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CEPAL 60 anos de Desenvolvimento na América Latina Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 17 a 19 de agosto de 2011 1 O Entendimento do Processo de Regionalização de uma IES comunitária a partir das Representações Sociais Adilene Alvares Mattia 1 Marcos Artêmio F. Ferreira 2 Resumo: O presente estudo tem origem em reflexões acerca de uma IES localizada no interior do Estado do Rio Grande do Sul e busca investigar o processo de expansão regional de uma universidade regional e comunitária. O Método de pesquisa é o dialético, utilizando- se o estudo sócio-histórico da estratégia de regionalização e das representações sociais sobre os efeitos percebidos pelos atores internos e externos à IES e como técnica a análise de conteúdo. Pretende-se resgatar os significados sobre aspectos da realidade a partir da versão dos atores sociais com respeito ao tema das relações entre IES e sociedade. Portanto, a relevância desta pesquisa tem a ver com a carência de estudos que tenha como foco o papel que as IES exercem nos territórios que ocupam para além da sua atividade central a oferta de educação superior. Tem a ver também com o papel que a Universidade desempenha no desenvolvimento econômico, social, cultural e político do espaço geográfico local e regional. Palavras-Chave: Instituição de Ensino Superior, Regionalização, Representações Sociais. 1 Universidade de Caxias do Su l(UCS), e-mail: [email protected] 2 Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), e-mail: [email protected]

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CEPAL – 60 anos de Desenvolvimento na América Latina

Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 17 a 19 de agosto de 2011

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O Entendimento do Processo de Regionalização de uma IES

comunitária a partir das Representações Sociais

Adilene Alvares Mattia1

Marcos Artêmio F. Ferreira2

Resumo: O presente estudo tem origem em reflexões acerca de uma IES localizada no interior do Estado do Rio Grande do Sul e busca investigar o processo de expansão regional de uma universidade regional e comunitária. O Método de pesquisa é o dialético, utilizando-se o estudo sócio-histórico da estratégia de regionalização e das representações sociais sobre os efeitos percebidos pelos atores internos e externos à IES e como técnica a análise de conteúdo. Pretende-se resgatar os significados sobre aspectos da realidade a partir da versão dos atores sociais com respeito ao tema das relações entre IES e sociedade. Portanto, a relevância desta pesquisa tem a ver com a carência de estudos que tenha como foco o papel que as IES exercem nos territórios que ocupam para além da sua atividade central – a oferta de educação superior. Tem a ver também com o papel que a Universidade desempenha no desenvolvimento econômico, social, cultural e político do espaço geográfico local e regional. Palavras-Chave: Instituição de Ensino Superior, Regionalização, Representações Sociais.

1 Universidade de Caxias do Su l(UCS), e-mail: [email protected] 2 Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), e-mail: [email protected]

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1. Introdução

A relevância do ensino superior é considerada principalmente em termos do papel e

do espaço deste na sociedade, suas funções com relação ao ensino, à pesquisa e aos

serviços resultantes, assim como os termos de sua ligação com o mundo de trabalho de

uma forma geral, com o Estado e recursos políticos, além de interações com outras formas

de educação.

A origem histórica do ensino superior no Brasil coincide com a vinda da corte

portuguesa em 1808, onde este era ministrado na forma de cadeiras isoladas. (Teixeira,

2005). A educação superior no Brasil compreende, hoje, um sistema diversificado de

instituições públicas e privadas com diferentes ofertas de cursos e programas, que estão

normatizados, na Constituição/88 e na LDBN/96, acrescidas de Decretos, Regulamentos e

Portarias complementares.

Outro aspecto importante é a forma de organização administrativa quanto a natureza

jurídica. No caso brasileiro, o Ministério da Educação e Cultura e Instituto Nacional de

Estudos e Pesquisa Nacional (MEC/INEP) classificam as IES em públicas e privadas, sendo

as privadas “mantidas e administradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado”.

Dentro das IES privadas, temos dois tipos de organização institucional: com ou sem fins

lucrativos. As instituições privadas sem fins lucrativos se classificam em comunitárias,

confessionais e filantrópicas, sendo as comunitárias “instituídas por grupos de pessoas

físicas ou por uma ou mais pessoas jurídicas, inclusive cooperativas de professores e

alunos que incluam, na sua entidade mantenedora, representantes da comunidade”. (INEP,

2008)

O presente estudo tem origem em reflexões acerca de uma IES localizada no interior

do Estado do Rio Grande do Sul e busca investigar o processo de expansão regional de

uma universidade regional e comunitária. Para tanto será utilizado à teoria das

Representações Sociais a partir das análises dos discursos dos agentes envolvidos nesse

processo de regionalização. Pretende-se resgatar os significados sobre aspectos da

realidade a partir da versão dos atores sociais com respeito ao tema das relações entre IES

e sociedade.

As universidades comunitárias exercem há décadas uma influência importante nos

espaços que ocupam. Vários estudos revelam características diferenciadas desse

desempenho, ancorado em termos de compromissos estipulados em documentos históricos

das IES.

As práticas exercidas com relação ao ambiente externo, contudo, tem sido

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diferenciada para cada uma das instituições, influenciadas por escolhas destas, ou por

fatores conjunturais objetivos que interferem em suas trajetórias.

Além disso, a homogeneidade pretendida neste grupo de instituições está sujeita a

questionamentos que suas histórias singulares podem revelar a partir de pontos de vista

selecionados.

Neste sentido, o tema se inscreve no contexto do desenvolvimento regional e seu

objetivo é analisar o papel de uma Universidade regional e comunitária no processo de

expansão territorial e suas estratégias de integração regional. Busca-se com este estudo

perceber quais as evidências mais significativas – materiais e simbólicas- de valorização da

presença da UCS na região, com referência ao seu processo de expansão territorial.

Portanto, a relevância desta pesquisa tem a ver com a carência de estudos que

tenha como foco o papel que as IES exercem nos territórios que ocupam para além da sua

atividade central – a oferta de educação superior. Tem a ver também com o papel que a

Universidade desempenha no desenvolvimento econômico, social, cultural e político do

espaço geográfico local e regional.

Este artigo apresenta nas seções seguintes a revisão bibliográfica buscando um

entendimento sobre território e territorialidade, região, identidade regional e desenvolvimento

endógeno, representações sociais. Na seção seguinte abordam-se as Universidades

Comunitárias. Bem como, a caracterização da IES em estudo. E por fim apresenta-se o

método de pesquisa e algumas considerações finais.

2. BASES TEÓRICAS

2.1 TERITTÓRIO E TERRITORIALIDADES

Saquet (2009) destaca dois períodos na abordagem da concepção de território e

territorialidades: No período de 1960 a 1970 sob o ponto de vista de Harvey (1969), a

concepção relacional do espaço considera as distâncias, as localizações as extensões, os

custos as informações e as interações. O espaço assume caráter relacional.

No período de 1960 a 1980- entende-se o território como produto social constituído,

histórica, econômica, política e culturalmente. O território passa a ter um caráter espaço-

temporais e geo-histórica.

O autor ressalta ainda que o território é uma construção coletiva e multidimensional,

com múltiplas territorialidades, diferenciando território do espaço geográfico a partir de três

características principais: - as relações de poder; as redes e as identidades; os processos

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espaço-temporais que marcam determinada parcelas do espaço nas formas área-rede,

rede-rede ou área-rede-lugar. O território é produto de ações históricas que se concretizam

em momentos distintos e sobrepostos, gerando diferentes paisagens. O espaço

corresponde ao ambiente natural e ao ambiente organizado socialmente, com destaque

para as formas/edificações e para as formas da natureza. Há unidade entre natureza e

sociedade.

O território tornou-se um conceito empregado por diversas ciências que se ocupam

dos processos de produção do espaço. Conforme Santos (2002), “o território é o lugar em

que desembocam todas as ações, todas as paixões, todos os poderes, todas as forças,

todas as fraquezas, isto é onde a história do homem se realiza a partir de manifestações de

sua existência”. As relações e classes sociais produzem diferentes territórios e espaços que

as reproduzem em constante conflitualidade. Fernandes utiliza o conceito de território, para

se referir aos espaços de governança em escala municipal, reunindo um conjunto de

municípios que formam microrregião e também em escalas transnacionais, que envolve

todas as escalas dos espaços de governança. Uma citação do autor destaca duas

compreensões distintas de disputas territoriais:

A do território compreendido apenas como espaço de governança, multidimensional e pluriescalar. É o território da nação, do país, dos estados, províncias, microrregiões, departamentos, municípios e outras unidades geográficas de divisão escalar dos espaços de governança. A outra seria sobre a tipologia de territórios. Partimos do território como espaço de governança, mas reconhecemos os outros tipos de territórios fixos e fluxos, materiais e imateriais, formado pelas diferentes relações sociais(...)a compreensão de território como espaço de governança denomina de território uno e a compreensão da tipologia como território diversos.(FERNANDES,2009, p.34)

As disputas territoriais não se limitam ao espaço econômico. Como o território, é uma

totalidade; e multidimensional; isto é as dimensões que a compõem, as disputas territoriais

ocorrem também na dimensão política, teórica ideológica, o que nos possibilita entender os

territórios materiais e imateriais.

A dimensão une espaço e relação construídos pelas ações e intencionalidades.

Searle (1995) contribui para o entendimento da intencionalidade como uma opção histórica,

que determina a direção de seus pensamentos para a construção e defesa de ações

políticas, modelos de desenvolvimento com visão e compreensão da realidade. Na

intencionalidade as pessoas definem a totalidade dos objetos. Então, é possível estudar o

território sob as dimensões econômicas, como espaço de governança, como uno, ou pela

suas diferencialidades, assim como pela exclusão ou inclusão precária, ou ainda sob a ótica

do capital social, capital político, capital natural ou nas dimensões social, política, cultural,

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natural dos territórios.

Raffestin (1993, p. 143-144) alega “que o espaço é anterior ao território”. Segundo o

autor, o território não se constitui no espaço, sendo antes “uma produção, a partir do

espaço”. Tratando da questão da territorialidade, Raffestin (1993, p. 162) indica, assim, que

a análise da mesma “só é possível pela apreensão das relações reais recolocadas no seu

contexto sócio-histórico e espaço-temporal”.

Ortega (2008) ressalta a contribuição de Haesbaert, no que diz respeito a o conceito

de território na construção de uma síntese sobre a perspectiva territorial de análise do

desenvolvimento, através de quatro características.

A primeira denomina-se política ou jurídico-política, onde o território é visto como “um

espaço delimitado e controlado através do qual exerce um determinado poder, na maioria

das vezes- mas não exclusivamente- relacionadas ao poder do Estado”. A segunda, a visão

culturalista ou simbólico-cultural, onde “o território é produto da apropriação/valorização

simbólica de um grupo num determinado espaço”. A terceira idéia é a econômica, onde

“enfatiza a dimensão espacial das relações econômicas, o território como fonte de recursos

e/ou incorporado no debate entre classes sociais e na relação capital-trabalho, como

produto da divisão “territorial” do trabalho”. Por último, a naturalista, onde “a noção de

território como alicerce das relações entre sociedade e natureza”.

Neste sentido, o território deve ser planejado sob uma perspectiva integradora,

articulada em múltiplas escalas, que pode ir do local/comunitário/territorial ao global,

possibilitando, sua superposição e sua descontinuidade espacial, mesmo que conectadas e

articuladas entre si.

O território é uma “construção” humana a partir de um espaço que se constitui na

“fonte” de constituição do território, daí porque muitas vezes, encontramos a expressão

“espaço-territorial”. Portanto, o indivíduo tem um papel formador, como ator dessa

construção, desenvolvendo, através de intencionalidades e comportamentos, uma

apropriação social do espaço, isto é, o território. Assim, forma-se um construto não palpável,

coordenador da formação do espaço; um território se dá a partir de aspectos de formação

social, como os aspectos sócio-econômicos (RASFETIN, 1993; EDUARDO, 2006; SAQUET,

2009).

De acordo com Pecqueur (2005) existe o conceito de território dado e de território

construído e deve ser clara a distinção entre as duas formas. No primeiro (território dado)

fala-se exclusivamente da região, do local. É considerado território dado o país ou região e

suas características naturais de formação. Já o território construído, como o nome sugere,

parte de uma construção social, consolidado a partir das ações dos indivíduos.

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Construir socialmente uma região significa potencializar sua capacidade de auto-

organização, transformando uma sociedade inanimada, segmentada por interesses

setoriais, pouco perceptivas de sua identidade territorial e em definitivo, passiva, em outra,

organizada, coesa, consciente da identidade sociedade-região, capaz de mobilizar-se por

processos políticos coletivos, isto é, capaz de transformar-se em sujeito de seu próprio

desenvolvimento. (BOISER, 1996)

Segundo Boiser o desenvolvimento regional torna-se, assim: “um processo

localizado de mudança social sustentada que tem como finalidade última o progresso

permanente da região, da comunidade regional como um todo e de cada indivíduo residente

nela”. Acrescenta que para isso ocorrer de forma autêntica, é necessário alguns atributos

inerentes ao processo de desenvolvimento, destacando-se:

a- Um crescente processo de conscientização e mobilização social em torno da

proteção ambiental e do manejo racional dos recursos naturais da região;

b- Uma crescente autopercepção coletiva de “pertença” regional, isto é, de

identificação da população com sua região. Em relação a isso, “o sentido de

pertença, identidade regional, de tomada de consciência regional e de ação

regional define a territorialidade regional”.

A endogenização do processo de desenvolvimento regional contempla as

necessidades e aspirações da coletividade regional e resulta de uma sólida e ativa

consciência de territorialidade.

O desenvolvimento endógeno caracteriza-se por sua dimensão territorial, não

apenas em função do efeito espacial dos processos organizacionais e tecnológicos, como

pelo fato de cada localidade e região ser o resultado de uma história ao longo da qual foi

sendo configurado o entorno institucional, econômico e organizacional. Historicamente, cada

comunidade territorial foi se estruturando em decorrência das relações e dos vínculos de

interesse de seus grupos e atores sociais e da construção de uma identidade e uma cultura

própria que a diferenciam das demais.

Vivemos em um mundo de globalização da economia, o que nos leva a uma

reafirmação da importância da dimensão espacial, concretamente em relação aos distintos

espaços geográficos.

Sandra Lencioni (1999) traz argumentos que mostram os caminhos que a Geografia

seguiu e suas diversas linhas de pensamento, onde a Geografia Regional ganha destaque,

pois atua entre o local e o global e pode, através da análise regional, contribuir muito para o

desenvolvimento.

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As reflexões segundo Gomes (1995) foram afetadas por dois cenários importantes: o

da crise da geografia clássica, que coincidiu com uma grande rediscussão da noção de

região, e com o aprofundamento das diferenciações espaciais num mundo globalizado,

afetado pelo avanço tecnológico, pela competitividade e pela aceleração dos eventos. No

primeiro cenário- da crise geográfica clássica- na ambição de munir a reflexão geográfica de

teorias e de modelos analíticos cientificamente consistentes, a região não mais podia ser

aceita com evidência do mundo real, como produto de processos localizados, auto-

referenciados e diferenciadores. No segundo- de diferenciações espaciais- se não era

possível ignorar as diferenças espaciais- antigas e recentes, não era mais possível, no

modelo analítico materialista centrado no modo de produção adotado pelo autor, atribuir a

esta categoria qualquer pressuposto fenomenal ou de temporalidade.

Estas reflexões contêm os problemas fundadores de um novo olhar para a região

como categoria de análise da geografia. Como problema epistemológico a região é tomada

como recorte espacial de reprodução da totalidade; com problema empírico ela é vista como

expressão das diferenças entre os lugares, diferenças estas provocadas pelos eventos

como os dados pela globalização, e constitui um recorte espacial funcional às formas de

produção. Afetada pela aceleração dos tempos atuais as formas e os conteúdos das regiões

mudam repetidamente, sendo possível que a sua vida seja muito curta.

Conforme Gomes (1995), alguns elementos fundamentais devem ser considerados

no processo de construção desse conceito “a região é uma reflexão política de base

territorial; ela coloca em jogo um conjunto de interesses identificados com determinadas

áreas e coloca em discussão os limites da autonomia em relação a um poder central”.

2.2 TEORIAS DA REPRESENTAÇÃO SOCIAL

O termo “representação social” foi cunhado por Serge Moscovici, para apontar

especificamente o tipo de fenômeno ao qual a interpretação teórica se aplicava. Hoje esse

termo é empregado, por exemplo, como sinônimo de representação coletiva, sob o

argumento de que esta é também social, em um sentido amplo e já implícito na proposição

original de Durkheim. Nesse sentido, Sá define o termo Representações Sociais como:

Um conjunto de conceitos, proposições e explicações originado na vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais. Elas são equivalentes, em nossa sociedade, dos mitos e sistema de crenças das sociedades tradicionais; podem também ser vistas como a versão contemporânea do senso comum. (SÁ, 1996, p.31).

Portanto, o autor destaca que a grande teoria das representações sociais propostas

por Moscovici, desdobra-se em três correntes teóricas complementares: a liderada por

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Denise Jodelet, em Paris; fiel à teoria original. A liderada por Willem Doise , em Genebra;

que procura articulá-la com uma perspectiva mais sociológica e a que enfatiza a dimensão

cognitiva- estrutural - das representações, liderada por Jean- Claude Abric, em Aix-en-

Provence. O autor nos incita a refletir sobre a possibilidade de nos apropriarmos das três

perspectivas teóricas:

Podemos, por exemplo, aderir à perspectiva de Jodelet, porque queremos dar conta de uma maneira maximamente compreensiva da representação de um objeto por um dado conjunto social. Apesar disto, podemos associar a essa meticulosa extração das representações a partir de seus variados suportes, o que configura uma orientação etnográfica de base, uma consideração acerca dos “lugares” específicos de onde “fala” a representação, o que é certamente relevante no caso de uma sociedade urbana contemporânea, de solidariedade orgânica (para usar um conceito de Durkheim), e pode ser mais bem apreciado no quadro de uma perspectiva sociologicamente orientada como a de Doise. Agora, se, além de combinar essas duas perspectivas, também nos interessa comparar as complexas representações constituídas em dois diferentes lugares ou momentos, consideradas suas relevâncias em termos sociais e/ou culturais, o melhor recurso disponível no campo das representações sociais é proporcionado pela perspectiva mais cognitiva ou psicológica da teoria do núcleo central (SÀ, 1998 p.78)

Para Jodelet (1989) as Representações Sociais, podem ser compreendidas como um

conhecimento do senso comum, socialmente construído e socialmente partilhado, que tem

um objetivo prático e concorre para a construção de uma realidade comum a um conjunto

social. Portanto, a autora esclarece que uma representação social é uma forma de saber

prático que liga o sujeito a um objeto. Este pode ser de natureza social, material ou ideal. É

um conhecimento social, um campo representacional. Elas podem possuir aparentes

contradições na sua superfície, mas nos seus fundamentos formam um núcleo estável e

permanente, baseado na cultura e na memória dos grupos e povos. É somente através de

pesquisa cuidadosa que se pode identificar estes fundamentos mais duradouros

(GUARESCHI, 2000, p. 78).

Jodelet (apud Sá, 1998) afirma que as Representações Sociais designam uma forma

de pensamento social, também denominado “saberes sociais”, que influenciam o

comportamento humano. Nesta perspectiva, três perguntas podem ser formuladas acerca

deste saber: (1) “quem sabe e de onde sabe?” as respostas apontam para o estudo das

condições de produção e circulação das Representações Sociais; (2) “o que e como se

sabe?” corresponde à pesquisa dos processos e estados das Representações Sociais; (3)

“sobre o quê se sabe e com que efeito?” o que leva a uma ocupação com o estatuto

epistemológico das Representações Sociais. Algumas Representações Sociais se

transmitem vagarosamente por gerações, e possuem uma maior estimativa de vida. Isto é o

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que se chama de tradição. Há outras Representações Sociais, típicas das culturas

modernas, que se espalham rapidamente por toda a população, mas possuem um curto

período de vida. São também chamadas de moda (GUARESCHI, 1999).

Neste sentido, as representações são, necessariamente, fenômenos sociais, que,

mesmo aproximados do seu conteúdo cognitivo, têm de ser compreendidos a partir do seu

contexto de produção. Isto é, a partir das funções simbólicas e ideológicas a que servem e

das formas de comunicação onde circulam. (SPINK, 1993)

2.3 UNIVERSIDADES COMUNITÁRIAS

No Rio Grande do Sul, certamente, mais que em outros Estados brasileiros, nas

últimas décadas, enraizadas em tradição histórica, nasceram e se desenvolveram

universidades que passaram a ser chamadas de comunitárias e regionais. A sua

organização e funcionamento acontecem no espaço da ampliação da esfera pública.

Conforme Frantz (2004) trata-se de experiências novas e diferentes, no cenário acadêmico

brasileiro e, por isso mesmo, desafiadoras, frente aos tradicionais conceitos e práticas do

fazer universitário. No nosso entender, estas iniciativas constituem, propriamente, um

protótipo da universidade comunitária, de natureza pública não-estatal.

Neste sentido, destaca-se a importância deste modelo de IES:

O modelo comunitário de instituição de ensino superior tem sua gênese e história mais vigorosa no Estado do Rio Grande do Sul, a partir de meados da metade do século vinte. Sua história tem revelado um campo institucional de grande relevância no estado, na medida que passou a cumprir um papel substitutivo ao do estado na expansão do ensino superior no interior.(FERREIRA E SPERONI, 2008, p.)

As universidades comunitárias surgem a partir da década de 1950, fruto da

mobilização das comunidades regionais, decididas a suprir a carência de educação de nível

superior em face da incapacidade do Estado em prover tal serviço. Em pouco tempo

mostram-se capazes de cobrir as diversas regiões dos estados sulinos. No Rio Grande do

Sul organizam-se no Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas – COMUNG,

criado em 1996, que conta atualmente com 12 associadas. Em Santa Catarina, as

universidades comunitárias organizam-se na Associação Catarinense das Fundações

Educacionais – ACAFE, fundada em 1974, e que hoje congrega 14 fundações educacionais

criadas com apoio do Governo do Estado e de Prefeituras. (SCHMIDT e CAMPIS, 2009)

Nas universidades comunitárias em sentido estrito é que mais claramente se

expressam as características do público não-estatal. Segundo a síntese feita por Frantz e

Silva (2002), suas marcas distintivas são as seguintes:

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a) sua criação foi impulsionada por um conjunto de organizações da sociedade civil e, em

alguns casos, de órgãos públicos, a quem pertence o patrimônio (mantenedora);

b) não têm fins lucrativos, sendo os resultados econômicos reinvestidos na própria

universidade;

c) têm profunda inserção na comunidade regional, interagindo com os seus diversos

segmentos;

d) os órgãos deliberativos superiores são integrados por representantes dos diversos

segmentos da comunidade acadêmica (professores, estudantes e técnicos administrativos)

e da comunidade regional;

e) os dirigentes (Reitoria) são professores da universidade, eleitos pela comunidade

acadêmica e por representantes da comunidade regional;

f) a forma jurídica da mantenedora é a de fundação de direito privado, de associação ou de

sociedade civil;

g) o controle administrativo e da gestão financeira é feito pela mantenedora;

h) o patrimônio, em caso de encerramento das atividades, é destinado a uma instituição

congênere.

As universidades comunitárias em sentido estrito distinguem-se, pois, nitidamente

das instituições de ensino superior privadas em vários aspectos, como a inexistência de fins

lucrativos, a gestão democrática, a transparência administrativo-financeira, o controle social,

a prestação de contas à sociedade e ao poder público e a ênfase no desenvolvimento

regional.

Enfim, o espaço da universidade é um espaço real de convicções, de relações

sociais, abrigado em mentes, em políticas e trabalho, em prédios e laboratórios. É um

espaço por onde a sociedade constrói e reconstroem os sentidos da vida, a sua capacidade

de entender-se e fazer-se pela educação e pelo poder. E, ao fazê-lo, voltado para a

comunidade, conquista e constrói os seus espaços públicos que se legitimam na prática da

democracia.

3. CARACTERIAZAÇÃO DA IES

A Universidade de Caxias do Sul nasce de um conjunto de forças e de instituições da

comunidade, tais como: Mitra Diocesana, Sociedade Hospitalar Nossa Senhora de Fátima,

Prefeitura Municipal, entre outros; portanto, de um projeto social de desenvolvimento por

elas construído. É, portanto, uma instituição de caráter público na esfera civil, uma vez que,

dentro da sociedade civil, se coloca acima de eventuais interesses particulares, sejam eles

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de indivíduos, de grupos ou de classes sociais.

O caráter comunitário da Universidade de Caxias do Sul conduziu, necessariamente,

à criação e à solidificação de estreitas relações com a cidade e com a Região Nordeste do

Rio Grande do Sul. Tendo nascido de um projeto da comunidade e não da vontade de

indivíduos ou de grupos particulares, a ação regional da UCS passou a ser uma decorrência

natural de sua natureza e estrutura comunitária. Sua ação consolidou-se, assim, nas

relações com a sociedade, dando consistência a uma comunidade regional de larga

abrangência, por meio da efetivação de relações integradoras. O quadro 1 apresenta a

configuração territorial da UCS.

Universidade de Caxias do Sul

Campi 1 Sede, Caxias do Sul

Campi 2 Campus da Região dos Vinhedos

(CARVI)- Bento Gonçalves

Campi 3 Campus de Vacaria (CAMVA)- Vacaria

Núcleos Universitários NUCAN- Canela

NUVER- Veranópolis

NUFAR- Farroupilha

NUPRA- Nova Prata

NUGUA- Guaporé

NUVALE- São Sebastião do Caí

Quadro 1 -Configuração Territorial da UCS

Fonte: www.ucs.br

A Universidade de Caxias do Sul abrange um universo de setenta municípios,

localizados nas regiões da Encosta Superior do Nordeste, do Vale do Caí e dos Campos de

Cima da Serra do Rio Grande do Sul.

Compreendendo uma área aproximada de 30 mil km2 e uma população de mais de

um milhão de habitantes, esta região representa cerca de 10% da área territorial do Estado

e abriga 9,5% do seu efetivo demográfico, destacando-se, no cenário estadual e nacional.

Como universidade comunitária e regional, a UCS atua na promoção da integração

das diferentes comunidades da sua região de abrangência, sem deixar de priorizar o

atendimento de demandas localizadas. Busca, continuamente, alternativas inovadoras de

inserção na comunidade, seja na formação de pessoal, na construção de novos

conhecimentos e tecnologias, ou na criação de espaços que favoreçam o avanço científico,

artístico, tecnológico e cultural da sociedade.

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O processo de regionalização previu o desenvolvimento de duas estratégias:

Integração à Universidade das IES existentes na região, transformando-as em campi

universitários, e a criação de uma nova rede de Núcleos Universitários e Cidades- Pólo de

várias microrregiões que integram a região da UCS.

Foram criados: o Campus Universitário da Região Vinhedos, em Bento Gonçalves, e

o Campus Universitário de Vacaria; os Núcleos Universitários de Guaporé, Nova Prata,

Veranópolis, Farroupilha, São Sebastião do Caí e da Região das Hortênsias, com sede em

Canela.

A partir de 2004, foram implantados Pólos de Educação a Distância nos Municípios

de Antônio Prado, Montenegro, São Marcos, Terra de Areia e nas demais Unidades.

O quadro 2, exemplifica os dados da IES em relação a sua ação territorial

concretizada principalmente por suas atividades fins: ensino , pesquisa e extensão.

Possui mais de 100 acordos com instituições de 29 países para intercâmbio acadêmico e

científico.

Dados da Instituição

Ano de Funcionamento 1967

Professores 1200

Pós- Graduação Stricto senso

Lato senso

10 mestrados e 4 doutorados

Mais de 100 cursos de Especialização e

MBAs

Projetos de Pesquisa 290

Grupos de Pesquisa 20 Núcleos de pesquisa e 16 Núcleos de

Inovação e Desenvolvimento.

Programas de iniciação científica 296

Projetos de Extensão 140

Cursos de Graduação 74

Alunos matriculados (Graduação, Pós e

Extensão)

37.000

Bibliotecas 15 com um acervo de 900 mil títulos

Laboratórios 790 e mais de 500 salas de aula

Área construída (m2) 192.703

Quadro 2: Dados institucional que exemplificam a ação no território referentes a 2010

Fonte: http:www.ucs.br/ucs/noticias/1297278747,acesso 09/02/2011.

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Assim sendo, a idéia de regionalização da Universidade de Caxias do Sul é fruto da

consciência de agir de forma integrada em todos os setores e níveis de atividades e a

receptividade na região. Conforme parecer do Conselho Federal de Educação no 689/92 - e

homologado pela Portaria Ministerial 211/93, de 19 de fevereiro de 1993, o relator do

processo o Senhor Conselheiro José Francisco Sanchotene Felice, inicia o seu relato assim:

Pelo relatório, constata-se que o Projeto de Regionalização da Universidade de Caxias do Sul reveste-se de coerência, oportunidade, seriedade e exeqüibilidade. Propõe-se a integrar instituições e incorporar cursos superiores já consolidados, prevendo expansão compatível com as necessidades e aspirações de uma vasta e próspera região rio-grandense, onde a tradição e a modernidade mesclam-se num processo peculiar, e envolve todos os campos da cultura, da vida social e da economia. (UCS, Assessoria de Planejamento, 1992, p. 9).

Tem, portanto, sua sustentação num conceito de região não apenas de ordem

espacial, mas também de ordem relacional, estabelecendo traçados de territórios de ação

que obedecem a critérios de natureza sociocultural e socioeducacional.

A região onde está inserida a Universidade de Caxias do Sul concentra 65% de suas

atividades no setor industrial, 33% no segmento de prestação de serviço e 2% na

agricultura, por isso é considerada o segundo pólo industrial do Estado.

Portanto, são necessários estudos sobre os impactos econômicos, políticos, culturais

e sociais de uma IES com relação a um determinado território. Além disso, conforme

Pozenatto (1992), as características que melhor ressaltam a singularidade da UCS, e que

efetivamente a diferenciam, resultam da “confluência dos movimentos inerentes à natureza

universitária, comunitário-regional e filantrópica da UCS, associada aos modos como

prioriza e empreende ações, permitindo que se consolide, atualize e fortaleça sua identidade

no exercício de sua função”.

4. BASES METODOLÓGICAS

O acesso metodológico vai nos permitir observar no conjunto dos depoimentos,

documentos, revisão de material jornalístico, entre outros, os processos mais relevantes

para compreender as perguntas que foram levantadas nos objetivos.

Nesse sentido, vamos buscar no referencial teórico - na análise institucional - os

traços mais gerais da condução dos assuntos da universidade, assim como os movimentos

que vão orientando suas decisões - ampliar, recuar, em que direção e, sob que regras

definirem novas trajetórias, até onde a "região" passa a interessar como rumo a ser tomado -

ou abandonado - em nome de outras estratégias.

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4.1 MÉTODO DE ABORDAGEM

Conforme Chauí (1996), o método é um instrumento racional para adquirir, demonstrar

ou verificar conhecimentos. O método, nas várias formulações que recebeu no correr da

história da Filosofia das ciências, sempre teve o papel de regulador do pensamento, isto é,

de aferidor e avaliador das idéias e teorias: guia o trabalho intelectual (produção das idéias,

dos experimentos, das teorias) e avalia os resultados obtidos.

Neste sentido, o método de abordagem é o Método Dialético que nos incita a revermos o

passado, à luz do que está acontecendo no presente, ele questiona o presente em nome do

futuro, o que está sendo em nome do que “ainda não é”. (Ernst Bloch, apud Konder 1998).

Nas palavras de Marconi e Lakatos (2007, p.91), método dialético: “que penetra o mundo

dos fenômenos tendo em vista sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e

da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade”.

4.1.1 Princípio lógico da investigação: dialética, a escolha decorre da compreensão da

pesquisadora da necessidade de abordar a realidade social, a partir de uma perspectiva

histórica repleta de eventos contraditórios, não lineares e submetidos a racionalidades e

perspectivas diversas. Tal cenário exige a compreensão do rumo que os fatos tomam no

período, buscando-se o quanto é possível uma linha de coerência entre o que a instituição

divulga e o que ela realiza.

4.2.1 Estratégia de investigação: estudo sócio-histórico da estratégia de regionalização

através das representações sociais sobre os efeitos percebidos por atores internos e

externos à IES, tendo como foco o significado e valor deste processo de ocupação territorial,

com relação ao papel exercido pela instituição e seu entorno regional.

4.1.3 Delineamento da pesquisa: estudo de caso, de natureza qualitativa e estratégia

analítica interpretativa das representações dos diversos atores selecionados, documentos e

material jornalístico sobre o tema.

Para Yin (2005, p. 32), um Estudo de Caso “é o esforço investigativo empírico de um

fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real, com especial valor nas situações em

que os limites entre o fenômeno e seu contexto não estão claramente definidos”.

A pesquisa qualitativa pode ser caracterizada como a tentativa de uma compreensão

detalhada dos significados e características situacionais apresentadas pelos entrevistados,

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em lugar da produção de medidas quantitativas de características ou comportamentos

(RICHARDSON,1999). Neste sentido, ganha destaque o valor da interpretação de fatos,

processos, pronunciamentos que resultam às características identificadas nessa realidade.

4.1.4 Fontes: pesquisa bibliográfica, pesquisa documentais, entrevista com atores-chave,

levantamento de dados secundários. As entrevistas serão semi-estruturadas realizadas

com: (1) atores-chave da instituição, como diretores de campus e pró-reitores; pessoas

vinculadas às duas Faculdades que participaram do processo de regionalização. (2) Atores

externos à instituição: representação política (vereadores (ex), prefeitos (ex), representação

de setores produtivos - Associações empresariais, sindicatos rurais, órgãos de setores

educacionais - Delegacia de Educação, setores de imprensa etc. e da sociedade civil

organizada.

Os documentos a serem utilizados nesta investigação é um conjunto de documentos

institucionais que são fundamentais para identificação e caracterização dos principais traços

do desenvolvimento da instituição. Para as informações estatísticas sobre a região serão

utilizados dados de órgãos oficiais IBGE, FEE/RS e com respeito ás informações sobre a

Universidade serão utilizados os dados do setor de Planejamento da IES.

4.1.5 Técnicas de análise: análise documental e análise de conteúdo de documentos e

entrevistas. Conforme Bardin (1979), “a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de

análise das comunicações visando obter, através de procedimentos sistemáticos e objetivos

de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam

inferir conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas)

dessas mensagens”. A análise documental inicia pela organização temática de acordo com

os interesses da pesquisa e, na seqüência, os blocos temáticos são organizados

conceitualmente, de acordo com as questões-chave da pesquisa, com respeito à

caracterização do processo de expansão e dos sentidos atribuídos a ela pelos

entrevistados. Farão parte das principais categorias de análise à expansão territorial,

integração regional e significados do processo de regionalização. A elaboração de

categorias é um processo constante. Além das acima citadas, outras categorias deverão

surgir à medida que a organização do material empírico for revelando evidências

necessárias de serem classificadas para análise.

4.1.6 Cenários da pesquisa: a Região Nordeste, do estado do Rio Grande do Sul,

particularmente a área de atuação e influência da Universidade. No entanto, a constituição

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do objeto de investigação tem como decorrência a delimitação do território ocupado pela IES

em sua trajetória de expansão para além da sede. Serão fontes de coleta de dados a

Universidade de Caxias do Sul e os três campi que a compõe: Caxias do Sul, Bento

Gonçalves e Vacaria.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O crescimento e a multiplicação de novos atores de desenvolvimento no Brasil e na

região em estudo constituem um fenômeno que sinaliza para diversas tendências atuais da

sociedade. As inovações e mudanças tecnológicas, acompanhadas da nova reorganização

das economias mundiais, têm colocado desafios a todos os países. Segundo Triches & Zorzi

(1999), a manutenção do nível de emprego e do bem-estar da população requer melhorias

constantes nas condições e processos produtivos, bem como no desenvolvimento de novos

produtos. Essas melhorias vêm sendo alvo de preocupação não só das esferas

governamentais, mas também de organizações regionais que tem assumido um importante

papel no desenvolvimento integrado na sua área de abrangência.

Neste sentido, a Universidade de Caxias do Sul tem propagado o interesse em

estimular o desenvolvimento regional através de sua atuação no processo de consolidação

de um projeto integrador da região através da implantação de um diversificado conjunto de

programas, ações e parcerias. Identifica-se essa contribuição pela missão da Universidade:

“Produzir, sistematizar e tornar o conhecimento acessível à sociedade, contribuindo

principalmente com o desenvolvimento sustentável da região” 1.

Portanto, a região não é apenas um espaço geográfico, mas um espaço onde se

desenvolve a ação propagadora do conhecimento e de tecnologia. Nas palavras de

Pozenatto:

Compete à universidade ser inovadora, estar um passo à frente do nível de desenvolvimento regional. Com a inserção na região cria-se alternativas de formação profissional, especialmente em áreas técnicas para atender as demandas e adequadas as necessidades da comunidade regional ou local. Com isso, a ação da universidade não levará a região a se fechar sobre si mesma, mas abrir-se para o mundo, cabendo à universidade o ponto de troca tecnológico e científico nela desenvolvido, ou através dela acessado, e as necessidades do desenvolvimento regional. (POZZENATTO, 1992, p.10)

A identidade regional, segundo Oliven (1992, p.26), é o conjunto de semelhanças e

diferenças – reais ou fictícias – que um determinado grupo construiu para identificá-lo em

1 PDI 2007/2011- Plano de Desenvolvimento Institucional da UCS.

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relação a outros grupos. “Essa construção acontece de forma diacrítica, através de sinais

que trazem uma “marca de distinção”. Portanto, a identidade regional pode contribuir para a

compreensão das particularidades locais e regionais que cercam as organizações”.

Segundo o autor, as questões identitárias promovem para cada sociedade um

conjunto de idéias que pode se difundir como marco organizador da percepção que as

coletividades atribuem a suas virtudes e dificuldades, tornando-as estereótipos que

perduram no tempo. Na medida em que sua difusão é bem sucedida ela consegue dar a

impressão de unificar interesses de diferentes grupos sociais, ocultando diferenças

importantes, caracterizando-se, pois como ideologia. Isto é, para que uma ideologia se

realize como tal, atinja as pessoas, provoque adesão, é preciso que as significações

produzidas pelo seu discurso encontrem eco no imaginário dos indivíduos aos quais se

dirige. Desta forma, desde a criação da Universidade de Caxias do Sul (1967) até a

regionalização (1993) mantiveram-se como pressupostos a identidade da instituição desde

as suas origens, tais como: a natureza universitária, a natureza comunitária e a natureza de

organização social. Portanto, mais do que uma forma institucional, pode ser definida como

uma forma de ação da Universidade de modo a torná-la um agente direto do

desenvolvimento regional.

Embora seja suposto que toda a universidade deva voltar-se para o exame do seu

entorno, com o objetivo de contribuir em sua esfera de competência, para as universidades

comunitárias isso integra o conjunto de prioridades maiores e tende a assumir um lugar de

destaque no processo de planejamento e desenvolvimento.

O estudo sócio-histórico da estratégia de regionalização e das representações

sociais sobre os efeitos percebidos por atores internos e externos à IES, tendo como foco o

significado e valor deste processo de ocupação territorial, com relação ao papel exercido

pela instituição e seu entorno regional.

Neste sentido, a relevância desta pesquisa tem a ver com a carência de estudos que

tenha como foco o papel que as IES exercem nos territórios que ocupam para além da sua

atividade central – a oferta de educação superior. Tem a ver também com o papel que a

Universidade desempenha no desenvolvimento econômico, social, cultural e político do

espaço geográfico local e regional.

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