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O Menino e o Reino

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Meditações diárias para o Natal

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  • Gladir Cabral Joo Leonel

    o menino e o reino

    Meditaesdirias para

    o natal

  • Copyright 2014, Gladir Cabral e Joo Leonel

    Publicado originalmente em formato impresso porComunicarte Misso Social Evanglica Primeira edio eletrnica: Dezembro de 2014Capa: Neriel LopezDiagramao: Bruno Menezes

    Publicado no Brasil com autorizaoe com todos os direitos reservados pela

    EDITORA ULTIMATO LTDACaixa Postal 4336570-000 Viosa, MGTelefone: 31 3611-8500 Fax: 31 3891-1557

    www.ultimato.com.br

    O MENINO E O REINO - MEDITAES DIRIAS PARA O NATAL

    CATEGORIA: Devocional | Espiritualidade | Vida crist

  • 4INTRODUO

    TEMPO DE NATAL. Tudo parece passar to rapidamente e mergulhamos numa correria to grande que, sem nos darmos conta, logo viro as festas de fim de ano, as frias de vero, a volta s aulas, at que tudo volte rotina de sempre. Muito facilmen-te, o Natal acaba chegando sem que estejamos preparados para vivenci-lo como devido, como uma oportunidade para sensi-bilizao espiritual, compartilhamento de comunho e esperana, como alegria e paz em famlia.

    Este pequeno livro devocional nasceu do desejo de fazer do Natal uma experincia significativa, marcante. Cada meditao, cada proposio de leitura bblica e cada citao potica um convite pausa de toda correria e meditao serena sobre o sentido desta estao de celebrao da vida.

  • 5Outro motivo que inspirou a elaborao deste livro a convico quanto ao valor do exerccio devocional. A qualidade de nossa experincia crist est diretamente relacionada com a nossa disposio para ler as Escrituras, meditar e orar diariamente. Estes breves textos funcionam como encorajamento e proviso para as horas devocionais. Uma espcie de Meditaes do Advento.

    O termo Advento vem do latim e quer dizer: vinda, visita. No calendrio cristo, o tempo de comemorar a vinda do Senhor Jesus, tanto a primeira quanto a segunda vinda. Trata-se de um momento muito importante na vida da Igreja crist que marca o incio do calendrio litrgico, que comea com o Advento, segue para o tempo comum, depois a Pscoa, depois outro tempo comum.

    Durante o perodo do Advento, preparamo-nos para celebrar a vinda de Jesus. Relendo os profetas e passagens dos evangelhos, vamos refletindo sobre o significado de Sua encarnao. Lem-bramos da esperana de salvao e graa acalentada pelo povo de Israel quanto chegada do Messias e o estabelecimento do reino de Deus. Lembramos tambm da segunda vinda de Jesus, em poder e glria. Enfim, tomamos conscincia de que precisamos de um Salvador.

    O Natal pode parecer uma festa bem estranha para os que no creem nas promessas das Escrituras. Tambm estranho o modo como a secularizao tomou conta da festa: o consumismo exagerado, os enfeites de gosto bastante duvidoso (para dizer o mnimo), as convenes e costumes que conseguem, no mxi-mo, fazer ecoar mensagens vagas de boa vontade entre os seres humanos.

    Queremos mais. Queremos o Natal centrado na pessoa e na mensagem de Jesus. Concordamos com o que disse certa vez o mstico alemo Angelus Silesius: Se Cristo nascer mil vezes em Belm e no nascer em nossos coraes, ainda no chegou o Natal em ns.

  • 6Neste livro voc encontrar diariamente uma mensagem sobre o Natal e, depois dele, sobre o novo ano que se aproxima. Queremos refletir sobre a encarnao, sobre o menino Deus, sobre a salvao que irrompeu em graa em nosso mundo. Acompanhe-nos. D-nos a alegria de compartilhar com voc o que temos ouvido, visto e experimentado a respeito do nosso Salvador.

    Gladir Cabral & Joo Leonel

  • 71 de dezembro

    PORQUE O SENHOR BOM!

    1. Aclamem o Senhor todos os habitantes da terra!2. Prestem culto ao Senhor com alegria;

    entrem na sua presena com cnticos alegres.3. Reconheam que o Senhor o nosso Deus.

    Ele nos fez e somos dele:somos o seu povo, e rebanho do seu pastoreio.

    4. Entrem por suas portas com aes de graase em seus trios com louvor;deem-lhe graas e bendigam o seu nome.

    5. Pois o Senhor bom e o seu amor leal eterno;a sua fidelidade permanece por todas as geraes. (Salmo 100)

    TENHO de mudar! Preciso mudar!

    Talvez voc j tenha sentido necessidade de assumir um olhar com o qual, a partir de determinado momento, passaria a enxer-gar a vida. Deixar de ser guiado pelas circunstncias. Deixar de sentir-se uma mera confluncia de fatores externos. Reconhecer que, do jeito que est, no d!

    Algumas pessoas levam isso a srio, muito a srio! O salmista foi algum assim. Comprometeu-se a ter um olhar que dirigiria e condicionaria tudo quanto viesse a fazer e pensar. Para ele, acima de tudo, Deus bom!

    Tal deciso no surgiu do nada e nem de um dia para o outro. Ela fruto de experincias com Deus. Embora no saibamos quais foram, elas o levaram a sentir-se criado pelo Senhor, ovelha de seu rebanho. Sentiu vontade de louvar e de testemunhar o nome do Senhor. Estava tomado por um desejo incontido de falar ao mundo sobre a bondade de Deus.

  • 8A bondade que o salmista experimentou expressou-se con-cretamente na misericrdia e na fidelidade divinas. Apesar de nossas fraquezas, Deus nos ama, nos chama e nos quer junto de Si. Apesar sermos infiis por vezes, Ele continua fiel s suas promessas a ns. Deus bom!

    Isso no significa que o salmista no tenha passado por provaes e lutas. Pelo contrrio, certamente elas vieram, curvaram-no com a violncia de seus ventos, quase o submergiram com a presso de suas guas. Mas Deus continuou sendo bom, sua misericrdia continuou a ampar-lo, sua fidelidade continuou a socorr-lo.

    Deus bom! Acima de tudo, Ele bom!

    REFLITA

    Toda a natureza humana resiste vigorosamente graa porque a graa nos transforma, e mudar doloroso (Flannery OConnor).

  • 92 de dezembro

    O SENHOR DO TEMPO

    1. Senhor, tu tens sido a nossa moradade gerao em gerao.

    2. Antes que nascessem os montesou que tivesses formado a terra e o mundo,desde a eternidade at a eternidade, tu s Deus.

    3. Tu reduzes os mortais ao pe dizes: Tornai-vos, filhos dos homens.

    4. Pois mil anos aos teus olhosso como o dia de ontem, ao findar-se,

    e como viglia noturna.5. Tu os arrebatas, como por uma torrente, so eles qual um sono.

    De manh so como a relva que cresce,6. de manh, brota e cresce;

    de tarde, ceifada e seca.7. Pois somos consumidos pela tua ira

    e, pela tua clera, somos conturbados.8. Diante de ti, puseste as nossas iniquidades

    luz do teu rosto, os nossos pecados secretos.9. Pois todos os nossos dias se passam na tua ira;

    gastamos os nossos anos como um suspiro.10. Os dias da nossa vida elevam-se a setenta anos

    ou, em caso de vigor, a oitenta anos.O que lhes faz o orgulho enfado e misria,porque depressa passa, e voamos.

    11. Quem conhece o poder da tua irae a tua clera, segundo o temor que te devido a ti?

    12. Ensina-nos a contar os nossos dias,de sorte que alcancemos um corao sbio.

    13. Volta, Jeov, at quando?E tem compaixo dos teus servos.

  • 10

    14. Sacia-nos de manh com a tua benignidade,para que cantemos de jbilo e nos alegremos em todos os nossos dias.

    15. Alegra-nos por tantos dias quantos nos tens afligido

    e pelos anos em que temos visto a adversidade.16. Apaream aos teus servos as tuas obras,

    e a tua glria, sobre seus filhos.

    17. Seja sobre ns a graa do Senhor, nosso Deus.Estabelece tu sobre ns as obras das nossas mos,sim, a obra das nossas mos, estabelece-a. (Salmo 90)

    ABRO a agenda para ver os compromissos do dia e tomo um susto. Meu Deus, j dezembro! E ainda h tanto trabalho pela frente, tanto projeto para terminar, tantos relatrios a serem preparados e tantas reunies! impresso minha ou os dias esto passando cada vez mais rapidamente? Sei no, a sensao que tenho de que o tempo est me ultrapassando e a vida escorre entre os dedos como areia fina, como folhas amareladas de um velho livro.

    Vou at o quarto, pego minha Bblia e folheio suas pginas finas e doces, pginas que no precisam ser arrancadas. Sinto assim um cheiro bom de eternidade. Ao mesmo tempo, passo a refletir sobre a vida como se ela fosse um livro cujos captulos esto sendo escritos assim, misturando planos e frustraes, projetos e acidentes. Tambm vejo passar diante de meus olhos a histria do mundo, o movimento das cidades e a correria dos povos.

    O que o tempo? O que vida? Mistrio silencioso que as pginas amareladas de um calendrio no explicam, mas que as linhas e entrelinhas das Escrituras revelam com tanto cuidado. O tempo um mestre rigoroso e por vezes cruel. Tudo o que o calendrio parece ensinar que, como numa cano na voz de Mercedes Sosa, o tempo passa e vamos ficando velhos.

  • 11

    Mais poderoso que o tempo o Senhor do tempo. O salmista v, nas runas do corpo e na velhice, a sombra de uma pena, uma condenao, uma ira que consome. Mas no se desespera, no se entrega aos pensamentos sombrios da culpa e do medo. Ele clama ao Senhor do tempo para que ensine a habilidade rara de contar os prprios dias, de saber de cor sua prpria finitude e, assim, encontrar sabedoria. Ele tambm clama por compaixo, misericrdia, benignidade e alegria. O salmista sabe que o Senhor do tempo tambm Senhor da alegria, que fruto da sua graa e bondade.

    As Escrituras nos falam de um Deus que no se deixa afetar pelo tempo, um Deus que jamais fica velho ou ultrapassado. Ele mesmo habita a eternidade e Senhor do infinito, mas vem visitar e redimir as criaturas que vivem na dimenso do tempo. Em Cristo Jesus, o Deus Eterno vem habitar conosco, seres que precisam contar as horas, os dias, os meses e as estaes.

    REFLITA

    Habitantes do tempo, permanecemos s vezes com um p na eternidade. Deus, como diz Isaias (57.15) habita a eternidade, mas permanece com um p no tempo (Frederick Buechner).

  • 12

    3 de dezembro

    UMA CRIANA INESPERADA, MAS BEM-VINDA!

    18. Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi desta maneira: Estando Maria, sua me, j desposada com Jos, antes que se ajuntassem, ela se achou grvida por virtude do Esprito Santo.

    19. Jos, seu marido, sendo reto e no a querendo infamar, resolveu deix-la secretamente.

    20. Quando, porm, pensava nessas coisas, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos, dizendo: Jos, filho de Davi, no temas receber a Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado por virtude do Esprito Santo.

    21. Ela dar luz um filho, a quem chamars JESUS, porque ele salvar o seu povo dos pecados deles.

    22. Ora, tudo isto aconteceu, para que se cumprisse o que dissera o Senhor pelo profeta:

    23. Eis que a virgem conceber e dar luz um filho,

    e ele ser chamado Emanuel,que quer dizer Deus conosco.

    24. Jos, tendo despertado do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua mulher; 25 e no a conheceu enquanto ela no deu luz um filho, a quem ps o nome de JESUS.

    (Mateus 1.18-25)

    ELES ouviram um choro fraquinho.Inicialmente no sabiam de onde vinha. Salvo engano, no

    havia criana pequena na vizinhana. Com um pouco mais de ateno, seguiram em direo ao som. Desconfiados, pararam diante da porta de entrada de sua casa, moradia humilde, construda com tbuas de madeira. Ao abrir a porta e ver o recm-nascido ali fora, envolto em panos, o casal de velhos no titubeou e o recolheu para dentro do lar.

  • 13

    Eles no se perguntaram se teriam condies de criar mais uma criana entre as muitas que j haviam nascido naquele lar. No refletiram se teriam condies de passar noites acordados, de assumir cuidados mdicos e de educao daquele pequenino. No pensaram no que os vizinhos e parentes diriam daquela loucura. No. Era uma criana abandonada que precisava de um lar. E havia achado. Simples assim.

    Jesus tambm chegou a um lar de modo incomum. Jos e Maria estavam noivos e no haviam ainda assumido a intimidade fsica de casal. De repente, Maria aparece grvida. O texto diz apenas que ela achou-se grvida. Em bom portugus, apareceu grvida! Bem, ela sabia que estava grvida e ns, que lemos o texto, tambm sabemos. Mas Jos no. Diante do fato consu-mado, aquele homem justo resolve no denunciar a mulher s autoridades por adultrio, mas sair de casa.

    S no levou adiante o plano porque um anjo o informou em sonho sobre o que acontecera. Ao acordar, desistiu da ideia e aceitou a gravidez de Maria. E, em obedincia ao anjo, batizou o filho com o nome de Jesus, o salvador do seu povo.

    Jos e Maria assumiram um alto preo ao aceitarem serem canais pelos quais o Salvador viria ao mundo. Ela, levando em seu corpo o ser divino-humano. Ele, tomando sobre si a respon-sabilidade de manter o casamento, mesmo diante do falatrio de conhecidos e religiosos. Cada um com sua parcela de compro-misso. Cada um com sua f em ao.

    Natal. Tempo de celebrar a chegada do menino Deus, do Salvador Jesus. Tempo de sermos gratos quele casal palestino e de exaltarmos a f que tiveram. Tempo de pensarmos nas consequ-ncias de sermos discpulos de Jesus no mundo em que vivemos.

    Temos acolhido a criana como fizeram Jos e Maria? Temos disposio para assumir os sacrifcios decorrentes dessa deciso? Se temos, ento Natal significa para ns boas novas de grande alegria!.

  • 14

    REFLITA

    Olha o que foi meu bom JosSe apaixonar pela donzelaEntre todas a mais belaDe toda a sua galileia (Georges Moustaki).

  • 15

    4 de dezembro

    O MENINO E O REINO

    1. Ento, do tronco de Jess sair um rebento, e das suas razes sair um renovo que dar fruto.

    2. Descansar sobre ele o Esprito de Jeov, Esprito de sabedoria e de entendimento, Esprito de conselho e de fortaleza, esprito de conhecimento e de temor a Jeov,

    3. e ter o seu prazer no temor a Jeov. No julgar segundo a vista dos seus olhos, nem reprovar segundo o ouvir dos seus ouvidos;

    4. porm com justia julgar os necessitados, e com equidade reprovar em defesa dos mansos da terra. Ferir a terra com a vara da sua boca e matar ao perverso com o assopro dos seus lbios.

    5. A justia ser o cinto dos seus lombos, e a fidelidade, o cinto dos seus rins.

    6. O lobo habitar com o cordeiro, e o leopardo se deitar ao p do cabrito; o bezerro, o leo novo e o animal cevado andaro juntos, e um menino pequenino os conduzir.

    7. A vaca e a ursa pastaro, as suas crias se deitaro juntas, e o leo comer palha como o boi.

    8. A criana de peito brincar sobre a toca do spide, e a criana desmamada meter a mo na cova do basilisco.

    9. No faro dano, nem destruiro em todo o meu santo monte, porque a terra ser cheia do conhecimento de Jeov, assim como as guas cobrem o mar.

    (Isaas 11.1-9)

    EM contraste com os reinos deste mundo, movidos pela fora das armas e garantidos pelas articulaes polticas, o profeta Isaas anuncia a vinda do Reino do Filho de Davi, o Reino do Messias. Muitos filsofos e poetas sonharam utopias, sistemas polticos funcionais, lugares encantados onde tudo seria perfeito, ignorando claro a fora do pecado que atua na natureza humana. Esse sonho alimentou algumas revolues e criou muitos heris e

  • 16

    muitos planos frustrados em toda parte deste mundo: repblicas democrticas, repblicas ditadas pelos sbios, como as que desenharam Plato e Thomas Morus, experincias anrquicas, at mesmo o Admirvel Mundo Novo de Aldous Huxley, verdadeiras reconstrues de uma sociedade aparentemente sem conflitos.

    Isaas fala de um sonho maravilhoso que pouco a pouco vai tomando forma na cultura judaica: o sonho de um Reino de Deus. O diferencial entre o Reino de Deus e as demais utopias que o Reino de Deus acontece por manifestao direta do Eterno, e no por esforo ou planificao humanos. O Reino de Deus no estabelece castas sociais nem reprime liberdades, no surge de acordos polticos nem de pactos sociais. Ele nasce da esperana teimosa no poder que o Senhor tem de recriar cus e terra conforme a sua vontade.

    O Reino de Deus se torna presena com a chegada do menino Jesus, torna-se pleno e dramtico no momento da crucificao, torna-se narrativa boa que se espalha pelo mundo afora, liberta, redime, transforma, faz pulsar coraes e tremer imprios. A esperana do Reino divino resiste s represses polticas, aos planos de extermnio e sobrevive seduo do poder, tornando-se dissidente quando a corrupo invade sacerdotes e crentes. Essa esperana alcana o nosso tempo e continua apontando inquietamente para o futuro, para o retorno de Jesus e a implantao do Seu Reino, que no pode se compara a nada do que deste mundo.

    Os sinais do Reino so muitos, as bnos que ele traz trans-cendem valores polticos ou interesses internacionais. O Salvador ser cheio do Esprito Santo e receber dele inmeros dons, como a sabedoria, o conhecimento, a competncia, o poder, o temor do Senhor e o conhecimento da vontade de Deus. Esse Reino trar plena justia para os necessitados do povo, para os pobres, os esquecidos, incluindo a completa punio dos maus e a eliminao de todo foco de corrupo.

  • 17

    O Reino de Deus ser tambm caracterizado pela paz plena entre povos e naes, e at mesmo entre homens e animais. Mais do que paz, ser um reino de harmonia, onde a violncia ser completamente superada. Para que isso ocorra, preciso um recomeo, uma obra de restaurao, preciso regenerao completa de todas as coisas.

    Finalmente, o Reino ser marcado e assinalado pela glria de Deus, que se espalhar por toda a terra, que se dar a conhecer e encher cada recanto deste universo. A f no Menino que implanta o Reino nos pe em movimento e nos faz desejar a mudana das coisas.

    REFLITA

    Vejam o menino: mos to delicadas, despidas de glria... ainda assim Deus Deus virou menino, Deus desceu na estrada do tempo e da histria para os que so Seus (Jorge Camargo).

  • 18

    5 de dezembro

    SINAL DIVINO!

    10. De novo, falou Jeov com Acaz:

    11. Pede a Jeov, teu Deus, um sinal embaixo nas profundezas, ou em cima, nas alturas.

    12. Respondeu, porm, Acaz: No pedirei, nem tentarei a Jeov.

    13. Disse Isaas: Ouvi, agora, casa de Davi; porventura, no vos basta fatigardes aos homens, mas ainda fatigais tambm ao meu Deus?

    14. Portanto, o Senhor mesmo vos dar um sinal; eis que uma donzela conceber, e dar luz um filho, e por-lhe- o nome de Emanuel.

    (Isaas 7.10-14)

    VIVEMOS em um mundo complexo.Por conta disso, praticamente tudo o que nos cerca necessita

    de regulamentaes e especificaes. As relaes trabalhistas, o trnsito, os equipamentos eletrnicos e at o casamento esto envolvidos em normas e regras que buscam definir papis, dar garantias, gerar certezas.

    Esse fato potencializado pela insegurana humana. Afinal, quem de ns, pelo menos uma vez na vida, no se deu mal por no ler adequadamente um contrato, no prestar ateno s placas de sinalizao, no levar a srio uma bula de remdio?

    Temos a tendncia de transferir esse quadro para a relao com Deus.

    Nossa vida com ele, se no tivermos cuidado, ser regida por uma srie de estipulaes e contratos. Tornamo-nos legalistas. Passamos a exigir direitos como se Deus estivesse obrigado, por fora contratual, a nos atender. E, o que o pior, muitas vezes nem nos damos conta disso.

    Para alm da falta de f, essa uma viso profundamente equivocada que desconsidera o fato de que, antes de pensarmos

  • 19

    em Deus, ele pensou em ns. Antes que o amssemos, ele nos amou. E que a relao que temos originou-se no chamado divino.

    Por vezes, a falta de compreenso sobre a vida com Deus to grande que alguns se julgam no direito de exigir sinais a ele. Se Deus quer que eu me case com tal pessoa, que me d um sinal!. Se Deus deseja que eu fale de evangelho para meu amigo, que ele me conceda um sinal!. Se Deus quer que eu v igreja, que me envie um sinal do cu!. Esse linguajar est muito prximo daquele utilizado por Satans ao tentar Jesus (Mt 4.1-11).

    Entretanto, h momentos em que o prprio Deus no apenas se dispe, mas decide a nos dar sinais. O texto de Isaas 7.14 um deles. Acaz, rei de Jud, estava aflito porque Sria e Israel se uniram para destruir Jerusalm. Deus, por sua vez, assegura que os inimigos do rei seriam derrotados e permite que Acaz pea um sinal de que isso se realizaria. O rei, temeroso, rejeita faz-lo. Deus, ento, por intermdio do profeta, afirma que daria um sinal de que tal aconteceria: a virgem conceberia e daria luz um filho que seria chamado de Emanuel.

    Sabemos como o Novo Testamento atualizou o texto de Isaas. Mateus 1.23 atribui a Jesus Cristo o ttulo e o papel de Emanuel: Deus conosco.

    Diante das dificuldades e complexidades da vida, em lugar de pedirmos sinais da bondade de Deus, necessrio que vejamos o sinal j dado a ns: Jesus Cristo. Ele o grande, o maior sinal de que Deus est conosco. Jesus, Emanuel, sinal maior do amor de Deus neste Natal!

    REFLITA

    EmanuelNosso Deus est conoscoE se Deus est conoscoQuem ser contra nsNosso Deus est conoscoEmanuel (Michael Card).

  • 20

    6 de dezembro

    UMA VISITA MAIS DO QUE ESPECIAL

    26. No sexto ms, foi enviado, da parte de Deus, o anjo Gabriel a uma cidade da Galileia, chamada Nazar,

    27. a uma virgem desposada com um homem que se chamava Jos, da casa de Davi; o nome da virgem era Maria.

    28. Aproximando-se dela, disse: Salve, altamente favorecida! O Senhor contigo.

    29. Ela, porm, ao ouvir essas palavras, perturbou-se muito e ps-se a pensar que saudao seria esta.

    30. Disse-lhe o anjo: No temas, Maria pois achaste graa diante de Deus. 31. Concebers no teu ventre e dars luz um filho, a quem chamars

    JESUS. 32. Este ser grande e ser chamado Filho do Altssimo; o Senhor Deus lhe

    dar o trono de seu pai Davi, 33. e ele reinar eternamente sobre a casa de Jac, e o seu reino no

    ter fim.

    34. Maria perguntou ao anjo: Como ser isso, uma vez que no conheo varo?

    35. Respondeu-lhe o anjo: O Esprito Santo vir sobre ti, e a virtude do Altssimo te envolver com a sua sombra; por isso, o que h de nascer ser chamado santo, Filho de Deus.

    36. Isabel, tua parenta, tambm ela concebeu um filho na sua velhice, e j est no sexto ms aquela que era chamada estril;

    37. porque nenhuma palavra vinda de Deus ser impossvel. 38. Disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor; faa-se em mim segundo a

    tua palavra. E o anjo retirou-se. (Lucas 1.26-38)

    UM grande susto, foi o que experimentou Maria ao receber a visita do Anjo Gabriel. Anjos so figuras muito discretas, gentis e cordiais, mas no aparecem todo dia nem a todo mundo. Por esse motivo o susto da jovem e a insistncia do anjo em acrescentar

  • 21

    um No tenha medo ao j dito Paz seja com voc. Mesmo assim, o estranhamento da jovem Maria foi grande. Afinal, ela no prestava culto a anjos nem os procurava por meios de velas, invocaes e rituais.

    O anjo fez uma saudao que j em si impressionante. Maria deve ter ficado pensativa ao ouvir o Voc muito abenoada e O Senhor est com voc. A saudao do Anjo faz unir trs graas fundamentais na vida de uma pessoa e presentes em Maria: paz, bno e presena do Senhor. Contra todas as estatsticas, contra todas as probabilidades, Maria era uma mulher feliz, no por ter muitas propriedades, por estar prometida a Jos ou por ser muito in-teligente, mas porque em sua vida se confirmava a vida de Algum.

    A reao de Maria foi de estranhamento, como compreender aquela apario e aquelas palavras? O Anjo entrou em detalhes, anunciou uma gravidez sobrenatural, como seria o processo de fecundao e quais seriam o gnero e o nome da criana: Jesus. E o estranhamento no se deu por falta de inteligncia ou por ignorncia, pelo contrrio, a jovem sabia muito bem que certas coisas eram impossveis.

    A resposta do Anjo enfatiza o poder do Senhor de transcender as possibilidades e extrapolar as expectativas humanas: Para Deus no haver impossveis. E a atitude final da jovem Maria foi de consentimento humilde e sincero: Sou serva de Deus. Cumpra-se em mim o que tu dizes.

    Essa jovem inteligente, sensvel f e disposta a servir ensina muita coisa a ns que vivemos muitas vezes estagnados em nos-sas esperanas e expectativas em relao vida e histria, a ns que ficamos travados diante das impossibilidades e das fobias tantas que nos cercam e sufocam. Ela se abriu corajosamente mensagem do Anjo e se preparou para transcender os limites de sua vida bastante limitada.

  • 22

    REFLITA

    Alegra-te, favorecidaTeus caminhos Deus j conheceuMaria, no temas O Senhor contigo estar (Guilherme Kerr & Jorge Rehder).

  • 23

    7 de dezembro

    A LUZ DA VIDA!

    1. No princpio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.

    2. Ele estava no princpio com Deus.

    3. Tudo foi feito por ele; e nada do que tem sido feito foi feito sem ele.

    4. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.

    5. A luz resplandece nas trevas, e contra ela as trevas no prevaleceram.

    (Joo 1.1-5)

    DESDE os tempos primordiais a luz elemento imprescindvel para a sobrevivncia do ser humano. Inicialmente ligado s horas do dia, findas as quais se recolhia s suas cavernas e abrigos, o ser humano experimentou uma revoluo com a descoberta do fogo. Agora suas atividades poderiam adentrar a noite, alm da possibi-lidade de aquecer-se do frio e preparar refeies mais saborosas.

    Por sua importncia, a luz foi quase que imediatamente transformada em smbolo, metaforizada. Em relao de oposi-o s trevas, a luz simbolizou e simboliza alegria, renascimento, renovao, pureza, a divindade.

    O evangelho de Joo, diferentemente de Mateus e Marcos, no apresenta a encarnao e o nascimento de Jesus Cristo. No h descries de sua chegada neste mundo, nem de sua infncia. No. Joo pensa de outra forma. Para falar de Jesus ele vai longe, ao princpio de tudo. No princpio da criao Cristo, o Verbo ou Palavra (tradues para logos), estava l. Ele no apenas estava com Deus no momento inicial, mas ele era Deus.

    E o que, para Joo, caracteriza o Verbo como Deus? O fato de ter criado todas as coisas. Sem ele, nada que existe, nada do que conhecemos, nada do que nos alegra, existiria. E sabe por qu? Por que a vida estava nele.

  • 24

    Como algum desprovido de vida poderia criar um universo to palpitante? O planeta terra cheio de cores, diversidade, gne-ros, enfim, cheio de vida? No. Ele precisava ser cheio, pleno de vida. E era. A vida estava nele. Tudo o que o ser humano anseia de plenitude para sua existncia estava no Verbo.

    E como Joo caracteriza essa relao doadora de vida do Verbo para com a humanidade? Luz! A vida era a luz dos homens. A vida do Verbo que reverberou em ns transmitindo-nos vida comparada luz que ilumina um canto escuro, que permite ver o que est por trs de fendas, que se projeta no espao definindo formas. A luz que traz existncia!

    A luz do Verbo resplendeceu nas trevas, e as trevas no con-seguiram resistir a ela. Nossa existncia um testemunho de que as trevas foram vencidas pela luz!

    Mais frente Joo afirma que o Verbo se fez carne na pessoa de Jesus Cristo. Jesus nos criou, Jesus nos d vida, Jesus ilumina nossa vida e nossa alma.

    Jesus, o Verbo, o doador de vida e luz manifestou-se criana. Beb que precisou de seus pais, de pessoas que cuidassem dele, de mdicos que lhe dessem remdio, de professores que o ensinassem. A luz que precisou ser iluminada. Mas ele foi e a verdadeira luz, diante da qual todas esmaecem.

    Jesus, o Verbo, nossa luz.Que as luzes deste natal, que iluminam corpos e olhos, nos

    lembrem e despertem em ns gratido ao refletirmos sobre aquela criancinha, que embora frgil, era e a luz do mundo. Nossa luz. Luz que nos d vida!

    REFLITA

    No podemos ver a luz em si mesma. Podemos apenas ver o que a luz ilumina, como o pequeno crculo da noite onde a vela brilha o brilho do mogno, uma taa de vinho, um rosto que nos contempla na sombra (Frederick Buechner).

  • 25

    8 de dezembro

    VIDA DE REFUGIADO

    13. Depois de haverem partido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonhos a Jos, dizendo: Levanta-te, toma contigo o menino e sua me, foge para o Egito e fica ali at que eu te chame; pois Herodes h de procurar o menino para o matar.

    14. Jos levantou-se, tomou de noite o menino e sua me e partiu para o Egito,

    15. e ali ficou at a morte de Herodes; para que se cumprisse o que dissera o Senhor pelo profeta: Do Egito chamei a meu Filho.

    A matana dos inocentes

    16. Herodes, vendo-se iludido pelos magos, ficou muito irado e mandou matar todos os meninos que havia em Belm e em todo o seu termo, de dois anos para baixo, conforme o tempo que tinha com preciso indagado dos magos.

    17. Ento se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias:

    18. Ouviu-se um clamor em Ram,

    choro e grande lamento;

    era Raquel chorando a seus filhos

    e no querendo ser consolada, porque eles j no existem.

    (Mateus 2.13-18)

    EM 2013, uma multido abandonou a cidade de Antakya, na Sria, e partiu em direo a Turquia. Era tempo de guerra. Mais de 300.000 pessoas arriscaram a travessia da fronteira e os perigos da viagem. Automveis velhos carregando trouxas de roupas, malas, cadeiras, panelas, carroas levando famlias e seus poucos pertences. Entre eles, mulheres grvidas levando seus filhinhos, rostos tensos, voltados para o cho. Que triste cena!

    Jos e Maria, fugindo de Belm e buscando refgio no Egito, escapam por pouco de um massacre. As foras de Herodes se

  • 26

    voltam contra as crianas de Belm. Os coraes de Jos e Maria esto aflitos. No conhecem a estrada, muito menos o que a vida lhes reserva alm da fronteira, mas seguem adiante, confiados na orientao de Deus. Sabem que, ainda que o pior acontea, Deus estar com eles.

    Jos e Maria encarnam a angstia de todos os refugiados deste mundo, todos os que tm a vida a preo, caados nas matas e desertos, vivendo no provisrio das barracas e dos campos de refugiados, passando pelos olhares desconfiados dos guardas de fronteira e das pessoas que olham de soslaio das frestas e janelas das casas por onde passam. Deus tem um carinho todo especial pelos refugiados deste mundo, Seu Filho amado tambm foi um refugiado, um perseguido poltico, alvo da ira dos homens.

    H tantos refugiados de guerra por este mundo afora. Cada grito de dor, cada choro abafado uma splica que chega aos ouvidos de Deus. Que ele oua esses gritos e console aqueles que tm que abandonar seus lares e aqueles que nem tm mais lar para abandonar. Amm.

    REFLITA

    Na estrada, na estrada, Jos e Maria,Pelos pampas gelados, cardos e urtigas.Na estrada, na estrada, cortando campoSem abrigo nem pousada, sigam andando.[...]Na estrada, na estrada, Jos e Maria,Com um Deus escondido ningum sabia! (Flix Luna e Ariel Ramirez).

  • 27

    9 de dezembro

    ANTES E DEPOIS DE MIM

    1. Livro da gerao de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abrao.

    2. Abrao gerou a Isaque; Isaque gerou a Jac; Jac gerou a Jud e a seus irmos;

    3. Jud gerou de Tamar a Perez e a Zara; Perez gerou a Esrom; Esrom gerou a Aro;

    4. Aro gerou a Aminadabe; Aminadabe gerou a Naassom; Naassom gerou a Salmom;

    5. Salmom gerou de Raabe a Boaz; Boaz gerou de Rute a Obede; Obede gerou a Jess,

    6. e Jess gerou ao rei Davi. Davi gerou a Salomo daquela que fora mulher de Urias;

    7. Salomo gerou a Roboo; Roboo gerou a Abias; Abias gerou a Asa;

    8. Asa gerou a Josaf; Josaf gerou a Joro; Joro gerou a Uzias;

    9. Uzias gerou a Joto; Joto gerou a Acaz; Acaz gerou a Ezequias

    10. Ezequias gerou a Manasss; Manasss gerou a Amom; Amom gerou a Josias,

    11. e Josias gerou a Jeconias e a seus irmos no tempo do exlio em Babilnia.

    12. Depois do exlio em Babilnia, Jeconias gerou a Salatiel; Salatiel gerou a Zorobabel;

    13. Zorobabel gerou a Abide; Abide gerou a Eliaquim; Eliaquim gerou a Azor;

    14. Azor gerou a Sadoque; Sadoque gerou a Aquim; Aquim gerou a Elide;

    15. Elide gerou a Eleazar; Eleazar gerou a Mat; Mat gerou a Jac,

    16. e Jac gerou a Jos, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama Cristo.

    17. Assim, todas as geraes desde Abrao at Davi so catorze geraes; tambm, desde Davi at o exlio em Babilnia, catorze geraes; e desde o exlio em Babilnia at o Cristo, catorze geraes.

    (Mateus 1.1-17)

  • 28

    QUANDO somos crianas, a concepo de tempo diferente daquela que teremos dcadas frente.

    Em minha infncia, presentes s eram vistos no aniversrio e no Natal. Como fao anos em junho, tinha de esperar exatamente seis meses para ver um presente. E como o tempo demorava para passar!

    Crianas e jovens so impacientes. Para eles, no fcil ad-ministrar o tempo.

    A genealogia de Jesus trata do tempo. Longo tempo. Tempos antigos. Fala daqueles que vieram antes, muito antes de Jesus Cris-to. O evangelista retrocede a Abrao e caminha at Jos e Maria.

    Por que comear a histria de Jesus com uma genealogia? Afinal, ele o Deus encarnado, aquele que se manifestou no tempo e espao para salvar o ser humano. No isso que importa?

    A genealogia nos lembra que Jesus, enquanto homem, precisou de uma famlia, de ascendentes que se sucedessem at chegar a ele. E, desse ponto de vista, Jesus carregou traos fsicos, psicolgicos e de personalidade de seus familiares. Provavelmente, deve ter sido parecido com um tio ou primo. Talvez ao nascer os familiares discutiram sobre a semelhana da criana com outras da famlia. E, certamente, Jos e Maria devem ter identificado olhos, boca, nariz e cabelo semelhantes aos seus.

    H mais. Para que Jesus viesse at ns seus familiares enfren-taram lutas e provas. Pense em Abrao, nas mulheres Tamar, Raabe, Rute, Bate-Seba, no rei Davi, em Josias e em outros at chegar a Maria, sua me. Quantas dificuldades! Quantas barreiras a serem vencidas!

    No entanto, Jesus no apenas resultado de uma sequncia genealgica. Por sua morte e ressurreio, ele alargou ao hori-zonte sua genealogia. Agora, todos quantos o reconhecem como Senhor podem ser chamados de filhos de Deus (Jo 1.12). Ele nos introduziu em sua famlia!

  • 29

    Eu e voc fazemos parte de uma famlia.Talvez no seja a famlia ideal, mas nossa famlia. Devemos

    muito queles que vieram antes de ns.Natal tempo de reconhecimento. Reconhecer o quanto de-

    vemos aos nossos queridos, dos quais vrios j partiram. Tempo de reconhecer que devemos louvar a Deus por suas vidas.

    Por outro lado, tempo de ter convico de que a continuidade de nossa famlia depende de ns, de nossas aes. Como influen-ciamos nossos filhos? Como preparamos a prxima gerao?

    E, acima de tudo, tempo de refletirmos sobre a alegria de podermos trazer outras pessoas para participarem da famlia crist, da celebrao do Natal, da continuidade da genealogia de Jesus Cristo.

    REFLITA

    A famlia humana. Essa uma boa frase a nos lembrar de que no apenas viemos da mesma origem e vamos em direo ao mesmo final, mas que enquanto isso nossas vidas so complexamente e inescapavelmente ligadas. A fome em uma parte do mundo afeta pessoas em todas as partes. Um assassinado em Dallas ou Saraie-vo afeta a todos. Ningum uma ilha. muito bom lembrar (Frederick Buechner).

  • 30

    10 de dezembro

    L VEM O SOL1. Mas para a que estava aflita no continuar a obscuridade. No tempo

    passado, ele tornou desprezvel a terra de Zebulom e a terra de Naftali, porm, no tempo vindouro, tornar glorioso o caminho do mar, alm do Jordo, o distrito das naes.

    2. O povo que anda nas trevas v uma grande luz; aos que esto de assento na terra da sombra da morte, a estes raia a luz.

    3. Tens multiplicado a nao; tens-lhe aumentado a alegria; alegram-se diante de ti segundo a alegria do tempo da ceifa, como exultam quando repartem os despojos.

    4. Pois tens despedaado o jugo da sua carga e o bordo do seu ombro, que a vara do seu exator, e como fizeste no dia de Midi.

    5. Todo calado de quem anda calado no tumulto e toda capa revolvida em sangue ho de ser queimados como pasto do fogo.

    6. Porque a ns nos nascido um menino, e a ns nos dado um filho; o governo est sobre os seus ombros, e ele tem por nome Maravilhoso, Conselheiro, Poderoso Deus, Eterno Pai, Prncipe da Paz.

    7. Do aumento do seu governo e da paz, no haver fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e para o firmar com juzo e com justia, desde agora e para sempre. O zelo de Jeov dos Exrcitos cumprir isso.

    (Isaas 9.1-7)

    O AMANHECER de cada dia sempre um espetculo de glria, at mesmo nos dias cinzentos e de chuva. O dia que nasce traz algo de provocao s tristezas da noite e aos desalentos antigos. Sorrateira e silenciosamente, o sol surge no horizonte, dispersa a grande sombra noturna e pe as aves para cantar.

    Essa a viso de Isaas quando contempla as cidadezinhas fron-teirias ao norte de Israel, Naftali e Zebulom. Foram as primeiras populaes a sofrerem a ameaa do rei da Assria, as primeiras a serem invadidas e despovoadas. Ali a histria anoiteceu primeiro para o povo de Israel.

  • 31

    Como toda terra de fronteira, cheia de misturas culturais, hi-bridismos todos, mesclas de sotaques, culturas, agitaes polticas e histrias, muitas histrias trazidas por viajantes, comerciantes e, claro, invasores.

    Veio a Isaas uma palavra do Eterno. Essa palavra o fez antever tempos de luz e alegria, bem alm da escurido daqueles dias de ameaa de invaso. Ele olhou para o futuro e viu o sol nascendo no horizonte da histria. E proclamou: O povo que andava em trevas viu uma forte luz; a luz brilhou sobre os que viviam nas trevas.

    Assim com naqueles tempos passados, h muita treva ao nosso redor, muita crise econmica circulando de boca em boca, muito medo, muito sofrimento desabando sobre os povos, nuvens pe-sadas sobre o futuro do mundo.

    A mensagem de Isaas proclama a chegada da luz e a restau-rao da alegria, alegria maior do que do das colheitas fartas, maior do que aqueles que vm a guerra terminar em vitria. O profeta tambm fala de libertao, de fim de toda escravido, de opresso humana.

    Mais ainda, o profeta antev dias de paz. No uma paz de quem derrota os inimigos. No a simples ausncia de guerra. Ele fala da paz que vem como bno sobre as mesas e sobre os coraes, como vida plena e farta. Paz que sempre vem acompa-nhada de justia, pois paz sem justia s alienao. O profeta anuncia paz que se espalha pela terra e se confirma nas mudanas da histria.

    Finalmente, o sol que desponta no horizonte da histria se materializa na figura de um menino, que filho nosso e filho de Deus. Um menino que a afirmao da vida perante toda ameaa de morte, uma proclamao da esperana em meio ao desespe-ro. Esse menino que nascer vem para fazer tremer imprios e reinos. Ele sinal da graa de Deus. Por isso, ele recebe ttulos misteriosos: Conselheiro Maravilhoso, Deus Poderoso, Pai Eterno, Prncipe da Paz.

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    Esse menino um dia vai se chamar Jesus, nossa mais preciosa esperana.

    REFLITA

    E que as crianas cantem livres sobre os murosE ensinem sonho ao que no pode amar sem dorE que o passado abra os presentes pro futuroQue no dormiu e preparou o amanhecer... (Taiguara).

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    11 de dezembro

    MADIBA MORREU5. Tende em vs este sentimento que houve tambm em Cristo Jesus, 6. o qual, subsistindo em forma de Deus, no julgou que o ser igual a

    Deus fosse coisa de que no devesse abrir mo, 7. mas esvaziou-se, tomando a forma de servo, feito semelhante aos

    homens; 8. e, sendo reconhecido como homem, humilhou-se, tornando-se

    obediente at a morte e morte de cruz. 9. Por isso, tambm Deus o exaltou soberanamente e lhe deu o nome

    que sobre todo o nome, 10. para que em o nome de Jesus se dobre todo joelho dos que esto nos

    cus, na terra e debaixo da terra, 11. e toda lngua confesse que Jesus Cristo o Senhor para glria de

    Deus Pai. (Filipenses 2.5-11)

    EMBORA fosse esperado, o informe oficial da morte de Nelson Mandela no dia 5 de dezembro de 2013 trouxe um sentimento de profunda tristeza e prostrao ao mundo todo. Madiba, como os sul-africanos carinhosamente o chamam, estava morto.

    Empresas de notcias se apressaram para transmitir a notcia e veicular matrias com o histrico desse grande lder sul-africano. Os canais de televiso exploraram exausto o fato.

    Mandela foi comparado a Gandhi e a Martin Luther King, entre outros. Sua luta contra o apartheid e pelos direitos dos negros de seu pas durou dcadas e o fez conhecido em todos os cantos da terra. A lucidez, a conscincia de fazer poltica pelos desfavorecidos e o esprito pacfico de Madiba inspiraram e ainda inspiram multides.

    No incio de suas atividades, Mandela estava tomado por um esprito blico, chegando a participar de aes armadas. Preso, passou 27 anos em recluso, sendo libertado com 72 anos de

  • 34

    idade. Atribui-se ao perodo de cativeiro a mudana de esprito em Mandela. A privao da liberdade certamente permitiu uma profunda reflexo a respeito dos destinos de sua nao e de como atuar para transform-la.

    Encarnao. Deus feito homem. O apstolo Paulo reflete e afirma que Jesus Cristo no considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens (Fp 2.6-7. Nova Verso Internacional).

    A encarnao foi um ato de total humilhao. O Verbo, a se-gunda pessoa da Trindade, sendo Deus assumiu a forma humana com todas as suas limitaes e viveu entre ns. E fez ainda mais. Tornou-se nosso servo. Jesus viveu sua vida visando servir-nos a ponto de caminhar para a cruz e sacrificar-se nela. Mas no foi o fim. Deus o ressuscitou e o exaltou a fim de que todos se dobrem, reconhecidos, diante dele.

    Humildade, humilhao. Nelson Mandela tornou-se um grande estadista, entre outras coisas, por ter aprendido lies de humildade. Jesus, sem necessitar, resolveu fazer-se humilde e servo.

    Paulo inicia o texto de Filipenses afirmando que devemos ter o mesmo sentimento de Jesus Cristo (v. 5).

    Natal, tempo de alegria, tempo de celebrar a encarnao do Filho de Deus. Tempo de lembrarmos que devemos seguir seu exemplo. Amarmos os seres humanos para alm das barreiras de cor, gnero, nacionalidade, status social, credo religioso. Tempo de sermos servos uns dos outros. Tempo de sermos discpulos de Jesus Cristo.

    REFLITA

    Ningum nasce odiando outra pessoa por causa da cor de sua pele, ou de sua origem, ou de sua religio. As pessoas aprendem a odiar, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar, pois o amor vem mais naturalmente ao corao humano do que seu oposto (Nelson Mandela).

  • 35

    12 de dezembro

    MARIA MARIA

    39. Naqueles dias, levantando-se Maria, foi apressadamente regio montanhosa, a uma cidade de Jud,

    40. entrou na casa de Zacarias e saudou a Isabel.

    41. Apenas Isabel ouviu a saudao de Maria, a criana deu saltos no ventre dela, e Isabel ficou cheia do Esprito Santo

    42. e exclamou em alta voz: Bendita s tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre!

    43. Como que me vem visitar a me do meu Senhor?

    44. Pois, logo que a voz da tua saudao chegou aos meus ouvidos, a criana deu saltos de alegria no meu ventre.

    45. Bem-aventurada aquela que creu que se ho de cumprir as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor!

    (Lucas 1.39-45)

    MARIA vai visitar sua prima Isabel, esposa de Zacarias. Isabel, que antes no podia ter filhos, est grvida e muito feliz. Depois de to grande sinal do poder de Deus em sua vida e em estado de graa, isto , carregando dentro si uma vida que logo nascer, Isabel v o mundo de um jeito diferente, mais sensvel e mais claro, percebendo o valor de pequenas coisas, como uma roupa de criana sobre uma cama, as vestes que seu marido usa em seu ofcio no templo, ou enxergando agora a mo de Deus agindo na vida das pessoas.

    Maria traz alegria ao corao de Isabel, uma alegria espiritual e profunda. Prova disso a manifestao sbita do Esprito Santo naquele momento e o movimento saltitante da criana em seu prprio ventre: Logo que ouvi voc me cumprimentar, a criana ficou alegre e se mexeu dentro da minha barriga (Lc 1.44).

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    Quanta felicidade pode trazer essa moa chamada Maria? A felicidade de algum que abriga em seu ventre o Filho de Deus, o Redentor da histria, e dar luz quele que a luz do mun-do. Maria traz tambm a felicidade dos que creem de corao completo nas palavras do Senhor, pois nela se deu o milagre da f genuna. Maria moa pobre, humilde em sua mais bruta e singela verdade, mas dentro dela em estado de gestao, agita-se um mundo.

    Bendito o Senhor, que visita nossa casa com seu imenso amor. E que se fale sempre bem de Maria, sua me bendita que o acolheu com f e amor plenos.

    Jesus nossa alegria, nossa festa, nossa esperana de mudana e redeno. Amm!

    Milton Nascimento escreveu certa vez uma cano que se tornou um hino da dignidade de toda mulher brasileira. Toda mulher, jovem ou idosa, grvida ou estril, casada, solteira ou viva, deveria mesmo aprender e cantar esse hino todos os dias: Maria Maria. Segundo ele, Maria era uma mulher simples, de infncia breve, operria, lavadeira de roupa, viva com seis filhos, que trazia em si a fora da alegria e da esperana indestrutvel, pessoa humilde, pobre, guerreira, que se autodefinia como solitria e solidria, mulher de fibra, dessas que fazem o Brasil ser um pas.

    Maria, a me de Jesus, se torna de certa maneira um smbolo de toda mulher que aprende a rir, em esperana, quando sabe que deve chorar, pois no vive, apenas aguenta. Ao mesmo tempo em que representa a figura de toda mulher que tem raa e gana sempre, Maria aprende que nada se pode fazer sem graa e sonho. Ela dor e alegria. Ela pele e marca. Ela possui a estranha mania de ter f na vida, pois tem f no Redentor da vida, Aquele para o qual nada impossvel.

    Como disse certa vez Martinho Lutero a respeito de Maria, a me do nosso Salvador: Nenhuma mulher igual a ti. s mais que Eva ou Sara, bendita acima de toda nobreza, sabedoria e santidade.

  • 37

    REFLITA

    No se pode negar que Deus, ao escolher e destinar Maria para ser a Me do seu Filho, concedeu a ela a maior honra que existe (Joo Calvino).

  • 38

    13 de dezembro

    PRESENTES (S) CRIANA(S)

    1. Tendo Jesus nascido em Belm da Judeia no tempo do rei Herodes, vieram do Oriente uns magos a Jerusalm, perguntando:

    2. Onde est aquele que nasceu Rei dos Judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente, e viemos ador-lo.

    3. O rei Herodes, ouvindo isso, perturbou-se, e, com ele, toda Jerusalm;

    4. e reunindo todos os principais sacerdotes e os escribas do povo, perguntava-lhes onde havia de nascer o Cristo.

    5. Eles lhe disseram: Em Belm da Judeia, pois assim est escrito pelo profeta:

    6. E tu Belm, terra de Jud,

    no s de modo algum o menor entre os lugares principais de Jud;

    porque de ti sair um condutor,

    que h de pastorear meu povo de Israel.

    7. Ento, Herodes chamou secretamente os magos e deles indagou com preciso o tempo em que a estrela tinha aparecido;

    8. e, enviando-os a Belm, disse-lhes: Ide informar-vos cuidadosamente acerca do menino; e, quando o tiverdes achado, avisai-me, para eu tambm ir ador-lo.

    9. Os magos, depois de ouvirem o rei, partiram; e eis que a estrela, que viram no Oriente, ia adiante deles, at que foi parar sobre o lugar onde estava o menino.

    10. Ao avistarem a estrela, ficaram extremamente jubilosos.

    11. Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua me, e, prostrando-se, adoraram-no; e, abrindo os seus cofres, fizeram-lhe ofertas de ouro, incenso e mirra.

    12. Sendo em sonhos avisados por Deus que no voltassem a Herodes, seguiram por outro caminho para a sua terra.

    (Mateus 2.1-12)

  • 39

    OUO o som de buzinas e de autofalantes. Em seguida, vejo o caminho com vrias pessoas sobre a carroceria e com um grande nmero de pacotes coloridos passar chamando a crianada. Aps o caminho seguem vrios carros de apoio.

    A carreata do bem acontece todo final do ano. Ela percorre a rua de minha casa e segue at o final do bairro onde moram pessoas de condies humildes.

    L chegando, feita a distribuio de presentes s crianas. Terminada a entrega, algumas passam em frente de casa. Da janela de meu quarto consigo ver as carinhas de alegria. No importa se a boneca uma imitao de grifes famosas, ou se a bola de plstico dali a alguns dias estar furada, ou mesmo se o carrinho logo perder as rodas.

    No importa. O fato que essas crianas, tomadas de alegria, foram lembradas. Pessoas vieram at elas e trouxeram presentes. Que festa! Em um mundo desumano e de apagamentos sociais, lembrar de uma criana pobre significa muito.

    Os pais ficam gratos. Afinal, por mais baratos que sejam os presentes, liberam o pouco de dinheiro que possuem para comprar talvez um panetone, ou, quem sabe, com um pouco mais de esforo, uma carne que poder at ser a surpresa da ceia humilde de natal.

    O texto bblico indicado acima testemunha a sensibilidade de pessoas importantes que se lembraram de uma humilde criana na Palestina.

    Embora o relato se revista de tenses, afinal, o falso rei Herodes deseja utilizar os magos para seus intentos assassinos, h tambm no texto um elemento de delicadeza e de alegria. Protegidos por Deus, os magos conseguem se desvencilhar das garras de Herodes e, dirigidos pela estrela, chegam humilde Belm e visitam a criana.

  • 40

    Imagine a surpresa da famlia de Jesus ao ver aqueles homens, certamente muito bem vestidos, com ares aristocrticos, entrarem na pequena casa e, aps saudarem seus moradores, depositarem presentes diante daquela pequena e pobre criana!

    O recm-nascido era considerado por eles o rei dos judeus. Claro que a sequncia do evangelho de Mateus corrigir essa viso demonstrando que Jesus o rei do universo, senhor de tudo e de todos. Mas, naquele momento, reconhecer aquela criana como rei dos judeus significava muita coisa.

    O texto relata que eles estavam cheios de alegria e de jbilo. Sim, pois faziam parte do restrito crculo de pessoas que consegui-ram ver e reconhecer o menino Jesus. E mais, tiveram o privilgio de presente-lo. O texto silencia a respeito da reao da criana. Certamente no entendeu o que ocorria ao seu redor. Tambm no revela a reao de Maria. O mais importante realar a alegria de quem presenteia.

    Sim, verdade. As pessoas que passam diante de minha casa conduzindo o caminho e os carros com presentes so as mais felizes, mais at do que as crianas que recebem os presentes. E tm razo para isso. Afinal, elas so privilegiadas por poderem dar presentes. E para crianas que precisam deles.

    Que tal, neste Natal, levar presentes para crianas carentes? Para um orfanato, para uma entidade de assistncia social. Existem tantas! Ao dar presentes, pense no menino Jesus, pense que poder alegrar, em nome de Jesus Cristo, crianas que talvez, sem voc, permanecero esquecidas neste natal.

    REFLITA

    Aqueles reis do distante oriente,Vieram a Belm para adorarO menino que traz alvio pra alma cansadaDe quem o buscar.

  • 41

    Louvado seja o pequeno menino de Belm.Glrias a Deus nas maiores alturas.O mistrio da vida naquela manjedoura se desfez.A alegria invadiu a casa em santa folia (Carlinhos Veiga).

  • 42

    14 de dezembro

    MAGNIFICAT

    46. Disse Maria:A minha alma engrandece ao Senhor,

    47. e o meu esprito alegrou-se em Deus meu Salvador,48. porque ps os olhos na baixeza da sua serva.

    pois, de ora em diante, todas as geraes me chamaro bem-aventurada,

    49. porque o Poderoso me fez grandes coisas.Santo o seu nome.

    50. E a sua misericrdia estende-se de gerao em geraosobre os que o temem.

    51. Manifestou poder com o seu brao,dissipou os que tinham pensamentos soberbos no corao.

    52. Deps os poderosos dos seus tronos

    e exaltou os humildes.53. Encheu de bens os famintos

    e despediu vazios os ricos.54. Socorreu a Israel, seu servo,

    lembrando-se de misericrdia55. (Como falou a nossos pais.)

    para com Abrao e a sua posteridade, para sempre. (Lucas 1.46-55)

    PODE uma mulher cantar em tempos como estes? Pode uma mulher pobre encontrar motivo para cantar em um mundo to desigual e desumano? O que esperar da vida quando os ricos e poderosos se tornam cada vez mais ricos e poderosos e os pobres e miserveis se tornam cada vez mais pobres e miserveis?

    Entretanto, h uma voz que toca o corao dessa mulher e que traz a resposta. H uma voz que a faz cantar um canto de alegria e coragem, como o de uma virgem que descobre a alegria de ser

  • 43

    me, como a de um povo que descobre a alegria de ser livre, como a de um guerreiro que descobre o caminho da paz. Essa voz nos alerta e ensina que preciso ter fora, preciso ter raa sempre, ainda que essa fora venha misturada fraqueza.

    preciso que o riso aformoseie o rosto, ainda que molhado pelo choro. preciso que o som da alegria quebre o silncio do terror e da morte. preciso que a vida severina aprenda a vencer as incontveis lguas dos descaminhos da morte.

    Maria sabe que vive, e no apenas aguenta, pois traz em seu corpo a prova maior de que o tempo de mudana e graa: o Deus conosco. Ento ela canta: Minha alma engrandece ao Senhor!. O canto de Maria declara que h Algum maior que reis e poderosos, Algum que traz esperana e vida aos pobres e famintos. Ela anuncia a presena de Deus na histria humana, a presena redentora de Deus no mundo.

    A experincia de Maria confirma que o Senhor faz o pobre cantar de esperana. Ele anima o abatido, enxuga as lgrimas dos que j no encontram consolo em si mesmos e em ningum. Ele torna grande nossa vida breve. Quebra o orgulhoso, derrota os poderosos e redime o humilde.

    Certamente, Maria haveria de provar em sua prpria vida mistrios de fazer calar seu pobre corao. Alis, muitas coisas sobre o menino Jesus ela guardaria a sete chaves em seu humano corao (Lc 2.19).

    REFLITA

    Tu j foste indefesa crianaNo consigo entender,Como pude tomar-te em meus braosE envolver o teu ser,Tantas noites ouvi o teu choro

  • 44

    A pedir po e leite, consolo.Carecias pra tudo de algum,E at pra dormires tambmUm balano e a minha voz pra te ninar.

    Teus primeiras passinhos e quedasCom orgulho segui,Ensaiaste as primeiras palavrasQue entender eu fingi.Travessuras sem mal de menino,Quantas vezes me deixaram rindo.De repente o menino cresceu,To bonito e viril se tornou,Tudo to depressa que eu nem percebi.

    Mas ao olhar o presente eu vejoAs multides te seguindoBuscando paz, esperana e confortoQue esto nas tuas palavras.O Teu poder cessa a fria do marE enfermidades se vo,Quando ordenas, se vo!

    Hoje eu entendo as palavras do anjoQuando ele disse o Teu nome.Tu s a to esperada promessa,O Deus do cu entre ns,s do teu povo o Libertador,Tu s o meu Salvador,O Cordeiro de Deus.

    E pensar que algum dia te embaleiEm meus braos, Jesus! (Stnio Marcius).

  • 45

    15 de dezembro

    E VIMOS!

    14. O Verbo se fez carne e habitou entre ns, cheio de graa e de verdade, e vimos a sua glria, glria como do unignito do Pai.

    (Joo 1.14)

    Dentre um grande nmero de expresses de uso popular, com sentidos que vo muito alm daqueles com os quais a gramtica, a etimologia e a semntica ficam vontade, h uma que diz: Viu agora?

    Geralmente ns a utilizamos ao final de uma explicao como sinnimo de compreendeu?

    Viu?, isto , compreendeu?, revela um processo de inte-rao com o que nos cerca. Nem sempre compreendemos o que vemos e/ou ouvimos. Por vezes, vemos e ouvimos, mas no con-seguimos elaborar a imagem ou as palavras. Nosso crebro e nossa psique no captam todas as nuances daquilo que nos envolve.

    Por outro lado, ver, com o sentido de compreender, pode ultrapassar em muito o aspecto ttil e material do verbo. Isso acontece no evangelho de Joo.

    No incio do primeiro captulo, o autor apresenta o Verbo como criador do universo, ao lado de Deus e sendo Deus. Ele introduz Joo Batista como testemunha histrica do Verbo e, de forma inusitada, afirma que a sociedade (o mundo) no o reconheceu, esclarecendo que alguns, no entanto, o receberam, tornando-se filhos de Deus.

    Por fim, e de forma categrica, o narrador introduz uma afirmao que, situada historicamente, transcende as demais: E o Verbo se fez carne e habitou entre ns, cheio de graa e de verdade, e vimos a sua glria, glria como do unignito do Pai.

  • 46

    Para alm da ao criadora do Verbo e de sua divindade, o narrador destaca o fato histrico de sua encarnao. O Verbo se fez carne. A segunda pessoa da Trindade tornou-se um de ns, se fez gente, diz ele. Mais do que isso, afirma de modo enftico que Jesus Cristo habitou entre ns. Ele conviveu com galileus em suas vilas e mercados, caminhou pela Samaria e foi visto por muitos, transitou pelas ruas de Jerusalm e esteve em seu Templo. E fez isso cheio de graa e de verdade.

    O Verbo todo poderoso, criador e Senhor de cu e terra, esteve entre os humildes e pobres, nos ensinou sobre Deus, curou nossos doentes, expulsou demnios de nossos amigos e acariciou nossas crianas, recorda o evangelista. Jesus Cristo viveu graciosamente entre os seres humanos.

    Mas o evangelista vai ainda mais longe. Ele proclama em claro e bom som: e vimos a sua glria, glria como do unignito do Pai. Vimos. Entendemos. Compreendemos.

    A graa de Jesus derramada sobre aqueles homens e mulheres os levou a concluir, a ver, que Jesus Cristo o Filho de Deus. Jesus, em seu amor, graa e misericrdia manifestou-se glorioso a eles.

    E ns? Vemos? Compreendemos?Embora Jesus no ande fisicamente entre ns, podemos tes-

    temunhar que ele habita conosco cheio de graa e de verdade? Temos visto isso?

    Natal tempo de celebrar a chegada do Filho de Deus. Jesus Cristo, gracioso, est entre ns. Como sabemos disso? O teste-munho de uma vida transformada por ele confirma esse fato. A nica e verdadeira resposta : Vemos a sua glria, glria como do unignito do Pai.

    REFLITA

    Deus te chama para o lugar onde tua mais profunda alegria se encontra com a mais profunda fome do mundo (Frederick Buechner).

  • 47

    16 de dezembro

    GLRIA IN EXCELCIS DEO!

    8. Naquela regio havia pastores que viviam nos campos e guardavam o seu rebanho durante as viglias da noite.

    9. Um anjo do Senhor apareceu-lhes, e a glria do Senhor brilhou ao redor deles; e encheram-se de grande temor.

    10. Disse-lhes o anjo: No temais; pois eu vos trago uma boa-nova de grande gozo que o ser para todo o povo:

    11. que hoje vos nasceu na cidade de Davi um Salvador, que Cristo Senhor.

    12. Eis para vs o sinal: encontrareis uma criana envolta em faixas e deitada numa manjedoura.

    13. De repente, apareceu com o anjo uma multido da milcia celestial, louvando a Deus e dizendo:

    14 Glria a Deus nas maiores alturas,e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem.

    15. Quando os anjos se haviam retirado deles para o cu, diziam os pastores uns aos outros: Vamos j at Belm e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer.

    16. Foram a toda a pressa e acharam Maria, e Jos, e a criana deitada na manjedoura;

    17. e, vendo isso, divulgaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino.

    18. Todos os que o souberam se admiraram das coisas que lhes referiam os pastores;

    19. Maria, porm, guardava todas essas palavras, meditando-as no seu corao. (Lucas 2.8-19)

    OS PASTORES j ajuntaram seus rebanhos no aprisco e esto roda da fogueira contando histrias e cantando canes. Eles conhecem o silncio dos desertos, a alegria dos vales e a solido das madrugadas. Lembram-se de seu ancestral, Davi, que nasceu

  • 48

    to perto dali, o menino que um dia tambm foi pastor, mas que se tornou o maior rei de Israel. Um deles comenta que Deus cuida de seu povo como um pastor amoroso e cuidadoso.

    A noite fria, mas bela e estrelada. Enquanto compartilham o po e as palavras, uma voz quebra o silncio da noite: No tenham medo!. um anjo do Senhor que veio anunciar o nascimento do Salvador, na mesma cidade em que nasceu Davi. De repente, uma multido de anjos aparece cantando no cu: Glria a Deus nas alturas! Paz na Terra s pessoas a quem ele quer bem!.

    Os anjos do Senhor visitaram os pastores que trabalhavam nos campos. Propositalmente, o Senhor no procurou os palcios e manses de Jerusalm ou Roma. Ignorou telogos, sacerdotes e mestres da religio. Preferiu habitar coraes aquecidos pela esperana, pessoas em cujos olhos ainda brilhava o lume da f. Misterioso o sinal que o Senhor escolheu para confirmar as palavras do anjo: uma criancinha enrolada em panos e deitada numa manjedoura.

    A glria do Senhor brilha no cu estrelado de anjos que vi-sitam pobres pastores e de pastores que visitam uma estrebaria para saudar uma criancinha recm-nascida enrolada em panos e deitada numa manjedoura. So pessoas simples, de poucas pala-vras, visto que quase ningum d crdito a palavras de pastores de ovelhas. Contudo, a glria do Senhor tambm se revelou a eles e os fez porta-vozes de uma grande novidade: na cidade de Belm nasceu o Salvador, o Messias, o Senhor.

    Certa vez, um monge celta orou da seguinte maneira: Meu querido Senhor, sejas tu uma chama brilhante diante de mim. Sejas tu uma estrela-guia acima de mim. Sejas tu um suave ca-minho sob mim. Sejas tu um pastor bondoso atrs de mim hoje e para sempre (Columba, 521-597).

  • 49

    REFLITA

    Olhem para cima, vocs cujo olhar est fixo nesta Terra, que esto enfeitiados pelos pequenos acontecimentos e mudnas na face da Terra. Olhem para estas palavras, vocs que, desapontados, aban-donaram o cu. Olhem para cima, vocs cujos olhos esto pesados de tantas lgrimas e que esto sobrecarregados de tanto chorar pelo fato de a terra ter-nos excludo de modo to desgracioso. Olhem para cima, vocs carregados de culpa e que por isso j no podem mais erguer os olhos. Olhem para cima, sua redeno est prxima. Algo diferente do cotidiano est para acontecer. Fique atento, vigie, espere por mais um breve momento. Espera e algo novo ir acontecer com voc: Deus vir! (Dietrich Bonhoeffer).

  • 50

    17 de dezembro

    MEU CHO, MEU CORAO

    2. Mas tu, Belm Efrata, que s pequena para se achar entre os milhares de Jud, de ti que me sair aquele que h de ser reinante em Israel e cujas sadas so desde os tempos antigos, desde a eternidade.

    (Miquias 5.2)

    O VELHO emprio na esquina da Quintino Bocaiva. A ladeira tortuosa que desce em direo vila Barth. A praa Peixoto Go-mide, onde bandeiras eram hasteadas em dias cvicos. O campo da Associao Atltica onde sonhei ser jogador de futebol. A rua Campo Salles com suas lojas. O pastel na feira de domingo. As barrancas do rio Itapetininga.

    No. No so meras referncias da geografia da cidade onde nasci. No so apenas ruas, prdios e lugares. No apenas pe-dra, cimento e asfalto. No. Pelo contrrio, uma parte de mim, um pedao do meu ser. A cidade onde nasci e me criei preserva, guarda, retm fragmentos da minha vida em forma de memrias concretas. Em troca, em forma de retribuio agradecida, para onde vou levo esse cho no meu corao.

    Somos o lugar onde nascemos. Somos seu p, seu cheiro, suas cores, seus sentimentos.

    E tu, Belm Efrata, pequena demais [] de ti me sair o que h de reinar em Israel. O Messias, o Salvador Jesus Cristo nasceu em Belm. Esse fato relembrado pelos evangelistas Mateus (2.6) e Joo (7.42). Este, inclusive, a chama de aldeia. Lugar pequeno.

    Mas o que importa? Dela veio Jesus Cristo. E com ele chegou at ns Belm. Beth-Lehem, a casa de po, onde o po da vida encarnou. E, como po, sentimos seu cheiro, provamos seu sabor abenoador, nos nutrimos de sua salvao. E com ele, veio at ns Belm.

  • 51

    Belm, cidade de Davi. Mas antes dele de Noemi, que dela precisou sair, pois havia acabado o po. Terra de Boaz, homem bondoso que se casou com Rute. Rute, ancestral do rei Davi e de Jesus Cristo.

    Belm, terra que se conhece conhecendo sua gente. Cidade humilde, pequena, vila mesmo. Mas que em sua pequenez se agiganta por trazer ao mundo pessoas de f, homens e mulheres ligados a Deus. E, por fim, o Salvador, Jesus Cristo.

    Deus tornou-se humano por intermdio de Maria. Mas o espao fsico em que isso se deu foi Belm. Dessa forma, a cidade participa do plano de salvao da humanidade.

    Jesus viveu pouco em Belm. Seus pais moravam em Nazar e se deslocaram para Belm por fora de uma lei que obrigava as famlias a se recadastrarem na cidade de seus ancestrais. Logo depois, Deus orientou Jos e Maria a fugirem da cidade, pois Herodes pretendia matar a criana. Apesar do pouco tempo, certamente Jesus levou consigo traos de Belm.

    O po da vida carregou consigo a casa de po.Natal celebrao em famlia. o momento em que familiares

    se dirigem para suas cidades de origem semelhana de Jos e Maria para se reunirem e reavivarem memrias antigas. Ao mesmo tempo, as famlias manifestam gratido terra que os gerou, e o fazem da forma mais profunda possvel: proclamando e celebrando nela o nascimento de Jesus Cristo, o Salvador.

    REFLITA

    Cidadezinha de Belm[...] em tuas ruas escuras brilhaA eterna Luz.As esperanas e temores de todas as erasSe encontram esta noite em ti (Phillips Brooks & Lewis Redner).

  • 52

    18 de dezembro

    SER OU NO SER

    32. Os fariseus ouviram murmurar a multido essas coisas a respeito dele, e os principais sacerdotes e os fariseus mandaram os oficiais de justia para o prender. [...]

    45. Voltaram, ento, os oficiais de justia aos principais sacerdotes e fariseus, e estes lhes perguntaram: Por que no o trouxestes?

    46. Responderam os oficiais: Nunca homem algum falou como esse homem.

    47. Replicaram-lhes os fariseus: Estais vs tambm iludidos?

    48. Porventura, creu nele alguma das autoridades ou alguns dos fariseus?

    49. Mas este povo que no entende a Lei amaldioado.

    50. Nicodemos, um deles, que antes fora ter com Jesus, perguntou-lhes:

    51. Porventura, julga a nossa lei a algum, sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele faz?

    52. Eles lhe responderam: s tu tambm da Galileia? Examina e v que da Galileia no se levanta profeta.

    (Joo 7.32,45-52)

    NUNCA pensei que isso fosse acontecer comigo. J fiz teatro de arena, circo mambembe, j me apresentei em colgios, em circuitos universitrios, mas essa de representar Jesus numa pea de Natal em plena catedral est mexendo comigo. Ao decorar suas falas, ao rever seus dilemas ou reviver seus possveis sentimentos e pensamentos, minha vida est sendo desnudada. Sempre fui um ateu, ou melhor, um agnstico!

    Confesso: essa proximidade com a pessoa de Jesus est me incomodando. Se eu sou quem penso que sou, um artista expe-riente e competente, vou mergulhar no personagem e reviv-lo. Mas se ele quem pensa que , ento ele que vai mergulhar em mim e fazer-me reviver, e sinto que isso mesmo o que est acontecendo.

  • 53

    Se, como ator, fao encarnar em mim as palavras dos dramaturgos e os textos literrios mais densos, por outro lado vejo meus dramas mais ntimos, meus dilemas mais secretos se encarnarem nele: Jesus. sua voz que me interpela quando lhe empresto a minha: Vinde a mim todos vs que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei. Tomai sobre vs o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de corao; e achareis descanso para vossa alma (Mt 11.28-29).

    Minha alma anda pesada como chumbo. O poeta Marcelo Yuka canta assim: A minha alma est armada e apontada para a cara do sossego, pois paz sem voz no paz, medo. Ele fala de paz sem voz. Eu tenho voz, mas no tenho paz.

    Sinto-me como aqueles guardas que foram prender Jesus, a mando dos fariseus e dos chefes dos sacerdotes, e que acabaram voltando de mos abanando, simplesmente porque foram impac-tados pela presena e pelas palavras do Galileu: Nunca ningum falou como aquele homem!.

    Tentei, juro que tentei, usar toda a minha tcnica para prender aquele personagem com minhas prprias mos. Estou conseguindo, talvez, conhec-lo de perto no como um dogma da Igreja nem como um mito da nossa cultura, mas como o nico, o incomparvel, o inominvel Filho de Deus.

    Pouco a pouco vou caindo na realidade como quem cai nu no palco: Ele, Jesus, tem se tornado nos ltimos meses o centro da minha vida como ator e talvez da minha vida como ser humano, e acho que isso no vai passar. Um pensamento espeta meu p como um caco de barro: as palavras de Pedro quando disse Para onde irei, se no a ti? Tu tens as palavras de vida! Isso est rever-berando em mim desde ontem.

    Quero um dia poder dizer que tenho paz, e no medo. Quem sabe eu esteja a ponto de fazer que nem o filsofo Blaise Pascal: Deus de Abrao, Deus de Isaque, Deus de Jac, no dos filsofos nem dos eruditos. Certeza! Certeza! Sentimento! Alegria! Paz.

  • 54

    REFLITA

    Quando h ferrugem, no meu corao de lata! quando a f ruge, e o meu corao dilata! (Fernando Anitelli).

  • 55

    19 de dezembro

    UMA VOZ NO DESERTO

    19. Este o testemunho de Joo, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalm sacerdotes e levitas para lhe perguntar: Quem s tu?

    20. Ele confessou e no negou, e a sua confisso foi: Eu no sou o Cristo.

    21. Perguntaram-lhe eles: Que s, ento? s tu Elias? Ele respondeu: No sou. s tu o profeta? Respondeu: No.

    22. Disseram-lhe, pois: Quem s, para que possamos dar resposta aos que nos enviaram? Que pensas de ti mesmo?

    23. Ele replicou: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaas.

    (Joo 1.19-23)

    DESERTOS so lugares perigosos. A amplido das dimenses, o calor causticante durante o dia e o frio atroz nas noites, as du-nas que teimam em se deslocar ao sabor do vento confundindo direes e eventuais tempestades de areia tornam esses vastos territrios os mais letais do planeta.

    Desse aspecto fsico surge outro, simblico. No perodo do Antigo e Novo Testamentos o deserto era considerado um lugar de provao, por onde Israel caminhou por quarenta anos e onde Jesus foi tentado pelo diabo aps quarenta dias. O deserto era considerado o lugar de habitao de demnios.

    O texto proposto para leitura hoje fala de deserto. Joo Batista a voz do que clama no deserto. Joo pregava no deserto da Judeia anunciando a vinda do Messias Jesus. Tal notcia chegou aos ouvidos dos religiosos em Jerusalm, sempre zelosos com a doutrina e preocupados com possveis confuses com radicaliza-es religiosas. Rapidamente enviaram emissrios para saber quem era Joo. As pessoas falavam tanto dele, e ele havia se tornado to popular que havia dvida se ele seria ou no o Messias.

  • 56

    Sem rodeios ele afirmou: Eu no sou o Cristo!. Diante da insistncia a respeito de sua identidade, ele cita o profeta Isaas dizendo: sou a voz que clama no deserto, cuja misso endireitar o caminho do Senhor.

    Deserto, lugar de sofrimento, de dor, de morte. No entanto, dele que provm a voz que proclama a salvao manifesta em Jesus. No so demnios que saem do deserto. Joo Batista. Aquele que compreende quem Jesus, que tem conscincia das implicaes de sua vinda. Que recebe a incumbncia de tornar tais verdades claras ao povo.

    De onde ecoam nossas vozes? Provavelmente de condomnios confortveis, de casas envoltas em cercas eltricas, de lugares onde estamos seguros e livres dos males e problemas sociais. Talvez, neste Natal, nossas vozes sejam ouvidas em reunies familiares em chcaras, em clubes, talvez at em iates.

    Mas, e o deserto? E os lugares de sofrimento, de desamparo, de pobreza, de humilhao e de morte? Haver, hoje, vozes que proclamem o Messias no deserto? Por onde andar Joo Batista? provvel que hoje no existam discpulos de Joo Batista. provvel que o deserto no seja mais nosso destino e nossa misso. provvel que no saibamos mais o que falar em tal lugar.

    Sou a voz que clama no deserto. Esse o convite da Escritura para mim e para voc neste natal. Que tal nos dirigirmos para o deserto e erguermos em alto som nossas vozes de proclamao da vinda do Messias, luz do mundo, Senhor da vida, aquele que preenche de vida o deserto da humanidade?

    REFLITA

    Voz do que clama no desertoPrepara o caminho do SenhorChama essa gente hoje o tempo

  • 57

    De ouvir a voz de DeusO sol se levanta com seu ardente calorA erva seca e cai sua florMas a Palavra do Senhor resiste para sempre (Guilhere Kerr & Jorge Rehder).

  • 58

    20 de dezembro

    O NATAL PARA DIETRICH BONHOEFFER

    12. Quero, porm, irmos, que conheais que as coisas que me aconteceram tm, antes, contribudo para o progresso do evangelho;

    13. de maneira que as minhas prises se tornaram manifestas em Cristo a toda a guarda pretoriana e a todos os demais;

    14. e que a maioria dos irmos, animados no Senhor pelas minhas prises, so muito mais corajosos em falar sem temor a palavra de Deus. [...]

    27. Somente portai-vos duma maneira digna do evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos ou estando ausente, eu oua dizer de vs que permaneceis em um s esprito, lutando com uma s alma pela f do evangelho;

    28. e que em nada estais atemorizados pelos vossos adversrios, o que para eles uma prova de perdio, mas para vs de salvao, e isso da parte de Deus.

    29. Pois vos foi concedido, por amor de Cristo, no somente o crer nele, mas ainda o padecer por ele, 30 sofrendo o mesmo combate que vistes em mim e agora ouvis que est em mim.

    (Filipenses 1.12-14,27-30)

    Na vspera do Natal de 1943, no canto de uma das celas do presdio Berlim-Tegel, em Berlim, o pastor Dietrich Bonhoeffer escreve uma carta para os seus amigos Eberhar e Renate Bethge. So tempos sombrios sobre a Alemanha, a violncia da Gestapo, a decadncia do nazismo, bombas caindo sobre a cidade de Berlim. J no acredito na minha soltura, ele escreve. Na carta, Dietrich fala daqueles tempos como dias de separao, e no h nada que nos possa substituir a presena de um ente querido e nem deve-mos tentar substitu-lo. Cabe-nos simplesmente suportar. Para complicar as coisas, quanto mais belas e mais ricas as recordaes, tanto mais dura a separao. Entretanto, ele tambm afirma que a separao pode produzir uma comunho at mais forte.

  • 59

    Ora, como viver a alegria dos evangelhos em tempos de apocalipse? O pastor Dietrich at comenta que, ali na priso, os presos detestavam ouvir os hinos de Natal, pois tornava a situao ainda mais insuportvel. O contraste era to grande, que fazia os prisioneiros mergulhar num estado miservel de tristeza, de modo que o dia lhes pesa ainda mais. Melhor seria que, em lugar do sentimentalismo e das msicas nostlgicas, houvesse uma boa pregao ou uma palavra pessoal.

    Sim, nem todos vivem o Natal em conforto, fartura ou liber-dade. Para muitos, o Natal mesmo tempo de tristeza e depresso, de solido profunda e separao. Em tempos assim vale ouvir de novo a mensagem de esperana de Deus a um mundo perdido, o conforto da sua presena ao nosso lado. Natal tempo de orao pelos que sofrem neste mundo agitado e confuso, tempo de uma boa e franca conversa pessoal, humana, cheia de afeto e verdade. tambm tempo se ouvir uma boa e honesta pregao, como diria Dietrich Bonhoeffer.

    A cela de uma priso, em que algum aguarda, espera e se torna completamente dependente do fato de que a porta da li-berdade tem que ser aberta por fora, torna-se cenrio ideal para o Advento, escreve Bonhoeffer, pois para ele o aspecto mais importante do Advento que ele nos prope uma esperana de libertao. Voc quer ser liberto? Esta a nica questo realmente importante e decisiva que o Advento nos prope.

    Este tempo de preparao para o Natal, este Advento, tempo propcio para a reflexo e para a tomada de atitude. H que se olhar para o alto, h que se seguir adiante.

    Certa vez perguntaram a Leon Gieco, cantor argentino que viveu os tempos difceis de ditadura militar e perseguio poltica, como estava, e ele respondeu em forma de cano: Sobrevivendo. Sobrevivendo. Diante das ameaas pendentes vida, como nos tempos na II Guerra na Europa ou especificamente do nazismo na Alemanha, sobreviver j uma grande faanha.

  • 60

    Contudo, o que o Advento nos prope mais que sobrevivncia, vida plena e digna.

    REFLITA

    A cela de uma priso, em que a pessoa aguarda, espera e est completamente dependente do fato de que a porta da liberdade tem de ser aberta por fora, no uma comparao ruim com o Advento (Dietrich Bonhoeffer).

  • 61

    21 de dezembro

    O SERVO QUE PROCLAMA A JUSTIA

    1. Eis o meu servo, a quem sustenho; o meu escolhido, no qual a minha alma se agrada. Tenho posto sobre ele o meu Esprito, e ele far sair juzo s naes.

    2. No clamar, nem levantar, nem far ouvir a sua voz na rua.

    3. No quebrar a cana rachada, nem apagar a torcida que fumega; com verdade far sair o juzo.

    4. No se apagar, nem ser quebrado, at que estabelea o juzo na terra; e as ilhas esperaro a sua lei.

    5. Assim diz o Deus, Jeov, que criou os cus e os estendeu; que alargou a terra e o que dela procede; aquele que d respirao ao povo que est sobre ela e esprito aos que andam nela.

    6. Eu, Jeov, te chamei em justia, tomar-te-ei pela tua mo, conservar-te-ei e te porei para aliana do povo, para luz dos gentios,

    7. a fim de abrir os olhos cegos, e de tirar da priso os presos, e da casa do crcere os que esto sentados nas trevas.

    8. Eu sou Jeov, este o meu nome; a minha glria, no a darei a outrem, nem o meu louvor, s imagens esculpidas.

    9. Eis que as primeiras coisas j se realizaram, e eu vos anuncio novas coisas; antes que sucedam, eu vos farei ouvi-las.

    (Isaas 42.1-9)

    ISAAS um livro profundo. Entre tantas complexidades est a figura do servo do Senhor. Ela aparece em vrios textos, dos quais o mais conhecido o captulo 53 que o Novo Testamento aplica a Jesus Cristo.

    No contexto histrico de Isaas, o servo pode ser Israel (41.8-9) ou o profeta (49.5). Ou podem ser ambos. Os exegetas discutem, e muito, sobre a definio do servo. A ambiguidade que o cerca tem um motivo.

  • 62

    Israel encontra-se no exlio na Babilnia. Ali Deus faz questo de afirmar que ainda tem um plano para seu povo. Deus garante que o ama, que ele seu servo, e que ir restaur-lo.

    O profeta, como servo, convocado a proclamar a bondade e a justia de Deus s naes, mesmo vivendo em um contexto de dvidas, angstias e sofrimentos.

    No texto indicado para leitura, o servo caracterizado pela presena do Esprito e como aquele que deve proclamar a justia (e no o direito, como est na verso de Almeida, v. 1 e 3) aos gentios.

    Justia, no Antigo Testamento, um conceito mais relacional do que jurdico. A justia deriva da aliana com Deus. Justo aquele que vive com Deus e, por decorrncia, anda em seus caminhos (v. 6). Portanto, proclamar justia significa conclamar os gentios a se relacionarem com Deus e a terem suas vidas trans-formadas por ele.

    Tal justia visa aos desvalidos e desfavorecidos dentre os gen-tios, caracterizados como cegos, cativos, aqueles que jazem em trevas. Deus no divide nossa vida em departamentos, como se o espiritual fosse mais importante do que o fsico e o emocional. A relao com Deus invade todos os segmentos do nosso ser.

    A misso do servo desempenhada de forma pacfica (v. 2-3) e perseverante (v. 4). Ele no briga, no se impe, no humilha. No preciso. Os humildes de todos os povos o recebem e a sua mensagem de braos abertos.

    Quem o servo? Israel, o profeta, Jesus. O evangelista atribui a Jesus a misso do servo (Mt 12.15-21; Lc 4.18 ecoa Is 42.7). Ele veio para os fracos e sofridos de Israel e de todo o mundo gentlico, dentre os quais se apresentam nos evangelhos, como exemplo, a mulher cananeia e sua filha endemoninhada (Mt 15.21-28).

    Quem o servo? Israel, o profeta, Jesus ns. Essa a razo da ambiguidade da figura do servo em Isaas. A imagem vem se

  • 63

    atualizando na Histria at chegar a ns, e continuar depois de ns. Como discpulos de Jesus, o Deus encarnado nascido na manjedoura, cumpre-nos continuar sua misso de proclamao aos cegos, aos cativos, aos que jazem nas trevas.

    REFLITA

    Sim, Cristo entregou sua vidaDe forma espontnea Ele a deuNingum poderia obrig-loFoi seu prprio amor que o moveu (Guilherme Kerr).

  • 64

    22 de dezembro

    CANO DE NINAR

    1. Naquela hora, chegaram-se os discpulos a Jesus e perguntaram: Quem , porventura, o maior no reino dos cus?

    2. Jesus, chamando para junto de si um menino, p-lo no meio deles

    3. e disse: Em verdade vos digo que, se no vos converterdes e no vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos cus.

    4. Quem, pois, se tornar humilde como este menino, esse ser o maior no reino dos cus.

    5. Aquele que receber um menino, tal como este, em meu nome a mim que recebe...

    (Mateus 18.1-5)

    AH, como eu gostaria de compor uma cano de ninar para Jesus. Coloc-lo ao colo, pequena criana indefesa, e v-lo sonhar seus primeiros sonhos e sorrir sem saber que na verdade faz o mundo sorrir. Teria que ser tambm uma cano doce, que falasse com ternura a Ele, adormecido num bero de palhas, como a cano que, segundo dizem, Lutero escreveu para seus prprios filhos, pois o menino Jesus adormecido nos braos humanos num mundo atribulado e beira do caos a imagem mais pura e tocante do amor de Deus.

    Mas h quem diga que o hino Num bero de palha no foi de fato escrito por Lutero, e sim por um compositor annimo, talvez em homenagem a Lutero. No importa, nada modifica a beleza da cano de ninar que coloca Jesus no centro de todas as coisas, no humilde prespio. Poder expressar a centralidade de Jesus com ternura e devoo, poder fazer disso uma declarao de amor, o grande segredo.

    A infncia de Jesus durou pouco, verdade, pois logo o menino cresceu em sabedoria, estatura e graa, como dizem as

  • 65

    Escrituras. E isso mesmo que torna o Natal um momento to raro e precioso. Ah, como bom cantar uma cano de Natal e ensin-la aos nossos filhos.

    bom saber que Jesus aceita nosso amor e nossa ternura, to imperfeitos, to fora do tempo. Abraamos pela f a Ele, que nasce dentro de ns, e embalamos Seu ser em nossos coraes. Sua presena nossa alegria. Sua alegria, nossa paz.

    No humilde prespio, sem ter nada seu, Jesus, pobrezinho, sem teto nasceu (Lutero).

    Eis a letra da cano de Lutero:

    No humilde prespio, sem ter nada seu,Jesus, pobrezinho, sem teto nasceu.Os cus estrelados, fulgentes de luz,Visitam o meigo e divino Jesus.

    Desejo ao teu lado viver, meu Senhor,Amar-te e servir-te, Jesus, Salvador.A teus pequeninos vem sempre guardarFazendo-nos todos contigo morar.

    REFLITA

    Menino Jesus, no chores noite e hora de dormirAs estrelas que brilham no se comparamAo nmero daqueles que iro te conhecer (Michael Card).

  • 66

    23 de dezembro

    OVELHAS E PASTORES20. Portanto, assim lhes diz o Senhor Jeov: Eis que eu, eu mesmo, julgarei

    entre as ovelhas gordas e as ovelhas magras.

    21. porquanto com o lado e com o ombro, dais empurres e, com os vossos chifres, impelis todas as adoentadas, at as terdes espalhado por toda a parte,

    22. portanto salvarei o meu rebanho, e ele no servir mais de presa; e julgarei entre ovelhas e ovelhas.

    23. Suscitarei sobre elas um s pastor, que as apascentar, meu servo Davi. Ele as apascentar e lhes servir de pastor.

    24. Eu, Jeov, serei o seu Deus, e o meu servo Davi ser prncipe no meio deles.

    (Ezequiel 34.20-24)

    As campinas, vales e morros da Palestina so repletos de histrias. Povos cananitas ali viveram e desapareceram. Exrcitos passaram por ela, migrantes percorreram seus caminhos, feras vagaram por seus ermos. Ali Israel experimentou momentos de glria e de humilhao.

    As pedras e arbustos daquele cho sagrado tambm guardam imagens milenares de amor, carinho e cuidado de pastores por suas ovelhas. Desde os mais desconhecidos at aquele que se tornaria rei, todos experimentaram a profundidade desse relacionamento. Ele to intenso que inspirou um dos mais belos poemas do Antigo Testamento, que toma a imagem do pastor e sua ovelha para representar a vivncia de Deus com seu povo.

    Pastor e ovelha. Uma relao que envolve o sacrifcio daquele e a confiana desta, que pressupe a fora do homem que d guarida e a fraqueza do animal que se sente protegido, que se constri a partir da liderana do humano e da submisso do rebanho, que se aprofunda na nomeao de cada ovelha e pelo pronto atendimento com que respondem voz do pastor.

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    Nem sempre essa relao foi harmoniosa. Israel estava exilado na Babilnia. As lideranas, em lugar de zelarem e cuidarem do povo, agiam por si mesmas e a favor de si mesmas. Simplesmente se esqueceram de suas obrigaes para com os mais fracos.

    Deus, ento, levanta o profeta Ezequiel e lhe d uma mensa-gem: os lderes de Israel eram ovelhas gordas que apascentavam a si mesmas, que desprezavam as fracas e roubavam sua pastagem. Deus afirma que punir tais ovelhas e suscitar Davi como pastor das ovelhas oprimidas.

    Ora, a muito Davi estava morto. Portanto, essa profecia foi tomada como messinica. Jesus se identifica como o bom pastor que d a vida pelas ovelhas (Jo 10.11). Jesus aquele que reaviva a imagem do pastor que cuida de seu rebanho e o ama, do pastor divino que dispensa tudo quanto necessrio ao seu rebanho.

    Mais do que nunca necessrio reconhecer que os inimigos das ovelhas fracas e carentes so os religiosos, caracterizados como ovelhas gordas e como lobos. Jesus os combateu, os afastou do rebanho. Ele nos adverte contra esses lobos vorazes que se escon-dem em pele de ovelha (Mt 7.15).

    A religio e sua mquina institucional rapidamente se apos-saram de Jesus e de seus ensinos. Hoje, muito do que se intitula cristianismo e exige a devoo de fiis nada mais do que uma alcateia de lobos insaciveis em seu apetite.

    Jesus Cristo o bom pastor. Ao comemorarmos seu nascimento, afirmamos que, como ovelhas carentes, ouvimos apenas a sua voz e rejeitamos com todas as nossas foras os grilhes com que falsos religiosos, ovelhas gordas, lobos assassinos, querem nos prender.

    REFLITA

    Que alarido esse no amanhecer, o pastor fazendo festa no arraial Como se tivesse achado o maior tesouro que jamais se viu s uma ovelha, mas como ele a estima (Stnio Marcius).

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    24 de dezembro

    O PRESPIO

    15. Quando os anjos se haviam retirado deles para o cu, diziam os pastores uns aos outros: Vamos j at Belm e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer.

    16. Foram a toda a pressa e acharam Maria, e Jos, e a criana deitada na manjedoura;

    17. e, vendo isso, divulgaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino.

    18. Todos os que o souberam se admiraram das coisas que lhes referiam os pastores;

    19. Maria, porm, guardava todas essas palavras, meditando-as no seu corao.

    20. Os pastores voltaram glorificando e louvando a Deus por tudo quanto tinham ouvido e visto, como lhes fora anunciado.

    (Lucas 2.15-20)

    MEU sogro gostava muito de fazer prespios. Em todo Natal, ele montava um prespio de antigas peas feitas de barro, palha, porcelana e muitas conchinhas do mar, pois ele amava o litoral. Era como se virasse criana e se dispusesse a perder horas e horas montando as pecinhas, com alegria e amor. Talvez seja isso mesmo o que h de mais tocante no prespio: o amor. Primeiro, o amor de Deus pelos seres humanos, revelado em Cristo Jesus nascendo entre ns, depois o amor nosso por Ele, movido por gratido e devoo.

    A ideia de construir um prespio para celebrar o Natal veio de Francisco de Assis. Certo dia, passando pela cidade de Greccio, na Itlia, durante a poca do Natal, Francisco pensou em representar a cena do nascimento de Jesus. Chamou seus discpulos, conseguiu materiais simples e rsticos e montou o primeiro prespio. O que movia o corao de Francisco era certamente a tocante ternura, a comovente humildade do Natal de Jesus.

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    Quo generoso o corao de Deus, de visitar nossa pobreza e habitar em meio s nossas misrias para mostrar seu grande amor por ns. O pequeno menino na manjedoura cheia de palhas, o olhar terno de Maria e Jos, o burrinho e o boizinho (como se entendessem alguma coisa!) e a estrela brilhando sobre a estrebaria.

    Veja a simplicidade do seu amor, que no se manifestou no conforto nem a glria de um bero de ouro, mas que nasceu na periferia do mundo. Assim, os pobres e desprezados foram os que o viram pela primeira vez.

    Nossa misria no lhe estranha, nossa pobreza no foi por ele ignorada. Nem foram ignorados nossos sonhos de libertao e dignidade, nossos desejos mais profundos de vida e amor. Nossa fome por afeto e alegria. Nossa esperana alimentada cotidiana-mente por sua santa Palavra.

    Olhai, admirados, a sua humildade, os anj