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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS CURSO: DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR PROJETO “A VEZ DO MESTRE” O ESTUDO DA HISTÓRIA NO ENSINO DE ARQUITETURA CONTEMPORÂNEO MARISA DE OLIVEIRA TRINTA ORIENTADOR: PROF. : MESTRE ROBSON MATERKO RIO DE JANEIRO NOVEMBRO - 2001

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS CURSO: DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

O ESTUDO DA HISTÓRIA NO ENSINO DE ARQUITETURA CONTEMPORÂNEO

MARISA DE OLIVEIRA TRINTA

ORIENTADOR: PROF. : MESTRE ROBSON MATERKO

RIO DE JANEIRO NOVEMBRO - 2001

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS CURSO: DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

O ESTUDO DA HISTÓRIA NO ENSINO DE ARQUITETURA CONTEMPORÂNEO

MARISA DE OLIVEIRA TRINTA

Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para a obtenção do Grau de Especialista em Docência do Ensino Superior

RIO DE JANEIRO NOVEMBRO - 2001

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Agradeço a todos que contribuíram para a execução desta pesquisa.

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Dedico este trabalho aos meus pais,

responsáveis pelo início de tudo.

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Quem, de três milênios, Não é capaz de se dar conta Vive na ignorância, na sombra, À mercê dos dias, do tempo.

Johann Wolfgang von Goethe

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SUMÁRIO

RESUMO.................................................................................................................6

INTRODUÇÃO.........................................................................................................7

1. O SENTIDO DA ARQUITETURA

1.1. Definição.............................................................................................9

1.2. Por quê existe arquitetura.................................................................11

2. A HISTÓRIA DA ARQUITETURA E A FIGURA DO ARQUITETO...................13

3. A FUNÇÃO DO CONHECIMENTO HISTÓRICO

3.1. A linguagem arquitetônica................................................................20

3.2. Interpretações da arquitetura............................................................23

3.3. A formação do arquiteto contemporâneo..........................................27

CONCLUSÃO........................................................................................................29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................31

ANEXOS................................................................................................................32

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RESUMO

O estudo procura mostrar a função do conhecimento das realizações

do passado e sua aplicação prática nas situações do presente. Entendendo a

Arquitetura como fenômeno cultural, foi proposto o estudo da História como

reflexão sobre o significado crítico da Arquitetura para aquisição de argumentos e

vocabulário para defesa de idéias atuais. A metodologia adotada baseou-se em

pesquisa e estudo de publicações relacionadas à investigação teórica para

posterior abordagem descritiva do tema. Considerando a Arquitetura uma

significativa expressão da experiência cultural humana, o conhecimento histórico

torna-se fundamental para a estruturação de uma capacidade crítica para o

desempenho atual da prática edificatória.

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INTRODUÇÃO

O conhecimento histórico é fundamental para a inspiração do

arquiteto, baseado na crítica, não enquanto narração, registro ou estudo, mas

como conhecimento do passado humano, no que este passado significa em

termos de experiência. O ensino da disciplina em Universidades precisa

desenvolver-se de forma responsável para a compreensão do significado crítico

da História.

A investigação da História revela a vontade que a civilização tem de

conhecer e procurar as explicações para seu próprio passado para, por

pretensão, não repetir os erros cometidos pelas gerações anteriores.

O profissional precisa entender a arquitetura atual. É necessário

entender a evolução da arquitetura através dos tempos para criar a possibilidade

de antever o futuro, ou seja, a arquitetura dos próximos anos. O estudo da

História pode desenvolver a compreensão das sociedades de cada época e como

foram satisfeitas suas necessidades espaciais, urbanas, estéticas e tecnológicas.

O conhecimento histórico em arquitetura proporciona a ampliação do

vocabulário, do arquivo coletivo onde são armazenadas formas, processos de

composição, conhecimentos sobre materiais, técnicas construtivas e demais

informações que podem ser utilizadas na prática do desenvolvimento de projetos.

Para o estudo dos registros do passado alguns fatores precisam ser

lembrados. Estes fatores sempre condicionaram e ainda condicionam a atividade

de projeto de uma edificação qualquer. A arquitetura depende de:

• qualidades e características do meio físico;

• figura do cliente ou solicitante;

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• técnicas disponíveis no local;

• mão de obra local;

• materiais industrializados encontrados na região;

• legislação urbana de edificações do local;

• a figura do arquiteto.

Todos estes fatores são fruto da sociedade que molda e registra sob

a forma de edificações a história de uma época.

O propósito da história não é o de fornecer modelos para utilização

contemporânea, pois a realidade do nosso tempo apresenta uma infinidade de

situações sem precedentes no passado. O papel da história é o de viabilizar o

conhecimento da experiência humana. Neste sentido, a história relaciona-se com

a teoria, sem com ela confundir-se e, até mesmo para saber que a história não

tem modelos para todas as situações do presente, é necessário o conhecimento

do passado.

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1.O SENTIDO DA ARQUITETURA

1.1.Definição

Entender o termo arquitetura, no presente estudo, faz-se necessário

para a valorização desta arte junto às demais, ainda que sua divulgação entre o

público não ocorra com a intensidade como acontece com a música, literatura,

pintura ou escultura.

Este deveria ser um assunto a ser discutido por todos pois o impacto

da arquitetura, bela ou feia, nas ruas de uma cidade atinge a todos. Qualquer

pessoa pode desenvolver relações com o espaço projetado, seja através da

simples observação ou pela imposição de uso deste espaço.

A arquitetura pode ser descrita como a arte e técnica de organizar

espaços e criar ambientes formais para abrigar as atividades humanas.

Para Le Corbusier (1958, p.23), arquitetura é “o jogo sábio, correto e

magnífico dos volumes dispostos sob a luz”, e Lúcio Costa (1962, p.12) assim a

definiu: “arquitetura é, antes de mais nada, construção; mas construção

concebida com o propósito primordial de ordenar o espaço para determinada

finalidade e visando a determinada intenção plástica.”

Segundo Bruno Zevi (1994, p.17), “a arquitetura é como uma grande

escultura escavada, em cujo interior o homem penetra e caminha”.

A obra arquitetônica é o resultado físico (espacial e volumétrico) do

que é possível em construção, do que é necessário ao uso e do que é significativo

enquanto arte (composição de elementos visuais), pois além de pedra, madeira,

ferro e cimento, arquitetura é feita de idéias.

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A concepção da obra é expressa através de um conjunto de

elementos gráficos denominado Projeto de Arquitetura.

O profissional responsável pelo desenvolvimento de um projeto e

construção de uma obra é o Arquiteto.

O programa arquitetônico compõem-se da relação dos espaços a

serem construídos, de suas finalidades específicas, dimensões e inter-relações. A

classificação é feita de acordo com as finalidades: programas para fins

educacionais, culturais, saúde, habitacionais, religiosos, etc.

Conhecendo os elementos arquitetônicos básicos, os fatores de

influência e sua evolução, temos as bases essenciais que orientam a criação de

um movimento histórico.

Um conjunto de edificações que apresenta características

semelhantes em um determinado período, em uma determinada região pertence a

um chamado movimento arquitetônico.

Cada período não se esgota em uma determinada data ou

acontecimento. Eles interpenetram-se e podem existir simultaneamente, em

diversos lugares desenvolvendo características próprias a serem observadas e

analisadas criteriosamente pelos estudiosos de história da arquitetura.

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1.2. Por quê existe Arquitetura

Qualquer obra de arquitetura é uma resposta física (espacial e

volumétrica) a um conjunto de necessidades humanas e requisitos exigidos pela

natureza específica da construção, que por sua vez, decorre em função das

exigências de uma época, de um meio físico ou clima no qual esta época viveu, e

de técnicas construtivas relacionadas aos materiais empregados.

A arquitetura, com exceção dos monumentos, existe como

necessidade de preservação da vida, defendendo o homem do clima,

abrigando-o. O instinto de conservação reclamou a existência das construções,

como unidade protetora, composta invariavelmente de paredes e tetos, planos

verticais e horizontais para a defesa do sol, dos ventos e das chuvas.

Uma vez construído o abrigo elementar pelo arquiteto, de acordo

com as possibilidades da época, melhorias foram surgindo para proporcionar

conforto e prática, em técnicas cada vez mais aperfeiçoadas que permitem, hoje,

a um indivíduo, uma família ou a coletividade, viver com o mínimo de riscos e

doenças e o máximo em rendimento intelectual e físico. Porém o ato inicial de

abrigar-se não era por si só suficiente. As necessidades espirituais também

respondem a verdadeiros reflexos dos delírios do homem em construções para a

eternidade.

Arquitetura trata do espaço e prolonga-se na cidade, nas ruas,

praças, parques ou onde quer que a obra do homem tenha limitado vazios, ou

seja, tenha limitado espaços fechados. É, sobretudo, a cena onde o homem vive

sua vida.

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A realidade de um edifício é a conseqüência de valores econômicos,

sociais, técnicos, funcionais, artísticos, espaciais e decorativos. Sendo assim, a

produção de uma arquitetura de qualidade demanda conhecimento não apenas

científico, mas também de outros gêneros.

A evolução dos elementos arquitetônicos desenvolveu-se de acordo

com a necessidade de abertura dos vãos e sistemas de coberturas. A história da

arquitetura é essencialmente a história das concepções espaciais,

correspondentes às exigências da natureza, tão diferentes que descrever

adequadamente o seu desenvolvimento significa entender a própria história da

civilização.

As construções trazem a marca do homem no campo e na

paisagem, pois a arquitetura provém do vazio, do espaço encerrado, do espaço

interior em que os homens vivem e o espaço pronto só pode ser vivenciado

depois, pela experiência direta. Saber entender este espaço é o resumo da

compreensão dos edifícios.

Bruno Zevi (1994, p. 189) afirma que “o conteúdo da arquitetura são

os homens que vivem os espaços, é a vida física, psicológica, espiritual que

decorre neles. É o seu conteúdo socia”.

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2. A HISTÓRIA DA ARQUITETURA E A FIGURA DO ARQUITETO

A figura do arquiteto surge, na história, muito depois da própria

arquitetura.

Na antigüidade, a posição do arquiteto encontrava-se indefinida. As

numerosas inscrições mostram que, no Egito das primeiras dinastias, ele estava

diretamente ligado ao meio sacerdotal, respeitado pelo seu conhecimento

matemático e astrológico.

A sociedade grega, cinco séculos antes de Cristo, utilizava o termo

“arquiteto” para designar os mestres pedreiros que acompanhavam a concepção

e execução de seus templos, responsáveis pelo desenvolvimento de uma

arquitetura religiosa e oficial. O objetivo e ambição destes mestres foi a fixação de

regras de validade eterna para composição e proporção dos elementos

arquitetônicos, ou seja, a elaboração de um ideal de arquitetura clássica. A

imagem do arquiteto dada pela literatura grega (Platão, Aristóteles, Luciano...), é

ambivalente. É ao mesmo tempo utilizada para o artesão que dá forma à matéria,

como também associa-se à ciência das matemáticas, a mais prestigiosa entre as

ciências deste período.

Na época clássica, seu papel e seu prestígio pessoal são

obscurecidos pala figura dos homens políticos que o convocam. A arquitetura

romana exprime a autoridade do império, absorvendo e reciclando os elementos

gregos para desenvolver novos programas arquitetônicos (aquedutos, túmulos,

arcos triunfais, basílicas, termas, palácios, casas) e novas técnicas construtivas

como os arcos e abóbadas.

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O primeiro arquiteto a ingressar individualmente na história foi o

romano Vitrúvio (cerca de 40 a. C.), autor do tratado arquitetônico De Architectura

único remanescente da Antigüidade. Trata-se de um discurso em defesa própria

para o reconhecimento de uma categoria profissional autônoma. A favor de uma

formação intelectual especializada, esta categoria aparece reconhecida no fim do

Império Romano e, particularmente, em Constantinopla, por volta do século VII.

Com o cristianismo, surge uma nova arquitetura, religiosa, que

representa uma revolução funcional do espaço no sentido de lugar para reunião,

de oração dos fiéis. Os arquitetos acionaram o vocabulário construtivo dos

romanos e gregos e as primeiras igrejas foram erguidas baseadas na organização

espacial da basílica, construção destinada às ações políticas e jurídicas do

Império. No período bizantino verifica-se um grande desenvolvimento da

arquitetura do cristianismo.

O termo desapareceu na Idade Média, porém os edifícios românicos

e góticos evidenciam que a função do diretor da construção permanece. Aquele

que a assume e cujos conhecimentos matemáticos e técnicos aparecem em

documentos como os cadernos de Villard de Honnecourt ou em desenhos tais

como os conservados no Museu da Obra da Catedral de Estrasburgo, é então

denominado magister fabricae (mestre de obra, expressão que permanece em

uso) ou ainda magister artificium (mestre em chefe dos artesãos). Essa

terminologia revela a estreita relação mantida pelo mestre (pedreiro ou

carpinteiro) com a prática e canteiro de obra de um lado e o sistema corporativo

do outro. Ela subentende igualmente o papel desempenhado pelos religiosos que

encomendam as obras. Os mestres promovem uma revolução profunda no

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conjunto arquitetônico com inovações estruturais como o adelgamento de muros

em função da concentração das pressões em pilares.

A civilização bárbara e primitiva dos séculos VIII ao X havia despido

as superfícies de ornamentos, valorizando a estrutura. Do ponto de vista

construtivo, o arquiteto do século XII desenvolve, aprofunda e conclui a

investigação românica. Pela primeira vez na história da arquitetura os artistas

concebem espaços que estão em antítese polêmica com a escala humana e que

produzem no observador um estado de espírito de desequilíbrio de afetos e

solicitações em contradição à calma contemplação proposta pelos gregos. É a

arquitetura Gótica que revoluciona a técnica construtiva e a maneira de conceber

o espaço arquitetônico. Seu edifício mais representativo foi a catedral.

Architectus e architector reaparecem, casualmente, no século XIII

como sinônimos de magister , porém o termo não reencontra seu uso a não ser

no século XV, na Itália no plano de uma reorganização e de uma reavaliação dos

conhecimentos e das práticas sob a influência do Humanismo.

O arquiteto renascentista firma-se como individualidade a quem

cabe interpretar e dar resposta aos anseios construtivos e estéticos das elites

econômicas, representadas principalmente pelos reis, nobres e clero. O arquiteto

conquista nova posição intelectual e social, definido pela primeira vez no tratado

De Re Aedificatoria de Leon Batista Alberti (1404-1472). Três aspectos

especificam daqui em diante a figura do arquiteto: ele torna-se o grande projetista

da edificação em seu conjunto pois sua tarefa não se limita à edificação de

prédios individuais; sua disciplina é baseada em teoria; a finalidade de sua prática

é estética. Busca-se uma ordem, uma lei, uma disciplina contra a infinitude e a

dispersão do espaço gótico e a casualidade do espaço românico. Surgem

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inovações no sentido psicológico e espiritual. O arquiteto raciocina segundo

métodos e processos humanos que não ocultam mistérios ou arrebatamentos

religiosos, mas estão presentes com calma e precisão de evidência universal.

Surge a ilusão de poder encontrar uma regra para o belo. Lançam-se as bases do

pensamento moderno na construção segundo a qual é o homem quem dita as leis

ao edifício e não o contrário. Ele é promovido a teórico e artista. As idéias

apresentam-se em termos ideológicos nos tratados do século XVI. É nesse

período que, além de Leon Battista Alberti, destacam-se os nomes de Giacomo

Vignola (1475-1573), Andrea Palladio (1508-1580) e Vicenzo Scamozzi (1552-

1616).

Nos outros países da Europa, o título de Arquiteto manifesta-se

quase um século depois. Ela marca o aparecimento mais tardio da Renascença e

está ligado à introdução da nova arquitetura, vinda da Itália. É o barroco que

significa a libertação espacial e mental das regras dos tratadistas, das

convenções, da geometria elementar e da estaticidade. Representa uma atitude

criativa liberta de preconceitos intelectuais e formais. Na França o termo é

reservado, na primeira metade do século XVI aos artistas italianos convocados

pelos soberanos.

No século XVII, o dicionário da Academia Francesa definiu o

arquiteto como aquele que exerce a arte da arquitetura, artista que traça a planta

de um edifício, dirige sua execução e assegura sua defesa.

Todavia, particularmente sob a influência das academias, a estética

sobressai e surge a concorrência, na França, dos Engenheiros do Rei e em

seguida os engenheiros de pontes e estradas. Enfim, os engenheiros politécnicos,

confirmam-se concorrentes no domínio da engenharia e organização urbana.

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Mas o problema assume uma dimensão dramática com a Revolução

Industrial pois novas técnicas construtivas são apresentadas (metal, vidro,

concreto) dominadas pelos engenheiros e detentoras de um novo vocabulário

formal. Os engenheiros são acusados pelos arquitetos de usarem materiais

baratos e não terem vocação estética. Em 1867, na França, é instituído o diploma

para arquitetos em defesa de seus interesses profissionais. Mas a Revolução

Industrial provocou mudanças profundas e irreversíveis das atividades humanas e

de seu plano espacial que reclama novas abordagens. O advento do urbanismo

surge como disciplina autônoma. As sociedades industriais emergentes aceleram

o processo de racionalização no interior de cada setor de atividade. Surgem

novos problemas de espaço urbano, bairros periféricos, temas sociais modernos,

cidade – jardim, as primeiras propostas da cidade moderna.

A resistência do arquiteto do século XIX à nova concepção de

utilidade traduz-se na separação instaurada entra as ciências e a tecnologia de

um lado, e o projeto arquitetônico do outro. Essa separação vai se concretizar,

posteriormente, no conflito arquiteto - engenheiro, continuando até a metade do

século XX. Na tentativa de resguardar a unidade arquitetura - artes plásticas, o

arquiteto permaneceu na escola de belas artes , incapaz de aceitar em seu

programa de ensino a nova tecnologia em desenvolvimento. Entretanto, ao

engenheiro formado na escola técnica, centro de ensino das ciências e técnicas,

abrem-se as conquistas produzidas pela Revolução Industrial. A existência de

uma escola de belas artes separada de uma escola politécnica implicava na

ruptura (falsa) entre a arquitetura e a construção.

Essa dissociação fez com que , ao longo do século XIX, a

capacidade de inovação e inventiva se situasse ao lado dos engenheiros (Robert

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Maillart, Eiffel) enquanto os arquitetos se debatiam na redundância de um

vocabulário formal com base num jogo eclético de elementos plásticos e

decorativos das arquiteturas do passado.

Após as propostas revolucionárias de Louis Sullivan e Frank Lloyd

Wright, no início do século XX, foi Walter Gropius que tentou, na Bauhaus,

sistematizar a formação de uma nova geração de arquitetos, colocados em

contato com as técnicas modernas de produção. As exigências sociais

caracterizam a arquitetura moderna.

“O espaço moderno reassume, portanto, o desejo gótico da continuidade espacial e do estudo minuncioso da arquitetura como conseqüência de uma reflexão social; prefere a simplicidade, a essencialidade dos elementos figurativos.” (Zevi, 1994, p.123) O movimento Moderno tentou restituir ao arquiteto o papel de grande

projetista do espaço edificado. Como movimento de vanguarda tentou suprimir as

tradições acadêmicas e adaptar as novas técnicas de construção à expressão

arquitetural da sociedade industrial e maquinista, além de identificar seu papel

como o de urbanista e definir o quadro global de uma sociedade nova. Em

determinado momento da Bauhaus, escola de arte e arquitetura fundada em 1919

em Weimar, Alemanha por Walter Gropius, o estudo de História chegou a ser

proibido pois alegavam que o arquiteto deveria ter a cara do seu tempo e renegar

valores antigos. Consideravam sem valor a produção desde o século XVIII até a

primeira guerra, denominada pejorativamente de “acadêmica, neoclássica ou

eclética”. A ignorância era um princípio pedagógico, uma vez que o ensino

acadêmico apresentava a história da arquitetura através da descrição de modelos

a serem seguidos.

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O movimento Pós- Moderno colabora na reabilitação do estudo da

História ao permitir o retorno ao passado como fonte de inspiração e reinvenção.

Surge como uma crítica ao Movimento Moderno, sobretudo ao postulado de que a

forma devia seguir a função a partir da constatação, através do estudo dos

edifícios e das cidades históricas, da mudança de função em uma construção

sem mudar sua forma. Valoriza a possibilidade de transformação da arquitetura.

Atualmente o conceito do papel do arquiteto é o de profissional apto

a criar o melhor habitat humano possível, pela elaboração e coordenação, no

domínio de construção, das modalidades de transformação e equilíbrio dos meios

natural e urbano. O homem está no centro da cultura sobre a qual nasce a arte

contemporânea.

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3. A FUNÇÃO DO CONHECIMENTO HISTÓRICO

3.1. A linguagem arquitetônica

Inserindo a Arquitetura no universo dos fenômenos culturais,

estabelece-se que ela também possui qualidades comunicativas. Os elementos

identificados em obras de arquitetura constituem um vocabulário formal que

contribui para a configuração de um “imaginário”. Nele estão agrupadas as idéias

relativas à forma, proporção, ritmo, simetria, contraste e por todas as outras

qualidades da arquitetura.

Os elementos possuem um paralelo com a linguagem. Em algum

momento, palavras, expressões, construções gramaticais foram inventadas para

preencher uma necessidade particular de comunicação. Assim acontece com a

arquitetura.

A cultura erudita ocidental, ao longo dos séculos, elegeu como ideal

de beleza as formas presentes na linguagem greco-romana, utilizando seu

vocabulário em vários ciclos de movimentos arquitetônicos.

Um edifício clássico é aquele cujos elementos decorativos derivam

direta ou indiretamente do vocabulário arquitetônico greco-romano, do mundo

“clássico”, como muitas vezes é chamado. Estes elementos permitem reconhecer

edifícios que utilizam a linguagem clássica no mundo ocidental há quase cinco

séculos desde a Renascença até os dias atuais. Os principais elementos são as

cinco “ordens” arquitetônicas.

Uma ordem em arquitetura consiste na unidade formada por coluna

que suporta em seu topo vigas onde apoia-se o beiral de um telhado, formando a

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colunata de um templo. As ordens tem participação categórica na gramática da

arquitetura. As ordens empregadas em outros tipos de estrutura, como em arcos

e abóbodas em Roma, renovaram a linguagem arquitetônica. As variações

posteriores são inúmeras como meias – colunas, pilastras e espaçamentos

diferentes. As formas originais serviam de inspiração e participavam da evolução

dos programas espaciais que surgiam, manifestando a interpretação que cada

edifício pretendia evidenciar em todas as épocas. Em Summerson (1982, p.18),

encontramos as cinco ordens: toscana, dórica, jônica, coríntia, e compósita.

As ordens passaram a ser consideradas instrumentos de maior

sutileza possível, incorporando toda a sabedoria acumulada pela humanidade na

Antigüidade no que diz respeito à arte de construir.

Uma revolução arquitetônica surgiu com as inovações tecnológicas

do século XX, responsável por formas utilizadas até hoje. O Movimento Moderno

mudou completamente o aspecto arquitetônico do mundo. O objetivo teórico

defendia a produção de uma arquitetura bela sem utilizar o repertório greco-

romano. Este movimento teve início na década posterior a 1914, atingiu o ponto

culminante no final da década de 1920 e propagou-se mundo afora após a

Segunda Guerra Mundial. Questões de forma arquitetônica passaram para um

segundo plano, dando lugar às questões de tecnologia e industrialização para

suprir necessidades sociais. As fachadas são despidas de ornamentos pois

acreditava-se que os edifícios do futuro iriam agradar pela disposição harmoniosa

dos elementos que participavam da construção e função. Na prática , não obteve

a simpatia do grande público que a considerou vazia e desinteressante,

desprovida de emoção.

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As críticas ao Movimento Moderno refletiram no movimento

denominado Pós-Moderno, que absorve temas do passado e foge do rigor limpo

da arquitetura moderna. Ainda assim é incontestável a importância do Movimento

Moderno ao discutir o valor do ornamento e entrar na questão da arquitetura

como veículo de significado social. A linguagem clássica da arquitetura participa

destas questões e sua compreensão será sempre um dos elementos mais

significativos do pensamento arquitetônico.

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3.2. Interpretações da arquitetura

A história constitui um registro substancial de certas concepções do

mundo. O conhecimento desta experiência significa uma tentativa de

conhecimento das idéias que as penetraram.

As interpretações da arquitetura respondem às tentativas em

entender as construções de forma autêntica, observando-se critérios que

contemplem aspectos permanentes, isto é, para que tenha sentido, devem

demonstrar sua eficácia na explicação de todas as obras. Tais aspectos

influenciam a escolha dos elementos, fornecendo assim os motivos de seu

aparecimento e evolução.

Para identificar e observar corretamente cada construção é

necessário ordem na observação da arquitetura nas cidades. Os edifícios estão

dispostos nos locais e é o homem quem desloca-se para vê-los. Há a mistura de

representantes de diversos movimentos, de épocas distintas na mesma cidade.

Torna-se necessário conhecer as principais interpretações correntes da

arquitetura:

Interpretações políticas, econômicas, religiosas e sociais – A

arquitetura é o aspecto visual da História. A organização social de cada povo tem

papel relevante no aspecto de sua arquitetura. A religiosidade transfere a

monumentalidade aos templos e túmulos. A democracia grega, filosófica e

racional trouxe a arquitetura de volta à escala humana e uma base lógica. A

monarquia absoluta traduz o poder dos reis na construção de grandes palácios.

As edificações refletem a situação econômica da região e dos indivíduos que

promovem as construções, seu sistema de sociedade, classes e costumes.

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Interpretações materialistas – o quadro físico (planície, montanha,

vales, desertos, matas etc.), o ambiente, o clima, podem explicar a preferência na

escolha. Numa região seca, as coberturas serão planas por não ser necessário o

escoamento rápido de águas pluviais, do contrário, telhados mais acentuados

quanto mais intensas as chuvas. A constituição do solo permite o aproveitamento

dos materiais da região. Quando a pedra é abundante, aparecem as estruturas de

apoio de vigas. Quando a argila é abundante, aparecem as estruturas maciças. A

morfologia arquitetônica está relacionada às condições geográficas e geológicas

dos lugares onde surgem os monumentos.

Interpretações históricas – a evolução e intercâmbio de culturas

mistura as arquiteturas.

Interpretações técnicas – o desenvolvimento maior ou menor das

técnicas construtivas, mão-de-obra e materiais. A cúpula romana sobre edificação

de planta circular é menos evoluída que a cúpula bizantina de apoios sobre

edificação de planta quadrada.

Interpretações intelectuais – não só o que são (a sociedade), mas

o que aspiram seus sonhos, mitos sociais e crenças religiosas. É a associação

com as teorias vigentes e o pensamento intelectual.

Interpretações psicológicas– o conjunto das concepções e

interpretações da arte e o vocabulário figurativo que em cada época constitui a

expressão de arte. Segundo Bruno Zevi (1994, p.161), a teoria do Einfühlung,

afirma que “a emoção artística consiste na identificação do espectador com as

formas, estimulando-o em simpatia simbólica com as mesmas”. Defende a idéia

de que certas reações humanas podem ser predeterminadas pelos elementos

geométricos. Por exemplo:

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A linha horizontal promove o sentido do racional, do intelectual, é

paralela à terra sobre a qual o homem caminha; seguindo sua trajetória encontra-

se sempre um obstáculo qualquer que sublinha o seu limite. A linha vertical é o

símbolo do infinito, do êxtase e da emoção. Para segui-la o homem detém-se,

ergue os olhos até o céu, afastando-se de sua diretriz normal. Linhas retas

significam decisão, rigidez e força. As linhas curvas representam hesitação,

flexibilidade ou valores decorativos. A helicoidal é o símbolo do ascender, da

libertação da matéria terrena. O cubo representa a integridade porque as

dimensões todas iguais, imediatamente compreensíveis, proporcionam ao

espectador a sensação da certeza definitiva e segura. O círculo reflete a

sensação de equilíbrio, do controle sobre todos os elementos da vida. A esfera e

cúpulas semi - esféricas representam a perfeição, a lei final, conclusiva. A

elipse, desenvolvendo-se em torno de dois eixos, nunca permite que a vista

repouse, tornando-a móvel e irrequieta.

O grande mérito desta teoria é ter criado relações de intercâmbio

entre arquitetura e o homem tentando explicar os aspectos psicológicos.

Interpretações formalistas – são leis, regras e princípios descritos

vagamente a seguir pois vale afastar-se de especificações que criam dogmas

compositicos que aparem a capacidade criativa, tais como:

A unidade como propósito dos artistas em exprimir em seu trabalho

uma idéia única, de promover uma ligação entre todos os seus componentes. A

simetria é o equilíbrio formal nos edifícios de caráter axial. O equilíbrio é a

simetria na arquitetura sem eixos. Em um edifício é necessário que existam

“massas” de mesmo peso de um lado e do outro. A ênfase ou acentuação de um

centro de interesse em um edifício é necessária em toda composição. O

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contraste entra linhas verticais e horizontais, entra cheios e vazios, volumes,

massas, materiais, cor, serve para demonstrar vitalidade em uma unidade. A

proporção demonstra a relação das partes entre si e com o conjunto. A escala

de um edifício é elemento essencial em sua apreciação pois é a dimensão relativa

ao homem. A expressão ou caráter do edifício é a idéia que o arquiteto quer

transmitir. A verdade em arquitetura significa a representação das idéias

construtivas relacionadas às suas funções. Não deve-se empobrecer tais idéias

somente pela plástica. O contexto físico onde o edifício está inserido não deve

ser esquecido, mas participar da unidade.

Todas estas interpretações analisadas em conjunto de suas relações

formam o contexto onde surge a arquitetura. Algumas vezes predominando a

indicação política, outras a religiosa, um propósito coletivo, uma descoberta

técnica, produto da civilização em que surgem.

Observados estes aspectos, passa-se à crítica arquitetônica.

Quando se trata de obras de caráter didático, percebe-se um esforço por

estabelecer regras e princípios, o que pode enfraquecer a expressão artística e

paralisar a vitalidade da criação arquitetônica.

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3.3. A formação do arquiteto contemporâneo

O arquiteto é o profissional que recebe formação erudita e

conhecimentos artísticos e humanísticos, dotado de sensibilidade e intuição para

organizar o espaço físico com plasticidade e funcionalidade adequadas às

necessidades humanas.

A história da profissão constitui referência importante para o debate

sobre a formação do arquiteto. A produção arquitetônica e, por conseqüência, do

espaço habitado deve ter caráter social e ser técnica e politicamente engajada,

comprometida por inteiro com as necessidades e aspirações da população.

Comprometimento este que representa a base para a elaboração de qualquer

proposta para o ensino de arquitetura.

Formar um arquiteto é preparar um profissional capacitado a criar o

espaço habitado ou agenciar espaços existentes, em trabalhos de preservação,

restauração, reformas ou reconstruções.

A capacidade técnica e a sensibilidade artística não resumem os

conhecimentos do profissional mesmo que o ensino institucional de arquitetura

esteja centrado no treinamento para a execução de projetos arquitetônicos. Este

ensino não pode ficar restrito ao problema do desenho de um objeto no papel,

mas precisa ser orientado para um compromisso com o estudo do que ocorre no

campo da construção, em sentido amplo, para as formas urbanas que dela

decorrem e para o comprometimento do meio ambiente que ela causa. Exige a

colaboração multidisciplinar com profissionais das mais diversas formações e o

emprego de recursos tecnológicos complexos. E para que se justifique sua

inserção no quadro universitário, um ensino que garanta uma reflexão crítica

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sobre a realidade social, palco de interesses em permanente conflito e na qual

esta profissão é uma das que contribuem para sua organização física.

Este é o enfoque a ser dado ao processo de formação do arquiteto,

conferindo ao exercício do projeto o papel de momento de síntese, que só ocorre

quando alimentado pelo conjunto de informações e conhecimentos produzidos

pelas demais disciplinas, de forma correta, sincronizada e convergente. Sua

qualidade como síntese corresponde diretamente ao nível desse conjunto de

elementos assim como às formas de articulação.

As disciplinas contemplam informações sobre questões técnicas

(materiais de construção, sistemas construtivos, conforto ambiental), e história da

arquitetura, para disciplinar a vocação artística para aquilo que de fato interessa:

a prática do projeto arquitetônico.

É um conhecimento teórico mas que representa ao arquiteto a

consciência da finalidade básica de cada um, do papel que já desempenharam,

das transformações sofridas e as que poderão sofrer. E para o desenvolvimento

desta capacidade é indispensável ter e transmitir ao estudante o conhecimento e

domínio do ofício de arquiteto, recuperando os exemplos que nos foram legados

pelos artesãos, construtores e mestres que produziram os espaços habitados

pela humanidade desde os tempos mais remotos.

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CONCLUSÃO

As universidades devem estudar a disciplina História da Arquitetura

separada do estudo de História da Arte.

A história da arquitetura abrange a análise dos elementos

arquitetônicos e de sua seqüência em todos os tempos e em todas as regiões.

Este estudo é necessário a fim de que se possam conhecer a origem e as

transformações de todas as formas arquitetônicas, situando-se no tempo e no

espaço as edificações já feitas, observando-se igualmente os materiais

empregados e os sistemas construtivos.

No ensino, o papel da História não deve confundir-se com o papel da

teoria na função de fornecer modelos e precedentes determinados pela

autoridade dos antigos. A cultura é praticamente impensável sem a interpretação,

ainda que crítica, dos precedentes. As formas do passado legam o elemento vital

e perene sem o qual nenhuma nova posição de vanguarda se desenvolve em

uma cultura.

O estudo da História está na maneira de tratar a arquitetura. Ë

preciso o conhecimento de métodos para o estudo espacial dos edifícios. Depois

de aprender a compreender teoricamente é que se pode aplicar a crítica, pois não

existe padrão de apreciação para todos os tempos. A proposta deverá dar

enfoque ao estudo analítico, informativo e crítico para julgar as obras do passado

pelos valores da época em que foram criadas.

“Começar do zero”, como pretendiam os vanguardistas do início do

século, ignorando a História, é uma idéia inaceitável hoje em dia, pois as formas

construtivas conhecidas pertencem ao inconsciente coletivo e as interpretações e

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críticas voltam-se para o que já foi feito. O momento histórico atual, a era da

informação, não permite esquecer, mas valorizar tudo o que o homem

desenvolveu e pensar que o conhecimento das realizações do passado pode

inibir a criatividade é um dos mais surpreendentes equívocos formulados no

contexto do ensino de arquitetura.

A arquitetura, a prática edificatória, independentemente dos

aspectos estéticos e doutrinários é uma significativa expressão da experiência

cultural humana. O conhecimento é fundamental para a estruturação de uma

capacidade crítica.

Uma crítica moderna, viva, social e intelectualmente útil, não serve

apenas para preparar o prazer estético das obras históricas; serve também para

colocar o problema do ambiente social em que o homem vive, dos espaços

urbanos e arquitetônicos dentro dos quais ele passa a maior parte dos dias, para

que se reconheça o momento analítico da arquitetura, que é matéria da História.

A experiência passada contribui para a criação de um imaginário. Lá estão

classificados e agrupados ao fatos passados que serão utilizados na modelagem

do presente. A função social da História é organizar o passado em função do

presente.

O profissional deverá procurar os grandes monumentos do passado

para extrair deles as essenciais lições espaciais, já capazes de distinguir o

autêntico da cópia, o passado do presente, a vida de hoje da de ontem. À luz

deste passado e da sua crítica, as teorias da arquitetura contemporânea vão

enriquecer com uma linguagem plenamente humana.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHOAY, Françoise. O Urbanismo. São Paulo: Perspectiva, 1992. CORBUSIER, Le. Por uma Arquitetura. São Paulo: Perspectiva. 1977. COSTA, Lúcio. Sobre Arquitetura. Porto Alegre: Centro dos Estudantes Universitários da Arquitetura, 1962. LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia Estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.

SUMMERSON, John. A Linguagem Clássica da Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1982.

ZEVI, Bruno. Saber Ver a Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

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ANEXOS