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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Mestrado Profissionalizante em Ensino de Ciências e Matemática Ricardo Rozette Vicente Gomes O PASSO A PASSO PARA SE MONTAR UMA FEIRA DE CIÊNCIAS COM OS TEMAS RECICLAGEM E REUTILIZAÇÃO COM MANUAL DIDÁTICO Belo Horizonte 2014

O PASSO A PASSO PARA SE MONTAR UMA FEIRA DE … · A pesquisa foi feita com 27 alunos do 2º Ano A, turno vespertino, do Ensino Médio, da Escola Estadual Engenheiro Palma Muniz,

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Mestrado Profissionalizante em Ensino de Ciências e Matemática

Ricardo Rozette Vicente Gomes

O PASSO A PASSO PARA SE MONTAR UMA FEIRA DE CIÊNCIAS COM OS

TEMAS RECICLAGEM E REUTILIZAÇÃO COM MANUAL DIDÁTICO

Belo Horizonte

2014

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Ricardo Rozette Vicente Gomes

O PASSO A PASSO PARA SE MONTAR UMA FEIRA DE CIÊNCIAS COM OS

TEMAS RECICLAGEM E REUTILIZAÇÃO COM MANUAL DIDÁTICO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação da Pontifícia Universidade Católica de

Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção

do título de Mestre em Ensino de Ciências e

Matemática.

Orientadora: Profª. Drª. Cláudia de Vilhena Schayer

Sabino

Belo Horizonte

2014

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FICHA CATALOGRÁFICA

VERSO DA FOLHA DE ROSTO

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Ricardo Rozette Vicente Gomes

O PASSO A PASSO PARA SE MONTAR UMA FEIRA DE CIÊNCIAS COM OS

TEMAS RECICLAGEM E REUTILIZAÇÃO COM MANUAL DIDÁTICO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação da Pontifícia Universidade Católica de

Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção

do título de Mestre em Ensino de Ciências e

Matemática.

______________________________________________________________________

Profª. Drª. Cláudia de Vilhena Schayer Sabino (Orientadora) – (PUC Minas)

Doutorado em Química – (UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais)

______________________________________________________________________

Profa. Dra. Eliane Scheid Gazire – (PUC Minas)

Doutorado em Educação (UNICAMP)

______________________________________________________________________

Prof. Dr. João Francisco de Abreu – (FAPEMIG/PUC Minas)

Doutorado em Geography(PhD) – The University of Michigan

Belo Horizonte, 09 de outubro de 2014.

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À minha amada esposa e a meus filhos,

pelo grande amor e pela paciência.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que me deu muita saúde e sabedoria para enfrentar tantos momentos

difíceis.

À minha querida mãe, Heloisa, e a seu esposo, Geovane, que sempre me apoiaram e

me fortaleceram com suas palavras de incentivo.

À minha sogra, Doralice, e à minha cunhada, Deusa, que não mediram esforços para

ligar dando sempre muitas palavras de apoio para que eu nunca desistisse do mestrado.

Ao meu amado pastor Adair e à sua esposa tia Vera, que me acolheram como um

filho todas as vezes que estive em Belo Horizonte em 2013 para cumprir os módulos do

mestrado.

À Igreja Presbiteriana do Glória, em Belo Horizonte, que gentilmente me recebeu

todas as vezes que estive nesta cidade.

À minha amada Igreja Presbiteriana de Redenção, que em nenhum momento deixou

de me apoiar e orar em minhas ausências e de cuidar de minha família.

À Dona Vanda, diretora da Escola Christo Rei, que, tanto financeira quanto

moralmente, sempre esteve do meu lado.

Aos meus amigos e colegas de trabalho que, todas as vezes que estive ausente, foram

pacientes e fizeram de tudo para me ajudar.

Aos meus colegas de faculdade, que sempre foram bem receptivos e atenciosos.

À minha irmã, Valéria, que sempre que eu viajava dava a devida atenção para minha

esposa e meus filhos me deixando tranquilo para a realização dos módulos em Belo

Horizonte.

À minha orientadora, Claudia, que, com muita maestria, soube conduzir toda esta

pesquisa, dando a ela um padrão de alta qualidade.

À Karem Ruani e Ana Amélia Vieira de Sá, que gentilmente fizeram a tradução do

abstract, e a João Evangelista Brito, na produção do Manual Didático.

A todos os professores que, cada um na sua área, contribuíram para minha formação

teórica, dando o suporte necessário à elaboração desta pesquisa.

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RESUMO

Para se ensinar por meio de Educação Ambiental não basta, apenas, discutir um conjunto de

conteúdos sobre Ecologia em sala de aula. Atividades práticas são poderosas ferramentas na

formação de um cidadão mais consciente e responsável. Com os suportes teóricos do Ensino

CTSA, da Pedagogia Libertadora de Paulo Freire, dos PCNs+ e da Lei Nacional de Resíduos

Sólidos n. 12.305/10, de 02 de agosto de 2010, foi possível alcançar o objetivo desta pesquisa,

que foi descobrir que proporcionar as atividades pedagógicas, Feira de Ciências e Bazar

Solidário, pode possibilitar a estimulação e a mudança de comportamentos e valores como

solidariedade, espírito de trabalho em grupo, responsabilidade social e desenvolvimento

ambiental sustentável. A pesquisa foi feita com 27 alunos do 2º Ano A, turno vespertino, do

Ensino Médio, da Escola Estadual Engenheiro Palma Muniz, na cidade de Redenção, no Pará.

Foi aplicado um questionário como pré-teste para verificação quantitativa sobre o

conhecimento prévio dos alunos a respeito dos temas propostos para o Projeto: Reciclagem e

Reutilização. Em seguida, após a explicação da teoria, as duas atividades foram

desenvolvidas: a Feira de Ciências, que enfocou a Reciclagem, e o Bazar Solidário, que

enfocou a Reutilização. No final, cada aluno foi submetido ao mesmo questionário como pós-

teste e a uma entrevista como forma de avaliação qualitativa. A análise dos questionários, das

atividades e da entrevista serviu de subsídio para a elaboração de um Manual Didático que

poderá auxiliar professores do Ensino Básico a trabalhar com o tema “Educação Ambiental”

mediante atividades práticas.

Palavras-chave: Educação Ambiental. Atividades práticas. Reciclagem. Reutilização.

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ABSTRACT

For teach through Environmental Education is not enough, just, discuss a set of content about

Ecology in the classroom. Practical Activities are powerful tools in the formation of a more

conscious and responsible citizen. With the theoretical supports of Teaching CTSA, the

Liberating Pedagogy of Paulo Freire, the PCNs+ and the National Law of Solid Waste,

number 12305/10, of August 02, 2010, it was possible to achieve the objective of this

research, which was to discover if providing the pedagogical activities, Fair of Sciences and

Bazaar Solidarity, may enable the stimulation and the change of behavior and values such as

solidarity, spirit of teamwork, social responsibility and sustainable environmental

development. The research was conducted with 27 students from 2nd year A, afternoon shift,

of High School, from the State School Engineer Palma Muniz in the town of Redenção, in

Brazil. Was applied a questionnaire as a pre - test for quantitative verification about the prior

knowledge of students regarding the topics proposed for the Project: Recycling and Reusing.

Then, after the explanation of the theory, the two activities were developed: the Fair of

Sciences, which focused on the Recycling, and the Bazaar Solidarity, which focused on the

Reusing. In the end, each student was subjected to the same questionnaire as a post-test and

an interview as a form of qualitative assessment. The analysis of the questionnaires, the

activities and the interview served as subsidy for the preparation of a Didactic Manual that

can assist teachers of Basic Education to work with the theme "Environmental Education"

through practical activities.

Keywords: Environmental Education. Practical Activities. Recycling. Reusing.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Mapa do município de Redenção e seus limites...................................................25

FIGURA 2: Imagem do lixão da cidade de Redenção ............................................................. 26

FIGURA 3: Imagem do lixão da cidade de Redenção ............................................................. 27

FIGURA 4: Trabalho insalubre de catadores no lixão de Redenção (PA) ............................... 27

FIGURA 5: Logotipo do Projeto .............................................................................................. 60

FIGURA 6: Alunos pintando a sala de apresentação no dia anterior à Feira de Ciências ....... 60

FIGURA 7: Alunos do projeto com painel artístico ao fundo .................................................. 60

FIGURA 8: Mesas dispostas na lateral esquerda da sala ......................................................... 61

FIGURA 9: Mesas dispostas ao fundo da sala ......................................................................... 61

FIGURA 10: Mesas dispostas na lateral esquerda da sala ....................................................... 61

FIGURA 11: Sala montada no canto direito da sala, toda com objetos reciclados .................. 62

FIGURA 12: Placa de identificação do projeto feita com papelão .......................................... 62

FIGURA 13: Disposição das roupas em mesas centrais no dia do Bazar ................................ 65

FIGURA 14: Alunos lanchando no intervalo de trabalho do Bazar ......................................... 66

FIGURA 15: Alunos entregando cesta básica para senhora sorteada ...................................... 67

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: Respostas à questão 1 ......................................................................................... 52

QUADRO 2: Respostas à questão 2 ......................................................................................... 52

QUADRO 3: Respostas à questão 3 ......................................................................................... 53

QUADRO 4: Respostas à questão 4 ......................................................................................... 53

QUADRO 5: Respostas à questão 5 ......................................................................................... 54

QUADRO 6: Respostas à questão 6 ......................................................................................... 55

QUADRO 7: Respostas à questão 7 ......................................................................................... 55

QUADRO 8: Respostas à questão 8 ......................................................................................... 56

QUADRO 9: Respostas à questão 9 ......................................................................................... 57

QUADRO 10: Respostas à questão 10 ..................................................................................... 58

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LISTA DE SIGLAS

C&T: Ciência e Tecnologia

COP 3 – CONVENÇÃO DAS PARTES: PROTOCOLO DE KYOTO

CTS: Ciência, Tecnologia e Sociedade

FENACEB - Programa Nacional de Apoio às Feiras de Ciências da Educação Básica

PCN: Parâmetros Curriculares Nacionais

PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

UICN – UNIÃO INTERNACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNFCCC – CONVENÇÃO QUADRO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MUDANÇAS

CLIMÁTICAS

WWF - World Wide Fund for Nature (Fundo Mundial para a Natureza)

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 14 2 OBJETIVOS ....................................................................................................................................... 22

2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................................. 22

2.2 Objetivos Específicos ................................................................................................................... 22

3 JUSTIFICATIVA ................................................................................................................................ 23 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................................ 28

4.1. Pressupostos do Ensino em CTS e CTSA ..................................................................................... 28

4.2 Lei Federal n. 12.305/2010 – institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos ........................... 33

DEFINIÇÕES ............................................................................................................................... 34

DOS PRINCÍPIOS E OBJETIVOS .............................................................................................. 35

4.3. Pressupostos da Pedagogia de Paulo Freire à formação cidadã ................................................ 36

4.4. A Feira de Ciências como Prática Pedagógica ............................................................................ 43

4.5. Educação Popular por meio de Bazar Solidário ......................................................................... 44

5 METODOLOGIA ............................................................................................................................... 46 6 PRODUTO .......................................................................................................................................... 49 7 ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................................................................................ 51

7.1 Questionário ................................................................................................................................ 51

7.2 Análise das respostas dos questionários ..................................................................................... 51

7.2.1. Questão 1: Quantos objetos você conhece que são feitos de material reciclado? ............. 52

7.2.2. Questão 2: O que ocorre com o lixo depois que o mesmo é recolhido pelo caminhão de

coleta na porta de sua casa? ......................................................................................................... 52

7.2.3. Questão 3: Seu vizinho, queimando um pouco de folhas na porta da casa dele, gera que

sentimento em você? .................................................................................................................... 53

7.2.4. Questão 4: Se o caminhão de coleta de lixo não passa na sua rua, o que você acha que deve

ser feito? ............................................................................................................................................ 53

7.2.5. Questão 5: Na sua casa os lixos orgânicos (restos de comida e cascas de frutas, por

exemplo) são: ................................................................................................................................ 54

7.2.6. Questão 6: O que é feito com as latas de alumínio, garrafas pet, vidros, caixas de leite,

plásticos diversos (sacolas de mercado, por exemplo), pilhas comuns e baterias de celulares que,

depois de usados, são considerados lixo em sua casa? ................................................................ 55

7.2.7. Questão 7: Você sabe quais são os projetos que a Secretaria de Meio Ambiente desenvolve

com relação ao lixo da sua cidade? ............................................................................................... 55

7.2.8. Questão 8: Qual deve ser o destino correto para o lixo hospitalar? ................................... 56

7.2.9. Questão 9: O que deve ser feito com o grande e crescente lixão que há bem na entrada de

sua cidade? .................................................................................................................................... 57

7.2.10. Questão 10: Qual seria a melhor opção à destinação do lixo doméstico de sua cidade? . 58

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7.3. Feira de Ciências ......................................................................................................................... 58

7.4. Bazar Solidário ............................................................................................................................ 63

7.5 A Entrevista ................................................................................................................................. 67

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................. 74 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 76 APÊNDICE A – AUTORIZAÇÃO ....................................................................................................... 81 APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ALUNOS ....................................................... 82 Programa de Pós-graduação/mestrado em Ensino de Ciências e Matemática ....................................... 82 APÊNDICE C – ENTREVISTA APLICADA AOS ALUNOS ............................................................ 85 APÊNDICE D – MANUAL DIDÁTICO .............................................................................................. 86

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1 INTRODUÇÃO

Luxo-lixo-luxo

se não tem lixo não tem

luxo não tem lixo

precisa de lixo pra ter luxo

pra ter lixo tem o luxo

pra mais luxo vai mais lixo vai

mais lixo pra mais luxo que

só cresce quando o lixo cresce

mais luxo mais lixo mais

luxo do lixo que

vem dos que não tem luxo

os que tem mandam mais lixo

pra miséria do lixo do

mundo gente-lixo-luxo-lixo

para o luxo-gente-lixo.

(Luxo/lixo, Poesia concretista de Augusto de Campos, 1965)

Com o poema do poeta concretista Augusto de Campos (1965), começamos a falar de

um assunto que tem permeado as principais discussões sobre a problemática ambiental: o lixo.

A Revolução Industrial e a derrubada das fronteiras econômicas, por meio de um mundo

globalizado, nos trouxeram um capitalismo que não se preocupa com o meio ambiente e nem

mesmo com a qualidade de vida de quem consome os recursos deste planeta. O apelo ao

consumo desmedido e a obsolescência programada dos objetos têm trazido sérias

consequências à humanidade. A natureza já dá sinais de sua insatisfação por meio de muitas

alterações climáticas, como secas prolongadas, aumento do nível do mar e tempestades cada

vez mais destrutivas. Apesar do grande movimento modista que estimula o “ecologicamente

correto”, é pouco o que tem sido feito.

A pesquisa que foi proposta aqui buscou saber se o trabalhar com os temas

“Reciclagem” e “Reutilização”, por meio das atividades práticas Feira de Ciências e Bazar

Solidário, pode contribuir na formação de um cidadão mais consciente e capaz de agir para

transformar o mundo, tornando-o mais sustentável.

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Com a atividade Feira de Ciências, através da produção de artesanato a partir de

resíduos sólidos domésticos que seriam descartados no lixo, buscamos fazer o que está

descrito no poema de Augusto de Campos, que é descobrir o lixo composto por luxo, o luxo

contido no lixo e, ainda, se há lixo no luxo.

Apesar de as atividades desenvolvidas pelos alunos terem sido feitas numa escala

menor do que a de muitas empresas recicladoras, ou seja, a produção dos objetos para a Feira

de Ciências foi artesanal e de baixo custo, enquanto nas grandes indústrias de reciclagem

quase tudo é feito por máquinas e alto custo, acredita-se que o princípio que norteia todo o

processo em ambos os casos seja o mesmo.

Muitas indústrias têxteis, por exemplo, trabalham com significativa quantidade de

polietileno reciclado em suas roupas. Muitos produtos que levam madeira só são vendidos em

certos países se essa madeira for oriunda de reflorestamento. Nem sempre os produtos feitos

com materiais reciclados trazem um significado concreto para o público em geral. A maioria

das pessoas desconhece quais são os objetos que diariamente utilizam e que são oriundos de

reciclagem. A reciclagem do pet no Brasil, por exemplo, segundo a ABIPET (Associação

Brasileira da Indústria do PET, Censo 2011), vem tendo um expressivo crescimento nos

últimos anos e boa parte do reciclado tem sido utilizada na indústria têxtil, fato desconhecido

por boa parte da população. De qualquer forma, é bom saber que há empresas investindo

nesse setor e esperamos que os investimentos também sejam direcionados à educação, por

meio da qual as pessoas irão aprender que reciclar traz muito mais benefícios do que

descartar.

Os alunos envolvidos nesta pesquisa desenvolveram pequenos objetos, que até mesmo

podem ser utilizados no cotidiano, mas a ideia foi além de ensinar um artesanato utilitário e

até mesmo economicamente viável. Quando esses alunos procuravam a matéria-prima,

estudavam as possibilidades de transformá-la e usavam a criatividade para fazer algo que

ainda poderia vir a ser útil, evitando que mais lixo fosse despejado por aí. Com esse

comportamento, vislumbrou-se a possibilidade de mudanças na percepção que estes

indivíduos têm do ambiente que os cerca e do lixo que produzem diariamente. Diante de todos

os problemas pelos quais o meio ambiente vem passando e do modo como encontramos os

alunos no início do projeto, percebemos que essa percepção é a pior possível, ou melhor, o

que se vê é um total desprezo pelo lixo que se produz e, muito mais, pelo destino que é dado a

ele.

Historicamente, as questões ambientais passam a ser de grande relevância no Brasil, já

no ano de 1500, no momento da colonização, quando se inicia o processo de exploração

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descontrolada dos recursos naturais e o desrespeito aos conhecimentos acumulados pelos

povos indígenas aqui existentes (DIAS, 2000).

Os problemas ambientais tomam grandes proporções no mundo todo e em vários

momentos da História da Humanidade. Da mesma forma, a preocupação com as questões

ambientais também aumentam. Exemplo disso são os vários eventos realizados por todo o

mundo, como a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, Estocolmo

1972, e aqueles citados por Dias (2000): a Conferência de Belgrado, a Primeira Conferência

Intergovernamental sobre Educação Ambiental – Tbilisi 1977, o Seminário sobre Educação

Ambiental – Costa Rica 1979, o Congresso Internacional sobre Educação e Formação

Ambientais – Moscou 1987, o Seminário Latino-Americano de Educação Ambiental –

Argentina 1988, os Encontros Brasileiros de Educação Ambiental, uma estratégia para o

Futuro da Vida – UICN – PNUMA – WWF 1991, I Conferência Nacional de Educação

Ambiental em 1997 – 20 anos de Tbilisi na cidade de Brasília, Terceira Conferência dos

Membros (COP 3) da Convenção das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (UM –

FCCC) que estabeleceu o Protocolo de Quioto em dezembro de 1997, o qual entrou em vigor

em fevereiro de 2005, o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e

Responsabilidade Global – Conferência Rio/92 – ECO 92, a Conferência de Thessaloniki –

Tessalônica – Grécia 1998 e a Conferência Ambiental Rio +10 em 2002 na cidade de

Johannsburg, África do Sul.

Vale ressaltar que

Enquanto os governos não conseguiam definir os caminhos do entendimento, a

sociedade civil movimentava-se em todo o mundo. Em março de 1965, durante a

Conferência em Educação na Universidade de Keele, Grã-Bretanha, surgia o termo

Environmental Education (Educação Ambiental). (DIAS, 2004, p. 78).

Nesse movimento, conforme Dias:

Em março de 1965, educadores reunidos na Conferência de Keele, na Grã-Bretanha,

concordavam que a dimensão ambiental deveria ser considerada imediatamente na

escola, e deveria ser parte da educação de todos os cidadãos. Em 1969, foi fundada a

Sociedade de Educação Ambiental no mesmo país. Iniciava-se o movimento em

torno da Ecologia. Artistas, políticos e a imprensa europeia dedicavam espaços

crescentes ao tema. Nomes como Frank Fraser Darling, Paul Ehrlich e René Dubos

popularizaram o termo em todo o mundo. (DIAS, 1991, p.2).

Apesar do movimento “Educação Ambiental” ter se difundindo pelo mundo,

principalmente após a Conferência de Estocolmo, os países industrializados continuam não

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muito preocupados, pois se sabe que não querem diminuir a emissão de gases poluentes, por

exemplo, para que não ocorra queda em suas produções nacionais em decorrência de

possíveis aumentos nos custos e níveis de desemprego.

O Brasil, na corrida pelo desenvolvimento industrial, já na Conferência de Estocolmo,

mostrava sinais de que a busca por tal objetivo não levaria em consideração a preocupação

com o meio ambiente. Segundo Dias

Naquele momento da Conferência, tivemos o registro mais polêmico da política

ambiental externa do Brasil. Os nossos representantes afirmaram que o país não se

importaria em pagar o preço da degradação ambiental, desde que o resultado fosse o

aumento do Produto Nacional Bruto (PNB). Um cartaz anunciava: "Bem-vindos à

poluição, estamos abertos para ela. O Brasil é um país que não tem restrições.

Temos várias cidades que receberiam de braços abertos a sua poluição, porque o que

nós queremos são empregos, são dólares para o nosso desenvolvimento." A

iniciativa fora autorizada pelo general Costa Cavalcanti, então Ministro do Interior

(Limites do crescimento, Fundação Demócrito Rocha, p. 7). (DIAS, 1991).

Fazendo uma referência histórica ao contexto Latino Americano, no período

conhecido por modernidade, não foi diferente e a educação e a preocupação com as questões

ambientais tomam considerável impulso, porém ficam relegadas a uma, conforme Reigota,

elite liberal formada através e pelas possibilidades de acesso à cultura e da elite

militar, que procuram atingir o progresso econômico, de preferência (ou impondo)

com ordem política e social. A cultura e a educação para todos são vistas como

consequência do progresso econômico e não como base do mesmo. A cultura, nesse

sentido, é ilustrativa, enciclopédica, procurando refletir o acesso de uma classe ao

mundo civilizado e moderno. (REIGOTA, 2001, p. 33).

Diante da atual conjuntura política, econômica, cultural e ecológica mundial, a

América Latina se vê obrigada a redefinir o seu modelo de desenvolvimento e de

educação, tendo em vista garantir a “sustentabilidade” não só dos seus recursos

naturais, mas também a dos seus cidadãos, o que nos remete à análise da educação

ambiental como um dos elementos da pós-modernidade. (REIGOTA, 2001, p. 41).

Diante da complexidade dos problemas mundiais contemporâneos, o cidadão latino-

americano deve receber uma educação que, como diz Serres (1990, 1991), enfatize a

“mestiçagem”. Dessa forma a América Latina teria que operacionalizar, no processo

educativo, o que ocorre fora dele há muito tempo. Ou seja, a mestiçagem de

culturas, de conhecimentos de origens diversas, de estilos de vida diferentes dos

padrões estabelecidos como os mais corretos. Serres (1990, p. 109) explicita de

forma poética e alegórica como é o cidadão educado na pós-modernidade, que pode

ser traduzida na ideia que muitos educadores do continente e fora dele desenvolvem,

considerando que a educação deve ser praticada procurando produzir e não

transmitir conhecimento. (REIGOTA, 2001, p. 44).

Esse processo educativo não hierarquiza o saber científico e o conhecimento popular

e étnico, não separa razão e subjetividade, não quantifica o conhecimento aprendido,

não separa a arte da ciência. Permite avanços, recuos e paradas, já que considera o

pessoal e intransferível de cada um, independente do seu papel como aluno ou como

professor. (REIGOTA, 2001, p. 45).

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Ao colocar nas mãos da Educação Formal e até mesmo da Não Formal parte da

responsabilidade por formar uma nova mentalidade, novos valores e novas atitudes (DIAS,

2000), muitos países deram um importante passo na direção da sustentabilidade. A Educação,

no seu papel de formar cidadãos mais críticos e conscientes, pode em muito contribuir para o

que chamamos de desenvolvimento sustentável.

A Educação Ambiental ainda engatinha na construção de uma sociedade mais

sustentável. O descaso com as questões ambientais geram trágicas consequências para o

mundo, como, por exemplo: as enchentes e os incêndios catastróficos, as secas cada vez mais

prolongadas, a urbanização descontrolada trazendo consigo o aparecimento de antigas e novas

doenças físicas e sociais, o efeito estufa, a destruição da camada de ozônio e muitos outros, os

quais são frutos do uso inadequado dos recursos naturais.

Todos esses desastres foram reforçados com o advento de dois grandes modelos

econômicos, o Capitalismo e o Socialismo, nos quais a “manipulação da natureza por ambos

tem poluído o ar, a água, empobrecido o solo e provocado a extinção de muitas espécies de

seres vivos cujo potencial é ainda desconhecido, o que significa destruir um patrimônio de

valor incalculável.” (BERALDO, 1996). Com a queda dessa dualidade de poderes,

Capitalismo versus Socialismo, o Capitalismo se afirma como modelo econômico, em grande

parte do planeta, trazendo consigo uma pesada industrialização, seguida de um contínuo

aumento do consumo. Na ânsia de suprir as demandas para obterem maiores lucros, as

empresas capitalistas, na sua grande maioria, destroem, indiscriminadamente e em ritmo

acelerado, os recursos naturais.

Essa mudança, para um único sistema econômico,

tem como eixo central o conhecimento e o domínio de tecnologia de ponta, que são

as novas armas da batalha intercapitalista na conquista de mercados. Assistimos hoje

o romper das barreiras dos limites territoriais e no momento não é mais possível

pensar em economias nacionais isoladas do resto do mundo. Voluntária ou

involuntariamente, as nações abrem as portas para a nova ordem: a “modernidade”.

(BERALDO, 1996).

Contudo,

é preciso ter claro, porém, que “a modernidade que se plasma nesta sociedade [...]

não é sinônimo de maior harmonia e equidade”. Junto com o abrir de novas

perspectivas ao homem no terreno do desenvolvimento de suas liberdades, de

prestigiar a democracia quase como sentido comum da política e de fechar velhas

polarizações ideológicas, aparecerá a tendência a aprofundar as dualidades

econômico-sociais, as exclusões, a continuar a deterioração física do planeta, a ser

palco de velhas e novas fontes de fanatismos e integrismo, a produzir padronizações

e homogeneidades esterilizantes no plano cultural e uma ordem internacional mais

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marcada pela dominação que pela cooperação. (OTTONE, 1992, apud BERALDO,

1996).

Uma solução apontada para os problemas citados está na própria escola, espaço de

democracia, cidadania e construção do conhecimento. Para ter um ensino de Educação

Ambiental, que saia dos limites do muro da escola, percebemos a necessidade de que

a temática ambiental requer um enfoque interdisciplinar, congregando profissionais

de diversas áreas do conhecimento. A interdisciplinaridade constitui-se quando cada

profissional faz uma leitura do ambiente de acordo com o seu saber específico,

contribuindo para desvendar o real e apontando para outras leituras realizadas pelos

seus pares. O tema comum, extraído do cotidiano, integra e promove a integração de

pessoas, áreas, disciplinas, produzindo um conhecimento mais amplo e coletivizado.

As leituras, descrições, interpretações e análises diferentes do mesmo objeto de

trabalho permitem a elaboração de um outro saber, que busca um entendimento e

uma compreensão do ambiente por inteiro. Mas deve ficar claro que a Educação

Ambiental não é a solução “mágica” para os problemas ambientais, assim como a

educação para o trânsito não decresceu o número de acidentes automobilísticos e de

vítimas, e a educação sexual não diminuiu a quantidade de adolescentes grávidas e

nem a incidência da AIDS. A Educação é um processo contínuo de aprendizagem de

conhecimento e exercício da cidadania, capacitando o indivíduo para uma visão

crítica da realidade e uma atuação consciente no espaço social. (MEYER, 1991).

Desde 1968, a Unesco possui dados comparativos entre diversos países que

comprovam que “a Educação Ambiental não deve se constituir numa disciplina e que por

“ambiente” entende-se não apenas o entorno físico, mas também os aspectos sociais, culturais,

econômicos e políticos inter-relacionados.” (BRASIL, 2002, p. 229). A temática ambiental

requer também uma abordagem multidisciplinar e, a partir daí, cria-se a possibilidade de

comunicação entre as ciências.

Dessa forma, o tratamento multidisciplinar dos problemas ambientais garantirá uma

análise ampla de suas inúmeras manifestações reveladas nas diversas disciplinas que

compõem o currículo escolar. Não se trata, portanto, da criação de uma disciplina específica

para realizar tal tarefa.

O essencial é produzir uma ação comum, no caso, o conjunto de atos pedagógicos

necessários para se desenvolver a consciência ambiental do educando, sem que

nenhum participante – as várias disciplinas – negue o que lhe é próprio. (SEARA

FILHO, 1992).

Sendo assim

é necessário que todos os segmentos da sociedade se envolvam com a questão

ambiental e contribuam no sentido de formar cidadãos responsáveis pela sua

condição de habitantes do planeta. Deste modo, a escola e, muito especialmente, os

20

professores devem conhecer a problemática da educação ambiental de forma que no

desempenho da docência favoreçam o espírito crítico e a conscientização de seus

alunos como agentes atuantes na relação indivíduo/meio ambiente, relação essa

permeada pela tríade ciência/tecnologia/sociedade. (KOFF, 1995).

Frente a tudo isso, fica clara a necessidade da transversalização deste tema nas

diversas áreas do conhecimento, e

Trabalhar de forma transversal significa buscar a transformação dos conceitos, a

explicação de valores e a inclusão de procedimentos, sempre vinculados à realidade

cotidiana da sociedade, de modo que obtenha cidadãos mais participantes. Cada

professor, dentro da especificidade de sua área, deve adequar o tratamento dos

conteúdos para contemplar o Tema Meio Ambiente, assim como os demais Temas

Transversais. Essa adequação pressupõe um compromisso com as relações

interpessoais no âmbito da escola, para haver explicitação dos valores que se quer

transmitir e coerência entre estes e os experimentados na vivência escolar, buscando

desenvolver a capacidade de todos para intervir na realidade e transformá-la, tendo

essa capacidade relação direta com o acesso ao conhecimento acumulado pela

humanidade. (BRASIL, 2002, p. 193-194).

Diante da irracionalidade no uso do meio ambiente, a escola, é o local adequado para

essa tarefa de tomada de consciência da existência dos problemas ambientais, onde

deve preparar o aluno, para uma participação organizada e ativa na democratização

da sociedade, fornecendo-lhe o instrumental através da aquisição de conteúdos, com

métodos subordinados aos conteúdos, favorecendo as correspondências destes com

os interesses e as experiências dos alunos. A essa ralação somam-se os elementos de

análise crítica que ajudam o aluno a ultrapassar experiências e as pressões difusas

das ideologias dominantes. (BRASIL, 1987).

Neste novo modelo de escola

pensar em uma mudança radical da sociedade, tendo como base uma perspectiva

ecológica, é uma utopia que não deve ser entendida como ingênua ou impossível,

mas como um conjunto de ideias que tendem a gerar atividades visando mudanças

no sistema prevalecente. (REIGOTA, 2001, p. 22).

Após fazer algumas considerações a respeito da importância de se trabalhar na escola a

Educação Ambiental, por meio de um ensino multidisciplinar, passamos a fazer no capítulo

dois esclarecimentos a respeito dos objetivos desta pesquisa. Logo em seguida, no capítulo

três, nos preocupamos em justificar a necessidade desta pesquisa como futura fonte

bibliográfica para aqueles que desejarem continuar trilhando os caminhos pelos quais

passamos.

No quarto capítulo, fizemos uma busca das principais referências bibliográficas a

respeito da temática abordada no projeto, levando em consideração, principalmente, Paulo

Freire, CTS e CTSA. Nesse capítulo, também buscamos referências a respeito das atividades

propostas no projeto, Feira de Ciências e Bazar Solidário.

21

O quinto capítulo traz como destaque abordagens sobre todos os procedimentos

adotados para o desenvolvimento das etapas do projeto desde a sua elaboração, como:

trabalho teórico com os alunos, produção e apresentação dos objetos reciclados na Feira de

Ciências e trabalho social no Bazar Solidário. Para melhor compreensão, foi feita uma

descrição minuciosa de cada etapa, procurando levar o leitor à exata ideia de tudo que foi

feito.

Também foi desenvolvido um Produto, o qual deverá ser apresentado à banca junto

com a dissertação. A forma como foi elaborado e confeccionado está descrita no capítulo seis

e seu formato completo pode ser observado no Apêndice D.

Todos os resultados dos pré-testes e pós-testes, da Feira de Ciências, do Bazar

Solidário e da entrevista estão no capítulo sete. Os resultados incluem dados matemáticos,

discussões e conclusões a respeito do que ocorreu em cada etapa. O capítulo oito foi escrito

não só para fechar a pesquisa, mas também para trazer uma palavra de estímulo a todos

aqueles que desejarem continuar trilhando o caminho de uma educação libertadora e

transformadora.

22

2 OBJETIVOS

Neste item, definimos o objetivo geral e os objetivos específicos que nortearam esta

pesquisa, para que se possa acompanhar e avaliar o nosso propósito.

2.1 Objetivo Geral

Descobrir se proporcionar as atividades pedagógicas, Feira de Ciências e Bazar

Solidário, pode possibilitar a estimulação e a mudança de comportamentos e

valores como solidariedade, espírito de trabalho em grupo, responsabilidade social

e desenvolvimento ambiental sustentável.

2.2 Objetivos Específicos

Aprofundar, no campo teórico, as discussões sobre sustentabilidade e

responsabilidade social através dos temas geradores “Reciclagem” e

“Reutilização”.

Desenvolver uma Feira de Ciências na Escola Estadual Palma Muniz com o tema

Reciclagem.

Desenvolver um Bazar Solidário na Escola Municipal Professor Hernane com o

tema Reutilização.

Produzir um Manual Didático de apoio aos professores do Ensino Básico com o

“Passo a Passo” para se montar uma Feira de Ciências com os temas propostos.

23

3 JUSTIFICATIVA

Um dos principais exemplos de impasse energético e socioambiental da atualidade é a

geração de resíduos sólidos, assim, pode-se considerar como bem-vinda toda proposta

metodológica que vislumbre a apresentação de soluções efetivas para esse problema.

O crescimento populacional e a intensidade da industrialização são fatores que

contribuem para o aumento da produção de resíduos sólidos. A população mundial está

crescendo em ritmo acelerado e, no Brasil, o quadro não é diferente. O modo de vida urbano é

um fator determinante da degradação ambiental e da crescente diminuição da qualidade de

vida, principalmente nos países de economia periférica, chamado de terceiro mundo.

A problemática ambiental gerada pelo lixo é de difícil solução e a maior parte das

cidades brasileiras apresenta um serviço de coleta que não prevê a segregação dos

resíduos na fonte (IBGE, 2006). Nessas cidades é comum observarmos hábitos de

disposição final inadequados de lixo. Materiais sem utilidade se amontoam

indiscriminada e desordenadamente, muitas vezes em locais indevidos como lotes

baldios, margens de estradas, fundos de vale e margens de lagos e rios. (MUCELIN;

BELLINI, 2008, p. 113).

A complexidade de estilos de vida das cidades gera nas pessoas uma necessidade de

consumo intenso. A produção de resíduos sólidos está ligada diretamente ao desenvolvimento

regional - quanto mais desenvolvida, sobretudo quanto à industrialização, maior o volume e o

peso dos resíduos e dos dejetos de todo o tipo. O excesso de embalagens descartáveis e a

matéria orgânica são fatores geradores de resíduos, o que implica na urgência de um sistema

para destinação final (aterro sanitário) dos resíduos sólidos gerados no município.

O consumo cotidiano de produtos industrializados é responsável pela contínua

produção de lixo. A produção de lixo nas cidades é de tal intensidade que não é

possível conceber uma cidade sem considerar a problemática gerada pelos resíduos

sólidos, desde a etapa da geração até a disposição final. Nas cidades brasileiras,

geralmente esses resíduos são destinados a céu aberto (IBGE, 2006). (MUCELIN;

BELLINI, 2008, p. 113).

O Município de Redenção – PA é um dos mais tradicionais do Estado. O seu perfil

histórico data de 1972 em pleno Regime Militar e teve como fundadores os Srs. Adhema

Guimarães, Luis Vargas Dumont e Waltercio Sacramento Villas. Waltercio Villas Boas foi

chamado pelo seu amigo Luis Vargas para fazer o plano diretor da cidade de Redenção, visto

que Waltercio foi também um dos fundadores da Colônia Agrícola de Bernardo Sayão, tendo

assim grande conhecimento na área. Foi emancipada através de uma Lei Estadual assinada em

13 de maio de 1982, pelo então governador Alacid da Silva Nunes.

24

O Município de Redenção é cortado pela PA-287 e localiza-se a uma latitude 08º

01’43” Sul e a uma longitude 50º 01’53” oeste, estando a uma altitude de 227 metros (Figura

01). Sua população estimada em 2010 era de 75.556 habitantes e para 2014 é de 79.917

(IBGE). Com uma área de unidade territorial de 3.823,809 km2 e densidade demográfica de

19,76 hab/km2, destaca-se economicamente pela produção pecuária e vem se destacando

como sede da região Sul do Estado, onde lidera uma grande região que vai até o município de

São Félix do Xingu. O clima é do tipo equatorial, com temperatura média anual de 32,35º C,

apresentando temperaturas máximas em torno de 37,01º C e mínima de 22,71º C. A umidade

relativa do ar é elevada, variando de 52% a 90%. O período chuvoso ocorre, notadamente, de

novembro a maio, e o mais seco, de junho a outubro, estando o índice pluviométrico anual em

torno de 2.000 mm. A hidrografia é representada por três rios principais, os quais nascem na

Serra dos Gradaús. São eles: Salobro, ao norte e com limite natural com o município de Rio

Maria; o rio Pau d’Arco, que constitui o rio mais importante do nosso município, e que

também recebe o ribeirão Pau d’Arquinho, bastante utilizado pela população para lazer; ao

sul, está o rio Arraias, que faz limite natural com o município de Santa Maria das Barreiras.

25

Figura 01: mapa do município de Redenção e seus limites.

Fonte: Cesar Vinícius de Moraes

Mesmo sendo considerado polo na região Sul do Pará, Redenção tem crescido muito

mas sem grandes projetos urbanísticos sérios e ambientalmente responsáveis. Apesar de ter

uma economia baseada na pecuária nos dias atuais Redenção teve, no princípio de sua

colonização territorial, uma economia baseada na exploração predatória da madeira e do ouro.

Tal fenômeno, apesar de ter acabado por força de Leis Ambientais, deixou marcas culturais,

econômicas e sociais muito negativas. Ainda hoje há garimpos clandestinos e queimadas de

pastagens para pecuária, o que é encarado pela maior parte da população como sendo algo

normal.

Como a cidade cresceu sem planejamento os problemas ambientais foram inevitáveis.

Depois de 32 anos de emancipação ainda não há tratamento de esgoto e nem aterro sanitário.

O lixão fica na margem da rodovia, bem na entrada da cidade, que dá acesso à mesma para

quem vem de Conceição do Araguaia. Somente em 2013 é que uma empresa de tratamento de

água foi contratada para trabalhar, até então toda a água vinha de poços artesianos espalhados

26

por toda cidade e semi artesianos nos quintais da maioria das casas, geralmente muito

próximos da foças.

Os problemas gerados pela falta de consciência ambiental da comunidade e de um

trabalho efetivo de educação ambiental nas escolas e nos meios de comunicação faz com que

o lixo seja descartado em locais impróprios, como terrenos baldios, e, muitas vezes, até

queimados nos quintais e nas portas das casas. Existe a coleta de lixo em quase toda a cidade,

mas o mesmo é despejado num lixão a céu aberto (Figuras 2 e 3), próximo 5 km (cinco

quilômetros) da zona urbana. Nesse local, além de diversos problemas ambientais observados,

também pode ser visto o trabalho insalubre de muitas pessoas que trabalham como catadores,

sem nenhuma organização e segurança (Figuras 4), o que também reflete a falta de políticas

públicas na direção de uma Educação Ambiental efetiva que cause transformação em todos os

setores da sociedade.

Figura 2: Imagem do lixão da cidade de Redenção

Fonte: Acervo do autor, 2013.

27

Figura 3: Imagem do lixão da cidade de Redenção

Fonte: Acervo do autor, 2013.

Figura 4: Trabalho insalubre de catadores no lixão de Redenção (PA)

Fonte: Acervo do autor, 2013.

Quando cheguei em Redenção, no ano de 2007, para visita aos familiares, percebi

rapidamente que esta cidade tinha e tem grande potencial de crescimento. Com um comércio

forte e mais exigente a escolarização da mão de obra tem se tornado cada vez mais necessária.

Tal fato tem feito surgir diversas Faculdades e cursos técnicos nas região. O Ensino Básico

tem seguido a mesma tendência e tanto o setor público quando o privado tem ampliado sua

capacidade de atender a população. A oferta de empregos na área de educação é crescente e as

possibilidades de implementação de novos cursos nas Faculdades são enormes. Logo que nos

mudamos, minha esposa e meu primeiro filho, arrumamos bons empregos e em 2008 fui

28

aprovado num concurso público para professor de Biologia do Ensino Médio da Rede

Estadual.

Durante minha prática pedagógica tive a oportunidade de conhecer melhor esta

população e todos os aspectos sociais, culturais e econômicos que a envolve. Minha

inquietação voltou-se mais para a área ambiental tendo em vista os visíveis problemas de

urbanização dessa cidade. Como herança da exploração predatória da madeira e do ouro, a

qual ainda persiste clandestinamente, gerações de indivíduos foram impregnados por um

comportamento passivo e inerte diante dos problemas ambientais decorrentes destes

fenômenos econômicos e crescimento populacional desordenado. A prova disso é visível na

ausência, por décadas, de políticas públicas sérias que tentem resolver ou minimizar tais

problemas. Na Educação não é diferente, a Educação Ambiental é tratada única e

exclusivamente de forma teórica e sem nenhuma profundidade. As pessoas com mais idade ou

as mais jovens têm as mesmas atitudes, por exemplo, com relação ao destino dado aos

resíduos sólidos. A maior parte dos resíduos vai para o lixão da cidade, mas ainda há muitos

que queimam lixo nos quintais e folhas caídas das árvores na porta de suas casas. Tudo isso é

encarado com muita naturalidade pela maioria da população.

Diante do exposto, o presente projeto de pesquisa foi de grande importância na

tentativa de minimizar, através da Educação, os efeitos danosos que esse tão sonhado “mundo

contemporâneo” tem causado em nossa cidade. As atividades práticas propostas mostraram

eficácia na mudança de comportamentos em relação ao destino do lixo e esta deve ser nossa

meta contínua de agora para frente. A aliança entre o ensino teórico e prático completou uma

lacuna em nossa prática pedagógica e tem proporcionado vivências muito enriquecedoras.

4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste capítulo, consideraremos cinco aspectos: os pressupostos do ensino em Ciência,

Tecnologia, Sociedade e Ambiente, a legislação relativa aos resíduos sólidos, a formação

cidadã, a Feira de Ciências como prática pedagógica e a educação popular.

4.1. Pressupostos do Ensino em CTS e CTSA

Após a década de 1960, nos países mais desenvolvidos, com um crescente aumento no

desenvolvimento da ciência e tecnologia (C&T), passou-se a observar um também crescente

29

aumento na degradação ambiental, principalmente quando a C&T estava ligada às muitas

guerras da época, como a guerra do Vietnã. Tudo isso levou a uma reflexão mais crítica desta

C&T que tanto era defendida por todos como a solução para todos os problemas da

humanidade. O debate político passa a dar mais ênfase às interações ciência, tecnologia e

sociedade (CTS), movimento importante que cresce muito a partir de então. (AULER;

BAZZO, 2001, p. 1).

A C&T do passado, com seu padrão linear e tradicional, já não atende mais às

necessidades humanas. E não estamos falando de necessidades econômicas apenas, mas de

sociais e ambientais também. O problema é que o movimento CTS, que surgia como

alternativa, foi criado num ambiente estável economicamente, no qual as pessoas já tinham

um bom nível de instrução e tinham certa liberdade para escolher os rumos de suas vidas.

(AULER; DELIZOICOV, 2006, p. 2). Contudo, nos países colonizados ou já livres, mas

ainda em situação de subdesenvolvimento, o que se pregava era que a melhor forma de se

viver é aderindo ao modelo capitalista hegemônico do colonizador.

Quando pensamos num currículo escolar de ciências para países subdesenvolvidos, a

situação se complica mais ainda. Quando os países desenvolvidos, criadores do ensino CTS,

resolveram implantar suas ideias nos subdesenvolvidos, encontraram uma série de barreiras.

No Brasil, por exemplo, conforme Auler e Bazzo (2001, p. 2), as problemáticas para

implantação de CTS no Brasil são muitas. Nesse artigo, os autores citam Auler (1998) para

destacar alguns problemas e desafios, como:

[...] formação disciplinar dos professores incompatível com a perspectiva

interdisciplinar presente no movimento CTS; compreensão dos professores sobre as

interações entre ciência, tecnologia e sociedade; não contemplação do enfoque CTS2

nos exames de seleção; formas e modalidades de implementação; produção de

material didático-pedagógico; e redefinição de conteúdos programáticos. Cabe

destacar que são escassas as publicações sobre a utilização do enfoque CTS no

ensino, no contexto brasileiro.

Os obstáculos são muitos, mas é possível encontrar referências àquilo que se pretende

enquanto currículo escolar de ciências e que acreditamos ser possível para que se aplique

corretamente o movimento CTS:

Promover o interesse dos estudantes em relacionar a ciência com as aplicações

tecnológicas e os fenômenos da vida cotidiana, abordar o estudo daqueles fatos e

aplicações científicas que tenham uma maior relevância social, abordar as

implicações sociais e éticas relacionadas ao uso da ciência e da tecnologia e adquirir

uma compreensão da natureza da ciência e do trabalho científico representam uma

síntese dos objetivos “mapeados” por Caamaño (1995).

[...]

30

Para Rubba e Wiesenmayer (1988), a integração entre ciência, tecnologia e

sociedade no ensino de ciências representa uma tentativa de formar cidadãos

científica e tecnologicamente alfabetizados, capazes de tomar decisões informadas e

desenvolver ações responsáveis.

[...]

Outro objetivo que pode ser acrescido ao espectro consiste em alcançar pensamento

crítico e independência intelectual (AIKENHEAD, 1987). ((AULER; BAZZO,

2001, p. 3)).

Para se falar de mudanças de valores, historicamente constituídos, principalmente no

Brasil, que, por muito tempo, foi colônia e teve toda a base de sua educação voltada para

atender às necessidades da colônia, também encontramos muitas dificuldades. Mesmo depois

de adquirir independência política, ainda permanecemos com enormes dependências

econômicas e sociais. Nossa cultura sempre foi influenciada pelos países desenvolvidos, como

se não tivéssemos capacidade de criar uma própria (AULER; BAZZO, 2001, p. 4). Até hoje,

vestimos, comemos e nos divertimos seguindo padrões estabelecidos por colonizadores. Não

há mais o fato político de ser colônia, mas, através das empresas multinacionais, os usos e

costumes, que pretendem imprimir garganta abaixo no mercado consumidor, são passados

para nós como se fossem a conquista de um padrão de vida melhor. Contudo, ninguém

perguntou se esse padrão realmente é o melhor àquela sociedade que o recebe. As

propagandas sempre oferecem produtos bonitos e acessíveis a todos, dando a impressão de

que só seremos felizes depois de consumi-los. Nossos jovens fazem uso das maravilhas

tecnológicas criadas pela C&T sem nenhuma reflexão sobre o verdadeiro preço que estão

pagando por isso. O imediatismo fala alto e usar o produto “da moda”, mesmo que não tenha

qualidade ou durabilidade, parece ser a causa maior de inclusão no meio social. Não há

nenhuma referência ou discussão sobre a origem de tais produtos, se são oriundos de trabalho

escravo ou infantil, se usam produtos tóxicos e nem mesmo se o preço que estão pagando é o

mais justo. (SANTOS; MORTIMER, 2002, p. 5).

Depois de tanto tempo buscando inovações na área de C&T, tentando transformá-la

num ensino de CTS, parece que ainda engatinhamos nessa tarefa. Isso se confirma na análise

das ideias de Sant’anna, feita no artigo de Auler e Bazzo, quando escrevem:

As sociedades dependentes, que buscaram na industrialização uma solução para

superar situações de crise econômica, como o Brasil, refizeram em outro plano,

segundo Sant’Anna, as relações de dependência mantidas no modelo econômico

anterior. Elas buscaram no exterior a tecnologia necessária para a industrialização.

Para a obtenção de resultados imediatos (outros autores, anteriormente mencionados,

também destacam este aspecto) esse mostrou ser o caminho mais fácil. Contudo, a

perpetuação dessa política estrangulou um desenvolvimento científico e tecnológico

autônomo. (AULER; BAZZO, 2001, p. 6).

31

A autonomia a que Sant’anna se refere é a busca do verdadeiro desenvolvimento,

conforme está relatado neste trecho do artigo de Auler e Bazzo:

Para Sachs (1996), o desafio para o Brasil, como para todos os países que aspiram a

um autêntico desenvolvimento, é fazer coincidir, tanto quanto possível, o progresso

científico e tecnológico com o progresso social. As finalidades do desenvolvimento

devem ser definidas a partir de critérios éticos e sociais. (AULER; BAZZO, 2001, p.

8).

A crença de um século XXI cheio de prosperidade para todos parece não se

concretizar e as desigualdades entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos, entre classes

sociais mais abastadas e as menos favorecidas, são cada dia mais reforçadas. Diante do

exposto, Auler e Bazzo (2001, p. 9), quando comentam sobre Ferreira, trazem a seguinte

reflexão:

A grande dúvida hoje é qual papel cabe aos países do Terceiro Mundo no processo

de globalização – se o de mero consumidor ou o de produtor de conhecimento

científico e tecnológico. A resposta não está clara para nós, mas para os

formuladores da globalização ela está definida: cabe a nós sermos apenas um bom

mercado consumidor estável. O resto, deixem que o mundo produza. [...] Nós só

tivemos um crescimento consentido, em que, no fundo, sempre fomos

consumidores. (FERREIRA, 1998, p. 10, apud AULER; BAZZO, 2001, p. 9).

Auler e Bazzo (2001, p. 10), citando Angotti, falam desse consumidor que tem acesso

fácil aos produtos da C&T, mas que não pode tomar decisões sobre o que é melhor para sua

vida

o dado a ser considerado é o acesso marginal que a população tem aos resultados da

Ciência Aplicada, controlados pelos processos tecnológicos e pela política

econômica. Assim, há de fato uma participação, confusa e alienada, das pessoas, na

“modernidade brasileira”. Modernidade que coleciona lances infelizes, como o

“acidente de Goiânia”, a devastação de florestas, a propaganda irresponsável de

remédios milagrosos nas emissoras de rádio e o debate barulhento sobre os destinos

do Proálcool e o uso de Metanol. Modernidade falsa que não instrumentaliza o

cidadão a participar, a alterá-la, a transformá-la. Falta de educação! Falta de

educação em C&T. (ANGOTTI, 1991, p. 9, apud AULER; BAZZO, 2001, p. 10).

A partir destas considerações, nossa pesquisa, segundo o que está descrito no artigo de

Santos e Mortimer (2002, p. 2), acreditou que

Alfabetizar, portanto, os cidadãos em ciência e tecnologia é hoje uma necessidade

do mundo contemporâneo (SANTOS e SCHNETZLER, 1997). Não se trata de

mostrar as maravilhas da ciência, como a mídia já o faz, mas de disponibilizar as

representações que permitam ao cidadão agir, tomar decisão e compreender o que

32

está em jogo no discurso dos especialistas (FOUREZ, 1995). Essa tem sido a

principal proposição dos currículos com ênfase em CTS.

A presente pesquisa também tomou por princípio que

A estrutura conceitual dos cursos de CTS, resumida por Bybee (1987), é composta

pelos seguintes temas: conceitos científicos e tecnológicos, processos de

investigação e interações entre ciência, tecnologia e sociedade. A aquisição de

conhecimentos científicos e tecnológicos enfatizaria aspectos relacionados ao

interesse pessoal, à preocupação cívica e às perspectivas culturais. Os processos de

investigação científica e tecnológica propiciariam a participação ativa dos alunos na

obtenção de informações, solução de problemas e tomada de decisão. A interação

entre ciência, tecnologia e sociedade propiciaria o desenvolvimento de valores e

ideias por meio de estudos de temas locais, políticas públicas e temas globais.

(SANTOS; MORTIMER, 2002, p. 5).

O projeto desenvolvido, mediante a realização das atividades Feira de Ciências e

Bazar Solidário, entra nessa perspectiva progressista, em que, apesar do uso de pouca

tecnologia, é dada ao indivíduo a possibilidade de buscar seu lugar nesse novo contexto que

lhe é oferecido. Num ensino que propõe relações mais estreitas entre CTS, é fundamental que

os currículos estejam voltados para “inter-relações entre explicação científica, planejamento

tecnológico e solução de problemas, e tomada de decisão sobre temas práticos de importância

social.” (SANTOS; MORTIMER, 2002, p. 3) descrevendo Roberts (1991).

Como uma das ideias principais, pode-se dizer que o projeto “Reciclando Valores”

pretendeu não ser apenas uma aplicação mecânica e sem profundidade dos conhecimentos

curriculares sobre reciclagem e reutilização. O que se propôs, na verdade, foi:

Isso se diferencia do modismo do assim chamado ensino do cotidiano, que se limita

a nomear cientificamente as diferentes espécies de animais e vegetais, os produtos

químicos de uso diário e os processos físicos envolvidos no funcionamento dos

aparelhos eletroeletrônicos. Um ensino que contemple apenas aspectos dessa

natureza seria, a nosso ver, puramente enciclopédico, favorecendo uma cultura de

almanaque. Essa seria uma forma de “dourar a pílula”, ou seja, de introduzir alguma

aplicação apenas para disfarçar a abstração excessiva de um ensino puramente

conceitual, deixando, à margem, os reais problemas sociais. (SANTOS;

MORTIMER, 2002, p. 7).

No contexto em que esta pesquisa foi desenvolvida, não se pode falar em ensino CTS

sem considerar a temática ambiental, por isso precisamos relatar o que diz o movimento

CTSA (Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente). Historicamente, no Brasil, o movimento

CTSA ganha corpo na estrutura curricular no ensino de ciências após a década de 70 e o de

CTS na década de 90 (SANTOS, 2007, p. 3). Apesar de terem destaque em épocas diferentes,

esses movimentos, considerados fundamentais na formação cidadã, tentaram caminhar juntos

33

para ganhar espaço na estrutura curricular de nosso país. Comparando os dois movimentos,

pode-se dizer, conforme Santos:

Em outras palavras, pode-se dizer que o objetivo principal dos currículos CTS é o

desenvolvimento da capacidade de tomada de decisão. Já o objetivo central do

movimento CTSA acrescenta aos propósitos de CTS a ênfase em questões

ambientais, visando à promoção da educação ambiental. (SANTOS, 2007, p. 2).

O projeto desenvolvido recebeu o nome de “Reciclando Valores” exatamente por se

encaixar do que diz Santos:

Em ambos os movimentos, os objetivos propostos incorporam o desenvolvimento de

valores (SANTOS e SCHNETZLER, 1997). Esses valores estão vinculados aos

interesses coletivos, como os de solidariedade, de fraternidade, de consciência do

compromisso social, de reciprocidade, de respeito ao próximo e de generosidade.

Tais valores, na perspectiva desses movimentos, se relacionam às necessidades

humanas, em uma perspectiva de questionamento à ordem capitalista, na qual os

valores econômicos se impõem aos demais. (SANTOS, 2007, p. 2).

Dentre as preocupações que tivemos, contextualizar conteúdos e promover discussões

sobre atitudes e valores ganharam destaque, conforme ressalta Santos:

Assim sendo, a contextualização no currículo poderá ser constituída por meio da

abordagem de temas sociais e situações reais de forma dinamicamente articulada que

possibilite a discussão, transversalmente aos conteúdos e aos conceitos científicos,

de aspectos sociocientíficos (ASC) concernentes a questões ambientais, econômicas,

sociais, políticas, culturais e éticas. A discussão de ASC, articulada aos conteúdos

científicos e aos contextos é fundamental, pois propicia que os alunos compreendam

o mundo social em que estão inseridos e desenvolvam a capacidade de tomada de

decisão com maior responsabilidade, na qualidade de cidadãos, sobre questões

relativas à ciência e à tecnologia. Em uma perspectiva CTSA, essa discussão

envolverá também atitudes e valores comprometidos com a cidadania planetária em

busca da preservação ambiental e da diminuição das desigualdades econômicas,

sociais, culturais e étnicas. (SANTOS, 2007, p. 6).

4.2 Lei Federal n. 12.305/2010 – institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos

É justamente sair do modismo pedagógico que pretendia a presente pesquisa. Não se

pode maquiar o conhecimento, dando a ele um ar de perfeição e impressão de ser

inquestionável. Para isso, existem Leis em nosso país, nas quais todas as diretrizes, para se

construir uma sociedade “ecologicamente correta”, estão descritas e que precisam ser

cumpridas. Uma dessas leis é a Lei Federal sobre Resíduos Sólidos, Lei Nacional de Resíduos

Sólidos n. 12305/10, de 02 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos

34

Sólidos, altera a Lei n. 9.605/98, de 12 de fevereiro de 1998, e dá outras providências. Essa

Lei traz algumas informações fundamentais para o desenvolvimento deste projeto, como

CAPÍTULO II

DEFINIÇÕES

Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

XIV - reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a

alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à

transformação em insumos ou novos produtos, observadas as condições e os padrões

estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do

Suasa;

XV - rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de

tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente

viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final

ambientalmente adequada;

XVI - resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de

atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe

proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem

como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável

o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d água, ou exijam para

isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia

disponível;

XVII - responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto de

atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores,

distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços

públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o

volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos

causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos

produtos, nos termos desta Lei;

XVIII - reutilização: processo de aproveitamento dos resíduos sólidos sem sua

transformação biológica, física ou físico-química, observadas as condições e os

padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS

e do Suasa;

XIX - serviço público de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos: conjunto

de atividades previstas no art. 7º da Lei nº 11.445, de 2007.

A Lei prevê que toda a sociedade seja responsável pela produção e destinação que é

dada ao lixo orgânico ou inorgânico. Não há culpados ou inocentes, apenas pessoas físicas e

jurídicas dividindo as responsabilidades para se construir um mundo mais sustentável.

Nesta Lei Nacional de Resíduos Sólidos, a Educação Ambiental, prevista na Lei de

Política Nacional de Educação Ambiental, regulada pela Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999,

com a Política Federal de Saneamento Básico, regulada pela Lei n. 11.445, de 2007, e com a

Lei n. 11.107, de 6 de abril de 2005, é citada como um meio onde o ensino consciente, ético e

participativo das questões ambientais é sugestão preponderante, formando cidadãos que sejam

preparados para viver neste mundo de responsabilidades.

Pode-se citar, também, como forma de subsidiar essa pesquisa, os seguintes princípios

e objetivos da Lei Nacional de Resíduos Sólidos:

35

CAPÍTULO II

DOS PRINCÍPIOS E OBJETIVOS

Art. 6º São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos:

III - a visão sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos, que considere as variáveis

ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública;

IV - o desenvolvimento sustentável;

VII - a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;

VIII - o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem

econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania;

IX - o respeito às diversidades locais e regionais;

Art. 7º São objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos:

I - proteção da saúde pública e da qualidade ambiental;

II - não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos,

bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos;

III - estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e

serviços;

IV - adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como forma

de minimizar impactos ambientais;

V - redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos;

VI - incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-

primas e insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados [...].

Tendo em mãos os subsídios teóricos da Lei, torna-se possível nortear as políticas

educacionais e mostrar aos alunos que ter um meio ambiente mais sustentável implica,

também, fazer, discutir e exercer seus direitos e deveres políticos. Quando concordamos ou

não, criamos ou escolhemos não criar, atuamos ou só assistimos, estamos no campo político

da formação cidadã. A escola precisa estar preparada para tais iniciativas e o professor aberto

a todas elas.

Quando o aluno é colocado em contato com outras instâncias da sociedade, além da

escola na qual está inserido, lhe é oportunizado perceber suas possibilidades como cidadão na

interpretação do mundo que o cerca e na atuação em questões éticas e valores humanos que

estão embutidos na C&T. De acordo com Freire (1987): “É na realidade mediadora, na

consciência que dela tenhamos, educadores e povo, que iremos buscar o conteúdo

programático da educação”. Para Freire, quando partimos de problemas locais, relacionamos

mais o indivíduo com seu mundo, e, a partir daí, ele pode pensar em resolver problemas

globais. Não estamos dizendo que a Reciclagem e a Reutilização sejam questões para serem

tratadas apenas em Redenção, mas, como quase em todos os municípios brasileiros, as Leis

não são cumpridas e a destinação do lixo e/ou seu reaproveitamento ainda são irrisórios, o que

torna tais assuntos temas de grande relevância local.

De acordo com o artigo de Auler e Delizoicov (2006, p. 4), o indivíduo inserido no

mundo, consciente de seu papel enquanto cidadão e recebendo as condições necessárias para

exercer uma politizada cidadania, ganha condições para tentar superar o modelo de decisões

36

tecnocráticas, no qual um técnico pode resolver todos os tipos de problemas de forma neutra

e, desse modo, eliminar a maior parte da sociedade do processo científico e tecnológico. A

perspectiva salvacionista/redentora da C&T prega a produção cada vez maior de C&T como

forma de resolver todos os problemas da sociedade sem levar em consideração as relações

sociais, e o determinismo tecnológico, que descreve uma tecnologia que limita e castra as

relações sociais, determina os rumos que a sociedade deve ou não seguir.

4.3. Pressupostos da Pedagogia de Paulo Freire à formação cidadã

O professor que está se afastando dessas perspectivas tecnocráticas ultrapassadas e

caminhando para uma postura progressista deve se deslocar rumo a práticas educativas que

estejam de conformidade com os ensinamentos de Paulo Freire, como:

O que me interessa agora, repito, é alinhar e discutir alguns saberes fundamentais à

prática educativo-crítica ou progressista e que, por isso mesmo, devem ser conteúdos

obrigatórios à organização programática da formação docente. Conteúdos cuja

compreensão, tão clara e tão lúcida quanto possível, deve ser elaborada na prática

formadora. É preciso, sobretudo, e aí já vai um destes saberes indispensáveis, que o

formando, desde o princípio mesmo de sua experiência formadora, assumindo-se

como sujeito também da produção do saber, se convença definitivamente de que

ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua

produção ou a sua construção. (FREIRE, 1987, p. 12).

O compromisso desta pesquisa foi averiguar, também, se tais práticas propostas,

“Feira de Ciências” e “Bazar Solidário”, iriam de encontro com esses pensamentos de Freire.

O professor precisa estar atento aos seus alunos, pois com eles pode muito mais aprender do

que ensinar. Conforme Freire:

[...] É preciso que, pelo contrário, desde os começos do processo, vá ficando cada

vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e reforma ao

formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É neste sentido que

ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos nem formar é ação pela qual um

sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há

docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças

que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina

aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Quem ensina ensina alguma

coisa a alguém. (FREIRE, 1987, p. 12).

Ainda sobre este assunto, Freire descreve

O que quero dizer é o seguinte: quanto mais criticamente se exerça a capacidade de

aprender tanto mais se constrói e desenvolve o que venho chamando “curiosidade

37

epistemológica”, sem a qual não alcançamos o conhecimento cabal do objeto.

(FREIRE, 1987, p. 13).

Como Freire, acreditamos que uma forma de ensinar que leve o aluno a se tornar mais

crítico com relação aos fatos que o cercam poderá levá-lo a superar o que Freire chama de

“Ensino Bancário”. Em seu livro Pedagogia do Oprimido, Freire descreve as características

desse tipo de ensino, condenando-o veementemente. Esse tipo de ensino tem como

características:

a) o educador é o que educa; os educandos, os que são educados;

b) o educador é o que sabe; os educandos, os que não sabem;

c) o educador é o que pensa; os educandos, os pensados;

d) o educador é o que diz a palavra; os educandos, os que a escutam docilmente;

e) o educador é o que disciplina; os educandos, os disciplinados;

f) o educador é o que opta e prescreve sua opção; os educandos os que seguem a

prescrição;

g) o educador é o que atua; os educandos, os que têm a ilusão de que atuam, na

atuação do educador;

h) o educador escolhe o conteúdo programático; os educandos, jamais ouvidos nesta

escolha, se acomodam a ele;

i) o educador identifica a autoridade do saber com sua autoridade funcional, que

opõe antagonicamente à liberdade dos educandos; estes devem adaptar-se às

determinações daquele;

j) o educador, finalmente, é o sujeito do processo; os educandos, meros objetos.

(FREIRE, 1987, p. 34).

Fica bem claro que o professor que age seguindo esses princípios está tratando seus

alunos não apenas como meros depósitos de conhecimentos ou, o que é pior, como indivíduos

que irão perpetuar aquilo que Freire chama de “cultura do silêncio”.

Torna-se necessário, então, que o professor viva o ensino progressista e não somente o

tente imprimir para seus educandos. O aluno precisa ver paixão no que o professor está

fazendo ou, certamente, não dará a mínima importância para nenhuma atividade que se

proponha. Como um professor pode convencer seus alunos a pensar e a ser mais críticos se ele

é

o intelectual memorizador, que lê horas a fio, domesticando-se ao texto, temeroso de

arriscar-se, fala de suas leituras quase como se estivesse recitando-as de memória –

não percebe, quando realmente existe, nenhuma relação entre o que leu e o que vem

ocorrendo no seu país, na sua cidade, no seu bairro. Repete o lido com precisão, mas

raramente ensaia algo pessoal. Fala bonito de dialética, mas pensa

mecanicistamente. Pensa errado. É como se os livros todos a cuja leitura dedica

tempo farto nada devessem ter com a realidade de seu mundo. A realidade com que

eles têm que ver é a realidade idealizada de uma escola que vai virando cada vez

mais um dado aí, desconectado do concreto. (FREIRE, 1987, p. 14)

38

Para Freire, pensar certo e ensinar a pensar certo é abrir mão da arrogância de achar

que sabe tudo e os outros não sabem nada. Ensinar o aluno a pensar certo é levá-lo a entender

que não há certezas absolutas e ele pode, a qualquer momento, refutar, criar, divergir ou até

concordar com aquilo que lhe é ensinado. O aluno torna-se sujeito de seu tempo e deixa de ser

um cofre onde se depositam moedinhas para eventuais emergências.

Como forma de avançar nesse tipo de pesquisa, é necessário que o professor seja e

esteja sempre atento ao mundo que o cerca, desenvolvendo sempre novas formas de ensinar e

aprender. A pesquisa deve ser algo do cotidiano, que estimule a contínua produção do

conhecimento, e não apenas momentos esporádicos de reflexão. O professor, sobre o qual se

fala aqui, é aquele que está em constante busca de respostas para os diversos porquês que

existem neste mundo. Quando o aluno percebe tudo isso nesse professor, sua imaginação e

seus próprios porquês começam a ser estimulados e, a partir de então, o conhecimento começa

a ser produzido. Freire descreve bem as características desse professor quando diz

Fala-se hoje, com insistência, no professor pesquisador. No meu entender o que há

de pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar

que se acrescente à de ensinar. Faz parte da natureza da prática docente a indagação,

a busca, a pesquisa. O de que se precisa é que, em sua formação permanente, o

professor se perceba e se assuma, porque professor, como pesquisador. (FREIRE,

1987, p. 14).

Cada aluno vem de uma realidade e dela não há como se esquecer, pois ele volta todos

os dias para o mesmo lugar. A escola não pode se esquecer disso e cada conhecimento desses

alunos precisa ser levado em consideração na hora de montar seu projeto político pedagógico.

O professor, em sala de aula, também não deve se tornar alheio a tudo isso e sua postura

precisa estar direcionada para ajudar seu aluno a fazer a ponte entre os conhecimentos

curriculares e o ambiente que os cerca. Isso deve levá-lo a uma compreensão melhor desse

meio, de modo que possa produzir novos conhecimentos e interferir para resolver problemas

que ali existam. Conforme Freire:

Por que não discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva associar a

disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade agressiva em que a violência é a

constante e a convivência das pessoas é muito maior com a morte do que com a

vida? Por que não estabelecer uma necessária “intimidade” entre os saberes

curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como

indivíduos? Por que não discutir as implicações políticas e ideológicas de um tal

descaso dos dominantes pelas áreas pobres da cidade? A ética de classe embutida

neste descaso? Porque, dirá um educador reacionariamente pragmático, a escola não

tem nada que ver com isso. A escola não é partido. Ela tem que ensinar os

conteúdos, transferi-los aos alunos. Aprendidos, estes operam por si mesmos.

(FREIRE, 1987, p. 15).

39

Não devemos fazer a crítica pela crítica. Para fazer com que o aluno seja um curioso

convicto e esteja sempre atento aos fatos de seu cotidiano, quase nunca satisfeito e disposto a

interferir nos mesmos, é preciso que a curiosidade ingênua se torne epistemológica, como

afirma Freire:

Na verdade, a curiosidade ingênua que, “desarmada”, está associada ao saber do

senso comum, é a mesma curiosidade que, criticizando-se, aproximando-se de forma

cada vez mais metodicamente rigorosa do objeto cognoscível, se torna curiosidade

epistemológica. (FREIRE, 1987, p. 15).

Quando olhamos para o aluno como um ser cheio de possibilidades, estamos usando o

pensar certo, segundo Paulo Freire, dentro de uma perspectiva ética, a qual é bem descrita por

ele mesmo quando afirma:

Não é possível pensar os seres humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora

dela. Estar longe ou pior, fora da ética, entre nós, mulheres e homens é uma

transgressão. É por isso que transformar a experiência em puro treinamento técnico é

amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu

caráter formador. Se se respeita a natureza do ser humano, o ensino dos conteúdos

não pode dar-se alheio à formação moral do educando. (FREIRE, 1987, p. 16).

Ainda nesse contexto, afirma Freire:

O professor que realmente ensina, quer dizer, que trabalha os conteúdos no quadro

da rigorosidade do pensar certo, nega, como falsa, a fórmula farisaica do “faça o que

mando e não o que eu faço”. Quem pensa certo está cansado de saber que as

palavras a que falta a corporeidade do exemplo pouco ou quase nada valem. Pensar

certo é fazer certo. (FREIRE, 1987, p. 16).

Então, para que tenhamos esse aluno crítico, ético e ciente de suas possibilidades em

seu contexto social, precisamos dar o exemplo como educadores. Nossas atitudes muitas

vezes falam mais alto que nossa oratória e, através delas, podemos ensinar a esses alunos,

com vistas a um horizonte próximo, que suas falas e ações devem caminhar juntas na

compreensão e possibilidades de transformação do mundo. O mundo que desejamos não deve

ser hipócrita, mesmo que todas as verdades caiam por terra de uma só vez. Nesse caminhar, a

humanidade se refaz continuamente, com lutas e dissabores, é claro, mas a verdade sobre os

fatos liberta e traz a sensação de uma evolução coerente e de que o amanhã poderá ser bem

melhor.

40

Em todas as etapas desta pesquisa, procuramos dialogar com nossos alunos, buscando

uma fala coerente e responsável. Não poderíamos, de modo algum, fazer o que se pretendia

sem antes consultá-los sobre o que entendiam do assunto e como entendiam a realidade em

que viviam. Nessa perspectiva, Paulo Freire nos ensina:

A grande tarefa do sujeito que pensa certo não é transferir, depositar, oferecer, doar

ao outro, tomado como paciente de seu pensar, a inteligibilidade das coisas, dos

fatos, dos conceitos. A tarefa coerente do educador que pensa certo é, exercendo

como ser humano a irrecusável prática de inteligir, desafiar o educando com quem

se comunica e a quem comunica, produzir sua compreensão do que vem sendo

comunicado. Não há inteligibilidade que não seja comunicação e intercomunicação e

que não se funde na dialogicidade. O pensar certo por isso é dialógico e não

polêmico. (FREIRE, 1987, p. 17).

Mantendo esse diálogo com nossos alunos e vendo os promissores resultados obtidos,

foi possível desenvolver aquilo que Freire dizia:

Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as

condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o

professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se

como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador,

realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar. Assumir-se como

sujeito porque capaz de reconhecer-se como objeto. A assunção de nós mesmos não

significa a exclusão dos outros. É a “outredade" do “não eu”, ou do tu, que me faz

assumir a radicalidade de meu eu. (FREIRE, 1987, p. 18).

Fica bem claro que o conhecimento não se constrói somente com a figura do

professor. Caminhar em busca do conhecimento deve ser uma via de mão dupla e ainda com

várias ruas cortando esta avenida. Quando os alunos têm a oportunidade de agir e não

somente assistir, percebemos perfeitamente o que Paulo Freire insistia em afirmar:

[...] saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para

a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo

estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a

suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a

de ensinar e não a de transferir conhecimento. (FREIRE, 1987, p. 21).

Desenvolver pesquisas como esta que propomos proporciona ao indivíduo o seu

reconhecimento dentro do contexto humano, local de humanidade, região de interações

racionais. Por racionais, entendemos que sejam as intervenções culturais que fazemos no

espaço-tempo e com elas mudamos ou não a nossa forma de existir. De posse dessa realidade,

não nos sentimos acabados culturalmente e sempre temos algo para viver ou construir.

Podemos expressar que nossa humanidade é boa, no sentido de que temos escolhas para fazer,

41

enquanto todos os demais animais não as possuem. Nossa razão nos permite observar,

indagar, teorizar, testar, agir avançando ou retrocedendo, e por isso

Gosto de ser homem, de ser gente, porque não está dado como certo, inequívoco,

irrevogável que sou ou serei decente, que testemunharei sempre gestos puros, que

sou e que serei justo, que respeitarei os outros, que não mentirei escondendo o seu

valor porque a inveja de sua presença no mundo me incomoda e me enraivece.

Gosto de ser homem, de ser gente, porque sei que a minha passagem pelo mundo

não é predeterminada, preestabelecida. Que o meu “destino” não é um dado, mas

algo que precisa ser feito e de cuja responsabilidade não posso me eximir. Gosto de

ser gente porque a História em que me faço com os outros e de cuja feitura tomo

parte é um tempo de possibilidades e não de determinismo. Daí que insista tanto na

problematização do futuro e recuse sua inexorabilidade. (FREIRE, 1987, p. 22).

Os alunos escolhidos para este projeto não o foram por acaso. Mesmo com tantas

limitações econômicas e sociais, são seres humanos cheios de uma esperança que pouco se vê

nos dias de hoje. Esperança não só de ter uma graduação e um bom emprego no futuro, mas

também o de ver suas vidas fazendo a diferença no mundo que os cerca. São pessoas

extraordinárias, dinâmicas e que, certamente, pensam que os obstáculos não são eternos

enquanto houver alguém que continue lutando para fazer a diferença. O futuro é incerto e isso

nos torna humanos, ou seja, nos tornamos mais conscientes de que precisamos sempre de algo

mais. Estamos sempre num nível de inacabamento contínuo. Humanizar os valores humanos

foi pretensão marcante desta pesquisa e conseguir realizar esta tarefa ou não foi apenas parte

do processo da construção humana, que nunca se acaba. Como relata Paulo Freire:

Gosto de ser gente porque, mesmo sabendo que as condições materiais, econômicas,

sociais e políticas, culturais e ideológicas em que nos achamos geram quase sempre

barreiras de difícil superação para o cumprimento de nossa tarefa histórica de mudar

o mundo, sei também que os obstáculos não se eternizam. (FREIRE, 1987, p. 23).

Nesse contexto, o professor tem papel fundamental, precisa ser ético, consciente de

seu incompleto saber e jamais podar a curiosidade de seu aluno. O aluno, continuamente

estimulado a ser curioso, considera fatos, propõe ideias, testa hipóteses e está sempre pronto

para ver o mundo ser transformado. Sua postura diante do conhecimento não é de simples

memorização. Não é um fantoche do mercado de trabalho capitalista e faz valer, de modo

responsável, sua opinião em todas as circunstâncias. Enfim, o indivíduo que tem consciência

de seu papel no mundo sabe:

Estar no mundo sem fazer história, sem por ela ser feito, sem fazer cultura, sem

“tratar” sua própria presença no mundo, sem sonhar, sem cantar, sem musicar, sem

pintar, sem cuidar da terra, das águas, sem usar as mãos, sem esculpir, sem filosofar,

42

sem pontos de vista sobre o mundo, sem fazer ciência, ou teologia, sem assombro

em face do mistério, sem aprender, sem ensinar, sem ideias de formação, sem

politizar não é possível. (FREIRE, 1987, p. 24)

Bem preparado, exercendo sua autoridade democrática e generoso no ensinar, o

professor mostra entendimento de que

A arrogância farisaica, malvada, com que julga os outros é a indulgência macia com

que se julga ou com que julga os seus. A arrogância que nega a generosidade nega

também a humildade. que não é virtude dos que ofendem nem tampouco dos que se

regozijam com sua humilhação. O clima de respeito que nasce de relações justas,

sérias, humildes, generosas, em que a autoridade docente e as liberdades dos alunos

se assumem eticamente, autentica o caráter formador do espaço pedagógico.

(FREIRE, 1987, p. 36).

O trabalhar com o lixo nesta pesquisa possibilitou aos educandos não somente o

conhecimento de quais materiais podem ser reciclados e reutilizados, mas houve, também, a

oportunidade de conhecer como é o trabalho dos garis e catadores de lixo no lixão, geralmente

invisíveis para a maioria de nós. Geralmente, temos o hábito de discriminar quem trabalha

com lixo, relegando-os a uma posição de inferioridade na sociedade. Percebe-se, ainda, essa

discriminação quando observamos que os alunos, principalmente os de bairros mais afastados

do centro da cidade e menos atendidos pelo poder público, recebem piadinhas depreciativas

com relação à localidade onde moram, como se ali todos fossem imundos e desprovidos de

educação. Paulo Freire deixa bem claro o absurdo desse posicionamento quando afirma:

O que quero repetir, com força, é que nada justifica a minimização dos seres

humanos, no caso as maiorias compostas de minorias que não perceberam ainda que

juntas seriam a maioria. Nada, o avanço da ciência e/ou da tecnologia, pode

legitimar uma “ordem” desordeira em que só as minorias do poder esbanjam e

gozam enquanto às maiorias em dificuldades até para sobreviver se diz que a

realidade é assim mesmo, que sua fome é uma fatalidade do fim do século.

(FREIRE, 1987, p. 39).

Não se pode admitir que o ensino de Educação Ambiental continue eternizando essas

falas retrógradas de um mundo em que nascer em meio às limitações sociais e econômicas é

apenas uma questão do acaso e que todos devem se conformar com isso, pois nunca vai

mudar. O professor, quando está atento a todos esses fatos e usando de uma postura ética e

democrática, pode contribuir para ajudar seu aluno na caminhada árdua da formação cidadã.

Ouvindo e respeitando seu aluno, o professor pode descobrir muitas formas de ajudá-lo,

principalmente quando esse professor entende:

43

respeitar a leitura de mundo, do educando não é também um jogo tático com que o

educador ou educadora procura tornar-se simpático ao educando. É a maneira

correta que tem o educador de, com o educando e não sobre ele, tentar a superação

de uma maneira mais ingênua por outra mais crítica de inteligir o mundo. Respeitar

a leitura de mundo do educando significa tomá-la como ponto de partida para a

compreensão do papel da curiosidade, de modo geral, e da humana, de modo

especial, como um dos impulsos fundantes da produção do conhecimento. (FREIRE,

1987, p. 46).

4.4. A Feira de Ciências como Prática Pedagógica

Como registra o documento do Ministério da Educação intitulado Programa Nacional

de Apoio às Feiras de Ciências da Educação Básica FENACEB, são várias as denominações

dadas a esses eventos: Feira de Criatividade Estudantil, Mostra de Talentos Estudantis,

Mostra de Produção Estudantil, Feira de Ciência e Cultura etc. (BRASIL, 2006, p. 18).

Independente do nome que receba

são eventos em que os alunos são responsáveis pela comunicação de projetos

planejados e executados por eles durante o ano letivo. Durante o evento, os alunos

apresentam trabalhos que lhes tomaram várias horas de estudo e investigação, em

que buscaram informações, reuniram dados e os interpretaram, sistematizando-os

para comunicá-los a outros, ou então construíram algum artefato tecnológico. Eles

vivenciam, desse modo, uma iniciação científica Júnior de forma prática, buscando

soluções técnicas e metodológicas para problemas que se empenham em resolver.

(HARTMANN; ZIMMERMANN, 2009, p. 2).

Para Hartmann e Zimmermann, citando Mancuso (2000), há três formas de trabalhos

científicos que podem ser desenvolvidos na escola:

1) trabalhos de montagem, em que os estudantes apresentam artefatos a partir do

qual explicam um tema estudado em ciências; 2) trabalhos informativos em que os

estudantes demonstram conhecimentos acadêmicos ou fazem alertas e/ou denúncias;

e 3) trabalhos de investigação, projetos que evidenciam uma construção de

conhecimentos por parte dos alunos e de uma consciência crítica sobre fatos do

cotidiano. (HARTMANN; ZIMMERMANN, 2009, p. 2).

Não há como negar os muitos benefícios trazidos a toda comunidade escolar com a

realização de eventos como a Feira de Ciências. Alunos, profissionais da educação e pais se

envolvem de tal maneira que é inevitável ocorrerem diversos efeitos positivos. Podemos citar

como exemplos de tais efeitos, conforme Hartmann e Zimmermann (2009, p. 3), quando

citam Mancuso (2000) e Lima (2008): 1) O crescimento pessoal e a ampliação dos

conhecimentos; 2) A ampliação da capacidade comunicativa; 3) Mudanças de hábitos e

atitudes; 4) O desenvolvimento da criticidade; 5) Maior envolvimento e interesse; 6) O

44

exercício da criatividade conduz à apresentação de inovações e 7) Maior politização dos

participantes.

Também é importante salientar que, numa atividade como esta, algumas características

são imprescindíveis, como critério de qualidade e equidade entre os grupos que estarão

apresentando. Os alunos envolvidos gastam muito tempo em seus projetos e, no momento de

apresentarem, precisam se sentir seguros de que os critérios de avaliação serão justos e iguais

para todos. Além disso, é importante que o professor discuta todos os critérios com seus

alunos, o que trará um aprendizado importante com relação aos procedimentos necessários

para um trabalho científico. O aluno deve ser estimulado ao trabalho cooperativo e a ser

criterioso com horários e procedimentos. Ainda segundo Hartmann e Zimmermann (2009, p.

4), citando Gonçalves (2008), podemos enumerar algumas dessas características que são

esperadas dos projetos: 1) Caráter investigativo; 2) Criatividade; 3) Relevância e 4) Precisão

científica.

Finalmente, para Hartmann e Zimmermann, citando Moraes (1986),

A participação em Feiras de Ciências é, portanto, a culminação de um processo de

estudo, investigação e produção que tem por objetivo a educação científica dos

estudantes. A comunicação das produções científicas para o público visitante, por

sua vez, contribui para a divulgação da ciência e para que os alunos demonstrem sua

criatividade, seu raciocínio lógico, sua capacidade de pesquisa e seus conhecimentos

científicos. (MORAES, 1986, apud HARTMANN; ZIMMERMANN, 2009, p. 4).

4.5. Educação Popular por meio de Bazar Solidário

Os textos já descritos acima trazem um panorama bem claro do quanto é importante o

desenvolvimento de uma Educação em que o ensino priorize, segundo Paulo Freire, a

libertação do indivíduo. Falamos da libertação de um sistema capitalista que estabelece

amarras cada vez mais inquebráveis, no qual somos impelidos ao consumo desnecessário e a

uma desumanização das relações sociais. No Brasil, a caminhada para essa libertação segue o

que está descrito por Elen Maria citando Souza:

A consolidação da Educação Popular se dá então com a emergência dos

Movimentos Sociais que se organizavam a partir da luta contra a ditadura militar,

com uma contribuição fundamental das Comunidades Eclesiais de Base, inspiradas

na Teoria da Libertação. Neste sentido, a Educação Popular foi impulsionadora dos

processos de reorganização popular e, ao mesmo tempo, resultante deles, acabando

por se consolidar como prática pedagógica dos próprios movimentos. (SOUZA,

2003, p. 20, apud COSTA, 2013, p. 30).

45

Para que se tenha uma Educação diferente do contexto nebuloso apresentado, é preciso

que os currículos sejam mais interdisciplinares e contextualizados. O aluno precisa estar

ciente dos acontecimentos políticos, sociais e econômicos de seu meio, para que possa ter

subsídios quando for necessário atuar na transformação do mesmo. Não basta apenas informar

o aluno, é preciso que se dê a ele a oportunidade de questionar, refutar, sugerir e agir, com

vistas a uma formação cidadã mais consistente. Elen Maria Costa, relatando o retorno do

exílio de dezesseis anos de Paulo Freire, deixa claro isso descrevendo as ideias de Freire:

Freire nos mostra que a saída da condição opressora está no processo educativo

problematizador que possibilita ao homem refletir sobre sua realidade oprimida e

buscar, através do diálogo constante com seus pares, a superação desta contradição,

reconhecendo que está no mundo participando ativamente do processo de construção

social. É nesse sentido que Freire (2005, p. 79) afirma, “Já agora ninguém educa

ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si mediatizados

pelo mundo [...]”. (COSTA, 2013, p. 31).

No intuito de seguir as diretrizes acima expostas, o Bazar Solidário entrou como

ferramenta pedagógica de uma educação para o povo e pelo povo, conforme descreve Elen

Maria, citando Brandão (1984), tentando explicar o significado de “popular”:

Antes de falarmos sobre Educação Popular, precisamos definir o termo “popular”.

De acordo com Brandão (1984), “popular” é para o povo no sentido político. A

concepção mais comum que encontramos, inclusive nos dicionários, é como sendo

algo do povo, para o povo, que atende às necessidades do povo. (COSTA, 2013, p.

28),

Como Bazar Solidário, entende-se um evento econômico no qual objetos, geralmente

usados, são vendidos a preços muito baixos para uma comunidade carente. Enquanto

atividade pedagógica, o Bazar tem como finalidade estimular a solidariedade, a

responsabilidade, a capacidade de trabalho em grupo e a preservação do meio ambiente

através da prática de reutilização. Enquanto atividade social, o Bazar visa ajudar pessoas

carentes, vendendo objetos bem baratos, os quais seriam jogados no lixo por outras pessoas.

46

5 METODOLOGIA

A pesquisa foi baseada em metodologias quantitativas e qualitativas.

No modelo quantitativo, há o levantamento de opiniões e comportamentos visíveis e

conscientes dos entrevistados, o que é feito por meio de questionários bem estruturados. A

pesquisa deve representar um universo específico e tudo o que for coletado com o

questionário deve poder ser extrapolado para esse mesmo universo. Medir e testar hipóteses, a

partir de resultados concretos, são objetivos básicos desse tipo de pesquisa. Enfim, a pesquisa

quantitativa é apropriada quando existe a possibilidade de medidas quantificáveis de variáveis

e inferências a partir de amostras numéricas, ou busca padrões numéricos relacionados a

conceitos cotidianos.

Na pesquisa qualitativa deve haver liberdade para o entrevistado quando estiver

discorrendo sobre um determinado tema. A subjetividade é marcante e leva o indivíduo a

mostrar comportamentos intrínsecos de forma bem espontânea. O foco principal é a busca da

interpretação de fatos. A natureza desse tipo de pesquisa é ser indutiva, isto é, o pesquisador

desenvolve conceitos, ideias e entendimentos a partir de padrões encontrados nos dados, ao

invés de coletar dados para comprovar teorias, hipóteses e modelos pré-concebidos.

Depois de tomar conhecimento dos pressupostos teóricos vigentes para o ensino de

CTS, CTSA, da Lei de Resíduos Sólidos e das bases da Pedagogia Libertadora de Paulo

Freire, decidimos, juntamente com a orientadora, que a estratégia utilizada deveria ser o

desenvolvimento de duas atividades. Tais atividades seriam definidas e realizadas a partir do

momento em que fosse delimitado o tema geral da Feira de Ciências da Escola Estadual

Engenheiro Palma Muniz. A referida Feira foi realizada nos dias 08 e 09 de novembro de

2013, com o título “As ciências, as artes e a cultura no desenvolvimento humano:

conhecimento para quê? E para quem?”. Ficou claro que, mediante tal tema proposto, as

atividades escolhidas viriam de encontro com tudo o que precisávamos para desenvolver

nossa pesquisa.

Nessa escola, faz parte do PPP (Projeto Político Pedagógico) o processo democrático

de escolha dos Professores Regentes de Turma. A função do Professor Regente é orientar sua

turma nas diversas atividades que são desenvolvidas durante o ano. Para cumprir essa

importante etapa, na formação cidadã, fomos escolhidos pela turma do 2º Ano, Turma A, do

Ensino Médio, turno Vespertino, ano 2013. Depois de nos apresentarmos como Regente da

turma, passamos a mostrar a proposta inicial de realização da Feira de Ciências. Já com a

turma de alunos definida e a proposta tendo sido discutida e acatada por eles, pedimos que

47

cada um levasse um documento aos seus responsáveis solicitando a autorização para que fotos

e filmagens pudessem ser feitas e expostas posteriormente neste trabalho (Apêndice A).

Com o documento assinado, o tema geral da Feira já definido, sabendo com quais

alunos o trabalho deveria ser desenvolvido e com as propostas de duas atividades já acertadas

com a orientadora e os alunos, passou-se à etapa seguinte, que foi a aplicação de um

questionário investigativo, chamado de pré-teste. As perguntas desse questionário visavam

saber quais eram os conhecimentos prévios dos alunos sobre diversos temas de ecologia,

principalmente sobre a destinação de resíduos sólidos e a responsabilidade social envolvida

em todo esse contexto (Apêndice B).

O questionário foi elaborado com 10 questões de múltipla escolha. Os alunos foram

orientados a não conversar entre si durante a realização do questionário para que não

houvesse interferência nas respostas uns dos outros, levando em consideração o caráter

quantitativo da pesquisa. Os resultados foram fundamentais para decidir os subtemas a serem

trabalhados nas duas atividades propostas.

Outro fator importante na escolha dos alunos foi que, nesse período, eles estavam

tendo contato com vários conteúdos programáticos dentro da área da Biologia chamada de

Ecologia, sendo que dois deles, “Reciclagem e Reutilização”, chamaram muita atenção.

Após a aplicação do pré-teste e de uma longa reunião com os alunos, decidiu-se por

trabalhar esses subtemas, “Reciclagem e Reutilização”, por meio das duas atividades

sugeridas pelo professor: uma, que seria realizada durante o primeiro dia da Feira, tendo como

foco principal a produção de artesanato com resíduos sólidos domésticos, e outra, que deveria

ser desenvolvida dia 16 de novembro de 2013 por meio de um Bazar Solidário. Nesse Bazar

seriam vendidos, com preços simbólicos, roupas, calçados e brinquedos arrecadados junto à

comunidade escolar como doação.

O próximo passo foi aprofundar a discussão teórica dos subtemas escolhidos e

estimular os alunos com várias sugestões de artesanato que encontramos na internet. Debates

sobre a responsabilidade social do projeto foram fundamentais na sua construção. A análise

do trabalho de Mancuso (2000) mostrou que o tipo de Feira que estava se desenvolvendo ali

era por meio de trabalhos de montagem, em que os alunos produzem objetos para explicar um

conhecimento teórico que foi desenvolvido em sala de aula. Já estimulados, os alunos

passaram a selecionar resíduos sólidos, utilizados depois na criação do artesanato, e a coletar,

junto à comunidade escolar, roupas, calçados e brinquedos usados, os quais seriam utilizados

na atividade do Bazar Solidário.

48

Para otimizar o processo de organização e criação dos objetos para a Feira, foi

sugerido aos alunos que se organizassem em grupos, com isso o espaço que foi reservado à

apresentação poderia ser melhor aproveitado. Cada grupo poderia conter no máximo 4

(quatro) participantes, sendo que cada um seria responsável por criar e apresentar até dois

objetos durante a Feira de Ciências. Além dos grupos de criação, os próprios alunos

resolveram fazer uma nova divisão de grupos para desenvolverem atividades práticas

referentes à preparação dos locais de apresentação do projeto nas duas etapas, como

ornamentação, limpeza e recepção.

No dia da Feira, todos chegaram com uma hora de antecedência para organizar o

espaço. A organização a que nos referimos aqui se trata da ornamentação da sala, onde mesas

e cadeiras precisam estar dispostas de modo a propiciar uma apresentação dos objetos com

clareza e objetividade.

Já na realização do Bazar Solidário, foi necessário irmos com bastante antecedência

conversar com a diretora da escola escolhida para realização dessa atividade. A escolha teve

como pano de fundo a grande carência econômica vivida pela comunidade escolar da

localidade, Escola Municipal Professor Hernane, Vila da Pedra, em Redenção-PA. Com a

aprovação imediata da direção, escolhemos uma data em que a escola não estaria aberta,

assim, poderíamos realizar tudo com maior antecedência e organização. Para divulgar o

evento, sugerimos que a direção enviasse um bilhete aos pais comunicando o dia e a hora em

que tudo aconteceria, o que prontamente foi atendido. Por iniciativa própria, a direção

arrumou um carro de som que passou anunciando o evento pelas ruas do bairro, o que

colocamos apenas como sugestão, pois em muitas localidades esse tipo de atividade requer

muitos gastos e autorização da prefeitura. Outra forma de atrairmos a comunidade foi

anunciar a doação de 15 (quinze) cestas básicas, as quais seriam distribuídas por sorteio ao

final do evento apenas àquelas pessoas que comparecessem a ele. Cada pessoa que comprasse

uma peça do Bazar teria direito a uma senha. Essas cestas foram adquiridas com o dinheiro de

uma rifa de um relógio importado, doado ao projeto durante a coleta dos objetos de doação.

Com a Feira de Ciências e o Bazar Solidário realizados, passamos à etapa na qual foi

feito o pós-teste com os alunos, usando o mesmo questionário do pré-teste como forma de

verificação quantitativa da aprendizagem.

Como forma de averiguação qualitativa, foi feita uma entrevista (Apêndice C) com os

grupos para verificar que valores tiveram ou não alteração, tendo em vista o nome dado ao

projeto: “Reciclando Valores”, sugerido pelo professor e acatado pelos alunos. Nessa

entrevista, cada grupo teve a oportunidade de dizer quais objetos apresentaram na Feira de

49

Ciências e relatar todo o processo de coleta de matéria-prima e confecção desses objetos

reciclados. Além disso, também foi perguntado aos alunos que novos conhecimentos e

comportamentos foram adquiridos ao longo do projeto.

Como produto final do projeto, decidiu-se fazer um Manual Didático contendo todos

os passos para se montar uma Feira de Ciências e um Bazar Solidário com os subtemas

propostos.

6 PRODUTO

O Manual Didático (Apêndice D) que propomos levou o título “O Passo a Passo para

se montar uma Feira de Ciências com os temas Reciclagem e Reutilização”, com subtítulo

Projeto Reciclando Valores, e foi produzido com a pretensão de servir de ferramenta

pedagógica para professores do Ensino Básico. Nesse Manual, foram descritos os seguintes

passos:

1º Introdução: traz uma visão geral da proposta e as possibilidades de uso pelo

professor como ferramenta pedagógica.

2º Elaboração dos temas: sugere uma forma compartilhada de discutir e definir o

tema do projeto. Fica claro no material que o professor precisa ouvir seus alunos e

junto com eles tomar todas as decisões.

3º Trabalhe com seus alunos, no campo teórico, os temas escolhidos com

antecedência. É preciso deixar claro para o aluno tudo o que se pretende a partir do

que lhe é oferecido. Mas é importante que as discussões teóricas ocorram apenas

depois da aplicação do pré-teste, para que não haja interferência no seu resultado.

4º Elabore grupos de trabalho para cada atividade que será desenvolvida antes,

durante e depois da Feira de Ciências e do Bazar Solidário. Isso é fundamental

para que todo o projeto ocorra sem riscos de grandes imprevistos.

5º Permita a divisão dos alunos em grupos e dê liberdade aos mesmos para criar

objetos que devem ser confeccionados com material reciclável e apresentados no

dia da Feira de Ciências.

6º Ornamentação do ambiente. Tanto na Feira de Ciências quanto no Bazar Solidário,

é preciso que tudo esteja preparado com antecedência. Quando se lida com muitas

pessoas, é indispensável criar regras e providenciar para que todas sejam

50

cumpridas, pois, quando cada um desempenha bem o seu papel, o projeto tende a

transcorrer em paz e com muita qualidade. Tal atitude tentará desenvolver nos

alunos um senso de responsabilidade, ética e solidariedade.

7º Avaliação da aprendizagem. Para verificação quantitativa, sugere-se a aplicação de

um questionário como pré-teste e pós-teste. Esse questionário deve conter

perguntas que busquem saber que conhecimentos os alunos possuem a respeito dos

temas propostos: “Reciclagem” e “Reutilização”. Além dos questionários,

recomenda-se a realização de uma entrevista com todos os grupos como forma de

avaliação qualitativa. Nessa entrevista, os alunos devem ficar à vontade para

expressar suas mudanças ou não de comportamentos em relação ao projeto e dizer

em quais valores acreditam ter havido ou não mudanças.

8º Considerações finais. Como forma de estímulo, é preciso que nesta etapa o leitor

seja desafiado a realizar tais atividades na sua prática pedagógica.

A ideia, para produção deste Manual, surgiu no decorrer das atividades práticas, Feira

de Ciências e Bazar Solidário, quando percebemos o quanto é difícil encontrar material

didático para se trabalhar com essas temáticas. Para ganhar uma valoração quantitativa, os

alunos correm em busca de agradar o professor com uma apresentação bonita, mas sem bases

teóricas e criteriosa investigação científica. Criamos esse Manual Didático para servir de

apoio para os professores que desejam ser mais criteriosos e desejam ensinar realmente aos

seus alunos como é construído o conhecimento de modo responsável.

O material é todo ilustrado, colorido e buscamos leitura fácil. Traz exemplos de

objetos produzidos a partir de material reciclado, permitindo que qualquer professor possa

usá-lo como material de trabalho. Não é dada uma determinação do nível de ensino em que o

Manual deva ser utilizado, apenas sugerimos as séries finais do Ensino Fundamental e o

Ensino Médio em função das habilidades necessárias para o desenvolvimento das atividades.

Contudo, acreditamos que, a partir das séries iniciais do Ensino Fundamental, já é possível

criar uma consciência ecológica e estimular responsabilidades sociais, principalmente se os

pais estiverem envolvidos no processo. Enfim, o professor deve estar atento para fazer as

devidas adaptações conforme a faixa etária dos alunos, respeitando os diversos níveis de

aprendizado, a coordenação motora e a segurança física.

51

7 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste capítulo, apesentamos o questionário utilizado e analisamos e comentamos as

respostas dadas às perguntas.

7.1 Questionário

As questões formuladas buscaram, com uma abordagem quantitativa, conhecer a

realidade dos alunos envolvidos e suas opiniões a respeito dos temas abordados. Acreditamos

que os papéis da escola e do professor podem caminhar para uma ética saudável quando há o

respeito a tudo que provém do cotidiano desse aluno. Para falar sobre isso, Paulo Freire

escreveu em seu livro Pedagogia da Autonomia:

É o meu bom senso, em primeiro lugar, o que me deixa suspeitoso, no mínimo, de

que não é possível à escola, se, na verdade, engajada na formação de educandos

educadores, alhear-se das condições sociais culturais, econômicas de seus alunos, de

suas famílias, de seus vizinhos. (FREIRE, 2002, p. 26).

Nesse mesmo livro, Freire descreve ainda:

Não é possível respeito aos educandos, à sua dignidade, a seu ser formando-se, à sua

identidade fazendo-se, se não se levam em consideração as condições em que eles

vêm existindo, se não se reconhece a importância dos “conhecimentos de

experiência feitos” com que chegam à escola. O respeito devido à dignidade do

educando não me permite subestimar, pior ainda, zombar do saber que ele traz

consigo para a escola. (FREIRE, 2002, p. 26).

7.2 Análise das respostas dos questionários

Foram aplicados dois questionários, o pré-teste e o pós-teste. A amostra de alunos que

responderam o questionário tinha um total de 27 pessoas. As respostas e as análises estão

descritas separadamente, questão por questão.

52

7.2.1. Questão 1: Quantos objetos você conhece que são feitos de material reciclado?

Quadro 1: Respostas à questão 1

ALTERNATIVAS Pré-teste Pós-teste

a) nenhum - -

b) um - -

c) dois 2 1

d) mais de dois 25 26

Fonte: Dados da pesquisa.

Nesta questão, o objetivo era saber se o aluno já tinha algum tipo de conhecimento a

respeito de reciclagem e, de posse disso, perceber se a atividade da Feira de Ciências poderia

ou não exercer alguma influência sobre tal conhecimento. Como a maioria dos alunos, em

ambos os testes, mostraram entendimento sobre o que é material reciclado quando declararam

conhecer mais de dois, conclui-se que a Feira de Ciências, que trabalhou exclusivamente com

a produção de objetos reciclados, contribuiu para manter e ampliar tal conhecimento.

7.2.2. Questão 2: O que ocorre com o lixo depois que o mesmo é recolhido pelo caminhão

de coleta na porta de sua casa?

Quadro 2: Respostas à questão 2

ALTERNATIVAS Pré-teste Pós-teste

a) vai direto para o lixão 26 23

b) vai direto para o aterro sanitário - 1

c) vai direto para a indústria de reciclagem - 1

d) desconheço 1 2

Fonte: Dados da pesquisa.

A ideia era saber se o pesquisado tinha informação sobre o destino do lixo doméstico

fora de sua casa. Não só para onde o lixo vai, mas também saber se ele entende a diferença

entre lixão e aterro sanitário. No pré-teste, houve quase unanimidade ao dizerem que o lixo

iria para o lixão, o que é a realidade desse município. O que parecia um ponto positivo no

início, se tornou confuso no pós-teste, pois dois alunos marcaram opções que não existem

nessa cidade. Apesar de a maioria dos pesquisados manter sua opinião com relação ao

entendimento sobre o lixão, concluímos que pode ter havido uma falha na exploração

53

conceitual de lixão e aterro sanitário, pois alguns alunos ficaram com dúvidas e as mesmas

não foram esclarecidas.

7.2.3. Questão 3: Seu vizinho, queimando um pouco de folhas na porta da casa dele, gera

que sentimento em você?

Quadro 3: Respostas à questão 3

ALTERNATIVAS Pré-teste Pós-teste

a) Fica triste, mas não se envolve. 15 18

b) Acha normal. 5 3

c) Não se importa. 2 -

d) Desaprova e sempre reclama. 5 6

Fonte: Dados da pesquisa.

Que conceito sobre queimada o entrevistado tem é um item importante considerado

nesta questão. Dependendo da resposta, podemos saber qual é o grau de comprometimento e

consciência que o mesmo tem com relação a esse tema. Os resultados do primeiro

questionário mostraram que havia um bom nível de consciência, mas pouco

comprometimento. Acreditamos que, nesse primeiro momento, as respostas sejam o reflexo

da herança deixada pela exploração da madeira na década de 80, período em que queimar o

lixo era quase uma regra na maioria dos lares, pois não havia coleta de lixo e a urbanização

era precária. No segundo questionário, tanto o nível de consciência quanto o de

comprometimento tiveram um pequeno aumento. Mas ficou claro que ainda há muito para se

fazer para quebrar esses aspectos culturais que estão tão arraigados nas famílias há décadas.

7.2.4. Questão 4: Se o caminhão de coleta de lixo não passa na sua rua, o que você acha

que deve ser feito?

Quadro 4: Respostas à questão 4

ALTERNATIVAS Pré-teste Pós-teste

a) Colocar fogo no lixo. - -

b) Pagar alguém para levar o lixo para

outro lugar qualquer.

- -

c) Jogar num terreno vago qualquer. 1 -

d) Reclamar na prefeitura para que o

serviço seja oferecido.

26 27

Fonte: Dados da pesquisa.

54

A presente questão buscou saber se o aluno estava ciente de suas atribuições como

cidadão nesta cidade, quando se fala na coleta de lixo. As respostas deixaram bem claro que é

mais fácil agir cobrando ações do poder público do que reclamar de um vizinho que está

queimando um monte de folhas. A política da boa vizinhança parece perdurar e, desde que a

fumaça da queimada do vizinho não esteja incomodando, acredita-se que esteja tudo bem. De

qualquer maneira, saber que a maioria manteve a posição crítica para reclamar os seus direitos

já nos traz um bom indício de que esses alunos estão caminhando rumo a uma formação

cidadã crítica e libertadora.

7.2.5. Questão 5: Na sua casa os lixos orgânicos (restos de comida e cascas de frutas, por

exemplo) são:

Quadro 5: Respostas à questão 5

ALTERNATIVAS Pré-teste Pós-teste

a) jogados num saco e depois vão

para a lixeira.

15 12

b) queimados no fundo do quintal. - -

c) são dados para os animais (cães,

por exemplo) comerem.

8 11

d) enterrados e misturados com a

terra para fazer adubo.

4 4

Fonte: Dados da pesquisa.

A destinação do lixo orgânico foi o tópico central desta questão e, no primeiro

momento, percebemos que o entendimento era, na maioria dos casos, o de jogar tudo num

saco para respectiva coleta do caminhão de lixo. Mas houve, também, um bom número de

alunos que mostraram o processo de reutilização desses restos orgânicos com a alimentação

de animais. O processo de compostagem também foi observado como procedimento adotado

por alguns indivíduos. No segundo questionário, ficamos felizes em observar que o número de

alunos que passaram a reutilizar mais esses resíduos com alimentação animal havia

aumentado. Entendemos que isso foi resultado das várias palestras que foram ministradas

sobre esse tema e também um indício de que os alunos passaram a observar melhor o lixo

produzido em suas casas, o que evitou que menos resíduos orgânicos fossem desperdiçados.

55

7.2.6. Questão 6: O que é feito com as latas de alumínio, garrafas pet, vidros, caixas de

leite, plásticos diversos (sacolas de mercado, por exemplo), pilhas comuns e baterias de

celulares que, depois de usados, são considerados lixo em sua casa?

Quadro 6: Respostas à questão 6

ALTERNATIVAS Pré-teste Pós-teste

a) Colocamos tudo junto no saco de lixo e

deixamos na lixeira.

21 18

b) Colocamos fogo em tudo, no fundo de casa, e

depois enterramos.

- -

c) Separamos tudo em recipientes apropriados e

mandamos para reciclagem.

6 9

d) Não me importo com o que é feito com o lixo

da minha casa.

- -

Fonte: Dados da pesquisa.

O resultado deste item também foi satisfatório, porque mostrou uma ligeira mudança

de atitude com relação a esses materiais. No início, havia uma preferência maior por jogar

seus resíduos no lixo sem preocupação com a toxicidade dos mesmos. Com as informações

adquiridas no projeto, houve uma mudança de postura por parte dos entrevistados, pois alguns

passaram a não jogar mais tudo no lixo simplesmente e passaram a encaminhá-los para

reciclagem. Concluímos que a metodologia desenvolvida no projeto foi eficaz na mudança de

valores.

7.2.7. Questão 7: Você sabe quais são os projetos que a Secretaria de Meio Ambiente

desenvolve com relação ao lixo da sua cidade?

Quadro 7: Respostas à questão 7

ALTERNATIVAS Pré-teste Pós-teste

a) Só conheço a coleta feita pelo

caminhão da prefeitura.

17 22

b) Não conheço nenhum. 4 1

c) Não me interesso em saber. - -

d) Sim. Qual(is)? ______ 6 4

Fonte: Dados da pesquisa.

Esta questão buscou abordar o conhecimento do aluno com relação aos serviços

públicos relacionados ao lixo, ou melhor, se o entrevistado tinha consciência de qual é a

responsabilidade do poder público sobre essa área. Sabendo de quem é a responsabilidade de

56

cada setor público da cidade, adquirimos uma visão melhor do funcionamento da mesma e de

nosso papel nesse contexto. Como o projeto falou apenas de destinação do lixo, o resultado

desta questão também alcançou o objetivo, que foi conscientizar o aluno sobre o papel da

prefeitura na coleta de lixo. Além disso, cada um passou a observar e valorizar mais o serviço

dos trabalhadores desse setor. Vale ressaltar, também, que, colocando o lixo na porta para ser

coletado, muitas casas deixaram de queimá-lo, contribuindo para a diminuição da poluição do

ar. As respostas do item d) se devem ao trabalho que a prefeitura realiza com a reciclagem de

garrafas pets durante as festas natalinas. Quase todos os enfeites de Natal são produzidos com

essas garrafas e ficam expostos durante um longo período no centro da cidade.

7.2.8. Questão 8: Qual deve ser o destino correto para o lixo hospitalar?

Quadro 8: Respostas à questão 8

ALTERNATIVAS Pré-teste Pós-teste

a) Como todo lixo, deve ser jogado no lixão. - -

b) Deve ser armazenado em recipientes

adequados e enviados para reciclagem.

6 5

c) Devem ser queimados em locais

apropriados.

21 22

d) Não me importo com o que será feito com

esse e nenhum outro tipo de lixo.

- -

Fonte: Dados da pesquisa.

Esta questão visava saber se os alunos tinham algum conhecimento sobre o destino

dado a um tipo especial de lixo, o hospitalar. Em ambos os testes, verificamos um bom nível

de informação com relação a isso, pois a maioria dos alunos respondeu corretamente.

Acreditamos que isso seja fruto de uma intensa campanha que é feita pela prefeitura junto aos

estabelecimentos comerciais e hospitais, para não descartarem o lixo direto no lixão ou

queimar. A população, em geral, é instruída por televisão e rádio locais.

57

7.2.9. Questão 9: O que deve ser feito com o grande e crescente lixão que há bem na

entrada de sua cidade?

Quadro 9: Respostas à questão 9

ALTERNATIVAS Pré-teste Pós-teste

a) Deve ser construído outro mais longe, para que os

odores ruins e a fumaça das queimadas não causem

mais problemas aos habitantes da cidade.

4 1

b) Devem queimar todo o lixo que está ali e, depois

de limpo, haverá mais espaço para jogar mais lixo.

- -

c) Devem jogar terra por cima e construir um aterro

sanitário no mesmo lugar.

2 5

d) Construir um aterro sanitário longe da cidade e

levar para lá somente o lixo orgânico que não pode

ser reciclado e transformado em novos objetos.

21 21

Fonte: Dados da pesquisa.

O objetivo deste item era descobrir que conhecimento o aluno tinha a respeito da

diferença entre lixão e aterro sanitário. No pré-teste, apesar de muitos terem marcado a letra

“d” e, com isso, mostrarem conhecer o que é um aterro sanitário, queremos destacar os 4 que

marcaram a letra “a”. Na alternativa “a”, o aluno simplesmente deseja se livrar do problema,

fazendo com que o lixão se afaste mais ainda da cidade. Precisamos considerar esses dados,

mesmo que em pequena escala, pois provavelmente é o desejo de muitos outros habitantes

dessa cidade. Mas, quando vemos no segundo teste a mudança de postura dessas pessoas,

percebemos que o projeto e suas atividades proporcionaram um momento de aprendizagem,

pois os alunos já entendem melhor o que é aterro sanitário e já não mais desejam o lixão.

Prova disso também está na alternativa “c”, em que apenas dois alunos marcaram no pré-teste

e depois houve uma pequena mudança de opinião no pós-teste, comprovando que realmente

houve entendimento sobre a necessidade de um aterro sanitário e não de um lixão.

58

7.2.10. Questão 10: Qual seria a melhor opção à destinação do lixo doméstico de sua

cidade?

Quadro 10: Respostas à questão 10

ALTERNATIVAS Pré-teste Pós-teste

a) Lixão apenas. - -

b) Aterro sanitário apenas. - -

c) Usina de reciclagem apenas. 1 1

d) Aterro sanitário e usina de

reciclagem juntos.

26 26

Fonte: Dados da pesquisa.

Esta última questão foi muito importante para verificar se os alunos tinham alguma

informação sobre o que era uma usina de reciclagem ou, pelo menos, uma ideia sobre a sua

importância. Para nossa surpresa, a maioria dos alunos marcou a letra “d”, mostrando

preocupação com a necessidade de uma cidade ter tanto o aterro sanitário quanto a usina de

reciclagem. No pós-teste, o resultado se manteve, nos dando tranquilidade para afirmar que,

sobre esses temas, muito trabalhados em nosso projeto, os alunos estão bem informados.

7.3. Feira de Ciências

Nos dois dias que antecederam à apresentação, houve a elaboração do logotipo do

Projeto (Figura 5) e o preparo da sala. No dia previsto para a realização da Feira de Ciências,

os alunos participantes do projeto chegaram uma hora mais cedo, como havia sido combinado

previamente. A sala de aula escolhida, já devidamente limpa e pintada no dia anterior (Figura

6), passou por adaptações para que os objetos fossem expostos e as pessoas tivessem uma

maior facilidade na circulação pelo ambiente. Vale salientar que, ao terminar a pintura da sala,

uma aluna perguntou se poderiam aproveitar algumas tintas que a turma havia ganhado para

que todos pudessem sujar as mãos e deixar a impressão das mesmas nas paredes. Foi

permitida a atividade, mas os alunos foram orientados a fazer isso apenas numa parede. O que

parecia ser uma brincadeira deu um excelente resultado. Essa iniciativa dos alunos acabou se

transformando numa grande obra de arte, um belo painel de 8,20 m de comprimento e 1,85 m

de largura, que surpreendeu a todos que por ali passaram durante toda a Feira. Na ocasião,

aproveitamos para trabalhar com os alunos uma simbologia ecológica para aquela obra.

Ressaltamos que todas aquelas mãos juntas e impressas ali representavam as marcas de cada

59

um no meio ambiente. Todos nós deixamos marcas na natureza e basta saber que tipo

queremos deixar, se é uma sustentável e consciente ou uma que nenhum de nossos

descendentes terá o prazer de ver. A ideia foi tão boa que, de toda a Feira de Ciências, a única

foto que saiu no jornal da cidade foi uma em que estavam os alunos e esse painel ao fundo

(Figura 7).

A maior parte das cadeiras foi retirada juntamente com as mesinhas dos alunos,

ficando, apenas, algumas dessas últimas e a mesa do professor. As carteiras foram unidas em

fileiras e colocadas próximas às paredes, de modo que os apresentadores de ficassem de

costas para as mesmas e, com isso, foi criado, também, um grande espaço no centro (Figuras

8, 9 e 10). Num dos cantos do ambiente foi criado um espaço que representava uma pequena

sala doméstica, em que todos os seus objetos eram feitos com material reciclado (Figura 11).

Na entrada da sala, ficaram sempre dois alunos recebendo e orientando os visitantes.

Todos aqueles que foram escalados para apresentar os objetos produzidos tiveram uma

orientação prévia de como o deveriam fazer, ou seja, explicando corretamente como cada um

havia sido confeccionado, desde a coleta da matéria-prima até o resultado final, e, ainda, a

importância ecológica daquele trabalho. No corredor, em frente à entrada da sala, foi

pendurada uma placa, também feita com material reciclado, identificando o nome do projeto

(Figura 12).

Com início previsto para 9 horas, a comunidade escolar teve permissão para entrar na

escola e começar a visitar todos os projetos em amostra. Da entrada da sala até a última mesa,

todos os apresentadores desempenharam corretamente suas tarefas. O Projeto “Reciclando

Valores” foi um dos mais visitados e fotografados da Feira de Ciências. Vários objetos foram

doados aos visitantes, que ficavam muito entusiasmados com a criatividade dos alunos.

Alguns desses objetos podem ser vistos no Apêndice E e também na cartilha produzida como

produto desta pesquisa.

As apresentações ocorreram durante todo o dia e encerraram às 21 horas desse mesmo

dia. Como já era noite, muitos alunos não puderam ficar, por recomendação de suas famílias,

mas aqueles que ficaram atenderam prontamente ao pedido da direção da escola que

deixassem tudo arrumado e limpo antes de ir embora.

60

Figura 5: Logotipo do Projeto

Fonte: Designer Ricardo Fernandes Machado.

Figura 6: Alunos pintando a sala de apresentação no dia anterior à Feira de Ciências

Fonte: Acervo do autor, 2013.

Figura 7: Alunos do projeto com painel artístico ao fundo

Fonte: Acervo do autor, 2013.

61

Figura 8: Mesas dispostas na lateral esquerda da sala

Fonte: Acervo do autor, 2013.

Figura 9: Mesas dispostas ao fundo da sala

Fonte: Acervo do autor, 2013.

Figura 10: Mesas dispostas na lateral esquerda da sala

Fonte: Acervo do autor, 2013.

62

Figura 1: Sala montada no canto direito da sala, toda com objetos reciclados

Fonte: Acervo do autor, 2013.

Figura 12: Placa de identificação do projeto feita com papelão

Fonte: Acervo do autor, 2013.

Considerando todas as etapas cumpridas, confirmamos que

O objetivo central da educação de CTS no ensino médio é desenvolver a

alfabetização científica e tecnológica dos cidadãos, auxiliando o aluno a construir

conhecimentos, habilidades e valores necessários para tomar decisões responsáveis

sobre questões de ciência e tecnologia na sociedade e atuar na solução de tais

questões (AIKENHEAD, 1994a; IGLESIA, 1995; HOLMAN, 1988; RUBBA e

WIESENMAYER, 1988; SOLOMON, 1993b; YAGER, 1990; ZOLLER, 1982). As

propostas identificam, assim, três objetivos gerais: (1) aquisição de conhecimentos,

(2) utilização de habilidades e (3) desenvolvimento de valores (BYBEE,

1987).(SANTOS; MORTIMER, 2002, p. 4).

63

Acreditamos que todos esses objetivos foram alcançados. As entrevistas realizadas ao

final do projeto mostraram bem o quanto esses alunos progrediram nessa caminhada da

cidadania consciente e libertadora. Podemos, também, afirmar que houve sucesso com relação

ao desenvolvimento dos itens expostos no trecho abaixo:

Dentre os conhecimentos e as habilidades a serem desenvolvidos, Hofstein,

Aikenhead e Riquarts (1988) incluem: a autoestima, a comunicação escrita e oral, o

pensamento lógico e racional para solucionar problemas, a tomada de decisão, o

aprendizado colaborativo/cooperativo, a responsabilidade social, o exercício da

cidadania, a flexibilidade cognitiva e o interesse em atuar em questões sociais.

(SANTOS; MORTIMER, 2002, p. 4).

Para Santos e Mortimer (2002), é preciso que haja desenvolvimento de novos valores,

principalmente aqueles que estejam em conformidade com os interesses da coletividade, da

solidariedade, da fraternidade, da consciência do compromisso social, da reciprocidade, do

respeito ao próximo e da generosidade. O projeto “Reciclando Valores” conseguiu isso com

suas atividades, formando alunos mais atentos às necessidades humanas e mais

questionadores à ordem capitalista vigente.

7.4. Bazar Solidário

Desde que nascemos, somos bombardeados, direta ou indiretamente, por lições de

cidadania. Por nossos familiares e nossos professores, pela igreja e pela mídia somos

informados de que é necessário ajudar o próximo, evitar brigas, ser honesto, ser educado e

vários outros atributos que qualificam o “bom cidadão”. Mesmo assim, o que se vê é uma

sociedade em que as pessoas não se respeitam, a violência cresce cada vez mais, bullying

generalizado, homofobia, preconceitos de todos os tipos e destruição da natureza nunca vista

antes, para fomentar um consumismo inconsequente. O que está ocorrendo? O que fazer? De

acordo com Paulo Freire, a Educação, com enfoque Libertador, tem papel fundamental na

busca de respostas para essas perguntas. Mas, para que soluções apareçam, é necessário o

comprometimento de toda a comunidade escolar, de modo que o conhecimento produzido no

processo ensino-aprendizagem não fique apenas na sala de aula. Quando o aluno perceber que

cada conhecimento tem relação com seu cotidiano e que ele pode deixar de ser simplesmente

um espectador da vida para ser um agente de sua própria história, certamente teremos um

indivíduo caminhando, com passos firmes, rumo à verdadeira formação cidadã. A formação

cidadã de que falamos aqui é, segundo Paulo Freire, aquela que liberta o ser humano das

amarras comportamentais, geralmente impostas pelos governos e grandes corporações.

64

Com base no exposto, foi feito o Bazar Solidário, com a proposta de levar o aluno do

projeto a ter uma oportunidade de aplicar seus conhecimentos rumo a essa cidadania

libertadora. Depois de compreenderem o conceito de Reutilização, foram, então, para um

ambiente em que pudessem realmente perceber em quais circunstâncias o mesmo pode ser

aplicado. A preparação para o evento começou um dia antes, na Escola Palma Muniz. Nesse

dia, os alunos colocaram todos os objetos doados sobre as mesas e foram separando-os por

tamanho, qualidade, gênero e numeração (Figura 13). Depois de tudo separado, foi decidido,

entre todos, que o preço cobrado por peça seria um valor único: R$2,00 (dois reais) para

roupas e calçados e R$0,50 (cinquenta centavos) para bijuterias. Tudo foi embalado

novamente e guardado para ser levado ao local do Bazar no dia seguinte. Como combinado

anteriormente, os alunos compareceram ao local com uma hora de antecedência. Mas não

compareceram todos os alunos. Apenas 8 (oito) alunos compareceram ao evento, de um total

de 27 (vinte e sete) que estavam participando do projeto. As justificativas foram as mais

diversas para tais ausências, como:

“Estava trabalhando professor.”

“Meus pais não deixaram professor.”

“Esqueci professor.”

“Dormi demais professor.”

Ao escutar os alunos faltosos, percebemos bem o que Paulo Freire disse em Pedagogia

da Autonomia:

[...] se trabalho com jovens ou adultos, não menos atento devo estar com relação a

que o meu trabalho possa significar como estímulo ou não à ruptura necessária com

algo defeituosamente assentado e à espera de superação. Primordialmente, minha

posição tem de ser a de respeito à pessoa que queira mudar ou que recuse mudar.

Não posso negar-lhe ou esconder-lhe minha postura, mas não posso desconhecer o

seu direito de rejeitá-la. Em nome do respeito que devo aos alunos não tenho por que

me omitir, por que ocultar a minha opção política, assumindo uma neutralidade que

não existe. Esta, a omissão do professor em nome do respeito ao aluno, talvez seja a

melhor maneira de desrespeitá-lo. O meu papel, ao contrário, é o de quem

testemunha o direito de comparar, de escolher, de romper, de decidir e estimular a

assunção deste direito por parte dos educandos. (FREIRE, 2002, p. 28).

65

Figura 2: Disposição das roupas em mesas centrais no dia do Bazar

Fonte: Acervo do autor, 2013.

Entendemos que todo indivíduo tem o direito de escolher participar ou não de

qualquer atividade, o que faz parte do estado democrático em que vivemos. Contudo, estamos

diante de um trabalho que visa à solidariedade e ao estímulo de valores humanos que já estão

muito esquecidos. O professor precisa estar constantemente estimulando seus alunos a se

envolverem e a perceberem a importância de fomentar tais valores. Diante do exposto e do

reconhecimento dos próprios alunos de que realmente os motivos eram pouco plausíveis para

justificar tantas ausências, concluímos que ainda há um grande caminho pela frente nessa

tentativa de mudança de valores. Fazer com que esses jovens, num mundo em que pouco se

estimula a caridade, se sensibilizem e partam para uma iniciativa como esta não é uma tarefa

fácil. Não podemos nos esquecer, também, das famílias de onde esses alunos vêm. Suas

justificativas possuem um contexto histórico que também precisa ser considerado. Por isso

não estamos criticando os alunos faltosos, apenas queremos deixar claro que a sensibilização

deve abarcar todas as áreas da vida desse aluno. Contudo, quando observamos aqueles oito

jovens que foram ao evento, trabalhando arduamente por oito horas seguidas, deixando até de

ir almoçar em suas casas (Figura 14), acreditamos que há esperança e não podemos desistir de

continuar tentando. Essa esperança que discutimos aqui está bem fundamentada nas palavras

de Paulo Freire, em Pedagogia da Autonomia, quando afirma:

É preciso ficar claro que a desesperança não é maneira de estar sendo natural do ser

humano, mas distorção da esperança. Eu não sou primeiro um ser da desesperança a

ser convertido ou não pela esperança. Eu sou, pelo contrário, um ser da esperança

que, por "n" razões, se tornou desesperançado. Daí que uma das nossas brigas como

seres humanos deva ser dada no sentido de diminuir as razões objetivas para a

desesperança que nos imobiliza. (FREIRE, 2002, p. 29).

66

Figura 3: Alunos lanchando no intervalo de trabalho do Bazar

Fonte: Acervo do autor, 2013.

Não só os alunos, mas também o professor e pesquisador, descobrimos que é possível

mudar a partir da problematização do futuro, negando o determinismo deste mundo

mecanicista. Isso tudo nos mostrou que, conforme Paulo Freire:

É a partir deste saber fundamental: mudar é difícil, mas é possível, que vamos

programar nossa ação político-pedagógica, não importa se o projeto com o qual nos

comprometemos é de alfabetização de adultos ou de crianças, se de ação sanitária, se

de evangelização, se de formação de mão-de-obra técnica. (FREIRE, 2002, p. 31).

Os resultados da ação político-pedagógica que escolhemos foram os melhores

possíveis. Conforme relata Paulo Freire em Pedagogia da Autonomia, os alunos entenderam

que:

O bom clima pedagógico-democrático é o em que o educando vai aprendendo à

custa de sua prática mesma que sua curiosidade como sua liberdade deve estar

sujeita a limites, mas em permanente exercício. Limites eticamente assumidos por

ele. Minha curiosidade não tem o direito de invadir a privacidade do outro e expô-la

aos demais. (FREIRE, 2002, p. 33).

Foram vendidas mais de trezentas peças entre roupas, calçados e bijuterias, e vários

brinquedos foram doados às crianças que estavam acompanhando os pais. Além dos

brinquedos, a doação das cestas básicas também foi um sucesso. Quando os alunos do projeto

entregaram as cestas às pessoas sorteadas, era possível perceber que, naquele momento, eles

haviam compreendido verdadeiramente o conceito de cidadania (Figura 15). Não estamos

falando aqui de assistencialismo barato, mas de adolescentes que estão saindo de uma zona de

conforto, por possuírem celulares da moda, guarda-roupas abarrotados de roupas e calçados e

67

comida farta todos os dias, para perceberem que ainda há muito que fazer para melhorar nossa

sociedade e, mais ainda, que podem ser atores desse processo. Todo o dinheiro arrecadado,

em torno de R$700,00 (setecentos reais), foi doado à Escola Professor Hernane, que

gentilmente, na pessoa de sua diretora, estava nos cedendo o espaço. Segundo a diretora, o

dinheiro chegou numa boa hora, pois estavam precisando para comprar os uniformes da

fanfarra, o que foi feito e levou muita alegria para toda a comunidade escolar.

Figura 15: Alunos entregando cesta básica para senhora sorteada

Fonte: Acervo do autor, 2013.

Muitos objetos sobraram ao final do Bazar e os alunos decidiram doar tudo para uma

igreja. Alguns dias depois, esse material foi levado para os catadores de lixo que trabalhavam

no lixão da cidade, como forma de doação.

7.5 A Entrevista

Para desenvolver esta etapa, os alunos foram convidados a estar na Escola Estadual

Palma Muniz, no dia 30 de novembro de 2013, período vespertino. Com antecedência e para

não causar tumultos e esperas desnecessárias, marcamos as entrevistas com horários pré-

68

determinados. Como era um sábado e não havia atividades na escola, foi possível ter

tranquilidade e silêncio para fazermos as perguntas aos grupos.

O resultado foi satisfatório e comprovou nossa teoria sobre a importância de uma

Educação Ambiental voltada à formação cidadã. Os alunos ficaram tranquilos e descontraídos

para responder a todos os questionamentos.

Vale destacar aqui alguns dos posicionamentos dos grupos em relação a essas

perguntas:

a) Grupo 01 - Cesta, abajur, jarro de flores:

“Foi interessante, pois aprendi que posso reutilizar coisas que sobraram da festa de

aniversário para fazer utensílios que podem ainda ser utilizados.”

“Uma cesta feita com estes materiais tem mais importância para mim, pois mostra

criatividade e é um aprendizado que podemos passar para outras pessoas.”

“As pequenas coisas que aparentemente deveriam ser descartadas puderam ser

usadas novamente para o uso humano.”

“A natureza também foi favorecida, pois deixamos de mandar mais lixo para ela.”

“O trabalho em grupo foi ótimo, pois mostrou a criatividade de cada um, pois não

tínhamos ideia do que ia fazer no início e as ideias foram surgindo com o material coletado

diante de nós. Foi feita uma pesquisa prévia na internet e as formas dos materiais foram

aparecendo.”

“Tudo isso foi importante para mim, pois eu não imaginava que com sobras de festas

de aniversário poderia se fazer tanta coisa. Não compramos praticamente nada, só a cola

quente e o grampeador e o alfinete, o resto tínhamos tudo em casa e também as sobras da

festa.”

Consciência ecológica, criatividade e coletividade são pontos marcantes nessas falas.

Os alunos alcançaram maturidade nesses quesitos, os quais fazem desta etapa do Projeto um

exemplo a ser seguido.

69

b) Grupo 02 - Poltrona:

“A ideia surgiu na sala mesmo, pesquisamos na internet e a ideia do projeto surgiu no

mesmo instante.”

“Podemos reutilizar um material que iria ser jogado no lixo prejudicando o meio

ambiente.”

“E podemos evitar problemas como a dengue.”

Um aluno relatou que está usando essas ideias em casa, guardando garrafas pet e

embalagens de margarina e fazendo pesquisas na internet sobre o reuso desses objetos.

“O trabalho em grupo foi bom, pois todos participaram e ajudaram.”

“Tudo foi importante, pois levamos esse aprendizado para a vida toda.”

Neste grupo, o que obteve destaque foram as falas voltadas à extensão do que se

aprendeu com o Bazar para o dia a dia dos alunos. O trabalho escolar foi além dos muros da

escola e, ao envolver a comunidade, mostra os resultados positivos na construção de um

meio ambiente menos poluído.

c) Grupo 03 - Colar, pulseiras, bolsa, flores, caixinhas:

“Agora, tenho mais consciência sobre não jogar mais lixo na rua.”

“Em casa as coisas que podem ser recicladas parecem ser mais visíveis.”

“A reutilização passou a fazer mais sentido, outras utilidades podem ser dadas a

coisas que poderiam ir para o lixo.”

“Tudo pode ser transformado, depende da cabeça de cada um e da vontade, até

pessoas podem ser transformadas.”

70

O nível de conscientização, visto nesta última fala, surpreendeu por sua clareza e

profundidade. O aluno abriu sua mente para enxergar além daquilo que foi ensinado em sala

de aula. Agora, ele não é mais um mero depósito de conhecimento, fruto de um sistema

capitalista decaído, mas é gente, e gente que questiona, que interfere e que muda.

d) Grupo 04 - Lustres, estante para sala, pintura de garrafas, enfeite de parede,

flores, banquinho, cofrinho, porta-treco:

“Valor da reciclagem, o lixo tem um valor, isso também mexeu com a nossa

consciência, pois agora sabemos que podemos reutilizar vários produtos que deveriam ir

para lixo, em nossas casas os materiais produzidos estão tendo utilidade.”

“Também aprendemos que a reutilização é importante, pois coisas que deveriam ir

para o lixo ganharam outras funções.”

“Passando pela rua vimos em vitrines de lojas enfeites com várias ideias que nós

utilizados no projeto.”

“Passamos a observar mais tudo que é feito com reciclagem.”

Quando o aluno é despertado para ser um bom observador, capaz de inferir sobre

aquilo que vê e tentar mudar se não gostar, estamos diante de um fenômeno educacional

muito positivo. O simples fato de fazer o aluno parar para observar o mundo que o cerca de

forma crítica já é para nós algo muito positivo, principalmente nos dias de hoje em que os

jovens são imediatistas e com pouca objetividade em suas atitudes.

e) Grupo 05 - Vasos com flores pequenos:

“Entendemos o sentido da reutilização, estamos prestando mais atenção nas coisas

que podem ser recicladas em casa.”

“Estamos fazendo coisas em casa com materiais reciclados mesmo depois da feira.”

“Fazendo este trabalho aprendemos que estamos preservando o meio ambiente.”

71

Perguntados sobre se apenas esse projeto resolveria os problemas ambientais do

mundo, uma menina falou:

“O importante é que estamos fazendo cada um a sua parte.”

Uma das meninas que tinha muitos problemas de disciplina e de interesse no começo

do ano disse:

“Fui despertada para a Biologia com este projeto.”

Todos os alunos do grupo disseram ao final que o professor ajudou muito neste

projeto, pois mostrou empenho se envolvendo realmente em todo o processo.

Ao sentir-se parte do ambiente, o aluno descobriu que ele também é responsável por

ele. O despertar para essa responsabilidade produz um indivíduo que não mais está na

margem do rio, mas sim um ser que é capaz de tentar atravessá-lo, mudando o seu curso

quantas vezes forem necessárias, encontrando o caminho correto, ou querendo retornar ao

ponto de onde começara.

f) Grupo 06 - Guirlanda de Natal, cortina, árvore de Natal, abajur, carteira para

dinheiro, cofrinho:

“O trabalho em grupo foi muito bom no grupo.”

“Coisas que seriam descartadas passaram a ter utilidade.”

“Fomos buscar matéria-prima na rua em lixeiras e muitas pessoas chamavam a gente

de malucos por estarmos fazendo isso.”

“Nos sentimos humilhados com as críticas das pessoas e agora sabemos como se

sentem as pessoas que trabalham como catadores de lixo.”

“A forma de ver o ambiente mudou, pois agora estamos mais atentos ao lixo que

produzimos, tanto em casa quanto na rua.”

72

“Não jogamos mais lixo nas ruas, e em casa procuramos aproveitar melhor o lixo que

produzimos.”

No momento que houve a percepção da tentativa de constrangimento, por parte

daqueles que criticavam o trabalho deles, ficaram indignados com isso, demonstrando que

ocorreu um aprendizado a respeito das condições reais de trabalho a que são submetidos os

catadores de material reciclado. Dessa maneira, poderão olhar os catadores como cidadãos,

como gente, como pessoas integradas na sociedade. Um comportamento notoriamente

cidadão foi construído aqui.

g) Grupo 07 - Brinquedo, flores, porta caneta, porta-joias:

“Achei que valeu a pena, pois muitas outras pessoas podem fazer uso dos materiais

que produzi.”

h) Grupo 08 - Enfeite para mesa em forma de pato e jarros:

“Muitas coisas que não damos valor percebemos que podem ser recicladas e

reutilizadas.”

“O projeto foi importante, pois causou mudança na vida cotidiana dos alunos, muitas

coisas são guardadas agora e não jogadas simplesmente no lixo.”

“Se não tivesse o incentivo da nota, poucos alunos teriam entrado no projeto da Feira

de Ciências, pois é muito difícil fazer com que as pessoas se envolvam com esse tipo de

material e isso é devido a muito preconceito da sociedade.”

“Com o projeto aprendemos que coisas simples podem fazer grande diferença na vida

das pessoas.”

“O bazar mexeu muito com todos que participaram ao verem a alegria das pessoas

tendo a oportunidade de adquirir roupas e brinquedos com preços tão baixos.”

“Muitos donos de lojas, onde fomos pedir patrocínios, não nos receberam bem e até

mentiram para não dar ajuda, mesmo quando explicamos sobre o que era o projeto.”

73

Isso mostrou que os alunos estão atentos às desigualdades sociais e conscientes de que

muita coisa precisa ser melhorada em nossa sociedade.

i) Grupo 09 - Caixa quadrada estilo porta-trecos com tampa, baldinho para mesa sem

tampa:

Mais uma vez outro grupo falou sobre a importância da reutilização.

“Muita coisa em casa que seria jogada fora agora está sendo reutilizada em nossas

casas.”

“Muito aprendizado foi obtido, pois havia muitas curiosidades que não conheciam e

podia ser feito com reciclagem.”

“Se não tivesse sido oferecido nota, a turma toda não teria participado tanto e não

chegaríamos onde chegamos, mas talvez pelo professor a turma teria participado um pouco

mais mesmo não valendo nota.”

Se o professor não se envolver, os alunos terão muita dificuldade de chegar aos

objetivos propostos. O professor é fundamental na motivação. Uma das alunas relatou que, na

escola, sempre que vai jogar fora um lixo pensa duas vezes antes de jogar no chão e, nesse

sentido, o projeto lançou uma sementinha de mudança em seu coração. A outra aluna relatou

que, agora, tem olhos mais atentos com relação aos objetos que seriam jogados fora na sua

casa e sempre fica imaginando o que poderia ser feito com aquilo, o que também mostra

alguma mudança.

Em quase todos os grupos, notamos algumas falas que se repetem, como o despertar

da atenção ao lixo produzido em casa e a preocupação em não mais poluir o meio ambiente.

Tudo isso só nos alegra, como educador, pois percebemos que houve mudanças claras nas

vidas desses alunos e certamente sementes de um mundo mais sustentável foram lançadas.

74

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nossa experiência como educador, durante a realização deste projeto, foi muito

gratificante. Percebemos que os alunos realmente tiveram mudanças em seus valores depois

de desenvolverem as atividades propostas. Solidariedade, trabalho em grupo e

responsabilidade social foram alguns dos atributos que destacamos terem sido evidenciados

no trabalho dos alunos.

A realização da Feira de Ciências foi considerada, por todos, um sucesso. Os visitantes

entenderam bem as explicações dos alunos e muitos até perguntavam se os objetos em

amostra podiam ser vendidos, por acharem de grande utilidade. Alguns grupos receberam,

também, encomendas dos visitantes para produção de novas peças. Tudo isso só confirma a

validade de nossos argumentos em defesa de uma Educação Libertadora em conformidade

com os pressupostos pedagógicos de Paulo Freire.

Durante o Bazar Solidário, foi perceptível o desenvolvimento dos alunos. O espírito

cooperativo, a solidariedade e a responsabilidade estiveram evidentes no comportamento de

todos. Alunos que tinham problemas de comunicação em sala de aula mostraram grande

avanço nessa área e foram fundamentais para que tudo desse certo. O mais surpreendente foi

ver uma das alunas, que tinha um histórico de mau comportamento em sala de aula, trabalhar

com afinco e responsabilidade em todos os momentos.

Após o término do projeto, ficou claro que, quando a Educação Ambiental realmente é

trabalhada conforme somos instruídos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, a trilogia

ensino-pesquisa-extensão torna-se uma realidade. Quando fizemos a entrevista com os alunos,

ficou mais claro ainda que os bons valores que tanto tentamos estimular foram apreendidos.

As falas dos alunos ao final da entrevista foram decisivas em nossas conclusões.

Também vale destacar que depois de participarem de todas as atividades do Projeto os

alunos resolveram que também gostariam de estar presentes na apresentação do mesmo, na

PUC Minas, por ocasião da defesa da Dissertação. Durante oito meses esses alunos

trabalharam vendendo doces em festas, fazendo rifas, pedindo patrocínios, vendendo feijoadas

e arrecadando roupas para vender na modalidade bazar, em comunidades carentes. Todas as

atividades foram desenvolvidas com a intenção de arrecadar fundos para financiar a viagem

de Redenção até Belo Horizonte. A viagem aconteceu com muito sucesso e além de

participarem da defesa da Dissertação os alunos e professores colaboradores tiveram a

oportunidade de realizar passeios turísticos e pedagógicos por Belo Horizonte. O esforço e a

dedicação desses alunos impressionaram a todos e mostrou que o Projeto Reciclando Valores

75

realmente alcançou seus vários objetivos. Os alunos tiveram a oportunidade de desenvolver

ações empreendedoras, sociais e culturais, mostrando mudanças reais em seus

comportamentos frente aos desafios do futuro. Muitos que não tinham mais esperança ou nem

mesmo sonho de fazer uma Faculdade, agora, mostram empenho em manter esse sonho vivo

através de mais estudos.

Alegria, prazer, determinação e otimismo foram atitudes comuns e marcantes na vida

desses alunos nos dias que se seguiram. O sentimento de dever cumprido, ajudando o próximo

e sendo ator do processo educativo, fez desses alunos seres mais preparados e conscientes no

mundo que os cerca. Valeu a pena, precisamos continuar.

76

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SANT’ANNA, V. M. Ciência e Sociedade no Brasil. São Paulo: Símbolo, 1978.

SANTOS, W. L. P. Contextualização no ensino de ciências por meio de temas CTS em uma

perspectiva crítica. Ciência e Ensino, v. 1, número especial, nov. 2007.

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C-T-S (Ciência – Tecnologia – Sociedade) no contexto da educação brasileira. Ensaio –

Pesquisa em Educação em Ciências, v. 2, n. 2, dez. 2002.

SANTOS, W. L. P.; SCHNETZLER, R. P. Educação em química: compromisso com a cidadania.

Ijuí: UNIJUÍ, 1997

SEARA FILHO, Germano Seara, Apontamentos de introdução à Educação Ambiental. Ambiente,

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SOLOMON, J. Teaching science, technology and society. Buckingham: Open University Press,

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SOUZA, Ana Inês. Relação entre educação popular e movimentos sociais na perspectiva

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80

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ZOLLER, U. Decision-making in future science and technology curricula. European Journal of

Science Education, v. 4, n. 1, p. 11-17, 1982.

81

APÊNDICE A – AUTORIZAÇÃO

Eu, Ricardo Rozette Vicente Gomes, Professor de Biologia da Escola Estadual

Engenheiro Palma Muniz, estou fazendo o Mestrado PUC MINAS, Ensino de Ciências e

Matemática, modalidade Biologia, desde janeiro de 2013. O projeto tem como foco o tema

transversal “Meio Ambiente” e visa à construção de valores mais consistentes e direcionados

à formação de um cidadão mais consciente a respeito da sustentabilidade ambiental.

O tema relativo aos resíduos sólidos é atual e de grande interesse e relevância aos

municípios brasileiros, sobretudo após a edição da tão esperada Lei federal n. 12.305, de 2 de

agosto de 2010, que “Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei n. 9.605,

de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências.” Com base nesta Lei e em vários outros

fundamentos teóricos estaremos desenvolvendo duas atividades pedagógicas, Feira de

Ciências e Bazar Solidário, e outras que julgarmos oportunas para que os objetivos principais

sejam cumpridos. Todas as atividades serão fotografadas para fazerem parte do corpo do texto

da dissertação final do projeto, a qual será entregue na PUC Minas no final de 2014. Para

tanto, preciso que os pais permitam que sejam feitas imagens de seus filhos e, caso alguém

não permita, teremos o cuidado de não mostrar o rosto do aluno durante a edição do material.

Só quero ressaltar que a participação do aluno no projeto é estritamente pedagógica e as fotos

e as filmagens são ferramentas fundamentais neste tipo de pesquisa como procedimento

documental, por isso, mesmo que não permitam, por favor, não deixem seu filho fora do

projeto, pois certamente haverá grande aprendizagem depois do mesmo. Ao final deste

bilhete, haverá um espaço para que os pais coloquem sua opinião, preencham, imprimam e

assinem para que o aluno possa entregar ao professor.

A Escola Estadual Engenheiro Palma Muniz, que já tem um excelente trabalho neste

sentido, abraçou nossa causa e está dando todo apoio possível. Quando os alunos precisarem

ir até uma palestra ou a qualquer outro evento, os pais serão avisados com antecedência e

poderão se programar melhor. Gostaríamos muito que seu filho, ou melhor, que toda a família

participasse desse projeto, nos ajudando a formar cidadãos mais conscientes e participativos.

Qualquer dúvida que tiverem, por favor, entrem em contato por e-mail:

[email protected] ou venham na escola nos dias em que leciono.

Desde já sou grato pela atenção.

□ Autorizo meu filho a participar do projeto e de todo o processo de produção de

imagens.

□ Autorizo meu filho a participar do projeto, mas não gostaria que fizessem fotos do

mesmo.

□ Não autorizo meu filho a participar do projeto.

____________________________________________________

Assinatura do pai, mãe ou responsável.

Obs.: Nosso próximo encontro será em breve e seria ótimo se os pais pudessem ir junto com

seus filhos para tirar todas as dúvidas que ainda restarem.

82

APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ALUNOS

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BELO HORIZONTE

Programa de Pós-graduação/mestrado em Ensino de Ciências e Matemática

Mestrando: Ricardo Rozette Vicente Gomes

Orientadora: Dra. Cláudia Sabino

QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ALUNOS DO SEGUNDO ANO, TURMA A,

VESPERTINO, ENSINO MÉDIO, DA ESCOLA ESTADUAL ENGENHEIRO PALMA

MUNIZ, EM ___/___/201__.

POR FAVOR, RESPONDA ÀS QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA APENAS

FAZENDO UM CÍRCULO NA ALTERNATIVA (APENAS UMA) QUE VOCÊ JULGAR

CORRETA. JÁ NAS QUESTÕES DISSERTATIVAS, USE CANETA AZUL OU PRETA

PARA DESCREVER SEUS COMENTÁRIOS.

1. Quantos objetos você conhece que são feitos de material reciclado?

a) nenhum

b) um

c) dois

d) mais de dois

2. O que ocorre com o lixo depois que o mesmo é recolhido pelo caminhão de coleta na

porta de sua casa?

a) vai direto para o lixão.

b) vai direto para o aterro sanitário.

c) vai direto para a indústria de reciclagem.

d) desconheço.

83

3. Seu vizinho, queimando um pouco de folhas na porta da casa dele, gera que sentimento

em você?

a) Fica triste, mas não se envolve.

b) Acha normal.

c) Não se importa.

d) Desaprova e sempre reclama.

4. Se o caminhão da coleta de lixo não passa na sua rua, o que você acha que deve ser feito?

a) Colocar fogo no lixo.

b) Pagar alguém para levar o lixo para outro lugar qualquer.

c) Jogar num terreno vago qualquer.

d) Reclamar na prefeitura para que o serviço seja oferecido.

5. Na sua casa o lixo orgânico (restos de comida e cascas de frutas, por exemplo) são:

a) jogados num saco e depois vão para a lixeira.

b) queimados no fundo do quintal.

c) são dados para os animais (cães, por exemplo) comerem.

d) enterrados e misturados com a terra para fazer adubo.

6. O que é feito com as latas de alumínio, garrafas PET, vidros, caixas de leite, plásticos

diversos (sacolas de mercado, por exemplo), pilhas comuns e baterias de celulares que,

depois de usados, são considerados lixo em sua casa?

a) Colocamos tudo junto no saco de lixo e deixamos na lixeira.

b) Colocamos fogo em tudo, no fundo de casa, e depois enterramos.

c) Separamos tudo em recipientes apropriados e mandamos para reciclagem.

d) Não me importo com o que é feito com o lixo da minha casa.

84

7. Você sabe quais são os projetos que a Secretaria de Meio Ambiente desenvolve com

relação ao lixo da sua cidade?

a) Só conheço a coleta feita pelo caminhão da prefeitura.

b) Não conheço nenhum.

c) Não me interesso em saber.

d) Sim. Qual(is)? _______________________________________________________

8. Qual deve ser o destino correto para o lixo hospitalar?

a) Como todo lixo, deve ser jogado no lixão.

b) Deve ser armazenado em recipientes adequados e enviados para reciclagem.

c) Devem ser queimados em locais apropriados.

d) Não me importo com o que será feito com esse e nenhum outro tipo de lixo.

9. O que deve ser feito com o grande e crescente lixão que há bem na entrada de sua cidade?

a) Deve ser construído outro mais longe para que os odores ruins e a fumaça das queimadas

não causem mais problemas aos habitantes da cidade.

b) Devem queimar todo o lixo que está ali e depois de limpo haverá mais espaço para jogar

mais lixo.

c) Devem jogar terra por cima e construir um aterro sanitário no mesmo lugar.

d) Construir um aterro sanitário longe da cidade e levar para lá somente o lixo orgânico que

não pode ser reciclado e transformado em novos objetos.

10. Qual seria a melhor opção à destinação do lixo doméstico de sua cidade?

a) Lixão apenas.

b) Aterro sanitário apenas.

c) Usina de reciclagem apenas.

d) Aterro sanitário e usina de reciclagem juntos.

85

APÊNDICE C – ENTREVISTA APLICADA AOS ALUNOS

ENTREVISTA APLICADA AOS ALUNOS DO PROJETO “RECICLANDO VALORES”

COM VISTAS À AVALIAÇÃO QUALITATIVA DO MESMO.

NOME DA ESCOLA ______________________________________________

NOME DO PROFESSOR: _________________________________________

DATA: ____/____/________.

1. Qual foi o objeto produzido pelo grupo?

2. Que materiais foram usados para produzir o objeto?

3. Em quais locais os materiais (matéria-prima) foram coletados?

4. Descreva o modo como foi feito o objeto, ou seja, da ideia até a criação do mesmo.

5. Qual foi a importância dessa atividade para o grupo?

6. Que conceitos ecológicos foram colocados em prática durante o projeto?

7. O que mudou na vida dos membros do grupo em relação à visão sobre a problemática

ambiental abordada nessa atividade?

86

APÊNDICE D – MANUAL DIDÁTICO

O PASSO A PASSO PARA SE MONTAR

UMA FEIRA DE CIÊNCIAS COM OS TEMAS

RECICLAGEM E REUTILIZAÇÃO

MANUAL DIDÁTICO

Apoio para professores do ensino básico

RICARDO ROZETTE VICENTE GOMES

2014

87

Agradecimentos

Agradeço a todos os alunos, amigos e patrocinadores que tornaram possível a

elaboração deste material.

↙ ↓ ↘

88

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – “Passo a passo” ................................................................................................... 7

FIGURA 2 – Exemplo de objetos reciclados ......................................................................... 9

FIGURA 3 – Símbolo da reciclagem ..................................................................................... 11

FIGURA 4 – Sugestão de camiseta ........................................................................................ 12

FIGURA 5 – Mapa de Redenção e limites ............................................................................. 20

89

LISTA DE FOTOS

FOTO 1 – Sugestão de arranjo das mesas no ambiente de apresentação ............................... 15

FOTO 2 – Disposição das mesas com objetos a serem vendidos no Bazar Solidário ............ 16

FOTO 3 – Mesas com objetos e preços bem visíveis ............................................................. 17

FOTO 4 – Alunos numa mesa fazendo o serviço de cobrança ............................................... 17

90

SUMÁRIO

O QUE É O PROJETO? ...................................................................................................... 5

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 7

2 METODOLOGIA .............................................................................................................. 10

2.1 Primeira Etapa – Elaboração dos Temas ..................................................................... 10

2.2 Segunda Etapa – Trabalhe com seus alunos, no campo teórico, os temas

escolhidos com antecedência ........................................................................................... 10

2.2.1 Reciclagem .................................................................................................................... 10

2.2.2 Reutilização ................................................................................................................... 11

2.3 Terceira Etapa – Elabore grupos de trabalho para cada atividade que será

desenvolvida antes, durante e depois da Feira de Ciências e do Bazar Solidário ..... 11

2.4 Quarta Etapa – Permita a divisão dos alunos em grupos e dê liberdade a eles

para criar objetos que devem ser confeccionados com material reciclável e

apresentados no dia da Feira de Ciências ..................................................................... 13

2.5 Quinta Etapa – Ornamentação do Ambiente .............................................................. 14

2.6 Sexta Etapa – Apresentação dos Trabalhos ................................................................. 14

2.6.1 O Dia da Feira .............................................................................................................. 14

2.6.2 O Dia do Bazar ............................................................................................................. 15

2.7 Sétima Etapa – Avaliação da Aprendizagem ............................................................... 18

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 19

REFERÊNCIAS SUGERIDAS COMO APOIO AOS PROFESSORES ........................ 20

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 21

APÊNDICE A – MODELO DE QUESTIONÁRIO .......................................................... 23

APÊNDICE B – MODELO DE ENTREVISTA ................................................................ 26

PATROCINADORES .......................................................................................................... 27

5

O QUE É O PROJETO?

Trabalhar com mudanças de valores não é uma tarefa fácil. Questões culturais,

econômicas e sociais são confrontadas o tempo todo e quebrar paradigmas proporciona um

quadro cada vez mais desafiador. Prova disso é que, mesmo diante de tantas catástrofes

ambientais decorrentes da ação humana nos últimos tempos, ainda há aqueles que continuam

agindo sem nenhuma responsabilidade com o meio ambiente. O ser humano quer mais

espaço, mais poder, mais conforto e, para obter tais benefícios, não mede esforços na

exploração do seu meio. A produção de lixo é crescente e assustadora. Enfim, os valores que

deveriam conduzir a humanidade a uma organização social mais justa e sustentável estão mais

direcionados para destruição do que para construção.

O planeta já dá sinais de incapacidade de reciclar, sozinho, todo esse resíduo humano

e, se não fizermos algo, certamente teremos um futuro bem mais sombrio do que imaginamos.

As consequências negativas das ações humanas são inevitáveis e, por isso, somos, muitas

vezes, céticos em acreditar que algo de positivo possa, ainda, surgir em meio a tantos

problemas. Queremos, no entanto, contribuir para tentar minimizar tais consequências por

meio das atividades propostas por este Manual. Esperamos que sua passagem por estas

páginas seja prazerosa e os ajude a encontrar caminhos na construção do conhecimento a

respeito desses temas.

Com este Manual, vocês, queridos professores, poderão desenvolver atividades que

farão os alunos entrarem em contato com situações práticas nas áreas de reciclagem e

reutilização. Também poderão desenvolver noções sobre a importância ecológica, econômica

e social dos temas propostos. Quando os alunos produzem os seus próprios materiais e

buscam soluções práticas para os problemas sociais, podemos dizer que uma sociedade mais

consciente e participativa está surgindo.

Todos os passos deste Manual foram devidamente testados e posso afirmar que

funcionaram muito bem. Contudo, não o utilizem como única ferramenta didática. Estou

oferecendo apenas uma forma para se trabalhar esses temas. Desenvolvemos este trabalho

com alunos do 2º Ano do Ensino Médio, mas isso não quer dizer que seja uma regra. O

professor do Ensino Fundamental também poderá utilizar o material com as mesmas

estratégias. Queremos deixar claro que vocês têm total liberdade para fazer as adaptações que

julgarem necessárias, conforme a disponibilidade de espaço e de recursos de sua unidade

escolar. Outra coisa que preciso esclarecer é que este material não foi feito apenas para

6

professores de Ciências. O ideal é que vários professores sejam incluídos no decorrer do

desenvolvimento das atividades, pois:

Trabalhar de forma transversal significa buscar a transformação dos conceitos, a

explicação de valores e a inclusão de procedimentos, sempre vinculados à realidade

cotidiana da sociedade, de modo que obtenha cidadãos mais participantes. Cada

professor, dentro da especificidade de sua área, deve adequar o tratamento dos

conteúdos para contemplar o Tema Meio Ambiente, assim como os demais Temas

Transversais. Essa adequação pressupõe um compromisso com as relações

interpessoais no âmbito da escola, para haver explicitação dos valores que se quer

transmitir e coerência entre estes e os experimentados na vivência escolar, buscando

desenvolver a capacidade de todos para intervir na realidade e transformá-la, tendo

essa capacidade relação direta com o acesso ao conhecimento acumulado pela

humanidade. (BRASIL, PCN Ensino Fundamental, 193-194).

Só pedimos que não alterem o nome do projeto “Reciclando Valores”, por ser o

objetivo principal do mesmo.

Sucesso a todos,

O autor.

7

1 INTRODUÇÃO

Os primeiros passos na vida de uma pessoa, quando está aprendendo a andar, não são

fáceis. Algumas quedas podem acontecer, mas o resultado final traz alegria não só para quem

aprende, mas para todos que estão na torcida por seu sucesso. O trabalho pedagógico, no

ambiente escolar, também precisa passar por etapas. Não há como chegar a um resultado

satisfatório sem critérios e organização. A Figura 1 nos traz uma ilustração sugerindo que,

com um passo de cada vez, o professor e seus alunos podem desenvolver um excelente

trabalho e obter ótimos resultados na construção do conhecimento. Cada etapa precisa ser

discutida, testada e os erros e acertos farão parte dessa caminhada do saber.

Figura 1: “PASSO A PASSO”

Fonte: Imagens Google

Em virtude da dificuldade de encontrar material didático, em especial, sobre esses

temas que propomos, sentimos a necessidade de desenvolver o presente Manual para auxiliar

professores do Ensino Básico. A Lei Federal sobre Resíduos Sólidos, Lei Nacional de

Resíduos Sólidos nº 12.305/10, de 02 de agosto de 2010, estipula regras para uma destinação

correta dos resíduos e traz o conceito oficial para reciclagem e reutilização, como descrito no

Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

XIV - reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a

alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à

transformação em insumos ou novos produtos, observadas as condições e os padrões

estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do

Suasa;

XVIII - reutilização: processo de aproveitamento dos resíduos sólidos sem sua

transformação biológica, física ou físico-química, observadas as condições e os

8

padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS

e do Suasa.

O ensino de Educação Ambiental, como Tema Transversal na escola, deve ser

entendido como um trabalho de todos. Todos são beneficiados quando o ambiente é bem

preservado e a educação é o melhor caminho para a criação dessa consciência. O Governo de

São Paulo, quando elaborou seu Planejamento Escolar, descreveu bem essa temática para

2012:

Considerando a importância da temática ambiental, no tempo e no espaço, e a visão

integrada do mundo, entende-se por educação ambiental os processos por meio dos

quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,

habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente,

bem de uso comum do essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

(SÃO PAULO, 2012, p. 9).

Diante de tudo isso, nos sentimos estimulados a acreditar que o trabalho escolar, feito

de forma interdisciplinar e visando à formação de valores mais coerentes com a formação de

um cidadão mais comprometido com o meio ambiente, pode trazer muitos benefícios à

sociedade.

Todas as etapas sugeridas aqui devem, sempre, ser seguidas de amplas discussões com

todos os envolvidos. O debate aberto e democrático conduz a uma construção cidadã, na qual

o indivíduo é estimulado a dizer o que pensa, tomar decisões individuais e coletivas e, ainda,

ser capaz de agir em seu meio, não sendo apenas um espectador neste mundo de

possibilidades.

Vale salientar que as atividades propostas neste Manual incluem aulas teóricas, uma

Feira de Ciências e um Bazar Solidário. Num primeiro momento, as aulas teóricas serão

fundamentais para aguçar a curiosidade dos alunos sobre os temas gerais e estimular os

aspectos criativos do projeto. É importante que o professor esteja munido de muitos exemplos

(Figura 2) sobre reciclagem e reutilização, para abrir o leque de possibilidades para seus

alunos. A intensão não deve, jamais, ser a de levar tudo pronto aos alunos, mas a de

proporcionar a eles diferentes caminhos criativos para que possam escolher e até mesmo criar

novos caminhos.

Com relação à Feira de Ciências, pensamos numa dinâmica de trabalho em grupo, em

que o professor estará sempre na supervisão, mas nunca com imposição de ideias. Desde o

início, o aluno deve ser estimulado a dar ideias sobre objetos que queira produzir com

material reciclado. O trabalho precisa ser bem organizado e orientado pelo professor. Até

9

mesmo o modo como o aluno vai coletar a matéria prima precisa ser considerado, pois há

muitos objetos que oferecem risco à saúde. Todas as etapas da Feira precisam ser discutidas

em grupo e o professor deve estar atento para ver se cada um está fazendo a sua parte, já com

o intuito de mostrar a todos que cada parte do todo é importante e que todos são responsáveis

pelo sucesso das partes.

Figuras 2: Exemplos de objetos reciclados

Fonte: Acervo do autor, 2013

O Bazar Solidário, como já diz o próprio nome, tem por objetivo estimular a

solidariedade nos alunos. Num mundo de tantas desigualdades, ver alguém se preocupando

com a saúde física, mental e material de outra pessoal está se tornando cada vez mais raro. Os

objetos que serão vendidos devem ser coletados pelos próprios alunos do projeto, junto à

comunidade escolar em forma de doação. Tal atitude mobilizará, não só os alunos, mas

mostrará a importância da solidariedade e da reutilização para toda a escola. Além da

solidariedade, o aluno deve ser levado a entender, também, que, ao reutilizar roupas e

calçados, estará diminuindo a grande e inconsequente extração de matérias-primas que

envolvem toda a cadeia produtiva de tais objetos e, com isso, preservando mais e melhor o

meio ambiente.

10

2 METODOLOGIA

Para desenvolvermos o projeto, estabelecemos um processo que envolve sete etapas,

da elaboração à avaliação.

2.1 Primeira Etapa – Elaboração dos Temas

Uma Feira de Ciências, geralmente, é programada na Semana Pedagógica ou de

Planejamento Anual, cuja realização ocorre nas primeiras semanas do ano letivo. Após a

escolha do tema geral da Feira, cada professor vai escolher junto com seus alunos um subtema

que possa ser trabalhado. Essa escolha não pode ser imposta – o professor deve se reunir com

seus alunos, ouvir suas sugestões e decidir o que for melhor para todos.

Neste roteiro, abordamos os temas Reciclagem e Reutilização, sendo que os critérios

básicos para a escolha dos mesmos foram a grande relevância social, a disponibilidade de

recursos e o tempo disponível dos alunos.

Apesar de os temas propostos serem de interesse pedagógico de todos os níveis de

ensino, esclarecemos que as atividades irão exigir habilidades manuais, tempo e certos

conhecimentos específicos de Ecologia. Sendo assim, sugerimos, para o trabalho, que o

professor escolha uma turma final do Ensino Fundamental ou do Ensino Médio.

2.2 Segunda Etapa – Trabalhe com seus alunos, no campo teórico, os temas escolhidos

com antecedência

É importante que os alunos conheçam os temas a serem abordados. Programe aulas

teóricas como primeiro passo do trabalho. Uma sugestão é que os seguintes temas sejam

abordados: Reciclagem e Reutilização.

2.2.1 Reciclagem

Muitos materiais que estão sendo desperdiçados no lixo podem ser transformados em

novos produtos. Mediante vários processos de coleta, separação e tratamento, os resíduos,

agora chamados de matéria prima, podem ser usados na produção de outros objetos. A

atividade proposta neste roteiro trabalha a reciclagem dentro do artesanato, o qual pode estar

utilizando tecidos, papéis, garrafas pets e vários outros materiais que, certamente, seriam

11

descartados desnecessariamente no lixo. Além de estimular a reciclagem no âmbito ecológico,

esta atividade irá mostrar aos alunos e visitantes da Feira de Ciências alternativas econômicas,

ou seja, como gerar renda trabalhando com reciclagem. Não se pode esquecer, também, de

que o presente projeto visa à conscientização rumo a uma sustentabilidade ambiental, a qual

pretende melhorar a qualidade de vida humana por meio do uso equilibrado de todos os

recursos naturais. A Figura 5 ilustra bem essa ideia quando coloca, no centro do símbolo da

reciclagem, o planeta Terra, sugerindo que todos são responsáveis por tudo.

Figura 3: Símbolo da reciclagem

Fonte: Imagens Google

2.2.2 Reutilização

Roupas, calçados e brinquedos que já não são mais utilizados por determinadas

pessoas, mas que estão em boas condições de uso, podem ser reutilizados por outros

indivíduos. Nesse contexto, a reutilização dá uma nova vida ao material e diminui a grande

quantidade de lixo produzida pelo ser humano.

Dentro deste conceito, a proposta é trabalhar com os alunos por meio da realização de

um Bazar Solidário. Neste Bazar serão vendidos, com preços simbólicos, roupas, calçados e

brinquedos. A ideia é tentar sensibilizar os alunos para o tema através de um trabalho social,

onde pessoas carentes serão beneficiadas.

2.3 Terceira Etapa – Elabore grupos de trabalho para cada atividade que será

desenvolvida antes, durante e depois da Feira de Ciências e do Bazar Solidário

Sugerimos a formação dos seguintes grupos:

A. Feira de Ciências

1 Divulgação;

12

2 Busca de patrocínio para confecção de camisetas temáticas a serem usadas

durante a apresentação. Sugerimos que, além do logotipo do patrocínio, tenha

também o logo da Feira e um criado pelos próprios alunos, que represente o

tema do projeto. A sugestão da estampa para confecção da camiseta está na

Figura 6, e o professor deve deixar que os alunos criem o próprio logotipo;

Figura 4: Sugestão de camiseta

3 Limpeza do ambiente;

4 Ornamentação do ambiente onde será realizada a apresentação;

5 Recepção dos visitantes na entrada do ambiente.

B. Bazar Solidário

1 Divulgação;

2 Arrecadação de roupas, calçados e brinquedos usados;

3 Separação dos objetos arrecadados por gêneros, tamanhos e tecidos, e colocar

preços em todos eles;

4 Preparação do local e venda dos objetos no dia do Bazar.

Observação: Os grupos são divididos apenas por uma questão de organização e

coordenação da atividade. Os demais alunos também devem ser envolvidos.

13

2.4 Quarta Etapa – Permita a divisão dos alunos em grupos e dê liberdade a eles para

criar objetos que devem ser confeccionados com material reciclável e apresentados no

dia da Feira de Ciências

Os alunos devem se dividir em grupos para preparar a apresentação durante a Feira.

Cada grupo deve escolher um tema como:

a. Pintura em garrafas de vidro;

b. Flores;

c. Brinquedos;

d. Porta trecos;

e. Bolsas;

f. Árvore de Natal e guirlandas;

g. Colares;

h. Enfeites para mesas, como vasos;

i. Estante de sala

j. Poltrona para sala;

k. Caderno Ecológico;

l. Porta joia;

m. Porta moedas.

Para escolher qualquer um desses temas e outros mais, os alunos podem recorrer aos

inúmeros sites ou vídeos no youtube e outros, especializados no assunto.

Professores, fiquem atentos quanto aos objetos escolhidos, para que nenhum ofereça

riscos à saúde de seus alunos. Outro fator importante é valorizar todos os tipos de objetos.

Não privilegiem um produto por ser mais elaborado que os demais. O importante não é a

beleza ou o tamanho do objeto, mas a mensagem que o aluno quer passar com o mesmo.

A confecção dos objetos, escolhidos pelos grupos deve ser, preferencialmente, feita

com materiais obtidos no lixo doméstico dos próprios alunos. Isso fará com que eles ganhem

percepção da importância do lixo que é produzido em suas residências. O professor deve

pedir, constantemente, aos grupos que tragam para a escola os objetos confeccionados,

sempre que possível e antes da Feira, é claro, para dar início à avaliação paralela. O dia da

Feira é apenas de demonstração do resultado final e não de encontrar erros que poderiam ter

sido corrigidos antes.

14

Assim que o grupo escolher o tema, o professor vai começar a discutir com os alunos

sobre o tipo de matéria prima que será necessária para confecção do objeto. Definindo isso, o

professor irá verificar o que a escola pode fornecer como material de apoio, como tesouras,

cola quente e mesas. Se for necessário e possível, o professor deve dispor de suas próprias

aulas a produção do material.

2.5 Quinta Etapa – Ornamentação do Ambiente

A preparação do local onde será desenvolvida a Feira de Ciências deve ser realizada

um dia antes, para que seja evitado o máximo de imprevistos. A decoração do espaço e a

organização da exposição são de responsabilidade de todos os grupos, mesmo que haja um

responsável. A sala precisa estar decorada de forma temática, ou seja, tudo deve lembrar o

tema principal do projeto “Reciclagem”.

2.6 Sexta Etapa – Apresentação dos Trabalhos

Dois são os momentos: o Dia da Feira e o Dia do Bazar.

2.6.1 O Dia da Feira

Todos os envolvidos no projeto devem chegar ao local da apresentação, já previamente

preparado e limpo, com, pelo menos, uma hora de antecedência e devidamente uniformizados,

com a camiseta do projeto. Tudo isso é fundamental para verificar se está tudo conforme o

planejado e resolver eventuais problemas.

As mesas onde serão expostos os trabalhos devem ser arrumadas num grande círculo,

de modo que os alunos fiquem com as costas viradas para as paredes e os visitantes possam

circular livremente no centro do ambiente (Foto 1).

15

Foto 1: Sugestão de arranjo das mesas no ambiente de apresentação

Fonte: Aluna Maíra H. Soares, 2013.

Cada grupo deve ficar junto ao seu trabalho e identificá-los com o máximo de

informações, para que o visitante saia bem esclarecido. Para isso, podem ser usados cartazes,

panfletos e vídeos. O grupo deve estar bem preparado para explicar como foi todo o processo

criativo e qual a importância social, econômica e ecológica está agregada à mesma. O

professor deve estar sempre atento às explicações de seus alunos, para não deixar o visitante

com nenhuma dúvida.

Na entrada do ambiente, deve haver sempre duas pessoas recebendo e orientando,

educadamente, os visitantes.

Para que os alunos não se cansem muito, podem revezar na apresentação e na portaria.

Depois do término da Feira, os alunos e o professor devem deixar o ambiente limpo e

organizado.

2.6.2 O Dia do Bazar

O Bazar deve ser realizado numa escola de fácil acesso a pessoas de baixa renda.

Todos os acertos devem ser feitos com a direção da escola escolhida, incluindo a data e os

horários de início e término da atividade. Para não causar transtornos de horários e datas,

aconselhamos que a Feira de Ciências e o Bazar sejam feitos em datas diferentes. O Bazar, é

bom que seja feito num fim de semana, pois são dias em que, geralmente, a escola tem todos

os seus espaços físicos disponíveis.

16

Por meio de bilhetes entregues aos alunos, com pelo menos um dia de antecedência, é

importante avisar à comunidade da escola escolhida a realização do evento. Sugerimos, ainda,

que, se o orçamento permitir, confeccionar alguns panfletos sobre o evento, para que sejam

entregues nas ruas do bairro e de casa em casa.

Todos os envolvidos devem chegar ao local com uma hora de antecedência, para

organização dos objetos que serão vendidos. Para essa organização, é importante que haja

espaço para um bom deslocamento das pessoas que estarão comprando. Os objetos podem

ficar dispostos sobre mesas grandes ou pequenas, quando houver (Foto 2). Quando não

houver tais mesas, podem ser usadas lonas limpas, colocadas no chão. De qualquer maneira,

deve-se tentar fazer uma fileira mais centralizada no espaço disponível, de modo que as

pessoas possam ficar procurando os objetos que desejam nos dois lados. Os preços de cada

grupo de objetos, já separados, devem estar bem visíveis, em cartazes afixados nos locais de

venda (Foto 3).

Foto 2: Disposição das mesas com objetos a serem vendidos no Bazar Solidário

Fonte: Acervo do autor, 2013.

17

Foto 3: Mesas com objetos e preços bem visíveis

Fonte: Acervo do autor, 2013.

Também é importante que seja feito um caixa num local bem visível e sempre dois

alunos devem ficar no local para fazer a cobrança, como demonstrado na Foto 4.

Foto 4: Alunos numa mesa fazendo o serviço de cobrança

Fonte: Acervo do autor, 2013.

O professor deve ficar o tempo todo junto com seus alunos, orientando todo o

processo.

Ao término dos trabalhos, o professor irá fazer, junto com seus alunos, a contabilidade

do dia e decidir a destinação final do lucro. Uma sugestão que damos é doar toda a renda à

escola que recebeu o projeto, o que certamente poderá ser explorado como forma de

18

aprendizagem, pois o objetivo não é obter lucro para atividades futuras, mas, sim, ajudar a

comunidade carente que compareceu ao bazar. Quando for entregar o dinheiro à direção da

escola, o professor deve fazer os devidos agradecimentos.

Não se pode esquecer de que a escola precisa ficar limpa e arrumada depois de tudo

acabado.

2.7 Sétima Etapa – Avaliação da Aprendizagem

O professor responsável pelo projeto irá realizar o pré-teste e o pós-teste com seus

alunos.

Ambos são de caráter quantitativo e sugerimos, também, uma entrevista investigativa

(APÊNDICES A e B).

A avaliação que tratamos aqui não leva em consideração apenas a relação do aluno

que aprende e do professor que ensina, mas acreditamos que todo o processo educativo, no

qual ambos estão inseridos, deve ser avaliado. Como queremos proporcionar a oportunidade

de mudança de valores para esses alunos, precisamos acreditar que todos os atores internos e

externos da escola devem estar envolvidos.

Zabala (1998) também percebe que a avaliação escolar correta não deve se cingir

apenas à relação entre esses dois protagonistas diretamente envolvidos no processo

educativo - o aluno e o professor -, pois, na realidade, o processo de

ensino/aprendizagem em sala de aula inclui processos e relações pedagógicas

grupais e a classe como um todo. Mas essa visão de avaliação pode ser ampliada

ainda mais se não nos prendermos somente ao que acontece em sala de aula,

possibilitando que tenhamos uma fotografia mais abrangente do processo de

ensino/aprendizagem ao focalizar este como reflexo do todo, ou seja, a

aprendizagem do aluno pode ser avaliada como resultante das condições gerais

propiciadas pela instituição escolar e do esforço do próprio aluno para efetivá-la.

(ANDRADE, 2014, p. 2).

Avaliação, seja ela de classe, de aprendizagem ou institucional, é fundamental para

que a construção do conhecimento seja “[...] abrangente, consistente, contínua, sistemática,

dinâmica, coerente e polissêmica, de modo que todos os fatores e agentes intervenientes

também sejam considerados e analisados nos resultados obtidos pelo aluno.” (ANDRADE,

2014, p. 2).

19

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando se trabalha com questões ambientais e com a possibilidade de mudança de

valores, é fundamental que todas as atividades sejam coordenadas com diretrizes específicas

para esse fim, ou seja, é preciso estimular a sensibilidade dos envolvidos e proporcionar

meios para que os mesmos possam escolher quebrar ou não seus paradigmas. Acredito que

cada indivíduo precisa ter ao seu alcance o máximo de ferramentas possíveis, para que possa

tomar suas próprias decisões e deixar de ser expectador para ser o agente de seu tempo.

O material, que agora está em suas mãos, serve como referência não só para montar

algumas atividades práticas que envolvam Educação Ambiental, mas espero que sirva de

estímulo para que continue estimulando seus alunos nesta caminhada maravilhosa da

construção do conhecimento.

Além das recomendações já feitas, queremos salientar que é importante o professor e

seus alunos estarem cientes da localização de seu município e procurar entender os aspectos

geográficos que o cercam. Tal conhecimento poderá complementar a ideia de que todos fazem

parte de um contexto maior e em virtude disso somos responsáveis pelas partes e também pelo

todo. Como sugestão deixamos aqui um mapa da região onde o presente trabalho foi

desenvolvido (Figura 5) e que pedir aos alunos para fazê-lo pode ser um bom começo.

Seja parceiro de seu aluno. Aprenda com ele e não se esqueça de que o maior

referencial de que um aluno precisa é o seu próprio professor.

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Figura 5: Mapa do Município de Redenção e seus limites.

Fonte: Cesar Vinícius de Moraes

21

REFERÊNCIAS SUGERIDAS COMO APOIO AOS PROFESSORES

Toda a fundamentação teórica para a elaboração deste material teve como base o

Ensino em CTS, CTSA e a Pedagogia Libertadora de Paulo Freire. Esperamos que as leituras

sugeridas aqui sirvam para auxiliá-los no melhor entendimento da importância das atividades

propostas, como também, para ajudá-los nas discussões teóricas com seus alunos.

AULER, D.; BAZZO, W. A. Reflexões para a implementação do movimento CTS no

contexto educacional brasileiro. Ciência & Educação, 2001, v. 7, n. 1 – 13.

AULER, D.; DELIZOICOV, D. Ciência–Tecnologia-Sociedade: relações estabelecidas por

professores de Ciências. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, 2006, v. 5, n. 2.

AULER, D.; DELIZOICOV, D. Educação CTS: Articulação entre pressupostos do educador

Paulo Freire e referenciais ligados ao movimento CTS. 2006.

ELIO, C. R. Educação CTSA: Obstáculos e Possibilidades para sua implementação no

contexto escolar. Ciência & Ensino, v. 1, n. especial, nov. 2007.

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

FREIRE, PAULO. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São

Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura).

FREITAS, D. SANTOS, S. A. M. CTS na produção de materiais didáticos: o caso do projeto

brasileiro “instrumentação para o ensino interdisciplinar das Ciências da Natureza e da

Matemática”.

INVERNIZZI, N.; FRAGA, L. Estado da arte na Educação em Ciência, Tecnologia,

Sociedade e Ambiente no Brasil. Ciência & Ensino, v. 1, n. especial, nov. 2007.

SANTOS, W. L. P. Contextualização no ensino de Ciências por meio de temas CTS em uma

perspectiva crítica. Ciência & Ensino, v. 1, n. especial, nov. 2007.

SANTOS, W. L. P.; MORTIMER, E. F. Uma análise de pressupostos teóricos da abordagem

C-T-S (Ciência – Tecnologia – Sociedade) no contexto da educação brasileira. ENSAIO –

Pesquisa em Educação em Ciências. v. 2, n. 2, dez. 2002.

VIEIRA, C. T.; VIEIRA, R. M. Construção de práticas didático-pedagógicas com orientação

CTS: impacto de um programa de formação continuada de professores de Ciências do Ensino

Básico. Ciências & Educação, v. 11, n. 2, p. 191-211, 2005.

22

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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http://www.tpes.com.br/imagens/artigos/avaliacao-da-aprendizagem.pdf. Acesso em: 01 maio

2014.

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1986.

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NERU, Educação Ambiental, n. 5, dez. 1996.

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Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: MEC/Semtec, 2002.

BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Programa Nacional de Apoio às Feiras de Ciências

da Educação Básica: Fenaceb. Brasília: MEC/SEB, 2006b.

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para o Ensino Médio: Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias. v. 2. Brasília:

MEC/Semtec, 2006a.

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CEDES – Educação Ambiental. 29, p. 21-30.

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Educador Ambiental. 1(4), p. 3. 1994.

CASTRO, S. P. A Questão Ambiental: em busca de “uma nova racionalidade”. IN:

Interdisciplinaridade – O Pensado O Vivido. Anais do Seminário de Educação. IE/UFMT. P.

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DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e práticas. 6. ed. São Paulo: Gaia, 2000. 552 p.

DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. São Paulo. Editora Gaia, 1992. 399 p.

FAZENDA, I. C. A. Integração e Interdisciplinaridade no Ensino Brasileiro – Efetividade ou

Ideologia. 3. ed. São Paulo: Loyola, 1993. 107 p. (Coleção Realidade Educacional).

FREIRE, P. A Pedagogia do Oprimido. Trad. Rosisca Darcy de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz

e Terra, 1979.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo:

Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura).

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

23

GONÇALVES, D. R. P.; VALLEJO, L. R. A Educação Ambiental e o Ensino de I e II Graus.

Rio de Janeiro. (Doc. Apresentado no Primeiro Encontro Nacional de Educação Ambiental,

realizado em Recife, nov. 1989).

GONÇALVES, T. V. O. Feiras de ciências e formação de professores. In: PAVÃO, A. C.;

FREITAS, D. Quanta ciência há no ensino de ciências. São Carlos: EduFSCar, 2008.

KOFF, E. D. Educação Ambiental no Projeto Pedagógico do Ensino Fundamental. Inter-

Ação, R. Fac. Educ. UFG, 19(1-2): 141-150, jan./dez. 1995.

LIMA, M. E. C. Feiras de ciências: o prazer de produzir e comunicar. In: PAVÃO, A. C.;

FREITAS, D. Quanta ciência há no ensino de ciências. São Carlos: EduFSCar, 2008.

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Educativo. Revista digital de Educación y Nuevas Tecnologias, n. 6, abr. 2000. Disponível

em: < http://contexto-educativo.com.ar/2000/4/nota-7.htm>

MARX, K.; ENGELS, F. Crítica da Educação e do Ensino. Lisboa: Moraes, 1978.

MATSUSHIMA, K. Projeto Educação Ambiental para o Ensino de Primeiro Grau. São

Paulo. CETESB, 1984.

MEDINA, N. M.; MACIEL, R. A. Educação Ambiental: uma nova perspectiva. Cuiabá.

Secretaria Municipal de Educação/UFMT, 1994. 84 p. (Série Cadernos Pedagógicos).

MEYER, M. A. A. Educação Ambiental: uma Proposta Pedagógica. Em Aberto, Brasília, v.

10, n. 49, jan./mar. 1991.

MORAES, Roque. Debatendo o ensino de ciências e as feiras de ciências. Boletim Técnico do

Procirs. Porto Alegre, v. 2, n. 5, p. 18-20, 1986.

PENTEADO, H. D. Meio Ambiente e Formação de Professores. São Paulo. Editora Cortez.

1994. 120 p. (Coleção Questões da Nossa Época).

REIGOTA, Marcos. Meio Ambiente e representação social. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

UNESCO. Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Rio

de Janeiro, 1992.

UNESCO. Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental – As Orientações da

Conferência. Tbilisi (Geórgia, URSS), 1977.

24

APÊNDICE A: MODELO DE QUESTIONÁRIO

NOME DA NOME ESCOLA ________________________________________

NOME DO PROFESSOR: __________________________________________

DATA: ____/____/________.

POR FAVOR, RESPONDA ÀS QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA APENAS

FAZENDO UM CÍRCULO NA ALTERNATIVA (APENAS UMA) QUE VOCÊ

JULGAR CORRETA. JÁ NAS QUESTÕES DISSERTATIVAS, USE CANETA AZUL

OU PRETA PARA DESCREVER SEUS COMENTÁRIOS.

1. Quantos objetos você conhece que são feitos de material reciclado?

a) nenhum

b) um

c) dois

d) mais de dois

2. O que ocorre com o lixo depois que o mesmo é recolhido pelo caminhão de coleta na porta

de sua casa?

a) vai direto para o lixão.

b) vai direto para o aterro sanitário.

c) vai direto para a indústria de reciclagem.

d) desconheço.

3. Seu vizinho, queimando um pouco de folhas na porta da casa dele, gera que sentimento em

você?

a) Fica triste, mas não se envolve.

b) Acha normal.

c) Não se importa.

d) Desaprova e sempre reclama.

25

4. Se o caminhão da coleta de lixo não passa na sua rua, o que você acha que deve ser feito?

a) Colocar fogo no lixo.

b) Pagar alguém para levar o lixo para outro lugar qualquer.

c) Jogar num terreno vago qualquer.

d) Reclamar na prefeitura para que o serviço seja oferecido.

5. Na sua casa o lixo orgânico (restos de comida e cascas de frutas, por exemplo) são:

a) jogados num saco e depois vão para a lixeira.

b) queimados no fundo do quintal.

c) dados para os animais (cães, por exemplo) comerem.

d) enterrados e misturados com a terra para fazer adubo.

6. O que é feito com as latas de alumínio, garrafas PET, vidros, caixas de leite, plásticos diversos

(sacolas de mercado, por exemplo), pilhas comuns e baterias de celulares que, depois de usados,

são considerados lixo em sua casa?

a) Colocamos tudo junto no saco de lixo e deixamos na lixeira.

b) Colocamos fogo em tudo, no fundo de casa, e depois enterramos.

c) Separamos tudo em recipientes apropriados e mandamos para reciclagem.

d) Não me importo com o que é feito com o lixo da minha casa.

7. Você sabe quais são os projetos que a Secretaria de Meio Ambiente desenvolve com relação ao

lixo da sua cidade?

a) Só conheço a coleta feita pelo caminhão da prefeitura.

b) Não conheço nenhum.

c) Não me interesso em saber.

d) Sim. Qual(is)? ________________________________________________

8. Qual deve ser o destino correto para o lixo hospitalar?

a) Como todo lixo, deve ser jogado no lixão.

b) Deve ser armazenado em recipientes adequados e enviados para reciclagem.

c) Devem ser queimados em locais apropriados.

d) Não me importo com o que será feito com esse e nenhum outro tipo de lixo.

26

9. O que deve ser feito com o grande e crescente lixão que há bem na entrada de sua cidade?

a) Deve ser construído outro mais longe para que os odores ruins e a fumaça das queimadas

não causem mais problemas aos habitantes da cidade.

b) Devem queimar todo o lixo que está ali e depois de limpo haverá mais espaço para jogar

mais lixo.

c) Devem jogar terra por cima e construir um aterro sanitário no mesmo lugar.

d) Construir um aterro sanitário longe da cidade e levar para lá somente o lixo orgânico que

não pode ser reciclado e transformado em novos objetos.

10. Qual seria a melhor opção à destinação do lixo doméstico de sua cidade?

a) Lixão apenas.

b) Aterro sanitário apenas.

c) Usina de reciclagem apenas.

d) Aterro sanitário e usina de reciclagem juntos.

Com estas, o professor irá saber que conhecimentos os alunos envolvidos no projeto já

trazem de suas vidas a respeito do problema do lixo e das possibilidades de reciclagem e

reutilização. Com base nas respostas, o professor irá programar suas atividades, de modo que as

principais problemáticas levantadas sejam trabalhadas.

Para uma avaliação qualitativa, a sugestão é uma entrevista com cada grupo, na qual serão

apresentadas as questões constantes do Apêndice B.

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APÊNDICE B: MODELO DE ENTREVISTA

NOME DA ESCOLA ______________________________________________

NOME DO PROFESSOR: __________________________________________

DATA: ____/____/________.

1. Qual foi o objeto produzido pelo grupo?

2. Que materiais foram usados para produzir o objeto?

3. Em quais locais os materiais (matéria prima) foram coletados?

4. Descreva o modo como foi feito o objeto, ou seja, da ideia até a criação do mesmo.

5. Qual foi a importância dessa atividade para o grupo?

6. Que conceitos ecológicos foram colocados em prática durante o projeto?

7. O que mudou na vida dos membros do grupo em relação à visão sobre a problemática ambiental

abordada nessa atividade?

A abordagem em forma de entrevista deixa os alunos mais à vontade para dizer, realmente,

o que aprenderam e o que, realmente, mudou em suas vidas após o desenvolvimento das

atividades.

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PATROCINADORES

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APÊNDICE E - OBJETOS QUE MERECEM DESTAQUE ALÉM DAQUELES

DESCRITOS NO ROTEIRO DIDÁTICO

Cortina feita com CDs e linha de anzol fina

Fonte: Acervo do autor, 2013.

Globo de luz feito com copos coloridos usados numa festa

Fonte: Acervo do autor, 2013.

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Porta-moedas e embalagem para presentes feitos com caixa de leite

Fonte: Acervo do autor, 2013.

Porta-moedas e embalagem para presentes feitos com caixa de leite

Fonte: Acervo do autor, 2013.