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O presente estudo sobre os fonemas em que estrangeiros mais teriam dificuldades enquanto aprendem o português conta com pesquisas sobre estrangeiros, aquisição de segunda língua e português brasileiro. Estas pesquisas ajudam a compreender a análise feita posteriormente com o filipino Marco Allam que, com a leitura de um trecho de uma obra em português, nos mostra as barreiras encontradas até a compreensão do idioma. O estudo sobre as diferentes leituras de fonemas e a relação que o estrangeiro faz para encontrar a melhor forma da pronúncia, mostram que ainda há muito a ser estudado quanto ao ensino de português brasileiro para estrangeiros.Palavras-chave: Língua, Estrangeiro, Segunda língua x Língua estrangeira, Português brasileiro, habilidades.
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UNIVERSIDADE DE SOROCABA PRÓ-REITORIA ACADÊMICA
CURSO DE LETRAS: HABILITAÇÃO EM PORTUGUÊS E INGLÊS
Fernanda de Campos Pedroso
O ENSINO DE PORTUGUÊS PARA ESTRANGEIROS QUE POSSUEM
O INGLÊS COMO LÍNGUA MATERNA OU COMO LÍNGUA
ESTRANGEIRA
Sorocaba/SP
2012
Fernanda de Campos Pedroso
O ENSINO DE PORTUGUÊS PARA ESTRANGEIROS QUE POSSUEM
O INGLÊS COMO LÍNGUA MATERNA OU COMO LÍNGUA
ESTRANGEIRA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
como exigência para obtenção do Diploma de
Graduação em Letras: Habilitação em
Português e Inglês, da Universidade de
Sorocaba.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes
Sorocaba/SP
2012
Fernanda de Campos Pedroso
O ENSINO DE PORTUGUÊS PARA ESTRANGEIROS QUE POSSUEM
O INGLÊS COMO LÍNGUA MATERNA OU COMO LÍNGUA
ESTRANGEIRA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
como exigência para obtenção do Diploma de
Graduação em Letras: Habilitação em
Português e Inglês, da Universidade de
Sorocaba.
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA:
Ass. _________________________________
Pres.: ________________________________
Ass. _________________________________
1.º examinador _________________________
Ass. _________________________________
2.º examinador _________________________
Dedico este trabalho aos meus pais Celso e
Elizabete e minha irmã Patrícia que me
ajudaram muito com exemplo, sabedoria e
incentivo. Ao meu noivo Rafael pela
dedicação e compreensão. Ao meu orientador
Luiz Fernando Gomes que sempre me
incentivou a buscar perguntas e não somente
as respostas.
AGRADECIMENTO
Agradeço primeiramente a Deus, pela força e paz nos momentos de maior dificuldade,
de maior tensão e insegurança.
Agradeço também aos meus pais Celso e Elizabete pelo carinho e amor sempre a mim
dados. Pelos conselhos, motivação e por todos os ensinamentos e valores ensinados.
Agradeço minha querida irmã Patrícia, que há alguns anos passou pela mesma
experiência e me ajudou com motivação e conhecimento sobre seu trabalho de conclusão e a
Minha tia Janete que é estudante de Letras na USP e compartilhou um pouco de seu
conhecimento para que este trabalho fosse finalizado.
Ao orientador, motivador e exemplo Luiz Fernando Gomes, que mesmo nos
momentos em que nem eu mesma acreditava em mim, continuava incentivando e dando paz
quanto à elaboração de temas e pesquisa.
Aos meus amigos de classe, todos que sempre estiveram ao meu lado, me apoiando em
todos os momentos. Em especial Francine e Ronie juntos desde o primeiro semestre. Ao João
Paulo, Carolina e Paula que também me ajudaram muito com as pesquisas e sempre estiveram
prontos a me escutar.
Ao meu noivo Rafael, pela força e por aguentar meu nervosismo diariamente, pelo
incentivo, paciência e ajuda nas escolhas.
The limit of my language means the limits of my world.
Ludwig Wittgenstein
RESUMO
O presente estudo sobre os fonemas em que estrangeiros mais teriam dificuldades enquanto
aprendem o português conta com pesquisas sobre estrangeiros, aquisição de segunda língua e
português brasileiro. Estas pesquisas ajudam a compreender a análise feita posteriormente
com o filipino Marco Allam que, com a leitura de um trecho de uma obra em português, nos
mostra as barreiras encontradas até a compreensão do idioma. O estudo sobre as diferentes
leituras de fonemas e a relação que o estrangeiro faz para encontrar a melhor forma da
pronúncia, mostram que ainda há muito a ser estudado quanto ao ensino de português
brasileiro para estrangeiros.
Palavras-chave: Língua, Estrangeiro, Segunda língua x Língua estrangeira, Português
brasileiro, habilidades.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9
1. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 10
1.1. O que é língua .................................................................................................................. 10
1.2. O que é estrangeiro .......................................................................................................... 11
1.3. Aprendizagem de segunda língua .................................................................................. 12
1.4. Habilidades ....................................................................................................................... 13
1.5. Português brasileiro ........................................................................................................ 14
2. METODOLOGIA DE PESQUISA ................................................................................... 16
3. ANÁLISE DE FONEMAS ................................................................................................. 17
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 21
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 22
9
INTRODUÇÃO
Há mais de cinco séculos o português é ensinado como língua estrangeira, desde a
época em que os jesuítas ensinaram o idioma para os índios quando chegaram ao Brasil.
Por algum tempo, o português deixou de ter grande importância internacional como
língua estrangeira, porém com o Brasil em alta no mercado econômico e com tantas indústrias
internacionais abrindo filiais no país, o idioma tem sido fortemente procurado por
estrangeiros, em especial aqueles que já possuem a língua inglesa como língua materna ou
como língua estrangeira.
O estudo do português para estrangeiros começou a ser mais pesquisado há cerca de
dez anos quando um alto número de executivos e intercambistas passou a escolher o Brasil
como destino.
Para nós, brasileiros, falar o português e compreender os sons da língua é comum
desde o momento em que nascemos, pois estamos adaptados a eles. Mas para quem não
conhece o idioma, sons como “ão”, “ch”, “nh” são quase irreconhecíveis em um primeiro
momento. Por este motivo, este estudo identifica algumas dificuldades encontradas por
falantes do inglês em pronunciar determinados fonemas. Quais são os principais fonemas
onde os estrangeiros encontram dificuldades?
10
1. REFERENCIAL TEÓRICO
Este estudo analisou alguns pesquisadores que já realizaram trabalhos em cima do
assunto proposto como Regina Célia Pagliuchi da Silveira e Norimar Júdice, que estudaram
novos caminhos para o Português ensinado para Estrangeiros.
O presente capítulo nos mostra de forma mais detalhada ideias de diferentes autores
acerca do que é Língua, Português brasileiro como língua estrangeira e o que é a
aprendizagem de uma segunda língua. Da mesma maneira, nos permite uma visão mais
abrangente sobre o que são habilidades e o que é estrangeiro segundo estes autores.
1.1. O que é língua
Schutz (2010) diz que línguas são sistemas de comunicação fundamentalmente orais e
complementarmente gráficos compostos de símbolos com significados convencionalizados e
que ocorrem dentro de uma determinada comunidade ou cultura, estando a ela ligada. Está ao
alcance de qualquer ser humano e é assimilada intuitivamente por todos, de forma semelhante
e em constante evolução aleatória e incontrolável.
Schutz (2010) ainda fala quanto à essência, línguas são fenômenos inerentes ao ser
humano e semelhantes a ele próprio, são sistemáticas, porém criativas, são dinâmicas,
complexas, arbitrárias e parcialmente irregulares. Quanto à sua origem, para Schutz línguas
são habilidades criadas por sociedades humanas, fruto da interação de seus membros e quanto
à função, línguas podem ser definidas como sistemas de representação cognitiva do universo
através dos quais as pessoas constroem suas relações. É um reflexo criativo influenciado pela
cultura de seus falantes. Schutz cita também que Língua é o principal instrumento de
desenvolvimento cognitivo do ser humano. Segundo o autor, há uma relação muito grande
entre linguagem e pensamento, pois um fornece informações para o outro.
Em outras dimensões, Houaiss (1991) destaca que os seres humanos são capazes de
emitir sons e ruídos bucais com uma grande produção e articulação. Entretanto, em todas as
línguas consideradas, existe uma extrema restrição quantitativa de sons e ruídos em cada uma
das línguas.
Houaiss (1991) afirma também que o número reduzido de sons e ruídos de cada
língua, pode tornar possível um número alto de combinações, as sílabas (um ou mais sons
11
emitidos em apenas um sopro). Para comprovar isso, basta observar somente duas letras, A e
B, por exemplo, por meio delas já podemos montar pelo menos quatro sílabas.
Sobre Língua, Schutz (2010) ainda fala sobre a fluência que dizem existir em línguas.
“Fluência oral é o aspecto mais importante da habilidade linguística. Refere-se à
continuidade de produção oral e intelectual da pessoa e reflete sua capacidade funcional
quando interage em ambientes da língua em questão.” (SCHUTZ, 2010).
Para Schutz (2010), a fluência é você conseguir transmitir rapidamente o pensamento
para a língua. E que mesmo dependendo de habilidades específicas, não pode ser medida e
que qualquer método de avaliação pode ser relativo.
“A fluência é difícil de ser medida e qualquer método de avaliação será
inevitavelmente subjetivo em grande parte.” (SCHUTZ, 2010).
Como vimos, Língua é então um sistemas de comunicação disponível a todos e que é
adquirida intuitivamente e que você possuir fluência em um idiomas significa relacionar
rapidamente o pensamento com a fala.
1.2. O que é estrangeiro
Se procurarmos no dicionário, Estrangeiro significa aquele ou aquilo que é natural de
outro país. Que não faz parte de uma família ou de um grupo. Ser estrangeiro em seu país,
desconhecer suas leis, seus costumes, seus hábitos.
Desta forma, para Simmel (2005), se o mover for o contraste conceptual do fixar-se,
com a liberdade em relação a cada ponto dado do espaço, então, a forma sociológica do
estrangeiro representa até certo ponto, a unidade de ambas as disposições. Para o autor, é
revelado também que as relações concernentes ao espaço são, por um lado, apenas, a condição
e, por outro, o símbolo das relações entre os seres humanos.
Neste trabalho e nos pensamento de Simmel, não se usa somente a noção de
estrangeiro no sentido habitual, em relação àquele que vem hoje e amanhã se vai, mas como o
que vem hoje e amanhã pode permanecer (e assim fazer uso do idioma).
Segundo Simmel (2005, p. 265),
a unidade de proximidade e de distância que contém cada relação entre os seres
humanos, então, pode ser de maneira resumida a distância nas relações, significa que
o próximo está remoto, e o ser estrangeiro ou o estranho, contudo, seria aquele que
se encontra mais perto do distante.
12
Simmel (2005) diz que o estrangeiro é um elemento do qual a posição imanente e de
membro compreendem, ao mesmo tempo, um exterior e um contrário. A noção do estranho,
agora, como momentos do rechaço e da dissociação, forma aqui, agora, uma relação de um
com o outro, e a unidade desta interação pode ser sugerida pela regulações societárias, não
obstante e de maneira nenhuma com um significado único.
O estrangeiro por sua natureza não é proprietário do solo, explica Simmel, e o solo não
é somente compreendido no sentido físico, neste caso, mas, também, como uma substância
delongada da vida, que não se fixa em um espaço específico, ou em um lugar ideal do
perímetro social.
Finalizando o raciocínio, o estrangeiro não é somente aquele que vem de algum outro
país, mas sim aquele que está fora de seu local de costume, fora de lugares onde está adaptado
aos costumes, leis e também ao idioma.
1.3. Aprendizagem de segunda língua
Segundo Heberle (1997), existem sequências previsíveis à aquisição de estruturas em
uma segunda língua, de tal forma que certas estruturas são adquiridas antes de outras. Em
geral acreditasse que há uma sequência natural para a aquisição de uma segunda língua,
semelhante à da aquisição da língua materna. Para passar por esses estágios da aquisição, o
aprendiz deve ser exposto à Língua estrangeira e praticar as estruturas. Como o explicado por
Heberle, o professor de uma língua estrangeira deve saber quais são as estruturas mais
complexas e que exigem maior capacidade de raciocínio dos alunos, devendo ser ensinadas e
praticadas em um estágio posterior do ensino.
Heberle (1997) explica que o aprendiz cria uma interlíngua sistemática,
frequentemente caracterizada pelos mesmos erros de crianças falantes nativas da mesma
língua, e também caracterizada pelo fenômeno denominado transferência, ou seja, erros
baseados em estruturas e regras da língua materna do aprendiz.
Heberle (1997) diz ainda que no início da aprendizagem especialmente, os professores
devem ter o cuidado de não exigir tarefas de produção da Língua estrangeira sem antes ter
introduzido o tema proposto, pois a liberdade de produção de textos sem a exposição correta
de normas pode causar erros de transferência (língua materna para estrangeira) e, caso esses
erros sejam internalizados pelo aprendiz, a correção exigirá maior esforço e conscientização.
Porém o autor também nos conscientiza que conforme uma Língua estrangeira é exposta e a
liberdade é dada aos alunos, é comum que o fenômeno de erros na transferência aconteça.
13
Podemos observar também a necessidade da importância da visão geral de mundo do
aluno que está aprendendo um idioma estrangeiro, é preciso entender o possível contexto e
não somente pedir para que os alunos criem frases que provavelmente não serão usadas por
eles. Utilizo o exemplo dado por Heberle (1997):
Exercícios repetitivos de regras gramaticais, elaborados sem um possível contexto,
somente para os alunos praticarem as formas interrogativa ou negativa de verbos,
por exemplo, não parecem estimular o desenvolvimento de estratégias cognitivas e
habilidades sociais.
1.4. Habilidades
No dicionário encontramos sinônimos para Habilidades como capacidade, destreza e
agilidade. Na linguística, habilidades são as necessárias para se aprender um idioma. São elas:
audição, fala, escrita e leitura. No inglês: listening, speaking, writing e reading.
Neste trabalho, falarei mais sobre a habilidade da fala. E das dificuldades que um
sujeito tem na hora de reproduzir os sons da língua em questão.
Seguindo esta linha, para Nunan (1999) o processo de compreensão oral (entender)
assim como a leitura, demanda a participação ativa do ouvinte no processo de (re)criar o
sentido do que ouve em suas interações sociais do dia-a-dia na família, na escola, no trabalho,
nas atividades de lazer, envolvendo também os propósitos específicos e os fatores sociais que
englobam a relação ouvinte-falante. Isso significa que compreender envolve a percepção da
relação interacional entre quem fala, o quê, para quem, por quem, quando e onde. No
processo de (re)criar significados, mobiliza os três tipos de conhecimento: o de mundo, o
léxico-sistêmico (incluindo o fonético-fonológico) e o textual.
Portanto, para Nunan, o ouvinte e o falante competentes vão e voltam, num
movimento cíclico em seus atos, sobrepondo, às vezes, um sobre o outro, nas suas interações
sociais por meio da língua estrangeira. Desta forma para ser um bom falante e para o bom
desenvolvimento desta habilidade, são necessários alguns cuidados, já que as habilidades
estão interligadas, como ouvir com o propósito de selecionar uma informação específica,
ouvir para identificar o gênero textual e o(s) falante(s) envolvido(s) e o contexto da interação,
entender a ideia principal do texto e inferir sentido, tomar notas do que foi ouvido e captar as
marcas do discurso oral e finalmente ouvir para distinguir sons (contrastes).
Além das habilidades, ainda existem quatro componentes de competência
comunicativa: o textual, o sociolinguístico, o gramatical e o estratégico, articulando usos
comunicativos adequados, estruturas gramaticais, lexicais e de pronúncia apropriadas, em
função de determinadas condições de produção e determinados contextos em que ocorre a
14
interlocução. Juntos, falante e ouvinte, participam ativamente do processo de produção do
texto falado, colaborando um com o outro, negociando e argumentando, sinalizando suas
intenções comunicativas e fazendo os ajustes necessários no decorrer da interação oral.
Nunan ainda incorpora ao desenvolvimento da capacidade de falar (e ouvir) a língua
estrangeira o relacionamento com a estrutura sonora da língua que está sendo falada (que é
diferente da estrutura da língua materna). O aluno deve aprender a reconhecer e a utilizar os
traços segmentais (diferenças entre fonemas) e os supra-segmentais (entonação, ritmo,
variações da tonicidade), de modo a construir sentido com base nessas marcas sonoras.
As atividades recorrentes em livros didáticos para o desenvolvimento da fala, como,
por exemplo, ouvir um diálogo e praticá-lo com um colega, estudar um mapa e
descrever o itinerário de um ponto especificado a outro, inventar perguntas sobre
uma ilustração e depois respondê-las, não preparam o aluno para construir sentido,
em colaboração com seu interlocutor, visando a um determinado propósito
comunicativo. As atividades para o desenvolvimento da fala têm de garantir a
preparação do aluno para lidar com as situações que vai enfrentar ao fazer uso da
língua estrangeira em interações de comunicação autêntica. (NUNAN, 1999, p.
219).
Para Nunan (1999), elas devem combinar propósitos comunicativos significativos,
estruturas gramaticais e formas lexicais apropriadas à modalidade oral, pronúncia inteligível e
regras de uso adequadas às situações nas quais ocorre a interação em língua estrangeira.
1.5. Português brasileiro
Finalmente, para que o idioma seja ensinado, é preciso, primeiro, entender o que ele é
e o que ele representa.
Segundo Couto (1986) uma língua só existe se houver uma comunidade que a use e
um grupo de pessoas só será comunidade se tiver uma linguagem comum que possibilite a
orientação do comportamento em grupo. Esta linguagem não precisa ser a verbal (língua),
mas a língua é o tipo de linguagem mais comum e importante entre os seres humanos.
“A língua do povo brasileiro é a língua usada pelo povo brasileiro. Apesar de óbvio,
esse fato é sistematicamente esquecido ou não é levado em conta pelos planejadores e
executores s do Ensino de Português no Brasil.” (COUTO, 1986, p. 12).
Desta forma, Couto continua dizendo que cada segmento, aspecto ou subcomunidade
de uma comunidade tem sua peculiaridade linguística e sua sublinguagem. Para ele, não se
pode ignorar as diferenciações especiais, temporais e sociais que toda língua de sociedades
complexas apresenta.
15
Relacionando a língua portuguesa como um idioma estrangeiro, Biderman (1998),
destaca o vocabulário que muitas vezes é esquecido pelos linguistas.
A informação veiculada pela mensagem faz-se sobretudo por meio do léxico, das
palavras lexicais que integram os enunciados. Por outro lado, sabemos que a
referência à realidade extralinguística nos discursos humanos faz-se através dos
signos linguísticos (...) (BIDERMAN, 1998, p. 73).
Biderman também destaca outro problema relacionado ao léxico que é o do
aprendizado tanto do vocabulário da primeira língua como o da segunda.
Para o português como segunda língua foi delimitado um vocabulário mínimo
indispensável à comunicação, foi criado, assim, para atender às exigências de comunicação
rápida, visando à praticidade. Foi adotada uma metodologia para a escolha e análise dos dados
do Português Fundamental baseada em pesquisas anteriores sobre outros idiomas. Utilizou-se
modelo de estatística léxica utilizando bancos de frequência e disponibilidade.
16
2. METODOLOGIA DE PESQUISA
Neste capítulo explicarei a metodologia de meu trabalho, e o modo em que escolhi
fazer a coleta de dados e os instrumentos.
Primeiramente foi necessário encontrar a questão de pesquisa, o porquê em estudar o
ensino de Português para estrangeiros.
Após a leitura de matérias sobre atualidades, mercado turístico brasileiro e
crescimento econômico do país, foi necessário restringir a pesquisa. Optei por falar das
dificuldades de um falante da língua inglesa em aprender português, os sons mais difíceis de
pronunciar.
Para a verificação dos fonemas, li livros sobre transcrição fonética e com temas sobre
o português brasileiro.
Assim, pedi para que o Sr. Marco Allam, de nacionalidade filipina, falante de tagalog
(sua língua materna), inglês (desde criança) e espanhol básico, lesse um trecho do livro de
Machado de Assis “Dom Casmurro”. Neste trecho aparecem diversos fonemas e dígrafos
encontrados em nosso idioma materno.
Fiz a análise e a transcrição fonética para comprovar quais fonemas realmente criam
mais dificuldade para um novo falante.
17
3. ANÁLISE DE FONEMAS
Neste capítulo apresentarei minha análise sobre os fonemas analisados.
Silva (2002) nos explica que fonética é a ciência que apresenta os métodos para a
descrição, classificação e transcrição dos sons da fala, principalmente aqueles sons utilizados
na linguagem humana. Desta forma, com a transcrição fonética de um trecho de Dom
Casmurro de Machado de Assis, lido pelo filipino Marco Allam, pude analisar e comprovar os
fonemas do português brasileiro que mais causam dificuldade para falantes do Inglês.
O trecho proposto é o seguinte:
Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do
marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam
também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si
mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio
dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente
fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas...
(Dom Casmurro – Machado de Assis)
Após análise do texto, separei algumas palavras que causaram dúvidas quanto à
pronúncia. Desta forma, o trecho ficou da seguinte maneira:
“Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do
marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também,
as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a
outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns
instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem
algumas lágrimas poucas e caladas...”
As palavras destacadas em negritos, são aquelas em que a pronúncia de Marco Allam
foi diferente da que usamos no Português brasileiro.
Para uma melhor visualização, vejamos estas palavras organizadas em tabela:
Palavra Português brasileiro
Chegou [ʃe’gou]
Hora [‘ɔra]
Encomendação [e kome da’sãu]
Partida [par’tida]
Sancha [‘sãʃa]
Choravam [ʃo’ravã]
18
Só [‘sɔ]
Amparando [ãpa’rãdo]
Arrancá-la [aRã’ka-la]
Confusão [kõfu’zãu]
Geral [[ʒe’raw]
Alguns [aw’gũs]
Cadáver [ka’daver]
Tão [‘tãu]
Não [‘nãu]
Saltassem [saw’tase ]
Algumas [aw’gumas]
Porém, de acordo com a leitura feita por Marco, a transcrição seria feita da seguintes
forma:
Palavra Leitura de
estrangeiro
Chegou [tie’gou]
Hora [‘ora]
Encomendação [e kome dasi’ɔw]
Partida [par’tida] (r vibrante
simples)
Sancha [‘sãtia]
Choravam [tio’ravã]
Só [‘so]
Amparando [ãpa’rado]
Arrancá-la [arã’ka-la] (r vibrante
simples)
Confusão [kõfu’zau]
Geral [[ʒe’rał] (l lateral
alveolar)
Alguns [ał’gũs] (l lateral
alveolar)
Cadáver [ka’daver] (r vibrante
simples)
Tão [‘tau] (a aberto)
Não [‘nau] (a aberto)
Saltassem [sał’tase ] (l lateral
alveolar)
19
Algumas [ał’gumas] (l lateral
alveolar)
De acordo com o que foi visto, podemos perceber, com relação à pronúncia de Marco
Allam, que:
As palavras chegou, choravam e Sancha causaram dificuldades devido ao dígrafo
CH [ʃ], pois este, no português brasileiro, é fricativo, ou seja, os articuladores se aproximam,
produzindo fricção e obstrução parcial quando ocorre a passagem do ar. Porém para o
estrangeiro, a pronúncia é africada, portanto, os articuladores produzem uma obstrução
completa do ar. A pronúncia feita pelo estrangeiro remete ao som do fonema encontrado no
inglês, como na palavra cheese.
Em Hora e Só, o som comum é o da vogal Ó [ɔ], ou seja, é uma vogal aberta. Já na
leitura do filipino, o som sai fechado. Uma das razões se dá ao fato de que o português foi
confundido com o espanhol, já que esta segunda língua não prevê vogais abertas. O mesmo
ocorre com a palavra Amparando, na qual [ã] é lido como [a].
O ÂO é um ditongo decrescente nasal do português brasileiro. Porém, para não
falantes, ele também é confundido entre nossa língua o espanhol, Na pronúncia da palavra
Encomendação, na qual [‘sãu] é pronunciado como [si’ôw]. O mesmo acontece nas palavras
Confusão, Tão e Não, porém, diferentemente do exemplo anterior, estas foram pronunciadas
com som aberto, como [‘sau].
No português brasileiro, podemos pronunciar o [r] de quatro formas: vibrante
simples, vibrante múltipla, retroflexo ou carioca. Na palavra Partida, em nossa região, a
pronunciaríamos como retroflexo, ou seja, o [r] caipira e a palavra Arrancá-la, possui um som
vibrante múltiplo [R]. Porém, os falantes não nativos possuem certa dificuldade em
reconhecer essas diferenças de sons. Dessa forma, as duas palavras são pronunciadas com [r]
vibrante simples, da mesma forma em que nós nativos falaríamos barata, carona, entre outras.
Entretanto, o som do [r] é visto de maneira diferente quando este está no final da palavra.
Exemplo visto na palavra Cadáver, onde é dito como retroflexo ou caipira, da mesma forma
em que nós nativos utilizamos. Talvez este fenômeno ocorra devido a comparação com a
língua inglesa em palavras como mirror, water, entre outras.
O fonema [l] também possui diferentes formas de ser pronunciado no português
brasileiro. Em nossa região, utilizamos a pronúncia como [l] lateral alveolar vozeada. Esta
forma é utilizada especialmente no início de palavra como lata [‘lata] e no final de palavras
como sal, transcritas como [‘saw]. Porém, nas palavras Geral, Alguns, Saltassem e Algumas,
20
o estrangeiro pronuncia como lateral alveolar vozeada velarizada, da mesma forma como leria
palavras em inglês como ill e meal.
21
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As dificuldades que um novo falante do português brasileiro encontrará com relação
aos fonemas depende muito de sua nacionalidade e de seus conhecimentos.
O Português brasileiro é uma língua independente, com suas regras, normas, sons, tem
seu estilo próprio. Porém, ainda hoje para que um estrangeiro consiga se comunicar e
compreender o idiomas, ainda é necessário o apoio em ouras línguas. Ou nos idiomas que ele
já conheça com fluência (caso do inglês), ou idiomas que talvez ele já tenha ouvido mais
palavras (caso do espanhol).
O estrangeiro Marco Allam que foi auxiliar nesta pesquisa era falante de inglês e tinha
um conhecimento do espanhol que, mesmo sendo limitado, o ajudou a reconhecer algumas
palavras e pronunciá-las como já havia ouvido ou visto anteriormente.
Diversos sons analisados foram comparados com outras línguas como o CH, o R
retroflexo e o L lateral alveolar comparados ao inglês e o ÂO comparado ao espanhol.
No aspecto de dificuldades encontradas, a pronúncia de vogais abertas e fechadas foi
um ponto a ser observado. Segundo o próprio Marco, ele tinha conhecimento sobre a
acentuação da língua portuguesa, mas nem todas as palavras possuem acentuação gráfica que
termine se o som será aberto ou fechado.
Se levarmos em consideração apenas o estudo com o filipino Marco Allam, podemos
concluir que mesmo sendo um idiomas próprio, o português brasileiro ainda leva muito
consigo característica de outros idiomas e que essas comparações podem ajudar na
assimilação de um novo falante.
22
REFERÊNCIAS
BIDERMAN, Maria Tereza Camargo. O vocabulário fundamental no ensino de Português
como segunda língua. In: SILVEIRA, Regina Célia Pagliuchi (Org). Português Língua
Estrangeira: Perspectivas. São Paulo: Cortez, 1998.
COUTO, Hildo Honório do. O que é Português Brasileiro. 1 ª edição. São Paulo, 1986.
HOUAISS, Antonio. O que é língua. 2 ª edição. São Paulo: Brasiliense, 1991.
LOMBELLO, Leonor e ALMEIDA FILHO, José Carlos Paes de. Identidade e Caminhos no
Ensino de Português para Estrangeiros. 1ª edição. Campinas: Pontes, 1992.
REVISTA DE DIVULGAÇÃO CULTURAL. Aspectos de Teorias de Aquisição de uma
Segunda Língua e o Ensino de Línguas Estrangeiras. Professora Viviana Maria
Heberle/UFSC n 61 (janeiro abril de 1997) FURB Blumenau.
SCHUTZ, Ricardo. O que é Língua. Disponível em: <http://www.sk.com.br/sk-ling.html>.
Acesso em: 13 de jun. 2012.
SIMMEL, Georg. O Estrangeiro. Disponível em:
<http://www.cchla.ufpb.br/grem/SIMMEL.O%20estrangeiro.Trad.Koury.rbsedez05.pdf>.
Acesso em: 14 de jun. de 2012.
SILVA, Thais Cristófaro. Fonética e Fonologia do Português. 6ª edição. São Paulo:
Contexto, 2002.
SILVEIRA, Regina Célia Pagliuchi da. Português Língua Estrangeira: Perspectivas. 1ª
edição. São Paulo: Cortez, 1998.