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8º Encontro da ABCP 01 a 04/08/2012, Gramado, RS
Área Temática: Comunicação Política e Opinião Pública
O patrono político e a campanha persuasiva no HGPE presidencial: A utilização da figura nos programas dos do PT e PSDB entre os anos de 2002 a
2010
Camilla Quesada Tavares (UEPG) Michele Goulart Massuchin (UFSCar)
Orientador: Emerson Urizzi Cervi (UEPG/UFPR)
O patrono político e a campanha persuasiva no HGPE presidencial: A utilização da figura nos programas dos do PT e PSDB entre os anos de 2002 a
2010
Camilla Quesada Tavares Michele Goulart Massuchin
Resumo: Este paper propõe uma análise comparativa sobre a utilização da figura do patrono político na eleição para presidente a partir dos programas do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) dos dois principais partidos brasileiros, PT e PSDB, entre os anos de 2002, 2006 e 2010. Pretende-se verificar como essa figura apareceu nos programas ao longo dos anos, observando se ela se manteve presente nas três eleições nos programas dos dois partidos escolhidos ou se há diferença na sua aparição (ou ausência). A hipótese principal é que o PSDB não se apropria dessa estratégia em seus programas da mesma forma que o PT, ou seja, nos programas do PSDB ela é quase inexistente. Para este artigo, os dados apresentados são referentes apenas ao primeiro turno das eleições. A metodologia empregada é quantitativa de análise de conteúdo. As categorias são baseadas em instrumentos de análise já testados e utilizados pelo grupo de pesquisa Mídia, Política e Atores Sociais, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Palavras-chave: campanha presidencial; patrono político; HGPE.
INTRODUÇÃO
Os meios de comunicação se tornaram importantes para a política, sobretudo
em épocas eleitorais - momento em que os cidadãos procuram informações sobre
os candidatos que disputam o pleito. Ao mesmo tempo em que o indivíduo busca
conhecimento sobre o candidato, os partidos produzem conteúdos que conseguem
chegar para um número maior de pessoas por meio da mídia. Devido à eficácia do
seu alcance, partidos e seus respectivos candidatos podem divulgar suas ideias,
propostas de governo e, sobretudo, sua imagem para a população. O
desenvolvimento dos meios de comunicação de massa introduziu um novo modo de
pensar as campanhas eleitorais no Brasil, conforme apontam vários autores, entre
eles Rubim (2007), principalmente após o período da ditadura militar. Antes da
redemocratização do país, as campanhas eram centradas nos comícios e passeatas
(RUBIM, 2007), mas agora é mostrada no rádio e na televisão, o que demanda
outras estratégias e formas de elaboração. A comunicação se firmou num patamar
importante dentro do contexto social, tornando-se um "ambiente construtivo de
sociabilidade" (RUBIM e AZEVEDO, 1998, p. 2).
Manin (1995) defende que os representantes conseguem se eleger devido ao
seu poder comunicativo e de utilização dos meios de comunicação, e não mais por
ser apenas conhecidos do eleitor. A legislação brasileira oferece diversos espaços
para que os candidatos possam se comunicar com o público através dos meios de
comunicação em períodos eleitorais. Conforme lei estipulada pelo Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), os partidos têm direito a inserções gratuitas no rádio e televisão
durante todo o ano e, em períodos de eleição, o espaço destinado à campanha é
maior. Além das inserções gratuitas ao longo da programação, no segundo
semestre dos anos que acontecem as eleições, os partidos que possuem
candidatos próprios e/ou coligações têm direito a um espaço na grade de
programação do rádio e TV para que possam se apresentar ao público através dos
programas do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral, o HGPE.
O HGPE é um importante espaço para os partidos, pois o Estado oferece
esse tempo na grade de programação para que todos os partidos tenham meios de
chegar até o público, sendo vedada a veiculação de propaganda paga (LEI Nº 9504,
1997). Isso torna a publicidade mais democrática, uma vez que partidos pequenos
conseguirão algum tempo - nem que seja o tempo mínimo - para se mostrar aos
eleitores. Já o tempo de cada programa é dividido de acordo com o número de
cadeiras que o partido possui no Congresso Nacional.
Os estudos sobre mídia e política possuem vários focos, entre eles análise de
jornais, produção para rádio e televisão, comportamento político, opinião pública e
agora também conteúdo digital (para internet). No caso deste paper voltamos nossa
atenção para a análise dos programas do HGPE televisivo a partir de uma figura
importante dentro do cenário eleitoral: o patrono político. Isso significa que vamos
centrar nossa atenção na imagem construída dentro do HGPE. O patrono político é
a pessoa que possui relação com a trajetória política do candidato, apoiando-o
publicamente, estando ao seu lado em compromissos eleitorais e ajudando-o a
melhorar sua imagem pública frente ao eleitor. O patrono político aparece sempre
para tentar melhorar algum aspecto dentro da campanha, que tende a ser a imagem
do candidato, pois o que está em jogo são os atributos pessoais e não temáticos1.
O patrono deve ser uma pessoa conhecida e com prestígio social, caso
contrário não possui função dentro da campanha. No entanto, ele pode ser ou ter
sido político ou então pode estar fora do campo político, mas ainda sim possuir
influência social. Neste estudo apresentamos os três tipos proposto pelos autores: o
familiar, o político e o social. Cada um desempenha a função de patrono baseado
em argumentos diferentes, que veremos a seguir. A partir disso, vamos analisar o
papel do patrono a partir da aparição nos programas do HGPE televisivo dos dois
principais partidos brasileiros, o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da
Social Democracia Brasileira (PSDB).
1. DEFINIÇÃO E OS TIPOS DE PATRONO POLÍTICO
A definição do conceito de patrono está baseada no poder simbólico
(BOURDIEU, 1998) que determinada pessoa exerce em um dado contexto social
e/ou político. O poder simbólico é entendido como um poder invisível atribuído a
uma pessoa ou instituição. Esse tipo de poder existe a partir do crédito, da
confiança que as pessoas depositam em outra. “É o poder que existe porque aquele
que lhe está sujeito crê que ele existe” (BOURDIEU, 1998, p. 188). O conceito
também se fundamenta no poder carismático (WEBER, 2002; PARSONS, 2010), já
que essa é uma característica importante para os governantes. A partir desse
carisma, algumas ações podem ser propostas para colaborar com novos candidatos
de seu partido, quando este já não pode mais ocupar um cargo eletivo. Mas não se
deve esquecer que o poder carismático é, antes de tudo, pessoal; nada tem a ver
com o partido que o candidato pertence, mas pode servir como um instrumento de
1 Temáticos seriam a apresentação e/ou discussão de assuntos de interesse público, como saúde,
educação, economia, infra-estrutura, saneamento, entre outros.
estratégia eleitoral. De acordo com Parsons (2010), é possível fazer uma
transferência da imagem carismática. Ou seja, transferir, associar, interligar o
carisma de uma figura à outra. Contudo, o autor lembra que o poder carismático
pode ser transferido em alguns casos, e o caso hereditário é o mais comum deles.
Para uma pessoa ser considerada patrono de outra é necessário que ela
exerça influência no campo social, ou seja, no eleitor. Uma pessoa que não é bem
aceita pelo público dificilmente vai conseguir agregar votos para uma campanha.
Além disso, o patrono deve possui características que o coloquem acima do
candidato, e não que esteja no mesmo patamar de poder. Isso é o que diferencia o
patrono da pessoa que presta um depoimento qualquer a favor do candidato. O
patrono precisa ter uma relação próxima com o candidato e manifestar seu apoio a
ele publicamente, mostrando ao eleitor que aquele candidato que ele está apoiando
é confiável e é também uma boa opção de voto. Para este estudo sugerimos três
categorias para definir o patrono, conforme já foi apontado, porque parte-se do
pressuposto de que cada tipo influencia o eleitor de forma diferente, então é
necessário dividi-los a partir da posição que ocupam político e socialmente.
Propomos dividir os patronos em três tipos: o familiar, o eleitoral e o social.
Os patronos familiar e eleitoral estão fundamentados nos tipos-ideais tradicional e
carismático, propostos por Weber (2002; 2004). O patrono social, uma figura que
não pertence à classe política, é definido com base nos estudos de Bourdieu (1998),
principalmente aquele onde ele defende que os gostos e preferências das pessoas
variam de acordo com a realidade a que ela pertence. A seguir veremos as
definições formuladas para cada tipo.
1.1 Patrono familiar
A formação da figura de um patrono familiar demanda tempo, já que ele
precisa ser reconhecido da população e se manter entre a classe política ou social
mesmo sem estar exercendo um cargo público, ou seja, ele precisa ser lembrado.
Desta forma, o que chamamos de patrono familiar neste estudo são pessoas que
tenham laços familiares com o candidato em disputa, e que exercem influência no
meio social baseado no poder tradicional, que é fundamentado em crenças e
valores antepassados. Assim, o patrono familiar age com base nas crenças da
população, esperando que ela continue lhe dando credibilidade porque já conhece
sua história e seus antepassados ligados à política. A função do patrono familiar é
mostrar que aquele candidato merece ganhar porque faz parte da família X,
principalmente se o ex-governante da família possui boa avaliação de governo pelo
povo. Um exemplo é o caso de José Richa, pai de Beto Richa, atual governador do
Paraná. José Richa foi deputado federal; prefeito de Londrina, cidade do interior do
estado; senador e governador do Paraná. Foi um dos fundadores do PSDB, partido
que Beto Richa é afiliado e que representa uma das principais figuras tucana
atualmente. O pai comporta-se como o patrono familiar do filho dentro da campanha
eleitoral, pois representa a tradição de uma família na vida pública e ainda
(re)lembra aos eleitores que seu governo foi bem avaliado pela população da época.
A influência que essas pessoas exercem pode estar baseada na dominação
tradicional. Ela é aquela exercida pelos senhores de terra ou patriarcas, ou seja,
aqueles que começaram na política por poderem viver para ela, sem necessitar de
remuneração (WEBER, 2002). São aquelas pessoas que influenciam a população
com base na tradição familiar, representando uma espécie de continuidade política,
pois já foram aceitas por gerações passadas para assumir determinado cargo e
continuam sendo. Apesar dessa conceituação proposta pelo autor ser abstrata,
pode-se observá-la no contexto da política brasileira, já que é possível encontrar
exemplos de famílias tradicionais, que já possuem longa caminhada dentro do
contexto político. O pai que governou ontem, hoje faz campanha para o filho. Isso
caracteriza o patrono familiar, que possui vínculo sanguíneo com o candidato. Para
materializar o conceito peguemos mais um exemplo, o de Tancredo Neves e Aécio
Neves, de Minas Gerais. Aécio é neto de Tancredo, que inclusive foi contratado
para ser secretário-particular de seu avô. Tancredo desempenha o papel de patrono
familiar de Aécio, caso esse queira associar sua imagem a de seu avô. Tancredo
Neves exerceu diversos cargos políticos no país e se elegeu presidente do Brasil
em 1985, a partir do voto indireto de um colégio eleitoral, mas morreu antes de
tomar posse. Outros exemplos de políticos que poderiam recorrer ao patrono
familiar são: Antônio Carlos Magalhães Neto (neto de Antônio Carlos Magalhães,
que ocupou o cargo de governador da Bahia em dois mandatos e o de senador);
Gustavo Fruet (filho do ex-prefeito de Curitiba, Maurício Fruet); Sarney Filho (filho
do senador José Sarney e irmão da governadora do Maranhão, Roseana Sarney).
1.2 Patrono eleitoral
O patrono eleitoral é como chamamos o segundo tipo de patrono. Ele se
difere do patrono tradicional porque não possui nenhum vínculo de parentesco com
o candidato que está apadrinhando, tampouco possui apenas relevância social,
como é o caso patrono social que veremos a seguir. O patrono político é aquele que
representa a classe política em favor de determinado candidato, mas sem ter
vínculos familiares com ele.
Para que um político possa fazer uma campanha eficaz para outro candidato
é necessário que ele possua uma qualidade pessoal que o destaque dos demais: o
carisma. Assim, ele desempenha o que Weber (2002) chama de dominação/poder
carismático. O poder carismático - embora não seja uma característica exclusiva do
patrono eleitoral, mas é onde ela se torna mais visível, de acordo com o autor, se
fundamenta em aspectos puramente individuais de cada pessoa. A dominação
carismática é aquela onde a autoridade se baseia em “dons pessoais e
extraordinários de um indivíduo” (WEBER, 2002, p. 61). O exercício da dominação
carismática está alicerçado na confiança e devoção depositadas em alguém. O que
diferencia essa pessoa são suas qualidades pessoais. Ele é o "poder nascido da
submissão ao 'carisma' puramente 'pessoal' do chefe" (WEBER, 2002, p. 62).
Aplicando o conceito a este estudo, verifica-se que essa é uma característica que
tende a ser encontrada na maioria dos líderes políticos, no entanto, ela é
fundamental ao tipo de patrono eleitoral. Isso porque o patrono eleitoral geralmente
não é oriundo de famílias tradicionais da política, ou seja, não influencia pela
tradição; tampouco é reconhecido no contexto social por outra atividade que não a
vida política. A obediência a esse chefe carismático se dá a partir da devoção, da fé,
e não devido à tradição ou formas legais. Como entendemos que o patrono eleitoral
deve ser uma pessoa com trajetória política - mas que não precisa ser
necessariamente de uma família tradicional, pressupõe que ele já tenha ocupado
um cargo de destaque dentro do governo para ser conhecido da população, afinal,
não adianta utilizar da estratégia do patrono caso ele não possua relevância política.
É neste momento que um governante se diferencia do outro a partir de suas
atribuições únicas, pessoais. A avaliação positiva que figuras políticas possuem
tendem a garantir maior poder dentro do cenário político. E esse poder conquistado
e adquirido por um governante pode beneficiar outros, como aconteceu com a figura
de Dilma Rousseff (PT), que teve a construção de sua imagem pública associada à
do ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Parsons (2010) explica que,
para Weber, a figura de uma pessoa carismática perpassa vários contextos, e esta é
uma das características dessa figura: o não pertencimento, baseado em coisas
concretas – como pessoas, acontecimentos, atos, entre outros. Quando aplicada a
uma pessoa, a qualidade carismática é exemplar (vorbildlich) – algo a ser imitado. O
carisma está vinculado à legitimidade; ele é visto quase como uma autoridade,
conforme aponta Parsons (2010), e pode ser considerado o homem político por
'vocação', como argumenta Weber (2002).
Após discorrer sobre o patrono político, vamos apresentar a última definição
formulada para este estudo: o patrono social.
1.3 Patrono social
Diferentemente do patrono familiar, o patrono social não possui nenhum
vínculo de parentesco com o candidato, nem vínculo permanente com a política.
Pelo contrário, ele é uma figura que possui total autonomia em relação ao
candidato, mas mesmo assim procura ajudá-lo na construção de sua imagem na
campanha. A característica principal do patrono social é que ele possui prestígio
frente à sociedade; é respeitado e ocupa uma posição de destaque. Albuquerque
(1999) afirma que esse tipo de figura está cada vez mais presente em campanhas
eleitorais.
É muito fácil confundir uma pessoa conhecida que participa da campanha
prestando depoimento com a figura do patrono social, que faz articulações para
angariar votos. O patrono social é um líder que possa vir a interferir de forma
positiva na campanha principalmente pelo seu prestígio frente aos cidadãos, mas
deve mostrar ao povo que aquele é o seu candidato, que ele confia. Um exemplo de
personalidade que pode ser considerada patrono social é Regina Duarte na
campanha presidencial de José Serra nas eleições de 2002. Em uma das
propagandas eleitorais ela apareceu dizendo que tinha medo de Lula, e que era
para a população votar em Serra, sem medo, pois ela confiava nele2. Mas o que
faria, então, um eleitor a votar num candidato considerando o a influência que o
patrono social possui sem ele ser tradicional ou político? Uma das respostas a essa
pergunta pode ser os gostos ou preferência por aquela figura. Bourdieu (2007)
afirma que os gostos das pessoas não são naturais, tampouco não-discutíveis.
Scholz (2009) faz referência a Bourdieu quando argumenta que "o gosto classifica e
diferencia aquele que procede à classificação, ou seja, os sujeitos sociais
diferenciam-se pelos gostos e hábitos que eles praticam (...)" (p. 89). Quando se
trata sobre gostos e preferência, de acordo com Bourdieu (2007), as pessoas fazem
suas escolhas involuntariamente, mas ao mesmo tempo essa preferência está
implícita ao sistema social e, na maioria dos casos, essa escolha é uma contradição
social, mas é desconhecida, como apresenta Garnham (2001).
O que o patrono social deve fazer é tentar sensibilizar o maior número de
pessoas que admiram o seu trabalho para que votem no candidato que está
apoiando. A associação de suas imagens públicas é feita a partir da distinção social
do patrono, o que o diferencia dos outros tipos (familiar e político). O patrono se
caracteriza, então, como uma espécie de conselheiro que vem a público para dizer
aos eleitores que aquele candidato ouve as suas orientações, independente de ser
da mesma família, do mesmo partido ou apenas por ter alta visibilidade social.
Basicamente, o patrono tem como função ajudar o candidato durante a campanha
eleitoral, e veremos no tópico 3 deste artigo como o patrono apareceu no primeiro
turno da campanha dos presidenciáveis nos anos 2002, 2006 e 2010.
2. CAMPANHA TELEVISIVA
2 A fala completa da atriz na propaganda foi a seguinte: "Tô com medo. Fazia tempo que eu não
tinha esse medo. Porque o Brasil nessa eleição corre o risco de perder toda a estabilidade financeira conquistada. Eu sei que muita coisa não seria feita, mas também tem muita coisa boa que já foi realizada. Não dá para ir tudo pra lata do lixo. Nós temos oito candidatos à presidência: um eu conheço, que é o Serra, o homem dos genéricos, do combate à AIDS; o outro, eu achava que conhecia, mas hoje eu não conheço mais. Tudo o que ele dizia mudou muito. Isso dá medo na gente. Outra coisa que dá medo é a volta da inflação desenfreada, lembra? Oitenta por cento ao mês. O futuro presidente vai ter que enfrentar a pressão da política nacional e internacional, e vem muita pressão por aí. É por isso que eu vou votar no Serra! Porque ele me dá segurança; porque dele eu sei o que esperar. Por isso eu voto 45, voto Serra. E voto sem medo". O vídeo pode ser encontrado na página do Youtube.
Conforme apontam alguns autores (MANIN, 1995; ALBUQUERQUE, 1999;
ALBUQUERQUE e DIAS, 2002; BERTANI, 2006; RUBIM, 2007), os meios de
comunicação de massa modificaram a maneira de pensar a política, sobretudo as
campanhas eleitorais. Até as eleições presidenciais de 1989 - que se tornou
referência para estudos sobre campanha eleitoral3, a disputa não sofria quase
nenhuma interferência dos meios eletrônicos. Foi durante essa eleição que o
Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE) chamou a atenção dos estudiosos
da área. Embora esteja prevista em lei desde 1962, o HGPE passou a ser utilizado,
efetivamente, somente a partir de 1989 (ALBUQUERQUE, 1999; FIGUEIREDO et
al., 2000). Uma possível explicação para isso pode estar na quantidade de
aparelhos televisivos em uso no Brasil. De acordo com Lavareda (1991 apud
BERTANI, 2006), em 1962 o número de aparelhos não chegava a dois milhões em
uso. Esse número cresceu significativamente em poucas décadas. Nos anos de
1980, já eram 18,3 milhões de aparelhos e em 1989 esse número chegou aos 28
milhões, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e
Eletrônica (MATTOS, 1990). Já em 2011, o número de aparelhos televisivos chega
à casa dos 155 milhões, segundo dados divulgados pela pesquisa Mercado
Brasileiro de Tecnologia de Informação (TI) e Uso nas Empresas, feita anualmente
pela Fundação Getúlio Vargas (FGV)4.
O alto número de televisores nos lares brasileiros indica que a população se
dedica a acompanhar seu conteúdo, que geralmente apresenta programação
bastante variada e ainda combina fatores que atraem a atenção do telespectador,
como a junção do áudio e da imagem. Pesquisas mostram que os brasileiros
consomem mais conteúdos provenientes da televisão do que de outros meios
(PANKE e CERVI, 2011).
Os meios de comunicação de massa (MCM), e, sobretudo, a televisão,
modificaram os mecanismos de atuação dos atores sociais (desde atores
profissionais até os governantes) que passaram a utilizar esses meios eletrônicos
3 Sendo o estudo de Fausto Neto (1990), "“O presidente da televisão: a construção do sujeito e do
discurso político no guia eleitoral”, como um marco do início dessas pesquisas. (ALBUQUERQUE, 2003). 4 Os números foram divulgados na matéria "Pesquisa mostra que Brasil tem 85 milhões de
computadores em uso", no site da Agência Brasil em 19 de abril de 2011. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-04-19/pesquisa-mostra-que-brasil-tem-85-milhoes-de-computadores-em-uso. Acessado em 25 de abril de 2012.
(ALBUQUERQUE, 1999). O cenário mudou, e com isso as estratégias também. A
personalização que os meios de comunicação de massa, e principalmente a
televisão, proporciona à política é discutida por Manin (1995). O autor argumenta
que vivemos numa 'democracia do público', e não mais em uma 'democracia de
partido'. O ponto central para o autor é que os meios de comunicação de massa se
tornaram essenciais para a política, pois são eles os responsáveis pela
intermediação entre político/candidato e público/eleitor. Manin (1995) defende que,
durante a eleição, por exemplo, o candidato não é mais escolhido pelo eleitor por
proximidade, mas sim pelo seu poder comunicativo, já que passa a ser conhecido
somente através dos MCM.
A mediatização das campanhas eleitorais pode ter contribuído para a
espetacularização da política, segundo Albuquerque (1999). Junto com esse
fenômeno verificou-se que um novo elemento passou a chamar a atenção
significativamente: a imagem dos políticos/candidatos. Albuquerque (1999) coloca
que a personalidade se tornou um fator de importante avaliação social, a partir da
qual o público passou a perceber a aparência emitida pelos outros, sobretudo
aqueles que estão na televisão, onde a imagem é fundamental. Assim, a vida social
passou a se estruturar igual a um espetáculo, onde o desempenho pessoal de cada
pessoa é julgado pelo público (ALBUQUERQUE, 1999). Da mesma forma os
políticos e candidatos são julgados, a partir de sua imagem. Por isso construir uma
imagem forte e consolidada durante a campanha pode ser uma boa estratégia, e é
aí que entra o papel do patrono político. Ele pode colaborar para a construção dessa
imagem do candidato. Weber (2000) lembra que o investimento das campanhas se
concentra na TV, e é necessário todas as técnicas deste meio juntos às da
publicidade para alcançar os efeitos esperados, sobretudo o voto. Assim, a imagem
passa a ser uma estratégia para os políticos, pois eles podem controlar a imagem
que passam ao eleitorado através das estratégias de marketing, por exemplo. O
espetáculo político é, assim, uma nova reorganização da dinâmica da política
(ALBUQUERQUE, 1999).
O HGPE, em si, é um palco de espetáculo. A partir das estratégias de cada
candidato é montado o cenário, os personagens são escolhidos, os temas são
debatidos e a imagem pública do candidato, construída. Os programas são
pensados para convencer o eleitor a partir do contato direto entre candidato e
público. É o momento da campanha onde o eleitor não precisa ir buscar a
informação eleitoral; pelo contrário, é ela que entra na casa dos brasileiros através
do HGPE (PANKE e CERVI, 2011) e, a partir dele, tenta manter uma relação íntima
com quem o assiste.
No próximo tópico veremos como foi construída a imagem do candidato a
partir da presença do patrono político, como esta figura apareceu durante o primeiro
turno da campanha dos anos selecionados, como ela falou ao eleitor e a que
período temporal (passado/presente ou futuro) ela remete as mensagens.
3. APRESENTAÇÃO DOS DADOS EMPÍRICOS
Os dados apresentados neste tópico dizem respeito ao primeiro turno das
eleições de 2002, 2006 e 2010. Foram coletados todos os programas do PT e do
PSDB referentes à primeira etapa da campanha. A metodologia que utilizamos é a
quantitativa de análise de conteúdo, pois ela é indicada para pesquisas que
trabalham com grande número de casos, a partir dos quais se pode fazer
inferências para a realidade (DAVIS, 1976 apud MASSUCHIN e TAVRES, 2012).
Assim, com o auxílio do programa estatístico SPSS podemos fazer generalizações e
comparações entre os três anos estudados.
As variáveis que selecionamos para esta análise são as seguintes: endosso
do patrono; orador dominante; apelo e dimensão temporal. O endosso do patrono
diz respeito à aparição de líderes políticos ligados à história do candidato,
manifestando apoio explícito a ele. Ele é identificado a partir da presença ou
ausência no segmento. O orador dominante mostra quem fala durante o
segmento. Ele pode ser o próprio candidato, o candidato à vice, patrono político (a
personalidade política que tenha ligação com a carreira do candidato e o orador
dominante que nos interessa para este estudo), garoto propaganda, âncora, líder
partidário (personalidade que fala como líder do partido, mas que não tenha relação
com a trajetória política do candidato), off do locutor, off do cantor, popular,
personagem/ficção, personalidade e instrumental. Com a variável apelo podemos
identificar qual o apelo empregado na fala do orador dominante em cada segmento
que há a menção ou aparição do patrono. Ele é dividido em cinco tipos: pragmático,
quando apresenta a proposição de alguma política pública; ideológico, quando está
baseado em dogmas ou preceitos ideológicos; político, quando se limita a defender
a posição de um grupo ou partido político; emocional, quando não há conteúdo
político, nem ideológico ou pragmático, limitando-se ao apelo para aspectos
simbólicos; e documental, quando predomina o argumento de autoridade ou
documento oficial. Por fim, a partir da dimensão temporal verificaremos a natureza
do tempo que aquela mensagem aborda. Ela pode fazer menção a ações do
passado/presente ou então a propostas futuras.
Os primeiros dados, referentes à eleição de 2002, nos revelam uma grande
surpresa logo de início: nenhum dos candidatos do PT ou PSDB fizeram menção ao
patrono político em seus programas durante o primeiro turno das eleições. Isso
significa que em nenhum dos 97 segmentos do PT e dos 192 do PSDB houve a
aparição, menção ou fala de alguma pessoa que poderia se enquadrar como
patrono político. Esse é um fato curioso, pois em 2002 o PSDB ainda estava à frente
da presidência do Brasil com Fernando Henrique Cardoso, mas em nenhum
momento ele é lembrado ou aparece para fazer campanha a favor do candidato
José Serra. Em 2006, por outro lado, verificamos a presença do patrono, como
podemos visualizar na tabela 1.
TABELA 1 - Endosso ao patrono político nos programas do 1º turno de 2006
Endosso ao Patrono Candidatos
Alckmin (PSDB) Lula (PT)
Frequëncia % Frequëncia %
Ausência 891 98,6 421 100,0
Presença 13 1,4 0 0
Total 904 100,0 421 100,0
Fonte: Mídia, Política e Atores Sociais (UEPG)
Conforme nos mostra a tabela, em 2006 houve aparição ou menção ao
patrono em 13 segmentos dos programas de Geraldo Alckmin, do PSDB. Como era
de se esperar nos programas do PT não há patrono político pelo menos no primeiro
turno daquele ano, e verifica-se uma tentativa de mudança de estratégia do PSBD.
Se em 2002 não encontramos nenhum segmento com endosso ao patrono, em
2006 observa-se a presença desta figura em 13 segmentos. Já no ano de 2010, os
resultados que encontramos são bem diferentes, principalmente nos programas do
PT, como podemos ver na tabela a seguir.
TABELA 2 - Endosso ao patrono político nos programas do 1º turno de 2010
Endosso ao Patrono Candidatos
Serra (PSDB) Dilma (PT)
Frequëncia % Frequëncia %
Ausência 221 99,5 272 70,5
Presença 1 0,5 114 29,5
Total 222 100,0 386 100,0
Fonte: Mídia, Política e Atores Sociais (UEPG)
Dos 386 segmentos dos programas do PT no primeiro turno, 114
apresentaram endosso ao patrono político, o que representa aproximadamente 30%
do total. O PSDB manteve a mesma estratégia de 2002, apresentando uma
exceção, como mostra a tabela.
Sobre a aparição, verificou-se então que a presença do patrono foi uma
estratégia mais fortemente utilizada pelo PT em 2010, como mostra o percentual de
29,5% da tabela acima. Já o PSDB usou o patrono em 2006, ao contrário do PT.
Nos gráficos seguintes apresentam-se os dados sobre o tempo destinado a esses
segmentos. Eles ilustram a duração em segundo de cada segmento onde há
endosso ao patrono. O gráfico 1, a seguir, mostra a duração em segundos dos
segmentos dos programas de Alckmin, no ano de 2006.
GRÁFICO 1 - Duração dos segmentos onde há patrono - PSDB (2006) Fonte: Fonte: Mídia, Política e Atores Sociais (UEPG)
Como podemos verificar, a maior parte dos segmentos possui entre 5 e 20
segundos. Há uma concentração de 5 segmentos que totalizam 10 segundos, um
caso onde dura aproximadamente 15 segundos, 20 e 30; e outro segmento onde o
tempo varia chega a 45 segundos. A média de duração em segundos para os
segmentos onde há menção ao patrono foi de pouco mais de 14 segundos. Em
2010, o único segmento dos programas do PSDB com patrono político durou 22
segundos. Já no caso do PT, onde a figura do patrono aparece em 2010, o tempo
dos segmentos variou bastante, conforme mostra o gráfico 2.
GRÁFICO 2 - Duração dos segmentos onde há patrono - PT (2010)
Fonte: Fonte: Mídia, Política e Atores Sociais (UEPG)
De acordo com o gráfico, há uma grande concentração de segmentos que
duraram até 50 segundos, mas o maior número de casos (23) tem duração de até
25 segundos. Podemos verificar ainda que apenas quatro segmentos possuem
tempo muito superior à maioria, um chegando a durar 125 segundos. Porém, esta é
uma exceção, visto que a média da duração em segundos foi de 30,5.
A próxima variável diz respeito ao orador dominante. Como já foi dito, em
2002 não houve presença de patrono, portanto agora apresenta-se somente dados
de 2006 e 2010. Em 2006, embora haja endosso ao patrono, ele somente é citado
por outras vozes dentro dos programas. Isso significa que a figura do patrono não
apareceu durante os programas do primeiro turno do PSDB daquele ano, conforme
nos mostra a tabela 3. O candidato mencionou seu patrono em apenas 1 dos 13
segmentos, enquanto que o off do locutor falou sobre o patrono em 10 segmentos, o
que representa aproximadamente 77% do todo.
TABELA 3 - Orador dominante dos segmentos com patrono do PSDB de 2006
Orador Dominante Candidato
Alckmin (PSDB)
Frequëncia %
Candidato 1 7,7
Patrono político 0 0
Garoto Propaganda 0 0
Off_locutor 10 76,9
Off_cantor 0 0
Popular 2 15,4
Personagem_ficção 0 0
Personalidade 0 0
Total 13 100,0
Fonte: Mídia, Política e Atores Sociais (UEPG)
A tabela nos dá um indicativo de que o PSDB quis lembrar do patrono, mas
de uma forma muito contida não apresentando este em seus programas, mas
apenas a sua citação. Já quando olhamos para 2010 verificamos que o PSDB
modificou novamente sua estratégia quanto ao patrono. Em 2002 não houve
aparição; em 2006 o partido manifestou uma pequena vontade de integrar essa
figura política no pleito, mas em 2010 recuou e deixou o patrono praticamente fora
da campanha na televisão, pois este apareceu somente uma vez como mostrou a
tabela 1 e 2.
O PT, por outro lado, deu bastante visibilidade ao patrono. No entanto, isso
ocorreu somente em 2010. No caso dos programas da candidata do PT, o patrono
foi mencionado por outras vozes e, ao mesmo tempo, também esteve presente nos
segmentos. A tabela a seguir mostra os principais oradores dos segmentos onde há
a presença ou menção ao patrono político nos programas de Dilma em 2010,
indicando quem fez referência a ele e também o quanto ele apareceu.
TABELA 4 - Orador dominante dos segmentos com patrono do PT e PSDB de 2010
Orador Dominante Candidatos
Serra (PSDB) Dilma (PT)
Frequëncia % Frequëncia %
Candidato 18 15,8 0 0
Patrono político 17 14,9 1 100
Garoto Propaganda 13 11,4 0 0
Off_locutor 42 36,8 0 0
Off_cantor 11 9,6 0 0
Popular 11 9,6 0 0
Personagem_ficção 1 ,9 0 0
Personalidade 1 ,9 0 0
Total 114 100,0 1 100,0
Fonte: Mídia, Política e Atores Sociais (UEPG)
A tabela de 2010 do PT nos mostra resultados bastante diferentes quando
comparado aos outros anos. O patrono de Dilma Rousseff, em 2010, apareceu
como orador dominante em 17 segmentos, o que representa 14,9% do total, mas
ele foi efetivamente mencionado através do off do locutor, em 36,8%. Nos
programas de Serra, o patrono político apareceu e foi orador no único segmento
existente, o que mostra que a única vez que o patrono esteve presente na
campanha de 2010 do PSDB ele próprio apareceu para falar com os eleitores, ou
seja, não foi mencionado por outras pessoas dentro do programa do HGPE, mas
sim esteve presente fisicamente, conversando diretamente com o público. No caso
dos programas do PT, verifica-se que embora o patrono político seja identificado em
114 segmentos, ele apareceu, de fato, em apenas 15% deste total como orador.
Nos outros segmentos o patrono foi apenas mencionado. A partir desses dados fica
claro que o PT optou incluir o patrono político no primeiro turno da campanha de
forma indireta, falando sobre ele e não o trazendo efetivamente para o HGPE.
Os próximos dados a serem apresentados se referem à variável “apelo”. A
tabela 5 mostra os resultados obtidos a partir dos programas do PSDB em 2006.
TABELA 5 - Apelo dos segmentos com patrono do PSDB em 2006
Apelo Candidato
Alckmin (PSDB)
Frequëncia %
Pragmático 3 23,1
Ideológico 0 0
Político 0 0
Emocional 10 76,9
Documental ou Cred. da fonte
0 0
Total 13 100,00
Fonte: Mídia, Política e Atores Sociais (UEPG)
Como já era de se esperar, visto que a aparição do patrono tende a ser
verificada em momentos onde há a necessidade de construir a imagem do
candidato para diferenciá-lo a partir de seus aspectos pessoais, o apelo empregado
na fala ou menção do patrono é de ordem emocional. Nos programas de Alckmin,
em 2006, o apelo emocional, predominou em 76,9% dos segmentos com patrono,
dividindo pouco espaço com o apelo pragmático (23,1%). Já em 2010, o apelo
emocional foi o predominante no único segmento encontrado nos programas do
PSDB, conforme apresenta a tabela 6.
TABELA 6 - Apelo dos segmentos com patrono do PT e PSDB em 2010
Apelo Candidatos
Serra (PSDB) Dilma (PT)
Frequëncia % Frequëncia %
Pragmático 0 0 42 36,8
Ideológico 0 0 9 7,9
Político 0 0 1 ,9
Emocional 1 100 60 52,6
Documental ou Cred. da fonte
0 0 2 1,8
Total 1 100,0 114 100,0
Fonte: Mídia, Política e Atores Sociais (UEPG)
Por outro lado, nos programas do PT de 2010 o apelo emocional também
dividiu espaço com o pragmático, embora tenha sido superior - 56,2%, contra 36,8%
do pragmático. Vale lembrar que o apelo pragmático é aquele onde se apresenta
uma proposição de política pública, então neste caso o patrono político apareceu
não somente apelando para aspectos simbólicos, mas também apresentou falas
temáticas.
Por fim, identificamos qual foi a dimensão temporal empregada nas
mensagens políticas dos segmentos onde há a presença ou menção ao patrono. A
tabela 7 apresenta os resultados dos programas do PSDB em 2006.
TABELA 7 - Dimensão temporal das mensagens com presença do patrono do
PSDB em 2006
Dimensão Temporal Candidato
Alckmin (PSDB)
Frequëncia %
Passado/presente 12 92,3
Futuro 1 7,7
Total 13 100,0
Fonte: Mídia, Política e Atores Sociais (UEPG)
Olhando para os dados verifica-se que em 2006 há predominância de
mensagens que remetem ao passado/presente. Conforme podemos verificar na
tabela, 92,3% dos segmentos apresentaram o discurso sobre ações do passado ou
presente. Em 2010 o resultado encontrado foi o mesmo no único segmento com
patrono, como podemos ver na tabela 8.
TABELA 8 - Dimensão temporal das mensagens com presença do patrono do
PT e PSDB em 2010
Dimensão Temporal Candidatos
Serra (PSDB) Dilma (PT)
Frequëncia % Frequëncia %
Passado/presente 1 100 100 87,7
Futuro 0 0 14 12,3
Total 1 100,0 114 100,0
Fonte: Mídia, Política e Atores Sociais (UEPG)
Nos programas do PT de 2010 também há a predominância de discursos que
abordam o passado/presente (87,7%), mas também existem alguns que se dedicam
a falar sobre o futuro, o que representa 12,3%. A dimensão temporal serve para nos
indicar em qual tempo a mensagem foi construída. Por exemplo, quando remete ao
passado ou ao presente é muito provável que ela traga questões sobre ações
desenvolvidas pelos governos passados, mas isso não quer dizer que essa
abordagem seja positiva, negativa ou neutra. Da mesma forma que quando projeta
o futuro tende a fazê-lo para mostrar ao eleitor possíveis ações que o candidato vai
realizar caso seja eleito.
De modo geral, embora predomine as mensagens sobre passado e presente,
o PT tem um diferencial de apresentar também menções ao futuro nas falas que
fazem referência ao patrono. Agora que sabemos como o patrono foi posicionado
nos programas do HGPE nas eleições de 2002, 2006 e 2010 apontamos algumas
conclusões que já podem ser formuladas a partir desses resultados apresentados.
CONCLUSÃO
A primeira conclusão a que podemos chegar é de que nossa hipótese inicial
se confirma parcialmente, pois o PT muda sua estratégia ao longo dos anos e passa
a considerar a presença do patrono político uma peça importante dentro do horário
eleitoral. Já o PSDB tenta, mesmo que de forma modesta, incluir o patrono nos
programas de 2006 e 2010, o que não prevíamos encontrar - embora em 2010
tenhamos verificado apenas um segmento onde há essa presença. Por outro lado,
verifica-se que o patrono político esteve fortemente presente no primeiro turno da
campanha de 2010: em quase 30% do total de segmentos dos programas de Dilma
(PT). Isso significa que pelo menos um terço dos segmentos mencionaram ou
apresentaram o patrono ao eleitor. Os programas do PT em 2002 não apresentaram
patrono político, da mesma forma como ocorre em 2006, mas chegar a 30% em
2010 pode ser entendido como uma mudança visível de estratégia, pois essa figura
não esteve presente em outros anos, tendo aparecido apenas na última eleição
presidencial e com percentuais significativos, quando comparados aos outros anos
e ao outro partido, o PSDB. Quando olhamos para os programas do PSDB em 2006
verificamos que 13 segmentos dos 904 do total do primeiro turno apresentaram
patrono, o que representa 1,4% do total. Embora esse número seja muito pequeno
quando comparado ao todo, indica uma contida tentativa de mudança de estratégia.
Em 2010, como já era de se esperar, o PT investiu na aparição do patrono, em
grande medida para ajudar na construção da imagem de seu candidato que era
pouco conhecido do público até poucos meses antes de a campanha começar.
Conforme mostram os dados, o patrono apareceu ou foi citado para construir
a imagem do candidato e apelar para elementos emocionais, o que confirma a teoria
de Charaudeau (2008) de que a influência política é exercida, entre outros, a partir
do terreno da paixão. Isso porque a função dessa figura na campanha não é tratar
de temas públicos, pois isso todos os candidatos fazem. O objetivo principal é tratar
da história política do candidato e manifestar apoio explícito a ele. E para isso são
empregados elementos de persuasão, que podem ser caracterizados pela sedução
e emoção. Essas mensagens, contudo, remeteram mais ao passado/presente e
algumas delas abordaram o futuro – no caso de Dilma em 2010. Isso pode ser
explicado porque os candidatos precisam convencer o eleitor a partir do mundo
atual possível, que com base nele é possível projetar um bom e novo mundo futuro
(FIGUEIREDO et all, 2000).
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