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1 IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL JUNTA DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA JUNTA REGIONAL DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA O ENSINO TEOLÓGICO NA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL Rev. Marcos André Marques RECIFE 2010

O ENSINO TEOLÓGICO NA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL_FINAL

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IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL

JUNTA DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA

JUNTA REGIONAL DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA

O ENSINO TEOLÓGICO NA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL

Rev. Marcos André Marques

RECIFE

2010

2

IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL

JUNTA DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA

JUNTA REGIONAL DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA

O ENSINO TEOLÓGICO NA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL

Rev. Marcos André Marques

RECIFE

2010

Palestra proferida por ocasião do encontro

dos ex-alunos do Seminário Teológico do

Nordeste, em Teresina-PE, em 4 de

Novembro de 2010.

3

Sumário

Introdução

1. Base Escriturística

a. Escola de Profeta

b. Colégio Apostólico

c. A Escola de Tirano

2. Base histórica

a. Academia de Genebra

b. O Seminário Primitivo

c. Uma Rede de Instituições Teológicas de Ensino

3. Aspectos acadêmicos

a. Visão, missão e princípios

b. Tensão e transformação

c. Qualidade de ensino: a busca por excelência

d. Princípios básicos

4. Os desafios da educação teológica na IPB

a. Manter-se fiel as Escrituras Sagradas

b. Manter a Confessionalidade

c. Conjugar corretamente o binômio:

i. Piedade

ii. Academicismo

Conclusão

Referências Bibliográficas

Apêndice

4

INTRODUÇÃO

A educação teológica na Igreja Presbiteriana do Brasil1 tem tido um lugar especial

desde os primórdios do presbiterianismo em nossa pátria. A igreja nascida em 12 agosto de

1959 com a chegada do Rev. Ashbel Green Simonton, sendo a primeira fundada em solo

pátrio, como fruto do trabalho missionário da Junta de Missões da Igreja Presbiteriana dos

Estados Unidos da América do Norte, já nasceu com ênfase especial ao ensino teológico. Basta

olhar para a história do rápido ministério desenvolvido pelo Rev. Simonton, que em apenas

oito anos fundou a Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro (1862), o jornal Impressa Evangélica

(1864), o Presbitério do Rio de Janeiro (1865) e um pequeno seminário (1867).2

Nascida com essa visão, a IPB manteria essa chama acesa e difundiria o ensino

teológico de forma distinta, através de diferentes fases e dos seus quase nove seminários

(considerando a extensão de Ji-paraná), além do extinto seminário do centenário. Isso para

não falar nos seus diversos institutos bíblicos espalhados pelo Brasil, que têm realizado um

papel importante, no que diz respeito ao ensino teológico e preparado pessoas para servir a

igreja.

Quando o assunto é educação teológica na IPB, talvez não se tenha muito material a

disposição para que se realize uma pesquisa científica acurada. Por isso ao elaborar esse artigo

para apresentá-lo em forma de palestra na festa dos ex-alunos do STNE3, foi utilizado como

referencial teórico o trabalhado do Presbítero Marcos Cavalcante de Oliveira e do Rev. Osvaldo

Henrique Hack, que apresenta diretrizes e propostas para a Educação Teológica Presbiteriana.

Artigos do Rev. Alderi de Souza Matos, também foram utilizados abundantemente,

principalmente, o artigo publicado em 2008 na Revista Fides Reformata do CPAJ intitulado:

Breve História da Educação Cristã: Dos Primórdios ao Século 20, no qual com excelente poder

1 Doravante será utilizada a sigla IPB todas as vezes que se pretender referir a Igreja Presbiteriana do

Brasil. 2 MATOS, Alderi Souza de. Igreja Presbiteriana – 150 Anos Evangelizando o Brasil. Publicado no encarte

da Bíblia comemorativa do Sesquicentenário da IPB em Maio de 2008. 3 Sigla referente ao Seminário Presbiteriano do Nordeste

5

de síntese é apresentado o panorama educacional cristão. Não poderia ficar de fora, é claro, o

recém aprovado Regimento Interno dos seminários da IPB, que determina o trilho de

funcionamento dos educandários teológico da sesquicentenária denominação brasileira.

Para tornar essa palestra edificante e lógica, ela terá a seguinte dinâmica: será iniciada

com apresentação de uma base Escriturística para a educação teológica. Observar-se-á alguns

exemplos que saltam aos olhos, começando com o conceito através da escola de profetas

organizada pelo profeta Samuel e consolidada através dos profetas Elias e Eliseu. O Colégio

Apostólico, tendo Jesus como o Mestre dos mestres, deve ser encarado como o ápice de uma

escola teológica e chegando até a Escola de Tirano, fundada pelo apóstolo Paulo, quando da

sua estada em Éfeso.

Seguindo a base Escriturística, será apresentada a base histórica, de onde se poderá

ver a Academia de Genebra fundada pelo Reformador João Calvino. O seminário de Simonton,

chamado de “Seminário Primitivo” e o desenvolvimento do ensino teológico através dos

seminários presbiterianos, desde o de Campinas, até a extensão do Seminário Brasil Central

em Ji-Paraná.

Na seqüência serão tratadas questões que dizem respeito ao desenvolvimento

acadêmico, nas quais será apresentada a visão, missão e princípios que norteiam a filosofia

educacional teológica dos seminários da IPB, passando pelas tensões vivenciadas em tempos

recentes, sem deixar de apresentar os princípios da educação teológica da IPB.

Por fim, serão destacados os desafios da educação teológica na IPB. Um cenário

complicado de um mundo complicado que está diante da igreja e por extensão, também das

suas instituições de ensino teológico. O imperativo de se manter fiel a Escritura Sagrada, de

continuar sendo uma instituição confessional e a necessidade de conjugar muito bem o

binômio: piedade e o academicismo são itens que serão abordados nesse ensaio.

6

Entendendo que essa matéria é de suma importância, o pesquisador convida a todos

os seus ouvintes e leitores a uma rápida incursão nos meandros do Ensino Teológico da Igreja

Presbiteriana do Brasil.

7

CAPÍTULO I

BASE ESCRITURÍSTICA

O Sola Scriptura (que significa “somente a Escritura”) foi um dos lemas da Reforma

Protestante do século XVI. Os reformadores, Lutero, Zwinglio e Calvino defenderam este lema

durante os seus ministérios terrenos. Ao morrerem, deixaram uma herança teológica preciosa,

que foi abraçada pela Igreja Presbiteriana do Brasil, legítima herdeira desse legado em solo

pátrio.

Com respaldo nas Escrituras Sagradas do Antigo e Novo Testamento, serão tecidas,

mesmo que rapidamente, algumas considerações, que são fruto de reflexões bíblica-histórica-

teológica, e que dão base para a construção de escolas teológicas, que preparam pastores que

servirão a Igreja do Senhor Jesus Cristo e a sociedade.

A primeira: Escola de profetas

Segundo o Dr. Normam Champlin, “as primeiras escolas teológicas foram organizadas

por Samuel (1Sm 10.5; 19.20); e então foram firmemente estabelecidas por Elias e Eliseu, no

reino do norte, das dez tribos (2Rs 2.3, 5; 4.38; 6.1)”.4

Essas escolas, afirma o Dr. Champlin, “seguiam o modelo ideal hebreu da relação entre

professor e alunos. Eles viviam em comunidades e o ensinamento era bíblico, e através do

exemplo pessoal”.5

Escolas de profetas foram estabelecidas em Ramá e, provavelmente, Gibeá (1Sm

19.20; 10.5, 10). Também havia centros desse tipo de atividade em Gilgal, Betel e Jericó. Cerca

de cem estudantes teológicos, que eram chamados filhos, isto é, discípulos dos profetas,

4 CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia, Vol 2. São Paulo: Hagnos, 2001.

p.445. 5 Ibid.

8

acompanhavam Eliseu. Viviam em comuna (2Rs 6.1) e alguns deles eram casados, e tinham os

seus próprios lares (2Rs 4.1).

A Segunda: O Colégio Apostólico

Essa, sem dúvida alguma, é a melhor escola teológica de todos os tempos. Não pelo

número de alunos, pois dele fizeram parte apenas 12 alunos. Mas pelo seu mestre: O Senhor

Jesus Cristo; o Mestre dos mestres.

O curso teológico daquele colégio tinha um currículo que era realizado em 3 anos.

Grandes alunos passaram por aquela escola teológica, entre os quais o apóstolo Pedro, João,

Mateus entre outros, porém como já disse, o grande destaque era para o Mestre Jesus Cristo.

Outro detalhe importante nesta escola teológica foi para um aluno que entrou no

curso após o termino da primeira turma. Seu nome: Saulo de Tarso, que mais tarde, ao entrar

nesta escola foi chamado, simplesmente de Paulo. Humanamente falando, o mais brilhante

dos alunos. Foi responsabilizado pelo próprio Mestre Jesus, para evangelizar os gentios em

diversas partes do mundo. Coisa que fez com eficiência, nas suas conhecidas viagens

missionárias pelo mundo da época.

A Terceira: A Escola de Tirano

Tirano era um cidadão de Éfeso (atual Turquia) em cuja escola Paulo apresentou

conferências do Evangelho, por dois anos. Isto aconteceu porque os judeus de Éfeso se

opuseram ao ensino de Paulo sobre o Evangelho do Senhor Jesus Cristo. É o que nos relata o

doutor e historiador Lucas em At 19.9-10: “Visto que alguns deles se mostravam

empedernidos e descrentes, falando mal do Caminho (que era o nome pelo qual os primeiros

cristãos eram chamados) diante da multidão, Paulo, apartando-se deles, separou os discípulos,

passando a discorrer diariamente na escola de Tirano. Durou isto por espaço de dois anos,

9

dando ensejo a que todos os habitantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor, tanto judeus

como gregos”.

A Escola Teológica de Tirano, portanto, formou muitos cristãos que puderam, de forma

correta e abalizada, propagar o Evangelho e o Reino de Deus.

Após o lançamento da base Escriturística, tanto no Antigo, quanto no Novo

Testamento, pode-se agora, de forma lógica observar a base histórica para o ensino teológico,

que é o assunto do próximo capítulo que será abordado partindo o projeto educacional do

Reformador João Calvino, em Genebra, até os dias atuais.

10

CAPÍTULO II

A BASE HISTÓRICA

Após apresentar a base Escriturística, para que a linha de raciocínio seja muito bem

entendida, é necessário que se observe também, o desenvolvimento no curso da história a

origem do ensino teológico. Sobre esse tema versará o estágio atual dessa reflexão.

Como legítima herdeira da Teologia Reformada, sistematizada pelo reformador francês

João Calvino, a IPB não poderia esquecer os seus pensamentos e ensinamentos,

principalmente quando o assunto é educação teológica.

A Academia de Genebra

O Dr. Ronald Wallace afirma que “Depois de ser bem-sucedido em assegurar um lugar

de destaque para a Palavra de Deus dentro da cidade [de Genebra], Calvino dirigiu sua atenção

para a fundação de uma universidade”.6

Wallace afirma que “havia duas seções na instituição como um todo. Normalmente,

uma criança ia primeiro para o colégio ou Schola Privata, com sete séries, que levava

gradualmente o aluno a ganhar habilidade para ler grego, latim e no estudo da dialética”.7

Depois vinha a academia ou Schola Publica, em que diferentes cursos eletivos poderiam ser

escolhidos dentre uma variedade de assuntos oferecidos – Teologia, Hebraico, Grego, Poesia,

Dialética e Retórica, Física e Matemática.

Já no primeiro ano de sua instalação, a Academia tinha cerca de seiscentos alunos e

esse número aumentou em cinqüenta por cento ainda no primeiro ano, quando a escola

atingiu a marca de novecentos alunos.

6 WALLACE, Ronald. Calvino, Genebra e a Reforma. São Paulo: ECC, 2003. p.88.

7 Ibid.

11

Theodoro de Beza, amigo erudito, sucessor e biógrafo de Calvino, “pronunciou um

discurso no cerimonial inaugural em 5 de junho de 1559, apresentando uma história da

educação no passado, referindo-se a como Moisés aprendeu a sabedoria dos egípcios e se

congratulando o Concílio por propiciar que Genebra compartilhasse da gloriosa obra de

difusão de um conhecimento que estava livre de superstições”.8

Desde então Genebra e a Suíça tornou-se referencial para educação em todo o mundo

e em diversas épocas, fruto do pensamento e da influência do Reformador Francês.

O Seminário Primitivo

Conquanto tenha tido um ministério tão curto em nosso país, o Rev. Simonton

idealizou uma igreja que agiria em muitas frentes. Tendo fundado a Igreja Presbiteriana do Rio

de Janeiro, o Jornal Imprensa Evangélica, que se tornou um eficaz influenciador em sua época,

coisa não conseguida por nenhuma outra agência de missão até 1864; Fundou, também, o

presbitério do Rio de Janeiro em 1865, seu prolífero ministério dá inicio ao Seminário Primitivo

em 1867.

O Rev. Júlio Andrade Ferreira descreve o inicio das atividades do seminário de forma

concisa, quando afirma que: “A 14 de maio de 1967, deu-se o início às aulas do Seminário.

Eram professores os Revs. Simonton, Schineider e Wagner, ... Eram estudantes: Carvalhosa,

Trajano e Torres”.9 A morte de Simonton, no final do mesmo ano não extinguiu o seminário,

que foi continuado com os professores Schineider e Wagner. O espírito que dominava o

Seminário Primitivo, segundo Trajano, um dos seus primeiros estudantes era: Evangelização.10

O Seminário Primitivo foi fechado em 1870. Com o seu fechamento, algo inusitado

aconteceu: passaram a existir seminaristas sem seminário, situação essa que perdurou por

8 Ibid. p.89.

9 FERREIRA, Júlio Andrade. História da Igreja Presbiteriana do Brasil. Vol 1. São Paulo: Casa Editora

Presbiteriana, 1992. p.80. 10

Ibid. p.85.

12

mais de vinte anos. A solução encontrada foi preparar os candidatos ao ministério através de

diferentes missionários ou fazê-los freqüentar as classes teológicas dos primeiros colégios

presbiterianos, tanto em São Paulo quanto em campinas. O Seminário Presbiteriano só teve

suas atividades reiniciadas em 1892.11

Uma Rede de Instituições Teológicas de Ensino

Como poderá ser visto a partir de agora a IPB, mesmo que lentamente, formou uma

rede de instituições de ensino teológico, que cobre quase todas as regiões do Brasil. Embora a

expansão tenha durado 81 anos para acontecer, em apenas 30 anos o número de seminários

mais que quadruplicou, numa clara demonstração de opção por uma melhor qualificação para

os seus pastores. A formação dessa rede será vista na seqüência, partindo do primeiro

seminário, ainda em funcionamento, o Seminário Presbiteriano do Sul, localizado em

Campinas, até a extensão do Seminário Presbiteriano Brasil Central em Ji-Paraná.

O Seminário Presbiteriano do Sul

O Seminário Presbiteriano do Sul nasceu, oficialmente, no dia 8 de setembro de 1888,

quando o Sínodo da Igreja Presbiteriana do Brasil aprovou o relatório da comissão nomeada

para tratar da criação de uma escola para formar pastores. Mas o início das aulas só ocorreu

no dia 15 de novembro de 1892, quando o Seminário foi instalado em Nova Friburgo, estado

do Rio de Janeiro. Dois anos depois, o Seminário foi transferido para São Paulo, capital, onde

começou a funcionar no dia 25 de janeiro de 1895. Em 1907, o Seminário foi transferido para

Campinas, sendo instalado nos prédios do Colégio Internacional que, devido à epidemia de

febre amarela, havia sido transferido para Lavras, estado de Minas Gerais. Em 1929 cogitou-se

da volta do Seminário para São Paulo. A Igreja Presbiteriana do Brasil chegou a adquirir um

terreno no bairro Indianápolis para construção da sede do educandário, mas a crise financeira

11

MATOS, Alderi Souza de. Os Pioneiros. São Paulo: ECC, 2004. p.15.

13

que atingiu nosso país inviabilizou o projeto. A partir de 1949, o Seminário passou a funcionar

em sua sede própria localizada na Avenida Brasil nº 1.200, Bairro Jardim Guanabara, em uma

área de 19.000 metros quadrados, ocupando todo o quarteirão.12

Os demais Seminários da IPB

Se considerarmos 1892, como o ano de formação do Seminário Presbiteriano, e o ano

em que este começou a funcionar em Nova Friburgo, se passaram sete anos para que o

segundo seminário da denominação, em franca expansão, fosse iniciado em Pernambuco em

1899. A cidade berço do seminário em Pernambuco foi Garanhuns e a primeira turma formada

possuía dois alunos: Jerônimo Gueiros e João dos Santos. O seminário que tinha o nome

primitivo de Colégio Teológico ficou sem atividades por dois anos, de 1919 a 1921, época em

que já havia mudado de endereço e também de nome. Sob a direção do Rev. Antonio Almeida,

o seminário tinha o nome de Instituto Ebenézer.

Em 1924 o seminário mudou-se para uma chácara adquirida pela Comissão Executiva

da Assembléia Geral da IPB, onde está até os dias de hoje, numa área nobre da cidade de

Recife com mais de 10.000 m2. Em 1948 o SPN recebeu a nomenclatura definitiva de Seminário

Presbiteriano do Norte.

Nas últimas décadas, por necessidade de expansão, novas unidades de educação

teológica foram instaladas, entre elas o Seminário José Manoel da Conceição em São Paulo,

reconhecido pela IPB em 1980, no qual, dois anos depois, funcionou o primeiro curso de pós-

graduação em teologia da IPB. Neste mesmo ano (1982) foi instituída a Junta de Educação

Teológica (JET), órgão responsável por gerir toda a educação na IPB a partir desse ano.

12

Texto retirado do site: www.sps.br/index.php?option=com_content&view=article&id=18&Itemid=24, <acesso 06/09/2010>.

14

1986 foi um ano importante para o ensino teológico da IPB. Mais dois seminários

foram reconhecidos: O Seminário Teológico Presbiteriano Rev. Denoel Nicodemos Euller, em

Belo Horizonte e o Seminário Presbiteriano do Rio de Janeiro, recebendo o nome de Seminário

Teológico Presbiteriano Rev. Ashbel Green Simonton.

Passados cinco anos a IPB reconhece um novo seminário: O Seminário Presbiteriano

Brasil Central, em Goiânia em 1991, que funcionou como extensão do SPS desde o ano de

1983.

O Seminário Teológico do Nordeste surgiu como instituição de ensino teológico da IPB,

a partir de 1992 através do Rev. Sung Il Kang, vindo a ser recebido pelo Supremo Concílio da

IPB em 2002, mesmo ano em que o Seminário de Brasília, que era extensão do Seminário Brasil

Central, foi reconhecido sendo denominado de Seminário Teológico de Brasília.

Por último, encontramos ainda a extensão do Seminário Brasil Central em Ji-Paraná,

que funciona com muitas dificuldades desde 2003, mas que o Supremo Concílio da IPB

determinou a sua permanência em funcionamento, pelo menos até segunda ordem.

Após conhecer, de forma panorâmica a rede de ensino teológico da IPB, esta pesquisa

empreenderá uma incursão nos aspectos acadêmicos dos seminários, destacando sua visão

missão, seus princípios, e a busca pela qualidade e pela excelência de ensino. Estes assuntos

comporão o tema do próximo capítulo.

15

CAPÍTULO III

ASPECTOS ACADÊMICOS

Conhecendo o desenvolvimento histórico da rede de ensino teológico da IPB,

necessário se faz penetrar nos aspectos mais intrínsecos do mundo acadêmico. Isso será feito,

tomando como ponto de partida a definição da visão, missão e princípios dos seminários da

IPB.

Visão, missão e princípios (Planejamento Estratégico)

Toda instituição que se preza e que deseja se perpetuar busca mecanismos que

possam definir em termos claros a sua visão, missão e princípios.

Em linha geral visão é uma compreensão mais clara e definida dos propósitos de

experiência existencial. Através dela se pergunta: por que existimos? Já que existimos o que

necessitamos fazer? A JET, em 2002 definiu a visão das instituições de ensino da IPB em três

níveis: médio, superior e pós-graduação. Como esse artigo é voltado para os seminários, deve-

se observar a sua visão em nível superior, que é próprio de um seminário: “O Seminário é uma

instituição teológica da IPB, de nível superior para a formação espiritual, intelectual, moral e

social de pessoas vocacionadas e dedicadas ao ensino e proclamação da Palavra, à edificação,

à plantação e ao crescimento da Igreja”.13

Estrategicamente missão, nada mais é do que a compreensão da visão que traduz a

mensagem recebida ao contexto da realidade. É nesse contexto que se defende a idéia de que

“a missão deve partir da visão porque esta orienta e redireciona a visão”.14 A perspectiva

13

OLIVEIRA, Marcos Cavalcante de; HACK, Osvaldo Henrique. Educação Teológica Presbiteriana: Diretrizes e Propostas. São Paulo: Editora Mackenzie, 2002. p.25. 14

Ibid. p.27.

16

definida pela JET em relação à educação teológica da IPB, pode ser vista entrelaçada com a

missão e definida como “preparar pessoas para o exercício dos ministérios da igreja”.15

Já com relação aos princípios, estes devem ser coerentes com a visão e missão, sendo

imprescindível que traduzam os valores bíblicos teológicos, morais e éticos, que validem o

plano de ação a ser implementado. Como conseqüência se tem que sua natureza é

estritamente doutrinária e são os seguintes: Soberania de Deus (base do Sistema

Presbiteriano), Solo Christus, Sola Scriptura, Sola Gratia e Sola Fides. Seus documentos que dão

suporte a sua doutrina são: As Escrituras Sagradas a Confissão de Fé de Westminster16, o Breve

Catecismo de Westminster17 e o Catecismo Maior de Westminster18. Mais adiante, quando for

tratado sobre os princípios básicos sobre a educação teológica na IPB, se voltará a abordar

esse assunto e ampliá-lo.

Tensão e transformação

Na busca pelo equilíbrio entre a academia e a casa de profetas, os seminários da IPB

viveram momentos de grandes tensões e grandes transformações ao longo do tempo. Antes

de se analisar estes momentos, deve-se observar a necessidade de se definir o conceito de

seminário. A palavra seminário vem do latim seminariu e significa estabelecimento escolar

onde se formam os eclesiásticos19. É um desenvolvimento da idéia de que era viveiro de

plantas onde se fazem as sementeiras.20 A Igreja Católica Apostólica Romana, no Concílio de

15

OLIVEIRA, Marcos Cavalcante de; HACK, Osvaldo Henrique. Educação Teológica Presbiteriana: Diretrizes e Propostas. São Paulo: Editora Mackenzie, 2002. p.26. 16

Doravante todas as vezes que nos referirmos a Confissão de Fé de Westminster usaremos a sigla: CFW. 17

Doravante todas as vezes que nos referirmos ao Breve Catecismo de Westminster usaremos a sigla: BCW. 18

Doravante todas as vezes que nos referirmos ao Catecismo Maior de Westminster usaremos a sigla: CMW. 19

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Eletrônico Século XXI. São Paulo: Editora Nova Fronteira, 1990. 20

Ibid.

17

Trento originalmente tomou por empréstimo essa idéia e a utilizou para designar o local onde

os ministros católicos recebem uma formação intelectual, humana, espiritual e pastoral.

A síntese, ou combinação entre o modelo de Genebra (Academia) com os seminários

surgidos na Europa no contexto da Contra-Reforma, desenvolveu-se dois tipos de escolas

teológicas, que chegaram ao Brasil a partir do seu desenvolvimento nos Estados Unidos: (1)

genericamente chamado “seminário”, curso que tem sua ênfase na preparação de candidatos

ao sagrado ministério; (2) “faculdade” ou “escola superior de teologia”, que difere por ser um

curso apenas acadêmico e geralmente é ligada a uma universidade. Esses cursos, além desses

nomes, recebem também a denominação de divinity school, nos Estados Unidos.21 Como

exemplo do primeiro podemos citar os seminários da IPB, enquanto que a Escola Superior de

Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie serve de exemplo para o segundo modelo.

As tensões sempre foram presentes na história dos seminários da IPB. A primeira delas

aconteceu logo após 6 de setembro de 1888, quando foi instalado o primeiro sínodo da IPB,

que decidiu organizar no Brasil um seminário. O motivo da tensão: a localização.

Outras tensões que ocorreram no meio do ensino teológico da IPB, podem ser

classificadas como internas e externas.

As tensões de ordem internas são aquelas nas quais os interessados, embora membros

da própria IPB, agem como se fossem sua concorrente. O grande ponto de discussão é a

competência de quem pode ou não criar e gerenciar curso teológico e formar pastores para a

IPB. Nesse caso o que tem causado tensão é o desconhecimento, ou descumprimento do Art.

97, alínea “j”, que versa sobre a competência exclusiva do Supremo Concílio da IPB para “criar

21

OLIVEIRA, Marcos Cavalcante de; HACK, Osvaldo Henrique. Educação Teológica Presbiteriana: Diretrizes e Propostas. p.31.

18

e superintender seminários, bem como estabelecer padrões de ensino pré-teológico e

teológico”.22

As tensões são trazidas a relevo em forma ainda mais clara, quando os presbitérios

transformam em regra a exceção como, por exemplo, o parágrafo primeiro do Art. 118, que

afirma: “Em casos excepcionais, poderá ser aceito para licenciatura candidato que tenha feito

curso em outro seminário idôneo ou que tenha feito um curso teológico de conformidade com

o programa que lhe tenha sido traçado pelo Presbitério”.23 Desrespeitos a Constituição da IPB

têm trazido muitos dissabores e dificuldades para as instituições oficiais da IPB, que por terem

regras rígidas, não conseguem ser competitivas com as escolas que são formadas a cada dia,

mês e ano. Um exemplo recente disso é o caso AMESPE, no qual a IPB ratificou o título de

“inidônea” dada pela CE/IPB, para preparar pastores da denominação.

Ainda no âmbito interno as diversas correntes teológicas e políticas também causaram

e causam tensões de grandes proporções. Liberalismo teológico, neo-ortodoxia ficam de um

lado, enquanto do outro os ortodoxos lutam para manter a instituição conservadora e fiel a

Bíblia Sagrada e os nossos símbolos de Fé (Confissão de Fé de Westminster, Breve Catecismo e

Catecismo Maior de Westminster). A luta pelo poder, também, tem sido uma causa de tensão

interna na IPB. A busca pelo poder muitas vezes não tem levado em consideração o bem da

denominação e por conseqüência, do ensino teológico. Graças a Deus que nos últimos anos

essas tensões têm sido amenizadas, para o bem do ensino teológico da denominação

sesquicentenária.

As tensões de ordem externas são aquelas que vêem de fora da igreja, isto é, de outras

instituições religiosas e até mesmo do Governo Federal, através do MEC. Se por um lado a

proliferação de seminários de diversas tendências é prejudicial (em Recife são conhecidas pelo

menos quarenta instituições de ensino teológico), por outro a ingerência do MEC, forçando os

22

Manual Presbiteriano com Jurisprudência. São Paulo: ECC, 2006. p.52. 23

Manual Presbiteriano com Jurisprudência. p.52.

19

seminários a buscarem e terem seu reconhecimento tem causado alerta, pois trazem no seu

bojo a secularização, transformando-os apenas em um centro de estudos do fenômeno

religioso, coisa que a IPB, através do seu Supremo Concílio, neste ano de 2010 rejeita

integralmente.

Ao abordar a educação teológica em permanente transformação Hack e Oliveira

apontam duas razões para tantas mudanças: (1) a necessidade de adequação dos seminários a

exigência da igreja e da sociedade, em busca da excelência; (2) insatisfação pelo sistema

organizado para formar obreiros.24 Embora essa observação tenha sido feita há quase oito

anos atrás, e tenha causado tumultos, com implicações político-educacionais, pode-se concluir

que ela continua sendo atual. Esse é o foco do assunto a seguir.

Qualidade de ensino: A busca pela Excelência

Do latim “excellentia”, significa: Qualidade de excelente; primazia. Quando isso se

refere ao ensino teológico, significa que a instituição de ensino teológico está buscando

qualidade, primazia, superioridade.

Na Bíblia Sagrada pode-se ver co capítulo 1 que Deus fez tudo com excelência. Por isso

a Bíblia declara: “E viu Deus que isso era bom”. Hardy afirma que “a excelência é vista em

quem Deus é, no que ele faz e como ele fez”.25

Dentro desse princípio quero subir nos ombros do Hardy e pinçar algumas implicações

da busca da excelência que envolve liderança, planejamento estratégico, direção,

administração, o currículo, o corpo docente, as instalações, e as bibliotecas.

Liderança. Se uma instituição de ensino quiser ser conhecida como excelente neste

quesito terá que encorajar, treinar e utilizar sua liderança. Essa preocupação a IPB tem quando

24

OLIVEIRA, Marcos Cavalcante de; HACK, Osvaldo Henrique. Educação Teológica Presbiteriana: Diretrizes e Propostas. pp. 34-35. 25

HARDY, Steve. A Excelência no Ensino Teológico. Londrina: Descoberta, 2007. p.14.

20

não somente procura seus líderes, mas os encontrando, os encoraja ante ao grande desafio, os

treina, através dos seus cursos de Pós-graduação, como também, através de pequenos

congressos que são realizados pela JET a cada ano e os utiliza na educação teológica nos

seminários.

Planejamento. É necessário se ter uma idéia de onde se quer chegar para se conseguir

fazer alguma coisa com excelência. Uma instituição que treina sua liderança, obrigatoriamente

terá que planejar, desenvolver e rever seu planejamento. É necessário que ela tenha

descoberto seus valores e defina sua missão à luz das suas reais necessidades, conhecendo

seus pontos fracos e fortes, tudo isso regado por oração e dependência de Deus.

Direção. Na IPB os diretores dos seminários não são aquilo que muita gente pensa,

mas executivos de um plano traçado pela JET, JURET, no nosso caso JURET/N-Ne e aprovado

pelo Supremo Concílio IPB. Portanto, os diretores apenas executam o macro planejamento da

JET, e o micro planejamento de cada seminário, confeccionado seguindo os padrões

estabelecidos pelo RI dos seminários e supervisionados pelas JURETs.

Administração. Para que se chegue a excelência nesse quesito é necessária uma

estrutura apropriada que proporcione um bom funcionamento, seguindo a um planejamento

traçado. Nesse ponto não se deve desprezar boas informações as pessoas que servirão a

instituição como professores e funcionários, pois isso possibilitará que os estudantes

aprendam a contento as matérias ensinadas.

Currículo. Embora alguns questionem a nossa grade curricular apresentando críticas a

sua forma, conteúdo e carga horária, é bom lembrar que “não existe um currículo perfeito que

sirva para todas as escolas. Um programa excelente do treinamento equipa estudantes

específicos para o ministério dentro de um contexto específico”.26 É bom lembrar que após um

longo tempo fazendo modificações curriculares a cada quatro anos, o SC/IPB-2010, não

26

HARDY, Steve. A Excelência da Educação Teológica. p.10.

21

efetuou modificação alguma na grade curricular, que com raras exceções, têm atendido a

contento as necessidades dos seminários na preparação dos seus alunos. Uma discrepância a

ser corrigido, espera-se em curto tempo é o conteúdo programático das disciplinas, onde os

diretores dos seminários têm trabalhado naquilo que se chama conteúdo mínimo ministrado,

que uma vez aplicado beneficiará a todos os seminários, que poderão ser argüidos quantos aos

seus conhecimentos no provão de forma mais justa.

Corpo docente. Hardy, como muitos outros especialistas em administração vão

defender a idéia de que “o recurso individual mais importante que um programa possui é o

seu corpo docente. Instituições excelentes no treinamento sabem como encontrar, treinar e

encorajar os seus professores”.27 Pensando nisso, o RI dos seminários da IPB em seu Art. 27

declara: “O Corpo Docente do Seminário é constituído de professores de nível superior,

preferencialmente pastores pós-graduados, que nele exerçam atividades de ensino, pesquisa e

extensão...”.28 Segundo as alíneas “a” e “b” desse mesmo artigo, os professores podem ser

designados de duas maneiras: (1) Docentes em regime integral ou parcial; (2) Docentes

visitantes. Quando o assunto é valorização do professor, Hack e Oliveira destacam a

importância do envolvimento desse, como preceitua o Art. 30 do RI, na elaboração inclusive,

da proposta pedagógica do seminário. Eles destacam que “o envolvimento do professor no

projeto pedagógico e nas atividades acadêmicas é de fundamental importância”29. Continua

destacando que “o professor não pode ser apenas um colaborador que oferece algumas horas

para atender a uma necessidade urgente, que não há ninguém para realizar”30 e concluem

suas argumentaçãos defendendo a tese de que o mestre “não pode ser o que realiza tarefas

27

HARDY, Steve. A Excelência da Educação Teológica. p.10. 28

Regimento Interno dos Seminários da IPB. Curitiba: SE/SC-IPB, 2010. 29

OLIVEIRA, Marcos Cavalcante de; HACK, Osvaldo Henrique. Educação Teológica Presbiteriana: Diretrizes e Propostas. pp. 132-133. 30

Ibid.

22

opcionais; ele é um educador e deve esta comprometido com responsabilidades diante do

desafio de conduzir vidas humanas”.31

Instalações. Via de regra, as instalações dos seminários da IPB são de boa qualidade e

estão localizadas em áreas bastante valorizadas. Uma exceção a destacar é o seminário do Rio

de Janeiro. Mas, graças à visão empreendedora da sua atual direção e JURET ganhará um novo

espaço, onde em breve poderá funcionar em modernas instalações. Um exemplo disso pode

ser visto com o nosso seminário de Teresina, onde a IPB, através da JPEF tem provisionado

recursos para a construção de novas unidades de apartamentos, que serão disponibilizadas

para alunos casados.

Biblioteca. Com a confessionalidade reafirmada no seu RI no Art. 2º, a biblioteca dos

seminários são construídas a partir dessa declaração. Por isso, as nossas bibliotecas, embora

possuam (ou pelo menos deveriam possuir) materiais de diversas correntes teológicas,

prioritariamente tem nas suas prateleiras, material de cunho reformado. Nunca é demais

lembrar que as nossas bibliotecas, em futuro não muito distante, “não se constituirão apenas

de material impresso, mas aproveitarão ao máximo as informações disponíveis globalmente

pelas tecnologias de informação”,32 coisa essa que já tem sido implantada por algumas de

nossas bibliotecas, no que tange a obras eletrônicas, bem como o acervo de filmes,

documentários e outros em DVD.

Ao finalizar esse capítulo que abordou os aspectos acadêmicos de um seminário,

podem-se observar os Princípios Básicos dos seminários da IPB.

Princípios básicos

Os aspectos acadêmicos não são suficientes para fazer um seminário subsistir por si

mesmo como uma instituição de ensino teológico, sem que se preocupe com o

31

Ibid. 32

HARDY, Steve. A Excelência da Educação Teológica. p.10.

23

desenvolvimento da piedade, através da revelação da vontade de Deus, a Bíblia Sagrada e que

são sistematizadas pelos nossos símbolos de fé. O Art. 2º, que trata do desenvolvimento de

atividades dos seminários da IPB, informa que estes deverão “cumprir a sua finalidade,

observando os seguintes princípios básicos”:33 (a) Fidelidade às Escrituras Sagradas, como

única regra de fé e prática; (b) Ensino segundo os princípios da fé reformada, expresso pela

lealdade à Confissão de Fé da IPB e seus Catecismos Maior e Breve, como fiel sistema

expositivo de doutrina; (3) Obediência à Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil; (4)

Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, a arte, o pensamento e o saber

teológicos...; (5) Promoção de elevados padrões de espiritualidade e qualidade de ensino; (6)

Valorização das experiências formadoras da vida pastoral e missionária e aplicação do

conhecimento adquirido à obra missionária e às igrejas presbiterianas em todo o território

nacional; (7) Oferta de ensino, diurno e ou noturno, adequado às necessidades das igrejas da

região e às possibilidades dos Seminários.

É importante destacar duas coisas que são consideradas importantes, dentro desse

aspecto da piedade: a fidelidade a Bíblia Sagrada e a lealdade aos Símbolos de Fé da IPB

(Confissão de Fé de Westminster, e os Catecismos, Breve e Maior).

Fidelidade as Escrituras, a única regra de fé e prática foi uma das bandeiras da Reforma

Protestante do Século XVI. “Sola Scriptura”, nos dias de Martinho Lutero, “tinha a ver com a

Bíblia ser a única autoridade suprema para os cristãos contra os desafios que enfrentava das

tradições da igreja medieval, concílios de igrejas e do papa”.34 Montgomery defende a tese de

que o desejo dos reformadores era que a Escritura e somente a Escritura fosse levada em

consideração como sendo a verdadeira autoridade da igreja. Ele defende a suficiência das

Escrituras, como Palavra de Deus, em quatro aspectos: (1) como instrumento de

evangelização; (2) como instrumento de santificação; (3) como instrumento de orientação; e

33

Regimento Interno dos Seminários da IPB. Curitiba: SE/SC-IPB, 2010. p.2. 34

BOICE, James Montgomery. O Evangelho da Graça. São Paulo: ECC, 2003. pp. 63-64

24

como (4) instrumento eficaz de reforma social. Ele afirma: “Calvino não tinha outra arma a não

ser a Bíblia [...]. Calvino pregou biblicamente todos os dias, e sob o poder daquela pregação a

cidade começou a ser transformada”.35

O segundo destaque diz respeito à lealdade aos Símbolos de Fé da IPB. Isso decorre do

Art. 1 do capítulo I da Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil, que afirma: “A Igreja

Presbiteriana do Brasil é uma federação de igrejas locais, que adota como única regra de fé e

prática as Escrituras Sagradas do Velho e Novo Testamento e como sistema expositivo de

doutrina e prática a sua Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve...;”.36 Não há dúvida de

que se está vivendo uma época pragmática e caracterizada pela desconstrução dos valores

éticos, morais e espirituais. Ser confessional ficou “demodê”,37 dizem os mais modernos.

Infelizmente, no meio presbiteriano as instituições, igrejas, pastores e líderes leais aos

símbolos de fé da igreja estão em extinção e pode-se dize que, já são bem raros.

Cabe, portanto, aos seminários, que preparam os futuros pastores que servirão a IPB, a

instrução em como são úteis esse documentos, que se devidamente bem utilizados servirão

para preparar bons pastores para servir a igreja.

35

Ibid. p.81. 36

Manual Presbiteriano com Jurisprudência. p.8. 37

Palavra de origem francesa que significa fora de moda.

25

CAPÍTULO IV

OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO TEOLÓGICA NA IPB

Vivendo numa época diferente de tudo que já se viveu, que tem como pressupostos a

pluralidade, secularização e a privatização, a IPB tem diante de si um grande desafio: manter-

se fiel as Escrituras Sagradas, uma busca que envolve a confessionalidade e uma conjugação

correta de duas vertentes importantes para se alcançar a missão. Dentro desse princípio, para

se manter o foco se faz necessário o equilíbrio entre a piedade e o academicismo. É disso que

trata o presente capítulo.

Manter-se fiel as Escrituras Sagradas

Muitas são as críticas do mundo com relação às Escrituras Sagradas como sendo a

“Palavra de Deus”. Essas críticas estão baseadas em pressupostos científicos, fruto do

iluminismo, que tem a sua versão na igreja, ou seja, os liberais. Estes negam que a Bíblia

Sagrada seja a inerrante Palavra de Deus. John Blanchard lista uma série de fatos que

considera fundamental e que segundo ele, os críticos da Bíblia desconhecem ou não levam em

consideração: (1) os livros da Bíblia em estão em ordem cronológica; (2) os livros da Bíblia não

foram escritos todos na mesma língua; (3) os livros da Bíblia não são do mesmo tipo literário; e

(4) os livros da Bíblia não tinham divisões em capítulos e versículos.38

Por não levarem isso em consideração, esses estudiosos acadêmicos desfecham duras

críticas as Escrituras Sagradas, tais como: (1) as cópias atuais da Bíblia são pervertidas; (2) os

milagres são improváveis, pois ferem as leis da natureza. Talvez o grande representante desse

período tenha sido o cético escocês David Hume; (3) a Bíblia é irrelevante com o padrão de

vida do homem moderno; (4) e ainda, a Bíblia é apenas mais um livro entre outros sagrados,

pois dizem esses, que todo caminho leva a Deus; (5) a Bíblia está cheia de erros, dizem os

38

BLANCHARD, John. Por que Acreditar na Bíblia. São Paulo: Editora Fiel, 2006. pp.6-8.

26

modernistas, que mesmo defendendo essas idéias reprováveis, estão enchendo as igrejas e os

seminários, com essas idéias, pervertendo os alunos, que inocentemente, se deixam seduzir

pelos seus eloqüentes discursos liberais; (6) a Bíblia está cheia de contradições de datas,

doutrinas, de geografia, genealogia, de nomes e até de números.

É nesse contexto que o seminário, e os seus professores devem defender a Bíblia

Sagrada, como sendo a Palavra de Deus, sendo ela a única inspirada, inerrante, autoritativa e

suficiente. Se as Escrituras Sagradas forem esquecidas, e ou desprezadas, em pouco tempo, se

terá uma igreja enfraquecida, que será fruto de um ensino teológico enfraquecido pelo

desprezo aos ensinamentos da Escritura Sagrada.

No SPN, a leitura das Escrituras Sagradas é obrigatória e supervisionada. Durante o ano

o aluno deve ler toda a Escritura. Ao final do seu curso, terá lido a Bíblia Sagrada quatro vezes,

o que o credencia a uma maior intimidade com a Palavra de Deus.

Manter a Confessionalidade

Na opinião de Derek Thomas e também de muitos outros teólogos reformados, “a

Assembléia de Westminster foi a mais notável assembléia protestante de todos os tempos.”39

Para participar da histórica assembléia, cada delegado era obrigado a fazer um voto, nos

seguintes termos:

Solenemente prometo e faço voto diante de Deus Todo-Poderoso, que nesta Assembléia de que sou membro, nada sustentarei em matéria de doutrina senão o que creio ser mais de acordo com a palavra de Deus..., senão o que possa contribuir para a glória de Deus e para a paz e o bem de sua igreja.

40

Pode-se constatar nos meios presbiterianos hoje em dia, uma desvalorização da

importância e aplicação dos símbolos de fé abraçados pela IPB. Quando muito, alguns já leram

e estudaram o BCW. Poucos, ou pouquíssimos leram e estudaram a nossa CFW. E a maioria até

39

THOMAS, Derek. A Visão Puritana das Escrituras. São Paulo: Editora os Puritanos, 1998. p.3. 40

Ibid. p.1.

27

desconhece o CMW. Dixhoorn, que escreveu um opúsculo intitulado Catecismo Maior de

Westminster, origem e composição afirma que: “O Catecismo Maior de Westminster não é

nem amado, nem freqüentemente usado, ou influente”.41

Derek Thomas, por sua vez vai expandir a idéia desse descaso que acontece no meio,

não somente presbiteriano, como também reformado, ao afirmar que: “Mas temos percebido

ao longo do tempo que existe um descrédito e falta de zelo por parte da liderança reformada

do nosso país em relação à importância, validade e cumprimento da Confissão de Fé de

Westminster”.42 Ele conclui sua assertiva dizendo que “verdades confessionais são

freqüentemente omitidas para que se ordenem pastores para congregações ditas

reformadas”.43

Essa é a grande tensão vivenciada pelos seminários da IPB nos dias atuais:

modernidade ou confessionalidade. Graças a Deus que a IPB tem mantido sua postura de

igreja confessional, conforme sua própria constituição e pelo regimento interno dos seus

seminários.

Pensando nisso, a direção do Seminário Presbiteriano do Norte tem exigido uma

leitura sistemática e supervisionada dos nossos símbolos de fé, que devem ser lidos pelo

menos, pelo menos uma vez por ano. Ao final do seu curso, o aluno terá lido pelo menos

quatro vezes a CFW, o CMW e o BCW. Sobre o porquê ler os Símbolos de Fé da IPB, o Manual

do Aluno do SPN destaca no item três:

Porque sendo esse um seminário confessional, cabe a nós outros lutar para que os nossos Símbolos de fé sejam melhor conhecidos, estudados e manuseados pelos nossos alunos, dando assim a cada um deles, uma cosmovisão presbiteriana, no que tange as doutrinas oriundas das Escrituras Sagradas e sistematizadas pelos teólogos de Westminster no século XVII.

44

41

DIXHOORN, Chad B. Van. Catecismo Maior de Westmister: Origem e Composição. São Paulo: Editora Os Puritanos, 2010. p.7. 42

THOMAS, Derek. A Visão Puritana das Escrituras. São Paulo: Editora os Puritanos, 1998. p.3. 43

Ibid. 44

MANUAL DO ALUNO DO SPN. Recife: SPN, 2010.

28

Conjugar corretamente o binômio: piedade e academicismo

As instituições de ensino teológico da IPB vivem em constante tensão entre ser uma

instituição de ensino e uma casa de profetas; entre a piedade e o academicismo. Não tem sido

raro o fato de que presbitérios, igrejas, alunos, funcionários e professores, jogarem com estes

extremos causando muitas vezes uma dicotomia entre a vida estudantil e a vida espiritual;

entre teologia e vida.

Quando interessa alguns vão bradar: Isso aqui não é uma casa de profetas? Noutra

circunstância vão esbravejar: Isso aqui não é uma academia? Nessa tensão vivem todos

aqueles que labutam no ensino teológico da IPB. Devido a esta situação estabelecida, qual a

melhor posição a ser acolhida? João Calvino, o reformador de Genebra, tinha como lema para

resumir a sua concepção hermenêutica, o binômio: orare et labutare, ou seja, orar e trabalhar,

piedade e academicismo.

O Rev. Hermisten Maia, comentando esse binômio que envolve piedade e

academicismo (conhecimento), destaca que “para Calvino, a piedade não é algo místico e

esotérico, antes, origina-se e fundamenta-se no conhecimento de Deus”.45 O próprio Calvino

definindo esses termos afirma que: “A piedade está sempre fundamentada no conhecimento

do verdadeiro Deus; e isso requer ensino”.46

Daí se deduzir que o melhor caminho para o ensino teológico da IPB, passa pela

correta compreensão desse binômio, pois em assim acontecendo, o seminário, como casa de

preparação de futuros pastores, que terão sempre diante de si essa tensão, cumprira o papel

para o qual foi formado, ou seja, “a formação de Ministros para a Igreja, bem como

45

COSTA, Hermisten Maia Pereira da. Fides Reformata XIII, nº1 (2008): A Piedade Obediente de Calvino: Teologia e Vida. São Paulo: Editora Mackenzie, 2008. p.74. 46

CALVINO, João. O Profeta Daniel. São Paulo: Edições Parakletos, 2000. p.225.

29

desenvolver a pesquisa e os conhecimentos no campo da Teologia e outros cursos nos termos

do Artigo 24 da CI/IPB...”.47

47

Regimento Interno dos Seminários da IPB. Curitiba: SE/SC-IPB, 2010.

30

CONCLUSÃO

Ao final desse trabalho, ratifica-se a tese de que a educação teológica na Igreja

Presbiteriana do Brasil é feita através da conjugação de dois termos muito importantes, ou

seja, o Academicismo e a Piedade.

No corpo do trabalho pôde ser visto o que os seminários da IPB e os órgãos que os

supervisionam (JET e JURETs) estão fazendo na busca pela excelência, tanto quanto se refere à

Vida, quanto à Teologia.

Em todo trajeto descrito nesse trabalho, nada provou a incompatibilidade entre esses

dois termos, ou seja, eles não são mutuamente excludentes, muito pelo contrário, podem e

convivem muito bem no ambiente de ensino teológico da IPB, fato esse, pelo qual a gratidão a

Deus enche os nossos corações por tantos e magníficos feitos.

A Ele, pois seja a Glória, a honra e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!

31

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Textos eletrônicos:

www.sps.br/index.php?option=com_content&view=article&id=18&Itemid=24, <acesso

06/09/2010>