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Novo meio de inserção publicitária 236 ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Identidade Científica, Presidente Prudente-SP, v. 2, n. 2, p. 221-235, jul./dez. 2011 NOVO MEIO DE INSERÇÃO PUBLICITÁRIA: VIDEOCLIPE E BENS COMERCIAIS 1 Camila Henn Rotta Fernanda Midori Samizava Gustavo Macedo Echevarria Letícia Quirino da Silva Faculdade de Comunicação Social “Jornalista Roberto Marinho” de Presidente Prudente Universidade do Oeste Paulista Resumo Por meio do estudo de caso e da pesquisa qualitativa, este estudo pretende mostrar quais foram os recursos publicitários e audiovisuais empregados nos videoclipes lançados no ano de 2011, e que foram apresentados no Top MTV. Através da análise dos vídeos musicais, nota-se que alguns clipes apresentavam produtos em demasia, tornando o vídeo altamente comercial. Outro aspecto detalhado foi o segmento dos produtos exibidos bem como a predominância destes em determinado gênero musical. Tais aspectos comerciais aliados às imagens reais refletem a cultura de massa e comprovam o estilo contemporâneo que vivemos. Palavras-chave: vídeo musical; publicidade; bens comerciais; recursos. Abstract Through study of case and qualitative research, this study aims to show which advertising resources was used on videoclips released during 2011, and that were topped on MTV Chart. It was noticed that some video music had commercial goods in excess, that gives to the videoclip a high commercial charater. Other aspect detailed was the goods‟ segment and their predominance in some music genre. Those commercial aspects allied to real scenes, reflect the mass culture and show our kind of living. Key-words: music video; advertising; commercial goods; resources; Introdução Já é tendência o videoclipe ser utilizado não somente para propagar o artista, mas também como uma mídia para anunciar produto. É uma alternativa adotada pelos artistas e consiste na busca de patrocinadores que financiem parte da produção de um videoclipe musical. Aprimorada com novas formas de montagens como a inserção de planos curtos, multiplicidade visual, aceleração na velocidade, riqueza de referências culturais 1 Artigo produzido para a disciplina de Teoria e Método de Pesquisa em Comunicação, do 4º termo Comunicação Social, do curso de Comunicação Social da Unoeste.

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Identidade Científica, Presidente Prudente-SP, v. 2, n. 2, p. 221-235, jul./dez. 2011

NOVO MEIO DE INSERÇÃO PUBLICITÁRIA:

VIDEOCLIPE E BENS COMERCIAIS1

Camila Henn Rotta

Fernanda Midori Samizava

Gustavo Macedo Echevarria

Letícia Quirino da Silva Faculdade de Comunicação Social “Jornalista Roberto Marinho” de Presidente Prudente

Universidade do Oeste Paulista

Resumo

Por meio do estudo de caso e da pesquisa qualitativa, este estudo pretende mostrar quais

foram os recursos publicitários e audiovisuais empregados nos videoclipes lançados no

ano de 2011, e que foram apresentados no Top MTV. Através da análise dos vídeos

musicais, nota-se que alguns clipes apresentavam produtos em demasia, tornando o

vídeo altamente comercial. Outro aspecto detalhado foi o segmento dos produtos

exibidos bem como a predominância destes em determinado gênero musical. Tais

aspectos comerciais aliados às imagens reais refletem a cultura de massa e comprovam

o estilo contemporâneo que vivemos.

Palavras-chave: vídeo musical; publicidade; bens comerciais; recursos.

Abstract

Through study of case and qualitative research, this study aims to show which

advertising resources was used on videoclips released during 2011, and that were

topped on MTV Chart. It was noticed that some video music had commercial goods in

excess, that gives to the videoclip a high commercial charater. Other aspect detailed was

the goods‟ segment and their predominance in some music genre. Those commercial

aspects allied to real scenes, reflect the mass culture and show our kind of living.

Key-words: music video; advertising; commercial goods; resources;

Introdução

Já é tendência o videoclipe ser utilizado não somente para propagar o artista, mas

também como uma mídia para anunciar produto. É uma alternativa adotada pelos

artistas e consiste na busca de patrocinadores que financiem parte da produção de um

videoclipe musical.

Aprimorada com novas formas de montagens como a inserção de planos

curtos, multiplicidade visual, aceleração na velocidade, riqueza de referências culturais

1 Artigo produzido para a disciplina de Teoria e Método de Pesquisa em Comunicação, do 4º

termo Comunicação Social, do curso de Comunicação Social da Unoeste.

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e carga emocional nas imagens, o vídeo é hoje, na indústria cultural contemporânea, um

dos meios de entretenimento mais buscados por uma grande parcela da população. As

empresas (marcas) estão progressivamente investindo neste mercado, devido à

receptividade positiva dos webespectadores aliada ao fácil acesso, reprodução e

armazenamento. Desta maneira, é possível a compreensão deste método como eficaz e

possivelmente, superior aos efeitos de uma campanha publicitária convencional.

Estudar o crescente investimento neste setor colabora para que os profissionais

da área fiquem atualizados e aumentem o número de vendas. Ampliar o conhecimento

das estratégias utilizadas pelas empresas permite o aumento não apenas da frequência de

uso como também na qualidade de aplicação. Proporciona também generalizar o

conhecimento sobre estes novos mecanismos da publicidade que muitas vezes não são

percebidos e exercem uma influência sobre o imaginário social, elevando assim o senso

crítico.

O grau de influência das músicas e das imagens sobre os espectadores justifica

a crescente inserção de produtos comerciais em videoclipes. Gênero musical, ambiente

audiovisual e imagem do artista, são elementos adorados e seguidos pelo público, e ao

relacioná-los a um bem comercial, eles ajudam a divulgar uma moda, propagar um

pensamento, um modo de viver social. São reproduções que propagam uma concepção

do produto e conduzem o espectador a um determinado comportamento (real), neste

caso específico, orientam o indivíduo à compra. Devido a essa preocupação, é

pretendido no presente estudo desvendar quais são os recursos utilizados pelos

empresários para vender os seus produtos.

A credibilidade do músico aliado ao estilo musical diminui a resistência do

receptor, pois os produtos podem se apresentar isolados ou como uma peça que o artista

utiliza ou consome, o que desperta o desejo de aquisição pelo espectador. Dessa forma,

esta pesquisa pretende responder aos seguintes questionamentos: os videoclipes, por

conterem publicidade, estão perdendo a sua carga cultural e artística e assim sendo

transformados em ferramentas capitalistas pelos empresários a fim de atingir a sua meta

de venda? Como as empresas agem ao utilizar essa ferramenta?

Material e métodos

Será utilizado na investigação o estudo de caso e o método qualitativo por melhor

corresponder à forma de busca de dados. A compreensão do fenômeno em sua

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profundidade será feita a partir da pesquisa, observação, descrição, verificação e

interpretação que determinam as perspectivas desta estratégia comercial.

A partir do estudo dos videoclipes, pretende-se relacionar casos particulares

com outros que possuam características que permitam a generalização dos fatos, e assim

traçar uma medida aproximada do alcance de aplicação dos produtos em videoclipes de

determinado gênero musical.

A metodologia empregada se baseará na consulta de fontes oficiais de dois

meios de comunicação, a televisão e a internet. A quantidade de inserções publicitárias,

a forma detalhada de como ela ocorre, métodos e técnicas empregados para abordar o

consumidor bem como aparições por gêneros musicais ou artistas serão elementos

relatados. O estudo delimitará a análise para videoclipes mais vistos no site da emissora

musical, MTV internacional durante o ano de 2011.

Fundamentação teórica

Publicidade

O estudo proposto por Carvalho (2000) retrata o tipo de linguagem que a publicidade

utiliza em seus anúncios comerciais. Sem mostrar suas verdadeiras intenções, ou seja, a

intenção de vender o produto, o propósito do comercial é seduzir e convencer o

consumidor. A publicidade age com a persuasão, sedução e ordem, mostrando nas

mensagens um mundo de sonhos onde tudo é perfeito e ideal, diferentemente dos

noticiários de jornais que exibem uma situação caótica do mundo. Caracterizada pelo

individualismo, a publicidade faz com que a pessoa se concentre em si mesmo, se

interessando apenas por seus desejos de consumo como: roupa, casa, carros, saúde, etc.

A função da publicidade, no entanto, não se limita às audácias das formas,

busca o impacto para atrair a atenção, mas evita exagero do lúdico sem compromisso: o

anúncio terá sempre uma âncora lançada à realidade, isto é, sempre terá um fundo de

realidade em sua mensagem. Do ponto de vista da comunicação, os receptores não são

passivos, pois a publicidade tem um grande poder de violação e desobediência que deve

ser convenientemente descoberto. Cada tipo de marca de produto possui um tipo de

linguagem, pois cada marca possui seu público-alvo. Para Carvalho (2010, p. 12) “[...]

publicidade é discurso, linguagem e, portanto manipula símbolos para fazer a mediação

entre objetos e pessoas, utilizando-se mais da linguagem do mercado que a dos objetos.”

Propaganda é o ato de divulgar ideias conceitos e valores sem fins lucrativos ao

contrário da publicidade, que visa fazer tudo isso, porém com o objetivo do lucro. De

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acordo com Marcondes (1996), a propaganda no Brasil surge em 1800, e só deslancha

em 1821, quando é lançado um jornal destinado apenas a dar anúncios. A partir de 1900

os jornais perdem espaço para as revistas, que vendem e informam beleza e moda. É

nessa época que começa a surgir o interesse e a busca pelo público segmentado, como o

mercado feminino.

O aparecimento de uma imprensa especializada é indicativo da importância

que a propaganda assumia. A nossa primeira revista publicitária, Exitus,

fundada por Heitor Sarli, surgiu por volta de 1932 e durou pouco. [...] Mas

cinco anos depois quando saia a revista Propaganda, havia certeza de que ela

se manteria. (MARCONDES, 1996, p. 40)

Segundo o autor, observa-se que desde 1985 a música caminha junto com a

publicidade. Um exemplo utilizado foi o Rock in Rio, 90 horas de música e paz, em que

a música foi cercada de merchandising. A combinação de música, vídeo e propaganda

fazem as vendas aumentarem e é este o objetivo dos produtores. Com o avanço da

tecnologia, algumas adaptações tiveram que ser feitas para que a publicidade se

encaixasse em algumas mídias. O que parecia impossível se tornou a solução. A

internet, antes desconhecida, agora é peça quase fundamental para que várias empresas

divulguem suas campanhas pelo mundo afora.

Uma exigência do mercado é que as agências sejam criativas, inovem a cada

dia e saibam qual é a melhor mídia para transmitir uma marca. Todo produto é feito sob

medida para o mercado, sendo assim antes mesmo de sua produção o fabricante tem em

mente qual é o seu público-alvo. Utilizando-se de variáveis, os profissionais de

marketing tentam traçar com precisão esse perfil, como encontrá-lo e qual mídia se

torna mais eficiente para transmissão da mensagem. Todos esses requisitos facilitam e

ajudam a economizar no investimento.

[...] uso eficiente do tempo e do espaço publicitário está em adequar

mercados e mídia - isso quer dizer que o planejador de mídia tenta investir os

dólares destinados à publicidade nos veículos cujos públicos guardam uma

estreita relação com a descrição do mercado-alvo. Quanto melhor a adequação, menos dinheiro será disperso em veiculação de mensagens junto

aos consumidores aos quais o produto não era destinado num primeiro

momento. (BARBAN, 2001, p. 44)

O jornal, revista, outdoor, rádio, televisão, cinema, internet e as mídias

alternativas quando escolhidas devidamente fazem toda a diferença na vendagem do

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produto. Uma das mídias usadas é o videoclipe, pelo fato de que cada cantor tem seu

estilo musical. Colocar o produto no lugar certo e para o público adequado, aumentam

significantemente as chances de se obter um bom resultado comercial.

O merchandising vem sendo explorado por grandes empresas. Veronezzi (2003)

disserta sobre o assunto

O Termo merchandising foi deformado pelo mercado e quase tudo que não

seja comercial tradicional passou a ser chamado de “merchandising”:

comerciais ao vivo, testemunhais endossados por apresentadores/as, ações

promocionais dentro de programas, musiquinhas cantadas e, até, eventos

promocionais, mesmo não tendo nenhum envolvimento com meios de comunicação. O verdadeiro merchandising é a forma de se fazer publicidade

sem que o público perceba que se trata de publicidade, e nasceu no cinema,

nas produções de Hollywood da década de 40.

Segundo o autor, o tipo de merchandising mais utilizado atualmente é o

Merchandising Eletrônico, que emprega a publicidade nos meios de comunicação,

incluindo os vídeos de música, no qual é focado o estudo.

Considerando este novo cenário da publicidade atual, fica fácil compreender

porque é importante usar ações alternativas para que ocorra uma comunicação efetiva.

Videoclipe

A história do vídeo se inicia no contexto da pós-segunda guerra mundial, de acordo com

Armes (1999). O desenvolvimento da fita de som magnética revolucionou a edição de

filmes, bem como transformou a indústria de discos e criou um contexto para o vídeo. O

autor explana o desenvolvimento do vídeo para a melhor compreensão de sua origem e

atual utilização “O vídeo não é um fenômeno isolado, mas o produto final de um século

e meio de empenho comercial.” (p. 103)

Superando a sua simples capacidade de gravação e transmissão, o vídeo

carrega em si, o potencial impacto de mudar as nossas percepções do mundo “[...] a

partir da década de 1980, a produção de vídeo passou a significar algo muito mais

completo e criativo.” (ARMES, 1999, p.140).

O vídeo é a criação de um canal audiovisual, o resultado da união entre o áudio

e a imagem. E as diversas formas com que essa imagem tem sido reproduzida têm

afetado o nosso olhar para a realidade. Sem um olhar crítico, são derrubadas as barreiras

que separam o mundo natural das imagens e sons. Ela permite registrar elementos que

são concretos, entretanto, não é necessariamente realista, e nunca será real.

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O videoclipe é uma forma de materializar a música, de passar a mensagem

através da imagem. O objetivo da produção de um videoclipe, segundo o Serviço

Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2011), é a geração de

receita para o artista, seja para a vendagem de música em CD, DVD, online, ou atrair

pessoas para suas performances. E tal objetivo implica em uma organização mais

elaborada dos trabalhos: planejamento do roteiro, contratação de atores, cenário e

contexto (argumentação), e uma série de recursos que são empregados na produção de

um filme cinematográfico, motivo de muitas vezes o clipe musical ser comparado com o

cinema.

As imagens presentes nos videoclipes são manipuladas pelos produtores com o

objetivo principal de anunciar determinado grupo ou cantor, uma espécie de

publicidade. São formadas equipes especializadas na produção que atendam a este setor

publicitário, pois este mercado, além de constituir um canal de escoamento seguro,

oferece atrativos profissionais e financeiros para os profissionais envolvidos.

Reforçando a ideia do videoclipe como fonte de receita, Feldman (apud

PLAMBECK, 2010), disserta sobre a transformação do vídeo há 5 ou 10 anos. “Antes,

o vídeo servia apenas para mostrar criatividade e conteúdo, era promocional. Hoje,

consideramos o vídeo uma parte integrante do todo e uma maneira de gerar receita."

Uma mídia que se destaca neste tipo de vanguarda e representa uma evolução

no estilo do videoclipe é a MTV (Music Television), canal de televisão internacional

lançado nos EUA em 1981. Com diversos estilos de videoclipes musicais, era voltado

principalmente para o público jovem.

As formas de se transmitir uma mensagem eletrônica como o videoclipe

originou-se nos estúdios de emissoras de tevê como WGBH de Boston, a KQED de San

Francisco e a WNET de Nova York, ou em laboratórios experimentais de televisão em

universidades europeias e americanas. No Brasil, segundo Sussi et al. (2007), até em

1981, somente a rede Globo, através do seu programa Fantástico, transmitia os

videoclipes. Entretanto, estas músicas eram de trilhas sonoras das novelas transmitidas

pela emissora na época.

Machado (1995, p. 67) contribui para o estudo ao explanar a necessidade de

todo vídeo ser interativo para que o interesse do público seja despertado. “Em se

tratando de sistemas figurativos, como é o caso da fotografia, do cinema e do vídeo, a

forma que as pessoas mais se identificam consiste na „figura‟, ou seja, na referência a

seres e coisas familiares do mundo visível.” O autor discute ainda, a diferença entre o

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espectador de cinema, que tem um papel mais ativo de atenção exclusiva, e o espectador

de televisão, mergulhado numa experiência social: refeição, conversa familiar, serviços

domésticos, relógio e a simples companhia.

Para Morais e Correia (2008), o internauta acessa as páginas de interesse, e

consecutivamente, recebe informações de sua preferência. É esse público quem garante

a eficácia dos “comerciais videoclipes”.

Em geral esse é um formato utilizado para divulgar produtos que têm como

target (público alvo) os descendentes da era MTV, já que estão bem

adaptados a narrativas fragmentadas e velozes, onde o sentimento é mais

importante que a história contada, e o que se pretende vender (e comprar) não

é a funcionalidade do produto, mas um estilo de vida (status social)"

(MORAIS; CORREIA, 2008, p. 43-44).

Com o avanço tecnológico e com o aparecimento da internet. O videoclipe

deixou de ter a televisão como principal veículo de propagação. Com a popularização

do site de compartilhamento de vídeos Youtube em 2006, os vídeos de música têm seu

público alvo alterado para a internet, devido ao fácil acesso as informações que se

deseja ver. Mello (2006), afirma que:

O videoclipe não pertence mais a televisão. Ele está ligado ao mundo digital

e outras mídias atendem melhor a essa demanda. [...]. Hoje funciona melhor

para a TV formatos mais longos. O videoclipe não é mais uma forma

interessante de se contar histórias. Ninguém fica esperando passar o clipe que

quer. É mais fácil achá-lo na internet.

A internet atingiu o mundo inteiro, e modificou a rotina da sociedade

contemporânea. É um espaço que, por fazer uso de elementos de outros formatos de

comunicação (do texto, da imagem, áudio, movimento, formas) permite a interatividade

com o internauta, despertando assim o seu interesse com o meio. De acordo com Joseph

Plambeck (2010), a migração dos vídeos da TV para a internet, é um dos motivos para a

inserção de publicidades neste mercado audiovisual. Segundo o autor, a pesquisa

realizada pela PQ Media constatou que

[...] dinheiro gasto na inserção de publicidade de produtos em clipes musicais

cresceu 8% em 2009 em comparação com o ano anterior, enquanto a

propaganda paga de produtos em geral caiu 2,8% para US$ 3,6 bilhões. O

dinheiro geralmente é usado para pagar os custos do vídeo que em geral são

divididos entre o artista e a gravadora.

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Resultado e discussão

Por corresponder ao método de estudo adotado, será feita a observação dos videoclipes,

seguido de uma análise mais profunda dos videoclipes. Para o levantamento de dados,

os vídeos musicais estudados foram os exibidos, ou ainda em exibição, no TOP MTV

durante o ano de 2011.

Primeiramente foi visto 100 videoclipes, pertencentes a diversos gêneros

musicais, bem como a diferentes níveis de popularidade do cantor.

FIGURA 1 – Inserção de publicidade

A observação dos clipes levou a uma divisão entre aqueles que contêm

publicidade e aqueles em que são ausentes. Dos 70% dos videoclipes que apresentam

um produto, foi feito uma segunda leitura das imagens. Itens como a quantidade de

aparições de produtos, qual o recurso utilizado, os estilos das músicas e os segmentos

dos produtos, foram analisados e contabilizados.

FIGURA 2 - Quantidade de publicidade por videoclipe

SIM30%

NÃO70%

87

4

6

1 1

Videoclipe

1 produto 2 produtos 3 produtos 4produtos 5 produtos 6 produtos

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Na Tabela 1 está presente o número de vezes em que um produto aparece no

videoclipe. Foi constatado que a maioria dos vídeos musicais apresenta o produto

apenas uma vez durante todo o clipe.

TABELA 1 – Número de aparições de produtos

N.

aparições

1x 2x 3x 4x 5x 6x 7x ou

mais

Clipe

inteiro

Videoclipes 19 14 14 5 4 5 7 2

Dos 70 videoclipes que contém publicidade, a maior parte pertence ao gênero

musical pop. Derivando deste estilo, foi agrupado neste grupo o dance, eletrônica,

romântica, power pop, R&B, entre outros. A outra parcela dos vídeos é classificada no

estilo alternativo, englobando o rock, metal, indie, punk, hard rock, hip hop, rap, black

music.

FIGURA 3 – A Publicidade por estilos musicais

Os produtos anunciados nos clipes são geralmente para a classe social alta e

média, e estão sempre ligados à tecnologia: aparelhos celulares, TV led, carros, sites de

compra (acessado por meio de um tablet). Com o foco nos jovens-adultos, os artigos

mostram o que este público está consumindo ou deseja consumir, independente da

marca.

70%

30%

VIDEOCLIPES

POP ALTERNATIVO

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TABELA 2 – Segmento dos produtos por videoclipe

Segmento Eletrônico Bebida Acessório

(boné,

óculos, relógio)

Grife

pessoal

Carro Site (fofoca,

relacionamento,

compras)

Outros

Número

de produtos

15 15 10 5 13 4 11

O modo como os recursos visuais são utilizados é importante por ter a

capacidade de direcionar o olhar do consumidor para o produto. Dependendo do

enquadramento, o produto pode ser melhor notado, a mensagem pode ser melhor

absorvida, e segundo o ângulo, a imagem pode exaltar uma qualidade do produto.

De todas as aparições de produtos encontradas, predominou o plano fechado

que limita a visão do espectador para o objeto, é uma forma de priorizar o elemento no

quadro do vídeo. Por compor um número reduzido de aparições foi classificado neste

plano também, aqueles que apareceram em close ou detalhe. Já o plano aberto é

utilizado quando o produto está em uso, majoritariamente, ele aparece, mas não consiste

no foco, há outros elementos atuando na mesma cena. Já o geral mostra vários

elementos inseridos em um cenário, ou seja, por oferecer uma visão ampla da situação,

o espectador entende em que contexto e universo se passa o ato.

FIGURA 4 – Recursos Utilizados

No videoclipe What the Hell, a cantora Avril Lavigne mostra diversas

situações em vários cenários. A TV aparece em plano aberto, e não é utilizado, está

desligada; o celular está em plano fechado e em uso por um fã da cantora que o utiliza

para gravar o show, também aparece em destaque a marca e uma de suas funções; o

figurino pertencem à grife da própria cantora e aparecem em plano geral.

12,00%

33%

55%

Plano Geral Plano Aberto Primeiro Plano

quantidade de uso dos recursos

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FIGURA 5 – What the Hell: Abbey Dawn e Sony Ericsson

No clipe ET, gravado em parceria com Kayne West, Katy Perry vive em um

cenário futurístico e interpreta uma alienígena que regressa ao planeta Terra, já

destruída e sem vida. Entre os elementos que sobraram da Terra, o produto aparece

como uma relíquia no final do clipe. Trata-se de um óculos Cat-eye da marca VOGUE,

modelo 2011, e é apresentado por meio de uma rápida aparição seguida do seu uso pela

artista em close.

FIGURA 6 – ET: Vogue

As músicas da banda Panic! At the disco pertencem ao gênero punk-rock, e no

videoclipe Ready to Go, o produto aparece nos primeiros 10 segundos. Entre um curto

espaço de tempo, o produto aparece em repetição, sempre ao lado de um instrumento ou

aparelho musical, nos planos fechado, aberta e geral. Transcorrido os 10 segundos, o

produto aparece apenas uma vez fazendo parte do cenário. O produto em questão é a

bebida Tuborg, e o seu conceito tem uma forte ligação com o meio musical. Ao acessar

o website da bebida, nota-se a relação da bebida com esta área devido à reprodução de

audiovisuais que pertencem a um repertório musical selecionado pela marca, além de

outros serviços. Demonstrando a sua identidade e a segmentação de público por meio

dos estilos musicais, a empresa ainda possui um festival intitulado Greenfest. O evento

leva para o público diversas bandas de abrangência internacional e que pertencem a um

determinado gênero musical, estilo este que, está de acordo com a identidade da marca.

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FIGURA 7 – Ready to Go: Tuborg

Já a cantora Rihanna, em um cenário jamaicano, mostra 2 produtos, Gas Pro e

Vita Coco. Ambos não aparecem em detalhe ou plano fechado como demonstrado na

maioria dos clipes, e sim em plano geral e aberto. Entre os momentos em que aparece

sendo consumido pela cantora, o último produto citado não aparece em primeiro plano,

entretanto, ele ocupa 2/3 da tela, tornando difícil a não percepção da marca.

FIGURA 8 – Man Down: Vita Coco

O uso destas estratégias pelos artistas a fim de reduzir os gastos e alargar os

lucros fica evidente, e em alguns casos, explícito. Segundo a redação do Extra Globo

(2011) e Faia (2011), por ter adicionado algumas publicidades em seu videoclipe Hold

it against me, a cantora Britney Spears havia embolsado US$500 mil; o site de

relacionamentos Plenty of Fish foi um a das marcas anunciadas e teve seu acesso

aumentado em 20% em apenas um dia pós estréia do videoclipe. Este é um exemplo do

poder de alcance e influência dos artistas e consequentemente, dos seus vídeos musicais.

Um forte recurso utilizado é o uso do produto pelo artista, que adiciona

naturalidade e credibilidade no momento de apresentar o item ao público. Quando isto

ocorre, a ideia de consumação é misturado com outros elementos da cena, o que ajuda a

criar uma falsa impressão de que o produto permite determinada experiência. Isto é, o

produto não é visto apenas como o produto em si, e sim como uma peça fundamental

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para todo um cenário e ação desejados. Um exemplo são as bebidas alcoólicas, que são

apresentadas em um ambiente festivo cercado por pessoas bonitas e alegres; o mesmo

acontece com cosméticos, que estão falsamente ligadas à beleza das artistas que o

utilizam, quando na realidade estas passam por vários profissionais de beleza; os carros

luxuosos compõem outro caso de falsa associação, pois eles frequentemente aparecem

ligados a mulheres, velocidade e manobras.

Alguns produtos se limitam a mostrar sutilmente o logotipo da empresa. Com o

símbolo, apenas o público deste estilo consegue identificar a marca, pois para aqueles

que não estão inseridos neste tipo de público, se torna difícil perceber a marca. Isso

evidencia o direcionamento a um público segmentado, pois se a marca passar

despercebido pelo espectador que não está contextualizado, a publicidade perde o seu

efeito.

O aumento na vendagem dos produtos inseridos nos videoclipes é o reflexo da

nova maneira de se aplicar a publicidade, que servem como um apoio ao lançamento

e/ou divulgação de um bem comercial. Entretanto, para que o resultado seja atingido, é

necessário a apresentação correta dos itens anunciados, uma vez que uma exibição pode

afastar o espectador ou provocar o desejo de possuir um objeto.

Considerações finais

Diante das análises e das pesquisas de campo, foi notado que o contexto de muitos

videoclipes é perdido e o espaço cedido às publicidades se torna abusiva nos videoclipes

em que o produto aparece mais de 5 vezes ou aqueles que apresentam mais de 5

produtos. Contudo, há artistas que se preocupam em inserir produtos de forma sutil,

eliminando tal caráter invasor.

Como já constatado, o recurso estudado se trata de uma estratégia minoritária e

relativamente recente, não há uma regra seguida pelos produtores, bem como há como

definir um perfil para estas aplicações, pois as inserções de produtos são inconstantes e

de múltiplas formas. Quando sutilmente apresentados, os recursos combinam o produto

com o enredo do clipe; já outros se limitam a publicar apenas 1 ou 2 produtos,

aparecendo apenas em um pequeno trecho do clipe; e há ainda, aqueles que com mais de

5 aparições, explicitam a mostra do produto, ou seja, transparecem a intenção de vender

o bem comercial. Desta forma, as inserções publicitárias ainda são “friamente”

colocadas na mídia, e invadem um espaço que é prezado pelo espectador que busca a

música, o artista, e o entretenimento nestes vídeos.

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Identidade Científica, Presidente Prudente-SP, v. 2, n. 2, p. 236-250, jul./dez. 2011

Embora exista a consciência geral de que a publicidade está presente nos

videoclipes, a proporção com que essas imagens comerciais atingem o espectador no

momento da compra, bem como efeitos secundários, não passam pela nossa percepção.

Essas aparições, quando apresentado de forma planejada e sutil, ganham um contexto, e

assim, é atribuído maior valor à obra, e posteriormente, à marca. O público quando nota

que o produto aparece em demasia, pode criar uma barreira que o afasta do produto, e

até do videoclipe, pois vê aquilo como uma invasão.

Diante dos critérios explanados, o vídeo em alguns casos é transfigurado,

perdendo a sua essência artística, pois apresentaram os produtos sem uma preocupação

com a estética final do vídeo, com o significado e o sentido dos elementos. Entretanto,

em seu caráter cultural, reflete o que é feito e ocorre na sociedade atual, o que ela

consome, seus hábitos, pensamentos e anseios.

Portanto, quando está ausente esse cuidado e valorização com o produto final, e

consequentemente com o público que irá assistir, o videoclipe se torna sim um bem

comercial, o vídeo se torna um produto sem todo o potencial artístico que ele possui; ele

se resume a um propagador de imagens e música que exercem maior atratividade para

com o público e um objeto que gera receitas para os artistas e profissionais envolvidos.

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Novo meio de inserção publicitária 250

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