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PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO ÁREA DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS Curso de Mestrado Profissionalizante em Ensino de Física e de Matemática DAVI CÉZAR DA SILVA O ENSINO DA GEOMETRIA PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL Santa Maria, RS 2013

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PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO

ÁREA DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS

Curso de Mestrado Profissionalizante em Ensino de Física e de Matemática

DAVI CÉZAR DA SILVA

O ENSINO DA GEOMETRIA PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA

VISUAL

Santa Maria, RS

2013

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DAVI CÉZAR DA SILVA

O ENSINO DA GEOMETRIA PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA

VISUAL

Dissertação, apresentada ao Curso de

Mestrado Profissionalizante em Ensino de

Física e de Matemática da UNIFRA, como

requisito parcial para obtenção do grau de

mestre em Ensino de Matemática.

Orientador: JOSÉ CARLOS PINTO LEIVAS

Santa Maria, RS

2013

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Dedico esse trabalho à minha filha Daiana,

por ser a principal motivação na busca dos

meus sonhos.

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AGRADECIMENTOS

É com grande orgulho que ao final de mais uma etapa de minha vida, quero agradecer

a algumas pessoas que foram de extrema importância antes, durante e, com certeza, serão

importantes também após a conclusão desse trabalho.

Agradeço a Deus por me amparar e me ajudar a superar todos os obstáculos que a vida

sempre nos apresenta.

Agradeço em especial a minha esposa Eliana por nunca medir esforços para que eu

conseguisse realizar este sonho, sendo sempre leal, companheira, amiga e entender todas as

minhas ausências durante essa pesquisa e também por me auxiliar nas construções e tomadas

de decisões relacionadas a este trabalho.

Agradeço a minha filha Daiana por também entender minha ausência e respeitar

sempre que o pai esteve estudando e não pôde lhe dar a devida atenção.

Agradeço a meus pais Cézar e Ester por sempre acreditarem nos meus sonhos e os

tornarem possíveis por meio do seu amor e esforço.

Agradeço ao meu irmão Matheus por me considerar um espelho na sua vida e fazer

com que assim eu busque a cada dia ser também para ele, uma pessoa melhor.

Agradeço a todos os familiares que sempre torceram pelo melhor em minha

caminhada.

Agradeço aos meus colegas músicos por muitas vezes entenderem minha falta em

compromissos com a banda e nunca medir esforços em fazer o possível para que eu pudesse

realizar minhas atividades relacionadas ao mestrado.

Agradeço a todos os professores do mestrado por nos mostrarem novos horizontes e

auxiliarem em nossa caminhada.

Agradeço e muito ao meu orientador José Carlos Pinto Leivas por toda dedicação,

todo apoio, compreensão e ensinamentos, com certeza foi uma referência em minha vida

pessoal e profissional, muito obrigado.

Agradeço a diretora Gislaine da Escola Básica Estadual Érico Veríssimo e também aos

vice-diretores Adão e Mariléa, pelo apoio e compreensão durante essa caminhada.

Por fim agradeço a minha prima Gabriela (in memoriam) por mostrar que precisamos

ser verdadeiros guerreiros em nossas vidas e lutar até o fim, pois foi o que ela fez.

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RESUMO

A presente pesquisa teve como objetivo promover a educação inclusiva nas aulas de

matemática, investigar de que forma os materiais, que foram desenvolvidos e construídos pelo

pesquisador, auxiliaram um aluno com deficiência visual na formação de imagens mentais em

relação aos modelos de figuras planas e espaciais. Caracterizada como um estudo de caso, a

pesquisa tem caráter qualitativo e teve como participante um aluno com deficiência visual

distinguido como cegueira total. A partir de uma revisão de literatura, que envolveu diferentes

autores, buscamos organizar uma pesquisa que tratou além do histórico que envolve a

educação inclusiva, também das dificuldades enfrentadas por professores, alunos e escolas

que enfrentam essa realidade. Os materiais desenvolvidos foram todos construídos com

materiais de baixo custo e com adequações para alunos com deficiência visual. As atividades

foram elaboradas para trabalhar primeiramente modelos de figuras da geometria plana e

posteriormente relacionar, propriedades e conceitos, com modelos de figuras da geometria

espacial. Percebemos, durante a realização das atividades, além da motivação que um recurso

didático traz a um aluno com Necessidades Educativas Especiais, que os materiais

desenvolvidos pelo pesquisador foram de extrema importância e eficiência para que o aluno

pudesse perceber as conexões existentes entre as propriedades das figuras nas geometrias

plana e espacial. Por meio de relatos do aluno ficou evidente o preenchimento de algumas

lacunas que ainda existiam em seu conhecimento em relação a esses conteúdos como, por

exemplo, diferenças básicas entre pirâmides e prismas com bases triangulares, ou ainda, entre

quadrados e cubos.

Como produto da dissertação de mestrado profissional além do próprio material, foi

elaborada uma videoaula disponibilizada em DVD-ROM e no site do curso do Mestrado

Profissional em Ensino de Física e Matemática da UNIFRA.

Palavras-chave: Matemática. Geometria. Educação inclusiva. Ensino Fundamental e Médio.

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ABSTRACT

The present research aimed to promote inclusive education in math classes, investigate

how the materials, which were developed and built by the researcher, helped a student with a

visual impairment in mental imagery in relation to models of plane figures and spatial .

Characterized as a case study, the research has qualitative character and it had as participant, a

student with visual impairments distinguished as having blindness. From a literature review,

which involved different authors, we seek to organize a survey that addressed beyond the

history that involves inclusive education, present also the difficulties faced by teachers,

students and schools facing this reality. The materials developed were all built with

inexpensive materials and adaptations for students with visual impairment. The activities were

elaborated to work primarily models of plane geometry figures and later relate, properties and

concepts, with models of figures of spatial geometry. We noticed during the implementation

of activities, beyond the motivation that brings a teaching resource to a student with Special

Educational Needs, the materials developed by the researcher were of utmost importance and

effectiveness for the student to understand the connections between the properties of figures

in the plane and space geometries. Through reports the student was evident filling some gaps

that still exist in their knowledge in relation to such content, for example, basic differences

between pyramids and prisms with triangular bases, or between squares and cubes. As product

of the dissertation professional, beyond the material itself, was elaborated a videoaula

available on DVD-ROM and on the website of the Course of Master Professional in Teaching

Physics and Mathematics UNIFRA.

Keywords: Mathematics. Geometry. Inclusive Education. Elementary and Secondary

Education.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 11

2 JUSTIFICATIVAS ................................................................................................ 14

2.1 Importância do tema.............................................................................................. 14

2.2 A escolha do tema................................................................................................. 14

2.3 Contribuições ........................................................................................................ 15

3 REVISÃO DE LITERATURA.............................................................................. 16

3.1 A educação especial ............................................................................................. 16

3.2 A educação inclusiva ............................................................................................ 22

3.3 O ensino especial em Matemática......................................................................... 22

3.4 Integração e inclusão............................................................................................. 25

3.5 O ensino da Geometria para alunos deficientes visuais........................................ 26

3.6 Recursos didáticos.................................................................................................

3.7 Visualização..........................................................................................................

28

30

4 METODOLOGIA DA PESQUISA....................................................................... 31

4.1 Estudo de caso....................................................................................................... 33

4.2 Coleta de dados...................................................................................................... 34

4.2.1 Observação .......................................................................................................

4.2.2 Entrevista..........................................................................................................

4.2.3 Videogravação ..................................................................................................

4.3 Análise dos resultados ..........................................................................................

35

37

37

38

4.4 Problemas de pesquisa........................................................................................... 38

4.5 Questões de pesquisa............................................................................................. 38

4.6 Objetivo geral........................................................................................................ 39

4.7 Objetivos específicos............................................................................................. 39

4.8 Participantes da pesquisa....................................................................................... 39

5 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS.....................................................................

5.1 A oficina................................................................................................................

40

40

5.2 Caracterização dos materiais.................................................................................

5.3 Atividades..............................................................................................................

40

44

5.4 Explorando sólidos................................................................................................ 49

6 ANÁLISE DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS.......................................... 56

6.1 Aplicação do instrumento de pesquisa (encaixe de modelos geométricos em

EVA)......................................................................................................................... ...

56

6.2 Aplicação do instrumento de pesquisa (sólidos geométricos)............................... 57

6.3 Aplicação do instrumento de pesquisa (encaixe de peças quadradas e reflexão

de ângulos)................................................................................................................... 58

6.4 Aplicação do instrumento de pesquisa (encaixe de peças retangulares e reflexão

de ângulos).................................................................................................................... 60

6.5 Aplicação do instrumento de pesquisa (encaixe de peças triangulares

equiláteras e isósceles).................................................................................................. 62

6.6 Aplicação do instrumento de pesquisa (encaixe de peças triangulares escalenas) 63

6.7 Aplicação do instrumento de pesquisa (explorando sólidos)................................ 64

6.7.1 Cubo..................................................................................................................... 64

6.7.2 Paralelepípedo...................................................................................................... 66

6.7.3 Prisma de base triangular (triangulo equilátero).................................................. 67

6.7.4 Prisma de base triangular (triangulo isósceles)................................................... 69

6.7.5 Prisma de base triangular ( triangulo escaleno).................................................. 69

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 71

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 74

APÊNDICE................................................................................................................. 79

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: encaixe de modelos geométricos em EVA................................................. 41

Figura 2: encaixe de modelos geométricos em EVA................................................. 41

Figura 3: modelo de paralelepípedo com furo numa face.......................................... 42

Figura 4: modelo de prisma com base triangular e com furo numa face triangular... 42

Figura 5: modelo de cubo com furo numa face.......................................................... 42

Figura 6: plataforma de encaixe de sólidos geométricos........................................... 44

Figura 7: encaixe de peças quadradas........................................................................ 45

Figura 8: reflexão de ângulos em peças quadradas.................................................... 46

Figura 9: encaixe de peças retangulares..................................................................... 46

Figura 10: reflexão de ângulos em peças retangulares............................................... 47

Figura 11: encaixe de peças triangulares equiláteras................................................. 47

Figura 12: encaixe de peças triangulares isósceles.................................................... 48

Figura 13: encaixe de peças triangulares escalenas................................................... 49

Figura 14: construindo um cubo................................................................................ 50

Figura 15: cubo.......................................................................................................... 50

Figura 16: encaixe de cubo........................................................................................ 51

Figura 17: paralelepípedo........................................................................................... 51

Figura 18: encaixe de paralelepípedo......................................................................... 52

Figura 19: prisma de base triangular (triângulo equilátero)....................................... 52

Figura 20: encaixe de prisma com base triangular (triângulo equilátero).................. 53

Figura 21: prisma de base triangular (triângulo isósceles)......................................... 53

Figura 22: encaixe de prisma triangular (triângulo isósceles)................................... 54

Figura 23: prisma triangular escaleno........................................................................ 54

Figura 24: encaixe de prisma triangular (triângulo escaleno).................................... 55

Figura 25: atividade com material em EVA.............................................................. 57

Figura 26: atividade com sólidos geométricos........................................................... 58

Figura 27: atividade com o material encaixe de peças quadradas............................. 59

Figura 28: atividade com o material reflexão de ângulos.......................................... 60

Figura 29: atividade com o material encaixe de peças retangulares.......................... 61

Figura 30: atividade com o material reflexão de ângulos.......................................... 61

Figura 31: atividade com encaixe de peças triangulares isósceles............................. 62

Figura 32: atividade com o material encaixe de peças triangulares equiláteras........ 63

Figura 33: atividade com encaixe de peças triangulares escalenas............................ 64

Figura 34: atividade com o cubo................................................................................ 65

Figura 35: atividade com o paralelepípedo................................................................ 66

Figura 36: atividade com prisma de base triangular (triangulo equilátero) .............. 68

Figura 37: atividade prisma de base triangular (triângulo isósceles)......................... 69

Figura 38: atividade com prisma de base triangular (triângulo escaleno)................. 70

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1 INTRODUÇÃO

A educação especial juntamente com a educação inclusiva é um assunto que vem

gerando muitas dúvidas e discussões desde a declaração de Salamanca em 1994.

A declaração de Salamanca, que ocorreu de 7 a 10 de Junho de 1994, reuniu mais de

300 participantes que representaram 92 Países e 25 organizações internacionais com o

objetivo de promover a educação para todos. A conferência foi organizada pelo governo da

Espanha em cooperação com a UNESCO, e conseguiu reunir altos funcionários da educação,

administradores, responsáveis pela política e especialistas, assim como representantes das

Nações Unidas e das organizações especializadas.

A declaração de Salamanca veio introduzir uma mudança na educação dos alunos com

NEE, a qual passou a ser enquadrada pelos princípios da educação inclusiva. Este

enquadramento foi reforçado pela Constituição Federal da República Federativa do Brasil, de

acordo com um de seus artigos, que trata especificamente da educação. Esse determina que o

estado deva possibilitar a educação às pessoas com deficiência física por meio de um

“atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência preferencialmente na

rede regular de ensino” (artigo 208, Inciso III da Constituição Federal). Ressalta-se, ainda,

que o artigo 20 da lei federal n 7853, afirma “Ao poder público e seus órgãos cabe assegurar

às pessoas portadoras de deficiência, o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive o

direito a educação”. Assim, cabe às escolas desenvolver a capacidade de identificar as

barreiras que se colocam aos alunos com NEE, no acesso ao sucesso acadêmico e na inclusão

social.

Para Lima (2006) as propostas de inclusão de alunos com necessidades educativas

especiais na rede regular de ensino vêm estimulando reflexões, investigações e

questionamentos de muitos educadores. Ferreira e Ferreira (2007) afirmam que estamos em

um momento na educação em que as escolas mostram incapacidade em ensinar todos os seus

alunos e comentam ainda que alunos com necessidades especiais parecem estranhos para

algumas escolas pelo fato de não reconhecer um processo educativo relevante para eles. Com

relação ao mesmo assunto, para Zuffi, Jacomelli e Palombo (2011, p.02) “a inclusão escolar, é

hoje, um dos temas mais discutidos das políticas educacionais em todo o mundo, já que

incluir passou a ser a “nova missão” da escola”.

A escola, que tem por objetivo alcançar um caráter inclusivo, muitas vezes não tem a

organização necessária sugerida pela declaração e, com isso, acabam surgindo dúvidas quanto

aos seus aspectos. Paralelamente a essas discussões os professores de Matemática também

sentem as consequências, tanto em uma escola para alunos com necessidades especiais quanto

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em uma escola inclusiva e sempre surgem questionamentos sobre qual a melhor maneira de se

trabalhar os assuntos abordados em sala de aula. Sobre este assunto Zuffi, Jacomelli e

Palombo (2011) comentam que, quanto ao ensino da Matemática principalmente nas escolas

regulares, a realidade encontrada é a de professores pouco preparados para atender alunos

com Necessidades Educativas Especiais (NEE), tendo em vista que estes alunos antes

frequentavam classes de escolas especiais.

Para um aluno com deficiência visual, comparado a um aluno vidente, o assunto passa

a ser mais delicado, haja vista que o aluno precisa sentir de maneira palpável o que está sendo

trabalhado. Se um aluno que não possui nenhum tipo de deficiência sente dificuldade no

aprendizado da matéria, os deficientes visuais, além disso, acabam sofrendo também com o

despreparo tanto das escolas quantos dos profissionais da área de Matemática.

Sabe-se que para estudantes videntes existem diferentes metodologias de ensino de

matemática, por exemplo, jogos, modelagem matemática, projetos, material

concreto entre outros buscando significar o ensino da matemática. Já para alunos

com deficiência visual existe uma grande carência em termos de alternativas

metodológicas e principalmente práticas em sala de aula que sejam significativas ao

processo de ensinar e aprender matemática (MACHADO; CEOLIN; NEHRING,

2009, p.02).

Em relação ao ensino da Geometria, vivemos um momento em que esse ensino vem

passando por algumas dificuldades. Para Leivas (2012, p. 185),

o ensino da Geometria é comumente abordado em seminários, debates, palestras e

trabalhos acadêmicos e, sempre que o tema vem à tona, as dificuldades ou

deficiências nesse ensino são delegadas à falta de tempo ara cumprir os programas.

Na educação básica, os tópicos dessa área são postergados para o final do ano letivo, quando as limitações são diversas.

Corroborando ao que foi afirmado por Leivas (2012), Barbosa (2003) defende que

trabalhar Geometria nos últimos bimestres também é um motivo para o abandono do ensino

dessa matéria. No entanto, para Santos (2009), um dos problemas no ensino da Geometria está

na formação dos professores, motivo esse também defendido por Gazire (2000, p. 145).

A questão do ensino da matemática, nesse contexto, fica então reduzida a um

ensino basicamente prático, em que a ênfase é dada no “como fazer”, sendo que, na

maioria das vezes, o conteúdo a ser ministrado é determinado exclusivamente pelo

conteúdo que deve ser trabalhado nas séries iniciais.

A autora afirma ainda o que segue.

Como a Matemática está inserida no currículo, tanto na parte de Formação

Geral, como na parte de Formação Especial, podemos estabelecer o seguinte quadro:

de um lado, o professor de conteúdo, trabalhando com uma Matemática divorciada

da realidade do aluno, na forma de um produto pronto, acabado. Do outro, o professor de Didática da Matemática, apresentando um “como fazer” desvinculado

desse conteúdo trabalhado.

De acordo com Murari e Oriani (2011, p. 03):

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o estudo da geometria ajuda os alunos a representarem e darem significado ao

mundo, através das relações entre os modelos geométricos criados e/ou

manipulados, possibilitando a compreensão de representações abstratas. Disso,

conclui-se o quanto seu ensino é relevante para a compreensão da matemática.

Visando corroborar com o ensino da Geometria, principalmente por meio da utilização

de materiais manipulativos concretos, como recurso didático, é que neste trabalho faremos a

elaboração e a experimentação de materiais desenvolvidos pelo próprio mestrando para

trabalhar Geometria focando alunos com deficiência visual, mas que também atendam às

necessidades no aprendizado da Matemática dos alunos videntes, caracterizando assim um

material inclusivo.

Para isso, o segundo capítulo traz as justificativas organizadas nos subitens: a

importância do tema, a escolha do tema e as contribuições.

O terceiro capítulo traz a revisão de literatura apresentando um pouco da história da

educação especial no país além da apresentação das principais instituições que fazem parte

dessa história. Traz também um histórico sobre a educação inclusiva, além de expor a

importância dessa educação nos dias atuais na visão de diferentes autores. O terceiro capítulo

contém, também, a questão do ensino especial em Matemática apresentando as diferentes

maneiras em que esse ensino vem sendo feito, no qual diferenciamos integração de inclusão.

O ensino da Geometria para alunos com deficiência visual é apresentado para observarmos as

diferentes metodologias dos autores em relação a ele, dificuldades encontradas, sugestões,

soluções e ideias são algumas das questões que apresentamos nesse item. Apresentamos

ainda a importância do uso de recursos didáticos e diferentes concepções em relação à

visualização.

No capítulo quatro, indicamos a metodologia que será utilizada para a realização da

presente pesquisa. O quinto capítulo traz as atividades que foram desenvolvidas e o capítulo

seis apresenta as análises dessas atividades.

No capítulo sete apresentamos as considerações finais e encerramos a dissertação com

as referências bibliográficas e com o produto final da dissertação.

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2 JUSTIFICATIVAS

No que segue apresentamos a importância do tema escolhido, a escolha desse e

contribuições que esperávamos alcançar com o projeto de pesquisa.

2.1 Importância do tema

A partir da reunião de Salamanca em 1994, por meio da Conferência Mundial sobre

Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade, foi criada a declaração de

Salamanca e nessa resolução das Nações Unidas foram abordados assuntos como princípios,

políticas e práticas em educação especial. Com isso, no Brasil, se passou a objetivar a

educação inclusiva nas escolas regulares de ensino.

No entanto, para que isso seja possível, é necessário que ocorra uma série de

mudanças nas escolas desde sua organização, incluindo os espaços físicos e suportes didáticos

aos alunos, até a preparação dos professores para atender às diferenças dos alunos com

necessidades especiais.

[...] A visão de que só as pessoas com necessidades especiais ganhariam com a

inclusão é preconceituosa. Entendemos que o grande objetivo a ser conquistado é a

construção de uma sociedade inclusiva, com a contribuição indispensável das

escolas, que têm de preparar espaços educativos para todos. (LIMA, 2006, p. 33).

Com o objetivo de construir materiais para turmas inclusivas, ou seja, que auxiliem os

professores e alunos com deficiência visual ou videntes a melhorarem a comunicação, no que

diz respeito à linguagem Matemática, em especial à geométrica, é que desenvolvemos nossa

pesquisa de mestrado.

2.2 A escolha do tema

A escolha do tema aconteceu após um trabalho de conclusão de curso por nós

realizado no Centro de Estudos Supletivo da Asa Sul em Brasília – DF, onde, na

oportunidade, foi aplicado um material desenvolvido para o estudo dos quadriláteros. Através

deste trabalho foi possível identificar, por meio de observação e também por entrevistas com

professores, as dificuldades encontradas tanto por alunos quanto por professores nas salas de

aula de uma escola inclusiva. Essa escola, onde o trabalho foi desenvolvido, é tida como

referência no Distrito Federal, em educação inclusiva.

Após iniciar o mestrado, notamos que ainda é pouca a quantidade de pesquisas e

principalmente de materiais que atendam aos alunos com necessidades especiais. Notamos

também que dentro do programa de Mestrado Profissionalizante em Ensino de Física e de

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Matemática não havia dissertação que tratasse do assunto, o que nos motivou ainda mais para

pesquisar sobre o tema.

2.3 Contribuições

Com a construção dos materiais para as turmas inclusivas esperamos suprir um pouco

da dificuldade que os professores de Matemática encontram ao entrar em sala de aula de uma

turma com esta característica, como afirmam Sá, Campos e Silva (2007, p. 26).

A predominância de recursos didáticos eminentemente visuais ocasiona uma visão

fragmentada da realidade e desvia o foco de interesse e de motivação dos alunos

cegos e com baixa visão. Os recursos destinados ao atendimento Educacional

Especializado desses alunos devem ser inseridos em situações e vivências cotidianas

que estimulem a exploração e o desenvolvimento pleno dos outros sentidos. A

variedade, a adequação e a qualidade dos reursos disponíveis possibilitam o acesso

ao conhecimento, à comunicação e à aprendizagem significativa.

Também, em relação ao uso de recursos didáticos ou materiais manipuláveis, Bertolin

e Sankari (2006, p. 35) afirmam:

para que se efetive a inclusão do aluno portador de cegueira ou visão subnormal na

escola de ensino regular é necessário que o mesmo tenha em mãos materiais

adaptados às suas condições visuais. Se o aluno é portador de deficiência visual total

(cegueira), todo material será confeccionado em Braille e alguns desenhos e gráficos

serão feitos em relevo. Caso tenha resíduo visual (visão subnormal), seus livros serão ampliados suprindo suas necessidades, efetivando sua inclusão.

Utilizando materiais manipulativos os professores têm a possibilidade de fazer com

que o aluno visualize e, literalmente, sinta o que está sendo ensinado, no caso da deficiência

visual isto se torna extremamente importante. Partimos do princípio de que, em uma escola

inclusiva, o aluno com necessidades especiais deve ter o material adaptado de acordo com sua

necessidade para poder acompanhar diariamente as aulas com os colegas. A partir deste

princípio o professor pode ter o suporte necessário desses materiais, previamente

desenvolvidos, para que a aula possa ter um desenvolvimento natural e possa atingir os

objetivos traçados.

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3 REVISÃO DE LITERATURA

Nesse capítulo faremos a revisão de literatura, pois, por meio dessa, será possível

situar nosso trabalho dentro da grande área de pesquisa da qual fazemos parte.

É durante a Fase Exploratória que o pesquisador realisa a revisão de

literatura, porque toma contato com que já foi escrito sobre o que vai pesquisar,

passando a ter conhecimento do que já foi escrito sobre o assunto que selecionou.

Nesta ocasião, identifica as lacunas e as opiniões divergentes encontradas nas

diferentes leituras que desenvolve e assim pode acrescentar algo de original ao seu

objeto de estudo. (CIRIBELLI, 2003, p. 88).

3.1 A Educação Especial

A educação especial, no que se refere à educação escolar, é um processo definido por

uma proposta pedagógica que garante recursos e atendimentos educacionais especializados,

com o objetivo de identificar, elaborar e organizar recursos didáticos para, desta maneira,

explorar as potencialidades dos alunos que apresentam NEE nos diferentes níveis de

educação.

São classificadas como portadoras de necessidades especiais aquelas pessoas que

apresentam acentuadas diferenças na aprendizagem e, em função disso, precisam de atenção

diferenciada. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais,

a expressão necessidades educacionais especiais pode ser utilizada para referir-se a

crianças e jovens cujas necessidades decorrem de sua elevada capacidade ou de suas

dificuldades para aprender. Está associada, portanto, a dificuldades de aprendizagem, não necessariamente vinculada a deficiência(s). O termo surgiu para

evitar os efeitos negativos de expressões utilizadas no contexto educacional –

deficientes, excepcionais, subnormais, superdotados, infradotados, incapacitados etc.

(BRASIL, 1998a, p. 23).

Segundo Brasil (2007) 1, o ensino especializado atende a estrutura a seguir.

Do nascimento aos três anos: atendimento educacional especializado se

expressa por meio de serviços de estimulação precoce, que objetivam otimizar

o processo de desenvolvimento e aprendizagem em interface com os serviços

de saúde e assistência social. Em todas as etapas e modalidades da educação

básica, o atendimento educacional especializado é organizado para apoiar o

desenvolvimento dos alunos, constituindo oferta obrigatória dos sistemas de

ensino. Deve ser realizado no turno inverso ao da classe comum, na própria

escola ou centro especializado que realize esse serviço educacional.

1 Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2007). Documento elaborado

pelo grupo de trabalho nomeado pela portaria ministerial nº 555, de 5 de junho de 2007, prorrogada pela Portaria

nº 948, de 09 de outubro de 2007.

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Educação Infantil: desenvolvem-se as bases necessárias para a construção do

conhecimento e desenvolvimento global do aluno. Nessa etapa, o lúdico, o

acesso às formas diferenciadas de comunicação, a riqueza de estímulos nos

aspectos físicos, emocionais, cognitivos, psicomotores e sociais e a

convivência com as diferenças favorecem as relações interpessoais, o respeito

e a valorização da criança.

Educação de jovens e adultos e educação profissional: as ações possibilitam a

ampliação de oportunidades de escolarização, formação para ingresso no

mundo do trabalho e efetiva participação social.

Educação indígena, do campo e quilombola: deve assegurar que os recursos,

serviços e atendimento educacional especializado estejam presentes nos

projetos pedagógicos construídos com base nas diferenças socioculturais

desses grupos.

Educação superior: a educação especial se efetiva por meio de ações que

promovam o acesso, a permanência e a participação dos alunos. Estas ações

envolvem o planejamento e a organização de recursos e serviços para a

promoção da acessibilidade arquitetônica, nas comunicações, nos sistemas de

informação, nos materiais didáticos e pedagógicos, que devem ser

disponibilizados nos processos seletivos e no desenvolvimento de todas as

atividades que envolvam o ensino, a pesquisa e a extensão.

Segundo Mazzotta (2005), a Educação Especial no Brasil começa no século XIX, por

iniciativas isoladas inspiradas em experiências nos Estados Unidos, Europa e América do

Norte. Criou-se, nesta oportunidade, a organização de serviços para atendimento a cegos,

surdos, deficientes mentais e deficientes físicos. Tais iniciativas foram consideradas oficiais e

particulares, pois representavam o interesse de alguns educadores ao atendimento de pessoas

com deficiência.

A história da educação no Brasil, segundo Jannuzzi (2006), mostra que a educação foi

o centro das atenções somente a partir do momento em que as classes dominantes foram

sentindo tal necessidade. Quando a alfabetização passou a ser sinônimo de voto ou requisito

de ideologização para seu poder, as famílias com maior poder aquisitivo enviavam seus filhos

para Portugal e França.

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A educação popular, portanto, foi sendo concedida à medida que ela se tornou

necessária para a subsistência do sistema dominante, pelo menos até o momento em que se

estruturaram movimentos populares que passaram a reivindicar a educação como um direito,

segundo Jannuzzi (2006). Segundo o mesmo autor, na época do império, era caracterizada por

uma sociedade rural, escondiam-se aquelas pessoas com diferenças pelo fato de sua presença

incomodar. Com o passar do tempo à medida que a educação primária foi se desenvolvendo,

mesmo que de maneira lenta, também foram se organizando medidas para o desenvolvimento

da educação especial.

A exemplo do que ocorre com a educação em geral, torna-se latente um estreito

relacionamento entre a educação do deficiente e o modo de organização e produção

da sociedade. Enquanto era possível e conveniente, os deficientes eram segregados

da sociedade, ao passo que, mais tarde, a defesa da educação dos ditos “anormais”

foi feita em função da economia dos cofres públicos e dos bolsos dos particulares,

pois assim se evitariam manicômios, asilos e penitenciárias, tendo em vista que

essas pessoas seriam incorporadas ao trabalho (JANNUZZI, 2006, s/p.).

De acordo com Mazzotta (2005), o atendimento a pessoas com necessidades especiais

teve seu início mais precisamente em 12 de setembro de 1854, quando na oportunidade D.

Pedro II fundou na cidade do Rio de Janeiro o Imperial Instituto dos Meninos Cegos. O

Instituto foi inaugurado no dia 17 de setembro, cinco dias após a sua criação e teve como

diretor o Dr. Xavier Sigaudt. Em 17 de maio o Marechal Deodoro da Fonseca e o Ministro da

instrução Pública, Correios e Telégrafos, Benjamin Constant Botelho de Magalhães,

assinaram o decreto nº 408, que mudou o nome do Instituto para Instituto Nacional dos

Cegos, aprovando seu regulamento. Somente mais tarde em 24 de janeiro de 1891 através do

decreto nº 1.320 a escola passou a denominar-se Instituto Benjamin Constant (IBC) em

homenagem ao ex-professor de Matemática e ex-diretor, Benjamin Constant Botelho de

Magalhães.

Surgem outros sistemas como o Moon, inventado em 1845, na Inglaterra por Willian

Moon (1818-1894). Em 1824, Louis Braille (1809 – 1852), baseado em um sistema de

Charles Barbier que havia inventado um código em 1819 para a comunicação noturna em

campos de batalha, desenvolveu o sistema que recebeu seu nome, porém sua criação foi

oficialmente aprovada dois anos após sua morte em 1854.

Para o atendimento a alunos com deficiência visual no Brasil, o Instituto Benjamin

Constant e a Fundação para o Livro do Cego trazem, como uma de suas atividades, a

distribuição de livros impressos em braille. Tal sistema nasceu, de acordo com Jannuzzi

(2006), quando na Europa, na tentativa de ensinar cegos a ler, diversas formas de alfabeto

foram criadas e poderiam ser percebidas pelo tato, gravadas em madeiras, fundidas em

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chumbo ou até mesmo recortadas em papelão. Estes sistemas primitivos eram difíceis de

manusear e também apresentavam dificuldades para serem assimilados pelo conhecimento e

foram com o tempo deixando de ser usados.

Sobre o atendimento a alunos com deficiência visual no Brasil, Mazzotta (2005)

descreve as seguintes organizações:

A. Instituto Benjamin Costant - Em 1942 o Instituto Benjamin Costant editou em braile

a Revista Brasileira para Cegos, pioneira no Brasil. Em 1943 instalou uma imprensa

braile, que atendia principalmente os alunos do instituto e em setembro de 1949,

passou a distribuir livros impressos em braile gratuitamente para pessoas com

deficiência visual que os solicitavam. Através da Portaria Ministerial nº 385, de 8 de

junho de 1946, o curso ginasial mantido pelo Instituto foi equiparado ao ginásio do

ensino comum. Foi dessa maneira que três alunos cegos, que concluíram o curso

ginasial em 1949, ingressaram em 1950 em colégio comum dando início ao ensino

integrado para cegos. O Instituto Benjamin Constant, juntamente com a Fundação

Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, realizaram o Curso de Especialização de

Professores na Didática de Cegos, curso este pioneiro até então e, no período de 1951

a 1973, o curso passa a ser realizado em convênio com o Instituto Nacional de Estudos

Pedagógicos.

B. Instituto de Cegos Padre Chico – É uma escola que atende crianças com deficiência

visual em idade escolar. Foi fundada em 27 de maio de 1928 em São Paulo e seu nome

foi em homenagem ao Monsenhor Francisco de Paula Rodrigues. A escola funcionava

em regime de internato, semi-internato e externato. O Instituto mantém uma escola de

nível fundamental, além de cursos de Artes Industriais, Educação para o Lar,

Datilografia, Música, Orientação e Mobilidade e ainda presta serviços de assistência

médica, dentária e alimentar.

C. Fundação para o Livro do Cego no Brasil – A Fundação para o Livro do Cego no

Brasil – FLCB, foi instalada em São Paulo no dia 11 de março de 1946. Criada por

Dorina de Gouvea Nowill2, a fundação primeiramente teve o objetivo de produzir e

distribuir livros impressos em sistema braile; após teve suas atividades ampliadas nos

campos da educação, reabilitação e bem estar social das pessoas com deficiência

visual. A fundação, conforme seu estatuto, caracterizou-se como uma organização

2 Professora de alunos com deficiência visual, que aos dezessete anos ficou cega.

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particular sem fins lucrativos e de abrangência nacional. Obteve as seguintes

declarações: Utilidade Publica Federal – Decreto nº 40.269 de 15 de fevereiro de

1957; Utilidade Pública Municipal – Decreto n° 4.644 de 25 de março de 1960 e

Utilidade Pública Estadual – Lei n° 8.059 de 13 de janeiro de 1967.

Estas foram escolas criadas no período de 1854 a 1956 para o atendimento a alunos

com deficiência visual, cabendo ressaltar que durante o período citado também foram criadas

escolas e institutos para o atendimento a alunos com outros tipos de deficiência como

auditivas, mentais, deficientes físicos, entre outras.

Segundo as ideias de Mazzotta (2005), durante o período de 1957 a 1993, foram

lançadas algumas iniciativas oficiais de âmbito nacional. Em 1958 através de José Espínola

Veiga, pelo decreto nº 44.236 de 1° de agosto foi criada a Campanha Nacional de Educação e

Reabilitação de Deficientes de Visão, vinculada ao Instituto Benjamin Constant. Teve sua

organização e execução regulamentadas pela portaria n°477 de 17 de setembro de 1958.

Ainda em 1958, no dia 29 de novembro através da portaria nº 566, sob a presidência do

Ministro de Estado da Educação e Cultura Clóvis Salgado. Foi constituída uma comissão

diretora na qual participavam representantes do Instituto Benjamin Constant, do Conselho

Regional para o Bem Estar dos Cegos e da Fundação para o Livro do Cego no Brasil.

Após um ano e meio de seu lançamento a campanha sofreu algumas alterações pelo

decreto nº 48.252, de 31 de maio de 1960, em que, dentre as mudanças, a campanha deixou de

ser vinculada ao Instituto Benjamin Constant e passou a ser vinculada diretamente ao

Gabinete do Ministro de Educação e Cultura assumindo a denominação Campanha Nacional

de Educação dos Cegos – CNEC. Em 1962 a professora Dorina Gouvêa Nowill assume a

diretoria da CNEC.

A Campanha Nacional de Educação de Cegos foi extinta em 1973, quando no dia 3 de

julho foi criado pelo decreto nº 72.425, do Presidente Emílio Garrastazu Médici o Centro

Nacional de Educação Especial – CENESP. Através de seu regimento interno, sua finalidade

e competências foram detalhadas pelo artigo 2º e seu parágrafo único:

Segundo Brasil (1977, apud MAZZOTTA, 2005, p. 56),

Artigo 2º - O CENESP tem por finalidade planejar, coordenar e promover o

desenvolvimento da Educação Especial no período pré-escolar, nos ensinos de 1º e

2º graus, superior e supletivo, para os deficientes da visão, da audição, mentais,

físicos, portadores de deficiências múltiplas, educandos com problemas de conduta e os superdotados, visando sua participação progressiva na comunidade, obedecendo

aos princípios doutrinários, políticos e científicos que orientam a Educação Especial.

Parágrafo Único – Compete especificamente ao CENESP:

I. Planejar o desenvolvimento da Educação Especial;

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II. Acompanhar, controlar e avaliar a execução de programas e projetos de

Educação Especial, a cargo de seus próprios órgãos ou de terceiros, com assistência

técnica ou financeira do Ministério da Educação Cultura;

III. Promover ou realizar pesquisas e experimentações que visem à melhoria da

educação dos excepcionais;

IV. Manter uma rede integrada e atualizada de informações, na área da Educação

Especial;

V. Estabelecer normas relativas aos meios e procedimentos de identificação e

diagnósticos de excepcionais, tipo de atendimento, métodos, currículos, programas,

material de ensino, instalações, equipamentos e materiais de compensação,

procedimentos de acompanhamento e avaliação do desempenho do educando excepcional;

VI. Prestar assistência técnica e financeira a órgãos da administração pública,

federais, estaduais, municipais, e a entidades particulares, na área da Educação

Especial;

VII. Propor a formação, treinamento e aperfeiçoamento de recursos humanos, na

área específica da Educação Especial;

VIII. Analisar, avaliar e promover, em articulação com órgãos competentes, a

produção de material de apoio técnico à Educação Especial;

IX. Promover intercâmbio com instituições nacionais e estrangeiras e órgãos

internacionais, visando ao constante aperfeiçoamento do atendimento aos

excepcionais; X. Divulgar os trabalhos realizados sob sua responsabilidade, assim como de

outras fontes, que contribuam para o aprimoramento da Educação Especial;

XI. Promover, e se necessário, participar da execução de programas de

prevenção, amparo legal, orientação vocacional, formação ocupacional e assistência

ao educando excepcional, mediante entrosamento direto com órgãos públicos e

privados, nos campos da Saúde, Assistência Social, Trabalho e Justiça, procurando

envolver nessa programação, além dos alunos, os pais, professores e a comunidade

em geral.

De acordo com Mazzotta (2005), nos anos seguintes os órgãos foram sofrendo uma

sequência de mudanças, passando após o CENESP, pela Secretaria de Educação Especial –

SESPE, Secretaria Nacional de Educação Básica – SENEB e Departamento de Educação

Supletiva e Especial – DESE, esta estrutura manteve-se até o final de 1992, quando, após a

queda do Presidente Fernando Collor de Mello, houve uma reorganização dos Ministérios

aparecendo assim uma nova estrutura, a Secretaria de Educação Especial – SEESP, como

órgão específico do ministério da Educação e do Desporto.

A Educação Especial, de maneira geral, se caracteriza por ser uma educação voltada a

alunos com deficiência, algumas escolas especializam-se apenas em um tipo de deficiência,

somente visual ou somente auditiva, por exemplo. Outras, já visam atender a diferentes tipos

de deficiência, atualmente a Educação Especial tem sido alvo de críticas por não promover a

inclusão do aluno na sociedade. Em contrapartida, a escola especializada possui materiais

diversificados e especializados para atender seus alunos; além de professores preparados para

lhes dar o suporte necessário de acordo com sua necessidade.

O papel da Educação Especial assume, a cada ano, importância maior, dentro da

perspectiva de atender às crescentes exigências de uma sociedade em processo de

renovação e de busca incessante da democracia, que só será alcançada quando todas

as pessoas, sem discriminação, tiverem acesso à informação, ao conhecimento e aos

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22

meios necessários para a formação de sua plena cidadania (CARDOSO, 2004, p.

23).

3.2 A Educação Inclusiva

Entende-se por educação inclusiva o processo de introduzir alunos com NEE na rede

regular de ensino em todos os níveis. Pode-se citar como uma das principais características da

educação inclusiva o processo educativo que é subtendido como um processo social, no qual

todos os alunos com NEE têm direito a escolarização o mais próximo do normal.

De acordo com Schneider (2003) a política de inclusão de alunos com NEE na rede

regular de ensino não se confirma somente pelo fato desses alunos estarem presentes em sala

de aula. É preciso que suas diversidades sejam valorizadas e respeitadas, exigindo desta

maneira que as escolas definam suas responsabilidades criando assim espaços inclusivos.

Dessa forma, a inclusão significa uma adaptação da escola ao aluno e não do aluno à escola, o

que faz com que essa se coloque à disposição dele.

As escolas inclusivas propõem um modo de se constituir o sistema educacional que

considera as necessidades de todos os alunos e que é estruturado em função dessas

necessidades. A inclusão causa uma mudança na perspectiva educacional, pois não

se limita a ajudar somente os alunos que apresentam dificuldades na escola, mas

apoia a todos: professores, alunos, pessoal administrativo, para que obtenham

sucesso na corrente educativa geral. (MANTOAN, 1997, p. 145).

Além dos índices que indicam o baixo desempenho dos alunos na área de Matemática

em testes de rendimento, também são muitas as evidências que mostram que ela funciona

como filtro para selecionar alunos que concluem, ou não, o ensino fundamental.

Frequentemente, a Matemática tem sido apontada como disciplina que contribui

significativamente para a elevação das taxas de retenção.

3.3 O Ensino Especial em Matemática

No que se refere à Matemática, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN),

essa é uma área considerada complexa dentro da escola, por isso acaba sendo considerada a

grande vilã e, por esse motivo, temida por alunos e professores.

Além dos índices que indicam o baixo desempenho dos alunos na área de

matemática em testes de rendimento, também são muitas as evidências que mostram

que ela funciona como filtro para selecionar alunos que concluem, ou não, o ensino

fundamental. Frequentemente, a Matemática tem sido apontada como disciplina que

contribui significativamente para a elevação das taxas de retenção. (BRASIL, 1997,

p. 21-22).

Lins (2004) comenta que existe certo distanciamento entre a Matemática ensinada em

sala de aula e a Matemática encontrada no cotidiano dos alunos, ou seja, as experiências que

os alunos adquirem do seu cotidiano acabam não sendo levadas em consideração e o que é

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ensinado abrange uma grande quantidade de fórmulas incompreensíveis sem ao menos

explicar de onde vieram.

Ainda com relação ao mesmo assunto, D’Ambrósio (1996) afirma que a Matemática

está presente no cotidiano de qualquer pessoa, povo ou cultura.

Um dos aspectos fundamentais da minha interpretação é a maneira de ver a

matemática e a educação. Vejo a disciplina matemática como uma estratégia

desenvolvida pela espécie humana ao longo de sua história para explicar, para

entender, para manejar e conviver com a realidade sensível, perceptível, e com o seu

imaginário naturalmente dentro de um contexto natural e cultural. (p. 7)

Para Ferronato (2002, p. 46), “o conhecimento matemático deve ser transmitido

sempre se relacionando com o contexto social do aluno e com outras disciplinas do currículo

escolar, para que ele supere as dificuldades e aprenda de forma efetiva.” Seguindo a mesma

concepção, para D’Ambrósio (1996), um dos grandes desafios do ensino da Matemática é

desenvolver um programa dinâmico na escola relacionando os assuntos trabalhados com

problemas atuais, o que torna a matéria mais atrativa para os alunos.

Podemos considerar que o ensino da Matemática fica de maneira abstrata se não

possuir uma “visualização”, onde se possam compreender gráficos, equações, figuras

geométricas etc. Utilizando este pensamento e fazendo uma ligação de como podemos exercer

o ensino da Matemática para alunos com NEE, podemos destacar as palavras de Fonseca

(1995, p. 9), ao afirmar que o indivíduo portador de necessidades especiais é:

(...) uma pessoa com direitos. Existe, sente, pensa e cria. Tem uma limitação

corporal ou mental que pode afetar aspectos de comportamento, aspectos estes

muitas vezes atípicos, uns fortes e adaptativos, outros fracos e pouco funcionais,

que lhe dão um perfil intra-individual peculiar. Possui igualmente discrepâncias no

desenvolvimento biopsicossocial, ao mesmo que aspira a uma relação de verdade e

de autenticidade e ainda a uma relação de coexistência conformista e irresponsável.

Percebemos que devemos ver as pessoas com necessidades especiais como indivíduos

capazes, em que bastam apenas algumas adaptações em relação à estrutura da escola, os

materiais didáticos e também na formação dos professores, para que possam ser atingidos os

objetivos quanto ao ensino da Matemática.

No entanto, ao mesmo tempo em que devemos ver desta maneira, enfrentamos uma

realidade quanto às escolas inclusivas, em que, muitas vezes, elas não estão preparadas para

receber os alunos e suas respectivas necessidades. Em relação a este assunto Ferreira e

Ferreira (2007, p. 39) afirmam que:

Temos ainda hoje uma escola regular que não sabe bem como ensinar seus alunos

“tradicionais”. Assim, vivemos um momento na educação em que coexistem a

incapacidade da escola para ensinar todos os seus alunos e a presença de fato de

alunos com deficiência, que são estranhos para ela. Tão estranhos que ela parece

resistir em reconhecê-los como seus alunos, em desenvolver sua formação, em

reconhecer um processo educativo relevante para eles. Parece prevalecer no

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conjunto da cultura escolar a concepção de que o lugar da pessoa com deficiência é

fora da escola regular.

Nesse sentido podemos observar que as ideias passadas pelos autores vão exatamente

contra os princípios da escola inclusiva. Ainda em relação ao mesmo assunto, os autores

comentam:

Nesse sentido fica patente o despreparo dos educadores em geral quanto ao

conhecimento sobre as peculiaridades de um determinado tipo de

deficiência/incapacidade, e este é um aspecto que se destaca nesta trama,

principalmente pela ausência de uma política de formação continuada capaz de

promover o desenvolvimento profissional dos professores (FERREIRA e

FERREIRA, 2007, p. 37).

Não somente os educadores sentem-se impotentes perante esta realidade, segundo

Beyer (2003), a escola como um todo (equipe pedagógica, recursos materiais, funcionários

etc.), mas, também, se encontram nesta situação. Para Pires (2006, p. 47) “A ética da inclusão

é um imperativo do direito de cidadania, e fundamenta-se no direito que as pessoas com

necessidades educativas especiais têm de tomar parte ativa da sociedade, com oportunidades

iguais às da maioria da população”.

Segundo o mesmo autor,

A abordagem da educação inclusiva preconizada pela Declaração de Salamanca só

terá condições de tornar-se realidade mediante a adoção desta nova ética, que exige, em caráter de urgência, que as escolas estejam aptas a poder atender todos os

alunos e a oferecer-lhes as melhores condições de uma educação de qualidade, a

fazer da escola o espaço de inclusão de todos os alunos num clima de bom

acolhimento, e sem nenhum tipo de discriminação (p. 47).

Para que uma escola seja realmente inclusiva, em nosso entender, é necessário que

aconteça uma série de modificações e, assim, ela possa atender a cada aluno com NEE de

acordo com sua necessidade. O objetivo, quando o aluno chega a uma sala de aula regular, é

que ele possa ter acesso a todo o conteúdo que os colegas estão acompanhando, ou seja, o

aluno tem que receber o material adaptado à sua deficiência e é neste momento que todas as

equipes da escola devem estar em perfeita sincronia. Ferreira (2005, p.46), referindo-se às

mudanças que devem ocorrer dentro da escola afirma que:

A escola não para nunca por isso precisamos mudar com a escola em movimento

[...]. O professor-educador- deve conhecer cada um de seus alunos, aprender sobre

a personalidade e clima de sua turma, entender sobre as relações de poder dentro da

sala de aula, sobre as experiências, os interesses e os conflitos subjacentes às

relações humanas que permeiam a convivência diária. Nesse ambiente educacional

inclusivo com uma filosofia participativa e democrática, a criança, o adolescente e

o adulto serão considerados seres humanos [...].

Pires (2006), por outro lado, defende a ideia de que as mudanças devem ocorrer não

somente na sala de aula, mas também em toda sociedade e afirma que a grande dificuldade da

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inclusão está no fato de que a sociedade não se organiza para incluir e, dessa forma, acaba

dificultando que as pessoas deficientes possam assumir seus papéis na sociedade. O autor

defende que, apesar da urgência do processo de inclusão, todos devemos estar conscientes de

que é um processo lento por natureza pelo fato de necessitar de mudanças sociais, assim

como mudanças de atitudes e hábitos das pessoas.

3.4 Integração e Inclusão

Ao longo dos anos, juntamente com as discussões sobre educação inclusiva, vários

autores vêm debatendo a diferença entre os termos incluir e integrar. Vargas (2008, p. 173)

afirma que “o termo inclusão significa e traz implícita a ideia de uma escola que se adapta às

necessidades de seus alunos, enquanto integração significa a adaptação dos alunos a uma

instituição, às suas normas e fazeres, para que sua permanência seja legítima”.

Sassaki (2002, p. 34) defende essa mesma ideia e define integração e inclusão das

maneiras a seguir citadas. Para o autor a prática de integração ocorre de três maneiras.

Pela inserção pura e simples daquelas pessoas com deficiência que conseguiram ou

conseguem, por méritos pessoais e profissionais próprios, utilizar os espaços físicos

e sociais, bem como seus programas e serviços, sem nenhuma modificação por parte

da sociedade, ou seja, da escola comum, da empresa comum, do clube comum etc.;

pela inserção daqueles portadores de deficiência que necessitavam ou necessitam

alguma adaptação específica no espaço físico comum ou no procedimento da atividade comum afim de poderem, só então, estudar, trabalhar, ter lazer, enfim,

conviver com pessoas não-deficientes; pela inserção de pessoas com deficiência em

ambientes separados dentro dos sistemas gerais. Por exemplo: escola especial junto

à comunidade; classe especial numa escola comum; setor separado dentro de uma

empresa comum; horário exclusivo para pessoas deficientes num clube comum etc.

O autor ainda afirma que, mesmo tendo muitos méritos, esta forma de integração não

deixa de ser segregativa e, referindo-se à inclusão o autor afirma o que segue.

Conceitua-se a inclusão social como o processo pelo qual a sociedade se adapta

para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades

especiais e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papéis na

sociedade. A inclusão social constitui, então, um processo bilateral no qual as

pessoas, ainda excluídas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas,

decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos (p. 41).

Assim, podemos observar que os autores citados seguem uma mesma linha e

diferenciam integração de inclusão de uma forma clara. Nela, inclusão é um termo mais

abrangente. No caso, a escola deve se preparar para receber os alunos com necessidades

especiais diferentemente da integração, na qual o aluno participa da turma, porém utilizando

apenas seus méritos, ou seja, o aluno se adapta à turma de maneira pessoal.

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3.5 O ensino da Geometria para alunos deficientes visuais

A criança, desde os primeiros meses de vida, estabelece uma comunicação visual com

o seu cotidiano e, pelo fato de ser estimulada a isso, acompanha o movimento de pessoas ao

seu redor além de observar objetos imagens etc. Segundo Sá, Campos e Silva (2007), a visão

é o sentido mais importante, é o elo entre os sentidos e permite associar o som à imagem,

além de possibilitar à criança imitar gestos ou comportamentos de acordo com o meio em que

vive.

Por outro lado, o que nos faz questionar é quando esse sentido falta, não só para a

criança, mas para o indivíduo em geral, como trabalhar a Geometria de maneira que o aluno

possa frequentar uma sala de aula regular? Para Cruz et. al. (2001, p. 42),

a perda da visão ou do sentido visual implicará na necessidade de uma

reorganização perceptiva, isto é tudo o que percebe através da visão deve ser

adquirido pelo portador desta deficiência através de outros sentidos: tato, olfato,

gustação e sentido cinergético.

Brito e Veitzman (2000) trazem um relato feito pela Organização Mundial de Saúde

(OMS) no qual consta que anualmente cerca de 500.000 crianças ficam cegas no mundo.

Além disso, cerca de 70 a 80% morrem nos primeiros anos de vida por consequência de

doenças associadas ao seu comprometimento visual. Outra informação trazida pelos autores é

que, em 1992, a OMS estimava em 1,5 milhões o número de cegos menores de 16 anos no

mundo e, desses, 90% viviam em países em desenvolvimento.

O termo deficiência visual de maneira geral engloba pessoas cegas e também pessoas

com baixa visão, de acordo com Ventorini (2009).

O conceito médico de cegueira centra-se na capacidade visual apresentada pelo

sujeito depois de aplicados todos os métodos de tratamento cirúrgico e correções

ópticas possíveis. Até a data de 1970, o encaminhamento para o ensino pelo método

Braille tinha como base o diagnóstico médico, porém a constatação de que muitos

alunos considerados cegos utilizavam a visão e não o tato para ler o Braille

ocasionou uma reformulação do conceito de cegueira. Atualmente, além do

diagnóstico médico, especialistas da área de Educação e da Psicologia, dentre

outras, analisam como o sujeito utiliza sua acuidade visual para perceber o mundo e

qual sentido adota para a leitura em Braille (p. 16).

Ainda, segundo a autora,

as pessoas cegas apresentam acuidade visual, geralmente, igual a ou menor que

20/200 (0,1) – ou seja, enxergam a vinte pés de distância aquilo que o sujeito com

visão “normal” enxerga a duzentos pés (no melhor olho, com a melhor correção

óptica) (p. 16).

Sobre o termo baixa visão a autora traz que:

em 1992, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Conselho Internacional de

Educação de Deficientes Visuais (ICEVI) salientaram que o desempenho visual é

mais um processo funcional do que simples expressão numérica da acuidade visual,

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propondo o termo baixa visão para referir-se aos sujeitos que têm significativa

alteração da capacidade funcional da visão e que não são considerados cegos. O

termo é definido como o comprometimento do funcionamento visual em ambos os

olhos, mesmo após tratamento e/ou correção de erros refracionais comuns,

guardando as seguintes classificações:

acuidade visual inferior a 0,3 até a percepção de luz;

campo visual inferior a 10º do seu ponto de fixação;

capacidade potencial de utilização da visão para o planejamento e execução de tarefas. (p. 16).

O ensino da Geometria vem a algum tempo tendo problemas, deixando lacunas no

processo ensino-aprendizagem. Segundo Santos (2009), o ensino da Geometria para os níveis

fundamental e médio no Brasil está doente. O autor afirma que são muitos os aspectos que

representam as causas dessa “doença”. Um desses aspectos trata da formação dos professores que,

durante seu percurso na universidade, encontram poucos contatos com esse ramo da Matemática.

“Dessa maneira, torna-se perfeitamente justificado o argumento que ouvimos frequentemente dos

professores que não se pode ensinar aquilo que não se conhece” (p. 179).

Seguindo a mesma ideia Barbosa (2003, p. 14), afirma o seguinte:

[...] os conteúdos de geometria são trabalhados no último bimestre do ano letivo.

Existindo uma acumulação de matérias a serem dadas, os professores abandonam o ensino desta parte da Matemática, abrindo com isso uma grande lacuna no

aprendizado do aluno, trazendo-lhe conseqüentemente grandes dificuldades

posteriores.

Esta omissão se deve ao fato de muitos professores sentirem-se inseguros,

porque, às vezes, falta-lhes o preparo necessário e o desejo de tentar uma mudança

para enfrentar um novo desafio: a reciclagem da sua postura didático-pedagógica.

Podemos observar, pelas citações do autor, que a Geometria enfrenta graves

problemas e, se tais problemas afetam os alunos videntes, essa situação se agrava quando

tratamos de alunos com deficiência visual. Segundo Barbosa (2003), se a falta de uma

sistematização no ensino da Geometria acarreta em uma perda significativa a alunos videntes,

tal perda é maior ainda em uma criança cega ou de baixa visão.

Para Schuhmacher e Rosa (2009, p. 747),

trabalhar matemática com alunos deficientes visuais não é uma tarefa fácil. Isso

porque esses alunos precisam estar em contato direto com o que está sendo

ensinado. Ou seja, eles precisam literalmente “sentir” para poderem fazer suas

abstrações. Não que os outros alunos não tenham essa necessidade, mas é que no

caso dos deficientes visuais, o concreto é um dos únicos meios possíveis de conhecimento das coisas que os cercam. Desse modo, ao professor cabe a

responsabilidade de estar buscando estratégias concretas que possibilitem a

compreensão de todos os alunos [...].

De acordo com Kaleff, Rosa e Votto (2010, p. 03),

é bem sabido que, no sistema escolar, o professor precisa selecionar, adaptar e

confeccionar materiais didático-pedagógicos que contribuam para o processo de ensino-aprendizagem de todos os alunos sejam eles deficientes visuais ou não. A

escolha desses materiais deve basear-se, de um modo geral, nos princípios de que

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os recursos mais adequados são aqueles que permitem uma experiência sensorial

mais intensa ao aluno e sejam compatíveis com o seu nível de desenvolvimento. No

caso de estudantes videntes o material didático pode auxiliar no ensino-

aprendizagem, no entanto, para o aluno deficiente visual vem a se tornar

indispensável.

Os autores declaram ainda que, sob essas considerações, é evidente que, para o ensino

de Geometria a uma criança cega ou com baixa visão, é necessário se realizarem alguns

procedimentos além de materiais especializados ou adaptados.

Buscar os recursos mais adequados para trabalhar com alunos portadores de deficiência visual é tarefa que exige do professor enxergar além da deficiência,

lembrando que há peculiaridades no desenvolvimento de todas as crianças, tendo

elas deficiência ou não. A criatividade foi e continua sendo um elemento

indispensável para o homem superar problemas e desafios gerados pelo seu

ambiente físico e social. (BARBOSA, 2003, p. 19).

Por sua vez, Schuhmacher e Rosa (2009, p.748) afirmam:

para pessoas portadoras de deficiência visual, o acesso à informação, num mundo

quase exclusivamente visual, é um obstáculo enorme, mas transponível. A

construção do conhecimento matemático necessita ser repensado e ir além do atual

“teocentrismo”, ou seja, um ensino e aprendizagem desvinculado da realidade e das

necessidades educativas especiais, que prevalece em escolas de ensino regular e em

algumas escolas especiais

Para nós, desenvolver habilidades visuais em Geometria tanto para videntes quanto

para não videntes é fundamental. Entendemos aqui visualização “como um processo de

formar imagens mentais, com a finalidade de construir e comunicar determinado conceito

matemático, com vistas a auxiliar na resolução de problemas analíticos ou geométricos”

(LEIVAS, 2009, p. 22). Desta forma, visualizar vai muito além do que “ver com os olhos”.

Para os cegos, tais habilidades podem ser desenvolvidas pelo uso do tato e, nesse sentido, a

utilização de recursos didáticos é fundamental, em nosso entender.

3.6 Recursos didáticos

O uso de recursos ou materiais didáticos, conhecidos também como materiais

manipulativos, pode ter uma importante contribuição para o ensino da Matemática. Para a

presente pesquisa utilizaremos apenas materiais manipulativos concretos. Segundo Ksenco,

Agranionih e Zanoello (2011, p. 3),

quando falamos sobre a utilização de materiais concretos no processo de ensino-

aprendizagem em matemática, estamos, na verdade, fazendo referências a materiais

com os quais o aluno possa interagir, conhecidos como materiais concretos ou

manipuláveis, objetos presentes no cotidiano, ou construídos, que permitam

relações com conceitos matemáticos.

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Para Lorenzato (2006, p. 18), “Material didático (MD) é qualquer instrumento útil ao

processo de ensino-aprendizagem. Portanto MD pode ser um giz, uma calculadora, um filme,

um livro, um quebra-cabeça, um jogo, uma embalagem, uma transparência, entre outros”.

Recursos didáticos são todos os recursos físicos, utilizados com maior ou menor

frequência em todas as disciplinas, áreas de estudo ou atividades, sejam quais

forem as técnicas ou métodos empregados, visando auxiliar o educando a realizar

sua aprendizagem mais eficientemente, constituindo-se num meio para facilitar,

incentivar ou possibilitar o processo ensino-aprendizagem (CERQUEIRA;

FERREIRA, 2000, p. 01).

Fica evidente que, para os autores citados, a ideia de materiais manipulativos é a

mesma, ou seja, qualquer tipo de material que possa auxiliar o aluno em sua aprendizagem.

Para nossa pesquisa os materiais utilizados são especificamente concretos pelo fato da

pesquisa ser direcionada a um aluno com deficiência visual como citado anteriormente.

Acreditamos em uma formação de imagem mental e, com a utilização desses materiais,

esperamos atingir tal objetivo.

Em relação a materiais didáticos Lorenzato (2006, p. 18) afirma ainda que:

existem vários tipos de MD. Alguns não possibilitam modificação em sua forma; é

o caso dos sólidos geométricos construídos em madeira ou cartolina, por exemplo,

que por serem estáticos, permitem só a observação. Outros já permitem uma maior

participação do aluno: é o caso do ábaco, do material montessoriano (cuisenaire ou dourado), dos jogos de tabuleiro. Existe, ainda, aqueles dinâmicos, que, permitindo

transformações por continuidade, facilitam ao aluno a realização de redescobertas,

a percepção de propriedades e a construção de uma efetiva aprendizagem.

Porém, somente o uso do recurso didático não é garantia de um bom ensino, é preciso

que, por parte do professor, tal recurso seja um facilitador para que o aluno compreenda

melhor os conteúdos trabalhados. A respeito desse assunto, Lorenzato (2006, p. 21) afirma o

seguinte.

Convém termos sempre em mente que a realização em si de atividades

manipulativas ou visuais não garante a aprendizagem. Para que esta efetivamente

aconteça, faz-se necessária também a atividade mental, por parte do aluno. E o MD

pode ser um excelente catalisador para o aluno construir o seu saber matemático.

Também, em relação a esse assunto, para Nacarato (2005, p. 01), “Um uso inadequado

ou pouco exploratório de qualquer material manipulável pouco ou nada contribuirá para a

aprendizagem Matemática. O problema não está na utilização desses materiais, mas na

maneira como utilizá-los”.

Segundo os autores citados notamos que na utilização de recursos didáticos o

professor deve estar atento para uma utilização eficaz do material, pois se utilizado de

maneira correta pode trazer uma grande contribuição para o ensino da Matemática.

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3.7 Visualização

Para que os alunos possam resolver problemas geométricos, segundo Vieira e Silva

(2007), não basta apenas terem o conhecimento em álgebra e aritmética. Além disso, eles

precisam ter noções espaciais que os auxiliem a interpretar as imagens. Os autores defendem

ainda que

se para o aluno vidente a falta de um ensino sistemático de geometria constitui-se

uma perda significativa, muito mais para o aluno de visão reduzida ou para o aluno cego, pois eles necessitam de materiais adequados às suas especificidades,

materiais estes não disponíveis na sala de aula comum (2007, p. 03).

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais,

o pensamento geométrico desenvolve-se inicialmente pela visualização: as crianças

conhecem o espaço como algo que existe ao redor delas. As figuras geométricas

são reconhecidas por suas formas, por sua aparência física, em sua totalidade, e não

por suas partes ou propriedades. (BRASIL, 1997, p. 82)

Ao empregar visualização no sentido apontado por Leivas (2009), notamos que no

desenvolvimento de um trabalho com alunos deficientes visuais, a formação de imagem

mental é fator primordial para compreender o assunto que se está trabalhando. O aluno, no

primeiro momento, necessita dessa formação da imagem para que possa, posteriormente,

fazer suas associações ou definições.

Borba, Malheiros e Amaral (2011, p. 69), referindo-se a esse assunto, trazem a

seguinte definição: “Na matemática a visualização está associada à habilidade de interpretar e

entender informações figurais. Para tanto podem ocorrer dois processos: interpretar uma

imagem visual, ou criá-la a partir de uma informação não figural”.

De acordo com Passos (2006, p. 82), “os diferentes tipos de visualização que o aluno

necessita, tanto em contextos matemáticos quanto em outros, dizem respeito à capacidade de

criar, manipular e ler imagens mentais”.

Notamos que a visualização mental, que o aluno com deficiência visual necessita para

que possa trabalhar um assunto específico, é obtida com o passar do tempo por meio de suas

experiências pessoais desde a infância, como citado anteriormente nos PCN até os níveis mais

avançados por meio de estímulos, no caso do deficiente visual, com materiais manipulativos.

A visualização aparece assim como algo profundamente natural tanto no

nascimento do pensamento matemático como no descobrimento de novas relações

entre os objetos matemáticos, e também naturalmente, na transmissão e

comunicação próprias do fazer matemático. (GUZMÁN, 1997, p. 17).

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4 METODOLOGIA DA PESQUISA

No desenvolvimento metodológico a pesquisa apresenta termos já utilizados por

diferentes autores em suas obras e se tornam essenciais para o seu entendimento. Alguns

desses termos referidos aparecem em tópicos anteriores, porém serão indicados juntamente

com os demais no presente.

Imagem mental

No que diz respeito a imaginação e percepção, há várias formas em que a percepção

pode contribuir para o desenvolvimento da imaginação e uma delas pode ser a

percepção tátil, na qual o indivíduo, em contato com um determinado objeto, sem

visualizá-lo, cria uma imagem mental dele por meio de descobertas exclusivamente

táteis. (LEIVAS, 2009, p. 158).

Representações

No ensino da Matemática, destacam-se dois aspectos básicos: um consiste em

relacionar observações do mundo real com representações (esquemas, tabelas,

figuras); outro consiste em relacionar essas representações com princípios e

conceitos matemáticos. Nesse processo, a comunicação tem grande importância e

deve ser estimulada, levando-se o aluno a ’falar’ e a ‘escrever’ sobre Matemática, a

trabalhar com representações gráficas, desenhos, construções, a aprender como

organizar e tratar dados. (BRASIL, 1998b, p. 19).

Modelos – Utilizaremos o termo modelos para nos referirmos às figuras

geométricas que serão utilizadas na representação tanto em Geometria plana,

quanto em espacial. Referindo-se à educação Matemática, na perspectiva da

metodologia de modelagem Matemática, Zorzan (2007, p. 83), assim se

manifesta:

[...] assume a matemática como linguagem para o estudo de problemas e situações

reais, devendo proporcionar aos sujeitos o uso da imaginação criadora e o

desenvolvimento da capacidade de ler e interpretar a realidade e os saberes

matemáticos. Portanto, o estudo da matemática segundo a modelagem requer a

interação entre realidade e matemática.

Habilidades visuais – De acordo com Gomez (2012), em uma avaliação

neuropsicológica, três habilidades do sistema visual são observadas:

habilidades visuoperceptivas, visuespaciais e as gnosias visuais. Para a autora,

tais funções e suas alterações possuem relação direta com a funcionalidade do

indivíduo, podendo gerar dificuldades em perceber distância, tamanho, movimento,

profundidade; em detectar ângulos e posicionamento de objetos no espaço; em

diferenciar figura-fundo e fazer varredura visual; em reconhecer padrões; em realizar sínteses visuais que permitam discernir um objeto, mesmo sem vê-lo

inteiramente; em realizar desenhos e construções tridimencionais; na coordenação

visuomotora; em ler textos símbolos e mapas. (p. 281).

Nesse sentido utilizamos as ideias dos autores citados para o desenvolvimento dos

materiais que foram utilizados na investigação com o aluno.

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A pesquisa é de cunho qualitativo, a qual tem por objetivo traduzir ou expressar os

sentidos dos fenômenos do mundo social. Para Gressler (2004, p. 92), “as pesquisas

qualitativas, de modo geral, visam à compreensão de uma realidade específica, ideográfica,

cujos significados são vinculados a um dado conceito”. Segundo o mesmo autor, a pesquisa

qualitativa apresenta as características descritas a seguir.

a) A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta dos dados.

b) A intervenção do pesquisador no contexto observado é reduzida ao mínimo. c) Os métodos da pesquisa qualitativa são múltiplos, interativos e humanísticos.

d) O processo de pesquisa (objetivos, métodos, dados) emerge do contexto

estudado, ao invés de ser pré-fixado. Em uma abordagem indutiva, o

pesquisador parte de questões amplas, focos de interesse ou recortes de uma

determinada realidade, deixando que dimensões e categoria surjam,

progressivamente, durante os processos de coleta e análise de dados.

e) A pesquisa qualitativa é fundamentalmente interpretativa. A interpretação dos

resultados desponta como a totalidade de uma especulação que tem como base

a descrição de um fenômeno em um contexto.

f) A investigação qualitativa é um projeto cívico, participativo e colaborativo.

(Idem, p. 87).

O autor defende, ainda na pesquisa qualitativa, que o pesquisador também apresente algumas

características, como as citadas a seguir.

a) É o principal instrumento da pesquisa qualitativa.

b) Parte de uma visão holística do fenômeno social, que busca compreender suas

inter-relações. Todos os dados da realidade são considerados importantes na

descrição de um comportamento ou evento.

c) Reflete sistematicamente sobre seu próprio papel na pesquisa. Ele não é um

observador objetivo, autoritário, nem politicamente neutro; junta-se ao

pesquisado em um diálogo contínuo.

d) Mostra-se sensível a sua biografia pessoal e a como esta modela o estudo. Ele é

historicamente posicionado e situado geograficamente, como um observador da condição humana que é, acima de tudo, humano.

e) Baseia-se em raciocínios complexos, multifacetados e interrogativos, que se

movem entre dedução e indução. (Ibidem, p. 88).

Durante a pesquisa, o foco do trabalho foi sendo ajustado ao longo das informações

obtidas, sendo essa uma das características da pesquisa qualitativa citada por Gressler (2004,

p. 92) “[...] o foco da pesquisa vai sendo ajustado, visto que o grau de exigência de

antecipação do projeto é menor do que nos projetos quantitativos. Este ajuste cria a

necessidade de se limitar a abrangência do enfoque, sua generalidade e sua especificidade.”

Entendemos que, ao lidar com alunos com deficiência visual, não podemos previamente

definir como e aonde as conclusões devem chegar, o material foi manipulado pelo aluno e as

conclusões e aprovações dependeram apenas da compreensão desse aluno. Para que isso

acontecesse com sucesso o material foi construído de maneira a atender sua necessidade

quanto a um de seus principais sentidos, o seu tato.

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Na visão de Bogdan e Biklen (1982, apud LUDQÜE; ANDRÉ 1986, p. 11) “A

pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador

como seu principal instrumento.” Segundo os autores, na pesquisa qualitativa acontece, além

de um contato direto, também um contato prolongado do pesquisador com o ambiente e com a

situação que está sendo investigada. Nesse sentido, conhecer os indivíduos com os quais a

pesquisa será realizada é importante para definir os procedimentos que serão utilizados e

então, dessa maneira, levar em consideração seus conhecimentos prévios e suas experiências

em relação ao assunto abordado.

Referindo-se a este contato direto os autores comentam ainda que “como os problemas

são estudados no ambiente em que eles ocorrem naturalmente, sem qualquer manipulação

intencional do pesquisador, este tipo de estudo é também chamado de naturalístico” (p.12).

Segundo Ludküe e André (1986), levando em consideração todos os aspectos que

envolvem a situação onde um fenômeno ocorre, não se excluem as circunstâncias naturais que

influenciam este acontecimento e, desta maneira, otimiza-se seu entendimento.

4.1 Estudo de Caso

Tendo em vista que, na pesquisa, estudamos as contribuições de materiais inclusivos

para o ensino da Geometria a alunos com deficiência visual e que esta proposta foi realizada

apenas com um aluno, estas características a enquadram em um estudo de caso.

O estudo de caso, como sugere o nome, é o estudo de um caso seja ele simples ou

ainda específico. Segundo Moreira (2011, p. 86),

enquanto as técnicas usadas nessa pesquisa podem variar e incluir tanto enfoques

qualitativos como quantitativos, a característica que mais distingue o estudo de caso

é a crença de que os sistemas humanos desenvolvem uma completude e integração,

isto é, não são simplesmente um conjunto de partes ou de traços. Por conseguinte, o

estudo de caso se encaixa em uma tradição holística de pesquisa segundo a qual as

características de uma parte são determinadas grandemente pelo todo ao qual

pertence.

Para Lüdke e André (1986, p. 17) “O caso é sempre bem delimitado, devendo ter seus

contornos claramente definidos no desenrolar do estudo. O caso pode ser similar a outros, mas

é ao mesmo tempo distinto, pois tem um interesse próprio, singular”.

Rampazzo (2005, p. 55) assim define estudo de caso: “É a pesquisa sobre um

determinado indivíduo, família, grupo ou comunidade para examinar aspectos variados de sua

vida”.

Lüdke e André (1986, p. 17) citam ainda que um estudo de caso apresenta as

características a seguir.

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a) Os estudos de caso visam à descoberta. Mesmo que o investigador parta de

alguns pressupostos teóricos iniciais, ele procurará se manter constantemente atento

a novos elementos que podem emergir como importante durante o estudo.

b) Os estudos de caso enfatizam a “interpretação em contexto”. Um princípio

básico desse tipo de estudo é que, para uma apreensão mais completa do objeto é

preciso levar em conta o contexto em que ele se situa. Assim, para compreender

melhor a manifestação geral de um problema, as ações, as percepções, os

comportamentos e as interações das pessoas devem ser relacionadas à situação

específica onde ocorrem ou à problemática determinada a que estão ligadas.

c) Os estudos de caso buscam retratar a realidade de forma completa e profunda.

O pesquisador procura revelar a multiplicidade de dimensões presentes numa determinada situação ou problema, focalizando-o como um todo.

d) Os estudos de caso usam uma variedade de fontes de informação. Ao

desenvolver o estudo de caso, o pesquisador recorre a uma variedade de dados,

coletados em diferentes momentos, em situações variadas e com uma variedade de

tipos de informantes.

e) Os estudos de caso revelam experiência vicária e permitem generalizações

naturalísticas. O pesquisador procura relatar as suas experiências durante o estudo

de modo que o leitor ou usuário possa fazer as suas “generalizações naturalísticas”.

f) Estudos de caso procuram representar os diferentes e às vezes conflitantes

pontos de vista presentes numa situação social. Quando o objeto ou situação

estudados pode suscitar opiniões divergentes, o pesquisador vai procurar trazer para o estudo essa divergência de opiniões, revelando ainda o seu próprio ponto de vista

sobre a questão.

g) Os relatos de estudo de caso utilizam uma linguagem e uma forma mais

acessível do que os outros relatórios de pesquisa. Os dados do estudo de caso

podem ser apresentados numa variedade de formas, tais como dramatizações,

desenhos, fotografias, colagens, slides, discussões, mesas-redondas etc. Os relatos

escritos apresentam, geralmente, um estilo informal, narrativo, ilustrado por figuras

de linguagem, citações, exemplos e descrições.

Moreira (2011, p. 86), afirma:

portanto, fazer do tipo estudo de caso, isto é, para entender um caso, para

compreender e descobrir como as coisas ocorrem e por que ocorrem, para talvez

predizer algo a partir de um único exemplo ou para obter indicadores que possam ser

usados em outros estudos (talvez quantitativos), é necessária uma profunda análise

das interdependências das partes e dos padrões que emergem [...] para tudo isso, as técnicas de pesquisa qualitativa são frequentemente as mais adequadas.

De acordo com Pádua (2008, p. 157) “O estudo de caso é um meio para se coletar

dados, preservando o caráter unitário do “objeto” a ser estudado”.

Assim, pudemos observar que o trabalho se enquadra na visão dos autores citados

como um estudo de caso para uma pesquisa qualitativa.

4.2 Coletas de dados

Para Pádua (2008), a coleta de dados é o processo que dará início à pesquisa

propriamente dita, com uma intensa busca pelos dados a serem analisados.

Fizemos uso principalmente da observação, porém para uma melhor coleta dos dados

e também auxiliar em uma observação mais detalhada, utilizamos videogravações durante as

oficinas. Realizamos também uma entrevista prévia, com a qual pretendíamos identificar os

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conhecimentos que o aluno possuia em relação à Geometria plana e espacial, assuntos os

quais foram trabalhados nas oficinas.

4.2.1 Observação

É notório que diferentes pessoas ao observarem um mesmo objeto têm percepções

variadas sobre ele, isso está ligado a alguns fatores como experiência pessoal de cada

indivíduo, realidade em que cada um vive perante a sociedades etc. Para Lüdke e André

(1986, p. 25)

o que cada pessoa seleciona para “ver” depende muito de sua história pessoal e

principalmente de sua bagagem cultural. Assim o tipo de formação de cada pessoa,

o grupo social a que pertence, suas aptidões e predileções fazem com que sua

atenção se concentre em determinados aspectos da realidade, desviando-se dos

outros.

Porém, tornar uma observação um instrumento válido de investigação científica

necessita de um planejamento e uma preparação adequada por parte do observador.

Planejar a observação significa determinar com antecedência “o que” e “o como”

observar. A primeira tarefa, pois, no preparo das observações é a delimitação do

objeto de estudo. Definindo-se claramente o foco da investigação e sua

configuração espaço-temporal, ficam mais ou menos evidentes quais aspectos do

problema serão cobertos pela observação e qual a melhor forma de captá-los

(LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 25).

De acordo com Ciribelli (2003, p. 69) “A observação é um método com muitas

variantes e que exige um conhecimento técnico específico. Em geral aparece ligada a outras

Técnicas de Pesquisa como o Questionário e a Entrevista.” A autora ainda escreve que a

observação pode ocorrer das seguintes maneiras:

Direta – O pesquisador entra em contato direto com a realidade;

Assistemática – Acidental, informal e espontânea, ou seja, sem um

planejamento;

Sistemática – Com planejamento prévio;

Não participante – O pesquisador não se integra a comunidade;

Participante – O pesquisador participa da pesquisa com a comunidade;

Individual – Realizada apenas pelo pesquisador;

Equipe – Realizada em grupo.

Dentre as maneiras descritas pela autora, nas oficinas em que realizamos, as

observações foram realizadas de maneira direta, sistemática, participante e individual.

Os focos de observação nas abordagens qualitativas de pesquisa são

determinados basicamente pelos propósitos específicos do estudo, que por sua vez

derivam de um quadro teórico geral, traçado pelo pesquisador. Com esses propósitos

em mente, o observador inicia a coleta de dados buscando sempre manter uma

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perspectiva de totalidade, sem se desviar demasiado de seus focos de interesse. Para

isso, é particularmente útil que ele oriente a sua observação em torno de alguns

aspectos, de modo que ele nem termine com um amontoado de informações

irrelevantes nem deixe de obter certos dados que vão possibilitar uma análise mais

completa do problema. (LÜDKE e ANDRE, 1986, p. 30).

Para que pudéssemos organizar os registros após as observações, seguimos o modelo

apresentado por Bogdan e Biklen (1982, apud LUDQÜE; ANDRÉ 1986, p. 30), onde dividem

as anotações em duas etapas, a primeira parte descritiva e a segunda parte reflexiva.

Na descritiva acontecem registros detalhados dos fatos ocorridos durante as oficinas e

se divide nas seguintes etapas:

1. Descrição dos sujeitos. Sua aparência física, seus maneirismos, seu modo de

vestir, de falar e de agir. Os aspectos que os distinguem dos outros devem ser

também enfatizados.

2. Reconstrução dos diálogos. As palavras, os gestos, os depoimentos, as

observações feitas entre os sujeitos ou entre estes e o pesquisador devem ser

registrados. Na medida do possível devem-se utilizar as suas próprias palavras.

As citações são extremamente úteis para analisar, interpretar e apresentar os dados.

3. Descrição de locais. O ambiente onde é feita a observação deve ser descrito. O

uso de desenhos ilustrados a disposição dos móveis, o espaço físico, a

apresentação visual do quadro de giz, dos cartazes, dos materiais de classe

podem também ser elementos importantes a ser registrados.

4. Descrição de eventos especiais. As anotações devem incluir o que ocorreu,

quem estava envolvido e como se deu esse envolvimento.

5. Descrição das atividades. Devem ser descritas as atividades gerais e os

comportamentos das pessoas observadas, sem deixar de registrar a sequência

em que ambos ocorrem.

6. Os comportamentos do observador. Sendo o principal instrumento da pesquisa, é importante que o observador inclua nas suas anotações as suas atitudes, ações

e conversas com os participantes durante o estudo.

A parte reflexiva das anotações trata das observações pessoais do autor durante a fase da

coleta. 1. Reflexões analíticas. Referem-se ao que está sendo “aprendido” no estudo, isto

é, temas que estão emergindo, associações e relações entre partes, novas ideias surgidas.

2. Reflexões metodológicas. Nestas estão envolvidos os procedimentos e

estratégias metodológicas utilizadas, as decisões sobre o delineamento (design)

do estudo, os problemas encontrados na obtenção dos dados e a forma de

resolvê-los.

3. Dilemas éticos e conflitos. Aqui entram as questões surgidas no relacionamento

com os informantes, quando podem surgir conflitos entre a responsabilidade

profissional do pesquisador e o compromisso com os sujeitos.

4. Mudança na perspectiva do observador. É importante que sejam anotadas as

expectativas, opiniões, preconceitos e conjeturas do observador e sua evolução

durante o estudo.

5. Esclarecimentos necessários. As anotações devem também conter pontos a serem esclarecidos, aspectos que pareça confusos, relações a serem explicitadas,

elementos que necessitam de maior exploração. (p. 31).

Tendo como base o modelo apresentado pretendíamos obter uma maior riqueza nos dados para

que pudéssemos ter uma melhor análise dos resultados.

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4.2.2 A entrevista

Na primeira parte da oficina, realizamos uma entrevista sem o uso de questões

previamente elaboradas, no entanto a conduzimos de maneira que pudéssemos observar a

experiência do aluno em relação aos conhecimentos prévios sobre Geometria. Para Rampazzo

(2005) a entrevista é um encontro entre duas pessoas onde uma delas obtém informações

sobre um determinado assunto por meio de um diálogo de cunho profissional. Segundo o

mesmo autor, a entrevista se divide em dois tipos.

─ Padronizada ou estruturada: é aquela em que o entrevistador segue um roteiro

previamente estabelecido. Ela se realiza de acordo com um formulário elaborado.

Nesse caso, o pesquisador não é livre para adaptar suas perguntas a determinada

situação.

─ Despadronizada ou não-estruturada: é aquela em que o entrevistador é livre para

adaptar suas perguntas a determinada situação. Em geral as perguntas são abertas

(permitem ao informante responder livremente, usando linguagem própria e emitir opiniões) e pode ser respondidas no decorrer de uma conversação informal. (p. 110).

Segundo Bogdan e Biklen (1982, apud LÜDKE; ANDRÉ, 1986 p. 30) a entrevista,

juntamente com a observação, representa um dos instrumentos básicos para a coleta de dados.

Embora a entrevista seja um importante instrumento para a coleta de dados, devemos

tomar alguns cuidados, de acordo com Rampazzo (2005, p. 111), quais sejam:

como técnica de coleta de dados, a entrevista oferece várias vantagens e limitações.

Quanto às vantagens:

─ pode ser utilizada com todos os segmentos da população, analfabetos ou

alfabetizados;

─ há maior flexibilidade, podendo o entrevistador repetir ou esclarecer perguntas,

formular de maneira diferente;

─ oferecer maior oportunidade para avaliar atitudes, condutas, podendo o

entrevistado ser observado naquilo que diz e como diz (registro de reações, gestos

etc); ─ dá oportunidade para a obtenção de dados que não se encontram em fontes

documentais e que sejam relevantes e significativos.

Quanto às limitações:

─ pode haver dificuldade de comunicação e expressão de ambas as partes;

─ o entrevistado pode ser influenciado, consciente ou inconscientemente, pelo

questionador, pelo seu aspecto físico, suas atitudes, suas ideias, suas opiniões, etc;

─ nem sempre o entrevistado está disposto a dar as informações necessárias;

─ a entrevista ocupa muito tempo e é difícil de ser realizada.

Dentre as maneiras de entrevistas descritas pelos autores utilizamos a despadronizada

ou não-estruturada, observando ao máximo as vantagens que o instrumento pode oferecer.

4.2.3 Videogravação

Utilizamos como uma das técnicas para a coleta de dados, a videogravação. Com essa

utilização esperávamos observar com maior detalhamento os fatos que ocorreriam durante as

oficinas. De acordo com Pinheiro, Kakehashi e Ângelo (2005) a observação passou por uma

melhoria com a evolução dos recursos tecnológicos.

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Segundo Sadalla e Larocca (2004), o uso da videogravação permite um estudo

detalhado de fenômenos complexos, como a prática pedagógica, por exemplo, por ser

carregada de vivacidade e dinamismo além de sofrer interferência dinâmica de múltiplas

variáveis. Para as autoras “a videogravação permite registrar, até mesmo, acontecimentos

fugazes e não-repetíveis que muito provavelmente escapariam a uma observação direta” (p.

423). Para Loizos (2008, p. 149) a utilização da videogravação é necessária “sempre que

algum conjunto de ações humanas é complexo e difícil de ser descrito compreensivamente por

um único observador, enquanto este se desenrola”, e nesse aspecto notamos que a presente

pesquisa se enquadra nas situações descritas pelos autores citados. O autor afirma ainda que

“a imagem, com ou sem acompanhamento de som, oferece um registro restrito, mas poderoso

das ações temporais e dos acontecimentos reais” (p. 137).

4.3 A Análise dos resultados

Após as duas oficinas realizadas e todos os dados coletados, partimos para a análise

dos resultados. Para Lüdke e André (1986, p. 45) “Analisar os dados qualitativos significa

“trabalhar” todo o material obtido durante a pesquisa, ou seja, os relatos de observação, as

transcrições de entrevista, as análises de documentos e as demais informações disponíveis”.

Ainda, segundo as autoras, a análise encontra-se presente durante várias fases da investigação,

porém torna-se mais sistemática e formal após toda coleta dos dados. Dessa maneira, a análise

dos resultados dessa pesquisa foi feita utilizando os relatos das observações anotados após as

oficinas, da entrevista com o aluno e também das observações por meio das videogravações.

4.4 Problema de Pesquisa

A fim de desenvolver o projeto, elaboramos o seguinte problema de pesquisa:

De que maneira é possível aluno com deficiência visual construírem conceitos por

meio de materiais manipulativos?

Este problema se desmembra nas questões de pesquisa descritas a seguir.

4.5 Questões de pesquisa

a) De que forma o aluno identifica as propriedades perceptíveis nos modelos das figuras

planas e espaciais?

b) Quais as conexões percebidas entre os modelos das figuras planas e espaciais?

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4.6 Objetivo Geral

Na busca de respostas ao problema e questões de pesquisa, propomos o seguinte

objetivo:

investigar de que maneira os materiais manipulativos construídos auxiliam na

formação de imagens mentais de modelos de figuras planas e espaciais em um aluno com

deficiência visual.

4.7 Objetivos Específicos

Para o desenvolvimento da pesquisa subdividimos o objetivo geral em específicos.

a) Observar se os materiais construídos são facilitadores para a aquisição de habilidades

visuais por parte de um aluno com deficiência visual.

b) Identificar como o manuseio dos materiais manipulativos concretos, desenvolvidos

para o estudo da representação de modelos das figuras planas e espaciais, pode auxiliar

um aluno com deficiência visual na percepção das suas propriedades.

c) Verificar se as propriedades geométricas representadas tanto dos modelos de figuras

planas quanto nos modelos de figuras espaciais, são percebidas e apreendidas por um

aluno com deficiência visual.

4.8 Participantes da Pesquisa

A pesquisa envolveu um aluno que concluiu o ensino médio no ano de 2010 e no ano

de 2012 cursou dois semestres do curso de administração. Atualmente o aluno trabalha como

monitor na Associação dos Cegos e Deficientes Visuais (ACDV) em Santa Maria – RS, onde

auxilia os demais alunos no aprendizado do braille. Em relação a sua deficiência, o aluno

possui cegueira total, perdeu sua visão aos oito anos de idade e atualmente está com dezenove

anos.

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5 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Este capítulo é destinado à apresentação das atividades que foram desenvolvidas para

a coleta de dados da pesquisa.

As dificuldades apresentadas pelos alunos na visualização de sólidos geométricos e

a desmotivação que muitos estudantes apresentam nas aulas de Geometria Espacial

têm levado os educadores a buscarem meios para facilitar o ensino das

propriedades geométricas dos sólidos e para tornar esse ensino mais atrativo e

motivador. (KALEFF; REI, 1995, p. 122).

Pensando em relação a essas dificuldades e com o objetivo de construir um material

inclusivo, é que os desenvolvemos e aplicamos nas atividades a seguir.

As atividades com o aluno teve como foco principal verificar, em um primeiro

momento, as propriedades perceptíveis nas representações das figuras planas: quadrado

retângulo e triângulo equilátero, isósceles e escaleno.

No segundo momento apresentamos os materiais para que o aluno pudesse verificar as

propriedades perceptíveis nos modelos de figuras espaciais: prismas com bases triangulares

equiláteras, isósceles e escalenas, além do cubo e paralelepípedo.

5.1 A oficina

A oficina ocorreu na sala de aula da Associação dos Cegos e Deficientes Visuais

(ACDV) em Santa Maria-RS, com duração de aproximadamente duas horas.

Na primeira parte, foi realizada a entrevista com o aluno. Com ela pretendemos

identificar seus conhecimentos prévios por meio de atividades com materiais manipulativos

concretos industrializados e disponíveis no mercado.

Na segunda parte da oficina, realizamos as atividades com os materiais construídos

para essa pesquisa.

5.2 Caracterização dos materiais

Para a entrevista, inicialmente, utilizamos um material em Etileno Vinil Acetato

(EVA), no qual existem recortes de representações de figuras geométricas. São elas: círculos,

triângulos equiláteros, retângulos e quadrados, contendo também modelos vazados. O

material onde as representações se encaixam possui dimensões de 18,5 cm de largura, 13 cm

de comprimento e 0,5 cm de espessura.

Ao utilizarmos os termos figuras geométricas, citados antes, nos referimos às regiões

poligonais, ou seja, não trabalhamos com o círculo. Fazem parte dessas regiões todos os

pontos que estão entre os segmentos de reta que delimitam os polígonos, pois posteriormente

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trabalhamos apenas com regiões poligonais. Como exemplo para representar polígonos há os

modelos vazados (figuras 1 e 2) e para representar as regiões poligonais os modelos não

vazados (figura 1 e 2).

Figura 1 - Encaixes de modelos geométricos em EVA.

Figura 2 - Encaixe de modelos geométricos em EVA.

Na sequência, apresentamos o material em acrílico onde estão representados os sólidos

geométricos (por suas superfícies) sendo eles dois prismas com bases triangulares, dois

paralelepípedos e um cubo. Os modelos possuem um orifício em uma de suas faces pelo qual

o aluno pode abrir o sólido, retirando uma delas.

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Figura 3 - Modelo de paralelepípedo com furo numa face.

Figura 4 - Modelo de prisma com base triangular e com furo numa face triangular.

Figura 5 – Modelo de Cubo com furo numa face.

Na segunda parte da oficina foram utilizados materiais desenvolvidos pelo

investigador, de construção com baixo custo.

Para os exercícios que envolveram geometria plana o material construído foi todo

desenvolvido em papelão do tipo paraná, cola, palitos de bambu e pinos de metal (figura7).

Os materiais foram denominados da seguinte forma de encaixes:

peças quadradas;

peças retangulares;

peças triangulares equiláteras;

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peças triangulares isósceles e

peças triangulares escalenas.

Para que conseguíssemos uma peça mais consistente, utilizamos duas folhas de

papelão coladas e no centro de cada folha fizemos os recortes que representam as figuras da

geometria plana, obedecendo às suas propriedades. Esse material foi utilizado para verificação

quanto às igualdades ou desigualdades dos lados de cada representação geométrica. Os pinos

de metal foram empregados para fazer rotações das figuras.

O segundo material, denominado reflexão de ângulos de peças quadradas e

retangulares, foi construído utilizando novamente duas folhas de papelão do mesmo tipo e

com o recorte das formas geométricas no centro de cada folha. Porém, nesse material, por

entre as duas folhas e atravessando a peça que representa o quadrado e o retângulo (figura 10),

passamos um palito de bambu, para que o aluno consiga reflexionar os ângulos como

anteriormente descrito.

Para cada representação, ou seja, para o quadrado e para o retângulo desenvolvemos

dois materiais, um com o palito de bambu atravessando a peça na parte inferior e superior,

para que os ângulos que se encontram à esquerda do aluno possam ser refletidos nos ângulos

que se encontram à sua direita e a outra com o palito de bambu atravessando a peça no sentido

inverso, ou seja, atravessando os lados direito e esquerdo (figuras 8 e 10). Dessa maneira os

ângulos inferiores podem ser refletidos na parte superior do material.

O material denominado reflexão de ângulos foi desenvolvido para trabalhar apenas

com a representação de quadrado e retângulo pelo fato de acreditarmos que, com o material

encaixe de peças triangulares equiláteras, isósceles e escalenas seja possível verificar

propriedades perceptíveis nessas representações.

Para as atividades que envolvem a geometria espacial, o material foi desenvolvido em

compensado com a espessura de aproximadamente 2 cm de espessura (figura 6). Foram

desenvolvidos os seguintes sólidos geométricos:

cubo;

paralelepípedo;

prisma triangular com base triangular equilátera;

prisma triangular com base triangular isósceles e

prisma triangular com base triangular escalena.

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Além dos sólidos, foi construída uma plataforma para que o aluno pudesse encaixá-los

e verificar suas igualdades ou desigualdades em relação aos lados das faces, fazendo assim a

relação com os modelos anteriormente trabalhados.

Figura 6 - Plataforma de encaixe de sólidos geométricos.

Os sólidos desenvolvidos para essa atividade diferem dos modelos em acrílico

apresentados anteriormente, (figura 7), pois foram escolhidos para a atividade 2 modelos

vazados, ou seja, possuem apenas as faces formando uma espécie de esqueleto dos sólidos,

para que o aluno possa abrir a figura e verificar que o modelo em questão possui um interior.

Nos modelos em compensado, escolhemos uma construção de sólidos maciços, para que o

aluno trabalhasse com os encaixes e também percebesse que, apesar das diferenças, ambos

são modelos de figuras da geometria espacial. Para trabalhar com o cubo, desenvolvemos um

material com quatro regiões quadradas em que o aluno pode encaixá-las por meio de velcros

(figura 14). O objetivo é que o aluno perceba que em um cubo temos uma união de vários

quadrados, relacionando assim as Geometrias plana e espacial.

Veremos a seguir o detalhamento das atividades da pesquisa.

5.3 Atividades

Atividade 1 - Atividades com encaixe de modelos geométricos em EVA

A atividade que desenvolvemos com esse material, foi em forma de entrevista, pois

por meio dela é que objetivamos identificar os conhecimentos prévios do aluno em relação ao

assunto, no caso, a geometria plana. Esperamos que ele relatasse as propriedades perceptíveis

nos modelos apresentados com o manuseio do material; ressaltamos que nesse momento da

pesquisa nenhuma propriedade foi descrita ao aluno.

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Atividade 2 - Atividades com sólidos geométricos em acrílico

O objetivo desta etapa, assim como na atividade anterior, é que o aluno descrevesse o

que seu conhecimento prévio lhe permitisse perceber e assim pudéssemos identificar tais

conhecimentos para relacionar, posteriormente, de que maneira os materiais auxiliariam no

aprendizado de propriedades existentes nos modelos que fossem apresentados durante a

oficina.

A partir da atividade 3, descrevemos como as atividades com os materiais construídos

podem ser conduzidas. As mesmas atividades foram aplicadas ao aluno investigado, no

entanto a descrição de como foram realizadas encontram-se na análise das atividades

desenvolvidas, item 6.

Atividade 3 - Encaixe de peças quadradas

Para trabalhar com a representação do quadrado, apresentamos o encaixe de peças

quadradas (figura 7). O objetivo da atividade 3 é que o aluno, manipulando o material, busque

propriedades do quadrado, tais como a igualdade de lados.

Figura 7 - Encaixe de peças quadradas.

Solicitamos que desencaixe a peça quadrada e a rotacione de maneira que

consiga concentrar-se acompanhando, durante a rotação da figura, apenas um

dos lados da representação do quadrado. Esperamos que o aluno perceba que o

lado no qual se concentrou, utilizando seu tato, se encaixa em todos os demais

lados da placa de encaixes. Repetirá o movimento para alcançar o objetivo da

atividade, ou seja, a igualdade das medidas dos lados do quadrado.

O aluno deve verificar as igualdades dos ângulos da região quadrada.

Utilizando o material reflexão de ângulos de peças quadradas (figura 8), girar o

palito e, assim, reflexionar, primeiramente, os ângulos que estão à sua esquerda

nos ângulos à sua direita ou vice-versa.

Após, reflexionar os ângulos da parte inferior na parte superior ou vice-versa.

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Figura 8 - Reflexão de ângulos em peças quadradas.

Com a verificação do encaixe de todos os ângulos, esperamos alcançar a hipótese

inicial de que o quadrado possui os quatro ângulos de mesma medida.

Atividade 4 - Encaixe de peças retangulares

Para a realização dessas atividades com o retângulo, apresentamos como representação

o material encaixe de peças retangulares (figura 9).

Figura 9 - Encaixe de peças retangulares.

Para verificar as propriedades do retângulo em relação aos lados, solicitamos de forma

semelhante ao feito anteriormente, concentrar a atenção, fixando o indicador em apenas um

dos lados, e rotacionar a figura. O objetivo é que o aluno perceba que o encaixe da mesma

ocorre novamente somente quando completa meia volta ou 180º. Assim, supomos que a

propriedade de que os lados opostos no retângulo são congruentes. Para a verificação quanto à

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congruência dos ângulos, utilizamos o material reflexão de ângulos em peças retangulares

(figura 10). Da mesma maneira utilizada antes, o aluno deve fazer uma rotação, usando os

palitos, levando os ângulos esquerdos aos direitos e os inferiores aos superiores e vice versa,

redescobrindo a propriedade de congruência de ângulos no retângulo.

Figura 10 - Reflexão de ângulos em peças retangulares.

Atividade 5 - Encaixe de peças triangulares equiláteras

Para a atividade com triângulo equilátero, utilizamos como representação o material

encaixe de peças triangulares equiláteras (figura 11).

Figura 11 - Encaixe de peças triangulares equiláteras.

A atividade com esse material é semelhante às anteriores, mudando apenas o objetivo

ao qual ela se propõe. Neste caso, obter a igualdade de medidas de lados, como na

atividade 4. Para isso, desencaixar e rotacionar a figura, elegendo um dos lados para

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fixar sua concentração com o dedo e realizar os encaixes. Se perceber que esse lado se

encaixa em todos os outros terá alcançado o objetivo da atividade.

No mesmo material, fazer o seguinte questionamento: para que a figura se encaixe

novamente basta que apenas os lados sejam iguais? Dependendo da resposta,

solicitamos que concentre a atenção num ângulo e tente novamente o encaixe.

Esperamos emergir uma segunda propriedade e que possa ser definido triângulo

equilátero como sendo o que possui congruências de ângulos e lados.

Atividade 6 - Encaixes de peças triangulares isósceles

Para trabalhar com regiões triangulares isósceles apresentamos o material encaixe de

peças triangulares isósceles (figura 12).

Figura 12 - Encaixe de peças triangulares isósceles.

Como nas atividades anteriores, primeiramente solicitamos que o aluno desencaixe e

rotacione a peça triangular concentrando-se em um dos lados. Supomos que o aluno

perceba que a figura somente se encaixará novamente ao chegar à posição inicial, não

podendo assim ainda chegar à conclusão alguma, pois o triângulo em questão pode ser

tanto isósceles, quanto escaleno.

Solicitamos se fixar num ângulo disposto à esquerda e reflexionar esse ângulo no que

está à sua direta, o que caracteriza a igualdade dos ângulos em questão. Na sequência

da atividade, haja vista que o material se encaixa novamente somente em uma posição,

diferentemente do que acontece com o triângulo equilátero, observamos se o aluno

consegue perceber essa característica do material modelando um triângulo isósceles.

Atividade 7 - Encaixe de peças triangulares escalenas

Para a representação de triângulo escaleno trabalhamos com o material Encaixe de

peças triangulares escalenas (figura 13).

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Figura 13 - Encaixe de peças triangulares escalenas.

A atividade é uma reprodução da anterior, somente mudando o material. Esperamos

que o aluno perceba que a figura somente se encaixará na posição inicial, não podendo

ainda chegar a nenhuma propriedade da figura em questão.

Reflexionar o ângulo que está em uma posição à sua esquerda no ângulo que está à sua

direita. Supomos que o aluno perceba que a figura não se encaixe e dessa maneira

chegue à conclusão de que o triângulo em questão se trata de um escaleno pelo fato de

existir desigualdade em relação a todos os lados e também a todos os ângulos.

As atividades precedentes buscam identificar regiões planas, mesmo utilizando peças

em formato tridimensional. Preocupamos-nos, até então, em analisar apenas a face superior da

peça encaixante em relação à de encaixe, sem nos atermos às faces laterais das constituídas

pela espessura do material utilizado. Essa espessura existe, mesmo que pequena, como numa

folha de papel, que depende da gramatura. Nossa intenção estava na identificação de

polígonos e regiões poligonais no plano.

A seguir, faremos exploração de objetos espaciais, na intenção de identificação de

alguns sólidos geométricos e suas propriedades.

5.4 Explorando sólidos

Para que possamos observar se o aluno, após reconhecer propriedades existentes nas

figuras planas, consegue fazer uma conexão identificando a presença dessas figuras nos

prismas construimos as peças em madeira que servem para nossa investigação.

É nossa intenção, a partir das atividades que se sucedem, investigar se o aluno percebe

diferenças entre o que realizou na identificação de figuras planas com espaciais. Como os

lados dos polígonos anteriores passam a constituir as arestas dos sólidos e, para buscar

identificar diferentes medidas dessas arestas, utilizamos uma plataforma de encaixe (figura 6)

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para os sólidos. Com isso, esperamos que perceba e relacione aquelas propriedades de cada

figura plana com as espaciais.

Atividade 8 – Cubo

Para a verificação das propriedades no cubo, utilizamos a ideia de uma união de vários

quadrados congruentes, o que é desenvolvido no material “construindo um cubo” (figura 14).

Figura 14 - Construindo um cubo.

Incialmente, solicitamos ao aluno para refletir sobre o que aconteceria se

colocássemos várias regiões quadradas congruentes sobrepostas. Dessa maneira

esperamos que o aluno explique como se forma sua imagem mental do objeto

produzido por essa ação.

Em seguida, partindo do mesmo princípio, pedimos que, por meio dos encaixes,

construa o sólido (figura 15).

Figura 15 – Cubo.

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Para verificar as congruências das faces desse sólido solicitamos que o encaixe na

plataforma e tente novamente encaixar todas as faces do sólido, como mostrado na

figura 16.

Figura 16 - Encaixe do cubo.

Esperamos, dessa maneira, que o aluno perceba o encaixe de todas as faces,

caracterizando assim o sólido geométrico como cubo.

Atividade 9 - Paralelepípedo

Para a atividade com o modelo de paralelepípedo, utilizamos a mesma ideia

apresentada para construir um cubo, porém agora com regiões retangulares já coladas (figura

17).

Figura 17 - Paralelepípedo.

Esperamos ser percebida, como propriedade do paralelepípedo, a igualdade de lados

opostos, ou seja, agora estão presentes nas faces que são regiões retangulares. Para isso o

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aluno utiliza a plataforma de encaixe (figura 18) e encaixa o sólido. Sucessivamente, deve

tentar o mesmo, com todos os outros lados.

Figura 18 - Encaixe de paralelepípedo.

Atividade 10 - Prisma de base triangular (triângulo equilátero)

No primeiro caso de prisma com base triangular, utilizamos uma região em forma de

triângulo equilátero (figura 19) e, para representar a congruência de lados, a plataforma de

encaixe (figura 20).

Figura 19 - Prisma de base triangular (triângulo equilátero).

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Solicitamos ao aluno que, de maneira semelhante ao feito com encaixe de peças

triangulares equiláteras (figura 11), encaixe o sólido rotacionando-o em três posições

diferentes, concentrando-se em apenas um dos lados.

Supomos, assim, verificar que a base do prisma se encaixará novamente nas três

posições e, relacionando com a atividade plana realizada, perceba que a base triangular em

questão é um triângulo equilátero.

Figura 20 – Encaixe de prisma com base triangular (triângulo equilátero).

Esperamos, também, pela exploração do material, por meio do tato e das experiências

adquiridas anteriormente com as atividades de geometria plana, que verifique existirem duas

faces em formato triangular e três faces retangulares.

Atividade 11 - Prisma de base triangular (triângulo isósceles)

Trabalharemos com triângulos isósceles nas bases (figura 21), materiais com o mesmo

padrão dos trabalhados anteriormente.

Figura 21 - Prisma de base triangular (triângulo isósceles).

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Para verificar a igualdade de dois lados na base com região triangular em questão,

utilizamos novamente a plataforma de encaixe (figura 22) e solicitamos que o aluno trabalhe

com a base do prisma de maneira semelhante ao feito na atividade 6 (figura 12).

Figura 22 - Encaixe de prisma triangular (triângulo isósceles).

Esperamos, assim, que o aluno perceba a presença de duas faces triangulares isósceles

e, além disso, utilizando suas experiências anteriores advindas das figuras planas, que também

estão presentes nessa representação prismática três faces retangulares.

Atividade 12 - Prisma de base triangular (triângulo escaleno)

Figura 23 - Prisma triangular escaleno.

Nesse prisma (figura 23), o objetivo é que o aluno, utilizando a plataforma de encaixe,

juntamente com sua experiência adquirida em geometria plana, perceba a desigualdade dos

lados da base triangular, caracteriza-a como um triângulo escaleno.

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Figura 24 - Encaixe de prisma triangular (triângulo escaleno).

Esperamos ainda que o aluno perceba, no prisma em questão, a existência de duas

faces triangulares escalenas e três faces retangulares.

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6 ANÁLISE DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Os dados coletados durante a aplicação das atividades são apresentados e analisados a

seguir.

Antes de começar a atividade propriamente dita, por meio de um diálogo com o aluno,

solicitamos que ele descrevesse como foi sua trajetória escolar. O aluno relata, dentre diversos

pontos, que durante o ensino fundamental teve muita dificuldade em sua aprendizagem. Ele

não recebia nenhum tipo de material adaptado às aulas de matemática, foco em questão.

Relata ainda que os professores esperavam que ele sempre conseguisse “imaginar” uma

determinada situação e dessa maneira assimilasse a matéria dada em sala de aula. Esse relato

do aluno participante da pesquisa confirma o que escreve Ferreira e Ferreira (2007, p. 39)

apresentado anteriormente.

Em relação à sua trajetória escolar, o aluno diz que a situação melhorou no ensino

médio, pois na escola onde cursou esse nível de ensino, havia uma professora responsável por

lhe dar suporte em sua aprendizagem. Segundo o aluno, ela solicitava à professora de

matemática a construção de materiais adaptados. Ele ressalta o uso do recurso Geoplano como

material de apoio constante por parte da professora nas aulas de matemática. A situação

descrita confirma exatamente as ideias de Schuhmacher e Rosa (2009, p. 747), pois se trata da

necessidade de um aluno com deficiência visual, literalmente, sentir o que está aprendendo

em sala de aula.

Ao ingressar no nível superior, conta ele, que os mesmos problemas do ensino

fundamental voltaram a acontecer. Em áreas diferentes da matemática eram oferecidos

materiais impresso em braille, porém ressalta que em matérias que envolviam cálculos não

recebia nenhum tipo de material adaptado, as aulas eram simplesmente expositivas. Bertolin e

Sankari (2006) sugerem que em uma situação assim como a desse aluno, se deva praticar uma

forma de inclusão.

6.1 Aplicações do instrumento de pesquisa (encaixe de modelos geométricos em EVA)

O primeiro instrumento de pesquisa aplicado, o dos modelos em EVA, teve como

objetivo identificar os conhecimentos prévios do aluno em relação a figuras geométricas

planas. Após a apresentação do material deixamos que o manipulasse e solicitamos que, na

medida em que identificasse os modelos geométricos, fosse relatando suas percepções sobre

ele, no que diz respeito a propriedades, elementos e nomenclatura.

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Figura 25 - Atividade com material em EVA,

O aluno manipulou o material com grande destreza e identificou todos os modelos

geométricos existentes: círculos, quadrados, retângulos e triângulos. Afirmou, ao manipular

um dos triângulos, que o mesmo possuía todos os lados iguais e se tratava de um triângulo

equilátero. Ao manipular as figuras geométricas vazadas (quadrado, retângulo e triângulo) se

referiu como “circunferência do quadrado”, “circunferência do retângulo” e “circunferência

do triângulo”. Pudemos observar que, ao denominar de circunferências das figuras

geométricas em questão, o aluno referiu-se às fronteiras de cada modelo geométrico. Em

relação aos triângulos, questionamos quanto aos tipos existentes. Ele respondeu que se

lembrava do triângulo equilátero, como havia identificado anteriormente; lembrava também

do triângulo do tipo isósceles, que possui dois lados iguais. Entretanto, lembrava que existia

um triângulo cujos três lados eram diferentes, mas não seu nome.

Concluímos, com a realização dessa atividade, que ele conhece propriedades

existentes nos modelos apresentados, porém houve uma dúvida ao manipular o triângulo de

maior área e, posteriormente, o de menor área. Disse suspeitar que o triângulo maior se

tratava de um isósceles, no entanto, não tinha certeza. Esse fato nos motivou ainda mais a

realizar a coleta dos dados, pois as atividades propostas no decorrer da pesquisa visavam

verificar as propriedades dos três tipos de triângulos: equilátero, isósceles e escaleno.

6.2 Aplicações do instrumento de pesquisa (sólidos geométricos)

O segundo instrumento de pesquisa aplicado também teve como objetivo verificar os

conhecimentos prévios de geometria espacial.

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Figura 26 - Atividade com sólidos geométricos.

Foi solicitado que manuseasse os sólidos de maneira semelhante ao feito na atividade

com os modelos em EVA e relatasse suas percepções sobre o material trabalhado.

O primeiro sólido identificado por ele foi o cubo e, ao comentar sobre esse sólido,

disse que era um quadrado de seis lados. Ao manusear o paralelepípedo, o aluno não lembrou

do nome. Orientamos para que ele fizesse uma relação com algo do seu cotidiano, como

sugere D’Ambrósio (1996). Com essa orientação ele responde o seguinte: “algo como se fosse

um tijolo”, e ressaltou não saber o nome do sólido. Ao se referir aos prismas com base

triangular, chamou-os de pirâmides, distinguindo-os por uma pirâmide maior e uma pirâmide

menor. Novamente, ao manusear outro tipo de paralelepípedo se refere como um tijolo, porém

maior que o anteriormente manuseado. Ao verificar que os sólidos possuíam orifícios nos

quais ele poderia abrir os modelos, retirando parte do objeto, o aluno fez relações com uma

piscina e uma caixa d’água. Diz que poderíamos enchê-los, porém não lembrou sobre

capacidade de volume dos sólidos, quando questionado a respeito.

Pudemos concluir dessa investigação inicial que o aluno teve contato com o tema

geometria espacial, porém não se lembra das propriedades e nomenclaturas de alguns sólidos

e, ainda, confunde a questão de prismas triangulares e pirâmides.

6.3 Aplicações dos instrumentos encaixe de peças quadradas e reflexão de ângulos

Durante a aplicação desse instrumento, perguntamos se ele conseguia identificar o

modelo de figura que seria trabalhada, ao que ele respondeu: “é um quadrado”. Como

estávamos no início da atividade não confirmamos essa suposição dele. Seguindo os passos

relatados na descrição das atividades (figura 9), o aluno rotacionou a figura e percebeu

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claramente que o lado que estava sendo observado, encaixava-se em todos os lados do

material de encaixe. Expos ao investigador que, como todos os lados se encaixam, eles

possuíam as mesmas medidas. Com isso ele identificou uma propriedade do quadrado, ou

seja, a igualdade dos lados, o que pode ser observado na seguinte frase: “ele encaixa em todos

os lados, todos os lados tem a mesma medida, são iguais”.

Figura 27 - Atividade com o material encaixe de peças quadradas.

Para a verificação das igualdades dos ângulos, o aluno manuseou o material e

identificou, de maneira rápida, que os ângulos que estão embaixo encaixam nos ângulos que

estão na parte de cima, referindo-se aos ângulos inferiores se encaixarem nos ângulos

superiores do material. Da mesma forma, diz que, tanto os ângulos que estão de um lado,

quanto os ângulos que estão do outro lado, se encaixam novamente, referindo-se aos ângulos

que estão à esquerda e à direita do material. Verificou que os ângulos são iguais e, por suas

experiências anteriores, afirma que os ângulos possuem 90º cada um. Relato do aluno sobre o

material quando perguntado o que ele percebia em relação aos ângulos: “os ângulos tanto de

um lado quanto o do outro vão se encaixar perfeitamente, os de cima embaixo e os debaixo

em cima também se encaixam”. Ao final da atividade com esse material perguntamos a qual

conclusão poderia chegar, ao que ele responde “a conclusão é que todos ângulos são iguais”.

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Figura 28 - Atividade com o material reflexão de ângulos.

6.4 Aplicações dos instrumentos encaixe de peças retangulares e reflexão de ângulos

Ao apresentar o material para o aluno, ele novamente identificou o modelo da

geometria plana utilizado nesse momento da investigação, no caso, o retângulo. Solicitamos

que realizasse a atividade da maneira como fora especificada na atividade 4 constante no item

5.3.

Após realizar essa atividade, afirmou “é, não tem como encaixar. Acho que porque um

lado é o dobro do outro”. Conduzindo a atividade, questionamos então como ele poderia se

referir quanto ao momento em que o lado se encaixaria novamente. Respondeu: “encaixa só

no lado oposto, quando der meia volta e isso aconteceu porque os lados opostos são iguais”.

Perguntamos, a seguir, se poderia afirmar que em um retângulo um lado é sempre o dobro do

seu lado adjacente, tendo em vista a sua colocação anterior. Ele refletiu por alguns segundos

e, após manusear mais algumas vezes o material, chegou à conclusão: “não, não, os lados

opostos são iguais, mas pode ser qualquer medida e não sempre o dobro”.

Pudemos observar a importância do uso de um material didático concreto, pois, por

meio dele, o aluno conseguiu tirar conclusões em relação à matéria trabalhada comprovando

assim o que escreve Ksenco, Agranionih e Zanoello (2011).

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Figura 29 - Atividade com o material encaixe de peças retangulares.

Na atividade com o material reflexão de ângulos, pelo fato de já ter trabalhado

anteriormente com material semelhante, porém com um modelo para o quadrado, o aluno

utilizou as mesmas justificativas anteriores. Verificou que os ângulos se encaixaram todos

entre si, o que demostra a congruência de ângulos no retângulo.

Figura 40 - Atividade com o material reflexão de ângulos.

Para fechamento dessa atividade solicitamos que relatasse quais as relações que

poderíamos estabelecer entre retângulos e quadrados. O aluno respondeu que, entre as figuras

em questão, a propriedade comum a ambas é a igualdade dos ângulos, pois tanto no quadrado

quanto no retângulo todos os ângulos medem 90º. No entanto, o que as difere é que no

quadrado todos os lados são iguais e no retângulo a igualdade acontece somente nos lados

opostos. Relato com as palavras dele:

Pergunta: o que você percebeu em relação aos ângulos do retângulo?

Resposta: “acredito também que todos são iguais e valem também 90º”.

Pergunta: e qual é a diferença existente entre quadrado e retângulo?

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Resposta: “dos lados, as medidas dos lados são distintas, no quadrado são iguais e no

retângulo só os lados opostos”.

6.5 Aplicações dos instrumentos encaixe de peças triangulares equiláteras e isósceles

No momento em que aplicamos o material em EVA com o objetivo de verificar os

conhecimentos prévios do aluno, identificamos uma dúvida em relação aos triângulos

equiláteros e isósceles. Em função disso, optamos por aplicarmos os materiais referentes a

esses dois modelos juntamente.

Inicialmente, apresentamos o modelo para triângulos isósceles, por meio do material

encaixe de peças triangulares isósceles (figura 12).

Figura 31 - Atividade com encaixe de peças triangulares isósceles.

O aluno identificou rapidamente que a figura que estava sendo trabalhada se tratava de

um triângulo, porém relatou não saber afirmar ainda qual era o tipo de triângulo. Seguindo o

processo descrito na atividade 6, o aluno identificou que, ao rotacionar a figura, ela somente

se encaixava novamente em uma posição, ou seja, ao se concentrar em apenas um dos lados, a

figura só encaixava novamente após esse lado dar uma volta completa, ou seja, 360º.

Antes de fazer algum comentário ou dar alguma explicação ao aluno, apresentamos o

modelo para figuras triangulares equiláteras, por meio do material encaixe de peças

triangulares equiláteras (figura 11) e solicitamos que realizasse a atividade de acordo com a

descrição na atividade 5. O aluno respondeu, após concentrar-se em apenas um dos lados do

triângulo, que se trata de um triângulo equilátero, pelo fato de um dos lados se encaixar nos

demais. Afirma ainda que, se a figura encaixou novamente, além dos lados seres iguais, no

triângulo equilátero também existe a igualdade dos ângulos.

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Figura 32 - Atividade com o material encaixe de peças triangulares equiláteras.

Já com as respostas em relação ao triângulo equilátero, voltamos às questões do

primeiro triângulo trabalhado (isósceles). Questionamos se ele teria alguma ideia de o porquê

da diferença em relação ao encaixe, se ambos os triângulos causaram a ele certa dúvida em

relação às igualdades dos lados. O aluno expõe que, com a realização da atividade com o

triângulo equilátero, havia ficado claro que o primeiro triângulo trabalhado não havia se

encaixado pelo fato de ter apenas dois lados iguais e ainda que, se tivesse dois lados iguais,

também deveria ter dois ângulos iguais.

Solicitamos que o aluno fizesse rotação dos ângulos, colocando o pino utilizado para

tal, para baixo, e observasse as maneiras possíveis de encaixar novamente o triângulo. Assim,

após realizar a atividade, comprovou que apenas dois ângulos do triângulo em questão eram

iguais.

No entanto, após todas essas conclusões, relatou que lembrou e identificou as

propriedades da figura, porém não se lembrava do nome do triângulo que possui dois lados e

dois ângulos iguais. Assim, expomos que o triângulo, cujas propriedades haviam sido

verificadas, se tratava de um triângulo isósceles.

6.6 Aplicações do instrumento encaixe de peças triangulares escalenas

Em virtude de o aluno já ter verificado propriedades de peças triangulares, durante a

realização da atividade com o material encaixe de peças triangulares escalenas (figura 13), de

maneira rápida ele percebeu que a peça triangular era no formato de um triângulo escaleno.

Afirmou que, além de possuir todos os lados “distintos”, termo utilizado por ele, o triângulo

possui também todos os ângulos distintos. Orientamos que ele seguisse os passos descritos na

atividade 7 para identificar peças triangulares escalenas.

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Figura 33 - Atividade com encaixe de peças triangulares escalenas.

O aluno conseguiu verificar as propriedades que havia relatado no primeiro contato

com o material, a partir das atividades com encaixes de lados e de ângulos. Relata ao final

dessa primeira parte das atividades que, com a utilização de um material com essas

características, fica muito mais prático de se perceber o que é um retângulo, um quadrado, um

triângulo, enfim, modelos da geometria plana. Essas percepções seriam mais difíceis apenas

imaginando e exemplificando. Citou como exemplo o material reflexão de ângulos (figuras 8

e 10) e também os materiais desenvolvidos para trabalhar os modelos triângulos (figuras 11,

12 e 13). Julgou interessante o processo desses materiais.

Os comentários verbais registrados, durante a realização do trabalho, explicitam a

necessidade do uso de materiais manipulativos como auxílio didático para aulas de

matemática para aluno com deficiência visual, em particular. Os relatos vêm ao encontro do

que escrevem Kaleff, Rosa e Votto (2010).

6.7 Aplicações dos instrumentos explorando sólidos

Após a realização das atividades que envolveram os modelos de figuras da geometria

plana passamos a trabalhar com os modelos que envolveram a geometria espacial.

6.7.1 Cubo

Tendo em vista os objetivos de nossa pesquisa, iniciamos a atividade solicitando que o

aluno expusesse, a partir de sua experiência, o que são as geometrias plana e espacial. O aluno

respondeu que “geometria plana como o próprio nome já diz é a geometria que se reflete no

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plano” sobre a geometria espacial o aluno diz que essa geometria “é a que sai do plano, ou

seja, a que toma forma”.

Pedimos que ele refletisse e relatasse sobre o que aconteceria se colocássemos, por

exemplo, várias regiões quadradas sucessivamente sobrepostas umas às outras. Seguindo seu

raciocínio expresso acima em relação às geometrias plana e espacial, respondeu que, a partir

do momento em que pegamos uma coleção de regiões quadradas congruentes como sugerido

e empilhamos, a imagem é a de uma figura que sai do papel e passa a ter uma forma.

Disponibilizamos o material denominado construindo um cubo (figura 34).

Figura 34 - Atividade com o cubo

Seguindo os passos apresentados na atividade 8, montou o sólido como esperávamos

sem ser auxiliado em momento algum e identificou exatamente todos os procedimentos que

deveriam ser adotados para a construção do sólido geométrico. Após o sólido montado, as o

aluno relata o seguinte: “o que posso te dizer q o cubo tem os lados todos iguais” solicitamos

que ele, utilizando a plataforma de encaixe (figura 6), fosse encaixando os lados do sólido, um

por vez.

Após esse procedimento relatou: “os lados se encaixam novamente são todos iguais,

congruentes”, e segue enfatizando a particularidade que “o cubo possui todos os seis lados

iguais”. Tendo em vista a linguagem matemática correta, questionamos como se denomina o

que ele está se referindo como “lado” do cubo? Resposta: “deixa eu lembrar....altura?...não

lembro”. Aproveitamos esse momento para relembrar que um prisma é formado por base,

altura, vértices, arestas e faces laterais. O aluno verificou que, no modelo de cubo utilizado

para essa atividade, existem seis faces iguais, as arestas são o que o aluno em um primeiro

momento chamou de “quinas”. Ressaltamos ainda que essas “quinas” são as intersecções

entre duas faces. Disse haver oito vértices, os quais em um primeiro momento identificou por

“ponta”. Ressaltamos que os vértices são as intersecções entre três arestas.

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Pudemos notar que o aluno demonstrou uma empolgação e um interesse muito grande

em realizar a atividade durante a aplicação do material, o que se confirmou ao término da

mesma, pois ele relatou que durante o seu aprendizado não havia tido a oportunidade de fazer

as relações entre quadrado e cubo, aliás até os dias atuais quando ouvia falar em cubo sempre

imaginava um quadrado. Desta maneira fica evidente para nós que o aluno conseguiu fazer

uma relação entre a figura da geometria plana (quadrado) e da geometria espacial (cubo) e.

ainda, que a imagem mental ou visualização, citada por Leivas (2009), criada pelo aluno

condiz com a figura da geometria espacial.

6.7.2 Paralelepípedo

Para a atividade com o paralelepípedo, seguimos os passos da atividade 9. Ao

apresentarmos o material, o aluno que, nesse momento já conhecia as nomenclaturas em

relação a um sólido geométrico o identificou rapidamente e relatou que nas bases do

paralelepípedo as faces são formadas por retângulos.

Figura 35- Atividade com o paralelepípedo.

No entanto, novamente como na atividade anterior, o aluno disse não se lembrar do

nome desse sólido formado por retângulos.

Com o objetivo de fazer com que ele buscasse experiências do seu cotidiano,

solicitamos que fizesse uma relação com algo encontrado no seu dia-a-dia e, novamente,

como em outro momento da pesquisa, o aluno citou um tijolo. Para que pudéssemos chegar ao

nome do sólido, de maneira descontraída, sugerimos que ele se lembrasse de uma pedra muito

utilizada na cidade de Santa Maria nos calçamentos nas ruas da cidade. Ao citarmos esse

exemplo o aluno prontamente lembrou-se do nome paralelepípedo. Nesse momento

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questionamos: o que é um paralelepípedo? Respondeu: “é um retângulo na forma de

geometria espacial”.

Para que pudesse verificar as igualdades das faces opostas utilizamos a plataforma de

encaixe (figura 6). Ele conseguiu perceber claramente que apenas os lados opostos se

encaixavam novamente, então concluiu que no modelo de paralelepípedo, além das faces

serem retângulos, as opostas são iguais. Identificou, de maneira semelhante ao feito com o

cubo, as arestas e os vértices no paralelepípedo.

Desde o momento em que o questionamos sobre geometria plana e espacial, e

posteriormente apresentamos a ideia dos materiais denominados construindo um cubo e

paralelepípedo, pudemos observar que formulou suas respostas seguindo sua experiência

pessoal e, após redescobrir propriedades e nomenclaturas, o aluno adquiriu esse novo

conhecimento e o trouxe para sua experiência de não vidente, criando a sua conceituação em

relação à matéria dada. Essas descrições se enquadram nas ideias de Piaget, pois segundo

Viana (2000, p. 28):

[...] essa interação com o ambiente se daria através de ações com o material. Essa

ação não seria apenas física, pois, mesmo ao manipular um objeto, ou observar um

desenho, o aluno poderia estabelecer uma série de relações (e, portanto, ações

mentais) que o ajudariam na obtenção do conhecimento físico sobre tais objetos. O vértice do cubo feito de vidro, por exemplo, pode “furar a pele” (por que uma agulha

também é pontuda e fura), a aresta pode “cortar” (por que uma faca também corta), a

face dele é “lisinha” e o cubo pode assentar na mesa, pode escorregar, mas não pode

rolar.

Ainda em relação às ideias de Piaget, a autora afirma que:

[...] é na ação sobre os objetos e na coordenação dessas ações que os conceitos

geométricos são formados pelos alunos. É desde a tomada de contato perceptiva que

se manifesta esta ação, sob a forma de uma atividade sensório-motriz que regula as

percepções. [...] O tipo de operação que o aluno pode realizar depende do seu

desenvolvimento (p. 29).

Dessa maneira concluímos, nessa etapa da pesquisa, que o aluno utilizou suas

experiências e, ao deparar-se com novos conhecimentos, utilizou tais experiências para sua

conceituação em relação aos modelos de figuras geométricas trabalhados.

6.7.3 Prisma de base triangular (triângulo equilátero)

Para a aplicação dessa atividade, seguiremos os passos da atividade 10, como ilustrado

na figura 36, a qual ilustra o investigado realizando a atividade com o material.

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Figura 36 - Atividade com prisma de base triangular (triângulo equilátero).

Ao apresentarmos o prisma de base triangular ao aluno, ele o manuseou e o identificou

da seguinte forma, “nessa face da base eu tenho da geometria plana um triângulo e da

geometria espacial uma pirâmide”, notamos que o aluno faz certa confusão entre um prisma

triangular e uma pirâmide. Expomos, de maneira sucinta, uma diferença básica, na qual em

uma pirâmide temos um ponto no espaço ligado aos vértices de uma região poligonal

localizada em um plano.

Para que ele pudesse perceber o tipo de triângulo existente na base desse prisma,

utilizamos a plataforma de encaixe (figura 6) e realizamos a atividade de maneira semelhante

à descrita na atividade 5 (encaixe de peças triangulares equiláteras). Ele percebeu e relatou de

maneira espontânea que o triângulo das bases desse prisma se tratava de um triângulo

equilátero.

Questionamos quantas faces existiam no prisma. Foi respondido que existiam duas

faces triangulares. Perguntamos quais figuras da geometria plana formavam as demais faces?

Em um primeiro momento respondeu que as demais figuras se tratavam de quadrados.

Questionamos se ele poderia afirmar se essas faces se tratavam de quadrados? No momento

desse questionamento a aluno continuava, por meio do tato, observando a figura e respondeu:

“desculpa, essa figura é um retângulo”. Fica evidente para o investigador que o aluno

conseguiu identificar o que esperávamos e atingiu o objetivo que havíamos traçado. Percebeu

que no prisma de base triangular que estava manuseando existem duas bases triangulares

equiláteras e as demais faces são formadas por retângulos, totalizando cinco faces. Identificou

ainda as arestas e vértices que formam o sólido.

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6.7.4 Prisma de base triangular (triângulo isósceles)

Para o desenvolvimento dessa atividade seguimos a orientação da atividade 11. A

figura 37 ilustra o aluno percorrendo com os dedos o material que lhe fora entregue.

Figura 37 - Atividade com prisma de base triangular (triângulo isósceles).

Durante a presente atividade, o aluno estava com as propriedades latentes pelo fato de

ter recém trabalhado com um prisma de base triangular.

Isso ficou evidente, pois ao apresentarmos o material, sem hesitar, ele respondeu que o

modelo do sólido em suas mãos se tratava de um prisma triangular e, ainda, sua base era

formada por um triângulo do tipo isósceles. Expôs ter verificado isso ao utilizar a plataforma

de encaixe, pois além do sólido se encaixar em uma só posição, ele poderia refletir o ângulo

da face triangular invertendo a base do sólido e encaixando novamente.

Por meio desse manuseio e ter seguido os passos sugeridos na atividade, verificou as

igualdades de apenas dois ângulos e, por consequência, a igualdade de duas arestas.

Identificou também, nesse modelo de prisma, ser formado por três faces retangulares e duas

triangulares, e estas no formato de triângulos isósceles.

6.7.5 Prisma de base triangular (triângulo escaleno)

Para a realização dessa atividade seguimos os passos descritos na atividade 12, com o

material constante na figura 38, na qual podemos observar o investigado experimentando os

encaixes das peças triangulares no formato escaleno.

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Figura 38 - Atividade com prisma de base triangular (triângulo escaleno).

Nessa fase o aluno já dominava as técnicas de como realizar as atividades com o

material, bem como as propriedades existentes e verificáveis por meio delas.

Ao apresentar o material ele mesmo seguiu os passos da atividade e somente

comprovou o que já havia suposto antes da atividade. Afirmou que o modelo em questão se

tratava de um prisma de base triangular e, em relação à geometria plana, os triângulos que

formavam as faces das bases do sólido eram do tipo escaleno. Afirmou ainda que o prisma

que estava em seu poder era formado por três faces retangulares e duas faces triangulares,

além de seis vértices e nove arestas.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação inclusiva, após a declaração de Salamanca, faz com que as escolas que a

objetivam venham sofrendo adaptações no decorrer dos anos, porém, em nosso ponto de vista,

de maneira lenta e ainda nos dias atuais não conseguem atender às demandas no que diz

respeito a alunos com Necessidades Educativas Especiais. Entendemos, hoje, por educação

inclusiva uma educação onde todos os alunos têm o acesso aos assuntos trabalhados em sala

de aula, seja qual for a deficiência.

Pensando na direção dos alunos com deficiência visual nas aulas de matemática,

notamos ser indispensável o uso de recursos didáticos concretos, possibilitando ao aluno

literalmente sentir o que está sendo falado e apresentado pelo professor. Em consequência, tal

material deve se tornar eficaz também a um aluno vidente, caracterizando assim o recurso

didático como um material inclusivo.

Nesse sentido essa pesquisa foi realizada com o objetivo de desenvolver alguns

materiais de baixo custo para trabalhar modelos de figuras das geometrias plana e espacial,

com alunos com deficiência visual e, dessa maneira, despertar interesse tanto nos alunos

quanto nos professores ao trabalhar geometria na sala de aula regular. A pesquisa foi

desenvolvida sob o seguinte problema de pesquisa: de que maneira é possível alunos com

deficiência visual construírem conceitos por meio de materiais manipulativos?

Com os dados coletados percebemos, durante a oficina para identificar os

conhecimentos prévios do aluno, item 6.1 - Aplicações do instrumento de pesquisa encaixe de

modelos geométricos em EVA, que ele conhecia as figuras elementares das geometrias plana

e espacial. No entanto, ao trabalharmos com elementos da segunda o aluno destacou algumas

dúvidas e confusões em relacionadas a essas geometrias. Para tais dúvidas julgamos o

material desenvolvido de extrema importância em sua compreensão.

Durante as atividades que se seguiram, pudemos observar que o aluno possuía vários

conhecimentos em relação às figuras planas e espaciais, porém por meio do material

conseguia de maneira clara perceber onde estavam suas dúvidas de forma independente, sem

nenhuma intermediação por parte do professor. Essa situação aconteceu, por exemplo, quando

ele trabalhou com triângulo equilátero e posteriormente isósceles, item 6.2 - Aplicações do

instrumento de pesquisa (sólidos geométricos), pois antes das atividades apresentou dúvidas

ao reconhecer os dois modelos de triângulos de maneira separada. No entanto, ao realizar a

atividade com os materiais, o aluno percebeu as igualdades entre lados e ângulos que ambas

as figuras possuem e as diferem.

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Em relação aos objetivos específicos, observamos para o primeiro item: observar se os

materiais construídos são facilitadores para a aquisição de habilidades visuais por parte de um

aluno com deficiência visual, que o aluno obteve uma aquisição de habilidades visuais, pois

em seus relatos ele afirmou, por exemplo, que antes da realização das atividades dessa

pesquisa, quando ouvia falar em cubo, ele imaginava um quadrado e a partir da realização da

atividade 8 (Cubo), passou a compreender as diferenças e relações entre os dois modelos.

Com o decorrer das atividades ficou evidente que os materiais foram essenciais para a

percepção das propriedades dos modelos em questão. Podemos citar como exemplo o item 6.3

- Aplicações dos instrumentos encaixe de peças quadradas e reflexão de ângulos, em que o

aluno reconhece de maneira independente as propriedades do quadrado em relação a lados e

ângulos. Em relação ao segundo item: identificar como o manuseio dos materiais

manipulativos concretos, desenvolvidos para o estudo da representação de modelos das

figuras planas e espaciais, pode auxiliar um aluno com deficiência visual na percepção das

suas propriedades, observamos que o aluno se motivou a cada atividade desenvolvida na

confirmação de propriedades que ele não lembrava ou na descoberta de novas propriedades e

nomenclaturas como o que ocorreu também na atividade 8 (Cubo) com as nomenclaturas

corretas faces, arestas e vértices. Em relação ao terceiro item: verificar se as propriedades

geométricas representadas tanto dos modelos de figuras planas quanto nos modelos de figuras

espaciais, são percebidas e apreendidas por um aluno com deficiência visual, pudemos

observar que o aluno teve êxito na percepção das propriedades geométricas que os modelos

tanto da geometria plana quanto da espacial representaram.

Os dados levantados durante a pesquisa estão de acordo resultados apresentados por

outros pesquisadores como Piaget, por exemplo, pois ao manipular os materiais, acontece uma

iteração com o ambiente, que no caso são as geometrias plana e espacial, e assim o aluno

estabeleceu relações entre ambas.

Constatamos, por meio dos relatos do aluno, ao longo das atividades principalmente

grande dificuldade enfrentada quando não havia a utilização, por parte de seus professores

anteriores, de um recurso didático concreto para o auxílio nas aulas de matemática. O aluno

com deficiência visual sem um material adequado, segundo ele, somente imagina como deve

ser a situação exposta pelo professor e essa “imaginação” muitas vezes não é a maneira

correta.

Como produto dessa pesquisa, organizamos uma videoaula de como pode ser utilizado

o material, ficando como uma sugestão para a utilização por parte dos professores. O material

é disponibilizado em DVD-ROM e no site do curso de Mestrado Profissionalizante em Ensino

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de Física e de Matemática da UNIFRA

http://sites.unifra.br/Default.aspx?alias=sites.unifra.br/fisicamatematica. Neste vídeo

encontra-se uma orientação de como o material foi construído, além das atividades que foram

realizadas com o aluno.

Podemos considerar que os objetivos dessa pesquisa foram alcançados, haja vista que

por meio das atividades, pudemos observar que o aluno as realizou com êxito.

Esperamos, dessa maneira, contribuir com novas pesquisas em relação ao ensino da

matemática para alunos com NEE, em particular para os portadores de deficiência visual, e

assim motivar alunos, professores e escolas que visam promover a educação inclusiva.

Acreditamos, além disso, que este possa ser um passo inicial para novas investigações que

faremos com vistas a aprofundar estudos na área da deficiência visual e um possível

doutorado.

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APÊNDICE

O Produto da dissertação consta de um DVD-ROM.