedo Pra que nos vigore e persista A dúvida atroz, esse medo...!

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Respostas inquietas "Sofro... Vejo envasado em desespero e lama Todo o antigo fulgor, que tive na alma boa; Respostas na Sombra - Olavo Bilac “Sofro... Tenho impressão que toda a minha vida Se esvai; se decompõe, se apaga e degenera. Percebo com pavor de que ela está perdida. O que posso fazer pra melhorar?” _ Supera! “Eu tento superar, mas é teimosa fera Essa vontade insana, estranha e reprimida, Que luta contra mim e que me dilacera. Que atitudes tomar nessa guerra?” _ Decida! “Já decidi e mesmo assim sempre me torna A mesma tentação que só se intensifica. Que posso então fazer para mudar?” _ Transforma! “Muito já transformei... Isso me debilita. Tudo dentro de mim morreu de alguma forma. Que faço pra viver de novo?” _ Ressuscita!

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Dúvidas cruéis O que haverá depois da etérea ponte, Que um dia todos atravessarão? Por conta dessa vida que é inconstante, Se é que existe alguma ligação? Um sol maravilhoso no horizonte, Ou só a noite - extrema dimensão -? Toda a incerteza que – enfim - se irrompe? Anjos sublimes nos esperarão?... O passaporte ao nada ou à verdade? Será o nosso prêmio a solidão? Será nosso castigo a liberdade?... O que haverá no fim dessa estação? A luz divina de uma eternidade Ou somente o silêncio e a escuridão?...

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Fome e guerra A guerra só nos traz dor e tristeza; Só traz a crueldade e causa o mal; E prolifera a fome; e traz pobreza; Não tem qualquer tratado social. É nada positiva ou benfazeja; É sempre tão racista e tão mortal; É fruto da ganância, da baixeza, Da exploração fiel do vil metal. É tanto preconceito e violência; A guerra só nos traz desigualdades; É ódio, é poder, é inclemência. A guerra é a paixão do impiedoso, Que incita o fanatismo à liberdade, No sofrimento e dor de todo um povo.

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Honra Dizer que a virgindade é uma película, Uma membrana dentro da vagina. É a demonstração bem mais ridícula, De uma cabeça fraca e pequenina. “A honra da mulher!” Essa “coisícula”? A honra nunca foi tão “repentina”. Da anatomia é mais uma partícula, Vulgar e sem valor pra medicina. Importa é ter moral, ter consciência; E bons comportamentos; bons conceitos; Ter atitudes nobres; ter decência... O corpo é muito mais que uns meros traços. Não tirar-se o pudor com preconceitos, A honra não se perde por pedaços.

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Senhor do tempo Você é o responsável pelo clima, Do ambiente em que você habita; Em que você trabalha e onde aplica Sua energia, seu poder e estima... Tudo o que você faz se multiplica, Na proporção em que se predomina: Calor humano que se intensifica Ou a frieza que se descortina. E nessa tempestade compulsória, O tempo favorável não esgota Até a mais humilde trajetória. ...O clima muda se você coloca: O sol da alegria e da vitória Ou nuvens de tristeza e de derrota...

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Janela da alma Eu vi nos teus olhos imensa tristeza; Eu vi nos teus olhos letal desventura; No fundo uma tela sem luz, sem beleza... Passando uma imagem estranha, obscura... Eu fiz nos teus olhos incrível leitura, E, então, decifrei, sem qualquer profundeza, As sombras passadas da tua amargura, As nuvens sombrias da tua incerteza... Eu vi nos teus olhos tristonha gravura, Um campo bem vasto, sem flores, sem cor... E um lago mostrando a maior desventura... E ali nesse lago avistei com pavor: Por cima um espelho de calma e candura, No fundo só lama de mágoa e de dor...

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Coração aberto Se queres ter amor então declara O amor que guardas dentro do teu peito; Quebra as algemas do teu preconceito E solta o sentimento que te ampara. Esquece o teu pudor, o teu defeito, O medo de sofrer, a dor avara... Pois nenhuma emoção nunca é tão cara Que não possas pagar e ter proveito. Se queres ser feliz, então liberta O sofrimento, a dor; e deixa aberta As portas do teu próprio coração. Abra as asas em busca de teus sonhos; Joga fora os teus “lixos” mais tristonhos, Deixando, assim, mais leve o teu caixão.

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Viver A paz está na própria quietude, De um coração tranquilo e harmonioso. O amor se manifesta na amplitude De um coração fiel e respeitoso. A honestidade é – sim – maior virtude De um nobre coração tão valioso. Maior das qualidades, a atitude, Pois faz um coração vitorioso. Teus exemplos maiores são teus calos; O teu suor demonstra, em teu trabalho, O teu caráter e reputação. Nós somos expressões de vários fatos, O cérebro coordena nossos atos, No entanto, quem decide é o coração.

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Atalho Difícil compreender um suicida. Entender suas razões, os seus motivos; As intenções reais, os incentivos, De abreviar, ceifar a própria vida. Não quero ser cruel, acusativo, Nem quero condenar essa investida, Que sentencia a própria despedida, De um modo radical e punitivo. Só quero conceber essa fraqueza, Pois nada da existência justifica Querer antecipar a natureza. Dinheiro, amor, trabalho, nada explica, Pois quem se mata, enfim, tudo despreza, Até o sofrimento de quem fica...

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Peito aberto Declara o teu amor, não tenhas medo; Não te sinta perdido, encabulado... Não pode o amor – jamais – ser sufocado, Na própria vastidão do seu segredo. Liberta o sentimento enclausurado; Exponha essa paixão enquanto é cedo... O amor não sobrevive ignorado, Nem vive o coração em desapego. Não precisa gritar aos quatro ventos. Basta um sussurro de sinceridade, E assim emancipar teus sentimentos. Nem ligue a rejeição - se for verdade. Melhor é ter um não nesse momento Que a dúvida cruel na eternidade.

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Dor Quem de nós nunca sentiu Algum cansaço na vida? Quem de nós nunca se viu Com a esperança perdida? E quem de nós nunca ouviu Uma frase entristecida? Também quem já não possuiu Alguma ilusão perdida? Quem nunca tropeçou nos seus caminhos? Quem não atravessou pelos espinhos Do sofrimento ou então do desamor? Quem passou pelo mundo sem gemido, A vida não lhe deu qualquer sentido, O tempo não lhe deu qualquer sabor.

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Feliz idade Felicidade só na infância existe, A verdadeira das felicidades; Pura, sincera, sem as falsidades Que deixa a nossa vida bem mais triste. Felicidade mesmo, ela consiste Em não se preocupar com as vaidades Da vida adulta... Materialidades Da ilusão que teima e que resiste. Felicidade é simples; é espontânea; É natural, vibrante; é momentânea E faz o coração vibrar... em paz. Felicidade é como um passarinho, Constrói na nossa infância um belo ninho E nunca mais retorna... nunca mais...!

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A urgência de viver Pra decidir, pensamos demasia, E adiamos demais os nossos atos... Vivemos sempre contemplando fatos, Enquanto isso vai passando o dia... Andamos muito tempo com recatos, Mostrando nossos gelos e atrofias Sentamos na plateia, assim, pacatos, Enquanto o tempo faz acrobacias. A mão que não se estende; o riso preso; O amor sofrendo com abafamentos, E a generosidade com desprezos, A vida é a soma de reais momentos. Quando adiamos tudo muito cedo, Pode ser tarde pra arrependimentos.

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Onde mora a fidelidade O verdadeiro amor é exclusivista; Não se divide em outros corações; Tem um só proprietário que confisca Outros quartinhos ou habitações... O verdadeiro amor é egoísta, Não tem escolhas ou variações... Um sentimento de uma só conquista, Um foco apenas de admirações. É leal aos seus nobres sentimentos, Não se associa em corações alheios, Não se aventura com experimentos... O amor fiel ocupa um só espaço, Na soma da metade dos seus meios, Sem ter que dividir em mais pedaços.

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Ex paraíso O universo inteiro palpitava... Supremo silêncio prevalecia; Por sobre as águas Deus descansava, No trono divino ao sétimo dia. Somente um casal ali passeava No seu paraíso; a moradia Da serena vida que vibrava, Por entre a total e doce harmonia... No entanto surgiu astuta serpente, Mexendo, induzindo bem convincente, Com aquele fruto tão tentador. Provaram, pecaram, logo traíram Ao seu soberano e assim construíram Um mundo mais duro e mais sofredor.

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Passagem do tempo Cadê aquele meu herói tão forte? Aonde foi parar minha heroína? Pois foram meus exemplos, meu suporte Da minha mão tão frágil e pequenina! Os vejo vulneráveis, sem um norte... Sem aquele poder, aquela sina... Hoje precisam que eu lhes conforte Do ritmo vital que se declina. A voz mais rouca, a mão tremeluzente, Os pés que já se arrastam, sem deveres... O gesto mais sutil, mais paciente... Meu pai tão sábio e a mãe benevolente. Embora sem os seus “superpoderes”, Serão os meus heróis eternamente!

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Casa de barro Viajante que passais indiferente, Por este adormecido cemitério... Aqui será vosso futuro império Que reinarás silenciosamente. Não fugirás deste habitat funéreo, Nem morarás aqui eternamente. Neste ambiente frio e muito sério, Não serás mais um rei ou indigente... Aqui não têm valor tuas vaidades; Teu ódio, teu rancor, teus impropérios... Riquezas não serão mais qualidades... Verás aqui, sem formas, nem critérios: O limiar de todas as verdades, Ou o final de todos os mistérios...

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Desapego Deixa sempre um espaço no teu peito, Uma lacuna ou um vazio qualquer, Para depositar novos conceitos, Ou mesmo uma surpresa que vier. Separa todo o lixo que puder E organiza todos os defeitos; Despreza as regras que não lhe couber, E queima todos os teus preconceitos. Coisas inúteis, coisas imprestáveis, Descarta as emoções sem serventias, E os sentimentos inutilizáveis... Botando fora tuas velharias Tu abrirás espaços respeitáveis Para as conquistas, para as alegrias...

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Madrigal O cheiro da manhã que me desperta, Trazendo a essência de uma nova vida, Areja o coração e deixa aberta A porta da razão envaidecida. A noite é sempre duvidosa e incerta, Mas a manhã é tão comprometida, Tornando a esperança descoberta, E a hesitação na cama adormecida. Respiro o céu azul profundamente; Abraço o sol que aquece a minha alma; O ar me acaricia lentamente... A natureza é sempre um bom motivo Pra despertar no coração a calma E a gratidão suprema de estar vivo.

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Verdadeiro amigo Amigo de papel logo se rasga; O amigo que é de vidro logo quebra; De ferro enferruja e logo estraga; De areia se desmancha e se depreda. O amigo que é de fogo logo apaga; De água se dilui e se envereda; De barro qualquer chuva lhe esmaga; De leite logo entorna, logo azeda. O amigo verdadeiro é feito ouro; É feito o diamante precioso; O amigo verdadeiro é um tesouro. É de um material bem mais grandioso, Mais nobre, mais sublime e duradouro: Do Amor sincero, o Amor maravilhoso...

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Credo Creio no ser humano poderoso, Criando o próprio céu, a própria terra... No ser que estabelece impiedoso, A paz conciliadora, ou então a guerra. Creio no espírito talentoso; Que não se desespera quando erra; Aprende e desaprende audacioso, Na busca da razão que não se encerra. Creio no ser humano concebido De um ventre bom, da escuridão materna... Que voltará para um sombrio jazigo. No ser que ressuscita a força externa, Num mundo que jamais será infindo, Na vida que jamais será eterna.

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Momento de ternura II Dezembro. Uma manhã celestial; A mãe entra no quarto da filhinha, E lá então encontra uma cartinha, Pedindo um presentinho de Natal. A cena lhe constrange – tão brutal! Perante a vida humilde e pobrezinha, Jamais pode comprar uma bonequinha, Ou mesmo um presentinho trivial. A mãe baixa a cabeça, entristecida; ...Na boca um gosto amargo como o fel... ... Mas, a filhinha lhe diz, enternecida; “_ Se não deu nada o tal Papai-noel, Eu tenho a ti, minha mamãe querida, Já me deu tudo, meu Papai-do-céu!”

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A tragédia de um picareta Ser ou não ser um mero inadimplente? Dever ou não dever, eis a questão: Pagar a conta mais antiga e urgente Ou qualquer uma sem definição? É mais nobre sumir completamente E nunca mais pagar a prestação? Ser mesmo um caloteiro consciente Ou assumir o encargo, a obrigação? Sonhar, dormir... de que adianta isso? Ao acordar lá está o compromisso! O sono não garante a quitação! Sonhar ganhar sozinho a loteria. Daí viver em paz, em harmonia Ou então morrer do coração...!

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Dr. Coração Esse médico monstro nos engana No seu diagnóstico irreal; Receita-nos paixão; nos põe de cama; Em vez de nos curar, nos causa mal. A sua anestesia nos inflama; E a sua pulsação desnatural, Nos deixa lesionados, no seu drama, Na mais hipertensão sentimental. Nos toques e retoques impotentes, Ficamos muito mais impacientes Quando aguardamos suas decisões. No peito alheio faz sua residência; Seu ritmo vital é a consequência Das suas mais chocantes emoções...

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Refrigera-dor Não faça o coração de geladeira, Querendo conservar coisas passadas. Coisas inúteis, sujas, estragadas, Apodrecidas pelas prateleiras. Que vale congelar tais lixaradas? Ressentimentos, mágoas, ciumeiras? Desilusões, rancores, choradeiras? Se não te servirão para mais nada? Potes e mais potes de tormentos; Um vasilhame de dor desconfortável, Ao lado de um caríssimo alimento. Guardar coisas ruins é lamentável. Pois, um dia, esses podres sentimentos, Irão contaminar o que é saudável!

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Ecos da vida Tudo o que você faz sempre lhe volta Muitas vezes com mais intensidade; Quer seja uma calúnia que se solta, Ou mesmo uma mentira, uma inverdade... O ódio contumaz; mesmo a revolta; A intolerância, a ira ou a maldade... Tudo retorna a sua propriedade, E no seu coração sempre se escolta. Tudo reflete seu eu verdadeiro, Tudo regressa ao ponto inicial, Feito um bumerangue traiçoeiro. Seus atos são os ecos da moral; Então seja do bem o mensageiro; E não o precursor do próprio mal!

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A-morte-cedo-r O que nos pode amortecer a dor De uma final e trágica partida, Daquela lamentável despedida, Que o tempo nunca mais vai nos repor? A lembrança, a saudade de uma vida, Um sorriso, um abraço protetor... A inspiração jamais irá compor Aquela ausência amada e tão querida. Nada amortece o impacto infeliz Da perda irreparável e inesquecível, Do fim que ninguém quer e nunca quis. O que ameniza aqui nosso convívio É o tempo ser a nossa cicatriz, E a nossa morte ser o nosso alívio.

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Minha culpa Meu erro foi querer que alguns amigos Regularmente juntos se encontrassem, Também juntos sorrissem, se abraçassem, Proporcionando instantes divertidos. Os meus maiores erros cometidos Foi exigir que nunca desprezassem Aqueles bons momentos; que passassem Valorizando os tempos já perdidos. Eu peço mil desculpas por meus atos; Se eu quis proporcionar felicidade, Se eu quis prevalecer esses contatos. Perdão por demonstrar boa vontade; Por ser muito exigente e muito chato, Valorizando os laços de amizade.

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Singular Todo mundo no mundo é imprescindível; Na vida cada um é cada um, Um ser humano insubstituível, Inimitável, único, incomum. Alguém pode até ser inesquecível, A maioria passa sem nenhum Maior momento histórico infalível; Passa no tempo sem registro algum. Um ser completo, mas deficiente; Um milagre perfeito e desigual; Um ser abençoado e surpreendente. Todo mundo, no mundo é especial, Por fora um arcabouço diferente, Por dentro a mesma alma divinal.

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Botequeiro rebelde Eu sou um vagabundo incorrigível; Eu sou um sem-vergonha inveterado; Sou mulherengo mesmo, sou safado... Um boêmio, um pinguço desprezível. Eu gosto da noitada imprevisível; Um cubinha bem forte e bem gelado; Uma puta bem feia do meu lado, Em um boteco de terceiro nível. Assim é minha vida, são meus dias; Sem direção e sem sentido algum; Sem convenções e sem filosofias. Sou simplesmente um pobre de um bebum. E vou seguindo em minhas noites frias, Sem rumo certo pra lugar nenhum.

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Soneto à toa Deus que me livre de dizer tolices E bobagens me afastem de escrever. Deus não me guie nas esquisitices E que eu não tenha o “dom” de maldizer. Eu desliguei-me das rurais crendices E a fé pomposa não costuma ter. Deus que me livre de escutar sandices, Mediocridades privem-me fazer. Eu quero expor alguns caprichos meus; Possa dizer, mas sem hipocrisia, Que sou um grande ateu (graças a Deus!). Da minha boca soe a voz discreta; Que Deus me arranque a musa e a poesia Ou então me tire a alma de poeta.

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Mendicidade Na vida eu vivo a mendigar bondade, Estendo o coração nessa clemência. “_ Um bocadinho de benevolência!” “_ Um pedacinho de fraternidade!” O mundo mais se afunda na indulgência, É muito miserável a humanidade, A mente sempre cheia de vontade E a alma tão vazia de decência. Sou um mendigo, solto o meu clamor; Pedindo caridade e mais amor; E suplicando generosidade. Estendo a minha mão sincera e amiga: Se alguém doar bondade nessa vida Eu digo em poesia: _Deus lhe pague!

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A tristeza Ela aparece sempre de surpresa, E vai entrando sem pedir licença. Às vezes chega de maneira intensa, Em outras vezes com delicadeza. É sempre angustiante sua presença; O seu comportamento é de frieza; Age com indiferença e com franqueza, Embora, às vezes, cause desavenças. É duro suportar o seu cinismo, Quando aparece nos traz escuridão, E, quando vai, nos deixa um grande abismo. É irmã gêmea da sofreguidão; Agride a alma com seu vandalismo, E despedaça o pobre coração.

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O mal do século Existe um mal que hoje predomina, E que destrói, corrompe e degenera. Com força e rapidez se prolifera; Que infeta, contagia e contamina. Um mal que a tudo busca e se apodera; E com soberba hostil tudo elimina; Imerso na maldade dissemina, Aquilo que somente considera. Tudo o que existe é pra seu gosto apenas; Tem vida eterna no capitalismo; Embora de atitudes tão pequenas Vai louvando o seu deus-materialismo; Esse mal que maltrata e que envenena Chamado comumente de Egoísmo.

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Luar dos anos Se o tempo me trouxer cabelos brancos, Como um luar a me envolver a vida, Trarei bem vivo meu saudoso canto E a paz na alma toda embranquecida. E quando o tempo vir trazer o pranto Aos olhos dos que ficam sem guarida, Quero deixar apenas meu encanto Num peito amigo, numa alma amiga... Que desça a lua sobre os meus cabelos, E, sem tristeza, eu possa recebê-los Dizendo à vida: “_Eis minha canção!... Já não me importa o que de outrora encontre, O tempo envelheceu só minha fronte Mas não me envelheceu o coração.”

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Judas Da traição eu sinto o gosto amargo Um fel que escorre pela minha boca; Os olhos lacrimejam num letargo... A voz quase inaudível de tão rouca. Eu fico a vaguear feito um bastardo; A alma tão vazia, assim tão oca.... No peito uma pressão, tal qual um dardo Que atinge o coração com fúria louca. Da traição eu sinto a dor pungente, Que veio abreviar minha partida Que veio poluir meu ambiente. Em luto transformou-se a minha vida, Em dor a minha alma condolente E o pobre coração numa ferida.

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- 131 -

Mascate Eu tenho um coração itinerante; Um coração volúvel como a brisa. Que faz questão do sentimento errante E da paixão incerta e imprecisa. Diversidade é minha eterna amante; Um coração que nunca se enraíza Uma paixão que sempre segue avante, Um desamor que logo cicatriza. Eu tenho um coração aventureiro; Que voa livre, solto, independente... Alegre, prazeroso e seresteiro. E sigo na excursão que não tem fim. Plantando em cada canto uma semente, Colhendo flores em cada jardim.

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Acessos e desbloqueios Não basta lamentar o isolamento, A falta de amizade e companhia, Tem que rever o teu comportamento; Cada atitude hostil que distancia. É preciso olhar teu coração, bem dentro, Se existe um cadeado: a antipatia; Se têm barreiras: os ressentimentos, Alguma restrição: a hipocrisia. Tu tens a chave: a delicadeza, E para liberar os teus caminhos, Só mesmo a cortesia, a gentileza. Tirando a pedra e afastando o espinho, Deixando a porta aberta com franqueza Jamais te sentirás triste ou sozinho...

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Viver Eu vivo a vida sem estardalhaços; Sem algazarras e sem extremismos; Respeitando as distâncias e os espaços, As pontes, os desertos e os abismos... Prefiro a mente aberta, os pés descalços; As insatisfações e inconformismos; Os bons bocados do que os maus pedaços; A agitação do que o sedentarismo. Eu sou aquele que dá cambalhota; Quem se diverte e nunca se aporrinha; Quem dá uma gargalhada quando arrota. Eu sou assim ligado, assim na minha. Eu sou bem criançola, um idiota, Que fala, escreve e lê muita “abobrinha”...

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Fretenir Meu verso é feito o canto da cigarra, Com uma rouquidão estremecida, Ocasionando atritos e algazarras A incomodar qualquer pobre formiga. A voz sai estridente, sempre esbarra Na dor silenciosa e adormecida. O som sai da barriga e se desgarra, Tentando despertar a própria vida. Meu canto reproduz a minha história; Lutar, voar, cantar, pousar, sofrer... Fazendo da poesia a minha glória. Meu canto é o meu sentido de viver, Na mais modesta e simples trajetória: Nascer, crescer, amar, cantar, morrer...

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Um ser invisível Percebo as vezes que ninguém me nota, Me sinto totalmente ignorado. Gente que vê somente a própria rota, E não enxerga um cidadão suado. Gente que espirra, cospe, tosse, arrota, Com os olhos retos, queixo levantado... No chão encontra uma perdida nota, Mas não percebe o ser humano ao lado. Não pressinto um olhar, mesmo pequeno, Um gesto de carinho solidário Nem mesmo um cumprimento ou um aceno. Não me atinge, porém essa cegueira, Pois se o homem só vê o itinerário, Meu Deus enxerga a minha vida inteira.

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- 128 -

Juízo e condenação O preconceito é pai da intolerância, E primo irmão da irracionalidade. Caminha de mãos dadas com a maldade; Anda abraçado com a ignorância. Se nutre, se alimenta de arrogância; Bebe da própria desumanidade... Se veste às vezes como “discordância” Ou se mascara de “desigualdade”. Vive cercado pela hipocrisia, Buscando a “perfeição” seja onde for. No cume da sua auto idolatria. Tem sempre o dedo em riste acusador. Julgando e condenando dia a dia, Com ódio, fanatismo e desamor.

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- 85 -

No banco da praça Ali naquela praça eu me inspirei, E fiz alguns versinhos bem tristonhos. Na sombra de uma árvore sentei, E desfolhei ali meus pobres sonhos. No mais puro silêncio eu desfilei Os sentimentos mais cruéis, medonhos... De mãos com a tristeza eu passeei; Brinquei com os meus medos mais bisonhos. Joguei no ar sementes de amargura; Reguei com minhas lágrimas o chão; E cultivei a dor e a desventura... Brotou naquela praça a solidão, Feito uma flor tão desprezada e escura, Que tinha a forma o meu coração.

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Soneto aos meus amigos de ontem e de sempre Que saudades da nossa amizade; Nossa infância feliz e tão boa; Da salinha de som; que saudade, Nossa turma, a pelada, a lagoa... Que perfeita e feliz mocidade... Mas o tempo é cruel, não perdoa; Separou, afastou com maldade... Hoje só a lembrança ressoa. ... Os pileques, os bailes, festinhas; As paqueras, os divertimentos; Nosso clube, a boate, as gatinhas... Nossa vida era a nossa aventura... Tudo passa. E passou nossos tempos, Mas a nossa amizade perdura.

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- 127 -

Papo de botequim Eu gosto de um boteco simplezinho; Jogar um dominó, uma caixeta; Tomar uma cachaça, um limãozinho; Conservas com pimenta malagueta. Provar um tira gosto, um torresminho, Na ponta do balcão ou na banqueta; Linguiças penduradas, salaminhos... Marcar fiado numa caderneta... Um gato preguiçoso sobre um saco; Um legume, um tempero, uma raiz... A boa prosa, o generoso papo... Preços marcados com bastão de giz, Mostrando que os valores são baratos E quanto é tão barato ser feliz.

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Rugas Quem sabe envelhecer não se envergonha Do corpo frágil ou então das cicatrizes; São registros das lutas mais tristonhas E marcas das batalhas mais felizes. Eternamente somos aprendizes, Nas horas dolorosas ou risonhas. Jamais abandonamos as raízes, Que ficaram distantes e enfadonhas. Quem sabe envelhecer não passa lento; Se mostra sempre firme, sempre forte; Não se deixa vergar por qualquer vento. ...A vida nos sustenta e dá suporte. Se o corpo perde a guerra contra o tempo, A alma ganha a luta contra a morte.

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Amigos Me sinto assim tão só, desamparado; Necessitando de uma mão amiga, Um ombro amigo ou mesmo um aliado, Que venha amenizar minha ferida. Só vejo a indiferença do meu lado; A infidelidade desmedida. Num egoísmo tão exagerado, Não te socorrem nem te dão guarida O que mais repudia e te renega, É quando estás com as contas mais graúdas, Todo mundo é amigo, é teu colega. ... Se acontecer contigo, não te iludas, Pois há sempre algum Pedro que te nega, Há sempre um beijo falso de algum Judas.

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Verso exposto Eu ponho sentimentos na poesia; Eu exponho alegria na canção; A voz da minha alma é o que me inspira E o que revira a minha criação. Minha palavra vibra harmoniosa, Na paz silenciosa da paixão... Eu busco o que é mais simples e mais belo; O mais singelo gesto de emoção. Não sou nenhum poeta impressionante, Sou apenas amante da beleza, Da sutileza da imaginação... O ritmo da vida é o que me embala; A sensibilidade fala fundo, No mais profundo do meu coração.

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- 125 -

O choro de uma ilha e de um poeta Eu ouço os teus apelos ilha amada; E ouço os teus suspiros, teus lamentos, Por conta dos teus filhos tão violentos, Ferindo-te de forma desalmada. Eu sinto a tua dor, os teus tormentos. As ruas, praias, morros, dunas.... Nada Fica fora das mãos assoberbadas, Daqueles pra quem dás encantamentos. Teus moradores são cruéis e ingratos. Só sabem te explorar, te maltratar; Com muitas agressões e desacatos. Terra querida é triste o teu penar... ... Espero que depois desses maus tratos, Me reste ainda um pouco pra cantar.

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Perfumaria Toda a fragrância do meu dia a dia, Inspira-me a criar e a compor, Um perfume de paz e de harmonia, Alguma essência que amenize a dor. A minha vida é uma perfumaria; Eu busco o verso puro como a flor; O conteúdo é a minha cortesia, O frasco é o romantismo inspirador. Eu sou um perfumista e a minha lida, É a bondade que exala da emoção, No sentimento gentil da mão amiga. Assim vou emanando inspiração; Ao borrifar perfumes nessa vida, Mais perfumado fica o coração.

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Louca mente Admito sofrer certa demência; Eu sou um tanto quanto problemático; Confesso tenho até deficiência, Causando um sentimento pós-traumático. Sou louco pela luz da competência; Pela imaginação eu sou lunático; A criatividade é a minha essência, Em que me torna muito mais fanático. Eu sou obcecado pela arte; Pela literatura eu sou perdido; Dos “loucos pela vida” eu faço parte. Não quero ter razão, nem ter sentido; Eu tenho os pés na lua, a mente em marte; Sou apenas mais um doido varrido!

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Chorando em versos Quando a emoção no coração se aflora, Quando da alma brota sentimentos, Os olhos logo ficam nevoentos E a chuva pela face não demora. O choro muitas vezes só se escora Nas artimanhas dos ressentimentos, Vai e retorna, como incertos ventos, E a tempestade logo vai embora. As lágrimas são feitas de mistérios; Em muitas vezes são chantagens bobas, Em outras tantas, sofrimentos sérios. Nem sempre o coração é tão aberto, No entanto nossas lágrimas são todas, Como gotas de orvalho num deserto...

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Navegar A vida é um rio intenso e passageiro, E o tempo é a correnteza mais cruel. Levou a minha infância. Tão ligeiro, Como se fosse um barco de papel. Eu era o mais feliz dos marinheiros; No coração piscava o meu painel; Fazia da ilusão meu timoneiro; Do sonho, a vela em riste para o céu. Vou navegando hoje em meu remorso, No fundo pedregoso da esperança, Trazer a tona, nada mais eu posso... E assim que naufragou a minha infância, Restando apenas uns meros destroços Um pranto, uma saudade, uma lembrança...

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Encontrando as perdas Eu curto no rosto um largo sorriso; E curto a extensão dos meus cumprimentos. Estreito no braço o abraço preciso, Com as dimensões dos meus sentimentos. A mão estendida em acolhimento; O gesto espontâneo e objetivo; A vida voltada ao melhoramento, De algum coração mais fraco e emotivo. Só não desespero a espera de um ato Humano, gentil, leal, solidário... Um naco de pão; um mísero prato... Assim são as contas do meu rosário. Embora sofrendo eu guardo e sou grato Às cruzes que encontro nesse calvário.

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Soneto da posteridade Por expressar aqui meus sentimentos; Por registrar aqui as emoções; Eu nunca busco reconhecimento, E nem espero condecorações. Eu sei que as poesias são momentos, São os retalhos das recordações, Trazendo a tona alguns encantamentos E sensibilidade aos corações. Eu sei, não vou ter prêmios, nem ter glórias, Nem homenagens, nem idolatrias, E nem solenidades meritórias. Se o mundo não me exalta ou me premia, Eu sigo costurando a minha história Com as linhas mais humildes da poesia.

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Ironia Peço desculpas por eu ser poeta; Perdão por ser assim esclarecido; Eu sinto muito por ter percebido Que apenas a cultura me completa. Não quero ser nenhum prevalecido, Pois sei que a minha arte é bem discreta; Nem mesmo a perfeição é minha meta, Nem faço da excelência o meu partido. Não quero fazer parte dessa massa, Tangida pela própria ignorância, Vestida de cabresto e de mordaça... Desculpem por não ser admirável; Por ter na voz tamanha petulância; Por ser sincero e tão desagradável...

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Para se viver bem Pense sempre de forma positiva, Sem ter medo de nada e de ninguém. Mantenha a sua mente sempre ativa E o corpo sempre ativo assim também. Conserve em você mesmo a fé precisa. À gente sem valor tenha desdém. Se afaste da atitude negativa, Que só lhe traz o mau e nunca o bem. Que a culpa suma do teu dicionário; Jamais se atenha com mesquinharias; Apague as queixas do vocabulário. Busque o prazer, busque a felicidade; E assim serão completos os teus dias, De crescimento e de prosperidade.

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Absolutamente indispensável Deseje apenas o suficiente, Pra viver nessa vida passageira. Não seja tão faminto ou exigente, Nem tente armazenar muita besteira. ...O pouco pra viver alegremente, E o que sobrou levar na brincadeira... Fazer teu coração de confidente E a tua consciência a conselheira. Deseje o essencial saldo bancário, Pra que não vivas pela escravidão, Fazendo da existência o teu calvário. Carregue o que couber na tua mão, O que é suficiente e necessário, No espaço que sobrar no teu caixão.

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Fuga Às vezes da vontade de fugir Para bem longe ou bem perto do nada. De desaparecer e de sumir De forma vaporosa, esfumaçada... Não deixar rastos, nem se despedir; Desintegrar-se sem deixar pegadas... Morar sozinho e nada dividir, Na última casinha ao fim da estrada... Às vezes eu detesto a humanidade, Na mais total e vil misantropia; Julgando sem ter dó nem piedade. ... Eu quero a solidão de moradia; E nesse fim do mundo da verdade, Ter como companheira: a poesia.

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Dores Não quero me fazer de coitadinho; Nem quero faze média ou fazer drama, Que venham me chamar de pobrezinho, Embora soterrado pela lama. Não quero fazer muito burburinho, Sentindo-me a mais suja ratazana; Não quero parecer também mesquinho, Julgando a minha vida a mais mundana. Ninguém quer conhecer as minhas dores; Não querem nem saber dos dissabores, Do sofrimento que me despedaça. Daí se agora estou dentro do poço?! Se eu vivo atormentado até o pescoço?! “Que cada um sustente a sua desgraça!”

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Lego Das pequenas pecinhas que eu ganhei, Do acaso, do imprevisto ou do destino, Encaixei uma a uma e então montei, Meu mundo divertido e pequenino. Armar e amar cada pecinha é a lei Que trago vivo em mim desde menino; E assim eu sou o bobo e sou o rei Desse castelo de que tanto estimo. Valorizar as coisas mais modestas, Vivências e conquistas simplezinhas; O gesto bom, a atitude honesta... Eu sempre li da vida as entrelinhas... O que sobra, o que vale ou o que presta, São as combinações dessas pecinhas.

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Medo Alguns fantasmas causam-nos pavor E nos assombram com magnitude: Do tempo – a liberdade e o seu valor; Da vida – o seu sentido e finitude. A solidão que causa algum terror; As incertezas que trazem inquietude; O medo de enfrentar alguma dor; A falta de ousadia e de atitude. Mas, para exorcizar tais criaturas, Devemos empreender nossas ações, Ter tolerância frente às desventuras. Fazer o bem, sorrir, ter emoções; Tendo coragem nas manhãs escuras; Sempre encarando tais assombrações.

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Estações Começa a vida pela primavera; Doce, florida e divertida infância. É tudo uma pintura, uma aquarela. São flores de surtidas esperanças. E vem a juventude, quente e bela... O sol mais prazeroso, a extravagância; A liberdade, o sonho que se espelha, A beleza, a vaidade e a elegância. E chega o outono desfolhando o corpo. É tempo de mudança e decadência; O vento, uma viagem, um novo porto... Depois então é o inverno sem clemência. A umidade, o frio, o desconforto, Na última estação dessa existência.

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Mal dito O “ser poeta” é hoje uma desgraça; É quase maldição; quase um castigo; O preconceito só lhe despedaça; É sempre ironizado, escarnecido. É mais que um fingidor; ele ultrapassa Qualquer insanidade sem sentido; É mais que um sonhador, ele esvoaça Nos céus dos pesadelos incontidos. Qualquer poeta é hoje um solitário, Andando no deserto da cultura. Um bobalhão que explora o imaginário. O “ser poeta” é hoje um mal sem cura; É quase um marginal, um ser simplório, Encarcerado na literatura.

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Sonhos de um menino pobre Lá no alto do morro, na favela, Numa modesta e pequenina casa, Sozinho, debruçado na janela, O menininho sonhador sonhava. Que pobre e miserável vida aquela. A comida na mesa que faltava; O esgoto a céu aberto na viela; Até a luz ali nunca chegava! Vivia preso à marginalidade. Da violência então era refém; Era refém da criminalidade. Mas o menino olhava o céu, o além, E, mergulhado na simplicidade, Sonhava em algum dia ser alguém.

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Teatro Nada é mais cruel que a hipocrisia; A corriqueira e pobre encenação. Essa gente que veste fantasia, Tentando parecer o que não são. Mesmo fingindo assim com maestria, Fica evidente essa figuração, Nas suas atitudes sem magia, No seu comportamento sem paixão. Pessoas falsas, frias, mentirosas; Que te dão flores “tão maravilhosas!”. De plástico, sem graça ou emoção. Mas, nessa vida tão dissimulada, Pior do que uma mente disfarçada, É um falsificado coração.

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No dia dos pais Eu nunca tive um pai me corrigindo, Eu nunca tive um pai me aconselhando. Jamais peguei em suas mãos sentindo A segurança, a proteção vibrando. Queria ter um pai sempre educando; Ao bom futuro assim me dirigindo; A estrada certa sempre me apontando; Erguendo-me no colo; me instruindo... Um pai que me passasse a experiência, E, sempre juntos, por esse caminho, Que fosse o meu exemplo, a referência. No entanto, a dor maior que não me sai: Não ter um pai a me dizer: “_Filhinho!” E com orgulho lhe chamasse: “_Pai!”

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Boêmia Gosto de conversar com meus amigos, E de compartilhar os bons momentos; Botar pra fora tantos sentimentos; Ter a disposição vários “ouvidos”. Contar e relembrar os tempos idos, As peripécias e os assanhamentos; As festas, jogos, os acampamentos; Os fatos engraçados, divertidos... Uma roda de samba, a cervejada, A bebedeira até o amanhecer; Os risos, gozações, tantas piadas... Os meus amigos fazem meu prazer. E, entre esses bons papos e risadas, Temperam, enriquecem meu viver.

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Soneto ao Palhaço Adoro as pantomimas, trapalhadas; A roupa colorida, as maquiagens; As fantasias e os personagens; Os risos e as sonoras gargalhadas. Adoro os gestos soltos; as mancadas; Os tropeços, os pulos, as bobagens; As puras e simplórias sacanagens; As boas e espontâneas palhaçadas. É um nobre artista de alma tão sofrida, Do nosso riso faz o seu troféu; E aflora em nós a infância adormecida. Abençoado seja o seu papel. Nos picadeiros dessa ingrata vida, No circo desse mundo tão cruel.

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Soneto ao Samba O samba percorre as veias do povo. O samba batuca em nossa emoção. O corpo remexe e mexe gostoso... É o passo, o compasso, a transpiração. O ritmo é solto e bem vigoroso, A corda, a cadência e a percussão. O som do batuque é harmonioso... A timba, o pandeiro e o violão. O samba é o sabor do chão brasileiro. Sentindo o calor na palma da mão, De um povo feliz, de um povo guerreiro. Assim vai o samba, no som da paixão. Na simples batida do batuqueiro, Na voz, na cadência do coração.

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Utopia Meu sonho é ver cair todos os muros, Num mundo mais fraterno, sem fronteiras; Com seres mais humanos, mais maduros, A superar limites e barreiras. Eu quero a paz suprema, sem trincheiras; Espíritos bondosos e mais puros, Com atitudes – mãos – mais companheiras, Também comportamentos mais seguros. Sem guerras, egoísmos, sem ganância, Sem fome, violência, ignorância... Fortalecendo e unindo as gerações. Meu sonho é ver só uma humanidade, Sem preconceitos, sem desigualdades, Com Deus agindo nos seus corações.

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Minha família Fico pensando o quanto tenho orgulho De ter essa família tão querida, Que são tudo pra mim, na minha vida; Presentes do passado ao meu futuro. Ao lado deles sinto-me seguro, Com uma paz tão grande e comovida, Com a emoção mais clara e compreendida, O sentimento forte, o amor mais puro... Amo meus filhos, minha esposa linda. A cada milionésimo segundo, Vivo por eles de uma forma infinda. Habita o coração, bem lá no fundo. Minha família é toda a minha vida, É tudo o que eu mais amo nesse mundo.

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Gente ingrata Não dá pra confiar naquele “amigo” Que faz da ingratidão sua rotina; E que seus interesses põem acima De qualquer sentimento engrandecido. Eu fico magoado e entristecido, Por ver alguém com tanta “disciplina”, Pelo próprio egoísmo ter estima E ser, pela arrogância, corrompido. É duro ser assim menosprezado; Por ser amargamente injustiçado, A dor no coração não se compara. Decepção é o preço mais austero, É dar o seu sorriso mais sincero E receber um soco bem na cara!

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Soneto do idoso Tu falas que meu tempo já passou; Me chamas de antiquado e saudosista; Que a minha história é velha e “já vazou!”. “_Tão velha quanto à ideia monarquista!” Eu sei que a sociedade me expulsou; Já não faço mais parte dessa lista. A gente modernista diz que eu sou: Só mais um pobre idoso excursionista. Sou velho sim, sou árvore banida. Mas ainda dou sombra aos viajantes; Ainda para as aves dou guarida. Nós somos débeis, frágeis anciãos... No entanto esqueces que plantamos antes Os frutos que hoje tens nas tuas mãos...

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Soneto à mulher Toda mulher precisa ser tratada Com muito respeito e muito carinho. Devemos protegê-la em sua estrada E encher de flores todo o seu caminho... Não basta apenas ser valorizada, Nós temos o dever, sem desalinho, Tirar do seu trajeto qualquer pedra E não deixar que pise em algum espinho. Devemos dar-lhe amor com romantismo; E, não importando onde ela estiver, Tratá-la sempre com cavalheirismo. Pois o homem só é grande se tiver, Andando do seu lado, o brilhantismo E a grandiosidade da mulher.

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Semeadura A vida é uma lavoura, um campo imenso. Há muita terra para um bom cultivo; Um solo fértil, firme, produtivo; Só precisando de trabalho intenso. O chão que é bem cuidado é mais propenso Aos resultados certos e precisos. Nosso esforço constante e gradativo, Buscam terrenos muito mais extensos. De sol a sol nós vamos trabalhando... E assim plantamos incansavelmente; E assim continuamos semeando... No entanto percebemos tanta gente, Colhendo muito e muito se fartando, Sem nunca ter plantado uma semente...

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Soneto do boêmio Eu gosto dessa vida de boêmias... Um gole de conhaque, uma cerveja, Uma meia porção de calabresa, As boas discussões; filosofias... A lua a clarear as noites frias; O samba, o violão. “_Mas que beleza!...” Os olhos de cansaço e de tristeza; Nos lenços de papel as poesias. Adoro a “malandrage”, o bom astral; As mulheres da vida perfumadas; O cigarro, a fumaça em espiral... O álcool me acompanha e me conduz; Os meus botecos são: minhas moradas; A noite é minha amante e me seduz...

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Vai passar Lembre-se que na vida tudo passa, Tanto as tristezas quanto as alegrias. Tudo se perde, quebra ou despedaça, Mesmo que durem horas, anos, dias... Um momento infeliz, uma ameaça; Sejam tragédias ou melancolias; A conquista suprema de uma graça; As desavenças, as antipatias... No trem da vida tudo é passageiro; Tudo foge das mãos feito fumaça; Fugazes como um denso nevoeiro. Quer seja um fato bom ou uma desgraça... Na vida é tudo como um aguaceiro: Surpreende, causa espanto e logo passa...

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Viver no morro Eu vivi muito tempo na favela, Por toda a minha infância e adolescência. Que vida tão difícil foi aquela; Que nobre e inesquecível experiência. Embora a roupa rota, a casa rela; A droga circulando; a violência; A gente era feliz; a vida bela, Na mais audaciosa convivência. Muitas vezes não ter o que comer; O desafio pra não se corromper, Diante das pressões do dia a dia... No entanto, agi de forma sempre honesta, Exemplo que na lama mais modesta, Também pode brotar a poesia.

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Suor Não quero nada mais do que mereço; Só quero receber o que for justo: O fruto do trabalho que eu forneço, Da minha devoção, o nobre custo. Agir honestamente. Esse é o meu preço; Crescer e prosperar eu sempre busco; Meu senso de justiça eu mostro e exerço; Também o brilho alheio eu nunca ofusco. Silenciosamente eu ganho espaço, E ali vou construindo a minha história, Sem muita propaganda ou estardalhaço. Minha família é a minha fortaleza. A minha verdadeira e grande glória, É o abençoado pão na minha mesa.

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Soneto do Administrador Nas teorias clássicas, científicas; Nas atitudes mais fundamentais; Na forma empreendedora; nas logísticas; Gestões humanas, comportamentais... Quer seja nas funções, nas estatísticas; Nas organizações industriais; Empresas lucrativas, altruísticas; Ou instituições comerciais... O Administrador é imprescindível. Planeja, faz, lidera e ainda cria, Diante de um mercado imprevisível. Demonstra em sua “orquestra” a maestria. Consegue organizar o que é impossível E transformar o caos em harmonia.

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Desertificação Eu vejo a vida às vezes tão vazia; Insípida, insossa, insuportável. Uma mesmice morna; a calmaria, Que é tediosamente intolerável. Às vezes tudo cansa e me angustia. Um mundo chato e tão desagradável. Cada segundo do meu dia a dia, É totalmente fútil, deplorável... Aos poucos vem formando-se um deserto, Imenso, tenebroso, solitário, De escuridão reclusa em céu aberto... Sou eu o meu maior adversário. Num coração sofrido e descoberto, Cansado pela cruz desse calvário...

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Dor alheia Se eu venho a conhecer qualquer desgraça, E vejo alguma lágrima caindo, Logo meu coração se despedaça; E vou desfalecendo e me ferindo. É estranha essa tristeza que me abraça; Essa angústia que vai me consumindo. O sofrimento alheio que me passa, A dor de cada um que vou sentindo... ... A mãe chorando a perda do filhinho; Algum reencontro. O abraço emocionado; A criança sem lar e sem carinho... Cada tragédia é um peso amargurado, E cada choro é um doloroso espinho, Deixando o coração esfarrapado.

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Sol nascente É lindo o sol surgindo no horizonte; O tom avermelhado pelo espaço, Parece alguma tela de Picasso; A obra-prima mais estonteante. Divinas pinceladas, nobres traços; Soberba inspiração; impressionante Pintura em cores vivas, deslumbrantes, Que deixa o coração em descompasso. A perfeição da natureza é incrível; Ninguém pode imitar essa pintura, Embora genial, é impossível. Nem posso definir num simples verso, Quem construiu tamanha formosura, O criador de todo esse universo.

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Bagagem da vida Todo ser humano quando nasce, Ganha de presente uma mochila, Pra que possa encher, enquanto cresce, Tudo que encontrar em sua trilha. Aonde ele vai, por onde passe, Aumenta-lhe a carga, aumenta a pilha. Assim vai juntando, e se abastece, Enchendo, entulhando essa mochila. Fatos, emoções, comportamentos; Medo, pessimismo, incompreensão; Carregamos dor, ressentimentos... Pra que transportar carga pesada? Pois quanto mais leve o coração, Mais leve será nossa jornada.