14
01 | Julho | 2014 - Se Na linha da frente da informação, para que se mantenha sempre informado com rigor e isenção - Nº 2 - Ano 1 | terça-feira 01 de Julho de 2014 À CONVERSA COM HELDER PELEJA - ARTISTA PLÁSTICO pág 10-11 Governo não encerra escolas Escolas do concelho de Mértola vão manter-se em funcionamento no próximo ano lectivo. (...) É evidente que sinto orgulho na Mina de São Domingos, é uma terra com uma beleza sem igual e com vários pontos de interesse para quem a visita. É, como se costuma dizer, um Oásis no Alentejo interior, que alegra não só os seus ha- bitantes e visitantes, mas também os habitantes das terras circundantes.(...)

O Gasómetro Nº2

Embed Size (px)

DESCRIPTION

 

Citation preview

Page 1: O Gasómetro Nº2

01 | Julho | 2014 1

- SeNa linha da frente da informação, para que se mantenha sempre informado com rigor e isenção - Nº 2 - Ano 1 | terça-feira 01 de Julho de 2014

À C O N V E R S A C O M H E L D E R P E L E J A - A R T I S TA P L Á S T I C O pág 10-11

Governo não encerra escolasEscolas do concelho de Mértola vão manter-se em funcionamento no próximo ano lectivo.

(...) É evidente que sinto orgulho na Mina de São Domingos, é uma terra com uma beleza sem igual e com vários pontos de interesse para quem a visita. É, como se costuma dizer, um Oásis no Alentejo interior, que alegra não só os seus ha-bitantes e visitantes, mas também os habitantes das terras circundantes.(...)

Page 2: O Gasómetro Nº2

2 01 | Julho | 2014

editorialNesta terceira edição com o seu Nº2

“O Gasómetro” continua o seu des-tino o de dar luz à notícia o fazer

imergir os talentos escondidos, nesta terra de gentes afáveis, marcadas pelas agruras da vida.

Esta edição contou com alguns precalços, normais de quem usa a carolice em prol destes projectos, falharam algumas entrevistas, que vamos continuar a tentar levar até vós, e também o tempo disponível foi complicado de gerir.

Mas como faz mais quem quer do que quem pode, aqui fica esta edição que ainda assim espero seja do vosso agrado.

No dia 26 de Julho está marcado um Almoço Convívio do Grupo de Amigos da Mina de São Domingos, (GAMSD), onde o jornal on-line “O Gasómetro” também estará presente.

Este almoço pretende ser o espaço de convívio entre todos os que defendem para a Mina um futuro melhor, com a mão dada com a natureza e o seu passado histórico.

Além do almoço convívio, teremos logo pela manhã um Passeio Fotográfico entre a Corta e a Achada do Gamo ao longo do trilho do cami-nho de ferro durante este percurso são muitos os motivos de interesse fotográfico e histórico que podemos observar.

No final do dia convidamos todos a um passeio nas margens do Tapada Pequena para podermos assistir ao magnífico pôr do sol que aquele ce-nário nos revela e o silêncio das suas margens.

Espero que este seja o início de uma tradição e o reforçar dos laços que unem virtualmente esta comunidade através da rede social Facebook desta forma vão ter oportunidade de se verem amigos que há muito estão longe e de conhecer outros pessoalmente.

Esta comunidade que conta já com mais de seis mil aderentes tem-se vindo a pouco e pou-co a tornar num ponto de encontro de todos os que deixaram a Mina de São Domingos, para tentarem a sua sorte em terras distantes.

Mais uma vez recordo que este projecto “O Gasómetro” é de todos nós e apelo à vossa colaboração com o envio de textos históricos, poemas, receitas, lendas e tradições, desta mag-nifíca localidade.

O nosso mail está à vossa disposição em:[email protected]

Inundações de Verão

Mina transformada num grande lago

No passado dia 23 de Junho, abateu-se sobre a Mina de São Domingos, a exemplo de outras zonas do país, uma grande chuvada.

Esta situação deixa sempre em alerta todos os morado-res, que para além de não terem a maior parte das suas ruas alcatroadas ou com revestimento que evite a lama, ainda se debate com inundações e pequenos lagos às suas portas.

A Autarquia há muito tempo que tem conhecimento desta situação no entanto muito pouco tem sido feito no sentido de a inverter.

Este ano numa tentativa de embelezar os caminhos que levam à praia fluvial o grande polo de investimento da autarquia na Mina de São Domingos, procedeu-se ao revestimento com alcatrão da estrada que leva a esse local, no entanto nem essa nova via escapou e também acusou o excesso de água que não é escoada de forma eficiente nas ruas por cima desta estrada.

As imagens falam por si, foi um dia de muita labuta para quem vive a Mina durante 365 dias no calor tórrido do verão e nos dias frios e molhados de Inverno.

Page 3: O Gasómetro Nº2

01 | Julho | 2014 3

Actual instalação da Escola Primária da Mina de São Domingos

De acordo com a lista divulgada pelo Minis-tério da Educação e Ciência todas as escolas do concelho de Mértola vão manter-se em

funcionamento no ano letivo de 2014/2015. As escolas de Algodôr, Corte Pinto, Mértola, Mina de S. Domingos, Penilhos, Santana, S. Miguel do Pinheiro vão receber no próximo ano um número previsível de 170 alunos no 1º. Ciclo e 90 no pré-escolar.

A Autarquia continuará a transportar todos os alunos quer para as respetivas escolas, quer para outras atividades

programadas pela escola e pela Autarquia, significando um esforço financeiro considerável. Para além do transporte, a Autarquia continuará a apoiar todas as atividades e a dis-ponibilizar recursos para que o próximo ano letivo decorra dentro da normalidade e para que os alunos, professores e encarregados de educação sintam toda a colaboração possível, para que as mesmas se realizem.

A rede escolar foi debatida na última reunião do conselho municipal de educação, realizada no dia 5 de maio de 2014, na qual os conselheiros se manifes-

Governo não encerra escolasEscolas do concelho de Mértola vão manter-se em funcionamento no próximo ano lectivo.

taram contra o encerramento de escolas, por motivos relacionados, não só com a logística que é necessária para o transporte das crianças, à qual a Autarquia não consegue dar resposta, mas também pelas excelentes condições que existem nos atuais centros educativos e pelo conforto dos alunos.

Os pais dos alunos da Escola da Mina de São Domin-gos, aguardam agora que as prometidas obras na Escola se efectuem e a situação em que os alunos vivem provi-soriamente não se tornem definitivas.

Page 4: O Gasómetro Nº2

4 01 | Julho | 2014

Dia, 6 de junho de 2014 decorreu pelas 11:30 na Mina de S. Domingos, concelho de Mértola, distrito de Beja, a cerimónia do hastear da pri-

meira Bandeira Azul 2014, em praias fluviais.O programa da Bandeira Azul é uma iniciativa da

responsabilidade da Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE), uma organização não-governamental que atua na área do ambiente. A atribuição do galardão “Bandeira Azul” a áreas balneares (marítimas ou interiores) é da in-teira responsabilidade da ABAE, baseia-se em critérios de qualidade e ambientais publicados em regulamento próprio.

Acontece que a cerimonia decorreu num espaço, a zona balnear da Albufeira da Tapada Grande, onde ocorreram, por ordem da entidade gestora do espaço, a Câmara Muni-cipal de Mértola (a propriedade é de uma empresa privada), graves violações ao Plano de Ordenamento da Albufeira da Tapada Grande (Res. Conselho de Ministros nº 114/2005), nomeadamente o abate indiscriminado de árvores, entre elas vários eucaliptos centenários e a abertura de um acesso junto da margem da albufeira, ações que se deram origem

a processos de contraordenação que decorrem na Agência Portuguesa do Ambiente e na Inspeção-Geral de Agricultu-ra, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território.

Tal comportamento por parte da entidade gestora da zona balnear e de acordo com o regulamento de atribui-ção da “Bandeira Azul” é motivo para a não atribuição, acresce-se ainda a verificação de situações que pesariam negativamente na atribuição, nomeadamente a descarga indiscriminada de toneladas de areia na margem da albufeira, mesmo muito para além dos limites da zona balnear, areia essa que é arrastada para o leito diminuindo ano após ano a capacidade de armazenamento da albufeira (classificada com albufeira de águas públicas) e o consequentemente impacto na qualidade da água. Verifica-se ainda a falta de ordenamento do estacionamento e circulação de viaturas na área, o que resulta em que alturas de maior afluência circulem e estacionem em áreas de proteção (de acordo com o Plano de Ordenamento) da albufeira largas dezenas de veículos, com impacto direto na qualidade da água.

A ABAE tinha conhecimento oficial de tudo isto, e o

F O T O G R A F I A S C O M H I S T Ó R I A

Escolha de Minério na zona da Achada do Gamo - Foto: Arquivo do CEMSD Centro de Estudos da Mina de São Domingos

A partir de dia 1 de julho, a Unidade Móvel de Mértola inicia a campanha “ondas de calor 2014”. Até dia 30 de julho a carrinha, em colaboração com o centro de saúde de Mértola, irá informar, sensibilizar e alertar a população do concelho sobre os cuidados a ter com o sol intenso.

Durante o período da campanha será reforçada a informação sobre os cuidados a ter com o calor e o sol, em especial as medidas de prevenção para pes-soas com diabetes, crianças e população mais idosa.

É muito importante que estas acções aconteçam dado que o sol é intenso nesta zona do país e as Tapadas seduzem-nos a ir a banhos, o sol por vezes esconde-se atrás desse manto de água e atraiçoa-nos.

Todos os cuidados são poucos e é de louvar este tipo de iniciativas.

Mértola inicia campanha “ondas de calor 2014”

Bandeira Azul camufladaA Cerimonia do hastear da primeira Bandeira Azul 2014 ocorreu em zona balnear onde não é cumprido o plano de ordenamento.

mínimo que seria espectável em nome da transparência e isenção no processo de atribuição da “Bandeira Azul” era que a mesma ficasse suspensa até à conclusão dos processos de contraordenação, mas a ABAE não só atribuiu a bandeira como decidiu dar destaque a esta zona balnear escolhendo-a para a cerimonia do hastear da primeira Bandeira Azul 2014 em praias fluviais, contribuindo assim inequivocamente para branquear as presumíveis ações de violação do referido instrumento de ordenamento do território.

Perante isto fica a pergunta, Que confiança podemos ter nas “Bandeiras Azuis”?

Luís Baltazar

Geógrafo

Foto: in https://www.facebook.com/pages/Câmara-Municipal-de-Mértola

Page 5: O Gasómetro Nº2

01 | Julho | 2014 5

Tela da autoria de Helder Peleja

Durante os meses de julho e agosto a Câmara Municipal de Mértola promove sessões de cinema ao ar livre, gratuitas, no Anfiteatro Zeca Afonso, em Mértola, e na Praia Fluvial da Tapada Grande, na Mina de S. Domingos. As primeiras sessões terão lugar no dia 3 e 6 de julho, em Mértola e na Mina de S. Domingos, respetivamente, e o filme é “A rapariga que roubava livros”.

O cinema ao ar livre é uma das muitas atividades que o Município de Mértola promove durante o Verão para animar as noites quentes do concelho

Cinema ao ar livre em Mértola e na Mina de S. Domingos

Posto da GNR reforçadoO posto da GNR da Mina de São Domingos vai ver aumentado o seu número de

efectivos a partir de dia 1 de Julho passa a contar com 10 elementos, que irão assegurar a ordem pública nesta altura do ano que se aproxima em que a Mina vê aumentar a sua população para perto de números entre os 6 mil e oito mil habitantes e forasteiros.

Este reforço está assegurado até finais de Setembro altura em que ainda não se sabe qual o número de efectivos que irão ficar no posto.

Page 6: O Gasómetro Nº2

6 01 | Julho | 2014

Estrela de opereta, escritora poetisa. Usou os nomes artísticos de Judith Mercedes Blasco e Judith

Mercedes, acabando por se fixar em Merce-des Blasco. Nas colaborações assinou, além do nome próprio e do artístico, com os pseudónimos Dinorah Noemia e Mam’selle Caprice. Nasceu prematura, na aldeia primitiva da Minas de S. Domingos, e batizada possivelmente aí, na pri-meira Igreja local que acabara de ser construída, situada no Baixo Alentejo, donde era originária a família materna, segundo o registo indique para 4 de setembro de 1867, (alguma controvérsia aponte a data de nascimento em1870), e faleceu, em Lisboa, a 12 de abril de 1961.

Era filha de José Maria Marques, maquinista de1. Classe da Companhia Real de Caminhos de

Ferro, e que tinha sido engenheiro naval, em Inglaterra, quando estava casado em primeiras núpcias com uma senhora inglesa.

Conceição Marques viveu em Huelva, Espa-nha, até aos sete anos, idade com que veio com os pais, para a cidade do Porto. Nesta cidade, frequentou a Escola Normal, onde terá tirado o curso do Magistério Primário e estudou língua francesa com a professora Blanche Aussenac.

Tinha os lábios carnudos, daí algumas colegas dizerem que tinha “beiços de preta”, o que era re-

concretizar os seus sonhos, optando pela utili-zação de pseudónimos de maneira a ocultar da família a sua atividade profissional. Batizada com o nome de Conceição Vitória Marques, ela fora desde muito cedo preparada para uma carreira na medicina, tendo acesso a uma educação acima da média. Este facto explica não apenas a cultura que revela na sua vasta obra literária, mas também

MERCEDES BALASCO

Conceição Vitória Marques (I)

forçado com os cabelos encaracolados que ela usava curtos, e tanto os lábios como os cabelos se tornaram indicativos de beleza, em Portugal. Possuía uma voz afina-da e extensa, no dizer de Eça Leal.

Iniciou a careira ar-tística, sob o nome de Judith Mercedes, oriun-da de um meio burguês intolerante ao estigma social da profissão de Atriz-Cançonetista, viria a ser também Jornalista, Tradutora e Autora de uma obra de cerca de 30 títulos a sua arrebatadora pai-xão pelo teatro levou-a a fugir de casa, ainda menor de idade, para

Page 7: O Gasómetro Nº2

01 | Julho | 2014 7

o seu domínio de várias línguas, para além do português (inglês, francês, espanhol, italiano e alemão), que viria a utilizar frequentemente na sua vida profissional, tanto em Portugal como no estrangeiro. Em cena, apresentava-se de figurino demasiado ousado e atrevido para a época, que deu origem a muitos escândalos, invejas e calúnias durante a sua carreira. Certa altura, um crítico mordaz chegou a escrever: «Mercedes despiu-se quase completamente […] para a exibição de várias poses plásticas». Como se não bastasse as frequentes simulações de nudez em palco, Mercedes Blasco haveria de representar num dos papeis que a obrigava a menear os quadris fazendo um arremedo da dança do ventre, o que levantaria grande celeuma nos jornais.

Mas a atriz, mulher destemida, inteligente, tra-balhadora e muito avançada para o seu tempo, nun-ca soçobrou a nenhuma das críticas. O seu elevado sentido de liberdade e o desprezo que nutria pelas convenções sociais estão aliás patentes não só no trabalho por si desenvolvido nos palcos, repleto de escândalos e de ligações amorosas, mas também na escrita de inúmeras crónicas onde dissertou corajosamente sobre a condição da mulher e dos seus respetivos direitos. Portugal era demasiado pequeno para Mercedes Blasco. Depois de várias

temporadas na cidade do Porto, em Lisboa e um pouco por todo o país, a atriz rumou ao Brasil numa companhia do empresário Sousa Bastos e passou depois por Espanha, onde fez grande sucesso nos te-atros Lara e Moderno de Madrid. As suas tournées por estes pa-íses iam-se sucedendo, mas ela acabaria sempre por voltar aos palcos nacionais. Num desses regressos, no princípio do século XX, a atriz, ainda solteira, assume

Todavia, para seu desgosto, não encontrou na sua terra natal o apoio merecido, pelo que, tirando algumas aparições em produções menores, a sua carreira de atriz acabou por ter um fecho ingló-rio. Para sobreviver, a atriz dedicou-se à escrita, produzindo uma obra de mais de trinta volumes dispersos entre memórias, romances, novelas, peças de teatro, crónicas e traduções, bem como uma intensa atividade jornalística em vários jornais de destaque, utilizando, para além do seu nome próprio, os mais variados pseudónimos, como Mm’zelle Caprice ou Dinorah Noémia.

1888 - Inicio de uma Estrela(inicio de uma maratona, 3 teatros e 9 peças)Foi no Teatro do Chalet do Porto, que Mer-

cedes Blasco se iniciou no papel de “Jockey” na peça "Grande Avenida", adaptação da zarzuela La Gran Via, por Jacobetty. Passou para o Teatro do Príncipe Real, naquela cidade. Já conhecida, veio para o Teatro do Rato, em Lisboa, onde se estreou como nome de Mercedes Blasco, em "O Ás de Copas" (1888), revista de Ludgero Viana. Voltou ao Chalet, no Porto, onde entrou nas revistas "Sem Papas na Língua" (1888), de Al-fredo Fragoso e António José Alves, no papel de “Primavera”, e "Niniche, vaudeville" em 3 atos, de Millaud e Hannequin, "Espelho da Verdade", peça fantástica em 4 atos, arranjo de Augusto Garraio; "Os Bandidos", de Augusto Mesquita, "Coroa de Fogo", peça fantástica de Borges de Avelar, com música de Manuel Benjamim; "O Homem Rico de Celorico" (1888), imitação de Gervásio Lobato e Acácio Antunes de uma peça de Feydeau.

1890 - trindade - 3 peçasVoltou a Lisboa, em1890, para integrar o elenco

da companhia do Teatro da Trindade, a convite deAntónio Duarte da Cruz Pinto, crítico musi-

cal de O Século, quando Matoso da Câmara era gerente

daquele teatro. O vencimento acordado foi de 54$000 réis por mês e um benefício. Ali se

a gravidez do seu primeiro filho, o que a obriga a utilizar figurinos que disfarcem a sua condi-ção de pré-mamã. Passado um ano, ainda sem marido, engravida de novo e o escândalo volta a ensombrar a sua carreira profissional, afastando-a temporariamente de cena.

Mercedes Blasco resolveu então partir para Paris, onde deu início a uma longa temporada internacional, que a levaria a diversos países europeus, como França, Itália, Reino Unido e Bélgica. Conheceu um engenheiro belga, Remi Ghekiere, que viria a ser seu marido, e instalou--se em Bruxelas com os seus dois filhos. Com a primeira Guerra Mundial, a Alemanha ocupa a Bélgica e ela recusa-se a trabalhar em palco para animar as tropas alemãs, sendo assim forçada a encontrar outras atividades que garantam o sus-tento da família. Exerceu primeiro, em Liège, as funções de professora de línguas, ocupando depois o lugar de enfermeira como voluntária na Cruz Vermelha para auxiliar os soldados feridos, de entre os quais alguns portugueses que ajudou a repatriar.

Quando a guerra acabou, Mercedes Blasco, já viúva, veio para Portugal à espera de encon-trar reconhecimento pelas suas ações durante a guerra, bem como pelo seu trabalho nos palcos.

Page 8: O Gasómetro Nº2

8 01 | Julho | 2014

estreou, a 21 de outubro de 1890, na primeira representação de "Mademoiselle Nitouche, vaudeville", tradução de Gervásio Lo-bato e Urbano de Castro, música de Rio de Carvalho; e entrou nas operetas "A Moira de Silves", original de Lorjó Tavares e música do maestro Guerreiro da Costa; "Colégio de Meninas",

tradução de Gervásio Lobato e Acácio Antunes. 1891 trindade - 3 peças"Noiva dos Girassóis" (1891), tradução de Guiomar Torrezão,

"Piparote" (1891), de Eduardo Garrido e música de Freitas Ga-zul; e "Miss Helyett", tradução de Gervásio Lobato e Eça Leal, considerada, por muitos críticos, como a sua melhor criação. Foi no Teatro da Trindade que cantou, pela primeira vez, canções francesas no género da artista Ivette Guilbert.

1892/93 - 2 teatros - 5 peças - os fadosNa época de 1892/93, esteve no Teatro da Avenida, onde criou

“Diabo Elétrico”, de "O Cavaleiroda Rocha Vermelha", mágica de Baptista Machado, música de

Dias Costa. Voltou ao Teatroda Trindade, para interpretar papéis de responsabilidade na

opereta "Leitora da Infanta" (1893), tradução de Eça Leal da peça Petite Muette, música do maestro Augusto Machado; interpretou ainda a parte

musical da zarzuela "Segredo Duma Dama", e "Fado do Amor"; criou "Brasileiro Pancrácio" (1893), opereta de costumes populares de Sá de Albergaria com música de Freitas Gazul, onde cantou fados compostos por ela e que, a pedido do público, chegaram a ser repetidos dez vezes numa sessão.

Continua…

Recolha e Trabalho de: António Pacheco

Fontes:

Feminae Dicionário Contemporâneo - Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género2013, Com a devida autorização desta publicação para representação de pequenos excertos da mesma.No palco da saudade, Escrito por Salvador Santos Vagabunda, edição de 1920, seguimento ás “Memórias de uma Atriz”

Page 9: O Gasómetro Nº2

01 | Julho | 2014 9

estórias com história

JoséAntónio Estevão

MORREU UM MINEIRO

Correndo e saltando á frente da minha mãe, lá fomos ao Chico Fialho comprar farinha.

Normalmente uma arroba de farinha dava para fazer o panito para a semana e ainda mais umas costas e pupias a cheirar a ervas doces …

O amassar, tender e cozer o pão era um dia de trabalho árduo, mas era sempre encarado com alegria pela minha mãe, … e eu também gostava desse dia! …

No Chico Fialho a comprar a farinha também lá estava a minha tia Ana …

A minha tia Ana era uma das cinco irmãs do meu pai, … mulher jovem, pouco mais de vinte anos, alta, magra, sempre muito bem-disposta e era a mãe dos meus primos o Chico, um pouquinho mais novo que eu, e o Zé, um pouco mais novo que o irmão.

O marido era o meu tio Francisco Geraldo, mineiro como o meu pai e o meu avô e era um homem não muito alto, com muitos amigos, muito brincalhão e que gostava de me atazanar a cabeça fazendo-me judiarias …. mas no fim acabava sempre:__ … pronto , … já chega, … vem dar um abraço ao tio porque somos grandes amigos …

… No dia seguinte, no forno da tia Mariana Severa já cheirava a panito cozido e às ervas do-ces das costas e pupias da minha mãe e a seguir chegaria a minha tia Ana com o tabuleiro cheio com o panito dela para também ser cozido e não tardaria a chegar a hora de ir para a entrada da aldeia com o meu primo Chico esperar o meu pai e o pai dele, o meu tio Chico Geraldo que vinham do trabalho da mina, com a gulosice de rabiscar-mos os cestos onde invariavelmente sempre “sobrava” qualquer coisa, … nem que fosse a metade da batata-doce …

Para mim, um garoto da Corte do Pinto, a Mina era um sítio fabuloso, onde os homens da minha família trabalhavam como toda aquela multidão de gente de cara tisnada e gasómetro na mão, … o fascínio de ver e ouvir "chiando" os comboios

a circular com rodas de ferro em cima de carris, … luz eléctrica em lâmpadas que pareciam má-gicas e sem o cheiro a petróleo dos candeeiros da aldeia, … as tapadas com mais água que todos os mares da minha imaginação, … os jogos da bola aos domingos pela mão do meu pai com árbitro e tudo, … aquele brutal ruído dos rebentamentos dos barrenos com muito mais estrondo que os morteiros dos foguetes das festas de S. João na aldeia, … e o dia de pago, … que era uma festa …

Eu adorava a Mina! …

Juro que entrei mil vezes pela boca do túnel da mina e percorri com a minha imaginação todos os pisos e túneis de onde eram arrancadas as pedras negras que carregavam as zorrinhas e subiam engatadas umas nas outras até á luz do dia … e andei quase diariamente para baixo e para cima naquela “gaiola”, qual carrocel divertido do meu imaginário …

Queria depressa ser grande para poder ir todos os dias e estar nesse mundo fascinante como o meu pai, o meu avô e o meu tio Chico Geraldo …

Espreitando para dentro do forno, a minha mãe mandou-me avisar a tia Ana para vir cozer o pa-nito dela, porque o nosso estava quase pronto …

… e eu fui …

… mas, ... na direcção da casa da tia Ana vinha muito mais gente, parecia que todas as mulheres da aldeia vinham para a “ladeira” … mas de mãos na cabeça e prantos aflitivos …

Tinha sido o Manuel da Assunção o pai do meu amigo Manulito Raposo que trouxe a notícia ao largo do poço da aldeia, …

… Foi o rebentamento de um barreno, … mesmo ali, … matou o Chico Geraldo, … e o Joaquim Mestre subiu ao hospital com a cara toda queimada e não se sabia se se safava …

… e não tardou, … chegou o meu pai, … sem nada para rabiscar no cesto porque o almoço estava lá todo …

Saí do forno já tarde, depois da minha mãe acabar de cozer o panito da tia Ana, … e a rua da minha tia Ana parecia agora aquela zona da mina com a multidão de homens que foram chegando, ... e foram chegando cada vez mais, ... mas sem a cara tisnada nem o gasómetro na mão, mas, … com os olhos lavados em lágrimas de dor e revolta pela perda do camarada, … o meu tio Chico Geraldo … e lá dentro da casa as mulheres numa sinfonia descoordenada de gritos e prantos de inconformismo que ainda hoje me ferem os ouvidos …

Afinal acabei de descobrir que o rebentamen-to dos morteiros dos foguetes do S. João na aldeia eram bem melhores que os rebentamentos dos barrenos na mina, … e comecei a ter medo de entrar com a minha imaginação na boca do túnel das entranhas profundas daquela catacumba, … porque o negro do escuro daquelas trevas nem com a luz comprida dos gasómetros a todo o gás, … a queria ver mais …

O enterro era um mar de gente, as tabernas e mercearias fecharam as portas, os homens disputavam o carregar do caixão, o pranto das mulheres era violento para os meus ouvidos, ... e os homens não levantavam os olhos do chão e choravam inconformados a perda do amigo e camarada mineiro, … o meu tio Chico Geraldo …

… Eu continuaria a ir todos os dias á en-trada da aldeia esperar o meu pai a chegar da mina para rabiscar o cesto, … mas agora sem a companhia do meu primo Chico, … porque ele, … já não tinha mais cesto para rabiscar …

Page 10: O Gasómetro Nº2

10 01 | Julho | 2014

à conversa com...

Helder Peleja - Artista Plástico

Recordo-me da Liberdade para brincar com os meus amigos pela Mina, sem preocu-pações de ninguém, nem de pequenos, nem de graúdos. Recordo-me de um episódio engraça-do, muitas vezes quando a minha mãe queria cha-mar-me para vol-tar para casa, ia à ponta da minha rua e gritava por mim, eu ouvia o seu cha-mamento em quase toda a aldeia. Esta era prática comum de muitas mães na altura.

OG - Fala-nos um pouco da tua meninice na Mina de São Domingos.

Onde nascestes e quando?HP - Sou um “moço da Mina” mas vim nascer

à capital do distrito no ano de 1978.

OG - Que memórias guardas desses tempos?HP - Recordo-me da Liberdade para brincar

com os meus amigos pela Mina, sem preocupações de ninguém, nem de pequenos, nem de graúdos. Recordo-me de um episódio engraçado, muitas vezes quando a minha mãe queria chamar-me para voltar para casa, ia à ponta da minha rua e gritava por mim, eu ouvia o seu chamamento em quase toda a aldeia. Esta era prática comum de muitas mães na altura.

OG - Quando nasceu o teu amor no domínio das artes?

HP - Desde cedo me lembro de gostar de de-

senhar e de aproveitar todos os suportes possíveis para tentar reproduzir as paisagens dos quadros que existiam espalhados pelas paredes de representar os meus desenhos animados favoritos, etc...

Recordo-me por exemplo, de utilizar o verso dos calendários no final de cada ano, isto permitia--me fazer desenhos de maiores dimensões.

Uma das pessoas que me despertou este in-teresse foi o meu primo António Manuel Peleja que, quando da sua visita a casa dos nossos avós nas férias, ia desenhando o que eu lhe pedia, principalmente cowboys e cavalos.

OG - Nas artes plásticas, qual a técnica que mais te preenche enquanto autor?

HP - Neste momento a técnica que me dá mais prazer é a ilustração nas suas várias vertentes (ilustração infantil, caricatura, cartoon, etc...)

Neste último ano, apostei na minha formação nesta área e estou a tentar encontrar um espaço para mim nesta área.

OG - A pintura tem feito parte do teu trajec-to, no entanto agora parece haver um assumir do Cartoon como motivo principal. A pintura

Page 11: O Gasómetro Nº2

01 | Julho | 2014 11

ficou para trás? Ou simplesmente parou para dar início a este novo percurso?

HP - Há algum tempo que não pinto, isto acon-tece porque não me sinto inspirado para o fazer.

OG - Tens tido muitas exposições espalhadas um pouco por todo o país, como é aceitação do público pelo teu trabalho?

HP - Por norma, segundo as pessoas que se encontram nos espaços onde exponho, as minhas obras são elogiadas por quem as visualiza. Penso que a temática que eu tenho expressa nas minhas pinturas também interessa a todos os portugueses e estrangeiros.

OG - Qual a obra que mais te realizou?HP - Existem várias obras que poderia destacar,

mas gostaria de referir uma das primeiras pinturas que fiz dedicada a Carlos Paredes.

OG - Visitas a Mina com frequência?Nos últimos tempos, costumo ir uma vez por

mês. Anteriormente, ia com menos regularidade, o que agora me entristece.

OG - Qual o seu maior desejo para a Mina de São Domingos?

HP - Gostaria que a tratassem melhor, o que nem sempre acontece, uma vezes por ainda pertencer à La Sabina e supostamente não terem grande autonomia, outras vezes por questões políticas.

OG - Sentes orgulho na terra que te viu nascer?

HP - É evidente que sinto orgulho na Mina de São Domingos, é uma terra com uma beleza sem igual e com vários pontos de interesse para quem a visita. É, como se costuma dizer, um Oásis no Alentejo interior, que alegra não só os seus ha-bitantes e visitantes, mas também os habitantes das terras circundantes.

OG - Uma mensagem para todos os seus leitores, qual seria …

HP - Gostaria de dizer que temos muita sorte em conhecer esta linda terra cheia de história e por este motivo todos devemos contribuir para a preservar e melhorar.

Agradeço desde já a disponibilidade para dar a conhecer a tua obra junto dos nossos leitores, e ainda a colaboração que tens prestado desde o Nº0 de “O Gasómetro” com o Cartoon de tua autoria, nas nossas páginas. Muito obrigado e votos de continuação de excelente trabalho no campo das Artes Plásticas.

Page 12: O Gasómetro Nº2

12 01 | Julho | 2014

AntóniaFernandes

Correia

momentos d e p o e s i a

bom garfoSOPA de PEIXE

Da MINA tudo roubaram ,e de lá tudo levaram ,de matéria acrescentada ,,.mas do que deu a Natureza , ,lá isso tudo deixaram, por não puderem levar nada E por isso a mina temos , recheada de beleza ,mas tudo isso nós devemosà nossa mãe Natureza .temos dois lagos lindíssimos , que são a nossa riqueza , que se em dinheiro medisse-mos , não tinha-mos tanta pobreza .. mas o orgulho que temos , vale mais do que o dinheiro , e por nada os vendemos , nem que nos dessem valores, abrangendo o mundo inteiro.....

Caminham por entre as ruas do tempoonde a memória os afaga no regaçolembram aqueles que viram partir,nas derrocadas de uma vida esforçadae nunca recompensada.A luz que emanam é o conforto de muitos,que só conhecem a noite,no fundo, lá bem no fundoonde a Mina os chamae joga com eles um jogo de vida ou de morte,é dele a única luz de esperança.Hoje cumprido que está o seu papel,lembra-nos o vazio, de quem os deixou,recorda-nos alguém que há muito partiue ao mesmo tempodecora de nostalgia as nossas paredes,os nossos móveisem suma as nossas memórias.

Texto e Foto: António Peleja

GASÓMETRO

Coze-se a cebola às rodelas no azeite sem deixar alourar. Junta-se o tomate cortado em quartos e deixa-se cozer. Assim que o tomate estiver macio, rega-se com 2 litros de água, deixa-se levantar fervura e tempera-se de sal. Adiciona-se o peixe e os poejos, tapa-se e deixa-se cozer.

Retira-se o peixe e junta-se ao caldo os ovos batidos. Deixa-se cozer.

Corta-se o pão e deita-se numa terrina. Rega--se com o caldo, abafa-se um pouco e serve-se o peixe à parte.

Esta sopa pode-se fazer de outra maneira: depois de retirar o peixe, escalfam-se os ovos no caldo. Dispõem-se os ovos escalfados sobre o pão cortado dentro da terrina, rega-se com o caldo e serve-se o peixe à parte.

1 kg de peixe de rio 1 cebola(s) 5 colher (sopa) de azeite 3 tomate(s) maduro(s) 1 molho(s) de poejos da ribeira 4 ovos 600 gr de pão duro

Page 13: O Gasómetro Nº2

01 | Julho | 2014 13

CARTOON

O Jogo do Empurra (2014)

Page 14: O Gasómetro Nº2

14 01 | Julho | 2014

ISO 100Envie as suas fotos para [email protected]

ISO 100 - © António Peleja

ISO 100 - © António Peleja