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O PROTAGONISMO DA BURGUESIA E DO ESTADO NA ECONOMIA MARANHENSE
Ilnar Fernandes Feitoza1
Resumo O objetivo desse artigo é analisar as formulações de Florestan Fernandes (1976) na economia maranhense, ao se observar os interesses da classe dominante e a atuação do Estado. Constata-se que a economia maranhense voltou-se para atender as demandas do mercado externo, e que em 2016, contabilizou-se a entrada de mais de 2 bilhões de dólares oriundos de produtos exportados, proveniente da venda de mais de 7 bilhões de kilogramas de minérios, soja e celulose. Diversos incentivos foram concedidos pelos governos estadual e federal para atrair o capital nacional e internacional a fim de alavancar a produção para exportação. Palavras chaves: Burguesia, incentivos econômicos, produção e exportação.
Abstract The objective of this article is to analyze the formulations of Florestan Fernandes (1976) in the economy of Maranhão, when observing the interests of the ruling class and the State's performance. It can be seen that the economy of Maranhão turned to meet the demands of the foreign market, and that in 2016, the entry of more than 2 billion dollars from exported products, coming from the sale of more than 7 billion kilograms Of minerals, soy and cellulose. Several incentives were granted by the state and federal governments to attract domestic and international capital in order to leverage production for export. Keywords: bourgeoisie, economic incentives, production, export and Maranhão.
1Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Socioeconômico na Universidade
Federal do Maranhão – UFMA. E-mail: [email protected]
1. INTRODUÇÃO
A Revolução Burguesa é compreendida como uma nova ordem social que
acabou com os privilégios da nobreza e do clero e destituiu o rei o poder na Europa, assim,
pôs fim ao feudalismo. O capitalismo desponta como resultado dessa Revolução.
A Revolução Francesa de 1789 é um exemplo claro de Revolução Burguesa, na
qual se defendia os valores fundantes da ideologia capitalista: igualdade e liberdade, nas
esferas política e econômica. Essa Revolução alicerçou a construção de uma nova forma de
viver e produzir, transformando o servo feudal em proletário, ofertante de mão de obra e
consumidor de mercadorias.
O presente artigo partiu das formulações de Florestan Fernandes a respeito da
Revolução Burguesa no Brasil. Recorreu-se também a alguns autores como Gramsci, uma
vez que este teorizou a respeito do papel do Estado e suas instituições como fundamentais
para o avanço do capitalismo em áreas ainda pouco exploradas; e na mesma linha: Farias
(2015), Foladori, Malazzi e Kilpp (2016), Santos (2011), Becker (2001) e Machado (1991).
Do ponto de vista empírico, buscaram-se dados estatísticos no Ministério de Indústria,
Comercio Exterior e Serviço (MDIC), que evidenciam a expansão das exportações no
Estado, entre 2001 e 2016 e estudos já realizados sobre o tema: Madeira (2015) e Ribeiro
Junior (2014), que elucidaram alguns dos incentivos concedidos ao capital para crescimento
da economia maranhense, como na implantação do Projeto Grande Carajás e à indústria de
papel e celulose, mais especificamente ao grupo Suzano Papel e Celulose. E ainda,
consultou-se o Macrozoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Maranhão (2014),
para identificar pontos de interesses convergentes entre o Estado e o capital.
2. A REVOLUÇÃO BURGUESA NO BRASIL E O PAPEL DO ESTADO NO AVANÇO DO
CAPITALISMO.
Países europeus fizeram a revolução burguesa com o objetivo de construir uma
nova organização social e econômica, mudando, aproximadamente, treze séculos de
história (feudalismo que iniciara no século V e terminava no XVIII). Para Marx, as revoluções
burguesas, ocorridas na Europa, apresentam interesses similares, independente da
localização ou distância temporária e geográfica:
As revoluções de 1648 e de 1789 de modo algum foram
revoluções inglesas ou francesas, foram revoluções de estilo
europeu. Não foram a vitória de uma classe determinada da
sociedade sobre a velha ordem política; foram a proclamação
da ordem política para a nova sociedade europeia. Nelas, a
burguesia venceu; mas a vitória da burguesia foi então a vitória
de uma nova ordem social, a vitória da propriedade burguesa
sobre a feudal, da nacionalidade sobre o provincianismo, da
concorrência sobre a corporação, da divisão [da propriedade]
sobre o morgadio, da dominação do proprietário da terra sobre
o domínio do proprietário pela terra, das luzes sobre a
superstição, da família sobre o nome de família, da indústria
sobre a preguiça heróica, do direito burguês sobre os
privilégios medievais. (MARX, 1982).
No Brasil, de acordo com a análise de Florestan Fernandes (1975), a Revolução
Burguesa, atingiu apenas as proporções necessárias para a manutenção das estruturas do
poder e dos ganhos econômicos das classes dominantes e, não houve participação popular.
O autor entende que a oligarquia defendeu com firmeza a preservação das estruturas de
poder, “para garantir o desenvolvimento capitalista interno e sua própria hegemonia
econômica, social e política” (FERNANDES, 1976, p. 210).
Para o autor no Brasil não existia “uma burguesia distinta e em conflito de vida e
morte com a aristocracia agrária” (FERNANDES, 1976, p. 210). Fernandes (1976) deduz
que a burguesia converteu-se em força social ultraconservadora, buscando as condições
mais vantajosas possíveis para estabelecer associação mais intensa com o capitalismo
financeiro internacional, reprimindo qualquer ameaça popular de subversão da ordem, com
violência ou intimidação. Segundo o autor, a Revolução Burguesa brasileira não ocorreu
como nos países europeus, mas em uma forma particular, devido ao estágio de
desenvolvimento capitalista, que impôs ao Brasil subordinação e dependência:
[...] a redução do campo de atuação histórica da burguesia exprime
uma realidade específica, a partir da qual a dominação burguesa
aparece como conexão histórica não da 'revolução nacional e
democrática', mas do capitalismo dependente e do tipo de
transformação capitalista que ele supõe (FERNANDES, 1976 p. 214).
Para Fernandes (1976) a Revolução Burguesa denota um conjunto de
transformações econômicas, tecnológicas, sociais, psicoculturais e políticas que só se
realizam quando o desenvolvimento capitalista atinge o cume de sua evolução industrial.
Entende que o Brasil, a partir dos fins do século XIX e começo do século XX, passou por
uma Revolução Burguesa extremamente excludente para a maioria das massas.
O autor destaca que depois dos anos de 1930, a burguesia brasileira deparou-se
com três fortes pressões: a primeira vinha de fora para dentro, nascida a partir da
monopolização do capitalismo mundial, que exigia condições de desenvolvimento com
segurança econômica, social e política para “o capital externo, suas empresas e seu
crescimento”. A segunda, vinha do “proletariado e das massas, que expunha a burguesia a
iminência de aceitar um novo pacto social”. E a terceira, surgia da possibilidade da
“intervenção direta do Estado na esfera” (FERNANDES, 1976. p. 216).
Por outro lado, o autor esclarece, que devido a tais pressões os setores das
altas classes uniram-se, estabeleceram associação mais forte com o capital externo,
reprimiu as ameaças populares e transformou o Estado “em instrumento exclusivo do poder
burguês, tanto no plano econômico quanto nos planos social e político” (FERNANDES,
1976. p. 217). Fernandes (1976) conclui:
Pela primeira vez na história do País, a dominação burguesa
mostrou-se como ela é, evidenciando as força sociais que a
compõem e como ela própria funciona; e pela
primeira vez também, ela se manifestou de modo coletivo (não
através de um setor hegemônico, de uma conglomeração passageira
ou de um grupo reinante), logrando como tal a transformação política
pela qual lutara desorientadamente desde a década de 20”. [...] a
dominação burguesa surge com uma composição de poder
heterogênea (com uma base nacional e outra internacional); e
enquanto a dominação senhorial não se defrontava com uma
pressão sistemática das massas populares, a dominação burguesa
identificou esta pressão como o seu inimigo principal” (FERNANDES,
1976. p. 217).
Essa conclusão ratifica exatamente a tese de Marx e Engels, citada por Harvey
(2005), de que o Estado no capitalismo torna-se “a forma de organização que o burguês
necessariamente adota para propósitos internos e externos, para a garantia mútua das suas
propriedades e dos seus interesses” (HARVEY, 2005, p. 82).
Nesse sentido, Foladori, Melazzi e Kilpp (2016) destacam que vários
mecanismos políticos foram conjugados com o propósito de “acelerar as circunstâncias
histórico-econômicas favoráveis ao desenvolvimento do sistema capitalista, e dentre eles, o
Estado jogou o papel preponderante” (FOLADORI, MELAZZI E KILPP, 2016 p. 45). E, mais
adiante complementa:
A atuação do Estado depende do setor dominante na sociedade e
orienta-se em termos gerais a garantir o processo de acumulação ou
desenvolvimento econômico. O Estado estabelece as condições
econômicas e sociais desse processo e adota as medidas
necessárias para que não seja questionado; legitima e garante a
apropriação do excedente econômico por setores distintos dos que
os produzem; promove a política econômica de conjuntura; por fim,
estabelece toda uma série de complexas e variadas medidas no
sentido da lógica da acumulação. O processo histórico e as formas
em que este se desenvolve mostram claramente o caráter classista
de todas as suas ações (FOLADORI, MELAZZI E KILPP, 2016 p.
231).
Gramsci (2001) formulou que o Estado cria o alicerce necessário para sustentar
e revigorar o capitalismo. Já Santos (2011) contribui com a temática, quando enfatiza a
importância do papel desempenhado pelo planejamento para atender a expansão do
capitalismo. Assegura que é por meio do planejamento que ocorre a intervenção do Estado
e promoção dos investimentos privados nos diversos locais ainda não explorados (SANTOS,
2011, p.13).
Para Lefebvre (apud, Becker, 2001) após a construção do território, o Estado
passa a produzir um espaço político para exercer o controle social, por meio de normas, leis
e hierarquias. No Brasil pode-se dizer que isso foi implantado entre 1965-85, na Amazônia,
com o objetivo de completar a apropriação física e o controle do território. Nesse rumo o
governo federal passou a controlar a distribuição de terras, com grande poder de barganha.
Nesse contexto, Becker (2001) entende que somente entre 1966-85 a ocupação
da Amazônia tornou-se prioridade para o Estado, como forma de solucionar tensões sociais
decorrentes da expulsão de pequenos produtores do Nordeste e do Sudeste pela
modernização da agricultura. Poderosas estratégias como a modernizaram de instituições
promoveram a ocupação da Amazônia. Em 1966, o Banco de crédito da Borracha fora
transformado em Banco da Amazônia (BASA) e SPVEA fora transformada na
Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) e em de 1960, fora criada a
Zona Franca de Manaus.
Segundo Machado (1991) houve uma soma de fatores que propiciaram o
nascimento de uma nova região sídero-metalúrgica na Amazônia Oriental, tais como: a
redivisão internacional do trabalho no setor siderúrgico, a ação determinada do Estado
brasileiro (incentivos fiscais e financeiros). E também, as externalidades: proximidade dos
mercados norte-americano e asiático em relação à tradicional zona produtora do Sudeste
criadas pelo Projeto Grande Carajás, que abrange parte dos Estados do Pará, Tocantins e
Maranhão, resultantes, do processo de internacionalização do capital produtivo e da própria
dinâmica de acumulação da economia brasileira: abundância de recursos energéticos,
disponibilidade de mão-de-obra barata e controle ambiental menos rígido.
Portanto, a partir das formulações de Fernandes (1976), constata-se que a
burguesia brasileira, na época das revoluções históricas que buscavam transformar o poder
político e econômico dos países europeus, não estava comprometida com mudanças
estruturais ou sociais nacionalmente. Mas sim, lutaram de forma conservadora e coercitiva
pela manutenção dessa estrutura, garantindo alianças com o capital externo e alcançando
ao mesmo tempo, o controle e a dominação do Estado.
Ratificam essa formulação: Gramsci (2001), Marx e Engels, apud Harvey (2005),
Foladori, Melazzi e Kilpp (2016), Santos (2011), Becker (2001) e Machado (1991) ao
evidenciarem que o capitalismo, representado pela burguesia, garante sua expansão
utilizando os aparatos estatais, mantendo e conservando o poder para si, já que o domina.
Em termos mais precisos, como esclarece Farias (2015), há uma “relação dialética”, entre o
Estado e o capital (burgueses), ou seja, apresentam no movimento contradições, conflitos,
mas também, harmonia, afinação, uma vez que o Estado retrata uma forma de existência e
de autonomia relativa, funcionando “tanto como premissa, quanto como mediação das
relações contraditórias de exploração, dominação e humilhação classistas” (FARIAS, 2015,
p. 50). A seguir procuramos evidenciar esse argumento.
3. A ECONOMIA MARANHENSE: O ESTADO E A DOMINAÇÃO BURGUESA
No caso do Brasil, constata-se, que o Estado fornece o alicerce material e legal
para a instalação e expansão do capital interno ou externo por meio da concessão de
diversos incentivos fiscais, estruturais e financeiros, impregnando a nação com um discurso
de necessidade de desenvolvimento e crescimento econômico do país. Esses incentivos
são fortemente utilizados até hoje, iniciados com mais constância e consistência a partir dos
anos 1950, para algumas regiões, como é o caso da Amazônia, com o propósito de povoar,
fomentar a integração regional, mas incontestavelmente, alavancar setores econômicos
como a indústria e a pecuária.
O II Plano de Desenvolvimento do Maranhão (II PDM – 1975/78) previa um
modelo de desenvolvimento para o estado, baseado numa infraestrutura visando atender o
mercado externo:
[...] esse modelo, baseado no terminal exportador de minérios de
ferro, na construção de uma grande unidade siderúrgica, e nos seus
imensos efeitos germinadores (na indução ao aparecimento,
crescimento ou fortalecimento de indústrias que abastecerão esses
projetos; na promoção de outras grandes unidades fabris que
utilizarão os produtos siderúrgicos como seus insumos básicos; no
estímulo ao aparecimento ou crescimento de indústrias que se
beneficiarão dessas economias de aglomeração) irá marcar uma
nova fase na economia maranhense, com marcantes transformações
estruturais (MARANHÃO, 1975, p. 233).
Para atender os ditames desse II PDM, o Estado, nos anos 1980, implementa
ações previstas no Projeto Grande Carajás (PGC), instituído pelo Decreto-Lei 1.813, de
24/11/1980, que garantiu infraestrutura para novos investimentos e consequentemente a
expansão do capital. Este decreto instituiu: a criação da Ferrovia Serra de Carajás,
instalação ou ampliação do sistema portuário, visando à exportação da produção; hidrovias
e aproveitamento hidrelétrico; pesquisa, extração, beneficiamento, industrialização de
minérios; incentivos a agricultura, pecuária, pesca e agroindústria, além de florestamento e
reflorestamento para incentivar a indústria de madeira.
Madeira (2015), avalia que, devido ao II PDM, o estado concedeu apoio irrestrito
à Aluminium Company of América (Alcoa), para a montagem do Consórcio de Alumínio do
Maranhão (ALUMAR), e também a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), visando sua
estruturação para a produção de minérios a serem exportados. Feitosa e Ribeiro, apud
Madeira (2015), destacam que a ALUMAR e a CVRD fizeram alianças políticas em pelo
menos quatro segmentos: o capital comercial e agroexportador local, o grande capital
nacional, representado principalmente por empresas de construção civil (Camargo Corrêa,
Andrade Gutierrez, entre outras), o capital estatal e o capital financeiro.
Além do PGC, o Maranhão atende aos interesses da classe dominante,
investindo recursos públicos em diversos outros projetos de infraestrutura: energia,
estradas, portos, etc., tais como: Construção do Terminal de Grãos do Maranhão;
Construção da Usina Termelétrica: Itaqui, Estreito, Gera Maranhão, Ampliação do Porto de
Ponta da Madeira, entre outros.
Assim, a economia maranhense, organizou-se para atender as demandas do
capitalismo, visando à produção ou extração de produtos primários para industrialização em
outros centros, nacional ou internacional. Nesse sentido, Botelho (2010) destaca que o
Maranhão:
[...] se encarregado de produzir os produtos primários e destiná-los
ou ao exterior ou ao mercado interno (nacional ou regional) e
comprá-los depois de industrializados. Foi assim com o algodão, com
o arroz, com o gado e está sendo com os minérios, com vários outros
produtos e especialmente com a soja. Nem os processos de
produção e nem as formas de exploração da agricultura são os
mesmos, mas obedecem à mesma lógica da acumulação e
reprodução (BOTELHO, 2010, p.30).
O Estado atraiu também a indústria de celulose para a região de Imperatriz, que
primordialmente, exige o cultivo em larga escala de eucalipto, por ser a matéria-prima base
da celulose. Ribeiro Junior (2014), avalia que, a razão da escolha do Maranhão pela Suzano
Papel e Celulose, foi o baixo preço para aquisição de terras, pois destaca que ao se
comparar o preço estimativo da terra entre Maranhão/Piauí e São Paulo “pode-se concluir
que nas duas primeiras unidades federativas o preço médio de terra chega a ser sete vezes
mais barato do que no Estado de São Paulo” (RIBEIRO JUNIOR, 2014 p. 150).
Constata-se que a economia maranhense voltou-se prioritariamente para
atender o mercado externo e, até 2016, estavam ativas 88 empresas exportadoras de
minérios, grãos e celulose. Desde 2001, a exportação desses produtos atinge mais de 90%
do total. Naquele ano, as exportações atingiam cerca de 544 milhões de dólares (valor FOB)
e 2,3 bilhões em kilogramas, já em 2016, contabilizou-se mais de 2 bilhões e 7 bilhões
respectivamente. Em percentual, nessa sequência, tem-se 291% e 209% de acréscimos.
Reafirmando a pratica, em 2014, a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA) entregou ao Governo do Estado, o Macrozoneamento Ecológico-
Econômico do Estado do Maranhão, e neste, caracteriza as áreas para onde avança o
agronegócio como “áreas com alto potencial social, dotadas de infraestrutura suficiente para
o desenvolvimento das atividades agrícolas, agropecuárias, florestais, industriais e minerais”
(EMBRAPA, 2014, p. 63). Além disso, destaca que no Maranhão apresentam-se dois
fenômenos que possibilitam a obtenção de um desenvolvimento efetivo e mais igualitário:
[...] a integração de mercados internacionais em relação aos quais o
Estado do Maranhão apresenta localização geográfica estratégica,
que resulta em custos de transporte marítimo e tempo de viagem
significativamente reduzidos em relação a outros portos brasileiros.
Por outro lado, vem se consolidando uma conscientização crescente
das lideranças nacionais e internacionais acerca das questões
ambientais e sociais, não apenas visando satisfazer segmentos
engajados na defesa do meio ambiente e das populações menos
favorecidas, mas principalmente como única via de preservar a
sustentabilidade dos sistemas econômicos (EMBRAPA, 2014, p. 21).
Do outro lado, Ribeiro Júnior (2014), avalia que, o Maranhão está diante de um
projeto de desenvolvimento que mantém e realça a concentração fundiária, utiliza a terra
com atividade econômica que gera pouquíssimos empregos, mas conta com todo apoio
financeiro por parte do Estado.
Para Azar (2015), o Maranhão apresenta “em seus programas governamentais,
garantias para o avanço e efetivação dos empreendimentos econômicos empresariais”. Mas
para agricultura familiar e camponesa cria “programas fragmentados e inconsistentes” e por
isso não consegue atender as necessidades (AZAR, 2015, p. 8).
Na figura 1 abaixo, observa-se a participação percentual de minérios, ferro e soja
nas exportações do estado, nos anos 2001-2002 e 2004-2005 e no biênio 2015-2016, entra
também a pasta química de celulose. A soma percentual das exportações atingiu mais que
90%, em todos os períodos. Ou seja, a economia maranhense recebeu incentivos públicos,
para atender as demandas externas, por isso permanece essencialmente dependente, já
que não se industrializou. O Estado atende as exigências do capital interno e externo, cria
as condições para sua expansão, sem observar as reais necessidades produtivas do povo
maranhense.
Fonte: MDIC, 2016.
No sítio da empresa Suzano consta informações que a companhia ao fim de
2015, obteve 41% de ganhos a mais, do que o ano de 2014, registrou receita líquida de R$
10.224,3, milhões, R$ 6.603,4 milhões obtidos no negócio de celulose e R$ 3.620,9 milhões
referentes ao segmento de papel. E que dispõe de uma base florestal que soma cerca de
1,2 milhão de hectares localizadas nos estados: São Paulo, Bahia, Espírito Santo, Minas
Gerais, Piauí, Tocantins, Pará e Maranhão (SUZANO, 2015, p. 6). Há destaque também
para alguns projetos de cunho social realizados para ajudar as comunidades locais, como o
de geração de renda. Dessa forma, a mesma diz o seguinte:
em relação aos projetos de geração de renda, um dos nossos
programas é o Agricultura Comunitária, no âmbito do qual, em 2012,
lançamos a etapa Agrosustentável, na região de Urbano Santos
(MA). A iniciativa visa contribuir para o desenvolvimento das
comunidades do Baixo Parnaíba Maranhense. Desde o início do
projeto, 350 famílias de pequenos agricultores foram atendidas, o
que soma cerca de 1.750 pessoas. Duas fases compõem o
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
2001 2002 2004 2005 2015 2016
ALUMINIO EM FORMA BRUTA 32,01 40,19 14,03 13,02 0 0
FERRO FUNDIDO BRUTO + MINÉRIO DE FERRO
24,47 23,7 45,67 50,26 9,23 8,52
OUTROS GRAOS DE SOJA (TRITURADOS)
13,76 13,09 15,36 14,78 22,68 16,07
LIGAS DE ALUMINIO EM FORMA BRUTA
16,12 9,82 14,43 9,43 0 0
ALUMINA CALCINADA 10,47 9,45 7,52 8,3 34,83 40,68
PASTA QUIM. MADEIRA 0 0 0 0 23,68 26,31
TOTAL % 96,83 96,25 97,01 95,79 90,42 91,58
Figura 1. Exportação do principais produtos do Maranhão, 2001/02; 2004/05; 2015/16 (Part. %)
programa. Uma delas é a Campo Agrícola, que tem foco no manejo,
na organização comunitária, na melhoria da produção e no
mapeamento de canais de escoamento. Neste sentido, só em 2012
foram colhidas cerca de 26 toneladas de alimentos. A etapa seguinte
ocorre na entressafra e incentiva o plantio de hortaliças, árvores
frutíferas e a criação de animais de pequeno porte, utilizando
irrigação e aproveitamento de subprodutos. (SUZANO, 2015, p. 83).
Entretanto, Oliveira (2016) contrapõe o êxito dessa experiência ao discorrer sobre
uma proposta de colaboração entre a Suzano e a comunidade do povoado de Santana, no
município de Urbano Santos. Nesse caso, foi proposta a melhoria da produtividade das
culturas de arroz e feijão, com a implementação de novas técnicas numa área de oito
hectares, objetivando garantir a segurança alimentar das famílias. Mas o resultado não
atendeu as expectativas iniciais, pois:
[...] a insuficiência do plantio coletivizado e da divisão desigual do
produto do trabalho colaborou, assim, para o agravamento crítico da
limitação de acesso ao alimento já introduzido naquele povoado pela
Suzano por meio das suas ações antecedentes à coletivização da
agricultura local. Usando outras palavras, a Suzano criou condições
para que fosse introduzida, a nível social, a insegurança alimentar
em Santana e com o projeto que aparentemente havia sido criado
para combatê-la, tornou-a, pelo contrário, mais intensa (OLIVEIRA,
2016, p. 94).
Assim, a partir dos estudos de Botelho (2010), Madeira (2015), Ribeiro Junior (2014),
Azar (2015) e Oliveira (2016), depreende-se que o estado do Maranhão oferece os alicerces
para garantir os interesses econômicos da classe dominante. E realiza uma conciliação
entre burguesia e latifundiários, voltada para o atendimento das demandas do mercado
externo.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do presente estudo, ficou evidente que o estado e a classe detentora de
poder econômico no Maranhão, mantêm uma relação orgânica, para manutenção das
estruturas de poder, comprovando as formulações de Florestan Fernandes (1976), tecidas
em A Revolução Burguesa no Brasil. Essa teoria vai ao encontro das afirmações Gramsci
(2001), Marx e Engels, apud Harvey (2005), Foladori, Melazzi e Kilpp (2016), Santos (2011),
Becker (2001) e Machado (1991) quanto à dominação do Estado pela classe dominante
para garantir seus amplos interesses econômicos. Farias (2015) confirma essa teoria ao
afirmar que certos marxistas, sejam estruturalistas ou gramscianos deduziram que “o Estado
tem vínculos orgânicos com o capital em geral e com os capitais numerosos” (FARIAS,
2015, p. 89).
Essa relação orgânica no estado é constatada por vários incentivos estruturais,
logísticos e financeiros concedidos aos empresários e latifundiários dados pelos governos
federal e estadual para atrair empreendimentos. Desde os anos de 1980, ocorreram
maciços investimentos iniciados com a criação do Projeto Grande Carajás que visavam o
efetivo desenvolvimento do Estado. Com isso, as atividades do agronegócio são
estimuladas e as exportações alavancadas e, desde então, vem crescendo
sistematicamente, especialmente o soja, minérios e celulose. Entretanto, conforme apontam
as pesquisas de Madeira (2015), Ribeiro Junior (2014) e Oliveira (2016), aos donos dos
meios produtivos foram concedidos inúmeros privilégios econômicos, mas o que o estado se
conseguiu foi um desenvolvimento aparente. Pois, conserva e reforça as antigas estruturas
de poder politico e econômico, fortalece o elo da relação existente entre o Estado e o capital
e a grande, por outro lado, a grande massa dos trabalhadores permanece à margem desse
desenvolvimento.
Além disso, observa-se efetivo crescimento econômico da produção e exportação de
produtos primários como soja, minérios e eucalipto, pois entre 2001 e 2016 a entrada de
divisas cresceu, cerca de 291%, já que apesenta variações, para mais ou para menos no
período. Entretanto, apesar de extraordinários resultados nesses termos, materializa as
várias contradições inerentes ao capitalismo. Contudo, respalda-se a tese de Fernandes
(1976) de que existe: “uma forte associação racional entre desenvolvimento capitalista e
autocracia” (FERNANDES, 1976, p. 292).
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