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CEPAL – 60 anos de Desenvolvimento na América Latina
Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 17 a 19 de agosto de 2011
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O Entendimento do Processo de Regionalização de uma IES
comunitária a partir das Representações Sociais
Adilene Alvares Mattia1
Marcos Artêmio F. Ferreira2
Resumo: O presente estudo tem origem em reflexões acerca de uma IES localizada no interior do Estado do Rio Grande do Sul e busca investigar o processo de expansão regional de uma universidade regional e comunitária. O Método de pesquisa é o dialético, utilizando-se o estudo sócio-histórico da estratégia de regionalização e das representações sociais sobre os efeitos percebidos pelos atores internos e externos à IES e como técnica a análise de conteúdo. Pretende-se resgatar os significados sobre aspectos da realidade a partir da versão dos atores sociais com respeito ao tema das relações entre IES e sociedade. Portanto, a relevância desta pesquisa tem a ver com a carência de estudos que tenha como foco o papel que as IES exercem nos territórios que ocupam para além da sua atividade central – a oferta de educação superior. Tem a ver também com o papel que a Universidade desempenha no desenvolvimento econômico, social, cultural e político do espaço geográfico local e regional. Palavras-Chave: Instituição de Ensino Superior, Regionalização, Representações Sociais.
1 Universidade de Caxias do Su l(UCS), e-mail: [email protected] 2 Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), e-mail: [email protected]
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1. Introdução
A relevância do ensino superior é considerada principalmente em termos do papel e
do espaço deste na sociedade, suas funções com relação ao ensino, à pesquisa e aos
serviços resultantes, assim como os termos de sua ligação com o mundo de trabalho de
uma forma geral, com o Estado e recursos políticos, além de interações com outras formas
de educação.
A origem histórica do ensino superior no Brasil coincide com a vinda da corte
portuguesa em 1808, onde este era ministrado na forma de cadeiras isoladas. (Teixeira,
2005). A educação superior no Brasil compreende, hoje, um sistema diversificado de
instituições públicas e privadas com diferentes ofertas de cursos e programas, que estão
normatizados, na Constituição/88 e na LDBN/96, acrescidas de Decretos, Regulamentos e
Portarias complementares.
Outro aspecto importante é a forma de organização administrativa quanto a natureza
jurídica. No caso brasileiro, o Ministério da Educação e Cultura e Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisa Nacional (MEC/INEP) classificam as IES em públicas e privadas, sendo
as privadas “mantidas e administradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado”.
Dentro das IES privadas, temos dois tipos de organização institucional: com ou sem fins
lucrativos. As instituições privadas sem fins lucrativos se classificam em comunitárias,
confessionais e filantrópicas, sendo as comunitárias “instituídas por grupos de pessoas
físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas, inclusive cooperativas de professores e
alunos que incluam, na sua entidade mantenedora, representantes da comunidade”. (INEP,
2008)
O presente estudo tem origem em reflexões acerca de uma IES localizada no interior
do Estado do Rio Grande do Sul e busca investigar o processo de expansão regional de
uma universidade regional e comunitária. Para tanto será utilizado à teoria das
Representações Sociais a partir das análises dos discursos dos agentes envolvidos nesse
processo de regionalização. Pretende-se resgatar os significados sobre aspectos da
realidade a partir da versão dos atores sociais com respeito ao tema das relações entre IES
e sociedade.
As universidades comunitárias exercem há décadas uma influência importante nos
espaços que ocupam. Vários estudos revelam características diferenciadas desse
desempenho, ancorado em termos de compromissos estipulados em documentos históricos
das IES.
As práticas exercidas com relação ao ambiente externo, contudo, tem sido
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diferenciada para cada uma das instituições, influenciadas por escolhas destas, ou por
fatores conjunturais objetivos que interferem em suas trajetórias.
Além disso, a homogeneidade pretendida neste grupo de instituições está sujeita a
questionamentos que suas histórias singulares podem revelar a partir de pontos de vista
selecionados.
Neste sentido, o tema se inscreve no contexto do desenvolvimento regional e seu
objetivo é analisar o papel de uma Universidade regional e comunitária no processo de
expansão territorial e suas estratégias de integração regional. Busca-se com este estudo
perceber quais as evidências mais significativas – materiais e simbólicas- de valorização da
presença da UCS na região, com referência ao seu processo de expansão territorial.
Portanto, a relevância desta pesquisa tem a ver com a carência de estudos que
tenha como foco o papel que as IES exercem nos territórios que ocupam para além da sua
atividade central – a oferta de educação superior. Tem a ver também com o papel que a
Universidade desempenha no desenvolvimento econômico, social, cultural e político do
espaço geográfico local e regional.
Este artigo apresenta nas seções seguintes a revisão bibliográfica buscando um
entendimento sobre território e territorialidade, região, identidade regional e desenvolvimento
endógeno, representações sociais. Na seção seguinte abordam-se as Universidades
Comunitárias. Bem como, a caracterização da IES em estudo. E por fim apresenta-se o
método de pesquisa e algumas considerações finais.
2. BASES TEÓRICAS
2.1 TERITTÓRIO E TERRITORIALIDADES
Saquet (2009) destaca dois períodos na abordagem da concepção de território e
territorialidades: No período de 1960 a 1970 sob o ponto de vista de Harvey (1969), a
concepção relacional do espaço considera as distâncias, as localizações as extensões, os
custos as informações e as interações. O espaço assume caráter relacional.
No período de 1960 a 1980- entende-se o território como produto social constituído,
histórica, econômica, política e culturalmente. O território passa a ter um caráter espaço-
temporais e geo-histórica.
O autor ressalta ainda que o território é uma construção coletiva e multidimensional,
com múltiplas territorialidades, diferenciando território do espaço geográfico a partir de três
características principais: - as relações de poder; as redes e as identidades; os processos
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espaço-temporais que marcam determinada parcelas do espaço nas formas área-rede,
rede-rede ou área-rede-lugar. O território é produto de ações históricas que se concretizam
em momentos distintos e sobrepostos, gerando diferentes paisagens. O espaço
corresponde ao ambiente natural e ao ambiente organizado socialmente, com destaque
para as formas/edificações e para as formas da natureza. Há unidade entre natureza e
sociedade.
O território tornou-se um conceito empregado por diversas ciências que se ocupam
dos processos de produção do espaço. Conforme Santos (2002), “o território é o lugar em
que desembocam todas as ações, todas as paixões, todos os poderes, todas as forças,
todas as fraquezas, isto é onde a história do homem se realiza a partir de manifestações de
sua existência”. As relações e classes sociais produzem diferentes territórios e espaços que
as reproduzem em constante conflitualidade. Fernandes utiliza o conceito de território, para
se referir aos espaços de governança em escala municipal, reunindo um conjunto de
municípios que formam microrregião e também em escalas transnacionais, que envolve
todas as escalas dos espaços de governança. Uma citação do autor destaca duas
compreensões distintas de disputas territoriais:
A do território compreendido apenas como espaço de governança, multidimensional e pluriescalar. É o território da nação, do país, dos estados, províncias, microrregiões, departamentos, municípios e outras unidades geográficas de divisão escalar dos espaços de governança. A outra seria sobre a tipologia de territórios. Partimos do território como espaço de governança, mas reconhecemos os outros tipos de territórios fixos e fluxos, materiais e imateriais, formado pelas diferentes relações sociais(...)a compreensão de território como espaço de governança denomina de território uno e a compreensão da tipologia como território diversos.(FERNANDES,2009, p.34)
As disputas territoriais não se limitam ao espaço econômico. Como o território, é uma
totalidade; e multidimensional; isto é as dimensões que a compõem, as disputas territoriais
ocorrem também na dimensão política, teórica ideológica, o que nos possibilita entender os
territórios materiais e imateriais.
A dimensão une espaço e relação construídos pelas ações e intencionalidades.
Searle (1995) contribui para o entendimento da intencionalidade como uma opção histórica,
que determina a direção de seus pensamentos para a construção e defesa de ações
políticas, modelos de desenvolvimento com visão e compreensão da realidade. Na
intencionalidade as pessoas definem a totalidade dos objetos. Então, é possível estudar o
território sob as dimensões econômicas, como espaço de governança, como uno, ou pela
suas diferencialidades, assim como pela exclusão ou inclusão precária, ou ainda sob a ótica
do capital social, capital político, capital natural ou nas dimensões social, política, cultural,
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natural dos territórios.
Raffestin (1993, p. 143-144) alega “que o espaço é anterior ao território”. Segundo o
autor, o território não se constitui no espaço, sendo antes “uma produção, a partir do
espaço”. Tratando da questão da territorialidade, Raffestin (1993, p. 162) indica, assim, que
a análise da mesma “só é possível pela apreensão das relações reais recolocadas no seu
contexto sócio-histórico e espaço-temporal”.
Ortega (2008) ressalta a contribuição de Haesbaert, no que diz respeito a o conceito
de território na construção de uma síntese sobre a perspectiva territorial de análise do
desenvolvimento, através de quatro características.
A primeira denomina-se política ou jurídico-política, onde o território é visto como “um
espaço delimitado e controlado através do qual exerce um determinado poder, na maioria
das vezes- mas não exclusivamente- relacionadas ao poder do Estado”. A segunda, a visão
culturalista ou simbólico-cultural, onde “o território é produto da apropriação/valorização
simbólica de um grupo num determinado espaço”. A terceira idéia é a econômica, onde
“enfatiza a dimensão espacial das relações econômicas, o território como fonte de recursos
e/ou incorporado no debate entre classes sociais e na relação capital-trabalho, como
produto da divisão “territorial” do trabalho”. Por último, a naturalista, onde “a noção de
território como alicerce das relações entre sociedade e natureza”.
Neste sentido, o território deve ser planejado sob uma perspectiva integradora,
articulada em múltiplas escalas, que pode ir do local/comunitário/territorial ao global,
possibilitando, sua superposição e sua descontinuidade espacial, mesmo que conectadas e
articuladas entre si.
O território é uma “construção” humana a partir de um espaço que se constitui na
“fonte” de constituição do território, daí porque muitas vezes, encontramos a expressão
“espaço-territorial”. Portanto, o indivíduo tem um papel formador, como ator dessa
construção, desenvolvendo, através de intencionalidades e comportamentos, uma
apropriação social do espaço, isto é, o território. Assim, forma-se um construto não palpável,
coordenador da formação do espaço; um território se dá a partir de aspectos de formação
social, como os aspectos sócio-econômicos (RASFETIN, 1993; EDUARDO, 2006; SAQUET,
2009).
De acordo com Pecqueur (2005) existe o conceito de território dado e de território
construído e deve ser clara a distinção entre as duas formas. No primeiro (território dado)
fala-se exclusivamente da região, do local. É considerado território dado o país ou região e
suas características naturais de formação. Já o território construído, como o nome sugere,
parte de uma construção social, consolidado a partir das ações dos indivíduos.
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Construir socialmente uma região significa potencializar sua capacidade de auto-
organização, transformando uma sociedade inanimada, segmentada por interesses
setoriais, pouco perceptivas de sua identidade territorial e em definitivo, passiva, em outra,
organizada, coesa, consciente da identidade sociedade-região, capaz de mobilizar-se por
processos políticos coletivos, isto é, capaz de transformar-se em sujeito de seu próprio
desenvolvimento. (BOISER, 1996)
Segundo Boiser o desenvolvimento regional torna-se, assim: “um processo
localizado de mudança social sustentada que tem como finalidade última o progresso
permanente da região, da comunidade regional como um todo e de cada indivíduo residente
nela”. Acrescenta que para isso ocorrer de forma autêntica, é necessário alguns atributos
inerentes ao processo de desenvolvimento, destacando-se:
a- Um crescente processo de conscientização e mobilização social em torno da
proteção ambiental e do manejo racional dos recursos naturais da região;
b- Uma crescente autopercepção coletiva de “pertença” regional, isto é, de
identificação da população com sua região. Em relação a isso, “o sentido de
pertença, identidade regional, de tomada de consciência regional e de ação
regional define a territorialidade regional”.
A endogenização do processo de desenvolvimento regional contempla as
necessidades e aspirações da coletividade regional e resulta de uma sólida e ativa
consciência de territorialidade.
O desenvolvimento endógeno caracteriza-se por sua dimensão territorial, não
apenas em função do efeito espacial dos processos organizacionais e tecnológicos, como
pelo fato de cada localidade e região ser o resultado de uma história ao longo da qual foi
sendo configurado o entorno institucional, econômico e organizacional. Historicamente, cada
comunidade territorial foi se estruturando em decorrência das relações e dos vínculos de
interesse de seus grupos e atores sociais e da construção de uma identidade e uma cultura
própria que a diferenciam das demais.
Vivemos em um mundo de globalização da economia, o que nos leva a uma
reafirmação da importância da dimensão espacial, concretamente em relação aos distintos
espaços geográficos.
Sandra Lencioni (1999) traz argumentos que mostram os caminhos que a Geografia
seguiu e suas diversas linhas de pensamento, onde a Geografia Regional ganha destaque,
pois atua entre o local e o global e pode, através da análise regional, contribuir muito para o
desenvolvimento.
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As reflexões segundo Gomes (1995) foram afetadas por dois cenários importantes: o
da crise da geografia clássica, que coincidiu com uma grande rediscussão da noção de
região, e com o aprofundamento das diferenciações espaciais num mundo globalizado,
afetado pelo avanço tecnológico, pela competitividade e pela aceleração dos eventos. No
primeiro cenário- da crise geográfica clássica- na ambição de munir a reflexão geográfica de
teorias e de modelos analíticos cientificamente consistentes, a região não mais podia ser
aceita com evidência do mundo real, como produto de processos localizados, auto-
referenciados e diferenciadores. No segundo- de diferenciações espaciais- se não era
possível ignorar as diferenças espaciais- antigas e recentes, não era mais possível, no
modelo analítico materialista centrado no modo de produção adotado pelo autor, atribuir a
esta categoria qualquer pressuposto fenomenal ou de temporalidade.
Estas reflexões contêm os problemas fundadores de um novo olhar para a região
como categoria de análise da geografia. Como problema epistemológico a região é tomada
como recorte espacial de reprodução da totalidade; com problema empírico ela é vista como
expressão das diferenças entre os lugares, diferenças estas provocadas pelos eventos
como os dados pela globalização, e constitui um recorte espacial funcional às formas de
produção. Afetada pela aceleração dos tempos atuais as formas e os conteúdos das regiões
mudam repetidamente, sendo possível que a sua vida seja muito curta.
Conforme Gomes (1995), alguns elementos fundamentais devem ser considerados
no processo de construção desse conceito “a região é uma reflexão política de base
territorial; ela coloca em jogo um conjunto de interesses identificados com determinadas
áreas e coloca em discussão os limites da autonomia em relação a um poder central”.
2.2 TEORIAS DA REPRESENTAÇÃO SOCIAL
O termo “representação social” foi cunhado por Serge Moscovici, para apontar
especificamente o tipo de fenômeno ao qual a interpretação teórica se aplicava. Hoje esse
termo é empregado, por exemplo, como sinônimo de representação coletiva, sob o
argumento de que esta é também social, em um sentido amplo e já implícito na proposição
original de Durkheim. Nesse sentido, Sá define o termo Representações Sociais como:
Um conjunto de conceitos, proposições e explicações originado na vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais. Elas são equivalentes, em nossa sociedade, dos mitos e sistema de crenças das sociedades tradicionais; podem também ser vistas como a versão contemporânea do senso comum. (SÁ, 1996, p.31).
Portanto, o autor destaca que a grande teoria das representações sociais propostas
por Moscovici, desdobra-se em três correntes teóricas complementares: a liderada por
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Denise Jodelet, em Paris; fiel à teoria original. A liderada por Willem Doise , em Genebra;
que procura articulá-la com uma perspectiva mais sociológica e a que enfatiza a dimensão
cognitiva- estrutural - das representações, liderada por Jean- Claude Abric, em Aix-en-
Provence. O autor nos incita a refletir sobre a possibilidade de nos apropriarmos das três
perspectivas teóricas:
Podemos, por exemplo, aderir à perspectiva de Jodelet, porque queremos dar conta de uma maneira maximamente compreensiva da representação de um objeto por um dado conjunto social. Apesar disto, podemos associar a essa meticulosa extração das representações a partir de seus variados suportes, o que configura uma orientação etnográfica de base, uma consideração acerca dos “lugares” específicos de onde “fala” a representação, o que é certamente relevante no caso de uma sociedade urbana contemporânea, de solidariedade orgânica (para usar um conceito de Durkheim), e pode ser mais bem apreciado no quadro de uma perspectiva sociologicamente orientada como a de Doise. Agora, se, além de combinar essas duas perspectivas, também nos interessa comparar as complexas representações constituídas em dois diferentes lugares ou momentos, consideradas suas relevâncias em termos sociais e/ou culturais, o melhor recurso disponível no campo das representações sociais é proporcionado pela perspectiva mais cognitiva ou psicológica da teoria do núcleo central (SÀ, 1998 p.78)
Para Jodelet (1989) as Representações Sociais, podem ser compreendidas como um
conhecimento do senso comum, socialmente construído e socialmente partilhado, que tem
um objetivo prático e concorre para a construção de uma realidade comum a um conjunto
social. Portanto, a autora esclarece que uma representação social é uma forma de saber
prático que liga o sujeito a um objeto. Este pode ser de natureza social, material ou ideal. É
um conhecimento social, um campo representacional. Elas podem possuir aparentes
contradições na sua superfície, mas nos seus fundamentos formam um núcleo estável e
permanente, baseado na cultura e na memória dos grupos e povos. É somente através de
pesquisa cuidadosa que se pode identificar estes fundamentos mais duradouros
(GUARESCHI, 2000, p. 78).
Jodelet (apud Sá, 1998) afirma que as Representações Sociais designam uma forma
de pensamento social, também denominado “saberes sociais”, que influenciam o
comportamento humano. Nesta perspectiva, três perguntas podem ser formuladas acerca
deste saber: (1) “quem sabe e de onde sabe?” as respostas apontam para o estudo das
condições de produção e circulação das Representações Sociais; (2) “o que e como se
sabe?” corresponde à pesquisa dos processos e estados das Representações Sociais; (3)
“sobre o quê se sabe e com que efeito?” o que leva a uma ocupação com o estatuto
epistemológico das Representações Sociais. Algumas Representações Sociais se
transmitem vagarosamente por gerações, e possuem uma maior estimativa de vida. Isto é o
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que se chama de tradição. Há outras Representações Sociais, típicas das culturas
modernas, que se espalham rapidamente por toda a população, mas possuem um curto
período de vida. São também chamadas de moda (GUARESCHI, 1999).
Neste sentido, as representações são, necessariamente, fenômenos sociais, que,
mesmo aproximados do seu conteúdo cognitivo, têm de ser compreendidos a partir do seu
contexto de produção. Isto é, a partir das funções simbólicas e ideológicas a que servem e
das formas de comunicação onde circulam. (SPINK, 1993)
2.3 UNIVERSIDADES COMUNITÁRIAS
No Rio Grande do Sul, certamente, mais que em outros Estados brasileiros, nas
últimas décadas, enraizadas em tradição histórica, nasceram e se desenvolveram
universidades que passaram a ser chamadas de comunitárias e regionais. A sua
organização e funcionamento acontecem no espaço da ampliação da esfera pública.
Conforme Frantz (2004) trata-se de experiências novas e diferentes, no cenário acadêmico
brasileiro e, por isso mesmo, desafiadoras, frente aos tradicionais conceitos e práticas do
fazer universitário. No nosso entender, estas iniciativas constituem, propriamente, um
protótipo da universidade comunitária, de natureza pública não-estatal.
Neste sentido, destaca-se a importância deste modelo de IES:
O modelo comunitário de instituição de ensino superior tem sua gênese e história mais vigorosa no Estado do Rio Grande do Sul, a partir de meados da metade do século vinte. Sua história tem revelado um campo institucional de grande relevância no estado, na medida que passou a cumprir um papel substitutivo ao do estado na expansão do ensino superior no interior.(FERREIRA E SPERONI, 2008, p.)
As universidades comunitárias surgem a partir da década de 1950, fruto da
mobilização das comunidades regionais, decididas a suprir a carência de educação de nível
superior em face da incapacidade do Estado em prover tal serviço. Em pouco tempo
mostram-se capazes de cobrir as diversas regiões dos estados sulinos. No Rio Grande do
Sul organizam-se no Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas – COMUNG,
criado em 1996, que conta atualmente com 12 associadas. Em Santa Catarina, as
universidades comunitárias organizam-se na Associação Catarinense das Fundações
Educacionais – ACAFE, fundada em 1974, e que hoje congrega 14 fundações educacionais
criadas com apoio do Governo do Estado e de Prefeituras. (SCHMIDT e CAMPIS, 2009)
Nas universidades comunitárias em sentido estrito é que mais claramente se
expressam as características do público não-estatal. Segundo a síntese feita por Frantz e
Silva (2002), suas marcas distintivas são as seguintes:
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a) sua criação foi impulsionada por um conjunto de organizações da sociedade civil e, em
alguns casos, de órgãos públicos, a quem pertence o patrimônio (mantenedora);
b) não têm fins lucrativos, sendo os resultados econômicos reinvestidos na própria
universidade;
c) têm profunda inserção na comunidade regional, interagindo com os seus diversos
segmentos;
d) os órgãos deliberativos superiores são integrados por representantes dos diversos
segmentos da comunidade acadêmica (professores, estudantes e técnicos administrativos)
e da comunidade regional;
e) os dirigentes (Reitoria) são professores da universidade, eleitos pela comunidade
acadêmica e por representantes da comunidade regional;
f) a forma jurídica da mantenedora é a de fundação de direito privado, de associação ou de
sociedade civil;
g) o controle administrativo e da gestão financeira é feito pela mantenedora;
h) o patrimônio, em caso de encerramento das atividades, é destinado a uma instituição
congênere.
As universidades comunitárias em sentido estrito distinguem-se, pois, nitidamente
das instituições de ensino superior privadas em vários aspectos, como a inexistência de fins
lucrativos, a gestão democrática, a transparência administrativo-financeira, o controle social,
a prestação de contas à sociedade e ao poder público e a ênfase no desenvolvimento
regional.
Enfim, o espaço da universidade é um espaço real de convicções, de relações
sociais, abrigado em mentes, em políticas e trabalho, em prédios e laboratórios. É um
espaço por onde a sociedade constrói e reconstroem os sentidos da vida, a sua capacidade
de entender-se e fazer-se pela educação e pelo poder. E, ao fazê-lo, voltado para a
comunidade, conquista e constrói os seus espaços públicos que se legitimam na prática da
democracia.
3. CARACTERIAZAÇÃO DA IES
A Universidade de Caxias do Sul nasce de um conjunto de forças e de instituições da
comunidade, tais como: Mitra Diocesana, Sociedade Hospitalar Nossa Senhora de Fátima,
Prefeitura Municipal, entre outros; portanto, de um projeto social de desenvolvimento por
elas construído. É, portanto, uma instituição de caráter público na esfera civil, uma vez que,
dentro da sociedade civil, se coloca acima de eventuais interesses particulares, sejam eles
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de indivíduos, de grupos ou de classes sociais.
O caráter comunitário da Universidade de Caxias do Sul conduziu, necessariamente,
à criação e à solidificação de estreitas relações com a cidade e com a Região Nordeste do
Rio Grande do Sul. Tendo nascido de um projeto da comunidade e não da vontade de
indivíduos ou de grupos particulares, a ação regional da UCS passou a ser uma decorrência
natural de sua natureza e estrutura comunitária. Sua ação consolidou-se, assim, nas
relações com a sociedade, dando consistência a uma comunidade regional de larga
abrangência, por meio da efetivação de relações integradoras. O quadro 1 apresenta a
configuração territorial da UCS.
Universidade de Caxias do Sul
Campi 1 Sede, Caxias do Sul
Campi 2 Campus da Região dos Vinhedos
(CARVI)- Bento Gonçalves
Campi 3 Campus de Vacaria (CAMVA)- Vacaria
Núcleos Universitários NUCAN- Canela
NUVER- Veranópolis
NUFAR- Farroupilha
NUPRA- Nova Prata
NUGUA- Guaporé
NUVALE- São Sebastião do Caí
Quadro 1 -Configuração Territorial da UCS
Fonte: www.ucs.br
A Universidade de Caxias do Sul abrange um universo de setenta municípios,
localizados nas regiões da Encosta Superior do Nordeste, do Vale do Caí e dos Campos de
Cima da Serra do Rio Grande do Sul.
Compreendendo uma área aproximada de 30 mil km2 e uma população de mais de
um milhão de habitantes, esta região representa cerca de 10% da área territorial do Estado
e abriga 9,5% do seu efetivo demográfico, destacando-se, no cenário estadual e nacional.
Como universidade comunitária e regional, a UCS atua na promoção da integração
das diferentes comunidades da sua região de abrangência, sem deixar de priorizar o
atendimento de demandas localizadas. Busca, continuamente, alternativas inovadoras de
inserção na comunidade, seja na formação de pessoal, na construção de novos
conhecimentos e tecnologias, ou na criação de espaços que favoreçam o avanço científico,
artístico, tecnológico e cultural da sociedade.
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O processo de regionalização previu o desenvolvimento de duas estratégias:
Integração à Universidade das IES existentes na região, transformando-as em campi
universitários, e a criação de uma nova rede de Núcleos Universitários e Cidades- Pólo de
várias microrregiões que integram a região da UCS.
Foram criados: o Campus Universitário da Região Vinhedos, em Bento Gonçalves, e
o Campus Universitário de Vacaria; os Núcleos Universitários de Guaporé, Nova Prata,
Veranópolis, Farroupilha, São Sebastião do Caí e da Região das Hortênsias, com sede em
Canela.
A partir de 2004, foram implantados Pólos de Educação a Distância nos Municípios
de Antônio Prado, Montenegro, São Marcos, Terra de Areia e nas demais Unidades.
O quadro 2, exemplifica os dados da IES em relação a sua ação territorial
concretizada principalmente por suas atividades fins: ensino , pesquisa e extensão.
Possui mais de 100 acordos com instituições de 29 países para intercâmbio acadêmico e
científico.
Dados da Instituição
Ano de Funcionamento 1967
Professores 1200
Pós- Graduação Stricto senso
Lato senso
10 mestrados e 4 doutorados
Mais de 100 cursos de Especialização e
MBAs
Projetos de Pesquisa 290
Grupos de Pesquisa 20 Núcleos de pesquisa e 16 Núcleos de
Inovação e Desenvolvimento.
Programas de iniciação científica 296
Projetos de Extensão 140
Cursos de Graduação 74
Alunos matriculados (Graduação, Pós e
Extensão)
37.000
Bibliotecas 15 com um acervo de 900 mil títulos
Laboratórios 790 e mais de 500 salas de aula
Área construída (m2) 192.703
Quadro 2: Dados institucional que exemplificam a ação no território referentes a 2010
Fonte: http:www.ucs.br/ucs/noticias/1297278747,acesso 09/02/2011.
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Assim sendo, a idéia de regionalização da Universidade de Caxias do Sul é fruto da
consciência de agir de forma integrada em todos os setores e níveis de atividades e a
receptividade na região. Conforme parecer do Conselho Federal de Educação no 689/92 - e
homologado pela Portaria Ministerial 211/93, de 19 de fevereiro de 1993, o relator do
processo o Senhor Conselheiro José Francisco Sanchotene Felice, inicia o seu relato assim:
Pelo relatório, constata-se que o Projeto de Regionalização da Universidade de Caxias do Sul reveste-se de coerência, oportunidade, seriedade e exeqüibilidade. Propõe-se a integrar instituições e incorporar cursos superiores já consolidados, prevendo expansão compatível com as necessidades e aspirações de uma vasta e próspera região rio-grandense, onde a tradição e a modernidade mesclam-se num processo peculiar, e envolve todos os campos da cultura, da vida social e da economia. (UCS, Assessoria de Planejamento, 1992, p. 9).
Tem, portanto, sua sustentação num conceito de região não apenas de ordem
espacial, mas também de ordem relacional, estabelecendo traçados de territórios de ação
que obedecem a critérios de natureza sociocultural e socioeducacional.
A região onde está inserida a Universidade de Caxias do Sul concentra 65% de suas
atividades no setor industrial, 33% no segmento de prestação de serviço e 2% na
agricultura, por isso é considerada o segundo pólo industrial do Estado.
Portanto, são necessários estudos sobre os impactos econômicos, políticos, culturais
e sociais de uma IES com relação a um determinado território. Além disso, conforme
Pozenatto (1992), as características que melhor ressaltam a singularidade da UCS, e que
efetivamente a diferenciam, resultam da “confluência dos movimentos inerentes à natureza
universitária, comunitário-regional e filantrópica da UCS, associada aos modos como
prioriza e empreende ações, permitindo que se consolide, atualize e fortaleça sua identidade
no exercício de sua função”.
4. BASES METODOLÓGICAS
O acesso metodológico vai nos permitir observar no conjunto dos depoimentos,
documentos, revisão de material jornalístico, entre outros, os processos mais relevantes
para compreender as perguntas que foram levantadas nos objetivos.
Nesse sentido, vamos buscar no referencial teórico - na análise institucional - os
traços mais gerais da condução dos assuntos da universidade, assim como os movimentos
que vão orientando suas decisões - ampliar, recuar, em que direção e, sob que regras
definirem novas trajetórias, até onde a "região" passa a interessar como rumo a ser tomado -
ou abandonado - em nome de outras estratégias.
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4.1 MÉTODO DE ABORDAGEM
Conforme Chauí (1996), o método é um instrumento racional para adquirir, demonstrar
ou verificar conhecimentos. O método, nas várias formulações que recebeu no correr da
história da Filosofia das ciências, sempre teve o papel de regulador do pensamento, isto é,
de aferidor e avaliador das idéias e teorias: guia o trabalho intelectual (produção das idéias,
dos experimentos, das teorias) e avalia os resultados obtidos.
Neste sentido, o método de abordagem é o Método Dialético que nos incita a revermos o
passado, à luz do que está acontecendo no presente, ele questiona o presente em nome do
futuro, o que está sendo em nome do que “ainda não é”. (Ernst Bloch, apud Konder 1998).
Nas palavras de Marconi e Lakatos (2007, p.91), método dialético: “que penetra o mundo
dos fenômenos tendo em vista sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e
da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade”.
4.1.1 Princípio lógico da investigação: dialética, a escolha decorre da compreensão da
pesquisadora da necessidade de abordar a realidade social, a partir de uma perspectiva
histórica repleta de eventos contraditórios, não lineares e submetidos a racionalidades e
perspectivas diversas. Tal cenário exige a compreensão do rumo que os fatos tomam no
período, buscando-se o quanto é possível uma linha de coerência entre o que a instituição
divulga e o que ela realiza.
4.2.1 Estratégia de investigação: estudo sócio-histórico da estratégia de regionalização
através das representações sociais sobre os efeitos percebidos por atores internos e
externos à IES, tendo como foco o significado e valor deste processo de ocupação territorial,
com relação ao papel exercido pela instituição e seu entorno regional.
4.1.3 Delineamento da pesquisa: estudo de caso, de natureza qualitativa e estratégia
analítica interpretativa das representações dos diversos atores selecionados, documentos e
material jornalístico sobre o tema.
Para Yin (2005, p. 32), um Estudo de Caso “é o esforço investigativo empírico de um
fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real, com especial valor nas situações em
que os limites entre o fenômeno e seu contexto não estão claramente definidos”.
A pesquisa qualitativa pode ser caracterizada como a tentativa de uma compreensão
detalhada dos significados e características situacionais apresentadas pelos entrevistados,
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em lugar da produção de medidas quantitativas de características ou comportamentos
(RICHARDSON,1999). Neste sentido, ganha destaque o valor da interpretação de fatos,
processos, pronunciamentos que resultam às características identificadas nessa realidade.
4.1.4 Fontes: pesquisa bibliográfica, pesquisa documentais, entrevista com atores-chave,
levantamento de dados secundários. As entrevistas serão semi-estruturadas realizadas
com: (1) atores-chave da instituição, como diretores de campus e pró-reitores; pessoas
vinculadas às duas Faculdades que participaram do processo de regionalização. (2) Atores
externos à instituição: representação política (vereadores (ex), prefeitos (ex), representação
de setores produtivos - Associações empresariais, sindicatos rurais, órgãos de setores
educacionais - Delegacia de Educação, setores de imprensa etc. e da sociedade civil
organizada.
Os documentos a serem utilizados nesta investigação é um conjunto de documentos
institucionais que são fundamentais para identificação e caracterização dos principais traços
do desenvolvimento da instituição. Para as informações estatísticas sobre a região serão
utilizados dados de órgãos oficiais IBGE, FEE/RS e com respeito ás informações sobre a
Universidade serão utilizados os dados do setor de Planejamento da IES.
4.1.5 Técnicas de análise: análise documental e análise de conteúdo de documentos e
entrevistas. Conforme Bardin (1979), “a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de
análise das comunicações visando obter, através de procedimentos sistemáticos e objetivos
de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam
inferir conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas)
dessas mensagens”. A análise documental inicia pela organização temática de acordo com
os interesses da pesquisa e, na seqüência, os blocos temáticos são organizados
conceitualmente, de acordo com as questões-chave da pesquisa, com respeito à
caracterização do processo de expansão e dos sentidos atribuídos a ela pelos
entrevistados. Farão parte das principais categorias de análise à expansão territorial,
integração regional e significados do processo de regionalização. A elaboração de
categorias é um processo constante. Além das acima citadas, outras categorias deverão
surgir à medida que a organização do material empírico for revelando evidências
necessárias de serem classificadas para análise.
4.1.6 Cenários da pesquisa: a Região Nordeste, do estado do Rio Grande do Sul,
particularmente a área de atuação e influência da Universidade. No entanto, a constituição
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do objeto de investigação tem como decorrência a delimitação do território ocupado pela IES
em sua trajetória de expansão para além da sede. Serão fontes de coleta de dados a
Universidade de Caxias do Sul e os três campi que a compõe: Caxias do Sul, Bento
Gonçalves e Vacaria.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O crescimento e a multiplicação de novos atores de desenvolvimento no Brasil e na
região em estudo constituem um fenômeno que sinaliza para diversas tendências atuais da
sociedade. As inovações e mudanças tecnológicas, acompanhadas da nova reorganização
das economias mundiais, têm colocado desafios a todos os países. Segundo Triches & Zorzi
(1999), a manutenção do nível de emprego e do bem-estar da população requer melhorias
constantes nas condições e processos produtivos, bem como no desenvolvimento de novos
produtos. Essas melhorias vêm sendo alvo de preocupação não só das esferas
governamentais, mas também de organizações regionais que tem assumido um importante
papel no desenvolvimento integrado na sua área de abrangência.
Neste sentido, a Universidade de Caxias do Sul tem propagado o interesse em
estimular o desenvolvimento regional através de sua atuação no processo de consolidação
de um projeto integrador da região através da implantação de um diversificado conjunto de
programas, ações e parcerias. Identifica-se essa contribuição pela missão da Universidade:
“Produzir, sistematizar e tornar o conhecimento acessível à sociedade, contribuindo
principalmente com o desenvolvimento sustentável da região” 1.
Portanto, a região não é apenas um espaço geográfico, mas um espaço onde se
desenvolve a ação propagadora do conhecimento e de tecnologia. Nas palavras de
Pozenatto:
Compete à universidade ser inovadora, estar um passo à frente do nível de desenvolvimento regional. Com a inserção na região cria-se alternativas de formação profissional, especialmente em áreas técnicas para atender as demandas e adequadas as necessidades da comunidade regional ou local. Com isso, a ação da universidade não levará a região a se fechar sobre si mesma, mas abrir-se para o mundo, cabendo à universidade o ponto de troca tecnológico e científico nela desenvolvido, ou através dela acessado, e as necessidades do desenvolvimento regional. (POZZENATTO, 1992, p.10)
A identidade regional, segundo Oliven (1992, p.26), é o conjunto de semelhanças e
diferenças – reais ou fictícias – que um determinado grupo construiu para identificá-lo em
1 PDI 2007/2011- Plano de Desenvolvimento Institucional da UCS.
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relação a outros grupos. “Essa construção acontece de forma diacrítica, através de sinais
que trazem uma “marca de distinção”. Portanto, a identidade regional pode contribuir para a
compreensão das particularidades locais e regionais que cercam as organizações”.
Segundo o autor, as questões identitárias promovem para cada sociedade um
conjunto de idéias que pode se difundir como marco organizador da percepção que as
coletividades atribuem a suas virtudes e dificuldades, tornando-as estereótipos que
perduram no tempo. Na medida em que sua difusão é bem sucedida ela consegue dar a
impressão de unificar interesses de diferentes grupos sociais, ocultando diferenças
importantes, caracterizando-se, pois como ideologia. Isto é, para que uma ideologia se
realize como tal, atinja as pessoas, provoque adesão, é preciso que as significações
produzidas pelo seu discurso encontrem eco no imaginário dos indivíduos aos quais se
dirige. Desta forma, desde a criação da Universidade de Caxias do Sul (1967) até a
regionalização (1993) mantiveram-se como pressupostos a identidade da instituição desde
as suas origens, tais como: a natureza universitária, a natureza comunitária e a natureza de
organização social. Portanto, mais do que uma forma institucional, pode ser definida como
uma forma de ação da Universidade de modo a torná-la um agente direto do
desenvolvimento regional.
Embora seja suposto que toda a universidade deva voltar-se para o exame do seu
entorno, com o objetivo de contribuir em sua esfera de competência, para as universidades
comunitárias isso integra o conjunto de prioridades maiores e tende a assumir um lugar de
destaque no processo de planejamento e desenvolvimento.
O estudo sócio-histórico da estratégia de regionalização e das representações
sociais sobre os efeitos percebidos por atores internos e externos à IES, tendo como foco o
significado e valor deste processo de ocupação territorial, com relação ao papel exercido
pela instituição e seu entorno regional.
Neste sentido, a relevância desta pesquisa tem a ver com a carência de estudos que
tenha como foco o papel que as IES exercem nos territórios que ocupam para além da sua
atividade central – a oferta de educação superior. Tem a ver também com o papel que a
Universidade desempenha no desenvolvimento econômico, social, cultural e político do
espaço geográfico local e regional.
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