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NUTRIÇÃO E CÂNCER
Prof. Clarissa DemezioDisciplina de Nutrição/ UNIFESP
Unidade Curricular: Oncologia Clínica
CÂNCER
Conjunto de mais de 100 doenças que ocorrem quando há um crescimento desordenado de células
que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se para outras regiões do corpo
INCA, 2008
CARCINOGÊNESE
Um processo frequentemente descrito em 3 fases destintas:
1- Iniciação transformação da célula por interação de substâncias químicas, radiação ou vírus;2- Promoção as células iniciadas se multiplicam para formar um tumor discreto;3- Progressão a célula atinge um fenótipo completamente maligno com capacidade de invasão tecidual e metástase.
CARCINOGÊNESE
Causas:
Físicas (agentes químicos e radiações)ViralGenéticasFatores ambientais e dietéticos
Alterações no DNA celular
CARCINOGÊNESE
Apesar dos mecanismos exatos serem desconhecidos, a nutrição pode modificar o processo
de carcinogênese em qualquer estágio.
As dietas contém ambos inibidores e intensificadores da carcinogênese.
• Aumento da ingestão calórica → relacionado com risco de câncer de mama, cólon, fígado
• Aumento da ingestão de gordura → relacionado com risco de câncer de mama, cólon, próstata, pâncreas, endométrio
• Aumento da ingestão de proteína (carne) → relacionado com risco de câncer de cólon e próstata
Shils, 2003
DIETA E RISCO DE CÂNCER
• Aumento da ingestão de bebidas alcóolicas → relacionado com risco de câncer de cavidade oral, laringe, esôfago e fígado
• Alimentos defumados e fritos → relacionados com risco de câncer de esôfago e estômago
• Nitratos, nitritos, nitrosaminas e alimentos conservados em sal → relacionados com risco de câncer de estômago
Shils, 2003
DIETA E RISCO DE CÂNCER
• Preparo de alimentos em altas temperaturas (frituras, grelhados) → relação com risco de câncer de estômago e intestino
• Aumento da ingestão de frutas e hortaliças → diminuem o risco de câncer de pulmão e estômago
• Aumento da ingestão de fibras → relacionado com prevenção do câncer de cólon, reto, mama e ovário
Shils, 2003
DIETA E RISCO DE CÂNCER
Soja e câncer de mama:
• Estudos epidemiológicos sugerem que a soja quando administrada desde a infância, pode diminuir o risco de câncer de mama;
• Estudos in vitro e em animais → a genisteína (isoflavona da soja) pode promover a proliferação do tecido mamário, contra-indicando o uso da soja em mulheres pós menopausa e com risco de desenvolver ca de mama.
Messina and Wu, 2009; Messina and Wood, 2008.
DIETA E RISCO DE CÂNCER
Causas:
• Anorexia devido a fatores anoréticos produzidos pelo tumor ou hospedeiro;
• Dor e/ou obstrução do trato digestório;
• Agressão da terapia anticancerosa;
• Alterações no metabolismo intermediário
CAQUEXIA DO CÂNCER
Citocinas pró-inflamatórias responsáveis pela caquexia:
• TNF-α (fator de necrose tumoral)• IL-6 (interleucina 6)• IL-1 (interleucina 1)• IFN-γ (interferon γ)• PIF (fator indutor de proteólise)
CAQUEXIA DO CÂNCER
Fatores que contribuem para a caquexia:
1- Redução da ingestão alimentar:
Anorexia NáuseasVômitos Alteração do paladar
2- Efeitos locais do tumor:Odinofagia Má absorção intestinalDisfagia Saciedade precoceObstrução gástrica
Cuppari, 2005
CAQUEXIA DO CÂNCER
Manifestações clínicas:
• Anorexia Anemia• Perda tecidual
Hipoalbuminemia• Atrofia muscular Hipoglicemia• Miopatia Lactacidemia• Perda de tecido adiposo Hiperlipidemia• Atrofia de órgãos viscerais• Intolerância à glicose
Cuppari, 2005
CAQUEXIA DO CÂNCER
A desnutrição proteico- calórica promove o aumento da morbidade e mortalidade em pacientes oncológicos.
Perda de peso em diferentes tumores:
• Mama e hematológicos: leve (31 a 40%)
• Pulmão, cólon e próstata: moderada (48 a 61%)
• Pâncreas e estômago: severa (83 a 87%)
Fonte: Adaptado de Bloch, A, 1998
DESNUTRIÇÃO NO CÂNCER
Metabolismo de energia:
A perda de peso é proveniente de um balanço energético negativo
ALTERAÇÕES METABÓLICAS
↓ na ingestão de energia ↑ no gasto energético
Metabolismo de carboidratos:
Anormalidades no metabolismo dos CH: desequilíbrio entre glicólise anaeróbica () e respiração oxidativa ()
consumo de glicose para a obtenção de ATP produção de ácido lático
Por isso a célula cancerosa utiliza preferencialmente glicose como substrato energético
ALTERAÇÕES METABÓLICAS
Metabolismo de carboidratos:
na produção da glicose (gliconeogênese); da utilização de glicose;• Intolerância à glicose;• Resistência à insulina.
ALTERAÇÕES METABÓLICAS
Metabolismo de proteínas:
• Quebra persistente de proteínas musculares; na síntese das frações proteicas no músculo; da síntese hepática de proteínas.
ALTERAÇÕES METABÓLICAS
Metabolismo de lipídeos:
• Aumento da lipólise;• Diminuição da lipogênese;• Hiperlipidemia.
ALTERAÇÕES METABÓLICAS
1- Quimioterapia:
• Náuseas e vômitos (+ comuns); • Mucosite, queilose, glossite; • Esofagite;• Anormalidades de paladar; • Diarréia; • Constipação;• Balanço nitrogenado negativo (perda proteica)
EFEITOS DO TRATAMENTO
2- Radioterapia:
• Cabeça e pescoço dor de garganta, mucosite, xerostomia, destruição severa de gengiva e dentes, paladar e olfato alterados, anorexia perda de peso;
• Tórax esofagite, estenose esofágica, disfagia;• Abdômen gastrite aguda, enterite, náusea, vômito,
diarréia, anorexia, mal absorção de carboidratos, gorduras e eletrólitos;
• Irradiação corporal total todos os sintomas agudos mencionados.
EFEITOS DO TRATAMENTO
Enterite por radiação: Íleo e jejuno são os + suscetíveis, seguidos pelo cólon transverso, sigmóide e reto;
• Fase aguda: - Anorexia, náuseas, vômitos, cólicas abdominais,
diarréia aquosa, perda de peso; - Má absorção de água, gorduras, sais biliares
(diarréia), carboidratos, cálcio, magnésio, ferro e vit. B12.
• Fase crônica: - Além dos sintomas citados, podem ocorrer obstrução
intestinal, fístulas, abcessos.
EFEITOS DO TRATAMENTO
Enterite por radiação:
Tratamento dietoterápico controlar a diarréia e prevenir a perda de peso:
lactose , gordura, fibras, glúten;
• Terapia nutricional enteral ou parenteral → nos casos em que a ingestão via oral for contra-indicada.
EFEITOS DO TRATAMENTO
• Consumo alimentar: anamnese alimentar, recordatórios, questionários de frequência alimentar.
• Indicadores antropométricos: peso, altura, IMC, dobras cutâneas.
• Indicadores bioquímicos: albumina plasmática, índice creatinina altura, balanço nitrogenado.
AVALIAÇÃO NUTRICIONAL
Os principais objetivos do tratamento nutricional no câncer são:
• Prevenir a desnutrição• Reduzir os efeitos adversos da terapia anti-tumoral• Melhorar a qualidade de vida
ESPEN, 2006
INTERVENÇÃO NUTRICIONAL
1- Anorexia:
• Reforçar a necessidade de um bom estado nutricional;• Aumentar o fracionamento das refeições;• Aumentar a densidade calórica das refeições.
ORIENTAÇÕES GERAIS
2- Alteração do paladar:
• Substituir os alimentos poucos tolerados pelos de maior preferência;
• Melhorar a apresentação das preparações;• Evitar alimentos muito quentes ou gelados.
ORIENTAÇÕES GERAIS
3- Xerostomia:
• Ingerir líquidos em pequenas quantidades em maior número de vezes;
• Avaliar a necessidade de uso de saliva artificial;• Estimular o consumo de balas de limão, hortelã e
gomas sem açúcar;• Introduzir mais molhos, caldos, sopas na dieta.
ORIENTAÇÕES GERAIS
4- Náuseas e vômitos:
• Aumentar o fracionamento das refeições;• Evitar ingestão de líquidos durante as refeições
ORIENTAÇÕES GERAIS
5- Mucosite, estomatite, odinofagia:
• Evitar alimentos irritantes (ácidos, condimentos picantes, secos, duros, etc);
• Evitar preparações muito quentes ou geladas;• Indicar terapia nutricional em casos graves.
ORIENTAÇÕES GERAIS
6- Diarréia:
• Insistir na ingestão de líquidos para evitar a desidratação;
• Dar preferência aos alimentos ricos em fibras solúveis (aveia, maçã, banana, etc);
• Evitar lactose, sacarose e gordura.
ORIENTAÇÕES GERAIS
7- Obstipação:
• Aumentar a ingestão de líquidos, dando preferência aos sucos laxativos;
• Dar preferência aos alimentos ricos em fibras insoluveis (frutas, verduras, etc)
ORIENTAÇÕES GERAIS
Quando o fim da vida está muito próximo, muitos pacientes oncológicos requerem somente pequenas
quantidades de comida e água para reduzir a fome e a sede.
ESPEN, 2006
ORIENTAÇÕES GERAIS
• ESPEN: Non-surgical oncology: Clinical Nutrition (2006) 25, 245–259
• WAITZBERG, D.L. Câncer. In:______ . Nutrição enteral e parenteral na prática clínica. Rio de Janeiro: Editora Atheneu, 2002.
• CUPPARI, L. Câncer. In:______ . Nutrição clínica no adulto. São Paulo: Editora Manole, 2005.
• Messina, M.J, Wood, C.E. Soy isoflavones, estrogen therapy, and breast cancer risk: analysis and commentary. Nutrition Journal, 2008.
• Messina, M.J, Wu, A.H. Perspectives on the soy breast cancer relation. Nutrition Journal, 2009.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS