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Im ag em
Pedro Barbosa Ribeiro Girão
O MENTORING NO ENSINO SUPERIOR
Relatório de Estágio apresentado à Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Gestão
Setembro de 2013
Paulo Pimenta / Público
Im ag em
Pedro Barbosa Ribeiro Girão
O Mentoring no ensino superior O caso da FEUC
Relatório de Estágio apresentado à Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra para cumprimento dos requisitos necessários à
obtenção do grau de Mestre em Gestão
Orientadora de estágio: Dra. Ana Isabel Santos Orientador académico: Professor Doutor Paulo Miguel Gama
Coimbra, 2013
O Mentoring no Ensino Superior
Pedro Barbosa Ribeiro Girão ii
O Mentoring no Ensino Superior Epígrafe
Pedro Barbosa Ribeiro Girão iii
Once in a dry time, Howard Thurman asked me: “What do you want, Sam?
What are your dreams?” He had previously warned me about the proper order of…
priorities. “The first question an individual must ask is ‘What is my journey?’ Only then
it is safe to ask the second question: ‘Who will go with me?’ If you get the questions out
of order, you will get in trouble.
Sam Keen em The Passionate Life: Stages of Loving, 1983
O Mentoring no Ensino Superior
Pedro Barbosa Ribeiro Girão iv
O Mentoring no Ensino Superior Agradecimentos
Pedro Barbosa Ribeiro Girão v
Agradecimentos
Com a entrega deste relatório encerra-se um ciclo. Depois de cinco anos nos
quais tive o orgulho de estudar numa instituição como a Universidade de Coimbra, diria
que estou capaz de responder às perguntas essenciais: “What are my dreams? What is my
journey?”. Agradecer a todos os que tornaram isto possível obrigaria a que o relatório se
prolongasse infinitamente. Restrinjo, por isso – de forma injusta – o meu agradecimento
aos que tiveram um papel directo neste estágio e/ou na elaboração do relatório:
À Direcção da FEUC, pela oportunidade.
Aos mentores e aos mentorandos, por tornarem possível o Mentoring FEUC,
pelo seu empenhamento e pela sua generosidade.
À Professora Doutora Lina Coelho, por ao longo do estágio ter tido a
sensibilidade que se espera de um mentor, estando presente e apoiando-me nos (muitos)
momentos decisivos, e concedendo, também, a liberdade de opção, de decisão, de erro e de
correcção na construção de algo palpável e significativo;
Ao Professor Doutor Paulo Gama, por exigir sempre mais e melhor (no estágio
e no relatório) e por me ter dado a oportunidade de integrar um programa no qual acredito
muito;
Ao Paulo Pimenta, fotojornalista do Público, por me ter permitido utilizar a
fotografia , única, que é capa deste relatório.
A todos aqueles com quem trabalhei na Faculdade, por me terem feito sentir
em casa;
Aos meus amigos, por terem estado presentes nos momentos mais exigentes e
pela ajuda na implementação do projecto;
Ao Filipe, por já há muitos anos ser o meu mentor – apesar de só mais tarde eu
ter descoberto que havia uma palavra para designar esta relação.
À minha mãe, por tudo.
À minha família.
Pedro Barbosa Ribeiro Girão
O Mentoring no Ensino Superior
Pedro Barbosa Ribeiro Girão vi
O Mentoring no Ensino Superior Resumo
Pedro Barbosa Ribeiro Girão vii
Resumo
Neste momento, os jovens licenciados enfrentam grandes dificuldades de entrada no
mercado de trabalho em Portugal e nada faz crer que a situação se altere para melhor nos
próximos anos. Importa encontrar soluções. E quem melhor os pode ajudar, nessa fase de
transição, do que aqueles que já percorreram o caminho que liga o mundo académico ao
profissional? Este trabalho é o aprofundar de uma das respostas possíveis – a criação de
programas de mentoring nas instituições de Ensino Superior. O desafio foi fazer a reflexão
teórica e, depois, aplicá-la num projecto que envolvesse actuais e antigos alunos, estes já
inseridos no mercado.de trabalho. Este foi, precisamente, o trabalho que desenvolvi no
estágio curricular, entre 13 de Fevereiro e 7 de Junho de 2013, na Faculdade de Economia
da Universidade de Coimbra. Este relatório tem como objectivo apresentar de uma forma
articulada a reflexão de vários autores sobre o mentoring e a construção, no terreno, do
programa, esperando que ele possa servir como um ponto de partida outras instituições de
Ensino Superior que desejem adoptar esta solução. Na realização deste projecto, o
Mentoring FEUC, foram envolvidas 140 pessoas, entre alunos e ex-alunos. A
receptividade de uns e de outros permite concluir que o estreitamento de relações entre os
meios académico e profissional é uma necessidade e deve ser uma aposta das instituições
de ensino.
Palavras-chave:
Mentoring, Ensino Superior, Universidade,
Transição; Mercado de Trabalho.
O Mentoring no Ensino Superior
Pedro Barbosa Ribeiro Girão viii
O Mentoring no Ensino Superior Abstract
Pedro Barbosa Ribeiro Girão ix
Abstract
At the moment, young graduates face great difficulties when entering the labor market in
Portugal and nothing makes us believe that the situation will change for the better in the
coming years. Solutions must be found. And who can help them better in this transition
phase than those who have already walked the path between the academic and the
professional world? This paper represents the development of one of the possible answers
– the creation of mentoring programs in Higher Education institutions. The challenge was
to make the theoretical analysis on the subject and then apply it in a project that would
involve current and former students who are already in the job market. This was precisely
the work I have done during my curricular internship, between February 13th
and June 7th
2013, at Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. This report aims to present,
in an articulated manner, the reflection of various authors on mentoring and on building
this Program in the field, hoping that it can serve as a starting point for other Higher
Education institutions wishing to adopt this solution. In this project, Mentoring FEUC, 140
people were involved, including students and alumni. The acceptance of both parties shows
that close relations between academia and the professional environment are a need and that
educational institutions should invest in those relations.
Keywords Mentoring, Higher Education, University, Transition,
Labor Market.
O Mentoring no Ensino Superior
Pedro Barbosa Ribeiro Girão x
O Mentoring no Ensino Superior Índice
Pedro Barbosa Ribeiro Girão xi
Índice
Índice de Figuras ................................................................................................................. xii
Índice de Quadros ............................................................................................................... xiii
Lista de Abreviaturas e Siglas ............................................................................................ xiv
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1
PARTE I – MENTORING: DA ORIGEM DO CONCEITO À ACTUALIDADE .............. 3 1 A origem do mentoring ............................................................................................. 3
2 O que é o mentoring .................................................................................................. 4 3 Mentoring e Coaching ............................................................................................... 6 4 Tipos de mentoring .................................................................................................... 8 5 O papel do mentor na relação de mentoring .............................................................. 9
6 A CBT como técnica de mentoring.......................................................................... 12 7 Implementação de um programa de mentoring ....................................................... 13
8 O mentoring na era das novas tecnologias .............................................................. 15
PARTE II – A FEUC E O ENQUADRAMENTO DO ESTÁGIO ..................................... 17 1 A FEUC ................................................................................................................... 17
2 Enquadramento do Estágio ...................................................................................... 18
PARTE III – O ESTÁGIO................................................................................................... 19
1 O Mentoring FEUC ................................................................................................. 20
1.1 Preparação do Mentoring FEUC ....................................................................... 21
1.2 Implementação do Mentoring FEUC ................................................................ 23 2 A Rede Parceiros FEUC ......................................................................................... 27
PARTE IV – ANÁLISE CRÍTICA ..................................................................................... 29
1. O Estágio na FEUC ................................................................................................. 29 2. Os testemunhos do Mentoring FEUC ..................................................................... 31
3. O mentoring ............................................................................................................. 33 4. A Faculdade ............................................................................................................. 35
CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 45
ANEXO 1 – NOTÍCIA SOBRE MENTORING FEUC ...................................................... 47
APÊNDICE 1 – BROCHURA DA REDE PARCEIROS FEUC ......................................... 48
APÊNDICE 2 – TESTEMUNHOS ..................................................................................... 50
O Mentoring no Ensino Superior Índice de Figuras
Pedro Barbosa Ribeiro Girão xii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Fases do Estágio ................................................................................................. 19
Figura 2 - Preparação do Mentoring FEUC ........................................................................ 21
Figura 3 - Implementação do Mentoring FEUC ................................................................. 24
Figura 4 - Rede Parceiros FEUC ........................................................................................ 27
Figura 5 - Proposta de Valor Actual .................................................................................... 36
Figura 6 - Proposta de Valor Sugerida ................................................................................ 37
Figura 7 - FEUC como ligação entre segmentos ................................................................. 37
O Mentoring no Ensino Superior Índice de Quadros
Pedro Barbosa Ribeiro Girão xiii
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 - Fases do Estágio ................................................................................................ 19
Quadro 2 - Preparação do Mentoring FEUC ....................................................................... 21
Quadro 3 - Implementação do Mentoring FEUC ................................................................ 24
O Mentoring no Ensino Superior Lista de Abreviaturas e Siglas
Pedro Barbosa Ribeiro Girão xiv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AAEFEUC – Associação de Antigos Estudantes da Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra
AIESEC - Association Internationale des Etudiants en Sciences Économiques
et Commerciales
APEU – Associação para a Extensão Universitária
CBT – Cognitive Behavioral Techniques
CV – Curriculum Vitae
FEUC – Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
JEEFEUC – Júnior Empresa de Estudantes da Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra
UC – Universidade de Coimbra
O Mentoring no Ensino Superior INTRODUÇÃO
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 1
INTRODUÇÃO
Este trabalho podia ser apenas o relatório de um estágio curricular feito na
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) para obter o grau de mestre.
Mas, principalmente porque me foi dada a oportunidade de desenvolver uma proposta
muito concreta que apresentei à Direcção da Faculdade – a criação de um programa de
mentoring – é muito mais do que isso. É a partilha do que aprendi e do que me foi dado a
aprender durante esse estágio, que formalmente decorreu entre 13 de Fevereiro e 7 de
Junho de 2013.
Esta é uma história de dádivas, de generosidade. De pessoas muito ocupadas,
com funções de relevo em empresas nacionais, multinacionais e estrangeiras que, numa
época de crise, marcada por uma elevadíssima taxa de desemprego, aceitaram doar o seu
tempo, os seus conhecimentos e a sua experiência a terceiros.
É ainda uma história sobre a conjugação de vontades, institucionais e pessoais;
sobre encontros; e sobre a abertura dos jovens ao saber dos mais velhos, prova de que o
conflito de gerações não é inevitável.
Ao longo deste trabalho recuaremos à Grécia Antiga, através da Odisseia, para
conhecer Mentor, que acompanhou Telémaco, filho de Ulisses, quando este deixou Ítaca
ao encontro do pai. Mentor, que nessa longa viagem apoiou Telémaco na tomada de
decisões, contribuindo para a definição do seu carácter e dos seus valores, conduzir-nos-á
ao momento actual. E, mais concretamente, ao projecto que neste momento reúne 70 ex-
alunos e outros tantos actuais estudantes da FEUC, que numa fase de transição entre o
meio académico e o mundo profissional, são apoiados pelos primeiros – os seus mentores.
Dito, agora, de maneira mais ortodoxa, este trabalho tem como objectivo
central a descrição dos trabalhos de revisão teórica, concepção, desenho, desenvolvimento
e implementação desse projecto, o programa Mentoring FEUC, que pode ser generalizado
a qualquer instituição de Ensino Superior.
Na primeira parte será apresentada a revisão teórica. Esta permitirá clarificar o
conceito de mentoring, distingui-lo do mais popular coaching e identificar os vários tipos
de relações de mentoring e de papéis que o mentor pode ou deve desempenhar.
O Mentoring no Ensino Superior INTRODUÇÃO
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 2
É também descrita a perspectiva dos autores sobre a forma como se deve
implementar um programa formal de mentoring numa organização e sobre o impacto das
chamadas novas tecnologias neste tipo de relação.
A pesquisa foi um ponto de partida, como se perceberá nas partes seguintes do
relatório.
Depois do obrigatório enquadramento do estágio na organização, são descritos
os passos dados na construção do Mentoring FEUC – desde a preparação do programa ao
seu lançamento público. Também é feita uma referência às tarefas de apoio ao
desenvolvimento de um outro projecto em curso, a Rede Parceiros FEUC, que tem
igualmente como objectivo estreitar as relações da Faculdade com o mundo do trabalho.
Na análise crítica efectuada são temas de reflexão o estágio em si mesmo; a
visão pessoal dos participantes no projecto Mentoring FEUC (antigos e actuais alunos da
Faculdade); o futuro deste tipo de programa; e a própria Faculdade, do ponto de vista de
quem nela estudou durante cinco anos.
A conclusão só poderia resultar no entretecer de todas as linhas anteriormente
seguidas.
O Mentoring no Ensino Superior Parte I – Mentoring: da Origem do Conceito à Actualidade
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 3
PARTE I – MENTORING: DA ORIGEM DO
CONCEITO À ACTUALIDADE
1 A origem do mentoring
Numa altura em que cada vez mais se ouve falar em mentoring, é relevante
recuar no tempo para perceber a origem do conceito. Esta viagem leva-nos à Grécia
Antiga.
O termo “mentor” remete-nos para a Odisseia, de Homero (Murray e
Staniland, 2010), que conta a história de Ulisses, rei de Ítaca, que deixa a sua terra para
combater na Guerra de Tróia. Nesta epopeia, Mentor é-nos apresentado como o
“companheiro do nobre Ulisses, a quem, ao partir nas suas naus, confiou toda a sua casa:
ao ancião todos deveriam obedecer; e ele tudo deveria guardar” (Homero, 2012: 44).
Ulisses enfrenta vários obstáculos que o obrigam a passar vinte anos fora de
Ítaca. Com a cidade sem rei, vários pretendentes a um novo casamento com a sua mulher,
Penélope, procuram tomar o poder.
Telémaco, filho de Ulisses, decide partir à procura do pai. Sendo ainda muito
jovem, é acompanhado por Atena (deusa da sabedoria), que adopta o corpo de Mentor. É
este que lhe presta o suporte necessário e lhe serve de referência, orientando-o para o seu
objectivo e apoiando-o na tomada de decisões, contribuindo para a definição do seu
carácter e dos seus valores. O facto ser Atena a tomar a forma de Mentor no seu apoio a
Telémaco, reforça o simbolismo de uma relação que é uma “dádiva dos deuses”i (Duffy,
1994, apud Barondess, 1994: 5).
A relação entre o filho de Ulisses e Mentor é explorada no livro As Aventuras
de Telémaco, escrito por Fenélon no final do século XVII. Aquela obra tem como acção
central a relação entre Mentor e Telémaco, que virá a inspirar muitos pedagogos do século
XVIII. É através deste livro e da influência que teve, que a palavra “mentor” regressa para
ficar no nosso vocabulário até aos dias de hoje (Bellodi e Martins, 2006).
i Tradução livre do autor. No original “gift of the gods” (Duffy, 1994, apud Barondess, 1994: 5).
O Mentoring no Ensino Superior Parte I – Mentoring: da Origem do Conceito à Actualidade
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 4
2 O que é o mentoring
Conhecida a origem da palavra, importa entender o seu significado
contemporâneo. Consultando o termo "mentor", no Dicionário Priberam da Língua
Portuguesa (2010) deparamo-nos com a seguinte informação:
mentor |ô|
(latim Mentor, -oris, do grego Méntor, antropónimo [amigo e conselheiro de
Ulisses na Odisseia])
s. m.
1. Guia e conselheiro de outrem.
2. Pessoa que inspira outras.
O mentor surge, então, como aquele que guia e aconselha outra pessoa, que
tem o poder de a inspirar. Embora a definição seja genérica, é evidente a relação entre o
uso actual do termo e a sua origem, na Odisseia.
Na língua portuguesa não existe um termo específico para designar a pessoa
apoiada pelo mentor nem a relação entre ambos. No entanto, já é de uso corrente o
neologismo “mentorando” (como tradução da palavra inglesa “mentee”, referente à pessoa
que é apoiada pelo mentor) e o termo “mentoring” (para significar a relação entre mentor e
mentorando).
No que se refere às definições, há que destacar a que apresenta o mentor como
“um indivíduo influente no seu ambiente de trabalho, com experiência e conhecimento
mais avançados e que está empenhado em proporcionar apoio e mobilidade ascendente” ao
mentorando (Scandura e Wiliams, 2001 apud Rego et al., 2007: 98).
Já Baldoni (2003, apud Rego et al., 2007: 98) põe a tónica na relação pessoal
ao definir mentor como “um amigo, um colega, um conselheiro, todos num só”: um amigo
por se preocupar com a prossecução dos melhores interesses do mentorando; um colega
por não ter receio de lhe dizer o que ele precisa de ouvir; e um conselheiro por se focar nas
necessidades futuras do mentorando.
Na mesma linha, Daloz (1999, apud Law et al., 2007: 50) sublinha o papel dos
mentores no crescimento global dos respectivos mentorandos, ao afirmar que “mentores
O Mentoring no Ensino Superior Parte I – Mentoring: da Origem do Conceito à Actualidade
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 5
são guias de confiança, que percebem a teoria de desenvolvimento pessoal e têm
experiência em traduzi-la para a prática”ii.
A dificuldade em definir mentoring advém em grande parte da sua
ambiguidade e do facto de ser uma prática multifacetada e que se altera consoante o
contexto em que é aplicada (Gallucci et al., 2010 apud Fletcher et al., 2012: 9).
Em certa medida, a realidade dá razão a este autor: a diversidade das práticas
prende-se, desde logo, com os variados contextos em que o mentoring tem vindo a ser
aplicado, nomeadamente, e por exemplo, em escolas primárias, em bairros problemáticos,
na fase final de cursos de Medicina e de Gestão e no seio das próprias empresas.
Ainda assim, do ponto de vista teórico verifica-se que há pontos em comum
que permitem identificar as características essenciais do mentoring. Uma delas é o facto de
exigir sempre a relação entre uma pessoa mais experiente e outra menos experiente. Mas
há outras.
O mentoring é uma ajuda dada por uma pessoa a outra na realização de
transições significativas de contexto (Megginson e Clutterbuck, 1995, apud Clutterbuck
2004: 12). Seja ela uma criança a mudar de nível de escolaridade, um jovem adulto prestes
a ingressar no mundo do trabalho ou um trabalhador que inicia novas funções numa
empresa – todas atravessam momentos críticos, de mudança no que respeita ao
desenvolvimento pessoal e/ou profissional.
É também comum a vários autores a consideração de que “o mentoring deve
ser flexível e interactivo… não uma actividade unilateral, em que o mentor possui
conhecimento que pode optar por partilhar com o mentorando”iii
(Hansman, 2012: 273).
Também é consensual que a relação de mentoring é limitada no tempo, na
medida em que fazê-la perdurar seria um contra-senso em relação ao objectivo de tornar o
jovem capaz de agir de forma autónoma. O mentoring deve, então, ser entendido como um
investimento nos mais jovens e como uma jornada que termina quando o mentor tiver
cumprido o seu papel (Fletcher, 2010).
ii Tradução livre do autor. No original: “Mentors as trusted guides, who understand theory of personal
development and have experience in translating it into practice” (Daloz, apud 1999, Law et al., 2007: 50). iii
Tradução livre do autor. No original: “Mentoring should be flexible and interactive, not… a self-absorbed
activity where only the mentor possesses knowledge that he or she can choose to share with protégés”
(Hansman, 2012: 273).
O Mentoring no Ensino Superior Parte I – Mentoring: da Origem do Conceito à Actualidade
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 6
3 Mentoring e Coaching
Associado ao termo mentoring surge, muitas vezes, o de coaching. E, com essa
associação, alguma confusão entre os conceitos. Afinal, o que os distingue? A resposta a
esta questão contribui para uma definição mais precisa do que é o mentoring.
Tal como acontece com mentoring, a palavra inglesa coaching não tem
tradução em português. Apesar de o termo ser inglês, a palavra coach (“treinador”, em
português) “tem origem no francês “coche”, uma espécie de carruagem, fazendo referência
à pessoa que a conduz” (Executive Digest, 2001 apud Rego et al., 2007: 62).
Conduzir como e com que objectivos? Alguns autores tendem a sublinhar a
distinção entre os conceitos de mentoring e de coaching, outros a concluir que a diferença
não é significativa. Entre os que fazem parte deste último grupo estão os que se prendem à
definição clássica de Gallwey, segundo a qual “coaching é libertar o potencial de uma
pessoa para maximizar a sua performance. É ajudá-la a aprender, mais do que ensinar-
lhe”iv
(Gallwey, 1992 apud Law et al., 2007: 51).
Esta definição pode explicar por que razão mentoring e coaching são muitas
vezes confundidos. A formulação de Clutterbuck sobre este tema, por sublinhar o
condicional, é, neste aspecto, significativa. Apesar de defender que é fundamental
clarificar cada um dos conceitos, refere que
se há uma diferença genérica (por favor note o “se”), é que o coaching, na maior
parte dos casos, aborda a performance em alguns aspectos do trabalho ou da vida
dos indivíduos; enquanto o mentoring é mais frequentemente associado com um
desenvolvimento muito mais amplo, holístico e com progresso na carreira.v
(Clutterbuck, 2008: 9)
Para muitos autores, contudo aquela diferença é tão significativa que não
permite dúvidas. Clapson (2013) considera que o coaching tem como foco a melhoria da
performance com vista a uma meta específica, enquanto o mentoring enfatiza a
estimulação do desenvolvimento da pessoa como um todo.
ivTradução livre do autor. No original: “Coaching is unlocking a person’s potential to maximize their own
performance. It is helping them to learn rather than teaching them.” (Gallwey, 1992 apud Law et al., 2007:
51) v Tradução livre do autor. No original: “If there is a generic difference (please note the if) it is that coaching
in most applications addresses performance in some aspect of individual’s work or life; while mentoring is
more often associated with much broader, holistic development and with career progress” (Clutterbuck,
2008: 9)
O Mentoring no Ensino Superior Parte I – Mentoring: da Origem do Conceito à Actualidade
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 7
Na mesma linha, Stone (1999, apud Rego et al. 2007: 95) considera que o
coaching é uma forma de um empregador levar os seus trabalhadores a exercerem as
tarefas de uma forma mais eficaz, e foca o papel do ensino neste processo. Quando se
refere ao mentoring, e ainda que mantenha a perspectiva de um líder em relação aos seus
trabalhadores, realça o papel de apadrinhamento relativamente a colaboradores que pelas
suas capacidades podem vir a assumir papéis-chave na empresa. Neste caso, já não se trata
de o ensinar, mas de o guiar na organização e de o promover junto dos mais influentes
(Stone 1999, apud Rego et al. 2007: 95).
Foi precisamente a preocupação de distinguir os conceitos que levou
Starcevich (1998) a partir para o terreno, fazendo um inquérito aos elementos mais jovens
de relações de mentoring e de coaching sobre a sua percepção quanto às características de
um mentor e de um coach. Chegou a conclusões relevantes.
No que respeita ao foco da relação, Starcevich (1998) conclui através do
inquérito que se o mentor tem um interesse pessoal e de longo prazo no mentorando, o
coach se foca apenas em desenvolver competências específicas para determinadas tarefas.
O papel desempenhado por mentor e coach é, também, diferente. Os inquiridos
encaram os mentores como facilitadores, na medida em que os apoiam mas os incentivam
a fazer opções e a definir de forma autónoma o seu caminho; ao coach, os elementos que
participaram no inquérito atribuem um interesse e um objectivo específicos, que podem
passar pelo reforço de determinadas competências ou pela alteração de comportamentos
daqueles com quem interagem (Starcevich, 1998).
Os inquiridos também distinguem a forma como se estabelece a relação. No
caso do mentoring são tidas em conta as características pessoais e há a preocupação de
fazer corresponder a personalidade e os interesses de mentor e mentorando. Já o coach é a
pessoa que, independentemente da sua personalidade, ocupa uma posição que inclui fazer
aquele papel (Starcevich, 1998).
É, aliás, da posição ocupada pelo coach que resulta o seu poder de influência,
indicam os inquiridos. Já no mentoring, consideram, não é relevante a posição hierárquica
– o poder do mentor resulta do seu valor pessoal e, mais precisamente, da forma como esse
valor é percebido pelo mentorando (Starcevich, 1998).
O retorno, no coaching é considerado tanto mais positivo quanto melhor
funciona a equipa e mais eficazes são os trabalhadores; na relação de mentoring há
O Mentoring no Ensino Superior Parte I – Mentoring: da Origem do Conceito à Actualidade
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 8
reciprocidade: também o mentor está num processo de aprendizagem, conclui Starcevich
(1998).
A distinção estende-se aos campos de actuação do mentoring e do coaching.
Independentemente do contexto, o primeiro foca-se num desenvolvimento mais pessoal, a
longo prazo, do indivíduo. O segundo aparece relacionado com a melhoria de performance
no desempenho de tarefas específicas (Starcevich, 1998).
4 Tipos de mentoring
As formas de mentoring são diversas não só em número de intervenientes, mas
também na organização da relação e nos meios e frequência de contacto. Para além do
mentoring tradicional (de um-para-um) é importante analisar o e-mentoring, o mentoring
entre pares; o mentoring de equipa e o mentoring de grupo (MENTOR, 2005).
O mentoring tradicional, o mais comum, verifica-se quando uma pessoa
acompanha outra que tem menos experiência (MENTOR, 2005). Aplica-se em diferentes
contextos, das comunidades religiosas às universidades, passando pelas empresas.
Este tipo de mentoring é frequentemente adoptado porque proporciona ao
mentorando uma atenção personalizada. A grande desvantagem é que tendo apenas um
mentorando por mentor são necessários muito mais mentores do que noutros tipos de
programa. (Clapson, 2013).
O e-mentoring, também conhecido por mentoring virtual corresponde ao
estabelecimento de uma relação de mentoring através de internet (MENTOR, 2005). Neste
tipo de relação é essencial que mentor e mentorando se sintam à vontade na utilização das
tecnologias escolhidas.
O mentoring entre pares coloca um jovem a acompanhar outro jovem
(MENTOR, 2005). É aplicado em escolas e universidades nas quais um estudante mais
velho acompanha outro em fases de integração.
O mentoring de equipa corresponde ao trabalho de vários adultos com
pequenos grupos de jovens – no máximo quatro por cada mentor (MENTOR, 2005).
No mentoring de grupo há apenas um mentor que ajuda normalmente mais do
que quatro mentorandos, assumindo-se como líder e factor de coesão entre estes
(MENTOR, 2005). Este modelo obriga a uma grande coordenação e a uma cuidada
O Mentoring no Ensino Superior Parte I – Mentoring: da Origem do Conceito à Actualidade
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 9
programação de actividades e é adequado a organizações com muita procura para um
número reduzido de mentores.
O mentoring de grupo tem como vantagem proporcionar uma maior
diversidade de relações, uma vez que os mentorandos recebem feedback de todos os
participantes (Clapson, 2013); são desvantagens a dificuldade em desenvolver uma relação
pessoal entre mentor e mentorando e em coordenar as agendas de tantas pessoas para a
realização de reuniões regulares. Por forma a aproveitar as vantagens de ambos, o
mentoring de grupo e o tradicional são muitas vezes conjugados (Clapson, 2013).
5 O papel do mentor na relação de mentoring
Vários autores reflectiram sobre a relevância das características pessoais dos
mentores, as competências que estes devem adquirir e as posturas que podem assumir para
o sucesso do mentoring.
Barondess (1994) destaca a relevância das publicações de um grupo de
cientistas sociais da Universidade de Yale dirigidos por Levinson, que em 1978 vieram a
público com o título The Seasons of a Man’s Life, da autoria daquele psicólogo. A obra,
indica Barondess, refere-se à análise, pelos cientistas, do percurso de vida de quarenta
homens. Desses estudos emergiu a importância das relações de mentoring para os jovens
adultos.
Na obra de Levinson (1978 apud Barondess, 1994: 7) o mentor é caracterizado
como alguém que é mais velho, que conhece bem o mundo em que o mentorando está
prestes a entrar e que desempenha os papéis de professor, de patrocinador, de anfitrião, de
conselheiro e de modelo.
Professor na medida em que promove o desenvolvimento das competências
intelectuais do mentorando; patrocinador porque recorre ao seu poder de influência para o
introduzir num meio em que aquele se está estrear; anfitrião e guia por o receber e
encaminhar num meio profissional e social que tem uma cultura específica e hábitos e
costumes próprios e enraizados; de conselheiro por motivos óbvios; e de exemplo porque a
própria conduta do mentor e o modo como este se move e comporta servem de referência
ao mentorando (Levinson, 1978 apud Barondess, 1994: 7).
É precisamente o papel do mentor como exemplo ou como modelo que é
sublinhado pelo próprio Barondess (1994), que a propósito de um programa de mentoring
O Mentoring no Ensino Superior Parte I – Mentoring: da Origem do Conceito à Actualidade
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 10
na área da Medicina considera, mesmo, que o que de mais relevante os mentores
transmitem aos mentorandos não é disponibilizado de forma consciente. Refere-se,
concretamente, ao estilo pessoal, às prioridades, à capacidade de decisão, à autenticidade e
ao modo como os mentores estabelecem as relações interpessoais – tudo aspectos que o
mentor não ensina, propriamente, mas transmite, pelo exemplo.
Na área da Medicina, em particular, refere que o modo como o mentor se
relaciona com os doentes (em termos de empatia, de atenção, de respeito, de cortesia) é
mais valioso em termos de influência no mentorando do que os conhecimentos que o
mentor transmite de forma organizada e explícita (Barondess, 1994).
Na mesma linha, outros autores reflectem sobre a multiplicidade de papéis do
mentor e sobre os diferentes tipos de aprendizagem que este proporciona ao mentorando
consoante transmite a sua mensagem através das palavras ou dos actos. Isto para realçar a
importância da coerência, ou seja, da necessidade de que os mentores incorporem as
competências que proclamam, sob pena de minimizar o impacto que a mensagem pode ter
no mentorando. (Goleman, 1998 apud Clapson, 2013: 9).
Barondess (1994) reflecte, a este propósito, que a relação entre mentor e
mentorando tem alguns elementos comuns à que se estabelece entre um pai e um filho.
Nesse contexto, chama a atenção para o papel do mentorando na relação, frisando que é
essencial que aquele tenha a capacidade de se focar nos aspectos em que o mentor
corresponde às suas mais profundas necessidades e que fazem com que com ele sinta uma
maior afinidade.
Daloz (1986), que também alude à figura parental, assume o ponto de vista do
mentor. Defende que é necessário que este entenda o processo educativo como uma
viagem transformadora e que deve, antes de mais, ouvir os sonhos do viajante, do
mentorando, para perceber o que o move e como se vê a si próprio.
Também Cohen (1995), quando enumera seis posturas possíveis do mentor
face ao mentorando, tem em conta a de modelo. E refere, a este propósito, que ao partilhar
as suas experiências de vida e os seus sentimentos o mentor não só serve de exemplo ao
mentorando como personaliza e enriquece a relação.
Para que sirva de modelo, defende Cohen (1995), é determinante que o mentor
actue de forma genuína, enfatizando o valor de experiências que possam parecer ao
mentorando desnecessárias ou difíceis. Sugere, em concreto, que o mentor seleccione
O Mentoring no Ensino Superior Parte I – Mentoring: da Origem do Conceito à Actualidade
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 11
alguns exemplos de situações por que ele próprio tenha passado e as relate, com o
objectivo de contribuir para a motivação do mentorando e para o reforço da confiança
deste em relação à sua própria capacidade para atingir os objectivos traçados.
A postura do mentor como modelo é, contudo, apenas uma das apontadas por
Cohen (1995). Assim, descreve também as restantes cinco, que, ressalva, podem ser
adoptadas simultaneamente ou de acordo com a evolução do relacionamento. As posturas
distinguem-se de acordo com o aspecto no qual o mentor se foca: na relação, na
informação, na facilitação, no confronto ou no estímulo do espírito crítico do mentorando.
Cohen (1995) explicita o impacte que cada postura pode ter na gestão da
relação. Mais concretamente considera que ao colocar a ênfase na relação, valorizando os
momentos em que escuta e mostra compreender e aceitar o que o mentorando defende ou
diz sentir, o mentor cria um clima de confiança que favorece a sua influência. Por outro
lado, ao enfatizar a informação, pedindo directamente dados sobre o mentorando, o mentor
tem a possibilidade de o conhecer melhor e de garantir que os conselhos que oferece se
adaptam àquela pessoa, em particular.
Já quando coloca o foco na facilitação (guiando o mentorando numa reflexão
exaustiva sobre as suas capacidades, os seus interesses e os seus ideais, por exemplo) o
mentor contribui para que o mentorando considere as várias alternativas que se lhe
colocam. Nessa medida, ele será mais capaz de tomar as suas próprias decisões de forma
ponderada, estejam em causa questões pessoais, académicas ou relacionadas com a carreira
(Cohen, 1995).
Se a postura do mentor for a de apostar no confronto o mentorando é levado a
analisar as suas acções e decisões, o que lhe permitirá identificar escolhas, atitudes ou
actos pouco produtivos ou mesmo negativos e também a necessidade de mudança (Cohen,
1995).
Por fim, a postura a que Cohen (1995: 192) chama “visão do mentorando”vi
refere-se ao resultado de uma atitude, por parte do mentor, que visa estimular o
pensamento crítico do mentorando e um papel activo de construção do seu próprio futuro e
do seu desenvolvimento pessoal e profissional. Para estimular esta atitude do mentorando,
o mentor pode estabelecer um diálogo que o leve a reflectir sobre o seu presente e o seu
vi Tradução livre do autor. No original: “mentee vision” (Cohen, 1995:192)
O Mentoring no Ensino Superior Parte I – Mentoring: da Origem do Conceito à Actualidade
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 12
futuro e a clarificar a percepção das suas capacidades de adaptação a novas situações
(Cohen, 1995).
6 A CBT como técnica de mentoring
“Acreditamos que há uma magia na arte do coaching/mentoring”vii
(Law et al.,
2007: 222) – é significativo que seja precisamente esta frase que encerra um dos primeiros
livros que tentam dar uma fundamentação científica ao coaching e ao mentoring na
perspectiva da Psicologia.
Ao mesmo tempo que anunciam o desenho de um quadro que visa unificar a
psicologia subjacente àqueles dois processos, os autores admitem de forma explícita que
no coaching e no mentoring há uma dimensão – a tal magia – que escapa à abordagem
científica. Isso não os impede, contudo, de redigir uma obra que entendem como um guia
prático para os indivíduos e organizações de diferentes culturas aplicarem as técnicas da
psicologia no mentoring e no coaching (Law et al., 2007).
De entre as várias técnicas enunciadas, destaca-se a terapia cognitivo-
comportamental (em inglês Cognitive Behavioural Therapy – CBT), em articulação com a
Psicologia Positiva. Esta última tem como objecto central a identificação de factores de
bem-estar e do modo como estes podem ser potencializados com vista a promover a
qualidade de vida e o sentimento de felicidade. A CBT assenta no pressuposto de que são
as nossas cognições, ou seja, a forma como percepcionamos as situações – e não as
situações em sim mesmas – que desencadeiam as nossas emoções e os nossos
comportamentos (Law et al., 2007). Envolve, assim, um conjunto de técnicas e estratégias
terapêuticas com a finalidade de mudança de padrões de pensamento e, consequentemente,
das emoções e comportamentos considerados negativos.
Ao relacionar a utilidade da aplicação da CBT ao mentoring e ao coaching, os
autores (Law et al., 2007) sublinham que aquela terapia está igualmente focada no futuro.
No entanto, tem como ponto de partida a experiência passada e vê o presente como uma
oportunidade para planear a mudança. Consiste, assim, em três passos: o primeiro é revisão
de acontecimentos e experiências anteriores; o segundo consiste na avaliação dos
vii
Tradução livre do autor. No original: “We believe that there is a magic in the art of coaching/mentoring”
(Law et al., 2007: 222)
O Mentoring no Ensino Superior Parte I – Mentoring: da Origem do Conceito à Actualidade
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 13
pensamentos e sentimentos actuais e na mobilização da capacidade cognitiva para planear
a mudança; o terceiro implica o trabalho do presente com vista a resultados futuros.
Defendem os autores (Law et al., 2007) que a aplicação da CBT ao mentoring e
ao coaching deve ser feita em sete passos: a definição de uma meta (na primeira sessão
entre mentor e mentorando); a avaliação da sua utilidade; a definição de objectivos
específicos; a avaliação das perspectivas e emoções de mentor e mentorando em relação
aos objectivos; a identificação de possíveis obstáculos; o desenvolvimento de estratégias
que permitam ultrapassá-los; e, por fim, a revisão do progresso alcançado.
De realçar que é proposto que mentor e mentorando desenhem em conjunto um
plano de acção e que marquem reuniões regulares destinadas a rever e a analisar os
progressos, a assegurar que eles conduzem ao objectivo previsto e, eventualmente, a
corrigir estratégias.
De acordo com os princípios da aplicação da CBT ao mentoring, os
mentorandos devem, nas reuniões, descrever o que já fizeram e aprenderam até ao
momento. Aos mentores cabe levá-los a fazer um balanço do progresso feito em relação ao
cumprimento do plano de acção que estava definido e perspectivar os passos a dar para
atingirem os objectivos estabelecidos (Law et al., 2007).
7 Implementação de um programa de mentoring
Num programa de mentoring, como em qualquer novo projecto a implementar
numa organização, os promotores têm de começar por provar à direcção que o
investimento compensa (Law et al., 2007). Para o fazer, é preciso entender bem a
organização e a sua cultura para, a partir daí, desenvolver um business case que permita
avaliar a sustentabilidade do programa (Clapson, 2013).
O business case deve incluir os seguintes elementos: o caso estratégico, no
qual se define a estratégia do programa de mentoring; o caso económico, que inclui
técnicas como a análise de custo-efectividade e de custo-benefício; o caso financeiro, em
que se verifica se há orçamento disponível para implementar o programa; o caso comercial,
que revela o impacto do mentoring, em termos comerciais, para a organização; e o caso de
gestão de projecto, no qual se identificam os factores-chave de sucesso e fazem estudos
que demonstrem a viabilidade do projecto (Law et al., 2007).
O Mentoring no Ensino Superior Parte I – Mentoring: da Origem do Conceito à Actualidade
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 14
Uma vez aprovada a proposta de implementação, é necessário passar ao
desenho do programa, cujas etapas fundamentais são: análise dos mentorandos; definição
de objectivos motivacionais; concepção de uma estratégia motivacional; implementação do
plano de acção; avaliação e revisão (Law et al., 2007).
O passo seguinte prende-se com o recrutamento e orientação de mentores.
Cohen (1995) explica que o facto de pessoas em posições de topo apoiarem o programa
ajuda a atrair mais participantes. Acrescenta que caso o programa já esteja em
funcionamento se pode pedir aos mentores para convidarem outros colegas a participar.
Uma vez garantidos os mentores, começam o recrutamento e a orientação dos
mentorandos. Explica Cohen que “simplesmente anunciar a disponibilidade de mentores e
depois assumir que os mentorandos vão responder imediatamente pode muitas vezes ser
irrealista”viii
(Cohen, 1995:125), até porque os menos assertivos na procura de um mentor
podem ser os que mais beneficiariam da relação. Torna-se, assim, importante utilizar
diversos meios de contacto com os potenciais mentorandos e encorajar a sua participação
(Cohen, 1995).
E eis-nos chegados a um dos momentos-chave: o matching (ou a
“correspondência”, numa linguagem menos técnica) entre mentores e mentorandos. São
várias as soluções que podem ser utilizadas. Uma delas é a utilização de brochuras ou
questionários em que os mentores indicam quais os seus interesses e especialidades para
que os mentorandos possam, com base nessas informações, seleccionar os mentores com
os quais se identificam. É de realçar, em alternativa, a selecção feita pelo administrador do
programa com base em informações fornecidas por mentores e mentorandos, como os
campos de interesse ou preferências de carreira (Cohen, 1995).
Para preparar o início do programa deve ser agendada uma sessão de
orientação para os mentorandos e ser-lhes oferecido um manual básico que serve de
preparação para as reuniões iniciais com o mentor (Cohen, 1995). Deve ainda ser oferecida
uma sessão aos mentores para os informar do funcionamento do programa e de como gerir
uma relação de mentoring.
O programa está, então, em condições de ser iniciado. A partir desse momento
torna-se importante fazer a sua monitorização, que exige que se contactem os stakeholders
chave de forma a garantir que tudo decorre conforme o planeado (Law et al., 2007).
viii
Tradução livre do autor. No original: “Simply advertising the availability of mentors and then assuming
that mentees will immediately respond may often be unrealistic” (Cohen, 1995: 125).
O Mentoring no Ensino Superior Parte I – Mentoring: da Origem do Conceito à Actualidade
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 15
É ainda conveniente avaliar o programa, confrontando-se os resultados
atingidos com os objectivos previamente estabelecidos. Esta avaliação permite identificar
erros e corrigi-los. Deve ser também incentivado o feedback dos intervenientes, por forma
a ter acesso às suas sugestões de melhoria (Law et al., 2007).
8 O mentoring na era das novas tecnologias
A previsão de Clutterbuck, feita em 2004, veio rapidamente a revelar-se
profética:
Como a tecnologia se torna mais sofisticada é razoável assumir que a sua
utilização será feita de forma mais ampla e inteligente. Em particular com um
maior uso de videoconferências através de PCs e webcams. Parece legítimo
pensar que no futuro a maioria das relações serão híbridas, compostas por um
misto de cara-a-cara remoto e trocas de texto não simultâneas.ix
(Clutterbuck,
2004 apud Law et al., 2007: 14)
Tal veio a verificar-se devido à massificação das webcams e a tecnologias
como o Skype. Parece também confirmar-se o que Clutterbuck já sublinhava: o valor e
potencial das interacções virtuais para o enriquecimento do diálogo e da relação entre
mentores e mentorandos.
É este potencial que leva ao nascimento de empresas como a Moreme ApS
(2013), que apresenta vantagens e desvantagens do e-mentoring e e-coaching, através dos
quais desenvolve o seu negócio.
A primeira vantagem apresentada reside na possibilidade de um matching
muito mais eficaz. Através do e-mentoring os mentorandos deixam de estar limitados a
mentores locais, o que aumenta as probabilidades de encontrar alguém com um perfil
adequado às suas necessidades (Moreme ApS, 2013).
Para além disso, o e-mentoring é compatível com um estilo de vida mais
ocupado, uma vez que os intervenientes podem contactar-se a qualquer altura e a partir de
qualquer lugar, seja através de e-mail, chamada telefónica, videochamada ou mensagem
instantânea. Isto permite a um ocupado profissional de Hong Kong ou de Sidney ajudar
ix
Tradução livre do autor. No original: “As technology becomes more sophisticated it’s reasonable to assume
that there will be much broader and more intelligent use of technologies. There will in particular be more use
of video conferencing through desktop PC’s and web cameras. In the future it seems likely that the majority
of relationships will be hybrids of face-to-face remote and asynchronous textual exchanges” (Clutterbuck,
2004 apud Law et al., 2007: 14)
O Mentoring no Ensino Superior Parte I – Mentoring: da Origem do Conceito à Actualidade
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 16
alguém que esteja em Boston, Helsínquia ou em qualquer outra parte do mundo, durante o
seu dia de trabalho (Moreme ApS, 2013).
Esta flexibilidade favorece a rentabilização do tempo, providencia um feedback
muito mais rápido do que em relações que se desenvolvam apenas de forma presencial e
reduz os custos de transporte (Moreme ApS, 2013).
Nos casos em que é utilizada a comunicação por e-mail ou mensagens
instantâneas, as conversas ficam registadas. Isto permite a mentores e mentorandos reler os
seus pensamentos, metas e progressos efectuados durante o mentoring (Moreme ApS,
2013).
Mas não há só vantagens. Há vários aspectos que podem levar os
intervenientes a optar por relações de mentoring mais tradicionais.
Alguns autores argumentam que o esforço que o mentor faz ao viajar para se
encontrar com o mentorando aumenta o seu compromisso na relação (Ensher et al., 2003
apud Moreme ApS, 2013:8). Também as interrupções podem ser um problema: no
mentoring tradicional, quando se reúnem, mentor e mentorando fazem-no em sítios
específicos para o efeito e focam-se unicamente na relação; já o e-mentoring permite mais
interrupções e distracções (Moreme ApS, 2013), dado que pode ocorrer a partir de
qualquer o lugar.
Pode também afirmar-se que a construção de uma relação de confiança via
internet é mais lenta, na medida em que exclui a linguagem não-verbal. As expressões
faciais, os gestos, o tom de voz, a forma de olhar e mesmo a postura corporal são aspectos
que influenciam o modo como cada um se relaciona com outro. Tudo isto está excluído
quando os contactos se fazem através de mensagens escritas, com prejuízo para a
construção da relação e com aumento do risco de mal-entendidos (Moreme ApS, 2013).
A este risco, é necessário acrescentar aqueles que derivam da dependência de
tecnologias. Por um lado, mentor e/ou mentorando podem não ter conhecimentos
informáticos suficientes, por outro, as tecnologias não são infalíveis, já que um
computador pode avariar e o acesso à internet pode ser deficiente ou ser interrompido, por
exemplo (Moreme ApS, 2013).
O Mentoring no Ensino Superior Parte II – A FEUC e o Enquadramento do Estágio
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 17
PARTE II – A FEUC E O ENQUADRAMENTO
DO ESTÁGIO
1 A FEUC
A Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) é
relativamente recente, tendo em conta a antiguidade da instituição na qual está integrada. A
Universidade de Coimbra, recentemente classificada como Património Mundial, foi
fundada em 1290, a FEUC está este ano a comemorar o seu 40º aniversário.
Pode dizer-se que a Faculdade – instalada na Avenida Dias da Silva, em
Coimbra – beneficia da dinâmica própria das organizações jovens e em fase de
crescimento e conta, simultaneamente, com a experiência, o saber, a História e o prestígio
da universidade de que faz parte.
A oferta formativa é bastante mais extensa do que aquela com que foi
inaugurada: a licenciatura em Economia, no ano lectivo de 1973/74. O crescimento foi
gradual: em 1989 iniciou a licenciatura em Sociologia, à qual se seguiram as licenciaturas
em Gestão, em 1990, e em Relações Internacionais, em 1995. A Faculdade oferece ainda
dezassete programas de mestrado, doze programas de doutoramento e outras pós-
graduações não conferentes de grau.
Dirigida pelos Professores Doutores José Reis (director), Lina Coelho, Patrícia
Moura e Sá, Paulo Gama e Paulo Peixoto (subdirectores) a FEUC tem uma população
escolar de cerca de 2800 alunos, 100 docentes e 27 funcionários.
As suas mais recentes apostas focam-se no desenvolvimento da investigação,
no alargamento da oferta do ensino pós-graduado, na integração profissional dos seus
alunos e na diversificação e consolidação de estratégias de aproximação ao mercado de
trabalho.
Em 2012, a FEUC promoveu 51 estágios curriculares que envolveram 30
entidades diferentes e proporcionaram aos seus alunos 36162 horas de formação em
ambiente profissional. Dentro da mesma política de ligação ao mundo profissional
promove, em 2012 e 2013, três iniciativas: os ciclos de conferências Gente da FEUC no
Mundo, que convida ex-alunos com carreiras internacionais a voltarem à sua Faculdade
O Mentoring no Ensino Superior Parte II – A FEUC e o Enquadramento do Estágio
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 18
para partilhar a sua experiência; o programa Mentoring FEUC e a Rede Parceiros FEUC
(que serão objecto de tratamento mais detalhado neste relatório).
2 Enquadramento do Estágio
O estágio curricular na FEUC surgiu devido a uma proposta que que fiz à
Direcção no sentido de desenvolver um programa de mentoring que juntasse antigos e
actuais alunos. Esta foi aprovada e os objectivos fixados foram conceber e montar este
programa e apoiar a criação de um outro: a Rede Parceiros FEUC
Este último projecto foi concebido e liderado pelo Professor Doutor Paulo
Gama. Neste caso, fui integrado numa equipa de trabalho que apoiou a preparação e
implementação do programa, da qual fizeram parte a Dra. Ana Raquel e a Dra. Alexandra
Sousa.
No caso do Mentoring FEUC – tema central deste relatório – trabalhei em
conjunto com a Professora Doutora Lina Coelho e desempenhei um papel muito mais
activo na sua construção e implementação.
O estágio começou no dia 13 de Fevereiro de 2013 e terminou 20 semanas
depois, no dia 7 de Julho sob supervisão da Dra. Ana Isabel Santos, Coordenadora
Executiva da FEUC.
O Mentoring no Ensino Superior PARTE III – O ESTÁGIO
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 19
PARTE III – O ESTÁGIO
Os projectos Mentoring FEUC e Rede Parceiros FEUC foram desenvolvidos
de forma simultânea durante o período de estágio, como mostra a Figura 1 - Fases do
Estágio.
Figura 1 - Fases do Estágio
O Quadro 1 permite ter uma melhor percepção da duração de cada uma das
actividades desenvolvidas durante o estágio. A Parte III deste relatório visa descrever
pormenorizadamente as diferentes fases de cada um dos programas.
Quadro 1 - Fases do Estágio
Tarefas Data de Início Duração Data de fim
Mentoring FEUC (Fase de Preparação) 13-Fev-13 46 dias 31-Mar-13
Rede Parceiros FEUC 13-Fev-13 127 dias 7-Jun-13
Mentoring FEUC (Fase de Implementação) 6-Mar-13 123 dias 7-Jul-13
13-Fev 9-Mar 2-Abr 26-Abr 20-Mai 13-Jun 7-Jul
Mentoring FEUC (Fase de
Preparação)
Rede Parceiros FEUC
Mentoring FEUC (Fase de
Implementação)
O Mentoring no Ensino Superior PARTE III – O ESTÁGIO
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 20
1 O Mentoring FEUC
Dado tratar-se de um projecto recente e ainda não divulgado entre a
comunidade académica torna-se essencial começar a parte prática pela parte final do
estágio, ou seja, por explicar em que consiste o Mentoring FEUC.
Como vimos, o mentoring é uma relação limitada no tempo em que uma pessoa
mais experiente (mentor) apoia, guia, aconselha e acompanha o desenvolvimento de
alguém com menos experiência (mentorando), surgindo como uma figura importante em
fases de transição de contexto.
O Mentoring FEUC é um programa que permite aos actuais alunos da FEUC
serem acompanhados e apoiados durante um ano por antigos alunos da Faculdade que
tenham um reconhecido percurso profissional. É um processo de desenvolvimento pessoal
e um complemento da formação académica que estabelece uma ponte com o mundo
profissional que o estudante está prestes a integrar.
Cada mentor tem apenas um mentorando e a relação, que pode ser presencial
ou estabelecida à distância, tem a duração de um ano (passível de renovação). Durante este
período é incentivada uma reflexão sobre o passado e o presente do mentorando sempre
com os olhos postos nos seus objectivos futuros. Pretende-se que no final da relação o
jovem esteja mais preparado para os atingir do que estava no seu início.
Ao longo do programa, os mentores não só participam na reflexão feita pelos
estudantes, como procuram ajudá-los a desenvolver todo o seu potencial. Sendo pessoas
que já estiveram no lugar em que hoje estão os actuais estudantes, a partilha das suas
experiências pode ajudar a responder a muitas das dúvidas dos mentorandos e a incentivá-
los a procurar novos desafios.
O Mentoring FEUC tem ainda um grupo privado no LinkedIn. Este, para além
de uma óptima oportunidade para esclarecer dúvidas e partilhar experiências ao longo do
programa, permite a comunicação directa entre profissionais de sucesso e alunos que lutam
para um dia o vir a ser. Mentores e mentorandos contam com o apoio da FEUC durante
todo o processo sempre com o objectivo de tornar a relação mais proveitosa para ambas as
partes.
O programa Mentoring FEUC foi desenvolvido durante todo o período do
estágio. Para uma melhor organização da informação, dividi o projecto em duas etapas: a
preparação e a implementação.
O Mentoring no Ensino Superior PARTE III – O ESTÁGIO
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 21
1.1 Preparação do Mentoring FEUC
A fase de preparação do Mentoring FEUC decorreu durante 46 dias, período
durante o qual foram desempenhadas as seguintes tarefas: investigação e benchmarking;
desenho do programa; identificação de potenciais mentores; e preparação de materiais de
apoio. A duração de cada uma delas é apresentada no Quadro 2.
Quadro 2 - Preparação do Mentoring FEUC
Tarefas Data de Início Duração Data de fim
1 – Investigação e benchmarking 13-Fev-13 16 dias 1-Mar-13
2 – Desenho do programa 13-Fev-13 20 dias 5-Mar-13
3 – Pesquisa e identificação de mentores 19-Fev-13 14 dias 5-Mar-13
4 – Preparação dos materiais 25-Fev-13 34 dias 31-Mar-13
A projecção temporal das actividades desenvolvidas na preparação do
Mentoring FEUC pode ser verificada na Figura 2 - Preparação do Mentoring FEUC.
Figura 2 - Preparação do Mentoring FEUC
A investigação sobre mentoring, já referenciada, foi essencial para a concepção
e desenho do programa; o benchmarking permitiu seleccionar um conjunto de melhores
práticas aplicadas nesta área em universidades nacionais e estrangeiras.
Seguiu-se o desenho do programa, uma das tarefas de maior responsabilidade,
por influenciar todas as fases seguintes. Exigiu o domínio do tema, no aspecto teórico, mas
também um conhecimento profundo da estrutura, da estratégia e da cultura da organização,
neste caso a FEUC. Todo o desenho foi feito em debate e colaboração permanentes com a
Professora Doutora Lina Coelho.
13-Fev 8-Mar 31-Mar
1 – Investigação e benchmarking
2 – Desenho do programa
3 – Pesquisa e identificação de
mentores
4 – Preparação dos materiais
O Mentoring no Ensino Superior PARTE III – O ESTÁGIO
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 22
Foi decidido restringir os mentores aos ex-alunos da FEUC por, entre outras
razões, se considerar que as experiências em comum, embora em momentos diferentes,
contribuiriam para gerar empatia entre mentor e mentorando, essencial para a construção
da relação.
Dentro do universo de recrutamento, foram identificadas pessoas um percurso
profissional de reconhecido valor e com qualidades como a capacidade de empatia, a
generosidade e a abertura a novas experiências. Foram condições para o convite, também,
a disponibilidade e a motivação para participarem no programa.
Para diminuir o grau de subjectividade da selecção dos mentores foi decidido
baseá-la no seu currículo e nas recomendações de terceiros. Definiu-se, também, que no
momento do convite seria explicitado que a inscrição era voluntária e não remunerada,
pelo que a aceitação seria garantia de que também os restantes requisitos – disponibilidade
e motivação – estavam preenchidos.
A consciência de que o sistema contém falhas levou a que o projecto fosse
desenhado apostando numa melhoria contínua. Assumiu-se que o primeiro ano do projecto
teria as características de um projecto-piloto (algo que foi explicado a todos os
intervenientes) e que as edições subsequentes seriam melhoradas com base no feedback e
na avaliação feita por mentores e mentorandos. Para que fosse possível acompanhar o
programa de forma adequada e fazer a sua avaliação com base num número significativo
de opiniões, ficou estabelecido o número de 70 pares mentor-mentorando como ponto de
partida para o projecto.
Foi definido que não haveria um número mínimo de reuniões pessoais e de
contactos a efectuar por mês entre mentor e mentorando e que os contactos poderiam ser
feitos exclusivamente através de meios de comunicação à distância. Por outro lado,
estabeleceu-se que se exigiria aos participantes que fossem claros em relação às suas
expectativas e ao tempo disponível, para que fosse possível construir a relação a partir
dessa base de compromisso.
O passo seguinte foi delinear a estratégia de sensibilização dos mentores para
participarem no programa e para a sua divulgação junto dos estudantes.
A possibilidade de o número de candidaturas de estudantes ser superior ao de
mentores disponíveis obrigou à estipulação de critérios de selecção dos alunos. Ficou
assente que, no futuro, o objectivo é que cada aluno que se candidate tenha um mentor,
O Mentoring no Ensino Superior PARTE III – O ESTÁGIO
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 23
desde o primeiro ano de licenciatura. Nesta primeira edição, foi decidido dar prioridade aos
estudantes que estavam mais próximos de acabar os respectivos cursos, uma vez que, para
estes, era a última oportunidade de participar.
Para controlar o bom funcionamento do programa foram previstos diversos
contactos entre a equipa de apoio da FEUC e os stakeholders. Planeou-se ainda a inclusão
dos mentorandos e dos mentores num grupo de uma das redes sociais à disposição, para
fomentar a discussão e promover o networking.
A avaliação do programa ficou também preparada. Esta será feita através de
formulário e incentiva mentores e mentorandos a fazerem críticas e sugestões que serão
tidas em conta para fazer correcções nas edições seguintes.
A identificação de possíveis mentores foi realizada através de uma pesquisa
intensa com cruzamento de informações das bases de dados dos ex-alunos registados na
AAEFEUC e no LinkedIn, uma rede social que liga profissionais de todas as áreas e
permite visualizar o currículo dos seus utilizadores.
Com as várias ferramentas de pesquisa, foram analisados, um a um, mais de
2000 perfis de utilizadores, para seleccionar, num primeiro momento, 150 pessoas. Em
colaboração com a Professora Doutora Lina Coelho, este número foi reduzido para 83, a
serem contactadas numa primeira fase.
Este grupo continha mentores de diversas faixas etárias, com carreiras
nacionais e internacionais e com uma ampla variedade de sectores de actividade e funções.
Ou seja, era suficientemente heterogéneo para poder responder às necessidades dos
mentorandos.
Ainda na fase de preparação, foram produzidos os seguintes materiais: o
documento de apresentação do Mentoring FEUC; a página de apresentação do programa
do website da FEUC; o formulário de inscrição dos mentores; o formulário de candidatura
dos mentorandos; o Manual do Mentor; o Manual do Mentorando; a ficha de apresentação
do mentor; a ficha de apresentação do mentorando; e a ficha de avaliação do programa.
1.2 Implementação do Mentoring FEUC
De 6 de Março até 30 de Junho de 2013, período durante o qual decorreu a
etapa de implementação do Mentoring FEUC, foram realizadas as seguintes tarefas:
convite e sensibilização dos mentores; promoção do programa e sensibilização dos
O Mentoring no Ensino Superior PARTE III – O ESTÁGIO
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 24
mentorandos; selecção; matching; organização do evento de lançamento e promoção
externa; e entrega dos materiais de apoio e preparação da primeira reunião (Figura 3).
Figura 3 - Implementação do Mentoring FEUC
A duração de cada uma das actividades desenvolvidas durante a
implementação do Mentoring FEUC pode ser vista no Quadro 3.
Quadro 3 - Implementação do Mentoring FEUC
Tarefas Data de Início Duração Data de fim
1 – Convite e sensibilização dos mentores 6-Mar-13 36 dias 11-Abr-13
2 – Divulgação para mentorandos 15-Abr-13 15 dias 30-Abr-13
3 – Selecção dos mentorandos 1-Mai-13 26 dias 27-Mai-13
4 – Matching 6-Mai-13 25 dias 31-Mai-13
5 – Monitorização 31-Mai-13 37 dias 7-Jul-13
6 – Cerimónia de Lançamento 2-Jun-13 12 dias 14-Jun-13
A apresentação do projecto aos mentores foi feita por e-mail, telefone ou
LinkedIn. A reposta foi quase sempre positiva e alguns dos mentores aconselharam outros
ex-alunos, o que permitiu garantir as 70 participações.
Para formalizarem a sua inscrição, os mentores preencheram um formulário
online que teve como função recolher informações sobre os seus interesses pessoais e
profissionais, para posteriormente tornar possível a adequação do seu perfil ao de um
mentorando.
Por ser o primeiro ano do projecto, e dado o pouco tempo disponível para a os
alunos se inscreverem, foi feita uma intensa campanha de comunicação. A promoção foi
feita através de evento público no Facebook, no qual eram esclarecidas dúvidas
6-Mar 4-Abr 3-Mai 1-Jun 30-Jun
1 – Convite e sensibilização dos
mentores
2 – Divulgação para mentorandos
3 – Selecção dos mentorandos
4 – Matching
5 – Monitorização
6 – Cerimónia de Lançamento
O Mentoring no Ensino Superior PARTE III – O ESTÁGIO
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 25
diariamente; de um pedido aos núcleos de estudantes para que divulgassem o programa; de
uma sessão pública de esclarecimento de dúvidas; da exposição, na FEUC, de cartazes a
divulgar o programa; de uma acção de esclarecimento à entrada da FEUC; da apresentação
do programa no website da FEUC; e da comunicação do programa aos alunos no início de
algumas aulas.
Para se inscreverem, os candidatos tiveram de preencher um formulário no
website da FEUC. Nele eram pedidas informações curriculares (curso, ciclo de estudos,
média académica), pessoais (explicação da razão por que queriam participar no programa e
a redacção de um texto de apresentação ao seu mentor) e informações sobre as suas áreas
de interesse (hobbies e áreas de interesse profissional), entre outras. Estas informações
serviram para a avaliação e, tal como no caso dos mentores, para o matching, a
correspondência de mentor e mentorando, da responsabilidade da FEUC.
Candidataram-se 105 alunos, mais 35 do que as vagas disponíveis. Após a
confirmação dos dados curriculares dos alunos, iniciou-se o processo de selecção.
Como havia sido definido, na selecção foi dada prioridade aos alunos finalistas
e utilizou-se um método de iterações sucessivas. Os critérios divulgados estabeleciam que
os estudantes seriam divididos em dois grupos: o primeiro (com um máximo de 50
pessoas) formado com base numa avaliação focada nos dados académicos; o segundo (com
um mínimo de 20) tendo apenas em conta o currículo do candidato e a informação de
candidatura, de forma a valorizar também a sua motivação, as actividades extracurriculares
e a experiência profissional. Para qualquer dos grupos poderia ser requerida uma
entrevista.
O matching, que corresponde à atribuição de mentores a mentorandos, foi feito
no decorrer da selecção, com base nas informações fornecidas por mentores e mentorandos
e tendo em conta as expectativas de uns e de outros.
Quando a correspondência terminou, foram elaboradas fichas de apresentação
de mentores para os mentorandos e vice-versa, baseadas na informação das inscrições e
candidaturas ao programa.
Os mentorandos só ficaram a saber quem eram os seus mentores numa sessão
que contou com a presença da Professora Doutora Lina Coelho. Nesta sessão, realizada
durante a tarde do dia 30 de Maio de 2013, foram entregues aos alunos as fichas de
apresentação dos seus mentores.
O Mentoring no Ensino Superior PARTE III – O ESTÁGIO
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 26
No dia seguinte, as fichas de apresentação dos alunos e o Manual do Mentor
foram enviados por e-mail a todos os mentores, a quem foi pedido que esperassem um
contacto dos alunos. Este deveria ser feito por e-mail antes da sessão de apresentação
pública do programa. No mesmo dia foi enviado por correio electrónico o Manual do
Mentorando aos alunos seleccionados. Neste dia (31 de Maio de 2013) começou o
Mentoring FEUC.
Até ao final do mês de Junho, foi disponibilizado apoio aos alunos para
preparar a primeira reunião com os seus mentores ou criar um perfil de LinkedIn.
O início da relação ficou marcado, também, pela integração dos participantes
no grupo de LinkedIn “FEUC Mentoring Program 2013/2014”. Este espaço – que no
início de Junho já contava com 111 participantes – é apenas acessível a mentores,
mentorandos e à equipa da FEUC que faz a monitorização do programa.
Um mês depois do início oficial foi feito o primeiro controlo, que revelou que
mais de 97% dos mentorandos tinham já efectuado o primeiro contacto com o seu mentor e
que mais de 50% já tinham tido a primeira reunião, presencial ou por videochamada.
O lançamento oficial do Mentoring FEUC foi realizado a 14 de Junho de 2013,
numa cerimónia pública, presidida pelo Director da FEUC, Professor Doutor José Reis.
Esta teve acompanhamento da comunicação social (Diário de Coimbra e As Beiras),
conforme se pode ver no Anexo 1.
A cerimónia contou com cerca de 90 pessoas, um número considerável tendo
em conta a elevada percentagem de mentores que não trabalha em Coimbra ou, sequer, em
Portugal.
O Mentoring no Ensino Superior PARTE III – O ESTÁGIO
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 27
2 A Rede Parceiros FEUC
A Rede Parceiros FEUC reúne entidades que, em parceria com a FEUC,
facilitam o contacto dos estudantes com o meio envolvente através de um acordo
estratégico entre a Faculdade e os Parceiros (entidades empresariais, públicas, privadas e
do terceiro sector e unidades de investigação).
A sua criação tem vários objectivos: promover a familiarização dos estudantes
da FEUC com a realidade profissional futura; incentivar a partilha de conhecimentos; dar
resposta às necessidades de formação dos Parceiros; e contribuir para os processos de
melhoria contínua da oferta lectiva da FEUC (Apêndice 1).
Neste projecto, liderado pelo Professor Doutor Paulo Gama, fui chamado a
desempenhar um papel de apoio à sua elaboração e implementação. À data de início das
minhas funções estavam definidas as linhas gerais daquilo que deveria vir a ser a Rede.
Entre as tarefas a desenvolver estavam a identificação de potenciais parceiros
com base em critérios a definir; a criação da identidade visual da rede; a concepção do
portal para a internet, a elaboração de materiais de divulgação, a elaboração da minuta de
protocolo e a formulação dos convites aos Parceiros. Participei activamente em todas estas
tarefas, desde o início até ao fim do estágio. O seu enquadramento temporal pode ser visto
na Figura 4.
Figura 4 - Rede Parceiros FEUC
Se o Mentoring FEUC foi concebido de maneira a não ter custos significativos,
a Rede Parceiros FEUC envolveu um maior investimento. Este facto, aliado à necessidade
de contratação de serviços externos para a construção do portal da Rede e do
13-Fev 13-Mar 11-Abr 10-Mai 8-Jun 7-Jul
1 – Pesquisa e identificação de
potenciais parceiros
2 – Concepção do portal
3 – Concepção e produção de materiais
de divulgação e protocolos
4 – Contactos informais com potenciais
parceiros
5 – Formalização dos convites e
esclarecimento de dúvidas
6 – Personalização dos protocolos
O Mentoring no Ensino Superior PARTE III – O ESTÁGIO
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 28
desenvolvimento da sua identidade visual, levaram a que o ritmo de desenvolvimento deste
projecto fosse mais lento.
O Mentoring no Ensino Superior PARTE IV – ANÁLISE CRÍTICA
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 29
PARTE IV – ANÁLISE CRÍTICA
1. O Estágio na FEUC
No fim de um estágio curricular, qualquer aluno deve sentir-se
significativamente mais preparado para enfrentar o mercado de trabalho. Isso só é possível
se a entidade de acolhimento proporcionar o apoio e as condições adequadas para que o
estagiário possa executar tarefas de responsabilidade.
Nesta perspectiva, a decisão de fazer o estágio na FEUC foi uma óptima opção.
A oportunidade de trabalhar simultaneamente em dois projectos desde a sua concepção foi
enriquecedora, mas o Mentoring FEUC foi, sem dúvida, o mais marcante.
O que houve neste projecto, para que a aprendizagem tenha sido tão
significativa? A autonomia que me foi dada para concretizar a proposta apresentada. Note-
se que esta autonomia não é sinónimo de falta de acompanhamento. Pelo contrário, o
acompanhamento da Professora Doutora Lina Coelho foi permanente e fez-se sentir em
momentos decisivos; apenas não foi cerceador de uma liberdade que funcionou como
factor de motivação e de responsabilização, que foi essencial ao meu desenvolvimento
pessoal e profissional e ao êxito do projecto.
Esta autonomia – assim como a consequente responsabilidade – obrigou-me a
participar de forma central nas diversas fases do Mentoring FEUC. Em apenas cinco meses
tive de, para além de fazer a investigação sobre o tema e o desenho do programa, motivar
70 mentores para nele participarem; delinear e comunicar o Mentoring FEUC entre os
estudantes, algo para o qual fiz várias apresentações públicas; organizar o processo de
recrutamento, fazendo entrevistas de selecção e analisando 105 currículos e informações de
candidatura; fazer o matching entre mentores e mentorandos; discursar na cerimónia de
abertura; prestar declarações para a comunicação social; monitorizar o programa,
garantindo o seu bom funcionamento; e gerir o grupo de LinkedIn.
De entre estas tarefas, sublinho a experiência adquirida nas áreas de Recursos
Humanos (graças ao processo de selecção e às entrevistas feitas aos alunos) e de
Comunicação e Relações Públicas. Neste aspecto, foi especialmente marcante a Cerimónia
O Mentoring no Ensino Superior PARTE IV – ANÁLISE CRÍTICA
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 30
de Lançamento do Mentoring FEUC, pela responsabilidade de receber os convidados, de
falar perante quase uma centena de pessoas e de prestar declarações à comunicação social.
Mas também o contacto com os mentores foi absolutamente decisivo. Os seus
conselhos e os seus actos, mas também a generosidade que demonstram ao doar parte do
seu tempo livre para ajudar os actuais estudantes, fazem com que os tome como exemplo.
No final do estágio foi pedido a mentores e mentorandos para fazerem uma
análise do que tinha sido a relação até ao momento. As suas respostas são reveladoras do
significado que teve este estágio (Apêndice 2).
Destaco, neste aspecto, as palavras de dois mentorandos. Veja-se o que diz
Ana Sofia Regadas sobre como se sente depois de cada reunião com o seu mentor. “Parece
uma tempestade de ideias, que nas primeiras horas não me saem da cabeça (…) mas que
começo a interiorizar aos poucos”, refere, reforçando que a experiência proporcionada pelo
Mentoring FEUC “é uma excelente oportunidade de conhecer novos instrumentos de
trabalho”, mas que, “mais importante, é um verdadeiro exercício de introspecção” que
neste momento da sua vida diz ser “crucial” (Apêndice 2).
Também Guilherme refere que, apesar de ser uma curta experiência, já começa
a sentir os efeitos do programa. Este, escreve, permitiu-lhe “criar um laço de maior
afinidade com a Faculdade, pela oportunidade concedida”, aumentar “quantitativa e
qualitativamente” a rede de contactos e fortalecer o seu sentido de responsabilidade
(Apêndice 2).
Entre os mentores o balanço parece ser igualmente positivo. Sublinho as
palavras de Filipe, que refere que o entusiasmo em relação ao programa se nota de parte a
parte, que “a experiência não podia ser melhor” e que a questão em que tem pensado
permanentemente é: “Por que é que o programa não existia no meu tempo?” (Apêndice 2).
Concluo com uma sugestão. Tenho noção de que a FEUC não tem os recursos
de algumas universidades privadas, mas possui nos seus alunos um potencial que poderá
aproveitar. A vontade de fazer e de promover eventos por forma a ganhar experiência é
uma realidade; e organizações como os Núcleos de Estudantes, a Júnior Empresa de
Estudantes da FEUC (JEEFEUC) ou a Association Internationale des Étudiants en
Sciences Économiques et Commerciales (AIESEC) trabalham de uma forma cada vez mais
organizada.
O Mentoring no Ensino Superior PARTE IV – ANÁLISE CRÍTICA
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 31
Se, por exemplo, os eventos dirigidos a estudantes estrangeiros fossem
coordenados pelo Departamento de Relações Internacionais e contassem com a
colaboração dos pelouros de Relações Externas de cada um dos Núcleos, seria, certamente,
possível organizá-los de uma forma profissional ao mesmo tempo que se proporcionava
uma situação de aprendizagem para os alunos e uma mais-valia para a FEUC.
Acredito que é também na maior interligação entre a Direcção e a
Administração da FEUC e os seus estudantes que pode ser construída uma Faculdade ainda
mais completa. O espírito de cooperação e associativismo de Coimbra é uma imagem de
marca da cidade que pode ser utilizada em prol da Faculdade.
O sucesso da última Feira de Emprego da FEUC, organizada exclusivamente
por estudantes, e o Mentoring FEUC são as provas mais evidentes de que o potencial está
lá e que pode (e deve) ser aproveitado.
A abertura de lugares de estágio para gerir e implementar programas como o
Mentoring FEUC e a Rede Parceiros FEUC é, segundo creio, uma possibilidade que a
Direcção deveria ter em conta. Poderia, também, incentivar os candidatos a fazerem
propostas de projectos a implementar na Faculdade.
É necessário sublinhar, contudo, que a importância deste estágio na vida dos
alunos exige que a experiência seja significativa. O que, por sua vez, implica que a FEUC
garanta o apoio necessário nos projectos em que aqueles forem integrados.
2. Os testemunhos do Mentoring FEUC
É impossível tirar uma conclusão definitiva sobre um programa que ainda está
no início. Contudo, há alguns pontos que importa sublinhar com base nos testemunhos de
mentores e mentorandos recolhidos entre um e dois meses depois do arranque do
Mentoring FEUC.
Não se pretende, portanto, fazer uma análise da sua satisfação com a relação.
Interessa, sim, detectar boas práticas e sugestões relevantes. Neste aspecto, é possível
verificar os diferentes tipos de relação mantidos entre mentor e mentorando.
O papel de patrocinador referido por Levinson (1978 apud Barondess, 1994: 7)
é bem evidente nas palavras de Paulo Moura (Apêndice 2), que sente poder ajudar a sua
mentoranda “proporcionando-lhe contactos com colegas e amigos (…) [de] várias
empresas, com várias especialidades e funções”. Também na relação entre Marlene Soares
O Mentoring no Ensino Superior PARTE IV – ANÁLISE CRÍTICA
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 32
e Pedro Saraiva (Apêndice 2) se identifica esta promoção do mentorando, nomeadamente
através da realização de um estágio de Verão na empresa em que a mentora trabalha.
O papel do mentor como modelo é também destacado por alguns autores.
Cohen (1995), nomeadamente, explicita que é importante que o mentor seleccione alguns
exemplos de situações por que ele próprio tenha passado e as relate, com o objectivo de
contribuir para a motivação do mentorando. Uma experiência deste género está
subentendida nas palavras de Manuel André (Apêndice 2). Este mentorando sublinha a
importância de estar “a falar com um profissional experiente, com um percurso
interessante e cuja história (…) tinha algo de inspirador”.
A importância do matching sai reforçada pelas palavras de vários mentores e
mentorandos. O mentor Sandro Medina (Apêndice 2), por exemplo, refere que a
“atribuição mentor/mentorando trouxe benefícios acrescidos no âmbito deste programa”,
porque “a carreira profissional desejada/idealizada pela mentoranda se adequa em muitos
pontos com a do mentor”. Também a mentoranda Tânia Oliveira (Apêndice 2) refere a
importância de o mentor trabalhar em áreas em que um dia se pretende integrar. Laura
Figueiredo sublinha a importância de ter um mentor que trabalha no estrangeiro, por
também ela desejar, um dia, sair do país. Reflecte que “ter um mentor internacional” é
“especial”, por poder “olhar para quem fez, para um dia fazê-lo também”, (Apêndice 2)
numa nova alusão ao papel de mentor como exemplo e inspiração (Cohen, 1995).
De referir também que o argumento de que o esforço feito pelo mentor
aumenta o compromisso do mentorando na relação (Ensher et al., 2003 apud Moreme
ApS, 2013:8) parece confirmar-se. Ana Sofia Regadas (Apêndice 2) refere que dá muito
valor à colaboração do seu mentor, “porque também ele prescinde do seu tempo para poder
preparar as reuniões” e dar-lhe sugestões.
Mariana de Almeida (Apêndice 2) surpreende-se com a relação pessoal que é
possível construir com um profissional de sucesso como o seu mentor. Comenta que
pensava “que a relação com os mentores iria ser bastante formal”, o que não se tem
verificado.
A mentora Sofia Correia (Apêndice 2) sublinha a importância deste tipo de
programa “na ligação da faculdade ao mundo real”. Também Tânia Oliveira, mentoranda,
explica que “muitos alunos se queixam de que em Portugal o ensino é muito teórico e
O Mentoring no Ensino Superior PARTE IV – ANÁLISE CRÍTICA
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 33
apresenta um elevado distanciamento do mercado de trabalho” e que com este tipo de
projecto é possível suprir essas lacunas (Apêndice 2).
De realçar, ainda, a sugestão do mentor Jorge Gouveia, que propõe que sejam
dinamizadas “actividades durante o ano, que estimulem o intercâmbio de experiências e o
convívio entre os mentores e os mentorandos, que poderá ser muito rico” (Apêndice 2).
Há um testemunho que parece ser um exemplo da criatividade que permite uma
melhoria contínua neste tipo de programa. A relação protagonizada por Pedro de
Figueiredo Marques e pelo seu mentorando, Pedro Dinis, é um exemplo de um exercício
relevante que está a ser desenvolvido. Segundo o mentor (Apêndice 2), para fazer algo
tangível colocou o desafio a Pedro Dinis de se imaginar no papel de um gestor de
Marketing de uma marca de desporto de grande reputação mundial: “Como será o primeiro
ano numa empresa deste género? O que faz um gestor de Marketing?”. Convida o
mentorando a reflectir sobre as diferenças entre um gestor de Marketing e um publicitário.
E explica que quando diz que trabalha em Marketing ouve muitas vezes: “‘Que fantástico’;
‘Que divertido’, ‘Deves estar sempre a ver anúncios a ouvir música’. E, ao mesmo tempo:
‘Mas o que é que Economia tem a ver com Marketing?’”.
O testemunho de Vítor Figueiredo Marques, mentor, demonstra que realmente
a distância não é obstáculo a uma longa e profunda conversa. Afirma que falou com o seu
mentorando, através de videoconferência, durante uma hora e meia, para que ficassem a
conhecer-se melhor. Escreve que se recordou de todas as questões e dúvidas sobre as
carreiras profissionais que tem quem está ainda a estudar. E comenta: “Creio que uma das
coisas mais importantes é ter a noção de que a carreira se constrói ano a ano, consoante o
que vamos gostando mais, descobrindo e aproveitando as oportunidades que criamos”.
3. O mentoring
Vivemos, no século XXI, num mundo em constante mudança, globalizado e
em que a tecnologia e a rapidez de acesso a informação têm cada vez mais influência. Com
as mudanças rápidas nos mercados e na organização do trabalho torna-se essencial uma
permanente actualização de conhecimentos.
Estas tendências levam-me a prever a utilização mais frequente de programas
de mentoring como uma forma de complemento à formação. Acredito que o crescimento
da sua utilização se foque nas universidades, que têm uma oferta formativa que não se
O Mentoring no Ensino Superior PARTE IV – ANÁLISE CRÍTICA
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 34
actualiza à velocidade do mercado; e nas multinacionais, que promovem a transferência de
pessoas de país para país e as sujeitam a uma rápida adaptação a diferentes mercados. O
mentoring surge, aqui, como uma forma de actualizar e preparar trabalhadores e alunos
para um contexto em constante (e rápida) mudança.
Às necessidades identificadas, associa-se a oportunidade que o acesso a
tecnologias de comunicação a uma escala praticamente global representa. A internet está
vulgarizada e os telemóveis e telefones ainda o estão mais. Tecnologias como o Skype vêm
permitir uma comunicação à distância com recurso a vídeo, tornando possível a duas
pessoas conversarem cara-a-cara mesmo estando separadas por milhares de quilómetros.
Essa é uma oportunidade que se abre e que, acredito, não será desperdiçada.
Mesmo conhecendo os pontos menos positivos do e-mentoring em relação ao
mentoring tradicional – como a redução de compromisso dos participantes, o aumento das
interrupções, a mais lenta construção de uma relação de confiança ou a dependência de
tecnologias (Moreme ApS, 2013) –, é minha convicção que estes serão cada vez menos
valorizados. Esta sai reforçada pelos dados de candidatura dos alunos ao Mentoring FEUC.
Uma das perguntas feitas no formulário de candidatura era a seguinte:
“Gostaria de ter um/a mentor/a com uma carreira internacional (tendo em conta que isso
poderá implicar alguma dificuldade de agenda de encontros pessoais)?”. Ao contrário do
que esperava, 74,3% dos candidatos respondeu positivamente à pergunta, demonstrando
assim que a dificuldade de agenda de encontros pessoais não era o factor mais importante
neste tipo de relação.
A desvalorização da forma de contacto e a crescente utilização das tecnologias
por pessoas de todas as idades, faz-me acreditar que a solução virtual é um caminho lógico
para tornar o mentoring ainda mais proveitoso.
Acredito que o sucesso do e-mentoring depende de provas de que a relação é
efectiva e traz benefícios. Tendo em conta a escassez de estudos sobre este aspecto, parece-
me que a FEUC poderia aproveitar o Mentoring FEUC para fazer uma investigação que
acrescente dados relevantes sobre o tema.
Neste sentido, antes de terminar o estágio deixei à Direcção uma proposta de
uma empresa especializada em e-coaching e e-mentoring que estaria disposta a fazer uma
parceria com a FEUC para disponibilizar de forma gratuita a sua plataforma digital tendo
em vista uma maior eficiência do programa. Esta empresa sugeriu ainda a realização de um
O Mentoring no Ensino Superior PARTE IV – ANÁLISE CRÍTICA
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 35
estudo de caso com base no Mentoring FEUC. Acredito que esta oportunidade não deixará
de ser aproveitada.
4. A Faculdade
Depois de cinco meses de uma intensa experiência de trabalho na FEUC e
graças também à oportunidade de ouvir actuais alunos, mentores e colegas que
abandonaram a Faculdade no fim da licenciatura para fazer o mestrado noutras
universidades, cheguei a algumas conclusões que gostaria de partilhar.
Sem a pretensão de fazer um estudo científico, as questões que fui colocando a
elementos daqueles três grupos foram: quais as vantagens competitivas da FEUC e quais
os pontos a melhorar?
As respostas foram reveladoras por haver um elevado grau de consenso,
principalmente entre os mentores (cuja formação académica acabou há vários anos e que se
encontram integrados no mercado de trabalho) e entre os estudantes que deixaram a FEUC
no final da sua licenciatura (segundo explicam, precisamente para aumentar as
possibilidades de encontrar emprego).
A opinião da generalidade das pessoas pode ser expressa assim: ser aluno da
FEUC não concede uma vantagem a quem lá estuda na medida em que a marca, por si só,
não tem um impacto suficiente nas empresas para que estas abram as portas aos seus
estudantes. No entanto, a FEUC contribui para que se seja um bom profissional, dado que a
sua formação é de qualidade. Isto revela, concluo, que a FEUC faz bem o seu trabalho –
dar formação aos alunos e prepará-los para o mercado com boas bases teóricas –, mas não
é tão eficaz na comunicação e no relacionamento com o exterior.
Não por acaso, quando questionados sobre os pontos fracos da FEUC, quer os
mentores, quer os alunos que abandonaram a FEUC após a licenciatura e os actuais
estudantes apontam dois: a falta de uma maior ligação ao mercado de trabalho e a falta de
investimento nas novas tecnologias. Transformar estes dois domínios em pontos fortes é
essencial, consideram eles e sublinho eu, para que a marca FEUC seja percebida como
sendo de excelência.
Analisemos, primeiro, a questão da aproximação ao mercado de trabalho.
Existe, sem dúvida, trabalho feito e em desenvolvimento nesta área. São
exemplos disso os programas Mentoring FEUC e Rede Parceiros FEUC, já descritos neste
O Mentoring no Ensino Superior PARTE IV – ANÁLISE CRÍTICA
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 36
relatório. Mas isso basta? Na minha perspectiva não. Ainda que existam outros projectos
de que não tenho conhecimento, o actual contexto socioeconómico exige mais do que um
aglomerado de programas.
Numa perspectiva estratégica, parece-me que a proposta de valor da FEUC,
dirigida a um segmento de mercado particular, os estudantes universitários, consiste na
oferta de uma formação completa e adequada às necessidades do mercado de trabalho, que
permite aos alunos tornarem-se bons profissionais nas suas áreas (Figura 5).
Figura 5 - Proposta de Valor Actual
A questão é que o contexto socioeconómico do nosso país mudou e, neste
momento, a proposta de valor feita ao segmento de mercado dos estudantes universitários
já não é suficientemente apelativa.
Hoje, um curso superior já não garante a entrada no mercado de trabalho. Por
isso, os estudantes universitários têm expectativas muito precisas: já não lhes basta uma
formação de qualidade, querem também garantia de emprego. Por isso, as universidades
devem acrescentar à sua proposta de valor, assente na oferta de uma formação sólida, o
apoio efectivo aos estudantes na sua inclusão no mercado.
Mas este alargamento da proposta de valor obriga a FEUC a ter em conta um
segundo segmento de clientes: as empresas. Só encarando cada empresa como cliente (e
como cliente exigente) é possível promover realmente a entrada dos seus estudantes no
mercado de trabalho. Para isso, a FEUC deve oferecer às empresas uma proposta de valor
que consista na disponibilização de um conjunto de estudantes bem preparados e com
potencial para se tornarem profissionais que acrescentem valor à empresa (Figura 6).
Proposta de valor
"Dar uma formação completa e adequada às necessidades do mercado
de trabalho"
Segmento de Clientes
Estudantes Universitários
O Mentoring no Ensino Superior PARTE IV – ANÁLISE CRÍTICA
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 37
Figura 6 - Proposta de Valor Sugerida
De destacar que, na minha perspectiva, para corresponder às necessidades dos
dois segmentos, a FEUC deve fazer um trabalho simultâneo de manutenção da aposta
numa formação adequada, e de investimento na preparação dos alunos para a entrada no
mercado de trabalho, promovendo mecanismos de ligação entre os dois segmentos.
É este papel da FEUC como elemento de ligação entre segmentos que me
parece fulcral para que a universidade mantenha a sua competitividade – papel que está a
desempenhar, por exemplo, com os programas Mentoring FEUC e Rede de Parceiros
FEUC (Figura 7).
Figura 7 - FEUC como ligação entre segmentos
A mudança de contexto pode ser discutível, mas na minha opinião há provas
bem evidentes de que esta alteração na percepção dos universitários em relação ao papel de
uma universidade é real. A mais relevante é o facto de boa parte dos melhores alunos da
FEUC deixarem a Faculdade quando concluem a licenciatura para irem fazer o segundo
ciclo de estudos em universidades que se promovem como tendo taxas de empregabilidade
Segmento 1
Estudantes Universitários
Meios de Ligação da
FEUC
Mentoring FEUC
Rede Parceiros FEUC
Segmento 2
Empresas
O Mentoring no Ensino Superior PARTE IV – ANÁLISE CRÍTICA
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 38
no final dos mestrados de aproximadamente 100%. Por este motivo, olham para os custos
de sair de Coimbra como um investimento.
As empresas, por outro lado, num período de excesso de oferta de recursos
humanos em relação à procura, não colocam anúncios para evitar um processo moroso e
caro de recrutamento. Qual a sua opção? Recrutar directamente nas universidades que
melhor comunicam com o exterior.
Assim se forma, na minha perspectiva, um ciclo vicioso: com esses apelos e
com uma melhor percepção entre as empresas do que a FEUC, essas universidades captam
os melhores estudantes das universidades nacionais no final das licenciaturas; as empresas
vão recrutar os melhores estudantes; como os melhores se encontram reunidos nessas
universidades, não lhes será difícil manter a taxa próxima dos 100% de empregabilidade;
recrutando directamente nessas universidades e tratando-se estes, de facto, dos melhores
estudantes, as empresas, satisfeitas, atribuem o mérito à última universidade que os seus
trabalhadores frequentaram.
É isto que é preciso mudar. A FEUC tem de começar a cativar os melhores
alunos das suas licenciaturas para nela continuarem os seus estudos, porque são eles os
principais embaixadores da marca FEUC. Os melhores alunos não vão ter dificuldades em
arranjar emprego e, se entrarem numa empresa sendo provenientes de Coimbra, eles
estarão a representar a FEUC; se entrarem a partir de outra instituição, mesmo que tenham
estudado três anos na FEUC, só estarão a contribuir para reforçar a imagem dessa outra
instituição.
Como mudar isto? Proponho duas acções: uma, simples, de foco na
comunicação; outra, talvez mais complexa numa instituição pública, de oferta de
incentivos à manutenção dos melhores alunos.
Em termos de comunicação, parece-me essencial publicitar o rácio de
empregabilidade dos alunos da FEUC. É preciso publicitar, na campanha de comunicação
da Faculdade e dos seus mestrados, que a empregabilidade dos alunos de mestrados da
FEUC se situa acima dos 90%.
A segunda acção tem implicações directas na melhoria daquele indicador. Diz
respeito à captação dos melhores alunos, através de incentivos para que se mantenham na
Faculdade. Este é um aspecto essencial: se a FEUC já oferece a formação e as ferramentas
necessárias para que os seus alunos se tornem bons profissionais, agora trata-se de garantir
O Mentoring no Ensino Superior PARTE IV – ANÁLISE CRÍTICA
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 39
que eles representam a FEUC e que não são outras faculdades a ficar com um mérito que é,
em grande parte, desta.
Isto porque, se as acções de comunicação são importantes, é o trabalho dos
seus ex-alunos que vai possibilitar o reforço da sua marca. Diria mesmo que cada estudante
da FEUC deve ser encarado como um embaixador da marca e que esse sentimento deve
ser-lhe incutido desde que entra na Faculdade até que a deixa – o que cada estudante da
FEUC faz na empresa para a qual vai trabalhar é que vai abrir (ou fechar) portas a outros
estudantes da mesma instituição.
Como segurar, então, os melhores alunos? Não sei se será possível conceder
uma redução na propina a alunos com uma média igual ou superior a 15 valores que
poderiam, por exemplo, ser patrocinados por empresas com as quais a FEUC tivesse
parcerias.
Não sendo aquela uma possibilidade, e tendo em conta que a percentagem de
alunos com esta média não será muito elevada, poderia recorrer-se, por exemplo, à oferta
de um curso de línguas gratuito na Faculdade de Letras, à possibilidade de frequentar de
forma também gratuita cadeiras de outras faculdades ou de cursos da Associação para a
Extensão Universitária (APEU) da FEUC, ou de integrar projectos de investigação ou de
colaboração com empresas. Todas estas são acções que, acredito, podem levar um aluno de
excelência a optar por Coimbra em detrimento de outras universidades.
Para além de apostar na comunicação e na captação dos melhores alunos, é
fundamental que a FEUC aposte noutras frentes, actualizando-se no que respeita às
vantagens das novas tecnologias (que apesar de assim serem designadas já nada têm de
novas) e complementando a formação dos estudantes numa lógica de ligação ao mundo do
trabalho.
Tendo em conta a maior preocupação da FEUC com o Facebook e com a
actividade online, aliada à implementação do Mentoring FEUC e à planificação da Rede
Parceiros FEUC, parece-me evidente que a Faculdade já identificou a necessidade de
apostar na comunicação através das novas tecnologias. Penso, contudo, que ainda está a
dar os primeiros passos de um longo caminho.
Aqueles dois programas não serão, por si só, capazes de resolver o problema de
ligação às empresas. Para que isso aconteça é fundamental dotar os alunos das ferramentas
e dos conhecimentos necessários para que possam mostrar todo o seu valor. No entanto, a
O Mentoring no Ensino Superior PARTE IV – ANÁLISE CRÍTICA
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 40
experiência de trabalho com a rede social LinkedIn, no desenvolvimento do projecto
Mentoring FEUC, bem como a realização de entrevistas e a análise de currículos dos
alunos, permitiu-me identificar aspectos a melhorar na preparação dos estudantes para se
comunicarem eficazmente à entrada do mercado de trabalho.
Atente-se no exemplo do LinkedIn. A FEUC – assim como muitas outras
universidades – não tem uma página naquela que é considerada a mais relevante rede
social para ligações profissionais. As maiores empresas gerem as suas páginas de LinkedIn
com tanta ou maior atenção do que aquela dedicam às respectivas páginas de Facebook. E,
simultaneamente, estão atentas aos perfis de eventuais colaboradores; note-se, a propósito,
que no processo de recrutamento muitas empresas já não pedem o Curriculum Vitae (CV)
aos candidatos, mas apenas a respectiva página de Linkedin, que contém todas as
informações normalmente contidas no CV e, para além dessas, outras, também
consideradas relevantes.
Também os professores teriam a ganhar com a criação dos seus próprios perfis
no LinkedIn. Isto teria vantagem para os próprios, para os alunos e para o objectivo
estratégico da FEUC de aproximação ao meio empresarial.
Realce-se que uma das funcionalidades mais valiosas desta rede social é a de
permitir aos seus utilizadores fazer recomendações e recebê-las de terceiros. Isto significa
que um aluno de excelência pode ter online e acessível para todos os recrutadores um texto
de recomendação de um professor – algo que hoje é mais valioso do que qualquer nota
numa disciplina ou carta formal de recomendação. Do ponto de vista do recrutador, esta é
uma das tais informações importantes que não constam do tradicional CV. Ao ter uma
comunidade académica desligada desta rede, o número de recomendações dos seus
integrantes reduz-se significativamente.
Há outros aspectos que, penso, podem ser melhorados. Um dos problemas que
confirmei com o trabalho para a promoção do Mentoring FEUC foi o que se prende com a
demasiado comum falta de capacidade dos alunos para comunicarem em língua
estrangeira. Hoje em dia é raro o emprego em que não é exigido um nível mínimo de inglês
e, nas grandes empresas, é muito comum os candidatos serem sujeitos a um teste nessa
língua durante o recrutamento.
Tendo consciência de que talvez seja, neste momento, irrealista sugerir que as
aulas sejam dadas em inglês, acredito que deveria ser feita uma parceria com a Faculdade
O Mentoring no Ensino Superior PARTE IV – ANÁLISE CRÍTICA
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 41
de Letras de forma a integrar uma disciplina obrigatória com uma língua estrangeira (a
língua e o nível escolhidos poderiam ser opcionais) no plano de estudos de todas as
licenciaturas da FEUC.
Durante as entrevistas apercebi-me, também, de que há alunos finalistas a
quem, depois de três ou mais anos na Faculdade, nunca foi pedido para fazerem um
currículo. E a maior parte daqueles a quem isso foi pedido foi-o no primeiro ano. Da
mesma forma, são inúmeros os alunos que se apresentam não sabendo que se pode não
usar o tipo de currículo Europass. Isto quando, no conjunto de recrutadores com quem já
falei, apenas um (estrangeiro e que estava a fazer uma comunicação para alunos Erasmus)
apoiava a utilização daquele template. A maior parte dos empregadores incentiva a criação
de formatos diferentes e adequados às funções a que cada um se candidata.
Desenvolver o currículo o quanto antes é essencial, quanto mais não seja para
que os estudantes percebam a necessidade que têm de o preencher com actividades de
valor. Saber como fazer um currículo (as competências a destacar e as formas de se
promover) é uma necessidade básica.
Sugiro, em relação a este aspecto, que se tire proveito da Rede Parceiros
FEUC e que seja feito um contacto com o leque mais amplo possível de empresas por
forma entender quais as características que um bom currículo deve ter, na perspectiva dos
empregadores. Com base na informação recolhida junto de empresas e com a colaboração
de um designer, a FEUC poderia desenvolver um modelo de currículo próprio, criando um
template e disponibilizando-o a todos os seus alunos. Estes adaptá-lo-iam, depois, da forma
que achassem mais apropriada para cada oportunidade de emprego, mas teriam sempre
uma base a partir da qual poderiam trabalhar. Esta é uma prática, aliás, seguida por outras
universidades e que me parece importante no momento de extrema competitividade na
transição para o mercado de trabalho que o país atravessa.
O Mentoring no Ensino Superior CONCLUSÃO
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 42
CONCLUSÃO
Fazendo uma retrospectiva do estágio é possível verificar a influência
significativa da teoria no desenvolvimento do Mentoring FEUC.
Esta é notória logo desde a apresentação da proposta de programa (Law et al.,
2007) à Direcção da FEUC, na qual eram referidas as suas vantagens e potencialidades e
como era absolutamente exequível a sua implementação a um custo extremamente
reduzido.
Já numa fase de colaboração com a Professora Doutora Lina Coelho, foram
avaliadas as consequências que cada decisão poderia trazer. Sobressaiu, aqui, a
importância de conhecer bem a FEUC e a sua cultura, tal como Clapson (2013) sugeria.
Decisões como a de restringir o grupo de mentores a ex-alunos da FEUC (em vez de
abranger todos os da universidade) foram baseadas essencialmente na estratégia da
organização e na sua cultura, bem como no impacte comercial que pode ter através da
promoção da imagem dos seus ex-estudantes e, consequentemente, da própria Faculdade.
O passo seguinte foi o desenho do programa, no qual, para além de ser
desenvolvida a estratégia motivacional (Law et al., 2007), foram tomadas outras decisões
essenciais.
Uma delas foi baseada na definição de Baldoni (2003, apud Rego et al., 2007:
98) de mentor como um “amigo, um colega, um conselheiro, todos num só”, na qual é
sublinhada a importância da relação pessoal e do interesse genuíno, por parte do mentor,
no mentorando. Também a origem da palavra, apresentada por Duffy (1994, apud
Barondess, 1994: 5) como uma prenda divina, reforça a ideia de que é essencial que a
relação de mentoring seja espontânea, que seja uma dádiva dos mentores aos mentorandos.
A consciência da importância deste factor levou à decisão de não oferecer qualquer
remuneração aos mentores e de não fixar limites mínimos de contactos, para que a relação
não se tornasse mecanizada e pouco natural.
Também o acordo entre vários autores de que a relação deveria ser limitada no
tempo foi essencial. Vendo o mentoring como uma jornada e um investimento nos jovens,
esta termina quando o mentor tiver cumprido o seu papel (Fletcher, 2010). Isto levou à
O Mentoring no Ensino Superior CONCLUSÃO
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 43
fixação do prazo de um ano para a relação, tendo sido deixada em aberto a possibilidade da
sua renovação.
Da mesma forma, a definição de Megginson e Clutterbuck (1995, apud
Clutterbuck 2004: 12), que reforça a importância da transição de contextos na relação de
mentoring, levou à decisão de dar prioridade aos alunos finalistas, uma vez que são eles os
que mais próximos estão da mudança do meio académico para o mercado de trabalho.
Para escolher a forma de contacto entre mentores e mentorandos, foi essencial
o conhecimento dos vários tipos de mentoring existentes (MENTOR, 2005). De maneira a
alargar a base de recrutamento, permitindo tirar partido das vantagens da comunicação à
distância neste tipo de relação (Moreme ApS, 2013), optámos por incluir no programa a
opção do e-mentoring. Da mesma forma, para procurar satisfazer ao máximo as
necessidades dos mentorandos, escolhemos também vários mentores locais com o
objectivo de permitir uma relação de mentoring tradicional a quem a desejasse.
Sublinhe-se, neste ponto, que a criação do grupo de LinkedIn – uma inovação
em programas como este – se baseia no mentoring de grupo, em que um mentor ajuda
vários mentorandos. Apesar de não ser um exemplo clássico, o objectivo do grupo é o
mesmo do referido por Clapson (2013): dar aos mentorandos a oportunidade de receberem
feedback de todos os participantes.
A escolha de, entre as várias técnicas de mentoring, apresentar a CBT não é
aleatória. Ela é a base teórica daquilo que pedimos a mentor e mentorando. Esta técnica
foca-se no futuro, tendo o passado como ponto de partida e o presente como uma
oportunidade para planear a mudança (Law et al., 2007).
No Mentoring FEUC é pedido que, num primeiro contacto, o mentorando se
apresente ao mentor, partilhando a sua experiência passada e aquilo que deseja para o
futuro. Com esse ponto de partida, sugere-se uma análise do que foi feito e do que se está a
fazer, para, tendo em mente os objectivos de longo prazo do mentorando, serem pensados
em conjunto os passos a dar para os atingir. É ainda pedido aos intervenientes que
desenvolvam um plano de acção e que marquem reuniões regulares para rever o progresso
alcançado. Algo que não é mais do que a aplicação prática dos sete passos da técnica CBT
(Law et al., 2007).
A intensa estratégia de comunicação foi desenvolvida tendo em conta o
conselho de Cohen (1995), que sublinha que não se deve assumir que, por haver mentores
O Mentoring no Ensino Superior CONCLUSÃO
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 44
disponíveis, haverá imediatamente candidatos a mentorandos. O autor volta a ser
importante quando apresenta a possibilidade de o matching ser feito pelo administrador do
programa com base em informações recolhidas junto de mentor e mentorando – algo que
veio a ser efectuado no Mentoring FEUC.
As sessões de esclarecimento e de preparação para o mentoring e o
desenvolvimento de manuais para mentor e mentorando baseiam-se, também, na sugestão
de Cohen (1995).
É de realçar, em jeito de conclusão, que vários autores frisam a necessidade de
fazer a monitorização do programa (através do contacto regular com mentores e
mentorandos), assim como a sua avaliação. Este processo ficou desenhado, mas é essencial
que, para além do controlo e da avaliação, seja adoptada uma postura activa e de
dinamização do projecto. Não tive a experiência da coordenação, mas acredito que, tal
como no mentoring, também para essa arte é preciso uma certa magia (Law et al., 2007).
O Mentoring no Ensino Superior REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Pedro Barbosa Ribeiro Girão 46
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2013].
O Mentoring no Ensino Superior ANEXO 1 – NOTÍCIA SOBRE MENTORING FEUC
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 47
ANEXO 1 – NOTÍCIA SOBRE MENTORING FEUC
Fonte: Diário de Coimbra, 17 de Junho de 2013
O Mentoring no Ensino Superior APÊNDICE 1 – BROCHURA DA REDE PARCEIROS FEUC
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APÊNDICE 1 – BROCHURA DA REDE PARCEIROS
FEUC
O Mentoring no Ensino Superior APÊNDICE 1 – BROCHURA DA REDE PARCEIROS FEUC
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 49
O Mentoring no Ensino Superior APÊNDICE 2 – TESTEMUNHOS
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 50
APÊNDICE 2 – TESTEMUNHOS
Ana Sofia Regadas (mentoranda)
É preciso notar que estamos no início, mas a minha experiência está a ser muito positiva.
A colaboração do meu mentor está a ser fantástica e algo a que dou muito valor, porque
também ele prescinde do seu tempo para poder preparar as reuniões e dar-me sugestões.
Após a reunião parece uma tempestade de ideias que nas primeiras horas não me saem da
cabeça e tenho sentimentos contraditórios, mas que começo a interiorizar aos poucos.
Esta experiência é uma excelente oportunidade de conhecer novos instrumentos de
trabalho, mas mais importante é um verdadeiro exercício de introspecção que neste
momento é crucial. Com a visão do meu mentor, André Ribeiro, e as suas competências,
estou a passar por uma fase de aprendizagem que me está a marcar imenso.
Resumindo, as palavras-chave são aprendizagem e cooperação.
Carlos Filipe (mentor)
Troca de vários e-mails de apresentação, de identificação das expectativas e do plano
geral de trabalho. No último contacto, começo dos trabalhos práticos. Como vou estar
em Portugal em Agosto, ficámos de nos encontrar em Coimbra. Como é primeira vez que
participo numa experiência destas, não tinha na verdade expectativas particulares. O
objectivo principal do que acordámos foi o de aprofundar o conhecimento das instituições
europeias e a capacidade de síntese.
Filipe (mentor)
Já tivemos contacto pessoal e estou muito satisfeito. Nota-se entusiamo relativo ao
programa de ambas as partes. A experiência não podia ser melhor e a questão na qual
penso permanentemente é: porque é que o programa não existia no meu tempo?
O Mentoring no Ensino Superior APÊNDICE 2 – TESTEMUNHOS
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 51
Tivemos uma primeira conversa mais geral sobre a carreira, objectivos, preferenciais e
possíveis caminhos. Deu para nos conhecermos melhor e para eu entender quais os
gostos\personalidade da mentoranda.
Na segunda conversa delineámos objectivos concretos de carreira e discutimos possíveis
passos a seguir para os alcançar. Numa terceira conversa discutiremos o CV, formas de o
enriquecer e de o apresentar.
A abordagem é o mais flexível possível. A mentoranda tem liberdade de falar dos temas
que entender serem mais úteis. Noto uma grande dificuldade em definir objectivos de
carreira e portanto espero poder ajudar nesse respeito. Em geral, a experiência está a ser
muito positiva, penso que de acordo ou mesmo acima das espectativas.
Guilherme (mentorando)
De facto, a experiência, até agora, foi pequena, não deixando com isso de ter sido
interessante.
Primeiro: o programa em si permitiu-me criar um laço de maior afinidade com a
faculdade, pela oportunidade concedida; segundo: a minha rede de contactos ficou
aumentada, quantitativa e qualitativamente, inclusive com colegas que já conhecia
anteriormente mas com os quais tinha uma partilha mais reduzida; terceiro: apesar de
ainda não se ter realizado um contacto mais pessoal, sinto que tenho sido proactivo e
organizado nas comunicações que tenho feito com vista a esse fim, pelo que a minha
percepção de responsabilidade melhorou com este programa.
De agora em diante, só posso esperar continuar a colher os frutos deste trabalho.
João Pinto (mentorando)
Encaro a oportunidade de participar no Mentoring FEUC como um privilégio. Se a
iniciativa, pela audácia e pertinência, seria por si só de elogiar, a forma como o projecto
foi desenvolvido e concretizado revelou os padrões de excelência que pautaram a
O Mentoring no Ensino Superior APÊNDICE 2 – TESTEMUNHOS
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 52
organização. Através do Mentoring FEUC tenho tido a oportunidade de obter novas
perspectivas em relação a questões de extrema importância como sejam a primeira
abordagem ao mercado de trabalho, a relevância das actividades extracurriculares ou a
importância da construção de uma rede de contactos online.
Jorge Gouveia (mentor)
A experiência até ao momento foi muito positiva. Tive oportunidade de conhecer a
mentoranda numa reunião na FEUC em que me pareceu muito interessada, curiosa e
preocupada com o seu futuro mas ao mesmo tempo muito inexperiente e ingénua.
Mais do que dar-lhe conselhos, fiquei com a sensação que lhe poderia transmitir ao
longo deste ano como é a realidade empresarial e como se deve posicionar para atingir os
seus objectivos.
Espero que o projecto não se perca com a saída do Pedro Girão porque isso
seria desperdiçar todo o esforço feito e prejudicaria a imagem da Faculdade que mostrou
abertura e arrojo com este projecto. É por isso importante dinamizar actividades durante
o ano que estimulem o intercâmbio de experiências e o convívio entre os mentores e
mentorandos que poderá ser muito rico.
Laura Figueiredo (mentoranda)
A minha experiência no programa de Mentoring FEUC ainda é muito reduzida mas
mostrou ser já uma grande ajuda no meu percurso académico e extra-académico.
Quando ouvi falar do programa pela primeira vez decidi quase instantaneamente
participar, no entanto nunca pensei que fosse seleccionada. O facto é que poucas semanas
depois fui contactada para uma conversa mais aprofundada sobre a minha candidatura ao
programa e alguns dias depois recebi a informação que tinha sido seleccionada para
participar, o que me deixou radiante!
O Mentoring no Ensino Superior APÊNDICE 2 – TESTEMUNHOS
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 53
Quando fiz a minha candidatura, pensava muito em como seria se tivesse alguém que me
pudesse ajudar a encarar o percurso e a vida académica da melhor forma assim como
começar a pensar em planos futuros, pós-universitários. Desde logo mostrei especial gosto
em ter um mentor que estivesse no estrangeiro e isso acabou mesmo por acontecer. Era
algo que faria todo o sentido porque também eu gostava muito de trabalhar no estrangeiro
um dia. Ter um mentor internacional seria especial por essa razão: olhar para quem fez,
para um dia fazer também.
Por o meu mentor estar a trabalhar em Paris, as conversas pessoais tornam-se muito
escassas (algo que já sabia à partida, e que é totalmente aceite da minha parte). Ainda
não falei pessoalmente com o meu mentor mas trocámos já alguns e-mails e conversámos
duas vezes por Skype.
De momento, não podia estar mais satisfeita e sinto-me lisonjeada por ter a oportunidade
de fazer parte deste projecto.
Manuel André (mentorando)
A minha experiência no programa de Mentoring ainda é bastante curta – tive apenas um
encontro presencial com o meu mentor – mas suficiente para vislumbrar alguns aspectos
importantes no que toca aos objectivos desta iniciativa e até na própria realização das
expectativas que tinha no início. O breve contacto que tive com o meu mentor permitiu-me
constatar que uma dessas expectativas era assertiva: estava a falar com um profissional
experiente, com um percurso interessante e cuja história – que me contou com algum
detalhe – tinha algo de inspirador. História essa que também me permitiu perceber
algumas das vicissitudes do percurso profissional de um gestor, para lá de tornar evidente
a importância das qualidades humanas (soft skills) nesta profissão. Por incrível que
pareça, alguns dos tópicos que ele abordou ao longo da nossa conversa já se revelaram
úteis para mim, nomeadamente no âmbito da Júnior Empresa que integro e na relação que
se deve criar com o cliente. Um dos pontos no qual ele insistiu foi na necessidade de ter
objectivos bem definidos a médio/longo prazo, sugerindo que eu começasse a pensar neles
O Mentoring no Ensino Superior APÊNDICE 2 – TESTEMUNHOS
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 54
o quanto antes. Um exercício que se afigura complicado de fazer nesta altura da minha
vida, mas cuja importância começo a entender.
Mariana de Almeida (mentoranda)
Quando me inscrevi nesta experiência, ainda que o programa parecesse guiar-nos a uma
relaçao informal, tinha a sensação que a relação com os mentores iria ser bastante
formal, no sentido em que pensei que nunca teria o 'à vontade' que tenho. O meu mentor é
uma pessoa com a qual posso falar da minha vida profissional (ainda que curta), que me
dá uma opinião com mais experiência e que me evidencia erros e benefícios nessa minha
vida profissional que nunca dei conta.
De momento ainda não temos nenhum projecto de longo-prazo, por minha culpa. Ainda
não tive tempo de pedir a opinião e conversar sobre o que eu quero mesmo fazer no futuro.
Combinamos encontrar-nos nos próximos dias, para podermos conversar sobre tudo isto
antes de ter de me inscrever para o mestrado e tenho a sensação que a opinião dele
quanto ao mercado de trabalho e ao que efectivamente importa para a área que pretendo
seguir vai ser bastante útil, pois o mentor tem uma muito melhor noção do que é
necessário 'lá fora'!
Marlene Soares (mentora)
(…) A minha primeira reunião física com o meu mentorando foi no dia 14 de Junho,
embora já tivessem sido trocados vários e-mails, e nessa reunião foram esclarecidas
algumas dúvidas relativamente aos objectivos do mentorando com a inscrição no
Programa. Eu esclareci que toda a minha experiência profissional foi na área da Gestão
de Recursos Humanos e que nunca exerci Sociologia, embora muitas das teorias
aprendidas na Sociologia facilitaram o entendimento de muitos comportamentos sociais e
individuais com que me deparo diariamente no local de trabalho.
A primeira tarefa atribuída ao mentorando foi a redacção de um CV e entretanto já foi
redigido um plano de acção (…).
O Mentoring no Ensino Superior APÊNDICE 2 – TESTEMUNHOS
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 55
Também já passei informação ao mentorando sobre cursos de formação profissional a
incluir no seu plano de formação essenciais para a entrada no mercado de trabalho. Além
disso também já enviei um conjunto de empresas de recrutamento e/ou plataformas de
inscrição/ depósitos de CVs para o momento da procura activa de emprego.
O Pedro Saraiva é um mentorando extremamente interessado e aplicado e tem-me dado
feedback sobre a forma como está a correr o seu primeiro ano e os cursos em que se tem
inscrito, nomeadamente Mandarim.
Considero que para o programa correr a 100% só falta encurtar a distância entre mim e o
Pedro, permitindo assim reuniões físicas mais periódicas. No entanto, tentei encontrar
uma solução para esta lacuna através do estágio curricular com direito a alojamento na
zona da empresa.
Paulo Moura (mentor)
Logo no dia da apresentação do programa, pude conhecer pessoalmente a minha
mentoranda - Marisa Madeira. Quando acabou a apresentação, estivemos a conversar
durante bastante tempo. O suficiente para nos conhecermos um pouco melhor do que já
tínhamos adiantado em vários e-mails. E para, da minha parte, concluir que posso ser útil
à minha mentoranda, na área que ela pretende seguir (gestão de empresas). Quer
directamente, quer proporcionando-lhe contactos com colegas e amigos meus, em várias
empresas, com várias especialidades e funções, dependendo apenas da sua disponibilidade
e interesse, que analisaremos caso a caso e em que ela, obviamente, terá sempre a última
palavra.
Pedro de Figueiredo Marques (mentor)
Quando fui convidado para o Programa de Mentoring da Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra, senti-me honrado pelo convite, e encontrei uma oportunidade
de poder, por um lado partilhar a minha experiência profissional, e por outro lado poder
retribuir de alguma forma o conhecimento que a FEUC me proporcionou e a preparação
O Mentoring no Ensino Superior APÊNDICE 2 – TESTEMUNHOS
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 56
para um raciocínio estruturado em que permite encontrar soluções em contextos
empresariais e/ou em mercados complexos.
Desde o início da minha carreira profissional iniciada em Lisboa na Danone Portugal, foi
visível alguma falta de reputação da FEUC, e sobretudo da Universidade de Coimbra na
área. Universidades como a Católica ou a Nova, consideravam-se de longe os melhores, e
isso reflectia-se nas empresas, quer na fase de recrutamento quer durante o exercício de
funções. Claramente as referidas universidades de Lisboa tinham já uma ligação ao
mundo empresarial, e os seus licenciados falavam de situações mais práticas. Todavia
perante desafios que exigiam um maior raciocínio integrando vários factores de contexto
económico, como de conjuntura mundial, ou em situações de desenvolvimento de
estratégias de médio longo prazo, fui descobrindo que a FEUC nos proporciona um
conhecimento que é mais amplo e intemporal.
Uma outra situação em que fui verificando que a FEUC permite obter conhecimentos mais
abrangentes, teve a ver com o conhecimento interdisciplinar, que aumenta a curiosidade
sobre outras matérias. Quando se está a estudar em Coimbra é muito normal ter contacto
com colegas de outros cursos de uma forma frequente (Direito, Engenharias, Medicina,
Letras, etc..), e ter alguma troca de ideias sobre o âmbito dos seus cursos. Este ponto foi-
se revelando como uma mais-valia ao longo da minha carreira. Em casos de Gestão
interdepartamental, multissectorial, e de diversidade cultural, fundamental para a
Economia Global de hoje, sentia-me bastante seguro, e sabia onde procurar aprender
mais.
As minhas funções têm sido exercidas em empresas de diferentes sectores, no domínio de
Marketing integrado (end-to-end), e em diversos países, trabalhando marcas, produtos e
projectos à escala global, com profissionais dos 5 continentes. Durante este percurso se
Portugal é hoje um país com pouca visibilidade e com a percepção de que não produz um
bem ou serviço de grande reputação, é para mim importante que os estudantes da FEUC
tenham uma noção o mais próxima possível da realidade que vão encontrar. É muito
diferente a percepção de um profissional português em cada um dos países, mas todavia se
resume a uma atitude de rigor, elevado profissionalismo e claro contributo para os
resultados de uma determinada organização.
O Mentoring no Ensino Superior APÊNDICE 2 – TESTEMUNHOS
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 57
Tendo iniciado a cooperação com o meu mentorando, temos discutido estes vários temas.
Tem sido uma agradável experiência no sentido de observar que conhecimento e ginástica
intelectual são claramente identificáveis. Temos acordado conferências semanais, onde
abordamos vários temas de desenvolvimento pessoal e profissional. Mas para o fazer de
forma mais tangível coloquei o desafio ao Pedro Dinis para se imaginar no papel de um
Gestor de Marketing de uma marca de desporto de grande reputação mundial. Como será
o primeiro ano numa empresa deste género, o que faz um Gestor de Marketing. Como
saber permanecer um autêntico Gestor de Marketing entendendo as diferenças com um
Publicitário. Este ponto é deveras importante. Sendo eu licenciado em Economia, quando
dizia, ou digo que trabalho em Marketing, pessoas amigas extraprofissional dizem sempre,
coisas do género: "que fantástico!"; "que sorte!"; "que divertido" "deves estar sempre a
ver anúncios e a ouvir música"; e ao mesmo tempo "mas o que é que a Economia tem a ver
com o Marketing?" Sendo a maior parte destas observações feitas por licenciados, mestres
e até doutorados, a verdade é que parece existir algum equívoco sobre o Marketing. No
meu caso, o meu interesse surgiu ao estudar em Microeconomia as Funções de Consumo e
de Produção, os Oligopólios, Duopólios... Ao estudar em Macroeconomia padrões de
consumo como o "efeito de demonstração”. Também temas sempre presentes ao longo do
curso como a ilusão monetária, utilidade marginal decrescente, e talvez o mais importante
de todos: o confronto entre as várias teorias económicas e como o modelo de sociedade
altera a percepção do Valor das Coisas. A verdade é que tem sido através da curiosidade
de entender estes temas, que tenho praticado o desenvolvimento de produtos e lançado
marcas em mercados tão diversos culturalmente como Eurásia, Américas, Europa, Asia-
Pacífico, em que é necessário encontrar ideias relevantes que possam ser comuns a
consumidores tão diversificados. Após a identificação, e verificação e execução da ideia,
existe a pressão dos resultados. A minha frase preferida é talvez “Não existe nenhuma
marca mundialmente famosa sem que as suas vendas sejam um sucesso contínuo”. Tenho
dito até agora que a frase é minha, mas provavelmente pode ser de um economista, gestor
ou pensador já morto (aludindo a J. M. Keynes).
Após 2 meses em que temos trabalhado muito tem sido muito interessante trocar esta
experiência, e também em aprender os conteúdos que a FEUC lecciona hoje no Curso de
Gestão. Ainda é cedo para fazer um balanço, mas desejo que o meu mentorando se sinta
mais preparado e confiante após este Projecto.
O Mentoring no Ensino Superior APÊNDICE 2 – TESTEMUNHOS
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 58
Pedro Saraiva (mentorando)
A apesar de pequena, a experiência neste programa está a começar a crescer e ainda vai
crescer mais. Relativamente à relação com a minha mentora, já falamos pessoalmente.
Para além disso, a minha mentora já me forneceu vários elementos importantes que me
podem dar uma visão geral do mercado de trabalho e vários passos que posso dar,
nomeadamente cursos que possa vir a fazer após a Licenciatura. Já combinámos que vou
fazer um estágio em contexto profissional (…). Finalmente, já se elaborou o plano de
acção para esta relação de um ano e que vai ser posto em prática, dentro em breve.
Sandro Medina (mentor)
Até este momento apenas foi realizado um encontro pessoal com a minha mentoranda
(Tânia), seguido de algumas trocas de emails.
A Tânia é uma pessoa com iniciativa e nesse sentido aproveitou este primeiro encontro
para ver esclarecidas algumas questões que a ajudariam em escolhas
profissionais/académicas com as quais se deparava naquele momento.
Assim, envolvido numa conversa agradável, neste primeiro encontro pessoal tentei
esclarecer todas questões previamente colocadas por e-mail e transmitir a minha visão da
realidade que um recém-licenciado da FEUC se depara com a entrada no mundo do
trabalho. No decorrer desta conversa apoiei-me sempre em algumas das minhas
experiências vividas (não há muito tempo).
De referir que a "atribuição" Mentor / Mentorando(a) trouxe beneficios acrescidos no
âmbito deste programa (pelo menos, no que me diz respeito), pelos seguintes motivos:
- a carreira profissional desejada/idealizada pela mentoranda adequa-se em muitos pontos
com o do mentor; e,
- a distância de idades não é significativa entre os dois o que possibilitou uma relação de
maior proximidade e confiança.
O Mentoring no Ensino Superior APÊNDICE 2 – TESTEMUNHOS
Pedro Barbosa Ribeiro Girão 59
Estes factos determinaram e levarão a um maior grau de eficácia e eficiência na
concretização dos objectivos deste programa.
Felizmente a Tânia encontra-se neste momento a realizar um estágio de verão numa
empresa em Leiria, o que tem limitado as oportunidades para um novo encontro pessoal.
Aguardo a oportunidade de um novo encontro pessoal para avaliar expectativas pessoais
da mentoranda quanto a este programa e as metas que a mentoranda pretende
atingir para depois determinar quais os processos mais adequados para atingir os
objectivos que se propõem.
Sofia Correia (mentora)
A experiência ainda é muito curta, mas acho que este programa é realmente determinante
e inicia uma nova era na ligação da faculdade ao mundo real e dá aos estudantes um
canal único de acesso aos desafios que vão enfrentar e uma perspectiva pratica para
poderem tomar decisões muito mais conscientes. A nossa área é muito abrangente e é fácil
perder-se nas diversas saídas possíveis; ter alguém com quem poder contar nesse processo
de decisão é um privilégio.
Tânia Oliveira (mentoranda)
Quando decidi inscrever-me no programa Mentoring FEUC, ainda não tinha muito bem a
ideia daquilo que me esperava. Por um lado, pairava no ar a grande dúvida “será que
consigo entrar no projecto?”, por outro “se entrar no projecto, como vou conseguir
estabelecer contacto com uma pessoa que não conheço, e que pode nem estar em
Portugal?”. Felizmente consegui entrar e até ao momento estou satisfeita com a minha
participação, pois fiquei com um mentor que vai ao encontro daqueles que são os meus
objectivos, uma vez que está próximo das áreas que um dia pretendo ingressar, tem muita
experiência profissional e revela um nível elevado de conhecimento do mercado. Acima de
tudo é simpático e está disponível para transmitir os seus conhecimentos e a sua
O Mentoring no Ensino Superior APÊNDICE 2 – TESTEMUNHOS
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experiência, como aconteceu na nossa primeira reunião através do Skype, pois o mentor
Tiago Cardoso encontra-se a trabalhar em Inglaterra.
Embora o projecto ainda esteja numa fase inicial, estou certa de que será bem-sucedido, e
que no futuro o número de participantes irá aumentar, pois os estudantes só têm a ganhar
com a sua participação. Muitos alunos se queixam que em Portugal o ensino é muito
teórico e apresenta um elevado distanciamento do mercado de trabalho. Projectos desta
envergadura vêm precisamente completar estas lacunas ao permitir que os estudantes
possam estabelecer um contacto próximo com alguém que já esteve no seu lugar, traçou
um determinado percurso profissional, e hoje são trabalhadores de sucesso.
Vítor Figueiredo Marques (mentor)
Fizemos uma videoconferência de cerca de hora e meia para nos conhecermos melhor.
Dei as minhas opiniões sobre carreiras profissionais alternativas, países e áreas de
enfoque para além de questões básicas que andam em questão (tipo de critérios selecção,
impacto da entrevista, importância de soft-skills, experiências complementares etc).
Ficaram alguns pontos para reflexão.
Pela minha parte, fez-me relembrar todas as questões e dúvidas sobre as carreiras
profissionais quando ainda estamos a estudar. Pela conversa e pelas discussões do
LinkedIn, creio que uma das coisas mais importantes é ter a noção que a carreira se
constrói ano a ano, consoante o que vamos gostando mais, descobrindo e as
oportunidades que criamos. Ter noção da área relevante em que queremos trabalhar é
importante; mas há alternativas para o caso de não sabermos. A escolha de empresas,
países, tipo de actividade iniciais podem potenciar ou condicionar o desenvolvimento
futuro. Mas devemos estar preparados para ir avaliando. Fiquei com a sensação de que há
carreiras alternativas que são pouco conhecidas (ex. quando se fala em serviços
financeiros o mais conhecido é a banca tradicional ou as áreas financeiras de empresas;
mas a verdade é que há muito mais, nomeadamente agências de rating, banca de
investimentos, private equity, etc). Se queremos fazer uma carreira de marketing os
melhores sítios para começar são conhecidos (multinacionais nas áreas de grande
O Mentoring no Ensino Superior APÊNDICE 2 – TESTEMUNHOS
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consumo). Para dar apenas dois exemplos. A perspectiva que tentei dar foi realçar os
diferentes tipos de carreira e a avaliação das oportunidades com base na maturidade das
indústrias e no potencial que podem trazer para o futuro, seja a manutenção na mesma
área seja o potencial de experiência e credenciais para carreiras e áreas alternativas.
Cada pessoa terá a sua perspectiva, mas de facto, tal como valorizava as opiniões na
altura da tomada de decisões, creio que esta iniciativa pode ser bastante interessante para
objectivar um pouco o que são as alternativas de trabalho. E relativizar a dúvida de se se
está ou não preparado para qualquer trabalho. Sobretudo em empresas a partir de
determinada dimensão, ninguém pede para fazerem o que não se pode; e a probabilidade
de se ter de aprender todos os dias coisas novas é de 100%. A preparação de base é só o
princípio.