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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO DE PESQUISA SÓCIO PEDAGÓGICAS PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU “DOCÊNCIA SUPERIOR” O CONSTRUTIVISMO E A EDUCAÇÃO MODERNA SANDRA GONÇALVES GLORIA REIS Rio de Janeiro, Março de 2002.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDESDIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO DE PESQUISA SÓCIO PEDAGÓGICASPÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

“DOCÊNCIA SUPERIOR”

O CONSTRUTIVISMO E A EDUCAÇÃO MODERNA

SANDRA GONÇALVES GLORIA REIS

Rio de Janeiro, Março de 2002.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDESDIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO DE PESQUISA SÓCIO PEDAGÓGICASPÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

“DOCÊNCIA SUPERIOR”

O CONSTRUTIVISMO E A EDUCAÇÃO MODERNA

Sandra Gonçalves Gloria Reis

Monografia apresentada àUniversidade Cândido Mendescomo requisito à obtenção do títulode Docência Superior, sob aorientação do professor Palmiro S.da Costa.

Rio de Janeiro, Março de 2002.

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Agradecimentos

Acima de tudo, agradeço a Deus por estar sempre comigo guiando meus passos.Agradeço a meu pai e minha mãe pelo grande carinho e criação que me deram.Agradeço a meu marido pelo ombro amigo nos meus momentos de stress.Agradeço ainda a meus filhos, que são a grande razão do meu viver.Enfim, agradeço à todos (amigos, alunos, professores e familiares) que de umaforma ou de outra contribuíram para mais etapa de formação em minha vida.

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SUMÁRIO

Resumo .............................................................. 05

Introdução .............................................................. 06

Capítulo I .............................................................. 08

Capítulo II .............................................................. 14

2. 1 Construtivismo na sala de aula ........................... 17

Capítulo III ............................................................... 21

3. 1 Exigências da Nova LDB ....................................... 23

3.2 Princípios e Valores da Educação ........................... 25

Capítulo IV ............................................................... 28

Conclusão ............................................................... 34

Bibliografia ............................................................... 36

Anexos ................................................................ 39

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RESUMO

Este trabalho procura tornar claro a importância da

contribuição do Construtivismo na Educação Moderna, especialmente à

comunidade escolar, levando-a à uma convivência dentro dos termos necessários

para que o educando tenha parâmetros para a construção do conhecimento com

base na autenticidade, no respeito a si e ao próximo, na convivência sadia e

solidária, desenvolvendo valores éticos imprescindíveis à formação do cidadão

autêntico e consciente de si, de seus direitos e responsabilidades perante a

comunidade, a nação e o mundo. Assim sendo, dado a importância do

Construtivismo já que o mundo se depara com a entrada na era do conhecimento,

onde o capital humano ganha cada vez mais espaço, este trabalho se justifica. No

entanto, a educação, apesar de vir aos poucos sofrendo significativas mudanças,

esta ainda se encontra pôr demais tradicional, perdendo a essência criadora

criativa do ser humano. O Construtivismo pode, quando entendido em sua origem,

um forte aliado ao ser humano e sua inerente natureza construtora. Enfim, o

problema deste presente estudo e? Ate que ponto o administrador escolar pode

incentivar o construtivismo na escola?

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INTRODUÇÃO

O Construtivismo chegou ao Brasil de forma discreta, sendo

mencionado por poucos professores que conheciam e pesquisavam esta teoria.

Aos poucos foi se espalhando pelo país de tal forma que hoje é quase impossível

saber quantos professores aplicam esta teoria no seu cotidiano escolar.

Visto o Construtivismo como uma teoria que desvenda os

mecanismos de aprendizagem e que mostra que as crianças e adultos podem

construir juntos novos conhecimentos, pode-se dizer que esta teoria se aplicaria

muito bem a escola atual que tem como característica formar cidadãos críticos,

capazes de modificar a sociedade visando melhoria de vida.

Essa aplicabilidade deve ser feita corretamente, para que não se

deixe cair no modismo e ouvir profissionais relatando ser construtivista e na

prática agir de maneira tradicional.

O trabalho baseia-se nas idéias de Jean Piaget e Vygotsky, grandes

contribuintes da teoria construtivista.

No Capítulo I, será feito um breve histórico sobre a educação.

No Capítulo II se dará uma definição de Construtivismo, suas

característica e importância para a Educação.

Mais adiante, no capítulo III falará do trabalho coletivo na escola,

fazendo-se referências a Nova LDB (Lei nº 9.394/96).

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No Capítulo IV será feito uma explanação sobre como planejar de

forma construtivista, esclarecendo pontos importantes para o profissional se tornar

construtivista.

Finalmente, a conclusão será apresentada.

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CAPÍTULO I

ASPECTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO

Ao fazer a referência a tempos e espaços diferentes dos de hoje,

fica claro e comprovado que a democratização na escola deve ser vista dentro de

um contexto histórico para que se possa entender como ela é hoje, e fazer relações

com a realidade educacional brasileira.

Segundo PHILIPPE ARIÉS (1981, p. 26),

“(...) Na sociedade medieval, que tomamoscomo ponto de partida, o sentimento dainfância não existia – o que não quer dizerque as crianças fossem neglicenciadas,abandonadas ou desprezadas. O sentimento dainfância não significa o mesmo que afeiçãopelas crianças: corresponde à consciência daparticularidade infantil, essa particularidadedo que distingue essencialmente a criança doadulto, mesmo jovem. Essa consciência nãoexistia. Por essa razão, assim que a criançatinha condições de viver sem a solicitudeconstante de sua mãe ou de sua ama, elaingressava na sociedade dos adultos e não sedistinguia mais destes (...)”.

Até o século XVII, as condições gerais de higiene e saúde eram

muito precárias. A fragilidade das crianças pequenas era muito grande, de tal

maneira que essas morriam facilmente. Seus pais não deixavam de ficar

penalizados, mas viam sua morte como fenômeno natural: a criança morta poderia

ser substituída por outra recém-nascida; ao longo de suas vidas, as mulheres

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davam à luz muitos filhos, tendo como certo que muitos deles não sobreviveriam

à primeira infância.

As crianças que conseguiam atingir uma certa idade só passavam a

ter uma identidade própria, a ser consideradas como indivíduos na comunidade

social, quando conseguiam fazer coisas semelhantes àquelas realizadas pelos

adultos, com os quais estavam então misturadas.

“A partir do fim do século XVII, umamudança considerável alterou o estado decoisas que acabo de analisar. Podemoscompreendê-la a partir de duas abordagensdistintas. A escola substituiu a aprendizagemcomo meio de educação. Isso quer dizer que acriança deixou de ser misturada aos adultos ede aprender a vida diretamente, mediantereticências e retardamentos, a criança foiseparada dos adultos e mantida à distâncianuma espécie de quarentena, antes de ser soltano mundo. Esta quarentena foi a escola, ocolégio. Começou então um longo processo deenclausuramento das crianças (como dosloucos, dos pobres e das prostitutas) que seestenderia até nossos dias, e ao qual se dá onome de escolarização”.Essa separação – e essa chamada à razão –das crianças deve ser interpretada como umadas faces do grande movimento demoralização dos homens, promovido pelosreformadores católicos ou protestantes ligadosà Igreja, às leis ou ao Estado”.

( Philippe Ariés, 1981, p. 28).

Neste período, definiram-se os rumos da educação que visava,

antes de tudo, corrigir as crianças, que, acreditava-se, nasciam sob o estigma do

pecado, e guiá-las para o caminho do bem.

Entre os moralistas e os educadores do século XVII, formou-se o

sentimento de infância que viria a inspirar toda a educação até o século XX:

passou-se a ter interesses psicológicos e preocupações morais em relação às

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crianças. Era preciso conhecê-las melhor para, assim, poder corrigi-las. Tentava-

se penetrar na mentalidade das crianças, consideradas, então, testemunhas da

inocência batismal, semelhantes aos anjos, para melhor adaptar a seu nível os

métodos de educação.

No século XVIII, via-se a criança como um ser primitivo,

irracional, não-pensante. Atribuía-se a ela modos de pensar e sentimentos

anteriores à lógica e aos bons costumes. Era preciso educá-la para desenvolver

nela o caráter e a razão – traços que estavam fora dela, nos adultos.

Na realidade, não podendo compreender as pequenas criaturas

naquilo que as caracterizava, instituía-se um padrão adulto para estabelecer

julgamentos. No lugar de procurar entender e aceitar as diferenças e semelhanças

das crianças, a originalidade de seu pensamento, pensava-se nelas como páginas

em branco a serem preenchidas, preparadas para a vida adulta.

“Tratava-se de despertar na criança aresponsabilidade do adulto, o sentido de suadignidade. A criança era menos oposta aoadulto ( embora se distinguisse bastante delena prática) do que preparada para a vidaadulta. Essa preparação não se fazia de umavez só, brutalmente. Exigia cuidados e etapas,uma formação. Esta foi a nova concepção daeducação, que triunfaria no século XIX”.

(Philippe Ariés, 1981, p. 30).

Se na época medieval a vida era basicamente rural, e apenas a

aristocracia e o clero – que cuidava da manutenção da vida espiritual e religiosa –

tinham aceso à cultura e à educação, com a expansão do comércio e a formação de

uma outra classe social – os comerciantes – as coisas começaram a mudar.

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A expansão do comércio fez com que essa classe fosse

conquistando cada vez mais poder político, opondo-se à aristocracia (reis, rainhas,

duques, barões, etc., senhores das terras e da maior parte das riquezas). Esse

movimento culminou com a Revolução Francesa, quando as pessoas do povo e os

comerciantes tomaram de assalto as instituições aristocráticas. O marco desse

movimento é a Queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789. A classe social que

realizou esse movimento é a que chamamos de burguesia. ( a palavra burguesia

vem de burgos: significa cidade).

Para os burgueses, a educação dos filhos tornou-se muito

importante, na medida em que, sem formação, e sem conhecimentos adequados,

os futuros adultos não poderiam levar à frente os estabelecimentos comerciais que

deveriam herdar, nem poderiam conseguir posições sociais mais favoráveis, caso

os pais não as tivessem.

As escolas assumiram então o papel de ponte para o futuro, de

etapa preparatória para a vida e o trabalho, preparando a criança para assumir

funções adultas.

Essa preparação estava vinculada ao lugar que cada criança

ocuparia na sociedade: para os filhos dos burgueses, que ocupariam cargos de

técnicos, administradores, legisladores e intelectuais, destinava-se um ensino mais

longo e aprofundado. Para os filhos dos trabalhadores braçais, que viriam a ser

mão-de-obra da sociedade, destinava-se apenas uma educação básica.

Com o advento da Revolução Industrial (século XIX) e o

crescimento das cidades, tornou-se cada vez maior a necessidade de mão-de-obra

para trabalhar nas indústrias.

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No século XIX, a burguesia podia se considerar vitoriosa. O

capitalismo se implantava em diversos países alterando-lhes a estrutura anterior.

Também do ponto de vista educacional, a questão democrática se afirmou. As

idéias liberais colocavam novas diretrizes e o próprio desenvolvimento econômico

exigia alterações na qualificação dos trabalhadores.

Aos poucos tornou-se consciência que a educação não é apenas

uma questão de quantidade, mas sobretudo de qualidade. As escolas se

multiplicaram mas ainda encontra-se muito as marcas dos tempos passados.

“Com o grande avanço as teorias ligadas àpsicologia do desenvolvimento, a partir doinício do século XX, e a influência das teoriaspsicanalistas, a atenção de professores sevoltava para as necessidades afetivas e para opapel que o professor deveria assumir. (...).Crescia o interesse de estudiosos daaprendizagem pelo conhecimento dos aspectoscognitivos do desenvolvimento, pela evoluçãoda linguagem e pela interferência dosprimeiros anos de vida da criança e o seudesempenho acadêmico posterior”.

(Sônia Kramer, 1984, p. 53).

Autores como Sigmund Freud (fundador da psicanálise), Jean

Piaget (fundador da epistemologia genética) e mais recentemente Lev S.

Vygotsky (evidenciando a natureza social das relações de aprendizagem)

trouxeram uma importante contribuição para a compreensão de aspectos do

pensamento da criança e de sua aprendizagem. Essas contribuições, no entanto,

nem sempre foram bem compreendidas e utilizadas adequadamente para a

formulação de métodos de ensino.

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Ao procurar compreender a situação atual da escola brasileira a luz

deste breve histórico, observa-se que as vertentes básicas ainda persistem em

muitas escolas até hoje.

Fundamentalmente, sejam quais forem os interesses dominantes

numa dada sociedade contemporânea, o sistema escolar ocupa papel importante.

Ele procura formar o tipo de homem necessário à efetivação do modelo de

sociedade que deseja implantar.

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CAPÍTULO II

AS CONTRIBUIÇÕES DO CONSTRUTIVISMO PARA A

EDUCAÇÃO

Um fator importantíssimo para o sucesso de um país, é a Educação

e no Brasil o momento é de mudanças e reconstrução racional do sistema

educacional.

Constata-se ao longo da história que a Escola é a proposta da

formação de indivíduos conscientes e críticos. É a filosofia para o alvorecer de

caminhos e também, enfim, a educação é um dos instrumentos da cidadania que

melhor se presta à transformação social.

Partindo desse pressuposto chega-se então ao Construtivismo e sua

contribuição para a Educação de hoje, ou seja, a Educação Moderna.

A Escola tradicional possui uma abordagem linear ou intuitiva da

relação entre sujeito e objeto, tornando-se assim pouco relacional e também pouco

construtivista.

Analisando pouco a pouco esta escola, pode-se constatar que esta

tem uma abordagem linear porque o professor opera os objetos de ensino, como:

Física, Matemática, Geografia, História, numa perspectiva formal, como

conteúdos que devem ser simplesmente transmitidos ao aluno, sem considerá-lo

na relação com os mesmos. Paralelamente e de formação totalmente dissociada e

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sincrética, a escola justifica o fracasso escolar por características que pertenceriam

à criança: sua debilidade mental, sua história de vida, sua classe social, etc.,

independentemente das formas como os conteúdos escolares são trabalhados, da

relação professor-aluno, da escola enquanto instituição, do professor. Então, ora a

escola opera numa perspectiva em que a criança é responsável, sozinha, por sua

aprendizagem e suas dificuldades, ora o professor é um conferencista que fala

para seus alunos a partir de paradigmas, de alguns exemplos muitas vezes

repetindo as mesmas palavras do livro, não sabendo como interagir, conversar e

trabalhar com eles dentro de um contexto objeto e sujeito que carateriza o

construtivismo.

“A experiência não vem de se ter vividomuito, mas de se ter refletido intensamentesobre o que se fez e sobre as coisas queaconteceram”.

(GANDIN, 1986, p. 43).

Assim, através de um pensamento reflexivo, o construtivismo

surgiu enquanto uma nova forma de se pensar Educação.

Grande parte do corpo docente apresenta dúvidas com relação ao

construtivismo, uma vez que o novo assusta. Assim, a Revista Nova Escola

respondeu algumas perguntas comuns durante um debate sobre o respectivo tema,

valendo apenas ressaltar algumas:

• O que é construtivismo ?

É o nome pelo qual se tornou conhecida uma nova linha

pedagógica que vem ganhando terreno nas salas de aula há

pouco mais de uma década. As maiores autoridades do

construtivismo, contudo, não costumam admitir que se trate de

uma pedagogia ou método de ensino, por ser um campo de

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estudo ainda recente, cujas práticas, salvo no caso da

alfabetização, ainda requerem tempo para amadurecimento e

sistematização.

• O que propõe o construtivismo ?

O construtivismo propõe que o aluno participe ativamente do

próprio aprendizado, mediante a experimentação, a pesquisa em

grupo, o estímulo à dúvida e o desenvolvimento, do raciocínio,

entre outros procedimentos. Rejeita a apresentação, de

conhecimento pronto ao estudante, como um prato feito, e

utiliza de modo inovador técnicas tradicionais como, por

exemplo, a memorização. Daí, o termo construtivismo pelo qual

se procura indicar que uma pessoa aprende melhor quando

toma parte de forma direta na construção do conhecimento que

adquire. O construtivismo enfatiza a importância do erro não

como tropeço, mas como um trampolim na rota da

aprendizagem. O construtivismo condena a rigidez nos

procedimentos de ensino, as avaliações padronizadas e a

utilização de material didático demasiadamente estranho ao

universo pessoal do aluno.

• Com base em que o construtivismo adota tais práticas ?

Com base nos estudos do psicólogo suíço Jean Piaget (1896-

1980), a maior autoridade do século sobre o processo de

funcionamento da inteligência e de aquisição do conhecimento.

Piaget demonstrou que a criança raciocina segundo estruturas

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lógicas próprias, que evoluem conforme faixas etárias

definidas, e são diferentes da lógica madura do adulto. Por

exemplo: se uma criança de quatro ou cinco anos transforma

uma bolinha de massa em salsicha, ela conclui que a salsicha,

por ser comprida, contém mais massa do que a bolinha. Não se

trata de um erro, como se julgava antes de Piaget, mas de um

raciocínio apropriado a essa faixa etária. O construtivismo

procura desenvolver práticas pedagógicas sob medida para cada

degrau de amadurecimento intelectual da criança.

Enfim, estas respostas explicam de forma clara o que é o

construtivismo e como ele se aplica, demonstrando de forma clara que adotar os

pressupostos construtivistas significa contribuir efetivamente para a formação do

cidadão consciente, participativo e crítico, atendendo assim os anseios da

Educação de hoje.

2.1 – O Construtivismo na sala de aula

O Construtivismo chegou ao Brasil há mais de 20 anos, de maneira

discreta, mencionado aqui e ali. Também discretamente, ele se espalhou pelo país

de tal forma que hoje é quase impossível saber quantos educadores se valem da

teoria no seu dia-a-dia escolar. Muitos fizeram a opção pelo construtivismo por

conta própria, alguns até a revelia de seus superiores, de qualquer forma o

construtivismo foi ganhando cada vez mais espaços na comunidade escolar.

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No Brasil, o construtivismo está sendo assimilado num sentido

principalmente psicopedagógico, como uma técnica alternativa, substituta de

outras técnicas. Então, joga-se fora a cartilha e põe-se no lugar dela uma

abordagem. Emília Ferreiro (apesar desta autora ser contra a utilização de suas

pesquisas como um método de alfabetização). Está se empregando aqui o termo

psicopedagógico no sentido do termo, como referido a uma técnica nova, uma

forma diferente de trabalhar em sala de aula. Ora, o construtivismo não é somente

uma prática psicopedagógica – é uma filosofia, uma epistemologia. Ainda que,

para dizer o mínimo, seja uma epistemologia muito importante ao psicopedagogo:

ambos valorizam uma mesma coisa – a interdisciplinariedade; ambos, mutatis

mutandis, valorizam, simultaneamente, as disciplinas que abalizam o sujeito e as

que analisam o objeto.

O que adianta jogar fora a cartilha da criança se não fizer o mesmo

com aquela que está dentro do educando. Mas é preciso jogar fora no sentido

crítico do termo, é claro: a cartilha faz parte da história do educando. Se um

professor alfabetizou durante dez anos pela cartilha, ela faz parte dele e é preciso

que se estabeleça um diálogo entre os dois para que este professor possa

ressignificá-la através de algo que em princípio seria mais relacional, mais

interativo.

O construtivismo está sendo buscado hoje na escola,

compreensivelmente, como uma tábua de salvação. E nesse sentido, se assim

continuar, em breve será descartado. Tem-se um modelo educacional/pedagógico

que se esgotou, por muitas razões. A sociedade mudou, as mães já não passam

mais tanto tempo em casa, não têm mais tanto tempo para relacionar-se com seus

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filhos; a estrutura da família mudou – por bons e maus motivos, não importa: isto

é um dado da realidade. A família, principalmente nos grandes centros, se tornou

pequena, a quantidade das relações com a vizinhança alterou-se. Revoluções

técnicas alteraram as relações dos cidadãos com o trabalho, com a escola, com a

casa. Hoje em dia têm-se uma escola que se pretende para todos. Em resumo, a

escola desempenha, hoje, funções (além das que desempenhava tradicionalmente)

que outrora a família; o espaço cultural mais amplo, a igreja cuidavam. Junto com

isso veio um fracasso escolar, ainda que por motivos diferentes, entre ricos e

pobres. Esgotaram-se procedimentos e soluções pedagógicas tradicionais. O

construtivismo apresentou-se, então, como uma das alternativas para a escola

enfrentar dificuldades de cumprir sua função. Nunca é demais lembrar, neste

sentido, a influência, entre os cidadãos, das pesquisas de Emília Ferreiro e Ana

Tcberosky, como alternativa para uma cartilha que já não mais alfabetizava.

Enfim, o construtivismo é uma proposta psicopedagógica e

filosófica de se operar a relação da criança com o conhecimento, do professor com

o aluno e destes com os conteúdos escolares. É uma proposta de técnica

psicopedagógica, tanto no sentido do termo como em seu sentido amplo. No

entanto, anular todo um conjunto de coisas muito fortes em nossa vida e

ressignificá-las, interagindo com crianças ricas e/ou pobres para as quais o

significado do ler, escrever e contar está se modificando, por diferentes razões, é

uma questão muito problemática para todos. Como repensar formas tradicionais

de avaliação, programação, motivação – aspectos que, bem ou mal, eram

trabalhados, escritos, divulgados, lidos numa certa visão de pedagogia, de ação

pedagógica? Quer dizer, como suportar afetiva, cognitiva e instrumentalmente

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uma revisão destas tradições? E mais que isso: como pagar o preço que tais

mudanças custam? A questão é, assim, muito abrangente, e insiste-se no ponto de

que o construtivismo é uma forma de se ver o conhecimento da qual se deriva

uma prática pedagógica e psicológica, que abre algumas possibilidades de

relações e fecha outras e, como toda opção, marca uma forma de ser professor, de

ser aluno, de fazer escola.

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CAPÍTULO III

PROPOSTA PEDAGÓGICA:

UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA

Observa-se que uma das dificuldades dos profissionais que atuam

na educação escolar é assumir e vivenciar o planejamento como um processo

sistemático de ação, reflexão, ação individual e coletiva voltado para atingir os

objetivos educacionais sugeridos, propostos e mais adequados à escola,

contribuindo assim, para o processo de formação do cidadão.

Os objetivos educacionais devem ser construídos de forma a

orientar o planejamento e a elaboração da Proposta Pedagógica da Escola, de

modo que estimulem uma reflexão teórico-prática sobre o trabalho coletivo,

elemento fundamental para se construir uma escola mais voltada para as

aspirações da comunidade na qual está inscrita, bem como, suficientemente

versátil para ajustar-se e, ao mesmo tempo auxiliar a transformação da sociedade a

que serve.

É fundamental que o objetivo que supõe a formação, o crescimento,

a dinâmica e o aperfeiçoamento do coletivo da escola esteja presente de forma

prioritária no elenco dos valores que norteiam a elaboração da Proposta

Pedagógica da Escola. Como decorrência corpos discentes, docente, de

funcionários, de direção e a comunidade passam a ser vistos como segmentos que

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têm propostas, idéias, sugestões que sejam discutidas e debatidas no planejamento

e não apenas ouvidas.

VALE (1996, p.3) explica que a expressão projeto requer um ato

individual e coletivo e que sua possibilidade operacional só poderia ocorrer a

partir de diferentes inter-relações construtivas: só assim, temos concretamente

uma possibilidade de mudanças.

Construir um trabalho coletivo coerente, articulado e posicionado

na escola é tarefa desafiante que exige empenho, persistência, paciência e crença

naquilo que se quer.

O trabalho coletivo na escola, deve estar voltado para a construção

de um perfil de cidadão, na ótica da educação escolar, que difere, mas interage

com o processo educativo que ocorre na sociedade como um todo. Isto significa

que a escola precisa ter medianamente claro aquilo que espera do seu educando.

Quando se enfatiza a imensa importância de um procedimento

interdisciplinar ao desenvolverem-se os objetivos educacionais que os alunos

devem atingir, fica expresso, a menos que se cometa incoerência que o Projeto

Pedagógico deva ser concebido e elaborado de forma também interdisciplinar,

quando ideais, vivências e experiências dos diferentes sujeitos envolvidos na

proposta interagem dando vida ao processo da escola.

A realização do trabalho coletivo não supõe apenas a existência de

profissionais que atuem lado a lado numa mesma escola, mas também exige

educadores que tenham pontos de partida (princípios) e pontos de chegada

(objetivos comuns).

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3.1 – Exigências da nova LDB

Segundo GANDIN (1986, p. 23),

“Não se pode mudar uma realidade com arapidez com que se concebe uma mudança.São ações e sucessivamente realizadas que vãoconstruindo, no tempo, a mudança maior.Assim, uma prática escolar democrática eparticipativa se estabelece a partir de ações ede estratégicas simples, mas orgânicas, comdireção bem clara”.

A escola necessita construir de forma gradual e orgânica o espírito

coletivo com que poderá viabilizar as novas propostas que a LDB – Leis de

Diretrizes e Bases, dispõe de forma enfática (art. 12, inciso 1): Os

estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de

ensino, terão a incumbência de: I – Elaborar e executar sua Proposta

Pedagógica.

Observa-se, então, que a nova LDB chama a comunidade a

responsabilizar-se pelo destino da escola, compartilhando de seu planejamento e

de sua ação educativa e propõe a co-gestão e convoca pais e professores para

participarem da elaboração de sua proposta pedagógica:

a) A comunidade é um instância fundamental na elaboração das

idéias, valores e conseqüente projeto pedagógico da escola;

b) a gestão democrática e a autonomia escolar é uma exigência

dos tempos;

c) planejar a partir de perspectivas sociais que surgiram adequação

de currículos, atividades pedagógicas, projetos educacionais,

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etc., é outro princípio que os legisladores compreenderam que

devem ser levados em conta com alta eficácia pela escola;

d) a Lei preconiza que todos os sujeitos escolares participem da

elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de

ensino e, em especial, os docentes e a direção para que possam

construir coletivamente o planejamento das atividades escolares

em consonância com o projeto pedagógico proposto e as

normas estabelecidas pelas instâncias superiores;

e) é também fundamental que de forma participativa a direção e

seus docentes, juntamente com o coletivo da escola, aproveitem

todas as possibilidades de desenvolver a democracia sugeridas

pelas normas emanadas dos órgãos oficiais que administram a

Educação.

A Escola de hoje tem muitas razões para, de forma corajosa, buscar

enfrentar os desafios que o momento histórico sugere posto que, a LDB 9394/96

nos artigos 12, 13, 14, 26, dentre outros, e os Pareceres e Resoluções da Câmara

de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação dão sustentação aos

responsáveis pela Educação dos brasileiros nas suas investidas e ousadias que

tenham como finalidade superar o atual estágio em que se encontra a Educação,

cujo nível é motivo de desapontamento para todos.

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3.2 – Princípios e valores da Educação

Muito já se falou, felizmente, de cidadania. A democracia sempre

foi marco fundamental na busca de se atingir um estado cidadão. Por sua vez, a

democracia que tem ricas fundamentações teóricas e retóricas necessita de ser

praticada para que sofismas e ambigüidades não possam confundir o conceito de

uma sociedade democrática.

O exemplo, em geral, é mais eficiente que o discurso para justificar

uma teoria.

Precisam-se impregnar as ações exercidas na escola de valores que

manifestem de forma objetiva, clara e exemplificadora o que se tem de conceito

acerca de cidadania, democracia, coletivo de uma escola e participação

comunitária, para que os educandos não fiquem sujeitos apenas aos efeitos das

ações, mas que aprendam com as próprias ações e que os educadores possam

alicerçar suas convicções ao verem nos atos e compromissos de cada participante

do coletivo um exemplo que justifique e confirme os propósitos que

estabeleceram em um Projeto Pedagógico, pois só a praxis poderá confirmar o

valor da teoria.

É indispensável distinguir uma simples movimentação ou um

conjunto de atividades de um movimento orgânico em que cada ação justifica uma

outra e a completa de forma recíproca.

O que dá consistência a essas ações é o planejamento, o projeto e a

proposta que servem de fio condutor para as idéias que se tornam visíveis

compreensíveis a partir da prática.

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Conselhos de Alunos Representantes, Escolares, de Classe

Participativos e de Professores Conselheiros, bem como, Grêmio Estudantil e

Direção Compartilhada são recursos, que impregnados de uma conceituação

democrática e cidadã, excelentes para viabilizarem de forma coletiva as propostas

de um autêntico Projeto Pedagógico.

O movimento atual da chamada “escola cidadã” está inserido nesse

novo contexto histórico de busca de identidade nacional. Surge como resposta à

burocratização do sistema de ensino, bem como a insensibilidade e indiferença

para com as questões nacionais que deveriam levar em conta as aspirações de

nosso povo.

É nesse contexto histórico que vem se desenhando o projeto e a

realização prática da escola cidadã em diversas partes do país, como uma

alternativa nova e emergente.

Com a aprovação do Parecer CEB n° 04/98 e da Resolução CEB n°

2, publicada no D.O.U. de 15/04/98, onde está normalizada a Base Nacional

Comum: Diretrizes para o Ensino Fundamental, no art. 3o, Parágrafo I:

“As escolas deverão estabelecer comonorteadores de suas ações pedagógicas:Item b) os princípios dos Direitos e Deveres daCidadania, do exercício da criatividade e dorespeito à ordem democrática”.

E ainda no Parágrafo IV afirma que:

“A Base Comum Nacional e sua partediversificada deverão integrar-se em torno doparadigma curricular, que visa a estabelecer arelação entre a educação fundamental e:a) a vida cidadã através da articulação entrevários dos seus aspectos como: a saúde, a

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sexualidade, a vida familiar e social, o meioambiente, o trabalho, a ciência e a tecnologia,a cultura e as linguagens”.

Nesse sentido, a Escola precisa reposicionar-se a fim de elaborar o

seu Projeto Pedagógico de modo a contemplar estas aspirações dos novos tempos,

porém sempre de forma construtiva.

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CAPÍTULO IV

PLANEJAMENTO PARA REALIDADE DE FORMA

CONSTRUTIVISTA

A condição educativa, que vem se produzindo desde finais dos

anos 60, tende a se deter na última parte dos anos 80, e é substituído por um

movimento de recuperação que progressivamente se transforma num profundo

processo de reforma educativa. Ensinar deveria ser entendido como um processo

de provocação das capacidades inatas do indivíduo, trabalhando o seu potencial de

maneira clara e competente.

Para que os objetivos do ensino sejam alcançados, sejam eles gerais

ou específicos, é preciso profetizar acertos que culminarão em dados concretos no

efeito trabalho de ajudar a aprender. A educação é um processo de encontro e a

aprendizagem não deveria conhecer fracassos, pois todos são capazes de aprender,

desde que o ato de ensinar seja o ato de orientar e o resultado do trabalho

educativo seja, com certeza, o bem-estar da comunidade.

A falta de interesse que vemos nos estudantes de todos os níveis,

provém da falta de respeito vinda da proposta pedagógica atual.

Mas o que fazer? Muito simples e barato: descomplicar o sistema

nosso. Paulo Freire, critica a cartilha tradicional, que segundo ele, é um saber

abstrato e pré-fabricado, quando deveria ser um trabalho identificado pelo

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grupo. Basta imaginar um trabalhador que volta cansado, à noite do trabalho,

fazendo cópias das seguintes frases:

- A ave é da Eva.

- Vovô viu a ave.

São frases vazias e sem a mínima chance para a discussão e a

integração do grupo no entanto, se a palavra salário aparecer como geradora de

estudo, o operário discutirá o assunto, espontaneamente, pois aí a educação torna-

se consistente e significativa para o aluno, ultrapassando os limites da sala de

aula, a aula fica pela sua importância.

Mesmo que muitos teóricos afirmem que o professor é um

profissional como outro qualquer, que ele não tem outro compromisso, senão o de

cumprir somente, suas obrigações de empregado; todos sabem que seu trabalho

vai muito além dos programas e das carteiras frias da sala de aula, e do cansativo

quadro-de-giz. Para ser professor, é preciso ter uma postura de compromisso com

a formação de pessoas, postura esta que deve vir de uma contínua formação (

como fazem todos ou quase todos os profissionais), mas infelizmente, a realidade

é que o professor, em geral, não estuda. O professor muitas vezes é mal informado

da pesquisa científica e das invenções tecnológicas, mas a educação só vai

melhorar, de verdade, se o professor tomar para si o poder das decisões, ou seja, é

preciso fazer cursos de capacitação, dedicar mais horas a treinamento,

aperfeiçoar-se sempre.

Deve-se questionar também, a eficácia da formação que os

educadores recebem. As escolas precisam formar profissionais que dominem as

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técnicas da informática, não tenham medo da matemática e conheçam as

peculiaridades da educação especial, entre outras coisas.

Não é novidade para ninguém o fato que o professor, dos primeiros

segmentos do ensino fundamental, principalmente das escolas públicas, tem uma

formação bastante precária. Nos Estados mais desenvolvidos a grande maioria

deles fez o Curso Normal, e em alguns casos chegou inclusive a cursar uma

Faculdade, em geral de Pedagogia. Nas regiões mais empobrecidas, a maior

percentagem é de leigos, sendo que nas zonas rurais é freqüente encontrar-se

professores, que apenas fizeram o antigo curso primário, e, muitas vezes, o

primário incompleto. Porém, mesmo no caso de professores de nível universitário,

os estudos e a própria realidade aponta grandes deficiências no preparo que eles

recebem para lidar com os problemas do dia-a-dia do trabalho escolar.

As universidades também envelheceram, e cristalizaram-se na

formação dos educadores, já que deveriam formar profissionais interessados na

aprendizagem, principalmente, e não mais ocupados com o ensino. O professor

deve mudar sua postura de transmissor do conhecimento, e assumir a postura de

professor-educador, que é aquele que indica ao aluno como e onde, ele poderá

encontrar as informações de que necessita e capacitá-lo para elaborar a

transformação delas em conhecimento, respeitando, sobretudo as diferenças

individuais e tornando-se construtivista.

Na Revista Nova Escola (n° 82 – março/95), foram feitas algumas

perguntas acerca do professor e o construtivismo, a seguir:

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• Qual o papel da professora no construtivismo e em que

difere do ensino tradicional ?

Em vez de dar a matéria, numa aula meramente expositiva, a

professora organiza o trabalho didático-pedagógico de modo

que o aluno seja o co-piloto de sua própria aprendizagem. A

professora fica na posição de mediadora ou facilitadora desse

processo.

• O que é necessário para ser uma boa professora

construtivista ?

Mentalidade aberta, atitude investigativa, desprendimento

intelectual, senso crítico, sensibilidade às mudanças do mundo

combinada com iniciativa para torná-las significativas aos olhos

dos alunos e flexibilidade para aceitar a si mesma em processo

de mudança contínua. Ela precisa dar mais de si e precisa estar

o tempo todo se renovando, para sustentar uma relação com os

alunos que não se baseia na autoridade, mas na qualidade.

• É possível ser uma professora construtivista numa escola

tradicional ?

Em geral, o projeto pedagógico de uma escola tradicional não

favorece nem leva em conta o trabalho de uma professora que

resolva tocar em outro tom. Embora seja difícil manter uma

proposta individual, num ambiente alheio a mudanças, há

muitos casos assim. Além disso, deve-se considerar o fato de

que é difícil uma escola passar a ser construtivista num só

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golpe. Isso ocorre de maneira paulatina, até porque o

construtivismo, do mesmo modo que respeita os processos de

transformação por que passam os alunos, também deve

respeitar o das próprias professoras.

• Quais as vantagens e desvantagens do construtivismo sobre

outras linhas de ensino ?

Vantagens: Procura formar pessoas de espírito inquisitivo,

participativo e cooperativo, com mais desembaraço na

elaboração do próprio conhecimento. Além disso, o

construtivismo cria condições para um contato mais intenso e

prazeroso com o universo da leitura e da escrita.

Desvantagens: Sendo uma concepção pedagógica nova e

flexível, não oferece à professora instrumentos tão seguros e

precisos com respeito ao seu trabalho diário. Ainda há muito

por sistematizar, admitem os construtivista.

Assim fica claro que, o professor precisa enfrentar o desafio, de

estar motivado a pesquisar, para encontrar alternativas que facilitem a

aprendizagem, e principalmente, estar motivado a aprender, pois quem não é

capaz de ensinar, e precisa estar em contínua formação, uma vez que seu

aprimoramento é indispensável na formação de uma nova geração e sociedade.

O professor, deve, contextualizar seu ensino, que na verdade, é

deixá-lo menos teórico e mais ligado à realidade, tornando assim, as informações

mais significativas para o aluno.

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São muitas as responsabilidades do professor, e será necessário que

ele esteja integrado plenamente, com um mundo de informações cada vez mais

rápidas. E isto, só se consegue, sendo um mestre que prepara suas aulas,

demonstra claramente que gosta de sua profissão, põe seus alunos em situações

descontraídas, é conselheiro, é amigo, é humilde, e entende quando precisa mudar

suas estratégicas, para tornar-se um aprendiz. Não existem modelos para isto, é

preciso mudar comportamentos e atitudes, e também estimular habilidades que

incentivem o desenvolvimento não só para o seu trabalho futuro, mas para que

eduque os alunos, para a autonomia, e para a cooperação, sempre de uma forma

construtivista.

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CONCLUSÃO

A Educação é um processo amplo, contínuo e interminável.

Deve-se levar em conta que não existe um momento determinado a

educação e nem tão pouco determinada a identidade do aluno, pois educação

sugere movimento.

Num sistema educacional deve-se levar em conta o Construtivismo,

enquanto filosofia, epistemologia, pois neste processo todos são educadores e

educando.

Cabe aos administradores escolares, orientar de forma clara os

componentes de todas as Instituições, públicas ou particulares, sobre os melhores

caminhos em direção a construção do conhecimento. É um trabalho conjunto e

construtivismo de toda escola que dará condições para que esta, se organize de tal

forma a oferecer um ensino de qualidade, capaz de formar cidadãos confiantes,

preparados, conscientes e críticos.

De imediato, é preciso garantir a permanência dos alunos na escola,

e para tal, várias mudanças estão ocorrendo dentro das instituições escolares.

Os currículos, planejamentos e demais norteadores da educação

devem ser revistos, de forma a levarem os alunos a construírem seu

conhecimento.

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Certamente, é preciso existir um parâmetro curricular mínimo e

este já existe, porém o mesmo deve ser tomado como base e as unidades escolares

devem elaborar suas próprias diretrizes pedagógicas.

Outra questão fundamental, é a metodológica. Deve-se pensar em

metodologias adequadas à construção progressiva do saber, ou seja, metodologias

advindas do construtivismo.

Quanto ao magistério, é preciso rever a formação urgentemente,

pois como ser um professor construtivista sem que este saiba construir seu

próprio conhecimento.

Em relação a administração escolar e importante que essa se de

como forma democrática e preocupada com a natureza criadora e criativa do

homem, assumindo assim sua real importância no contexto escolar e propondo

uma filosofia construtivista.

O construtivismo pode contribuir de forma significativa para a

escola de hoje.

A atual escola, precisa enfim, espanar suas teias de aranha, abrir as

janelas para que o sol ilumine seu interior, arregaçar as mangas; para que num

futuro próximo possa se dizer que tem qualidade.

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ANEXOS