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rafael-ratacheski
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a respeito da descrição de um deck de baralho
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O básico do baralho
Aprenda inglês
Antes de começar o livro ou dar qualquer lição sobre qualquer coisa, me
vejo obrigado a dar este conselho e aviso: aprenda inglês. Estou no processo de
escrever um livro que vai do básico ao intermediário da mágica de cartas porque
não existe material atual e de qualidade na língua portuguesa, mas desde já
reconheço que não posso possivelmente conhecer, dominar e ensinar todos os
aspectos da mágica, nem tenho o tempo necessário para sequer traduzir o
conteúdo.
A colossal maioria do material sobre mágica que existe nesse mundo azul,
mágico e flutuante está em inglês, e sem legenda, e não há sequer vestígio de
possibilidade que isso venha a mudar no próximo século. Não saber falar inglês é
se condenar a saber apenas o que é considerado elementar ou até passado em
termos de mágica. Aprenda inglês.
Graças a uma enorme quantidade de jogos onde lancei meu tempo
durante quase toda a minha adolescência, falo inglês fluentemente e nunca tive
problemas com aprender mágica em outro idioma, e em toda a minha biblioteca
de mágica figura apenas um livro em português, o Cartasophia, do Fabio De’Rose,
e por mais lindo que seja o livro, jamais seria sozinho capaz de educar um mágico
do zero.
Ao longo do texto darei todos os nomes de posições e técnicas em inglês,
porque a enorme probabilidade é que este material lhe sirva apenas de
introdução para outros livros, que em enorme probabilidade serão em inglês.
Ensinar tudo em português apenas confundiria o leitor mediano e serviria de
pouco além de um nacionalismo sem sentido.
Aprenda inglês.
Como aprender mágica
Saber aprender
Não é raro encontrar algum aspirante a mágico que encontra enorme
dificuldade na arte mágica, seja ficando para trás de seus colegas quanto a sua
velocidade de aprendizado, o que se traduz em truques menos bonitos e
apresentações mais truncadas, seja fazendo apresentações de baixa qualidade
sem sequer notar que não está apresentando algo decente. Em grande parte dos
casos, o problema não é a mágica, mas sim que o aprendiz não é muito hábil em
aprender coisas de maneira geral.
Aprender é complicado, e ainda mais dificultado pois na maior parte do
começo da vida antes dos 18 anos não aprendemos muita coisa, mais raro ainda
é que esse aprendizado se dê sem a ajuda de outras pessoas. Claro, vamos a
escola, decoramos tudo como somos ordenados e depois repetimos a
informação, mas raras são as ocasiões em que recebemos um grupo de
informações que precisamos decodificar, entender, adaptar para nós e pensar em
possíveis implicações e possibilidades que o autor ou não nos disse ou não
imaginou.
Mágica exige isso, e é por esse motivo que tantas pessoas falham em
aprender mágica ou tantas outras artes complexas. Muitas vezes o iniciante ou
amante de mágica aprende um truque simples ou dois e já começa a se julgar o
mais recente iniciado nas artes místicas, e quando é confrontado por algo de
dificuldade levemente maior e não obtém grandes resultados após investir
longos e suados 15 minutos de esforço, desiste. Já vi esta história se repetir tanto
que cada vez mais inicio minhas aulas com uma avaliação da capacidade de
aprendizado do aluno, antes de falar de qualquer coisa de mágica.
A verdade dura é que o aprendizado de mágica não exige apenas uma
habilidade, mas um conjunto delas, um conjunto de habilidades que precisa ser
refinado ao longo do tempo, e é possível até que você precise aprende-las antes
de começar a fazer mágica. O numero de habilidades envolvidas é teoricamente
infinito, mas para nomear algumas mais essenciais: paciência, diligência, atenção
ao detalhe, autocrítica e calma.
Outra habilidade muito importante é saber o que não aprender, ou pelo
menos não agora, mas essa vem mais com o tempo. Conhecer todos os truques
não é condição necessária nem suficiente para apresentar boa mágica. Eu sou um
mentalista e um hipnotista, e muito embora eu estude mágica e truques
“normais”, eu só o faço para depois adaptá-los para meus propósitos. Alguns
outros eu estudo por curiosidade, mas nada mais. Não seria um bom uso de
tempo aprender todas as ilusões de David Copperfield porque eu muito
provavelmente nunca vou usá-las, e muito embora seja um conhecimento útil e
nenhum conhecimento pode ser considerado “ruim”, só temos algumas horas do
nosso dia e alguns anos nesse planeta.
Pense na vida como um buffet: vários pratos diferentes são oferecidos,
mas você deve escolher alguns por hoje. Você pode sempre escolher todos, mas
corre o risco de acabar por jogar comida e dinheiro fora, e ninguém te proíbe de
voltar ao buffet mês que vem, ou ano que vem, ou daqui 20 anos. Conforme-se
com o fato de que você não vai saber tudo e valorize mais saber qualidade do que
saber quantidade, e esteja sempre ciente de sua ignorância. Vivemos numa época
onde podemos escolher entre muitas coisas, mas por vezes pensamos que
escolher uma coisa é se privar de todas as outras, ou que a probabilidade de não
fazer a melhor escolha absolutamente possível é muito alta. Pensar dessa forma
só vai lhe roubar a sanidade. Escolher algo é ganhar algo. Se delicie e aproveite a
sua escolha ao máximo, e quando sentir que está esgotado desta escolha, aí então
vá para outra.
Ademais, confesso que não sei como os aros chineses funcionam. Em toda
seriedade, não faço a sincera menor ideia de como eles operam ou de qualquer
coisa envolvida neles, e isso tem um motivo: eu adoro apresentações de aros, e
quero continuar podendo vê-las com aquele olhar infantil e leigo de um mero
mortal. Eu não quero saber, é mais bonito assim, pelo menos para mim.
Desenvolvendo técnica de qualidade
Reclamações minhas a parte, julgo que a habilidade mais fundamental
para o aprendizado da mágica é a calma. Hoje conseguimos tudo em 20 segundos
ou menos, e qualquer informação está na ponta dos dedos ou tão distante quanto
um dispositivo com internet está, e nos acostumamos com a ideia de resultados
imediatos, sentindo enorme frustração quando algo não acontece exatamente do
jeito que queremos logo na primeira tentativa. Ademais, aprendemos na escola
que errar não é permitido, é obrigatório acertar tudo na primeira tentativa.
Mágica não é assim. Você precisa olhar para uma informação, passar
muito tempo tentando conseguir o resultado descrito, errar muito no processo e
ao longo de semanas, meses e anos aperfeiçoar algo que nunca estará 100%
correto, e isso exige calma e paciência. Apenas admitir e aceitar o fato de que
você vai demorar pra ser bom em mágica e isso é normal lhe trará muita paz
interna. Ninguém racional e experimentado em mágica exigirá de você um
aprendizado em questão de dias, e como toda arte, o refinamento é sempre
constante. Tenha calma.
Uma vez que você esteja devidamente acalmado, dê enorme atenção aos
detalhes. Quando lendo ou vendo um DVD, tente absorver todos os detalhes
envolvidos antes de fazer suas primeiras tentativas, não importa quantas horas
isso leve. Onde estão os dedos do mágico? Por que? Qual é o objetivo final e quais
são os meios? Como exatamente ele faz os movimentos? Quais são as transições?
Que referências posso usar para saber que algo deu certo ou errado? Isso evita o
problema de aprender incorretamente, que é irritantemente frequente.
A precisão no inicio do treino é fundamental para uma técnica bem
estabelecida, e uma técnica sem falhas é a base da boa mágica. Aprender o
movimento corretamente nas primeiras tentativas garante uma progressão de
aprendizado clara e constante, ao invés de frequentemente ter que voltar a fonte
para rever como algo é feito e repetidamente perceber que você está fazendo
algo errado. Para isso, é muito importante que você confie na fonte e tente o seu
melhor para fazer exatamente o que ela descreve. Mais de uma vez vi casos de
mágicos que perderam meses ou anos tentando aprender algum truque em
particular porque insistiram em não colocar os dedos onde o truque original
exigia.
Isso não quer dizer que você não deve adaptar o truque para você, seu
tamanho de mão ou seus gostos, mas antes de fazê-lo penso que é necessário
dominar o movimento original, de maneira a entender seus propósitos e
motivos. Modifique-o apenas quando tiver a técnica bem estabelecida e completa
ou se após muitas tentativas ficar perfeitamente claro que algum tipo de
adaptação é necessário para que um mínimo progresso seja alcançado.
Isso acontece mais frequentemente envolvendo o tamanho de mão do
mágico que ensina e do que aprende. Eu tenho dedos mais curtos que a média da
população e sempre presto atenção neste aspecto quando aprendo um truque
novo, mas só faço adaptações a ele quando percebo que não existe maneira
alguma de fazer o movimento da maneira original.
Existe uma proporção mágica para erros em qualquer coisa que
aparentemente é universalizável com alguma margem de erro: 70/20/10. 70%
das vezes que você não conseguir fazer algo, o problema se encontra em como
você está fazendo aquilo, e uma mera mudança ou melhora na técnica envolvida
gerará um progresso quase imediato. 20% das vezes que você falhar o problema
é mental, seja porque você não está mentalmente na tarefa por estar pensando
em outras coisas ou porque você está pensando em algo que te induz ao erro.
Finalmente, apenas 10% das suas falhas envolvem uma fraqueza ou uma
incapacidade motora de alguma forma.
Problemas técnicos são fáceis de mudar, algumas horas ou dias de treino
são suficientes para mudar um método falho. Problemas mentais podem levar de
dias a meses para serem consertados, pois podem ser meros problemas de
concentração pontual ou questões mais complexas de ansiedade ou depressão.
Problemas motores ou de incapacidade podem levar muito mais tempo, ou
nunca serem resolvidos, e somente nesse caso a adaptação é necessária. Se algo
está dando errado no seu truque, passe muito tempo olhando sua técnica. Se isso
não resolver, olhe para si mesmo e veja se o problema não é a sua cabeça, e se
depois de boa investigação uma solução não for encontrada, adapte-se.
Aprendendo uma nova técnica
Só tente ensaiar os primeiros movimentos quando você tiver certeza total
do que precisa fazer, e ainda assim faça-os sempre checando a fonte e buscando
faze-los da maneira mais idêntica possível ao original. Vejo muitos casos e tive
vários alunos que viram a explicação de um truque apenas uma ou duas vezes e
depois passaram horas ou dias insistindo em uma técnica que estava
simplesmente incorreta. O resultado é que nesse caso não é preciso só ensina-los
a técnica correta, é preciso antes que eles desaprendam o que aprenderam
errado, o que toma muito mais tempo do que o necessário.
Outra coisa importante é a velocidade. Nunca tente começar na mesma
velocidade do mágico que lhe apresentou o truque, pois o cérebro de vocês é
literalmente diferente. Neurologicamente, aprender um padrão motor, um
movimento, é um ator de fazer e desfazer conexões neurais, e curiosamente
envolve muito mais romper do que fazer novas ligações. Imagine, por exagero,
que seu cérebro ao tentar mover seu indicador em velocidade para uma certa
direção, também faz com que você respire profundamente e mexa seu pé direito
em circulo. Aprender esse movimento com o dedo envolve, primeiramente, não
fazer os outros movimentos que não tem sentido. Somente quando seu cérebro
aprende a fazer só e somente só o movimento necessário, é que a verdadeira
velocidade aparece. Em outras palavras, fazer as coisas rápido é saber
exatamente o que você precisa fazer e não fazer mais nada.
Treine devagar. Muito devagar. Tão devagar que você fica irritado com a
mera ideia de ter que treinar devagar assim. Ainda nessa velocidade, te garanto
que você vai errar algumas coisas, o que é ainda mais irritante. A razão para isso
é simples: aprender técnica boa. Você treina num ambiente calmo e controlado,
calmo e equilibrado, mas sua apresentação será num ambiente que não tem nada
a ver com isso, portanto preocupe-se em ter sua técnica o mais perfeita possível,
porque qualquer mínima falha será muito amplificada durante a sua
apresentação, em grande parte pelo nervosismo envolvido na situação.
A questão que vem em seguida é: quando acelerar? Números
cientificamente chutados pela minha parte sugerem que se você consegue fazer
um movimento do jeito certo, sem falhas, dez vezes seguidas, você deve
conseguir fazê-lo cerca de 6 de 10 vezes em uma velocidade levemente maior. De
onde eu tirei esses números? Experiência. Pode ser um pouco diferente pra você,
mas quando conseguir dez movimentos certos seguidos, acelere um pouco, e só
acelere novamente quando conseguir dez vezes seguidas de novo. Depois de uns
meses seguidos nesse progresso, você deve ter uma velocidade razoável nos seus
movimentos.
Com truques complexos, e por complexos eu quero largamente dizer
truques que envolvem vários movimentos difíceis, treine-os separadamente até
ficarem num nível de qualidade razoável para bom. Depois disso treine as
transições. Digamos que um truque qualquer tem quatro movimentos
complexos: A, B, C e D. Depois que você os executar bem individualmente, treine
o truque começando em A e terminando em B, depois começando em B e
terminando em C e depois C para D. Uma vez que estas etapas estiverem bem
executadas, vá de A até C e de B até D, e depois disso junte tudo.
Embora pareça lógico, tive vários alunos que tentam treinar um truque
extremamente complexo do ponto inicial, e só progridem ao fim quando tudo
antes está perfeito. Concordo que é um método e tem lá sua eficácia, mas da
minha observação e experiência própria, isso torna a prática extremamente
enfadonha, pois o aluno precisa repetir movimentos que já dominou a muito
tempo, e quando o aluno chega próximo ao fim do truque está mais que ansioso
para terminar com a coisa toda, o que frequentemente faz com que o fim dele –
justamente a parte mais importante - não seja tão bem executado quanto o
começo.
Como saber que você aprendeu
Muito tempo foi investido, calos foram formados, baralhos foram gastos,
mas como afirmar que uma técnica foi corretamente aprendida? Minha definição
para isso, que confesso ser totalmente arbitrária, é que sei que aprendi algo
quando:
A) Não preciso mais pensar ou instruir minhas mãos para fazer o
movimento, eu apenas “chamo” seu nome e ele acontece.
B) Posso executar o movimento prestando atenção em outra coisa. Isso é
absolutamente necessário porque durante uma apresentação seu foco
deve estar no seu personagem e na sua plateia.
C) Ao apresentar o truque para mim mesmo ou para pessoas próximas como
“teste”, eu percebo durante a performance que não realmente sei se fiz ou
não fiz o que precisava ser feito, mas ao fim do truque verifico que deu
tudo certo.
Tomo esses critérios para mim pois penso que a apresentação de uma
mágica é uma relação entre o mágico e seu publico. Qualquer energia que seja
devotada a “lembrar” do truque ou em preocupação sobre o resultado é energia
que não vai para a apresentação, o que reduz a percepção da mágica. Se eu estou
pensando sobre o truque, eu não estou fazendo mágica.
O baralho
É difícil pensar em como apresentar para novatos algo que me é familiar a
tanto tempo, mas um baralho é um baralho, contém 52 cartas, um joker e uma
caixa. Tudo que é escrito abaixo presume que o leitor é inteiramente novo ao
conceito de pedaços de papel com imagens neles, e embora isso possa parecer
ridículo ou desnecessário, já encontrei grande numero de mágicos de vários
níveis que não entendiam as referencias que dou abaixo. Não as subestime.
Antes de falar de cartas, devo lhe apresentar sua mão. Eu sei, você já anda
com ela por aí faz um tempo, mas é necessário que fiquem claros os nomes das
partes.
Os dedos são nomeados dedão (thumb), indicador (index), médio
(middle), anelar (ring) e menor (little), até porque “minguinho” não soa muito
profissional. Alguns livros se referem a eles como, na mesma sequencia que
apresentei anteriormente, dedão (thumb), primeiro (first finger), segundo
(second finger), terceiro (third finger) e quarto (fourth finger). A palma continua
sendo chamada de palma e seu lado contrário é o dorso ou parte de trás da mão.
Os dedos são decompostos em falanges, os pequenos ossos do dedo.
Anatomicamente as falanges são nomeadas: proximal, medial e distal, ou seja, a
mais próxima da sua mão, a média e a ponta. Poucos livros são tão específicos
que chegam nessa precisão de definição, mas muito tempo seria economizado se
eles o fizessem. Pessoalmente, e a maioria da literatura segue de maneira similar,
prefiro chama-las de base do dedo (base), meio do dedo (middle) e ponta (tip),
por razões bem óbvias de claridade. Por vezes alguns truques exigem que cartas
sejam posicionadas nas juntas entre estes ossos, e também é importante notar
que a ponta do dedo tem suas laterais e sua “bola” (ball) ou carne do dedo.
Finalmente, outros dois “pontos de interesse” são a carne do dedão, a
parte gordinha da base do dedão, e a base da mão, o canto oposto a ponta do
indicador, mas não existe uma terminologia americana muito fixa para eles.
As cartas
Certas posições e nomes são importantes para explicar qualquer coisa
envolvendo cartas. Primeiramente, denominamos a parte da carta que tem o seu
valor e identificação como sua Face ou Rosto (Face ou Image), ou mais
coloquialmente, a parte da frente. O outro lado, o que é igual em todas as cartas e
que não deve identifica-la - se estivermos falando de um baralho honesto – é
denominado Dorso (Back), ou mais coloquialmente, a parte de trás. Pode até
parecer óbvio falar isso, mas é difícil de entender como tantos livros e
referencias falham em deixar isso claro e causam um enorme desperdício de
tempo.
Quando aos cantos do baralho, supondo que o leitor o segura na mão
esquerda, perpendicular ao seu corpo, chamamos os cantos de superior
esquerdo (upper left), superior direito (upper right), inferior esquerdo (lower
left) e inferior direito (lower right). Caso o leitor tenha o baralho em sua mão
direita, inverte-se direita e esquerda. Finalmente, nomeamos os lados como
maior ou longo (long side) esquerdo e direito, curto (short side) superior e
inferior.
A grande questão é o que fazer com ele, que é o motivo de você ler isso
aqui em primeiro lugar.
Grips
Primeiramente, vamos aprender como segurar o baralho. Sim, existem
maneiras diferentes de fazer isso, e estas posições são extremamente
importantes para a execução de várias mágicas. O problema é que a maioria da
literatura se refere a elas como se o leitor as conhecesse, o que pode apresentar
desafios fundamentais para o leitor sem experiência. Estas posições se chamam
Grips ou “pegadas”.
Todas as posições são descritas como se o leitor fosse destro, pois
também o sou e a maioria da população também. Caso você seja canhoto, use a
mão contrária a que eu indico, e se imaginar a posição contrária for muito
complexo, sugiro que coloque um espelho ao lado deste documento e veja as
imagens através dele, pois como mágica as fotos se inverterão.
Curiosamente, o mágico destro deve segurar o baralho na mão esquerda.
Ou pelo menos é isso que a enorme maioria dos mágicos destros faz, porque esta
convenção realmente não tem nenhuma razão específica, embora existam mais
tentativas de explicações do que Júpiter tem luas. Ou use a mão que dispor ou
que lhe parecer conveniente, tanto faz, na verdade.
Dealers Grip ou Mechanics Grip
Este grip é o mais básico e comum jeito de segurar um baralho e é a base
para essencialmente qualquer coisa. Os nomes vem de sua função: “dealer”
significa crupiê, a pessoa que dá cartas num jogo de baralho qualquer, e
“mechanic” significa mecânico, um termo-código para trapaceador, pois assim
como um mecânico normal faria um carro de corrida funcionar melhor, um
mecânico de baralhos faz um baralho “funcionar” melhor para alguém, se é que
me entende, e eu prefiro esse nome pois tem mais história.
Segure o baralho usando seus dedos médio, anelar e menor fazendo um
pouco de pressão contra a carne do seu dedão. O dedo menor deve estar no fim
do baralho, mas não em contato com o canto. O dedão descansa em cima das
cartas e seu indicador sai pela parte superior do baralho, passando em angulo e
terminando com a ponta próxima ao canto superior direito.
Para dar uma carta, empurre a carta do topo para a direita usando o
dedão. Ela deve sair por cima dos três dedos da direita e o baralho não deve se
separar ou desalinhar pois o indicador retém as cartas no lugar. Caso você queira
ser mais puritano, use o dedão para empurrar a carta levemente para baixo, de
forma que o canto inferior esquerdo fique sempre em contato com a carne da
mão, rodando em volta desse ponto.
Para fazer um Spread, uma distribuição de cartas que pode ser usada para
várias coisas, entre elas apresentar o baralho para que o espectador escolha uma
carta, use o dedão para empurrar algumas cartas do topo para a esquerda,
formando uma leve inclinação. Com a sua mão direita, receba estas primeiras
cartas na vinca entre seu dedão e seu indicador, e os outros dedos da mão direita
ficam por baixo da mão esquerda. Retorne o dedão para sua posição inicial e
empurre mais cartas, afastando a mão esquerda e esticando os seus dedos, o que
irá formar uma espécie de plataforma onde as cartas ficarão distribuídas.
Biddle Grip
Com a mão direita, o dedão segura o baralho pela parte curta inferior e o
indicador e médio opõem o dedão, segurando o baralho pelo outro lado. Ele pode
ser feito a partir do Mechanics Grip, basta que você remova o indicador esquerdo
e pegando o baralho usando os dedos da mão direita na posição descrita
anteriormente.
Um uso muito simples deste grip é o Swing Cut. Em biddle grip, remova o
indicador e mantenha o baralho preso entre seu dedão e o dedo médio. Com o
indicador, levante parte do baralho fazendo pressão contra o seu dedão, e
pivoteie esta parte para a esquerda. Com a mão esquerda, pegue a parte de cima
do baralho, depositando a parte que está na mão direita em cima da mão
esquerda. Este é um jeito simples e bonito de cortar um baralho rapidamente e
sem suspeitas de que algo não honesto tenha sido feito.
Straddle Grip
Este grip vem de uma pequena modificação no Mechanics Grip, tudo que
você precisa fazer é colocar seu dedo menor para baixo do baralho, na borda
curta, fazendo um pouco de pressão contra o indicador que está na borda
superior. Com isso você deve ser capaz de segurar o baralho sem o dedão, e esta
é a utilidade deste grip, liberar seu dedão para fazer suas magicagens conforme
for necessário.
A partir desse grip é possível executar um corte de uma mão simples. Com
a ponta do dedão pressionada contra a lateral maior esquerda do baralho, erga
metade do baralho pressionando as cartas contra o médio e anelar. Solte o seu
indicador e menor, o que fará com que a parte inferior do baralho caia em sua
palma. Com o indicador que agora está solto, venha por baixo da parte inferior
do baralho e empurre o canto superior direito para cima até que esta parte do
baralho passe a que está com o seu dedão, fazendo com que a outra parte agora
esteja apoiada em seu indicador. Relaxe o dedo indicador, deixando com que a
metade apoiada nele desça e, consequentemente, a outra metade caia por cima.
Uma nota importante é que você pode rotacionar o baralho em 90 graus e
ainda estar em straddle grip, a única diferença é que você segurará o baralho
pelo lado curto ao invés do lado longo. Este é o grip base do leque de uma mão
simples.
Escolhendo baralhos
A pergunta que mais recebo: que baralho devo usar?
A resposta simples é: o que funciona pra você. A resposta longa é o resto
desse capitulo. Devo ressaltar que não estou falando sobre manipulação de
cartas ou Cardistry, mas sim me limitando somente a mágica.
Pragmático que sou, escolho meus baralhos pensando em apenas um
critério: eles ajudam na minha mágica? Em outras palavras, o que um baralho
precisa ser capaz de fazer para fazer minhas mágicas? Em 95% ou mais dos
casos, o Standard da Bicycle é mais que suficiente e o leitor dificilmente
precisará de algo além disso. Por vezes escolho um baralho mais exótico ou com
uma arte diferente quando vou fazer um truque de mentalismo que se beneficia
de imagens mais complexas, mas não é frequente.
Se suas mágicas tem um baixo nível de complexidade, um baralho inferior
como o Aviator ou até o Streamline podem satisfazer suas necessidades, mas só
recomendo essa “descida” se você precisa economizar dinheiro ou, seja em
shows ou em treino, costuma destruir 20 baralhos por mês.
Outra consideração relevante é se você tem 14 anos ou menos, o que
significa que você tem mãos menores. Nesse caso usar um baralho Bridge Size,
ou seja, mais estreito, pode ser benéfico em várias mágicas, mas ainda assim
recomendo que você faça o seu melhor para usar baralhos de tamanho normal,
afinal de contas sua mão vai crescer.
Pessoalmente, uso o Tally-Ho. Isso porque costumo usar mágicas de alta
complexidade onde uma carta levemente mais fina e mais durável faz diferença.
Outro motivo para isso é poder diferenciar minhas cartas. Frequentemente faço
magicas que envolvem cartas serem assinadas e quando esse é o caso costumo
deixa-las com o espectador. Quando encontro pessoas que já fiz mágica, ou como
é mais frequente, quando sou encontrado, posso saber pela carta que a pessoa
carrega em sua carteira, o que novamente é algo normal, que fui eu que fiz a
mágica com a carta em questão, e outros mágicos também sabem só de olhar a
carta que eu fui o originário dela. Frescura minha.
O mercado de mágicas
Assim como qualquer outro mercado, o mercado mágico tem vendedores
honestos e outros vendedores. Alguns são desonestos, alguns apenas querem
ganhar dinheiro e mandam as favas a ética e alguns simplesmente não sabem o
que vendem ou como vender. O fato é que muitos deles estão dispostos a vender
a mais nova bugiganga mágica que o vendedor jura que construirá sua carreira e
impressionará a todos. Por meros 100 reais você pode possuir o mais novo
descombobulador fantástico da moda, e o vendedor vai te prometer o universo e
o rim dele que o truque vale o preço.
O que mais frequentemente acontece é o contrário. Todo mágico tem uma
gaveta ou as vezes até um armário cheio do “ultimo truque mais legal da mágica”
que foi usado três ou quatro vezes e depois encontrou um canto em algum lugar
da casa e tornou-se o mais novo coletor de pó mágico. Isso quando o dispositivo
não quebra ou só faz alguma mágica tediosa que parecia muito bonita no vídeo, e
só lá. Outra armadilha comum é o kit de mágica ou o kit de iniciantes, que por
alguns 200 ou 400 reais ira lhe preparar totalmente para ser um mágico
profissional, sendo que na verdade lhe renderá pouco mais que uma vaia em um
cabaré de quarta categoria na periferia do interior.
Quando uma promessa é muito grande envolvendo um truque muito fácil
por uma quantia que lhe doerá um pouco no bolso, a história frequentemente é
melhor do que o fato. Seja crítico e seja cético, e seu bolso não levará um
pickpocket constante.
Pessimismo a parte, existem vários dispositivos e truques no mercado
que de fato são revolucionários e irão melhorar seu show, mas muito
frequentemente o vendedor não precisa dizer que eles farão isso, você já sabe
disso durante a apresentação dele ou pelos comentários de outros mágicos. Em
português claro: produto bom não precisa de vendedor bom. Infelizmente a
habilidade de discernir o que presta e o que é golpe é algo adquirido com o
tempo e conforme empilham-se os aparelhos inúteis na sua gaveta, mas não
custa dar o aviso.
Frequentemente recebo perguntas de fãs e iniciantes na mágica sobre
esse ou aquele truque, e quase sempre meu conselho é contra a compra. No meu
ver, o melhor investimento que existe é o livro de mágica, seguido por DVDs de
mágicos estabelecidos e respeitados pela comunidade, vendidos em lojas de
renome. Não que não existam livros ruins e DVDs exagerados, mas a proporção é
bem menor. Provavelmente essas credenciais lhe custarão um pouco mais do
que o fantástico DVD que lhe ensinará “965 mágicas profissionais fáceis de
aprender”, mas o titulo desse DVD hipotético já deve ser o suficiente para te
convencer a não comprar isso.
Em palavras breves, como regra geral o bom produto de mágica é vendido
com um discurso simples: Esse é o produto, isso é o que ele faz, esse é o preço e
eis um monte de relatos de outras pessoas que compraram e acharam incrível. Se
você ou não entende o que ele faz, não vê a necessidade ou acha caro demais, não
é um produto pra você. Se o vendedor precisa passar meia hora te explicando o
produto, dando ideias de uso e ainda negociando preço, repense a compra.