O Português Da Gente

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O portugus da gentea lngua que estudamosa lngua que falamos

Rodolfo IlariRenato Basso

Um pouco de histria: origens e expanso do portugus

O portugus a oitava lngua mais falada no mundo e o Brasil o maior pas de lngua portuguesa. Para compreendermos a implantao e o desenvolvimento da lngua portuguesa falada no Brasil, preciso voltar s origens da Nao portuguesa, mais ou menos por volta do ano 1000, at poca dos descobrimentos, em 1.500.

As origens latinas

O portugus deriva do latim. No aquele latim que se aprendia na escola (latim literrio) ou o que era utilizado pela Igreja Catlica (latim eclesistico), mas o chamado latim vulgar. Por ter sido um vernculo foi assimilado espontaneamente e inconscientemente pela populao. Exemplo: ningum no Brasil dizfa-lo-ei,tu o fizeste ouningum lho negaria.Essa a forma aprendida na escola, mas no o vernculo usado no dia-a-dia.Ao contrrio do latim literrio e do latim eclesistico, o latim vulgar (vernculo) foi repassado adiante, sem o auxlio da escrita. O Imprio Romano foi o grande propagador do vernculo nos territrios ocupados.No entanto, aps sculos de estabilidade poltica romana em quase toda a Europa e da uniformidade do latim vulgar, a lngua falada passa por inmeras diversificaes regionais, a partir das invases brbaras. J no fim do sculo X, h um verdadeiro mosaico de falares locais, muitos com prestgio. So eles: o romeno, o italiano, o sardo, o reto-romnico, o occitano, o francs, o catalo, o espanhol, o galego e o portugus.O latim eclesistico e o literrio, que continuaram a ser usados para outros fins, diferenciavam-se do vulgar tanto em sua estrutura gramatical quanto em seu lxico.

O longo caminho entre as origens latinas e o portugus atual

rabes e cristos conviveram por mais de sete sculos na Pennsula Ibrica, at o advento dos movimentos poltico-militares cristos chamados de Reconquista dos territrios ocupados. Em franca expanso, esse territrio se expande e surgem os reinos de Portugal, Castela e Arago (os dois ltimos viriam a se reunir, formando o reino da Espanha).Da convivncia com os rabes, nasceram duas culturas a Morabe (aquele que se parece com o rabe) e o Mudjar (o rabe que vive em territrio cristo), com forte influncia na arquitetura e na literatura.Por volta do ano 1000, os povos que viviam ao norte da Pennsula Ibrica (que falavam o galego, o leons, o asturiano, o castelhano e o aragons) partiram para conquistas ao sul da Pennsula se sobrepondo, enfim, ao Mocrabe. O centro do poder deslocou-se para o sul, principalmente em Portugal.As principais renovaes da lngua partiram, portanto, do sul (Lisboa e Alentejo), sem alcanar, contudo, o extremo norte, resultando na separao do portugus do galego. J a Galiza, ao Norte, o primeiro bero do portugus, acabou sendo incorporada pela Espanha, no final do sculo XV.

O portugus arcaicoA lngua falada em 1100 no bero do Estado portugus era muito parecida com o galego, da a denominao galego-portugus, utilizado no sculo XIII como lngua da poesia, no s pelos trovadores portugueses, mas tambm de outras regies da Ibria, o que comprova o seu prestgio.Ao mesmo tempo, na regio que denominamos hoje de Portugal, os documentos oficiais eram escritos em um latim literrio, mas j com fortes influncias do vernculo. Mas, para os outros escritos populares, produzidos por quem j no conheciam o latim, adotava-se a fala corrente.A lngua do perodo que vai da formao do Estado portugus at o apogeu das navegaes conhecida como portugus arcaico. Muito difcil, a ortografia ainda no estava suficientemente fixada. Ficava a meio caminho entre o latim vulgar e o portugus atual. Na medida que assumiu as funes de um lngua de cultura, houve necessidade de escrev-la. Surgem, ento, as primeiras dificuldades. Uma delas a separao da fala em palavras (ainda hoje, a segmentao motivo de hesitao; muitos erram escrevendoderrepente, ao invs dede repenteouporisso, ao invs depor isso).Outra dificuldade representar na escrita, atravs do alfabeto latino, alguns sons que haviam sido criados em portugus e que o latim desconhecia, entre eles as vogais e os ditongos nasais ( como emv, moemes) e as consoantes palatais (como emilha, unhaecheio). Hoje, a grafia dispe do til do ch, do lh e do nh. Mas na fase medieval eles no existiam, o que era comum verificar formas diferentes de representar esses sons num mesmo texto.

O portugus clssicoEm pleno auge econmico, as riquezas tambm se refletiram na cultura e nas artes. Com S de Miranda, Cames, Antnio Ferreira e Joo de Barros, o sculo XVI costuma ser apontado como o sculo de ouro da literatura portuguesa.O portugus literrio do perodo clssico j bem mais familiar, devido s modificaes no lxico e na sintaxe. Desaparecem formas e construes do perodo arcaico, como advrbios, e particpios. No entanto, a fontica e a grafia nem sempre correspondiam. Durante todo o perodo arcaico e boa parte do clssico, o portugus manteve em sua fonologia o chamado sistema de quatro sibilantes que constitudo pelas africadas ts e dz e pelas constritivas s e z, que correspondiam graficamente a c + e, i, c + a, o, u, z, s ou -ss- e -s-. Isso quer dizer que, no incio do sculo XVI, as grafias ce, ci e se, si assinalavam ainda uma efetiva diferena de pronncia. Hoje, isso no existe mais, as palavras cesta e sexta tm a mesma pronncia, mas com grafias diferentes e isso cria um problema a mais para os alfabetizadores.Os intelectuais da poca passaram a ter duas tarefas: fixar a lngua, regularizando-a, e enriquec-la, atravs do convvio com o latim clssico, redescoberto no perodo do humanismo. Abriram-se as portas, por exemplo, para termos como lcido, tuba, trmulo e flutuante.Dessa forma, o latim clssico passou a ser uma lngua de reserva a qual era possvel recorrer para criar novos termos de carter cientfico ou tcnico. Isso explica, por exemplo, a existncia de palavras que nasceram da evoluo do vernculo do latim vulgar e de palavras criadas por imitao da mesma palavra latina, mas partindo de sua forma literria, como olhos e culos (derivao popular do latim culo, o(c)ulo) e cho e plano (derivao erudita do latimplanu). Aconteceu tambm a formao intermediria; a semi-erudita, como em artelho, artigo e artculo, ou em malha, mancha, mgoa e mcula que remontam ao latim macula.Outras incorporaes ocorreram, devido s conquistas portuguesas, como as palavras zebra (etope), canja (malabar, falado ao norte da ndia) ou ch (mandarim). Das Amricas ganhou o cacau (do nauatl), chocolate (do azteca), amendoim, mandioca e tapioca (tupi). Levou para a Europa outras lnguas o manga (do indonsio), tapioca (tupi) e sagu (malaio). Recebeu do italiano palavras como canalha, capricho ou do espanhol, bizarro, fanfarro e barraca.Podemos considerar a passagem para o portugus moderno completada quando da publicao deO Lusadas, de Cames, em 1572.

A difuso do portugus atravs das conquistas ultramarinasEm 2004, o nmero de falantes de portugus no mundo era de 210 milhes de pessoas, o que justifica a aspirao do portugus como uma grande lngua de cultura e como expresso de um conjunto de pases que tm caractersticas comuns. Uma dessas formas de reconhecimento tentar incluir o portugus como uma das lnguas da ONU. Mas, claro, pesa muito mais a importncia poltica e econmica dos pases do que propriamente o nmero de pessoas falantes de determinada lngua. sempre bom lembrar que as conquistas portuguesas, durante o perodo das descobertas, tiveram caractersticas diversas: ora era colonizadora, ora um simples domnio militar estratgico, ora como um entreposto comercial. Como Portugal tinha uma populao insuficiente para promover grandes migraes, enviou primeiramente recm colnia da Amrica, grupos de desertores e degredados. Sempre em nmero inferior s grandes levas de escravos africanos. De qualquer forma, as situaes lingsticas criadas foram extremamente diversificadas, entre elas aconteceu o bilingismo, o multilinguismo e a crioulizao. Nos dois primeiros casos, a convivncia com uma ou mais lnguas diferentes, em que o portugus era a lngua imposta, enquanto a lngua nativa era falada nas ruas. No processo de independncia das colnias, em algumas delas o portugus passou a ser oficial e em outras a lngua nativa voltou a vigorar. No terceiro caso, a crioulizao, quando h o surgimento de um pidgin, espcie de outra lngua criada em funo do contato da lngua dos colonizadores com a lngua nativa. Um pidgin sempre precrio. Com o passar do tempo, os falantes de pidgin passam a desenvolver gramtica prpria distintas das duas outras lnguas, dando origem a umcrioulo. Em contraposio, h o processo de descrioulizao, ou seja, quando a gramtica do crioulo passa a sofrer influncias de uma das lnguas que o formou.

O portugus como lngua de emigrantes difcil compreender essa situao, j que ns, brasileiros, somos acostumados a receber levas de imigrantes do mundo inteiro. No entanto, no tem sido raro, milhares de brasileiros e portugueses, inclusive, partirem para melhores condies de vida a outros pases da Europa ou dos Estados Unidos. A convivncia entre as culturas que resultam desse encontro, s vezes no so muito boas. Em casos de turbulncia econmica, os hospedeiros nem sempre tratam os brasileiros com cordialidade. Ao contrrio, so os primeiros a se tornarem indesejveis. No entanto, h tambm situaes de perfeita harmonia caso da Frana e do Canad que passaram a ensinar o portugus em seus pases de forma mais organizada.

O portugus de Portugal depois do sculo XVII

Portugal comea a entra em declnio depois da tentativa fracassada de conquistar o Marrocos, em 1572. Desgastado, Portugal sucumbe e torna-se provncia espanhola, em 1580, cujo domnio vai at 1640, quando Portugal restaura suas foras sob o comando de D. Joo IV e de uma nova dinastia, a de Bragana.Nesse perodo, a influncia espanhola na lngua foi grande. Era a lngua falada pela aristocracia portuguesa ou uma tentativa (bilingismo). Foi nesse perodo, por exemplo, que a forma vossa merc, antes utilizada como forma de tratamento somente para o Rei, transforma-se em voc e cai na boca do povo.Portugal vivia no absolutismo e isolou-se do mundo. No faltou, claro, quem se esforasse para tirar Portugal desse isolamento. Contriburam as artes, a formao daAcademiade Histria, depois a Academia Real das Cincias que elaborou um dicionrio da lngua. Logo, as academias chegaram ao Brasil e aqui, muitas outras foram fundadas. Na Bahia, em 1724, a Academia Braslica dos Esquecidos viu-se diante de uma deciso dramtica de carter lingstico: se a Histria da Amrica Portuguesa deveria ser escrita em portugus ou em latim. a partir do sculo XVII, que o portugus falado em Portugal conheceu algumas mudanas estruturais: partiram do centro-sul e prevaleceram sobre todo o territrio e no alcanaram a Galiza.De todas modificaes que ocorreram, algumas foram acompanhadas pelo portugus falado no Brasil. A pronncia chiante do s e do z finais um fenmeno localizado no Rio de Janeiro, Esprito Santo, Bahia e regies do Norte e Nordeste. Das mudanas que no foram acompanhadas no Brasil esto o enfraquecimento da vogais tonas em face das vogais tnicas, o que caracteriza a pronuncia do portugus de Portugal, em que sobressaem as consoantes. Portugueses dizem que o brasileiro fala arrastado e os brasileiros dizem que os portugueses falam rpido demais e engolem slabas e letras.

O portugus da Amrica

O portugus no continente sul-americano: a ampliao das fronteiras

O territrio brasileiro cresceu at quatro vezes quele destinado a Portugal pelo Tratado de Tordesilhas. A expanso da lngua portuguesa deu-se, ento, custa da colonizao forada e das lnguas indgenas e, s vezes, do espanhol. No entanto, o portugus falado, no o europeu, mas sim, fortemente influenciado por lnguas indgenas e africanas.Ao sul, Portugal e Espanha disputaram por mais de um sculo a colonizao da regio. Em 1750, o Tratado de Madri acaba por definir que os territrios da regio do Rio da Prata e na margem esquerda do Uruguai pertenceriam Espanha e, em compensao, a regio das Misses e a costa atlntica pertenceria a Portugal. Mesmo assim, a partir da seguiram-se sangrentas batalhas, em que os ndios guaranis foram dizimados.O Uruguai recuperou sua independncia de Portugal em 1825, mas como a regio foi palco de disputa por vrios anos, ainda hoje possvel encontrar povoados ao noroeste do Uruguai falando dialetos de base portuguesa.Ao norte, mais precisamente na Amaznia, a expanso do territrio brasileiro s se completa com a aquisio do Acre Bolvia, no incio do sculo XX. Em troca, o Brasil construiria uma ferrovia ligando Porto Velho a Guajar-Mirim (a famosa ferrovia Madeira-Mamor) que daria Bolvia acesso fluvial at o Atlntico.

O portugus no continente sul-americano: a ocupao dos espaos

Para entendermos a difuso da lngua portuguesa no Brasil necessrio entender as formas de ocupao, levando-se em considerao o crescimento demogrfico, a urbanizao e a ocupao do interior.

O crescimento demogrfico do pasA populao brasileira at o final do sculo XIX era pequena em relao ao territrio e muito concentrada nas grandes cidades litorneas. No incio do sculo XX, a populao comea a crescer vertiginosamente, ao mesmo tempo em que acontecem as grandes imigraes.

UrbanizaoO crescimento da populao coincide com a progressiva urbanizao. So Paulo, por exemplo, em 1872, poca em que se realizou o primeiro censo, contava com 33 mil habitantes. Na virada do sculo, j tinha 10,5 milhes de habitantes.O primeiro perodo da urbanizao brasileira foi durante o ciclo do ouro (antes do sculo XIX) que atraiu um grande nmero de portugueses para Minas Gerais. Outro perodo de crescimento rpido foi durante a chegada da famlia real portuguesa ao Rio de Janeiro. poca, o Rio contava com 50 mil habitantes e, da noite para o dia, teve de abrigar (inclusive os problemas) mais de 15 mil novos moradores. Do ponto de vista lingstico, o Rio aprendeu a pronncia do s chiante ao final das palavras.Outras capitais s vieram a se urbanizar de fato e com grande rapidez, em meados do sculo XX.

A ocupao do interiorAt as primeiras dcadas do sculo XX, o interior do Brasil era considerado um outro mundo. Conhecido apenas na literatura (Os Sertes, de Euclides da Cunha, Grande Serto: Veredas, de Guimares Rosa, ou em Quarup, de Antnio Callado) ou de relatos jornalsticos (Coluna Prestes, a expedio do Marechal Rondon etc), muitas reas eram consideradas no colonizadas.A transferncia da capital para Braslia deu um grande impulso interiorizao e s migraes internas. Mais recentemente, contriburam os avanos da pecuria e da agricultura por migrantes do sul. Surgiram novos Estados (Mato Grosso do Sul e Tocantins) e a transformao dos territrios de Rondnia, Amap e Roraima em Estados.Com a produo da borracha, em que o Brasil se destacou no cenrio mundial, foram para as regies amaznicas mais de 300 mil nordestinos. Outro fluxo migracional foi durante o perodo militar com a construo da Transamaznica, o projeto Calha Norte e a expanso desordenada e predatria da floresta pela agricultura e pecuria. Fenmeno tpico dessa ocupao so os brasiguaios, brasileiros que foram cultivar terras no Paraguai.Urbanizao recente, deslocamento de grandes massas migratrias, industrializao. Tudo isso, no poderia deixar de marcar o portugus falado. O centro-sul passou a ser rico e cosmopolita em detrimento de um norte-nordeste pobre e tradicional. Em funo disso, houve grandes levas migratrias, principalmente para So Paulo. E, com ela, o paulista aprendeu termos e ritmos musicais que antes discriminava. Aprendeu o forr e os termos tcnicos da dana, como bate-coxa ou fuleiragem.

Quinhentos anos de histria: situaes

Em 500 anos de histria, a situao lingstica do Brasil foi super complexa, pela presena das lnguas indgenas, do portugus dos colonizadores, das lnguas faladas pelos escravos africanos e, depois, das lnguas europias e asiticas faladas pelos imigrantes. Vamos ver como essa mistura de seu:

O multilinguismo: o pano de fundo da criao do portugus brasileiro (PB)Antes dos portugueses chegarem, existiam, aproximadamente, 6,6 milhes de indgenas que falavam cerca de 340 lnguas diferentes entre si. O multilinguismo j existia, portanto, antes dos portugueses.Os portugueses passaram a aprender essas lnguas, at para impor seu domnio. Os milhes de negros africanos que aqui chegaram eram falantes de lnguas pertencentes ao tronco niger-congo. Os elementos indgenas eram tpicos nas regies rurais e os africanos dos centros urbanos. Para complicar, outras lnguas europias tambm vieram (espanhol, francs e holands). No sculo XVIII, os imigrantes aorianos foram para o Par, e, mais intensamente, para Santa Catarina e Rio Grande do Sul

Multilinguismo no Brasil: portugus versus lnguas indgenasDurante o perodo colonial, o portugus, lngua do governo, da Justia e da literatura, conviveu com as lnguas indgenas e africanas. Portugal adota aqui, a poltica da lngua geral, ou seja, o ensino do portugus e da mistura do idioma com as lnguas faladas pelos ndios. Apesar da diversidade das lnguas nativas, o tronco tupi era mais ou menos uniforme em toda costa litornea o que facilitou a adoo das lnguas gerais. (uma delas foi o nheengatu, lngua falada pelos revoltosos da Cabanagem, em 1835, no Par).A poltica das lnguas gerais durou at 1757, quando o Marqus de Pombal decretou o uso obrigatrio do portugus, no s visando os ndios, mas, sobretudo, para aplacar o poder dos Jesutas. H relatos, no entanto, que essas lnguas gerais ainda eram faladas pela populao em 1822, perodo da Independncia. Por que desapareceram? Talvez, porque o pas tenha passado por profundas modificaes, trocando a economia rural por uma economia industrial e urbana. Outro fator, e mais grave, o prprio desaparecimento de populaes indgenas e a reduo drstica do nmero de falantes. Hoje, esto catalogadas apenas 180 lnguas (em contrates com as 340 que se falavam na poca do descobrimento).S a partir de 1950 que so criadas as reservas indgenas com a preocupao de ensinar a lngua nativa e preservar a cultura da Nao.Mas, afinal, como o portugus conseguiu conviver e se impor durante cinco sculos? Duas respostas: a lngua da catequese teria permanecido no imaginrio popular e reforado a idia de nao brasileira e, por outro lado, pelo enriquecimento que obteve absorvendo termos da cultura material (jac, pixaim, tapera, tocaia), da alimentao (mandioca, beiju), da flora (embira, abacaxi, amendoim, caju, capim, caj, sucupira, taioba), da fauna (capivara, curimat, jaguar, jibia, lambari, piranha, siri) e da topografia (capo, taquaral). Estima-se que 41% dos nomes no cientficos dos peixes e um tero dos nomes no cientficos dos pssaros, em portugus do Brasil, provm do tupi.

Multilinguismo no Brasil: as lnguas africanas e a hiptese de uma origem crioula do PBA contribuio das lnguas africanas ao portugus fundamental e decisiva. Basta lembrar que em 1800, metade da populao brasileira era constituda de africanos e afro-descendentes.Do Golfo da Guin vieram lnguas da famlia cua: o eve ou jeje (da regio do atual Togo, Benin e Gana), o fon e o ma (do Benin e da Nigria). De Angola, vieram lnguas da famlia banto: o quicongo e o quimbundo (Repblica Democrtico do Congo, do Congo e Angola) e o iorub (Togo, Benin e Nigria).Os portugueses no permitiam que os escravos de mesma etnia/lngua se concentrassem na mesma regio da Colnia. Essa prtica dificultou o aparecimento de comunidades negras com uma base comum tnica e lingstica (ao contrrio dos indgenas). Quando isso acontecia, era inevitvel as revoltas, como a que originou, por exemplo, a Revolta dos Mals organizada pelos afro-descendentes na Bahia, em 1835.A grande influncia exercida pelas lnguas africanas ao portugus j suscitou teses de que o portugus falado no Brasil, na verdade, seria uma lngua crioula. Mas, isso no consenso. A idia comeou a perder fora no anos 1950. O portugus seria um s com diferenas mnimas entre o falado no Brasil e em Portugal.No entanto, mais recentemente, estudiosos como Rosa Virgnia e Dante Lucchesi, em 2004, sustentaram a tese de que o portugus falado no Brasil teria surgido por um processo que lembra de algum modo a crioulizao, pela mistura entre o portugus europeu, as lnguas indgenas e africanas.Na literatura, o negro foi bastante retratado: as poesias de Castro Alves e de Jorge de Lima e, mais recentemente, os afro-sambas de Baden Powell e Vincios de Moraes.Contriburam para o vocabulrio portugus as palavras do quimbundo; bamb, banzo, bengala, bunda, cachimbo, cacimba, caula, cafun, calombo, cambada, camundongo, candango, canga, carcunda, dengue entre outras. Do iorub vieram o; vatap, acaraj, agog e todos os termos ligados ao candombl baiano e s suas divindades.

O portugus so dois (desde o Brasil-Colnia)A populao branca brasileira, at 1850, foi minoria. No passava de 30%. A ocupao do territrio, apesar de ser feita em nome da Coroa Portuguesa, foi feita por uma populao no-branca: o negro e o ndio. Soma-se a isso, o alto grau de mestiagem, chega-se concluso que a difuso do portugus foi transmitido e aprendido de gerao para gerao em famlias nas quais outras lnguas tinham presenas marcantes.O portugus brasileiro foi, portanto, seguindo uma derivao prpria. Ao mesmo tempo, uma outra variante do portugus, mais resistente s interferncias, usado em contextos oficiais era falada por uma parcela muito minoritria da populao, que no queria o contato com ndios ou negros e iam Europa estudar o idioma. Ou seja, desde o Brasil-Colnia que as normas lingsticas do portugus vm sofrendo uma ciso, a ponto do escritor Carlos Drummond de Andrade escrever um poema com o ttulo:O portugus so dois.

A nova situao de bilingismo dos sculos XIX e XX: portugus versus lnguas dos imigrantes europeus e asiticosEntre 1890 e 1930 chegaram ao Brasil, quase 4 milhes de imigrantes europeus (italianos, portugueses, espanhis, alemes, rabes, turcos e japoneses). Impressionante, j que a populao brasileira em 1920 era de 30 milhes de habitantes. A maioria veio trabalhar nas lavouras e suas lnguas maternas prevaleceram nas comunidades onde se instalaram. Muitos falavam, inclusive, dialetos em seus pases (o vneto, o hunsruckisch e o pommeranisch). Muitas vilas e cidades surgiram no sul e sudeste. A princpio, o Estado brasileiro deixou por conta dos prprios imigrantes a questo da alfabetizao em suas prprias lnguas. Com o passar do tempo e da integrao social e, principalmente, a partir das mobilizaes sindicais do incio do sculo XX, o Estado comea a tomar atitudes para fre-los, at a proibio da alfabetizao na lngua materna. Na poca da Segunda Guerra, imigrantes alemes, japoneses e italianos sofreram nas mos do Estado Novo de Getlio Vargas.No entanto, o principal efeito que resultou para o portugus brasileiro foi a convivncia e a absoro das outras culturas. Em So Paulo, aprendeu-se palavras como paella, quibe, esfiha, pizza, talharim, yakisoba ou sashimi, tchau, grana, ofur, quimono. No entanto, a influncia na morfologia e na sintaxe quase nula.

O portugus no continente sul-americano: as grandes mudanas estruturais do incio do sculo XX

O final do sculo XIX e incio do sculo XX marcante para o portugus brasileiro. Sofre transformaes estruturais, a literatura atinge a maturidade (Machado de Assis) e criada a Academia Brasileira de Letras (1897), consolidam-se as primeiras editoras brasileiras e a imprensa ganha maturidade.Surgem as primeiras antologias nacionais para uso escolar. Combate-se estrangeirismos desnecessrios e formas de expresso populares. Mudanas na sintaxe tambm so importantes: a) prevalece o uso do objeto nulo, isto , a omisso do objeto direto quando ele consistiria num pronome tono; b) prevalece o uso do sujeito pronominal; c) prevalece a construo das oraes relativas como cortadoras ou copiadoras de preferncia construo completa ou clssica e; d) prevalece o uso da ordem sujeito-verbo.Quer dizer, o portugus do Brasil elegeu a posio como principal estratgia para indicar funo sinttica dando menor importncia ao movimento. uma hiptese com pressupostos tericos muito precisos, que faz sentido no contexto daTeoria de princpios e parmetros,de Chomsky, e que, como a maioria das hipteses da sintaxe moderna, impressiona por seu carter abstrato. Isso no necessariamente um problema. Se a hiptese estiver correta, significa que, no final do sculo XIX, enquanto os gramticos continuavam envolvidos com seus problemas de sempre, o portugus do Brasil adotou uma sintaxe parcialmente diferente daquela que se utiliza no portugus europeu. Temos a uma concluso de peso, porque a sintaxe tem sido considerada desde sempre o nvel de anlise lingstica mais importante, quando se pretende decidir se estamos diante de uma ou duas lnguas.

O portugus e outras lnguas no Brasil de hoje

Tanto nos limites fronteirios como em algumas regies do pas, houve situaes de bilingismos (fronteiras no sul, ou com as Guianas, ao norte) ou ainda a comunidade Quilombola, no interior de So Paulo. Mas, a poltica adotada pelo Estado Novo (1937-44) e durante a Segunda Guerra (1939-45) forou o ensino do portugus e de abrasileirar aquelas comunidades, at abandonarem a lngua materna, como a cidade de Panambi, RS (Neu-Wurttenberg), fundada por alemes em 1898. O alemo falado l est quase desaparecendo.O mesmo acontece entre os ndios. Apesar das terras indgenas somarem 11% do territrio brasileiro, o nmero de falantes vem se reduzindo a cada ano, com tendncia ao desaparecimento e integrao forada.

Algumas caractersticas do portugus brasileiro

Chamam a ateno alguns sons (como os ditongos nasais), alguns tempos e modos do verbo (como o futuro do subjuntivo e o infinitivo pessoal) e algumas construes sintticas (como a colocao dos pronomes entre o radical e a desinncia do futuro - ama-la-ei - ou a possibilidade de coordenar dois advrbios de modo, como em decidida e francamente. Alm disso, criou-se um verdadeiro culto em torno da palavra saudade, que chegou a ser considerada intraduzvel por ter um sentido que s os falantes do portugus entendem).

Fontica/Fonologia

O portugus brasileiro conta com um sistema fonolgico de 31 fonemas, dos quais 10 so voclicos e 21 so consonantais. As vogais e e o podem ser ditas como e . As cinco vogais tambm podem ser nasalizadas como em (cato/canto, rede/rende, pito/pinto, troco/tronco e juta/junta). A nasalidade pode, alis, caracterizar inteiros ditongos, como acontece nas slabas finais das palavras cantaram e cantaro, que so compostas exatamente pelos mesmos segmentos. A escolha das grafias am e o apenas uma conveno para indicar se o ditongo tono ou tnico.Entre as consoantes, notas-se a presena de quatro fonemas palatais (como em nojo, bucho, manha e malha), bem como a presena de dois rticos, que aparecem em pouqussimas variantes em posio inicial da palavra, nunca em posio interna depois da slaba nasal ou travada por consoante (nota-se que a pronncia do r em melro e tenro a mesma de rato e correr.A pronncia dos fonemas t e d antes de e e i dependem do ambiente em que aparecem. Outra importante variante a pronncia do l; no final da slaba uma consoante retroflexa (confunde-se com a semivogal w (como em salto, teremos sawto conforme a regio. O importante que isso cria complicaes na escrita como pardau por pardal, mau por mal.Costuma-se dizer que o acento de palavra cai na ltima, penltima ou antepenltima slaba, mas na fala brasileira essa distino desmentida pela pronncia, como em tcnico: no se diz tec-ni-cu, mas t-qui-ni-cu, com acento na slaba que precede a antepenltima slaba. Pronncia como essa exemplifica o fenmeno conhecido como epntese.

Morfologia

As flexes do verboComo a maioria das lnguas romnicas, o portugus herdou do latim uma morfologia rica: conjugao, modo, tempo, pessoa e nmero. O paradigma de conjugao dos verbos inclui alguns tempos que inexistem nas outras lnguas latinas, entre eles o futuro do subjuntivo (se eu fizer, quando eu puder) e o infinitivo flexionado (trouxe o carro para ns consertarmos).Todos os verbos que vo sendo criados na lngua entram para uma ou outra das trs conjugaes ditas regulares (terminados em ar, er e ir). H os verbos anmalos (irregulares e defectivos). Os irregulares podem ser subdivididos em grupos que seguem os mesmos modelos como em passear, mediar, ansiar, remediar e incendiar e alguns outros como possuir.Os paradigmas tradicionais chamados de regulares so aqueles que aceitam verbos novos; os outros so, por assim dizer, paradigmas fossilizados.A alternncia c e , utilizada para garantir a mesma pronncia de s em todas as formas, no uma complicao da conjugao, em sim da grafia.No que diz respeito aos verbos defectivos, o uso corrente mostra uma tendncia a completar o paradigma de alguns. cada vez mais comum ouvir falar sentenas comoEstes produtos no se adequam s normas,acentuada no e. Pela tradio, o verbo adequar s tem as formas arrizotnicas em que o acento cai na desinncia.Ao lado das vozes do verbo que as gramticas incluem sistematicamente no paradigma de conjugao, o portugus brasileiro desenvolveu uma srie de parfrases verbais, formas por meio de um verbo auxiliar. Isso amplia bastante as possibilidades de utilizar as bases verbais disponveis na lngua.

As flexes do nomeA morfologia flexional dos nomes limita-se s categorias de gnero e nmero. O chamado grau do substantivo que se limita a usar sufixos (ssimo e rrimo) deveria ser includo na morfologia derivacional, porque cada vez mais comuns dizermuito chiqueoumais barato.A formao do feminino e do plural dos nomes o que mais atormentam os estrangeiros aprendizes do portugus. Ensina-se que basta trocar o o por a e colocar o s no final da palavra e pronto. No entanto, s vezes, h a abertura da vogal interna como em porco e porca, com (metafonia). Em av e av, a nica distino a pronncia da vogal aberta. s vezes, a grafia no marca a distino entre o o e o , o que cria confuso.

A morfologia derivacionalEstuda os processos de formao de palavras que se baseiam na aplicao de prefixos e sufixos s razes previamente disponveis na lngua. bom lembrar que as suas aplicaes no acontecem aleatoriamente: cada prefixo e sufixo forma palavras novas de acordo com condies bastante rigorosas quanto s classes morfossintticas a que se aplica e quanto ao resultado esperado. Assim, o mesmo prefixo pode ser aplicado a palavras de classes gramaticais diferentes. Quanto aos sufixos, eles geralmente mudam a categoria das palavras.Uma caracterstica que distingue o portugus de outras lnguas como francs e o ingls a existncia de sufixos como (z)inho e (z)o e ssimo e rrimo.

Classe de palavras

H em toda a lngua conjuntos numerosos de palavras que possuem as mesmas propriedades morfolgicas e sintticas e, portanto, podem ser descritas da mesma maneira. Assim surgiram as primeiras classificaes do portugus do Brasil: substantivos e adjetivos, verbos e advrbios, preposies, conjunes e assim por diante.

O substantivoDe classe aberta, todos os dias surgem novos substantivos pelos mecanismos da morfologia derivacional. Variam em gnero, nmero e grau. Podem ser coletivos, comuns ou prprios, concretos ou abstratos. Se a idia classificar os substantivos pelo tempo de informao que trazem, h muito mais a observar: nesse caso, a oposio contvel/no-contvel (exemplo: mvel e moblia fala-se h trs mveisouh trs peas de moblia, mas noh trs moblias) e a possibilidade de dar formulaes diferentes a uma mesma idia.

O adjetivoVariam em gnero e nmero e formam o feminino e o plural. Por usarem as mesmas flexes que o substantivo no ajudam a distinguir as duas classes. Caminho alternativo observar a flexo de grau do adjetivo (normal, comparativo e superlativo) e do substantivo (normal, aumentativo e diminutivo), como coisas diferentes. Poderamos ento definir o adjetivo como a classe em que se encontram as palavras que formam um comparativo e um superlativo.

O verboDo latim,verbum,significa palavra. Em portugus, a classe de palavras que assume o maior nmero de formas flexionadas, mas tambm com forte contrapartida semntica: a localizao no tempo e em vrios mundos possveis, ao grau de comprometimento e a possibilidade de representar os fatos como acabados ou em desenvolvimento.Fornece outras informaes com seu radical: momentneo e durativo (ligar e funcionar), tlico e atlico (montar e arrastar). O radical do verbo tambm nos mostra a valncia do verbo.

O pronomeClasse mais heterognea. So os pessoais, possessivos, demonstrativos, relativos e os indefinidos e suas subclasses. Para os pessoais, em algumas regies do pas utiliza-se o voc, em vez do tu e a gente, em vez de ns. As variedades culta e no-culta do portugus brasileiro compartilham a tendncia a evitar o uso dos pronomes tonos, em particular os pronomes tonos em posio do objeto.

O advrbioMuitos se enquadram sem problemas na definio etimolgica de advrbio, que faz pensar em proximidade ao verbo. A idia que todo advrbio tem um escopo, e a posio que o advrbio ocupa na frase pode ser importante para a identificao correta desse escopo.

A conjunoLiga as oraes. Pode ligar duas oraes de mesmo nvel (conjuno coordenativa) ou de nveis diferentes (conjuno subordinativa). Neste ltimo caso, pode assumir o papel de termo integrante (orao substantiva) ou de adjunto (orao adverbial).

A preposioLigam palavras. Mas no s. Seu papel mais complexo e depende do tipo de construo sinttica em que elas intervm. Podem ser essenciais ou acessrias.

Sintaxe

A sintaxe da sentena: um sistema de sistemasA escola estuda apenas um dos tantos nveis em que se pode falar de organizao sinttica da sentena. Trata-se do nvel em que est a conexidade da sentena. Todas as partes da sentena desempenham funes compatveis com sua categoria, e isso que nos garante uma sentena sintaticamente conexa e bem constituda.Nos ltimos anos, a idia de que na sentena convivem trs formas diferentes de estruturao tem sido uma das bandeiras da escola lingstica conhecida como funcionalismo (o sujeito lgico, o gramatical e o psicolgico). Exemplo:Maria entregou as chaves aos dois guardas.Maria o sujeito gramatical e lgico. Como a ao refere-se a propsito, de Maria, ento, tambm o sujeito psicolgico.O problema que nem sempre coincide, o que confirma a tese de que toda a sentena , ao mesmo tempo, uma construo gramatical, uma construo conceitual e uma construo de carter informativo, e que os falantes expressam essas trs formas ao mesmo tempo, utilizando recursos como a ordem das palavras, a entoao, o acento, a concordncia e as preposies. Isso mostra que preciso dar sentena uma representao bem mais complexa do que a que resulta da anlise sinttica escolar.

Alguns traos marcantes na sintaxe do portugus brasileiroO objeto nulo, expresso na letra da msicaCaviar?de Zeca Pagodinho:Voc sabe o que caviar? Nunca vi nem comi, eu s ouo falar.O uso dos pronomes-sujeitos em vez de pronome tono:Vida leva eu,em vez deVida, leva-meouVida, me leva(canoDeixa a vida me levar,do mesmo autor).Por outro lado, o tipo de orao relativa em que se suprime a preposio tem sido chamada de relativa cortadora (o lugar que nasci, em vez deo lugar em que nasci) muito usada no portugus falado; no escrito, aparece com menor freqncia. Tem tambm a copiadora, invariavelmente, discriminada na variedade culta e na escrita, mas usada na falada:Quem perguntou de voc foi a colega que eu estava com ela.

O lxico

O portugus brasileiro tem um lxico de aproximadamente 60 mil palavras. Do ponto de vista histrico, ele o resultado de um longo processo, no qual muitas palavras antigas se perdem ou s sobrevivem com novas funes e valores, ao mesmo tempo em que muitas so criadas constantemente. H quatro conjuntos de palavras: a) as que vieram do latim vulgar; b) os emprstimos de outras lnguas; c) palavras eruditas (do latim e do grego) e; d) as criaes. Vamos abordar s os trs ltimos conjuntos.

Os emprstimosO prprio latim vulgar recebeu vrias contribuies. Ao se firmar como lngua nos sculos V a VII, o portugus recebeu influncias das lnguas faladas pelossuevosevisigodos(escaramua, dardo, elmo, espora, espeto, feltro, fresco, guerra, liso, morno). A partir do sculo VII, dorabe(acelga, aoite, alfaiate, alambique, alcatro, lcool, alecrim). Doespanhol(quadrilha, baunilha, cordilheira, mantilha, fandango, pastilha, pelota). Doprovenal(trovador, trovar, cobra). Doitaliano(gazeta, partitura, solfejar, afresco, arcada, serenata, libreto). Dofrancs(florete, planto, sargento, peloto, marechal, pistola, fuziliada, romance, enciclopdia, libertrio, romantismo, compasso, engrenar, esmeril, guidom, mecha, pina, placa, torniquete, turquesa).Sem falar na convivncia estreita que o portugus teve com as lnguas indgenas e africanas, distinguindo decisivamente o portugus brasileiro do portugus de portual. Entre as indgenas, a predominante atupi(minhoca, surubim, surucucu, mandioca, aipim, macaxeira, mingau, maloca, oca, carioca. Quanto as palavras de origem africana, as que tm predominncia so de origemquimbundo(angu, tutu, binga, milonga, mocambo).A partir do sculo XIX ganham foras as palavras vindas dos imigrantes europeus e asiticos (pizza e tchau do italiano, vina do alemo, sushi do japons). Hoje, a lngua que mais fornece emprstimos o ingls. Em Portugal, h fortes resistncias em assimilar os emprstimos.

Palavras eruditasAlgumas palavras foram retiradas das lnguas clssicas (latim e grego) e criadas num perodo relativamente recente, como biodegradvel, biomassa, habitats, biodiversidade, macrobitica, bioengenharia. Todas utilizam o radical bio (vida em do grego). Muitas delas criadas por imitao do ingls ou de outra lngua contempornea.

As palavras de formao vernculaA grande maioria do lxico da lngua foi criada, a partir da lngua falada no dia-a-dia, a medida que os falantes iam formando combinaes novas. Os recursos mais usados so a prefixao, sufixao e a derivao parassinttica. Os mais recentes so o mini (minissaia, minimercado, minipozinho, minibar) e o micro (microcomputador, microcmera, micropartcula, microondas, microchip). Entre os sufixos, sobressaem o eiro (micreiro, metaleiro, computeiro), o ista (acumpunturista, manobrista, frentista, capista, tecladista) e oso (modernoso, chicoso).Palavras formadas por converso ou derivao imprpria (uma roupa meio cheguei), por composio (disque-pizza) e o famoso x-egg, originalmente designando o cheese (queijo, em ingls), hoje j perdeu essa condio. Tambm se referir a um tipo de sanduche, porque j possvel se pedir um x-queijo.

Campos marginais do lxico: a antroponmia, a toponmia e os nomes de marcasO Brasil tem sido um grande importador de prenomes estrangeiros, fenmeno que ganhou fora com a imigrao, a Segunda Guerra Mundial, do cinema e da mda. Para formar nomes de pessoa, o portugus do Brasil recorre a um processo curioso: forma o prenome dos filhos combinando segmentos dos nomes dos pais. O casal Norberto e Walnice, por exemplo, pode dar ao seu filho o nome de Norval ou filha de Walnora. Os nomes tambm sofrem reduo (hipocorstico): Carlos vira Cac, Eduardo vira Edu, Dudu ou ainda Fausto Silva, vira Fausto. enorme tambm a quantidade de nomes de origem indgena. Muitos descrevem a maneira como os indgenas representavam o relevo, a vegetao ou o clima de certas localidades. Cumbica, nome da regio onde foi construdo o aeroporto internacional de So Paulo, significa nuvem baixa.Para os nomes de marcas, o portugus brasileiro tem sido muito criativo. Ele mistura o nome de produtos com a cidade: Pirapar (Piracicaba com Parafusos), Unicamp (Universidade com Campinas).

Portugus do Brasil: a variao que vemos e a variao que esquecemos de ver

A uniformidade do portugus brasileiro, apesar de ser cultura, , na verdade, um mito. Contribuem para isso um certo tipo de nacionalismo, uma viso limitada do fenmeno lingstico, que s consegue levar em conta a lngua culta e uma certa insensibilidade para a variao, contrapartida do fato de que os falantes se adaptam naturalmente a diferentes contextos de fala.A idia falsa e pouco interessante porque nos levam a no saber lidar com algumas situaes que afetam o uso e o ensino da lngua. A variao da lngua normal e pode ser do tipo diacrnica, diatpica, diastrtica e diamsica.

Variao diacrnica

So termos criados por geraes (grias) que, embora compreensveis, soam antigas ou somente entendidas pelos mais velhos ou mais jovens (estar de bonde,estar com a namorada; footing, prtica de passear a p, ou o mais recente o verbo ficar, no sentindo de relacionar-se). Mas no s na gria. H termos comodar uma de... de uso corrente na fala coloquial e transmite muitos sentidos.H termos como amanhvamos estar mandandoseu carto... que extremamente desnecessrio. Ou a gramaticalizao de termos como a formao do pronome voc que vem do Vossa Merc. Ou a lexicalizao, como uso da conjuno entretanto ou do advrbio finalmente no sentido de consideraes, ressalvas e concluses, decises.Seja como for, a lngua no foi estabelecida em carter definitivo, mas mutvel.

Variao diatpica

Portugus europeu e portugus do BrasilPortugal e suas antigas colnias falam a mesma lngua? No caso do Brasil e dos pases africanos, o nacionalismo realaram as diferenas. J em Timor-Leste, a necessidade de se diferenciar dos vizinhos valorizaram as razes portuguesas. Muitas tm sido as interpretaes. Alguns estudiosos falam que sim, outros que o portugus brasileiro um dialeto e outros ainda que h profunda unidade entre elas.As diferenas so marcantes:1. No Portugus Europeu (PE) o som caracteriza-se pelo enfraquecimento das slabas pretnicas, pela pronncia do r como vibrante mltipla, pelo fato de que o l, em posio final de slaba, tem pronncia valorizada e no substitudo pela semivogal w.2. No Portugus Brasileiro (PB) possvel iniciar a frase com um pronome cltico: Me d um cigarro em PE, no.3. O PB usa o objeto nulo com abundncia, o PE evita4. O PE usa o si como anafrico de expresses de tratamento:Doutor, essa carta para si.No PB,Doutor, essa carta para o senhor.5. O PE diz,no estou a perceber,o PB,no estou entendendo.6. O PE diz,se eu sabia, eu vinha, o PB o discrimina.7. Diferenas no vocabulrio em verbos (aquecer/esquentar), em adjetivos (parvo/bobo), e em substantivos (cerveja de presso/chope ou ecr/tela da televiso ou do cinema).8. O PB aceita estrangeirismos o PE no (frzer/arca frigorfica).

A variao regional no portugus do BrasilA variao regional existe sem afetar aspectos substanciais do sistema fonolgico ou sinttico, mas em comparao com o que acontece na Europa, o portugus brasileiro bem uniforme. Alguns exemplos de palavras que tm o mesmo sentido mas com formas diferentes: lanternagem/funilaria; macaxeira/aipim/mandioca; negcio/venda; gelia de frutas/chimia. Outras com formas iguais, mas com significados diferentes: quitanda (em geral, significa mercearia, mas em Minas, um conjunto de iguarias doces e salgadas feitas com massa de farinha), feira (em geral, significa uma reunio de vendedores, mas no Norte uma sacola em que se transportam gneros).

Os Atlas lingsticos do portugus do BrasilO primeiro atlas lingstico de abrangncia nacional surgiu em 1922, quando o fillogo Antenor Nascentes lanou o livro O linguajar carioca, relanado em 1953. O livro separa no Brasil dois grandes grupos de falares os do Norte (amaznico e nordestino) e os do Sul (compreendendo o baiano, o mineiro, o fluminense e o sulista). Duas justificativas, pela cadncia e pela existncia de protnicas abertas em vocbulos que no sejam diminutivos nem advrbios em mente. Pelas dificuldades financeiras, o que prevalece no Brasil so os atlas regionais.

Variao diastrtica

No Brasil no encontramos verdadeiros dialetos no sentido diatpico do termo. Em compensao, h uma sria diferena entre o portugus falado pela parte mais escolarizada e pela menos escolarizada da populao. a chamada variao diastrtica, que se distingue pela fontica (incelena por excelncia ou figo por fgado), pela morfologia (nis cantamo/nis cantemo por ns cantamos), pela sintaxe (os doce mais bonito ; ningum no sabia; a casa que eu morei nelaoua mulher xingou eu).Curioso que, se no portugus subpadro a conjugao verbal foi reduzida a duas formas (eu falo, voc/ele/ns/vocs/eles fala), no ingls e no francs tambm s h duas ou trs formas e ningum se lembra de dizer que isso um problema para aquelas lnguas.O fato que a criana acostumada a falar calipe ter que aprender a escrev-la e a express-la (eucalipto) como se fosse uma palavra nova.

Variao diamsica

So as variaes entre a lngua falada e a escrita. Tradicionalmente a escola acostumou as pessoas a vigiar a escrita e a dar menos ateno fala. Por isso muita gente pensa que fala da mesma forma que escreve. O texto escrito planejado, j o texto falado normal encontrar um grande nmero de reformulaes sucessivas e sempre parciais de um mesmo contedo.

Os gnerosH, portanto, uma gramtica do falado e uma gramtica do escrito. Essa a principal concluso desde que comearam a estudar a variao diamsica. Outra concluso que, conforme o gnero (tipos de textos) que pertencem textos sejam eles falados ou escritos, apresentam um vocbulo e uma gramtica prprios (a lngua dos discursos polticos, da burocracia, os ensaios cientficos, usurios de e-mails e dos chats e etc).Tm tradio prpria e so marcados pela natureza do veculo adotado em sua transmisso.

A variao na variao

Importante: a variao diacrnica, diatpica, dastrtica e diamstica convivem.

O drama de encarar a variao

Toda a lngua est sujeita a variao e mudana. O portugus do Brasil tem variaes em cada uma das dimenses vistas. Qual o interesse? Que a uniformidade da lngua ilusria, porque apresenta variedades regionais e que muita gente discrimina essas formas de falares.

Lingstica do portugus e ensino

A estandardizao deu estabilidade lngua e a fixao de uma norma levou valorizao de modelos antigos. Num terceiro momento, falaremos da representao da lngua que se extrai das gramticas e que excessivamente estreita para ser aceitvel. Por ltimo, o modo de encarar a lngua.

A estandardizao da lngua

quando a lngua assume uma mesma forma para a maioria dos usurios e passa a obedecer a modelos definidos. Todas as lnguas passaram pela estandardizao. Contribuem para isso, inovaes tecnolgicas (desde a inveno da imprensa at a exploso dos meios de comunicao de massa) e a generalizao do ensino primrio que geraram um grande mercado de livros didticos.

A fixao da ortografiaAntes que uma lngua encontre a sua fixao, preciso primeiro resolver as divergncias quanto maneira de representar a pronncia e quanto maneira de pronunci-la. No caso da lngua portuguesa, a fase de experimentaes durou at o final do sculo XVI e caracterizou-se por fazer da grafia uma reproduo fiel dos sons da fala. O perodo que vai de 1572 at 1911, conhecido como pseudo-etimolgico, caracterizou-se por representar na escrita a origem da palavra. A partir de 1911 comearam em Portugal as grandes reformas ortogrficas. A adeso do Brasil reforma de Gonalves Viana aconteceu em 1931. Mas, em 1945, Portugal adotou novas propostas e as lnguas voltaram a se diferenciar em alguns pontos.O unificao da ortografia entre os pases de lngua portuguesa voltou ao assunto em 1986. A unificao importante j que um pr-requisito para o portugus ser utilizado pela ONU. Mas, ainda h obstculos polticos e lingsticos. A ortografia no a lngua e nem uma bela reforma resolver os problemas. A lngua pode existir sem ser escrita. O custo social da reforma pode ser alto demais. A sociedade atribui com freqncia ortografia estabelecida (e sua reforma) valores que no tm nada a ver com a funo de facilitar a leitura ou a alfabetizao.

O trabalho dos lexicgrafosOs dicionrios tambm contribuem para fixar a lngua. So uma referncia e uma espcie de registro civil da palavra. Outra a prtica da abonao (fixar um ou mais exemplos a cada acepo das palavras).No sculo XIX, intelectuais brasileiros comearam a colecionar brasileirismos para completar os dicionrios portugueses existentes (Brs da Costa Rubim, de 1853, e Rodolfo Garcia, de 1915). Os primeiros dicionrios completos s apareceram em 1950. O Pequeno dicionrio brasileiro da lngua portuguesa, a partir da sua 11 edio passou a contar com a superviso de Aurlio Buarque de Holanda Ferreira. Autor do Novo dicionrio da lngua portuguesa (1975 e 1986), quando seu nome passou a ser sinnimo de dicionrio.Os grandes dicionrios de referncia para o portugus do Brasil so hoje trs: o Novo Aurlio do sculo XXI (2000), o Dicionrio Houaiss da lngua portuguesa (2001) e o Dicionrio de usos do portugus do Brasil (2002), de Francisco da Silva Borba, mais conhecido pela sigla DUP. Os dois primeiros primam por registrar a riqueza do vocabulrio e o DUP, mais a imagem da lngua viva de hoje.Em Portugal, h uma obra magistral; Dicionrio da lngua portuguesa contempornea (2001).

O trabalho dos gramticos normativosOs primeiros tratados de gramtica escritos em lngua portuguesa datam do sculo XVI. Todos eles procuram formar fidalgos para o convvio da corte e preparar para o estudo do latim.O domnio da lngua como forma de distinguir os cultos dos no-cultos tambm ajudou para uniformizar a lngua e para frear sua mudana. Essa representao ganhou fora no sculo XIX at hoje e presente nas expectativas que a sociedade faz a respeito de todos os profissionais da linguagem.A gramtica normativa procura estabelecer como a linguagem deve ser. Outra coisa a gramtica descritiva, que procura descrever uma lngua tal como o analista a observou.Outro tipo so as gramticas explicativas. Os fatos observados so explicados, isto , so encarados como a conseqncia de algum princpio geral que diz respeito s capacidades humanas.Outra face menos visvel, mas no menos importante, a casustica gramatical, que consiste em comparar diferentes regncias, concordncias e colocaes, enfim, distintas construes gramaticais, aprovando uma s e condenando outras.Ao usar formas condenadas (comoentrega a domicilio,em vez deentrega em domiclio)estamos cometendo um erro chamado solecismo. Outro erro apontado pelos gramticos so os barbarismos (termos que atentam contra a pureza da lngua) e os neologismos, isto , a predisposio para evitar as palavras novas e os usos novos de palavras antigas (gabarito, termo tcnico da arquitetura, como uso metafrico, como emfulano no tem gabarito).

A descrio da lngua nas ltimas dcadas do sculo XXA atitude normativa vem prevalecendo entre os gramticos. , de certa forma, tambm a atitude que a sociedade espera dos profissionais da linguagem, excetuados talvez os escritores. No adot-la seria traio. Mas, o risco justamente o contrrio. Normatiz-la sem maiores cuidados seria o mesmo que fechar os olhos para a lngua, porque a gramtica normativa d da lngua uma imagem redutora e acaba por travar expresso dos falantes quando, precisamente, julga enriquec-la.

A definio de uma norma brasileira

comum que os falantes de uma determinada lngua procurem definir e consagrar modelos de uso mais prestigiados, porque uma forma de reforar a adeso a certo grupo e, indiretamente, de acrescentar valor prpria mensagem. Esse problema deu origem a debates clebres, devido aos interesses que estavam por trs da busca por norma e modelo pelos autores.

Debates em torno da norma brasileiraTm trs sentidos diferentes:a) norma literria prpria, como na obra Iracema de Jos de Alencar, que recebeu a ira de fillogos portugueses;b) norma para o portugus escrito culto (Cdigo Civil da Primeira Repblica). Outra polmica que envolveu Rui Barbosa e o gramtico Ernesto Carneiro Ribeiro acerca de uma emenda que este fez ao texto do Cdigo Civil contestada por Rui Barbosa e;c) norma fontica para o portugus brasileiro (pronncia no canto lrico e no teatro). Sobre esse ltimo, dois congressos foram realizados, um em 1936 e outro em 1957. Ambos chegaram concluso que o portugus falado no Brasil de vrias maneiras e diferente do falado em Portugal, mas, o primeiro considerou que a norma era uma questo de sotaque, bastaria tomar como modelo o jeito falado em alguma grande cidade, eliminando os traos regionais, como o sibilismo paulista, o gargarismo e chichismo cariocas. Esse ponto evoluiu, no segundo congresso, para a idia de que deveria haver uma negociao entre as regies.

O peso das vrias concepes de normaEssas concepes de normas tiveram reflexos no ensino, mas de maneira desigual. A que mais chamou a ateno foi a norma da lngua escrita, que tinha razes portuguesas e no brasileiras, e o modo como a sociedade brasileira representa o uso culta da lngua.Mesmo na norma culta tambm h considervel margem de variao entre as diferentes capitais, mas tambm entre o escrito e o falado.

Lngua e gramtica ou Da necessidade de culos

Para a maioria das pessoas escolarizadas, o sumrio das gramticas funciona como uma espcie de representao padro da lngua e isso ruim, porque essa representao muito pobre. A concepo de lngua que emana das gramticas no vai alm do perodo gramatical, deixando de fora os fenmenos que dizem respeito textualidade. Portanto, a gramtica comete dois equvocos; 1) acaba querendo explicar como fenmenos internos sentena muitos fatos de lngua que na verdade dizem respeito organizao de seqncias mais amplas e 2) contribui para fortalecer a idia de que qualquer produo textual que contm construes condenadas pela gramtica prescritiva automaticamente um mau texto.

Algumas palavras sobre gramtica, lingstica e ensino

Um problema que todo professor da lngua materna enfrenta o de desenvolver uma prtica pedaggica coerente com a formao que recebeu, porque traz uma srie de conhecimentos desconexos, no tem chances de optar por prticas educativas diferenciadas e no tem certeza do que melhor para os seus alunos. Invariavelmente se deparam com as seguintes perguntas: a) ensinar lngua ou leitura/literatura; b) trabalhar com gramtica ou com textos; c) usar ou no o livro didtico, se usar, qual deles; d) ser severo ou condescendente com os erros mais freqentes dos alunos; e) apostar na gramtica ou apostar na lingstica.

O material de trabalho do professor de lngua materna: a competncia lingstica dos alunosQual o papel do professor da lngua materna? Em primeiro lugar, no cabe ao professor iniciar os alunos na prtica da lngua. Eles j tm a matria-prima. Cabe ao professor trabalh-la para que a criana possa us-la bem Para isso, a criana precisa aprender a usar de maneira compartilhada com vrios tipos de interlocutores objetos lingsticos de tipo textual.Mas, a escola no tem trabalhado para enriquecer a competncia lingstica do aluno, mas para desenvolver outra competncia que, supostamente, coincide com a competncia lingstica das classes mais cultas. Por isso, tem trabalhado principalmente no sentido de acostumar o educando a monitorar de maneira consciente seu prprio desempenho lingstico, investindo em duas estratgias principais: a sistematizao gramatical e a anlise sinttica. A fora da correo tamanha que o professor tende a desqualificar todo e qualquer deslize do aluno contra a sintaxe e a ortografia.Claro que o objetivo ensinar o portugus culto, mas a expresso em portugus padro dos alunos muito mais do que uma deciso pessoal e livre, a manifestao no texto que se produz para a escola, de uma variedade lingstica que a escola continua fingindo que no existe. O melhor caminho para chegar forma culta no o autocontrole por meio da gramtica, mas o exemplo do professor, a leitura, a impregnao paulatina pela variante culta.

A gramtica e a auto-imagem do professorO ensino da lngua nos parece pesado, ineficaz e sobrecarregado de gramtica. Por que? Parte da resposta porque o ensino da gramtica , na prtica, a nica soluo que a escola tem dado necessidade de ensinar a norma culta, num contexto lingstico em que a norma culta se afasta do uso corrente.A outra parte da resposta que a escola passa sociedade a impresso que escrever bem escrever correto e a sociedade cobra da escola que se ensine a escrever correto. Nesse contexto est o professor como conhecedor das formas corretas. Isso lhe d autoridade. Essa a imagem que o prprio professor tem de si.O professor deveria ser, por definio, algum que redige de maneira satisfatria, que interpreta o texto, que sabe esclarecer a lngua dos textos, que sabe e gosta de narrar, descrever e argumentar. preciso tomar partido das representaes correntes dos fenmenos lingsticos, denunciando preconceitos e trabalhando no sentido de entender e resolver problemas que envolvam o uso da linguagem. Ele ter a difcil tarefa de ajudar seus alunos a superar o hiato que se criou historicamente entre a fala da maioria da populao e uma norma cultua construda, parcialmente, revelia do uso. Que trabalhe no sentido da incluso e no da discriminao.Resumo: Srgio dos Santos

QUESTES

1). No incio do sculo XX, o portugus brasileiro comea a sofrer algumas mudanas estruturais. So exemplos dessas mudanas:a) consolidam-se as primeiras editoras brasileiras e a imprensa ganha autonomia,;b) surgem as primeiras antologias nacionais para uso escolar;c) combatem-se estrangeirismos desnecessrios e formas de expresso populares;d) apenas as alternativas a e c esto corretas;e) todas as alternativas esto corretas e se complementam;

2) As variantes lingsticas, segundo os autores:1. existem e afetam aspectos substanciais do sistema fonolgico ou sinttico;2. existem sem afetar aspectos substanciais do sistema fonolgico ou sinttico;3. existem e pode ser do tipo diacrnica, diatpica, diastrtica e diamsica;4. Apenas as alternativas b e c esto corretas;5. Todas esto corretas.

3) Ainda sobre variao da lngua correto afirmar:a) A uniformidade do portugus brasileiro, apesar de ser cultura, , na verdade, um mito, uma viso limitada do fenmeno lingstico, que s consegue levar em conta a lngua culta e uma certa insensibilidade para a variao.b) Alguns estudiosos falam que Portugal e suas antigas colnias falam a mesma lngua , outros que o portugus brasileiro um dialeto e outros ainda que h profunda unidade entre elas.c) Tradicionalmente a escola acostumou as pessoas a vigiar a fala e a dar menos ateno escrita. Por isso muita gente pensa que fala bem e que escreve mal.d) Todas as alternativas esto corretas.e) Apenas as alternativas a e b esto corretas.

4) Segundo os autores, o portugus brasileiro foi, (...) seguindo uma derivao prpria. Ao mesmo tempo, uma outra variante do portugus, mais resistente s interferncias, usado em contextos oficiais era falada por uma parcela muito minoritria da populao, que no queria o contato com ndios ou negros e iam Europa estudar o idioma. Ou seja, desde o Brasil-Colnia que as normas lingsticas do portugus vm sofrendo uma ciso, a ponto do escritor Carlos Drummond de Andrade escrever um poema com o ttulo:O portugus so dois.Neste trecho est caracterizado:1. a lngua formal e a fico;2. a lngua padro e no padro;3. a literatura brasileira;4. a lngua portuguesa e a lngua brasileira;5. Nenhuma das alternativas anteriores.

GABARITO:1-E2-D3-E4-B