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Trabalho de Conclusão de Curso O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: AS CONQUISTAS E A PERMANÊNCIA DOS BENEFICIADOS EM AMBIENTE ESCOLAR. Juliana Martins Galdino Cabrera Resumo: Esse artigo irá relatar as conquistas obtidas pelos beneficiários do Programa Bolsa Família e em que esse auxílio possibilitou a permanência de crianças e adolescentes na escola. Embora o programa já existisse há mais de dez anos (completados em 2013), o tema ainda é muito atual tendo em vista que constantemente famílias inteiras têm saído da condição de extrema pobreza e conquistado posições maiores na sociedade e retomado a dignidade que havia sido perdida. Esse tema nos ajuda a mudar o olhar sobre o outro que muitas vezes é tido como 'acomodado'. PALAVRAS-CHAVE: Pobreza; Renda; Bolsa Família. 1 Introdução É relevante estudar os impactos causados nas famílias de baixa renda beneficiadas pelo Programa Bolsa Família; esses cidadãos que outrora estavam à margem da sociedade tem tido suas vidas alteradas após o recebimento do benefício. Crianças e adolescentes voltaram a ter o direito garantido de permanecer na escola sem a preocupação de ter que trabalhar para ajudar no sustento da família. A relevância do estudo se dá pelo fato da Educação ser o pilar de qualquer sociedade que quer e precisa se desenvolver além de abranger questões sociais, políticas, culturais e econômicas de um país. Esse estudo irá focar no beneficiário do programa e quais as transformações foram evidenciadas na família desde o recebimento do benefício até o atual momento. Tentarão ser respondidas questões sobre as mudanças ocorridas nas famílias, se o benefício realmente possibilitou a permanência das crianças e adolescentes na escola e quais as principais conquistas das famílias beneficiadas. 2 JUSTIFICATIVA TEÓRICA A criação do Programa Bolsa Família aconteceu por meio da Medida Provisória nº 132 de 20 de outubro de 2003. convertida e homologada na Lei nº 10.836 de 09/01/2004.

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Trabalho de Conclusão de Curso

O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: AS CONQUISTAS E A PERMANÊNCIA

DOS BENEFICIADOS EM AMBIENTE ESCOLAR.

Juliana Martins Galdino Cabrera

Resumo:

Esse artigo irá relatar as conquistas obtidas pelos beneficiários do Programa Bolsa Família e

em que esse auxílio possibilitou a permanência de crianças e adolescentes na escola. Embora

o programa já existisse há mais de dez anos (completados em 2013), o tema ainda é muito

atual tendo em vista que constantemente famílias inteiras têm saído da condição de extrema

pobreza e conquistado posições maiores na sociedade e retomado a dignidade que havia sido

perdida. Esse tema nos ajuda a mudar o olhar sobre o outro que muitas vezes é tido como

'acomodado'.

PALAVRAS-CHAVE: Pobreza; Renda; Bolsa Família.

1 Introdução

É relevante estudar os impactos causados nas famílias de baixa renda beneficiadas pelo

Programa Bolsa Família; esses cidadãos que outrora estavam à margem da sociedade tem tido

suas vidas alteradas após o recebimento do benefício. Crianças e adolescentes voltaram a ter

o direito garantido de permanecer na escola sem a preocupação de ter que trabalhar para

ajudar no sustento da família.

A relevância do estudo se dá pelo fato da Educação ser o pilar de qualquer sociedade

que quer e precisa se desenvolver além de abranger questões sociais, políticas, culturais e

econômicas de um país. Esse estudo irá focar no beneficiário do programa e quais as

transformações foram evidenciadas na família desde o recebimento do benefício até o atual

momento.

Tentarão ser respondidas questões sobre as mudanças ocorridas nas famílias, se o

benefício realmente possibilitou a permanência das crianças e adolescentes na escola e quais

as principais conquistas das famílias beneficiadas.

2 JUSTIFICATIVA TEÓRICA

A criação do Programa Bolsa Família aconteceu por meio da Medida Provisória nº 132

de 20 de outubro de 2003. convertida e homologada na Lei nº 10.836 de 09/01/2004.

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O maior objetivo do programa é a distribuição de renda para as famílias pertencentes a

condição de pobreza e extrema pobreza em nosso país, além de garantir a inserção desses

cidadãos na sociedade de maneira igualitária. A transferência de renda diretamente para as

famílias visa assegurar os direitos que todo cidadão possui de se alimentar e garantir a

permanência dos filhos na escola, direitos esses que são garantidos na constituição Federal e

no ECA – Estatuto da Criança e do adolescente. É um direito humano ter acesso à

alimentação e com esse programa famílias deixam de passar fome e ter alimentação

adequada.

Ao contrário do que muitos pensam a transferência direta de renda para as famílias faz

parte de uma das três dimensões para a erradicação da fome e da miséria entre essas famílias,

além de reforçar o exercício dos direitos humanos que essas famílias possuem e mediante a

capacitação por meio de projetos que auxiliam os beneficiários a superarem a condição de

vulnerabilidade.

O PBF mudou e tem mudado a vida de muitas famílias que antes viviam em total

desconformidade com a sociedade em geral. A distribuição de renda feita pelo programa

(ainda que irrisória em alguns casos) auxiliou e tem auxiliado constantemente para a

mudança de um cenário que antes não apresentava nenhuma expectativa de mudança para os

menos favorecidos. Vamos apresentar entrevistas realizadas com usuários do programa e a

visão que eles possuem sobre como era, como está e o que pode ser mudado para o

aperfeiçoamento do programa.

É triste constatar que um programa criado para ajudar famílias em situação de

vulnerabilidade tenha sido utilizado para 'favorecer' aqueles que não se enquadram nas

condições preestabelecidas para o programa, conforme reportagem1 apresentada no dia

07/11/2016,

"Depois de varredura nos dados dos beneficiários do Bolsa Família em todo o Brasil,

5.556 famílias de Mato Grosso do Sul perderam o benefício e 7.394 tiveram os depósitos

suspensos por causa de irregularidades encontradas. Dentre os que foram bloqueados e

correm o risco de ficar sem o dinheiro do programa definitivamente, estão 98 que fizeram

doações a candidatos durante a campanha eleitoral.”

1 http://www.campograndenews.com.br/cidades/apos-pente-fino-12-9-mil-beneficiarios-perdem-o-bolsa-

familia-em-ms; Acesso em 7/11/2016.

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É esse tipo de 'acontecimento' que entristece cada vez mais quem realmente precisa ser

atendido pelo programa e tem necessidades urgentes a ser sanadas. Não é tão simples

conseguir a inclusão no PBF. A seleção é feita conforme os critérios apresentados pelo

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e pode demorar, mesmo

assim a inscrição é de fácil acesso. A pessoa se inscreve no cadastro único do Governo

Federal, “a seleção das famílias é feita por um sistema informatizado, a partir dos dados que

elas informaram no Cadastro Único e das regras do programa. Não há interferência de

ninguém nesse processo“. Ter paciência para aguardar a liberação do beneficio pode ser

angustiante para muitas famílias.

A conquista do beneficio por diversas famílias espalhadas pelo Brasil, tem sido um

“divisor de águas” em relação ao futuro de crianças e jovens que antes tinham que trabalhar

para auxiliar no sustento da família. Isso é de extrema importância para a manutenção dos

direitos humanos e a aplicação da Constituição Federal de 19882 que cita:

“[...] Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,

será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao

pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania

e sua qualificação para o trabalho.”

Programas Sociais como esse devolvem a dignidade que antes havia sido perdida por

vários jovens e suas famílias. Garantir a volta da dignidade à essas pessoas é mais que

primordial para o avanço do país.

Uma outra grande conquista para todo o país é a permanência (ainda que forçada em

alguns casos para a manutenção do benefício), dos alunos em sala de aula, conforme

reportagem publicada no site do MDS

O índice de acompanhamento da frequência escolar dos alunos beneficiários do Bolsa

Família registrou um aumento de 6 pontos percentuais nos meses de agosto e setembro deste

ano, comparado ao bimestre anterior. O número passou de 85,57% para 91,8%. Do total de

14,89 milhões de crianças e jovens de 6 a 17 anos acompanhadas, 95,2% cumpriram a

frequência exigida pelo programa de transferência de renda.

2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htmAcesso em 19/11/2016

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Isso nos leva a acreditar que os esforços para a distribuição de renda entre essas

famílias tem tido resultados positivos, uma vez que esses alunos permanecem na escola até os

17 anos, e isso nos leva a acreditar que o avanço nos estudos contribui e muito para a

mudança de pensamento e nas condicionalidades dessas pessoas. Uma tabela apresentada no

site do MDS3 e em um dos trechos da essa questão fica melhor exemplificada com mais 90%

dos alunos matriculados continuarem a frequentar a sala de aula.

“[...] O acompanhamento da frequência escolar dos alunos beneficiários do

Bolsa Família integra as chamadas condicionalidades do programa, que são

compromissos assumidos pelas famílias e pelo poder público com o objetivo

de garantir o acesso aos serviços de saúde e educação. Na educação, os

estudantes de 6 a 15 anos devem cumprir uma frequência escolar mensal

mínima de 85%. Já os jovens entre 16 e 17 anos devem ter frequência de, no

mínimo, 75%. Para o diretor, a condicionalidade de educação é uma das

principais ferramentas do programa Bolsa Família para a superação interge

racional da pobreza.

“À medida que estimulamos a permanência no sistema escolar, aumentamos

a capacitação dessas pessoas. Quanto maior o nível de educação, maior

tende a ser o nível de renda. Crianças e jovens que frequentam a escola têm

mais chances de superarem a situação de pobreza de seus pais”, completa.”

Isso é constatado no trecho da reportagem acima.

O quadro abaixo nos mostra qual é a situação dos alunos no Estado de Mato Grosso do

Sul, onde 90,10% dos alunos são acompanhados pela frequência. Isso fica evidente nas

condicionalidades presentes no recebimento do benefício do PBF, quando nas entrevistas

realizadas com beneficiários, é evidenciada a necessidade de frequência escolar e em caso de

falta, ser justificada com atestado médico ou a apresentação do responsável no ambiente

escolar.

3 http://mds.gov.br/area-de-imprensa/noticias/2016/novembro/bolsa-familia-acompanhamento-da-frequencia-escolar-alcanca-91-8-dos-beneficiarios; Acesso em 20/11/2016.

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Toda essa frequência escolar pode e deve ajudar muito a reverter situações culturais que

ocorrem em algumas localidades da nossa própria cidade e no nosso país, onde a

desigualdade entre homens e mulheres ainda é gritante. Um bom exemplo pode ser visto no

documentário SEVERINAS, apresentado no módulo I do Curso de Especialização em

Educação, Pobreza e Desigualdade Social, nele é possível sentir o impacto ao descobrir que

ainda existem homens que acreditam serem superiores as mulheres, pelo simples fato de

serem homens. Fica claro também que a falta de instrução e perspectiva de vida faz com que

algumas mulheres, submetam-se a situações vexatórias e constrangedoras por parte de seus

companheiros. Quando a moradora Norma diz que "ele é bom, mas é vaidoso", ela mostra um

aceitamento de tudo que passa diariamente e finaliza acreditando que tudo acontece por conta

do destino. O vídeo já começa mostrando que naquela região quem tem o ‘domínio’ é o

homem, isso fica claro quando o garoto transmite um recado do pai à mãe, mandando-a parar

a gravação e ele ainda ameaça a própria mãe. “A qualidade do homem é superior, a qualidade

da mulher é inferior”, essas palavras de “Chefe” mostra o quanto a falta de instrução e a

própria ‘cultura local’ interfere na qualidade de vida das pessoas desse lugar.

Outro ponto que muito me chamou a atenção e que pode ser um divisor de águas é o

posicionamento da jovem Mirele, neta de Chefe e filha de Luzia, estudante que diz querer

estudar para não ter o mesmo destino da mãe, que foi trabalhar e ter filhos. É evidente que a

mulher é tratada como um ser minoritário nessa região, "ser mulher é ser mulher", foi uma

das respostas de uma entrevistada Luzia filha de Chefe, a figura sofrida e magoada é

perceptível a qualquer pessoa; o olhar sem esperança diz mais do que qualquer palavra que

possa aqui ser escrita. Por não terem estudado, essas mulheres mostram um conformismo

forçado, já que nesses lugares a 'cultura' é de que "o homem manda e a mulher obedece", a

mulher serve apenas para o trabalho e procriação.

Com todo esse acompanhamento que é feito com os estudantes pode-se ajudar a mudar

situações de varias regiões, inclusive a nossa.

Nem sempre é tarefa fácil manter e trazer novamente para sala de aula crianças que já

conhecem a rotina árdua do trabalho, além do que elas precisam ser ensinada de que o estudo

é a melhor maneira de mudar a condição social na qual estão inseridas.

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O trabalho infantil ainda é uma questão complexa a ser tratada, pois vários são os

fatores que causam a sua disseminação, além da cultura de algumas regiões do nosso país.

Em MS o que mais presenciamos em nosso dia a dia, são crianças que recolhem latas de

refrigerante para reciclagem e assim garantem um pequeno 'salário'. Outra questão pertinente

é que em algumas regiões do país, frequentar a escola não traz benefícios nenhum às famílias

de determinadas regiões, isso é verificado no documentário “Escolarizando o mundo – o

último fardo do homem branco”, sugerido na unidade II do módulo do Curso de

Especialização Educação, Pobreza e Desigualdade Social disponível no link:

https://www.youtube.com/watch?v=3Xux89-8MX4. O vídeo traz uma fala de uma senhora

que muito me chamou atenção: “quem vai pra escola, não sabe fazer nada aqui.” Será que em

todas as regiões a chamada ‘educação’ irá mesmo reduzir o distanciamento das camadas mais

pobres para o desenvolvimento ou irá aumentar ainda mais esse obstáculo?

Em sala de aula ainda que ‘inconscientemente’ repetimos um o processo de

homogeneização presente nas práticas escolares, acreditando que em todas as esferas da

sociedade as condições sempre serão as mesmas, e constatamos que não é bem assim que

ocorre. É necessário que as diferenças existentes entre as culturas de cada aluno também

sejam respeitadas, pois se não for assim, pode-se perder muito daquilo que já foi conquistado.

Os movimentos sociais também tem contribuído para que as diferenças sejam respeitadas,

eles trabalham para que a diversidade cultural e social dos alunos presentes em ambiente

escolar seja respeitada e valorizada; não deixando com que uma suposta ‘cultura superior’

sobreponha a cultura dos demais. Isso fica evidente quando são trabalhados temas de culturas

diferentes e quando o debate para buscar compreensão sobre determinada cultura, não fica

apenas dentro dos livros didáticos.

A estratégia do Governo com o objetivo de minimizar as consequências da

desigualdade social no Brasil e promover o acesso e permanência dos sujeitos na escola, faz

com que o PBF busque garantir as famílias beneficiadas o direito a alimentação, o acesso à

educação e a saúde. O vídeo apresentado no módulo III do Curso de Educação, Pobreza e

Desigualdade Social “Bilú e João”, dirigido por Kátia Lund, mostra a dura realidade de

muitas das crianças que vivem em nosso país, se as famílias dessas crianças recebessem o

benefício do PBF, quem sabe elas estariam na escola ao invés de estarem nas ruas vivendo os

perigos diários que a cidade oferece.

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“[...] Desse modo, as condições de vida das crianças e dos (as) jovens

pobres no Brasil deixam à mostra as desigualdades sociais e a falta de

concretização de direitos garantidos por lei, como viver com dignidade ou

estudar em uma escola de qualidade. O que podemos observar é que

inúmeras crianças e jovens de origem popular vivem hoje nos “limites da

sobrevivência”, colocando em descoberto a grave desigualdade social

presente em nossa sociedade”.

O que fica evidente com o PBF é que famílias em situação de pobreza ou extrema

pobreza possam ter uma qualidade de vida mais digna e permitir que as crianças frequentem a

escola sem a necessidade de trabalho para o auxilio da família.

Uma das maneiras na qual podemos nos atentar sobre a importância da manutenção do

PBF, são as entrevistas realizadas com os beneficiários. Seguem na íntegra três relatos de

famílias que recebem o benefício.

Entrevista 1

1) Nome e idade

Carla Daniele Rodrigues Monson dos Santos, 30 anos

2) Quantos filhos você tem? Em que série estão?

São 4 filhos; João Paulo 5º ano; Caio pré 1; Samuel creche; Marjorie 6º ano

3) Recebe o benefício do PBF? Qual o valor recebido?

Sim, R$ 117,00

4) Como esse valor é utilizado pela família?

“No caso esse valor é usado em alguma mistura, pra alguma conta de energia, alguma

despesa pra dentro de casa mesmo; que já vem na metade do mês lá pelo dia 18 dia 20 então

já é alguma coisa, algum lanche pras crianças, alguma coisinha assim nesse sentido.”

5) A família possui outra renda além do PBF? Qual o valor?

Só o do meu esposo; não chega, chega um pouquinho a mais que um salário mínimo.

6) O que você compra com o dinheiro do PBF?

Mais é pros meus filhos mesmo, alguma roupinha, algo pra eles comerem mesmo, algo pra

eles. Eles é que são beneficiários então até pra diversão quando dá pra sair com eles

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Trabalho de Conclusão de Curso

7) você conhece os critérios para participar do PBF?

Conheço, permanecia da criança na escola, consulta medica, preventivo...

8) se você pudesse Carla, o que você mudaria no PBF?

Olha, eu mudaria a parte deles investigar melhor as pessoas que recebem o benefício, que

de fato são varias pessoas que não precisam e usam né e recebem.

9) O auxílio recebido do PBF ajuda na vida escolar dos seus filhos? Como?

Ajuda, ajuda assim... porque pra mim eu preciso muito né do valor que me ajuda, me ajuda

bastante as vezes um caderno, as vezes um material escolar, mesmo que pedem ou que tá

precisando sempre eu deixo ele guardado, agora que fizeram esse conta poupança né com ele

fica mais fácil de usar, que você não precisa usar tudo ele.

Entrevista 2

1) Nome e idade

Paula Duarte, 53 anos.

2) Quantos filhos você tem? Em que série estão?

Tenho 2 filhas, uma com 31 e outra com 24 anos, mas tenho a guarda de três crianças que

moram comigo já faz 6 anos. Um com 12 (quase 13) no 7º ano, o outro com 11 no 6º e o

menor com 8 anos na 2º ano.

3) Recebe o benefício do PBF? Qual o valor recebido?

Sim, R$ 220,00

4) Como esse valor é utilizado pela família?

“Então, eu uso com os meninos mesmo, com as coisas que eles precisam, um tênis, roupa,

mochila essas coisas. Compro ‘mistura’ pra casa, fruta, as coisas que eles pedem e quando dá

a gente compra. Mas quem gasta mesmo esse dinheiro é eles. “

5) A família possui outra renda além do PBF? Qual o valor?

Tem sim, eu trabalho em casa de família e meu marido é pedreiro. Eu ganho um salario

mínimo e a renda do meu marido varia quando tem serviço. Mas deve ser de R$ 1.000.00

6) O que você compra com o dinheiro do PBF?

Compro as coisas que eles precisam, não tem destino certo, criança todo dia inventa um

‘troço’ diferente. Chinelo que arrebenta lápis que acaba tanta coisa. O que eles precisam eu

compro na medida em que pode.

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7) você conhece os critérios para participar do PBF?

Conheço, eu levo meus meninos no dentista, no medico, quando tem que pesar eu levo

também, faço o preventivo. As vacinas deles está tudo em ordem.

8) se você pudesse Paula, o que você mudaria no PBF?

Eu ia procurar saber se quem recebe precisa mesmo. Tem gente que recebe e não compra

nada pras crianças. Tive um vizinho que recebia o dinheiro e gastava tudo com cerveja, as

crianças não podiam pedir uma bolacha. Tem que ir nas casas pra ver se pelo menos tá tendo

uso pro que deve comprar mesmo. Eu sei que não precisa ser pra uma coisa especifica, mas

que use pro bem das crianças, se não fosse elas não teria esse dinheiro pra usar.

9) O auxílio recebido do PBF ajuda na vida escolar dos seus filhos? Como?

E como. Eu recebia quando a minha filha caçula era pequena o PET (Programa de

Erradicação do Trabalho Infantil), era R$ 40,00 e tinha mês que a gente vivia só com esse

dinheiro. Agora com os meninos que eu receno R$220,00 ajuda muito. As vezes quando meu

marido fica sem serviço é esse dinheiro que ajuda a comprar comida e as coisas pra dentro de

casa. Quem é que te dá dinheiro assim? Ninguém. Por isso eu agradeço muito, eu sei que eu

trabalho, mas eu preciso, são três meninos e eles gastam muito.

Entrevista 3

1) Nome e idade

Jeane Moreira da Silva, 29 anos.

2) Quantos filhos você tem? Em que série estão?

Tenho três filhos, dois meninos e uma menina. O de 8 anos tá no 2º ano, o de 7 no 1º e a

menina tem 4 e ainda não vai pra escola e nem pra creche. O pai dela não quer.

3) Recebe o benefício do PBF? Qual o valor recebido?

Sim, R$ 200,00

4) Como esse valor é utilizado pela família?

Ah! Eu uso pra compra as coisas que as crianças pede. Sorvete, lanche, um brinquedo ou

pra compra as coisas pra dentro de casa mesmo. As vezes falta alguma coisinha aí eu vou e

compro.

5) A família possui outra renda além do PBF? Qual o valor?

Meu marido trabalha e ganha R$ 1.200,00

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6) O que você compra com o dinheiro do PBF?

Como eu falei, compro as coisas pras crianças. Não tem nada certo pra comprar, as vezes

quando a gente vai fazer a compra leva eles, e aí eu falo que cada um tem ‘tanto’ pra comprar

alguma coisa que eles quer, eles olham e perguntam se o dinheiro dá. Menos a pequena, pra

ela o dinheiro compra o mercado inteiro. (risos)

7) você conhece os critérios para participar do PBF?

Conheço sim. Os meus filhos não faltam na escola. E eu sempre levo pro posto quando

precisa.

8) Se você pudesse Jeane, o que você mudaria no PBF?

Eu ia sugeri que eles façam sempre uma pesquisa com quem recebe, pra ver se realmente

precisa do dinheiro. Eu fiquei muito tempo recebendo R$ 120,00, aí fui no CRAS (Centro de

Referência e Assistência Social) levei os documentos das crianças e aumentaram meu

beneficio. Me ajudou muito, fiquei muito feliz.

9) O auxílio recebido do PBF ajuda na vida escolar dos seus filhos? Como?

Ajuda, porque tem dia que a gente não tem dinheiro nem pra passe de ônibus. Pobre não pode

recusar ajuda de ninguém, se é um direito que a gente tem, tem que ir atrás. Não posso

trabalhar por causa das crianças, elas são pequenas ainda, se eu for pagar alguém pra cuidar,

vaio levar metade ou mais do salario, por isso esse dinheiro me ajuda na hora que acaba tudo,

sempre vem numa data boa.

A conclusão que podemos chegar após esses relatos sinceros de beneficiários do PBF, é

de que ainda que o valor recebido não seja alto, esse dinheiro é mantedor de muitas e muitas

famílias que dependem as vezes somente do beneficio recebido. Cada família utiliza o

dinheiro da maneira que julga ser o mais correto, e isso traz segurança e qualidade de vida. A

dignidade resgatada ao poder escolher aquilo que se prefere no ‘mercadinho’ do bairro ou ir

até o centro da cidade e poder escolher um calçado é para essas mães, que em sua maioria

recebe e administra esse valor, uma grande conquista. Não foi raro ouvir elas me dizerem que

podem escolher “fazer o que quiser“ com o dinheiro sem precisar depender do esposo.

Todos esses relatos fizeram com que eu percebesse que a dignidade de muitas foi resgatada, e

que as crianças embora algumas ainda muito pequenas, já esperam por um determinado dia

do mês em que sabem que irão poder escolher aquilo que querem comer, seja um simples

sorvete “que tem lá perto da escola e é grandão tia” ou um lanche a noite perto da praça do

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bairro: “ a gente senta nas mesas e deixa eles escolher, eles gostam de pedir refrigerante,

coca-cola. É uma alegria só.”

O que a maioria pede é que sejam feitas averiguações frequentes sobre quem recebe o

benefício, dessa maneira muitas fraldes como as quais presenciamos a pouco em rede

nacional, sejam evitadas e que mais famílias possam ser beneficiadas com o recebimento do

valor.

Politicas públicas devem ser pensadas para a manutenção das conquistas dessas

famílias, que vão desde a formação de um filho no ensino médio a ser o primeiro da família a

frequentar a escola sem precisar trabalhar.

Referências

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,

DF: Senado, 1988, disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm Acesso em

19/11/2016

REGO, Valquíria Leão; PINZANI, Alessandro. Vozes do Bolsa Família: autonomia,

dinheiro e cidadania. São Paulo: Unesp, 2013

PINZANI, Alessnadro; REGO, Walquíria Leão; Módulo I - Pobreza e Cidadania, 2015.

LEITE, Lucia Helena Alvarez; Módulo III - Escola: espaços e tempos de reprodução e

resistências da pobreza, 2015.

FORTES, Erastos; Módulo II - Pobreza, Direitos Humanos, Justiça e Educação; 2015.

ARROYO, Miguel González; Módulo IV - Pobreza e Currículo: uma complexa articulação;

2015.

Programa Bolsa Família : uma década de inclusão e cidadania /organizadores: Tereza

Campello, Marcelo Côrtes Neri. – Brasília : Ipea, 2013.

SEVERINAS. Direção: Eliza Capai. Realização: Agência Pública. Brasil: Microbolsas, 2013.

1 documentário (10 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_Rn7GF-u1tw.

Acesso em: 25 nov. 2016.

Vídeo: Bilu e João, Diponível em: https://www.youtube.com/watch?v=9IpfZuCdq6s, acesso

em: 10/11/2016.

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Trabalho de Conclusão de Curso

http://moodle.epds.ufms.br/arquivos/biblioteca/educacao/Vozes_do_bolsa_familia_Autonomi

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http://www.campograndenews.com.br/cidades/apos-pente-fino-12-9-mil-beneficiarios-

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http://mds.gov.br/area-de-imprensa/noticias/2016/novembro/bolsa-familia-acompanhamento-

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