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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COPPEAD Instituto de Pós-graduação e Pesquisa em Administração Dissertação de Mestrado O imperativo da internacionalização: o caso da I.ndigo Taqtile Luciana Albuquerque Alves Mestrado em Ciências (MSc.) de Administração Orientador: Prof. Renato Cotta de Mello Rio de Janeiro, Maio de 2013

O imperativo da internacionalização: o caso da I.ndigo Taqtile · ampla rede de atores, intimamente ligados por suas relações sociais (HOANG e ANTONCIC, 2003). Surgiu então um

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

COPPEAD – Instituto de Pós-graduação e Pesquisa em Administração

Dissertação de Mestrado

O imperativo da internacionalização: o caso da

I.ndigo Taqtile

Luciana Albuquerque Alves

Mestrado em Ciências (MSc.) de Administração

Orientador: Prof. Renato Cotta de Mello

Rio de Janeiro, Maio de 2013

Page 2: O imperativo da internacionalização: o caso da I.ndigo Taqtile · ampla rede de atores, intimamente ligados por suas relações sociais (HOANG e ANTONCIC, 2003). Surgiu então um

LUCIANA ALBUQUERQUE ALVES

O imperativo da internacionalização:

o caso da I.ndigo Taqtile

Dissertação de Mestrado apresentada

ao programa de Pós-graduação em

Administração, Instituto COPPEAD de

Administração, Universidade Federal

do Rio de Janeiro, como requisito

parcial à obtenção de título de Mestre

em Administração.

Orientador: Prof. Renato Cotta de Mello

Rio de Janeiro, Maio de 2013

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LUCIANA ALBUQUERQUE ALVES

Alves, Luciana Albuquerque

O imperativo da internacionalização: o caso da I.ndigo Taqtile. / Luciana Albuquerque Alves. – Rio de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2013.

106 p.:il. color.; 31 cm. Orientador: Prof. Renato Cotta de Mello. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto

COPPEAD de Administração, Rio de Janeiro, 2013. 1. Internacionalização. 2. Marketing internacional. 3, Administração – Teses. I. Mello,

Renato Cotta de. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de Administração. III. Título.

CDD 382.6

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Luciana Albuquerque Alves

O imperativo da internacionalização:

o caso da I.ndigo Taqtile

Dissertação de Mestrado apresentada

ao programa de Pós-graduação em

Administração, Instituto COPPEAD de

Administração, Universidade Federal

do Rio de Janeiro, como requisito

parcial à obtenção de título de Mestre

em Administração.

Aprovada em:

Prof: Renato Cotta de Mello (COPPEAD/UFRJ)

Prof: Victor Prochnik (IE/UFRJ)

Prof: Jorge Manoel Teixeira Carneiro (PUC-Rio)

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RESUMO

ALVES, Luciana Albuquerque. O imperativo da internacionalização: o caso da

I.ndigo Taqtile. Rio de Janeiro, 2013. Dissertação (Mestrado em Administração) –

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de Administração. Rio

de Janeiro, 2013.

O objetivo deste trabalho foi estudar o acelerado processo de internacionalização de

uma startup brasileira do setor de software sob a ótica das teorias de

internacionalização de empresas.

Com este intuito, primeiro, foi realizada uma revisão de literatura sobre a economia

da indústria de software, com foco no papel das redes; sobre o desenvolvimento do

subsetor de aplicativos para dispositivos móveis (smartphones e tablets) ; e sobre as

correntes de estudo da internacionalização de empresas. O segundo passo foi um

estudo de caso da empresa I.ndigo Taqtile, desenvolvedora de aplicativos para

dispositivos móveis, realizado através da coleta de dados de diversas fontes

secundárias, como relatórios, jornais, sites da internet etc, e fontes primárias, em

particular, sócios da empresa no Brasil e nos Estados Unidos.

Os resultados indicam que as teorias de Empreendedorismo Internacional, Born

Globals e Networks são bastante úteis para explicar a formação, desenvolvimento e

internacionalização da empresa examinada.

Palavras-chave: internacionalização; redes; born global; aplicativos móveis.

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ABSTRACT

ALVES, Luciana Albuquerque. O imperativo da internacionalização: o caso da

I.ndigo Taqtile. Rio de Janeiro, 2013. Dissertação (Mestrado em Administração) –

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de Administração. Rio

de Janeiro, 2013.

The aim of this study was to investigate the accelerated internationalization process

of a Brazilian startup in the software industry based on the Internationalization

theories.

For this purpose, we first conducted a literature review about the economy of the

software industry, focusing on the role of networks, on the development of the mobile

applications sector, and on the Internationalization theories. The second step was a

case study of the company I.ndigo Taqtile, a mobile applications developer, produced

by collecting data from several secondary sources such as reports, newspapers,

websites etc., and primary sources, specially interviews with the company’s owners

from Brazil and the United States.

The results indicate that International Entrepreneurship, Born Globals and Networks

theories are useful for explaining the inception, development and internationalization

of the company examined.

Keywords: internationalization; networks; born global, mobile applications.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................... Erro! Indicador não definido.

1.1.OBJETIVOS DO ESTUDO ........................................................................................................... 1

1.2.RELEVÂNCIA DO ESTUDO ........................................................................................................ 1

1.3.DELIMITAÇÕES DO ESTUDO .................................................................................................... 2

2.INDÚSTRIA DE SOFTWARE .......................................................................................................... 2

2.1 NETWORKS, PLATAFORMAS E ECOSSISTEMAS ............................................................... 2

2.2.O MERCADO DE APLICATIVOS PARA DISPOSITIVOS MÓVEIS ...................................... 8

3.REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................................................... 13

3.1.CORRENTE ECONÔMICA ....................................................................................................... 13

3.1.1.TEORIA DA INTERNALIZAÇÃO ............................................................................................ 13

3.1.2.PARADIGMA ECLÉTICO ........................................................................................................ 15

3.2.CORRENTE COMPORTAMENTAL ......................................................................................... 16

3.2.1.ESCOLA DE UPPSALA .......................................................................................................... 17

3.2.2.TEORIA DAS REDES .............................................................................................................. 22

3.2.3.EMPREENDEDORISMO INTERNACIONAL ....................................................................... 31

3.2.4.BORN GLOBAL ........................................................................................................................ 36

4.METODOLOGIA .............................................................................................................................. 41

4.1 PROBLEMA DE PESQUISA ...................................................................................................... 41

4.1.1PERGUNTAS DE PESQUISA ................................................................................................. 41

4.2 MÉTODO DE PESQUISA .......................................................................................................... 41

4.2.SELEÇÃO DO CASO .................................................................................................................. 43

4.4.COLETA E ANÁLISE DE DADOS ............................................................................................ 43

4.5.FONTES DE DADOS .................................................................................................................. 44

4.6. LIMITAÇÕES E CRÍTICAS AO MÉTODO .............................................................................. 45

5.ESTUDO DE CASO – I.NDIGO TAQTILE .................................................................................. 46

5.1.DESCRIÇÃO DO CASO ............................................................................................................. 46

5.1.1.INÍCIO ......................................................................................................................................... 46

5.1.2 PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO ....................................................................... 46

5.1.3.MODELO DE NEGÓCIOS ...................................................................................................... 52

5.1.4.NO BRASIL ............................................................................................................................... 53

5.1.5.PRÓXIMOS PASSOS .............................................................................................................. 55

5.2.ANÁLISE DO CASO .................................................................................................................... 57

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5.2.1.A I.NDIGO TAQTILE NA PERSPECTIVA DAS CORRENTES ECONÔMICAS ............ 57

5.2.2.A I.NDIGO TAQTILE NA PERSPECTIVA DA ESCOLA DE UPPSALA .......................... 58

5.2.3.A I.NDIGO TAQTILE NA PERSPECTIVA EMPREENDEDORISMO INTERNACIONAL

............................................................................................................................................................. ..59

5.2.4.A I.NDIGO TAQTILE SOB A PERSPECTIVA DA TEORIA DAS REDES ....................... 62

6.CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ..................................................................................... 68

6.1.CONCLUSÕES ............................................................................................................................ 68

6.2.RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ........................................................... 73

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 75

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1. INTRODUÇÂO

1.1. OBJETIVOS DO ESTUDO

O presente estudo busca analisar o processo de internacionalização de uma

empresa do sob as perspectivas das correntes teóricas de Negócios Internacionais.

Foi dada ênfase nos arcabouços teóricos comportamentais da Escola de Uppsala,

Empreendedorismo Internacional, com especial atenção à linha que estuda as

chamadas Born Globals, e a Teoria das Redes.

O estudo foi orientado pelas seguintes perguntas:

1. Que fatores ambientais possibilitaram o surgimento de um novo empreendimento

internacional no Brasil?

2. Quais fatores internos favoreceram o estabelecimento de um novo

empreendimento internacional no Brasil?

3. Quais foram suas estratégias de entrada e estabelecimento no mercado

internacional?

1.2. RELEVÂNCIA DO ESTUDO

O caso da I.ndigo Taqtile oferece evidências sobre o funcionamento da rede de

negócios de um dos setores mais dinâmicos da atualidade, a indústria de software.

De acordo com estudos (SHAPIRO, 1999; YIER et al., 2006; CUSUMANO, 2010), as

empresas deste setor recorrem a alianças com companhias de produtos

complementares, e até mesmo competidores, para compartilhar informações sobre

as características e funcionalidades dos produtos, a fim de criar um ecossistema que

potencialize o uso das suas plataformas pelos clientes.

Embora a indústria de software brasileira apresente crescimento nos últimos anos,

são raros os casos de empresas multinacionais de base tecnológica com origem

brasileira (RIBEIRO et al,, 2012). Com um modelo que parece ser “geneticamente”

voltado para dentro (ROSELINO, 2006), o setor de software brasileiro tinha em 2009

somente 130 empresas com atividades no exterior (13,6%), gerando receitas que

representavam apenas 7,81% do total de receitas do setor (OBSERVATÓRIO

SOFTEX, 2012).

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O estudo da trajetória de uma empresa como a I.ndigo Taqtile pode ajudar a

entender como e porque um empreendedor ou um grupo de empreendedores

consegue vencer barreiras à internacionalização, como o isolamento do Brasil dentro

de suas fronteiras, a baixa abertura comercial do país e a pouca tradição

exportadora em serviços de alta tecnologia, para se tornar uma born global num

setor altamente competitivo como o de aplicativos móveis (DIB e ROCHA, 2008).

1.3. DELIMITAÇÕES DO ESTUDO

O presente trabalho foi realizado através de uma pesquisa de caráter qualitativo, o

um estudo de caso, no qual se buscou entender o processo de internacionalização

da empresa I.ndigo Taqtile, desenvolvedora de aplicativos para dispositivos móveis.

Para isso, foi realizada coleta de dados de diversas fontes secundárias, como

relatórios, jornais e sites da internet, além de fontes primárias, em particular,

entrevistas conduzidas com os sócios da empresa no Brasil e nos Estados Unidos.

Por sua natureza, o método do estudo de caso apresenta duas limitações principais

(YIN, 2003). A primeira é a limitação da aplicabilidade da análise apenas a este

estudo. Embora não seja possível fazer generalização para outras empresas,

mesmo que elas possuam características semelhantes ou pertençam ao mesmo

setor, é possível generalizar uma ou mais hipóteses de teorias já existentes. A

segunda limitação ocorre porque as conclusões e análises podem ser afetadas por

vieses, tanto do entrevistado quanto do entrevistador, o uso de evidências sem

importância e a dependência da memória do entrevistado. Buscou-se diminuir as

limitações mencionadas através da utilização de diversas fontes – entrevistas, dados

de arquivo da empresa e fontes secundárias.

2. INDÚSTRIA DE SOFTWARE

2.1 NETWORKS, PLATAFORMAS E ECOSSISTEMAS

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No final da década de 1980, pesquisadores começaram a questionar a visão de que

os empresários atuavam como agentes econômicos isolados e o processo

empreendedor como distinto de outros fenômenos sociais. Nessa mesma época,

pesquisas davam conta que os empreendedores eram verdadeiros nós de uma

ampla rede de atores, intimamente ligados por suas relações sociais (HOANG e

ANTONCIC, 2003). Surgiu então um novo campo de estudo, a teoria das redes, que

procurava entender as causas e as consequências da inserção do empreendedor

nessas networks. Mais, dentro desse enfoque, os estudiosos defendem que o lócus

da competição estaria mudando da firma para a rede (SHAPIRO, 1999), tornando

essencial o estudo dessa nova configuração de mercado.

Três elementos críticos das networks são examinados nas pesquisas realizadas no

campo de estudo das redes (HOANG e ANTONCIC, 2003):

1) Conteúdo – Concentra-se, principalmente, nos recursos intangíveis que os

atores podem ter acesso através do relacionamento com outros atores, como

a troca de informação, aconselhamento, apoio emocional e reputação;

2) Governança - Mecanismos de governança que embasam e coordenam as

redes de trocas, sendo o mais citado a confiança entre os parceiros. Os

estudos mostram que a governança depende mais de contratos implícitos e

abertos, apoiados em mecanismos sociais, como poder e influência, e a

ameaça de ostracismo e perda de reputação do que em imposições legais; e

3) Estrutura - Definida como o padrão de laços diretos e indiretos entre os

atores. Em termos gerais, a proposta é que o posicionamento diferenciado

dos atores dentro de uma estrutura de rede tem um impacto importante sobre

os fluxos de recursos e, portanto, sobre os resultados empresariais. A

identidade dos atores é secundária para a sua posição na estrutura da rede.

A estrutura pode ser analisada em termos de tamanho (número de ligações

diretas entre um ator e outros atores da rede); centralidade (capacidade do

ator de ''alcançar'' outros atores em sua rede através de intermediários); força

do laço (capacidade de os atores poderem ter acesso a novas informações e

ideias através de laços que se encontram fora do seu grupo imediato de

contatos); structural holes (ausência de laços entre os atores, que oferece

oportunidades para que outros atores recebam benefícios ao funcionarem

como pontes entre eles); densidade (grau em que os contatos de um ator

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estão interligados. Quanto mais densa a rede direta de contatos, menos

provável que novos recursos entrem na rede) e heterogeneidade (existência

de diferentes categorias de atores criam laços mais densos dentro dos

grupos).

Ao estudar a rede de alianças e parcerias estabelecidas por 509 empresas, tais

como Microsoft, Oracle, Google e Amazon, de 1990 a 2001, Iyer et al. (2006)

afirmam que, devido ao ritmo rápido de evolução da indústria de software, nenhuma

empresa consegue sozinha suprir as necessidades dos clientes. Em vez de

utilizarem a integração vertical para obter a posse de ativos e estabelecer e controlar

padrões dentro do setor, as empresas de software recorrem à integração virtual

através de alianças para estabelecer redes de influência e interoperabilidade. Nessa

network de cooperação e competição, as empresas formam alianças com

companhias de produtos complementares e competidores para compartilhar

informações sobre as características e funcionalidades dos produtos (garantindo a

interoperabilidade), bem como para coordenar lançamento de produtos.

Iyer et al. (2006) argumentam que o setor de software age como uma “small world

network”, uma rede caracterizada por um alto grau de agrupamento (clustering) e

uma curta distância entre quaisquer dois nós, o que resulta num compartilhamento

rápido e eficiente de informações entre os grupos (clusters). Em seu estudo, Iyer et

al. (2006) abordam e confirmam algumas suposições acerca da estrutura da rede da

indústria de software, algumas já elaboradas em trabalhos anteriores, como Shapiro

(1999):

Empresas maiores, com portfólios de produtos mais diversificados, têm

recorrido a mais relacionamentos para apoiar o seu escopo de produtos.

Empresas mantêm conexões com outras firmas para trocar informações,

desenvolver produtos em conjunto e para ganhar status dentro da rede.

Mais importante que ter muitos parceiros, é ter os parceiros corretos. A

seleção adequada do rol de parceiros é fundamental para maximizar o acesso

aos recursos necessários, minimizando os custos de coordenação de um

vasto leque de alianças. As empresas procuram ligações com parceiros que

estão bem posicionados como condutores e conexões com outras empresas.

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Como consequência, as empresas que estão bem conectadas na rede vão

atrair mais pedidos de ligações do que o contrário.

Durante os períodos de incerteza, as empresas constroem alianças para ter

acesso aos recursos. Firmas estabelecidas tendem a formar vínculos com

novos entrantes para abastecer suas organizações com inovação e novas

ideias. Por sua vez, os novos entrantes ganham status e acesso a recursos

complementares (canais, marketing, etc) das empresas estabelecidas.

Um importante conceito para o estudo de redes é o path length (tamanho do

percurso), que se refere ao número de passos necessários para alcançar uma

determinada empresa na rede. Como um caminho curto implica em uma

comunicação mais rápida ou acesso mais fácil e mais eficiente de recursos,

quando uma empresa pode alcançar outra passando por menos

intermediários, há uma chance maior de estabelecer um fluxo de informação

útil, resultando em lançamentos sincronizados de produtos.

Nesse contexto, em vez de lançar produtos “fechados”, as empresas deveriam

desenvolver plataformas, conceito definido por Cusumano (2008) como os produtos

ou tecnologias que são a base de um sistema, com interface técnica relativamente

aberta e facilidade de termos de licenciamento a fim de encorajar outras firmas a

produzir produtos ou serviços complementares. Essas inovações externas criam um

ecossistema ao redor da plataforma.

A principal característica da plataforma é o fenômeno que pode ser denominado

“efeito manada” (bandwagon effect) ou “efeito de retorno positivo” (positive-feedback

effect): quanto maior a quantidade de empresas que criam inovação para a

plataforma, mais valiosa ela se torna. Nessa dinâmica, conforme cresce o número de

usuários a adotar a plataforma, mais produtores complementares entram no

ecossistema, incentivando novos usuários a adotar a plataforma, formando um

círculo virtuoso (CUSUMANO e GAWER, 2002).

Provocado pelo desejo dos usuários de adotar a plataforma que prevalecerá, o efeito

do retorno positivo torna os fortes, mais fortes e os fracos, mais fracos (SHAPIRO,

1999). Alguns mercados com externalidades de redes muito fortes (como, por

exemplo, formatos incompatíveis) e pouca oportunidade de diferenciação e

estratégias de nicho tendem a evoluir para negócios do tipo “o ganhador leva tudo”

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(winner take all) ou “o ganhador leva a maior parte” (winner take most), como é o

caso do Windows e do Office para o mercado de softwares para computadores

pessoais (SHAPIRO, 1999; LEVIS, 2010).

Figura 01 - Funil da Capacidade do Setor

Fonte: Cusumano e Gawer (2002)

Outra característica da economia de rede destacada por diversos autores

(SHAPIRO, 1999; CUSUMANO, 2010; LEVIS, 2010) é a economia de escala pelo

lado da demanda. Na economia tradicional, ocorre a economia de escala no campo

da oferta: empresas maiores tendem a ter um custo unitário menor que as

concorrentes. Nesse caso, os mercados também apresentam o “efeito do retorno

positivo”, mas este apresenta limitações, causadas principalmente pela dificuldade

em gerenciar corporações muito grandes. No caso da economia de escala pelo lado

da demanda, quanto maior a quantidade de usuários usando uma determinada

tecnologia, maior a capacidade desta tomar o mercado. Os usuários valorizam a

tecnologia por causa do seu uso generalizado. Por exemplo, se todos estão usando

o Microsoft Word como editor de texto, há mais razões para que outros usuários

também o usem. Nessa nova economia, não há a limitação que ocorria na anterior: o

crescimento pode ser virtualmente infinito.

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Um exemplo que pode ilustrar os dois tipos de estratégia podem ser apresentados

em dois casos pertencentes a mesma empresa: a estratégia da Apple para o

Macintosh, o computador pessoal da companhia lançado em 1984, e a estratégia da

companhia para os produtos da famíla “i” (iPod, iTunes, iPhone, etc). No primeiro

caso, a Apple optou por monopolizar o sistema hardware-software e as receitas do

produto, em vez de licenciar o sistema operacional do Macintosh e trabalhar de

maneira aberta com companhias e produtores complementares de forma de

promover a evolução da plataforma e suas aplicações e, assim, atingir o mercado de

massa.

Com a baixa difusão do produto provocada pelos preços altos, os produtores de

software, principais complementares da indústria, decidiram apoiar a interface dos

produtos da concorrente IBM. Como resultado, o Mac tornou-se um padrão

secundário com um baixo percentual do mercado, sobrevivendo apenas em dois

nichos: profissionais de editoração eletrônica e indivíduos dispostos a pagar mais

por um produto mais elegante, com uma interface mais fácil de usar (SHAPIRO,

1999; CUSUMANO, 2002, 2010).

O segundo caso ocorreu na década de 2000, quando, após amargar anos de

resultados ruins, a Apple lançou uma série de produtos inovadores que iriam

modificar diversos mercados e lançar tendências, tornando a empresa uma das

marcas mais valiosas do mundo. Primeiro, foi o tocador de música digital iPod,

seguido pela loja online de música iTunes (2003), o iPhone (2007), sua loja de

aplicativos App Store (2008) e o iPad (2010). De acordo com Cusumano (2010),

mais do que uma leva de produtos inovadores, esses lançamentos refletiram uma

mudança na estratégia da Apple para tirar vantagem de duas importantes

tendências no setor de alta tecnologia já citadas: o aumento da importância e o valor

de companhias que produziam plataformas para o setor com um ecossistema

grande e com possibilidades de expansão através de inovações complementares; e

a valorização de aplicações de softwares para a automação de serviços e entrega

de conteúdo, de forma a tornar essas plataformas úteis e valiosas para os usuários.

Isto porque, de acordo com Cusumano (2010), os produtos da Apple, apesar de seu

design elegante e interface única, não são tão valiosos sem o conteúdo digital

externo como músicas, vídeos e aplicativos encontrados no iTunes, na App Store e

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na iBooks. No longo prazo, a parte mais valiosa da franquia Apple poderá ser seus

serviços online e plataformas de conteúdo. Os produtos de hardware tornar-se-ão

apenas plataformas para venda ou agregação de produtos digitais com altas

margens.

No entanto, essa estratégia demorou a ser implementada pela Apple. Inicialmente, o

iPhone I não suportava aplicativos que não fossem produzidos pela Apple e nem

funcionava em redes que não fossem as parceiras da companhia, com a AT&T nos

Estados Unidos. No entanto, hackers ao redor do mundo mobilizaram-se para

desbloquear o aparelho e criar aplicativos compatíveis. A pressão do mercado

mostrou o potencial do produto como plataforma e a necessidade de abri-lo para

aplicações de fora (CUSUMANO, 2008). Em Julho de 2008, a Apple deu mais um

passo na criação do ecossistema do seu smartphone ao lançar a App Store, uma

loja virtual conectada ao iTunes que oferece aplicativos para o iPhone. No seu

lançamento, a App Store disponibilizava para o usuário 552 aplicativos: 135 deles

eram gratuitos, enquanto os 417 restantes estavam na faixa de preço entre US$

0,99 a US$ 69,99, com a grande maioria variando entre US$ 0,99 e US$ 9,991.

2.2. O MERCADO DE APLICATIVOS PARA DISPOSITIVOS MÓVEIS

Assim como o iPhone não foi o primeiro smartphone lançado, a App Store não foi a

primeira loja de aplicativos para celulares. O serviço já era oferecido por

fornecedores de tecnologia como a Qualcomm (com a sua plataforma Brew) e

alguns fabricantes de aparelhos, como a Symbian e a Nokia, desde o começo da

década de 20002. O que a Apple fez foi facilitar a entrada de novos desenvolvedores

e ajudar a evoluir o setor. No período pré-App Store, os desenvolvedores

enfrentavam diversos desafios, tais como: a fragmentação das plataformas, a má

experiência oferecida ao usuário do dispositivo, as limitações da interface Wireless

Application Protocol (WAP), a inexistência de um meio de distribuição eficaz, e os

elevados custos de acesso à banda larga pelos usuários finais. Isso tudo

representava altos custos de entrada e de operação para desenvolvedores de

pequeno e médio porte, o que limitava o ecossistema em torno das plataformas.

1 http://techcrunch.com/2008/07/10/app-store-launches-upgrade-itunes-now/. Acessado em

12/04/2013. 2 http://www.amdocs.com/Whitepapers/General/wp_Amdocs_App_Store.pdf. Acessado em

12/04/2013.

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O modelo oferecido pela Apple tornou possível para os desenvolvedores terceiros

criar facilmente aplicações móveis que proporcionassem uma ótima experiência para

o usuário. O procedimento era bastante simples: os desenvolvedores submetiam

seus aplicativos de forma prática, bastava um contrato de compartilhamento de

receita simples e direto (30% para a Apple / 70% para o desenvolvedor), e podiam

acessar interfaces de programação dos aplicativos para iPhone (APIs). Desta

maneira, a Apple fornecia o canal de distribuição e as ferramentas para que, a

princípio, qualquer empreendedor pudesse tornar-se um fornecedor de aplicativos.

O sucesso da App Store despertou os fabricantes de dispositivos móveis e outros

provedores de serviços da área de Tecnologia da Informação para os benefícios de

abrir suas próprias lojas de aplicativos e investir em uma plataforma aberta para

desenvolvedores, já que isto permitiria oferecer aos seus usuários aplicativos que

poderiam enriquecer sua experiência e criar fidelidade ao aparelho no longo prazo.

Nos anos seguintes ao lançamento do App Store, diversas lojas de aplicativos foram

lançadas, conforme pode ser visto na Figura 2.

Figura 02 – Lojas de aplicativos para smartphones

Fonte: adaptado de Amdocs, 2009.

De acordo com o estudo da Vision Mobile3, o desenvolvimento de mercado de

aplicativos para smartphone apresentou, até o momento, três fases distintas. A

3 Pesquisa com 3.460 desenvolvedores de 95 países de cinco continentes, patrocinada por gigantes

do setor de como AT&T, Mozilla, Nokia, BlackBerry, BrightCove and Telefonica. http://www.visionmobile.com/product/developer-economics-2013-the-tools-report/. Acessado em 12/04/2013.

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primeira, iniciada em 2007 com o lançamento do iPhone e dos primeiros aparelhos

Android, foi uma fase de experimentação, na qual os desenvolvedores testaram as

novas plataformas e os primeiros aplicativos atingiram a grande mídia de tecnologia.

A segunda fase, iniciada em 2009, foi a dos “apps celebridades”, como o fenômeno

Angry Birds, cujo sucesso incentivou a entrada de centenas de milhares de jovens

empresários e desenvolvedores no mercado mobile. O êxito desses

empreendedores também despertou a atenção de Venture Capitals: desde 2009, o

investimento em aplicações móveis tem crescido constantemente e chegou a 15%

do financiamento total em Venture Capitals no primeiro semestre de 2012.

A terceira e atual fase é a do estabelecimento da criação de aplicativos móveis como

uma economia. Neste momento, é a vez de os desenvolvedores atuarem como

empresários, designers e profissionais de marketing, em vez de programadores. A

produção de apps sustentáveis demanda novas ferramentas e habilidades em

termos de planejamento, desenvolvimento, design, alcance, monetização e suporte.

Assim, ao longo dos anos foram surgindo diversos modelos de negócios ligados ao

desenvolvimento de aplicativos para dispositivos móveis. Os modelos podem ser

divididos em dois tipos:

1) Desenvolvimento de aplicativos como produto

Publicidade - O usuário baixa o app sem custos, e enquanto opera o

aplicativo, fica rodando no cabeçalho ou rodapé da tela um banner com

publicidade de produtos ou serviços. O anunciante do banner paga um valor

por cada impressão (CPM4) e a receita é revertida para o dono da “vitrine”

onde o anúncio foi mostrado (no caso, o desenvolvedor do app).

Pagamento por download – Para fazer o download do aplicativo, o usuário

paga uma quantia determinada pelo desenvolvedor do app.

Venda dentro do aplicativo (In-app purchase) – Geralmente games,

gratuitos para fazer download e jogar, mas com lojas que vendem bens

virtuais ou níveis extras.

4 CPM é a abreviatura de "custo por mil impressões". Os anunciantes que veiculam anúncios de CPM

definem o preço desejado por 1000 anúncios exibidos, selecionam os canais específicos em que desejam mostrar seus anúncios e pagam sempre que os anúncios são exibidos. Fonte: http://support.google.com/adsense/bin/answer.py?hl=pt-BR&answer=18196. Acessado em 28/04/2013.

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Assinatura - O acesso ao aplicativo é bloqueado até que o usuário pague

uma inscrição (mensalidade). Pode ser direcionado tanto para consumidores

finais (B2C), quanto para uma organização ou empresa (B2B).

Freemium - Grátis para download, com cobrança para conteúdo adicional.

2) Desenvolvimento de aplicativos como serviço

Neste modelo, os desenvolvedores produzem aplicativos para empresas que os

utilizam como ferramentas de marketing, oferecendo-os gratuitamente a fim de criar

uma maior aproximação com os seus consumidores. A receita da empresa

desenvolvedora é proveniente do pagamento realizado pela empresa ao

desenvolvedor e independe da quantidade de downloads do aplicativo criado.

A análise de mercado da Vision Mobile (2013) mostra que, desde 2012, a

publicidade se tornou o modelo de negócio mais popular (38%), ultrapassando o

pagamento por download (34%). No entanto, a publicidade é o modelo que gera

menor receita para o desenvolvedor, trazendo, em média, cerca de US$ 1.000 por

mês de aplicação, bem menor do que os outros modelos (Anexo 1). O modelo de

assinatura, embora não muito popular (12%), é o que mais atrai receita mensal por

app, com uma média de US$ 2.649. Embora seja mais lucrativo, não é um modelo

que qualquer desenvolvedor possa usar, pois exige investimentos significativos em

conteúdo e engajamento do cliente, para que ele se disponha a pagar regularmente

pelo aplicativo.

Embora o mercado de aplicativos para aparelhos móveis seja considerado

promissor, é reconhecidamente difícil para as empresas desenvolvedoras obter

lucro. De acordo com a Vision Mobile, 67% dos desenvolvedores não consegue

alcançar receita suficiente para sustentar o seu negócio, ou seja, eles estão abaixo

da "linha de pobreza app" de US$ 500 por app por mês (Anexo 2). Em outras

palavras, para a maioria das empresas, o desenvolvimento de aplicativo não é

financeiramente compensador.

Especialistas indicam alguns motivos para a dificuldade de produzir negócios

sustentáveis no mercado de aplicativos móveis. A primeira explicação aponta para a

herança das primeiras fases da internet: o hábito de ter acesso a e-mail, jogos,

notícias e outros conteúdos gratuitos nos sites teria criado um resistência por parte

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dos consumidores em pagar por conteúdo ou ferramentas também nas lojas de

aplicativos5.

Um segundo obstáculo seria a alta concorrência, já que atualmente existem

centenas de milhares de aplicativos disponíveis nas app stores. A princípio, qualquer

pessoa pode desenvolver um aplicativo, basta ter acesso a um computador e

conhecer métodos de programação. Devido à facilidade de lançar aplicativos nas

lojas, o mercado apresenta baixa barreira de entrada (SCHVARTSMAN, 2010). As

app stores estariam saturadas, o que tornaria mais difícil para um novo entrante se

destacar em meio aos aplicativos já existentes.

O terceiro motivo seria causado pelo “efeito do retorno positivo”, mencionado

anteriormente. Os usuários tendem a adotar os apps mais instalados, aqueles que

aparecem no topo das listas de cada categoria (jogos, business, lifestyle, etc) nas

lojas de aplicativos. Assim players que estão no mercado há mais tempo levam

vantagem em relação a novos entrantes.

Outro fator que reduz a receita dos desenvolvedores seria a “infidelidade” dos

usuários com os aplicativos: mais de 50% dos apps perdem 76% de seus

consumidores depois dos primeiros três meses de uso6. Ou seja, mesmo que o

produto seja escolhido entre a enorme variedade de opções da App Store ou da Play

Store, por exemplo, qualquer fluxo de receita proveniente de anúncios ou de

extensões freemium diminuiria rapidamente.

5 http://www.valor.com.br/empresas/2805684/dificil-tarefa-de-lucrar-com-

aplicativos?utm_source=newsletter_manha&utm_medium=28082012&utm_term=dificil+tarefa+de+lucrar+com+aplicativos&utm_campaign=informativo&NewsNid=2805024. Acessado em 11/04/2013.

6 http://www.entrepreneur.com/article/224013. Acessado em 11/04/2013.

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3. REVISÃO DE LITERATURA

Dentro do campo de estudos sobre o fenômeno da internacionalização das

empresas identificam-se duas grandes correntes: a econômica, que analisa o

fenômeno a partir das concepções teóricas dos custos de transação, internalização,

localização e vantagem monopolista, e a comportamental, que entende a

internacionalização como um processo evolutivo de etapas incrementais a partir da

aquisição de experiência e acumulação de conhecimento em mercados

internacionais. Nesta seção, apresentaremos as principais vertentes de cada

corrente, dando ênfase às provenientes da escola comportamental, por acreditarmos

que estão mais em linha com o presente estudo.

3.1. CORRENTE ECONÔMICA

Neste trabalho, apresentaremos os dois principais expoentes da abordagem

econômica: as teorias de internalização e da empresa multinacional, de Buckley,

Casson e Rugman, e Paradigma Eclético da Produção Internacional, de Dunning. A

apresentação será breve, pois essas teorias têm como foco, essencialmente, o

processos de decisão de investimento no exterior sob a ótica de grandes empresas

multinacionais, enquanto nosso foco de estudo está na internacionalização de

empresas de menor porte.

3.1.1. TEORIA DA INTERNALIZAÇÃO

A teoria da Internalização foi proposta por Buckley e Casson (1976) como uma

tentativa de explicar o surgimento da empresa multinacional após a Segunda Guerra

Mundial. A abordagem racional dos autores baseia-se na eficiência da organização

das transações entre as unidades produtivas de tais empresas. De acordo com a

premissa central desta teoria, devido às várias imperfeições de mercado

internacional – como a falta de mercados futuros, as assimetrias de informação entre

as partes, as barreiras comerciais, a ineficácia do sistema de patentes - as empresas

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buscam maximizar seu lucro através da internalização de mercados intermediários –

normalmente de ativos intangíveis, como tecnologia, métodos de produção, marcas,

etc) – além de suas fronteiras nacionais (RUGMAN, VERBEKE, NGUYE, 2011).

Assim, a existência da empresa multinacional não seria causada por vantagens

monopolistas que conduzem a barreiras à entrada e à exploração ao consumidor,

mas por suas propriedades de eficiência, ou seja, sua capacidade de reduzir custos

de transação, quando a substituição de uma operação ineficiente ou não viável no

mercado por uma transação interna, no interior da firma, especialmente no contexto

de transferência intermediária de outputs (na maior parte baseada em

conhecimento) para além das fronteiras (RUGMAN 1980a, b; RUGMAN et al 1985).

De acordo com Buckley e Casson (1976), a internalização seria feita até o ponto em

que os benefícios se igualassem aos custos. O principal fator determinante da

estratégia de localização de uma firma integrada verticalmente seria a inter-relação

de vantagens comparativas, barreiras ao comércio e incentivos regionais para

internalizar. A firma seria multinacional sempre que esses fatores tornassem ótimo

colocar estágios diferentes da produção em países diferentes.

Uma dos ativos mais valiosos internalizados pela empresa multinacional, a

informação seria explorada em todos os mercados, como forma de recuperar os

investimentos iniciais em pesquisa e geração de conhecimento. Para proteger seu

monopólio sobre este ativo, a MNE preferiria a produção por suas subsidiárias ao

licenciamento ou joint ventures, já que o mercado estrangeiro, conforme enfatizado

pelos autores, não é segurado por leis de patente eficientes ou outros mecanismos

protetores (RUGMAN, VERBEKE, NGUYE, 2011).

Rugman (1981) defende que a internalização parte de uma premissa inversa a das

teorias anteriores sobre comércio internacional, que se baseavam no modelo de livre

comércio, em que se assumia um mercado internacional irreal, no qual não havia

imperfeições, como custos de transporte, diferenças de gostos, retornos de escala,

etc. A partir destas suposições, a vantagem no comércio internacional estaria no

nível país e o bem-estar global seria maximizado se as nações produzissem de

acordo com suas vantagens comparativas relativas.

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Assim, de acordo com Rugman (1980), diferenças entre as vantagens de cada país

(Country Specific Advantage) trariam o desalinhamento do preço internacional em

relação ao preço doméstico induzindo as empresas ao comércio internacional. Ao

suplantar as imperfeições do mercado através da internalização do mercado, a

multinacional se torna um substituto para o comércio livre, de acordo com a teoria

econômica.

Mtigwe (2006) critica a teoria da internalização por simplificar demasiadamente o

processo de decisão de investimento internacional ao colocar a redução de custos

como a principal razão para a internacionalização. Outro argumento é que a teoria

ignora o mercado do produto final, que não pode ser internalizado pela firma, ao

focar nos mercados intermediários dos processos produtivos.

3.1.2. PARADIGMA ECLÉTICO

Em seus trabalhos, Dunning (1977, 1993) sintetiza e combina as principais

abordagens econômicas até então existentes e afirma que o custo econômico não é

o único fator de influência na internacionalização. De acordo com esta teoria, a

empresa só investe diretamente em um mercado externo quando reunir,

simultaneamente, três conjuntos distintos de vantagens, as “OLI Advantages”:

Vantagens de Propriedade (Ownership Advantages) – Tratam das

competências desenvolvidas dentro da organização que lhe proporcionam um

melhor posicionamento no mercado externo. Em geral, correspondem a bens

intangíveis, como recursos humanos, tecnologia, informação, marcas, etc.

Vantagens de Localização (Location Advantages) – Dizem respeito a

condições oferecidas por determinados países ou regiões que não podem ser

transferidas para outras localidades através do comércio e que diminuem os

custos de produção e distribuição dos produtos. São fatores como infra-

estrutura, custos de mão-de-obra, impostos e tarifas domésticas.

Vantagens de Internalização (Internalization Advantages) – Relacionada à

capacidade da firma de controlar suas diversas redes de ativos financeiros,

comerciais, produtivos, etc. Quanto maior a facilidade da firma em internalizar

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um mercado que esteja em risco ou com incerteza, maior será a sua vantagem

em relação aos seus concorrentes.

A principal motivação para a empresa internalizar um mercado poderia estar

associada à existência percebida de riscos e de incerteza; à obtenção de economias

de escala; ou ao fato de uma transação de bens ou serviços poder produzir custos e

benefícios externos àquela transação, que não se refletiriam nos termos negociados

pelas partes envolvidas. Dunning (1993) mencionou outros fatores de estímulo à

internalização, como: a necessidade de o vendedor proteger a qualidade do produto

final, evitar ou usufruir as políticas governamentais (comercial, tributária e de preços)

e controlar cadeias de distribuição no mercado de destino.

Para Mtigwe (2006), a principal contribuição do Paradigma Eclético foi aumentar a

consciência de que uma empresa precisa construir e manter vantagens competitivas

para ser bem sucedida em mercados internacionais. Entretanto, o autor apontou

limitações no poder preditivo do modelo e em sua ênfase no custo geral de se

conduzir negócios internacionais, ênfase esta atribuída à premissa de que tais

negócios seriam exclusivos de grandes empresas multinacionais, capazes de

possuir vantagens de propriedade significativas. Entretanto, o mundo já assiste a um

grande crescimento no volume de negócios internacionais conduzidos por empresas

pequenas que podem ou não possuir as vantagens de propriedade e que “não

recebem séria consideração no Paradigma Eclético”.

3.2. CORRENTE COMPORTAMENTAL

A abordagem das teorias comportamentais procura estudar o processo pelo qual

empresas domésticas iniciam seu processo de internacionalização. Entre as teorias

comportamentais, apresentaremos a Escola de Uppsala, a teoria de networks e a

teoria do Empreendedorismo Internacional. Na opinião dos autores dessa linha,

diferentemente da corrente econômica, as teorias comportamentais tendem a

aplicar-se melhor a empresas menores e no início de seu processo de

internacionalização.

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3.2.1. ESCOLA DE UPPSALA

A partir de pesquisas sobre empresas suecas, pesquisadores da universidade de

Uppsala construíram um modelo geral para internacionalização de empresas.

Johanson e Vahlne (1977) propuseram que o processo ocorreria em etapas e que

cada estágio demandaria e proporcionaria um determinado nível de conhecimento e

comprometimento de recursos. A forma incremental ocorreria tanto por meio de uma

sequência de modos de operação, como por meio de uma sequência na seleção de

mercados estrangeiros a serem servidos. A sequência de modos de operação

abrangeria as atividades da exportação à instalação de subsidiárias em um mesmo

mercado. A sequência na seleção de mercados abrangeria a entrada sucessiva em

mercados mais distantes psiquicamente, à medida que a firma ganha experiência de

operações estrangeiras (HILAL e HEMAIS, 2003).

Segundo Johanson e Vahlne (1977), existiriam quatro etapas no processo de

internacionalização de uma empresa:

1. Nenhuma atividade no exterior;

2. Exportação por representantes ou agentes independentes;

3. Estabelecimento de uma subsidiária de vendas no mercado estrangeiro;

4. Estabelecimento de uma subsidiária produtiva no mercado estrangeiro.

Todos esses estágios são sucessivos e representariam um comprometimento cada

vez maior de recursos. No primeiro estágio, não haveria um canal regular para o

mercado no exterior, havendo, assim, um mínimo comprometimento de recursos. No

segundo, já há um canal de vendas para este mercado e, consequentemente, um

fluxo de informações, gerando conhecimento sobre ele, e também um maior

envolvimento da empresa. No terceiro, há um maior controle da firma sobre suas

atividades, assim como um maior aprendizado experiencial sobre aquele mercado

específico no exterior. O quarto estágio representa o maior nível de envolvimento da

empresa com o mercado estrangeiro e uma maior aquisição de conhecimento sobre

ele.

Esse caminho gradual e lento das empresas rumo ao mercado internacional seria

fruto das incertezas e imperfeições das informações recebidas sobre o novo

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mercado (HILAL e HEMAIS, 2003). A principal explicação para essas incertezas

estaria no conceito de distância psíquica entre o país de origem da empresa e o

mercado-alvo estrangeiro. Trata-se da soma de diversos fatores comportamentais

como diferenças de língua, cultura, modos de fazer negócio etc, que criam

obstáculos para o estabelecimento de uma empresa em outros países (Johanson e

Vahlne, 1977). De acordo com as premissas do modelo proposto pelos autores,

dada a natureza tácita do conhecimento, ele não poderia ser separado do indivíduo,

tornando difícil a sua transmissão através da empresa. Desta maneira, ele deveria

ser adquirido por meio da experiência, obtida com a própria atividade no exterior, o

que demandaria tempo.

Os conceitos de conhecimento de mercado e comprometimento de mercado seriam

essenciais para a compreensão do processo de internacionalização. Desta forma,

Johanson e Vahlne (1977) propõem um modelo dinâmico para explicar como estes

conceitos se relacionam, dividindo-os em dois tipos de aspectos: de estado e de

mudança. Os aspectos de estado são o “conhecimento sobre o mercado” e o

“comprometimento com o mercado”, enquanto os aspectos de mudança são as

decisões sobre o “comprometimento com o mercado” e as “atividades atualmente

realizadas no mercado”. O comprometimento com o mercado é composto por dois

fatores: a quantidade de recursos utilizada nas operações no mercado estrangeiro e

o grau de comprometimento dos mesmos, ou seja, a dificuldade de encontrar um

uso alternativo para esses recursos. As atividades realizadas pela empresa são a

principal fonte de aquisição de conhecimento, essencial para a continuidade do

processo de internacionalização.

No modelo proposto pelos autores, há uma natureza cíclica entre os eventos, com a

saída de um representando a entrada em outro, conforme mostra a figura (Fig. 6). O

conhecimento e comprometimento com o mercado influenciam as decisões de

comprometimento com o mercado e a forma como as atividades são realizadas. Por

sua vez, um maior comprometimento com o mercado e a experiência trazida pelas

atividades atuais proporcionam um aprendizado experiencial, gerando mais

conhecimento e comprometimento com o mercado.

Estudos posteriores (NORDSTRÖM e VAHLNE, 1985; NORDSTRÖM, 1991)

assinalam que introduziram no modelo a importância do tamanho do mercado e de

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outros determinantes econômicos no processo de internacionalização da firma; elas

constataram que o modelo não deve ser aplicado a firmas e indústrias que operam

em mercados altamente internacionalizados. Nesses casos, as forças competitivas e

outros fatores superariam a distância psíquica como a principal justificativa para

esse processo de internacionalização. Este argumento é consistente com o

pensamento de Johanson e Mattson (1988), que afirmam ser o modelo de

internacionalização menos eficiente quando existe uma situação na qual mercado e

firma são altamente internacionalizados.

De acordo como Hilal e Hemais (2003), a nova linha de pensamento causou impacto

nos estudos dos Negócios Internacionais por promover uma análise do processo de

internacionalização das empresas sob a perspectiva da Teoria do Comportamento

Organizacional, não apenas sob a ótica puramente econômica.

Figura 3 – Modelo de Internacionalização de Uppsala

Desta forma, o processo básico de internacionalização da firma teria o seguinte

padrão: investimento inicial em um ou poucos países vizinhos, em vez de um

investimento simultâneo em diversos mercados internacionais; e investimento

gradual, cauteloso e sequencial no(s) mercado(s) escolhido(s), prosseguindo

concomitantemente com o aprendizado sobre o(s) mesmo(s). Conforme as

empresas aprendem sobre os mercados em que estão atuando, a percepção de

risco diminui, e elas adquirem confiança para investir em mercados com distância

psíquica maior, seguindo os estágios mencionados anteriormente.

Críticas

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Pedersen et al (2003) fazem uma crítica ao modelo de Uppsala por considerá-lo

determinístico, ressaltando a ausência da tomada de decisão nos artigos de 1977 e

1990, demonstrada em passagens como “o processo de internacionalização, uma

vez iniciado, tende a prosseguir, independentemente de decisões estratégicas

tomadas nessa direção ou não” (JOHANSON e VAHLNE, 1990). Estudos mais

recentes indicam que o julgamento gerencial tem um papel importante no processo

de internacionalização em atividades decisivas, como na aquisição e transferência

de conhecimento. Outra observação é que não há evidência empírica de que os

tomadores de decisão são avessos ao risco, conforme descrito no modelo original.

Por último, ao fazerem distinção entre o conhecimento objetivo e experiencial,

Johanson e Vahlne deram pouca atenção à possibilidade de transformar o primeiro

tipo de conhecimento no segundo, o que também depende do critério dos gestores.

Ao realizar uma revisão crítica do modelo original de 1977, Forsgren (2002)

argumenta que a ênfase dada por Johanson e Vahlne ao aprendizado experiencial,

negligencia outras formas de obtenção de conhecimento pela empresa, como a

aquisição de outras empresas, a imitação e a pesquisa, que também podem acelerar

o processo de internacionalização.

No artigo seminal do campo de estudo do Empreendedorismo Internacional, que

será analisado mais à frente, Oviatt e McDougall (1994) concluem que o processo

em estágios lentos proposto pelo modelo de Uppsala não tem validade para o

fenômeno das empresas que tem atividades internacionais já no início de sua

existência.

Respostas às críticas

Trinta e dois anos após a publicação do modelo original, Johanson e Vahlne (2009)

respondem às críticas recebidas durante esse período. Primeiramente, os autores

concordam que estudos demonstraram que o aprendizado é mais complexo do que

o apresentado por eles trinta anos antes, por isso, outros tipos de aprendizado

teriam impacto no processo de internacionalização. No entanto, defendem que o

objetivo da construção de uma teoria não é replicar uma realidade complexa, mas

sim explicar seus elementos centrais. Os estudos subsequentes demonstraram que

o conhecimento experiencial é, de fato, um elemento central na internacionalização

da firma.

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Quanto às críticas em relação a não consideração de situações, fases, firmas ou

mercados externos específicos, os autores respondem dizendo que “obviamente um

modelo que tenha aplicabilidade geral não pode considerar todos os tipos de

conhecimento e aprendizado que possam ocasionalmente ser relevantes”

(JOHANSON e VAHLNE, 2009).

Johanson e Vahlne (2009) discordam das críticas de Pedersen et al (2003) de que o

modelo seria determinístico. Para eles, a relação causal entre duas variáveis não

significa que uma determina a outra, apenas que uma influencia a outra,

normalmente em combinação com outras variáveis. Eles concordam que o critério

gerencial é importante, embora acreditem que a dependência histórica (path

dependence) e a busca estimulada por um problema (problemistic search) tendem a

fazer os gestores preferirem certas alternativas específicas a outras. Eles também

acreditam que o modelo pode facilmente incorporar o arbítrio gerencial e as

intenções estratégicas.

Para responder às críticas à validade de seu modelo feitas principalmente pela teoria

do Empreendedorismo Internacional, Johanson e Vahlne (2009) argumentam,

primeiramente, que a maior parte das mudanças ocorridas no comportamento das

empresas deve-se mais às alterações no ambiente internacional do que as

mudanças nos mecanismos de internacionalização. Ao revisar os artigos publicados

nos primeiros quatro anos dos anos 2000, os autores concluíram que a maior parte

das born globals são, na realidade, born regionals, com atividades internacionais

que não estão espalhadas pelo globo de nenhuma maneira significativa.

Eles concordam com Oviatt e McDougall (1994) em um ponto: novos

empreendimentos internacionais e born regionals são fenômenos antigos. Como tais

firmas são frequentemente fundadas por indivíduos com experiência internacional

prévia e têm relações estabelecidas com empresas estrangeiras, não há conflito

com o modelo de 1977. O que ocorre é que, na realidade, o conhecimento e o

relacionamento estavam em vigor antes da fundação formal da empresa. Outro

ponto de defesa é que em nenhum momento o modelo original indica que a

expansão não pode ser rápida. Na verdade, ela pode desde que haja tempo

suficiente para o aprendizado e a construção do relacionamento.

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3.2.2. TEORIA DAS REDES

O estudo do papel das redes de relacionamentos (networks) é considerado uma

evolução natural do pensamento da Escola Nórdica (HILAL e HEMAIS, 2003). Os

estudiosos da escola procuram analisar os Negócios Internacionais sob a

perspectiva das networks industriais, focalizando os relacionamentos existentes

entre firmas e mercados industriais. Johanson e Mattson (1988) buscaram fazer um

paralelo entre os processos de internacionalização de empresas e a existência de

redes de negócios e contatos dentro das diversas indústrias, estabelecidas muitas

vezes em cadeias de suprimento ou para criação de valor para os consumidores.

Em vez de considerarem que o processo de internacionalização ocorre entre uma

empresa e um mercado de certo modo “anônimo”, os autores deram ênfase às

relações entre as empresas de uma rede de negócios, que envolvem dependência

de recursos externos, tempo e esforços para construção de parcerias e

desenvolvimento de relações de conhecimento e confiança mútua. No longo prazo,

as empresas se tornariam interconectadas por diferentes tipos de laços (MADSEN &

SERVAIS, 1997).

A perspectiva considera que os próprios mercados devem ser encarados como

redes. Quando associada à internacionalização, dela decorre que “a

internacionalização da empresa significa que a empresa estabelece e desenvolve

posições em relação a contrapartes em redes estrangeiras” (JOHANSON e

MATTSSON, 1988). A premissa comportamental é a mesma do Modelo de Uppsala.

Segundo esta perspectiva, a internacionalização depende tanto da própria empresa

quanto do mercado (network). Atuar em conjunto com os demais integrantes de uma

rede é um modo efetivo de superar a escassez de recursos e, simultaneamente,

promover o aprendizado entre os participantes (GABRIELSSON & KIRPALANI,

2004).

A Figura 4 apresenta um esquema de possíveis situações de internacionalização

segundo a perspectiva de Networks.

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Figura 4: Matriz de Internacionalização do Mercado e da Firma de Johanson e

Mattson

As empresas poderiam ser classificadas de acordo com o esquema proposto em

quatro tipologias:

“Pioneira” - seguiria o Modelo De Uppsala. O grau de internacionalização do

mercado é baixo e existiriam poucas relações entre empresas de diferentes

países. Possivelmente, o comportamento dos consumidores é muito diferente

nos mercados estrangeiros, o que acarreta a percepção maior de incertezas

para as empresas querendo se internacionalizar. Assim, o aprendizado

experiencial torna-se crítico, o que implica no padrão de internacionalização

lenta e incremental (MADSEN & SERVAIS, 1997);

“Solitária Internacional” - teria o desafio de penetrar em mercados pouco

internacionalizados. Esta seria uma situação mais típica das multinacionais

explorando mercados nacionais ainda “fechados”;

“Entrante Tardia” - seria “puxada” por participantes da sua network, por

exemplo, consumidores. Aqui a situação é diferente, pois as redes entre

fronteiras já estariam bem estabelecidas.

“Internacional entre outras” - se concentraria em integrar networks de

diferentes origens. Johanson e Mattson (1988) apontaram que quando os

mercados (indústrias) já apresentam alto grau de internacionalização, os

processos de internacionalização das empresas tendem a ser bem mais

acelerados. Madsen e Servais (1997) complementaram que, nestes casos, os

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processos seriam também muito mais individualizados e específicos de cada

situação possível para uma empresa vis-à-vis seu mercado.

Johanson e Vahlne (1990) reconheceram que os relacionamentos são conectados

por redes que se desenvolvem como consequência da interação entre as firmas.

Sob esta perspectiva, indústrias podem ser consideradas como redes de

relacionamentos de negócios. Existiriam “custos de mudança” de um fornecedor

para outro, que levariam algumas empresas a manterem seus fornecedores

originais, promovendo assim a internacionalização dos mesmos.

Os autores nórdicos introduziram as networks dentro da perspectiva do Modelo de

Uppsala, ao descreverem como uma firma estaria primeiramente conectada a uma

rede basicamente doméstica e expandiria esse relacionamento para outros países.

Tais redes de relacionamento teriam importância variável de acordo com o país,

assim como relacionamentos pessoais e redes seriam especialmente importantes

em indústrias turbulentas ou de alta tecnologia. Desse modo, o processo de

internacionalização ficaria claramente ligado à perspectiva de redes nos mercados.

A internacionalização seria principalmente uma questão de estabelecer

relacionamentos em mercados estrangeiros.

Em um trabalho posterior, Johanson e Vahlne (2003) definiram redes de negócios

como conjuntos de relacionamentos negociais interconectados, nos quais cada

relação de troca ocorre entre empresas concebidas como participantes coletivos.

Relacionamentos duradouros e próximos entre empresas fazendo negócios entre si

seriam considerados como de importância crítica para as empresas, pois

demandariam tempo e recursos para serem construídos e mantidos. Todas as

empresas estariam engajadas num conjunto limitado de relacionamentos comerciais

com empresas consumidoras e fornecedoras importantes, o que tornaria toda

empresa como parte de uma rede de negócios sem fronteiras.

Coviello e Munro (1995) reforçaram a ideia de que a teoria de networks podia

oferecer uma nova perspectiva para os processos de internacionalização das

empresas, particularmente para organizações menores, cujos desenvolvimentos

tendiam a ser dependentes dos relacionamentos com outros. Para os autores, os

mercados podiam ser descritos como um sistema de relacionamentos entre diversos

participantes, incluindo consumidores, fornecedores, competidores e agências de

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apoio públicas e privadas. Dessa forma, a ação estratégica raramente estaria

limitada a uma única empresa, e a natureza dos relacionamentos estabelecidos com

os outros no mercado não só influenciaria como frequentemente ditaria as opções

estratégicas futuras.

Neste trabalho, os autores buscaram integrar as teorias de internacionalização em

estágios e de redes, concluindo que a segunda perspectiva apresenta um "elemento

mais multilateral" para o processo, em vez da unilateralidade encontrada nos

modelos tradicionais de internacionalização incremental. Para Coviello e Munro

(1997), a teoria em estágios, possui uma visão dos condutores internos da

internacionalização das empresas, ao propor que estas expandem seu alcance de

mercado e métodos de entrada conforme seus gerentes ganham confiança e

aprendem a partir da experiência pessoal. Já a perspectiva das redes mostra os

condutores externos, demonstrando que as atividades internacionais de

desenvolvimento de mercado surgem e são formadas por uma rede externa de

relações formais e informais.

Em suma, a abordagem das networks enxerga os mercados como redes de relações

entre empresas. Sua teoria fundamenta-se na ideia de que empresas são

dependentes de recursos controlados por outras empresas. Assim, a força motriz

para a internacionalização seria o desejo de se utilizar recursos (disponíveis em

networks internacionais) de forma a se alcançar os objetivos da empresa. Vale

ressaltar que as empresas encontram-se ligadas por relações com outras empresas

e a maioria das trocas se basearia em relacionamentos previamente estabelecidos.

O posicionamento de uma empresa dentro de uma rede seria um ativo da empresa e

permitiria a essa empresa o acesso aos recursos desejados.

Dinâmica das Redes no Processo de Internacionalização

Coviello (2006) discute a necessidade de estudar quais são as dinâmicas de rede

dos novos empreendimentos iniciais em termos de estrutura e padrões interacionais

nos estágios iniciais de seu ciclo de vida, definidos por ela como concepção,

comercialização e crescimento, inclusive de internacionalização. O estudo é

particularmente interessante para o presente trabalho por usar novos

empreendimentos na área de tecnologia.

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A autora conclui o estudo com sete proposições acerca da dinâmica das redes na

internacionalização dos novos empreendimentos internacionais. Com relação à

estrutura da rede, conforme o novo empreendimento evolui da concepção à

internacionalização e ao crescimento, haverá um aumento do seu capital social,

dado que:

1. Haverá um aumento da extensão e uma diminuição na densidade da

rede.

2. O tamanho efetivo da rede irá aumentar e as restrições irão diminuir.

3. Manterá um alto nível de proximidade com outros atores, mas tornar-

se-á cada vez mais central na medida em que atua como uma ponte entre os atores.

Com relação à interação dos atores, nos três estágios iniciais da evolução do novo

empreendimento:

4. Suas redes serão tanto resultado de experiências com decisões

passadas (path dependence), quanto de ocorrências inesperadas, e

intencionalmente projetadas.

5. Experimentará poucos efeitos resultantes de sua reputação, embora se

espere que estes aumentem conforme a empresa se desenvolva e ganhe

identidade.

6. Suas interações serão dominadas por laços econômicos, em vez de

laços sociais. Neste caso, a autora ressalva que o resultado pode ser afetado pelo

tipo de empreendimento objeto do estudo, que não eram empresas familiares, mas,

em vez disso, foram concebidos por colegas de trabalho com base em experiências

e contatos de seus negócios.

7. Sua rede será tanto instável quanto idiossincrática, com a duração do

laço sendo uma função da intenção e / ou contribuição de cada laço. Em vez de

desenvolver e manter uma rede de laços ao longo do tempo, os resultados do

estudo mostram que as relações muitas vezes acabam no curto ou médio prazo.

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Revisão do Modelo de Uppsala

Em função dessas novas constatações, Johanson e Vahlne (2009) propuseram uma

revisão do modelo de Uppsala à luz das mudanças ocorridas no meio econômico e

dos novos estudos sobre a área desenvolvidos ao longo dos últimos anos. Assim

como o modelo proposto em 1977, o novo modelo consiste em dois tipos de

variáveis, de estado e de mudança, que são relevantes para ambos os lados da

relação (figura 5). Em vez de “conhecimento de mercado”, a primeira variável de

estado agora é “reconhecimento de oportunidades”. Ao fazer essa mudança, os

autores tencionam indicar que as oportunidades, vistas como uma parte do

conhecimento, são o elemento mais importante que impulsiona o processo de

internacionalização. A segunda variável de estado tornou-se a “posição na rede”, em

vez de “comprometimento de mercado”. Essa alteração reconhece que os

relacionamentos na rede são caracterizados por níveis específicos de conhecimento,

confiança e compromisso que podem ser repartidos de forma desigual entre as

partes envolvidas, ocasionando uma diferença no sucesso de seu processo de

internacionalização.

As variáveis de mudança também sofreram alterações. As “decisões de

comprometimento” passaram a ser “decisões de comprometimento de

relacionamento”, a fim de esclarecer que o compromisso é com os relacionamentos

ou com redes de relacionamentos. Nesta variável, a empresa decide aumentar ou

diminuir o nível de compromisso com uma ou várias relações de sua rede. E, por fim,

para deixar mais explícito o resultado das atividades atuais, o termo foi trocado por

“criação de conhecimento e construção de confiança”. A velocidade, intensidade e

eficiência dos processos de aprendizagem, criação do conhecimento e construção

de confiança dependem da quantidade de conhecimento, confiança e

comprometimento existente, e de oportunidades atraentes disponíveis.

Assim, de acordo com os autores, neste novo modelo, a internacionalização das

empresas depende de suas redes de relacionamentos. Elas irão buscar

oportunidades no exterior se parceiros importantes, dentro ou fora do país de

origem, tiverem relacionamentos fortes nos mercados internacionais. Isto porque

este tipo de expansão tem uma probabilidade maior de encontrar oportunidades de

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sucesso e porque demonstra o comprometimento entre os parceiros, fortalecendo a

relação.

Figura 5 - Modelo do processo de internacionalização da rede de negócios

Na nova proposta, Johanson e Vahlne (2009) defendem que dois aspectos do

processo de internacionalização deveriam ser examinados. O primeiro deve-se à

organização dos mercados em redes de relacionamento, nas quais as empresas

estão, em larga medida, ligadas de diversas e complexas maneiras. Isto resulta na

necessidade de estar presente (insidership) nas redes relevantes para o sucesso do

processo de internacionalização, ao mesmo tempo em que traz o peso de estar de

fora (liability of outsidership), e consequente falta de conhecimento do mercado, para

quem não ainda não se integrou a essas redes. O segundo argumento é de que os

relacionamentos oferecem potencial para o aprendizado e para a construção de

confiança e compromisso, pré-condições para o processo de internacionalização.

Dada a nova visão de mercado como rede de negócios, os autores adicionaram ao

seu modelo o conceito de “conhecimento específico de relacionamento” (relation-

especific knowledge), que se desenvolve pela relação entre dois parceiros e inclui o

conhecimento recíproco de seus recursos heterogêneos e capacidades. A interação

contribui para um conhecimento geral sobre o desenvolvimento do relacionamento

internacional e também ajuda os parceiros a aprender sobre os caminhos no quais

eles podem desenvolver diferentes relações em situações alternativas. Além disso, o

desenvolvimento de conhecimento é diferente do que o suposto no modelo original

de 1977. Nas redes de negócios, o desenvolvimento de conhecimento não é apenas

uma questão de aprender um conhecimento existente a partir de outros atores. A

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interação entre o conhecimento de compradores e vendedores também pode

resultar em um novo conhecimento.

O processo de internacionalização poderia continuar a acontecer de mercado para

mercado, conforme concebido no modelo original, dependendo das ações dos

parceiros da empresa. Caso ela não possuísse parceiros com posições importantes

na rede, poderia ir para mercados onde possa ser mais fácil conectar-se a uma

empresa que já tenha essa posição no mercado-alvo. Ela poderia, por exemplo,

ligar-se a um intermediário, como um distribuidor. A distância psíquica continuaria a

ter um papel importante, pois determinaria a facilidade de criação e desenvolvimento

de relacionamentos, que seria uma das condições necessárias para a identificação e

exploração de oportunidades.

Networks e a Internacionalização de Pequenas Empresas de Software - Framework

Através de uma pesquisa com pequenas companhias neozelandesas

desenvolvedoras de software, Coviello e Munro (1997) analisam a influência das

relações de rede no processo de internacionalização de empresas de pequeno porte

da indústria de software, caracterizada como de alta tecnologia, baseada em

conhecimento e intensiva em serviços.

Os resultados mostram que o processo de internacionalização de pequenas

empresas de software reflete uma versão acelerada da perspectiva de modelo

incremental, e é impulsionado, facilitado, e inibido por um conjunto de relações de

rede formais e informais. Estes relacionamentos impactam a seleção e o modo de

entrada no mercado externo, bem como desenvolvimento de produtos e atividades

de diversificação de mercado. Neste último caso, os parceiros internacionais podem

tanto facilitar quanto inibir o desenvolvimento de produtos e atividades de

diversificação de mercado.

Segundo o estudo, o processo de internacionalização de pequenas empresas de

software:

É rápido, com as empresas estabelecendo-se internacionais em menos de

três anos após seu início.

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Envolve apenas três "etapas", que começam com a intenção de entrar no

mercado externo e excluem uma avaliação ou experimentação mais

aprofundadas;

Utiliza simultaneamente múltiplos e diferentes modos de entrada;

mecanismos que fazem parte da rede internacional da grande empresa a que

estão associadas.

Os autores propõem um framework (Anexo 3) que apresenta as etapas de

internacionalização das empresas de pequeno porte na indústria de software, seus

relacionamentos de rede, e suas características ao longo do tempo. A seguir,

descreve-se o padrão de desenvolvimento de internacionalização apresentado no

framework.

1. A pequena empresa inicia operações com a intenção de internacionalizar.

2. No primeiro ano de vida da pequena empresa, é desenvolvida uma relação

inicial com uma grande empresa, muitas vezes de forma oportunista ou

reativa, e, geralmente, para fins de desenvolvimento de produtos. Esta

relação também fornece um modo de entrada em um mercado psiquicamente

próximo.

3. Ao longo do tempo, é desenvolvida uma rede de contatos formais e informais,

geralmente facilitada pela relação inicial da empresa pequena. Esta rede

fornece conhecimento de mercado e acesso potencial / modo de entrada para

os mercados ao redor do mundo. O desenvolvimento do mercado

internacional e crescimento de vendas torna-se mais fácil, com a entrada da

pequena empresa em pelo menos dois mercados estrangeiros em menos de

três anos;

4. Este crescimento proporciona uma maior visibilidade para a pequena

empresa no mercado internacional, bem como um aumento das capacidades

de recursos financeiros e humanos. A experiência gerencial em mercados

internacionais continua a aumentar, levando a um maior conhecimento e

confiança no mercado e decisões de relacionamento;

5. Com a maior experiência em relacionamentos na rede, combinada com um

forte desempenho no mercado, a pequena empresa passa a desejar maior

autonomia e controle sobre suas atividades de desenvolvimento de mercado.

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Neste ponto, um dos dois padrões pode surgir:

1. A pequena empresa começa a: diversificar de suas áreas de produtos básicos;

de forma proativa, buscar novos mercados; e / ou estabelecer as suas próprias

vendas e escritórios de comercialização no exterior (todos independentes de

parceiros de rede existentes);

Ou

2. O principal parceiro, a grande empresa, continua a influenciar o processo de

internacionalização da empresa menor, pois tem controle suficiente (financeiro,

por exemplo) sobre esta, limitando suas oportunidades de diversificação de

produto e mercado.

3.2.3. EMPREENDEDORISMO INTERNACIONAL

O campo de estudos de Empreendedorismo Internacional surgiu devido à

incapacidade das teorias tradicionais para explicar o fenômeno do novo

empreendimento internacional (international new venture), definido como “uma

organização empresarial que, desde o início, procura obter vantagem competitiva

significativa do uso dos recursos e da venda de produtos em vários países” (OVIATT

e MCDOUGALL, 1994). Anos mais tarde, após a revisão de artigos submetidos

sobre o tema, os autores conceituam o Empreendedorismo Internacional como uma

“combinação de inovação, pró-atividade, e comportamento de risco que ultrapassa

as fronteiras nacionais e se destina a criar valor nas organizações” (OVIATT e

MCDOUGALL, 2000). O fenômeno, embora apresente casos tão antigos como as

Companhias das Índias ou a Ford, não teria sido estudado com mais interesse

anteriormente, pois o foco era voltado para empresas grandes e estabelecidas.

O Empreendedorismo Internacional parte da premissa de que as inovações

tecnológicas nas telecomunicações e nos transportes e o aumento do conhecimento

do mercado internacional pelos gestores permitem que as empresas jovens, com

recursos limitados, também possam aproveitar oportunidades em múltiplos países.

Essas empresas geralmente levantam capital, produzem e vendem produtos, em

geral de alta tecnologia, em diferentes continentes, concorrendo com grandes

empresas que já se estabeleceram globalmente.

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A principal característica definidora das new ventures estudadas é a idade das

empresas quando elas se tornam internacionais, não o seu tamanho. Enquanto as

outras organizações evoluem gradualmente de empresas nacionais para empresas

multinacionais, esses novos empreendimentos já iniciam suas atividades com uma

estratégia proativa internacional (OVIATT e MCDOUGALL, 1994). A premissa central

dos estudiosos da área é que a internacionalização não é o resultado de uma

decisão estratégica alcançada em um ponto indeterminado no tempo, mas sim uma

condição necessária para a própria existência do empreendimento (COOMBS et al.,

2009).

O primeiro framework foi proposto por Oviatt e McDougall, em 1994, buscando

integrar as teorias de Negócios Internacionais, Empreendedorismo e Estratégia.

Conforme pode ser visto na Figura 6, o modelo proposto pelos autores inicia nas

transações econômicas. À medida que o modelo prossegue, são estreitados os

subconjuntos de transações até chegar aos novos empreendimentos internacionais

sustentáveis. Ele descreve quatro elementos necessários e suficientes para a

existência de novos empreendimentos internacionais, mostrados nas setas mais

largas: formação organizacional através da internalização de algumas transações;

forte dependência de estruturas de governança alternativas de acesso a recursos;

estabelecimento de vantagens de localização no exterior; e o controle sobre

recursos exclusivos.

Figura 6 – Modelo proposto por Oviatt e McDougall

Fonte: Oviatt e McDougall (1994)

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O primeiro elemento, a internalização das transações, já foi estudado pela teoria

clássica da Internacionalização de empresas. Ela ocorre quando imperfeições de

mercado tornam mais vantajoso para a empresa internalizar algumas atividades.

Embora normalmente a teoria da internalização seja utilizada para explicar o

investimento direto estrangeiro, a definição das empresas como internacionalizadas,

sejam multinacionais estabelecidas ou new ventures, independe da propriedade de

recursos no exterior.

O segundo elemento, a forte dependência de estruturas de governança alternativas

de acesso a recursos, deve-se à dificuldade de novos empreendimentos em dispor

de recursos suficientes para controlar seus ativos. Isso obriga os empresários das

new ventures a confiar em modos alternativos de controle de recursos, como o

licenciamento e a franquia.

O terceiro elemento, a vantagem de localização no exterior, distingue os novos

empreendimentos domésticos dos internacionalizados. Embora as empresas sofram

algumas desvantagens por serem estrangeiras, como barreiras governamentais,

elas também podem construir vantagens nos mercados internacionais. Os autores

dão como exemplo a propriedade do conhecimento e sua característica de

mobilidade. Uma vez produzido em uma determinada localização, ele pode

facilmente ser espalhado pelas demais unidades da companhia.

E, por último, o quarto elemento, recursos exclusivos, que define a sustentabilidade

do novo empreendimento internacional. No cenário econômico atual, a capacidade

de uma empresa de manter seu conhecimento único a salvo da imitação por seus

concorrentes determina sua sobrevivência no mercado internacional. Os autores

apontam algumas possibilidades para os empreendimentos, como o licenciamento

ou o uso de proteção por patentes.

Ao analisar os frameworks das principais teorias de Negócios Internacionais e o

Empreendedorismo Internacional, Keupp & Gassmann (2009) refletem sobre as

diferenças entre eles e afirmam que eles fazem prognósticos conflitantes: enquanto

os primeiros enfatizam a natureza linear, ordenada e sequencial do processo de

internacionalização, o segundo enfatiza os processos dinâmicos, por vezes caóticos,

da internacionalização precoce, no qual habilidades, experiência e redes sociais

exercem um papel predominante.

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Já Autio (2005) possui uma visão mais conciliadora sobre as duas correntes,

considerando-as mais complementares do que contraditórias. Para ele, o modelo de

Uppsala procurava explicar o processo de internacionalização já iniciado, enquanto

o modelo do Empreendedorismo Internacional procurava explicar, principalmente,

quão cedo e rápida a internacionalização de novos empreendimentos era possível.

Ou seja, o Modelo de Uppsala seria mais preciso para explicar o processo de

internacionalização de empresas mais maduras, enquanto o do Empreendedorismo

Internacional seria mais apropriado para explicar o processo de internacionalização

na sua fase inicial.

Críticas

Como uma área de desenvolvimento relativamente recente, com quase 20 anos, o

Empreendedorismo Internacional sofre para estabelecer-se com legitimidade e

reconhecimento do meio acadêmico. Diversos estudiosos do tema (COOMBS et al,

2009; COVIELLO & JONES, 2004; GASSMANN & KEUPP, 2009) criticam a área de

estudos sobre o Empreendedorismo Internacional por ser fragmentada, apresentar

menor rigor teórico quando comparado com o desenvolvimento de pesquisa sobre

empreendedorismo em geral e sofrer de falta de direcionamento único. Para os

autores, a área necessita de maior clareza teórica e direção metodológica. A própria

diversidade de definições torna difícil distinguir o que deve ser levado em

consideração no estudo do Empreendedorismo Internacional (KEUPP &

GASSMANN, 2009).

Após analisar os trabalhos na área, Coombs et al. (2009) concluem que o

Empreendedorismo Internacional sofre de uma escassez teórica. Em sua visão, há

um falta de critério nestes estudos, que empregam elementos díspares emprestados

das principais escolas de pensamento sobre gestão, de acordo com as

necessidades dos autores, sem muito esforço para integrar esses insights em uma

base coerente para o estudo do empreendedorismo internacional. Muitas dessas

pesquisas não utilizam nenhum tipo de framework, nem provenientes da área de

Negócios Internacionais nem da teoria sobre empreendedorismo. Pior, há aqueles

que utilizam frameworks das principais correntes de Negócios Internacionais,

legitimando sua presença no domínio do Empreendedorismo Internacional apenas

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pelo fato de suas amostras serem compostas de novos empreendimentos cujas

receitas provêm de mais de um país.

Embora uma das pedras fundamentais da teoria seja o fato de ela ser tida como a

interseção entre as áreas de Negócios Internacionais e de Empreendedorismo,

quase nenhum estudo procura integrar o pensamento dos dois campos de estudo.

Uma possível explicação é o desequilíbrio entre os campos de estudos. Enquanto

Negócios Internacionais possui definições sólidas, o campo do Empreendedorismo

sofre de lacunas em seus fundamentos teóricos (KEUPP e GASSMANN, 2009).

Outro problema observado é a escolha do tipo de empresa analisada na maioria dos

estudos: pequenas empresas que empreendem no exterior ou começam a exportar,

pode ser problemática, já que induz à fundamentação de todo um campo de estudo

no tamanho da firma. De acordo com Keupp e Gassmann (2009) não há nenhum

motivo para tal viés, já que a definição teórica do Empreendedorismo Internacional

feita por Oviatt e McDougall, conforme visto anteriormente, independe do tamanho

da firma.

De acordo com Coombs et al. (2009), o foco das pesquisas futuras na área deve ser

a busca por uma maior rigorosidade na definição teórica que possibilitaria

proveitosas comparações entre estudos. O campo do Empreendedorismo

Internacional iniciou-se a partir de uma pesquisa fenomenológica. Desde então, o

approach fenomenológico, mais do que teórico, para a definição do

Empreendedorismo Internacional desencadeou uma série de estudos conceituais e

empíricos que compõem a esmagadora maioria da sua literatura (KEUPP &

GASSMANN, 2009). O método de investigação mais empregado nos estudos da

área, o Estudo de Caso, no entanto, não colabora para a construção de bases

teóricas e ajuda a esvaziar o campo de estudo. Coombs et al. frisa a necessidade de

investigar as relações de causalidade através de estudos construções de hipóteses

sistemáticas baseadas em estruturas conceituais sólidas. Além disso, os trabalhos

futuros também precisam ir além da dinâmica estratégia-internacionalização e

examinar mudanças na estrutura da firma e sistemas de controle como possíveis

determinantes da internacionalização ou modificadores na dinâmica estratégia-

internacionalização.

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Para Coombs et al. (2009) falta aos estudiosos do Empreendedorismo Internacional

cumprir justamente sua tarefa mais fundamental: explicar a ligação entre a

estratégia, o desempenho e o papel de internacionalização. Dado que o paradigma

estratégia-desempenho está no cerne da literatura de gestão, é importante entendê-

la no contexto de novos empreendimentos internacionais, o que não pode ocorrer

somente através da investigação empírica. A dificuldade real está na tradução dos

resultados empíricos em generalizações que são, por sua vez, incorporadas em

proposições teóricas.

Por fim, os autores concordam sobre a necessidade de estudos longitudinais que

examinem o desenvolvimento de novos empreendimentos internacionais ao longo

do tempo (COOMBS et al, 2009; COVIELLO e JONES, 2004; GASSMANN e

KEUPP, 2009). De acordo com Coviello e Jones (2004) a pesquisa em

Empreendedorismo Internacional é caracterizada por estudos transversais estáticos

que não têm conseguido capturar processos complexos.

3.2.4. BORN GLOBAL

No campo de estudo do Empreendedorismo Internacional, algumas pesquisas

ressaltaram um tipo especial de Novo Empreendimento Internacional, identificado

como born global (“nascido global”). O termo foi cunhado por Rennie (1993) num

relatório da consultoria McKinsey para descrever empresas australianas que se

internacionalizaram precocemente – virtualmente desde sua concepção. Essas

empresas começam a exportar, em média, apenas dois anos após a sua fundação e

alcançam a maior parte de suas vendas por meio de exportações. Embora sejam

jovens, essas companhias competem com grandes players estabelecidos em todo o

mundo. Coviello et. al (2011) frisam a existência de diferenças importantes entre os

termos Novo Empreendimento Internacional e uma born global, já que o primeiro é

fundado com a intenção de se internacionalizar rapidamente, enquanto o segundo é

definido, principalmente, pelo tempo e a velocidade de internacionalização.

Embora haja um consenso teórico do que é uma born global, ainda existe muitas

controvérsias em relação a quais critérios seriam usados para definir que empresas

poderiam ser classificadas nessa categoria para a realização de estudos empíricos.

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De acordo com Dib et al (2010), os critérios seriam: data de fundação (a maioria dos

autores considera que as empresas born globals surgiram depois de 1990); início

das atividades internacionais depois da fundação (varia de 02 até 15 anos);

percentagem do faturamento proveniente de operações no exterior (varia de 5% até

75%, para firmas com pequenos mercados domésticos); abrangência de mercados

(um ou poucos mercados internacionais, na mesma ou em várias regiões do

mundo).

Luostarinen & Gabrielsson (2002) resumem as características pelas quais as born

globals foram definidas em trabalhos anteriores. Elas iniciam as operações

internacionais antes ou simultaneamente com as operações domésticas; baseiam

suas visões e missões, principalmente, em mercados e clientes globais desde sua

concepção; planejam seus produtos, estruturas, sistemas e finanças em escala

global; crescem excepcionalmente rápido em mercados globais; planejam para se

tornarem líderes no mercado global como uma parte da sua visão; utilizam

diferentes estratégias de produtos, operações e mercado, assim como as empresas

tradicionais; e seguem diferentes estratégias de marketing globais.

Nos estudos sobre born globals, são analisados os fatores internos da firma e os

fatores ligados aos empreendedor, mais recorrentes, e o ambiente externo dessas

empresas, mais raros (RIBEIRO et al, 2012). Baseados numa revisão da literatura

sobre born globals, internacional e brasileira, Dib et al (2010) propuseram um

modelo conceitual com os fatores que teriam influência no processo de

internacionalização de empresas, seja ele gradual ou precoce (Figura 7). Os fatores

foram agrupados em três blocos principais: (1) ligados a fatores específicos da

empresa; (2) ligados a relações existentes com networks; e (3) ligados a fatores

específicos do empreendedor responsável pelas decisões de internacionalização.

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Figura 7 – Modelo Conceitual para as variáveis que influenciariam a formação de

born globals

Fonte: Dib et al., 2010

Born Globals Brasileiras no Setor de Tecnologia

Os estudos apontam que tais empresas estão surgindo em grande número e em

diferentes regiões do mundo (MATHEWS & ZANDER, 2007), inclusive no Brasil (DIB

& ROCHA, 2008; DIB et al., 2010). Entretanto, quando se trata de empresas

brasileiras de base tecnológica, os exemplos de internacionalização acelerada, e até

mesmo de algum tipo de internacionalização, são raros (RIBEIRO et al,, 2012).

Uma abrangente pesquisa do Observatório Softex (2012) aponta a pouca

expressividade das atividades internacionais quando comparadas com as cifras

totais do setor de software no país: em 2009, as receitas provenientes de atividades

no exterior representaram apenas 7,81% do total de receitas do setor. Apenas 130

das empresas (13,6%) obtêm receitas do exterior, a maior parte delas voltadas para

o desenvolvimento de software customizável, com um volume total em exportações

de R$ 1,3 bilhão.

Dib e Rocha (2008) ressaltam o grande número de barreiras que precisam ser

ultrapassadas por uma empresa brasileira para se tornar uma born global, quando

comparadas, por exemplo, com empresas europeias. Dentre elas, estão o

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isolamento do Brasil dentro de suas fronteiras, com pouco contato fronteiriço com

seus vizinhos devido a barreiras naturais, sua baixa abertura comercial, suas

empresas são pouco internacionalizadas (com exceção de commodities agrícolas e

minerais), e a pouca tradição exportadora em serviços de alta tecnologia.

Conforme aponta Roselino (2006), o modelo do setor de software brasileiro parece

ser “geneticamente” voltado para dentro, enquanto em outros países, como a Irlanda

ou Índia, a indústria de software parece ter se formado primariamente para o

atendimento do mercado externo. Vários estudiosos apontam para a existência de

fatores de desestímulo ao desenvolvimento de operações internacionais das

empresas brasileiras de software, o mais importante deles sendo o próprio tamanho

significativo do mercado interno; outro elemento limitador seria a característica das

pequenas empresas brasileiras de não se especializar em determinados produtos,

mas, ao contrário, de dispersar sua atenção em várias atividades, sem alcançar uma

core competence que lhes permitiria sustentar uma atividade internacional

(BEHRENS, 2003).

Através de uma pesquisa empírica, Dib e Rocha (2008) tentaram identificar, dentre

as empresas de software brasileiras, os fatores (ligados a empresa, networks e

empreendedor) que diferenciam aquelas cujo processo de internacionalização

precoce as enquadra na categoria born global das que se internacionalizam segundo

o modelo gradual. Os resultados do estudo apontam que é mais provável que sejam

born globals as empresas que possuírem maior capacidade de inovação do que

seus concorrentes; forem mais orientadas ao cliente do que seus concorrentes; e

tiverem um empreendedor ou grupo de empreendedores com maior conhecimento

técnico ou científico do que seus concorrentes.

A importância da presença de empreendedor ou um grupo de principais executivos

com habilidades gerenciais internacionais para o nascimento de uma born global

também foi encontrada no estudo de Ribeiro et al (2012) com empresas brasileiras

de base tecnológica internacionalizadas. No entanto, diferente do estudo de Dib e

Rocha (2008) os fatores internos, como capacidade de inovação, orientação para o

mercado internacional e habilidades de marketing internacional não são fatores que

diferenciam as born globals das empresas de internacionalização com mais de cinco

anos de atuação doméstica.

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Um fator considerado relevante no estudo de Ribeiro et al (2012) é a integração da

empresa a uma cadeia produtiva global, já que, muitas vezes, as born globals

nascem como fornecedoras de uma grande multinacional ou nascem em setores

altamente globalizados, como o setor aeronáutico, de software, entre outros. De

acordo com este trabalho, as born globals de base tecnológica parecem ser puxadas

para o mercado internacional em virtude das condições e das necessidades de

fornecimento de seus clientes já instalados no mercado externo.

Os resultados da pesquisa de Ribeiro et al (2012) apresentam algumas divergências

e relação aos principais estudos das born globals, o que evidenciaria uma diferença

de comportamento destas empresas provenientes de países emergentes e de

países desenvolvidos. Em primeiro lugar, diferentemente das born globals, as

empresas de base tecnológica que se internacionalizam mais tardiamente usufruem

mais, em seu processo de internacionalização, da localização em um habitat de

inovação, das parcerias com universidades, institutos de pesquisa e empresas

multinacionais, e das políticas governamentais de apoio à internacionalização. Em

segundo lugar, considerados bastante relevantes pela literatura internacional, os

fatores internos não apresentaram relevância no processo de internacionalização

das empresas de base tecnológica brasileiras.

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4. METODOLOGIA

Para este estudo foi escolhido o método de pesquisa qualitativa, mais

especificamente, o método de estudo de caso. Neste capítulo, apresenta-se uma

revisão das técnicas empregadas nessa metodologia e suas implicações para o

presente trabalho.

4.1 PROBLEMA DE PESQUISA

Definimos o problema de pesquisa como a investigação sobre o processo de

internacionalização de uma empresa brasileira em um dos setores mais dinâmicos

do ambiente econômico atual, a indústria de software. Conforme visto na revisão de

literatura sobre o assunto, o setor de tecnologia é bastante fértil para o surgimento

de empreendimentos que iniciam suas atividades internacionais logo no começo de

sua existência. É este tipo de empresa que procuramos analisar no presente

trabalho, tendo como referência teórica as abordagens econômicas e

comportamentais da área dos Negócios Internacionais.

4.1.1 PERGUNTAS DE PESQUISA

Procuraremos responder às seguintes perguntas de pesquisa neste trabalho:

1. Que fatores ambientais possibilitaram o surgimento e de um novo

empreendimento internacional no Brasil?

2. Quais fatores internos favoreceram o estabelecimento de um novo

empreendimento internacional no Brasil?

3. Quais foram suas estratégias de entrada e estabelecimento no mercado

internacional?

4.2 MÉTODO DE PESQUISA

O método escolhido para este trabalho foi o estudo de caso, que é de natureza

qualitativa, sendo definido como uma forma de realizar a pesquisa social empírica na

investigação de um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real, no qual

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as fronteiras entre o fenômeno e seu contexto não estão claramente definidas e são

utilizadas múltiplas fontes de informação (YIN, 2003). O autor argumenta que em

situações complexas, o tratamento por meio de levantamentos de dados ou

experimentos não seria suficiente. Nesse caso, seria mais apropriado dar ênfase à

descrição do caso de maneira a se obter uma visão mais dinâmica e holística do

tema sob investigação.

Ademais, para a escolha do método, é importante observar a natureza do objeto

estudado. As pesquisas sobre empresas de pequeno porte apresentam uma

importante particularidade: a unidade de análise muitas vezes é o próprio

empreendedor/proprietário. Essa característica do trabalho torna imprescindível o

entendimento da personalidade do indivíduo e dos seus processos cognitivos, a fim

de entender como estes impactam na tomada de decisão. Deste modo, o método

escolhido deve permitir que o fenômeno seja estudado “de perto, longitudinalmente,

com a perspectiva de um insider (COVIELLO e GILMORE, 1999). Neste caso, a

recomendação é que sejam utilizados métodos quantitativos, já que os métodos

quantitativos não oferecem o aprofundamento e proximidade necessários.

Também é importante a escolha da forma de se realizar a pesquisa dentre as

possibilidades existentes, como survey, experimento, estudo de caso ou análise de

arquivos. Em qualquer uma delas deve-se considerar 3 elementos: o tipo de

pergunta o controle do entrevistador sobre os eventos do estudo e se o evento é

contemporâneo ou histórico (YIN, 2003). O estudo de caso seria recomendado em

pesquisas onde o tipo de questão é do tipo “como” e “por que?”; quando controle do

investigador sobre os eventos é reduzido; ou quando o foco temporal está em

fenômenos contemporâneos dentro do contexto da vida real. Dessa forma, a escolha

do método de estudo de caso mostra-se compatível com os objetivos desse

trabalho.

O método pode ser utilizado para a investigação tanto de um único caso quanto para

a de múltiplos casos (YIN, 2003). A escolha dos casos é uma etapa da maior

importância neste tipo de pesquisa, pois permite controlar variações estranhas e

ajudar a determinar os limites da generalização das descobertas (EISENHARDT,

1989). Segundo Yin (2003), a seleção dos casos deve seguir uma lógica de

replicação, e não de amostragem. Assim, cabe ao investigador escolher os casos a

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serem estudados de acordo com seus interesses, objetivos, grau de profundidade

que deseja atingir, assim como sua viabilidade e disponibilidade.

4.2. SELEÇÃO DO CASO

Uma das decisões fundamentais, quando se utiliza a metodologia de estudo de

casos, é a escolha do caso a ser estudado.

A escolha da empresa a ser estudada ocorreu por meio de pesquisas em diversos

meios de informação, tais como revistas e sites especializados em tecnologia e em

empreendedorismo. Os critérios de seleção utilizados foram:

Que a empresa tivesse origem brasileira;

Pertencesse ao setor de software;

Apresentasse processo de internacionalização em ritmo acelerado desde o

início de suas atividades.

Ademais, a empresa deveria ter abertura para pesquisa, com disponibilidade para a

coleta de dados e possibilidade de entrevista com os empreendedores. Como a

I.ndigo Taqtile atendeu aos critérios pré-estabelecidos, ela foi escolhida como objeto

de estudo desse trabalho.

4.4 COLETA E ANÁLISE DE DADOS

O método do caso pode ser caracterizado como um método de pesquisa em

profundidade, que recorre a vários métodos de coleta de dados e a várias fontes de

informação (HAMEL, 1993). É justamente esta característica que lhe proporciona a

flexibilidade necessária para a investigação de fenômenos complexos, permitindo a

abordagem de maior número de temas (YIN, 2003). Além disto, o uso de material

proveniente de várias fontes tem um papel fundamental, que é o de permitir usar a

técnica da triangulação, uma validação cruzada dos dados obtidos.

Eisenhard (1989) frisa a relevância da triangulação e da diversidade de fontes de

coleta dos dados para uma melhor fundamentação dos constructos e suposições de

pesquisa, especialmente quando são combinados dados qualitativos e quantitativos.

A evidência quantitativa pode tanto apoiar quanto desmentir impressões trazidas

pelos dados qualitativos. Enquanto, a evidência qualitativa pode ajudar a entender a

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racionalidade ou teoria subjacente às relações revelada pelos dados quantitativos ou

pode sugerir diretamente teorias que serão fortalecidas pelos dados quantitativos.

No entanto, esta mesma diversidade cria uma dificuldade adicional para a análise

dos dados (HAMEL, 1993), uma vez que é preciso conciliar diferentes fontes,

complementar informações que se encontram em uma fonte e não em outra,

verificar informações discordantes e outros procedimentos que não são necessários

quando se utilizam outros métodos (como, por exemplo, surveys).

4.5. FONTES DE DADOS

Yin (2003) enumera seis principais fontes de evidências para um estudo de caso.

Nesta pesquisa trabalharemos com três delas: (a) documentação através de

recortes de jornal e artigos publicados na mídia; (b) registros em arquivos; e (c)

entrevistas. Não utilizamos as demais fontes listadas pelo autor (observações

diretas, observação participante e artefatos físicos) por não as considerarmos

pertinentes a este trabalho.

Para este trabalho foram escolhidas as fontes documentação, registro em arquivos e

entrevistas. Foram utilizadas informações encontradas no site e no blog da empresa,

reportagens e vídeos encontrados em diversos sites de jornais, revistas e programas

de televisão e apresentações institucionais da companhia. As entrevistas foram

realizadas com os sócios da empresa por meio do programa de comunicação por

vídeo Skype em duas ocasiões: na primeira vez, foram entrevistados por

aproximadamente uma hora e meia os sócios que trabalham no escritório de São

Paulo, Edmar Myiake e Danilo Toledo; na segunda ocasião, foram entrevistados por

uma hora os sócios que trabalham no escritório de Seattle, John Tomizuka e Dirck

Schou. Nas duas entrevistas, foi utilizado o roteiro de entrevistas que pode ser

encontrado no anexo VI deste trabalho.

Yin (2003) aponta pontos fortes e fracos dessas fontes de evidências, que foram

levadas em consideração no momento da pesquisa.

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Tabela 01 – Fontes de evidências utilizadas

Fontes de Evidências

Pontos Fortes Pontos Fracos

Documentação Estável - pode ser revisada inúmeras vezes Discreta - não foi criada como resultado de um estudo de caso

Exata - contém nomes, referências, detalhes exatos de um evento Ampla cobertura - longo espaço de tempo, muitos eventos e muitos ambientes distintos

Capacidade de recuperação - pode ser baixa

Seletividade tendenciosa, se a coleta não estiver completa

Relato de visões tendenciosas - reflete as ideias pré-concebidas (desconhecidas do autor)

Acesso - pode ser deliberadamente negado

Registro em arquivos (Os mesmos mencionados para documentação)

Precisos e quantitativos

(Os mesmos mencionados para documentação)

Acessibilidade aos locais graças a razões particulares

Entrevistas Direcionadas - enfocam diretamente o tópico do estudo de caso

Perceptivas - fornecem inferências causais percebidas

Visão tendenciosa devido a questões mal-elaboradas

Ocorrência de imprecisões devido à memória fraca do entrevistador

Reflexibilidade - o entrevistado dá ao entrevistador o que ele quer ouvir

Fonte: Adaptado de Yin, 2003.

4.6 LIMITAÇÕES E CRÍTICAS AO MÉTODO

O uso do método de estudo de casos enfrenta duas críticas principais:

1. As conclusões e análises podem ser afetadas por vieses, tanto do entrevistado

quanto do entrevistador, o uso de evidências sem importância e a dependência

da memória do entrevistado. Yin (2003) refuta esta crítica argumentando que a

existência de vieses não é exclusiva do método de estudo de casos, podendo

ocorrer em questionários, por exemplo. Além disso, pode-se diminuir as

limitações mencionadas através da utilização de diversas fontes – entrevistas,

dados de arquivo da empresa e fontes secundárias.

2. Por sua natureza, o método do estudo de caso limita a aplicabilidade da análise

apenas a este estudo. Embora não seja possível fazer generalização para outras

empresas, mesmo que elas possuam características semelhantes ou pertençam

ao mesmo setor, é possível generalizar uma ou mais hipóteses de teorias já

existentes (YIN, 2003).

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5. ESTUDO DE CASO – I.NDIGO TAQTILE

5.1. DESCRIÇÃO DO CASO

5.1.1. INÍCIO

Em 2007, um grupo de jovens decidiu fundar uma empresa de tecnologia, a I.ndigo,

e instalá-la na incubadora de empresas Cietec 7 (Centro de Inovação,

Empreendedorismo e Tecnologia) da USP. Edmar Miyake, graduado em

administração e autodidata em programação de softwares, com a experiência de ter

criado uma startup na área da mobilidade, juntou-se a John Tomizuka, americano,

ex-funcionário da empresa de aplicações móveis Spring Wireless, para a qual

Miyake prestava serviço. No Cietec, eles conheceram Danilo Toledo que, na

incubadora, trabalhava numa plataforma que fazia a gestão de serviços de saúde

em empresas como Natura e HP.

Inicialmente, a startup atendia as demandas das empresas por produtos como

plataformas web e aplicativos móveis para automação da força de vendas. Os

produtos eram desenvolvidos de forma personalizada, de acordo com as

necessidades dos clientes.

5.1.2 PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO

O primeiro produto da empresa foi o Dekks8, uma rede social semelhante ao Twitter,

voltada para o público empresarial, que permitia aos empregados “postar” perguntas

sobre assuntos que estavam trabalhando e descobrir quem mais na organização

possuía experiência sobre o mesmo. Com o slogan “Who knows what”, a aplicação

possibilitava à gerência mapear o que existia em uma empresa em termos de

conhecimento e como as pessoas estavam interconectadas por ele. Usando uma

interface web, sem a necessidade de instalação, o serviço básico do Dekks era

7 O Cietec foi criado em abril de 1998 por um convênio entre a Secretaria da Ciência, Tecnologia e

Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, o Serviço de Apoio a Micro e Pequena Empresa de São Paulo (Sebrae-SP), Universidade de São Paulo (USP), Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Fonte: http://www.cietec.org.br. Acessado em: 14/04/2013.

8 http://www.dekks.com/index

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gratuito e o uso de ferramentas mais sofisticadas custava US$ 2 por usuário por

mês.

Através de contatos que possuía nos EUA, Tomizuka conheceu a conferência

DEMO e decidiu inscrever o Dekks para a edição Fall 20099 do evento, que ocorreria

em San Diego, nos Estados Unidos. Realizada há 22 anos pelo IDG Enterprise, a

DEMO Conference10, um dos maiores eventos mundiais de empreendedorismo e

inovação em TI e internet, reúne investidores, empreendedores, CIOs, entidades da

área e executivos de empresas de TI e Internet. Mais que um evento, a DEMO é

uma plataforma para lançamento de tendências, tecnologias emergentes e novos

produtos criados por startups e empresas do mercado de tecnologia e internet. Por

meio de programas de subsídio e patrocínios corporativos a DEMO garante que

empreendedores de todos os tamanhos tenham a oportunidade de apresentar

produtos de tecnologia inovadores que permaneceriam desconhecidos de outra

forma.

Produtos e serviços como Adobe Acrobat, Webex, TiVo, GarageBand, Autonomy,

Salesforce, VM Ware, E-Trade e Netscape Navigator, entre outros, foram mostrados

pela primeira vez na DEMO. Ao longo de sua história, mais de 40 participantes

foram compradas por grandes grupos de tecnologia; 22% dos participantes

receberam investimentos em até 60 dias após terem se apresentado na conferência;

92% das empresas que conseguiram investimentos o fizeram em, no máximo, até 9

meses após terem participado da DEMO e 62% dos participantes que conseguiram

investimentos obtiveram no mínimo 1 milhão de dólares de investidores de risco e

investidores-anjo.

Das 56 aplicações apresentadas na DEMO Fall 2009, o Dekks conseguiu ficar entre

as 5 melhores, selecionadas pelo júri do evento, chamando a atenção da gigante de

telecomunicações americana AT&T. No entanto, mais do que servir de vitrine para a

I.ndigo, a conferência despertou os sócios da empresa para um mercado que se

abria e apresentava alto potencial de crescimento: o mercado de aplicativos para

smartphones, em especial, o iPhone da Apple, cuja loja App Store havia sido aberta

em 2008.

9 http://www.demo.com/ehome/custom/29414/body.php?attendeeid=2477762. Acessado em: 14/04/2013.

10 http://www.demo.com. Acessado em: 14/04/2013.

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“Até 2009, não éramos 100% focados em dispositivos

móveis... já tínhamos o foco em mobilidade, mas ainda

fazíamos muito projeto Web. [...] Em 2009, com o

boom do iPhone lá fora, nós resolvemos focar em

mobilidade. Vimos um ambiente muito desenvolvido,

um ecossistema já preparado para receber a

mobilidade e percebemos que a coisa estava

estourando por lá e era uma questão de tempo para

estourar para cá”. Danilo Toledo, sócio.

Através de relacionamentos que construiu quando trabalhava na indústria de

software nos EUA, Tomizuka conseguiu que a I.ndigo ganhasse uma concorrência

da AT&T em 2010. O projeto era um aplicativo para iPhone para o serviço de listas

de casamento da cadeia de lojas Bed, Bath & Beyond. Como havia sido abandonado

pela empresa desenvolvedora anterior, o projeto tinha um prazo bastante curto.

“Tudo ocorreu às pressas, e nós tivemos que

desenvolver uma solução em pouco menos de um

mês. No fim, eles gostaram não somente da qualidade

da solução, mas também do preço que nós

conseguimos fazer. A partir daí as portas foram se

abrindo”. Danilo Toledo, sócio.

O projeto seguinte foi um dos que trouxeram maior visibilidade para a pequena

empresa: o aplicativo da cobertura do casamento real britânico para a rede de TV

NBC, no início de 2011. Gratuito, o aplicativo foi baixado 450.000 vezes. Nesse

período, a empresa realizou dois trabalhos para o mercado brasileiro: um aplicativo

para uma loja de barcos de luxo brasileira e o mobile banking do Banco Safra.

“Parte dos primeiros projetos foi voltada para o

mercado americano, o foco inicial era lá. Mas, ao

mesmo tempo em que começamos lá, a gente

começou a prospectar aqui também. Nós sempre

tivemos força de vendas [no Brasil], e desenvolvemos

ações de prospecção nos dois países. [...] já

pensávamos em atender ao mercado americano

desde o começo.” Danilo Toledo, sócio.

A AT&T tem uma área especializada em desenvolvimento de aplicativos para o

mercado, da qual a I.ndigo é um dos parceiros preferenciais. A empresa brasileira

funciona como uma “fábrica de ideias”, sendo responsável por gerar ideias de

aplicativos que possam ser interessantes para clientes prospectados pela

operadora. Seus produtos são uma espécie de suporte às vendas da AT&T. Nesse

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tipo de consultoria prestado pela empresa brasileira se encaixa o aplicativo criado

para o mobile app da marca de cosméticos Anna Pegova.

“[...] eles pagam para nós produzirmos algum

conteúdo, enfim, fazer uma pesquisa mais

aprofundada sobre algum mercado, algum aplicativo e

preparar alguns protótipos para ajudar o pessoal de

vendas deles.” John Tomizuka, sócio.

Em outro modelo de parceria, os aplicativos criados pela fábrica de ideias passaram

a ser replicados. Um exemplo dessa estratégia foi o projeto para a NBA, a liga de

basquete norte-americana. Com a intenção de vender sua rede Wi-Fi para uso nos

estádios, a AT&T ofereceu como serviço extra um aplicativo criado pela I.ndigo. O

programa permitiria ao espectador comprar ingressos e pedir comida durante o jogo

sem sair de seu assento. O projeto não foi adotado pela liga, mas a plataforma, já

pronta para automação de estádios, passou a ser oferecida a outros clientes e

acabou sendo adotada pelos times de futebol americano das universidades de

Stanford e Penn State.

“Nós preparamos o material de vendas e a AT&T

entrou com os vendedores, visitando diversos clientes

lá dentro. Se o projeto é fechado, parte da

remuneração vem para nós e parte vai pra AT&T.”

Danilo Toledo, sócio.

De acordo com os sócios da I.ndigo, a principal vantagem da parceria com a AT&T é

diminuir a necessidade de uma equipe de vendas pela pequena empresa

desenvolvedora, que pode participar de projetos de visibilidade em grandes

corporações americanas.

“Todos os cases lá fora, ou a maior parte deles, foram

trazidos pela AT&T. Acho que esse foi o maior

benefício para nós, economizou muito em processo de

prospecção. Ou seja, a AT&T prospecta para a gente.

Se fossemos viajar os EUA inteiro para ficar visitando

e ganhando cliente, a gente teria um custo absurdo. E

com os cases, as portas que eles têm, eles

conseguem abrir nas diferentes empresas, nas

diferentes entidades.” John Tomizuka, sócio.

A carreira nos EUA foi impulsionada pela abertura, em 2011 de um escritório em

Seattle, com o nome de Taqtile, para atender clientes americanos. Em 2011, quando

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produziu 29 aplicativos, a I.ndigo Taqtile registrou aumento de 50% na receita, para

R$ 2 milhões. Em 2012, o salto foi ainda maior, quando a receita total da empresa

foi de R$ 10 milhões, provenientes da produção de 58 novos aplicativos.

Fig. 8 - Quantidade de aplicativos produzidos – EUA e Brasil

Fonte: tabela produzida pela autora com dados fornecidos pela empresa.

Fig. 9 - Faturamento da empresa – 2010 – 2012 – em Reais

Fonte: gráfico produzido pela autora com dados fornecidos pela empresa.

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A empresa manteve a parceria com a At&T que rendeu ainda outro projeto de

grande repercussão: o aplicativo para a posse do presidente Barack Obama. A

empresa já havia sido contratada para construir o aplicativo oficial para a Convenção

Nacional Democrata na Carolina do Norte, em meados de 2012. Como o sucesso do

aplicativo, a I.ndigo Taqtile foi a empresa escolhida pelo Comitê da Posse

Presidencial para o evento em janeiro de 2013. O aplicativo tinha como principal

atrativo acompanhar ao vivo a cerimônia de posse do presidente americano e foi

acessado mais de 800 mil vezes.

Além da possibilidade de produzir grandes projetos, a parceria estabelecida com a

At&T permitiu a I.ndigo estabelecer relacionamentos com outras instituições no

mercado americano. Em março de 2012, a startup foi convidada pela Universidade

de Stanford, para quem havia criado dois aplicativos, a fazer parte do Conselho de

Produtos de Mobilidade da instituição, ao lado de grandes corporações do setor de

Tecnologia da Informação como Twitter, Google e Facebook.

“O nosso interesse em participar dele [conselho] é o

network, é o nome que isso traz para nós, a força que

isso traz para a marca. [...] A promessa é que ele vai

gerar indicações para empresas interessantes. Por

enquanto, ele não foi uma coisa que foi tocada

adiante, está meio que em stand by, mas os benefícios

que essa parceria trouxe foi o nome de ter Stanford,

de a gente trabalhar junto. Acho que nos credenciou

para fecharmos muitos outros projetos, assim com o

projeto da posse do Obama.” Danilo Toledo, sócio.

Nos Estados Unidos, a empresa participa de algumas feiras, mas apenas como

visitante, e faz algumas visitas de vendas a clientes atuais e potenciais. No entanto,

o maior investimento comercial é na parceria com a AT&T.

“A gente exercita muito o relacionamento com os

clientes que a gente já tem lá, mas acho que o nosso

maior investimento lá é na nossa parceria com a

AT&T, é o relacionamento. É estar sempre presente,

junto com a AT&T, dar treinamento para os

vendedores, participar de eventos da empresa, apoiá-

los em eventos [...] eles que acabam absorvendo esse

investimento comercial, em viagens, visitas, pessoal.”

Danilo Toledo, sócio.

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5.1.3. MODELO DE NEGÓCIOS

Diferentemente da maioria das empresas desenvolvedoras presentes nas lojas de

aplicativos, a I.ndigo não cria e vende diretamente seus aplicativos para os usuários

de smartphone. Segundo seus sócios, a empresa fornece experiências de

relacionamento das companhias contratantes com seus consumidores através de

smartphones e tablets. Geralmente, essas empresas disponibilizam o programa para

ser instalado de forma gratuita pelos clientes. O objetivo do aplicativo não é gerar

renda, mas criar uma aproximação com o cliente, funcionando como uma ferramenta

de marketing.

De acordo com os sócios, ao entrar no negócio eles tinham em mente a seguinte

pergunta: "como você pega o supercomputador que está no seu bolso e o

transforma em uma ferramenta útil e, em seguida, liga a sua experiência com ele

com as redes sociais?". Um exemplo desse tipo de experiência foi o aplicativo criado

pela empresa para o Café Pilão, em parceria com uma agência de publicidade, que

oferecia a possibilidade de escolher entre 30 toques diferentes na hora de acordar.

"Nós somos um híbrido entre uma empresa de

software e uma agência de publicidade. O que guia o

nosso trabalho é o design e o usuário como centro do

universo. Para nós, pouca coisa não poderia ser feita

num celular através de um plugin ou um código

personalizado." Dirck Schou, sócio.

Os aplicativos são produzidos em uma plataforma baseada na nuvem, customizável

e de baixo custo, que pode atender de um único usuário ou milhões deles. Esta

plataforma é um dos trunfos da companhia por permitir a construção personalizada

de aplicativos em prazos muito curtos. O aplicativo para a posse do presidente

americano Barack Obama, por exemplo, foi produzido num espaço de tempo de

apenas quatro semanas.

Além do desenvolvimento do aplicativo, a I.ndigo oferece suporte para atualização

do programa, assim como estatísticas sobre a utilização do app pelos clientes da

contratante, possibilitando a produção de ajuste mesmo após o lançamento e a

análise do impacto da ação pelas áreas de marketing. Devido à imaturidade do

mercado de aplicativos, muitas empresas não sabem definir qual é a melhor forma

de atingir seus consumidores através do mobile marketing. Por isso, a I.ndigo

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oferece um workshop com uma metodologia própria para a equipe contratante, a fim

de, em conjunto, criarem o aplicativo mais adequado para a empresa.

“Quando começamos a focar no [mercado] mobile,

chegamos a perder várias concorrências para

empresas de publicidade. Para que tivéssemos

sucesso, foi preciso entender que as ferramentas

mobile têm uma dinâmica diferenciada em relação a

outras soluções de tecnologia da informação.

Entendemos que, para ter sucesso nesse ramo, mais

do que uma solução tecnicamente perfeita, é preciso

ter uma ideia sólida por trás” Danilo Toledo.

O modelo de negócios adotado pela I.ndigo varia segundo o tipo de serviço

prestado. No caso de parceiros como a AT&T, são firmados contratos anuais de

prestação de serviços, com pagamentos periódicos e um compromisso de

desenvolvimento de longo prazo. Com outras empresas, eles fazem contratos

pontuais, com o cliente passando o briefing e a I.ndigo orçando um pagamento

segundo o tamanho do projeto realizado (havendo a possibilidade de um contrato

adicional para a manutenção mensal do aplicativo). Um exemplo é o Banco Safra,

para o qual a startup desenvolveu um app para os correntistas acessarem as

informações de suas contas.

“Com uma equipe extremamente competente e com

uma cultura que promove o conhecimento,

conseguimos fomentar nosso patrimônio intelectual, o

que permitiu desenvolvermos projetos inovadores e

competitivos no mercado”, Edmar Miyake, sócio.

A maior parte dos 40 funcionários da empresa (cerca de 90%) trabalha no Brasil e

são responsáveis por todo o desenvolvimento e criação. Nos EUA, estão cinco

empregados, responsáveis pela gestão de projetos e vendas no mercado

americano.

5.1.4. NO BRASIL

Metade da receita da I.ndigo em 2012 veio de contratos com empresas brasileiras.

No Brasil, eles também procuram usar o modelo de parceria de longo prazo “fábrica

de ideias”. Uma delas é com o banco Santander, que paga a empresa por sugestões

de apps que possam alavancar negócios do banco. O contrato gerou sete projetos

em 2012, dos quais três devem ser implementados em 2013. Outro tipo de parceria

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é buscado com agências de propaganda, já que, normalmente, elas possuem em

seus portfólios empresas-clientes interessadas em fazer ações de marketing via

mobile.

“Aqui no Brasil é diferente, a gente não está na mão

de um só parceiro. Fazemos ações de prospecção,

somos convidados a participar de algumas feiras, sem

qualquer custo, como palestrantes. A gente já chegou

a investir em mídia, em redes sociais pra atingir algum

público específico. E aqui a nossa prospecção é mais

no porta a porta... aqui [no Brasil] nós investimos

bastante em assessoria de imprensa, o que acabou

fazendo com que algumas reportagens saiam e que a

prospecção reativa aumente. Os clientes vêm muito

mais atrás da gente do que a gente atrás deles.”

Danilo Toledo, sócio.

Segundo os empreendedores, a experiência adquirida nos Estados Unidos foi

essencial para a conquista de novos clientes no Brasil. Por exemplo, a experiência

no desenvolvimento de aplicativos para eventos esportivos ajudou a empresa a

conquistar uma parceria com a Samsung e o Yahoo! Para a produção do app oficial

da Copa Santander Libertadores para a plataforma Android em 2012. O aplicativo

faz parte de um projeto de longo prazo para as duas marcas, e vai acompanhar a

competição também nos próximos anos. Com ele, os torcedores de toda a América

Latina poderão escolher o time preferido, acompanhar os jogos em tempo real,

social streaming, opinião de especialistas, classificação, artilheiros e notícias. Outros

aplicativos para marketing esportivo foram feitos para o Athina Onassis Horse Show,

um dos maiores eventos de hipismo no Brasil e o GP Brasil de Fórmula 1 de 2012,

sendo esse último resultado da parceria com o Santander.

A experiência no chamado m-commerce, o comércio eletrônico via smartphone,

adquirida através das experiências como a rede de lojas Hyvee e a marca de

cosméticos Anna Pegova nos EUA, permitiu à empresa participar de projetos

inovadores no Brasil, como o aplicativo Snappin em parceria com a Ogilvy, Grupo Fit

e a Oz Technology. Trata-se de um dos primeiros aplicativos de mobile payment do

Brasil, que possibilita o pagamento da comanda de casas de shows e boates

evitando a necessidade de entrar em filas no final da noite.

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A experiência no mercado americano também proporcionou à I.ndigo não só o

aprendizado técnico, mas também de negócios.

“Estar nos EUA nos trouxe o aprendizado de valorizar

o nosso produto, aprender a valorizar a nossa

empresa, aprender a valorizar o mercado pelo jeito

que a gente é valorizado lá fora, pela quantidade que

pagam, pelo preço que pagam pelo nosso serviço lá

fora. Aprendemos que estar no Brasil e nos EUA é

muito bom por questões de sazonalidade de mercado:

quando está ruim aqui, está bom lá; quando está ruim

lá, está bom aqui.”, Danilo Toledo, sócio.

Atuar em dois mercados também implica em ter que lidar com tipos de concorrência

distintos. Nos EUA, o mercado é bastante pulverizado, com uma infinidade de

players, de desenvolvedores de aplicativos a agências de propaganda, e a

inexistência de um grande concorrente. No Brasil, há menos players no setor de

mobilidade, mas os sócios da I.ndigo não os veem como concorrentes diretos por

causa da diferença no modelo de negócios.

“São concorrentes, sim, lógico, mas [...] eles estão

caminhando cada vez mais para mídia, aplicativos de

prateleira; a gente tá indo cada vez mais para

soluções mais complexas e um processo de criação

de aplicativos mais estruturado, um aplicativo de maior

complexidade de negócios e técnica.” Danilo Toledo,

sócio.

5.1.5. PRÓXIMOS PASSOS

Os sócios apontam os desafios enfrentados por uma empresa nova e inovadora. O

principal deles está ligado à dificuldade de recrutar mão de obra adequada às

necessidades da startup: o funcionário deve ser multidisciplinar, assumir projetos, ter

capacidade para gerenciá-los e operá-los. Como uma empresa iniciante não tem a

imagem, não transmite a segurança de carreira e tampouco oferece os benefícios de

uma grande empresa, a empresa precisa criar um ambiente que permita motivar o

profissional, através da promoção da inovação, o conhecimento e desenvolvimento

profissional, principalmente pela abertura que uma startup possui.

“Pode parecer clichê, mas, para uma startup dar

certo, o administrador precisa contar com profissionais

competentes que "vistam a camisa" e ajudem a

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promover o seu negócio, uma vez que os recursos

financeiros e de pessoas são limitados no início do

empreendimento e, muitas vezes, um colaborador

precisa desempenhar mais de um papel para

preencher a lacuna existente nos seus processos”

Edmar Miyake, sócio.

Outro desafio será o amadurecimento do mercado de aplicativos no Brasil. De

acordo com os sócios, a previsão é que haja cada vez mais concorrentes, o que,

possivelmente, ocasionará uma diminuição no preço de desenvolvimento do

aplicativo.

“O preço vai baixar, a concorrência vai aumentar, vai

ser mais difícil. A gente pretende ultrapassar esses

obstáculos tendo um posicionamento muito claro,

tendo um diferencial de qualidade muito claro e uma

excelência de serviço muito clara e muito acima da

média. Atendendo menos projetos, mas de maior valor

agregado e se posicionar muito bem no mercado

dessa forma.” Danilo Toledo, sócio.

Para crescer de forma sustentável, a empresa pretende estruturar melhor a parceria

com a AT&T para vender melhor seu novo produto, uma plataforma de varejo.

“Mais do que um aplicativo, é um aplicativo mais

inteligência. É uma plataforma de inteligência para o

varejo, onde a gente vai atacar os principais varejistas

do Brasil e dos EUA, vai focar bem neles. E a ideia é

apostar muito nisso, criar um produto de varejo que vai

dar renda recorrente e vai nos fazer crescer em

faturamento sem crescer muito em mão de obra,

estrutura e custo fixo.” John Tomizuka, sócio.

Embora o principal plano de ação da empresa envolva um fortalecimento da parceria

com a AT&T, a I.ndigo Taqtile planeja uma ampliação da quantidade de parcerias

nos EUA, a fim de diminuir a dependência em relação à operadora americana. A

intenção é aumentar a ação comercial em solo americano, estruturando uma

campanha comercial mais independente.

A empresa não pretende entrar em outros países por enquanto, mas não descarta a

hipótese de fazê-lo caso haja uma boa oportunidade.

“A gente entende que pode atender a qualquer

empresa de qualquer lugar do mundo. Tanto é que os

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projetos dos EUA são completamente atendidos por

aqui...poderiam ser completamente atendidos por aqui.

[...] Por enquanto, não há nada que nos motive a abrir

em outros países. Mais para a frente pode ser que

mude alguma coisa.” Danilo Toledo, sócio.

5.2. ANÁLISE DO CASO

O objetivo deste capítulo é examinar o caso da empresa I.ndigo Taqtile à luz das

teorias que buscam explicar o processo de internacionalização de empresas. Busca-

se entender como uma startup conseguiu entrar no novo e competitivo mercado de

aplicações para dispositivos móveis dos Estados Unidos.

Para isso, serão confrontados os arcabouços teóricos apresentados na revisão de

literatura deste trabalho e os movimentos de internacionalização da I.ndigo Taqtile,

buscando responder às perguntas que orientaram esse estudo:

1. Que fatores ambientais possibilitaram o surgimento e de um novo

empreendimento internacional no Brasil?

2. Quais fatores internos favoreceram o estabelecimento de um novo

empreendimento internacional no Brasil?

3. Quais foram suas estratégias de entrada e estabelecimento no mercado

internacional?

5.2.1. A I.NDIGO TAQTILE NA PERSPECTIVA DAS CORRENTES ECONÔMICAS

Conforme visto na revisão de literatura, as teorias econômicas têm como foco,

essencialmente, o processos de decisão de investimento no exterior sob a ótica de

grandes empresas multinacionais, apresentando, portanto, pouca capacidade de

explicação para a internacionalização de empresas de menor porte.

É o que constatamos ao analisar o caso da I.ndigo Taqtile sob a perspectiva da

teoria da internalização de Buckley e Casson (1976) e Rugman (1980), que prega a

internacionalização das empresas como uma forma de as multinacionais reterem

controle sobre a sua rede de ativos (produtivos, comerciais, financeiros, etc). No

caso de pequenas empresas, como a I.ndigo Taqtile, acontece justamente o

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contrário: para facilitar sua entrada no mercado estrangeiro, elas abrem mão do

controle sobre alguns ativos. Embora os sócios tenham aberto um escritório em

Seattle, nele há apenas cinco pessoas que basicamente fazem o relacionamento

com a AT&T ou com os parceiros que eles conseguiram por meio do relacionamento

com a operadora. Os planos da empresa envolvem a formação de uma força de

vendas no EUA, mas não é algo que vai ser feito no curto prazo. Pelo contrário, a

estratégia da empresa é de estruturar melhor e aumentar o uso da força de vendas

da AT&T a partir de 2013.

A teoria do Paradigma Eclético de Dunning (1980) busca explicar o processo de

internacionalização de empresas com base na posse conjunta de três tipos de

vantagem: vantagens de localização, vantagens de propriedade e vantagens de

internalização. No caso da I.ndigo Taqtile, pode-se encontrar as vantagens de

localização, por exemplo, no custo de mão de obra qualificada no Brasil quando

comparada com o EUA. Este fator proporciona à empresa uma vantagem sobre o

preço dos serviços em relação às empresas norte-americanas. Com relação às

vantagens de propriedade, pode-se citar a tecnologia criada pela empresa e sua

capacidade inovadora, competências que permitem que ela se diferencie no

mercado internacional. Como a empresa abre mão de controle sobre alguns ativos,

não se pode falar em vantagens de internalização.

5.2.2. A I.NDIGO TAQTILE NA PERSPECTIVA DA ESCOLA DE UPPSALA

Conforme visto na revisão de literatura, os autores do modelo de internacionalização

gradual propuseram uma revisão do modelo para atualizá-lo com as novas

descobertas acerca das redes de negócios. Por isso, a análise do processo de

internacionalização da I.ndigo Taqtile sob a perspectiva atualizada de Johanson e

Vahlne (2009) será feita mais adiante, na seção sobre teoria das redes.

No entanto, algumas premissas do modelo de etapas da Escola de Uppsala serão

discutidos por serem considerados relevantes para o entendimento do caso da

startup brasileira. O primeiro é a tendência das empresas preferirem entrar primeiro

em mercados menos distantes psiquicamente (Johanson e Vahlne,1977). Esta

tendência explica, em parte, a opção da I.ndigo Taqtile pelo mercado americano, já

que um dos seus fundadores é americano e atuou por muitos anos no mercado de

tecnologia dos EUA. Esta experiência prévia permitiu uma diminuição das incertezas

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em relação ao mercado-alvo, aumentando a confiança dos empreendedores em

investir na internacionalização da empresa.

Outra importante premissa é o papel central do conhecimento experiencial no

processo de internacionalização da firma. Quanto maior o conhecimento da empresa

sobre o mercado, maior seu comprometimento com o mercado, caracterizado, por

exemplo, pela abertura de escritórios de vendas ou instalações de subsidiárias. E

diversos momentos a empresa aponta o aprendizado proveniente da realização de

projetos para o mercado americanos. Por exemplo, sobre o aplicativo para o

casamento real inglês, um dos sócios explica o quanto a empresa aprendeu sobre o

próprio negócio. Logo depois desse projeto a I.ndigo Taqtile decidiu estabelecer-se

nos EUA.

“Nós aprendemos a falhar, como é falhar com alguns

produtos que tentamos vender. Aprendemos a ter

sucesso com alguns produtos que aprendemos a

vender. Aprendemos a empreender direito, a nos

organizarmos financeiramente, sobre como estruturar

um processo. [...] Isso constantemente muda,

aprendemos a cada dia.” Danilo Toledo, sócio.

5.2.3. A I.NDIGO TAQTILE NA PERSPECTIVA EMPREENDEDORISMO

INTERNACIONAL

Conforme visto na Revisão de Literatura, a corrente do Empreendedorismo

Internacional busca estudar os chamados Novos Empreendimentos Internacionais,

empresas que se diferenciam das demais por iniciarem suas atividades com uma

estratégia proativa internacional (OVIATT & MCDOUGALL, 1994). Coombs et al.,

(2009) vão além ao afirmar que sem a internacionalização, a própria existência do

empreendimento estaria comprometida. No caso da I.ndigo Taqtile essa afirmação

parece ser verdadeira, já que as atividades da empresa nos Estados Unidos foram

cruciais para a formação do modelo de negócios da empresa, a expansão de sua

network, o desenvolvimento técnico e inovador e o ganho de status que permitiu que

a empresa conseguisse se diferenciar dos demais desenvolvedores de aplicativos

móveis, tornando-se uma consultoria para a área de mobilidade.

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Ao estudar as os Novos Empreendimentos Internacionais, a teoria enfatiza os

processos dinâmicos, por vezes caóticos, da internacionalização precoce, no qual

habilidades, experiência e redes sociais exercem um papel predominante (KEUPP &

GASSMANN, 2009). Assim, primeiramente, buscamos verificar se a empresa objeto

deste estudo, a I.ndigo Taqtile, poderia se considerada um Novo Empreendimento

Internacional de acordo com o modelo de Oviatt e McDougall (1994). A análise do

caso demonstrou que a startup tem muitos elementos do framework. Por exemplo,

apresenta forte dependência de estruturas de governança alternativas de acesso a

recursos, que fica claramente caracterizada pela dependência do uso da força de

vendas da AT&T pela I.ndigo Taqtile. De acordo com os sócios, a falta de recursos

financeiros e humanos tornaria impossível para a empresa prospectar novos

contratos no mercado americano.

“[...] a AT&T prospecta para nós. Se nós fôssemos

viajar por todo os Estados Unidos para visitarmos e

ganharmos clientes, teríamos um custo absurdo.” John

Tomizuka, sócio.

A I.ndigo Raqtile também possui a vantagem de localização no exterior,

exemplificada, de acordo com Oviatt e McDougall (1994), pela propriedade do

conhecimento e sua característica de mobilidade. Uma vez produzido em uma

determinada localização, ele pode facilmente ser espalhado pelas demais unidades

da companhia. O conhecimento adquirido pela companhia em seus trabalhos nos

Estados Unidos é usado para a concepção e execução de projetos no Brasil e vice

versa.

Por último, a exclusividade de recursos, garantiria a sustentabilidade do Novo

Empreendimento Internacional. Ao analisarmos a trajetória da I.ndigo, encontramos

alguns recursos que poderiam ser considerados exclusivos. O primeiro seria o

capital social da companhia (social capital), representado, principalmente, pela sua

parceria com a AT&T. Ao tornarem-se parceiros preferenciais da empresa para a

produção de aplicativos, a I.ndigo Taqtile conseguiu um recurso que as milhares de

empresas desenvolvedores de aplicativos não têm. O segundo é o próprio

conhecimento sobre o negócio adquirido com a experiência de desenvolvimento de

aplicativos para diferentes segmentos e propósitos. Outro recurso é o modelo de

negócios desenvolvido pela companhia ao longo do tempo. A empresa conseguiu

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aliar a capacidade criativa de uma agência de propaganda ou marketing digital com

a eficiência tecnológica de uma empresa de software. Outra empresa pode tentar

imitar seu modelo de negócios, mas vai demorar para conseguir chegar ao nível de

excelência da I.ndigo Taqtile.

Devido às suas características pode-se enquadrar a I.ndigo Taqtile como um

empreendimento do tipo born global. A empresa apresenta algumas das

características das born globals descritas por Luostarinen & Gabrielsson (2002).

A empresa internacionalizou-se somente dois anos após sua criação em

2007.

A empresa baseou suas visões e missões, principalmente, em mercados e

clientes internacionais desde sua concepção. Isto fica evidente pela escolha

de lançar seu primeiro produto, o Dekks, na DEMO Conference no EUA.

A estrutura da empresa está dividida entre os escritórios de Seatle e São

Paulo.

Em três anos de atuação no mercado externo, a empresa apresentou um

crescimento exponencial, saindo de um faturamento de um milhão de reais,

em 2010 para 10 milhões de reais, em 2012;

A empresa utiliza diferentes estratégias de produtos, operações e mercado,

assim como diferentes modelos de negócios.

A única característica que não parece estar presente é a visão de se tornar líder no

mercado global. A empresa não demonstra ter intenção de, no curto prazo, expandir

sua atuação para outros países além dos EUA.

A trajetória da I.ndigo Taqtile encaixa-se nos resultados encontrados pela pesquisa

de Dib &Rocha (2008) sobre born globals brasileiras, já que a mesma demonstra

possui um alto grau de inovação tanto na tecnologia de seus produtos e processos,

como no modelo de negócios; a empresa é bastante orientada ao cliente, já que

seus produtos são customizados de acordo com as necessidades das empresas-

clientes; e, por fim, a empresa foi formada por um grupo de empreendedores com

vasta experiência tanto na área de tecnologia quanto na área de gestão de negócios

(ANEXO 5).

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A I.ndigo Taqtile também possui diversas características presentes no modelo de

Dib & Rocha (2010). Das variáveis-empresa, a empresa possui ativos singulares

(mão de obra qualificada), capacidade de inovação, especialização / nichos

(produção para empresas), orientação para o cliente (produtos customizados),

diferenciação de produto (design e usabilidade), vantagem tecnológica e o uso de TI

(plataforma personalizável). Das variáveis-network, uso de parcerias e networks de

negócios e pessoais, a empresa só não faz uso da inserção em cluster. E, por fim, a

empresa apresenta todas as variáveis-empreendedor (orientação internacional,

experiência no exterior, tolerância a risco, know how técnico).

“Eu acho que os antecedentes dos sócios ajudaram

principalmente no começo da empresa. Nós nunca

tivemos capital de terceiros, ninguém investiu na

empresa. Nós levantamos a empresa com os próprios

clientes que já tínhamos. Eu acho que esse

antecedente ajuda muito pelas conexões, o network

que já trouxemos. E tem toda a história do processo

também: por já termos passado por processos de

contratação, por entendermos como funciona uma

empresa, acho que isso acaba ajudando também a

entender precificação, quanto vale um projeto. E o

networking do John foi o que acabou

internacionalizando a empresa. O network que ele

manteve fora dos EUA ajudou alavancar a empresa lá

fora.” Danilo Toledo, sócio.

5.2.4. A I.NDIGO TAQTILE SOB A PERSPECTIVA DA TEORIA DAS REDES

O uso das redes está presente desde a concepção até o processo de

internacionalização da I.ndigo Taqtile. As social networks explicam a própria

formação da empresa, já que, em primeiro lugar, três de seus sócios (Tomizuka,

Miyake e Schou) já haviam trabalhado juntos em uma empresa de tecnologia na

área de mobilidade, e os demais sócios juntaram-se a eles após a empresa ser

instalada na incubadora de empresas da Universidade de São Paulo. Essa parceria

com a universidade trouxe para a empresa uma vantagem competitiva inestimável, o

acesso a recursos humanos altamente qualificados.

“Estar dentro da USP nos ajudou a contratar os

primeiros funcionários, engenheiros da Computação e

estagiários da Escola Politécnica, que hoje

representam mais de 80% da nossa mão de obra. Nós

temos uma mão de obra técnica excelente, uma

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equipe incrível que consegue dar conta de diversos

níveis de complexidade, coisa que nem todo cliente

tem. Danilo Toledo, sócio.

No entanto, é no processo de internacionalização que se percebe o valor das

networks para o desenvolvimento da empresa. Foram os contatos de John Tomizuka

com parceiros da área de tecnologia dos EUA que abriram as portas da empresa

para o mercado estrangeiro. Foram esses contatos que permitiram que os

empreendedores começassem o relacionamento com o seu principal parceiro, a

AT&T.

Pode-se analisar a evolução da empresa de acordo com o novo modelo de

internacionalização de empresas proposto por Johanson e Vahlne (2009). De acordo

com o mesmo, as empresas são impulsionadas a procurar oportunidades no exterior

se parceiros importantes, dentro e fora do mercado doméstico tiverem

relacionamentos fortes nos mercados internacionais. A internacionalização acontece

porque através dela há uma maior probabilidade de encontrar oportunidades de

negócios bem-sucedidas e porque ela significa uma demonstração de fortalecimento

da relação com o parceiro. Além disso, os relacionamentos oferecem potencial para

o aprendizado e para a construção de confiança e compromisso, pré-condições para

o processo de internacionalização.

No modelo cíclico, as decisões de comprometimento com o parceiro estariam

ligadas ao reconhecimento de oportunidades. Ou seja, a empresa aumentaria ou

diminuiria seu relacionamento com o(s) parceiro(s) de acordo com o conhecimento

que tivessem sobre os benefícios da parceria. Pela teoria, a internacionalização das

redes de negócio aconteceria com a empresa “seguindo” um parceiro no exterior por

conta das oportunidades e da demonstração de comprometimento. Esse não foi o

caso da I.ndigo Taqtile. Na trajetória da empresa brasileira, a internacionalização se

deu justamente com a formação da parceria com a AT&T, quando a startup

vislumbrou as oportunidades que poderia ter com o crescimento do mercado de

aplicativos móveis. Assim, num primeiro momento, a formação da parceria foi a

decisão de comprometimento da empresa diante do reconhecimento das

oportunidades trazidas pelo mercado mobile.

Ainda de acordo com o modelo de Johanson e Vahlne (2009), como resultado das

atividades atuais realizadas pela empresa, haveria a criação de conhecimento e a

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construção de confiança entre os parceiros. Na trajetória da I.ndigo Taqtile esses

aspectos ficam bastante evidentes. Por exemplo, é explícita a velocidade de

conhecimento adquirido pela startup e pela AT&T no decorrer da parceria. Em pouco

mais de três anos, as empresas tiveram a oportunidade de realizar projetos com

diversas tecnologias emergentes, como pagamento via celular (mobile payment),

com o aplicativo para a marca Anna Pegova; segunda tela11 (second screen), com o

aplicativo do casamento real inglês; e realidade aumentada12 (augmented reality),

com programa desenvolvido para a bebida energética da Pepsi, Amp Energy.

Além de trabalhar com diversas tecnologias, as empresas tiveram a chance de

desenvolver aplicativos para diversos segmentos, como o setor financeiro, varejo,

esportivo e entretenimento. Por exemplo, o sócio Edmar Miyake ressalta o

conhecimento sobre uma das tendências do mercado de aplicativos móveis, o

mobile advertisement.

“O aprendizado com o projeto foi grande também para

o nosso time, por exemplo, em mobile-advertising.

Tivemos a oportunidade de lidar de perto com o iAd

aproveitando todo o buzz criado pela NBC e compará-

lo com a busca de patrocínios independentes. Foi

interessante também analisar o padrão de

comportamento e o país de origem dos usuários que

baixaram o aplicativo.”, Edmar Miyake, sócio.

É importante destacar que, nas redes de negócio, o conhecimento não é adquirido

apenas a partir de outros autores, mas também da interação entre eles. Na sua nova

visão sobre a internacionalização de empresas, Johanson e Vahlne (2009)

cunharam o conceito de “conhecimento específico de relacionamento” (relation-

especific knowledge), que se desenvolve pela relação entre dois parceiros e inclui o

conhecimento recíproco de seus recursos heterogêneos e capacidades. Esta

construção deste conhecimento específico de relacionamento fica explícito no caso

da parceria I,ndigo Taqtile com AT&T quando observamos o desenvolvimento do

11

A Segunda Tela é um complemento em tempo real à televisão. Ao utilizá-la, seja em computadores, smartphones ou tablets, o usuário recebe informações extras e pontos importantes sobre o assunto que está sendo tratado no programa que está no ar no momento. 12

Concebida em três dimensões, a Realidade Aumentada, é um sistema interativo, com processamento em tempo real, que combina elementos virtuais com o ambiente real.

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modelo da parceria. A pequena empresa passou de desenvolvedora de projetos por

encomenda da gigante americana para um núcleo de inovação para a empresa.

"Não temos como formar uma força de vendas como a

da AT&T. Mas seria muito difícil para eles para criar

uma operação skunk works 13 como a nossa. Nós

somos uma união feita no céu." Dirck Schou, sócio.

No caso da I.ndigo Taqtile, a parceria com a AT&T fez com que a startup acha-se

um nicho de negócios que possibilitasse o crescimento sustentável da empresa

tanto nos EUA quanto no Brasil. Em vez de apostar na venda direta ao usuário como

tantos outros desenvolvedores fizeram, a I.ndigo Taqtile investiu no cliente

empresarial. Mais, os sócios descobriram que o foco da empresa não deveria ser a

parte técnica, mas o desenvolvimento de uma interação que fosse atraente para o

usuário. Para isso, eles deveriam aprenderam a usar design e a usabilidade para

produzir aplicativos que favorecessem a relação empresa-cliente.

“Nós começamos a fábrica de ideias ao percebermos

que o mercado estava muito acostumado a vender os

aplicativos como se eles fossem um projeto de TI. Mas

nós achamos que não que o mobile é muito mais um

meio de comunicação do que um sistema. E, enquanto

meio de comunicação, nós precisamos explorá-lo da

melhor forma possível pra conseguir engajar o cliente

lá do outro lado. Então, inovamos nas funcionalidades

do aplicativo, oferecemos serviços relevantes para o

usuário, acrescentamos uma usabilidade boa,

elementos visuais atrativos.” Danilo Toledo, sócio.

Já a construção de confiança estabelecida através da evolução do

comprometimento entre os parceiros, fica evidenciada por dois motivos: o modelo de

negócio da empresa com a AT&T evoluiu do simples desenvolvimento de aplicativos

sob encomenda para a elaboração de produtos que são oferecidos pela força de

vendas da empresa a clientes nos EUA. Outro indício do aumento da confiança é a

indicação da startup pela operadora americana para a realização de projetos cada

vez mais complexos, estratégicos e de maior visibilidade.

13 Skunk works - espaços propositalmente informais e desconectados do ambiente corporativo usados

para emular o ambiente inovador de pequenas empresas.

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Por fim, no processo de internacionalização de redes de negócios de Johanson e

Vahlne (2009), quanto maior o conhecimento e a confiança entre os parceiros,

melhor é a posição na rede da empresa. Nos estudos das networks. Quanto maior a

centralidade do ator na rede, maior é a sua capacidade de ''alcançar'' outros atores

em sua rede através de intermediários.

Dois conceitos apresentados por Johanson e Vahlne (2009) estão ligados à posição

na rede da empresa. O primeiro é a necessidade de estar presente (insidership) nas

redes relevantes para o sucesso do processo de internacionalização, e o segundo, o

lado inverso do primeiro, é o peso de estar de fora (liability of outsidership), e a

consequente falta de conhecimento do mercado, para quem não ainda não se

integrou a essas redes. Estes dois conceitos são essenciais para o entendimento do

êxito da I.ndigo Taqtile no mercado americano.. Sem a parceria a empresa sofreria

como as demais desenvolvedoras. Por ser parceira da AT&T a empresa consegue

entrada em redes como as de entretenimento, no caso da NBC e Varejo, como a Hy-

vee.

“Um dos principais benefícios da parceria é que os

cases da AT&T conseguem abrir muitas portas nas

diferentes empresas, nas diferentes entidades.” Danilo

Toledo, sócio.

Como o presente estudo trata de uma empresa da indústria de software, é

interessante verificar se o processo de internacionalização da I.ndigo Taqtile estaria

de acordo com o framework para a internacionalização de empresas de software de

Coviello e Munro (1997). A trajetória da startup revela-se mais lenta do que o padrão

de desenvolvimento de internacionalização apresentado no framework. A pequena

empresa iniciou suas operações com a intenção de internacionalizar. No entanto, a

parceria com uma grande empresa, a AT&T só aconteceu no segundo ano da

empresa, enquanto o modelo prevê que ela ocorra ainda no primeiro ano. Seguindo

o modelo, a formação da parceria ocorreu de maneira oportunista, para

desenvolvimento de produtos, e forneceu um modo de entrada em um mercado

psiquicamente próximo, os EUA.

No entanto, a maior diferença entre o percurso de internacionalização da I.ndigo

Taqtile e o modelo de Coviello e Munro (1997), está na expansão dos mercados

internacionais atendidos pela pequena empresa. Enquanto no modelo a pequena

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empresa atua em pelo menos dois mercados estrangeiros em menos de três anos, o

mesmo não se verifica no caso da I.ndigo Taqtile. Nos anos seguintes ao início da

parceria, a I.ndigo desenvolveu uma rede de contactos formais e informais no

mercado americano, facilitada pela relação inicial com a AT&T. Um exemplo é a

parceria com a universidade de Stanford.

Este crescimento proporciona uma maior visibilidade para a pequena empresa no

mercado internacional, bem como um aumento das capacidades de recursos

financeiros e humanos. A experiência gerencial em mercados internacionais

continua a aumentar, levando a um maior conhecimento e confiança no mercado e

decisões de relacionamento.

No estágio atual, a I.ndigo Taqtile parece ter chegado ao ponto de sua trajetória

onde ela pode ou não buscar independência em relação ao parceiro ou rede inicial,

conforme previsto no modelo de Coviello e Munro (1997). Neste momento, a

empresa optou por aprofundar, de forma mais estruturada, a parceria com operadora

americana para crescer no mercado americano.

“Nós estamos estruturando melhor a parceria com a

AT&T para vendermos melhor a nossa plataforma de

varejo e de estádios esportivos. Estamos negociando

no momento com outras 18 arenas esportivas nos

EUA de times de baseball, futebol americano, hockey

e futebol, profissionais e universitários.” John

Tomizuka, sócio.

No entanto, a dependência da parceria com a AT&T parece incomodar os sócios da

empresa. Para aumentar sua autonomia, a I.ndigo Taqtile buscando diversificar de

suas áreas de produtos básico, buscar novos mercados e estabelecer suas próprias

vendas e escritórios de comercialização no exterior (todos independentes de

parceiros de rede existentes). No entanto, essas iniciativas são bem incipientes, já

que a empresa ainda não possui recursos financeiros e humanos que permitam uma

independência da parceira maior.

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6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

6.1. CONCLUSÕES

O presente estudo buscou analisar o processo de internacionalização de uma

empresa brasileira do setor de software do sob as perspectivas das correntes

teóricas de Negócios Internacionais. Com este intuito, foi feita uma análise do setor

de software com especial ênfase ao subsetor de desenvolvimento de aplicativos

móveis e uma revisão de literatura das principais correntes da área de estudos da

Internacionalização de Empresas. Foi dada especial atenção aos arcabouços

teóricos comportamentais da Escola de Uppsala, Empreendedorismo Internacional,

com especial atenção à linha que estuda as chamadas Born Globals, e a Teoria das

Redes.

A fim de compreender o processo de internacionalização de forma mais

aprofundada, foi utilizado o método qualitativo do estudo de caso. A empresa

escolhida para a pesquisa, a desenvolvedora de aplicações para dispositivos móveis

I.ndigo Taqtile, iniciou suas atividades no Brasil e, dois anos depois começou a

prestar serviços nos Estados Unidos.

Embora a utilização do método de estudo de caso não permita generalizações, a

análise da trajetória de uma empresa como a I.ndigo Taqtile pode ajudar a entender

como e porque um empreendedor ou um grupo de empreendedores consegue

vencer barreiras à internacionalização de um país com pouca tradição exportadora

em serviços de alta tecnologia (DIB e ROCHA, 2008). Por exemplo, com um modelo

que parece ser “geneticamente” voltado para dentro (ROSELINO, 2006), o setor de

software brasileiro tinha em 2009 somente 130 empresas com atividades no exterior

(13,6%), gerando receitas que representavam apenas 7,81% do total de receitas do

setor (OBSERVATÓRIO SOFTEX, 2012).

O estudo foi orientado pelas seguintes perguntas:

1. Que fatores ambientais possibilitaram o surgimento de um novo empreendimento

internacional no Brasil?

Conforme observado pela análise desenvolvida neste trabalho, o setor de software

apresenta uma estrutura de rede na qual os atores estão conectados por meio de

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parcerias para atender às demandas de seus clientes (Iyer et al, 2006). Hoje, as

grandes empresas não desenvolvem produtos isolados, mas plataformas que

requerem a produção de complementos por outras empresas, formando um grande

ecossistema em torno dos produtos (CUSUMANO, 2008).

De acordo com Cusumano (2010), um exemplo deste tipo de estratégia foi aquela

utilizada pela Apple na última década (iPod, iPhone, iPad) que, apesar de

inovadores, não teriam tanto sucesso sem o conteúdo digital externo como músicas,

vídeos e aplicativos encontrados no iTunes, na App Store e na iBooks. No caso da

App Store, o modelo de compartilhamento de receitas simplificado e o acesso às

interfaces de programação de aplicativos, tornou possível para pequenas empresas

desenvolvedoras criar facilmente aplicações móveis que proporcionassem uma

ótima experiência para o usuário. O resultado foi o crescimento acelerado do setor

de aplicativos móveis a partir de 2008, justamente o momento em que a I.ndigo

Taqtile estava sendo formada. Com recursos humanos capacitados e experientes, a

empresa pôde aproveitar a oportunidade que se apresentava.

A pesquisa de Iyer et al (2006) apresenta dois comportamentos dos atores desta

rede de negócios que ajudam a entender as condições que favoreceram a entrada

da I.ndigo Taqtile nos Estados Unidos. Em primeiro lugar, as empresas do setor

tendem a construir alianças em períodos de incerteza. As empresas já estabelecidas

o fazem para buscar a inovação presente nas startups, enquanto os novos entrantes

ganham status e acesso a recursos que não podem pagar, como canais de vendas e

marketing das empresas maiores. Em segundo lugar, está a importância da seleção

adequada de parceiros, a fim de simplificar o gerenciamento dessas parcerias,

minimizando custos, e facilitar o acesso a outras empresas. Ao manter relações com

parceiros que estão bem posicionados como condutores e conexões com outras

empresas, as companhias vão atrair mais pedidos de ligações por outros atores da

rede.

A aliança entre a I.ndigo Taqtile e a AT&T, principal motor do desenvolvimento da

pequena empresa nos EUA, parece ser fruto dessas tendências do setor. Em vez de

tentar produzir inovações numa área que não é o seu core business, a operadora

americana buscou uma parceria com uma startup com capacidade inovadora no

setor. Por sua vez, a I.ndigo Taqtile conseguiu acesso à grande e bem estruturada

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força de vendas da AT&T, que não poderia ser paga com os escassos recursos

financeiros da companhia.

Ademais, a formar a aliança com a AT&T, a I.ndigo Taqtile conseguiu um parceiro

bem posicionado no setor que abriu caminho para que a empresa tivesse contato

com outras grandes empresas, como a NBC e Stanford. Por sua vez, estas novas

ligações trouxeram outros pedidos de relacionamento, inclusive no Brasil,

proporcionando um crescimento acelerado da startup.

2. Quais fatores internos favoreceram o estabelecimento de um novo

empreendimento internacional no Brasil?

Muitas características da I.ndigo Taqtile ajudam a explicar o seu sucesso no

mercado internacional. Em primeiro lugar, pode-se citar a menor distância psíquica

com o mercado-alvo, já que um de seus sócios é americano e atuou por muitos anos

no mercado de tecnologia dos EUA. Esta experiência prévia permitiu uma

diminuição das incertezas em relação ao mercado-alvo, aumentando a confiança

dos empreendedores em investir na internacionalização da empresa (Johanson e

Vahlne,1977).

A I.ndigo Taqtile apresenta ainda outras características semelhantes a outras born

globals brasileiras (Dib &Rocha, 2008), já que demonstra um alto grau de inovação

tanto na tecnologia de seus produtos e processos, como no modelo de negócios;

uma grande orientação para o cliente, com produtos customizados de acordo com

as necessidades das empresas-clientes; e, por fim, um grupo de empreendedores

com vasta experiência tanto na área de tecnologia quanto na área de gestão de

negócios.

A I.ndigo Taqtile também possui diversas características presentes no modelo de

Dib & Rocha (2010):

Variáveis-empresa

Ativos singulares.

O relacionamento com a Cietec proporcionou à companhia acesso à mão de

obra qualificada, um dos recursos mais importantes e, ao mesmo teempo, mais

escasso para empresas de tecnologia.

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Capacidade de inovação, vantagem tecnológica e o uso de TI.

A empresa construiu uma plataforma personalizável que permite atender aos

clientes num curto prazo de tempo e com menos custos.

Especialização / Orientação para o cliente / Diferenciação de produto.

Uma dos fatores que favoreceram o desempenho da companhia foi o modelo de

negócios desenvolvido ao longo do tempo. A empresa conseguiu aliar a

capacidade criativa de uma agência de publicidade ou marketing digital com a

eficiência tecnológica de uma empresa de software. Outra empresa pode tentar

imitar seu modelo de negócios, mas vai demorar a conseguir chegar ao nível de

excelência da I.ndigo Taqtile. Além disso, a empresa decidiu ter como alvo

empresas que buscam usar os dispositivos móveis como meio de relacionamento

com o seu cliente, em vez de apostar no saturado mercado de venda direta de

aplicativos para o usuário.

Variáveis-network

Uso de parcerias e networks de negócios e pessoais.

Foram os contatos de John Tomizuka com parceiros da área de tecnologia dos EUA

que abriram as portas da empresa para o mercado estrangeiro. Foram esses

contatos que permitiram aos empreendedores começar o relacionamento com o seu

principal parceiro, a AT&T. Esta ligação, por sua vez, proporcionou acesso à maioria

dos clientes que a empresa conseguiu nos Estados Unidos.

Variáveis-empreendedor

Orientação internacional.

De acordo com os sócios, o mercado americano sempre foi alvo da empresa.

Essa orientação internacional pode ser verificada com o lançamento do primeiro

produto da empresa, o Dekks, numa conferência nos EUA.

Experiência no exterior.

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John Tomizuka, um dos sócios fundadores da companhia, trabalhou por muitos

anos em empresas de tecnologia nos Estados Unidos e Japão, o que conferiu a

ele um grande conhecimento do setor.

Tolerância a risco.

Todos os sócios fundadores tinham experiência como empreendedores antes de

formarem a I.ndigo Taqtile. Conforme relato dos sócios, muitas dessas

experiências não conseguiram sucesso, mas eles persistiram com a ideia de ter

seu próprio negócio.

Know how técnico.

Todos os sócios-fundadores tinham formação na área de negócios,

conhecimento técnico de programação e experiência em empresas de tecnologia

antes de formarem a I.ndigo Taqtile.

3. Quais foram suas estratégias de entrada e estabelecimento no mercado

internacional?

Estudos da Teoria das Redes (Johanson e Vahlne, 2009; Coviello e Munro, 1997)

afirmam que as redes têm um papel fundamental na internacionalização de

pequenas empresas. Pode-se afirmar que, no caso da I.ndigo Taqtile, o processo de

internacionalização se deu com a formação da parceria com a AT&T, quando a

startup vislumbrou as oportunidades que poderia ter com o crescimento do mercado

de aplicativos móveis.

O êxito da I.ndigo Taqtile no mercado americano pode ser explicado por dois

conceitos desenvolvidos por Johanson e Vahlne (2009). O primeiro é a necessidade

de estar presente (insidership) nas redes relevantes para o sucesso do processo de

internacionalização, e o segundo, o lado inverso do primeiro, é o peso de estar de

fora (liability of outsidership), e a consequente falta de conhecimento do mercado,

para quem não ainda não se integrou a essas redes. Sem a parceria a empresa

sofreria como as demais desenvolvedoras. Por ser parceira da AT&T a empresa

consegue entrada em redes como as de entretenimento, no caso da NBC e Varejo,

como a Hy-vee.

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Conforme o relacionamento dos parceiros evoluiu, aumentou o comprometimento e

a confiança entre eles, conforme previsto por Johanson e Vahkne (2009). O modelo

de negócio da empresa com a AT&T evoluiu do simples desenvolvimento de

aplicativos sob encomenda para a elaboração de produtos que são oferecidos pela

força de vendas da empresa a clientes nos EUA. O aumento da confiança também é

evidenciado pela indicação da startup pela operadora americana para a realização

de projetos cada vez mais complexos, estratégicos e de maior visibilidade, como a

posse do presidente Barack Obama, em 2013.

O processo de internacionalização da I.ndigo segue em diversos pontos o das

empresas de software estudadas por Coviello e Munro (1997), como a maneira

oportunista da formação da parceria e a dependência do parceiro para se

desenvolver no mercado estrangeiro. No entanto, o processo também possui

algumas diferenças, como uma maior lentidão para entrar no mercado internacional

e a permanência em apenas um mercado interncaional.

De acordo com Coombs et al., (2009) sem a internacionalização, a própria existência

o novo empreendimento estaria comprometida. Após analisar o caso da I.ndigo

Taqtile, podemos concluir que essa afirmação parece ser verdadeira, já que as

atividades da empresa nos Estados Unidos foram cruciais para a formação do

modelo de negócios da empresa, a expansão de sua network, o desenvolvimento

técnico e inovador e o ganho de status que permitiu que a empresa conseguisse se

diferenciar dos demais desenvolvedores de aplicativos móveis, tornando-se uma

consultoria para a área de mobilidade.

6.2. RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

O estudo pode ser replicado para outras empresas do setor de software, em caráter

comparativo, a fim de entender os fatores internos e externos e as estratégias

utilizadas pelas empresas para ingressar e evoluir no mercado internacional.

Estudos quantitativos podem ser realizados de forma a permitir generalizações que

possibilitem a observação de pontos convergentes e divergentes nos processo de

internacionalização de empresas do setor.

Além disso, trabalhos semelhantes poderiam ser conduzidos em outros setores de

indústria no Brasil, tais como agronegócios, movelaria, confecções e cosméticos, de

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74

forma a identificar peculiaridades e similaridades com relação aos achados do

presente estudo.

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Anexos

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Anexo I - Modelos de Negócios no Mercado de Aplicativos – Popularidade e

Receita

*Em dólares

Fonte: Developer Economics 2013. Janeiro 2013 (Adaptado)

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Anexo II – Desenvolvedores sem interesse em receita e Linha da pobreza

*Em dólares

Fonte: Developer Economics 2013. Janeiro 2013

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Anexo III – Framework para a Internacionalização de Empresas de Software -

Coviello e Munro - 1997

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Anexo IV – Aplicativos desenvolvidos pela I.ndigo Taqtile

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Anexo V – Lista de Sócios da I.ndigo Taqtile

Fundadores

Danilo Toledo – Diretor Comercial e de Marketing no Brasil

Brasileiro, 30 anos, administrador com MBA Executivo. Experiência como

empreendedor em uma empresa de gestão de saúde e outra de Identificação por

radiofrequência.

Edmar Miyake – Presidente

Brasileiro, 30 anos, administrador de empresas. Experiência como funcionário em

empresas de tecnologia, como a Spring Wireless e a WIT. Experiência como

empreendedor em uma empresa de mobilidade. Principal responsável pela

estratégia da I.ndigo Taqtile.

John Tomizuka – Diretor de Produtos nos EUA

Americano, 38 anos, administrador de empresas. Experiência como funcionário em

empresas de tecnologia, como a Spring Wireless e a Tivoli. Experiência como

empreendedor em uma empresa de tecnologia.

Demais sócios

Dirck Schou – Diretor de Operações nos EUA

Americano, 41, administrador de empresas. Experiência como funcionário em

empresas de tecnologia, como a Spring Wireless e a Tivoli. Experiência como

empreendedor em uma empresa de tecnologia.

Renato Tano – Responsável por Processos e Operações

Brasileiro, 28 anos, engenheiro de software. Experiência como funcionário em

empresas de tecnologia, como a NEC. Experiência como empreendedor em uma

empresa de tecnologia.

Felipe Sabino – Responsável por Desenvolvimento

Brasileiro, 28 anos, engenheiro de software. Experiência como funcionário em

empresas de tecnologia.

Raphael Petegrosso– Responsável por Desenvolvimento

Brasileiro, 28 anos, engenheiro de software. Experiência como funcionário em

empresas de tecnologia.

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Anexo VI – Roteiro de Entrevista

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Data: ___/___/___ Entrevistador: __________________________

Empresa: __________________________________________________________

Endereço: _________________________________________________________

Telefone: _________________Fax: _____________e-mail: __________________

1. Informações sobre o Respondente

Nome:_______________________________Cargo:________________________

Idade:_____anos

Há quanto tempo desempenha esta função na empresa: ____________anos.

Formação acadêmica:

Graduação: (curso e instituição)________________________________________

Pós-Graduação: (curso e instituição)____________________________________

Experiência profissional anterior:_______________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

Alguma etapa de sua formação acadêmica foi adquirida no exterior?

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( ) Não

( ) Sim. Qual? (tipo, duração, país) ____________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________

Número médio de viagens ao exterior por ano (a trabalho e a lazer): ___________

2. Informações sobre a Empresa

Ano de fundação: ___________________________________

Ramo de atividade: __________________________________________________

Como surgiu a idéia de criar a empresa? _________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Quantos sócios a empresa possui? ____ sócios

Qual a estrutura dessa sociedade? (sócios capitalistas, sócios gerentes etc...)

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________

__________________________________________________________________

Qual o perfil dos fundadores da empresa? (idade, formação acadêmica, experiências profissionais

anteriores, função atual na empresa etc...) __________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

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89

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__

Principais produtos/serviços comercializados por sua empresa:

Serviços

(por ordem de importância no

faturamento)

No Brasil

No Exterior

1.

2.

3.

4.

Número de funcionários no Brasil

TOTAL __________

Número de funcionários no exterior

TOTAL __________

Faturamento total anual: R$ _______________________

Faturamento referente à comercialização dos produtos/serviços no exterior, como % do faturamento

total: _________%

3. Informações sobre as Operações no Exterior

Qual foi o primeiro contato da empresa com o mercado no exterior?

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( ) Através de participação em eventos internacionais. Quais? ___________

___________________________________________________________

____________________________________________________________

( ) Através de relações dos sócios da empresa com pessoas/instituições/

empresas no exterior. __________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

( ) Outro contato _________________________________________________

____________________________________________________________

Qual foi o primeiro país para o qual a empresa exportou ou iniciou a operação de seus serviços:

__________________

Em que ano em essa primeira venda ou operação aconteceu:_____________

Qual foi o principal motivo que, no seu entender, levou a empresa a iniciar operações no exterior,

especificamente neste primeiro país?

( ) solicitação de um cliente no Brasil que estava operando nesse país;

( ) oportunidade no mercado externo identificada através de pesquisa de mercado;

( ) incentivos governamentais para estender as operações para esse país;

( ) pedido de um cliente localizado nesse país;

( ) Porque executivos da empresa já conheciam esse país:

a. por ter relações familiares e visita-lo com freqüência ( )

b. por ter estudado (graduação ou pós-graduação) nesse país ( )

c. por ter trabalhado anteriormente nesse país ( )

d. por dispor de relações profissionais estabelecidas anteriormente ( )

( ) Por outro motivo: ________________________________________________

__________________________________________________________________________________

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91

__________________________________________________________________________________

__________________________________

Quais os mercados no exterior em que a empresa está presente atualmente?

Mercado/País Ano de Entrada Modo de Entrada*

1)

2)

3)

4)

5)

6)

7)

* Exportação, escritórios, licenciamento/franquia, investimento direto) e de propriedade (se for

investimento direto, controle integral, majoritário ou minoritário). Em caso de investimento direto,

se é investimento novo (greenfield) ou aquisição.

Esse modo inicial foi alterado com o passar do tempo? ( ) sim ( ) não

Caso positivo, que tipo de alteração (ões) foi (ram) feita (s)? _________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________

Quando a empresa passou a atuar no exterior, para que o produto fosse instalado ou o serviço

pudesse ser prestado, foi necessário que as operações fossem executadas:

( ) Totalmente no país estrangeiro

( ) Parte no Brasil e parte no país estrangeiro

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________

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__________________________________________________________________

Esse sistema foi alterado, com o passar do tempo? De que maneira?

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________

Que tipo de adaptação (ões), se alguma, teve que ser feita nos produtos/serviços prestados pela

empresa no exterior, nos diferentes países onde atua?

País Adaptações

1.

2.

3.

4.

5.

6.

Essas adaptações foram introduzidas previamente, ou a empresa verificou sua necessidade após

haver iniciado suas operações?

( ) Previamente

( ) Após o início das operações

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________

Fazer Negócios no Exterior

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- Em sua percepção, fazer negócios no exterior é diferente de realizá-los no Brasil?

( ) Não

( ) Sim. Em que aspecto(s)?__________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

- Você poderia dar um exemplo dessa(s) diferença(s)? ______________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

- De que forma sua empresa contornou essa(s) diferença(s)? ________________

_________________________________________________________________

_________________________________________________________________

- Você diria que, hoje, a sua empresa está mais preparada para perceber as diferenças na forma de

conduzir os negócios no Brasil e nos demais países onde opera? Por que?

____________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Aquisição de Conhecimento sobre os Mercados

Tinha conhecimento prévio do mercado? Fez algum estudo ou pesquisa antes de entrar em cada

mercado? E depois? Ou foi adquirindo conhecimento na medida em que as operações foram sendo

executadas? Qual foi, em sua opinião, a melhor forma de adquirir conhecimento sobre o mercado?

Pedir exemplos.

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Comprometimento

A atitude da empresa com relação ao primeiro mercado, por ocasião da decisão de atuar naquele

mercado, era vista como definitiva ou como exploratória? E hoje, para o conjunto de mercados?

Avanço seqüencial

Em que momento percebeu que a empresa estava pronta para entrar em um novo mercado? Que

fatores levaram a essa decisão? E nos mercados seguintes? A empresa adotou uma estratégia passo

a passo, ou uma estratégia mais agressiva?

Pessoas

Quem são as pessoas responsáveis por dirigir as atividades internacionais (nome, cargo, há quanto

tempo estão na empresa, se já tinham experiência internacional prévia e como a adquiriram).

4. Esforços Comerciais

Que tipo de investimento comercial, se algum, a empresa realiza no exterior? (participação em feiras

internacionais, missões comerciais apoiadas pelo governo brasileiro, visitas de vendas sistemáticas a

clientes atuais e potenciais, propaganda em mídia especializada etc)

Essas ações diferem de país para país, ou de mercado para mercado? De que maneira?

5. Alianças e Parcerias

A empresa estabeleceu alguma parceria com outras empresas em sua trajetória internacional? ( )

sim ( ) não

Caso positivo:

Essa(s) empresa(s) era(m) brasileira(s) ou estrangeira(s)? ___________________

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__________________________________________________________________

A iniciativa para a formação dessa parceria foi da sua empresa ou da outra empresa?

_________________________________________________________

__________________________________________________________________

Que tipo(s) de benefício(s) essa parceria trouxe para a sua empresa?

( ) adicionou tecnologia ao meu produto/serviço

( ) trouxe conhecimento sobre as práticas comerciais naquele mercado

( ) trouxe clientes potenciais para o meu produto/serviço

( ) permitiu à minha empresa ultrapassar barreiras legais para atuar naquele

mercado: _______________________________________________________

( ) outra contribuição: _______________________________________________

Com que tipo(s) de benefício(s) a sua empresa contribuiu para essa parceria?

( ) adicionou tecnologia ao produto/serviço do parceiro

( ) permitiu à parceira oferecer outro produto/serviço aos seus clientes já

existentes

( ) permitiu à parceira aumentar a sua competitividade, oferecendo um

produto/serviço equivalente por um preço menor

( ) outra contribuição: _______________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

Existia algum relacionamento prévio de sua empresa com esse parceiro antes de estabelecer alguma

relação comercial com o mesmo?

( ) Não

( ) Sim, existia um relacionamento social (amizade, parentesco etc.)

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( ) Sim, existia um relacionamento profissional (fornecedor, cliente etc.)

( ) Sim, executivos desse parceiro haviam sido colegas de trabalho de executivos

de nossa empresa anteriormente

Essa parceria se restringiu ao desenvolvimento de mercado(s) no exterior ou também para o

mercado doméstico? ____________________________________

__________________________________________________________________

A parceria foi estabelecida através de um documento formal (contrato) ou os negócios aconteceram

de maneira informal? ______________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Com o passar do tempo, essa parceria foi ampliada? De que maneira? _________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Essa primeira parceria continua existindo, ou ela se esgotou? Por quê? ________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________

Após essa primeira parceria, a sua empresa buscou estabelecer relações com outros parceiros no

exterior? ( ) sim, no mesmo país

( ) sim, em outro país

( ) não

Caso positivo, de que maneira se deu essa busca? (através de participações em feiras ou congressos

internacionais, através de indicações recebidas de clientes da empresa no Brasil ou no exterior,

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através de recomendações de parceiros já estabelecidos, através de instituições do governo

brasileiro etc.)

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

6. Informações de ordem geral

Como vê a importância dos mercados externos para a empresa? Sua percepção quanto a esta

importância mudou no decorrer do tempo, desde o início da atuação internacional até agora?

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________

Qual a importância da internet para o desenvolvimento de novos mercados para seus negócios no

exterior? ____________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________

Qual a importância da internet para a manutenção de seus negócios no exterior?

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________

Em sua percepção, a rentabilidade que a empresa obtém no exterior:

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( ) é superior àquela obtida no Brasil

( ) é inferior àquela obtida no Brasil

Porque ___________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________

Em sua percepção, quais as vantagens que seu produto/serviço oferece aos clientes, em relação aos

seus concorrentes diretos? (preço, desempenho etc.)

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________

E quais seriam as desvantagens? ______________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________

A empresa possui planos para crescer no exterior? ( ) sim ( ) não

Caso positivo, quais seriam as principais diretrizes que orientariam esse crescimento?

(aprofundamento da presença no(s) país(es) em que já tem presença atualmente, expansão para

outros países que oferecerem oportunidade, ou que tenham afinidade política e/ou cultural, ou que

sejam próximos geograficamente, ou que apresentem bom potencial de mercado para os serviços da

empresa etc.)

__________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

__________________________________