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7/27/2019 o Movimento Surrealista de Lisboa - Alguns Poemas
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JOS MARIA ALVES
O MOVIMENTO SURREALISTA DE LISBOAALGUNS POEMAS
www.homeoesp.orgwww.josemariaalves.blogspot.com
http://www.homeoesp.org/http://www.josemariaalves.blogspot.com/http://www.josemariaalves.blogspot.com/http://www.homeoesp.org/7/27/2019 o Movimento Surrealista de Lisboa - Alguns Poemas
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O Manifesto do Surrealismo de Andr Breton foi publicadono ano de 1924. O surrealismo indubitavelmente ummovimento revolucionrio nas artes lembremos aqui orecurso ao automatismo psquico com todas as suasconsequncias.Breton e Soupault, nomearam-no em homenagem aopoeta Guillaume Apollinaire.
Podemos dizer, que existiu em Portugal um verdadeiromovimento surrealista, movimento de vanguarda,conhecido como movimento surrealista de Lisboa(Perfecto E. Quadrado, A nica Real Tradio Viva,Antologia da Poesia Surrealista Portuguesa, Assrio &Alvim).Passou por algumas vicissitudes, como alis natural nodesenvolvimento estrutural e conceptual de qualquer
grupo que se organize doutrinalmente.O Movimento ter dado os seus primeiros passos nasreunies do Caf Herminius, no ano de 1940. Reunia-sea, um grupo de estudantes da Escola Antnio Arroio:Antnio Domingues, Cruzeiro Seixas, Fernando deAzevedo, Fernando Jos Francisco, Jos Leonel Rodrigues,Jlio Pomar, Mrio Cesariny, Pedro Oom e Vespeira.Em 1947, ter-se- constitudo, apadrinhado por
Alexandre ONeill, Antnio Domingues, Antnio Pedro,Azevedo, Cndido Costa Pinto que foi expulso do grupo -, Jos-Augusto Frana, Mrio Cesarin e Vespeira.Cerca de um ano depois, Cesariny rompe com o grupo,agregando ao seu redor, nomes como o de Antnio MariaLisboa e Pedro Oom. Em 1951 a vez de ONeill.Contudo, a sua poesia nunca omitiu a sua influncia.
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O Manifesto do Aviso a Tempo por Causa do Tempo, deAntnio Maria Lisboa, exemplifica-nos a atitude dossurrealistas portugueses:
Declara-se para que se saiba:
1. - que no apoiamos qualquer partido, grupo, directrizpoltica ou ideologia e que na sua frente apenas nos restatomar conhecimento: algumas vezes achar bom outrasachar mau. Quanto nossa prpria doutrina, os outrosho-de falar.
2. - que no simpatizando com qualquer organizao
policial ou militar achamo-las no entanto fruto e elementoexacto e necessrio da sociedade com quem nosimpatizamos igualmente.
3. - que sendo ns indivduos livres de compromissospolticos permaneceremos em qualquer local com omesmo -vontade. Seremos ns os melhores cofres fortesdos segredos do estado: ignoramo-los.
4. - que sendo individualmente e portantoabjeccionalmente desligados das normas convencionais,temos o mximo regozijo em ver essas mesmas normasnos componentes da sociedade. Assim delas daremos porvezes testemunho e mesmo ensino.
5. - que no somos assim contra a ordem, o trabalho, oprogresso, a famlia, a ptria, o conhecimento
estabelecido (religioso, filosfico, cientfico) mas que na epela Liberdade, Amor e Conhecimento que lhes presidepreferimos estes.
6. - que a crtica a forma da nossa permanncia.
(...)- Antnio Maria Lisboa, Poesia, Assrio & Alvim.
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Em Abril do ano de 1950, finalizando o Comunicado dosSurrealistas Portugueses, assinado por Artur do CruzeiroSeixas, Joo Artur Silva e Mrio Henriques Leiria, l-se:Para a ptria, a igreja e o estado a nossa ltima palavra
ser sempre: MERDA.
Mrio Cesariny, diria que o Homem s ser livre quandotiver destrudo toda e qualquer espcie de ditadurareligioso-poltica ou poltico-religiosa e quando foruniversalmente capaz de existir sem limites.Ento o Homem ser o Poeta e a poesia ser o Amor-Explosivo.
Numa entrevista, diz o mesmo Mrio Cesariny: (...) o surrealismo o que existe de mais parecido coma poesia. No se ensina, no possvel. Tudo o que pedaggico muito mau. Tudo o que nasce como revolta um tormento. O surrealismo foi um convite poesia, aoamor, liberdade, imaginao pessoal.
(...)Aquilo a que se chamou o surrealismo existiu sempre.
Maro de 2010
JOS MARIA ALVES
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ALEXANDRE ONEILL
APROVEITANDO UMA ABERTA
virgens que passais ao sol-poentecom esses filhos-famlia,pensai, primeiro, na moblia,que mais prudente.
Sim, que essa qualidade,to bem reconstituda,
nem sempre, revirgens, h-deproporcionar-vos a vida
que levaisSe um tolo nunca vem s,quando no vem, no vem maisou vem, digamos por, por d...
E o d di como um soco,
at mesmo quando partede um tolo que a vossa artepromoveu de tolo a louco.
Eu quando digo moblia,digo lar, digo famliae aquela espiada fresta,aberta, patente, honesta,
retrato oval da virtude,consoladora do triste,
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remanso, beatitudepara o colrico em riste.
Assim, sim, virgens sensatas!
(Nos telhados s as gatas...)Pensai antes na moblia,honestas mes de famlia,e aceitai respeitos mildo vossoAlexandre ONeill!
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NO REINO DO PACHECO
s duas por trs nascemos,s duas por trs morremos.E a vida? No a vivemos.
Querer viver (deixai-nos rir!)seria muito exigir...Vida mental? Com certeza!Vida por detrs da testaser tudo o que nos resta?Uma ideia uma ideia- e at parece nossa! -mas quem viu uma andorinhaa puxar uma carroa?
Se ideia no se dero brao que ela pedir,a ideia, por melhorque ela seja ou queira ser,no ser mais que bolor,po abstracto ou mulhersem amor!
s duas por trs nascemos,
s duas por trs morremos.E a vida? No a vivemos.
Neste Reino do Pacheco- do que era todo testa,do que j nada dizia,e s sorria, sorria,do que nunca disse nadaa no ser pr galeria,
que tambm no o ouvia,do que, por detrs da testa,
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tinha a testa luzidia,neste reino do Pacheco, meus senhores que nos restaseno ir aos maus costumes,
s redundncias, bem-pensncias,com alfinetes e lumes,fazer rebentar a besta,p-las de pernas pr ar?
Por isso, aqui, acoltudo pode acontecer,que as ideias saem forada testa de cada qualpara que a vida no sejas mentira, s mental...
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DEIXA
A tua me o marfim crucificadoao teu pai o vcio mais ronceiroe a quem quiseros lindos pentes da virtude
Frases clebrestodase no esqueas aquelaque diz assim
PAISque fazeis?OS VOSSOS FILHOS
no so tostesGASTAI-OS DEPRESSA!
Deixa tambm a iluso de que te amaramquelas duas que ali no vs
S no tempo em que os suicidascomo os animais falavamvalia a pena desiludir
Deixa aindao que a lgebra mais secretadecidiu a teu favor
A sombra que projectastetalvez algum a resolvanum diamante cruel
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O POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO
O medo vai ter tudopernasambulnciase o luxo blindadode alguns automveis
Vai ter olhos onde ningum os vejamozinhas cautelosasenredos quase inocentesouvidos no s nas paredesmas tambm no chono tectono murmrio dos esgotos
e talvez at (cautela!)ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudofantasmas na perasesses contnuas de espiritismomilagrescortejosfrases corajosas
meninas exemplaresseguras casas de penhormaliciosas casas de passeconferncias vriascongressos muitosptimos empregospoemas originaise poemas como esteprojectos altamente porcos
heris(o medo vai ter heris!)
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costureiras reais e irreaisoperrios(assim assim)escriturrios
(muitos)intelectuais(o que se sabe)a tua voz talveztalvez a minhacom certeza a deles
Vai ter capitaispasessuspeitas como toda a gentemuitssimos amigosbeijosnamorados esverdeadosamantes silenciososardentese angustiados
Ah o medo vai ter tudotudo
(Penso no que o medo vai tere tenho medoque justamenteo que o medo quer)
O medo vai ter tudoquase tudoe cada um por seu caminhohavemos todos de chegarquase todosa ratos
Sim
a ratos
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O LANTERNA VERMELHA
Que interessa mostrar que voc est morta e, o que melhor, sem seios,D. Adelaide Janeleira?Que Sua Besta voltou a meter as mos dentro do pratoou que o Dr. Falaz est s moscas?Ou que h velhas ourinadas nas pastelariasainda a fazerem cu-curru ao Brilhantinas?Que falta de tacto me pode permitir aindafalar dos trs que traio! no esto londe estiveram uma eternidade?Que tropeo no gosto me leva a cair sempre em cimada cantora a que ningum d ouvidos(prouvera ao Velho fosse boa, mesmo que no
cantasse...)Que ancestral timidez me faz beijobicar a ebrneamanita de Moemaquando o que valia a pena era trinc-lapara que ao menos uma vez houvesse sanguenaquela sala?Que tm os outros com certa pacotilhaque transporto na malmaPara qu aguitarrar a frustrao?
Para qu maxilar a agresso?Anda, v, d-me a tua opinio!
- Sento-me na geral, vejo-me no palco e no me tomo asrio.- Se eu te tomasse a srio (ests a ouvir, Alexandre?)fazia-te perpassar nonchalamment pelos santurios,deixava que certas fmeas te devorassem
enquanto tu louvarias a Deussem esses palavres que so agora os teus,
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ou (soluo-soluo) fazia de ti um grande e queridodesgarrado,um que soubesse organizar passeios Angstia, aoRemorso, ao Outro Lado,
mas em tirar o rico sono aos mortos.Se eu te tomasse a srio carrilava-te,meu lanterna vermelha!
Que interessa a glorola (simiesco nome)?Que interessa aparecer em Estocolmo a bordo de umpoemaque no chega sequer a Trs-os-Montes?Para qu negacear com os espelhosquando os espelhos se revem em ns?No acha o colega que a poesia no tem nada a ver com apesquisa?(Pesquisas fazem-se em casa, j dizia a minha av, queera escritora).No acha o colega que estamos todos a exagerarno fabrico da faca em lmina a que falta o cabo?
No lhe parece, caro colega, que a poesia deve ter porobjectivo a verdade prtica?E o que a verdade prtica? pergunta logo o colegapara me codilhar.E o que o lume? perguntou-me por gestos o meufilho. o que queima disse-lhe eu atravs do gesto de oqueimar com a ponta do cigarro.Ser isto a verdade prtica? Ajude-me, por favor, caro
colega.A colega perdoe, mas se o seu marido no cumpre osdeveres por assim dizer conjugaisque tem a poesia com isso?Desabafe antes com uma amiga, ou se tiver coragem,com um amigoque pode muito bem ser este seu criado...Quando fizer strip-tease, simptica colega,no se esquea de deixar-se no poema toda nua
mas tirando s no fim as meias pretas, que os homensgostam mais ...
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Se o colega tem na montra, tem,versos to neo-bondadosos,o que no ter no armazm, hein?Pst! Colega! No vai um tirinho,
um tirinho nesse corpinho?J sabemos, respeitabilssima colega,que traz alguns anjos a voarno seu cu de papel,mas no se esquea de os reabastecercom combustvel terrestre volta e meia:ficaro mais parecidos...Colega (passe o termo...) a sua rosaj se desfardou?Mande antes vir, em vez de rosas mentirosas,9 tostes de po e 3 de vinho,tudo muito bem desenhadinho...E agora, colegas, terminandoesta fantasia a fogo brandoonde nenhum pano cai,cantemos allegro para os crticos,lembrando o que est a ir,
esquecendo o que j l vai:Se no fssemos nsquem eram vocs?
Se no fossem vocsquem ramos ns?
Quem nos l a ns?
So vocs (e ns...)
Quem vos l a vocs?Somos ns ( e vocs...)
Tudo fica, pois,entre ns, entre ns...
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CO
Co passageiro, co estrito,co rasteiro cor de luva amarela,apara-lpis, fraldiqueiro,co liquefeito, co estafado,co de gravata pendente,co de orelhas engomadas,de remexido rabo ausente,co ululante, co coruscante,co magro, ttrico, maldito,a desfazer-se num ganido,a refazer-se num latido,co disparado: co aqui,co alm, e sempre co.
Co marrado, preso por um fio de cheiro,co a esburgar o ossoessencial do dia-a-dia,co estouvado de alegria,co formal da poesia,co-soneto de o-o bem martelado,co modo de pancadae condodo do dono,co: esfera do sono,
co de pura inveno, co prefabricado,co-espelho, co-cinzeiro, co-botija,co de olhos que afligem,co-problema...
Sai depressa, co, deste poema!
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ANTNIO DACOSTA
O TRABALHO DAS NOSSAS MOS
EU ERA NOVO E TU SIMULAVASTARDES IMVEIS PORTA DO NOSSO MEDO NAS MAISDIFCEIS EM QUE TEOCUPAVAS COM GESTOS E UMA INVENCVEL ENTREGATEFAZIA INVEJAR AS CHA-MINS E OS SEUS FUMOS.
TU, O TEU SANGUE CREPUSCULAR, DISSOLVIA O MEUREMORSO DE TER NASCIDO EDISSOLVIA O PEZ QUE OS OUTROS COLAVAM AO NOSSOCORPO.O TEU GESTO DE MOLHAR A LUZ NA TUA PELEDISFARAVACOM CUIDADO QUAL-QUER ASA DE PECADO.O NOSSO RECEIO NO ERA J DAS CINZAS QUE NOS
APOU-CAM. A LIMPIDEZ DO CU,TRABALHO DAS NOSSAS MOS, ENTREABRIRA-TE OSLBIOSDOUTRA SEDE, PERMA-NENTE COMO A CHUVA.
EU ERA NOVO E TU SIMULAVAS OS MEUS DEDOS DESFO-LHANDO-SE.
PORQUE O NOSSO PESO ERA DE SMBOLOS, DECIDISTECRIAR OUTROS.
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A DORMIR REFIZEMOS OS NOSSOS FRUTOS DE ALEGRIAENUNCA NINGUM NOS IM-PORTUNOU COM TARJAS TRISTES NOSSA PORTA. a
VIVERREFIZEMOS AS COISAS EO SEU GUME, NA EVIDNCIA DO QUE EXISTE.DESPIAS SORRIDENTE, DESLUMBRADA, AQUELE QU DEAUSENTE NA CARNE DASESTTUAS, E NADA QUE NO FOSSE EXACTO TURBAVAOSTEUS OLHOS. A TERRAABRIA-SE PARA A CHUVA ENQUANTO A SEMENTE DO DIAENTRAVA NO BICO DOSPSSAROS. HAVIA UM GESTO DE ELEVAO.
EU SIMULAVA VER UM BARCO INCENDIADO, UM MARDE LIXVIA A ARDER E AS REN-DAS DA NOITE CREPITANDO. OUVES AINDA O RUMORDASESTRELAS DE QUE, NOS
DECLIVES, DEPENDIAM NOSSOS PASSOS? UM PEDESTALDECIO SUSTINHA AS ES-TTUAS DO VALE, INERTES DE DESTERRO, TODAS DEROSTOSEMELHANTE, EXISTIN-DO DE AUSNCIA ERGUIDA.NESSA HORA O LINHO QUE NOS COBRIA TINHAQUALQUER
COISA DE FEROZ E RECLA-MAVA SANGUE.O BRANCO ENSINOU-NOS A ESPADA. A ESPADA ACORAGEMDE A SABER INTIL.UM DIA DISSESTE A FITAR OS OLHOS DE IMENSASCOISAS QUE AO MENOS NOSSALVEMOS NS! DI-ME O CORPO DE ESPERAR...
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ANTNIO MARIA LISBOA
RECUSA
I
muito possvel durante os primeiros mesesuma importante viagem Asia essa uma das consequnciassecretasem que no se tomaram quaisquer resolues finaise ambas chegaram igualmente
II
ainda um cu marinho de agonia onde eusou um copo de aguardente francesa e tuuma gaivota que passa rente ao barco que me leva
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- Eu sou uma coisa qualquerEu sou uma qualquer coisasou uma qualquer coisa euuma qualquer coisa eu souqualquer coisa eu sou umacoisa eu sou uma qualquer
EU NO SOU UMA COISA QUALQUER- eu sou uma cidade
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- eu sou ZANONI de Bulwer Lyton- eu sou uma errata- onde est a minha vida deve-se ver a nossa vida(...)- onde est Deus deve-se ver o Diabo- onde est o Amor deve estar o Grande Amor Mgico
Amor Meu- onde estou Eu deves estar Tu- onde esto os lbios da nossa vida H uma porta
secreta minscula
O-AMORMEU AMOR
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POEMA A MRIO CESARINY
A Mrio Cesariny
Moveu-se o automvel mas no devia mover-seno devia!
Ontem meia-noite trs relgios distintos bateram:primeiro um, depois outro e outro:o eco do primeiro, o eco do segundo, eu sou o eco doterceiro
Eu sou a terceira meia-noite dos dias que comeam
Preges de varina sem peixe- peixe morreu ao sair da guae assim j no peixe
Assim como eu que vivo uma VIDA EXTREMA.
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POEMA H
Sei que dez anos nos separam de pedrase razes nos ouvidos
e ver-te, menina do quarto vermelho,era ver a tua bondade, o teu olhar ternode Borboleta no Infinito
e toda essa sucesso de pontos vermelhos no espaoem que tu eras uma estrela que caiue incendiou a terra
l longe numa fonte cheia de fogos-ftuos.
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POEMA Z
As formas, as sombras, a luz que descobre a noitee um pequeno pssaro
e depois longo tempo eu te perdi de vistameus braos so dois espaos enormes
os meus olhos so duas garrafas de vento
e depois eu te conheo de novo numa rua isoladaminhas pernas so duas rvores floridasos meus dedos uma plantao de sargaos
a tua figura era ao que me lembroda cor do jardim.
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PROJECTO DE SUCESSO
Continuar aos saltos at ultrapassar a Luacontinuar deitado at se destruir a camapermanecer de p at a polcia virpermanecer sentado at que o pai morra
Arrancar os cabelos e no morrer numa rua solitriaamar continuamente a posio verticale continuamente fazer ngulos rectos
Gritar da janela at que a vizinha ponha as mamas de
forapr-se nu em casa at a escultora dar o sexofazer gestos no caf at espantar a clientelapregar sustos nas esquinas at que uma velhinha caiacontar histrias obscenas uma noite em famlianarrar um crime perfeito a um adolescente loirobeber um copo de leite e misturar-lhe nitroglicerinadeixar fumar um cigarro s at meioAbrirem-se as covas e esquecerem-se os dias
beber-se por um copo do oiro e sonharem-se ndias.
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ANTNIO PEDRO
PROTOPOEMA DA SERRA DARGA
Sonhei ou bem algum me contouQue um diaEm San Loureno da MontariaUma r pediu a Deus para ser grande como um boiA r foiDeus que rebentou
E ficaram pedras e pedras nos montes conta dafbulaFicou aquele ar de coisa sossegada nas runas sensveisFicou o desejo que se pega de deixar os dedos pelasarestas das fragasFicou a respirao ligeira do alvio do peso de cimaFicou um admirvel vazio azul para cresceremcastanheirosE ficou a capela como um intil cncavo de virgemPara danar roda o estrapassado e o vira
Na volta do San Joo dArgaNo sei se bem assim em San Loureno da MontariaSei que isto mesmo assim em San Loureno daMontariaO resto no tem importnciaO resto que tem importncia em San Loureno daMontariaO resto a Deolinda
A Deolinda dana a goita leveE feia a Deolinda
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Dana os amores que no teveTem o flego do hlito alheio que lhe faltou a amolecera carneSeca como a da penedia
O resto o verde que sangra nos beios grossos deapetecerem ortigasO resto so os machos as fmeas e paisagem claroComo no podia deixar de serAs razes das rvores procura de merda na terraressequidaOs bichos procura dos bichos para fazerem maisbichosOu para comerem outros bichosOs tira-olhos as moscas as ovelhas de no pintarE o milho nos intervalos
Todas estas informaes so muito mais poema do queparecemPorque a poesia no est naquilo que se dizMas naquilo que fica depois de se dizer
Ora a poesia da Serra dArga no tem nada com aspalavrasNem com os montes nem com o lirismo fcilDe toda a poesia que por l h
A poesia da Serra dArga est no desejo de poesiaQue fica depois da gente l ter idoVer danar a DeolindaDepois da gente l ter caado rs no rio
Depois da gente ter sacudido as varejeiras dosmendigosQue tambm foram romaria
As varejeiras pem as larvas nos buracos da pele dosmendigosE da fermentaoNascem odores azedos padre-nossos e membrosmutilados
assim na Serra dArga
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Quando canta a DeolindaE vem gente de longe s para a ouvir cantar
Nesses dias
As larvas vem-se menosPois o trabalho que tm andar por debaixo das pelesA prepararem-se para voar
Quanto aos mendigos diferenteA sua maneira de aparecerUns nascem j mendigos com aleijes e com as rezassabidasDo ventre mendigo maternoOutros quando chupam o seio sujo das mesQue apanham aquela voz rouca e as feridasOutros ento em consequncia das moscas e daschagasQue vo mendicidade
No mo contou a DeolindaQue s conta de amores
E s dana de coresE s fala de floresA Deolinda
Mas sabe-se na serra que h uma tribo especial demendigosQue para os criar bemLhes pem desde pequenos os ps na lama dos pauisRegando-os com o esterco dos outros
Enquanto ali esto a criar as membranas que valem apenaVo os mais velhos ensinando-lhes as oraes doagradecimentoEles aprendemAo saberem tudoNasce de propsito um enxame de moscas para cadaum
Todas as moscas que h no Minho
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Se geraram nos mendigos ou para elesE por isso que tm as patinhas frias e peganhosasQuando pousam em nsE por isso que aquele zumbido de vaivm
Das moscas da Serra dArgaAinda lembra a mastigao de lamrias pelas alminhasdo PurgatrioEm San Loureno da Montaria
Este poema no tem nada que ver com os outrospoemasNem eu quero tirara concluses como os poetas nosartigos de fundoNem eu quero dizer que sofri muito ou gozeiOu simplesmente achei uma maadaOu sim mas no talvez quem deraViva Deus-Nosso-Senhor
Este poema como as moscas e a DeolindaDe San Loureno da MontariaE nem sequer l foi escrito
Foi escrito conscienciosamente na minha secretriaAntes de eu o passar mquinaEtc., que no tenho tempo para mais explicaes
que eu estava a falar dos mendigos e das moscasE no disseContagiado pelo ar fino de San Loureno da MontariaQue tudo assim em todos os dias do ano
Mas aos sbados e nos dias de romariaOs mendigos e as moscas deles repartem-se melhorSo sempre maisE creio de propsitoSer na sexta-feira noiteQue as mendigas parem aquela quantidade demendigozinhosCom que se apresentam sempre no dia da caridade
Elas parem-nos pelo corpo todoPois a carne
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De to amolecida pelos vermesNo tem exigncias especiaisE porque assim aconteceTodos os meninos nascidos deste modo tm aquele ar
de coisa moleQue nunca foi apertada
Os mendigos fazem parte de todas as paisagensverdadeirasEm San Loureno da MontariaAlm deles h a bosta dos boisOs padresO ar que lindoOs pssaros que comem as formigasAlgumas casas s vezesOs homens e as mulheres
Por isso tudo ali parece ter sido feito de propsitoExactamente de propsitoExactamente para estar aliE por isso que se tiram as fotografias
Por isso tudo ali naturalmenteDuma grande crueldade naturalOs meninos apertam os olhos das trutasQue vm da gua do rioPara elas estrebucharem com as dores e mostraremque ainda esto vivasOs homens beliscam o cu das mulheres para que elasse doamE percebam assim que lhes agradam
Os animais comem-se uns aos outrosAs pessoas comem muito devagar os animais e o poE as rvores essasSorvem monstruosamente pelas razes tudo o quepodem apanhar
Assim acaba este poema da Serra dArgaOnde ontem vim rachar uma rvore e me deu um certogozo aquilo
Parecia a queda dum regmenTudo muito assim mesmo l em cima
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E c em baixo dois suados machadada
Ao cair o barulho parecia o duma coisa muito dolorosaMas no buraco do stio da rvore
Na mata de pinheiralO azul do cu emoldurado ainda era mais bonitoEm San Loureno da Montaria
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ARTUR DO CRUZEIRO SEIXAS
As mos escrevem nas plpebrasa palavra astroneste fim de tarde solitrio.
A morte a mais lbrica das criaturase vem e vaie pendura nas paredesmil e uma frmulas secretasem que so iguais as quantidades de realidadee do que a ela se ope.O vento est visivelmente cansadoarranhou-se num espinheiroe corre-lhe pelo peito quente
um fio de sangue.Qualquer coisa como msica
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advm do seu silncioe o olhar uma ponte nitidssimaentre duas realidades que no h.
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Eu vi-o ouvi-oa juntar todo o azulantes de termos a idade de pases muito antigosao luar.
Um doido pendurado de uma rvore um tipo que nunca aprender.
Mas eram esses que me mantinham a par de tudoe no serei eu a acusar a nevede adormecer sobre ns.
Coisas como as madrugadasou a fortaleza invadida pelo tempoou a mo cercada por todos os garfos desta cidade
olhadas pelos gatos como simples mscarasnunca passaram incgnitaspor esta infinita galeria de espelhos.
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Desesperadas btegasencharcam os caminhosj alagados de lgrimas.
Sobre o marabstractoos espelhosreiventam o silncio.
Do salfizeram as serras azuisdanando de rodaesta luz amarelao coe a corda que o prende.
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Um olhar furtivopor certo sabiamente encaixotadoprocura-te por toda a partee frica que responde por til do ponto mais perigoso do labirintoonde nem o Minotauro vemaquecer com o seu bafoo teu tiritar convulsivo.
So as tuas pernas que falama tua mo os cabeloso silncio desferido contra o Nada.Tudo o que narra o Apocalipseos que vm de longe erguer ainda mais uma veza arruinda torre sobre o vulco activo do nosso desejo
em forma de harpana outra margem tangida.
Nas extensas praias da fozcada bago de areia era uma palavraa que no sabamos responder.
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CARLOS EURICO DA COSTA
Na cidade de Palaguino dinheiro corrente era olhos de crianas.Em todas as ruas havia um bordele uma multido de prostitutasfrequentava aos grupos casas de ch.havia dramas e histrias de era uma vezhavia hospitais repletos:o pus escorria da porta para as valetas.Havia janelas nunca abertas
e prises descomunais sem portas.havia gente de bem a vagabundearcom a barba crescida.Havia ces enormes e famlicosa devorar mortos insepultos e voantes.Havia trs agncias funerriasem todos os locais de turismo da cidade.Havia gente a beber sofregamentea gua dos esgotos e das poas.
Havia um corpo de bombeirosque lanava nas chamas gasolina.
Na cidade de Palaguinhavia crianas sem braos e desnudasbrincando em parques de pntanos e abismos.Havia ardinas a anunciara falncia do jornal que vendiam;havia cinemas: o preo de entrada
era o sexo dum adolescente(as mes cortavam o sexo dos filhos
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para verem cinema).Havia um trust bem organizadopara a explorao do homossexualismo.Havia leiteiros que ao alvorecer
distribuam sangue quente ao domiclio.havia pobres a aceitar como esmolasacos de ouro de trezentos e dois quilos.E havia ricos pelos passeiosimplorando misericrdia e chicotadas.
Na cidade de Palaguinhavia bbados emborcando cidosretorcendo-se em espasmos na valeta.havia gatos sedentosa sugar leite nos seios das virgens.Havia uma banda de msicaque dava concertos com metralhadoras;havia velhas suicidasque se lanavam das paredes para o meio da multido.Havia balnerios pblicoscom duches de vitrolo quente e frio
- a populao banhava-se frequentes vezes.Na cidade de Palaguinhavia Havia HAVIA...
Trs vezes nove um milho.
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FERNANDO ALVES DOS SANTOS
DOIS POEMAS DA TRANQUILIDADE
I
Deve haver uma maneira tranquilauma tranquilidadeuma certeza.Deve haver uma febreuma febre que seja, quando menos,que nos d olhos para ler tudo.Depois dizem que h uma salvao...
Da minha infnciano guardo agora seno o cho que pisoe esse no chega.Talvez a minha faceo meu vultoa sombra
possam servir de algo.Mas no.
Assim sem alegriaarrefecido, antigocomo posso comover-mearder exaustoou beijar o aro ar simplesmente
enleado!
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II
Porque no posso seno trazer esta humildadecomo posso dar-me ou pedir-mese me pedem e me dodizendo faz-lo por uma esperana.Mas eu vejoo que a morte me tem sido para que vejae no respondo ao que imaginoporque sei que s posso desejar o que desejo.
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ODE
Levantar um homem dum tmulo desprezado;deix-lo minha imagemtocar no ventre das esttuasjustificando para sempre a queda mitolgica das cidades.Procurar coisa to poucacomo a minha inveno deserta e gilnum cigarro de acaso a prpria manhque entre os dedos levo minha boca.Deixar que doa uma gota do meu sanguee corrercorrerat que os pulsos me rebentem;tiritar de silncio
ter razes que ultrapassem os regaos das mesfazer de novo a morte no seio das montanhas abertase beijar na prpria epidermea nossa lucidez amatria de universo.
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FERNANDO LEMOS
No h tempoh horasNo h um relgioh
hbitos queme habitam
O poema dio ponteiro cortaa hora queimaa morte simula
respira
para no me distrair
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De quantas facas se faz o amorde quantas pedras se faz o vciode quantos homens se faz o medode quantas noites se faz a mortede quantas vidas se faz uma crianade quantas ternuras se faz o tdiode quantas horasser feita a esperana que guardocom sons de corpo arrastadode quantas grutas ser feitaesta humilde nas veiasque me acordamde quantos poros ser feito o mistriode quantos gritos ser feita uma religiode quantos ossos ser feita
a maldadede quantos crimes ser feitaesta lua que mal comeoue j me deixou no hbito de apuraros sentidos
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HENRIQUE RISQUES PEREIRA
UM GATO PARTIU AVENTURA (EXCERTO)
(...)
Livre um gato desliza pela goteira escura da cidade,livre uma pequena ilha nasce no ponto ignorado doOceano,livres as ondas escorregam na superfcie marinha,
livres os pssaros e os cavalos na noite da luaencantada,livre eu chamo-te dos cumes das serras,livres as ondas os cavalos e os pssaros;
(...)
O gato parte aventura pelos telhados, pelos vales epelos Sonhos.
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MARCELINO VESPEIRA
MANEQUIM VISADO
Ter fomes polidasde desejos vadiose mapas sensatosde aventuras falidas
E ter um sorriso mornode manequim visado...
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HOJE
O dia no foi meue tantos outros que o no soerro no calendrioou voluntria distraco
E os dias que foram meusgestos de outros soque se do a quem os quernos dias que o no so
E da pressa de os perderdo cansao de os contarganho vcios da noite
que me sabem perdurar
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Rir com risorir sem risoriso do risorir de tudoriso do nadarir por todosriso de medorir sem medorir ainda com medoriso de perder o medorir para ter medoriso do medo de rirriso sem o medo do risorir do riso com medoriso do rir de medo
rir e morrerriso de mortemorte do riso
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MRIO HENRIQUE LEIRIA
o amor no somos ns que o temos-nos dadomuito antes de termos nascidotalvez verdadeiro autnticocomo o encontro do mar e da luz
depois muito depoisquando os teus braos os teus seios
chegaram at mimj estavam perdidosj no existiamo meu rosto deformado atrozj no te podia olharmas os meus olhos esses simainda te viam como antescomo tu eras quando no existiass os meus olhos
s os meus olhosas mos essas sem dedosesfoladas esfaceladasde tanto esperarnunca te encontrarame na grande plancie do medoficavas tu que no existiaso meu corpo belo perdidosem rosto muito plido
partiu entoentre a nuvem e a sombra
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maravilha de verdademas perdido na praia do sonhoembalado nas algascom muitos animais marinhos no sexo
com um rasto de luasque sempre sempreo acompanharo
apenas duas gotas de sanguepequenas rutilantes
os meus olhos meus olhossempre os meus olhos
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ORIGEM DOS SONHOS ESQUECIDOS
Entre a bicicleta e a laranjavai a distncia de uma camisa branca
Entre o pssaro e a bandeiravai a distncia de um relgio solar
Entre a janela e o canto do lobovai a distncia dum lago desesperado
Entre mim e a bola de bilharvai a distncia dum sexo fulgurante
Qualquer pedao de floresta ou tempestadepode ser a distnciaentre os teus braos fechados em si mesmos
e a noite encontrada para alm do grito das panteras
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Qualquer grito de panterapode ser a distnciaentre os teus passose o caminho em que eles se desfazem lentamente
Qualquer caminhopode ser a distnciaentre tu e eu
Qualquer distnciaentre tu e eu a nica e magnfica existnciado nosso amor que se devora sorrindo
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MRIO CESARINY
YOU ARE WELCOME TO ELSINORE
Entre ns e as palavras h metal fundenteentre ns e as palavras h hlices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirardo mais fundo de ns o mais til segredoentre ns e as palavras h perfis ardentesespaos cheios de gente de costasaltas flores venenosas portas por abrire escadas e ponteiros e crianas sentadas espera do seu tempo e do seu precipcio
Ao longo da muralha que habitamos
h palavras de vida h palavras de morteh palavras imensas, que esperam por ns
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e outras, frgeis, que deixaram de esperarh palavras acesas como barcose h palavras homens, palavras que guardamo seu segredo e a sua posio
Entre ns e as palavras, surdamente,as mos e as paredes de Elsenor
E h palavras e nocturnas palavras gemidospalavras que nos sobem ilegveis bocapalavras diamantes palavras nunca escritaspalavras impossveis de escreverpor no termos connosco cordas de violinosnem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do armuito alm do azul onde oxidados morrempalavras maternais s sombra s soluos espasmos s amor s solido desfeita
Entre ns e as palavras, os emparedadose entre ns e as palavras, o nosso dever de falar
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hoje, dia de todos os demniosirei ao cemitrio onde repousa S-Carneiroa gente s vezes esquece a dor dos outroso trabalho dos outros o covaldos outros
ora este foi dos tais a quem no deram passaportede forma que embarcou clandestinono tinha poltica tinha fsicamas nem assim o passarame quando a coisa estava a ir a maistzzt... uma poo de estricninadeu-lhe a moleza foi dormir
preferiu umas dores parece que no lado esquerdo da alma
uns disparates com as pernas na hora apaziguadora.heri sua maneira recusou-sea beber o ptrio mijodeu a mo ao Antero, foi-se, e pronto,desembarcou como tinha embarcado
Sem Jeito Para o Negcio
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EXERCCIO ESPIRITUAL
preciso dizer rosa em vez de dizer ideia preciso dizer azul em vez de dizer pantera preciso dizer febre em vez de dizer inocncia preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem
preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano preciso dizer Para Sempre em vez de dizer Agora preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano preciso dizer Maria em vez de dizer aurora
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DE PROFUNDIS AMAMUS
Ontems onzefumasteum cigarroencontrei-tesentadoficmos para perdertodos os teus elctricosos meusestavam perdidospor natureza prpria
Andmos
dez quilmetrosa pningum nos viu passarexceptoclaroos porteiros da natureza das coisasser-se vistopelos porteiros
Olhacomo s tu sabes olhara rua os costumesO Pblicoo vinco das tuas calasest cheio de frioe h quatro mil pessoas interessadasnisso
No faz mal abracem-me
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os teus olhosde extremo a extremo azuisvai ser assim durante muito tempodecorrero muitos sculos antes de ns
mas no te importesno te importesmuitons s temos a vercom o presenteperfeitocorsrios de olhos de gato intransponvelmaravilhados maravilhosos nicosnem pretrito nem futuro temo estranho verbo nosso
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POEMA
Em todas as ruas te encontroem todas as ruas te percoconheo to bem o teu corposonhei tanto a tua figuraque de olhos fechados que eu andoa limitar a tua alturae bebo a gua e sorvo o arque te atravessou a cinturatanto to perto to realque o meu corpo se transfigurae toca o seu prprio elementonum corpo que j no seunum rio que desapareceu
onde um brao teu me procuraEm todas as ruas te encontroem todas as ruas te perco
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eu em 1951 apanhando (discretamente) uma beata(valiosa)num caf da baixa por ser incapaz coitados delesde escrever os meus versos sem realizar de factoneles, e volta sua, a minha prpria unidade- fumar, quere-se dizer
esta, que no brilhante, que ningum esperavaver num livro de versos. Pois verdade. Denotaa minha essencial falta de higiene (no de tabaco)e uma ausncia de escrpulo (no de dinheiro) notvel
o Armando, que escreve minha frenteo seu dele poema, fuma tambm.fumamos como perdidos escrevemos perdidamente
e nenhuma posio no mundo (me parece) mais altamais espantosa e violenta incompatvel e reconfortveldo que esta de nada dar pelo tabaco dos outros(excepto coisas como vergonha, naturalmente,e mortalhas)
(que se saiba) esta a primeira vezque um poeta escreve to baixo (ao nvel das piriscas dosoutros)
aqui, e em parte mais nenhuma, que cintila o talcondicionalismode que h tanto se fala e se dispediscretamente (como quem as apanha)sirva tudo de lio aos presentes e futurosnas tamnidas (vrias) da poesia local.Antes andar por a relativamente fartoantes para tabaco que para cesariny(mrio) de vasconcelos
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O PRESTIDIGITADOR ORGANIZA UM ESPECTCULO
H um piano carregado de msicas e um bancoh uma voz baixa, agradvel, ao telefoneh retalhos de um roxo muito vivo, bocados de fitas detodas as coresh pedaos de neve de cristas agudas semelhantes s dascristas de gua, no marh uma cabea de mulher coroada com o ouro torrencialda sua magnfica belezah o cu muito escuroh os dois lutadores morenos e impacientesh novos poetas sbios qumicos fsicos tirando osguardanapos do po branco do espaoh a armada que dana para o imperador detido de ps e
mos no seu palcioh a minha alegria incomensurvelh o tufo que alm disso matou treze pessoas em Kiu-Siuh funcionrios de rosto severo e a fazer perguntas emfrancsh a morte dos outros minha vida
h um sol esplendente nas coisas
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PEDRO OOM
POEMA
Tua boca um dia estreitocheio de moscas
De noitetem a cor azul-verde
dum venenocomo o mar.
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ACTUAO ESCRITA
Pode-se escrever
Pode-se escrever sem ortografiaPode-se escrever sem sintaxePode-se escrever sem portugusPode-se escrever numa lngua sem se saber essa lnguaPode-se escrever sem saber escreverPode-se pegar na caneta sem haver escritaPode-se pegar na escrita sem haver canetaPode-se pegar na caneta sem haver canetaPode-se escrever sem canetaPode-se sem caneta escrever canetaPode-se sem escrever escrever plume
Pode-se escrever sem escreverPode-se escrever sem sabermos nadaPode-se escrever nada sem sabermosPode-se escrever sabermos sem nadaPode-se escrever nadaPode-se escrever com nadaPode-se escrever sem nada
Pode-se no escrever
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AS VIRTUDES DIALOGAIS
Dentrode mimh uma plantaque crescealegrementeque dizbom diaquando nos amamosao entardecere boa noitequando florimos alvoradauma rvore
que no est com o tempoeste tempoa que chamamosnosso.
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IDADE SEM RAZO
Os animaiscuja vivnciaso as visitasque todos temos feitoa girafaou o crocodilobastampara rompera fascinaoidade cartesianatanto do direitocomodo avesso
JOS MARIA ALVESwww.homeoesp.org
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