Upload
hadat
View
215
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
O PAPEL DAS MULTINACIONAIS NO PROCESSO DE
INDUSTRIALIZAÇÃO/URBANIZAÇÃO BRASILEIRA
Rosemar Aparecida Silva Bandeira1
Aécio Rodrigues de Melo2
Resumo
O presente estudo teve por objetivo avaliar o processo de industrialização e urbanização no país, enfatizando a presença das empresas multinacionais e seu papel nesse contexto. Nessa obra destaca-se, sobretudo, a implantação da unidade de uma empresa de capital estrangeiro no município de Santo Antônio da Platina, e sua consequente repercussão no encadeamento socioeconômico local. Teve por objeto, também estabelecer relações reflexivas entre a teoria da sala de aula e a produção industrial enriquecendo a versão baseada nas concepções apresentadas pelos livros didáticos. A proposta deste projeto foi deixar de lado a abordagem meramente “descritiva” com que o assunto “multinacionais” sempre foi tratado, utilizando para tanto a prática de campo, mostrando que é possível essa modalidade para a compreensão e construção do conhecimento. Através das atividades realizadas foi possível analisar a prática social dos trabalhadores, a imagem da empresa e sua influência no cenário geográfico local. Enfim, com este trabalho vivenciou-se a possibilidade de nova interpretação sobre o tema destacado no projeto de intervenção. A importância desse estudo, ademais, reside no fato de que muitos dos alunos da Escola Estadual Santa Terezinha têm seus familiares, envolvidos no contexto do desenvolvimento industrial do referido município da região norte do Paraná.
Palavras-chave: Multinacionais; Industrialização; Urbanização;
1 Professora de Geografia da Escola Estadual Santa Terezinha. Ensino Fundamental.
Graduada em História e Geografia pela Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de Jacarezinho (FAFIJA). Pós graduada em Interdisciplinaridade na Educação Básica. 2 Professor Orientador do PDE na UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná – Campus
Cornélio Procópio – PR
2
Abstract The present study aimed to evaluate the process of industrialization and urbanization in the country, emphasizing the presence of multinational companies and their role in this context. In this work stands out, especially the deployment of one unit of foreign capital enterprise in the municipality of Santo Antônio da Platina, and its consequent impact on local socioeconomic thread. Had the object, also establish reflexive relations between the theory of the classroom and enrich industrial production version based on the concepts presented by the textbooks. The purpose of this project was to set aside the approach merely "descriptive" with the subject "multinational" has always been treated, using both the practice field, showing that this mode is possible for the understanding and knowledge construction. Through the activities we could analyze the practice of social workers, the company's image and its influence on the local geographic setting. Finally, this work experienced the possibility of new interpretation of the theme outlined in the project intervention. The importance of this study, moreover, lies in the fact that many of the students of the State St. Therese School have their families involved in the context of this industrial development town in northern Paraná.
Keywords: multinationals, industrialization, urbanization.
1 Introdução
O processo de urbanização no Brasil é recente, data de meados do século XX
e está profundamente vinculado à industrialização. É a partir do viés da
industrialização que a urbanização brasileira tomou impulso nunca visto antes, pois
anteriormente a esse processo a imagem da cidade não era propriamente produtiva.
Posteriormente, passam a ser vistas como centros e elementos difusores da
modernização. Portanto, pode-se dizer que a atividade industrial influenciou o
processo de urbanização brasileira, resultando em uma transformação do papel das
cidades.
A intenção do projeto foi mostrar a articulação entre esses dois fenômenos –
industrialização e urbanização – a partir da dimensão econômica do espaço
geográfico, que se organiza pela ação do trabalho humano em diferentes escalas de
abordagem, destacando-se a industrialização como fator de formação de um espaço
urbanizado, tendo como foco de estudo a mundialização da economia capitalista
apoiada na penetração de empresas conhecidas como multinacionais ou
transnacionais, que têm uma parcela considerável da atividade instalada no Brasil, a
3
partir de meados dos anos 50, quando ocorreu maior estímulo à entrada de capital
estrangeiro no setor produtivo da economia.
A temática desta obra centrou-se, então, no processo de industrialização, com
destaque para a implantação de empresas multi/transnacionais, evidenciando o
município de Santo Antônio da Platina, PR.
O público alvo do Projeto de intervenção foram os alunos das Séries Finais
do Ensino Fundamental da Escola Estadual Santa Terezinha – EF. No início as
ações de implementação estavam voltadas para a 6ª série (7º ano), mas decidiu-se
também partilhar com as 7ª séries (8º anos), período matutino, tendo por objetivo
informá-los da essência do projeto e das ações planejadas envolvendo-os também
em atividades secundárias, mas relevantes para viabilização do projeto.
A abordagem do tema proposto consistiu na discussão sobre as chamadas
empresas multinacionais ou transnacionais, que nos dias atuais não nos causam
mais espanto, pois nos habituamos a sua presença em nosso meio, visto que
algumas indústrias de capital nacional ou estrangeiro estão mudando a sua esfera de
atuação, levando suas plantas para localidades menores, as cidades médias ou
pequenas, modificando assim a paisagem interiorana acostumada a um ritmo
cadenciado de vida e de produção.
A partir do exposto, este trabalho partiu de estudos e reflexões que tiveram
seu embasamento mediante os seguintes questionamentos:
Qual a relação entre o processo de industrialização e urbanização? Existe
uma correlação entre o papel desempenhado pelas empresas estrangeiras nesse
processo de crescimento da população urbana?
O que é uma empresa multinacional? Existem exemplos dessas corporações
e de produtos fornecidos por elas que fazem parte de nosso cotidiano.
Em nosso município existem empresas de origem estrangeira? Qual? O que
produz? Qual a importância dessa unidade de produção para o encadeamento
socioeconômico local?
Qual é a influência da unidade de produção instalada no município e a
perspectiva profissional dos alunos da escola Santa Terezinha e seus familiares,
sujeitos estes envolvidos no contexto do desenvolvimento industrial de Santo
Antônio da Platina?
A produção didática esteve alicerçada em pesquisas bibliográficas, atividades,
entrevistas através de questionário, confecção de cartazes e trabalho de campo.
4
2 Fundamentação teórica
A urbanização pode ser considerada como um processo recente, pois
“duzentos anos atrás, apenas 3% da população mundial vivia em cidades. [...] Nas
próximas décadas praticamente todo o crescimento populacional do planeta ocorrerá
nas cidades, nas quais viverão sete em cada dez pessoas em 2050” (FAVARO,
2008). No Brasil, a população urbana deve superar os 160 milhões de pessoas, o
que corresponderá a mais de 84% da população nacional, em 2010, segundo
projeções do IBGE (2009). As razões para se viver nas cidades são justificadas por
vários estudiosos que defendem o espaço urbano, as grandes cidades, como
formadoras de uma força de trabalho mais instruída e produtiva. Para Glaeser (2012,
p.17), sem as cidades, a evolução humana jamais teria sido possível. Segundo o
autor é também nelas que está o futuro de nossa espécie.
O crescimento da população urbana tem sido um indicador usual para a
definição do conceito de urbanização. Em geral, a urbanização é definida como a
relação entre a população urbana e a rural, em que a população residente na cidade
supera a rural. O termo ainda é utilizado para interpretar o fenômeno de
concentração de população urbana e o crescimento das cidades ou de várias
cidades tomadas em seu conjunto. Há autores que ampliam o conceito sugerindo,
que:
O conceito de urbanização não se restringe ao crescimento físico dos artefatos, as cidades, ou seus prolongamentos materiais pelo meio geográfico circundante. Compreende, também, a difusão das subjetivações desenvolvidas no interior das cidades, pelas outras cidades e pelos meios geográficos circundantes. (GEIGER apud SILVA, 1995, p.23-24).
Nesse sentido, Geiger (apud Silva, 2009, p. 41) chama a atenção para que a
“urbanização seja compreendida para além da mera supremacia da população
urbana sobre a rural, mas como uma expressão do caráter da formação
econômico-social produtora” [grifo do autor]. Na mesma direção, Castells (apud
Silva, 2009, p. 41) abre uma discussão crítica a esse respeito, trazendo uma análise
de tendências mais comuns de situações que o termo “urbanização” tem sido
empregado. Para ele:
podemos distinguir dois sentidos extremamente distintos do termo urbanização. 1. Concentração espacial de uma população, a partir de
5
certos limites de dimensão e de densidade. 2. Difusão do sistema de valores, atitudes e comportamentos denominado de “cultura urbana”.
Portanto, é preciso que essas linguagens sejam corretamente utilizadas pelos
professores, “pois a simplificação do conceito de urbanização, institui a ideia de que
o crescimento das formas das cidades, o aumento da população e outros elementos
facilmente verificáveis visualmente são expressões materiais de processos
estruturais”. Silva (2009, p.41).
Mas, o que move à população em direção às cidades, causando o então
chamado processo de urbanização? Ferreira (1995, p. 387) argumenta que:
O desenvolvimento dos centros industriais urbanos colaborou para que se acentuasse a transferência de populações para as cidades. Em 1950, a população urbana correspondia a pouco mais de 36% da população total do país; em 1960, já alcançava 45%.
Podemos afirmar então que o desenvolvimento do capitalismo industrial
acarretou a concentração populacional nos grandes centros urbanos, fato esse que
só acontece plenamente no século XX, sobretudo depois de 1956 quando começa a
penetração do capital estrangeiro. Ferreira (2009, p.97) manifesta que:
especialmente após a Segunda Guerra Mundial, presenciamos o investimento de capital de maneira programada e pensada numa perspectiva global da divisão internacional do trabalho. No Brasil, o impacto das novas relações de produção, distribuição e consumo em rede por meio das empresas multinacionais, é sentido sobretudo, a partir da década de 1950, quando por medidas político-econômicas, o país “abre” seu território e vivencia a partir de então, um novo tipo de gestão regido pelas corporações globais.
No processo de industrialização do Brasil, observa-se que os setores
industriais mais modernos, e também mais lucrativos, são ocupados por filiais de
empresas estrangeiras: indústrias automobilística, mecânica, metalúrgica, química e
de material elétrico. Quanto à presença de empresas multinacionais, Vesentini,
destaca que:
A grande penetração das empresas multinacionais no Brasil, que vem se intensificando desde a década de 50, apresenta aspectos negativos e positivos. Entre os aspectos negativos, inclui-se o fato de que tais empresas provocam a falência de empresas privadas nacionais, dominando quase totalmente alguns setores da economia, em geral os
6
mais importantes. E, não tendo concorrência, elas podem impor preços. Além disso, suas decisões dependem das matrizes localizadas em outros países (Estados Unidos, Japão ou Europa Ocidental). (VESENTINI, 1996, p. 178).
O mesmo autor observa que outros aspectos também podem ser explorados
dentro do contexto da produção por empresas estrangeiras:
Cabe lembrar ainda que as multinacionais remetem uma boa parte de seus lucros para o exterior, tanto nas remessas normais como nas camufladas (efetuar pagamentos excessivos à matriz a título de ajuda técnica, supervalorizar os preços dos bens fornecidos pela matriz e subvalorizar os dos bens enviados para lá, etc.). Os aspectos positivos são, em primeiro lugar, o fato de elas trazerem tecnologias modernas e obrigarem as empresas nacionais a tentarem acompanhar a modernização mundial e, em segundo lugar, que em média essas empresas pagam salários superiores aos que são pagos pelas firmas nacionais, embora tais salários ainda sejam sensivelmente inferiores aos que os trabalhadores recebem nos países desenvolvidos. (VESENTINI, 1996, p.178).
Já Carlos chama a atenção para o fato que
a eficiência é outro fator importante a ser buscado na produção e nisso as vias de circulação têm papel determinante. Essa articulação é bem estruturada pelas grandes empresas, particularmente as multinacionais. Elas procuram localizar-se em países que têm mão de obra barata, estabilidade política (que evite perdas com greves) e que sejam mercados consumidores de seus produtos. (CARLOS, 1997, p.36).
Outro fator que define a instalação das empresas estrangeiras é o
favorecimento dado pelo Estado através de proteção, como instalação de
infraestrutura necessária à implantação de suas unidades, isenção de impostos e
fornecimento de financiamento a juros baixos. Dentro deste contexto, Andreff (1995,
p.51) em ‘Multinacionais Globais’ salienta que as multinacionais consideram vários
países hospedeiros potenciais e sua decisão de investir num deles apóia-se de início
sobre suas vantagens comparativas. Um exame das vantagens e incentivos
concedidos pelo governo do Estado do Paraná à vinda da Renault permite entender
melhor a dimensão do fato em questão. Sobre isso, Oliveira (2001, p.87) nos afirma
que:
Para começar, a empresa fez juz a um empréstimo de R$ 300 milhões, via Fundo de Desenvolvimento Econômico (FDE), a título de participação
7
acionária. O governo do Estado entrou como sócio do empreendimento com cerca de R$ 1 bilhão, detendo a participação de 40% da fábrica e 40% também na rede de revenda dos carros, mas exclusivamente por meio de ações sem direito a voto. O citado empréstimo tem dez anos de carência para início do pagamento, sem juros nem correção monetária. Ainda na parte financeira, concedeu-se prorrogação do pagamento de ICMS, no mínimo, por seis anos. Além disso, a fábrica recebeu um terreno de 2,5 milhões de metros quadrados, no valor de R$10 milhões; terraplanagem e drenagem do mesmo, no valor de R$ 18 milhões; uma subestação de energia elétrica no valor de R$ 15 milhões; tarifa diferenciada de energia elétrica, 25% mais barata; estação de tratamento de efluentes; terminal exclusivo com 27 mil metros quadrados no Porto de Paranaguá; água à vontade, etc...
Diante de valores tão substanciais despendidos pelo governo do Estado do
Paraná, percebemos o poder e a influência dessas empresas de grande porte,
quando optam pela instalação de suas unidades de produção. Para Santos (2011,
p.68), tais empresas são apresentadas como salvadoras dos lugares e são
apontadas como credoras de reconhecimento pelos seus aportes de emprego e
modernidade. O autor ainda menciona que a partir da crença de sua
indispensabilidade, o poder público passa a ser subordinado, compelido, arrastado.
Não há como negar a influência e a participação das empresas de capital
estrangeiro em território nacional, interferindo até mesmo no processo de
urbanização, pois o dinamismo de sua produção acaba interferindo na economia
local. Algumas delas estão mudando o foco de implantação de suas unidades.
Assim se referiu a revista “Veja” (COUTINHO, 2010, p.117):
As multinacionais foram as primeiras a perceber as oportunidades do interior. Nos anos 60, elegeram os municípios médios do Sudeste para sediar suas filiais. Nas duas últimas décadas, ampliaram sua visão do mapa do Brasil. Montadoras estrangeiras abriram unidades no Paraná, no Rio Grande do Sul, em Goiás e na Bahia. Nesse último estado, a Ford mudou de tal forma o perfil de Camaçari que a cidade chegou a ostentar, em 2003 e 2004, um produto interno bruto maior que o da capital, Salvador.
A reportagem ainda chama a atenção para a cidade de Hortolândia, SP.
Entre os anos de 2002 e 2007, o produto interno bruto do município se expandiu, por
ano, em uma velocidade cinco vezes a média nacional. Antes assolada pela
criminalidade, com poucas ruas asfaltadas e nenhuma rede de esgoto, encontrou
sua vocação para a riqueza ao adotar uma política agressiva de atração de
indústrias. Sperandio (2010, p.90) relata que:
8
Em apenas cinco anos, os benefícios oferecidos a esse setor foram responsáveis pela abertura de 200 fábricas dentro dos seus limites, como a Dell, de computadores, a CAF, de vagões de passageiros, e a Mabe, de eletrodomésticos. O dinamismo que esses empreendimentos injetaram na economia local permitiu a abertura de 11000 postos de trabalho, o que reduziu a taxa de desemprego de 17% para 4%...
A conexão entre o grau de urbanização e o de desenvolvimento econômico
de um país, não estão mais concentrados apenas nas grandes cidades, mas
proliferam empregos e oportunidades em cidades de menor porte, as chamadas
cidades médias. Entretanto, não podemos menosprezar as pequenas cidades, que
representam alternativas para a produção de riquezas, atraindo empresas de grande
porte.
No ano de 2004, em Santo Antônio da Platina, município localizado na região
norte Pioneira do Paraná, a 380 km de Curitiba, capital do Estado, com população
estimada em 42.002 habitantes (IBGE, 2009), considerado de pequeno porte,
instalou-se uma unidade multinacional de produção, investindo na produção de
chicotes elétricos automotivos.
Cabe mencionar, aqui, segundo Kozlowski (2008), que “as empresas que vêm
se destacando no mercado atualmente são as automobilísticas: indústrias
automotivas, ou indústrias de automóvel, que produzem automóveis ou partes que
compõem um automóvel”. Nesse sentido Kozlowski (2008), argumenta que “a
indústria automotiva brasileira é, de fato, uma das maiores e mais desenvolvidas do
mundo, com uma produção de 2,5 milhões de veículos em 2005. No Brasil
encontram-se instalados os maiores fabricantes mundiais”.
De acordo com a autora supracitada, “atualmente, a unidade de produção
possui oitenta e sete empresas distribuídas em trinta e quatro países, totalizando
cento e vinte unidades fabris, trinta e seis centros de desenvolvimento, empregando
mais de cento e vinte e cinco mil colaboradores” (KOZLOWSKI, 2008).
A empresa está presente em três estados brasileiros: no Paraná mantém
unidades em Irati, Santo Antônio da Platina e Carlópolis. No estado de São Paulo
está instalada no município de Tatuí. Na Bahia no município de Feira de Santana.
Contando assim, com cinco unidades no Brasil e forte presença na América do Sul,
a empresa é líder mundial na fabricação de chicotes elétricos automotivos.
Em Santo Antônio da Platina, a empresa iniciou suas atividades com
poucos trabalhadores, cerca de 60 funcionários, hoje conta aproximadamente dois
9
mil colaboradores empregando também pessoas das cidades próximas ao
município, tornando-se assim a maior empresa da região.
Segundo a gerência regional da Copel, (informação verbal)3 com a
implantação da unidade de produção o consumo de energia registrado na cidade
cresceu 4,9% no primeiro semestre de 2011, acima da média registrada no Estado
que foi de 4%. O índice revela aquecimento da economia do município,
impulsionado pelo desenvolvimento da atividade industrial e consequentemente pelo
crescimento demográfico local.
3 Implementação do projeto
O público alvo do Projeto de intervenção foram os alunos das Séries Finais do
Ensino Fundamental da Escola Estadual Santa Terezinha – E.F. No início as ações
de implementação estavam voltadas para os alunos da 6ª série “A”, período
matutino. Mas, participaram também 7ª séries “A” e “B”, do mesmo período, pois
demonstraram interesse em compartilhar do projeto que estava sendo
implementado. Assim, essas duas turmas passaram a ser informadas da essência
do projeto e das ações planejadas. O tema de estudo girou em torno da
industrialização como um dos fatores responsáveis pelo processo de urbanização,
enfocando a implantação das empresas multi/transnacionais, a partir de sua origem
e plausível articulação com a urbanização, tratada em diferentes escalas geográficas
e temporais e sua consequente repercussão no contexto socioeconômico local.
O projeto foi apresentado então às três turmas, em momentos distintos por
se tratarem de séries diversas. Desta forma, deu-se início a implementação das
ações previstas.
Com objetivo de conhecer um pouco mais as empresas multinacionais e sua
relação com o processo de urbanização foi solicitado aos alunos pesquisas sobre o
tema abordado e paralelamente trabalhou-se com textos e atividades direcionadas
(fichas), tendo como foco a expansão das empresas multinacionais, destacando o
período em que ocorreu a grande conquista do espaço brasileiro por essas empresas.
Num primeiro momento os alunos pesquisaram sobre as empresas
estrangeiras de maneira aleatória, onde a professora PDE estabeleceu uma conversa
3 Informação fornecida por Édison Ferreira Bandeira, gerente regional da Companhia Paranaense de
Energia (COPEL), em Santo Antônio da Platina, em maio de 2012.
10
dialogada sobre as mesmas e seus países de origem, posteriormente, foi solicitado
que trouxessem informações sobre a unidade de produção instalada no município.
Quanto às atividades (fichas), essas tinham como temática: a origem das
multinacionais, seu processo histórico de formação e expansão. As fichas foram
disponibilizadas para os alunos, que realizaram exercícios baseados nos textos
apresentados. Trabalhou-se também no estudo das letras das músicas: “A Cidade” de
Chico Science e Nação Zumbi, e “Baticum”, de Chico Buarque de Holanda e Gilberto
Gil, estas retratam respectivamente o dia a dia e a paisagem da grande cidade e as
influências estrangeiras que invadem o cotidiano. A mesma mostra também que
contatos com outras culturas, muitas vezes são guiados por interesses econômicos
de grandes empresas atuantes em todo o mundo.
Após essa etapa, os alunos também trouxeram figuras de empresas
multinacionais, com as quais foi construído um banner, destacando as imagens e os
países de origem dessas grandes corporações.
Banner produzido pela professora PDE e imagens trazidas pelos alunos das 7ª séries
11
Dentre as empresas multinacionais e seus países de origem que aparecem
no cartaz, algumas se destacaram despertando a atenção dos alunos por serem do
conhecimento dos mesmos e fazerem parte de seu cotidiano já que consomem
produtos e serviços dessas grandes corporações. O mural ficou exposto no corredor
da escola para que toda a comunidade escolar tivesse acesso ao material
elaborado. Não raro, observava-se a admiração de professores e alunos quando se
deparavam com uma empresa que julgavam pertencer a um determinado país e logo
descobriam que seu país sede era outro. Alguns exemplos: Avon (americana),
muitos achavam que fosse uma empresa brasileira e por incrível que pareça quando
descobriam sua origem, davam mais credibilidade. A Kodak (americana), grande
parte surpreendeu-se, pois tinham certeza tratar-se de empresa de capital japonês.
Das multinacionais que eram identificadas de imediato, relacionando país
sede/empresa, cito as seguintes: Coca-Cola (americana), Mc Donald’s (americana),
Ford (americana), Carrefour (França), Nestlé (Suíça). A multinacional Reckitt
Benckiser (capital inglês) foi uma dos exemplos que os alunos declararam
desconhecer, não sabiam tratar-se de uma empresa de produtos de limpeza, sendo
considerada líder mundial no setor doméstico. Algumas de suas marcas mais
famosas no Brasil são: Veja, Poliflor, Vanish, SBP, Mortein, Detefon, Repelex, Bom
Air Wick, Harpic, Destac, Nugget entre outras. A partir do momento que souberam
dos produtos criados por essa corporação, identificaram muitos produtos existentes
em suas casas. A Cadbury, marca britânica de confeitos, baseada em Londres,
também causou estranheza, pois todos desconheciam que essa multinacional
distribui a marca Adams no Brasil. A maior parte da produção, está concentrada nas
marcas Trident, Halls, Chiclets e Bubbaloo.
Com relação às empresas de capital nacional e instaladas em outros países
muitas delas eram desconhecidas dos alunos, reconheceram somente aquelas
ligadas ao setor energético (Petrobrás), ao setor de alimentos (Giraffas, Bob’s) e
alguns não sabiam que o Grupo Alpargatas é proprietário da marca Havaianas.
As empresas de capital nacional vêm se destacando em diferentes setores da
economia e assim estabelecendo filiais em diversas localidades do planeta.
As informações do mural sobre as grandes corporações e seus países de
origem foram obtidas através do site:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_transnacionais_por_pa%C3%ADs-
sede#Pa.C3.ADses_Baixos.
12
Países de Origem/Empresas Multinacionais
ALEMANHA
Adidas Bosch Puma
BASF Faber-Castell Siemens
Bayer Mercedes Benz Volkswagen
BMW Porsche Wella
Fonte: Wikipédia, 2012. Org: Autora1, 2012
ÁUSTRIA
Red Bull
Fonte: Wikipédia, 2012. Org: Autora1, 2012
BRASIL
Alpargatas CSN Marcopolo
Ambev Embraer Neobus
Brasil Food’s (Perdigão/Sadia Gerdau Odebrecht
Braskem Giraffas Petrobras
Bob’s Grupo Votorantim Vale
Fonte: Wikipédia, 2012. Org: Autora1, 2012
CORÉIA do SUL
Hyundai LG
Kia Motors Samsung
Fonte: Wikipédia, 2012. Org: Autora1, 2012
13
ESTADOS UNIDOS
Apple Dell IBM Mattel Pfizer
Avon DuPont Intel Mc Donald’s Procter & Gamble
Black & Decker Ford Motors Johnson & Johnson Microsoft Visa
Caterpillar General Eletric Kellogg’s Motorola Wal-Mart
Chysler General Motors Kodak Nike Xerox
Colgate Palmolive Goodyear Kraft Foods PepsiCo Walt Disney
Coca-Cola Herbalife Inc Levi’s Pizza Hut Yahoo
Fonte: Wikipédia, 2012. Org: Autora1, 2012
FINLÂNDIA
Nokia
Fonte: Wikipédia, 2012. Org: Autora1, 2012
FRANÇA
Bic L’Oréal Renault
Carrefour Michelin Rhodia
Danone Peugeot - Citroën Sanofi-Aventis
Fonte: Wikipédia, 2012. Org: Autora1, 2012
ITÁLIA
Benetton Fiat
Diadora Iveco
Ferrari Parmalat
14
ITÁLIA (continuação)
Ferrero Pirelli
Fonte: Wikipédia, 2012. Org: Autora1, 2012
JAPÃO
Ajinomoto Kyocera Nissin Alimentos Subaru
Fujifilm Mazda Panasonic Suzuki
Hitachi Mitsubishi Pioneer Toshiba
Honda Mizuno Sanyo Toyota
JVC Nintendo Sharp Yamaha
Kawasaki Nissan Sony Yakult
Fonte: Wikipédia, 2012. Org: Autora1, 2012
PAÍSES BAIXOS
C&A Philips
Heineken Shell (anglo-neerlandesa)
Makro Unilever (anglo-neerlandesa)
Fonte: Wikipédia, 2012. Org: Autora1, 2012
REINO UNIDO
British Petroleum HSBC Reebok
Cadbury Reckitt Benckiser Umbro
Glaxo Royal Dutch Shell Unilever (anglo-neerlandesa)
Fonte: Wikipédia, 2012. Org: Autora1, 2012
15
SUÉCIA
Ericsson Scania
Eletrolux Volvo
Fonte: Wikipédia, 2012. Org: Autora1, 2012
SUÍÇA
Nestlé
Fonte: Wikipédia, 2012. Org: Autora1, 2012
Com o objetivo de conhecer um pouco mais da realidade dos trabalhadores,
da empresa multinacional instalada no município de Santo Antônio da Platina –
Paraná, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas através de um questionário
com intenção de extrair considerações e opiniões dos envolvidos no processo
produtivo. A atividade (entrevista-questionário) foi realizada de maneira voluntária
pelos alunos da 6ª “A” e 7ª séries “A” / “B”, junto aos familiares ou amigos que são
funcionários do Grupo. Somente participaram do trabalho de entrevistas aqueles
alunos que tinham contato com os envolvidos no processo produtivo da empresa.
Foram respondidos 42 questionários, de forma anônima, tendo por objetivo
conhecer o perfil dos trabalhadores e a visão que estes, têm sobre a unidade de
produção instalada no município.
A orientação para estas entrevistas relacionou-se a informações que
caracterizam este grupo, tais como: sexo, idade, escolaridade; local de residência;
distância da empresa, locomoção; tempo de trabalho na empresa; além de outras
questões relacionadas diretamente as ações da unidade de produção como
treinamento/desenvolvimento; condições físicas de trabalho; imagem da empresa
perante os funcionários.
Responderam ao questionário quarenta e duas pessoas de vinte e quatro
bairros diferentes do município – fato este que demonstra a abrangência da
pesquisa. As respostas trazidas pelos alunos foram apresentadas as três turmas e
16
sob orientação da professora PDE1, promoveu-se a análise das informações
traçando paralelo entre os dados colhidos junto aos familiares. Após a apreciação
dos resultados feita em todas as turmas selecionadas para compartilharem o projeto
de implementação, a 7ª série “A”, foi designada para confeccionar cartazes que,
mostraria a toda comunidade escolar o diagnóstico alcançado quando da pesquisa.
A sala foi dividida em seis grupos ficando cada equipe responsável por
determinado tema presente no questionário pesquisa. Os itens destacados nos
cartazes foram:
Dados Pessoais – Família.
Trabalho – Treinamento/Desenvolvimento.
Estabilidade no Emprego – Imagem da empresa.
Condições Físicas de Trabalho.
Educação.
Transporte – Bairros.
Diante das respostas obtidas através da coleta de dados foi possível
estabelecer o perfil dos colaboradores da unidade de produção, sendo grande parte
do sexo masculino, ou seja, 59,5% dos entrevistados. Cerca de 30 colaboradores
apresentavam idade entre 18 e 30 anos. Somente 01 dos entrevistados encontrava-
se na faixa entre 41 e 50 anos. A maioria dentre os participantes da entrevista, isto
é, 25 pessoas já eram casadas. Com relação aos filhos 76,1% já possuíam. O
companheiro ou companheira do entrevistado trabalhava fora, recebendo também
remuneração o que ajudava no orçamento familiar. Somente 01 dos filhos dos
pesquisados já trabalhava.
No que tange à remuneração, a maioria dos trabalhadores recebia entre um e
dois salários, ou seja, 66,7% encontravam-se nessa faixa salarial. Os demais
participantes da entrevista recebiam mais de dois salários mínimos, perfazendo
33,3% dos entrevistados. Quanto à atividade que executavam a maioria estava no
setor de produção, desempenhando funções como montadores de equipamentos
elétricos ou alimentadores da linha de produção. Outras funções que foram
destacadas também pelos participantes foi administração e chefia.
Com base nas informações relacionadas ao salário atual e a função
desempenhada foram elaborados os gráficos 1 e 2:
17
Gráfico 1 – Salário Atual
0
10
20
30
Entre 1 e 2
salários
Entre 2 e 3
salários
Entre 3 e 4
salários
Entre 4 e 5
salários
Mais de 5
salários
S1
S2
Salário Atual
Fonte: Entrevistas realizadas com colaboradores multinacional, 2011. Org: Autora
1, 2012.
Na demonstração do gráfico relacionado à remuneração verificamos o maior
percentual de pessoas com renda entre 1 e 2 salários mínimos.
Gráfico 2 – Função
0
5
10
15
20
25
30
produção administração outro chefia
Fonte: Entrevistas realizadas com colaboradores multinacional, 2011. Org: Autora
1, 2012.
Esses dados confirmam que há relação entre salários recebidos e funções
desempenhadas pelos trabalhadores da unidade de produção.
Outro item a ser analisado no estudo refere-se à questão do trabalho e o
treinamento recebido para execução da função e desenvolvimento profissional dos
funcionários, objetivando capacitá-los para realizar bem a sua atividade. Observe:
18
Quadro 1 – Tempo de trabalho na empresa
Tempo Quantidade Percentual
Menos de 1 ano 08 19,04 %
Entre 1 e 2 anos 09 21,42 %
Entre 3 e 5 anos 18 42,85 %
Mais de 5 anos 07 16,66 %
Fonte: Entrevistas realizadas com colaboradores multinacional, 2011. Org: Autora
1, 2012.
Dentre os participantes do questionário onze responderam ser o primeiro
emprego, enquanto trinta e uma pessoas disseram já ter experiência em trabalhos
anteriores.
Com relação ao treinamento para a execução da função exercida 95,24%
manifestaram que haviam recebido ensinamento adequado para desenvolver a
atividade e somente 4,76% responderam mais ou menos. As mesmas respostas
foram obtidas quando do questionamento sobre os treinamentos necessários
repassados pela empresa para o desenvolvimento profissional dos funcionários.
O gráfico abaixo é baseado na seguinte questão: “O treinamento que você
recebe o capacita a fazer bem o seu trabalho?”
Gráfico 3 – Treinamento
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Sempre Quase
sempre
Raramente Nunca Não tenho
opinião
Fonte: Entrevistas realizadas com colaboradores da empresa, 2011. Org: Autora1, 2012.
19
Outra questão que mereceu destaque foi o item segurança em relação à
estabilidade no emprego, onde trinta e três pessoas entrevistadas disseram estarem
tranqüilas com relação ao tema, duas responderam que não se sentiam confortáveis
e sete ficaram em dúvida, proferindo um mais ou menos.
Antes da realização deste questionário, particularmente tinha uma visão
errônea do conceito que os funcionários tinham em relação à empresa. Achava que
os trabalhadores estavam ali por pura falta de opção e que não gostavam do
ambiente em que estavam inseridos. Porém, após analisar os dados da pesquisa foi
possível comprovar que perante os colaboradores a imagem da unidade é
merecedora de admiração, pois quase a totalidade, ou seja, trinta e nove dos
quarenta e dois entrevistados consideravam a empresa um bom lugar para trabalhar
e trinta e sete destes indicariam um amigo para trabalhar na sua empresa. Com
relação aos questionamentos duas pessoas tiveram posicionamento negativo. Não
tinham opinião formada sobre os assuntos uma e três pessoas respectivamente.
Verificou-se também a aprovação da maioria em relação às condições físicas
do ambiente de trabalho, onde os princípios de organização, limpeza, disciplina e
segurança fazem parte da filosofia da empresa, que é de origem japonesa e prima
pelo fazer bem feito.
Quadro 2 – Condições Físicas de Trabalho
Ambiente Sim Não
Refeitório 41 01
Espaço 40 02
Higiene 42 00
Instalação sanitária 41 01
Fonte: Entrevistas realizadas com colaboradores multinacional, 2011. Org: Autora
1, 2012.
Tendo por base os dados do quadro é possível confirmar que a qualidade do
ambiente de trabalho era satisfatória para a grande maioria dos envolvidos no
processo produtivo, principalmente depois da construção de um restaurante com
20
mais de 700 metros quadrados, com área verde e uma cozinha, construída com
equipamentos de última geração. O restaurante foi inaugurado no dia 31 de março
de 2011. Muitos dos funcionários faziam uso do ambiente durante algum momento
do seu dia.
Gráfico 4 – Refeitório/Alimentação
0
5
10
15
20
25
1 2
Refeições
Almoço
Café da manhã
Jantar
Lanche da tarde
Ceia
Nehuma
Fonte: Entrevistas realizadas com colaboradores multinacional, 2011.
Org: Autora1, 2012.
O tema Educação foi outro aspecto abordado através das entrevistas
aplicadas aos funcionários da empresa de capital estrangeiro. Partindo de um
questionário semi-elaborado, os alunos voluntários das três turmas selecionadas se
propuseram a investigar o perfil dos trabalhadores da referida empresa. O nível de
escolaridade que contemplou a maioria dos entrevistados foi o Ensino Médio
completo com vinte e duas pessoas, ou seja, 52,38% do total. Depois o Médio
incompleto com sete representantes, ou 16,67%. O Ensino Superior concluído ou em
fase de conclusão apresentou três nomes em cada uma das fases, ou 14,28% dos
pesquisados. Trabalhadores que já são Pós-Graduados ou que estão por finalizar o
curso no total somaram cinco, ou seja, 11,90%. E, finalmente duas pessoas não
finalizaram o Ensino Fundamental, ou 4,76 dos pesquisados.
Ainda, sobre o tema Educação e Cultura, com o intuito de se averiguar o
conhecimento e o interesse dos participantes a respeito das notícias veiculadas no
cenário nacional ou internacional foi colocada a seguinte questão: “Qual é o meio
que você mais utiliza para se manter informado sobre os fatos atuais?
21
Quadro 3 – Meios de Informação
Meios Nº Pessoas Meios Nº Pessoas
Jornal falado (TV) 28 Revistas 03
Internet 22 Telefone (fixo) 03
Noticiário (rádio) 08 Outras pessoas 01
Jornal escrito 07 Não me informo 01
Fonte: Entrevistas realizadas com colaboradores multinacional, 2011. Org: Autora
1, 2012.
A partir da tabela é possível perceber que o meio de comunicação mais
utilizado pelos trabalhadores é a televisão. A TV é um meio de comunicação que
atinge praticamente todas as massas, ou seja, grande parte dos brasileiros tem um
aparelho de televisão sendo, portanto uma importante fonte de informação. A
internet também constitui importante instrumento de comunicação sendo citada por
52,38% dos entrevistados.
No que tange a forma de locomoção, ou meio de transporte que era utilizado
pelos colaboradores para chegarem ao trabalho 28,58%, responderam valer-se de
carro e ônibus respectivamente. O gráfico 5 nos remete aos dados:
Gráfico 5 – Transporte
0
2
4
6
8
10
12
Carro Ônibus Moto A pé Carona Bicicleta
Meios de locomoção
Fonte: Entrevistas realizadas com colaboradores da empresa, 2011. Org: Autora1, 2012.
22
O tempo em média para se chegar ao trabalho variava entre cinco e mais de
vinte minutos dependendo do local de residência dos entrevistados. A distância
aproximada entre a moradia e a empresa girava aproximadamente entre 2 e 5 km,
estes números foram apresentados por vinte e nove dos pesquisados. Somente
duas pessoas residiam a mais de 10 km da unidade de produção. A empresa
dispunha de transporte coletivo, doze pessoas faziam uso desse sistema e as
demais se utilizavam de outros meios, conforme demonstra o gráfico.
Outra questão que chamou a atenção foi o grande número de bairros listados
como locais de moradia dos trabalhadores. Participaram do questionário de
entrevistas quarenta e duas pessoas que residiam em vinte e quatro bairros
diferentes do município de Santo Antônio da Platina – PR. A partir, dessa temática
foi possível perceber a abrangência da atividade que acabou incluindo diversas
localidades da cidade.
Quadro 4 – Local de residência dos entrevistados
Caxambu: 01 Jardim Sta Cruz: 01 São Francisco: 01
Centro: 05 Jardim S. Paulo: 01 Sindicato: 01
Colorado: 01
Jardim S. Pedro: 01 Vila Claro: 05
Doutor Jamidas: 01 Mte das Oliveiras:02
Vila Mascaro: 01
Jardim Alphaville: 01 Parque Lavorato: 01
Vila Ribeiro: 01
Jardim Bela Vista: 02 Res. Morumbi: 01 Vila Rica: 02
Jardim Campestre: 01 Santa Joana: 01 Vila São José: 03
Jardim Murakami: 02 Santa Mônica: 01
Vitória Régia: 05
Fonte: Entrevistas realizadas com colaboradores multinacional, 2011. Org: Autora
1, 2012
Dando sequência aos trabalhos de implementação e visando um
embasamento maior na proposta de construção do conhecimento, partiu-se para o
ponto culminante do projeto – Visita a Empresa Multinacional.
Sendo o projeto de intervenção voltado preferencialmente para a 6ª série “A”,
esta turma foi então indicada para a atividade extraclasse. A visita a multinacional foi
23
o ponto alto das estratégias traçadas, pois ofereceu ao educando maior interação
entre teoria e prática, utilizando para tanto a Prática de Campo, como recurso para a
compreensão e produção do conhecimento.
Para a realização da atividade exigiu-se toda uma preparação anterior, como
entrar em contato com a pessoa responsável pelo agendamento das visitas. Para
tanto foram enviados e-mails, telefonemas para a possível data. A autorização só foi
concedida após a aprovação do “Formulário de Visita Técnica”, onde continha dados
da instituição interessada na visita, data antecedida de um mês e objetivo da ida até
a empresa. Os dias de visitação e horários já são programados. Qualquer horário
fora ao agendado deve ser negociado, para uma possível liberação ou não, das
partes envolvidas na visita direcionada.
Após o processo de liberação e agendamento, a empresa pediu uma listagem
das pessoas que iriam participar da visitação para receberem um certificado de visita
técnica. A empresa também enviou via e-mail algumas instruções que precisariam
ser seguidas no dia para a segurança e o sucesso da atividade.
A visita direcionada ocorreu em dois dias, havendo a divisão da turma em
duas equipes, já que a empresa recebe em suas dependências entre dez e trinta
pessoas, visando oferecer qualidade e segurança, não apenas à qualidade e
segurança produtiva, mas também a qualidade ambiental e segurança pessoal.
Quando chegou o tão esperado dia, os alunos estavam muito ansiosos, pois
segundo eles, foram semanas, dias de expectativa e enfim, chegou o momento tão
esperado. Mas, para que tudo acontecesse de maneira segura e correta, foram
enviadas autorizações para os responsáveis dos alunos e somente com os seus
consentimentos, os mesmos puderam participar da atividade.
Ao chegar às dependências da empresa fomos recepcionados pelo técnico de
segurança, que nos recebeu de maneira cordial, sendo educado e gentil com os
alunos ao explicar as normas de segurança da empresa com relação aos seus
visitantes.
Assim que entramos fomos encaminhados a sala de palestras, onde foi
mostrado um vídeo que continha diversas informações sobre a empresa, tais como:
origem, fabricação dos chicotes automotivos, principais clientes e atividades
desenvolvidas na unidade de produção. Neste mesmo ambiente além do técnico de
segurança, encontrava-se também o gerente da Planta de Santo Antônio da Platina,
as responsáveis pelo setor de Recursos Humanos e o instrutor de treinamento.
24
Todos explanaram sobre suas funções e questões relacionadas à produção e o
funcionamento da empresa.
Ainda neste momento, além dos assuntos técnicos os alunos tomaram
conhecimento também da rotina que envolve a empresa, da prática diária dos
colaboradores e os projetos desenvolvidos por ela – tais como: ginástica laboral,
com o objetivo de prevenir doenças ocupacionais, através de exercícios diários
realizados antes de cada turno; comemoração dos aniversariantes no final de cada
mês com brindes; homenagem no dia das mulheres, mães, pais; concurso cultural
no dia das crianças com festa para os filhos dos funcionários; final do ano –
confraternização para comemorar conquistas e resultados, preparando-se para os
desafios do ano seguinte.
Com relação ao meio ambiente os funcionários são incentivados a
preservação ambiental e ao plantio, ocorrendo também sensibilização nas escolas
com objetivo de mostrar a importância de preservar o meio ambiente para essa
geração e o futuro. Além destes outros projetos também foram mencionados.
Após este momento fomos encaminhados para a sala de treinamento prático
onde o instrutor mostrou um mural com amostras de cabos, fios, conectores, fusíveis
e fitas, material este utilizado na confecção dos chicotes elétricos. Os alunos, assim
como eu e a pedagoga que os acompanhava, ficamos sabendo que existem
diferentes tipos de chicote dependendo do modelo e do tipo de carro e que são
utilizados mais de um por carro. Neste ambiente são treinados os novos
funcionários.
Depois disso, fomos conhecer as linhas de produção, os alunos acharam
interessante o processo de fabricação dos chicotes, pois esses ficam presos a uma
base giratória que fica rodando e vai passando de pessoa a pessoa e cada um vai
executando o seu trabalho. A cada setenta e dois segundos um produto fica pronto.
Os colaboradores têm coletes de cores variadas, dependendo da função: estagiário,
líder de linha, operador de produção, inspetor de qualidade e polivalente, aquele que
dá suporte técnico. A empresa também conta com colaboradores com necessidades
especiais em seu quadro de funcionários.
Depois desse ambiente fomos levados para o setor de expedição onde os
alunos perceberam que haviam muitas caixas carregadas com chicotes elétricos que
iriam para diversas partes do Brasil e diferentes montadoras, elas eram identificadas
pela marca do fabricante. Além das caixas visualizaram também contêineres e
25
carretas que esperavam também para serem carregadas e transportarem o produto.
A preocupação com os resíduos foi um dos questionamentos dos alunos ao
responsável pelo setor de expedição este, porém garantiu que a empresa recicla o
máximo possível, destinando cada item para o lugar indicado para reaproveitamento.
Completou assinalando que a empresa possui compromisso ambiental, dentro das
políticas do 5S4 e que unidade de produção também dispõe de um serviço
terceirizado de destinação dos resíduos sólidos.
A atividade extraclasse encerrou-se com a entrega dos certificados de visita
técnica aos alunos pela responsável do setor de Recursos Humanos.
A abordagem através da atividade de campo no desenvolvimento do tema
industrialização teve como objetivo estimular o aluno para que este deixe liberar
suas potencialidades e espírito investigativo, na perspectiva de sua realidade
profissional. Ademais, muitos de nossa comunidade escolar têm pais, parentes,
vizinhos ou amigos cujas vidas estão ligadas a essa unidade de produção e
envolvidos no contexto do desenvolvimento industrial de Santo Antônio da Platina.
Findadas as etapas, como estratégia de conclusão, o grupo através de um
painel aberto avaliou o grau de integração entre a população urbana e a indústria,
ampliando a discussão para que os alunos relatassem as modificações ocorridas em
seu próprio município por influência da empresa de capital estrangeiro.
4 Considerações finais
Ao término da Implementação, os alunos perceberam como a atividade
industrial influenciou o processo de urbanização brasileira e a partir do tema
industrialização compreenderam a participação e o papel das multinacionais nesse
processo. O estudo também permitiu através da vivência concreta, obtida a partir
dos questionamentos apresentados na entrevista feita com os funcionários da
empresa estrangeira, conhecer um pouco do perfil e da imagem que estes têm do
seu trabalho. Reconheceram a participação e a influência da empresa na
urbanização dos bairros próximos a unidade de produção e sua importância no
desenvolvimento socioeconômico do município.
4 Baseado nos princípios de classificação, ordem, limpeza, normatização e manutenção – metodologia de trabalho de origem japonesa.
26
A visita técnica foi de grande valia para o desenvolvimento do projeto, pois
ofereceu ao educando interação entre teoria e prática, ou seja, o didático e o real,
enriquecendo a versão baseada nas concepções apresentadas pelos autores das
obras pedagógicas. Havendo a possibilidade de nova interpretação, pois em muitos
casos, o professor repete a argumentação dos livros didáticos, perpetuadores das
versões fundadas pelos escritores, sem qualquer posicionamento crítico.
Enfim, o projeto de intervenção, certamente marcará a vida dos alunos da 6ª
série “A” e contribuirá para o enriquecimento do conteúdo estudado, além de
oportunizar aulas mais desafiadoras e prazerosas, colaborando com a relação teoria
e prática dos conteúdos escolares.
27
5 Referências ANDREFF, W. Multinacionais Globais. Tradução de Maria Leonor Loureiro. 1. Ed. Bauru: EDUSC, 2000.
CARLOS, Ana F.A. Espaço e Indústria. 7 ed. São Paulo: Contexto, 1997.
COUTINHO, L. A estrada da prosperidade. Veja, São Paulo, v. 2180, n.35, p. 117, 1º set. 2010.
FAVARO, T. O planeta urbano. Veja, São Paulo, v. 2056, n. 15, p. 111, 16 abr.
2008.
FERREIRA, Sandra Cristina. Reorganização do espaço produtivo local a partir de multinacionais em Irati-PR. Caminhos de Geografia – revista on-line. Uberlândia, vol.10, nº29. mai. 2009. (Doutoranda em Geografia) – UNESP PP. Disponível <http://www.caminhos de geografia.ig.ufu.br/include/getdoc.php?id=2021&ai>. Acesso em 25 set. 2010
FERREIRA, Olavo L. História do Brasil. São Paulo: Ática, 1995.
GLAESER, Edward. Quanto mais gente melhor. [mar. 2012]. Entrevistador: Luís Guilherme Barrucho. Revista Veja. São Paulo, ed. 2262, n.13, p.17 -21, mar. 2012
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Estimativas da população para 1º de jul. 2009. Disponível < http://www.ibge.gov.br/home/estatistiva2009/POP2009_DOU.pdf >. Acesso em 10 maio 2012.
KOZLOWSKI, Giselli K. Uma das melhores empresas para se trabalhar no Brasil: Yazaki em busca do ouro. Revista eletrônica Lato Sensu. Ano 3, nº1. mar. 2008. Artigo (Pós graduação em Gestão Estratégica de Pessoas). UNICENTRO. Disponível em <web03.unicentro.br/.../Revista.../34-Ed3_CS-MelhoresEmp.pdf>. Acesso em 10 maio 2012.
OLIVEIRA, Dennison. Urbanização e Industrialização no Paraná. Curitiba: SEED, 2001.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência
universal. 20. ed. Rio de Janeiro: Record, 2011.
SILVA, Joceli M.; JUNCKES, Ivan J.; CHIMIN JUNIOR, Alides B. Geografia Urbana I. Ponta Grossa: Ed. UEPG/NUTEAD, 2009. p. 41.
28
SPERANDIO, M. A que mais cresce. Veja, São Paulo, v. 2180, n. 35, p. 90, 1º set.
2010.
VESENTINI, José W. Sociedade e Espaço. São Paulo: Ática, 1996.
Lista de empresas transnacionais. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo: Lista_de _transnacionais _por_pa%C3%ADs-sede#Pa.C3.ADses_Baixos. Acesso em: 02 jun. 2012.