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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Helenice Staff O ensino superior e o mercado de trabalho: Reflexão sobre os cursos de administração de empresas da PUC/SP e da universidade mercantil de massa DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS SÃO PAULO 2008

O ensino superior e o mercado de trabalho - PUC-SP · 2017. 2. 22. · partir de seu ingresso na universidade; suas opções de atuação profissional; sua prontidão para o mercado

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Helenice Staff

O ensino superior e o mercado de trabalho: Reflexão sobre os cursos de administração de empresas da PUC/SP e da

universidade mercantil de massa

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

SÃO PAULO

2008

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Helenice Staff

O ensino superior e o mercado de trabalho: Reflexão sobre os cursos de administração de empresas da PUC/SP e da

universidade mercantil de massa

DOUTORADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Tese apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação da Prof.ª Doutora Noêmia Lazzareschi.

SÃO PAULO

2008

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Banca Examinadora

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À memória de meus pais, pois – tenho certeza – onde quer que estejam estão vibrando e exultantes porque concretizei o sonho deles de ter uma filha "doutora". Às sobrinhas do coração Márcia, Meire e Marisa para que este trabalho sirva de incentivo e exemplo. Aos manos Ercílio, Elcio e Henriqueta pelo orgulho que sentem de mim. À Aline filhinha do coração. Enfim, a todos os amigos, professores e colegas que estavam torcendo para eu terminar este trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, que me deu inteligência e saúde para elaborar este trabalho.

A minha orientadora, Prof.ª Doutora Noêmia Lazzareschi, pela paciência da espera,

por acreditar em minha capacidade, pela sabedoria das orientações, por não medir esforços em

mostrar os caminhos acadêmicos.

Ao Prof. Dagoberto Schmidt, amigo incansável, pelas tentativas iniciais – tão elevadas

e filosóficas – e por fazer o elo entre os parágrafos, dando sentido e vida ao texto.

A Lia Mara, pela paciência, pelo envolvimento, pela competência e pela prontidão.

Sou grata a Adeilton – “Dê” – meu marido, companheiro, conselheiro, pela

compreensão das minhas ausências, pelo incentivo e pela força.

À Prof.ª Adriana, pela seriedade e eficiência na revisão final.

Agradeço ainda à CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior), pela Bolsa Parcial de Pesquisa.

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RESUMO

Esta tese faz uma análise do mercado de trabalho frente à formação profissional dos

administradores de empresas de duas instituições educacionais de ensino superior da cidade

de São Paulo: A PUC/SP, considerada “top de linha” e a UNIVERSIDADE 2, considerada

“mercantil de massa”. Teremos como referência a Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Brasileira) e a Lei 5540 da Reforma Universitária, que constituíram o princípio

norteador dos estudos teóricos e da pesquisa de campo que fundamentam esta tese, cujo

objetivo foi o de mapear a inserção profissional dos estudantes do curso de Administração de

Empresas que concluíram o curso há dois anos, por meio de uma visão tridimensional do

alunado: a formação escolar do aluno, a partir de seu ingresso na universidade; suas opções de

atuação profissional e sua prontidão para a inserção no mercado de trabalho, atendendo às

exigências existentes. Procuramos conhecer como esses dois tipos de instituições de ensino

superior estão formando seus alunos. O estudo tem como ponto de partida o crescimento

exagerado das instituições particulares de ensino superior, investigando se, como muitos

dados sugerem, esse crescimento provocou a queda da qualidade do ensino, e,

conseqüentemente, a falta de preparo dos egressos para atuarem no mercado de trabalho. Os

resultados foram obtidos por meio de entrevistas com os egressos, a fim de levantar

dificuldades e facilidades encontradas para a sua inserção no mundo do trabalho, no que se

refere às necessidades e aos interesses do mercado, bem como no que se refere ao

procedimento gestor, aos resultados perseguidos e às competências e habilidades exigidas

pelas empresas. A estrutura da tese registra os principais tópicos que interessaram a esta

pesquisa, em especial: o ensino superior, o mercado de trabalho, o perfil do profissional

exigido pelo atual mundo globalizado, suas qualificações e competências; discutindo, por fim,

as implicações do ensino para a questão da empregabilidade.

Palavras-chave: Ensino superior. Mercado de trabalho. Perfil profissional. Competências.

Empregabilidade.

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ABSTRACT

This work analyses the administrator’s work market dynamics facing his professional

education at two Superior Institutes of Education in the city of São Paulo: PUC/SP,

considered as ”a high quality” school and UNIVERSITY 2, considered as “a mass

commercial” school. We will use the law 9394/96 (National Education Directives and Bases

Law) and the law 5540 (University Reformation) as reference. Those two laws were the

guiding principle of the theoretical studies of this field research that justify this thesis, of

which objective was to map the professional insertion of students who concluded their

Administration degree two years ago through a three-dimensional vision of the students

themselves: the educational formation of the students, since they enter the university; their

professional performance options and their readiness to enter the market, answering the

existing demands. We want to know how these Superior Institutes of Education are

instructing their students. The starting point of this study is the exaggerated growth of private

Superior Institutes of Education, believing at first, that the serious consequence of this growth

is the low quality of the education, and, automatically, the lack of proper learning for the

students to be able to enter the work market. The results will be obtained through interviews

with egressed students in order to raise difficulties and facilities found during their entrance in

the market, not only related to the market necessities and interests, but also concerning the

administrating procedure, and the pursuing results, competences and skills required by the

companies. The research deals with the main topics which, in different moments, labeled this

study, especially: the Superior Institutes, the work market, the professional profile required by

the globalised world, qualifications and competences, discussing, at last, its implications for

the chances of employment.

Keywords: Superior Institutes. Work market. Professional profile. Abilities. Chances of

employment.

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No trajeto da mitologia à logistica o pensamento perde o elemento da reflexão sobre si mesmo e hoje a maquinaria mutila os homens mesmo quando os alimenta.

Adorno e Horkheimer

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ................................................................................................................... 9

Objetivos da pesquisa......................................................................................................... 11

Hipótese ............................................................................................................................... 13

Metodologia......................................................................................................................... 17

Estrutura da tese................................................................................................................. 21

1 O ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO............................................................................ 23

1.1 Trabalho dos docentes no ensino superior ................................................................. 70

2 SITUAÇÃO ATUAL DO MERCADO DE TRABALHO ............................................... 86

3 EDUCAÇÃO E TRABALHO VS. COMPETÊNCIAS E HABILIDADES................. 116

3.1 Perfil do profissional no atual mercado de trabalho............................................... 132

4 APRESENTAÇÃO DAS UNIVERSIDADES PESQUISADAS.................................... 140

4.1 Plano de curso ............................................................................................................. 140

4.1.1 Curso de Administração de Empresas da PUC/SP .......................................... 140

4.1.1.1 O profissional formado na PUC/SP ............................................................ 142

4.1.1.2 Organização curricular do curso de Administração de Empresas .......... 144

4.1.2 Curso de Administração de Empresas da UNIVERSIDADE 2 ...................... 148

4.1.2.1 O profissional formado na UNIVERSIDADE 2 ........................................ 148

4.1.2.2 Organização curricular do curso de Administração de Empresas .......... 150

4.2 Entrevistas................................................................................................................... 155

4.2.1 Entrevistas com profissionais de recursos humanos (RH) .............................. 155

4.2.2 Entrevistas com professores da PUC/SP ........................................................... 159

4.2.3Entrevistas com professores da UNIVERSIDADE 2 ........................................ 160

4.2.4 Entrevistas com alunos da PUC/SP ................................................................... 164

4.2.5 Entrevistas com alunos da UNIVERSIDADE 2 ............................................... 170

5 EXIGÊNCIAS DO MERCADO DE TRABALHO E ENSINO SUPERIOR............... 174

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................... 186

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 196

ANEXOS ............................................................................................................................... 205

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APRESENTAÇÃO

Esta tese é um estudo sobre o ensino superior brasileiro – especificamente, um estudo

dos cursos de graduação em Administração de Empresas – visando a conhecer as

competências e habilidades neles obtidas para o ingresso no mercado de trabalho. Para tanto,

teremos como referência a Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira),

que considera o ensino superior capaz de estimular a criação cultural, o desenvolvimento do

espírito científico e do pensamento reflexivo, produzindo diplomados, nas diferentes áreas do

conhecimento, aptos à inserção profissional e à participação no desenvolvimento da sociedade

brasileira por meio de pesquisa e investigação científica. Nesse sentido, os cursos superiores

devem, segundo a Lei, incentivar o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da criação e

difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que

vive. (LDB. Cap.IV, art.43-I-II). Portanto, a organização universitária, como qualquer outra

esfera da educação formal, está sendo convocada a assumir seu triplo papel, o de ensinar –

que se distingue da mera instrução – o de pesquisar e o de preparar profissionais para atender

às novas demandas do mercado de trabalho.

A LDB 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira) e a Lei 5540 da

Reforma Universitária constituíram o princípio norteador dos estudos teóricos e da pesquisa

de campo que fundamentam esta tese, cujo objetivo foi mapear a inserção profissional dos

estudantes do curso de Administração de Empresas que concluíram o curso há dois anos

através de uma visão tridimensional do alunado, que considera: a formação escolar do aluno a

partir de seu ingresso na universidade; suas opções de atuação profissional; sua prontidão para

o mercado de trabalho, atendendo às exigências existentes. Com isso, pretendeu-se reunir

informações que permitissem conhecer o perfil demandado no mercado de trabalho para um

profissional de formação superior na área administrativa.

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Balizados por estes pressupostos, pretendemos investigar a dinâmica do mercado de

trabalho do administrador de empresas, correlacionando-a à formação acadêmica. Serão

analisadas duas instituições educacionais de ensino superior, uma que denominamos

“mercantil de massa” e outra, “top de linha”. Numa primeira aproximação, para elucidar os

termos antagônicos representados pela taxonomia proposta, buscamos apoio na obra de

Pimenta Garrido acerca das diferentes faces do atual quadro da docência superior no Brasil.

Para a autora, podemos dividi-la, num primeiro momento, em dois grandes grupos, usando

como antípodas os profissionais filiados às instituições particulares e os vinculados às

instituições públicas de ensino superior. Para a autora:

No caso das instituições públicas, verifica-se que o ingresso se dá sempre por concurso, mesmo para contratação do professor substituto, cujo número tem aumentado em decorrência da contenção de despesas a que vêm sendo submetidas. No concurso para efetivos, o professor passa por um período de ‘estágio probatório’, ao final do qual sua efetivação será confirmada ou não, mediante um processo de avaliação, realizado por seus pares no departamento (Pimenta Garrido, 2002, p. 119).

Pesquisas preliminares por nós realizadas indicam que, no que tange às universidades

particulares confessionais, tal procedimento de admissão de docentes é semelhante e que,

portanto, podemos nos pautar nesta concepção de universidade para reconhecer o objeto que

passamos a denominar de universidades “top de linha”. Opondo-se a este pólo de nossa

classificação, estaria alocada a instituição privada de ensino superior, que, em parte, tem sido

transformada

[...] em organização administrativa baseada na racionalidade técnica, contrária à dimensão social característica dessa instituição [...] desvincula-se a docência da necessária articulação a um projeto educacional regido por projeto pedagógico institucional, e a instituição, por sua vez, desobriga-se de processos de profissionalização continuada (ibidem).

Será esse tipo de universidade que passaremos a denominar “mercantil de massa”.

Podemos verificar a discrepância entre essas duas concepções de universidade tomando como

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referência primeira os resultados auferidos pelos alunos egressos nos últimos exames de

avaliação propostos pelo Ministério da Educação. Tais resultados nos dão pistas de como os

alunos estão sendo preparados para ingressar no mercado de trabalho. Temos a intenção de

analisar o grau de excelência propiciado pelos dois pólos citados ou, em outros termos,

verificar se os egressos concluem a graduação em condições de atender às exigências do

capitalismo global, as conseqüentes transformações da sociedade mundial, ou, contrariamente,

se terminam o terceiro grau sem a mínima condição acadêmica, e/ou profissional, para atender

essas demandas do atual mundo do trabalho. Neste segundo caso, graduam-se sem a mínima

condição para o enfrentamento dos obstáculos apresentados pelo mundo do trabalho, suas

exigências e normalizações, e mantêm-se, de certo modo, em situação muito semelhante a que

ocupavam antes do ingresso na universidade, com o agravante, muitas vezes, de terem

contraído dívidas a serem pagas posteriormente, contribuindo para engrossar a fileira dos

desempregados ou dos subempregados. Nesses termos, nosso problema pode ser resumido na

seguinte questão: Qual a dinâmica do mercado de trabalho para o administrador conforme sua

formação profissional em dois tipos de instituições de ensino superior, mercantil de massa e

top de linha?

Objetivos da pesquisa

O objetivo geral desta pesquisa é uma análise do mercado de trabalho frente à

formação profissional dos administradores de empresas nos dois tipos de instituição

educacional de ensino superior anteriormente citados.

Dessa forma, serão analisados, visando a atingir objetivos específicos, os cursos de

graduação em Administração de Empresas dos dois grupos de universidades. Tomaremos

como objeto pertencente ao primeiro grupo uma universidade considerada de alto padrão, a

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PUC/SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), e, ao segundo, uma universidade

particular - mercantil de massa - do município de São Paulo que denominaremos

“UNIVERSIDADE 2”. A partir da análise apurada dos dois objetos, queremos conhecer como

esses diferentes grupos de instituições de ensino superior estão formando seus alunos.

O estudo tem como ponto de partida o crescimento exagerado das instituições

particulares de ensino superior, acreditando-se, num primeiro momento, que esse crescimento

trouxe como grave conseqüência a queda da qualidade do ensino, e, automaticamente, a falta

de preparo adequado dos educandos para atuarem no mercado de trabalho.

Os resultados encontrados serão confrontados com a dinâmica do mercado de trabalho,

sendo tal investigação levada a cabo através de documentos bibliográficos e de entrevistas

com os egressos, a fim de levantar dificuldades e facilidades encontradas para a sua inserção

no mundo do trabalho, no que se refere às necessidades e interesses do mercado, bem como

no que se refere ao procedimento gestor, aos resultados perseguidos e às competências e

habilidades exigidas pelas empresas.

Em termos específicos, esperamos alcançar os seguintes objetivos:

– Contextualizar as mudanças no mundo do trabalho decorrentes da nova face do

modo de produção capitalista, para conhecer quais as atuais exigências do mercado

de trabalho e os critérios exigidos dos candidatos a uma vaga de emprego.

– Analisar os cursos presenciais de graduação em Administração de Empresas das

universidades escolhidas, tendo por base os referenciais de qualidade de seu plano

acadêmico.

– Analisar o trabalho dos professores nessas universidades para refletir sobre as

condições didático-pedagógicas nas quais desenvolvem seu trabalho.

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Hipótese

A nossa hipótese de trabalho pode ser assim formulada: os cursos de Administração de

Empresas oferecidos pelas universidades mercantis de massa não preparam adequadamente os

universitários para o enfrentamento do mercado de trabalho, segundo os padrões de

excelência.

Esta hipótese se fundamenta:

a) No crescimento desenfreado das universidades, principalmente das particulares não

confessionais. Acredita-se que a grande maioria dessas instituições se tornou uma verdadeira

indústria de diplomas, deixando de lado a qualidade do ensino e a preparação adequada para o

mercado de trabalho, de acordo com os padrões de exigência do mundo globalizado.

A partir de 1990, houve mudanças na educação superior que, no entanto, não

possibilitaram a reestruturação das práticas didático-metodológicas de ensino, segundo os

padrões de excelência, prevalecendo nas faculdades e universidades particulares, salvo raras

exceções, o sistema de produção em massa de diplomados, sem as competências exigidas pelo

mercado de trabalho.

Não houve mudança que permitisse uma adaptação das práticas e conteúdos escolares

às exigências do mercado nas universidades. No entanto, os alunos das universidades públicas

e confessionais gozam de alguns espaços alternativos para reflexão e desenvolvimento, seja

como pesquisadores, seja como candidatos a um emprego de qualidade na empresa privada

e/ou pública.

Em contrapartida, os alunos das universidades privadas, em geral, sobretudo aquelas

que não priorizam a produção científica, ficam à mercê de trabalhos de menor remuneração,

e/ou desqualificados, demonstrando que existe essa dualidade no que tange o perfil do egresso

do ensino em nível superior.

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Oriundos de escolas públicas de ensino fundamental e médio situadas na periferia do

município de São Paulo, de famílias humildes, intelectual e economicamente, os alunos das

universidades mercantis de massa são obrigados a estudar à noite e a trabalhar durante o dia,

não só para o pagamento da mensalidade de seu curso, mas para a complementação da renda

familiar. Não dispõem de tempo para leituras e pesquisas, de dinheiro para aquisição de

livros, e, portanto, limitam-se a fotocopiar os textos dos diferentes componentes curriculares,

selecionados pelos professores. Desse modo, estão em condições absolutamente desfavoráveis

para competir com os egressos das universidades públicas e/ou confessionais, cujo perfil é

muito distinto, findando por mergulhar no mudo do subemprego ou amargando, anos a fio, a

condição de desempregados.

Em contrapartida, os alunos que estudam em universidades com o segundo perfil

descrito acima, afeito ao modo administrativo/educacional da PUC, são geralmente oriundos

das melhores escolas particulares de ensino médio, escolas respeitadas por seu padrão de

qualidade de ensino, e, como não trabalham, podem dedicar-se unicamente ao ofício de

estudar. Têm, portanto, condições de comprar livros e tempo para as respectivas leituras. São

de famílias intelectual e economicamente privilegiadas, que incentivam e proporcionam meios

necessários para os filhos acompanharem bem o curso de graduação escolhido.

É interessante observar que, no Brasil, o ensino superior teve um crescimento

exagerado nos anos compreendidos entre a segunda metade da década de 60 e os anos 80 do

século passado, crescimento que se fez sob a égide de um modelo fordista, qual seja, um

modelo de produção em massa. Nesse período, o número de matrículas passou de 150 mil a

um milhão e meio. A expansão acompanhou uma tendência internacional de ampliação

progressiva do acesso ao ensino superior, com comprometimento da qualidade do ensino e da

aprendizagem.

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Essa ampliação da base do ensino superior pode ser considerada um avanço para a

educação superior em nosso país, porém, conforme afirma Schwartzman (1989, p. 29):

Isto não significa, naturalmente, que o ensino superior no Brasil não tenha problemas, dramatizados pela explosão das matrículas entre 1965 e 1980 -- de 150 mil a um milhão e meio de estudantes em quinze anos, que coincidiu, no Brasil, com um regime militar que sempre desconfiou e agiu contra estudantes, professores e cientistas. Reformular o ensino superior foi um dos compromissos inscritos no discurso inaugural da Presidência da Nova República que Tancredo Neves nunca chegou a ler, mas que foi lido e assumido por seu sucessor, José Sarney. Para este fim, o governo instalou, com toda a solenidade, uma Comissão Nacional que deveria apontar os caminhos do futuro. Rever como trabalhou esta Comissão e o destino do trabalho é uma excelente porta para o entendimento mais aprofundado de nosso ensino superior, e, porque não, da própria natureza do primeiro governo da Nova República.

Se seguirmos o conselho do autor, posteriormente a esta revisão, veremos que grande

parte das universidades particulares não confessionais ainda está formando profissionais para

obedecerem a ordens superiores da gerência científica, não preparados para atender às

exigências atuais do mercado. Ainda formam o aluno de modo muito semelhante ao

trabalhador das empresas com regime fordista de produção em massa, de repetição, de

automatismo, já abandonado nas grandes empresas que exigem um novo perfil de trabalhador.

O mercado espera do candidato a um emprego habilidades básicas na comunicação escrita.

Espera que saiba escrever propostas, relatórios, e-mails, que saiba expressar-se em público,

expor idéias, participar de reuniões, que tenha vencido a timidez natural, que tenha

criatividade para inovar sempre, para criar projetos e conceitos originais, que consiga um

relacionamento interpessoal à altura de seu posto a fim de se relacionar com todos os níveis

hierárquicos da empresa; que possua inteligência e equilíbrio emocional, racional e social para

saber controlar os impulsos, ser motivado; que apresente intimidade com a tecnologia para

usar programas de computação, softwares e outros aparelhos eletrônicos; que saiba trabalhar

em equipe e ouvir os colegas de trabalho para agregar conhecimento ao grupo e que saiba o

momento certo de ceder ou insistir em alguma idéia.

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Essas exigências, muitas vezes, impedem alunos provindos das universidades

mercantis de massa de ingressarem no mercado de trabalho pela dificuldade encontrada já nas

etapas iniciais do processo de seleção, pois algumas grandes empresas têm como requisito

para admissão que sejam formados pela USP, PUC, Mackenzie, Unicamp, entre outras

universidades de excelência. A origem do diploma já os exclui.

O número das instituições particulares de massa tem se multiplicado e a qualidade do

ensino nos cursos de graduação tem caído. Donde reafirmamos a hipótese acima assinalada: a

ineficiência na formação dos alunos dificulta o seu ingresso no mercado de trabalho.

Outro argumento de fundamentação da nossa hipótese é o reconhecimento das

dificuldades enfrentadas pelos professores na realização de seu trabalho nessas instituições,

uma vez que elas não oferecem o mínimo da infra-estrutura necessária ao atendimento de uma

população com graves deficiências na formação escolar básica. Os alunos são aprovados para

o ensino superior através de um processo de seleção não rigoroso. Essas universidades não

reprovam, fazem avaliações simples e sem critérios sérios para ingresso. Dessa forma, os

professores, principalmente os dos primeiros semestres, precisariam de tempo para iniciar os

alunos no curso superior, orientando-os sobre como ler com compreensão, como fazer

resumos, resenhas, enfim, como estudar e conseguir acompanhar as aulas. Faltam bibliotecas,

laboratórios, recursos audiovisuais como retroprojetores, DVDs, computadores, data show. As

salas de aula são superlotadas, com números que ultrapassam cem alunos. Isso dificulta o bom

desempenho didático de qualquer educador.

Professores e alunos encontram-se num contexto institucional de concorrência acirrada

entre as inúmeras universidades mercantis de massa. Trata-se de uma verdadeira “guerra”

para se ganhar clientela. As instituições particulares não confessionais utilizam os mais

variados meios para conseguir mais e mais alunos. A única meta a atingir é a ampliação dos

lucros, que se obtém pelo aumento da oferta de vagas.

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Utilizam muita propaganda, através das mais variadas mídias: televisão, jornais, rádio,

folhetos, folders, out-doors. Chegam até a fazer jogadas ilícitas, oferecendo vantagens e

descontos especiais para o aluno que se transferir de uma instituição para outra, trazendo

vários amigos. Descobrem estratégias para colocar o preço mais baixo nas mensalidades.

Excluem o pagamento da matrícula para alunos que indicarem outros. As escolas que cobram

menos são as mais procuradas. Não fazem vestibulares e sim processo seletivo através de

entrevistas, notas do ENEM, redação, análise dos documentos, ou provas simples de múltipla

escolha. É maior o número de vagas que o de candidatos. As instituições que facilitam o

ingresso e fazem maiores descontos são, logicamente, as mais procuradas.

Enfim, o processo seletivo possibilita a entrada de todos os candidatos. A seleção nas

universidades mercantis de massa praticamente não existe, ao contrário dos alunos que se

submetem ao vestibular rigoroso das instituições de renome como USP, PUC, Unicamp,

UNESP e Mackenzie, nas quais o número de candidatos por vaga é bastante elevado.

Metodologia

Optou-se neste trabalho por uma análise comparativa do mesmo curso (Administração

de Empresas) em universidades distintas, cujos dados serão coletados por meio de entrevistas

semi-estruturadas e leitura e interpretação de pesquisa bibliográfica.

As fontes empíricas para este trabalho serão duas instituições de Ensino Superior

privadas, sendo uma confessional (PUC/SP) e a outra uma universidade mercantil de massa

(UNIVERSIDADE 2).

O objeto de análise será o curso de Administração de Empresas por estar difundido em

grande parte das universidades, principalmente nas particulares, não exigindo estruturas e

laboratórios, nem grandes investimentos por parte dos mantenedores.

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Foram compostos cinco grupos heterogêneos, com cinco participantes cada. Dois

destes, formados por alunos egressos há dois anos do curso de Administração de Empresas;

um da PUC/SP e outro da UNIVERSIDADE 2. Serão entrevistados cinco alunos e cinco

professores por instituição, totalizando dez alunos egressos e dez professores e, ainda, cinco

gerentes de recursos humanos, a fim de relacionarmos as facilidades e dificuldades dos alunos

no mercado de trabalho às ações gestoras por eles realizadas e suas respectivas repercussões

na produtividade da empresa onde trabalham; relacionar habilidades e competências

trabalhadas e adquiridas na sua formação acadêmica, com o sucesso ou fracasso nos primeiros

anos de atividade profissional, bem como com o perfil esperado e desejado pelos

empregadores.

Recorreu-se a entrevistas semi-estruturadas, pois, assim, o informante teria também a

possibilidade de discorrer sobre o tema proposto. As questões foram previamente definidas e

tomou-se o cuidado de fazê-las em um contexto muito semelhante ao de uma conversa

informal. Durante as entrevistas, a pesquisadora estava muito atenta para dirigir a discussão

para o assunto da pesquisa, fazendo perguntas adicionais para elucidar alguns aspectos que

não estivessem claros, o que não possibilitou ao entrevistado fugir do tema. Segundo Selltiz et

alii, 1987:

[...] a entrevista tem um índice de repostas bem mais abrangente, uma vez que é mais comum as pessoas aceitarem falar sobre determinados assuntos. Outra vantagem diz respeito à dificuldade que muitas pessoas têm de responder por escrito.

Quanto às desvantagens da entrevista semi-estruturada, dizem respeito muito mais às

limitações do próprio entrevistador, como por exemplo, a escassez de recursos financeiros e o

dispêndio de tempo. Por parte do entrevistado há insegurança em relação ao seu anonimato e,

por isso, muitas vezes o entrevistado retém informações importantes. Essas questões são,

ainda assim, melhor apreendidas pela entrevista semi-estruturada. “A arte do entrevistador

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consiste em criar uma situação onde as respostas do informante sejam fidedignas e válidas”

(ibidem, p. 644).

Na visão de Bourdieu (1999), o sociólogo deve fazer as vezes do parteiro, na maneira

como ele ajuda o pesquisado a dar seu depoimento, deixar o pesquisado se livrar da sua

verdade. Este autor considera que a entrevista é um exercício espiritual, é uma forma de o

pesquisador acolher os problemas do pesquisado como se fossem seus. É olhar o outro e se

colocar no lugar do outro. Portanto, o sociólogo deve ser rigoroso quanto ao seu ponto de

vista, que não deixa de ser um ponto de vista de um outro ponto de vista, o do entrevistado.

A entrevista deve proporcionar ao pesquisado bem-estar para que ele possa falar sem

constrangimento de sua vida e de seus problemas e, quando isso ocorre, surgem discursos

extraordinários. Bourdieu (ibidem) menciona que os pesquisados mais carentes geralmente

aproveitam essa situação para se fazerem ouvir, levar para os outros sua experiência e, muitas

vezes, é até uma ocasião para se explicarem, isto é, construírem seu ponto de vista sobre si

mesmos e sobre o mundo. Por vezes, esses discursos são densos, intensos e dolorosos e dão

certo alívio ao pesquisado. Alívio por falar e, ao mesmo tempo, refletir sobre um assunto que

talvez os reprima. Nesse caso, pode-se até dizer que seja uma auto-análise provocada e

acompanhada.

Neste trabalho, as sessões de entrevistas variaram de 40 minutos a duas horas, foram

gravadas em videocassete e transcritas para posterior análise. Os participantes foram

escolhidos por meio dos seguintes procedimentos: contacto com a secretaria do curso para

solicitação de listagem de alunos egressos há dois anos das universidades, com respectivos

telefones; visitas às instituições para entrevistar os professores do curso de Administração de

Empresas; contato com os coordenadores do curso para obtenção do projeto pedagógico,

grade curricular, ementas, manual de estágio e informações sobre funcionamento e

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aplicabilidade de empresa júnior; indicação de diretores de recursos humanos das grandes

empresas, feita pelos professores entrevistados.

A pesquisa teve como fonte documental nas duas faculdades: Projeto Pedagógico,

Manual de estágio, Planejamento do curso de ADM (com as respectivas ementas), Matriz

curricular, Histórico e caracterização da clientela de ambas as instituições. Da PUC/SP,

obtivemos também o manual de orientação do TCC (trabalho de conclusão de curso), o

manual da PUC Júnior, além do contato com a Associação dos Ex-alunos.

Os dados secundários foram coletados de pesquisas realizadas pelos institutos oficiais:

INEP, IPEA, IBGE, CAPES, CNPQ.

Das instituições Superiores de ensino esperamos, por meio da análise do Projeto

Político Pedagógico e de outros documentos, conhecer o currículo, o planejamento, as

ementas e a bibliografia dos cursos de Administração de Empresas; investigar se desenvolvem

pesquisas, estágio supervisionado, trabalho de conclusão de curso e ou iniciação científica,

para tornar evidente se as faculdades de administração estão preparando adequadamente os

alunos para ingressarem no mercado de trabalho.

De posse dos dados primários e secundários das grandes empresas e/ou corporações,

esperamos conhecer as exigências do mercado de trabalho no mundo globalizado e o tipo de

profissionais que o mercado está absorvendo Dos alunos egressos esperamos saber qual sua

posição no mercado de trabalho e quais as dificuldades enfrentadas para a obtenção do

emprego; dos professores queremos informações sobre suas reais condições de trabalho para o

cumprimento das exigências das instituições de ensino superior propostas em seus projetos

pedagógicos.

Cabe ressaltar, portanto, que, neste trabalho, pretende-se reunir os dados para análise e

avaliação nas diversas etapas da pesquisa utilizando-se, para tanto, múltiplas fontes:

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a) documentos – serão analisados: LDB, projeto político pedagógico, plano de carreira

dos professores, missão das universidades, metas, objetivos, currículos, estágios

supervisionados, avaliações, horários, carga horária, sistema de notas e faltas, dentre outros;

b) entrevistas – as entrevistas serão de natureza semi-estruturada, realizadas com

alunos egressos, professores, e chefes de recursos humanos.

Assim, procuramos condições para comprovar ou não a hipótese central desta tese,

qual seja, os cursos de Administração de Empresas oferecidos pelas universidades mercantis

de massa não preparam adequadamente os universitários para o enfrentamento do mercado de

trabalho segundo os padrões de excelência.

Estrutura da tese

O 1º capítulo apresenta o panorama do ensino superior brasileiro oferecido pelas

universidades públicas e particulares, decorrentes das condições de sua expansão e das

condições de trabalho dos professores. Será analisado o trabalho dos professores nas

universidades consideradas de alto padrão educacional e dos que atuam nas universidades

particulares do tipo mercantil de massa.

O 2º capitulo propõe-se a analisar a dinâmica do mercado de trabalho, que tipo de

profissionais se necessita para o enfrentamento da acirrada competição nos mercados

internacionais.

No 3º capítulo, discute-se a relação entre trabalho e educação, sobretudo no que se

refere à participação da educação, avaliada em termos de habilidades e competências, na

qualificação dos trabalhadores.

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No 4º capitulo serão feitas análises das instituições, objetos da pesquisa, pretendendo-

se mostrar que tipo de profissionais essas instituições estão preparando para o mercado de

trabalho (objeto de nosso estudo).

No 5º capitulo apresenta-se a análise dos dados da pesquisa.

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1 O ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO

Não se pretende aqui reconstituir a história da universidade brasileira, mas apenas

apresentar alguns fatos que parecem ser fundamentais para subsidiar nossas reflexões,

delineando alguns eixos para a compreensão da situação atual das escolas de ensino superior

do país. Pretende-se demonstrar que, em grande parte, as universidades particulares

brasileiras, que deveriam buscar a excelência no que tange ao tripé ensino, pesquisa e

extensão, e o conseqüente preparo para o mundo do trabalho, vêm se tornando espécies de

“vendedoras de diplomas” sem a mínima preocupação com os futuros profissionais por elas

formados. Luiz Antonio Cunha, em seus vários estudos, costuma ressaltar que a universidade

brasileira pouco conhece de si mesma, pouco exerce sua capacidade de pesquisa e de crítica

sobre si: “é compreensível que assim seja, mas não é aceitável, tratando-se de uma instituição

que historicamente se define como uma instituição crítica” (1988, p. 120).

Recorre-se ao percurso feito pelo autor supracitado, percurso de fundamental

importância para a compreensão do descalabro atual da educação superior particular no

Brasil, pois urge explicitar algumas das características constitutivas da concepção de

universidade: uma instituição histórico-crítica, e não uma ilha, que deve refletir as virtudes e

vicissitudes da sociedade em que está inserida e, assim, em permanente tensão entre o

fortalecimento de sua autonomia, condição da qualidade acadêmica de suas práticas, e a busca

incessante de pertinência ou relevância social, fonte de sua legitimação e justificativa de seu

financiamento.

Historicamente, a universidade foi "instituída" por volta do século XII na Europa para

atender a determinadas necessidades, entre elas, formar quadros para o exercício de atividades

na Igreja, no direito e na medicina, e, posteriormente, em outras artes liberais. Instituição

social e histórica, ela assumiu, paulatinamente, diversas facetas, buscando estar em sintonia

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com a sociedade (sua instituidora), e, ao mesmo tempo, dela se distanciou para exercer sua

capacidade crítica. Se durante os primeiros séculos suas práticas estavam predominantemente

voltadas para a formação (o ensino), posteriormente, passou a desenvolver a pesquisa

científica, filosófica e artístico-cultural, e, mais recentemente, a participar mais diretamente

do desenvolvimento econômico e social.

Durante muito tempo o conhecimento foi produzido fora dela, e, ainda hoje, boa parte

dele o é. Todavia, permanece sua marca de "lócus privilegiado" do exercício da razão e da

crítica, sem coerção limitante. Permanece como espaço ímpar de processamento crítico,

analítico, de sistematização e integração da ciência e da cultura produzida tanto por ela, como

fora dela.

Instituição social e histórica, a universidade está hoje desafiada a exercer sua

capacidade de pesquisa e de crítica num contexto de profundas mudanças em seu entorno

econômico/sócio/cultural sem, contudo, romper com princípios e diretrizes construído

historicamente, tais como: a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão; a autonomia

universitária; o financiamento pelo setor público; a gestão colegiada e democrática, o padrão

unitário de qualidade.

O desafio é, pois, estar aberta às demandas da sociedade, a suas expectativas, à

negociação com o estado e com os órgãos diversos de fomento à pesquisa, sem abrir mão dos

princípios já referidos, buscando construir um equilíbrio sutil entre as exigências da qualidade

acadêmica e a necessária pertinência/relevância social em todas as atividades que desenvolve,

inclusive, nas propriamente administrativas.

Importa, portanto, dentro desta perspectiva, oferecer um ensino de qualidade, isto é,

direcionar as atividades de ensino-aprendizagem para formar o profissional com pleno

domínio dos fundamentos de sua profissão, com capacidade de apropriar-se criticamente das

inovações em sua área e de participar ativamente da construção de uma sociedade mais justa e

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mais democrática. Isso exige, entre outras coisas, identificar e promover as condições que

contribuam para superar qualquer forma de superficialidade da formação em nível de

graduação e de pós-graduação.

Para tanto, deveriam impor-se como metas:

a) o fortalecimento das atividades de pesquisa, quer como procedimento formativo

(com maior ênfase na pós-graduação), quer como exercício de criação do conhecimento,

preferencialmente, em temáticas suscetíveis de possíveis desdobramentos de aplicação para o

desenvolvimento econômico, social e cultural – da região onde está inserida a universidade e

do país;

b) o desenvolvimento de políticas de extensão como uma dimensão do ensino e da

pesquisa, isto é, como uma atividade de formação acadêmica, científica e cultural de seu

corpo discente, e não como vitrine da sua legitimação, nem prioritariamente como fonte

diversificada de recursos, o que a aprisionaria na armadilha da lógica mercantil.

O marco da universidade no Brasil deu-se, mais precisamente, com a transferência da

corte portuguesa e a interrupção das comunicações com a Europa. A transferência da família

real para o Brasil transformou o país em sede da coroa portuguesa. Essa mudança

impulsionou a implantação de medidas administrativas, econômicas e culturais para o

estabelecimento da infra-estrutura necessária ao funcionamento do Império. Surgiu, portanto,

a necessidade da formação de profissionais que atendessem a essa nova situação. A criação

dos primeiros estabelecimentos de ensino superior buscava formar quadros para os serviços

públicos voltados à administração do país. As áreas privilegiadas eram medicina, engenharia e

direito.

Em 1808, foram criados os primeiros estabelecimentos de ensino médico-cirúrgico de

Salvador e do Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro foi cenário de outras iniciativas culturais e

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científicas, como a criação da Imprensa Régia, da Biblioteca Nacional e dos primeiros

periódicos científicos.

Antes desse período, os brasileiros interessados em cursar universidades iam para

Portugal ou outros países da Europa. Havia grande preocupação da coroa em relação à

formação intelectual e política da elite brasileira, pois ela procurava de todas as formas manter

o Brasil como colônia, evitando quaisquer possibilidades de desenvolvimento de ideais de

independência.

Na década de 1820, criaram-se as primeiras Escolas Régias Superiores no Brasil. Entre

elas, podemos citar: a de direito em Olinda, Pernambuco; a de medicina em Salvador, Bahia;

e a de engenharia, no Rio de Janeiro. Outros cursos foram criados posteriormente, como os de

agronomia, química, desenho técnico, economia política e arquitetura.

A criação de universidades foi amplamente discutida por grupos sociais diversos no

país, apenas no século XX, porém, surge a primeira universidade brasileira. Apesar das

controvérsias históricas, parece ser consensual entre os historiadores que a primeira

universidade criada pelo governo federal brasileiro foi a do Rio de Janeiro, em 1920, que

aglutinou as escolas politécnica, de medicina e de direito, já existentes.

Reunir escolas e/ou faculdades já fundadas tornou-se uma marca do desenvolvimento

do sistema de ensino universitário brasileiro. Baseadas na Universidade do Rio de Janeiro

foram criadas as universidades federais nos estados. A presença de oligarquias na sua criação

e os diversos acordos realizados entre o poder federativo e os estados são apontados como

intimamente relacionados aos diversos caminhos trilhados pelas universidades brasileiras.

Para grande parte dos historiadores, a instauração de muitas universidades significou o desvio

de recursos financeiros para os estados, local de prestígio político e de emprego para os filhos

das elites.

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É interessante observar que, no Brasil, o ensino superior teve um crescimento

exagerado nos anos de 65 a 80 do século passado. O crescimento exagerado provocou

problemas e a crise se agravou ainda mais na medida em que coincidiu com o regime militar,

que muitas vezes agiu contra estudantes, professores e cientistas. Segundo afirma

Schwartzman:

[...] o ensino superior no Brasil teve a explosão das matrículas entre 1965 e 1980 -- de 150 mil a um milhão e meio de estudantes em quinze anos. Esta expansão acompanhou uma tendência internacional de ampliação progressiva do acesso ao ensino superior, e coincidiu, no Brasil, com um regime militar: num período de quinze anos, o número de matrículas passou de 150 mil a um milhão e meio de estudantes no Ensino Superior (Schwartzman, 1988, p. 29).

Em 1968, teve início a grande reforma universitária que implantou o sistema

atualmente vigente, impulsionada pelo regime militar.

Em muitos sentidos, pareceria que o ensino superior no Brasil poderia escapar da

síndrome de massificação, politização, burocratização e má qualidade, que afetou a maioria

das instituições universitárias latino-americanas.

Ao contrário dos demais países da América Latina, que, diante da demanda de

democratização do ensino, acabaram massificando as universidades públicas, o regime militar

optou por investir na formação de uma universidade pública de elite, voltada para a pesquisa.

Isso acarretou a implantação de programas de pós-graduação, institucionalização da pesquisa

acadêmica, criação de estímulos para o desenvolvimento de pesquisas e para obtenção de

graus acadêmicos, e, por fim, a manutenção de um número estável e restrito de alunos,

impedindo, desta forma, sua massificação.

Paralelamente, optou por incentivar a criação de um sistema de ensino superior de

massa que atendesse à elevada demanda social, por meio de uma rede de estabelecimentos

isolados sob a iniciativa privada, dedicada basicamente à transmissão de conhecimentos em

grande escala.

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O ensino universitário brasileiro era muito diferenciado, com dois importantes

sistemas públicos (o federal e o estadual) e um amplo e diversificado setor privado. Está,

portanto, dividido entre universidades públicas financiadas pelo estado (aproximadamente 31

universidades) e universidades privadas de caráter confessional. O chamado setor privado era

composto por aproximadamente 11 universidades de inspiração católica e uma universidade

presbiteriana, a Mackenzie.

“Universidade particular” era sinônimo de “universidade confessional”. Essas

universidades, embora particulares, pela própria missão educacional das instituições

religiosas, tinham certa preocupação com a qualidade do ensino e, em maior ou menor grau,

ao longo dos anos, algumas delas se enquadraram no modelo de universidade impulsionado

pelo governo militar, voltado para a pesquisa e com programas de pós-graduação. Nesse

período, a universidade ou era gratuita ou era paga, mas a instituição que cobrava pelos

serviços educacionais não tinha e nem poderia ter fins lucrativos.

O regime militar de 64 implantou uma política de modernização e reestruturação do sistema universitário impulsionada a partir da Lei no 5.540 de novembro de 1968, incluindo importantes bandeiras do movimento estudantil e de docentes das décadas de 50 e 60, tais como: a abolição da cátedra; a criação do departamento como unidade de ensino e pesquisa; a organização do currículo em duas etapas: a básica e a de formação profissionalizante; a adoção do sistema de crédito e da semestralidade; a institucionalização da pesquisa (Sampaio, 1998, p. 44).

A reforma universitária de 1968 aboliu, portanto, o antigo sistema de cátedra que

emperra o funcionamento das universidades na maioria dos países latinos, e abriu espaço para

a criação de programas de pós-graduação, pesquisa científica e para a contratação de

professores em regime de tempo integral. Segundo Schwartzman (1988, p. 100):

A reforma de 1968, conjugada com a preocupação de certos setores governamentais com as questões de desenvolvimento científico e tecnológico, permitiu que o Brasil desenvolvesse o maior sistema de pós-graduação e pesquisa científica entre os países do terceiro mundo. Ainda que a participação política tenha estado sempre presente em nossas universidades ela normalmente não conduziu à polarizações partidárias radicais e insuperáveis.

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E até hoje tem sido possível evitar os problemas da admissão em massa de estudantes

sem um mínimo de qualificação, o que tem permitido a manutenção e mesmo melhoria da

qualidade do ensino em muitas instituições e cursos.

Além dessas medidas, a reforma universitária reconheceu no plano legal a autonomia

didático-científica, disciplinar, administrativa e financeira da universidade, limitada,

entretanto, pelo Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, e pelo Decreto-Lei nº 477,

de fevereiro de 1969. Sobre isso, Fávero (1998, p. 198) afirma:

[...] durante o regime militar, a gravidade do que acontecia em relação à universidade não estava expressa nos dispositivos legais, mas ocorria fora dessas normas: a universidade, como a sociedade, foi submetida a um regime de terror e de silêncio. A criação e a manutenção das Assessorias de Segurança dentro das universidades, a fim de impedir que mecanismos democráticos, mesmo quando previstos em lei, chegassem a ser efetivamente usados ou implementados, exemplificam muito bem essa realidade.

A reforma universitária instituída pela Lei 5.540/681 originou-se, segundo Cunha (in: Lopes,

2000, p. 176), como forma de neutralizar “o poder das cúpulas dirigentes da universidade”, a

partir da organização estudantil pela redemocratização do ensino e autonomia institucional.

Segundo o mesmo autor:

[...] podemos destacar como aspectos positivos a extensão do regime de cátedras e as mudanças na organização administrativa e acadêmica nas instituições federais. A reforma teria princípios de um ensino público de qualidade e com eqüidade, de valorização profissional docente, criação de institutos de pesquisa e autonomia das universidades. No entanto, paralelamente aos movimentos estudantis que ganhavam força pelas mudanças que se faziam iminentes, a reforma assumiu uma feição predominantemente organizacional, com clara inspiração taylorista e economicista (ibidem, p.180).

A estrutura social militarista que tomou forma com o Golpe Militar de 1964 colaborou

veementemente para redirecionamento das idéias e dos ideais da reforma universitária através

1 Lei 5540/68 – Lei da Reforma Universitária. Essa Lei se tornou referência para a reestruturação do ensino

superior brasileiro tendo como pressupostos a privatização do ensino.

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de um consenso de que o ensino superior brasileiro precisava ser reformado, mesmo que

ocorresse por motivos distintos.

Sob a perspectiva controladora militarista, foram firmados vários acordos com

instituições estrangeiras para o financiamento educacional brasileiro, como o USAID2. Planos

de ação foram lançados e vários projetos desenvolvidos no intuito de reformular a educação

superior segundo a ideologia de um governo ditatorial e repressivo.

A Lei 5.540/68 tornou-se a referência para a reestruturação do ensino superior

brasileiro, tendo como pressupostos: a privatização do ensino em detrimento das instituições

públicas, o financiamento das instituições privadas e a orientação da formação universitária

para o mercado de trabalho.

Desde então, é perceptível que a reforma universitária de 1968, a partir da

desvalorização docente, do distanciamento entre formação intelectual e mundo do trabalho, da

multiplicação de instituições privadas com baixa qualidade, da redução de instituições

públicas, contribuiu, de maneira decisiva, para o nosso descalabro atual, tal como

pretendemos mostrar ao longo deste trabalho.

A política educacional existente no período do regime militar influenciou

significativamente a educação. Para Saviani (1996, p. 80), a lei 5.540 é um

[...] típico produto do regime instaurado no país em 1964, e seus resultados não poderiam ser outros que não o da empulhação e do consentimento com relação ao governo vigente em detrimento de uma reforma universitária que firmasse a vocação da liberdade, da igualdade e da independência do povo brasileiro.

Ainda hoje, passados 39 anos da reforma universitária pela Lei 5540/68, percebemos o

indício de um consenso privatizante no ensino superior brasileiro. Presenciamos cada vez

2 MEC/USAID- Acordo feito entre o MEC Ministério da Educação e Cultura e USAID(United States Agency for

International Development –, com a finalidade de reformular a educação superior segundo a ideologia de um governo controlador e repressivo.

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mais a desobrigação do estado em relação à educação e o incentivo às instituições privadas,

sem nenhuma exigência do comprometimento com uma séria relação entre ensino/pesquisa e

formação superior.

Apesar de vivermos um contexto social diferenciado da ditadura, imposta pelo regime

militar em 1964, notamos que a estrutura capitalista das sociedades atuais e o processo

mundial de globalização reforçam a visão de uma educação elitista. Esta visão favorece a

criação de instituições de ensino de baixa qualidade e silencia a população através de cotas,

exames nacionais e outras “facilidades” que colaboram com um possível ingresso dos

educandos das classes menos favorecidas nas instituições públicas de maior qualidade. E, ao

mesmo tempo, políticas federais de inclusão na educação básica da rede pública de ensino são

realizadas de acordo com as políticas educacionais mundiais financiadas, entre outros, pelo

Banco mundial e pelo BIRD (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Como exemplo

que atinge diretamente as universidades, temos o PROUNI (Programa Universidade para

Todos).

Muitos autores afirmam que as universidades brasileiras foram copiadas da França,

porém, a verdade é que no Brasil nunca se entendeu com clareza, nem se pretendeu imitar de

forma explícita, a dualidade que é o aspecto mais saliente do ensino superior francês, ou seja,

um conjunto de "grandes écoles" altamente elitizadas, orientadas para a formação de quadros

de alto nível e as universidades propriamente ditas, abertas para o grande público.

Segundo Schwartzmann (1988, p. 127):

O que copiamos, certamente, foi a centralização administrativa e a burocratização. As primeiras escolas profissionais, criadas com D. João VI, eram controladas em todos seus detalhes pelo governo central, que regulava, em lei, os currículos, o conteúdo dos programas, os horários, as taxas que os estudantes deveriam pagar e tudo o mais. A nomeação de professores, como não poderia deixar de ser, era controlada pelo governo, e não pelas escolas.

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Deve-se lembrar que, na década de 1960, a pressão social por vagas no ensino

universitário era muito grande, continuamente havia manifestações e mobilizações dos alunos

que tinham conseguido entrar na universidade, mas não estudavam, pois não havia vagas, os

famosos "excedentes". Em 1960, eram aproximadamente 28.728 alunos excedentes; em 1968,

início da reforma universitária, esse número saltou para 125.414 alunos; em 1971, esse

número chegou a 161.176 alunos. Como afirma Martins (1981, p. 94):

O problema dos excedentes foi contornado através de uma avalanche de autorizações para abertura de novas escolas e, ao mesmo tempo, a permissão para as instituições já existentes aumentarem suas vagas sem atender a grandes exigências burocráticas.

Com o avanço e o desenvolvimento do capitalismo no Brasil, a necessidade de mão-

de-obra qualificada ampliou-se juntamente com a necessidade de expansão da educação

escolar.

No que tange ao ensino superior, “expandiu-se, principalmente, o de caráter privado

que recebeu considerável incentivo do governo, até mesmo através de verbas públicas; em

1973, chegaram a receber 39% dos recursos públicos do ensino superior” (Cunha, 1988,

p.74). O ensino superior também se tornou uma relevante estratégia para a reprodução e

ampliação da chamada classe média, considerada de suma importância para o mercado

consumidor no modelo de desenvolvimento econômico da época. E, desse modo, “era

necessário despolitizar o campo acadêmico, neutralizar as ações de contestação do movimento

estudantil, ligado a organizações populares, e mantê-lo sob rígido controle” (Germano, 1993,

p.104).

As instituições de ensino superior no Brasil sofreram profundas fragmentações em sua

organização interna; as universidades passaram a ser um problema constante, os militares

partiram para a ação direta de intervenção e, para isso, foi promulgado o Decreto nº 62.024,

em 1967, que instituía uma comissão especial para sanar esses problemas.

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O Relatório Meira Mattos, resultado dessa comissão, levou três meses para ficar

pronto e apresentou as seguintes medidas:

a) determinou que o Presidente da República escolhesse os reitores e os diretores das

universidades e faculdades federais, que deveriam se responsabilizar pela disciplina nesses

estabelecimentos – pretendia-se, com isso, retirar do movimento esquerdista a participação

estudantil;

b) sugeriu e possibilitou a contratação de professores pela legislação trabalhista

(Consolidação das Leis do Trabalho);

c) instituiu o sistema de promoção por créditos, que, se não teve como objetivo a

desmobilização estudantil, teve sobre ela considerável conseqüência, porque com os

estudantes dispersos, é mais difícil a organização de movimentos.

Nesse período, o ensino superior sofreu várias influências norte-americanas; o governo

da época acreditava que, para modernizar o ensino superior brasileiro, tinha de se basear no

modelo norte-americano de universidade. Para isso, foram fornecidas 3.800 bolsas de estudos

nos EUA para brasileiros, só no período de 1965/70 (todas concedidas somente pela United

States Agency for International Development – USAID). Vários acordos para o ensino

superior firmaram-se entre a USAID e o Ministério da Educação e Cultura (MEC), sendo os

cursos de pós-graduação, criados na época, os maiores “beneficiados”. Mas o principal

acordo, que foi feito em junho de 1965 e ficou conhecido como “convênio MEC-USAID”,

visava organizar uma equipe de assessoria ao planejamento do ensino superior, reunindo

técnicos brasileiros e norte-americanos.

Durante as décadas de 60 e 70, o acordo firmado entre MEC e USAID ocorreu de

forma organizacional, com o objetivo de criar uma nova linha política para o ensino superior

no Brasil. O primeiro acordo MEC-USAID previa a criação da EPES (Equipe de

Planejamento do Ensino Superior) que, segundo Cunha (op. cit., p. 117), seria responsável

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pela implantação de um sistema ideal de ensino superior para o Brasil como também por fazer

sugestões em toda organização técnica, curricular e no provimento de pessoal docente,

administrativo e de pesquisa. As medidas impostas pelo acordo MEC-USAID visavam atingir

principalmente o ensino superior, pois este tinha um papel estratégico na formação dos

quadros técnico-profissionais brasileiros, alinhados com a política norte-americana.

Na década de 1990, o financiamento e a intervenção internacional na educação

brasileira têm um “novo” protagonista: o Banco Mundial. Com a Declaração de Jontien,

órgãos como UNICEF, UNESCO e o próprio Banco Mundial estabelecem as diretrizes de

uma “Educação para Todos”, considerando como prioridade a ampliação da oferta de ensino e

a estruturação da educação básica.

O Banco Mundial ampliou suas funções para além da assistência técnica e financeira

propriamente ditas, passando a elaborar políticas para os setores a serem financiados, entre

eles, a educação.

Segundo Vieira ([s.d.], p.75):

[...] a importância crescente do Banco Mundial no mundo é decorrente de seu destaque como principal organismo de financiamento de projetos de desenvolvimento no cenário internacional e seu papel estratégico no reordenamento da ordem mundial através do incentivo às políticas de ajuste estrutural nos países em desenvolvimento.

Nota-se que os acordos internacionais firmados entre MEC-USAID e Banco Mundial

tiveram interesses diferenciados, no entanto, se complementaram para a instituição do modelo

econômico liberalista a partir da educação. Nas décadas de 60/70, a USAID enviou técnicos

americanos com o objetivo de elaborar e estabelecer uma educação voltada para interesses

políticos ideológicos americanos, utilizando-se, para isso, da reestruturação do ensino

superior, em que concentrava seus esforços e preocupações. Já na década de 90, o Banco

Mundial prestou assessoria econômica na forma de cooperação para garantir os projetos da

“Educação para Todos”, no entanto, essa política de financiamento exclui as universidades e

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determina a política mínima de intervenção estatal nas instituições de ensino superior da rede

pública. Mais uma vez, presenciamos a sobreposição do privado ao público, que corrobora a

versão neoliberal do mercado capitalista.

Segundo Oliveira (2000, p. 105):

[...] as políticas de reforma educacional passaram a ser justificadas pela necessidade de respostas e soluções para os problemas de insuficiência no atendimento, por parte do poder público, da universalização da educação básica e, conseqüentemente, das novas demandas econômicas no contexto da reestruturação capitalista.

Talvez a melhor forma de abordar os acordos que interferiram significativamente na

educação brasileira seja trazer à tona discussões que apontem como as aspirações individuais

pelo conhecimento vêm sendo negligenciadas por esse modelo educacional, que determina, a

priori, a formação que o indivíduo deve ter.

Desenvolver o pensamento de que a cidadania se faz a partir da transparência e da

defesa de interesses coletivos e defender a idéia de que a cooperação não se desenvolve pela

ótica ideológica de massificação do indivíduo, e sim pela extensão de direitos e igualdade

social, exigem uma nova postura perante a missão central do ensino superior. Exercer a

função docente em uma universidade, atualmente, demanda, por parte do educador, a

aquisição de um conhecimento construído, consistente e uma visão global do processo

educativo.

A “USAID encarava o ensino superior como elemento da formação de recursos

humanos e estes como meios para o aumento da produção industrial e da produção agrícola”

(Cunha, 1988. p.168). Também era importante estar no controle deste nível de ensino, pois era

nele que se formava a maioria dos dirigentes do país.

Para a transformação do modelo universitário vigente, era necessário modificar a

legislação que regulava o setor. Então, em 2 de julho de 1968, é baixado um decreto

presidencial que instituía um Grupo de Trabalho no MEC, cujos 11 componentes foram

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designados pelo presidente-general Artur da Costa e Silva, que estabeleceu um prazo de 30

dias para que o GT apresentasse seu projeto de reforma universitária. O grupo iniciou

trabalhos baseando-se nos estudos produzidos pelo convênio MEC-USAID e pelo Relatório

Meira Mattos.

É importante relatar que a reforma universitária era uma luta de estudantes e alguns

professores, que não tiveram suas propostas atendidas. O governo, sob pressões de tendências

desenvolvimentistas de âmbito nacional e internacional, resolveu tomar a liderança, até

mesmo para assegurar o controle e a ordem; assim, ele poderia modernizar o ensino superior,

como diz Romanelli (1986): “[...] sem romper com antigas tradições, nem ferir interesses

conservadores, e, mais uma vez em nossa história política, o interesse social era substituído

pela decisão de poucos”.

É preciso dizer que o governo militar não considerou necessário editar uma nova lei de

diretrizes e bases por completo, por isso modificou somente o ensino universitário através da

Lei 5.540/68, e, mais tarde, o ensino primário e secundário através da Lei 5.692/71.

Com a promulgação da Lei 5.540, em 28 de novembro de 1968, profundas mudanças

aconteceram no ensino superior. A lei exigia que o ensino superior acontecesse somente em

universidades (baseadas no tripé ensino-pesquisa-extensão), sendo ministrado em

estabelecimentos isolados (como faculdades) somente em casos excepcionais. Sabemos que

não foi isso o que aconteceu de fato; na verdade, foram as universidades que se tornaram

excepcionais, como podemos verificar na tabela abaixo.

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Tabela 1 - Instituições de ensino superior, segundo sua natureza organizacional Anos Universidades Estabelecimentos Isolados Total 1971 64 555 619 1972 65 636 701 1973 57 800 857 1974 57 773 830 1975 57 803 860

Fonte: Anuários Estatísticos do Brasil (v. 33-39) - 1972/1978 - IBGE

Nas universidades, baseadas no ensino, pesquisa e extensão, deveriam ser criados

cursos de graduação (de curta ou longa duração), pós-graduação, extensão, aperfeiçoamento,

especialização e pesquisa. Mas, a estrutura organizacional desse tipo de ensino superior é

muito dispendiosa, o que acarretou a criação de várias faculdades (estabelecimentos isolados

ou instituições similares), principalmente na esfera privada, já que essa estrutura é menos

dispendiosa do que a organização em universidade. A maior parte do setor privado optou por

esse último tipo de estabelecimento de ensino superior, o que lhe possibilitou torná-lo uma

empresa altamente lucrativa.

As instituições privadas foram amplamente favorecidas por esse governo, expandindo-

se muitíssimo no período, como se pode ver na tabela seguinte. O fenômeno foi considerado

por Cunha como uma expansão fragmentadora do ensino superior, já que essas instituições

muitas vezes eram abertas sem as menores condições de proporcionar ensino de boa

qualidade, pois tinham bibliotecas e laboratórios de péssima qualidade, bem como professores

que não possuíam boa formação. Essas empresas de ensino visavam somente ao lucro, não se

importando com a qualidade do ensino ou com a formação de seus alunos enquanto sujeitos

críticos e competentes para o mercado de trabalho.

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Tabela 2 - Instituições de ensino superior segundo sua natureza administrativa Anos Federal Estadual Municipal Particular Total 1971 53 80 51 435 619 1972 55 74 52 520 701 1973 56 85 85 631 857 1974 47 78 77 628 830 1975 46 82 87 645 860

Fonte: Anuários Estatísticos do Brasil (v. 33-39). 1972/1978. IBGE

É importante lembrar, também, que a maioria dessas instituições de ensino superior

privadas era composta por estabelecimentos isolados; por exemplo, no ano de 1975, das 645

instituições privadas, 625 eram estabelecimentos isolados de ensino superior (Anuário

estatístico do Brasil, 1977, v.38/IBGE).

Segundo o último censo do ensino Superior (2006), o total de universidades, centros

universitários e faculdades isoladas no Brasil era 2270, sendo que somente 248 deste total

eram instituições públicas (conforme tabela 3).

Tabela 3 - Universidades, Centro Universitários, Faculdades Isoladas Total Capital Interior

BRASIL 270 811 1.459 Pública 248 82 166 Federal 105 55 50

Estadual 83 27 56 Municipal 60 - 60

Privada 2.022 729 1.293 Particular 1.583 77 1.006

Comun/Confes/Filant 439 152 287 Fonte: censo do ensino superior 2006

Em São Paulo, predominam as universidades privadas. São 30, sendo 15 particulares e

15 confessionais, contra apenas oito públicas.

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Outro fator de extrema importância para a expansão do ensino superior privado foi o

Relatório Atcon3, cujo autor foi contratado pelo MEC, no período de 1965/68, para planejar

mudanças no ensino superior brasileiro. Baseando-se nos modelos norte-americanos, o

professor Rudolph P. Atcon disseminou muito bem a idéia de privatização deste nível de

ensino. Para ele, a universidade deveria ter autonomia acadêmica, científica, e,

principalmente, financeira, livre da interferência estatal, devendo funcionar como se fosse

uma empresa privada. O Relatório Atcon também teve importante influência na proposta de

reforma universitária feita pelo GT.

Com a expansão desenfreada do ensino superior privado, o número de graduados

aumentou e o título acadêmico perdeu a importância que possuía anteriormente, agora existia

um “exército de reserva” diplomado sem emprego e que começava a questionar a qualidade

do ensino recebido, pressionando o governo para envolver-se nessa discussão.

O Brasil vive um raro momento em que o ensino superior estatal é criticado em nome

da justiça social. As universidades públicas são ocupadas, gratuitamente, pelos filhos das

classes média e alta; nas universidades particulares ficam os demais.

A injustiça da universidade pública não reside no fato de que nela só entram os filhos

dos ricos — isso é injustiça social. A injustiça da universidade está em que todos aqueles que

dela saem trabalhem apenas para os ricos, em decorrência da estrutura, do currículo e dos

métodos de trabalho. “Formar e ser elite intelectual não é erro, é obrigação. Errado é só servir

à elite econômica e social” (Buarque, 1994, p.117).

O sistema universitário brasileiro, segundo Calderón (2002, p. 54):

[...] começou a vivenciar a partir do início da década de 1990 uma grande revolução no que diz respeito às opções para os cidadãos clientes-consumidores no campo acadêmico-universitário. O cenário das universidades paulistanas, até então

3 Relatório Atcon. Feito pelo professor Rudolph P. Atcon, contratado pelo MEC, no período de 1965 a 1968 para

planejar mudanças no ensino superior brasileiro, que disseminou a idéia de privatização do ensino superior.

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dominado pelas universidades públicas e pelas de cunho confessional, viu-se significativamente alterado com a entrada de um novo ator: as universidades particulares com explícitos fins lucrativos, geridas enquanto empresas educacionais, oferecendo produtos e serviços de acordo com a demanda do mercado, instituições estas que denominaremos universidades mercantilistas.

São essas universidades que estão dinamizando o mercado de ensino superior, um

mercado que não era visto enquanto tal, mas que está se revelando muito grande, bastante

lucrativo e competitivo, ampliando assim a prateleira de opções para os diversos perfis do

consumidor4.

Essa realidade traz para as Ciências Sociais verdadeiros desafios teóricos ao revelar a

multiplicidade de análises com implícitas opções político-ideológicas, bem como uma grande

polarização teórica.

No meio acadêmico, ainda existem autores que se prendem a modelos interpretativos

que impossibilitam aceitar a existência de universidades com diversos perfis. Insiste-se em

falar em “universidade brasileira”, como sinônimo de “universidade pública gratuita”,

supostamente equacionadora do ensino, da pesquisa e da extensão. Nesse sentido, torna-se

difícil aceitar afirmações categóricas, idealizadoras da universidade enquanto instituição

social, adotadas por muitos autores que se fixam no paradigma social-universalista, fruto do

estado social emergente no pós-guerra, defensores da universidade pública e do ensino

universitário como direito social, atividade não-lucrativa, e sua conseqüente provisão estatal.

4 Podemos esquematizar a existência de três tipos de cidadania que não se excluem mas, separadas, não se

realizam plenamente. A primeira seria a cidadania com valor econômico: o cidadão cliente, a segunda,o cidadão como um indivíduo conhecedor de seus direitos e deveres.e a terceira aquela em que o cidadão deve se articular com a posse efetiva dos bens materiais, simbólicos e sociais de seu tempo e para tal deve poder usufruir destes como consumidor consciente e crítico, possuidor de informações e conhecimentos afins. Existe, portanto, no momento, uma relação contraditória entre o cidadão cliente e cidadão como participante da economia e do estado. Isto é fruto da ausência de políticas distributivistas, produtoras de indivíduos aptos não só a coletar informações mas, principalmente, a produzir conhecimento de acordo com as necessidade pessoais e coletivas. Cf. MARTINS, Marcos Francisco. Uma “catarsis” no conceito de cidadania como eminentemente ética e política.

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O estudo das novas universidades revela a utilização de novos termos e categorias há

pouco impossíveis de serem aplicados à abordagem do ensino superior. Podemos citar dois

deles, aos quais já recorremos neste trabalho: mercado de ensino e cliente-consumidor. É

interessante verificar a rejeição de amplos setores acadêmicos à possibilidade de se

compreender o aluno universitário como um cliente-consumidor, a aversão de se considerar o

ensino universitário como um produto/serviço comercializado. São questões cujo caráter

polêmico se evidencia nos estudos e pesquisas produzidos sobre o ensino superior privado.

Como aponta Sampaio (1998, p. 167-168), boa parte da literatura acadêmica sobre a

expansão do ensino superior no país traz consigo uma visão negativa do ensino privado e, em

geral, esses estudos

[...] partem do princípio que o estado deve universalizar o ensino superior público e gratuito e que, portanto, a oferta privada é um desvio indesejado do sistema. Consideram que somente instituições públicas, mantidas com recursos exclusivos do estado, podem corresponder à missão da universidade: formar profissionais críticos, desenvolver o conhecimento e transformar a sociedade (…). A oferta privada de ensino superior é um mal que se propagou no sistema em virtude da política de favorecimento à iniciativa privada que vigorou durante o regime militar no país.

A autora afirma ainda que, em tempos de democracia, “a conspiração dos governos

militares que promoveu a expansão do ensino privado é substituída pela conspiração

neoliberal orientada por organismos internacionais”. Nessas análises, “o ensino superior

privado tem objetivos fundamentalmente mercantis (…), operando, em geral, como uma

fábrica de diplomas”.

Os empresários da educação optaram por investir na criação de estabelecimentos

isolados de pequeno porte e poucas foram as universidades mercantis criadas entre 1968 e

finais dos anos 80; elas proliferaram somente no início da década de 90. Para se ter uma

noção da rápida expansão dessas instituições de ensino após o início da reforma de 68, pode-

se dizer que, em 1971, havia 463 estabelecimentos isolados, e entre 1971 e 1975, foram

criados mais 162 instituições desse tipo.

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Foram precisamente esses estabelecimentos isolados que posteriormente, na década de

80, se transformaram em federação de escolas ou escolas integradas, e muitas delas adotaram

o status de universidade. Convém mencionar que essas transformações estão vinculadas

estritamente ao aumento de vantagens competitivas de mercado.

Aquelas novas universidades, que em suas origens foram estabelecimentos isolados ou

faculdades integradas, já tinham, desde aquela época, o caráter de instituição mercantil

enraizado. A respeito dessas instituições, Martins (1981, p. 80) havia apontado que

[...] a esmagadora maioria dessas instituições privadas que surgiram após o ano de 1968 se constituíram como empresas privadas capitalistas; ou seja, estavam voltadas para a procura de rentabilidade, utilizando a área educacional como um campo fértil para investimentos […] com a finalidade de obtenção de lucro e de acumulação de capital.

Ao longo das décadas de 70 e 80, quando da hegemonia das universidades públicas e

das universidades confessionais, dificilmente se poderia falar da existência de um mercado de

ensino universitário: existiam poucas universidades que o dinamizassem e possibilitassem o

princípio da concorrência. Essa época pode ser considerada um período de mercado restrito

ou de baixa concorrência. Se nos distanciarmos do mundo das universidades, poderíamos

afirmar que no mesmo período existia um grande mercado de ensino superior composto pelos

estabelecimentos isolados e faculdades integradas, havendo entre elas algumas diferenças.

Embora existissem poucas instituições de elite, a maioria delas era composta por faculdades

caracterizadas pela mera transmissão de conhecimentos e pela questionável qualidade,

formando um mercado fértil no qual concorriam instituições de ensino de segunda e terceira

divisões.

Tomando como referência o município de São Paulo, pode-se dizer que, em termos de

instituições de elite, até o final da década de 80, os cidadãos paulistanos tinham poucas

opções. Dentro da cidade, podiam tentar estudar na PUC/SP, USP, ou Mackenzie. Entre os

estabelecimentos isolados de elite de caráter público, existia a Escola Paulista de Medicina, e

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dentre os de caráter privado destacavam-se a Fundação Getúlio Vargas e a Escola Superior de

Propaganda e Marketing. Fora do município de São Paulo, a opção era migrar para outras

cidades e estudar nos campi da UNESP, UNICAMP, UFSCAR, PUCAMP.

No âmbito do ensino de massa, existiam os estabelecimentos isolados, os mesmos que

em sua maioria não eram valorizados pela elite acadêmica, pela mídia e pelas famílias de

classes média e alta. Estes estabelecimentos ofereciam duvidosa qualidade de ensino, não

possuindo nem status, nem prestígio, se comparados com as universidades e os

estabelecimentos isolados de elite citados. No entanto, diante da dificuldade de ingresso nas

universidades, essas instituições tornaram-se opção de estudo superior para um número de

alunos bastante elevado; por exemplo, a FMU tinha, em 1977, aproximadamente 20 mil

alunos, distribuídos em 16 prédios localizados na região sudeste, oeste, sul e centro da cidade

de São Paulo; no vestibular de 1979, ofereceram 6.700 vagas, algumas centenas de vagas a

mais se comparadas com as 6.240 vagas oferecidas pela USP.

Em municípios próximos de São Paulo foram criadas algumas universidades que,

respeitando as regras do jogo (ensino gratuito ou pago, mas sem fins lucrativos), se

autodenominavam entidades sem fins lucrativos. Eram universidades que tiraram o

monopólio confessional do ensino privado, tinham proprietários, eram de qualidade

questionável se comparadas com as universidades de elite, não eram valorizadas pelas elites

acadêmicas e sociais paulistanas, mas muito valorizadas em seus entornos territoriais. Elas

surgiram para atender à grande demanda regional por ensino superior da população, pois o

estado não podia suprir setores populacionais com recursos financeiros para pagar uma

universidade, mas sem condições de conseguir uma vaga em universidades de elite, seja pela

localização, seja pelas poucas e concorridas vagas oferecidas.

Em outras palavras, eram as primeiras novas universidades criadas para conquistar

uma fatia do mercado, liberando, dessa forma, pontos de tensão existentes em um sistema

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elitista que não conseguia atender às demandas de segmentos populacionais que almejavam a

inclusão no sistema universitário. Em 1973, foi criada a Universidade de Mogi das Cruzes;

em 1985, a Universidade Brás Cubas e, em 1986, a Universidade Guarulhos. Foi na segunda

metade da década de 80 que surgiu também uma nova universidade confessional católica, a

Universidade São Francisco, que recém começava a se expandir.

O surgimento dessas universidades ainda não tornava explícito o princípio da

concorrência entre as universidades na cidade de São Paulo, pois as universidades de elite não

encontravam concorrência e não havia alteração na oferta de serviços, porque as opções ainda

eram reduzidas se comparadas com o acirramento da competitividade do mercado na década

de 90.

Essas novas “universidades mercantis”, como alguns autores as chamam, (Almeida,

1997) surgiram de forma marcante a partir do final da década de 80. No município de São

Paulo, foram criadas no espaço de nove anos, entre 1988 e 1997, dez universidades mercantis

(Quadro 1) e uma universidade pública (a Escola Paulista de Medicina transformou-se na

Universidade Federal de São Paulo).

Quadro 1 - Universidades credenciadas ou criadas – município de São Paulo – 1988-1997

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Se considerarmos que até 1988 existiam em São Paulo somente quatro universidades

(uma universidade pública, a USP, e três confessionais comunitárias, PUC/SP, Mackenzie e a

nova Universidade São Francisco), até 1997 houve um crescimento de 250% (Gráfico 1),

totalizando 15 universidades.

Gráfico 1 - Universidades segundo o tipo – município de São Paulo, 1980-1999

Tendo-se em conta que os centros universitários, para concorrer no “mercado de

ensino superior”, apresentam-se ao consumidor com o prefixo “uni” antecedendo seus nomes

– de modo a ressaltar seu caráter universitário –, pode-se afirmar que, entre 1990 e 1999, o

setor ampliou-se a tal ponto que, no final do período, o ensino superior passou a ser oferecido

por 20 instituições: duas universidades públicas, três universidades confessionais e 15

instituições mercantis (dez universidades e cinco centros universitários). Assim, em 2000

havia um total de dez universidades mercantis e cinco centros universitários, com o mesmo

caráter mercantil desse modelo de universidade emergente (Uninove, Unibero, Uni

Sant'Anna, Uni-FMU, São Camilo).

Obviamente, a situação do município de São Paulo é um reflexo do que vem

acontecendo no Brasil. No início da reforma universitária de 68, o ensino privado era restrito

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a 11 universidades católicas e uma presbiteriana e, até 1985, não havia mais de 20

universidades particulares em todo o Brasil. O crescimento expressivo deu-se de 1985 a 1990,

e nesse período de cinco anos houve um crescimento de 100%, com a criação de mais 20

universidades particulares. Entre 1990 e 1998, foram criadas mais 36 universidades

particulares, ou seja, entre 1985 e 1998 totalizaram-se 56 universidades privadas, um salto

quantitativo de 280%.

Se antes eram apenas três universidades para toda a cidade de São Paulo, concentradas

na região centro-oeste, em 2000, passaram a ser 15, distribuídas por todas as regiões da

cidade, para atender a 10 milhões de habitantes. Zoneou-se o mercado: as universidades

concorrem por “clientes” em potencial na zona leste, na zona norte, no centro e na zona sul.

Essa descentralização geográfica facilitou o acesso às universidades, reduzindo o tempo de

locomoção, fator importante em uma cidade caracterizada pelas grandes distâncias,

quilômetros de trânsito e congestionamento.

Uma pesquisa recente registra que a localização da universidade é um fator

fundamental, quase determinante, para a escolha do aluno. Dos 250 alunos pesquisados da

Universidade Ibirapuera, 87% responderam que estudam nessa instituição pela sua boa

localização, porque é próxima do trabalho ou de casa; dos 377 alunos pesquisados da

Universidade Cruzeiro do Sul, 83% a escolheram pelo mesmo motivo. Os índices também se

mantêm altos em outras instituições: na Unicastelo, 73% dos alunos pesquisados apontaram a

localização como fator determinante na escolha da universidade; na Unicid, 65%; na Uniban,

68%, na Universidade São Judas, 58% (Jardilino e Santos, 1999).

Desta forma, podemos concluir preliminarmente que um dos principais motivos para

determinar o surgimento das novas universidades foi o estabelecimento das "vantagens

competitivas" pela Constituição de 1988, posteriormente regulamentado pela LDB-(Lei de

Diretrizes e Bases da Educação), de 1996, concedido à instituição universidade por meio do

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princípio da autonomia didático-científica. Por esse princípio, as instituições não precisariam

mais se submeter aos entraves burocráticos do extinto Conselho Federal da Educação, seja

para a abertura de determinados cursos, seja para a ampliação ou redução do número de vagas

para atender à demanda.

A legislação estabelece autonomia para as universidades criarem, organizarem ou

extinguirem, em suas sedes, cursos e programas de educação superior previstos na lei. As

universidades também podem fixar o número de vagas a serem oferecidas ao mercado de

acordo com a capacidade institucional, podendo ampliar e diminuir vagas dentro de seus

recursos orçamentários disponíveis. Como aponta Sampaio (1998, p.67), tudo isso

[...] na prática significa fechar cursos menos procurados, abrir outros com maior capacidade de atrair clientela, alterar o número de vagas oferecidas de acordo com as oscilações das matrículas e da evasão, entre outras providências; decisões como essas de ajuste ao mercado podem ser implementadas sem serem submetidas à tramitação burocrática pela qual passam os pleitos de autorização de cursos encaminhados pelas instituições não-universitárias.

Com a chegada das universidades mercantis, pode-se afirmar que se institucionalizou

o mercado de ensino universitário. A institucionalização desse mercado na década de 90 deu-

se de forma acelerada e num curto espaço de tempo, revelando uma concorrência

extremamente acirrada, descrita por alguns autores como caso de "verdadeiro canibalismo

explícito". Explicando melhor, cada universidade mercantil tenta ganhar mais espaço e

conquistar uma fatia maior do mercado, valendo-se para isso de todos os recursos disponíveis

na área de publicidade e marketing. Para se ter uma dimensão da importância da publicidade,

um levantamento feito em 1998 mostrou que entre os 15 maiores anunciantes de outdoor

encontravam-se cinco instituições de ensino privadas.

O acirramento da competição no mercado de ensino universitário, na primeira metade

da década de 90, revelou a profissionalização e a agressividade das propagandas utilizadas

pelas universidades mercantis para conquistar o consumidor. Poder-se-ia dizer que, em termos

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de propaganda, a diferença entre o produto oferecido por essas universidades e qualquer outro

produto direcionado para o público jovem era quase inexistente.

Em contraste com a década de 1980, período em que também havia propagandas, mas

sem tamanha profissionalização, mercantilização e agressividade decorrente da acirrada

concorrência,

a década de 1990 apresentou uma guerra pelo consumidor, na qual, longe de mostrar compromisso com a excelência acadêmica, as universidades utilizaram-se de estratégias de sedução do cliente em potencial: os jovens egressos do ensino médio. Assim, criaram-se grandes campanhas veiculadas pelos principais meios de comunicação, com artistas de TV, modelos jovens dentro de um mundo de ilusão, mostrando que estudar em uma Universidade não é uma coisa chata, pelo contrário, é prazerosa e divertida, como estar em um clube de férias (ibidem).

No final da década de 1990, a agressividade caracterizou também o preenchimento das

vagas remanescentes dos vestibulares, com descontos nas matrículas e nas anuidades caso os

alunos deixassem outras universidades e para matricular-se na instituição que estava fazendo

a promoção. Diante do excesso de vagas ofertadas no mercado, as universidades faziam, após

o vestibular, o número de chamadas necessário para preenchê-las, bem como faziam mais de

um vestibular para um mesmo semestre.

Considerando as diferenças entre universidades, Almeida (1997, p. 99) assinala que as

universidades históricas e tradicionais geralmente restringem suas estratégias de marketing ao

que Theodore Levitt (1985, p. 86) chama de produto genérico, isto é, ao produto em si: os

cursos que estão sendo oferecidos ao mercado. Já essas novas universidades, na sua estratégia

mercadológica, tendem a mostrar outros elementos ou qualidades distantes do produto em si,

sendo que os mesmos, muitas vezes, ganham maior destaque que o principal produto

oferecido pela universidade: o próprio curso. São aspectos que procuram seduzir o

consumidor e tornar atraente o produto genérico. Almeida (1997, p. 75) aponta que, na guerra

pelo consumidor, elementos como piscina, sala de musculação, localização próxima ao metrô,

salão de beleza, sala de informática, convênios com "grandes" empresas, escola de motorista,

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instituto de idiomas, praça de alimentação, ganham ênfase muitas vezes maior que o curso

ofertado pela universidade.

Nesse sentido, as universidades mercantis acabam enfatizando outros aspectos, que

Levitt denomina “produtos esperados pelo cliente” (engana-se quem acredita que todo cliente

procura somente ensino de qualidade); “produtos aumentados”, isto é, estratégias que

ampliam o produto além do que é solicitado ou esperado pelo cliente; “produtos potenciais”,

isto é, o que se pode acrescentar de novo ao produto.

A guerra entre universidades explicitada na primeira metade da década de 90 ganhou

novos contornos após determinadas exigências legais ocorridas com a LDB, especificamente

com a Portaria nº 971 de 22 de agosto de 1997, que determinou que as universidades

deveriam tornar públicas, através de catálogo a ser enviado à Secretaria de Educação Superior

do MEC (Ministério de Educação e do Desporto), as condições de oferta de cursos, fazendo

constar uma longa e minuciosa lista de informações sobre os dirigentes da universidade e os

coordenadores dos cursos, os valores das mensalidades, a infra-estrutura, os resultados das

avaliações do MEC etc.

Sampaio (op. cit., p. 353) registra três mudanças significativas na propaganda escrita,

a partir da introdução dessas exigências legais:

1 - as duas folhas dobradas típicas de folders passaram a ter 20 ou 30 páginas,

organizadas e diagramadas como revistas;

2 - as atividades escolares e as instalações físicas passaram a ser o foco das atividades,

os alunos estudando ou usando a infra-estrutura acadêmica tornaram-se

coadjuvantes dessas instalações;

3 - os catálogos dão a impressão de não se destinarem ao vestibulando, mas ao MEC.

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Essa interferência legal possibilitou que as estratégias de marketing e publicidade

deixassem de enfocar os produtos ofertados pelas universidades mercantis como mais uma

mercadoria para o público jovem. Revelou o surgimento de um estado preocupado com a

garantia de informações minimamente necessárias para que o consumidor tenha maiores

condições de discernir sobre a escolha do produto que se adapte a suas necessidades e

condições financeiras.

Com a institucionalização do princípio da concorrência, constata-se a passagem de um

"mercado de demanda" para uma estrutura mais seletiva de "mercado de oferta" (Calleja,

1990).

Com o monopólio da PUC/SP e Mackenzie no campo universitário privado, do

município de São Paulo, predominava o mercado de demanda, para o qual qualquer produto

oferecido por essas universidades encontrava um número elevado de consumidores, pois

havia uma grande demanda por todos eles.

Naquela época, se essas instituições houvessem ampliado a oferta de cursos por meio

da criação de uma estrutura multicampi, sem dúvida alguma teriam obtido, facilmente,

consumidores para seus produtos, e, com isso, gerado lucros que teriam sido utilizados de

acordo com suas diretrizes institucionais.

Com o elevado número de universidades, assiste-se ao surgimento de um "mercado de

oferta", no qual se deve produzir o que o mercado cobra, exigências que podem ser reais ou

fictícias, e, principalmente, o que os consumidores querem, dentro de um contexto de acirrada

concorrência por clientes em potencial, e, principalmente, de excesso de produtos para um

número de consumidores que, embora crescente, não consome todas as vagas e serviços

oferecidos pelas universidades particulares no estado de São Paulo. Assim, o "mercado de

oferta" é resultado da junção de vários elementos: de um cenário de grande concorrência, do

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excesso de produtos em relação ao número de consumidores em potencial e das novas

exigências do mercado, predominantemente voltado para a prestação de serviços.

No panorama nacional constatou-se, nos últimos anos, certa estagnação do número de

matrículas nas IES (Instituições de Ensino Superior) privadas (categoria que engloba

universidades, federações de escolas, faculdades integradas e estabelecimentos isolados), com

um ligeiro crescimento em 1998 (Schwartzman, 1999), enquanto no estado de São Paulo o

mercado apresentou uma demanda que crescentemente veio sendo atendida pelas

universidades particulares. Em 1995, as IES privadas representavam 75,9% do total das

matrículas do estado, crescendo para 77,7% em 1996, 79,1%, em 1997, chegando a 80,6%,

em 1998.

Se, por um lado, o número de matrículas aumentou, por outro, deve-se destacar que,

em 1998, 14,4% das vagas oferecidas não foram preenchidas. Isso quer dizer que existiam

12.341 vagas à disposição dos consumidores. A necessidade de preencher essas vagas foi um

dos motivos que contribuiu para a acirrada competição no mercado de ensino universitário.

A institucionalização do mercado deixa explícita uma diversificação de produtos e

serviços educacionais sem precedentes, bem como uma acentuada diferenciação entre as

universidades que interagem no mercado de ensino. É precisamente essa grande

diversificação de produtos e serviços, colocados no mercado por universidades com os mais

variados perfis e missões institucionais, que caracteriza o chamado "mercado de oferta" em

contraposição ao "mercado de demanda".

Deixando de lado a USP, que possui financiamento estatal, a PUC/SP e a

Universidade Mackenzie são instituições tradicionais vinculadas à qualidade de ensino e

excelência acadêmica – seja na graduação, como a Mackenzie, ou na graduação e pós-

graduação, como a PUC – que, na cidade de São Paulo, podem ser consideradas “top-

universidades”.

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Essas universidades caracterizam-se por possuírem prestígio obtido em tempos de

mercado restrito ou de baixa concorrência. Nesse novo cenário de acirrada concorrência, as

top-universidades vêm adaptando-se aos novos tempos, pois elas, tanto quanto as

universidades mercantis, também dependem das mensalidades pagas pelos alunos para

garantir seus financiamentos. Como assinalam Tachizawa e Andrade (1999, p. 22),

nessa nova era de competição, nenhuma universidade pode sentir-se excessivamente confiante com as fatias de mercado e as posições competitivas conquistadas [...]. Com mercados e seus protagonistas em constante modificação, a possibilidade de que as IES possam estabelecer vantagem competitiva duradoura não existe mais. Nenhuma instituição de ensino superior, enfim, pode se dar ao luxo de descansar sobre seus louros; cada qual tem de inovar incessantemente para poder competir e sobreviver.

O "mercado de oferta" exige que as top-universidades, além de profissionalizar as

propagandas publicitárias, estejam atentas às novas demandas do mercado, criando novos

produtos e aprimorando aqueles que já oferecem. No caso da PUC/SP, verificou-se, em 1999,

o oferecimento de novos cursos no âmbito da graduação, como Turismo, Comunicação e

Artes do Corpo, Tecnologias de Mídias Digitais e Comunicação em Multimeios. Aliás, o

curso de Turismo, geralmente considerado um curso técnico, tem sobre si um olhar de

menosprezo acadêmico.

O aprimoramento permanente dos produtos é uma decorrência não somente da

competição do mercado, mas também do surgimento de uma série de medidas governamentais

que estabelecem parâmetros para medir a qualidade dos cursos oferecidos pelas

universidades, instrumentos que podem ser considerados como um auxílio ao consumidor no

momento da escolha dos produtos universitários.

No mercado do ensino universitário não há espaço para instituições que queiram se

valer da fama conquistada com a boa "imagem de marca"; mecanismos de avaliação de

cursos, tais como o Exame Nacional de Cursos e a avaliação anual das condições de oferta

(contemplando três itens: qualificação dos professores, organização didático-pedagógica e

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instalações da faculdade), impulsionados pelo estado, obrigam as universidades de excelência

a rever constantemente seus produtos. Isso pode ser exemplificado com o que aconteceu após

a divulgação das avaliações do MEC, correspondentes aos anos de 1998 e 1999. Em 1999, o

MEC apresentou uma lista com 101 cursos de graduação que teriam de ser reavaliados ou

correriam risco de perder a autorização para funcionar. Nessa lista estava incluído o curso de

Direito da Universidade Mackenzie. Os alunos tiveram muito bom desempenho no provão de

1996, 1997 e 1998, ao obterem conceito A, B, A, respectivamente; mas devido aos itens

instalações e organização didático-pedagógica, os cursos foram considerados insuficientes.

Em 2000, o MEC divulgou uma lista de 94 universidades sob risco de perder o

credenciamento, incluindo o curso de Jornalismo da PUC, cuja qualificação docente e de

infra-estrutura foram avaliadas como insuficientes. Em ambos os casos, as reitorias,

coordenadores, professores e alunos posicionaram-se e questionaram os métodos utilizados

pelo MEC. No caso da Universidade Mackenzie, os próprios alunos declararam à imprensa a

ocorrência de mudanças e melhorias no curso. No caso da PUC, o fato ainda é muito recente

para verificarem-se as mudanças que provavelmente ocorrerão ao curso de Jornalismo.

Admite-se que os estatutos eram freqüentemente mal-aplicados; os programas, estudados de maneira incompleta; as durações obrigatórias dos estudos, não respeitadas, mesmo os exames algumas vezes eram fraudados; negligência e fraude grassavam amplamente […] O acesso rápido e a baixo custo do diploma constituía o objetivo confesso de muitos estudantes (Charle; Verger, 1996, p. 29).

Se se afirmasse que o texto acima foi extraído de uma pesquisa sobre as universidades

paulistas da década de 80, seriam imediatamente evocadas universidades que tinham fama de

comercializar títulos, de formar maus bacharéis, de fazer vistas grossas no controle da

freqüência às aulas. Pois bem, o texto acima foi retirado de um livro no qual se descreve a

situação de muitas universidades provincianas no final da Idade Média. O seguinte trecho

pode ser ainda mais elucidativo:

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[...] a partir do século XVII [...] Na França, se as principais universidades em Paris, Toulouse ou Montpellier preservavam um determinado nível de exigência, pequenas universidades provincianas Avignon, Orange, Orléans, Nantes, Caen, Reims especializaram-se vergonhosamente na venda de graus a preços de liquidação e sem exame sério. A fraude revestia-se de múltiplas formas: teses redigidas por autores profissionais, envio de substituto em lugar do verdadeiro candidato, inscrições prévias feitas por correspondência, etc. É impossível avaliar a importância dessas práticas, mas elas eram amplamente difundidas [...] (Charle; Verger, 1996, p.60).

Os textos citados sugerem que a diferenciação entre as universidades sempre fez parte

dos sistemas universitários. No Brasil, sempre houve diferenças; mas, com a entrada em cena

das universidades mercantis, na década de 90, elas podem ser constatadas por meio de

múltiplas variáveis, como qualidade, missão, preço, localização etc.

Além disso, a existência de mecanismos públicos de avaliação possibilita a

hierarquização das universidades, pois estabelece indicadores para colocá-las em escala

segundo critérios de avaliação de qualidade instituídos pelo estado. Assim, as universidades

tradicionais terão de se esforçar para justificar a fama e o prestígio adquiridos em tempos de

mercado restrito; por sua vez, as universidades mercantis terão a possibilidade de ganhar

relevância em seu nicho de mercado.

Eunice Durham e Helena Sampaio (1996), referindo os trabalhos de Geiger (1986),

afirmam que

la educación superior privada en Brasil se encuadraría dentro de lo que el define como mass private sector, que cumplen esencialmente el papel de acomodar el grueso de la demanda popular por educación superior.

Sob essa perspectiva, o mass private sector se caracterizaria por:

- complementar os setores públicos que são relativamente pequenos, mais seletivos e

fortemente voltados para as carreiras de elite;

- rápido poder de expansão mobilizando recursos privados, com o propósito de

absorver e adaptar-se à demanda;

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- atender à demanda em grande escala, de forma rentável, comprometendo a qualidade

dos produtos.

Diante da grande diversificação institucional que vem ocorrendo no mercado de

ensino universitário, pode-se afirmar que a categoria universidade mercantil é muito mais

ampla e rica do que as restrições do mass private sector (setor privado massificado). Deve-se

ter claro que, no Brasil, as universidades mercantis nasceram, sim, para atender às demandas

de massa, mas isso não significa que não possam existir universidades mercantis que sejam

“centros de excelência”, como em outros países, onde a maioria desses centros está vinculada

à iniciativa privada. Nesse sentido, é fundamental distinguir as universidades mercantis de

massa e as universidades mercantis de elite.

Sem dúvida alguma, as universidades mercantis surgiram no Brasil como parte do

mass private sector, na contramão do ensino público voltado para a instrução da elite. Embora

seja difícil desvincular as universidades mercantis do mass private sector e de um ensino de

qualidade questionável, o surgimento de universidades mercantis de elite é uma possibilidade

aberta. A questão é definir sua missão e investir para competir dentro do nicho de mercado

escolhido. A emergência de instituições mercantis com qualidade está começando a ser

realidade ou a se expandir, como exemplo pode-se citar a Ibmec, faculdade com 60% de

docentes com o título de doutor, comandada pelos ex-banqueiros Paulo Guedes, do ex-

Pactual, e Claudio Haddad, do Banco Garantia. Este último declarou à imprensa acreditar que

a educação privada pode dar dinheiro e oferecer qualidade. Na mesma perspectiva, cita-se a

nova Faculdade Trevisan, resultado da sociedade entre o empresário Antoninho Trevisan e o

Banco Fator, que planeja investir 18 milhões de reais nos próximos quatro anos. Nela, os

alunos trabalham com laptops fornecidos pela faculdade (Folha de S. Paulo, 28/12/98).

As universidades mercantis caracterizam-se pela predominância da lógica empresarial,

da procura do lucro. Falamos de negócios e, sob essa perspectiva, as universidades mercantis

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investem onde percebem que há demanda, e, portanto, podem obter lucro. Ao tomar como

referência o Brasil, verifica-se que 84,2% do total de universidades particulares estão

localizadas na região Sudeste e Sul, enquanto 18% estão distribuídas entre a região Norte

(uma universidade), Nordeste (seis universidades) e Centro-Oeste (cinco universidades).

Somente no estado de São Paulo, encontram-se 30 universidades particulares.

Além do investimento em regiões onde há potencial clientela com poder aquisitivo

para adquirir produtos educacionais, verifica-se que se dá prioridade aos cursos que

apresentam farta demanda e baixo custo de implantação. No estado de São Paulo, em 1998, os

cinco primeiros cursos em número de alunos matriculados em universidades particulares são

aqueles que implicam baixo investimento por parte das mantenedoras. Em primeiro lugar está

o curso de Direito, com 73.580 alunos matriculados; em segundo, Administração, com 44.343

alunos; em terceiro, Engenharia, com 24.565 alunos; em quarto, Comunicação Social, com

19.769 alunos; e em quinto, Psicologia com 15.719 alunos.

Como já se registrou anteriormente, universidades mercantis, voltadas para o ensino

de massa5, apresentam como característica a procura do lucro nos nichos de competitividade

escolhidos. Em decorrência disso, pode-se verificar a implantação de ações voltadas para a

redução dos, digamos, custos de produção, o que certamente influi na qualidade do produto

ofertado. Aliás, a questão da má qualidade dos produtos oferecidos pelas universidades

mercantis de massa tem sido, talvez, um dos pontos consensuais entre analistas e

pesquisadores do ensino superior.

Nossa experiência mostra que a maioria das universidades mercantis de massa contrata

professores pelo regime de trabalho hora/aula. Sem dúvida alguma, se o objetivo é reduzir

5 Segundo Adorno, o conceito de Indústria Cultural mistifica a consciência possível das massas, uma vez que a

própria indústria toma o trabalho das capacidades mentais do sujeito com um planejamento antecipado, uma classificação prévia dos dados apresentados. O trabalho poupado impõe o esquematismo da produção e contribui para a passividade e a estagnação da capacidade crítica do sujeito.

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custos, o pagamento hora/aula é o mais indicado, pois o professor recebe pela aula ministrada.

Mas, esse sistema é o pior que existe, uma vez que o professor somente se interessa em

chegar, ministrar sua aula e ir embora, não havendo a possibilidade de ficar auxiliando o

aluno após a aula ou ficar mais alguns minutos fora dela, esclarecendo dúvidas e respondendo

questões que os alunos trazem de casa. Essas atividades fundamentais estão fora de cogitação.

O professor não é estimulado pela universidade e, portanto, ela não pode exigir

maiores compromissos, nem apelar para a função social do docente, pois ele precisa trabalhar

em duas, três, quiçá quatro universidades para garantir um salário minimamente decente. Esse

sistema, além de não criar vínculos entre a universidade e o professor e não possibilitar a

existência de um espírito de “comunidade universitária”, faz com que a universidade se torne

um espaço de produção "fordista" de diplomas6.

Se tomarmos como referência os dados existentes em 1998 (tabela 4), poderemos

constatar que metade das “universidades mercantis” paulistanas mantém um índice muito

elevado do seu corpo docente sob o regime horista, acima de 70%, e duas delas mantêm mais

de 60% de seu corpo docente sob esse mesmo regime de trabalho.

6 O procedimento da Indústria Cultural se reproduz dentro do sistema e no caso dos trabalhadores professores

chega-se a um ponto que todos aqueles que trabalham nas universidades mercantis de massa não sabem fazer de outra forma, como se esse modo de trabalhar fosse “natural” e não historicamente datado.Mesmo participando da produção estão reproduzindo a sociedade. Quanto aos alunos, os consumidores, não aceitarão uma mercadoria diferente, tornando-se, portanto cliente e empregado da Indústria Cultural. (Duarte, Rodrigo. Teoria Crítica e Indústria Cultural.Belo Horizonte:Editora UFMG, 2003).

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Tabela 4 – Regime de trabalho dos professores das Universidade Criadas após 1988

Segundo o Censo da Educação Superior de 2006, dados publicados também pelo

jornal Folha de S. Paulo de 12/05/2008, as universidades privadas não têm professor

exclusivo. Só 37 das 86 universidades privadas cumprem a exigência do MEC, 57% delas não

cumprem cota. A Lei obriga a manter 1/3 dos docentes em regime integral. Da lista de

universidades públicas e privadas que não atingem a cota, 18 estão localizadas em São Paulo.

Entre elas, está a universidade mercantil de massa, alvo de nossa pesquisa, possuindo apenas

06 docentes em período integral.

O curso de Administração de Empresas da PUC/SP foi avaliado no provão com

conceito A, de 1996 a 2003, enquanto que esse mesmo curso da UNIVERSIDADE 2, obteve

conceitos D nos anos de 1998, 2000, 2001, conceito C, 1999 e 2002, e um conceito E em

2003 (fonte INEP/MEC).

Aos dados citados, deve-se acrescentar ainda outro problema: o grau de titulação do

corpo docente. Sem dúvida, contratar professores com baixa titulação é uma forma de reduzir

custos. No entanto, deve-se considerar que, em alguns casos, se dá mais importância à

experiência profissional do professor para a formação do aluno do que ao título de mestre ou

doutor, e existem profissões e regiões do país que dificilmente possuem mestres e doutores no

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mercado. Resta, assim, a dúvida: será que há reserva de mestres e doutores suficientes para

atender à grande demanda do mercado universitário? Embora polêmico, o grau de formação

constitui-se em um indicador da qualidade do corpo docente, como apontam Silva Jr. e

Sguissardi (1999, p. 52), segundo os quais os resultados do provão

demonstraram inquestionavelmente que o conceito A está diretamente relacionado às IES que possuem alto percentual (mais de 50%) de seu corpo docente com titulação de mestrado e doutorado e o mesmo percentual de docentes contratados em regime de trabalho superior a 20 horas semanais.

Em 1995, do total de professores das universidades privadas citadas, 61,8% tinham

apenas o título de bacharel ou de especialista; 38,2% eram mestres ou doutores. Os dados de

1998 revelam um pequeno aumento do número de mestres e doutores para 42%. O número de

professores que têm somente graduação ou título de especialista ainda é elevado, 58%.

Os percentuais variam de universidade para universidade, mas, em linhas gerais, pode-

se dizer que essas instituições procuram ater-se ao limite exigido pelo estado para manter o

status de Universidade, isto é, um terço do corpo docente com titulação de mestre ou doutor.

Os elevados índices de professores bacharéis ou especialistas levam a concluir que os gastos

com força de trabalho mais especializada, ou com investimento em programas de qualificação

docente, bem como com encargos sociais/trabalhistas, são elementos que pesam no momento

de optar pela ampliação do quadro de docentes titulados, tudo isso, é claro, para reduzir os

“custos de produção” e maximizar os lucros.

Em relação à qualidade dos cursos, até a instauração do Exame Nacional de Cursos,

em 1996, não existiam indicadores sobre a qualidade dos cursos oferecidos pelas

universidades mercantis de massa, o indicador que se generalizava era a percepção de que os

cursos das universidades mercantis eram ruins ou de qualidade muito questionável.

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Tabela 5 – Regime de Trabalho dos Professores das Universidades Criadas após 1988

Se forem considerados os conceitos obtidos na primeira avaliação realizada nos cursos

das dez universidades analisadas, pode-se constatar a frágil formação recebida pelos alunos

que nelas estudavam, corroborando-se a idéia generalizada da má qualidade dessas

universidades. Poucas se destacaram em algum curso específico. Em geral, os resultados

refletiram a precária qualidade do ensino ministrado. Dos 49 cursos avaliados, 57,1%

obtiveram C (28 cursos), 18,4%, D (nove cursos), 4,1%, E (dois cursos). Somente 4,1%,

equivalente a dois cursos, obtiveram A, e 16,3%, equivalente a oito cursos, obtiveram B.

Dentre as dez universidades, somente uma delas, a Universidade São Judas Tadeu, teve

desempenho francamente positivo: dos sete cursos avaliados, dois receberam A, quatro, B, e

apenas um, C.

A institucionalização do mercado é uma realidade no cenário universitário que não

pode ser ignorada. Os contextos mudaram e, para analisar as universidades brasileiras, deve-

se considerar não somente o mercado universitário como elemento impulsionador de

mudanças, mas também a passagem de um cenário marcado pela baixa concorrência para um

mercado pautado pela acirrada concorrência, propiciando o surgimento do mercado de oferta.

A concorrência entre universidades pela ampliação e conquista de novos mercados

chegou a tal magnitude que, no início de 2000, colocou em crise o Conselho Nacional da

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Educação, o mesmo que surgira como substituto ao tão mal-falado e desgastado Conselho

Federal da Educação, envolvido em sérias acusações de irregularidades. Atrás de todo o

escândalo, existia a pugna de interesses financeiros, interesses de mercado. Duas grandes

universidades mercantis paulistanas, Unip e Uniban, estão se enfrentando em diversas arenas

de luta: no plano legal e no confronto direto pelos clientes-consumidores de produtos

educacionais, oferecendo promoções aos que adquirem seus produtos. Uma amostra disso é a

propaganda da Uniban, amplamente veiculada na imprensa paulistana, segundo a qual os

universitários de 2° e 3° anos de Osasco, Alphaville e Barueri que se transferissem para ela

teriam 50% de desconto na anuidade. O pagamento efetuado em outra instituição (leia-se, na

Unip) seria integralmente descontado da anuidade na Uniban. Bastaria apresentar o

comprovante de matrícula.

Apesar das sérias críticas que podem ser feitas, as universidades mercantis de massa

possuem o grande mérito de atender à demanda por ensino superior que o estado não

consegue prover. O princípio de ensino universal público e gratuito constitui-se numa

importante bandeira que não conseguiu se concretizar de fato. Sem dúvida alguma, ouvir uma

afirmação categórica como “as universidades mercantis estão democratizando o acesso ao

ensino superior” deve ser frustrante para todos aqueles que sonhavam que algum dia esta

democratização ocorresse pela ampliação do serviço educativo público e gratuito fornecido

pelo estado. No entanto, a realidade é outra: foram as universidades mercantis que

possibilitaram a democratização do ensino superior e foi a partir da presença delas que um

maior número de pessoas pôde ter acesso à universidade.

A questão da qualidade de ensino é muito séria e delicada e a intervenção do estado é

necessária, mas deve ser redimensionada, não devendo limitar e coibir a iniciativa dos

empresários na área do ensino superior, mas principalmente garantir espaços e instrumentos

que possibilitem a defesa dos direitos dos cidadãos-consumidores. Nesse sentido, os

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mecanismos de avaliação de qualidade, principalmente sua ampla divulgação e publicização,

podem contribuir para a construção de uma sociedade de consumidores conscientes e

responsáveis. Em tempos de “mercados de oferta”, existe uma grande diversidade de produtos

dirigidos para clientes com os mais variados perfis, e o importante é os consumidores

escolherem conscientemente os produtos e serviços que irão adquirir, avaliando qualidade,

expectativas individuais e condições financeiras.

Acredita-se que a esfera do mercado e do consumo de bens educacionais possibilita a

percepção de novos espaços do exercício da cidadania. Como afirma Canclini (1995, p. 57), o

processo de consumo está sendo visto como algo mais complexo do que uma simples relação

entre meios manipuladores e uma massa de consumidores dóceis. Nesse sentido,

cuando se reconoce que al consumir también se piensa, se elige y reelabora el sentido social hay que analizar cómo interviene esta área de apropriación de bienes y signos en formas más activas de participación que las que habitualmente se ubican bajo el rótulo de consumo. En outros términos, debemos preguntarnos si al consumir no estamos haciendo algo que sustenta, nutre y hasta cierto punto constituye un nuevo modo de ser ciudadanos (1995, p. 43).

A década de 1990, plena de transformações provocadas pelo impacto do

desenvolvimento científico e tecnológico, pela globalização, pela modernização e

urbanização, funcionou como um período marcado por desafios a partir dos quais a sociedade

passaria, no início do século XXI, a ter de refletir sobre as funções que a educação superior

deveria exercer.

Muitas discussões foram geradas em torno deste tema por agências internacionais, por

bancos e pela UNESCO, contendo temas como: financiamento, autonomia, avaliação,

sociedade do conhecimento, a universidade e o mundo do trabalho etc. De todos esses debates

emergiram outras discussões e reuniões, como a realizada em Paris, em 1988. O reflexo para

o Brasil dessa reunião foi a publicação pelo Conselho de Reitores e algumas universidades

dos resultados obtidos nas discussões. Outros documentos vieram, em seguida, de

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responsabilidade do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento, tendo

como alvo a educação superior na América Latina e no Caribe, e foram vítimas de grandes

críticas.

No meio acadêmico, grande insatisfação se deu por causa da classificação como “bens

e serviços” por parte da Organização Mundial do Comércio.

Charlot, ao explicitar o grande desafio da educação mundial perante a globalização,

resume sua preocupação no âmbito da passagem da sabedoria para a informação, que está se

transformando em mercadoria:

São dois os problemas: o da globalização e o da modernização. No aspecto da modernização, tenho medo de que não estejamos entrando em uma sociedade do saber, pelo contrário, talvez estejamos saindo da sociedade do saber quando nos deparamos com a sociedade da informação. Informação é saber? Não é a mesma coisa, a informação se torna um saber quando traz consigo um sentido, quando estabelece um sentido de relação com o mundo, de relação com os outros, de relação consigo mesmo [...]. Receio que estejamos saindo da questão do saber. O outro aspecto se refere ao fato de que o saber está se transformando em uma mercadoria, fenômeno da globalização. No mercado do “saber”, essa evolução para uma mercadoria do saber vai tornar ainda mais dura a desigualdade frente à educação. Creio que sejam dois os desafios maiores para o futuro, e já para o presente, o saber ainda tem sentido e já é uma mercadoria. Assim, ao mesmo tempo, o saber existe para se ter um bom emprego mais tarde e conserva seu valor de uso para entender o mundo sob enfoque da diversidade (2005, p. 31).

Em 2003, a UNESCO organizou uma segunda reunião sobre a educação superior com

o nome de Paris+5.

Em 2003, Lula, ao tomar posse, por meio de seu Ministro da Educação, traçou como

meta a escola pública com qualidade, diminuição do analfabetismo, nova trajetória para a

universidade no Brasil, especial atenção para os excluídos do processo educativo nacional,

principalmente o afro-descendente e a população de baixa renda. Na educação superior, o

MEC (Ministério de Educação e Cultura) organizou práticas mais participativas, como mais

reuniões e encontros com reitores, mantenedores, representações sindicais de professores e

funcionários, estudantes, entidades científicas e profissionais. Encontros nacionais e

internacionais discutiram uma nova reforma universitária brasileira.

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Logo no início de 2004, Tarso Genro ficou responsável pela pasta do MEC, pela mão

de Lula. Houve mudanças no estilo e nas prioridades, mas as metas continuaram. Em maio do

mesmo ano, Tarso Genro e sua equipe organizaram o XVI Fórum Nacional do Instituto de

Altos Estudos com um painel sobre Economia do Conhecimento, Crescimento Sustentado e

Inclusão Social. Segundo o Ministro, o MEC traçaria a sua meta de ação a partir de quatro

eixos principais:

a) prioridade para o estabelecimento de um pacto de qualidade para o ensino básico associado à uma redefinição de seu financiamento;

b) a articulação entre a inclusão educacional e alfabetização define uma abordagem prioritária de superação do elevado passivo histórico em termos de desigualdade educacional;

c) a educação profissional e tecnológica assume um novo papel diante dos parâmetros da sociedade do conhecimento;

d) a reforma do ensino superior apresenta-se como re-ordenadora dos campos de produção do saber e definição dos marcos de um processo de desenvolvimento sustentável.

O MEC articula esses quatro eixos de ação. A educação precisa ser vista como um sistema, tanto no caminho individual como nos diferentes níveis (Genro, 2004, págs. 40-41).

A atual política pública do ensino superior está amparada no tripé: expansão,

qualidade e inclusão social; porém, podemos perceber certa dificuldade na questão da

expansão, na questão da qualidade diminuída do provão, nos alunos provenientes do ensino

médio que estão excluídos da educação superior e no estado que não consegue avaliar e

supervisionar as dificuldades existentes nas IES públicas e privadas.

O governo, dentro deste quadro, tem como objetivo, a partir do referencial da LDB e

do Plano Nacional de Educação, traçar até 2011 a oferta de educação superior para pelo

menos 30% da faixa etária entre 18 a 24 anos.

Analisando a faixa etária de 18 a 24 anos, o número de matriculados no ensino

superior em 2000 é de 11,5%, em 2003 subiu para 15,7% e a tabela 6, retirada do Censo de

2004, registra um percentual de 17,29% (tabela 6).

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Tabela 6 - Distribuição das matrículas e população de 18 a 24 anos por região do Brasil 2004 Região Matrículas % Pop. de 18 a 24 anos % Brasil 4.163.733 100 24.072.318 100 Norte 250.676 6,0 2.073.628 8,6

Nordeste 680.029 16,3 7.173.409 29,8 Sudeste 2.055.200 49,4 9.871.632 41,0

Sul 793.298 19,1 3.214.581 13,4 Centro-Oeste 384.530 9,2 1.739.068 7,2

Fonte: Deaes/Inep/Mec; Ibope/Pnad 2004

Na região Nordeste, a desigualdade de matrículas é grande; percebe-se um grande

desequilíbrio representado por 16,3% das matrículas, contra 29,8% da população na faixa

apropriada. A região Norte mostra 6% de matrículas, contra 8,6% da população na faixa etária

em destaque. É importante analisar os dados, pois, se a taxa de crescimento registrada de 2000

a 2004 se mantiver nos próximos anos, a meta do PNE será atingida em 2011. Mas até 2004,

as informações se direcionam para o lado contrário, pois nota-se redução no ritmo de

crescimento das matrículas no ensino superior (tabela 7).

Tabela 7 - Matrículas na graduação e taxa de crescimento Ano Total Crescimento em % 2000 2.694.245 2001 3.030.754 12% 2002 3.479.913 15% 2003 3.885.164 12% 2004 4.163.733 7%

Fonte: MEC/Inep

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Os 7% de matrículas representam o menor percentual desde 1998 no ensino superior,

278.569 de matriculas é número pequeno e pode ser notado em todas as regiões. Este ritmo

parece confirmar-se para os anos subseqüentes (tabela 8).

Tabela 8 - Redução do ritmo de crescimento das matrículas – Brasil 2003-2004 Regiões De (%) Para (%) Brasil 11,7 7,0 Norte 21,2 8,9

Nordeste 15,3 8,7 Sudeste 9,8 7,2

Sul 10,0 6,5 Centro-Oeste 14,0 4,2

Fonte: MEC/Inep/Deaes

Os programas de expansão, como PROUNI e IFES, não interferem nesses dados, pois

os seus efeitos só serão notados no censo de 2005. Esses programas têm como objetivo

oferecer bolsas integrais ou parciais a estudantes de cursos de graduação e de formação

específicas em instituições privadas, que – em contrapartida às bolsas, recebem isenção

tributária.

Em 2005, o PROUNI ofereceu 112.275 bolsas e, em 2006, 91609 bolsas para quase

600.000 inscritos. Os alunos precisam comprovar renda familiar per capita de um salário

mínimo e meio para bolsa integral e três para bolsa de 50%.

Com o PROUNI, exige-se que sejam disponibilizadas vagas em todos os cursos da IES

que aderirem ao programa. Evidenciou-se um grave problema, referente ao acesso de

estudantes de baixa renda e seu interesse nos cursos de alta procura. A distribuição de renda

dos alunos de cursos de alta procura de boas universidades privadas é a mesma de

universidades públicas. Os cursos de alta procura de qualquer universidade brasileira

continuaram não sendo acessíveis ao estudante pobre.

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O Censo da Educação Superior de 2004 apresenta algumas conclusões que merecem

análise cuidadosa:

- o crescimento médio do número de instituições, no ano, foi de 8,3%, bem inferior

aos percentuais observados nos últimos três anos – 17,9%, 17,7% e 13,6%,

respectivamente.

- nos últimos quatro anos vem ocorrendo uma gradual e constante diminuição no

ritmo de crescimento no setor privado (MEC/INEP, Censo da Educação Superior,

2004).

O atual Ministro da Educação, Fernando Haddad, em entrevista ao Correio Brasiliense

(22/12/05), reconheceu a impossibilidade de aprovação da Lei do Ensino Superior e de

dissidências no âmbito do próprio governo, acerca da proposta de financiamento das IFES

(Instituições Federais de Ensino Superior).

Contudo, o fracasso na tramitação da Lei do Ensino Superior não autoriza afiançar que

o governo Lula tenha abandonado o propósito de implantar modificações decisivas para

melhorar o sistema de ensino superior brasileiro. Por mais que se possa gracejar da

reconhecida incompetência técnica e política dos atuais quadros dirigentes do MEC

(burocratas arrivistas, pescados em uma experiência de militância política rebaixada, carentes

de qualquer experiência em ensino superior), enganam-se aqueles que afirmam, por isso, que

o governo Lula seja desprovido de um projeto.

Que projeto é este? Rigorosamente, com nesgas de diferenças em relação ao governo

anterior (FHC) – talvez mais explícito em suas intenções –, o núcleo do projeto governista é

mercantil e privatista, dando seguimento ao status quo ante a política universitária brasileira.

As instituições de educação superior do país têm 3,9 milhões de estudantes em cursos

de graduação, segundo dados consolidados de 2003. Houve um aumento de 11,7% da

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matrícula em relação ao último ano, sendo que, no setor privado, que conta com 2.750.652

estudantes, o crescimento foi de 13,3%, e, no setor público, de 8,1%.

A revista Veja publicou (outubro/2005) uma estimativa do INEP, já com números de

2005. É fato que a gestão atual reprimiu a autorização de abertura de novas instituições de

ensino superior, essencialmente privado, – 1º governo FHC: 76; 2º governo FHC: 580;

governo Lula: 548 –, havendo uma queda nas autorizações de faculdades na ordem de 5%;

contudo, por outro lado, expandiram-se em 20% as autorizações de abertura de novos cursos

(1º governo FHC: 1.397; 2º governo: 5.464; governo Lula: 6.535). Dessa maneira, pode-se

concluir que continua estável a expansão do ensino privado, porém com um agravante, bem

detectado, nos índices do INEP – o elevado percentual de vagas ociosas no setor privado

(42,2%).

No bojo mesmo da questão das vagas ociosas, atua a principal expressão do projeto

privatista do governo, o conhecido PROUNI – um programa de isenção fiscal de quatro

tributos (CSLL, IRPJ, PIS e CONFINS) aos empresários de ensino, mediante o provimento de

vagas escolares “ociosas” da rede privada.

Trata-se de um programa em franca expansão, um consenso que abarca inclusive o

apoio do PSDB7. Segundo informa o MEC no portal do PROUNI (http://prouni-

inscricao.mec.gov.br/prouni/Oprograma.shtm.), “o programa já conta com 1.080 instituições

de ensino credenciadas e, em 2006, os impostos não-arrecadados pelo governo permitirão

‘comprar’ novas 130 mil bolsas” (integrais e parciais), um acréscimo de 18 mil bolsas em

relação à primeira edição (2005).

7 Podemos ler no sítio do PSDB, por exemplo, a reprodução de uma entrevista ao Estado de S. Paulo (07/01/06)

de Maria Helena Castro, Secretária-Adjunto do MEC na gestão Paulo Renato, uma das principais formuladoras das políticas universitárias dos tucanos, para quem “o PROUNI foi uma idéia muito interessante, inteligente, de democratização do acesso ao ensino superior para alunos de baixa renda”.

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O marketing do PROUNI na televisão mistura uma marcha de Geraldo Vandré, Pra

não dizer que não falei das flores, com atores trajados de hippies, como se estivessem

encenando o musical Hair. Os emblemas contestatórios de 1968 visam a um insípido suporte

de uma campanha de mercado. A propaganda busca esconder o essencial: o MEC alardeia o

número das vagas privadas que compra, mas esconde o mais que pode o preço da compra, isto

é, os números da isenção fiscal, estimada na ordem de 3 bilhões de reais em 2006, uma

dinheirama utilizada para prover os jovens mais pobres de ensino desqualificado, oferecido

por faculdades de péssimo desempenho nas próprias avaliações do MEC. Em 2005, repercutiu

uma denúncia veiculada pelo jornal O Globo (08/01/05), dando aviso do credenciamento no

programa de 87 cursos jamais aprovados no provão ou no ENADE.

Na realidade, o MEC sofisma: proclama uma falsa retórica de inclusão social, mas

vende isenção fiscal. Daqui a alguns anos, quando formos avaliar os resultados do PROUNI,

constataremos que o programa contribuiu para a histórica dualidade perversa do sistema

universitário brasileiro, no qual os estudantes de baixa renda recebem ensino de pior

qualidade e os remediados estão matriculados nos melhores cursos oferecidos pelas

universidades públicas.

Qual é, afinal de contas, a lógica conceitual e estratégica do PROUNI e das políticas

do MEC? Do nosso ponto de vista, esse programa é a expressão maior de uma concepção

privatista da esfera pública, que pretende criar no Brasil uma esfera de serviços sociais e

educacionais competitivos, conforme as regras do mercado. O papel do estado seria regular a

concorrência, além de prover o sistema privado de recursos públicos que são desviados da

esfera estatal (este o sentido da isenção fiscal do PROUNI).

Vale observar que a equipe do MEC define o conceito de “público” pelo sentido (o

importante é a finalidade do serviço, qualquer que seja a forma de propriedade) e não pela

materialidade (forma de propriedade pública). Ainda há mais: definir o público pelo sentido

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resulta em configurar, no âmbito da esfera do aparelho de estado, uma “zona de sombras”,

vantajosa aos “negócios” escusos, entre a alta burocracia estatal e os interesses setoriais do

âmbito privado. Ou seja, a corrupção sistêmica aumenta.

1.1 Trabalho dos docentes no ensino superior

Os três pontos fundamentais que os estudantes do ensino superior esperam encontrar

no trabalho de seus professores são: dedicação, conhecimento e experiência; porém, talvez

não seja esse o perfil de corpo docente que muitas universidades possuem atualmente. Por

falta de investimentos, algumas instituições enfrentam problemas com os seus professores,

insatisfeitos por não serem mais valorizados no seu dia-a-dia de trabalho.

No ensino público, as queixas principais são a falta de recursos governamentais, a infra-estrutura precária e as greves constantes, solução encontrada para reivindicar melhorias salariais e condições de trabalho. Mas apesar de tantos percalços, esta situação não é vista totalmente como prejudicial. Para a professora Marina Barbosa, presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-Sindicato), as lutas do servidor público servem para ter uma mão-de-obra mais qualificada (Folha Dirigida de 23/05/2006).

Segundo consta na Indicação do CEE Nº 02/98 - CES -, aprovada em 11/03/98:

O professor das instituições de educação superior, especialmente das universidades, exerce quatro funções básicas: a docência, a pesquisa, a extensão e a administração. As diferentes vocações institucionais e os diferenciados talentos e preferências docentes refletirão as características peculiares de cada projeto institucional. Algumas instituições universitárias são preferentemente docentes, enquanto outras são prioritariamente de pesquisa. Esta opção institucional terá impacto decisivo na carga e distribuição do tempo de trabalho de seus professores.

Ainda, nesta mesma indicação:

As universidades públicas têm feito pelo menos formalmente a opção preferencial pela função de pesquisa, o legislador da nova LDB (Lei 9394/96, artigo 57) decidiu definir um parâmetro mínimo de envolvimento semanal do docente universitário com o ensino propriamente dito. No entanto, é importante lembrar que os docentes das universidades têm uma dupla tarefa docente: uma formal, na sala de aula, e uma

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informal fora da sala de aula. A formal consiste em ministrar aulas regulares para turmas de alunos, e, em geral, está explicitamente definida em suas normas e em seus critérios de avaliação da atuação docente. A tarefa docente informal, fora da sala de aula, é constituída pelas atividades de orientação acadêmica para estudantes de graduação ou de pós-graduação, de orientação e supervisão de trabalhos monográficos de conclusão de curso de graduação ou de especialização (pós-graduação lato sensu), de orientação e supervisão de dissertações de mestrado ou teses de doutorado, de orientação e supervisão de estagiários docentes e atendimento a estudantes de graduação através de plantões regulares. Todas estas atividades docentes, fora da sala de aula, podem ser realizadas de forma individualizada ou em pequenos grupos. Como orientador acadêmico, o docente fornece aos estudantes informações para subsidiá-los na escolha de disciplinas e de habilitações ou áreas de concentração de estudos. Como orientador para a carreira, o docente ajuda os estudantes a explorarem as opções de carreira e as oportunidades de estudos e formação pós-graduada. Em suma, formalmente ou não, cada professor é também um orientador e os estudantes esperam beneficiar-se desta segunda função docente. Além do mais, pesquisas têm mostrado que a orientação acadêmica é uma atividade de ensino-aprendizagem que exerce uma influência positiva no sucesso acadêmico do estudante. Os professores que interagem com os estudantes, fora da sala de aula, têm uma percepção mais aguda de suas capacidades intelectuais e uma expectativa mais elevada de seu desempenho. A freqüência da interação informal, fora da sala de aula, entre estudantes e professores é um instrumento poderoso de predição da retenção do estudante, de sua satisfação, de seu desempenho e de seu envolvimento na vida acadêmica universitária.

A orientação acadêmica de estudantes de graduação é problemática porque poucos

professores têm uma concepção da natureza do curso de graduação. O problema do estudante

de graduação refere-se à escolha de uma habilitação e à seleção de disciplinas para atender

aos requisitos de educação geral, básica e profissional. O orientador que tiver interesse em

aconselhar precisa adquirir conhecimento atualizado e adequado da universidade, de sua

oferta de cursos, de seus regulamentos, de tal modo que possa fornecer informação acurada e

útil ao estudante.

Se membros do corpo docente devem aceitar a orientação acadêmica como uma

função importante, precisam também ter tempo para empreendê-la:

Se o corpo docente não está interessado em orientação ou se seu tempo é muito caro para que se possa alocá-lo para esta atividade, outros métodos devem ser estabelecidos para ajudar os graduandos no planejamento de seus programas (Indicação do CEE 02/98).

Em síntese, essa indicação oferece subsídios para a compreensão da importância da

organização do tempo acadêmico nas instituições de educação superior, tendo em vista sua

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máxima otimização e o entendimento da atividade docente fora da sala de aula, bem como sua

valorização como importante instrumento da melhoria da qualidade da educação superior e do

desempenho acadêmico do estudante universitário.

Num mundo em que a produção social da vida depende cada vez mais do

conhecimento, nenhum país poderá alcançar alto grau de desenvolvimento humano sem

maciço investimento em educação e produção de conhecimento e sem a devida valorização do

trabalho docente, e não é bem isso que vem ocorrendo no Brasil.

O controle econômico exercido, de maneira não democrática, pela maior parte dos

empresários da educação tem repercussões importantes sobre a qualidade da formação dos

futuros diplomados. A falta de estabilidade do profissional em educação, atrelada a uma

gestão que visa unicamente ao lucro, deixam o profissional à mercê dos educandos, que,

movidos por interesses imediatistas, vinculados à uma visão hedonista do mundo, própria de

sua faixa etária, impedem a boa formação do futuro profissional.

Partindo-se da idéia de que o principal objetivo da universidade é formar o

profissional para o mercado de trabalho, apoiada no tripé ensino, pesquisa e extensão, ou seja,

preparando-o também para desenvolver pesquisa científica e tecnológica; constata-se que a

maioria das escolas em nível superior está longe de alcançar essa meta, uma vez que não

possui estrutura física adequada, nem laboratórios, nem bibliotecas, nem profissionais

competentes. Muito menos, poderiam estabelecer paralelos entre criticidade, reflexão e

atuação de um profissional capacitado para compreender seu papel de indivíduo atuante na

sociedade. Pelo contrário, o que percebemos é que o ensino superior contribui para a

formação de uma massa incompetente profissionalmente e ingênua criticamente.

Há democratização do ensino. Todos, com a maior facilidade, entram na faculdade.

Chegam com um sonho de que ao término vão conseguir trabalho e ganhar dinheiro com a

profissão em que se formaram. São, podemos até dizer, “enganados”, pois não se exige nem

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se oferece quase nada na faculdade, porém o mercado de trabalho é extremamente exigente e

é lá que o aluno vai ser testado. As empresas, fundadas numa nova lógica organizacional, têm

reduzido postos de trabalho e exigido novas competências profissionais dos trabalhadores

remanescentes e dos candidatos a empregos. O processo de seleção ao qual são submetidos os

trabalhadores é extremamente exigente e complexo. Normalmente, a seleção já começa pelo

diploma. As grandes empresas escolhem candidatos diplomados nas grandes universidades,

como USP, PUC, UNICAMP, UNESP etc.

Classes lotadas, o mínimo de estrutura física, professores com jornadas triplas de

trabalho e remuneração irrisória, sem tempo de preparar aulas adequadamente. Em tais

condições, como é possível haver ensino de qualidade?

Segundo Mata (2005):

A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de nº 9.394/96, é uma lei minimalista, flexível, genérica e contraditória por possuir duas tendências totalmente distintas e oscilar entre elas. Por um lado, há uma tendência centralizadora, e, por outro, existe uma tendência descentralizadora. Logo em seu artigo 2º, a lei transfere a responsabilidade de prover a educação em primeiro momento para a família, deixando esse dever em segundo plano para o estado, o que, de certa forma, contradiz a Constituição Federal que responsabiliza primeiramente o estado. Assim, a LDB dá uma base legal para que uma futura série de reformas seja fundamentada de acordo com os princípios defendidos pelos organismos multilaterais, como o Banco Mundial.

Então, os organismos multilaterais sugerem a distinção entre a universidade de ensino

e a de pesquisa, acreditando que a segunda deveria ser minoritária, o que possibilitaria,

portanto, a reafirmação da estrutura dual no ensino.

Essa proposta de criação de dois modelos distintos de universidade é para adequar

ainda mais o ensino superior às exigências do mercado. As “universidades de ensino”, meras

“repassadoras” de conhecimento, ficariam voltadas somente para o ensino e destinadas para a

maioria da população, já que o mercado exige mão-de-obra cada vez mais qualificada em

menor prazo. Para esse tipo de ensino, a LDB criou os cursos seqüenciais de nível pós-médio

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e de curta duração (com dois anos de duração aproximadamente), encontrando-se, não por

acaso, a maioria deles nas IES privadas.

As “universidades de ensino” passam, então, mais uma vez, a atender a lógica do

mercado capitalista e não ao trabalhador, pois este, com sua especialização fragmentada,

oriunda desse sistema de ensino que não o prepara para mantê-lo no mercado, acaba por

encontrar-se, em certo momento, com a certeza de que sua preparação profissional está

obsoleta frente à avançada tecnologia. Transforma-se, assim, em mais um desempregado a

compor o “exército de reserva”, tão necessário para o aumento do lucro das empresas

capitalistas.

Enquanto isso, as “universidades de pesquisa”, destinadas a pequena parcela da

população, estariam desempenhando a função de promover o ensino, a pesquisa e a extensão,

em suma, estariam produzindo o conhecimento. Esse tipo de ensino, sim, seria ministrado nas

universidades que até hoje são pouquíssimas, como podemos ver no gráfico 2.

Gráfico 2 – Distribuição do Número de Instituições por Natureza – Brasil – 1988 e 1998

Devido a sua flexibilidade, a LDB, no artigo 45, possibilita a diversificação das

instituições superiores com seus variados graus de abrangência ou especialização. Com o

Decreto 3.860/2001, esse aspecto é comprovado, pois se estabelece a classificação das

instituições superiores que conhecemos atualmente: universidade; centro universitário;

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faculdades integradas, faculdade isolada, instituto ou escola superior. Esse decreto agrupou o

último tipo em uma só classe, sem autonomia, obrigado a pedir autorização ao MEC a cada

curso que abrir. Porém, o contrário aconteceu com os centros universitários, que, de acordo

com o mesmo Decreto (art. 11), adquirem a mesma autonomia das universidades para criar,

organizar e extinguir, em sua sede, cursos e programas de educação superior, assim como

remanejar ou ampliar vagas nos cursos existentes. Mas, apesar dos centros universitários

possuírem os mesmos direitos das universidades, não têm os mesmos deveres, como

promover a pesquisa.

Além das instituições superiores citadas acima, ainda existem os Centros de Educação

Tecnológica (CTEs) e os Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETs) que podem

oferecer cursos de nível superior na área tecnológica, tendo como objetivo a formação de

profissionais e especialistas dessas áreas (denominados de Cursos Superiores de Tecnologia –

CST).

Outro fator de suma importância diz respeito ao investimento governamental no

ensino superior público8, que vem sendo reduzido consideravelmente9. Na atual LDB não há

nada sobre a União ou outro poder público ter responsabilidade de criar novas instituições de

ensino superior, o que acaba resultando na estagnação e na diminuição da sua expansão. A Lei

só trata, no artigo 55, do fato de que a União deve manter as instituições de ensino por ela

criadas.

No entanto, o contrário está acontecendo com as IES privadas, que se expandem e

aumentam a lucratividade devido aos inúmeros benefícios concedidos pelo estado, como a

8 5. O ensino superior público é composto pelo conjunto de IES formados pelo Poder Federal, Estadual e/ou

Municipal. 9 O investimento da União para a educação vem sendo cada vez mais reduzido, em 1985 investia-se 6% do

orçamento da União, e em 1995 somente 2,7% desse orçamento (Jornal do Brasil, 15/3/03/1995. Fontes do IBGE e relatórios do Banco Central).

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isenção de impostos, a isenção do salário-educação, e a isenção da contribuição previdenciária

patronal das instituições filantrópicas10.

No gráfico a seguir, podemos verificar a expansão dessas instituições privadas em

contraponto com o número de instituições públicas.

Gráfico 3 - Distribuição do número de instituições por natureza administrativa e organizacional (2001)

A liberdade de ação e a tentação do lucro fácil estão gerando, no setor particular de

ensino superior, um quadro marcado pela inexistência das condições mínimas de trabalho,

pesquisa e ensino, tornando as universidades privadas “Mc Donald’s” do ensino, que abrem

seus cursos sem controle de qualidade pelo poder público (nesse caso, o MEC).

O crescimento quantitativo dessas instituições não tem sido acompanhado pelo

crescimento qualitativo. Apesar da relevante expansão dessas IES privadas, podemos observar

que normalmente a maioria delas está dissociada da tríplice função da universidade: o ensino,

10 Para uma discussão aprofundada sobre essas isenções, ver Empresariamento da Educação (Davies, 2002).

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a pesquisa e a extensão. Essas instituições se sujeitam às leis do mercado como qualquer

grande empresa, o aluno é o cliente, o responsável pela instituição é o dono do capital.

Sob a lógica mercantilista neoliberal, o ensino, principalmente o superior, tem se

tornado uma importante mercadoria da nova burguesia de serviços11, que o redireciona de

acordo com a racionalidade capitalista.

O ensino superior virou território de caça dos empresários do ensino, que vêm

procurando adequar a universidade ao padrão de acumulação capitalista consagrado pelas

classes dominantes, com base num modelo econômico internacionalizado, concentrador e

excludente.

Podemos constatar que o quadro atual, referente à condição do trabalho e do salário

dos professores do ensino superior privado, é caracterizado por uma crescente e progressiva

desvalorização salarial aliada ao aumento de tarefas e trabalhos burocráticos, características

da administração fordista das relações de trabalho.

No caso dos trabalhos burocráticos, temos desde a preparação de questões isoladas,

que constituem “bancos de questões” para provas posteriormente montadas por outros

docentes, até papéis – documentos de secretaria, portifólios pessoais, registros de notas, faltas,

trabalhos avulsos para alunos especiais (doenças contagiosas, licença maternidade, entre

outros direitos dos clientes/alunos), provas substitutivas, aplicação e correção de provas

dependência.

Somam-se a isso os “trabalhos acadêmicos”, muitas vezes organizados e investidos

burocraticamente, dado o número excessivo de alunos por professor em relação ao tempo e ao

valor financeiro deste tempo pago pela faculdade ao professor, como o caso de orientação de

TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), estágios supervisionados e atividades

11 Para um melhor aprofundamento sobre a nova burguesia de serviços, ver Boito Jr. (1999).

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complementares, nas quais os alunos dependem das orientações do professor para buscar

atividades científicas e culturais fora da sala de aula.

Dessa forma, o professor torna-se não um educador, mas um agente mal remunerado

da burocracia acadêmica, fazedor de muitas tarefas, destinadas anteriormente à secretaria,

coordenação e até mesmo a áreas administrativas. Tarefas que são solicitadas como se fossem

para o crescimento da democracia interna e da criatividade do fazer universitário, mas que

acabam por servir e para aumentar a produtividade do empregador através da ampliação da

jornada de trabalho, (mais-valia absoluta) e da intensificação do trabalho, pois o rendimento

das tarefas é ampliado por ferramentas como sistemas de computação e internet (mais-valia

relativa).

Quanto às relações de trabalho, dominadas pelo fordismo, podemos atestar o controle

do professor que ocorre por todas as vias e por todos os locais. São vigiados não só pela

direção e coordenação, mas pelos olheiros – vigias (sob o disfarce de bedéis) que se instalam,

a título de garantir a segurança, com seus walktalkies pelos corredores e escadarias

estratégicas das universidades; alunos no final da cada semestre avaliam o trabalho do

professor em formulários digitais elaborados pela mantenedora, possuindo desta forma um

poder subjetivo sobre a permanência do docente na instituição. Algumas salas de aula,

inclusive, possuem portas de vidro facilitando o controle e muitas vezes impedindo a

autonomia do trabalho docente que, neste contexto, na grande maioria das vezes ocorre com

salas superlotadas, mais uma das formas de ampliar o lucro. Pouca ou mesmo nenhuma

autonomia existe no trabalho docente, uma vez que o professor é feito marionete, escravo do

relógio, cumpridor de metas elaboradas burocraticamente pelos mantenedores.

É justamente nesse ponto que vamos destacar a desvalorização salarial que se processa

progressivamente, e de variadas formas, no ensino superior brasileiro.

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Desde a década de 70, com o crescimento das faculdades privadas e o conseqüente

aumento de vagas, houve um processo, no início lento, e, a partir de meados da década de 90,

acelerado, de perdas salariais e degradação da atividade docente.

No que tange às perdas salariais, podemos destacar algumas ações formuladas e

executadas por mantenedores, que serviram para construir o quadro atual. Dentre elas:

a) a diminuição da carga horária do professor, como produto da superlotação das

turmas de alunos. Isso lhe impede a dedicação a só uma escola. Para assegurar sua

sobrevivência, o professor acaba por se envolver em duas, três faculdades com propostas e

atividades distintas, o que dificulta ou mesmo inviabiliza sua participação em reuniões

acadêmicas e projetos científicos.

b) a diminuição do valor hora-aula, no caso dos professores contratados pelo regime

da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), facilitada por um amplo mercado de reserva

constituído por professores especialistas e mestres, muitos vindos das próprias universidades

mercantis de massas, que possibilita demissões de antigos e experientes docentes “caros” à

universidade para contratação de recém-titulados ou remanescentes de demissões de

universidades concorrentes, ou até mesmo da própria universidade contratante, por salários

cada vez menores.

c) a instituição do “regime” de professores cooperados, a quem não se pagam o 13º,

férias e nenhuma outra garantia trabalhista, libertando o empresário do ônus representado

pelos direitos legítimos dos professores. Nesse caso, há a terceirização da gestão da mão-de-

obra, podendo o mantenedor demitir ou contratar a mão-de-obra a seu bel prazer. O professor

passa a ser um profissional autônomo vendendo serviços, conhecimento e educação, sem

vínculo empregatício, sem projeto pedagógico, sem dedicação exclusiva, indo de encontro

com a idéia de que a educação é uma atividade-fim e por isso, não cabe sua terceirização.

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Nas universidades públicas percebe-se também a degradação do trabalho docente,

principalmente nas recentes condições de contratação, que criaram a figura do “professor

substituto” e do “professor visitante”. O contrato de trabalho para atendimento da necessidade

temporária de excepcional interesse público é aquele celebrado por uma pessoa física, que, de

forma pessoal, não-eventual e subordinada, aliena sua força de trabalho, em caráter precário e

oneroso, a ente da Administração Pública Direta, Autarquia ou Fundação Pública.

De acordo com Mata (2005):

[...] eis aqui uma entre as múltiplas definições jurídicas para o chamado Contrato Precário de Trabalho, que se encontra previsto na Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 37, Inciso IX, cuja regulamentação se deu pela Lei nº 8.745, de 09/12/1993. Esta, no Artigo 3º, reza que o recrutamento do pessoal a ser contratado, nos termos desta Lei, será feito mediante processo seletivo simplificado sujeito a ampla divulgação, inclusive através do Diário Oficial da União, prescindindo de concurso público. No caso da contratação de professores substitutos, visitantes e pesquisadores visitantes estrangeiros, a Lei nº 9.849, de 26/10/1999, abre exceção ao processo seletivo simplificado, prevendo que a contratação poderá ser efetivada mediante apenas da análise do curriculum vitae.

Nas universidades Públicas, sejam elas federais ou estaduais, há muito que o Contrato Precário de Trabalho (CPT) foi integrado às rotinas administrativas, pactuado em diversas áreas da instituição de ensino, sobretudo no âmbito da docência. Professores, alcunhados de substitutos (aqueles que atuarão em cursos de graduação) e visitantes (aqueles que atuarão em programas de pós-graduação), são freqüentemente contratados para suprir demandas eventuais resultantes. Podemos citar, por exemplo, a seção de colegas efetivos para outras unidades da própria universidade ou de outras esferas governamentais, de licenças médicas e congêneres, ou, no caso dos cursos de pós-graduação, para o atendimento, por exemplo, de necessidades pontuais relativas a determinadas linhas ou projetos de pesquisa, a intercâmbios, entre outros.

Não obstante essas circunstâncias, o CPT vem contribuindo para a degradação do

ensino superior público brasileiro em virtude das disfunções e abusos que marcam sua adoção

institucional: de solução, mesmo que paliativa, para déficits conjunturais, o CPT se transmuta

em instrumento dedicado à manutenção e cimentação de déficits estruturais.

Na última década, as universidades federais do país sofreram profundos impactos

estruturais, gerados por políticas governamentais a elas desfavoráveis, desenvolvidas em fins

dos anos 80. Destaca-se, aqui, a promoção de programas de incentivo à aposentadoria, e, a um

só tempo, a imposição de limitações de ordem legal e financeira à realização de novos

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concursos. Tais políticas, evidentemente asfixiantes, resultaram na subtração de parte

expressiva do corpo docente dessas instituições, especialmente aqueles de maior experiência

acadêmica (muitos dos quais, hoje, conferem status a certas instituições de ensino superior

particular), não tendo ocorrido medidas efetivas que compensassem os efeitos traumáticos

dessa evasão. Em vez delas, o incentivo às aposentadorias se deu em paralelo à restrição de

novas contratações, entre outros aspectos, por força de Lei, em 1995, e pela

retração/minoração de recursos da União destinados a este fim.

Todavia, tal panorama não se configura exclusivo às instituições de ensino superior

federais, mas, em distintas proporções, abarca as universidades estaduais. Nessas, assiste-se,

igualmente, à progressiva erosão do volume de recursos públicos destinados ao

financiamento, gerando, entre inúmeros efeitos danosos, o minguar de verbas dirigidas à

contratação de novos docentes. Esses novos docentes seriam contratados quer para o

atendimento minimamente adequado ao crescimento quantitativo e qualitativo de cursos e

alunos, quer para a reposição paritária das vagas geradas por aposentadorias, óbitos,

desligamentos voluntários, e, especialmente, em conseqüência da seção de docentes para

outros órgãos do estado, por tempo indeterminado. Trata-se daqueles que vão, nunca

retornam, tampouco dão notícias e ainda continuam a figurar no quadro da instituição,

aprofundando o déficit docente estrutural real, que não é raro.

No cenário em questão, os prejuízos ao ensino superior público brasileiro seriam

incalculáveis. Conforme Donaldo Bello de Souza, vamos centrar, por ora, em apenas dois

aspectos básicos: a debilitação da qualidade dos cursos e a proletarização involuntária

docente.

No primeiro caso, de antemão cumpre destacar que a qualidade dos cursos ministrados

pelas instituições superiores públicas, que hoje, significativamente, operam com docentes

temporários, torna-se débil. A contratação de professores substitutos não prevê seu

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envolvimento em espaços voltados à pesquisa e extensão, tampouco em atividades

administrativas e pedagógicas, dimensões estas que marcam a excelência do trabalho docente

e o caráter acadêmico atinente ao papel jurídico-social das universidades públicas brasileiras.

Nestes termos, o universitário é qualificável não apenas a partir do cotidiano

circunscrito à sala de aula, mas também por aquele em que se desenvolve o espírito

investigativo através do qual se pesquisa e, ainda, na própria objetivação destes saberes,

quando no estreitar dos vínculos entre a instituição universitária e a sociedade como um todo,

ou seja, pela via das atividades de extensão. Conjugados, ensino, pesquisa e extensão

constituem esferas de elevado potencial pedagógico, rico em possibilidades de

desenvolvimento humano e social, mesmo que, em alguns momentos, se verifiquem entraves

que dificultam a integração desejada ou a efetividade de uma ou de outra dessas esferas.

Noutras palavras, há forte interdependência nos três pilares da universidade, a tal ponto que

sua dissociação coloca em risco a identidade social e mesmo legal dessas instituições.

São justamente os espaços aludidos acima que servem, por exemplo, à realimentação

das aulas e cursos, aprimorando-os e atualizando-os, beneficiando, em particular, professores

e alunos, e, de modo geral, a sociedade. Além disso, a contratação se dá por um prazo de seis

meses, renováveis em até um ou mais anos, dependendo da instituição. Encerra-se, de um

modo ou de outro, justo quando o docente logra aperfeiçoar o curso que vinha ministrando, a

melhor interagir com a cultura da instituição, a estreitar laços de amizade, a consolidar seus

horários, enfim, a sentir-se parte integrante de um trabalho coletivo. Vale ainda destacar que,

após o término do contrato, o docente está condenado a não mais poder voltar a prestar

serviços àquela instituição, sob a alegação de que tal fato pode vir a caracterizar vínculo

empregatício.

Desses docentes, muitos são imediatamente absorvidos pelas entidades do ensino

superior particulares, que se beneficiam da experiência adquirida e do prestígio da instituição

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de ensino superior pública em que seu contratado atuou como substituto. Sob esse aspecto, a

universidade pública padece da privação de usufruir do aprimoramento e da maturidade

atingidos por esse professor, transferindo para as entidades particulares tal privilégio, o que

sugere que a instituição pública se encontra, em certa medida, a serviço da preparação de

recursos humanos para o setor privado da educação, como um grande centro de treinamento

docente. A propósito do setor privado, há de se reiterar que o quadro acima lhe é de extrema

conveniência.

Cerca de 20 anos atrás, o ensino dito de terceiro grau público respondia a

aproximadamente 60% das matrículas, enquanto o setor privado, a não mais de 40%. No

quadro atual, este último chega a atender cerca de 70%, enquanto as instituições públicas

federais e estaduais, em meio aos impactos da política governamental a elas desfavorável,

respondem aos 30% das matrículas restantes. Assim, a propalada expansão do ensino superior

brasileiro (veja-se que, entre 1994 e 1999, se constata um aumento de 42% das matrículas em

cursos de graduação) ocorre, de um lado, pela debilitação das instituições públicas, pelo

minguar progressivo e lento de seus recursos e prestígio social, e, de outro, pela oxigenação

das instâncias privadas, que, salvo raras exceções, em especial as confessionais, pouco

contribuem para o desenvolvimento científico do país, “coisificando” a educação, uma vez

que a tratam como mercadoria a ser concebida, gerida e comercializada de acordo com as leis

do mercado.

No segundo caso, ocorre o que aqui denominamos proletarização involuntária docente.

A contratação permanente, abusiva e desbaratada de professores substitutos nas universidades

públicas acaba por segmentar a classe no interior das instituições, subscrevendo um outro

grupo de profissionais da educação que se situa à margem das prerrogativas, direitos e

possibilidades de desenvolvimento profissional concernentes aos docentes estatutários.

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Com efeito, o Contrato Precário de Trabalho assume caráter poupador de contratações

de efetivos, portando-se como instrumento legal de terceirização do trabalho docente. A bem

da verdade, o professor temporário entra na universidade, ministra sua aula e vai embora, já

que não há espaços efetivos para o seu engajamento, envolvimento ou comprometimento com

o projeto político-pedagógico da instituição, a não ser o da sala de aula propriamente dita.

O docente se vê desamparado, sem os mesmos direitos de seus pares, pois a

jurisprudência entende esse tipo de contratação como um terceiro gênero, ou seja, não a

configura estatutária, tampouco empregatícia. Os direitos e obrigações dos substitutos são

previstos em lei específica (Lei nº 8.745/93), não se aplicando a legislação social (CLT) nem

o estatuto dos servidores públicos (Lei nº 8.112/90).

Mutuamente imbricados, a debilitação da qualidade dos cursos e a proletarização

involuntária docente tornam-se fonte de esterilização do ensino superior público,

desfigurando-o, tornando-o infecundo, exilando-o de sua tradição, vocação e responsabilidade

social, degradando-o histórica e socialmente. Acaba por assolar, de um lado, a excelência do

ensino que promove, e, de outro, as conquistas históricas resultantes da luta dos profissionais

de educação por melhores condições de vida e de trabalho.

Assim, o enfrentamento e a superação do cenário acima descrito devem dar-se com

base na implantação de programas federais e estaduais emergenciais de revitalização das

universidades públicas, por meio dos quais se objetive restabelecer, entre outras dimensões, a

capacidade de estas instituições promoverem concursos públicos que visem à contratação

imediata de novos docentes. Além da contratação, remunerá-los condignamente, respeitando,

ainda, a data de pagamento de seus vencimentos e bolsas, assim como o cumprimento

honroso dos demais direitos estatutários.

Diante do quadro dos professores das instituições particulares e públicas, vamos

analisar o mercado de trabalho para situar o aluno egresso, tanto da PUC, quanto da

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universidade mercantil de massa, com o objetivo de investigar como se dá sua inserção no

campo profissional.

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2 SITUAÇÃO ATUAL DO MERCADO DE TRABALHO

O mundo do trabalho tem sofrido modificações, desde o fim do século passado, em

escala global. Ainda que não exista homogeneidade nas mudanças processadas neste âmbito

das relações humanas nos diferentes países, algumas tendências gerais podem ser registradas,

tais como: a introdução da microeletrônica, da robótica e da informática nos processos

produtivos, como estratégia para obter o aumento da produtividade, num mercado cada vez

mais competitivo.

A sociedade do trabalho formada por volta do séc. XVIII, gerada pela revolução

industrial, centraliza as atividades humanas na produção dos bens materiais que garantem a

sobrevivência dos indivíduos. É o momento no qual a ética do trabalho se estabelece como

norma disciplinar das condutas dos homens.

Com profundas mudanças no conhecimento, novos descobrimentos científicos e

invenções, como a energia elétrica, a indústria automobilística, a indústria química, no final

do século XIX e início do XX, inicia-se a chamada segunda revolução industrial e

tecnológica. Esta, aprofundando a ética do trabalho, gera ao mesmo tempo uma situação de

abundância de bens e uma necessidade crescente de manter produtivos os trabalhadores. O

trabalho é gerado muitas vezes pelo próprio estado. É o momento do surgimento da grande

empresa capitalista e da participação ativa do estado na manutenção dos níveis de emprego e,

ao mesmo tempo, no atendimento às demandas crescentes dos trabalhadores quanto a sua

condição social. Essa situação manteve-se até as duas últimas décadas do século XX, quando

problemas estruturais da economia capitalista, gerados por um aumento progressivo de

tecnologia e informações, reordenaram as políticas econômicas de países líderes, como a

Inglaterra e os EUA.

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Ocorre, então, a terceira revolução industrial e tecnológica, momento que contém,

segundo Pochmann (1999, p. 14-15), sinais de “regressão social”, causados pela ausência de

empregos para todos, em uma sociedade tecnologicamente avançada e de uma economia não

somente internacionalizada (trocas comerciais entre países), mas globalizada (regras

comerciais para produção, contratos e transações financeiras globais – mercado global).

Podemos compreender melhor o quadro presente da conjuntura econômica mundial a partir da

seguinte descrição do chamado modelo internacionalizado da produção:

No contexto criado pela globalização, com a internacionalização da produção e da economia, observa-se o fortalecimento do grande capital especulativo e das grandes organizações em detrimento do controle governamental, ou seja, observa-se significativa transferência de poder do governo para outras instituições que têm sua influência político-econômica acrescida. Assim, acaba-se por fortalecer também o poder de dominação dessas organizações, aumentando a dependência dos empregados à empresa, visto que ficam cada vez mais à mercê das políticas, inclusive as sociais, traçadas pelas grandes corporações (Pimenta, 2001, p.36).

Podemos notar esse fenômeno, inclusive, no que diz respeito aos trabalhadores ligados

diretamente às relações de ensino/aprendizagem. Os grandes conglomerados educacionais,

parte deles financiada pelo capital estrangeiro, reservam ao trabalhador um lugar muito pouco

honroso para a realização de seu mister. Os cursos são mutilados pela instituição, para que

fiquem mais palatáveis ao cliente que adentra os bancos universitários sem requisitos

elementares, e resta ao educador acatar essa afronta se deseja manter o já escasso lugar no

mundo do trabalho que conseguiu obter.

A volatilidade das relações de trabalho empurra massas de trabalhadores para os

chamados setores de serviço, dentre os quais, o setor educativo, que agora, dominado pelos

grandes interesses financeiros e associado à incrível velocidade da produção, vincula o

profissional da educação, como todo trabalhador, a uma “sociedade tecnologicamente mais

avançada”, cujo interesse é produzir sempre mais, pois essa é uma das necessidades para a

afirmação do capitalismo dito global, inclusive, no que se refere à questão educacional.

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Muitas matrículas significam maior lucro, e não necessariamente mais sabedoria social,

conhecimento partilhado e melhoria socioambiental. Ao mesmo tempo, maior número de

profissionais da educação já não significa mais interesse e diversidade de idéias, mas, quase

sempre, profissionais com muitos alunos por sala de aula, sem acesso a meios e instrumentos

de pesquisa, mal remunerados e com pouca qualificação.

No setor secundário da economia, conforme aumenta a produtividade nas indústrias,

reduz-se o número de trabalhadores. Tal antinomia liga-se ao fato de que tecnologias mais

sofisticadas e maior exigência de qualificação dos trabalhadores aumentam o lucro dos

capitalistas e reduzem ainda mais os empregos, concentrando-os nas áreas que exigem maior

conhecimento tecnológico. Como conseqüência lógica deste processo, colhemos o

denominado “desemprego real”, possibilitado pelo avanço da tecnologia.

Retornemos, porém, à análise do desenvolvimento histórico que produziu o quadro

atual, para que possamos avançar um pouco mais nossos conceitos. A intensificação do

processo de internacionalização das economias capitalistas (com regras globais) ocorre a

partir década de 80, tendo como característica distintiva a integração dos mercados

financeiros mundiais, viabilizada pelo movimento de queda generalizada de barreiras

protecionistas e pela crescente presença de empresas transnacionais.

Esse mecanismo econômico implica, por sua vez, mudanças profundas na geração de

empregos e na condução e/ou negação de políticas sociais realizadas pelos países agora

envolvidos pela chamada globalização. Dos anos 80 até meados da primeira década do século

XXI, o tom da globalização se fazia entender pelo chamado neoliberalismo, privilegiando

sempre um estado fraco no que se refere à ação no campo social.

No que tange ao Brasil, se observarmos a evolução recente da economia,

especialmente a partir do início da década de 90, é possível destacar um rol de importantes

transições econômicas, sociais, demográficas e tecnológicas, com profundas implicações para

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a evolução do mercado de trabalho e para as mudanças nas relações de emprego. Essas

transições devem ser entendidas, segundo Chahad (2003c), como indo muito além de sua

influência sobre o nível das principais variáveis que compõem o mercado de trabalho,

afetando-lhe também a dinâmica e as estruturas regional, setorial e ocupacional.

Tais transições produzem certamente efeitos em praticamente todas as regiões e

estados brasileiros, principalmente nas áreas onde se concentram os pólos mais dinâmicos da

economia brasileira, no caso, os grandes centros metropolitanos.

No que diz respeito à estratégia econômica, a primeira transição, e talvez a mais

importante, refere-se à passagem de uma economia inflacionária para outra, na qual se

convive com a estabilidade de preços. O controle dos altos níveis de inflação, que adveio do

Plano Real, trouxe consigo o fim do "imposto inflacionário", com implicações positivas para a

diminuição dos índices de pobreza. Em contrapartida, o controle da inflação, por meio da

política monetária – altas taxas de juros, e controle do déficit fiscal restringindo o crescimento

econômico –, originou taxas de desemprego aberto maiores, assim como um aumento do

trabalho informal. A passagem de um regime de altas taxas inflacionárias para outro de

estabilidade de preços acarretou, na sociedade brasileira, outros impactos sobre o mercado de

trabalho além da elevação do desemprego e da informalidade. O fim da inflação melhorou a

distribuição de renda em direção ao maior consumo de bens e serviços das classes mais

pobres. Certamente um novo perfil de consumidor conduz a um novo perfil de produção, que,

embora não seja radicalmente diferente, determina o surgimento e desaparecimento de postos

de trabalho específicos, com implicações para a estrutura empregatícia.

A segunda transição, no âmbito econômico, diz respeito à passagem de uma economia

fechada para uma economia aberta. O processo de abertura comercial teve impactos setoriais

bastante nítidos. Por exemplo, o setor industrial passou por uma forte reestruturação produtiva

e organizacional, que levou à perda de dinamismo da economia e à diminuição sensível da

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mão-de-obra absorvida pelos seus diferentes ramos industriais, implicando profundas

transformações na geração de empregos, em sua qualidade e nas relações de trabalho. Neste

último caso, podemos ressaltar, como faz Lafetá (apud Pimenta, 2001, p. 57-59), a atualidade

da análise de Foucault acerca dos chamados “corpos dóceis”, que reaparecem com toda força

e não por um mero acaso. Segundo a autora, o moldar desses corpos dá-se através de um

duplo poder:

O poder condigno obtém submissão pela capacidade de impor às preferências do indivíduo ou grupo uma alternativa, suficientemente desagradável ou dolorosa para fazê-lo abandonar suas preferências. Esse tipo de poder se expressa através de ameaça física ou psicológica. O poder compensatório, por contraste, conquista a submissão através de recompensa positiva – ganhos, recompensas, elogios, dinheiro etc.

Devido ao reduzido número de postos de trabalho, qualquer tipo de reconhecimento

por parte do empregador, ainda que baseado em pífios elogios, produz uma cisão no grupo de

trabalhadores que se torna, por este motivo, muito mais vulnerável aos controles de produção

das chefias. Numa instituição escolar de ensino superior, por exemplo, ao congratular-se com

os professores da Pedagogia por terem lançado, todos, dentro do prazo as notas no sistema, o

coordenador de Instituto da universidade cria um falso clima de alteridade, alocando todos os

demais professores num segundo grupo em relação ao primeiro. Esse tipo de migalha

oferecida pela chefia finda por ser um lenitivo para um grupo de trabalhadores que vêem seu

cargo constantemente à mercê das fluídas políticas de promoção que perpassam as instituições

de ensino superior.

Prosseguindo ainda nossa análise mais ampla das relações entre o mercado e o

trabalho, podemos notar que a liberalização da economia vem acompanhada de um conjunto

de características que afetam também, de forma indireta, esse mesmo mercado. A maior

abertura provoca um aumento na elasticidade-preço da demanda dos bens, assim como os

avanços tecnológicos vindos do exterior são fortemente poupadores de mão-de-obra. Esses

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são fatores que afetam o mercado de trabalho com conseqüências sobre o mercado de bens e

serviços.

A terceira transição refere-se ao surgimento e proliferação de formas atípicas de

ocupação e de novos contratos de trabalho, requerendo mudanças institucionais em todos os

campos da vida econômica, originando um extenso e profundo processo de informalidade que

tem contribuído para a flexibilização das relações de trabalho. Uma das razões para tal

informalidade, além das pressões advindas das mudanças tecnológicas, diz respeito ao fato de

a reforma trabalhista, a tributária e as previdenciárias não terem se completado na última

década no Brasil. As dificuldades políticas, devidas ao conflito de interesses entre

empregadores, trabalhadores e governo, resultaram em uma modificação parcial das leis

trabalhistas. As alterações efetuadas, muitas inicialmente por meio de Medidas Provisórias do

Poder Executivo, trataram dos principais componentes do contrato de trabalho, horas e

remuneração, introduzindo ou ampliando a adoção de contratos alternativos ao “contrato

padrão”. O avanço das práticas de flexibilização no mercado de trabalho, sem a participação

ativa dos sindicatos, tem limitado a padronização das novas regras e a ressonância dos seus

“efeitos positivos”, além de cooperar para o aprofundamento do processo de informalidade,

causando ainda uma diminuição das receitas do sistema de seguridade social público. No caso

específico da educação superior, a flexibilidade tem se manifestado através da mudança da

forma de contratação dos profissionais da educação, do regime celetista para o de cooperados,

caracterizando uma terceirização de atividade fim. Há, também, a prática do marketing

pessoal e da “comercialização” de intelectuais, em projetos de cursos ou palestras cujo

profissional educador é um self-empreendedor e, ainda, a implementação de cursos

modulares, nos quais o professor é chamado a ministrar algumas horas isoladas, sem nenhum

contrato ou segurança trabalhista.

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A quarta transição diz respeito à lenta modificação do papel do estado na sociedade,

antes marcado por fortes estímulos à promoção direta da produção, tanto no setor público

quanto no setor privado, e agora orientado principalmente para a fiscalização e regulação da

economia. Em particular, o processo de privatizações promoveu ajustes no estoque de mão-

de-obra das empresas privatizadas, com implicações ainda incertas para o mercado de

trabalho, quando observado numa perspectiva de médio e longo prazo. Existem ainda os

efeitos indiretos decorrentes dessa transição, pois, na medida em que ocorre a redefinição da

atuação do estado, limita-se a capacidade de formação de poupança interna, comprometendo,

conseqüentemente, a capacidade de investimentos do país, com efeitos danosos para a

absorção de mão-de-obra.

No caso do ensino superior, o estado tem se mantido como mero controlador de suas

pretensas políticas educacionais para o setor através de ações fiscalizadoras, com o PROVÃO

e o SINAES (Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior). Amplia sua participação

promovendo vagas, através de políticas de isenção fiscal a faculdades, universidades e/ou

institutos isolados particulares que aloquem estudantes bolsistas em suas dependências

educacionais.

No que diz respeito à educação superior, a desregulamentação do setor, o crescimento

do investimento de capitais estrangeiros e a venda de ações nas bolsas de valores são, hoje,

fatos extremamente preocupantes.

A rapidez com que as negociações de compra e venda de instituições de ensino

superior acontecem no Brasil é incrível. Além das fusões, que têm formado gigantes da

educação, as “empresas de ensino” agora abrem o capital na bolsa de valores com promessa

de expansão ainda mais intensa e incontrolável.

Da parte do governo, nenhuma ação sinaliza a regulamentação do setor. Embora as

declarações do Ministro da Educação Fernando Haddad e sua equipe critiquem a

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mercantilização do ensino e defendam a educação como um bem público, o MEC ainda não

agiu efetivamente.

E a situação só tem piorado. De março de 2007 para cá, quando a Anhanguera

Educacional S.A tornou-se a primeira instituição de ensino superior da América Latina a abrir

capital na bolsa de valores, mais três instituições seguiram o mesmo caminho. No primeiro

dia de operações, em 12 de março, as ações da Anhanguera tiveram alta de 21,39%. A

instituição colocou 28% de seu capital à venda, tendo obtido uma valorização de 70% nas

ações, passados seis meses de operações. Com a captação de 512 milhões de reais no período,

comprou as Faculdades Integradas da Zona Oeste, em São Paulo, e as Faculdades Atlântico

Sul, no Rio Grande do Sul. Seu número de alunos saltou de 24 mil, em dezembro de 2006,

para 53 mil, em julho de 2007. A participação de fundos e a entrada na Bovespa valorizaram o

patrimônio do grupo, que foi de 1,7 bilhão para 3 bilhões de reais.

Os lucros exorbitantes e a atratividade no mercado de ações, entretanto, não têm

nenhuma relação com a qualidade de ensino. Prova disso pode ser constatada nos resultados

do último exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Segundo divulgado em

reportagem na revista Carta Capital (“O ensino vai à Bolsa”, 17 de outubro de 2007), menos

de 10% dos formados no curso de direito do Centro Universitário Ibero-Americano, em São

Paulo, e da Faculdade Comunitária, de Campinas, ambas da rede Anhanguera, foram

aprovados.

As outras instituições que seguiram seu caminho não ficam para trás. A Kroton

Educacional, da Rede Pitágoras, de Minas Gerais, que tem como sócio o Ministro Walfrido

dos Mares Guia, já captou R$478,8 milhões de reais. Segundo a revista patronal Ensino

Superior (agosto de 2007), o site da Kroton informava que mais de 50% do capital da

instituição poderia ser vendido e que, portanto, os acionistas poderiam “interferir igualmente

na organização e decisões da empresa”.

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Na mesma linha, a Estácio Participações, controladora da Universidade Estácio de Sá,

do Rio de Janeiro, faturou 447 milhões até o momento. Sem mencionar a rede COC, que, com

a estréia na Bovespa, passa a se chamar Sistema Educacional Brasileiro. Para a COC, um de

seus “trunfos” é apostar no ensino a distância, que reduz drasticamente os “custos do negócio”

e chega a ter montagem 30% mais barata que a do curso presencial. Segundo informou

reportagem do jornal DCI (Diário do Comércio e Indústria) a rede pretende expandir de mil

para 22 mil o número de estudantes que utilizam esse sistema de ensino.

A expansão não parece estar no fim. Pelo contrário. Em 1996, o País tinha 922

instituições de ensino superior, sendo 711 delas particulares. Atualmente, segundo o Inep

(Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira), são 2.398 instituições privadas,

que reúnem 4,4 milhões de estudantes, contra apenas 257 instituições públicas, com 1,4

milhões de matriculados. Isso porque apenas 10% da população brasileira entre 18 e 24 anos

está matriculada no ensino superior. Mesmo com o percentual baixo frente ao potencial do

país, as faculdades e universidades brasileiras movimentam aproximadamente 15 bilhões de

reais por ano.

Os representantes do patronato não se esforçam para disfarçar suas intenções, e as

afirmam categoricamente, como fez o presidente do SEMESP (Sindicato das Entidades

Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo), Hermes

Figueiredo, em artigo publicado na Revista Ensino Superior. Para ele, o ensino não é um bem

público e, sim, um “serviço público, quando prestado pelo poder público e atividade

econômica quando prestado pela iniciativa privada”.

É preciso que o governo tome ações concretas, por meio de medidas emergenciais, que

limitem a participação do capital estrangeiro, regulamentem o ensino privado e combatam a

mercantilização da educação no Brasil.

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A quinta transição refere-se ao processo de inovação tecnológica implementado no

Brasil desde o início da década de 90, nos primórdios da abertura comercial, como

instrumento de resposta às crescentes pressões por maior competitividade e mais

produtividade das empresas, decorrentes da globalização dos mercados. Por se tratar de um

dos principais fatores determinantes do grau de competitividade entre países, setores e

organizações empresariais, essas inovações tornaram-se condição indispensável ao

desenvolvimento econômico-social, sendo processadas em níveis cada vez mais intensos. Isso

levou as empresas a repensar o modo de organização do processo produtivo e as formas de

gestão da produção, causando impacto no emprego, na estrutura ocupacional, no conteúdo do

trabalho e nas relações de emprego. Outro ponto que merece destaque na análise dos reflexos

das novas tecnologias sobre a dinâmica do emprego refere-se à capacitação dos trabalhadores,

cujo nível de exigência de qualidade, pelas empresas, torna-se cada vez mais intenso. Os

trabalhadores com pouca escolaridade vão sendo excluídos do mercado de trabalho e

substituídos pelos mais capacitados, com maior gama de competências.

Neste sentido, as universidades privadas oferecem curso de capacitação aos docentes

para adequar o profissional às exigências do mercado educativo: preparar para produzir aulas

em massa, para o grande público e, ao mesmo tempo, servir como demonstrativo para o MEC

(Ministério da Educação e Cultura) do interesse da empresa privada na promoção das políticas

para o setor.

A sexta transição refere-se ao elemento demográfico. Embora o crescimento

populacional venha diminuindo sensivelmente há várias décadas, a pressão demográfica

herdada do passado ainda foi muito forte na década de 90, e continuará sendo até o final da

primeira década do terceiro milênio, pelo menos nos grandes centros urbanos, quando os

demógrafos afirmam que se encerrará a atual transição demográfica brasileira.

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O ainda forte crescimento da PEA (população economicamente ativa) brasileira, na

última década, continuou trazendo dificuldades para a absorção de mão-de-obra pelo setor

formal, com impactos no mercado de trabalho. O primeiro deles refere-se à contribuição

demográfica para a ocorrência de altas das taxas de desemprego, notadamente nas áreas

urbanas do país onde se concentra grande parte das ocupações brasileiras. O segundo refere-se

ao surgimento da chamada "onda jovem", decorrente do nascimento, em décadas passadas, de

um grande número de pessoas que agora afluem à força de trabalho. Nesse contexto, na

ausência de um sistema de proteção social adequado aos desempregados, pressionam-se,

simultaneamente, o desemprego e a informalidade.

Esse conjunto de transições, segundo Chahad (2003a, b, c) tem seu principal reflexo

na evolução da atividade econômica, tanto em âmbito nacional como regional, inclusive em

estados e municípios. Em qualquer caso, a evolução do PIB (Produto Interno Bruto)

condiciona a evolução do mercado de trabalho, afetando seu comportamento e suas

modificações ao longo do período em consideração.

De acordo com Dupas (1986), o conjunto de transições acima transcrito demonstra que

houve uma forte correlação entre emprego e crescimento econômico e que havia evidências

de uma tendência estrutural para o aumento do desemprego a partir dos anos 80, período que

corresponde justamente ao acirramento do processo de globalização observado para alguns

países, inclusive no Brasil.

Como conseqüência da forte instabilidade econômica e das mudanças acentuadas de

paradigma na economia brasileira a partir dos anos 80, os ajustes de emprego (gráfico 4)

foram mediados por diversos e sucessivos Planos Econômicos, Cruzado (1986), Bresser

(1987), Verão (1989), Collor (1990) e Real (1994).

O Brasil passou, nesse período, por duas ondas de ajustes estruturais: a primeira, a

partir de 1980, com o já enfraquecido regime militar tendo que optar pela via da recessão e

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obtenção de superávits comerciais. Foi um momento de forte recessão, com o PIB caindo 3%,

quando o desemprego bateu, então, o recorde do período (8% pelo IBGE), que voltaria a ser

igualado apenas no segundo semestre de 1998.

Após esse período de forte contração, o desempenho exportador levou à relativa

recuperação do PIB. O desemprego caiu drasticamente para o patamar de 4%, no qual

permaneceu até 1990, apesar de ter ocorrido nova dramática queda do PIB, o que foi possível

porque a variável de ajuste foi a queda no rendimento real dos salários. Nessa época, a

indústria local ainda se modernizava defensivamente e os cortes de mão-de-obra eram

cautelosos por haver expectativa de uma rápida recuperação. São desse período várias

tentativas de estabilização: os Planos Cruzado, Bresser e Verão.

Gráfico 4 - Taxas de crescimento do BIP e do desemprego metropolitano - Brasil 1982-1998 Fonte: IBGE

A segunda onda de ajustes estruturais, afirma Dupas (1993), baseado em Pomeranz &

Nunes Ferreira (1996), aconteceu a partir de 1990 com o Plano Collor. A radical abertura

comercial, concomitante às taxas negativas do PIB, forçou o nível de desemprego a novo

patamar (6%). A necessidade imperiosa de competir obrigou o setor produtivo a uma

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profunda e contínua reestruturação preventiva, com automação radical e terceirizações, além

de redução de níveis hierárquicos e estruturas administrativas e procedimentos orientados para

maior flexibilidade, com inevitáveis conseqüências sobre o emprego.

As transformações na esfera da produção afetaram a qualidade do trabalho, ou seja, o

nível e a estabilidade de suas rendas e os esquemas de proteção social.

O exame do gráfico 4 revela-nos algumas surpresas. Tentativas de estabilização desse

conturbado período da nossa história econômica tiveram, num primeiro momento, efeito

positivo sobre as rendas reais médias dos indivíduos, especialmente o Plano Cruzado, em

1986, e o Plano Collor, em 1990. O último foi seguido por grande queda das rendas em

função da pior recessão da década (1992), somada ao forte arrocho salarial. A partir daí,

houve contínua recuperação seguida do paulatino crescimento do PIB, que se manteve em

ascensão após o Plano Real, gerando boas notícias: a renda média do setor informal,

especialmente na categoria “conta própria”, sempre liderou os saltos de renda; até o Plano

Real, os ganhos de renda eram rapidamente perdidos; a partir de 1994, mantiveram-se e

cresceram, alterando o perfil da massa salarial a favor do setor informal.

Gráfico 5 - Brasil Regiões Metropolitanas – Rendimento médio real por posição na ocupação Fonte: IBGE

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A análise do gráfico 5, que apresenta o rendimento real médio por posição na

ocupação, revela informações muito importantes. Observa-se durante todo o período

analisado (1985-1996) que o rendimento real médio dos trabalhadores sem carteira manteve-

se significativamente inferior (aproximadamente 30% a 40%) ao rendimento dos

trabalhadores com carteira (incluídos na remuneração os ganhos proporcionais de férias e 13º

salários). Embora essa diferença tenha se estreitado um pouco em função da maior

recuperação de renda após o Real, já relatada, ainda se mantém significativa. O mesmo

acontece com relação aos trabalhadores por conta própria, sempre com renda inferior àqueles

com carteira, apesar de seus ganhos relativos após o Real terem sido bem maiores,

diminuindo em cerca de metade essa diferença quando comparados aos trabalhadores com

carteira. No entanto, se consideradas as médias, quando os trabalhadores perderam suas

funções no mercado formal e mergulharam no informal sua renda sofreu uma queda

expressiva, somada a uma nova e forte insegurança com relação ao futuro e à proteção social.

A partir dessa rememoração de nossa evolução econômica recente, vamos analisar

suas conseqüências sobre o desemprego no Brasil, seguindo as análises desenvolvidas por

Dupas (1999).

No gráfico 6 é demonstrada a dinâmica dos empregos nas metrópoles a partir de 1985.

Pode-se verificar tendência geral de crescimento do desemprego em dois períodos distintos:

até 1990, nos setores indústria, serviços e construção civil houve aumento de 20% no número

de empregos, destacando-se a construção civil (28%); a partir de 1990, os empregos no setor

industrial desabam (-34%), na construção civil diminuem 8% e só nos serviços crescem um

pouco. Em seis anos (1991-1997), o Brasil metropolitano perdeu 4% dos seus empregos,

quando havia ganhado 20% nos cinco anos anteriores.

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Gráfico 6 - Brasil Metropolitano – Porcentagem de empregos gerados/perdidos por setor de atividade 1986-1997

No total do período, a grande alteração foi a dramática queda dos empregos industriais

e o forte crescimento do emprego em serviços, setor no qual a informalidade é típica. Como

resultado, a evolução da distribuição das pessoas empregadas nas metrópoles sofreu

importante transformação com o aumento no setor de serviços e a queda na indústria, o que

pode ser visualizado no gráfico 7.

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Gráfico 7 - Brasil Metropolitano – Número absoluto e distribuição relativa dos ocupados por setor de atividade 1985-1997 Fonte: IBGE

Ainda segundo Dupas, um corte fundamental para o entendimento da mudança do

emprego no Brasil é a análise da evolução do tipo de ocupação, evidenciada pela explosão do

trabalho informal nas metrópoles brasileiras.

O autor nos mostra, no gráfico 7, ter ocorrido um comportamento muito diferente após

1990 – ano que mais se caracterizou como um momento de ruptura com o antigo paradigma

do mercado de trabalho local. O número de empregos gerados com carteira assinada desaba

de um crescimento de 23% (1986-1990) para 28% negativos (1991-1997); os trabalhadores

sem carteira, de um modesto crescimento de 5% (1986-1990) vão para 27% (1991-1997). Já o

chamado "informal por conta própria" obteve nível recorde de crescimento nos dois períodos,

sempre em aceleração. No total, durante o período analisado, os trabalhadores com carteira

perderam 5% dos postos, os sem carteira ganharam 32% e os por conta própria saltaram 70%

acima de seu nível em 1985 (Dupas, 1999).

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Gráfico 8 - Brasil Metropolitano – Porcentagem de empregos gerados/perdidos por posição na ocupação 1986-1997 Fonte: IBGE

A partir do exposto até o momento, podemos ter como evidente que o quadro geral do

emprego no Brasil não se encontra satisfatório ou, como afirma Mattoso, “levando-se em

consideração os indicadores de desemprego, a década de 90 destacou-se por registrar a mais

grave crise do emprego na história brasileira” (Mattoso, 2000, p.11). Além do desemprego

historicamente sem paralelo, o mercado de trabalho brasileiro enfrentou uma redução de

empregos formais, uma insegurança nas condições de relações de trabalho, cada vez mais

precárias, e o aumento de trabalhos terceirizados, de forma crescente. Torna-se patente a

desestruturação das condições de trabalho-emprego, com o trabalhador cada vez mais distante

da “rede de proteção social”. Muitas vezes, o ex-empregado não consegue mais ser

recolocado no emprego formal e é empurrado para a informalidade. Como afirma Mattoso:

“Em uma economia incapaz de manter e gerar novos empregos, a informalidade é uma

estratégia para garantir a sobrevivência” (Mattoso, 2000, p.11).

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Quadro 2 – Número de empregos gerados (perdidos) segundo posição na ocupação no trabalho principal nas regiões metropolitanas brasileiras

Continuando nossa análise quantitativa, por meio das diversas representações gráficas

que vimos trabalhando até este ponto de nossa argumentação podemos notar o grande avanço

da categoria “conta própria”, que foi a principal geradora de postos de trabalho, 1,7 milhões

de ocupações desde 1986. Categoria esta que deve ter absorvido boa parte dos trabalhadores

com carteira que mudaram de ocupação, o que precisa ser investigado com mais critério. Nela

estão incluídos, por exemplo, cabeleireiros, taxistas, ambulantes; mas também consultores

(onde encontramos um número grande de administradores) e profissionais liberais.

Conseqüentemente, a disparidade de renda tende a ser muito grande, convivendo a acentuada

precariedade com razoável estabilidade. Já os trabalhadores sem carteira parecem ter perfil

mais homogêneo. Na categoria incluem-se empregados domésticos e trabalhadores da

pequena indústria e do setor de serviços, dentre eles, serviços requeridos e executados por

administradores.

Como conseqüência da forte tendência de flexibilização introduzida na economia

brasileira pela abertura econômica acelerada, o mercado de trabalho transformou-se

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profundamente com conseqüentes alterações de natureza psicossocial, alteração ilustrada pelo

gráfico 9 e pelo quadro 2, supracitado. Pode-se observar que, após vários anos em patamar

razoavelmente estável, a partir de 1990, as curvas relativas aos setores formal e informal se

invertem rapidamente. Após pequena alteração logo em seguida ao Plano Real, a tendência é

retomada nos anos mais recentes, com o setor informal tendendo a representar mais de 55%

da mão-de-obra metropolitana brasileira.

Gráfico 9 - Brasil Metropolitano – Distribuição relativa dos ocupados segundo posição na ocupação no trabalho principal 1985-1997 Fonte: IBGE

Em apenas uma década é alterada a referência do mercado de trabalho, que deixa de

ser o formal, isto é, com carteira assinada e com direitos adquiridos. A possibilidade de obter

uma colocação passa a ser maior no setor informal, mas a referência social continua a ser, no

inconsciente coletivo, estar empregado no setor formal.

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Dupas comenta a contradição e a discrepância na medição dos níveis de desemprego

entre os índices do IBGE e do SEADE, fruto de a primeira instituição considerar qualquer

trabalhador precário como empregado e o SEADE ser mais sensível ao significado da

necessidade do trabalho precário, também dentro do chamado setor informal. Defende a idéia

de que é necessário captar a atual realidade brasileira em sua dinâmica, observando-se os dois

índices paralelamente

porque, se a precariedade – que vem junto com a informalização – aumenta, é preciso captá-la com maior sensibilidade. Não parece razoável usar a mesma metodologia para países com 5% ou 55% dos trabalhadores concentrados no setor informal (Dupas, 1999).

Dando continuidade a nossa análise quantitativa, notamos, observando as legendas do

gráfico 10, a explicação das diferenças de critério que conduzem a resultados tão diversos. O

IBGE, escudado em metodologia internacional – que, diga-se de passagem, permite variações

– considera qualquer trabalhador precário como empregado.

Gráfico 10 - Critérios para os índices de desemprego – SEADE versus IBGE

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Cabe atenção a um fator que permite atenuar, em parte, os índices de emprego no

Brasil. Trata-se da forte incorporação de mulheres ao mercado de trabalho a partir de 1990, o

que, juntamente com o eventual aumento do número de jovens que se dispôs a trabalhar, fez o

crescimento da PEA (População Economicamente Ativa) aumentar neste segmento numa

velocidade maior do que nos demais. Conforme pode ser observado, trata-se de um fenômeno

mundial que soma razões de natureza econômica (obtenção de renda mínima familiar) e de

natureza psicossocial (mudança de status da mulher na sociedade). No Brasil ele significa um

crescimento da PEA feminina – em relação à masculina – de 32,5% no período 1985-1996.

Pesquisas recentes (junho/2006) sobre renda e desemprego no Brasil, elaboradas pelo

IBGE, demonstram que “o número de desocupados (pessoas à procura de emprego) nas seis

regiões metropolitanas chegou a 2,34 milhões, com aumento de 289 mil desempregados em

relação a junho de 2005, tendo crescido 14,1%” (Lazzareschi, 2007, p. 45).

Desde 1980, o desemprego no Brasil foi crescente, somente em 2007 houve

diminuição do índice. De dois dígitos passou a um, mais exatamente a 8,9%, segundo o IBGE

(desemprego aberto).

É significativo ressaltar que recentemente tem aumentado o número de carteiras

assinadas e, consequentemente, do regime formal de trabalho para os setores que exigem

baixa qualificação e remuneração (Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo –jan. 2008).

A Pesquisa de Emprego e Desemprego do Dieese (Departamento Intersindical de

Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) e do SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise

de Dados) afirma que o número de vagas tende a crescer ainda mais em 2008. Segundo o

coordenador de pesquisa na Fundação SEADE, Alexandre Loloian, o comportamento do

mercado mostra que os trabalhadores mais requisitados têm sido aqueles que recebem salários

mais baixos. Mas a tendência, ele garante, é de que isso se reverta no próximo ano (Portal do

Administrador, acesso em 28/12/2007).

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Estudos recentes apontam a redução do desemprego no país. O último dado disponível

na pesquisa sobre mercado de trabalho do Dieese mostra que a taxa de desemprego na região

metropolitana de São Paulo foi a menor desde novembro de 1996, ficando em torno de 14,1%

para a população economicamente ativa, que representa a força de trabalho, envolvendo

pessoas ocupadas e desocupadas (Jornal Correio do Brasil 28/12/2007)

O ano de 2007 foi aquecido quanto à criação de postos de trabalho. Segundo dados do

IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a taxa de desemprego fechou em 7,2%.

Isso significa que 709 mil pessoas ingressaram no mercado formal e a população desocupada

caiu abaixo dos 2 milhões de trabalhadores, o melhor resultado em cinco anos (Portal do

Administrador, acesso em 28/12/2007).

Ainda que tímido, o pequeno aquecimento da economia brasileira em 2007 e a

conseqüente geração de novos postos de trabalho tornam-se significativos para a análise da

inserção do profissional no mercado de trabalho atual e sua possível inclusão social uma vez

que, segundo Lazzareschi (2007):

[...] a desestruturação dos mercados de trabalho desestrutura vidas e famílias inteiras, excluindo-as do mercado formal de trabalho e das possibilidades de obtenção de renda. Os problemas sociais que aí advêm são de extrema gravidade (pobreza, miséria, violência) e enredam os governos em quebra-cabeças de difícil solução a curto e médio prazo.

Taxas elevadas de desemprego significam taxas elevadas de pobreza, segundo

Lazzareschi (2007). A autora cita o relatório anual sobre tendências mundiais do trabalho da

Organização Internacional do Trabalho (OIT),

[...] que são 500 milhões de pobres no mundo e, destes, apenas 14,5 milhões ganham mais de um dólar americano por dia. A definição de pobreza foi elaborada pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional, cuja função mais significativa é a promoção do desenvolvimento dos países pobres. Segundo esses organismos internacionais é pobre quem não tem renda pessoal de pelo menos 1 ou 2 dólares americanos por dia. Os jovens dos 15 aos 24 anos constituem a metade de todos os desempregados do mundo. Os pobres brasileiros constituem uma população de mais de 30 milhões e destes 14 milhões sofrem de insuficiência alimentar (2007, p.40).

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A sensação de que a exclusão social estaria aumentando por uma série de razões, que

mereceriam melhor análise, começa a se generalizar – tanto em países centrais como nos

menos desenvolvidos. No entanto, apesar de seu uso amplamente disseminado e de sua

influência no discurso político, o termo exclusão social ainda não foi devidamente definido.

Dupas (1996) informa que, na Europa,

[...] a discussão sobre exclusão social apareceu na esteira do crescimento dos sem-teto e da pobreza urbana, da falta de perspectiva decorrente de desemprego de longo prazo, da falta de acesso a empregos e rendas por parte de minorias étnicas e imigrantes, da natureza crescentemente precária dos empregos disponíveis e da dificuldade que os jovens passaram a ter para ingressar no mercado de trabalho;

enquanto Wolfe (1995) associa a preocupação com exclusão social à ameaça que

grupos, até recentemente integrados ao padrão de desenvolvimento vigente, têm sofrido de

serem marginalizados, concretizada em muitos casos, criando uma classe de novos excluídos.

Rogers (1995) aborda a questão da exclusão social em sua essência multidimensional,

incluindo não só a falta de acesso a bens e serviços, mas também à segurança, à justiça, à

cidadania, ou seja, relacionando-a às desigualdades econômicas, políticas, culturais e étnicas.

Neste sentido, pode-se estar excluindo do mercado de trabalho (desemprego de longo prazo),

do trabalho regular – part-time e precário –, do acesso a moradias decentes e a serviços

comunitários, do acesso a bens e serviços, inclusive públicos. A exclusão ainda pode vir,

acrescenta esse autor, de dentro do mercado de trabalho, com empregos ruins e instáveis,

gerando renda insuficiente para garantir padrão de vida mínimo, como a falta de acesso à

terra, à segurança e aos direitos humanos.

O conceito de exclusão social – bem como os de pobreza e desemprego – é uma

resposta à necessidade de lidar com algumas características sócio-econômicas surgidas

recentemente, observa Silver (1995). O autor enumera, assim, mais de 20 categorias de

excluídos, entre eles os sem-habilidades (skill-less), os analfabetos, os fora-da-escola, os

viciados, os delinqüentes, as crianças que sofreram abuso.

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É, pois, tarefa enormemente complexa tentar distinguir sentimento de exclusão de uma

situação objetiva de exclusão, efetiva. Pois a noção de exclusão é saturada de significados,

não-significados e contra-significados. Pode-se fazer quase qualquer coisa com o termo, já

que ele exprime o ressentimento daqueles que não podem obter aquilo que reivindicam.

Importa deixar claro que este trabalho não pretende ater-se longamente às questões da

exclusão social, mas é sensível às observações que elas sugerem, uma vez que implica no

objeto central de nossa discussão que é o mercado de trabalho para os recém formados em

administração. Inserir-se no mercado de trabalho implica inclusão social num mundo

globalizado.

Ao gerarem uma massa de pessoas supérfluas ao sistema, as recentes transformações

sócio-econômicas redirecionaram o foco das discussões sobre problemas sociais. Desde o ano

2000, discutem-se as novas necessidades sociais do capitalismo global. As organizações

internacionais, como o BIRD (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e o FMI (Fundo

Monetário Internacional), começam a colocar em seus discursos a necessidade de possibilitar

condições de participação cidadã às populações dos diversos países integrantes ou em

processo de integração ao sistema mundial de mercado – entre essas ações cidadãs incluem-se

as relacionadas ao setor educativo.

Em países como o Brasil, o processo de internacionalização da economia local – com

contínuas aquisições de empresas nacionais por transnacionais e com a velocidade das

privatizações – torna muita rápida a incorporação de padrões de produtividade global,

afetando fortemente a lógica dos empregos locais. Impostos, regras de investimento e

políticas econômicas têm de responder às normas da economia globalizada. O

desenvolvimento econômico e social sustentável mostra-se, pois, impossível sem um estado

ativo. Um estado atuante – e não um estado mínimo – é central ao desenvolvimento

econômico e social, ainda que como parceiro e facilitador. O próprio Banco Mundial, desde o

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final dos anos 90, está assumindo posições flexíveis a respeito do papel do estado. Portanto, a

ação do governo tem crescido e não diminuído. Com Dupas afirmamos que “[...] a

globalização requer grandes e não pequenos governos".

Ao estado provedor de serviços sociais e regulador de mercado dos anos 60, mediador

das relações e dos conflitos sociais, contrapõe-se o atual, aquele que percebe como o novo

modelo global de produção agrava a exclusão social, após um período de imposição de

políticas econômicas pautadas pela idéia de um estado mínimo. Há, no início do século XXI,

um aumento da sensibilidade dos estados nacionais neoliberais, os quais vêm promovendo a

retomada de políticas públicas eficazes na área social e re-introduzindo a dúvida sobre a quem

cabe gerar empregos na economia globalizada.

Os programas sociais tendem, no início do século, a envolver estruturas ágeis e amplo

comprometimento da sociedade civil e dos movimentos sociais na gestão de projetos. Nesse

sentido, temas e ações voltados para a descentralização, autonomia e responsabilidade pessoal

e social são dominantes nas políticas públicas do novo milênio. Estão também presentes nas

propostas de gestão de grandes e médias empresas envolvidas no modelo de cadeias

produtivas, o que acaba por infligir aos trabalhadores mais responsabilidades, horas reais de

trabalho, sem uma efetiva e justa participação nos lucros da empresa.

O processo de reestruturação produtiva, nos últimos anos, tem sido abordado de

distintas formas na literatura. Enquanto alguns anunciam suas virtudes, outros denunciam

suas mazelas. Fala-se no advento de novos padrões produtivos com a introdução das

inovações tecnológicas e organizacionais. Registra-se a mudança no mercado de trabalho,

com diminuição do número de trabalhadores em regime formal e eliminação dos postos de

trabalho, acarretando a precarização. Contudo, a existência da relação entre a modernização

tecnológica e o desemprego ainda não foi satisfatoriamente esclarecida.

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As tendências atuais de renda e mercado são avaliadas de formas diversificadas por

especialistas da área. Entre eles, Reich (1993) e Rifkin (1995) são pessimistas quanto ao

futuro do emprego e renda. Reich classifica a atual estrutura do trabalho em três categorias:

serviços rotineiros de produção (tarefas simples e repetitivas que ainda exigem a participação

humana em maior escala); serviços prestados "em pessoa" (garçonetes, enfermeiras,

vendedores em geral) e serviços simbólico-analíticos exercidos por especialistas em imagens

abstratas (pesquisadores, engenheiros, executivos etc.) Para o autor, os serviços rotineiros de

produção e simbólico-analíticos podem ser prestados globalmente, competindo, assim, com os

estrangeiros.

Rifkin, por sua vez, considera que a articulação da automação e a reengenharia

provocam o fim do emprego e que, socialmente, a tecnologia traz maiores desvantagens do

que vantagens, pois seu impacto no tecido social é expulsar setores do sistema diferentes

daqueles que estão sendo incorporados pelo novo modelo. Haveria declínio da força de

trabalho global, polarização social crescente (os blue collar estão perdendo poder de compra),

declínio da classe média norte-americana, profunda desintegração social e violência. As

poucas alternativas disponíveis seriam a reengenharia da semana de trabalho, o fortalecimento

do terceiro setor e a globalização da economia social por meio das ONGs (Organizações não

Governamentais).

Já para Castells (1998), a nova economia informacional não tem como conseqüência o

aumento do desemprego. Os postos de trabalho nas indústrias mais tradicionais terão o

mesmo destino dos agrícolas; por outro lado, serão criados trabalhos novos na indústria de

alta tecnologia e no setor de serviços. O autor acredita que níveis tecnológicos mais elevados

se relacionariam a taxas de desemprego menores. No entanto, Castells concorda que o

endurecimento da lógica capitalista desde a década de 1980 tem fomentado a polarização

social, apesar da melhoria ocupacional, e que a flexibilidade dos mercados e dos processos

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cria as bases para um novo tipo de trabalhador: o trabalhador flexível. Há mais postos de

trabalho e maior proporção de “pessoas em idade de trabalhar empregadas” que em nenhum

outro momento da história. Afirma ainda que a difusão das tecnologias de informação não tem

resultado em desemprego massivo.

No caso brasileiro, percebemos pelas mudanças no sistema financeiro bem como pela

introdução de novas tecnologias e automação – que resultaram em modificações no processo

de trabalho e na diversificação dos serviços oferecidos – o aumento do número de

equipamentos de auto-atendimento, e, consequentemente, a diminuição do número de

funcionários, também no setor de serviços. Assim, aparentemente, o desemprego estaria

relacionado à introdução das novas tecnologias.

[...] o desemprego apresenta-se sob diferentes formas e tem diferentes causas. As formas mais persistentes de desemprego podem ser assim identificadas: estrutural, tecnológico, conjuntural, friccional e temporário (Lazzareschi, 2007, p.42-43).

Segundo Lazzareschi, o desemprego estrutural é típico dos países subdesenvolvidos e

dependentes, conseqüência de investimentos produtivos fracos e ausências de mecanismos

institucionais de distribuição de renda; já o tecnológico é próprio de países mais

desenvolvidos e provocado pelo desenvolvimento de tecnologias coligadas a novas formas de

organização do processo de trabalho; o conjuntural é conseqüência da queda temporária dos

investimentos produtivos, em determinadas conjunturas econômicas, financeiras e/ou

políticas, nacionais, e/ou internacionais; o friccional é provocado pela mudança de emprego

ou atividade dos indivíduos; o temporário é fruto da sazonalidade de algumas atividades

econômicas como as agrícolas e o turismo.

Em todas essas formas, o trabalhador passa por situações difíceis, podendo chegar ao

subemprego, enfrentando a precarização das relações de trabalho.

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As profundas transformações no mundo do trabalho, manifestadas através da invenção

da máquina, do ponto de vista tecnológico – apontadas por Márcio Pochmann partindo do

referencial das transformações provocadas pelas revoluções industriais – são analisadas

também por Paul Singer. Este autor afirma que o futuro do trabalho reflete, do ponto de vista

social, uma situação desesperadora, com suas conseqüências recaindo sobre o trabalhador,

que tem de se adequar às exigências do mercado para não ser excluído do mundo do trabalho.

Todas as revoluções industriais acarretaram acentuado aumento da produtividade do

trabalho e, em conseqüência, causaram desemprego tecnológico.

Os deslocamentos foram grandes, milhões de trabalhadores perderam suas qualificações à medida que máquinas e aparelhos permitiram obter, com menores custos, os resultados produtivos que antes exigiam a intervenção direta da mão humana (Singer, 1998, p.16).

Diante da assustadora e crescente transferência de atividades exercidas, até então,

pelas mãos dos trabalhadores para serem executadas por equipamentos de automação, torna-

se cada vez maior o número de desempregados. Isso nos leva a indagar sobre quem irá

trabalhar no futuro.

Assim, nesse ponto de vista, o emprego estável só será assegurado a um núcleo de trabalhadores de difícil substituição em função de suas qualificações, de suas experiências e de suas responsabilidades. Ao redor deste núcleo estável gravitará um núcleo variável de trabalhadores periféricos, engajados por um prazo limitados, pouco qualificados e, portanto, substituíveis. (ibidem, p. 25-26).

Por emprego estável, Singer entende a vaga ocupada por um trabalhador que

conseguiu qualificação para operar a máquina, diferentemente do emprego instável, ocupado

pelo trabalhador desprovido de acesso à qualificação, que é, na verdade, um desempregado

em potencial. Acrescenta ainda o autor que, se o emprego já está precarizado, no cerne dessa

crise se engrossam as fileiras do exército de reserva, pois “a precarização do trabalho inclui

tanto a exclusão de uma crescente massa de trabalhadores do gozo de seus direitos legais

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como a consolidação de um ponderável exército de reserva e o agravamento de suas

condições” (Singer, 1998, p. 29). Na esteira da relação entre mudança tecnológica e

desemprego tecnológico, Singer define a terceira revolução industrial, aquela da digitalização,

da computação, da biotecnologia, da engenharia genética: é uma revolução industrial

“enviesada” para produzir desemprego tecnológico (Singer, 1999, p. 36); também no Brasil,

segundo Lazzareschi:

[...] consolidou - se a terceirização, o contrato temporário de trabalho, a jornada parcial de trabalho, o banco de horas, o trabalho em domicílio, ou seja, a precarização das relações de trabalho, uma vez que por essa reestruturação produtiva há o impedimento do pleno acesso dos trabalhadores à todos os benefícios previstos na legislação trabalhista - CLT Consolidação das leis de trabalho - e/ou àqueles benefícios concedidos pelas grandes empresas para reforçar sempre mais a colaboração de seus trabalhadores (2007, p. 48).

Na fase de transição do século XX para o século XXI, várias mutações vêm ocorrendo

como resposta do capital à sua crise estrutural. A classe trabalhadora, “os trabalhadores do

mundo na virada do século”, é mais explorada, mais fragmentada, mais heterogênea, mais

complexificada; os trabalhadores são desprovidos de direitos, o seu trabalho é desprovido de

sentido, intensificando-se os níveis de exploração (Antunes, 1999, p. 205).

Para Ricardo Antunes, as transformações no processo produtivo trazidas pelo avanço

tecnológico foram uma tentativa de responder à crise do capital ocorrida a partir da década de

1970. Transformações que acarretaram

[...] enorme expansão dos assalariados médios, especialmente no setor de serviços que, ampliado em larga escala no início da década de 70, vem presenciando também níveis de desemprego tecnológico, agravando assim o desemprego estrutural. Pois, junto com o trabalho precarizado, o desemprego na área de serviços, atinge cerca de 1 bilhão de trabalhadores, o que corresponde a aproximadamente um terço da força humana mundial que trabalha (Antunes, 1999, p. 190-191).

Como imperativo da globalização dos mercados, o Brasil tem experimentado várias

transições. Entre elas, a abertura comercial, a reforma do papel do estado, a estabilidade de

preços, o avanço tecnológico, a integração em blocos econômicos, o surgimento de formas

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atípicas de contrato de trabalho, o avanço da negociação coletiva, a busca da flexibilidade nas

relações de emprego, as quais, entre outras, têm afetado significativamente o mercado de

trabalho.

Nos países periféricos, a incapacidade de renda própria para satisfazer às necessidades

básicas deve ser o centro das novas preocupações e ações sociais do estado.

Há várias implicações institucionais na definição de formas de participar do

suprimento destas necessidades, dentre elas, os critérios para ajuda (ou subsídios) do estado e

a propensão dos não-pobres em transferir renda para os pobres. Inclusive o que vem ao

encontro deste trabalho, novas diretrizes da política educacional como o PROUNI, que cria

vagas subsidiadas pelo estado em até 100% nas universidades privadas.

Há ainda a criação recente do PAC- 2007-2010 - Programa de Aceleração do

Crescimento, visando promover desenvolvimento econômico, aumento do emprego e

melhoria das condições de vida da população brasileira, contando com a participação do

Executivo, Legislativo, dos trabalhadores e dos empresários. O PAC consiste num conjunto

de medidas destinadas a incentivar o investimento privado e no aumento do investimento

público em infra-estrutura, por meio da remoção de obstáculos ao crescimento de ordem

burocrática, administrativa, normativa, jurídica e legislativa.

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3 EDUCAÇÃO E TRABALHO VS. COMPETÊNCIAS E HABILIDADES

O tema educação e trabalho, segundo Saviani (1994), pode ser entendido a partir de

duas perspectivas: a primeira afirma a inexistência da relação entre os dois termos e a segunda

estreita os laços entre eles, em decorrência do reconhecimento da educação no processo de

desenvolvimento econômico, sobretudo no que se refere a sua participação na qualificação

dos trabalhadores.

A primeira perspectiva encontra justificativa histórica na Antigüidade com o

surgimento da propriedade privada, que permitiu a ascensão de uma classe ociosa que, ao ter

seu sustento garantido pelo trabalho alheio, passou a dispor de um tipo de educação que

visava mais a formação de lideranças políticas e militares do que a preparação para a inserção

no sistema produtivo. A escola tem aí sua origem, sendo reservada àqueles mais abastados

que dispunham de tempo e recursos para usufruir de seus benefícios. Alheio a isso, o povo

continuava se educando pelo trabalho cotidiano.

A partir do surgimento das cidades modernas, como também das transformações

científicas, tecnológicas e econômicas que nelas constantemente se processam, a escola passa

a ter novas, crescentes e diferenciadas funções – a de formar cidadãos cientes de seus direitos

e deveres, bem como a de fornecer requisitos para o exercício do trabalho na sociedade

industrial, como as operações básicas de matemática e algum nível de letramento. Mas, até a

década de 1970 do século XX, embora a escola fosse necessária a todos, como garantia do

direito à cidadania, só uma pequena porção de trabalhadores precisava de escola

especializada, a gerência científica, para capacitá-la a tarefas propriamente produtivas ou de

serviços.

As transformações que ocorreriam mais tarde – e contribuiriam para o reconhecimento

de que os trabalhadores que dispusessem de mais escolarização estariam mais habilitados

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intelectualmente a lidar com a complexidade crescente do sistema produtivo – configuraram a

sociedade pós-industrial, ou sociedade da informação, que envolve várias esferas: a política,

orientada pelo neoliberalismo; a econômica, sustentada pela globalização e pelo crescimento

do setor de serviços;

[...] a cultural, apoiada por uma visão de mundo que redefine os valores temporais, estéticos e morais; a das relações entre ciência e tecnologia, testemunhada pela diminuição da distância entre o desenvolvimento científico e sua aplicabilidade prática e, por último, a ocupacional, baseada na flexibilização e nos novos modos de gerenciamento e organização do trabalho (Gondim, 1998).

Defendendo um ponto de vista semelhante, Fogaça (1998) afirma que

[...] a educação geral e a educação profissional começaram a ser vistas como bastante inter-relacionadas, principalmente, por dois processos: a globalização, definida como uma multiplicidade de mudanças surgidas a partir de 1970, que instituiu novas relações internacionais nos planos econômico, social, cultural, político e tecnológico, e a emergência de um sistema de produção sustentado na automação flexível.

Neste sentido, o ensino fundamental, o ensino técnico de nível médio e o ensino

superior passam a ser colocados em pauta quando o tema é o da reestruturação produtiva e sua

relação com o mercado de trabalho, tornando quase impossível ignorar a confluência entre as

organizações educacionais, as empresas e a comunidade (Dowbor, 1996).

Constata-se com facilidade que as transformações na produção estão levando as

organizações formais a se reestruturarem o que, inevitavelmente, repercute no delineamento

de um perfil profissional mais compatível com a nova realidade. O desenvolvimento científico

e tecnológico, suporte fundamental da globalização, aumenta a complexidade do mundo e

passa a exigir um profissional com competência para lidar com um número expressivo de

fatores. O perfil profissional desejável está alicerçado em três grandes grupos de habilidades:

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1) as cognitivas, comumente obtidas no processo de educação formal (raciocínio

lógico e abstrato, resolução de problemas, criatividade, capacidade de compreensão,

julgamento crítico e conhecimento geral);

2) as técnicas especializadas (informática, língua estrangeira, operação de

equipamentos e processos de trabalho);

3) as comportamentais e atitudinais: cooperação, iniciativa, empreendedorismo (como

traço psicológico e como a habilidade pessoal de gerar rendas alternativas que não as

oferecidas pelo mercado formal de trabalho), motivação, responsabilidade, participação,

disciplina, ética e a atitude permanente de aprender a aprender12.

As barreiras para a composição deste perfil é que dão significativa importância aos problemas da qualificação e requalificação profissional, haja vista que a competitividade no mercado local, regional e mundial passou a depender cada vez mais da capacidade de a empresa produzir e incorporar inovações, o que põe em jogo a formação de seus recursos humanos (Carvalho, 2000)13.

As recentes mudanças provocadas pela globalização dos mercados fazem com que

inconscientemente se corra atrás do tempo, na busca de informações e metodologias úteis para

nos sentirmos mais seguros profissionalmente.

“Fazer” faculdade, “pegar” o diploma, “arrumar” um bom emprego, trabalhar por

algumas décadas, aposentar-se e “curtir” a vida. Esse era o percurso de um trabalhador

qualificado há menos meio século. Muitas coisas mudaram e continuam em vertiginosa

revolução.

O diploma do curso superior já foi garantia de emprego, até meados da década de 70;

hoje não é mais.

12 Vide: Assis (1994), Giglio (2000), Silva Filho (1994) e Whitaker (1997). 13 Vide, também: Bruno (1996), Cattani (1996), Hirata, (1994), Fogaça & Salm (1995); Saviani (1994).

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Diplomas não mais expressam a real aquisição da capacidade de efetivar conhecimentos na solução de problemas, porque o processo de avaliação dos candidatos a um emprego é cada vez mais determinado pela capacidade de resolução de problemas simulados do que pela apresentação de um currículo vitae pontuado de títulos formalmente adquiridos (Lazzareschi, 2007, p. 81).

Continuando, a autora acrescenta que “não basta qualificação profissional, o que

interessa é a competência, pois há a substituição do conceito de qualificação profissional pelo

conceito de competência”.

Em conformidade com essa afirmação, podemos citar o resultado da pesquisa

empreendida por Carlos Martins, na década de oitenta, acerca do ensino superior pago.

Usando como metáfora o dia da entrega do diploma, o autor dizia:

[...] este clima festivo ocorrido por ocasião da entrega do certificado de conclusão do curso não consegue eliminar as dificuldades de promoção que estes formandos enfrentam, uma vez terminada a sua fase de formação profissional (Martins, 1981, p.190-191).

A função central da educação profissional, segundo a LDB 9394/96, é preparar as

pessoas para o exercício da cidadania e para o trabalho, em condições de influenciá-lo e

modificá-lo, de modo a desenvolver um trabalho profissional competente.

A competência tem sido usada como parâmetro para as empresas definirem e

avaliarem a capacidade de seus funcionários na obtenção dos resultados. Isso significa

estimular o envolvimento e o desenvolvimento das pessoas na organização. Está relacionada

com a transformação de dados em informações, e estas, uma vez aplicadas na obtenção de

resultados, leva a adquirir conhecimento. Pode-se então afirmar: conhecimento = informação

+ prática.

Observa-se que pessoas com os mesmos conhecimentos produzem resultados

diferentes. Aqui entra uma outra variável importante: a habilidade. A habilidade de adquirir os

dados e de transformá-los em informação. Habilidade de transformar a informação em

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conhecimento. Assim, podemos afirmar que, para desenvolver determinada competência,

precisamos ter a habilidade específica requerida pela competência.

Seja do ponto de vista educacional, material, e, principalmente, motivacional, estamos

sempre inseridos num processo que irá permitir ou não o desenvolvimento de determinada

habilidade. É bastante visível essa condição nos esportes, principalmente naqueles em que

para o desenvolvimento da habilidade, como, por exemplo, o iatismo ou o automobilismo, são

necessários aportes financeiros e de relacionamento disponíveis apenas para um grupo ínfimo

da sociedade. Ou seja, inúmeras pessoas têm habilidades dentro de si que jamais serão

percebidas ou desenvolvidas.

Neste ponto, acredita-se ser possível concluir, de uma forma bastante clara e aceita

pela maioria dos estudiosos na área de gestão de pessoas, que competência é igual a

conhecimento mais habilidade.

Segundo Reis (2003, p. 12), numa pesquisa realizada pela Gazeta Mercantil, em 04 de

janeiro de 2000, as competências mais procuradas pelas empresas são: influência,

desenvolvimento de pessoas, autoconfiança, habilidade para gerenciar mudanças, liderança de

pessoas e perseverança.

Ao identificar competências e habilidades técnico-operacionais, pessoais e gerenciais

para todos os cargos, em mais ou menos quinze empresas, Resende (2000) concluiu que é

muito importante fazer gestão de competências dos cargos. Chegou a essa conclusão por ver

que, nos processos de seleção, treinamento, remuneração, administração de talentos, carreira,

sucessão e avaliação de desempenho é necessário considerar as competências dos cargos.

A seleção por competências é fundamentada em fatos reais e mensuráveis como as

capacidades, os atributos e as qualidades comportamentais. É preciso analisar suas limitações

nos aspectos que envolvem número de candidatos, tempo para preenchimento da vaga, perfil

do cargo, estrutura da empresa selecionadora e capacidade técnica do avaliador.

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De acordo com o parecer CNE/CEB nº. 16/99, pode-se dizer que alguém tem

competência profissional quando constitui, articula e mobiliza valores, conhecimentos,

habilidades e atitudes para a resolução de problemas não só rotineiros, mas também inusitados

em seu campo de atuação profissional. Assim, age eficazmente diante do inesperado e do não

habitual, superando a experiência acumulada transformada em hábito e liberando o

profissional para a criatividade e a atuação transformadora.

Como explicita Perrenoud (1999),

[...] não existe uma noção clara e partilhada das competências. Mais do que definir, convém conceituar por diferentes ângulos. Poderíamos dizer que uma competência permite mobilizar conhecimentos a fim de se enfrentar uma determinada situação. Destacamos aqui o termo mobilizar. A competência não é o uso estático de regrinhas aprendidas, mas uma capacidade de lançar mão dos mais variados recursos, de forma criativa e inovadora, no momento e do modo necessário.

A competência abarca, portanto, um conjunto de coisas. Perrenoud refere-se a

esquemas, em um sentido muito próprio. Seguindo a concepção piagetiana, o esquema é uma

estrutura invariante de uma operação ou de uma ação. Não está, entretanto, condenado à

repetição idêntica, mas pode sofrer acomodações, dependendo da circunstância. A título de

exemplo, quando uma pessoa começa a aprender a dirigir, parece-lhe quase impossível

controlar tudo ao mesmo tempo: o acelerador, a direção, o câmbio e a embreagem, o carro da

frente, a guia, os espelhos. Depois de algum tempo, tudo isso lhe sai tão naturalmente que

ainda é capaz de falar com o passageiro ao lado, tomar conta do filho no banco traseiro e,

infringindo as regras de trânsito, comer um sanduíche. Adquiriu esquemas que lhe

permitiram, de certo modo, “automatizar” suas atividades.

Por outro lado, as situações que se lhe apresentam no trânsito nunca são iguais. A cada

momento terá de enfrentar ocasiões novas e algumas delas podem ser complexas. Atuar

adequadamente em algumas delas pode ser a diferença entre morrer ou continuar vivo. A

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competência implica mobilização dos conhecimentos e esquemas que se possuem, com o fito

de desenvolver respostas inéditas, criativas, eficazes para problemas novos.

Diz Perrenoud que “uma competência orquestra um conjunto de esquemas. Envolve

diversos esquemas de percepção, pensamento, avaliação e ação” (ibidem).

O conceito de habilidade é também instável e varia consideravelmente de autor para

autor. Em geral, habilidades são consideradas como algo mais específico do que

competências. Assim, uma competência estaria constituída por diversas habilidades; porém

certa habilidade não pertenceria a determinada competência, uma vez que pode compor

competências diferentes.

Uma pessoa, por exemplo, que tenha uma boa expressão verbal (considerando que isso

seja uma habilidade) pode se utilizar dela para ser um bom professor, um radialista, um

advogado, ou mesmo um demagogo. Em cada caso, a mesma habilidade estará contribuindo

para competências diferentes.

As condições de produtividade nas empresas mudaram muito no último meio século.

Estão esgotados os recursos da racionalização extrema das rotinas e das virtudes de uma

produção de massa planificada.

O que se requer agora, dados os novos meios, é a disposição para inventar

permanentemente, explorando outras virtudes, as da instabilidade e dos eventos. A invenção

já não se confina nas salas de pesquisa e desenvolvimento – irriga toda a organização, a

empresa inteira. No modelo do posto de trabalho ainda dominante há uma precedência do

trabalho sobre quem o exerce. No modelo da competência, o trabalho segue o sujeito, toma-se

a expressão direta da potência de seu pensamento e de sua atuação. A distância subjetiva entre

o trabalhador e as tarefas que lhe são impostas, típica do taylorismo, é eliminada por esse

modelo, que faculta ao indivíduo “implicar-se subjetivamente em seu trabalho” (Zarifian,

p.116).

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Nessa direção, o modelo da competência emerge trazendo o trabalho de volta ao

sujeito, tornando-se, assim, a expressão direta da potência de seu pensamento e atuação. Não

basta aprender a fazer, adquirindo todos os automatismos inerentes a um dado exercício

profissional. Quem aprendeu a fazer, deve saber por que está fazendo dessa maneira, e não de

outra, e aprender que existem outras tantas formas para esse mesmo fazer.

O modelo das competências, no âmbito das instituições que atuam no campo da

educação profissional, favorece uma articulação do mundo do trabalho com as diversas

questões presentes na sociedade.

O desafio é educar o trabalhador para atuar de modo participativo e ativo dentro e fora

do mundo do trabalho, como profissional, e, também, na condição de cidadão consciente de

seus direitos e responsabilidades e dos valores humanos que devem reger a vida em

sociedade.

Pensar que, após o término da faculdade, se está “livre” do estudo é simplesmente

decretar a morte da carreira profissional. Hoje é necessário estudar sempre, sempre se

atualizar. Esta é a “era da informação, da velocidade e da orientação para resultados”. Muitas

vezes, fica-se atônito com a rapidez com que as mudanças acontecem. Já não basta ser

especialista numa única área: Engenharia, Administração, Economia, Direito etc. É preciso

conhecer todos os aspectos relacionados com o ramo da empresa onde se trabalha, para que se

saiba aplicar conhecimentos em benefício da empresa ou, noutras palavras, gerar resultados.

Muitos consultores e autores bem-sucedidos de livros de negócios e carreira dizem que

se vive a era dos multi-especialistas. Há de se versar em muitos assuntos: administração,

finanças, informática, idiomas, pessoas (esta talvez seja a aptidão mais importante e mais

difícil), e a única maneira de dominá-los é por meio do estudo e aprendizado contínuos e do

desenvolvimento dos aspectos humanos que fazem com que um profissional possa sobressair-

se. O mercado está muito seletivo, não existe mais lugar para enganadores. De nada adianta

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ter ótimos conhecimentos sem ser capaz de traduzi-los em resultados para a empresa. Não se

recebe para ficar oito horas na empresa, recebe-se para gerar soluções adequadas.

Existem conhecimentos que são fundamentais, independentemente da área de atuação.

Conhecimentos de informática, saber utilizar o editor de textos, a planilha eletrônica e,

principalmente, os recursos disponibilizados pela Internet. O conhecimento de idiomas

também é necessário, do inglês, principalmente, mas também do espanhol, e a terceira língua

estrangeira pode fazer a diferença.

Habilidade na comunicação seja para escrever, falar ou fazer apresentações orais é

fundamental. Independentemente da função, o profissional deve dominar técnicas de redação,

com bom vocabulário e razoável conhecimento da gramática normativa do português padrão.

Desde a elaboração de relatórios, projetos e memorandos, até a elaboração de “e-mails”, o

domínio das técnicas de redação é um predicado importante, que pode ajudar na busca por

melhores posições dentro da empresa. Além de saber colocar as idéias no papel, é importante

que se saiba apresentá-las para os colegas e superiores.

É fundamental que se saiba trabalhar em equipe, pois somente o trabalho em equipe é

capaz de obter os resultados exigidos atualmente, supondo que todos se integram na busca de

objetivos comuns. Na medida em que se vai ocupando cargos com características mais

gerenciais do que operacionais, a delegação de tarefas torna-se indispensável.

O mercado de trabalho não é mais o mesmo. Num cenário em que há mais candidatos

do que vagas disponíveis, ele foi dominado pelo darwinismo econômico em sua expressão

mais avançada. Competição é o mandamento principal desse processo. O mais ágil engole o

mais lento. Há a concorrência internacional, propiciada pela abertura econômica, as empresas

brasileiras modernizam-se para sobreviver à invasão de produtos asiáticos, americanos,

argentinos. Precisam também competir no mercado internacional. Faz parte desse esforço de

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sobrevivência exigir mais, muito mais, da mão-de-obra. Querem que até o operário tenha no

mínimo o ensino médio.

A virada é radical e ninguém escapa. Para os cargos mais qualificados, já não bastam

os quinze anos de estudo que dão acesso ao título de bacharel, nem as horas gastas em aulas

de inglês. Além desses conhecimentos, transformados em requisitos triviais, as companhias

querem gente bem informada, que tenha flexibilidade para trabalhar em mais de uma área e

saiba resolver problemas antes mesmo de eles despertarem as atenções do chefe. O perfil

desejado é o do sujeito ambicioso, crítico, criativo, que faz com que todos orbitem a sua volta.

Esse profissional de nariz empinado não deixa que a empresa envelheça. Por essa razão ele é

cobiçado. Para os cargos bem remunerados, as companhias só contratam gente que esteja em

constante evolução.

Desde o último decênio do século passado, pessoas com boa coleção de qualidades

passam com mais facilidade pelo funil da seleção. O profissional que termina a faculdade

deve saber que esse funil de acesso às boas colocações ficou tremendamente estreito. Pode-se

citar, por exemplo, que o Unibanco fez, em 1996, segundo reportagem da revista Veja

(dez/1996), um concurso para escolher trinta estagiários. Candidataram-se 1500 jovens. Na

Brink’s, multinacional que atua na área de segurança, havia dezesseis vagas para recém-

formados. Apresentaram-se 4000 pessoas - 250 por vaga. Isso faz pensar na velocidade da

mudança. Há não muito tempo, o jovem sentia-se ameaçado pelo ritual do exame vestibular,

de que dependia um bom desenvolvimento profissional e uma carreira promissora. Agora é o

departamento de RH (recursos humanos), ou a empresa encarregada de contratar, que o

amedronta.

O velho hábito de procurar a empresa munido do currículo está morto. Há um novo

ritual de contrato na praça. Uma das novas práticas é reunir os candidatos numa sala e

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promover uma sessão de debates entre eles. Quando ela termina, escolhe-se aquele que foi

mais claro na discussão, mais rápido nas respostas.

Os mais velhos estão sentindo a mudança numa escala crescente. Em vários sentidos,

perceberam que o seu treinamento ficou obsoleto do dia para a noite e que seu trabalho não

serve mais para empresas que se modernizaram muito.

Há 20 anos, exigia-se da secretária prática de datilografia, taquigrafia, bons modos e

obediência. Para a profissional que encerrou a formação nesse passado ameno, a porta dos

bons empregos já está trancada. E uma demissão, neste momento, pode significar um corte

definitivo na carreira.

Comparado ao estágio atual, o passado recente foi mesmo um paraíso. Formar-se em

engenharia significava emprego para toda a vida. Contar muitos anos de trabalho na mesma

função era sinal de estabilidade e experiência, um bom sinal. Hoje isso se vê como

acomodação, um defeito.

Há cerca de 20 anos - época em que começou a abertura da economia - poucas

empresas recusavam um operário só porque ele não tinha o ensino médio completo. Hoje, o

McDonald’s, famosa cadeia de lanchonetes, exige o ensino médio da garotada que contrata.

Até para fritar batata é necessário, pelo menos, 11 anos de escolaridade. A empresa explica o

porquê da exigência.

Uma loja do McDonald’s pode ser vista como uma fábrica de lanches, já que seve até

30.000 refeições por dia, quantidade impensável para a velha lanchonete da esquina. Os

jovens são treinados em todas as tarefas, fritar batatas e hamburguer, operar o caixa e o drive-

through. Têm de fazer os lanches numa velocidade tal que o sanduíche não passe mais de dez

minutos esfriando, e também não podem deixar o cliente esperando no caixa. No McDonald’s

uma operação depende da outra e é preciso entender essa sincronização.

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A mudança nos padrões de emprego que ocorre no Brasil foi abrupta. Até a posse de

Fernando Collor de Mello, em 1990, a economia era fechada. Os empresários não se

preocupavam com o aumento da produtividade porque não havia concorrência. Não sofriam

pressões para reduzir custos ou implementar novas técnicas de gerência e de produção.

Quando se rompeu a bolha protetora, apareceu toda a ineficiência de suas empresas e os

brasileiros passaram a experimentar modificações que os trabalhadores de outros países -

como os americanos - já vinham sofrendo há muito tempo.

O empresário aprendeu a cortar o excesso de intermediários entre o diretor e o

operário. Essa classe de retransmissores de ordens - os gerentes – foi praticamente decapitada.

Na reviravolta brasileira, o passo seguinte foi a modernização das máquinas. Antes de 1990,

não se podia importar computador ou equipamento que tivesse componentes

computadorizados. Alegava-se que o Brasil produzia essas coisas muito bem. Produzia

algumas, é verdade, mas muito caras. Tudo parecia bem porque até então ninguém se

preocupava em reformar a fábrica. Após dois anos de abertura econômica, as indústrias já

usavam equipamentos computadorizados em larga escala. Em 1996, a automação industrial

dominava 80% das grandes empresas, e metade das companhias de médio porte. Exigindo, no

fim do século, operários mais preparados e integrados com novas tecnologias.

O mecânico à moda antiga, aquele homem que usava força bruta, intuição e prática

para consertar motores em oficinas encardidas, está perdendo terreno para um novo

profissional.

A virada rápida provoca em muita gente sensação de angústia. É difícil entender por

que surgiram tantas exigências para conseguir trabalho. Muitos dos que foram apanhados no

início desse processo perderam o emprego ou foram forçados a aceitar um salário mais baixo

e tendem a enxergá-lo como um movimento cruel. O desemprego é uma das coisas mais

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dramáticas que pode acontecer na vida de uma pessoa. Ele interfere nas relações familiares,

na auto-estima do demitido e até em sua saúde.

Nenhuma palavra sobre globalização ou megatendências econômicas serve de consolo

para quem é mandado embora da firma. Para quem conservou o emprego ou está à procura de

um, a reviravolta das normas do trabalho deve servir de aviso. O processo veio para ficar e

deve tornar-se mais acelerado nos próximos anos. O grupo dos que oferecem os melhores

empregos é formado pelas 8.500 empresas multinacionais e pela metade das médias e grandes

empresas brasileiras com administração familiar. Por enquanto, foi esse núcleo que elevou o

grau de exigência. Ele emprega 11 milhões de pessoas, que ganham mais de 1.200 reais por

mês, e responde por cerca de 50% do produto interno bruto.

Há outra parcela do território econômico que ainda funciona de acordo com os padrões

do passado. É formada por cerca de 4 milhões de pequenas empresas e microempresas e pela

outra metade de companhias comandadas por famílias. Alojam-se nela 33 milhões de

trabalhadores, que ganham menos de dois salários mínimos. Empresas atrasadas em termos de

tecnologia e mão-de-obra podem ter dois destinos. Ou fecham as portas ou se modernizam. O

que é impossível, de acordo com os economistas, é que a parte velha consiga sobreviver do

lado da parte que se atualiza. “A pequena lanchonete terá de melhorar o seu sanduíche e sua

eficiência se quiser sobreviver na vizinhança de uma rede moderna de fast-food”, alerta o

economista Gilberto Dupas.

O impulso pela modernização jogou luz sobre um problema que não está sendo

discutido a sério no Brasil, a saber, seus padrões educacionais. A educação está melhorando,

se comparada ao que era há algumas décadas. Nunca houve tantos estudantes matriculados em

cursos de ensino médio ou em universidades. O número de analfabetos cai ano a ano:

Em 1980, eles representavam 25% da população. Dez anos depois, a taxa havia caído para 18%. Ocorre que, em contraste com vários outros países, no início deste século, a mão-de-obra brasileira está muito mal posicionada. Apenas 23% dos jovens brasileiros com idade entre 15 e 19 anos estão matriculados no ensino médio.

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Na Coréia do Sul, eles são 94%. Em Taiwan, o índice é de 91%. O México também está na frente, com 55%. A análise de outros números preocupa ainda mais. O Brasil tem uma população com idade de trabalhar estimada em 71 milhões de pessoa. Dessas massas, apenas 5 milhões têm curso superior. Somente 20 milhões completaram o ensino médio. Sobram 46 milhões de pessoas com educação precária, incapazes de operar eficientemente em economias modernas. Incluem-se nesse contingente cerca de 19 milhões de analfabetos (Nascimento; Ferreira, 1996).

O que fazer com essa gente, em termos de qualificação para o trabalho, é uma questão

para a qual não há solução à vista. Na empresa moderna, que está exigindo do operário o

ensino médio, esses trabalhadores não têm lugar. Os pedagogos dizem que uma pessoa que

não tenha concluído o ensino médio não é capaz de sintetizar informações, de perceber o

conjunto das coisas, de elaborar raciocínios complexos. O ensino médio capacita o cidadão a

separar os fatos importantes dos irrelevantes, a estabelecer relações entre idéias diferentes e

tirar conclusões.

Está apresentado, para a sociedade brasileira, um macroproblema que não era levado

em conta até pouco tempo. O Brasil precisa crescer à taxa de 5% ao ano. Isso não é ambição,

é necessidade. É preciso enriquecer para aumentar a renda da população, melhorar a saúde e

ampliar a expectativa de vida. Para crescer, terá de competir com economias que estão no

mesmo patamar, como a mexicana ou a coreana. Fatores críticos para o crescimento vão

sendo solucionados. Indústrias e empresas de serviço estão adquirindo máquinas num ritmo

nunca visto. Só em 2007, as compras de bens de produção foram da ordem de 12 bilhões de

dólares. A defasagem tecnológica, provocada por anos de fechamento econômico, desfaz-se

rapidamente. Há uma chuva de acordos entre multinacionais e empresas brasileiras para o

aprimoramento técnico dos produtos. Mas nem máquinas nem tecnologia funcionam bem com

braços – na verdade, cérebros – mal preparados. Educação, percebe-se agora, é o grande

gargalo da economia. “A educação passou a ser um fator decisivo para o desenvolvimento.

Qualquer grande empresa analisa em detalhes os indicadores de educação de um local antes

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de fazer investimento”, diz o economista Cláudio de Moura Castro, especialista em educação

(apud Nascimento; Ferreira, 1996).

Enquanto o governo não se mexe, as empresas instituem programas de treinamento de

funcionários. Em 1991, a Caraíbas Metais promoveu um censo para avaliar o nível de

escolaridade de seus 1.400 funcionários. Descobriu que 30% não estavam qualificados para as

funções que exerciam. Esses trabalhadores assistem agora a aulas de ensino fundamental e

médio. Recebem instruções até nos ônibus da empresa, em telas de vídeo. A Mercedes-Benz

tem uma escola com 1.100 alunos, a Fiat montou um curso de pós-graduação em engenharia

automotiva.

Problemas com qualificação de mão-de-obra e nível de emprego não se restringem ao

Brasil. A revolução tecnológica que transformou a economia mundial nas duas últimas

décadas criou um problema para trabalhadores e empregadores. No ano passado, a empresa

telefônica de Nova York submeteu 23.000 jovens a um exame simples para trabalhos de nível

inicial. Foram reprovados 84% dos candidatos. De acordo com dados recentes do Ministério

da Educação americano, mais de dois terços dos alunos de 1º grau não são leitores hábeis e

apenas 9% dos estudantes do último ano do ensino secundário conseguem resolver problemas

de matemática não-elementares.

Até no Japão já faltam trabalhadores qualificados. Uma agência de planejamento do

governo japonês estimou que no ano 2000 haveria escassez de cerca de 3 milhões de técnicos

e de 600.000 trabalhadores em escritórios. Isso tudo não significa que, de uma hora para

outra, os estudantes pararam de aprender. O que acontece é que continuam aprendendo mais

ou menos a mesma coisa. Constatação geral: a educação não acompanhou a corrida

tecnológica. “As escolas boas estão com dez anos de atraso”, diz Alain Stempfer, diretor do

curso de administração da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo.

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Outra questão que entrou para a agenda mundial refere-se ao desemprego. Os números

citados pelos estudiosos são preocupantes. Há 34 milhões de desempregados nos países

industrializados, vítimas da modernização tecnológica dos meios de produção. No Brasil, o

problema do desemprego tem características diferentes. Enquanto na Europa a taxa de

desempregados sobe, no Brasil ela está na faixa moderada. Mas os empregos no Brasil são

muito piores, pessimamente remunerados. É pouco provável que, em longo prazo, haja um

problema sério de desemprego no Brasil, porque o país cresceu pouco nos anos 1980 e sua

infra-estrutura toda desmantelada vai exigir o recrutamento de milhões de trabalhadores se o

país continuar crescendo como de dois ou três anos para cá. O problema é que, no ritmo em

que a economia tende a se modernizar, os empregos bons só serão acessíveis aos que

estiverem bem preparados. Para os outros ficarão os empregos de terceira classe, com renda

de quarta. Do ponto de vista do país, há um impasse. Crescer significa modernizar a produção,

mas sem melhorar a educação do povo, isso é impossível. Chegou a hora de enfrentar o

desafio. Fala-se muito em investimentos na educação, de dinheiro como de idéias. A hora de

falar já passou. Está na hora de fazer.

Conclui-se que acabou a época do profissional dedicado a uma atividade específica.

As empresas preferem pessoas multifuncionais. O engenheiro precisa ter conhecimento de

marketing e o advogado deve entender alguma coisa de finanças.

Os melhores empregos vão para aqueles que têm pós-graduação e viveram algum

tempo no exterior. Jantares com amigos de outras empresas, conversas no clube e até reuniões

para o futebol e o carteado são uma oportunidade para saber o que os outros já estão sabendo.

Ler jornais, ter informações gerais, é algo muito valorizado hoje em dia. É bom saber às

quantas andam a economia européia, as mudanças na China e as guerras tribais na África.

No ritmo em que andam as coisas, é fácil ficar desatualizado. Não dá para deixar mais

a universidade. Há necessidade de ser estudante permanente. O profissional mudo, que não dá

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palpite, não faz perguntas ou críticas, é candidato ao bilhete vermelho. A curiosidade a

respeito de outros departamentos da empresa é essencial. Mudar de área dentro da mesma

empresa é recomendável. Experiência vale mais do que tempo de serviço.

Se for a empresa que está defasada, é bom procurar emprego logo numa mais

moderna. Cada ano trabalhado numa companhia ultrapassada é um ônus a mais no currículo.

A atitude perante o trabalho é mais importante que o diploma. Empresas modernas

gostam até de um pouco de arrogância no funcionário. Pode ser um sinal de que está em

condições de liderar. Deve-se cuidar, inclusive, da aparência pessoal. Resta-nos, então,

estabelecer o perfil deste novo trabalhador exigido pelo mundo do trabalho.

3.1 Perfil do profissional no atual mercado de trabalho

No mundo globalizado do século XXI, o trabalhador não pode mais ter uma só

profissão. Segundo Jordão (2007), é primordial ter uma profissão e também outra, pois em

cinco ou dez anos, para fechar um negócio fora do país, não será suficiente o diploma de

administração de empresas. Além da habilidade em outros idiomas, o administrador precisará

de familiaridade com a cultura e a história do povo com que negocia para alcançar bons

resultados na negociação, ou seja, precisará aliar conhecimento antropológico aos

conhecimentos administrativos.

O que se pode perceber é que, além do disputado diploma universitário, o

administrador necessita ter perfil para administrar. Caso contrário, ficará sujeito a funções

subalternas e alternativas dentro das organizações, mesmo portando o diploma. O

administrador não é mais o profissional formado nas salas de aula, com as melhores notas

entre os colegas. O recém-formado precisa apresentar de fato uma “personalidade

administrativa”, um perfil de administrador.

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Segundo o Conselho Federal de Administração (CFA), em 2007, a maioria dos

administradores é do sexo masculino, casado e sem dependentes; está na faixa etária de até 30

anos; é egresso de universidades particulares; concluiu o curso de Administração entre 2000 e

2005; possui especialização em alguma área de Administração; trabalha nos setores de

serviços, da indústria e em órgãos públicos; atua nas áreas de Administração geral e finanças;

ocupa cargos de gerência.

O perfil adequado para o administrador nos próximos anos exige deste uma razoável

capacidade de comunicação e uma dose de liderança, essencial para quem quer assumir o

comando.

Um administrador precisará equilibrar criatividade com a perspicácia para encontrar

soluções apropriadas à empresa sob sua administração. É imprescindível ter visão globalizada

para entender que a empresa se situa em um conjunto de outros players, ou seja, é parte de um

meio caracterizado por mudanças contínuas, pela competitividade e vulnerabilidade às forças

externas. É essencial construir credibilidade, adquirir poder de persuasão e convencimento

para driblar as objeções e adversidades, como também ter habilidade para relacionar-se com

pessoas.

O administrador moderno necessita de rapidez para adaptar-se às mudanças e reagir

positivamente a elas. É importante que tenha senso de responsabilidade social, ou seja, deve

ter consciência de que todos os atos da empresa administrada por ele gerarão algum tipo de

impacto positivo ou negativo à sociedade. Além da visão tradicional de lucros, é necessário

investir em ações que promovam maior qualidade de vida para a sociedade envolvente,

práticas inteligentes de destinação de dejetos das indústrias, ações sociais que visem a algum

benefício para a saúde, a segurança, a cultura e o lazer da comunidade e também de seus

funcionários. Muitas dessas ações podem e devem ser geradas pelas empresas privadas. Nos

últimos anos, os consumidores têm valorizado empresas que adotaram tais posturas,

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comprando seus produtos e serviços em detrimento de produtos e serviços de outras que não

adotaram políticas sociais responsáveis.

O administrador precisa estar atento às oportunidades de mercado e manter-se alerta

aos acontecimentos a sua volta. Alguns mercados prometem oportunidades de curto prazo

para os administradores, como o mercado do entretenimento, a gestão do bem estar, o

agronegócio, a gestão ambiental, a tecnologia da informação, as consultorias e o trabalho

autônomo em sistema flexível (flex time).

Nos últimos anos, houve aumento na busca pelo entretenimento e a diversão passou a

ser considerada um filão extraordinário para os negócios. O mercado vem se

profissionalizando e os consumidores buscam produtos de qualidade. Cresce a procura pelos

serviços em turismo e cultura. Em 2006, o turismo setor gerou 604 milhões de empregos

formais e informais. Ainda há espaço para negócios que explorem oportunidades voltadas à

terceira idade, conhecida como “melhor idade”.

Ainda no ramo do entretenimento, como oportunidades de atuação para os

administradores com perfil empreendedor, desponta a área de design de games e animação.

Somente 35 empresas atuam no setor e há espaço para investidores na área de jogos para

celular. A área de eventos também representa oportunidades para administradores.

Outro mercado que surge como um celeiro de oportunidades, nos próximos anos, é o

setor de qualidade de vida ou o denominado mercado do bem estar. Segundo dados do

International Stress Management Association (ISMA), 70% da população brasileira é

acometida pelo stress. Os consumidores têm apreciado a qualidade de vida, a saúde física e a

saúde mental. O setor abarca perfumaria, cosméticos, higiene pessoal e serviços voltados para

o bem estar, a vaidade. Cresce a procura pelos spas e clínicas de estética e medicina

preventiva.

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A área de logística crescerá substancialmente em virtude do agronegócio. O setor

continua representando oportunidades de especialização e atuação para os administradores do

futuro, pois o Brasil é um país diferenciado em condições de geração e sustentabilidade de

energia. Possui hidrelétricas e investimento em agroenergia, considerando combustíveis

alternativos como o biodiesel e o etanol. Nos próximos anos, serão necessários profissionais

de logística para o planejamento do escoamento e transporte dos produtos do agronegócio.

Com a sensibilização ecológica e o espírito de conservação da vida, cresce a demanda

por profissionais voltados ao meio ambiente. Administradores ambientais, administradores

rurais e profissionais da administração com ênfase em comércio exterior e/ou com

especialização ambiental já são procurados para viabilização de projetos voltados à

exportação de móveis de madeira certificada para países desenvolvidos, produção de artigos

dentro de especificações e exigências sócio-ambientais. Profissionais responsáveis pela gestão

sustentável e planejamentos desenvolvimentistas e de sustentabilidade de empresas e regiões,

articulação de acordos comerciais, viabilização de negócios globalizados envolvendo

diversidade de culturas serão cada vez mais valorizados.

Utilizando-se da contribuição de Tachizawa (2005), a responsabilidade social vem

assumindo um posicionamento privilegiado por parte das empresas, bem como tem sido

considerada um referencial de excelência para as organizações contemporâneas. O

administrador moderno necessita desenvolver uma leitura das modificações que ocorrem nas

organizações contemporâneas e nos padrões de consumo, tanto de produtos como de serviços.

Na visão do autor, a nova realidade político-econômica vem transformando as

empresas contemporâneas em sistemas abertos, exigindo dos administradores mais

flexibilidade para implementar seus processos e uma boa interação com o mercado de

trabalho e o mercado consumidor. As ações dos administradores do futuro serão direcionadas

pelas ações do mercado consumidor. O preço e a qualidade dos serviços abrirão espaço para o

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comportamento social das empresas fabricantes desses produtos e/ou serviços. Os

administradores serão exigidos a adotar um posicionamento ético e responsável em termos

sociais e ambientais no relacionamento com consumidores, comunidades nacional e

internacional.

A tecnologia da informação e da comunicação é uma área que envolve todas as demais

possibilidades de trabalho no mundo moderno. Os administradores do futuro terão espaço em

empresas de desenvolvimento tecnológico, produção de softwares, hardwares e soluções

empresariais. Todos estes empreendimentos necessitarão de estratégias aplicadas às empresas

e produção de metodologias de serviços, capacitação e consultoria para o crescimento

sustentável dos negócios.

Pode-se afirmar que o trabalho com carteira assinada está chegando ao fim. Cada vez

mais, os profissionais de outras áreas e, sobretudo da administração, precisarão trabalhar de

forma autônoma e flexibilizada em termos de horário. Cada administrador passará a agir

como um vendedor de conhecimento aplicado às necessidades das organizações modernas que

esperam resultados. Nesse sentido, o caminho da consultoria é uma realidade. O profissional

consultor é aquele que apóia as empresas desenvolvendo com elas relacionamentos

duradouros para conduzi-las ao caminho da mudança, melhoria contínua através da

proposição e implementação de metodologias aplicadas à realidade e necessidade dos

negócios.

Vale ressaltar que todas as atividades descritas até aqui se aplicam ao perfil do

administrador. Todas exigem capacidade de planejamento, organização, promoção e

divulgação de produtos e serviços, políticas de qualidade, relacionamento e posicionamento

estratégico.

É importante o entendimento de que o administrador nunca é um profissional acabado.

Deve-se ter a consciência de que investir na educação continuada é condição essencial para

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manter-se atualizado e apto a ocupar cargos de decisão nas empresas modernas. A

administração de empresas é cada vez mais dinâmica e essa característica exige

aperfeiçoamento contínuo dos administradores.

Outro atributo importante para o administrador moderno é a ambição, mas não se deve

confundir atitude ambiciosa com ganância. A grande diferença entre as duas é que a atitude

ambiciosa impulsiona a empresa positivamente. Os ambiciosos são inquietos por natureza e

estão sempre buscando mais. A ambição empreendedora é salutar quando conduz o

administrador à investigação e ao estudo de novas possibilidades e estratégias apropriadas a

cada caso. É importante o líder trabalhar com ambição e compartilhar dessa postura com a sua

equipe. Já o administrador ganancioso é aquele que transcende os limites da ambição positiva

e pode anular o sucesso dos outros, em causa própria, o que é perigoso e antiético.

O administrador moderno precisa ser um articulador. É essencial desenvolver a

habilidade de comunicar-se com clientes e concorrentes, interagir de alguma forma com a

sociedade, com o governo e demais atores envolvidos. Para tanto, é necessária uma postura de

flexibilidade e negociação.

Acredita-se que o administrador é um candidato natural a empreendedor. Porém,

independentemente da abertura de empresa própria, um dos pontos mais valorizados no

profissional administrador é o senso do empreendedorismo corporativo, uma visão mais

ampla e inteligente em termos da sustentabilidade do cargo ou da profissão. Administrar uma

empresa, segundo Idelberto Chiavenato (1993), envolve mais do que conceitos abstratos,

como boa vontade ou esforço pessoal. Envolve o concreto, a produção de resultados.

Desta forma, entendemos que os cursos superiores estão no epicentro desse debate,

pois, se, antes de 1990, o conhecimento que se adquiria em uma faculdade era combustível

suficiente para os próximos 20 anos de trabalho, hoje, o curso de graduação tem de ser visto

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como apenas um iniciador da caminhada. Quem termina a graduação, precisa ter em mente

qual o próximo curso a ser feito, sob pena de se desatualizar.

Não é por outra razão que crescem pelo país os cursos de MBA (Master in Business

Administration). Sua característica é a agilidade; podem ser criados e modificados com mais

rapidez que os cursos universitários, para, assim, acompanhar as mudanças do mercado de

trabalho. Segundo Ricardo Spinelli, diretor da FGV Management, “o que está acontecendo é

que hoje é preciso voltar a estudar a cada dois ou três anos para estar em sintonia com o

mercado, e os cursos de lato sensu, no caso os MBA, têm mais flexibilidade que as

universidades” (apud folheto promocional do MBA/FGV).

A universidade, que papel cumpre? “Ela precisa ser encarada como um lugar para se

aprender metodologia e pesquisa” (ibidem), mas no atual contexto as escolas privadas, que

são as que mais crescem, vêem a educação como grande negócio, a ponto de terem aberto seu

capital nas bolsas de valores.

Concluímos, portanto, a partir do que vimos desenvolvendo até aqui, pesquisando o

mercado de trabalho, conhecendo as competências e habilidades exigidas do profissional,

principalmente dos Administradores de Empresa, alvo de nossa pesquisa, e, ainda, por meio

de algumas reflexões, estruturadas em categorias de análises, que grande parte das

universidades de massa não atende às demandas feitas pelo mundo do trabalho. Estudamos os

dados obtidos nas entrevistas e pudemos comprovar a hipótese sugerida no início deste

trabalho, a saber, que realmente as chamadas “universidades mercantis de massa” não têm

preparando adequadamente os alunos para o exercício da profissão.

Nosso propósito é alertar o professorado e os futuros discentes em Administração para

o quadro de total descalabro que representa a defasagem entre os cursos oferecidos por grande

parte das universidades mercantis de massa e as reais demandas do mundo da produção. A

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relevância de nossa discussão está em propiciar às futuras gerações elementos para que

possam com enfrentar com maior eficácia os desafios impostos por tal defasagem.

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4 APRESENTAÇÃO DAS UNIVERSIDADES PESQUISADAS

4.1 Plano de curso

4.1.1 Curso de Administração de Empresas da PUC/SP

O curso de Administração de Empresas da PUC/SP é oferecido nos campi Monte

Alegre, Barueri e Santana.

O curso teve início em 1971, sendo que a primeira reforma curricular ocorreu em

1975, com a adoção do ciclo básico. Em 1981, a fim de adaptar o curso às demandas

emergentes da realidade econômica e social, pós crescimento econômico e déficit social, foi

implantado um novo currículo.

A matriz curricular resultante dessa reforma completou a formação básica exigida pelo

currículo mínimo do CFE (Conselho Federal de Educação) com disciplinas de marketing,

finanças, organização, recursos humanos e produção, ficando essas áreas delineadas e

diferenciadas como campo de ensino e pesquisa. O curso, então, encerrava-se em 8 semestres,

com aulas aos sábados.

Por volta de 1985, o mercado mais competitivo e o surgimento de novas tecnologias

aliadas às mudanças políticas no país impuseram um novo desafio ao bacharel em

Administração. A PUC/SP respondeu, no final da década, com a formação de um grupo de

estudos para reavaliar e propor mudanças curriculares. O que resultou foi a configuração atual

do curso, implementado em 1990, para fornecer ao administrador conhecimento amplo de seu

meio, mas também conhecimento especializado nas áreas que compõem o imenso espectro de

estudo e pesquisa da administração.

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A principal inovação do período foi a criação do quinto ano composto apenas por

disciplinas optativas das cinco áreas funcionais. O curso passou a ter 10 semestres, sem aulas

aos sábados, e foi eliminada a estrutura do ciclo básico, tendo sido mantida apenas a

disciplina de Teologia, comum a todos os cursos de graduação da PUC/SP. A última reforma

concretizou-se em 2007, realizada por uma comissão composta em fins de 2005.

Atualmente, o curso de Administração de Empresas funciona com 2 matrizes

curriculares paralelas. Uma, com 5 anos de duração, objeto de averiguação desta tese; outra,

implantada em 2007, com duração de 4 anos para o período matutino e 4 anos e meio para o

período noturno.

As alterações curriculares de 2007, embora apresentem dados interessantes, como, por

exemplo, a denominação das áreas até então chamadas “profissionais” como

“epistemológicas”, não são objeto específico deste trabalho, uma vez que nossa proposta é

captar a inserção do aluno de administração no mercado de trabalho, melhor observada se se

investigar a vida profissional de alunos egressos há pelo menos 2 anos. Portanto, o projeto

pedagógico em questão não é o atual, mas o anterior. Este currículo se encerrará no 2º

semestre de 2010, no campus Monte Alegre, e no 1º semestre de 2011, no campus Santana. É

importante ressaltar, pois isso será objeto de investigação, que as 10 matérias optativas

oferecidas na antiga base curricular continuam a ser oferecidas, até o final de 2010, no

campus Monte Alegre e, até 2011, em Santana.

O principal objetivo do curso é desenvolver a capacitação crítica, fundamentada em

bases teóricas e práticas, amparada por ações didáticas e pedagógicas de vanguarda,

essenciais ao ensino e à pesquisa, adequadas à realidade brasileira e dentro dos princípios

humanísticos que norteiam as práticas administrativas.

O curso está voltado permanentemente à geração de conhecimento e aprendizado, de

forma a ser reconhecido como um espaço dinâmico de criatividade e inovação.

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A formação dos alunos permite que dominem as várias áreas da administração de

negócios, abrangendo o universo da administração em organizações de todos os portes e

natureza.

O curso está sustentado sobre três pilares: conhecimentos humanísticos, de

fundamentação e técnicos. Com eles, o administrador formado pela PUC/SP tem uma

formação cidadã e de profundo conhecimento da realidade social, aliados ao forte conteúdo de

fundamentação para dar suporte às técnicas específicas da administração. Isto se traduziu num

curso com cinco anos de duração, sendo que nos quatro primeiros anos o aluno tem uma

formação ampla e abrangente. No último, ele vai escolher, dentre as disciplinas optativas,

aquelas que mais lhe interessam nas áreas de marketing, recursos humanos, finanças,

produção e gestão.

4.1.1.1 O profissional formado na PUC/SP

Segundo o catálogo do curso de Administração de Empresas da PUC/SP, no quesito

perfil adequado para o administrador, a PUC/SP pretende formar profissionais dotados de

visão estratégica, com sólida formação básica em todas as áreas, capazes de identificar e

definir problemas e desenhar soluções de forma sistêmica. Esse profissional deve ter

capacidade empreendedora e inovadora, abertura a mudanças, e dever ser dotado de iniciativa

e capacidade de liderança, pois dele partirão decisões que influenciarão o ambiente onde atua.

Precisa ter gosto por aprender continuamente.

Deve dispor de raciocínio abstrato, sociabilidade, capacidade de expressão e

comunicação, aptidão analítica e numérica, comportamento equilibrado e desembaraçado,

além de elevado senso ético.

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Sua visão técnico-científica e empresarial deve estar aliada à postura de um cidadão

que, com responsabilidade social, busca preservar os valores éticos baseados na concepção

cristã e humanística. Deve ser capaz de mobilizar conhecimentos no ambiente e promover

uma ação reflexiva e atualizada.

Com conhecimento amplo nas diversas áreas do campo administrativo, deve, no

entanto, concentrar-se em uma área específica de acordo com sua vocação e seu interesse.

Esse pressuposto fundamenta-se na necessidade do profissional também dispor de sólidos

conhecimentos em uma área específica do conhecimento administrativo para ter acesso ao

mercado de trabalho, uma vez que a forma de ingresso predominante dos administradores se

processa através de funções especializadas da organização. Deve-se ressaltar que, ao ser

reforçada a formação especializada do administrador, não se pretende que o Curso de

Administração perca sua identidade enquanto curso de formação generalista superior,

buscando-se o desenvolvimento de competências de longo prazo, construídas sobre uma

educação geral, que qualifiquem os egressos para uma profissão e não apenas para um cargo.

De acordo com o projeto pedagógico e o plano de curso, a PUC/SP forma

profissionais em Administração:

a) capazes de dominar os fundamentos da administração, adaptando-se rapidamente à

dinâmica do mercado;

b) capazes de compreender as questões científicas, técnicas, sociais e econômicas que

constituem o ambiente das organizações;

c) capazes de vislumbrar, com espírito empreendedor, novas oportunidades ou

negócios ainda não explorados, podendo, inclusive, direcionar essa qualidade para

a criação de empreendimentos próprios;

d) capazes de se adaptar às diversas estruturas e culturas organizacionais e de se

desenvolverem no espaço ocupacional desde o nível operacional até o estratégico;

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144

e) orientados para a vocação ética e humanística, de respeito à sociedade e à

comunidade, tendo consciência da complexidade e amplitude global da sociedade

para avaliar os impactos de suas ações ao longo do tempo.

4.1.1.2 Organização curricular do curso de Administração de Empresas

O projeto pedagógico do curso da PUC/SP representa o modo como são articulados

conhecimentos e conteúdos nas disciplinas, articulação feita de forma a manter o curso

atualizado e, ao mesmo tempo, flexível. Adequações periódicas na estrutura curricular

adaptam o programa às solicitações do mercado de trabalho.

O curso está estruturado em função de cinco áreas profissionalizantes: administração

geral, administração de recursos humanos, administração financeira, administração da

produção e operações, administração de marketing; e desenvolve-se segundo três grandes

eixos:

1 – A visão humanística, importante para a formação do administrador, que terá nas

organizações a fonte de formação e desenvolvimento de riquezas, para a construção de uma

sociedade moderna e mais eqüitativa; essa formação é garantida pelas disciplinas de

sociologia, psicologia, filosofia e ética, ofertadas nos primeiros semestres dos cursos;

2 – A visão generalista, para o conhecimento amplo de todas as áreas que compõem o

universo do administrador, nas organizações lucrativas ou não, facilitando o engajamento de

pessoas no conjunto formado pelas organizações, o mercado e a comunidade. Esse eixo é

representado, ainda no primeiro e segundo semestres, pela disciplina de TGA (Teoria Geral da

Administração), complementada com teoria econômica e matemática, do terceiro até o sexto

semestre;

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145

3 – A visão especialista, que é a capacidade de se aprofundar em áreas específicas por

meio do estudo e da pesquisa, e de integrá-las no todo que representa o universo da

administração, terá início no quinto semestre e se constituirá no plano central do curso,

permitindo ao aluno aprofundar conhecimentos nas áreas funcionais da administração: geral,

finanças, marketing, recursos humanos e produção.

Disciplinas optativas

Durante os primeiros oito semestres, o aluno deverá cumprir todas as disciplinas

obrigatórias das áreas profissionalizantes e, a partir do nono semestre, optar por uma das

cinco áreas, que deverá ser compatível a suas ambições, habilidades e perfis pessoais.

O aluno deverá escolher 10 disciplinas optativas para cursar no 5º e último ano, sendo

obrigatório cumprimento de pelo menos uma disciplina de cada área funcional (adm. geral,

financeira, marketing, RH e Produção de materiais). A escolha das cinco disciplinas restantes

fica a critério do aluno, de acordo com sua opção de especialização.

Estágio obrigatório

O estágio supervisionado é obrigatório e tem a sua realização orientada por uma

disciplina específica. O curso mantém convênios com empresas para acolher os estágios

profissionais do alunado. No 1º e 2º anos, o aluno também pode se candidatar ao trabalho na

PUC-Júnior da FEA. A empresa júnior conta, inclusive, com uma área de recursos humanos

que tem o objetivo de viabilizar estágios por meio de contatos com diversas empresas.

A disciplina Orientação de Estágio é subdividida em Orientação de estágio I, no 9º

semestre; e orientação de estágio II/TCC, no 10º semestre, totalizando 360 horas.

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Ambas as disciplinas tem orientação de um professor da área de concentração na qual

o aluno realize o trabalho de aplicação (estágio supervisionado e TCC). Não há

obrigatoriedade de que o estágio e o TCC vinculem-se a mesma área.

PUC-Júnior

Através da Empresa Júnior, o estudante pode colocar em prática não só os

ensinamentos obtidos na universidade, como também treinar, concomitantemente à formação

acadêmica, habilidades fundamentais para o seu sucesso profissional, como trabalho em

equipe, disciplina profissional, liderança, comunicação interpessoal e negociação. Ao mesmo

tempo em que aproxima os estudantes da realidade do mundo corporativo, essa iniciativa

propicia a capacitação profissional mais sólida.

Uma empresa júnior é um tipo de organização que funciona como uma associação

civil, sem fins lucrativos, constituída por alunos de graduação de instituições de ensino

superior. Presta serviços e desenvolve projetos para empresas, entidades e sociedade em geral.

Por outro lado, a empresa júnior atua como uma empresa real, com personalidade jurídica

própria, diretoria executiva, conselho administrativo, estatuto social e regimentos próprios,

além de gestão autônoma em relação à instituição que a suporta, centros acadêmicos ou

qualquer outra entidade acadêmica. A empresa júnior obriga-se, com isso, a competir no

mercado por projetos e serviços para que possa exercer suas atividades e proporcionar a seus

integrantes as oportunidades necessárias para alcançar os seus objetivos empresariais.

Para que tudo isso funcione, são necessários a supervisão e o suporte de professores e

profissionais especializados. De fato, tanto os estudantes quanto os profissionais de recursos

humanos, e até mesmo as empresas, só têm a ganhar com essa troca de experiências. Do ponto

de vista dos estudantes, além da experiência prática adquirida, o contato com profissionais

gabaritados ajuda na conquista de melhor capacitação profissional.

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A PUC Júnior Consultoria – integrada e administrada por alunos da FEA PUC/SP

(Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciências Atuarias da Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo) – visa a proporcionar ao estudante a aplicação prática de

conhecimentos teóricos, relativos à área de formação profissional específica.

Quanto ao interesse desta pesquisa (a capacitação dos alunos para uma inserção feliz

no mercado de trabalho), o desempenho da empresa júnior é francamente positivo: intensifica

o relacionamento empresa/escola, valorizando a instituição de ensino como um todo, e facilita

o ingresso de futuros profissionais no mercado de trabalho, colocando-os em contato direto

com o seu métier. As consultorias são realizadas mediante orientação e treinamento de

profissionais e professores da PUC/SP, com experiência e especialização nas áreas de: gestão

empresarial (planejamento financeiro, fluxo de caixa, linhas de crédito, controle de estoque,

formação de preços e custos, arquitetura organizacional); desenvolvimento social (captação de

recursos); marketing (plano de marketing, pesquisa de mercado, pesquisa de mercado

quantitativa, pesquisa de mercado qualitativa); recursos humanos (recrutamento e seleção,

clima organizacional).

TCC – PUC/SP

É uma atividade obrigatória a todos os alunos do curso, enquadrada na disciplina

Orientação de estágio II/TCC, oferecida no 10º semestre. O TCC não se configura como um

trabalho monográfico, mais se assemelha a um relatório de estágio, mas pode-se pautar em

pesquisa empírica. Voltado para a investigação, o TCC é, ao lado dos projetos de iniciação

científica, uma oportunidade para os alunos exercitarem a busca por novas propostas e idéias,

sendo também uma possibilidade de inserção para quem quer adentrar a carreira acadêmica.

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4.1.2 Curso de Administração de Empresas da UNIVERSIDADE 2

O curso de Administração de Empresas da UNIVERSIDADE 2 foi concebido de

forma a fornecer aos alunos os principais instrumentos para a tomada de decisões nas

empresas, conforme princípios técnico e humanísticos, com responsabilidade social.

O curso teve início em 1988, quando ocorreu a unificação das faculdades em uma

"federação" de escolas, por um ato do Conselho Federal de Educação. Em dezembro de 1993,

o Conselho Federal de Educação reconheceu e, em janeiro de 1994, o Ministério da Educação

e Desporto homologou a criação da UNIVERSIDADE 2 em São Paulo. O curso de ADM

iniciou-se em 1993, vinculado à área de concentração de Ciências Sociais Aplicadas, de

acordo com a Portaria MEC nº. 898 de 24/06/1992, publicada no DOU em 25/06/1993.

4.1.2.1 O profissional formado na UNIVERSIDADE 2

O curso tem como objetivo formar um Administrador de Empresas:

a) capaz de planejar, organizar, coordenar, controlar e desenvolver projetos e

empreendimentos;

b) apto a desenvolver habilidades de comunicação interpessoal e intercultural;

c) hábil no raciocínio lógico, crítico e analítico;

d) com conhecimento das áreas de finanças, recursos humanos, comércio exterior e

produção, entre outras (deseja-se uma visão generalista, como recomendado pela

comissão de especialistas de Ensino de Administração – CEEAD/SESU/MEC);

e) capaz de atuar como agente de mudança e gerir os mais diferentes sistemas

organizacionais com espírito empreendedor.

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Quanto ao perfil do egresso, segundo o catálogo do curso, deve-se formar um

profissional que reconheça:

a) sua área de saber como sendo fundamentalmente uma área das ciências sociais

aplicadas, mas que deverá solicitar sistematicamente conhecimentos de outras

áreas para entender e gerir com eficácia as organizações;

b) o saber administrativo como um saber vinculado à razão instrumental e que a

racionalidade instrumental, cada vez mais, se torna insuficiente para equacionar

com qualidade os problemas da organização, da humanidade e do ecossistema;

c) que a ação humana é fundada em pressupostos éticos e ideológicos, e que a ética e

os pressupostos ideológicos das elites administrativas e empresariais brasileiras

foram e ainda continuam sendo cúmplices dos gestores públicos do estado

cartorial e de seu apartheid social;

d) que administrar é a arte e a ciência de dar resultados para a coalizão do poder

dominante, mas que a heterogestão é uma forma transitória de poder como foram

as demais;

e) que na solução de problemas é possível e desejável que a administração mude seu

enfoque de reprodutor das forças produtivas e das relações sociais para promotor

de novas relações produtivas e sociais;

f) que a organização não é um fenômeno claro e simples de gestão, composta por um

conjunto de informações, capital, mão-de-obra, procedimentos padronizados e

amarrados organicamente, mas um campo de forças para se buscar eficácia e, ao

mesmo tempo, um campo de ambigüidades, paradoxos e conflitos;

g) que os objetivos e metas organizacionais não são imanentes à natureza da

organização, nem simplesmente dados, mas necessitam ser construídos e

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negociados dentro de um contexto contraditório de interesses, tanto em nível

interno como externo, ou ambiental.

4.1.2.2 Organização curricular do curso de Administração de Empresas

A atual matriz curricular possui três eixos: formação básica, profissional e a chamada

“teórico-prática”. São componentes curriculares da formação básica: contabilidade geral,

matemática, direito empresarial, análises estatísticas, economia, direito tributário e social e

economia brasileira. Da formação profissional fazem parte teorias e modelos de gestão,

liderança e motivação, comércio e relações internacionais, tópicos avançados de marketing, as

administrações de produção e operações, mercadológica, financeira, de recursos humanos e de

materiais. Da formação teórico-prática fazem parte os seguintes componentes curriculares:

mercado financeiro e de capitais, controladoria, administração estratégica, administração de

custos e estágio. Todos os componentes curriculares possuem carga de 132 horas-aula, com

exceção do estágio curricular, que é de 400 horas (conforme matriz curricular aprovada em

23/11/2004.)

Objetivo geral

A missão do curso é formar profissionais empreendedores na mais ampla acepção do

termo, o que inclui empresários, dirigentes, executivos e empregados capacitados e aptos a

gerir organizações e/ou suas unidades, com ética, responsabilidade social, empresarial e

ambiental, pensando e agindo por conta própria, com criatividade, liderança e visão de futuro,

para inovar e ocupar espaços no mercado, satisfazendo, inclusive, seus anseios pessoais de

realização. Isso pressupõe enfatizar o “saber-ser” para, ao lado do tradicional “saber-fazer”,

desenvolver todo o potencial do ser humano.

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Nesse sentido, procura-se buscar permanentes padrões de excelência do processo de

ensino de administração, sem confundi-lo com um curso de treinamento, fundamentando tal

busca nos princípios acadêmicos e, não exclusivamente nos pressupostos de eficiência e de

eficácia exigidos pela lógica do mercado; bem como assegurar que o processo de ensino, na

sua dimensão particular, enquanto processo de produção e socialização do saber,

contextualizado em sua historicidade, contemporaneidade e relevância, visando a formação de

profissionais qualificados que sejam capazes de materializar os objetivos e a missão das

organizações que administram com qualidade de vida e responsabilidade social.

Objetivos específicos

Desenvolver os fundamentos de gestão que ensinam o aluno a pensar, a questionar, a

interagir no social, a ser atuante, participativo e crítico. Principalmente:

1 – Desenvolver habilidades de gestão e postura:

a) espírito empreendedor, capacidade de antecipar mudanças e ter iniciativas de ação

e de decisão;

b) competência contextual, capacidade de compreender o meio social, político,

econômico, cultural no qual o administrador está inserido;

c) competência conceitual, capacidade de integrar teoria e prática;

d) ética profissional, conhecer os princípios éticos da profissão e aplicá-los de

maneira ampla, visando à construção da cidadania enquanto patrimônio coletivo da

sociedade civil;

e) postura para educação continuada, atualização e aperfeiçoamento profissional;

f) comunicação interpessoal, capacidade de comunicação escrita e oral;

g) capacidade de atuar de forma multidisciplinar;

h) capacidade de atuar como parte de uma equipe;

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2 – Desenvolver habilidades “técnicas” ou específicas da racionalidade gerencial:

a) dos processos e das metodologias administrativas;

b) de sistemas, métodos e instrumentos de análise de intervenção organizacional;

c) da estratégia, estrutura organizacional e racionalidade administrativa;

d) da gestão dos subsistemas e recursos mercadológicos, financeiros, produtivos,

materiais e de informações;

e) da gestão de recursos humanos e formas de participação;

f) da rede de relações com o meio ambiente e dos condicionantes de natureza

econômica, política, jurídica, tecnológica e sociocultural.

3 – Incentivar a formação de administradores e empreendedores capazes de alinhar

metas organizacionais com qualidade de vida e responsabilidade social.

4 – Trabalhar criticamente e competentemente a racionalidade instrumental, para

possibilitar ao profissional formado em Administração buscar soluções e alianças na

sociedade, voltadas para dimensão ética valorativa da construção da cidadania enquanto

patrimônio coletivo da sociedade civil.

5 – Incrementar atividades extraclasse que aperfeiçoem o processo de ensino e estejam

de acordo com a missão e os objetivos do curso de Administração.

O curso de Administração da UNIVERSIDADE 2, apoiado na resolução CES nº.

1/2004 de 2 de fevereiro de 2004, deverá oferecer:

Atividades complementares

Entre elas, segundo o documento catálogo do curso:

a) atividades direcionadas pela coordenação e com apoio institucional, tais como:

seminários, palestras e fóruns internos, incluindo os previstos na semana de estudos do curso,

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iniciação científica, monitoria, visitas técnicas, atividades comunitárias, inclusive da Empresa

Júnior, cursos internos de extensão.

b) atividades de livre escolha dos alunos, coerentes com o plano didático do curso,

como: participação em feiras relacionadas à administração, participação em atividades de

treinamento empresarial ou comunitário, participação externa em seminários, simpósios e

congressos, cursos externos de extensão, competições relacionadas ao curso, como por

exemplo, jogos de empresas.

Estágio curricular

O estágio é uma atividade curricular obrigatória e indispensável para a formação

acadêmica. Foi instituído pela lei 6.494/77, regulamentada pelo Decreto 87.497/82 e previsto

na LDB 9394/96, artigo 82. Estão previstos nas matrizes curriculares da UNIVERSIDADE 2,

desde a primeira série, em todos os cursos. O aluno matriculado recebe um manual de estágio

cujas normas deverá seguir, tendo o direito de fazer livremente a opção das áreas de estágio

que sejam relacionadas ao seu curso.

O total da carga horária de estágios é de 400 horas, sendo l00 horas em cada série, do

primeiro ao quarto ano. O estágio é obrigatório em todas as séries; no caso de não serem

cumpridas as 100 horas pertinentes à série, o aluno será retido.

Para o seu acompanhamento e documentação, foi instituído o Passaporte Universitário,

onde se anotam as horas de estágio e as atividades complementares cumpridas durante cada

ano. Será o portfolio do aluno e servirá como documento comprobatório das experiências

vivenciadas.

Para o estudante, o estágio representa a possibilidade de entrar em contato com as

oportunidades e dificuldades do cenário real, proporcionando-lhe amadurecimento e

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preparação para enfrentar as exigências do mercado de trabalho. Além disso, visa a facilitar o

ingresso no mercado de trabalho.

Os estágios poderão ser realizados em instituições públicas ou privadas que tenham

setores das mais diversas áreas de Contabilidade e Administração, por exemplo, departamento

financeiro, de custos, fiscal, comercial, contábil, departamento de patrimônio, auditoria,

controladoria e outros.

O aluno pode realizar o estágio na própria organização em que trabalha, desde que o

faça em áreas compatíveis, ou seja, contábil-administrativas (equivalência profissional). O

tempo de estágio é variável, dependendo da duração das atividades envolvidas, mas não pode

exceder 8 (oito) horas diárias ou 44 horas semanais, conforme determina a CLT

(Confederação das Leis do Trabalho).

Verifica-se que ambos os cursos são bem elaborados. Sua fundamentação teórica

preenche os requisitos exigidos pelo MEC e suas propostas de aplicação prática dos

conhecimentos desenvolvidos vêm ao encontro das necessidades impostas pelo mercado de

trabalho.

A implementação dos cursos, porém, encontra entraves de vária ordem e os projetos

pedagógicos acabam por ser adaptado para atender à realidade de cada uma das instituições de

ensino.

Outro recurso utilizado neste trabalho foram entrevistas com gerentes de recursos

humanos atuantes no mercado de trabalho e com professores e alunos egressos das duas

universidades.

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4.2 Entrevistas

4.2.1 Entrevistas com profissionais de recursos humanos (RH)

A análise dos projetos pedagógicos orientou a entrevista com os profissionais de

recursos humanos. Essas entrevistas revelam a prática da contratação do profissional

administrativo e o respectivo perfil atual exigido no mercado de trabalho.

As empresas pesquisadas14 selecionam seus candidatos à contratação pelos seguintes

expedientes: respostas a anúncios de vagas, currículos recebidos via internet e indicações.

Quando o fazem por indicação, a escola em que o candidato se formou é o item de maior

relevância, ainda que não defina a contratação. A origem universitária não é fator

eliminatório, pois há um levantamento e avaliação do perfil do candidato a partir do qual ele

poderá ou não, continuar o processo de seleção para o ingresso na empresa.

“Conta-se muito a respeito da origem do diploma, porém tudo depende do processo de

seleção. Nem sempre a universidade é fator definitivo no desenvolvimento do candidato. Já

no perfil é avaliado esse requisito: origem universitária (empresa 4).”

Ou ainda,

“A diferenciação se dá entre as pessoas e suas competências, não entre faculdades ou

outras identificações de origem (empresa 1).”

O candidato é avaliado por seu conhecimento técnico e comportamental, muitas vezes

através de entrevistas ou de dinâmicas de grupo. Habilidades de comunicação e autonomia

são itens integrantes e fundamentais na construção do perfil geral desejado para o novo

14 As entrevistas foram realizadas com os gerentes de recursos humanos das empresas Avon Cosméticos, Aldan

Assessoria e Participações Ltda, Accor Brasil Hotelaria e Serviços, Nestlé Brasil,GE.Morrey. Essas empresas foram escolhidas por terem sido indicadas pelos professores entrevistados.

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profissional. Algumas empresas deixaram claro que a capacidade de trabalhar sob pressão é

um fator necessário no perfil desejado.

“[...] habilidades duráveis, tais como relacionamento humano, trabalho em equipe,

flexibilidade, tolerância a pressão e frustrações são observadas no processo seletivo (empresa

5).”

Esses testemunhos apontam a prevalência das capacidades atitudinais e

comportamentais sobre as competências técnicas. Boas universidades implicam um bom

cartão de visitas, mas não garantem o emprego.

“Jovens recém formados, dinâmicos, com perspectiva de crescimento, com

experiências vivenciadas em outros países são desejados nesta empresa (empresa 4).”

Entre as habilidades atitudinais, foram espontaneamente lembradas a comunicação

objetiva e clara, relacionamento humano, saber trabalhar em equipe, flexibilidade, tolerância a

frustrações e pressões, habilidades para falar em público, conhecimento de mercado e energia.

Energia refere-se ao brilho, ao entusiasmo, vitalidade, ação e dinamismo. Mentir é o que mais

desqualifica o candidato.

“No processo de seleção, se percebemos que o candidato não tem segurança das

qualificações que estão presentes no currículo e/ou se contradiz algumas vezes, supomos

haver uma certa inveracidade nos dados, esse candidato é desconsiderado imediatamente

(empresa 3).”

Isso indica que a competência “integridade” (humildade em “reconhecer-se”,

consciente de si, a fim de um aprimoramento pessoal) vem assumindo um papel relevante.

Quanto às exigências de experiência profissional, algumas empresas afirmam que isso

depende muito da posição requerida e da área de atuação, o que indica que alunos egressos

podem ter boas chances de mercado, sobretudo se tiverem no currículo (entendido como vida)

técnicas e atitudes comportamentais afins à empresa em questão.

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“O perfil que buscamos é de um jovem com perspectivas de crescimento, quando

possível com experiências vivenciadas em outros países (empresa 1).”

Esse dado nos leva a afirmar que alunos de classe social elevada, com bom preparo

universitário (estágios, TCC, cursos extracurriculares) aliado a boa formação geral (curso de

línguas, informática, cultura geral), mas sem experiência profissional, poderão ser aceitos por

sua competência adquirida na vida, isto é, com viagens nacionais e internacionais, e

principalmente na universidade.

Os defeitos mais comuns encontrados nos candidatos são: imaturidade emocional,

ansiedade, dificuldade para lidar com frustrações e limites, nervosismo e insegurança.

“Os defeitos que desqualificam o candidato são, nervosismo, insegurança, ansiedade e

falsidade (empresa, 1).”

“Dificuldade para lidar com frustrações e limites, imaturidade emocional, ansiedade

(empresa 2).”

“Desânimo, falta de iniciativa, dissimulação (empresa 3).”

Segundo as entrevistas, constatou-se que atualmente a seleção por competências vem

ganhando espaço nas organizações porque minora as possibilidades de a seleção malograr,

dada a averiguação das habilidades que os candidatos possuem e/ou desenvolveram para um

bom desempenho no cargo.

Os questionários demonstram que, nas seleções para contratações, se valorizam mais

as características pessoais do indivíduo do que as técnicas. As pessoas mais procuradas são

aquelas com habilidades técnicas, políticas e comportamentais que atinjam resultados,

compartilhem valores, planejem, liderem, organizem, controlem e satisfaçam os requisitos na

execução de seu papel na empresa.

Com o acirramento da competição nacional e internacional, as empresas passaram a

exigir mais de seus funcionários, sendo fundamental que se adaptem ao cargo, produzam e se

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relacionem bem. Por isso a importância de pessoas qualificadas com habilidades correlatas ao

conhecimento produzido e exigido pela empresa a fim de aumentar sua produtividade. Nos

dias de hoje, quem não tem competência está fora do mercado de trabalho. A “competência”,

entendida como a soma de habilidades e conhecimento (informação aliada à prática), tornou-

se o requisito fundamental para se conseguir um emprego, pois permite identificar a pessoa

certa, para o lugar certo, no momento certo.

Nas entrevistas realizadas percebe-se que, quando o foco em competências

comportamentais é a meta da seleção, procura-se no desempenho pretérito do candidato o

indicador do desempenho futuro. As competências para a realização das tarefas são definidas

a partir das atribuições do cargo.

A competência é instalada quando há conhecimento, habilidades e atitudes interagindo

de forma dinâmica nas diversas ocasiões vivenciadas pelo indivíduo. Depois de reunir as

informações sobre o cargo a ser preenchido, escolhem-se as técnicas de seleção para conhecer

e indicar os candidatos adequados. As técnicas de seleção utilizadas são: entrevista, prova de

conhecimento ou capacidade, testes psicométricos, testes de personalidade e técnicas de

simulação.

Geralmente, escolhe-se mais de uma técnica de seleção. Para os cargos simples,

aplicam-se entrevistas de triagem, provas de conhecimento e provas de capacidade. Para os

cargos complexos, aplicam-se provas de conhecimento, testes psicométricos e de

personalidade, técnicas de simulação e entrevistas.

Cabe a cada organização determinar os processos e os procedimentos de seleção mais

adequados e capazes de proporcionar os melhores resultados. Todo o processo seletivo precisa

ser eficiente e eficaz para atingir os objetivos propostos.

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4.2.2 Entrevistas com professores da PUC/SP

As entrevistas com os professores da PUC/SP apontam como diferencial educacional

do curso nesta instituição a formação humanística e crítica.

“Já dei aulas em cursos de adminstração de outras universidades, mas não encontrei

em nenhuma delas uma atuação condizente com princípios de uma educação humanística,

como encontro aqui, com aulas de sociologia, filosofia, projetos de pesquisa integrados;

percebo isso nas reuniões de planejamento (professor 3).”

Outros apontam como diferencial do curso PUC:

“a qualidade da formação dos professores (professor 1)” bem como o fato de alguns

professores prestarem serviço de assessoria aos alunos através da empresa júnior, na qual os

alunos vivenciam a prática do dia-a-dia de uma empresa.

“[...] costumo prestar serviço de assessoria aos garotos, é uma opção que, embora não

obrigatória, consagra a formação do aluno (Professor 5).”

Apontam também o nome da instituição como um dado relevante para o êxito de seus

alunos no mercado de trabalho, mas têm claro que a qualidade da formação dos professores e

a seriedade na condução do curso são os grandes responsáveis por esse fato. Apontam ainda a

facilidade de material pedagógico, humano e físico como fatores de facilitação da relação

ensino-aprendizagem.

“A minha disciplina é optativa, na área de marketing, apresentando como ocorre a

gerência de produtos e marca em uma empresa. Nessa disciplina, os alunos obtêm

conhecimento da prática do dia-a-dia de um gerente de produto (professor 2).”

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Ou ainda:

“Os alunos são estimulados a desenvolver projetos práticos através da utilização de

aplicativos do office da microsoft, fornecendo ao futuro administrador subsídios para a

tomada de decisão administrativa (professor 4).”

O estágio, quando integrado ao TCC e em consonância com as disciplinas optativas,

orienta o aluno recém-egresso para uma das áreas de especialização. Esse caminho deverá

levar ao encontro do conhecimento com as habilidades, facilitando a entrada no mercado de

trabalho.

“O estágio é a transposição de todo o arcabouço teórico na prática, é uma atividade

que integra o aluno ao seu futuro profissional, e geralmente está relacionado ao TCC

(professor 2).”

“O estágio é muito importante, pois o aluno começa a vivenciar o dia-a-dia de uma

empresa (professor 4).”

As disciplinas optativas oferecem capacidade de reciclagem para os alunos,

possibilitando conhecimento atual, relevante e de ponta, o que, num mercado em constante

mutação, implica um outro grande diferencial.

“O curso oferece uma formação completa em várias áreas epistemológicas e práticas

que circularão o seu futuro (professor 5).”

4.2.3Entrevistas com professores da UNIVERSIDADE 2

As entrevistas com os professores da UNIVERSIDADE 2, em sua maioria, pontuam

problemas conjunturais para a situação na qual se encontra o curso de administração

atualmente. Um professor, funcionário desde 1992, afirma que:

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161

“Há alguns anos havia uma boa integração das disciplinas ao projeto pedagógico e a

empresa júnior realizava junto à comunidade trabalhos de consultoria, atingindo bons

resultados. Nessa época, a reitoria insistia em ter um curso de administração de empresas com

a excelência do curso da GV, mas hoje a realidade (limitação da carga horária, ofertas de

disciplinas, concorrência por alunos e satisfação dos clientes) impõe uma outra postura à

direção (professor 1).”

De maneira geral, os professores fazem uma avaliação positiva da faculdade, dando

ênfase aos profissionais de ensino e ao esforço pessoal dos alunos quando perguntados sobre

o que melhor ajuda o aluno a se qualificar, deixando claro o caráter individualista da

formação oferecida.

“Desde que o aluno tenha boa vontade e a mente aberta para aprender, a grande

contribuição é o conhecimento teórico, que certamente contribuirá e muito para a inserção do

aluno no mercado de trabalho, especialmente em estágio (professor 3).”

“A instituição possui um corpo docente experiente e preparado, mas a inserção do

aluno no mercado de trabalho vai depender do seu empenho e esforço pessoal (professor 4).”

Percebe-se, também, nas respostas certo receio em revelar alguns fatos e/ou ações que

demonstrariam negligência ou ausência de ações educativas da instituição, tais como atitudes

relacionadas, sobretudo, ao conhecimento e participação no projeto pedagógico do curso.

Quando interrogados se conheciam o projeto pedagógico do curso, obtivemos como respostas:

“Nunca me foi apresentado, só conheço o plano de aula da minha disciplina (professor

5).”

“Só conheço o programa do curso (professor 3).”

“Infelizmente, não tive oportunidade de conhecer o projeto político do curso

(professor 2).”

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“Não posso responder a essa questão, pois ainda não tenho grande afinidade com o

projeto curricular do curso (professor 4).”

Há pouca clareza sobre o projeto pedagógico do curso de ADM, embora alguns digam

conhecê-lo. Isso poderia estar coligado ao fato de que a maioria dos docentes, embora tenha

outro emprego, geralmente em empresas, muitas vezes terceirizadas, depende em parte das

aulas dadas no regime da CLT, tendo, em média, para professores horistas, uma quantidade

razoável de aulas na mesma instituição, em torno 16 h/a.

Percebe-se também certo apreço pela instituição, uma vez que a maioria está nela

empregada há mais 3 anos e alguns há mais de 10 anos, o que facilita a integração, o vínculo e

a defesa de suas posturas diante do mercado.

Os professores compreendem a batalha enfrentada pela instituição na captação de

clientes, o que, por sua vez, envolve muitas vezes reformulação de matrizes curriculares,

reorganização de estágios e alternativas para contratação nem sempre favoráveis ao

especificamente pedagógico.

“No afã de reduzir o curso para torná-lo mais competitivo no mercado, reduziram o

número de aulas de 4 para 3 por noite, eliminando-se assim as matérias de conteúdo

generalista, tais como filosofia, sociologia etc... que permitiam um lastro cultural maior para o

futuro administrador (professor 5).”

Quanto ao estágio, este é apontado como o grande diferencial para colocar o aluno no

mercado, embora nem todos o cumpram como deveriam. Os alunos não precisam entregar

relatório de estágio. Há apenas o passaporte onde se anota o número de horas cumpridas nas

empresas, e que é submetido ao controle de um professor não remunerado para esse fim. Fica

a critério de cada aluno levar a sério ou não o estágio, pois basta a assinatura do empresário

no passaporte para “atestar” a realização do estágio.

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“O estágio cumpre as regras exigidas pelo MEC. Ele contribui para a inserção do

aluno no mercado de trabalho, porém as suas possibilidades serão de acordo com o empenho

de cada um (professor 1).”

Quando perguntados sobre suas disciplinas no projeto maior do curso, todos os

professores afirmam estarem integradas ao projeto, mas não são capazes de esclarecer quais

capacidades e habilidades promovem, como aprimoram ou participam do trabalho realizado

nessas disciplinas.

Uma das professoras entrevistadas disse que existem linhas de pesquisa

implementadas na instituição (desenvolvimento do mercado varejista, gestão de pessoas e

comportamento organizacional, estratégias gerais de marketing, gestão logística, gestão de

qualidade e melhoria contínua no ensino superior). Isso, porém, é totalmente desconhecido

dos demais professores entrevistados, talvez pelo fato do TCC não ser obrigatório.

Quando indagados sobre a recomendação do curso, a maioria dos professores responde

de forma negativa:

“Não recomendo esse curso, pois não é um curso de primeira linha (professor 2).”

“Só recomendaria para aqueles que não têm alternativas, em virtude de sua condição

financeira, facilidade de acesso etc (professor 4).”

A maioria dos professores avalia o curso na relação custo-benefício como satisfatório,

revelando coerente a média 3, na escala de zero a cinco, quanto à nota dada ao curso. Essa

nota, no entanto, é dada com ressalvas, dentre as quais o preço, a localização dos campi,

facilidade de ingresso e o nível de exigência condizente com o tempo disponível do aluno.

Porém, um professor respondeu:

“É um curso para os que querem ingressar no mercado de trabalho qualificado, mas

sem grandes pretensões salariais, o que não impede para muitos desses alunos a garantia e a

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sobrevivência na sociedade do conhecimento e muitas vezes uma mobilidade social

ascendente (professor 2).”

Sobre as dificuldades e/ou as facilidades encontradas pelos alunos para se inserirem no

mercado de trabalho, afirmam que a principal dificuldade é a pessoa insistir em fazer um

curso de 4 anos sem conseguir se empenhar nem se dedicar. A dificuldade maior citada pela

maioria dos professores é que os alunos chegam à universidade com pouca bagagem cultural,

ou mesmo com dificuldade para ler e entender. Não fazem vestibulares, mas passam por um

processo seletivo que não consegue selecionar, pois há sempre um número maior de vagas do

que de candidatos e, assim, todos são facilmente aceitos, independentemente de seu nível de

formação.

“A maior dificuldade é que os alunos ingressam na universidade sem saber escrever e

também não querem ler (professor 3).”

“Má formação, o aluno ingressa com uma péssima formação e pouco se pode fazer

devido essa falha inicial e devido ao sistema de avaliação que, em grande parte, foge da mão

do professor (professor 4).”

Os egressos encontram no mercado uma alta concorrência, falta de experiência e baixo

nível de aprendizagem. O planejamento unificado aula a aula, que deve ser aplicado por cada

um dos professores em cada um dos os campi, amarra o desenvolvimento do curso e impede

responder às demandas especiais do alunado.

4.2.4 Entrevistas com alunos da PUC/SP

As entrevistas com alunos egressos da PUC/SP indicam que eles escolheram o curso

de ADM pelo fato de abrir um leque amplo de possibilidades no mercado de trabalho,

sobretudo, segundo a percepção dos alunos, se o diploma for desta instituição. Abrem-se,

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então, as maiores e melhores opções de trabalho. Alguns destes alunos afirmam que, se

tivessem entrado na USP, teriam se matriculado na instituição apenas pelo fato de ser pública,

mas que, em relação a FGV e Fecap, preferem a PUC “pelo fato de ter uma visão de

conhecimento e formação acadêmcia mais aberta (aluno 3).”

Os alunos entrevistados decidiram fazer ADM por opção, não porque precisavam de

um diploma para continuar no trabalho ou porque a empresa os tenha obrigado.

“Eu gostaria de algo que juntasse uma parte de exatas com humanas, além de eu gostar

de Finanças e Bancos já naquela época (aluno 3).”

Quanto aos motivos que os levaram a escolher a PUC, foram quase unânimes em

responder que o ideal seria a USP, mas:

“Pelo nome da faculdade. Tive a opção entre Mackenzie e ESPM, preferi a PUC

devido a sua reputação, mas o ideal seria a USP (aluno 1).”

“A PUC estava na minha segunda opção, como não entrei na USP fiz PUC, por achar

que é a melhor faculdade dentro de minhas expectativas e anseios (aluno 3).”

“Pelo curso ser considerado um dos melhores do país” (aluno 4).”

Todos os alunos entrevistados fizeram cursinho preparatório ao vestibular, alguns

chegaram a cursar mais de dois anos. Fizeram ensino médio nas escolas particulares: São

Luiz, Objetivo, Dante Alighieri, Santa Maria. Percebe-se que estes universitários têm

formação e informação cultural suficiente para acompanharem as aulas no início do curso,

tendo vindo de escolas particulares consideradas de boa qualidade. Não há, portanto,

necessidade de nivelamento.

Perguntados sobre como entraram e como saíram do curso, quanto a suas

características pessoais, conhecimentos, habilidades, atitudes e valores, responderam:

“Eu acredito que a faculdade me deu uma visão única e rica, culturalmente. Acredito

que nunca cresci tanto, e talvez nunca crescerei tanto quanto no tempo que estive na PUC,

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acredito que eu aproveitei ao máximo os recursos que ela podia me dar, extraí desses cinco

anos o suficiente para me tornar um bom profissional e seguir com a minha carreira da melhor

forma possível (aluno 3).”

“A faculdade potencializou os meus valores e habilidades, saí da PUC uma pessoa

bem melhor (aluno 4).”

Quando interrogados sobre como foi o curso de ADM da PUC, em que medida

contribuiu para o desenvolvimento das competências e habilidades para o crescimento

profissional e pessoal, responderam:

“Apesar de ser um curso bom, o curso de ADM da PUC possui seus defeitos, claro que

está entre os maiores e melhores cursos do país, mas o esforço do aluno para extrair o máximo

do curso deve ser maior do que em outras faculdades do mesmo nível. Essa é uma das razões

que explicam o porquê do aluno da PUC ser tão comprometido e motivado em qualquer posto

de trabalho (aluno 3).”

Os alunos disseram que aprenderam muita teoria, difícil de aplicar na prática.

Acharam o curso “fraco” quanto a competências técnicas e funcionais, porém na competência

humana percebem seu grande diferencial:

“A PUC tem um lado sociológico muito bom, por esse lado as pessoas são

revolucionárias, possuem liberdade de expressão, tem os centros acadêmicos, a PUC Júnior,

essa liberdade de entrar e sair, tudo isso acredito que se destaque das demais faculdades

(aluno 1).”

Alguns alunos participaram de atividades complementares, da Atlética da FEA/PUC

ou da PUC-Júnior, e é claro que tudo isso contribui para o crescimento do profissional em

sentido global.

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“Meu TCC foi na área de gerenciamento de riscos, com a prof.ª Marly, sobre clauster

de calçados de Franca. Trouxe uma visão diferente, de enxergarmos nossos concorrentes

como parceiros (aluno 4).”

No entanto, depois de formados, os alunos reconhecem que carecem de maior

especialização:

“O último ano da PUC é muito intenso, o trabalho de TCC toma muito tempo e não

pude me dedicar como queria aos estágios (aluno 5).”

“Preferi optar por matérias mais “light” e não realmente as que queria fazer, para não

me sufocar com muito trabalho teórico (aluno 1).”

Sobretudo aqueles que não participaram da PUC-Júnior, e/ou fizeram estágios em

áreas diferentes do núcleo central de matérias optativas.

Quanto a essas optativas, já referimos que os alunos ingressantes até 2007 devem, no

5º ano, escolher eles mesmos as 9 disciplinas de sua grade horária. Essas disciplinas se

classificam segundo 5 áreas do conhecimento administrativo: finanças, marketing, recursos

humanos, geral e produção. Das 9 disciplinas a serem escolhidas, é obrigatório cursar uma de

cada área, ficando a escolha das 4 restantes a critério e interesse do aluno. Quando esse

critério não leva em conta a área de concentração do estágio, realizado no 9º semestre e

paralelamente às disciplinas optativas, há maior descompasso entre teoria e prática.

No 10º semestre, os alunos devem apresentar um relatório de estágio, e, ao mesmo

tempo em que estão cursando outras disciplinas optativas, produzir o Trabalho de Conclusão

de Curso. Isso sugere que o excesso de atividades dos alunos no último ano leva alguns deles

a optar pelas matérias, estágios e temas que possuam maior possibilidade de finalização, o que

nem sempre coincide com os interesses e capacidades do aluno, prejudicando, muitas vezes,

as competências e habilidades agregadas e ampliadas nos primeiros quatro anos de curso.

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Entre o estágio, o TCC (obrigatórios) e a participação na empresa júnior (opcional), a

maioria dos alunos respondeu ser o estágio o que mais os aproxima do mercado de trabalho.

Elogiam o modo como o estágio é planejado e orientado pela instituição e o fato de se ter um

controle rígido sobre seus resultados.

“Tive oportunidade de ter o contato com a prática da empresa onde estagiei e isso

facilitou minha entrada no mercado de trabalho, pois na minha primeira entrevista, me senti

bastante seguro (aluno 4).”

Há um contrato com a empresa oferecedora do estágio, após o qual os alunos devem

fazer um plano de atividades. Este deverá ser aprovado pelo coordenador de estágios e

realizado durante todo o 9º semestre. No início do 10º semestre, entrega-se um relatório sobre

as atividades realizadas, desenvolvidas, finalizadas e/ou em andamento. Somente depois de

analisado o relatório pelo coordenador, o aluno consegue computar no histórico escolar os

créditos do estágio.

“Quando temos que elaborar o plano de atividades a ser realizado durante o estágio, no

início não simpatizei com a idéia, ia dar muito trabalho, o negócio era pegar na prática, mas

agora, depois de finalizado o relatório percebo que esse relatório me ajudou a definir qual era

minha área de interesse dentro da administração (Aluno 2).”

E ainda:

“Sim, eu estagiei em dois bancos e foram de suma importância para o meu trabalho

hoje. O relatório de estágio é uma forma de apresentar o seu trabalho de estágio e seu dia-a-

dia no trabalho. Um estágio é a linha tênue entre um aluno e um profissional, é quando se

coloca em prática o que se aprendeu na teoria, com certeza é muito importante para o egresso

no mercado de trabalho (aluno3).”

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A formação geral e humanística também ocorre por meio da participação ativa em

eventos acadêmicos, palestras, seminários, colóquios, assim como da equipe de voluntariado

que atua em projetos sociais.

“Aqui na PUC, sempre somos chamados para ouvir pessoas falar, aqui palestras fora

da sala de aula são comuns, e sempre sabemos o que rola, mesmo se não participamos delas

(aluno 3).”

É significativo apontar que os ex-alunos demonstram afeto à universidade e ao curso,

expresso que se expressa, por exemplo, por meio da participação nos eventos comemorativos

do Centro de Ex-alunos.

Os que participaram da empresa júnior a consideram muito eficaz e afirmam que

contribuiu para o conhecimento do terceiro setor.

“Foi bom para o currículo; mas nas aulas não contribui em nada, ajudou também a

aprimorar meus conhecimentos sobre o terceiro setor, onde participei com eventos (aluno1).”

Os alunos afirmam que há coerência entre a teoria e a prática, algumas matérias são de

aplicação mais imediata, outras, menos; mas, em sua maioria, até teorias consideradas difíceis

na faculdade terão aplicabilidade no dia-a-dia do trabalho.

“De certa forma há coerência entre a teoria e a prática. O aluno precisa perceber que a

alta carga de teoria pouco tem de parecido com a prática, serve como uma grande base

cultural e pessoal preparatória para a prática (aluno3).”

A PUC possui assessoria de relações institucionais e internacionais, inclusive

intercâmbio com a Universidade de Compostela, da Espanha. De maneira geral, os alunos

disseram que isso é muito pouco divulgado, portanto um número pequeno de alunos participa

do intercâmbio:

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“Eu cheguei a procurar, mas quando fui, meu grau de estudo já não valia mais para

fazer esse tipo de intercâmbio. Acho que isso deveria ser mais difundido pela faculdade, pois

poucos alunos sabem disso. Me mostraram a universidade espanhola, na época (aluno 1).”

De uma forma geral, os alunos enxergam a PUC como responsável por seus êxitos no

mercado, mas afirmam também que grande parte das qualidades requeridas hoje é inerente à

pessoa.

“O curso é bom, porém possui seus defeitos; mas para um aluno comprometido e

responsável, isso não é problema. A faculdade proporciona o conhecimento teórico, mas o

aprendizado, a aceitação e aplicação diária do conteúdo programático, vem da gente, de

nossas características pessoais, habilidades, esperteza (aluno 5).”

4.2.5 Entrevistas com alunos da UNIVERSIDADE 2

Dos alunos egressos da universidade de massa, quando interrogados sobre o motivo

que os levou a escolher Administração de Empresas, a maioria respondeu que já trabalhava na

área administrativa e que também optou pelo curso devido a sua abrangência.

“[...] pra dizer a verdade, queria a área da saúde, mas não tinha condições de pagar

uma faculdade de medicina, por exemplo. E, como já trabalhava na empresa em área

administrativa, resolvi optar por ADM (aluno 2).”

Outro aluno disse:

“Fiz porque o curso de Administração de Empresas está em alta no mercado e abrange

muitas áreas, então achei que seria mais fácil conseguir emprego depois da faculdade,

ganhando mais (aluno 3).”

A maioria dos alunos inicia o curso por necessidade de um diploma de nível superior,

porque já trabalha em empresas que lhes fazem tal exigência. Os funcionários dessas

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empresas procuram, dentre as universidades, aquelas que oferecem melhores condições de

pagamento e localização, a fim de não perder, pelo menos imediatamente, o emprego.

Portanto, antes de conhecimentos e aprimoramento de habilidades, os alunos da

UNIVERSIDADE 2 buscam o diploma, sem o que não podem permanecer na empresa.

“Precisei entrar na universidade, porque, se não viesse fazer um curso superior, seria

despedido de meu emprego. Eles me deram um prazo para trazer o diploma da faculdade

(aluno 1).”

É interessante ressaltar que, quando respondeu sobre o porquê de ter escolhido a

UNIVERSIDADE 2 para cursar ADM, a maioria dos alunos disse que não “escolheu”, mas

teve de cursar ali dada sua condição financeira, pelo PROUNI, e até porque o vestibular era

de graça para quem tivesse feito o ENEM.

“Não escolhi, fui escolhido. Fiz o ENEM e não precisei pagar a inscrição ao processo

seletivo (aluno 3).”

Outro disse que escolheu pelo preço da mensalidade:

“Foi a mais barata na época e era o único preço que eu podia pagar (aluno 4).”

A maioria estava ciente de que não conseguiria entrar em outras universidades, pois

não passaria em outro vestibular.

“Na UNIVERSIDADE 2 qualquer aluno que faz inscrição já passa, nem é vestibular, é

processo seletivo, isso é mais fácil, é só não zerar que a gente entra (aluno 4).”

Alguns alunos também demonstraram necessidades de aprimoramento técnico, indo,

sempre que possível, fazer complementações e cursos de línguas.

“Encontrei uma dificuldade muito grande porque não sabia falar inglês, e nunca havia

morado fora do país, então tive que pagar um curso por fora para continuar no meu trabalho

(aluno 2).”

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A definição do perfil profissional exigido no mercado de trabalho, levantado pelas

entrevistas realizadas com gerentes de recursos humanos das empresas pesquisadas, está

distante daquele adquirido pelos egressos pesquisados, o que dificulta preencher todos os

requisitos esperados.

Constata-se que há falta de habilidades cognitivas e técnicas:

“Acho que o curso foi pobre, no geral, em termos de conhecimento, de professores, de

infra-estrutura da universidade. Saímos sem embasamento teórico suficiente para dar

sustentação para enfrentarmos um processo seletivo de ingresso no mercado de trabalho

(aluno 1).”

Constata-se pelas entrevistas que todos os alunos são provenientes de ensino médio

das escolas públicas estaduais.

“Fiz o ensino médio em escola estadual. Saí com pouca bagagem cultural. Quase não

tinha aula. Não levei a sério como devia quando estava estudando e na faculdade me fez muita

falta (aluno 5).”

É exigência do MEC que a instituição ofereça aulas extras para “nivelar” os alunos, ou

seja, para que tenham melhores condições de acompanhar as aulas dos diferentes

componentes curriculares. São oferecidas aulas de português, matemática e informática.

Essas, sob a alcunha de “nivelamento”, a universidade tem por obrigação disponibilizar

gratuitamente, em horários extras, alternativos aos das aulas curriculares. O nivelamento não é

obrigatório e é feito a critério e disponibilidade do aluno, que se beneficia de cursos paralelos.

Constata-se que essas aulas na realidade não acontecem, só existem no papel, por ser uma

exigência legal.

“Aulas de nivelamento são oferecidas pela universidade aos sábados e nas pré-aulas.

Já saio do trabalho em cima da hora e nunca consegui chegar em tempo de participar delas

(aluno 3).”

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Quando indagados sobre a proporção teoria/prática, oferecida pelo curso, afirmaram:

“O curso ficou muito distante da prática, pois o conteúdo das matérias é extremamente

teórico e não tivemos na universidade a empresa júnior nem estágio feito realmente, com

relatórios (aluno 2).”

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5 EXIGÊNCIAS DO MERCADO DE TRABALHO E ENSINO SUPERIOR

Esta pesquisa procurou fazer a verificação do projeto pedagógico das instituições a

partir da observação de preocupações com habilidades cognitivas, técnicas, atitudinais e

comportamentais, em que se encontram incluídas as habilidades interpessoais (Assis, 1994,

Gílio 2000; Silva Filho, 1994; Whitaker, 1997), nos diferentes componentes curriculares, bem

como a partir de relatos das experiências docente e discente nas instituições. Na identificação

das experiências docentes e discentes, por intermédio das entrevistas realizadas, a enumeração

de habilidades e competências supostamente atingidas foi levada em consideração, bem como

a participação destas no possível ingresso ao mercado de trabalho. A questão das exigências

do mercado de trabalho, da diversificação do saber e da interdisciplinaridade do conhecimento

também foi levada em consideração quando da análise dos resultados de ambas as

instituições.

Tem-se assistido nos últimos anos a um movimento de busca de novos mercados

(Werbel, 2000) em cada campo profissional e isso trouxe à tona um problema que envolve a

seguinte pergunta: que grade curricular é capaz de incluir todas as atividades e competências

profissionais que se pretende abarcar?

É necessário analisar comentários dos egressos em relação à preparação para o

mercado de trabalho, no que se refere a formação teórica, prática e complementar (humana e

geral).

A crescente dificuldade enfrentada pelos responsáveis por recrutamento de

profissionais habilitados a ocuparem as vagas disponíveis coloca em discussão a eficiência no

processo de formação e qualificação. A proporção candidato/vaga tem crescido

substancialmente, reafirmando a condição de que poucos conseguem preencher os requisitos

exigidos pelo mercado.

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A ênfase na formação generalista e a ampliação das possibilidades de experiência

prática durante o curso superior são avaliadas pelas instituições como alternativas para

atender a exigência de um perfil multiprofissional e proporcionar a maturidade pessoal e a

identidade profissional necessárias para agir em situação de imprevisibilidade, realidade a que

estão sujeitas as organizações atuais. No entanto, essa ênfase, muitas vezes, consta nos

projetos pedagógicos, sobretudo nos da UNIVERSIDADE 2, mas não tem expressão na

realidade vivida pelos alunos que chegam ao mercado deficientes desses requisitos. Os

professores da UNIVERSIDADE 2 enfrentam o problema de se deparar com pouca

autonomia na preparação e aplicação de suas disciplinas, pois são obrigados a seguir um

planejamento comum a todos as unidades e a aplicar avaliações que, em grande parte, não são

preparadas por eles, o que os impede de responder às demandas especiais do alunado, muitas

vezes despreparado para questões básicas que demandam informações e conhecimento

relacional sobre épocas históricas, mentalidades, cultura geral, assim como desprovidos de

habilidades medianas de escrita e compreensão de textos jornalísticos.

Percebe-se, pela análise das entrevistas, um despreparo profissional dos alunos da

UNIVERSIDADE 2, relacionado aos seguintes fatores:

a) dissociação entre teoria e prática;

b) baixa qualidade dos estágios curriculares, insuficientes e inadequados;

c) “adaptações” simplificadoras feitas ao projeto pedagógico do curso;

d) infra-estrutura insuficiente, que carece de empresa júnior, laboratório de

informática e biblioteca condizentes com as necessidades do curso.

Essas falhas comprometem o perfil profissional do egresso e diminuem suas

possibilidades de sucesso num mercado de trabalho tão competitivo como o atual.

Todos os alunos entrevistados estudaram nas escolas públicas estaduais e não fizeram

cursinho preparatório para ingresso no ensino superior. O despreparo dos universitários ao

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iniciarem o curso impõe a necessidade de um “nivelamento”, um processo de capacitação ao

curso superior; mas a UNIVERSIDADE 2 não fornece efetivamente as aulas de capacitação.

Os alunos da UNIVERSIDADE 2 entrevistados não têm domínio de línguas

estrangeiras. Como não cursaram o ensino médio em escolas particulares, consideradas de

alto nível, tampouco fizeram cursos de língua fora da escola e também não tiveram a

experiência de morar fora do país, realmente não dominam outro idioma. Sabe-se que o

conhecimento de inglês e espanhol não é mais uma qualificação diferencial. Há necessidade

de se conhecer uma terceira ou quarta língua. Assim, os alunos da UNIVERSIDADE 2

somam obstáculos, e não requisitos, para a inserção no mercado de trabalho.

Quando procuramos os egressos dessa instituição para agendar entrevistas, soubemos

que alguns deles estavam fora do país. Deixaram de trabalhar para se aventurar no exterior,

adquirir uma língua estrangeira, esperando obter progresso na volta ao Brasil.

A definição do perfil profissional exigido no mercado de trabalho é condizente com

aquele adquirido pelos egressos pesquisados da PUC/SP, uma vez que saem possuidores de

competências e habilidades exigidas pelo mercado, tais como criatividade, autonomia,

iniciativa e tranqüilidade para conviver e resolver problemas.

O TCC obrigatório contribuiu para os alunos iniciarem-se na pesquisa científica com a

orientação dos professores e para ampliar seus conhecimentos, pois exige muita leitura e rigor

metodológico, ainda que não tenha de ser defendido perante uma banca de professores.

Outro fator relevante é a universidade dispor de empresa júnior, a PUC-Júnior, por

intermédio da qual os alunos podem entrar em contato com o mercado e as exigências do

trabalho no mundo contemporâneo; muitos deles, inclusive, tomam conhecimento das práticas

e ações do terceiro setor a partir da participação em instituições parceiras da universidade. Um

dos egressos da PUC que entrevistamos está cursando pós-graduação na fundação Getúlio

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Vargas, outro faz a segunda graduação, agora em Psicologia, outros já fizeram cursos de

especialização e um tem certificado de proficiência em língua estrangeira.

Percebe-se que o curso de ADM da PUC/SP possui não um, mas muitos diferenciais.

A flexibilidade, os professores, a matriz curricular, o curso generalista. Esse somatório se

resume no nome da instituição, quando da hora de os egressos procurarem espaço no mercado

de trabalho. Isso se confirma quando observamos o atual locus de trabalho dos egressos da

PUC/SP. Eles estão exercendo, hoje, funções de gerência das áreas de negócios empresariais.

São gestores de marketing, gestores de produtos, gerentes de RH. Trabalham no setor

bancário, empresarial e também no terceiro setor. Um dos entrevistados é presidente de uma

organização não governamental. Todos declararam que não tiveram dificuldade para

encontrar emprego depois de formados.

São unânimes em dizer que o mercado de trabalho onde alunos da PUC estão inseridos

exige profissionais altamente qualificados. São grandes empresas internacionais e nacionais,

que exigem do profissional uma variada gama de qualidades.

Tendo como ponto de partida a Lei de Diretrizes e Bases 9394/96, colocada como um

dos pressupostos teóricos desta pesquisa, mais precisamente o cap. IV, art.43, constatam-se

discrepâncias no que diz respeito:

a) à formação de diplomados aptos para a inserção em setores profissionais;

b) ao incentivo à pesquisa e investigação científica.

É evidente que, das duas universidades analisadas, a chamada mercantil de massa não

prepara adequadamente o profissional para se inserir no mercado de trabalho, conforme ficou

constatado, por vários motivos, dentre eles a falta de estrutura física adequada. Dizer que falta

estrutura física parece até incoerência, pois os prédios são muito amplos, vistosos, bonitos,

bem localizados, modernos; mas isso é uma artimanha para confundir o aluno, que fica

encantado pela aparência das instalações. São verdadeiros Shopping Centers, com área de

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alimentação, lojas de conveniência, salas de exposições; porém, o que há de mais necessário

para o ensino de qualidade e, conseqüentemente, para o bom desempenho do aluno, como:

laboratórios, bibliotecas, salas ambiente com recursos audiovisuais e empresa júnior, essa

universidade não possui.

Percebe-se que há um hiato entre os objetivos propostos pelo curso de ADM da

UNIVERSIDADE 2 e a realidade, pois os alunos não têm atividades laboratoriais

obrigatórias, não há empresa júnior e, no estágio, não se exige planejamento nem relatório:

basta entregar um “passaporte” com a assinatura do responsável pelo estágio na empresa.

A PUC/SP, ao contrário, dispõe de toda a infra-estrutura necessária: biblioteca

adequada, salas ambiente e empresa júnior, que funciona como verdadeiro laboratório para os

alunos diminuírem a distância existente entre a teoria e a prática. Há ainda que se considerar a

qualidade do material humano (professores preparados e orientados para um saber

investigativo) o que, somado a uma grade curricular flexível, favorece a formação criativa e

cidadã, possibilitando o incentivo à pesquisa e investigação científica.

A PUC/SP possui linhas definidas de pesquisas e, é filosofia da instituição, incentiva a

pesquisa nos diversos cursos de graduação e pós-graduação. O aluno inicia a atividade

científica ainda na graduação, pois é obrigatória a elaboração do TCC (Trabalho de Conclusão

de Curso).

Na UNIVERSIDADE 2 não há linhas de pesquisas e o aluno não tem necessidade de

apresentar um TCC ao término do curso.

A forma pela qual ocorreu a coleta de materiais que permitiram a análise do projeto

pedagógico do curso nas duas universidades revela, em si mesma, a familiaridade e

importância dadas à pesquisa e seus desdobramentos no caso da PUC/SP, e certa insegurança

e até descaso no caso da UNIVERSIDADE 2.

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Na PUC/SP, conseguimos, sem burocracia nem interpelações, com a coordenadora de

ADM o projeto pedagógico atual, em vigência desde 2007, e o anterior (objeto de estudo

deste trabalho, pois analisamos o curso de alunos que o concluíram há dois anos, para

conhecer como se deu seu ingresso no mercado de trabalho). Foi fácil coletar material para

análise, pois as pessoas contatadas ofereciam com muita transparência o manual de estágio, o

manual de TCC, o catálogo do curso, a matriz curricular e as respectivas ementas. Marcamos

horários com a coordenadora, que nos apresentou os professores para as entrevistas, bem

como esclareceu pormenores do curso e tirou dúvidas sempre que necessário. A associação

dos ex-alunos mostrou prontidão para fornecer dados, orientações e contatos com os egressos

e não mediu esforços para colaborar, havia pré-disposição em ajudar. Os ex-alunos foram

solícitos e de uma disponibilidade ímpar. Estão acostumados a pesquisar e sabem o quanto é

importante e valioso fornecer dados para análise e reflexão.

Em contrapartida, foi extremamente difícil conseguir material para análise da

UNIVERSIDADE 2. Foram inúmeros os e-mails, as horas marcadas em vão, a insistência

para obter informações e as visitas perdidas. Não conseguimos ter em mãos o projeto

pedagógico do curso. Tivemos de recorrer a um coordenador de outra área que, percebendo

nossa dificuldade e conhecedor da necessidade de obter tais informações, solicitou como se

fosse para seu próprio uso e disponibilizou para consulta, na própria universidade, sem a

possibilidade de a consulente levá-lo para casa ou fazer fotocópia. Não houve transparência,

ao contrário, houve verdadeira resistência para disponibilizar material, como se as coisas

fossem feitas às escondidas. Isso demonstra, por parte dos gerenciadores do curso da

UNIVERSIDADE 2, o desconhecimento dos frutos de uma pesquisa acadêmica, no que se

refere ao fornecimento de dados para novas orientações e a utilização política de seus

resultados.

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O encontro com o coordenador do curso de Administração de Empresas foi

impossível. Não tivemos a possibilidade de conversar pessoalmente, apenas por telefone,

quando por descuido atendia minha ligação, ou por e-mail, quando respondia. Conseguimos

contato com os ex-alunos por meio da secretária, que nos forneceu nomes e telefones para

marcar as entrevistas. Mesmo com os egressos não foi fácil a comunicação, pois eles não têm

hábito de pesquisa e sentiram-se acuados pelas perguntas. Os professores demonstraram

constrangimento e até mesmo certo temor de participar da entrevista. Insistiam muito que não

queriam que fosse citado seu nome em nenhum momento. Precisamos até, em alguns casos,

assinar termo de consentimento e responsabilidade, comprometendo-nos a não citar o nome

deles de forma alguma.

Constata-se que os documentos existem apenas para o cumprimento da exigência do

MEC e não ficam disponíveis para consulta dos professores, alunos e outros envolvidos no

processo de ensino/aprendizagem. Não há clareza quanto aos objetivos, nem quanto ao que foi

planejado para o curso como um todo, o que dificulta a possibilidade de integração entre as

disciplinas e metas comuns aos diferentes colaboradores do curso.

Pela análise comparativa, feita através dos dados levantados em entrevistas semi-

estruturadas, conclui-se que tanto a UNIVERSIDADE 2 quanto a PUC/SP têm como objetivo

estar em sintonia com o mercado de trabalho. Os alunos de uma, como os da outra, terminam

o curso com sonhos de ingressar numa carreira promissora, às vezes se esquecendo de que as

empresas estão exigindo conhecimentos além dos fornecidos pela universidade.

Os egressos da PUC/SP terminam o curso já empregados. A maioria é contratada na

mesma empresa em que fez o estágio, outros abrem sua própria empresa e muitos vão atuar na

empresa dos pais.

Os alunos da UNIVERSIDADE 2 terminam o curso para conseguir permanecer no

mesmo emprego que os obrigou a fazer faculdade. Estão ali para permanecer no mesmo lugar

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e, se houver grandes modificações, eles caem. Dessa forma, conclui-se que quando o aluno

entra por coação na faculdade, jamais vai cursar de maneira adequada, estudando apenas para

passar de ano e atingir o objetivo que é receber o diploma.

Os que ainda não estão trabalhando sentem dificuldades para obter o primeiro

emprego e vêem-se obrigados a voltar à universidade para cursos de pós-graduação com a

finalidade de adquirir mais conhecimentos e qualificações para se tornarem aptos a enfrentar

os processos de seleção das empresas. Assim, a universidade tem a garantia de candidatos

para preencher as vagas de seus inúmeros cursos de pós-graduação.

Vale considerar a data de início dos cursos: o curso de ADM da PUC/SP teve início

em 1971 e o da UNIVERSIDADE 2, em 1993. São 22 anos de diferença. Tempo suficiente

para que o curso da PUC/SP tenha tradição maior e muitos anos a mais de experiência. Tempo

em que o currículo passou por várias reformas, com inovações significativas e implantadas

gradualmente, de modo a adaptar o curso às mudanças do mercado, cada vez mais

competitivo, que exige novos conhecimentos e atitudes em face das novas tecnologias

incorporadas de forma definitiva no contexto dos negócios contemporâneos.

Uma das maiores inovações no projeto pedagógico da PUC/SP foi a criação do quinto

ano composto apenas por disciplinas optativas das cinco áreas funcionais. Essa alteração

permitiu notável flexibilização ao currículo, mantendo-o atualizado, uma vez que as optativas

são oferecidas de acordo com o contexto atual do ambiente de negócios.

O curso da UNIVERSIDADE 2 também passou e passa por alterações. A última

mudança, inclusive, serviu para “enxugar” as disciplinas da matriz curricular, oportunidade

em que a duração do curso foi reduzida de cinco para quatro anos. A “condensação” ocorreu

para que o curso continuasse competitivo no mercado, pois na maioria das universidades a

duração de ADM é de quatro anos. Foram retiradas da matriz disciplinas de formação

humanística, as quais ensinam o aluno a pensar, a questionar, a interagir no mundo social, a

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ser atuante, participativo e crítico, tais como: Sociologia, Psicologia, Filosofia e Ética. Restou

um curso sem a prática da reflexão, formando alunos cumpridores de ordem, sem capacidade

de criar e sem o espírito crítico tão necessário para preencher as atuais exigências do mercado

de trabalho.

Podemos apontar, portanto, que ambas as universidades vêm sofrendo mudanças

constantes em seu projeto pedagógico. A UNIVERSIDADE 2, no sentido de tornar o curso

mais acessível financeiramente aos alunos, e a PUC/SP, sem desconsiderar esse quesito, no

sentido de garantir sua marca, ou seja, fazer jus a sua preocupação histórica com a formação

humanista e, hoje também, generalista.

Quanto aos objetivos formalmente prescritos do curso, ambas estão de acordo com as

diretrizes exigidas pelo MEC (Ministério de Educação e Cultura), ambas possuem equipes

formadas por bons professores, com experiência profissional no mercado, mesmo assim a

PUC possui um número maior de mestres e doutores, enquanto 70% dos professores de

Administração de Empresas da Universidade 2 são especialistas e apenas 15% são mestres e

15% são doutores.

A Lei obriga as universidades a manter 1/3 dos docentes em regime integral, porém a

UNIVERSIDADE 2 não cumpre essa exigência. Apenas 6% dos professores trabalham em

regime integral, contrastando com os 94% que são contratados como horistas. Esse dado

consta do mais recente Censo da Educação Superior, de 2006, e foi divulgado pelo jornal

Folha de S. Paulo, de 12 de maio de 200815.

Segundo o ranking publicado na Folha de S. Paulo, referente às universidade públicas

e particulares, no dia 18 de maio de 2008, cuja fonte é o Inep/Mec, a relação de alunos por

15 Apenas 37 das 86 universidades privadas do país cumprem a exigência legal de ter um terço dos docentes

trabalhando em regime integral, aponta o Censo da Educação Superior 2006 (mais recente), publicado em reportagem de Antônio Gois e Fábio Takahashi, na Folha de 12/05/08.

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docente na UNIVERSIDADE 2 é de 49 para um, o maior índice entre as universidades

tabuladas. “Uma turma muito grande dificulta o ensino. O professor não sabe as dificuldades

de cada estudante, não sabe o que estão lendo”, afirma José Faro, diretor do Sinpro SP

(sindicato dos professores das escolas particulares).

O MEC preceitua que as universidades se apóiem no tripé: ensino, pesquisa e

extensão. Para tanto, é fundamental a presença de professores em regime de dedicação

exclusiva, porque podem estimular o investimento em pesquisa e melhorar a condição de

ensino. O regime integral também dá ao docente maior disponibilidade para preparar aulas,

corrigir provas e trabalhos, atender aos alunos e desenvolver pesquisas de iniciação científica

conjuntamente com os educandos, bem como desenvolver pesquisas próprias de interesse da

comunidade acadêmica. Possibilita, ainda, trabalhos de orientação a alunos interessados na

extensão universitária, facilitando a formação cidadã.

O professor da UNIVERSIDADE 2 não possui autonomia, e sequer pode almejar ao

controle do processo de ensino-aprendizagem, pois o conteúdo programático é pré-

estabelecido pela instituição. Os professores recebem não só as ementas, mas também a

bibliografia e os textos a serem aplicados no curso, prontos. Os professores da PUC/SP têm

liberdade de cátedra que lhes garante autonomia na condução do processo de

ensino/aprendizagem, sem o constrangimento de cobranças de responsabilidades próprias a

seu desempenho profissional. Os professores da UNIVERSIDADE 2 reclamaram de serem

vigiados até pelos seguranças, antigos bedéis, que ficam nos corredores para manter a ordem e

disciplina dos alunos, controlando também horários de entrada e saída do professor. Há vidros

instalados nas portas das salas de aula para facilitar a fiscalização das ações do professor em

sala de aula. Os professores não têm liberdade de dispensar o aluno mais cedo se terminaram

a programação prevista para o dia, tampouco pode passar mais tempo com o aluno ao final do

período de aulas, pois, neste último caso, a mantenedora receia ter de pagar hora-extra.

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O reconhecimento que o curso de Administração de Empresas da PUC conquistou

abre as portas do mercado para o aluno, antes mesmo de sua formatura. Dito de outro modo, o

curso de graduação da PUC/SP oferece condições de inserção rápida no mercado de trabalho,

enquanto que os egressos da UNIVERSIDADE 2, se possuem somente o curso de graduação,

têm dificuldades de atender as condições e os requisitos do perfil profissional demandado pelo

mercado. Para eles, a complementação profissional deve ser obtida fora da universidade,

tendo em vista as reconhecidas deficiências do processo de formação de nível superior.

No caso da Administração, por exemplo, inúmeras áreas de especialidades foram

criadas para atender às novas demandas do mercado. Isso torna cada vez mais difícil a

inserção no mercado de alunos provenientes de instituições que não oferecem diversificação

curricular, quer através de cargas elevadas de estágios e/ou matérias optativas, quer através do

trânsito por uma grade curricular renovada e diversificada, como a existente no projeto

pedagógico da PUC/SP.

Entre os alunos da UNIVERSIDADE 2 poucos afirmaram ter uma prática ampla de

administração experimentada na universidade. Os argumentos mais comuns caminhavam na

direção de reafirmarem a necessidade de buscar fora dela a capacitação para o mercado,

especialmente no caso de formação tecnológica.

Já os alunos da PUC/SP, por meio do estágio supervisionado, da empresa júnior, da

freqüência a palestras e visitas monitoradas a empresas teriam conseguido aproximar-se mais

da prática e do dia-a-dia do trabalho do administrador.

Não se pode negar que os egressos de ambas as universidades demonstraram

reconhecer que há necessidade permanente de qualificação para se manter no mercado, mas o

motivo principal que está levando boa parte dos formados pela UNIVERSIDADE 2 à pós-

graduação é o despreparo, enquanto os egressos da PUC/SP são levados por uma constante

necessidade de atualização profissional.

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As maiores dificuldades enfrentadas pelos alunos da UNIVERSIDADE 2, segundo as

entrevistas, foram: a desarticulação entre a teoria e prática – já justificada acima pela ausência

de TCC, estágio supervisionado e empresa júnior –; a distância entre a formação universitária

e as exigências do mercado; o despreparo no momento de ingresso no curso; a desarticulação

entre as disciplinas da grade curricular; a desarticulação entre a universidade e a comunidade

empresarial; a falta de atualização e reciclagem dos professores, e, por fim, a falta de estímulo

à produção científica dos discentes.

As empresas juniores apresentam-se como uma estratégia promissora por duas razões:

primeiro, por viabilizarem a integração entre o aprendizado teórico e a prática, permitindo

refletir sobre o substrato teórico que dá sustentação ao curso; segundo, por garantirem que a

experiência profissional possa ser vivenciada ainda no processo de formação. É justamente

nesse aspecto que os alunos egressos da PUC/SP se destacam, em detrimento dos alunos da

UNIVERSIDADE 2, uma vez que podem participar da PUC Júnior, que lhes dá o elo entre a

teoria e a prática.

Esse elo é necessário ao contexto gestor que vivenciamos no mundo globalizado. O

novo desafio da Administração é o de contribuir para inserir e ajustar as organizações nesse

novo cenário globalizado, competitivo e de mudanças rápidas. Isso se faz com a busca

incessante de novos aspectos conceituais e metodológicos, necessários à formulação de

estratégias associadas a métodos de gestão adequados, ao planejamento e desenvolvimento, à

organização da produção, à criação da competência para administrar a mudança.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Até a última década do século passado, não havia necessidade de estudo para

conseguir emprego não qualificado, aqueles conhecidos como “chão de fábrica”. O diploma

era exigência para a gerência científica. Porém, desde as últimas décadas do século XX, as

coisas mudaram. O administrador – gestor, capaz de antever necessidades e soluções – é

aquele profissional que toda empresa procura; é o especialista em marketing, produção,

logística, finanças, RH, informática.

O mundo está mudando com rapidez jamais vista e a velocidade da mudança impacta

as organizações de maneira muito forte. As empresas precisam adaptar-se a essas mudanças e

criar ferramentas para continuar competitivas. Precisam de alguém para administrar as

pessoas, para gerar as mudanças necessárias.

O administrador está percorrendo, de modo cada vez mais veloz, uma estrada que

conhecemos cada vez menos. Por isso mesmo, é necessário antecipar os cenários dos

próximos anos, o que será um atributo não teórico, mas ligado ao verdadeiro diferencial

competitivo das organizações – uma verdadeira odisséia em recursos humanos.

Uma das mudanças mais importantes que ocorreram no ambiente de negócios nestes

últimos dez anos foi, sem dúvida, a absoluta ruptura nos padrões tradicionais de estruturação

da carreira profissional nas empresas e organizações: o emprego vitalício passou a ser mera

ficção.

Existem programas de aglutinação, ou seja, a formação de equipes multidisciplinares e

sistemas colaborativos. O homem de visão vai resolver os problemas considerando outras

empresas não mais como concorrentes, mas como parceiras, para crescerem juntas, unindo

forças no mercado e garantindo a sobrevivência das organizações. As empresas modernas

contratam consultores. O consultor orienta a implantação de sistemas intra e inter empresas,

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de planejamento avançado, de cadeias de suprimento, de planejamento colaborativo de

previsão e reposição, de gerenciamento do relacionamento com fornecedores e com clientes.

Os alunos da PUC/SP serão esses homens de visão, serão os consultores, serão os que

pensam e criam, pois têm uma formação diferenciada. Os alunos da UNIVERSIDADE 2

serão agentes operacionais, como os antigos office-boys, mas agora “enaltecidos” pelo

diploma do curso superior, serão cumpridores de ordens, os que se formam para servir.

Assim que se formam, têm de fazer especializações, MBA, cursos de língua

estrangeira, para alcançarem uma visão geral dos negócios. Somente depois de cinco ou dez

anos (conforme as aptidões de cada indivíduo) a situação começará melhorar.

As empresas estão cada vez mais competitivas, reduzindo custos e utilizando recursos

de maneira racional. Nesse cenário, o Administrador é o ator essencial, pois é o principal

agente de um processo de mudança na forma de pensar, agir e decidir os rumos da

organização. É preciso aprender a aprender, ter domínio da linguagem, ter boa dose de

inteligência emocional, ou seja, saber lidar com situações de pressão, trabalhar em equipe e

ter jogo de cintura. É fundamental estar permanentemente adquirindo cultura e conhecimentos

científico, artístico e ético.

Diante de tantas exigências, podemos afirmar que a hipótese desta pesquisa se

comprova, pois as universidades em geral, e, principalmente, as universidades mercantis de

massa não estão preparando adequadamente o aluno para o mercado de trabalho. Todos os

egressos sentem a necessidade de fazer novos cursos para complementar a formação

acadêmica, mas os da mercantil de massa precisam, além de complementá-la, suprir as falhas

de seus projetos pedagógicos. Os cursos “massificados”, ainda que supostamente bem

planejados, deparam-se com grandes dificuldades práticas de realização, como as falhas

fundamentais de formação que seus alunos apresentam quando ingressantes, as quais a

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universidade não tem condições de sanar; por exemplo: o desconhecimento de línguas

estrangeiras, de informática, de técnicas de redação e oratória. Para agravar esse quadro, a

estrutura curricular muito estanque e compartimentada de cursos como o da

UNIVERSIDADE 2 impede uma compreensão maior do caráter geral e humano que a

sociedade contemporânea exige do mercado e de seus agentes.

Tudo isso associado à dificuldade de maior clareza das áreas de atuação do gestor

contemporâneo e à necessária e adequada especialização, inviabiliza aos egressos da

UNIVERSIDADE 2 a atuação como gestores de grandes empresas e afasta seu sonho de se

tornarem profissionais administradores por excelência.

Os egressos da PUC/SP, embora também sintam necessidade de aperfeiçoamento

quando saem da universidade, são capazes de se inserir no mercado como gestores.

Constantemente sentem a necessidades de aperfeiçoamento e aquisição de novos

conhecimentos, pois é inerente ao profissional de hoje ser estudante permanente.

Necessidades que são facilmente vencidas uma vez que aprenderam a aprender.

Cabe ressaltar que esse “aprender a aprender” é facilitado pelo fato de os alunos,

quando ingressantes, possuírem requisitos fundamentais ao bom desenvolvimento acadêmico

(facilidade de leitura, noções e, muitas vezes, fluência em línguas estrangeiras) e encontram

no curso uma estrutura adequada, com orientação de estágios e pesquisa, matérias

humanísticas e específicas que facilitam e aprimoram suas habilidades cognitivas, ampliando

seus conhecimentos e suas possibilidades de inserção no mercado de trabalho.

Se entendermos que cidadania não é simplesmente o conhecimento de direitos e

deveres e muito menos uma relação particular do indivíduo que consome serviços do estado,

ou, no caso, serviços educacionais privados; teremos que afirmá-la como posse efetiva dos

bens que os direitos representam abstratamente (conteúdos, competências e habilidades

desenvolvidas por uma matriz curricular específica). Assim, os direitos garantidores da

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liberdade individual, juntamente com aqueles que asseguram ao indivíduo o acesso ao poder e

também ao bem-estar social - respectivamente chamados direitos civis, políticos e sociais -,

devem articular-se com a posse efetiva dos bens materiais, simbólicos e sociais. Logo, a

educação de qualidade é aquela capaz de formar, além de informar, de capacitar, além de

diplomar: é a educação cidadã.

O cidadão, portanto, para além do cliente e do conhecedor de seus direitos e deveres,

será aquele com um papel ético-político definido, qual seja, o de superar a sua condição de

indivíduo para se projetar criativamente na sociedade e no mercado global, visando ampliar

sua participação na construção de um mundo mais humano, mais justo e menos desigual. As

condições necessárias para essa formação (flexibilidade curricular, orientação, união prática-

teoria) encontram-se, paradoxalmente, nas universidades cujos clientes já são os mais

favorecidos econômica e culturalmente, em oposição aos alunos das universidades mercantis

de massas, os quais se tornam, com muito custo, cidadãos clientes de um produto que não

contém o amálgama necessário para lançá-los nas novas condições de trabalho do mundo

globalizado, tornando-se, portanto, cidadãos consumidores de segunda classe.

Os de primeira classe, embora consumidores, compram produtos de acordo com as

necessidades contemporâneas. Isso leva a concluir que a forma como o ensino superior

brasileiro vem se desenvolvendo em São Paulo, tendo como exemplo o curso de

Administração, mais do que manter a desigualdade, vem ampliando, através do disfarce

cidadão, a margem que separa um profissional moderno, criativo e inovador do de um

profissional diplomado cumpridor de tarefas.

Os resultados aqui apresentados e analisados apontam a necessidade de mais diálogo

entre os setores da universidade. Há de se discutir não só a melhoria da integração entre

formação científica e profissional, que diz respeito à responsabilidade institucional, mas

também a necessidade de reformulação curricular. O objetivo é otimizar o aproveitamento dos

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recursos acadêmicos em prol da adequação ao mercado de trabalho e da diminuição da

desigualdade de competências e conhecimentos entre os egressos da universidade, o que, por

sua vez, teria conseqüências positivas na diminuição do exército de reserva dos setores

produtivo e de serviços.

Iniciativas como as de controle de qualidade das instituições universitárias (provão e

ENADE) são cada vez mais necessárias para identificarmos e corrigirmos as deficiências do

ensino superior, já admitidas pelo governo brasileiro. Assim, a educação superior, responsável

e eficiente, estaria participando da melhoria de condições salariais para a população

economicamente ativa, diminuindo, inclusive, o número de ocupações precárias e informais;

em contrapartida, possibilitaria maior arrecadação de impostos que poderiam retornar à tão

necessária educação pública.

Temos plena convicção de que a educação pode definir o futuro do país. É de infinita

importância, por exemplo, para a superação da desigualdade social crônica que caracteriza o

Brasil. É por meio dela, também, que evoluiríamos em qualidade de vida e bem-estar social.

Entretanto, notamos que falta muito para que a educação seja satisfatória e possibilite a

satisfação desses objetivos. Hoje, não atende às necessidades imediatas e futuras da nossa

sociedade, provocando o atraso de sua inserção no mundo globalizado.

Houve a democratização do ensino, a universidade abriu-se para todos: pobres, negros,

índios. O escopo dessa democratização era diminuir ou acabar com a desigualdade social, mas

ela revelou um quadro perverso: todos os alunos ingressaram na universidade, e, como

conseqüência, passou a haver duas universidades. Uma prepara para a gestão dos negócios,

pessoas e coisas; outra, para a execução dos projetos e planos visionários dos gestores

criadores. A democratização da escola não é fator de redução da desigualdade social porque

há desigualdade no ensino.

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Os alunos da PUC/SP vêm de famílias da classe dominate, com escolaridade de nível

superior, que viajam dentro e fora do país, que têm renda per capita alta, que podem comprar

livros e manter seus filhos nos melhores e mais caros colégios particulares, que podem, enfim,

garantir-lhes condições bastantes para estudar, pesquisar e destacar-se numa profissão de

prestígio.

Por outro lado, os alunos da universidade mercantil de massa são filhos de pais sem

formação escolar, com dificuldades financeiras, sem emprego qualificado, que precisam da

ajuda dos filhos para compor a renda familiar. Esses alunos sempre estudaram à noite, porque

trabalhavam e não dispunham de ócio para dedicar aos estudos. Não puderam pagar cursos de

língua estrangeira, nem de informática, ou qualquer outra habilitação complementar.

Tampouco aprenderam a ser exigentes e cobrar da universidade por infraestrutura, ensino de

qualidade, professores competentes e dedicados. Sentem-se realizados pelo simples fato de

cursarem o ensino superior. São os primeiros da família a obter o grau universitário. Isso é

motivo de orgulho, e conformam-se com o pouco que a universidade lhes oferece. São

enganados, iludidos, mas não se dão conta, pois não têm tradição escolar e a falta de

parâmetros lhes prejudica o julgamento.

Curso universitário não é elevador social. Dadas as enormes exigências, a empresa

quer um trabalhador ativo, inteligente, criativo, que pense e que tenha competência para

resolver problemas.

O estágio avançado do mercado em Administração de Empresas no Brasil e as novas

exigências para uma crescente profissionalização impulsionarão a universidade a valorizar e

criar mais espaços para a pesquisa e para o ensino de qualidade. A nova conjuntura política do

país e o fortalecimento e consolidação das instituições democráticas são fatores que cada vez

mais contribuirão para o florescimento e a expansão da administração organizacional das

empresas.

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A nova postura das organizações frente à sociedade e à opinião pública exigirá bases

conceituais mais sólidas para a prática profissional. A globalização, a revolução tecnológica e

a complexidade contemporânea exigirão cada vez mais que as universidades pensem e

planejem estrategicamente seu projeto pedagógico, não podendo prescindir da pesquisa

científica.

Espera-se que o presente trabalho contribua para a reflexão sobre a situação atual dos

cursos superiores, principalmente da área de Administração de Empresas, e sirva de referência

para novos estudos e questionamentos. Acredita-se que a tendência seja melhorar a qualidade

da pesquisa científica e, com isso, se consiga uma identidade mais agressiva do campo, tanto

no âmbito acadêmico quanto no mercado profissional.

Leituras afins, paralelas, feitas durante a realização desta pesquisa, sugerem que o

mesmo que ocorre ao curso de Administração de Empresas repete-se nas demais carreiras

universitárias. A dupla concepção de universidade, no interior da educação superior brasileira,

insiste em se repetir nos vários domínios do conhecimento; também, na formação de

tecnólogos e bacharéis.

Os resultados desta pesquisa demonstram que os alunos da PUC/SP encontram-se,

hoje, em posições importantes no mundo dos negócios, são proprietários, diretores de

planejamento, superintendentes. Esses, ao contrário dos alunos da UNIVERSIDADE 2,

chegaram a seus postos de trabalho após se submeterem a concursos, exames de admissão,

testes, seleções rigorosas. Na verdade, os dados da presente pesquisa sugerem que estamos

diante de instituições que se diferenciam não só em função do capital cultural disponível a seu

público, mas também em função do grau de exigência que solicitam quanto à manipulação

desse capital. Também estamos diante de instituições que possibilitam a seus egressos

carreiras e papéis diferentes.

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Vivemos um processo acelerado de desnacionalização da educação brasileira, com o

fortalecimento e expansão das instituições de ensino superior privadas que, por meio de

fusões e incorporações, vêm ampliando suas atividades ao adquirir outras instituições de

menor porte. Os investidores estrangeiros deparam-se com um ambiente perfeito para a

atividade e o lucro, pois no país não há regulamentação para a atividade. A educação superior

torna-se, cada vez mais, uma mercadoria de fácil aquisição, mas seus consumidores não

recebem todos a mesma qualidade.

Aquele que pode mais, ou seja, que possui poder econômico para pagar universidades

privadas não mercantis e/ou cursar escolas de ensino fundamental e médio de primeira linha,

que possibilitem aprovação nos vestibulares públicos, fica com os melhores produtos – sejam

eles públicos ou privados. Aquele com maior dificuldade financeira, em contrapartida, acaba

adquirindo mercadorias educacionais de segunda linha. Assim perpetua-se a desigualdade

social, em níveis diferenciados de status e poder, na sociedade como um todo.

Sabemos que a educação é um reflexo sintomático do modelo de desenvolvimento de

uma nação, uma vez que tal modelo está diretamente ligado à capacidade de produção de

conhecimento, seja por meio de pesquisas em ciência e tecnologia, seja para a capacitação de

trabalhadores qualificados.

No Brasil, essa responsabilidade é do ensino superior público e de poucas

universidades privadas, muitas delas confessionais, como a PUC/SP, que, apesar de muitas

adversidades, conservam-se como pólos de produção intelectual.

A situação é preocupante, ainda mais se atentarmos à recente formação de

conglomerados educacionais no campo do ensino superior, que nos colocam em risco – ainda

maior – a autonomia de pesquisa e a qualidade de ensino.

Se investidores internacionais e agentes de especulação financeira da bolsa de valores

estão tão interessados em nosso ensino superior privado é porque vislumbram um caminho

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promissor para a obtenção do lucro. Todos esses conglomerados estão encampando grandes

universidades mercantis de massa. Mas sob que critérios? Servindo a que interesses? A

resposta é, sem dúvida, sob o critério do lucro e no interesse do lucro.

Importa destacar que a preocupação das entidades ligadas à educação com essa

questão não é de hoje. O projeto de reforma universitária, engavetado no Congresso Nacional,

fruto de um amplo e democrático debate, já propunha a limitação de até no máximo 30% de

capital estrangeiro nas IES. Afinal, a ingerência do capital internacional em nossa educação é

inaceitável. E cabe ao estado brasileiro, em prol do desenvolvimento nacional, garantir

qualidade de ensino, acesso democrático, valorização do trabalho em educação. A CONTEE16

(Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino) lançou a

campanha “Educação não é mercadoria” e afirmou:

Conceber a educação a partir de uma estrita lógica de mercado compromete os destinos das novas e futuras gerações. O que está em jogo é o futuro do país, que necessita de um sistema de educação superior comprometido com o desenvolvimento democrático e soberano (Publicado em 10/04/07).

Enfim, gostaríamos de deixar declarado que o subdesenvolvimento do Brasil jamais

será superado sem investimentos maciços em educação de qualidade. Há necessidade de se

subsidiarem discussões sobre a função da universidade brasileira, seu compromisso com a

produção científica e seu papel na questão da formação humana. É preciso promover o debate

sobre a qualidade da educação e a necessidade urgente de uma regulamentação da educação

superior; é preciso criar condições para a qualificação do trabalho docente em todas as

universidades, públicas ou privadas, mercantis ou confessionais; é preciso valorizar e

estimular a construção de instâncias democráticas de formulação e decisão pelo coletivo dos

16 A Contee (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino) lançou a campanha

"Educação não é mercadoria", iniciativa que vai desencadear uma série de manifestações em todo o país contra a desnacionalização do ensino superior. O ato será realizado na cerimônia de abertura do 13º Consind (Conselho Sindical da Contee), no Rio de Janeiro. Da redação. Portal da Contee, 10/04/2007.

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docentes, estudantes e corpo técnico-administrativo das instituições de ensino responsáveis

pelo destino e autonomia deste país no mundo globalizado.

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ANEXOS

ANEXO A - ENTREVISTA COM PROFESSORES DA PUC/SP (PONTIFÍCIA

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO)

Dados Pessoais

Nome: Data de Nascimento: E-mail: Telefones:

Endereço Residencial

Rua/Av.: Cidade: Estado: CEP:

FORMAÇÃO ACADÊMICA

Titulação: (especialista, mestre, doutor) Área da titulação: Graduação:

Instituição: ano de conclusão:

Questões

1-É funcionário da instituição desde quando? 2-Qual seu regime de trabalho? (Quantas horas:parcial, total) 3-Quais as disciplinas que leciona nesta instituição? E no curso de ADM.? Leciona em outras instituições também? 4-Trabalha em outra empresa na área de administração? 5-Vc. trabalha na área de Negócios Empresariais, ou na área de Ambiente Social, ou 3º setor.(p.4 )especifique. 6-Como vc. vê seu espaço ocupacional; Vc. se enquadra como: gestor, analista, trabalho em equipe e/ou consultor. 7-Há quanto tempo atua como docente do ensino superior na administração de empresas? 8-Vc. vê algum diferencial no curso de ADM. Nesta instituição? Qual? 9-De que forma sua disciplina contribui para formar as competências desejadas (conhecimentos, habilidades, atitudes e valores) para um administrador no mundo contemporâneo 10-Vc. conhece o Projeto Pedagógico do curso? 11-Vc. tem reuniões periódicas para discussão do curso? 12-Participa ou participou de algum comitê de avaliação para melhoria do curso? 13-De que forma vc. acha que o curso em geral contribui para o desenvolvimento das competências necessárias para o administrador? Comente e avalie de zero a 5 14-Atividades Complementares. 15-TCC Existem linhas de pesquisa? Quais? Vc. é orientador de pesquisas de iniciação científica? 16-Estágio. Como é realizado? Na sua opinião como ele contribui para a inserção do aluno no mercado de trabalho. Está relacionado com o TCC?

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17-Vc. conhece a Empresa Junior – Puc Jr. Existe integração de sua disciplina com ela? Como? 18-Como vc. percebe a integração de sua disciplina ao projeto curricular do curso? 19-O que é Central de estudo de caso? Vc. se utiliza dessa Central, como? 20-Já ouviu falar da Cátedra de Gestão de Negócio?De que forma sua disciplina participaria desta? 21-Quais as vantagens e desvantagens de trabalhar com sua disciplina nesta instituição? 22-O que acha do curso de ADM. desta universidade? 23-Quais as exigências do Mercado de Trabalho para o administrador de empresa? Esta Universidade contribui para o aluno atingir essas exigências? Como? Aspectos profissionais 24-O que mais do Curso contribui para que seus alunos consigam se inserir no mercado de forma satisfatória? (Tcc, Estágio, Puc Jr,. Nome da Instituição..) 25-Quais são as dificuldades e/ou facilidades encontradas pelos alunos para sua inserção no mercado de trabalho, após a graduação? Aspectos acadêmicos 26-Participou ou está participando de algum curso de Especialização, Mestrado ou Doutorado? Se a resposta for sim, em qual Instituição? 27-Você publicou algum trabalho relacionado à sua área de formação nos dois últimos anos? Se a resposta for sim, informe Título, local e data de publicação: Aspectos individuais 28-Você recomenda (ou recomendou) o Curso a outras pessoas? Por quê?

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ANEXO B - ENTREVISTA COM PROFESSORES DA UNIVERSIDADE 2

Dados Pessoais

Nome: Data de Nascimento: E-mail: Telefones:

Endereço Residencial

Rua/Av.: Cidade: Estado: CEP:

FORMAÇÃO ACADÊMICA

Titulação: (especialista, mestre, doutor) Área da titulação:

Graduação:

Instituição: ano de conclusão:

Questões

1-É funcionário da instituição desde quando? 2-Qual seu regime de trabalho? ( Quantas horas:parcial, total) 3-Quais as disciplinas que leciona nesta instituição? E em outras? Desenvolve pesquisa? 4-Trabalha em outra empresa na área de administração? 5-Vc. trabalha na área de Negócios Empresariais, ou na área de Ambiente Social, ou 3º setor?.Especifique. 6- Como vc. vê seu espaço ocupacional; Vc. se enquadra como: gestor, analista, trabalho em equipe e/ou consultor. 7-Há quanto tempo atua como docente do ensino superior na administração de empresas? 8-Vc. vê algum diferencial no curso de ADM. Nesta instituição? Qual? 9-De que forma sua disciplina contribui para formar as competências desejadas (conhecimentos, habilidades, atitudes e valores) para um administrador no mundo contemporâneo. 10-Vc. conhece o Projeto Pedagógico do curso? 11-Vc. tem reuniões periódicas para discussão do curso? 12-Participa ou participou de algum comitê de avaliação para melhoria do curso? 13-De que forma vc. acha que o curso em geral contribui para o desenvolvimento das competências necessárias para o administrador? Sobre o curso de ADM., avalie de zero a 5 e comente 14-Atividades Complementares. 15-TCC Existem linhas de pesquisa? Quais? Vc. é orientador de pesquisas de iniciação científica? 16-Estágio. Como é realizado? Na sua opinião como ele contribui para a inserção do aluno no mercado de trabalho. Está realacionado com o TCC. 17-Vc. conhece a empresa Junior desta instituição? Existe integração de sua disciplina com ela? Como? 18-Como vc. percebe a integração de sua disciplina ao projeto curricular do curso?

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Aspectos profissionais 19-O que mais do Curso contribui para que seus alunos consigam se inserir no mercado de forma satisfatória? (Tcc, Estágio, Empresa Jr, Nome da Instituição...) 20-Quais são as dificuldades e/ou facilidades encontradas pelos alunos para sua inserção no mercado de trabalho após a graduação? Aspectos acadêmicos 21-Participou ou está participando de algum curso de Especialização, Mestrado ou Doutorado? Se a resposta for sim, em qual Instituição? 22-Você publicou algum trabalho relacionado à sua área de formação nos dois últimos anos? Se a resposta for sim, informe Título, local e data de publicação: Aspectos individuais 23-Você recomenda (ou recomendou) o Curso a outras pessoas? Por quê?

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ANEXO C - ENTREVISTA COM EGRESSOS DA PUC/SP

Dados Pessoais

Nome: Data de Nascimento: E-mail: Telefones:

Endereço Residencial: Rua/Av.: Cidade: Estado: CEP:

Formado no ano:___________

Questões

1-Por que vc. escolheu o curso de Administração de Empresas, quando ingressou no curso superior? Quais os motivos? 2-Quais os motivos que o levaram a escolher este curso e a PUC/SP, quando entrou no curso superior? 3-Vc. fez cursinho? Qual? Quantos anos? Prestou outros vestibulares? Quais? 4-Onde fez o Ensino Médio? Entrou logo em seguida na Universidade? 5-Como vc. se vê depois de formado no que se refere às suas características pessoais (conhecimentos, habilidades, atitudes e valores, ou seja como entrou e como saiu da Universidade)? 6-De que forma vc. acha que o curso de ADM da PUC contribuiu para o desenvolvimento dessas características ? 7-Que competência vc. adquiriu no curso dentro das áreas: técnicas, humana e funcional prescritas no projeto pedagógico de seu curso? Sobre seu curso, avalie de zero a 5 e comente 8-Atividades Complementares.Quantas horas? Onde foram feitas? Contribuiu para seu crescimento cultural, como? 9-TCC. Qual a linha de pesquisa que seguiu? Por quem foi orientado? Como foi a apresentação do trabalho? O que contribuiu para seu desempenho profissional? 10-Estágio. Foi relacionado com sua atividade prática? Estava relacionado com o TCC? Ajudou seu ingresso no mercado de trabalho?E o orientador colaborou para tirar suas dúvidas? E o relatório de estágios?Qual a importância do estágio? 11-Além do estágio curricular, vc. fez também ,estágio extra-curricular? 12-Sobre a Empresa Junior – Puc Jr.- Contribuiu para desenvolver suas competências? Ajudou na inserção do Mercado de trabalho?Ajudou no acompanhamento das aulas? 13-De que forma as discussões sobre diversidades étnico-raciais influenciam sua atuação profissional? 14-Como vc. percebia a integração curricular de seu curso? Houve? Como? 15-Participou da assessoria de relações institucionais e internacionais da PUC/SP? Já ouviu falar da Universidade de Compostela da Espanha? 16-Vc. utilizou durante o curso a orientação psico-pedagógica do Puc? Como funciona? 17-O que é Central de estudo de caso? Em que disciplina ela estava presente? 18-Já ouviu falar da Cátedra de Gestão de Negócio? 19-Cite um diferencial de seu curso que o ajudou na sua inserção no Mercado de trabalho. 21-Houve coerência entre a teoria e a prática ensinadas no curso que vc. fez de ADM?

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Aspectos profissionais 22-Quanto ao vínculo profissional: é autônomo, funcionário público, empregado na empresa, ou outros? Seu trabalho é relacionado à área do curso? 23-Vc. trabalha na área de Negócios Empresariais, ou na área de Ambiente Social, ou 3º setor.(p.4 )especifique. 24-Como vc. vê seu espaço ocupacional; Vc. se enquadra como: gestor, analista, trabalho em equipe e/ou consultor. Justifique. P.8 25-O que mais contribuiu do Curso de ADM. para que você conseguisse seu emprego atual? (Nome da faculdade, Tcc, Estágio, Puc Jr, Um prof. específico, etc, uma disciplina...) 26-Quais foram as dificuldades encontradas para sua inserção no mercado de trabalho, durante e após a graduação? 27-Há coerência entre a teoria e a prática ensinadas no curso que vc. fez de ADM? 28-Qual o perfil do profissional exigido no Mercado de trabalho atual? Sua Universidade contribuiu para vc. adquirir o perfil desejado? Como? Aspectos acadêmicos 29-Participou ou está participando de algum curso de Especialização, Mestrado ou Doutorado? Em qual Instituição? 30-Você publicou algum trabalho relacionado à sua área de formação nos dois últimos anos? Se a resposta for sim, informe Título, local e data de publicação: 31-Como o Curso contribuiu para o seu crescimento pessoal? Dê uma nota de 1 a 5 e justifique. 32-Você recomendaria (ou recomendou) o Curso a outras pessoas? Por quê?

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ANEXO D - ENTREVISTA COM EGRESOS DA UNIVERSIDADE 2

Dados Pessoais

Nome: Data de Nascimento: E-mail: Telefones:

Endereço Residencial: Rua/Av.: Cidade: Estado: CEP:

Formado no ano: _________

Questões

1-Por que vc. escolheu o curso de Administração de Empresas, quando ingressou na Universidade? Quais os motivos? 2-Quais os motivos que o levaram a escolher este curso e a Uniban, para fazer o curso superior? 3-VC.precisou fazer cursinho? Qual? Quantos anos? 4-Onde fez o Ensino Médio? Entrou logo em seguida na Universidade? 5-Como vc. se vê depois de formado no que se refere às suas características pessoais (conhecimentos, habilidades, atitudes e valores, ou seja como entrou e como saiu da Universidade)? 6-De que forma vc. acha que o Curso de ADM. da UNIBAN, contribuiu para o desenvolvimento dessas características ? 7-Que competências adquiriu no curso dentro das áreas: técnicas, humana e funcional? Sobre seu curso avalie de zero a 5 e comente 8-Atividades Complementares. Quantas horas? Onde foram feitas? Contribuiu para seu crescimento cultural, como? 9-TCC. Qual a linha de pesquisa que seguiu? Por quem foi orientado? Como foi a apresentação do trabalho? O que contribuiu para seu desempenho profissional? 10-Estágio. Foi relacionado com sua atividade prática? Estava relacionado com o TCC.? Ajudou seu ingresso no mercado de trabalho?E o orientador colaborou para tirar suas dúvidas? E o relatório de estágios?Qual a importância do estágio curricular? 11-Além do estágio curricular, vc. fez também, estágio extra-curricular? Qual a diferença entre eles? 12-Vc. participou da empresa Junior da Uniban?. Contribuiu para desenvolver suas competência. Ajudou na inserção do mercado de trabalho? Ajudou no acompanhamento das aulas? De que forma? Explique. 13-Existiram discussões sobre diversidades étnico-raciais no seu curso e até que ponto influenciam sua atuação profissional? 14-Como vc. percebia a integração curricular de seu curso? Houve? Como? 15-Houve coerência entre a teoria e a prática ensinadas no curso que vc. fez de ADM? 16-Cite um diferencial de seu curso que o ajudou na sua inserção no mercado de trabalho. 17-Qual o perfil do profissional exigido no mercado de trabalho atual? Aspectos profissionais

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18-Quanto ao vínculo profissional: é autônomo, funcionário público, empregado na empresa, ou outros? Seu trabalho é relacionado à área do curso? 19-Vc. trabalha na área de Negócios Empresariais, ou na área de Ambiente Social, ou 3º setor.(p.4 )especifique. 20-Como vc. vê seu espaço ocupacional; Vc. se enquadra como: gestor, analista, trabalho em equipe e/ou consultor. Justifique. P.8 21-O que mais contribuiu do Curso de ADM. para que você conseguisse seu emprego atual? (Nome da faculdade, Tcc, Estágio, Puc Jr, Um prof. específico, etc, uma disciplina...) 22-Quais foram as dificuldades encontradas para sua inserção no mercado de trabalho, durante e após a graduação? 23-Há coerência entre a teoria e a prática ensinadas no curso que vc. fez de ADM? 24-Qual o perfil do profissional exigido no Mercado de trabalho atual? Sua Universidade contribuiu para vc. adquirir o perfil desejado? Como? Aspectos acadêmicos 25-Participou ou está participando de algum curso de Especialização, Mestrado ou Doutorado? Se a resposta for sim, em qual Instituição? 26-Você publicou algum trabalho relacionado à sua área de formação nos dois últimos anos? Se a resposta for sim, informe Título, local e data de publicação: Aspectos individuais 27-Como o Curso contribuiu para o seu crescimento pessoal? Dê uma nota de 1 a 5 e justifique. 28-Você recomendaria (ou recomendou) o Curso a outras pessoas? Por quê?

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ANEXO E - ENTREVISTA COM GERENTES DE RH

Identificação da Empresa

Nome da Empresa

Endereço: Rua Bairro CEP. TEL:

Atividade Principal da Empresa:

È empresa nacional, ou multinacional?

Informações Pessoais do Gerente de RH

Nome:

Endereço Tel:

e-mail:

Formação Acadêmica

Fez faculdade de:

Nome da Faculdade em que se formou:

Fez ou faz algum curso de especialização, mestrado, ou doutorado? Qual, onde?

Questões

1-Há quanto tempo trabalha nesta instituição como chefe de RH? 2-Quais as principais atividades de um chefe de RH? 3-Quando precisam de funcionários, qual é o procedimento( fazem anúncios, indicações, agências de emprego, internet.., etc....). 4-Como se dá a inserção do profissional na sua empresa? 5-Quais as exigências para admitir funcionários de Administração de Empresas? 6-Qual o critério de seleção usados na sua empresa, para admitir funcionários administrativos? 7-Como é feito o processo seletivo na sua empresa? 9-Qual o perfil do profissional exigido pelo mercado de trabalho de hoje? 10-Qual o perfil que sua empresa exige, e qual faculdade oferece profissionais com esse perfil? 11-Na sua empresa é levado em consideração o nome da faculdade em que o profissional a ser admitido se formou? 12-Vc. vê diferenças nos profissionais da PUC e USP, ou outras consideradas Top de linha? 13-Vcs. Exigem experiência profissional do candidato? 14-Enumere qualidades e defeitos mais comuns que os candidatos apresentam quando chegam para serem selecionados. 15-Qual a faixa salarial paga para Administradores de Empresa nesta instituição? 16-Tem algo mais que gostaria de completar que não foi perguntado?