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Northwestem University Library Evanston, lilinois 60208-2300 Liiiii LI O INICIO DA LUTA ARMADA EM TETE, 1968-1969: A Primeira fase da guerra e a reacção colonial João Paulo Borges Coelho Estudos 7 Arquívo Histórico de Moçambique Série: Estudos 07 Tijulo: O Iniíio da Luta Armada em Tete, 1968-1969: A Primeira Fase da Guerra e a Reacção Colonial Autor: João Paulo Borges Coelho Edição: Arquivo Histórico de Moçambique/ Nucleo Editorial da Universidade Eduardo Mondiane Registo: 073311NLD189 Maputo. Setembro de 1989 'NDICE Introdução, 9 Capítulo 1 O dispositivo das forças portuguesas no território de Tete e a sua concepçao global de defesa, 21 O dispositivo das forças portuguesas, 23 A concepção global de defesa, 29 Capítulo II A FRELIMO e a preparação da luta armada em Tete, 45 A situação polítíco-mílitar interna da FRELIMO, 46 A reestruturação militar da FRELIMO, 47 Os grandes objectivos da Frente de Tete, 48 O aparelho da F.RELIMO no Malawi, 51 A Zâmbía, rectaguarda da Frente de Tete, 58 O COREMO e os outros grupos "dissidentes no Norte de Tete, 61 CondiçÕes do desencadeamento da luta no interior, 64 Capitulo III A abertura da Frente de Tete (1968-1969), 69 A lígaçao com as populações, 70 O estabelecimento das bases e a organização combativa dos guerrilheiros, 75 A ofensiva da FRELIMO, 84 A contra-ofensiva militar portuguesa, 92 A FRELIMO retoma a iniciativa, 102 Notas, 113 Bibliografia, 137

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Northwestem University Library Evanston, lilinois 60208-2300Liiiii LI

O INICIO DA LUTA ARMADA EM TETE,1968-1969:A Primeira fase da guerrae a reacção colonialJoão Paulo Borges CoelhoEstudos 7Arquívo Histórico de Moçambique

Série: Estudos 07Tijulo: O Iniíio da Luta Armada em Tete, 1968-1969: A Primeira Fase da Guerrae a Reacção Colonial Autor: João Paulo Borges Coelho Edição: ArquivoHistórico de Moçambique/ Nucleo Editorial da Universidade Eduardo MondianeRegisto: 073311NLD189 Maputo. Setembro de 1989

'NDICEIntrodução, 9Capítulo 1O dispositivo das forças portuguesas no território de Tete e a sua concepçaoglobal de defesa, 21 O dispositivo das forças portuguesas, 23 A concepção globalde defesa, 29Capítulo IIA FRELIMO e a preparação da luta armada em Tete, 45A situação polítíco-mílitar interna da FRELIMO, 46 A reestruturação militar daFRELIMO, 47 Os grandes objectivos da Frente de Tete, 48 O aparelho daF.RELIMO no Malawi, 51 A Zâmbía, rectaguarda da Frente de Tete, 58 OCOREMO e os outros grupos "dissidentes no Norte de Tete, 61CondiçÕes do desencadeamento da luta no interior, 64Capitulo IIIA abertura da Frente de Tete (1968-1969), 69 A lígaçao com as populações, 70 Oestabelecimento das bases e a organização combativa dos guerrilheiros, 75 Aofensiva da FRELIMO, 84 A contra-ofensiva militar portuguesa, 92 A FRELIMOretoma a iniciativa, 102

Notas, 113Bibliografia, 137

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Siglas usadas na documentação, 141 Anexo 1Principais acçoes militares reportadas à FRELIMO pela documentação colonialentre Março de 1968 e Junho de 1969, 143Anexo IIOperações militares efectuadas pelo exercito portugues em Tete no âmbito da suacontra-ofensiva de Setembro de 1968 (entre Agosto e Dezembro de 1968), 153

rNDICE DOS MAPAS1. A Província de Tete, 712. O antigo Distrito de Tete e a zona de guerra em 1968-1969, 83. Os regulados na zona de guerra, 254. Dispositivo militar português na zona de guerra.Março de 1968, 265. Rotas possíveis de infiltração da FRELIMO segun do prevísões do exércitocolonial em fínaís, doano de 1967, 446. O estabelecimento da FRELIMO no Sul do Malawi em 1967, 577. Bases principais da FRELIMO na altura do desencadeamento da luta armada.Março de 1968, 808. Bases principais da FRELIMO durante a ofensivado primeiro semestre de 1968 (Maio-Agosto), 819. Dispositivo militar português na zona de guerra:criação do Subsector FBN no ambito da contra-ofensiva militar portuguesa. Setembro de 1968, 9410. Operaçoes especiais do exército português no âmbito da sua contra-ofensiva de Setembro de1968, 95

11. Dispositivo paramilitar colonial na zona de guerra. Abril de 1968, 9812. Dispositivo paramilitar colonial na zona de guerra em Setembro de 1968: aumento generalizado doscontingentes, 9913. Bases principais da FRELIMO após a contra-ofensiva do exército portuguêsno final de 1968, 104 14. Bases principais da FRELIMO após ter retomado ainiciativa, no primeiro semestre de 1969, 10515. Dispositivo militar português na zona de guerraem Abril de 1969: reforço dos contingentes, 108 16, Dispositivo paramilitarcolonial na zona de guerra, no primeiro semestre de 1969: aumento dasforças de milícias, 10917. Aldeamentos coloniais iniciados na zona de guerra entre finais de 1968 e início de 1969, 111

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*:-.: ..:.":: 4: = = = == ===== : .:........:.;.2. O antigo Distrito de Tete e a zona de guerra. Março de 1968.8

INTRODUÇÃOO presente trabalho debruça-se sobre a abertura da Frente de Tete no decorrer daLuta Armada de Libertação Nacional, privilegiando os aspectos mili tares desseprocesso e fazendo recurso quase exclusívo à documentação colonial disponivel,particular mente a documentação militar portuguesa. Duas opçoes que colocamcertos riscos: Por um lado, o da milita rização de um processo que foi muito maisglobal e no decorrer do qual a FRELIMO visava muito mais que a vitória militar;por outro, o de fazer recurso a fontes por assim dizer coloniais, partindo-se doprincípio que se pretende escrever uma história em que o Movimento deLibertação está no centro do pro cesso. São necessárias, por isso, algumasexplicaçoes.Em primeiro lugar, parte-se da convicção que o aspecto militar da luta nao e, deforma alguma, um aspecto isolado, desligado do universo de factores políticos esociais. A guerra não é - nem mesmo a sua forma táctica particular que e a guerrade guer rilha - revolucionária em si mesmaI, mas antes cons titui um meio pararealizar os desígnios políticos dos seus promotores. No que respeita a luta delibertação moçambícana, o recurso à luta armada constituiu uma decisão política,tomada após a constata ção de que todas as outras formas de luta estavamcondenadas ao fracasso devido a intransigencia do

colonialismo português2. Assim, quer na sua origem como no seudesenvolvimento, sao inumeros os factores que motivam a guerra, lhe definem anatureza e condicionam o sucesso. Para tomarmos um exemplo da experiênciamoçambicana poderíamos dizer que a participaçao popular na luta nao soconstituiu a prati ca de uma opção política profunda como tambem se afi gurou,do ponto de vista estritamente militar, um factor de sucesso absolutamentefundamental. Sem a participação popular em todas as suas múltiplas for mas oexército colonial muito mais dificilmente teria sido derrotado. Tal não exclui, noentanto, que o inverso também seja verdadeiro, ou seja, quea pra tica da lutatambém tenha influenciado profundamente a construção das relações entre apopulação e os guerrilheiros, como o demonstra a experiencia das zo naslibertadas, prefiguração e prática de construção de uma sociedade alternativa asociedade colonial.Contudo, não podemos afirmar que a literatura existente tenha dado suficienteimportância às rela çoes entre esses dois aspectos na medida em que o aspectomilitar da luta e, ainda hoje, praticamente desconhecido no seu detalhe, ignoradopela literatu ra dos mais diversos quadrantes ideológicos3. Não ca bendo aquidetermo-nos na análise dessa literatura4, podemos no entanto afirmar que talsituação para além de, no geral, constituir uma lacuna no estudo da nossa historia,arrasta consigo outros mialefícios dos quais, seguramente, o menor não édepararmos com afirmaçoes e interpretações categóricas que o acesso a novasfontes vem depois dismistificar completa mente. Para apontarmos apenas um

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exemplo, Walter Opello afirma que "em 1968 as actividades militares daFRELIMO em Tete limitaram-se à mínagem de estradas e a realização deemboscadas na bacia do rio Ca poche, entre Gago Coutinho e Cassacatiza, pertoda fronteira com a Zâmbia, e no planalto da Angónía, perto da fronteira com oMalawi''5. É evidente o intuito de mínimizar a gravidade da situação para a or

dem colonial. De facto, as fontes portuguesas, mili tares e administrativas,demonstram que durante o ano de 1968 a guerra penetrou profundamente noterritório até a Sul das localidades de Fingoé e Bene e que, por outro lado, nuncachegou à Angónia, como procuraremos mostrar adiante.Nesta perspectiva, coloca-se com acuidade o pro blema do acesso e avaliação dasfontes, que nos con duz a outra das opções tomadas para a realização do presentetrabalho: o recurso à documentação colonial.Muito esquematicamente, a lutaarmada de liber tação pode ser estudada atraves dedois tipos de fon tes "primárias", quanto à sua proveniência, obviamente asproduzidas pelo Movimento de Libertação e as coloniais. Em relação a uma partedas primeiras, o seu registo escrito encontra-se fundamentalmente nos arquivos doPartido, em processo de organização e fechados a consulta, e sobre os quais naonos podemos, portanto, pronunciar. Quanto à recolha de de poimentos de antigoscombatentes ou camponeses envolvidos no processo da luta, ela tem sido feita deforma dispersa ao longo destes anos, no âmbito de es tudos parcelares elocalizados6. Constituindo inega velmente um tipo de fonte privilegiado, pela sualo calizaçao no cenarío global da luta, pelo seu envol vimento directo nosacontecimentos e porque a luta foi mais acçao do que registo escrito, a recolha dedepoimentos apresenta contudo algumas limitações que importa considerar.Alguns autores, referíndo-se aos "problemas" levantados pelas fontes orais,consideram-as de estatuto incerto no que respeita a consti tuirem sinais históricos:se bem que baseadas no princípio da repetição como forma de preservar o passado, e difícil verificar teoricamente a fidelidade dessa mesma repetição e amedida em que nao surgem alterações impostas por conjunturas do presente.Além disso as fontes orais nao tem uma vocaçao globalizante: são normalmenteselectivas no seu conteúdo e- o que constituí uma limitação muito importante não estabelecem uma cronologiaobjectiva, na maioria

dos casos 7. É certo que em relaçao aos acontecímentos da luta de libertação nãodeparamos com tradiçoes antigas transmitidas por sectores específicos dasociedade. De facto, trata-se de uma historia re cente, gravada - por vezes deforma bem dramatica na maioria dos moçambícanos do Norte do país. Todavia,muitos problemas permanecem, relacionados even tualmente com o facto deterem decorrido alguns anos, tornando-se portanto difícil exigir precisão e deta lhenos depoimentos dos protagonistas, assim como com o facto dos testemunhosterem uma perspectiva parcelar dos acontecimentos; muitas vezes confinada auma aldeia, e que a massífícaçao dos inquéritos por si so não conseguesolucionar. Alem dísso, gran de parte dos problemas tem a ver com a orientaçãodo proprio trabalho de recolha de depoimentos. Em muitos casos esta tem sido

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efectuada "teleologicamente", quer para ilustrar enredos-previamente bemdefinidos quer colocando as questões de forma a que as respostas sigam aoencontro daquilo que o inquiridor "quer ouvir", num processo muitas vezessubconsciente, até. Neste sentido há muítas vezes tendência para considerarsimples afirmações e juizos individuais como profundas verdades científicas.Mais do que retirar informação ao protagonista e necessário apoia-lo, no sentidopositivo, na elaboração do seu testemunho. Tal pode ser feito, pesem.embora osriscos, com o recurso a doçumentação colonial, as conclusões que delapoderemos retirar devido ao seu carácter sistemático e as contradiçoes internasque apresenta. A documentação colonial pode ajudar-nos no estudo dasmodificações do próprio Estado colonial, dos seus aparelhos, na sua tentati vapara se adaptarem ao decorrer da guerra assim co mo, indirectamente, no estudodo impacto das acções levadas a cabo pela FRELIMO no território. Neste sen tidoafigura-se possível reproblematizar - nos aspectos específicos como no geral -todo o contexto em que se insere esta documentação. Produzida no qua droparticular de servir a administração colonial do

território e a vitória das forças coloniais sobre o Movimento de Libertação, elapode ser subvertida no sentido de apoiar o estudo deste período numa perspectivatotalmente outra. Trata-se portanto de lhe retirar o carácter de meio exclusivo deinterpretaçao e de verdade para a remeter'ao papèl mais modes to de mais um dosinstrumentos que nos permite estu dar o período especifico que ela cobre numquadro teórico que a transcende. Com esta documentação e possível definircenários e hipóteses de trabalho que podem ser levados ao confronto com ostestemunhos orais, ajudando os protagonistas, no concreto e no detalhe, a precisare clarificar as suas memorias e, igualmente, ajudando os inquiridores a cons trúirum sentido para as suas questões que, de outra maneira, são frequentementepostas de forma dis persa e desconexa8O presente trabalho parte portanto do principio que, constituindo as fontescoloniais uma parte importante da totalidade da documentação sobre a lu taarmada, e importante portanto em si, e possível, através de umareproblematízação das mesmas, umgran de passo em frente no sentido de se poderrecorrer com mais eficácia às outras fontes visando a construção da histórianacional. Tratando-se de uma pri meira experiência pretende, com o seudesenvolvimen to, demonstrar concretamente essa importancia no am bito atrásapontado, assim como colocar alguns dos problemas e possibilidades que otrabalho comas fon tes levantou. Tentaremos ainda, neste espaço introdutório,fazer referência a alguns aspectos ~esse processo9.O Estado colonial foi sempre um grande produtor de documentos, umacaracterística comum a todos os seus aparelhos civis e militares, queburocratizava o seu funcionamento mas que - e por isso não devemos substimã-la- lhe deu recursos no campo das informações e da contra-guerrilha. Esse volumede doçumentação, é bem certo, possuí a carga ideológica que ele veiculava, a suavisao do mundo e o seu

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posicionamento concreto no cenario da luta. Essa vi são tem subjacente, porexemplo, a FRELIMO como ins trumento do "comunismo internacional" e a auto-consideração paternalísta do Estado colonial como defensor dos valores dacivilização ocidental e protector das populações vítimas do "complot" comunistalocalizado para lá das fronteiras. Todavia, e em bora sempre com as devidasprecauções, e possível afirmar uma distinção entre os documentos de purapropaganda e aqueles que, apesar de invariavelmente imbuidos dessa ideologia, sedestinavam ao funciona mento dos aparelhos, nomeadamente no ambito dasinformaçoes, a planificação das acções militares e ou tros. A complexaclassificação que sempre se preten deu apôr aos documentos directamenterelacionados com a guerra, desde o simples "reservado", passando pelo"confidencial", ate ao "secreto" e ao "muito secreto", revela uma hierarquizaçãoprecisa do poder e do saber e conduz-nos ate às zonas mais íntimas desse Estado,onde ele se permite progressivamente afirmar a verdade sobre os acontecimentos,a sua verdade.Uma outra distinção que pode ser esboçada, sem pre cautelosamente, diz respeitoaos documentos "ob jectivos" e "subjectivos". Entre os primeiros, e ape sar deexistir sempre senão a possibilidade de falsificação pelo menos a de erro,poderíamos incluir, por exemplo, as listas dos contingentes militares e odíspositivo, ou as directívas das operaç'ões mílitares. Os segundos dirão maisrespeito à documentaçao que "interpreta" os acontecimentos, documentação essaque, embora subjectiva, se torna objectiva quan do pretendemos conhecer a visãoque o próprio Estado colonial tinha do processo da luta.A observação da estrutura organizativa do Esta do colonial, do ponto de vista dadefesa e segurança, revela que ele era composto por diversos aparelhos dehierarquia vertical, coexistindo lado a lado. Podemos apontar entre eles a PIDE,os Serviços de Centralízação e Coordenação de Informações de Mo

çambique (SCCIM), a Policia de Segurança Pública, a Guarda Fronteira. Todoseles eram dirigidos de Lourenço Marques, possuindo delegaçoes ou escalões distritais e mesmo a nível de concelho ou círcunscriçao, e posto. Tal estruturaoriginava como regra a dupla subordinaçao a nível distrital. O chefe da de legaçãodístrital de Tete dos SCCIM, por exemplo, prestava contas ao Governador doDistrito e ao direc tor dos SCCIM em Lourenço Marques. Tal situação, se bemque comum a todos os diferentes serviços, torna va-se delicada em campossensíveis como os da segurança e das informações. E afigurava-se ainda maiscomplexa se considerarmos também o aparelho militar, totalmente autónomo dosrestantes, com os seus soldados, a sua administração própria, os seus serviços deinformaçoes e a sua dependência do Comando-Chefe em Nampula. Assim, foisempre grande a preocupação colonial de aperfeiçoar os aparelhos com vocaçãode articulação entre as estruturas verticais, de modo a dar coesao eoperacionalidade ao funcionamento do seu Estado10. A nível das ínformaçoespodemos apontar o exemplo dos SCCIM, que processayam informação dediversas origens e a distribuíam para um grande numero de aparelhos. Contudo,no nível distrital não passavam de um entre muitos serviços produtores deinformações. Interessa-nos aqui o facto que as informaçoes, embora originarias do

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mesmo universo político e ideológico, eram frequentemente produzidas eveiculadas por canais completamente independentes uns dos outros. Trata-se deuma circunstancia que produziu alguns conflitos e contradiçôes no seio do Estadocolonial o que, de alguma maneira, reforça o valor deste acervo documental comofonte para o estudo desta area. Em muitos casos e possível observar as diferentesformas como um acontecimento é relata do e interpretado, por exemplo, pelaestrutura da ad ministração civil, pela PIDE e pelo exército para os respectivosescalões superiores, independentemente uns dos outros, antes que todas essasinformaçoes sejam confrontadas, normalmente a nível do Governo

do Distrito ou da delegação provincial dos SCCIM.Se, como se pretendeu mostrar brevemente, este tipo de documentação permiteconhecer o Estado colo nial, o seu posicionamento e perspectivas face a guerra, asituação torna-se mais complexa, todavia, no que concerne ao estudo doMovimento de Libertação. De facto, salvo casos esporádicos de documentaçãoapreendida aos guerrilheiros e transcrita ou mesmo reproduzida em "fac-símile"(incluindo diários pessoaís), trata-se de uma fonte duplamente indirecta. Osdocumentos não se referem ao corpo instítucional que os produz mas a outro queeles apreendem por sua vez indirectamente. Todavia, ainda aqui eles permitemcertas possibilidades que não permitiam aos seus prôprios produtores, não sópelas diferenças de posicionamento perspectivo como pelo facto de não estarmoslimitados por factores de ordem temporal. To memos o exemplo das bases deguerrilha da FRELIMO: estas, pela sua extrema mobilidade no terreno, constituiram 'm dos grandes quebra-cabeças da planifica ção táctica do exércitocolonial. Frequentemente, este s6 tinha conhecimento da sua localização ou defactos relacionados com elas meses apos a sua existencia num determinado local.Para nós, todavia, torna-se possível, em certos casos, "voltando atrás", tornarprodutivo e com sentido num dado momento, o conhecimento de um facto que oexército colonial s6 conheceu muito mais tarde. Ou seja, usarmos uma indicaçãoque nos e dada por ele mas que não foi possivel a ele próprio utilizar. Tal deve-se,em grande medida, ao carácter sistemático dos documentos produzidos em sériesperiódicas. Assim se torna pos sível, por exemplo, acompanhar durante semanasconsecutivas a passagem de Yatuta Chisiza e do seu con tingente de dissidentesmalawianos pelo território setentrional de Tete, através de informações "fornecidas" pelo Estado colonial que, por sua vez, so na fase final dessa incursao teveconhecimento da iden tidade do pequeno exército.

Levantadas que foram algumas das potencialidades da documentação colonial,entre as quaiso apoio que poderiam prestar no trabalho de recolha de depoimentosde protagonistas não e seguramentea menos importante, é pertinente referir aindao seu estado organizativo. Esta docVmentação encontra-se no Arquivo Histrico deMoçambique, no Fundo de Tete, cons tituldo pela documentação produzida erecebida por esse Distrito colonial, e organizado de forma ainda bastantepreliminar tal como, de resto, outros Fundos como os de Cabo Delgado e Niassa.Tal situação, devida à escassez de recursos - nomeadamente humanos - doArquivo Histórico de Moçambique, que no en tanto tem assegurado a conservação

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dos documentos, constitui um indício preocupante da situação incipiente em quese encontra a investigação sobre a história da luta armada. Onze anos decorridosdesde a data da Independência Nacional, não há ainda um programa global deinvestigação desta importante área e desta importante fonte, programa esse queincluiria forçosamente o tratamento e organizaÇao do acer vo documental. Um talprograma, que poderia passar pela reconstituição de cenários regionais(nomeadamente Cabo Delgado, Niassa e Tete) e pelo esboço de umaperiodização, a partir dos diferentes Fundos, assim como pela sua articulação ecoordenação em fun ção de objectivos de investigação específicos, é ur gente naosó devido à importancia geral que tem para o Moçambique de hoje, mas tambemcom o objectivo específico de permitir um trabalho estruturado e sis temático comas fontes orais cuja perspectiva se em pobrece a cada dia que passa.Este trabalho abrange o período entre 1966 e o inicio de 1969, portanto o espaçode tempo que decor re entre a frustração da chamada primeira Frente de Tete, nosfinais de 1965, e a abertura da mesma Fren te. Os anos de 1966 e 1967 constituemfase de prepa

ração de condições para a luta, não so no interior do território como nos paísesvizinhos. O ano de 1968 assinala o início das acçoes armadas e o perío do de umano, sensivelmente, foi definido porque cor responde a um ciclo completo deactividade guerrilheira, que tem os seus picos altos na epoca das chuvas. Trata-se,portanto, do tempo decorrido entre o final de uma epoca das chuvas e o final daépoca das chuvas seguinte. O período definido, -apesar da sua extensao (o anoentre 1968 e 1969), é abrangido pela designação de Início da Frente de Teteporque se considera a abertura não como um acontecimento pontual, que ocorreuem 8 de Março de 1968, mas sim co mo um processo que levou um ano adesenvolver-se ca balmente. De facto, podemos dizer que durante esse ano, doponto de vista militar, era objectivo dos guerrilheiros não só penetrar comotambém manterem-se no terreno de operaçoes. O exercito colonial, por seuturno, alimentou a esperança de até ao final do ano de 1968 conseguir "limpar" oterritório, para usarmos a sua terminologia, de toda a presença guerrilheira o que,de resto, quase foi conseguido. Assim, considerou-se que o processo de aberturada Frente de Tete só se consumou quando, no inicio de 1969, se tornaram claros asólida presença gueýrilheira no terreno e o falhanço da estratégia colonialtendente a resolver o conflito militarmente e de forma definitiva. O ano de 1969assinala já uma reformulação da estratégia colonial, com o acelaramento daedificação dos aldeamentos e o reconhecimento subjacente que o Movimento deLibertação esta va no terreno "para ficar". Pensa-se, em suma, que os elementosapresentados definem as balizas de um período, aqui designado por primeira faseda guerra.O trabalho foi organizado em três capítulos. Os dois primeiros abordam, nos seusdiversos aspectos, a preparação do cenário da luta. Do lado coloníal, o primeirodetém-se na organização e disposição das forças no terreno, assim como noprocesso de edificação da sua concepção global de defesa. o se-

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gundo procura desenvolver as questoes gerais ligadas a preparação da abertura daFrente pela FRELIMO. Finalmente, o terceiro capítulo analisa a questão militarda Frente considerando que houve três momen tos distintos - uma ofensiva dosguerrilheiros, uma reacção militar colonial e um retomar definitivo da iniciativapor parte das forças da FRELIMO - antes de terminado este ciclo.O texto agora apresentado foi defendido como dissertação de licenciatura em1986. As alteraçoes introduzidas são mínimas, consistindo apenas na inclusão, noespaço reservado às notas, de extractos dos documentos originais citados,julgados pertinen tes e sugestivos. Por razoes de comodidade foi mantida a antigadesignação das localidades e dos acidentes geográficos.

Capitulo 1O DISPOSITIVO DAS FORÇAS PORTUGUESAS NO TERRITÓRIO DETETE E A SUA CONCEPÇAO GLOBAL DE DEFESAO dealbar da luta armada na Frente de Tete, em Março de 1968, encontrou asforças portuguesas simultaneamente preparadas e desprevenidas. Preparadas seconsiderarmos que havia quatro anos vinham esperando este momento, anunciadonas múltiplas informaçoes que colhiam e na reacção popular, tomando as medidasque julgavam eficazes para o abortar e, aos poucos, edificando uma concepçaoglobal de defe sa do território. Desprevenidas no sentido em que não puderamprever com a nitidez que julgavam neces sária a altura e os locais dodesencadeamento da lu ta, nem souberam encontrar respostas imediatamenteeficazes.Este capítulo procurará avaliar o dispositivo portugues, a sua organização e ouniverso de factores constituintes daquilo a que poderíamos chamar a suapreparaçao para enfrentar a luta armada em Tete. Procurar-se-a igualmenteanalisar a concepção global de defesa construída pelas forças coloniais noterrítório de Tete, a sua estrategía, na qual um pa pel central era reservado apopulação, que pretendiam não só conquistar para a sua causa como também"accionar", ou seja, dar-lhe um papel activo na defesa da ordem colonial.Pode dizer-se que as autoridades coloniais em Tete sabiam que, mais tarde oumais cedo, teriam a luta armada no território. A grande agitação dos fi

naís do ano de 1964 e do ano de 1965 com, inclusiva mente, ataquoq armados apostos administrativos, constituira já um primeiro sinal e sentia-se, a cada passo,um trabalho subterrâneo que ccnduzia ao crescimento da consciencia antí-colonial. Pao. as au toridades portuguesas e segundo as conclusões quo elaspróprias tiravam do evoluir da situação, trata va-se de 'um aviso que, tal como emrelação a Cabo Delgado e a Niassa, as punha cruamente face à sua in capacidadede controlar o território e as suas popu laçoes, pela extensão daquele, peladispersão destas e pela fraca implantação dos aparelhos administrati vos,instrumento essencial da colonização.O então Distrito de Tete tinha características que levavam as autoridades coloniaisa ver ali reunídas todas as condições para o desenvolvimento daquilo queconsideravam ser "actividades subversivas". De facto, do ponto de vista geo-

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estratégico, o seu território tem uma configuraçao particular que fazia dele umaespécie de "península" cercada quase total mente por territórios estrangeiros. Apartir do ano de 1964, se excluirmos a então Rodésia do Sul, rela tivamentepacÍfica em termos de infiltração das for ças anti-coloniais, existiam fronteirascomo Malawi e com a Zâmbía, cerca de 1150 quilómetros de linha de fronteiracom dois países africanos independentes e, portanto, encarados pelas autoridadescoloniais como sendo potencialmente hostis. Além disso, uma das suascircunscriçoes, a Mutarara, era atravessada pela rota natural de passagem para ocentro do país, que através do rio Chire ligava o Malawi directamente ao rioZambeze e à serra da Gorongosa, no coração de Moçambique.Por outro lado, o território era ocupado por uma população dispersa ediversificada, numa teia complexa que, historicamente, ficou a dever-se a realídade do rio Zambeze como ponto de passagem e zona de cruzamento de váriasmigrações. Uma população com ligações económicas, culturais e familiaresintensas com todos os territórios circundantes, e que tinha

portanto dificuldades em assumir as fronteiras determinadas no papel pelaspotências coloniais - fron teiras, além do mais, mal definidas no terreno e praticamente não policiadas1. Tal situação havia sido historicamente intensificadapelo desenvolvimento económico das colónias inglesas que cercavam o territóriode Tete, particularmente a Rodesia do Sul mas, também, a Rodésia do Norte e aNiassalândia, qie se constituiram como polos de atracção da força de trabalho doDistrito. Uma força de trabalho que aquele não tinha capacidade de absorver, seconside rarmos que ainda em 1966 não havia indústria para alem da extracção docarvao de Moatize, e onde os empreendimentos agrícolas, fora do âmbito familiar,eram insignificantes e concentravam-se nas mãos de meia dúzia de colonos 2Em suma e na perspectiva das forças coloniais, o fortalecimento do Movimentode Libertação (adivinhado no trabalho clandestino que fazia junto das populações), associado à configuração particular do territorio, ao abandono a queestava votado, a liga ção entre as suas populações e as populações dos ter ritóriosvizinhos que ascendiam a independência, eram factores que levavam asautoridades coloniais a pre ver para breve o início da guerra em Tete e a tomarmedidas para a enfrentar.O dispositivo das forças portuguesasTal como nos restantes distritos da ProvÍncía, o Distrito de Tete era administradodirecta e indirectamente. Divídia-se em concelhos e circunscrições e estes empostos administrativos dirigidos por admínístradores. Dependendo directamentedos administradores de posto estavam os regulados, dirigidos pelos régulos quefaziam a ligação entre a administração colonial e o chamado "poder político indÍgena". No interior do regulado estavam os grupos de povoações e as povoaçoespropriamente ditas, com

os seus chefes respectivos3. Os régulos eram indi cados quer pela população,segundo as normas de sucessão particulares, quer pelas autoridades administrativas, segundo a conveníencia destas ultimas. Em qualquer dos casos eramsempre as autoridades que os confirmavam. Uma vez investidos, os régulos

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tinham o direito de formar nucleos de milícias de protecção nos quais apoiavam oseu poder, organizados localmente com armamento rudimentar e recebendo da admínistração algum armamento suplementar.Ligadas ao Governo do Distrito existiam ainda outras organizações milítarízadas:a Guarda Frontei ra, vocacionada para o controlo dos movimentos fron teiriços; aPolícia de Segurança Pública que, para além das funções de policiamento daszonas urbanas, desenvolveu, a partir dos inícios da década de sessenta a criaçãodos postos de PSP/Milícias. onde um elemento da policia enquadrava milícianosna "protecção" de localidades e aldeias. Esta estrutura veio mais tarde a ter grandeimportância no controlo dos aldeamentos. Para além das forças de milícias ligadasà PSP. existiam outras forças militarizadas dependentes directamente deorganismos autónomos e destinadas a proteger as areas de actividade daqueles.São os casos das Milícias dos Caminhos de Ferro, dependentes da Polícia dosPortos e Caminhos de Ferro, das Milícias da Missão de Fomento e Povoamen todo Zambeze e das MilÍcías da Trans-Zambezía Rail ways4.Em 1966, paralelamente às forças milítarizadas, os contingentes militares doDistrito eram compostos por um total de dois batalhões mais duas companhias,cerca de mil e quinhentos homens, com uma ac tividade essencialmente depatrulhamento. Apesar de ser uma zona ainda sem guerra e devido às acções depatrulhamento por forças tão diferentes, com subordinaçoes tão diversas, oGoverno do Distrito tinha em funcionamento um Gabinete de Operações que,ínformado dos patrulhamentos militares, coordenava a realização das acçõesmilitarizadas. Assim, em ter.

3. Os regulados na zona de guerra.

4. Dispositivo militar português na zona de guerra. Março de 1968.26

mos práticos, toda a movimentação destas forças, os seus itinerários e operações,era coordenada centralmente a partir da cidade de Tete, de quem depen dia emúltima instância, e só em casos de emergência e que elas passavam a seraccionadas directamente pelas autoridades administrativas locais. Alem disso e noâmbito dessa coordenaçao, os postos de PSP/ /Milícias começaram a serestabelecidos prioritaria mente nos locais onde não havia forças militares5.Todavia, as perspectivas da abertura da Frente de Tete impuseram grandesmudanças entre 1966 e 1968, sobretudo no tocante ao dispositivo militar, com areorganização do sistema de ocupação do território e o aumento de efectivos.Assim, o mes de Março de 1968 vai encontrar o exército portugues em Teteconstituido por um contingente de tres batalhões mais algumas companhias,obedecendo a uma lôgica de ocupaçao territorial determinada. De facto, o vastoterritório do entao Distrito, denominado Sector F na organizaçao militar, estavadividido em tres grandes regiões, os Subsectores, cada um deles sob a reésponsabilidade de um batalhão:- O Subsector FFG, com sede no Fingoe e repre sentando uma área que ia desde afronteira ocidental até ao rio Capoche, e desde a fronteira com a Zâmbía até ao

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rio Zambeze, defendido pelo Batalhão de Caçadores 1906 (que tinha vindorender, em Fevereiro do mesmo ano, o Batalhão de Artilharia 1882);- O Subsector FFR, com sede em Furancungo, cor respondendo às areas doConcelho da Macanga e da Cir cunscriçao do Bene, defendido pelo Batalhão deCaça dores 1890;- O Subsector FTT, com sede na cidade de Tete e o mais extenso em área,abrangendo todo o territó rio de Tete a Sul do rio Zambeze mais a Circunscriçãoda Mutarara e os Concelhos de Moatize e Angónia, defendido pelo Batalhão deArtilharia 1881.No interior de cada subsector, as diversas com panhias em quadricula dosrespectivos batalhoes sedíavam-se nas localidades secundárias destacando,

por sua vez, pelotões para os restantes lugares e assegurando, atraves depatrulhamentos determinados e planificados, o controlo da area que lhes estavaatribuida. Por vezes, o contingente de cada subsector era reforçado porcompanhias exteriores ao bata lhão. Assim, para além das chamadas companhiasem quadrícula, a quem estavam atribuídas operaçoes de rotina dentro dasrespectivas áreas, existiam compa nhias de reforço e companhias de intervenção,chama das a uma área específica para participar numa operação particular, quer deprotecçao a acçoes de reor denamento populacional, quer assaltos a bases deguerrilheiros e outras.O tipo de ocupação do território efectuado pelo exército português era, assim,essencialmente "admínistratívo", ou seja, ele estendia-se desde a cidade de Teteaté às mais pequenas localidades de uma forma vertical e regular, como se fosseele pro prio uma estrutura da administração. Ressalvando as particularidadesinerentes a cada uma das estruturas temos que, por exemplo, o pelotãoestacionado no Zo buè dependia da Companhia de Artilharia 1512 de Moa tize eesta da sede do Batalhão de Artilharia 1881, em Tete, tal como, quanto a estruturada administra ção, o Posto do Zóbuè dependia da sede do Concelho, em Moatize,e esta da capital em Tete. O paralelísmo não ressalta só no tocante à"verticalidade" da estrutura mas também na homogeneidade da distribuição doscontingentes pelo território: De uma forma geral, todas as sedes, postos e simpleslocalidades tinham um corpo militar la colocado, por mais peque no que fosse.Tal forma de ocupação do território, que a pri meira vista pode parecer óbvia,começa a deixar de o ser se atentarmos no facto que nem todas as regiões doDistrito estavam "ameaçadas" no mesmo grau pelo desencadear da luta. Havia,de facto, zonas onde a probabilidade de ocorrência de acçoes armadas era maiselevada do que noutras, exigindo portanto a pre sença de maiores contingentes, oumais preparados,

ou pelo menos uma distribuição da ocupação militar que tivesse mais claramenteem conta tal factor. Além disso, uma malha homogénea, se fosse afectada numponto por acçoes armadas teria mais dificuldade em se reajustar, do ponto de vistaoperacional, considerando as dificuldades existentes em termos logísticos e decomunicações. Torna-se portanto interessante discutir as razões de tal situação,

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estreitamente relacionada com a concepção global de defesa das forçasportuguesas.A concepção global de defesaAs particularidades do Distrito de Tete assim como dos paises vizinhos, aliadas aum conhecimento crescente das experíencias coloniais e dos textos clássicos daguerra de guerrilhas 6 , assente na par tícipaçao popular, fizeram com que, durantea década de sessenta, as autoridades portuguesas desenvol vessem uma concepçãoe uma prática de defesa do ter ritório na qual a população tinha um papel central.De facto, a consciencia do papel vital desempenhado pela população no quadro deuma guerra de guerrilhas fez com que se generalizasse a idéia de que a vitóriaseria de quem conseguisse conquistar as populaçoes para o seu lado. Dai aconclusao dos Servi ços de Centralização e Coordenação de Informaçoes deMoçambique (SCCIM):"Essencial - e sempre - e a população. Lenine formulouees truturou toda umateoria da chamada 'manobra de aproximaçao indirecta', que Mao-tse-tungactualizou e que outro alvo não visa senão a conquista das populações, porque éeste o terreno em que se desenvolve a guerra subversiva"7.Por um lado, portanto, pretendia-se, com a colaboraçâo activa da população,"desmultiplícar" o esforço das autorídades, pondo aquela a actuar na defesa dosinteresses portugueses. Por outro, controlar a população sígnifícava,simultaneamente, re tirá-la do contacto com os guerrilheiros e impedir

o crescimento da sua consciência anti-colonial. Nes ta linha, desenvolveu-se todoum trabalho teorico, sobretudo a nível dos SCCIM. Em 1965, Ferraz de Frei tas,numa obra editada por aqueles serviços8, expunha os conceitos centrais da teoriado controlo da população, assente nos chamados "comandamento" e"accionamento". Considerava que a acção de mandar assentava apenas na forçafísica e na intimidação por parte de quem manda. A esse conceito, limitadoporque condenado quando diminuísse a força fÍsica da autoridade, ele opunha oconceito de "comandar", baseado na participação da população. Comandar, oudirigir, implicava portanto um conhecimento das for ças sociais para criarcondiçoes para a sua manipulação. Conhecer a população, "os seus interesses easpirações", era pois a unica maneira de se chegar a saber como aliciá-la, ou seja,como "conquistarlhe as mentalidades". Paralelamente, um aliciamento bemconseguido possibilitava o "accionamento", que era definido9 como o conjunto demedidas destinadas a pôr a populaçao a trabalhar activamente na defesa da ordemcolonial, nomeadamente na detecção de guer rilheiros e no controlo das suas áreassob o ponto de vista da segurança.Na sequencia e em concordância com esta perspectiva o Governo do Distrito vaiter um papel de relevo, pois era a ele que cabia pô-la em prática. Em Abril de1966, reunido com todos os seus adminis tradores de concelho e circunscrição, oGovernador do Distrito de Tete, tenente-coronel João Cecílio Gonçalves,reafirmava a importância fundamental da população para ambos os contendores,no cenário da guerra que se avizinhava. Segundo ele, tal importan cia para asforças nacionalistas era comprovada pelo facto de todos os grupos de

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guerrilheiros, por mais pequenos que fossem, incluírem nas suas fileiras umresponsável político com o papel central de "convencer" as populaçoes a aderir àsua causa. Por isso ele exortava os administradores a abandonarem uma posiçãomeramente defensiva, caracterizada por

um- silencio político, e a lutarem pela supremacia no próprio terreno onde surgiao desafio 10.É curioso notar que apesar do apelo à luta polÍtica, o que se tentava edificar erasobretudo uma tecnica - apurada mas, mesmo assim, apenas uma tec níca - decombate a luta nacionalista. Incapaz de compreender a natureza popular da luta delibertação, de compreender o facto do desenvolvimento da guerrilha poderdesembocar na acção não só de guerrilheiros vindos de fora mas sim da própriapopulação em armas contra a opressão colonial, esta análi se tinha apenas emconta uma população inerte, esta tica, à espera de ser conquistada ou pelasautorida des coloniais ou pelos guerrilheiros.Assim, na mesma ocasiao, o Governador definiu a responsabilidade de cadaadministrador na sua área de actuação: Conhecer as populações, as "forças ocultas" que as fazem mover, para com esse conhecimento se poder jogar,manipulando-as11. Sobretudo os anos de 1966 e 1967 vão ser, neste contexto,caracteriza dos por uma "obsessão antropológica": conhecer profundamente aspopulaçoes, as suas etnias, as relaçoes do chamado poder tradicional. Dos níveisprovincial e dístrital chegam aos administradores pedi dos para que investiguemos diversos grupos populacíonais da sua área de jurisdição para conhecer econtrolar a sua extensão, a sua eventual subordinação em relação a chefesexilados ou fugidos, a sua receptividade face à acção das forças nacionalistas, asua extensão territorial e numérica, a sua influên cia nos povos vizinhos, o seugrau de desenvolvimento sociál e muitos outros aspectos 12. Símultanea mente,com as informaçoes recebidas, elaboram-se e distribuem-se cartas étnicasdetalhadas13.Sempre na mira da sensibilização das autoridades locais, os SCCIM apontamcomo exemplo da importancia da relação com a população um episódio ocorridotrinta anos antes, em 1935, quando a administração local se incompatibilizou como Undí, chefe dos Acheuas, negligenciando a sua importância no seio

das populações e o facto de ele ser o herdeiro do fundador do Império Karonga.O resultado foi a reti rada do Undi para a Rodésia do Norte, arrastando atrás de siuma grande população e pondo em risco toda a relação entre a administraçãoportuguesa e as chamadas "autoridades tradicionais". Trinta e um anos depois, em1966, os efeitos ainda se faziam sen tir na forma de regedorias desertas, nuncamais reo cupadas desde então, e de regedores menores que, quan do investidospela autoridade portuguesa, argumenta vam sempre a necessidade de ir junto doUndi, na Zâm bia, para que ele confirmasse a eleição. Tal fenóme no, queabrangia areas tao vastas quanto a Marávia, Macanga, Máguè e certas zonas doZumbo, indicava cla ramente, segundo os SCCIM, o preço a pagar pelo desconhecimento das relações do poder tradicional14. Lon ge de ser apenas teórica,esta perspectiva vai ter seguimento com o desenvolver de complicadas técnicas e

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praticas de recolha de informações e de manipulação da população, através daAcçao Psico-Social.A recolha de informaçoes constituía logicamente o meio privilegiado para aobtenção de dados relativos ao conhecimento das populações e ao inicio dasacções armadas, essenciais portanto para a prevençao. Como a documentaçãoclaramente mostra, a ím portância da actividade de recolha de informaçõesestá nofacto de todos os serviços lhe terem dedica do uma atenção especial. A situaçãoera, no entanto, muito complexa: os diversos serviços tinham os seus agentes emetodos próprios. A Administraçao Civil, sobretudo a nível dos administradoresde posto, rea lízava actividades por iniciativa propria ou a pedi do de escalõessuperiores, possuindo os seus mecanismos de contacto com as populações e osseus agen tes fixos ou itinerantes15. A PIDE tinha tambem as suas delegaçõesregionais com os seus agentes locais, e coordenava ela própria as suasinformações. Estes a nível de terreno, portanto. Depois, os SCCIM,ani vel daentão ProvÍncia, com delegações a nÍvel distrital, processava as informaçoes civise militares,

produzindo boletins de diverso tipo e com cobertura variável. Havia ainda, claro,os serviços de informações militares.Todavia, a dificuldade residia, sobretudo, pre cisamente na articulação deinformaçoes com origens tão diversas, e também no tipo de informações produzidas, que tinha directamente a ver com o grau de inforniação e sensibilidade dosserviços particulares. Para um administrador de posto que nao estives secompletamente informado sobre a problemática geral da defesa do territorio, porexemplo, umanotícia referente a uma outra circunscrição que não a sua poderiaser ignorada, por irrelevante para o seu trabalho. Um detalhe vital, no entender daPIDE, por jogar com toda uma série de informaçoes, poderia pa recer umaninharia ridicula aos olhos de um guarda fiscal16. Uma falta de sensibilidade quetinha, por sua vez, que ver com a propria falta de informação das estruturas. Poroutro lado, as informações veiculadas por escalões centrais como os SCCIM, seganhavam em articulação e em nitidez (ou "recorte", como se dizia), porquerecebiam "tudo de todos os lados", perdiam em oportunidade, pois a morosidadeburocrática da viagem dos papéis fazia com que, regra geral, chegassem atrasadase dissessem respeito a factos já conhecidos localmente ou acontecimentos que jánão se podiam evitar ou, ainda, cuja veracidade jâ não se podia investigar.Todavia, era clara, para as autoridades coloniais, a necessidade de conhecer aspopulações mas não de uma forma passiva. De facto, era necessario, segundo essaperspectiva, o accionamento imediato, "fazer mover" as populações sob o seucomandamento. Assim, em Março de 1966 divulgavam-se junto dosadministradores as experiencias do Governo do Distrito da Zambézia e doConcelho de Mecanhelas, no Nias sa, no combate à infiltração dos guerrilheiros,fazendo recurso ao accionamento das poptslações. Em Me canhelas é detectada eneutralizada uma coluna de guerrilheiros em passagem para a Zambezia, por meio

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de batidas organizadas por regedores e chefes de gru pos de povoaçoes, tendo-se aadministração limitado a um trabalho previo de mentalização e a cedencía decipaís armados, que deveriam actuar sob as ordensdas "autoridades tradicionais"17.Em relação a Zambezia, foram divulgadas operações destinadas a localizarguerrilheiros mas que, curiosamente, tinham como objectivos prioritáriosnão os guerrilheiros em si mas sim as próprias popu laçoes, o teste do seucomandamento. Por exemplo,eram os seguintes os objectivos a testar numa delas:"a) O papel primacial das populações na gjerra subversiva;b) A imprescindibilidade da sua colaboraçao na detecçâo deelementos subversivos;c) A importância fundamental da exploração dos efeitos psicologicos;d) A vantagem do comandamento directo das populações;e) A necessidade de as levarmos a vincularem-se a nos no combate a subversão, comprometendo-as aos olhos daquela"18.NJo seguimento destes "testes" de comandamento também em Tete se fizeramalgumas experiências, nomeadamente na Circunscriçao da Mutarara, zona estratégica importante por ser atravessada no sentido Nor te-Sul pelo rio Chíre,corredor natural de penetração para o centro, e no sentido Este-Oeste pela linha decaminho de ferro que viria a abastecer o empreendimento de Cabora Bassa. O seuadministrador, juntamente com o Governador do Distrito, foi um dos defensoresde uma estratégia activa, afirmando que"A melhor forma de conhecer as terras e as gentes é percorrê -las a~pé, atingindoos recantos mais afastados em pequenas opera2oes de reconhecimento. Jáalgumas realizámos, numa con jugaçao de meios da administração, Polícia deSegurança Publica, OPV [OPVDC, Organização Provincial de Voluntários deDefesa Civil], exercito e populações nativas (...). Falei aos regedores, combinandocom eles o ajuntamento das populações.Uma vez reunidas, fiz-lhes ver a utilidade das batidas com o fim da sua própriasegurança. Uma semana ou menos é suficien te para a preparaçao de uma batida.Os resultados dependem da surpresa da batida. Um destes resultados é ocomprometimento das populações; outro é o da intensificação do seu convívioconnosco, o que nos permite observá-las de perto. Na primeira batida, a titulo deexperiência, reunimos 30 homens; nase gunda 300. A finalidade desta grandeconcentração era impressionarmos os indivíduos afectos à subversão"19.

Só na Mutarara, entre Junho de 1966 e Março de 1967, foram realizadas pelomenos seis grandes operaçoes deste tipo 20, envolvendo a movimentação de maisde mil pessoas. Baseadas na iniciativa local dos administradores e no seu quadrode informaçoes, elas procuravam pôr em pratica o conceito de "coman damento",assentando a "conquista da adesão das po" pulações" no "accionamento" destas,ou seja, procurando ganhar as populações para a ordem colonial no decorrer doprocesso de as por a lutar pela defesa dessa mesma ordem - simultaneamente.

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Todavia, progressivamente este tipo de actividades, baseadas localmente,começou a ser posto de parte a medida que a possibilidade de "confiar" naspopulações ia diminuindo, e que se ia impondo a necessidade de coordenarmelhor o aspecto da conquista das populaçoes com a estratégia global de defesa.De facto, aos olhos das autoridades e a medida que o tempo corria, pareciaeventualmente cada vez mais arriscada a movimentação da população armada ecomandada (ainda que em parte) pelas suas próprias es truturas de poder. Aautonomia da população, consciente ou inconscientemente, era um risco.Além disso, era necessário coordenar os proces sos que visavam a conquista daspopulações, para el minar as incongruencias advenientes de eles ficarementregues exclusivamente à iniciativa local. Assim, foram reactívados, nos finaisde 1966, os Serviços de Acção Psico-Socíal.Na verdade, os Serviços de Acção Psico-Social existiam já desde há muito.Todavia, como coordenar implicava centralizar, a sua actividade manifestava-se no pedido dei inquéritos e relatórios aos administradores e no envio debrigadas pontuais para ac tuar sobre problemas específicos. Nunca se tinhaquestionado globalmente o problema nem a forma de articular mais eficazmenteesses serviços, sobretudo com o aparelho da admínistraçao. O resultado era que osadministradores preenchiam de forma mecânica os relatórios trimestrais, que elesencaravam como

mais uma obrigação burocrática. Os temas que consta vam nos formulários,nomeadamente festivais de natu reza popular, sessoes culturais, sessoes decinema, festas escolares, assistência a necessitados, visitas as terras, regimes detrabalho injustos e ilegais, processos viciosos de aquisição da lavra indi gena,contra-propaganda e outros, eram frequentemen te deixados em branco, alegandoos administradores falta de meios para os desenvolver ou resolver. Af ir mava, em1963, o Administrador de Moatize, a respei to da campanha de acção psico-social,que a falta crónica de meios, para alem de impedir o desenvolvi mento daqueletipo de acçoes, acabava por por em cau sa o próprio prestígio da adminístração,dando dela uma imagem de incapacidade e de ínutilidade21.Quanto à actuação das brigadas dos Serviços de Acção Psico-Social, é óbvio queo seu número era li mitado, destínando-se a actuar nas zonas onde se de tectavam"problemas". Tratava-se, portanto, de uma actuação mais "curativa" quepreventiva22, contraríamente aos seus princípios orientadores e, necessariamente,com problemas de articulação com a estrutura administrativa que nem sempre viacom bons olhos estas intromissões nos seus domínios.Pelo seu nível de centralizaçao e grandes meios requeridos, a reactívaçao daAcção Psico-Social, fun damental no quadro do desenvolvimento de uma conce£çao global de defesa que, como vimos, dava tanta im portancia à população, foium processo moroso. EmJa neíro de 1967 ela era tentada, ainda a nível central, naentão Lourenço Marques, pelo Governador-Ge ral José Augusto da CostaAlmeida que, em despacho de 25 desse mes, revia as chamadas "Normas para aActividade da Informação e Formação da Opinião Pública", estabelecídas em1966, e criava o GIFOP [Ga binete de Informação e Formação da OpiniãoPublica], dependente do Governo Geral. Destinava-se este Gabi nete a fazer o

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"estudo e determinação dos métodos e sistemas de propaganda e contra-propaganda com vista a se accionar ou promover o accionamento da in-

formação e formaçâo da opinião pública no sector da contra-subversão' 23.Constituiam este Gabinete o Se cretário-Geral, que a ele presidia, o Director dosSCCIM, o Sub-director da PIDE e um delegado do Gabi nete Militar doComando-Chefe das Forças Armadas.Na sequência da criação do GIFOP, apelou-se aos distritos para que criassemCentros Informativos, lo cais "onde se reunem diferentes meios visuais de ínformaçâo em painéis, que devem ser acessíveis, atraen tes e virados para captar apopulação". Estes Centros Informativos deveriam, priorítariamente, colaborar emoperações psicológicas lançadas e difundir notícias de interesse.Subsidiariamente, poderiam ser usados para fins educativos como, por exemplo,conselhos sobre higiene, assistência materno-infantil, técnicas de agricultura eoutros 24.Paralelamente, na mesma altura e incentivada a emissão radiofónica, através daVoz de Moçambique, de programas em changane, ronga, macua, chuabo, nian ja,ajaua e swahíli, visando cobrir toda a então Pro vlncia, mas dirigidos sobretudo àszonas de guerra. Ao mesmo tempo começa a ser distribuído, localmente,equipamento para a realização de entrevistas e depoimentos, a serem incluidosdepois em filmes de propaganda25.A estruturaçao da Acção Psíco-Social em novos moldes parece ter conduzido aresultados pouco eficazes. Exigindo grandes investimentos de recursos humanos efinanceiros que o Estado colonial nem sem pre estava capaz de suportar, pretendiaapoiar-se num aparelho administrativo que nao tinha, de forma alguma, ascapacidades que, a partida, contavam que tivesse. Donde resultavam morosidadesburocráticas e avanços muito mais aparentes e formais do que aque les serviçosqueriam dar a entender.Além disso, pode-se dizer que a perspectiva que presidiu à reestruturaçao dosServiços de Acção Psi cológica se afasta dos postulados do "comandamento" quepreconizavam a conquista da adesão das populaçoes no decorrer da propria acçãode as movimentar

na defesa da ordem colonial. A perspectiva dos Centros Informativos e dasemissões de rádio, por exem plo, subentende uma população estática, cujaconsciência seria eventualmente "lavada" pelas mensagens produzidas.Enfim, ela constituía mais um aparelhoa montar no Distrito, ou então mais umencargo para as forças administrativas. Se tivermos em conta a fragíli dade doaparelho administrativo na altura, compreen deremos porque a acçao psico-socíalnunca chegou a extensas zonas de Tete nos anos que precederam odesencadeamento da luta armada. Alem disso, o GIFOP veio aumentar o númerode estruturas destinadas a operar nesta area 26 sem a contrapartída de lhe dar umaatenção especial no Distrito: Como e óbvio, sen do uma estrutura central, davamais atençao as zonas de guerra declarada como Cabo Delgado e Niassa. Assimse compreende só em Julho de 1968 ter sido criada a COCAP [Comissão deCoordenação da Acção Psi cológica], ôrgão centrado no Distrito, presídido pe lo

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Governador dístrital e destinado a organizar esta area27. Tinha por objectivo"trabalhar" as populaçoes sob controlo colonial ("impermeabílizá-las contra astentativas do exterior que visem submete-las, mas também ídentificá-las cada vezmais com a nossa política...") e as populaçoes que estavam com os guerrilheiros.Subjacente a toda esta estratégia dirigída para as populações estavam doisaspectos que não foram ainda aqui referidos, mas que se afiguramexcepcionalmente importantes: um reordenamento populacional e um discurso dedesen-olvimento.Um reordenamento populacional porque tal era o pressuposto de toda estaconcepção global. Agrupar uma população que ocupava o território de forma eminentemente dispersa, para poder por em pratica a es tratégia de defesapreconizada, no sentido lato: pa ra mais eficazmente a poder isolar das forçasnacio nalístas, do ponto de vista militar, mas também para melhor dirigir a acçãopsico-social e para melhor

concretizar o discurso do desenvolvimento.O Governo do Distrito teve consciência da importancia do reordenamentopopulacional na sua estratégia de contra-guerrilha. O aldeamento e tudo o que elepressupunha assentava, acima de tudo, numa filosofia de prevenção: impedir queas populações contactassem com as forças nacionalistas, para que não fossem"contaminadas". Assim, afirmava o Governador de Tete, em 1966, depois dereferira experiên cia de outros distritos da Província no tocante aos aldeamentos:"As populações que fogem ao nosso controlo passamaandar sob o controlo doinimigo que dispõe hoje ja na organização dos seus bandos de elementosespecialmente destinados a guardá-las e doutrina-las. Quando a guerra chega aesta fasq,, temcs que ser nos a tomar iniciativa de as conservar e a unica maneirade as segurar será o recurso aos aldeamentos onde as populações estao reunidas,onde estão protegidas pelas forças de segurança. (...) Ora o aldeamento queaparece aqui como uma necessidade, quando a guerra atinge esta fase, começa 12go por ser uma solução desejável para quem queira actuar com antecipaçao.Queremos dizer, se o aldeamento se há-de fazer mais tarde em recursoimprovisado quando porventura a situação se altera a ponto de tornar imperiosa asua existência, porque não fazermos antecipadamente o aldeamento das nossaspopulações?"28Sendo essencialmente uma estratégia de defesa, o aldeamento e apresentado apopulaçao com um discurso de desenvolvimento, destinado a "convencê-la". Umdiscurso assente nas vantagens materiais advenien tes das populações seposicionarem do lado das auto ridades. Só concentradas as populações poderiambeneficiar de escolas, furos de agua, postos de saúde, cantinas, apoio aagricultura, estradas para escoamento dos produtos agrícolas e outros. Por outro lado, era evidente que integrar a produção camponesa cada vez mais no mercadocolonial, para além das van tagens decorrentes, significava simultaneamente umesforço para atenuar as ligações económicas das populações com os paisesvizinhos, cuja implicação na segurança era evidente.Porem, convém deixar clara a subordinação dos aspectos do desenvolvimento emrelação ao sentido

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estratégico do aldeamento como solução de defesa mi litar por excelência29. Talcomo os demais elementos desta concepção global de defesa, também osaldeamentos, teoricamente com um sentido de prevenção, acabaram por vir areboque dos acontecimentos da guerra. Assim, começaram a ser edificados nãopara isolar as populações dos contactos com as forças na cionalistas, mas naszonas onde a luta armada ja se fazia sentir. A titulo de exemplo, vemos que nas zonas onde a guerra se iniciou, Maravia, Macanga e Be ne, os aldeamentos sócomeçaram a ser feitos em finais de 1968 e em 1969. Os motivos do atraso desteprocesso, eventualmente decorrentes da escassez de meios materiais e daperspectiva da "edificação dos aldeamentos com base no aliciamento e não naforça", defendida pelo Governador do Distrito 30, ficaram tam bém seguramente adever-se, em grande parte, à escassez das forças administrativas e da suaimplanLa ção no terreno.É claro que a administração não podia, por si só, por em pratica este imensoprocesso, cujo falhan ço poria globalmente em causa toda a estratégia de defesa.Assim, a irrisória presença da administração, obrigada a controlar uma populaçãoessencialmente dispersa num vasto território, simbolizada pe la presença de umadministrador de posto muitas vezes isolado em quilóuietros de extensão, foicriando uma vocação (ou um destino) adminístrativa no exército. Ele vai ter queestar em toda a parte, apoian do a administração na tentativa de concretizar a estratégia que lhe cabia e que ela, por si só, não con seguia levar a cabo.Assim, também junto das forças militares trans parece, a cada passo, estaconcepção de conquista da adesão das populações. Como se pode verificar nos"Planos de Actividade Operacional" das unidades militares, a sua missão principalera:"- Controle e aliciamento das populações (argumentaçãoejus tificação constantessobre a razao das populaçoes deverem es tar do lado do exército português e nãodo lado dos guerrilheiros);

- Acção psicossocial;- Procura de informaçao;- Reacção pronta e enérgica à noticia, informação ou ocorrência concreta"31.Neste sentido o exercito, longe de se remeter a defesa no sentido estrito, vaienvolver-se também em tarefas mais latas, integradas nesta concepção de de fesa,desde o ordenamento populacional a construçao de estradas, passando pelacomercialização dos produtos camponeses e pelo apoio sanitário.Portanto, a razão fundamental da dispersão do exército no terreno estariaeventualmente ligada a incapacidade da administração em desempenharo papelque lhe cabia na estratégia global de defesa, obrigando a que aquele viesse em seuauxilio para desem penhar tarefas nao estritamente militares. Houve po rem outrosfactores por detrás dessa dispersão mili tar no território, nomeadamente aconfiguração geográfica do próprio Distrito de Tete, como vimos, as sim como adificuldade em prever o inicio e os locais das acçoes armadas.Vimos anteriormente como a existência de fronteíras comuns com dois paísesafricanos era factor de preocupação para as autoridades portuguesas. Em relação

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ao Malawi, a situação era aparentemente facilitada pela politica de boa-vizínhançareiterada pelo seu presidente, o Dr.Hastings Kamuzu Banda, e pela existência deredes de colheita de informaçoes em funcionamento desde os inícios da década desessenta, quer ao nível das autoridades malawianas, quer junto do aparelho daFRELIMO ali instalado. Além disso, o facto do Governo malawfano fazer umagrande identificação entre os seus "ministros rebeldes"- Chiume e Chipembere primeiro, em 1965, e Chisiza depois, em 196732- e aFRELIMO, constituiu mais um factor de tranquilizaçao das autoridadesportuguesas que conseguiram, ínclusivamente, um grande apro fundamento dacooperaçao entre os dois lEstados no am bito da segurança. Todavia, perturbavamtal estado de coisas o facto das autoridades malawianas não con

trolarem inteiramente o seu território no aspecto da segurança (podendo, portanto,ocorrer movimentaçoes com o total desconhecimento daquelas), assim como aintensa e continuada acçao de propaganda e conscien cializaçao popular levada acabo pela FRELIMO a par tir do territorio daquele país e incidindo sobretudo nasregioes dos postos administrativos do Zóbuè e Caldas Xavier, no Concelho deMoatize, e em toda a Circunscrição da Mutarara, nomeadamente no vale do rioGoma e no Sinjal, em 1966 e 196733.Em relação a Zâmbia, a situaçao era ainda mais delicada. Por um lado, tinhamuito em comum com a situação do Malawí. De facto, em 1967, numa altura emque os organismos internacionais apelavam para o boicote a Portugal (não só pelaquestão colonial co mo também pelo seu apoio a Declaração Unilateral deIndependência da Rodésia), a Zâmbia, pelo contrário, era obrigada a aprofundar asua dependencia, nomeadamente em relação ao porto angolano de Lobito3 4Todavia, a situação era agravada pela dificuldade de actuação dos serviços deinformaçoes coloniais. Tal facto, manifesto, por exemplo, pela escassez deínformaçoes a este respeito nos arquivos coloniais, em contraste com a abundantedocumentação da mesma natureza respeítante ao Malawi, devia-se eventualmentea ausencia de relaçoes economicas significativas entre o Distrito de Tete e aRepública da Zâmbia, assim como à falta de controlo das autoridades colo niaissobre as populaçoes das áreas fronteiriças. Depois, claramente que era a partir daZâmbia que começavam, em 1967 e 1968, a vir as incursoes armadas doCOREMO e da FRELIMO.Em suma, para as autoridades militares tratava-se, portanto, de defender todo oterritório de Tete a norte do rio Zambeze. Tarefa imensa que exigia a definição decritérios que a simplificassem, critérios que permitissem privilegiar a defesa decertas zonas em detrimento de outras, que permitissem contrariar a dispersãohomogénea do exército pe lo território. Para tal era necessrio, sobretudo,

aprofundar a ligação com as populações e o conhecimento das suas atitudes arespeito da FRELIMO, por um lado, e por outro, desenvolver e aperfeiçoar osistema de informações respeitantes aos países vizi nhos e às intenções concretase detalhadas da FRELIMO.Em relaçao ao aprofundamento das relações com a população, vimos já que é umfactor que emana directamente da concepção global de defesa. Para trabalhar

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neste sentido era necessária a concentração de uma populaçao que ocupava oterritório de uma for ma predominantemente dispersa, de modo a ser possível aefectivação do chamado "sentido de presença, só concretizável através de visitasconstantes as pequenas aldeias dispersas, e da prestaçao contínua da de pequenosbenefícios, assim como da punição de outras aldeias, suspeitas de colaboraçãocom as for ças nacionalistas. Também - e sobretudo - para o exército, portanto, setornava vital o processo de reordenamento populacional dos aldeamentos.Vimos atras que o exército não tinha critérios seguros para alterar a malhahomogénea com que ocupava o território do Distrito, forma de se preparar maisconcretamente, no terreno, para enfrentar a lu ta armada. Prova evidente disso e,por exemplo, o "Plano de Operações Terra Quente", datado de finais do ano de1967, e que fazia o balanço e traçava orien taçoes para o dispositivo militarportuguês no território35. Ali consideravam os comandos militares portuguesescomo vias possíveis de penetração da FRELIMO, ou ínfiltrantes mais prováveis,todos os percursos ao longo dos rios, com tantas alternativas quanto os riosAruângua, Meze, Luatize-Capoche, Mucumbuzi-Capoche, Muangadzi-Luia,Vubué-Luía, Missale-Luia e, ainda, Ncombezi e Goma.Tratava-se, portanto, tres meses antes das pri meiras acçoes armadas, de todo oterritório a Norte do rio Zambeze.

5. Rotas possiveis de infiltração da FRELIMO segundo previsões do exercitocolonial em finais do ano de 1967.

Capitulo IIA FRELIMO E A PREPARAÇAO DA LUTA ARMADA EM TETEO desencadeamento da luta armada em Tete constituiu o corolário de uma série deacções levadas a cabo pela FRELIMO com o objectivo de alargar as zonas deguerra, tendo em vista o fim último da liber tação do pais.O segundo capitulo do presente trabalho preten de discutir as iniciativas tomadaspela FRELIMO no âmbito da preparação da luta armada em Tete, assim como oquadro conjuntural em que elas tiveram lugar, com base na documentaçãocolonial disponível. Trata-se de uma tarefa mais delicada que a abordagem das forças coloniais a partir dedocumentação da mesma natureza. Na verdade, não é difícil verificar que taldocumentaçao, carregada de ideologia, veicula a imagem que as forças coloniaistinham do seu inimigo. Além disso, trata-se de uma imagem nem sempre"nítida", nem sequer para as forças portuguesas, porque dependia essencialmentedos elementos que os seus diversos serviços de informaçoes lhes podiamfornecer. E tais elementos, como se poderá verificar, eram escassos, desconexos e,muitas vezes, con tradítórios, nos anos que precederam o desencadeamento daluta armada, compostos de interrogatórios, na maioria das vezes com base naviolência, de notí cas de rádio e jornais exteriores, de relatos de informadores.Era fácil, neste contexto, projectar determinadas suspeitas, "confirmar" certasteorias

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arreígadas que depois a realidade mostrava serem ín fundadas. Os problemasadvenientes da complexidade desta situação eram agravados, como se viu, pela estrutura burocratizada do sistema que produzia ou vei culava as informaçoes. Poroutro lado, e constítuin do o.factor mais importante, as forças coloniais, co moforças de ocupação, sabiam e sentiam-se "como o peixe fora da água":"No caso particular da Provincia, o inimigo pode contar com uma facilidadegeneralizada que lhe advem da sua própria iden tificação cultural e racica com omeio; a enorme desvantagemem que tal facto imediatamente nos coloca (...)1,A forma concreta que tomou a luta armada de li bertação em Tete, a partir deMarço de 1968, dependeu em muito da situação política interna da FRELIMO, dasituação político-militar concreta nas outras frentes, da forma como ela reagiuaos reveses de 1964 e 1965 em Tete, no quadro complexo que caracterizavaaquela região, e da estratégia que esses elementos permitiram traçar.A situação politico-militar interna da FRELIMOEm primeiro lugar, os anos de 1966 e 1967, a ni vel político-militar daFRELIMO, foram marcados pela reunião do seu Comite Central em Outubro de1966. Se bem que a maioria das questoes nela levantadas estivesse estreitamenterelacionada com as frentes de Cabo Delgado e Niassa, a análise efectuada e asdecisoes tomadas vieram a influenciar profundamente o prosseguimento geral daluta, incluindo, obvíamen te, a preparação da frente de Tete, e com incidência notrabalho do interior e na organização militar.No ano de 1966 assistia-se à agudização da cri se interna da FRELIMO, originadapelos problemas do exercício do poder nas zonas libertadas, ao embrião de novasformas da luta de classes que ali começava a ter lugar, sob a capa daquilo queficou conhecido como o conflito entre os políticos e os militares.

Associadas a estes problemas estavam as díficuldades inerentes as estruturasmilitares, inadequadas já para enfrentar o crescimento da luta.Em Outubro de 1966, o Comité Central da FRELIMO concluiu que por detrás dasituação prevalecente es tava uma concepçao regionalista e tribalísta da luta, frutoda fraca preparação política dos quadros do interior, pelo que decidiu intensificara sua pre paração política e, também, a sua formação militar. O Comité Político-Militar então criado visava controlar todo o processo destinado a atenuar asdiferenças entre os quadros "civis" do DOI [Departamento de Organização doInterior] e os quadros "milita res" do DD rDepartamento de Defesa], e a dar umcaracter unitário a lul2.A reestruturação militar da FRELIMONo ambito militar, a actuação do Comité Políti co-Militar, dirigido directamentepelo Presidente Mondlane, procurava tirar ao DD o caracter de "mais um meroDepartamento", considerando que, na fase que se atravessava, era natural que avocação da Defesa fosse a da condução geral de toda a luta, uma vez que todas asactividades da sociedade em processo de libertação eram condicionadas peloaspecto militar da luta. Em harmonia com esta evolução teve lugar a nível doexercito uma grande reestruturação.

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Até 1966 as frentes de combate estavam organizadas em regioes militares, comum comando regional directamente subordinado ao DSD [Departamento de Segurança e Defesa]. Era o Secretário do DSD quem organizava toda a actividademilitar. A partir da reu nio do Comité Central de Outubro de 1966 teve lugar umprocesso de reestruturação que conduziu a criação, em Abril de 1967, doConselho Nacional de Comando, dirigido pelo Secretário do DD que eracoadjuvado pelo Comissário Político do Exército. O aparelho superior do exércitofoi dividido em doze sec

çoes: Operaçoes, Recrutamento, Treino e Formação de Quadros, Logística(abastecimentos), Reconhecimento, Transmissão e Comunicaçoes, Informação ePublicaçoes Militares, Administração, Finanças, Saúde, Comissariado Político,Pessoal, Segurança Militar. Esta reestruturação abrangeu também as regiões decombate - Províncias - onde foi estabelecido um sistema de organização doexército paralelo à administração civil e profundamente interligado com ela. Ochefe militar provincial era subsecretário (ou se cretário) da província. Passoutambém a existir um chefe provincial adjunto, um comissario político e um chefeoperacional3. Com o surgímento desta nova estrutura, que modificouprofundamente a situação or ganizativa do exército, quer a nível das zonas decombate quer dos quartéis-generais, as comunicações melhoraram, tal como oabastecimento e o recrutamen to. Da mesma forma, tornou-se possível fazerplanos militares mais ambiciosos4 .A reunião do Comité Central de Outubro de 1966 iniciou a análise de uma criseinterna da FRELIMO que se iria agudizar e só terminaria com a realização do 119Congresso, em 1968 5. Todavia, as medidas que ela adoptou, nomeadamente notocante a reestruturação militar, permitiram um aumento sem preceden tes dacapacidade combativa e, portanto, repercutiram-se profundamente nosacontecimentos da abertura da Frente de Tete.Os grandes objectivos da Frente de TeteO antigo Distrito de Tete desde o inÍcio da lu ta que foi, potencialmente, umafrente. De facto, tal como em relação a Cabo Delgado e Niassa, também Tetetinha uma rectaguarda de moçambicanos no Malawi que cedo se ligaram àFRELIMO para preparar, a partir de 1964, formas de luta armada na região.Todavia, a incípiente organização militar, o fraco trabalho com as populaçoes nointerior, a posição do

Governo do Malawi, intransigente na proibição da cir culação de armamentoatravés do seu territorio, cons tituiram factores de fracasso da Frente em 1965, logo após a sua abertura6.Seguiram-se então três anos em que a situação parecia aparentemente paralizada,caracterizada pelas dificuldades de actuação do DOI e em que o COREMO[Comité Revolucionário de Moçambique] figura mais na documentaçãoportuguesa devido à realização de acçoes espectaculares. Três anos durante osquais a FRELIMO, o seu DOI e o seu exército, procuravam cres cer. Nessemesmo período o seu aparelho manteve-se no Malawi e, em certa medida, atecresceu, dentro dos limites que o Governo malawiano lhe permitiu. De facto, essa

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presença era importante e nao poderia ser substituída por uma presença massivana Zambia, por exemplo, pois garantia uma rectaguarda da Frente do Niassa,sobretudo do Niassa Austral, uma possibilidade de actuação na Zambézia e umaameaça cons tante à região da Mutarara, fundamental porque abria as portas parao centro de Manica e Sofala e porque por ela passava a linha férrea Beira-Moatize, que iria ganhar uma significação particular.Em paralelo, a FRELIMO procurava intensamente estabelecer-se na Zâmbia. Énatural que no inicio de 1966 tivesse prevalecido a idéia de descer pelo Nias saAustral através da região de Mecanhelas, para fa zer uma grande base central naZambézia, de onde a guerrilha irradiaria para Sul, para Manica eSofala, e paraTete, no Oeste, evitando-se assim os obstácu los postos pelo Malawi e atribuindo-se, portanto, a Mutarara, via de penetração para Tete, mais uma razão deimportancia. Porém, as dificuldades de penetração por Mecanhelas e os desairesai ocorridos no princípio do ano, inviabilízando esta estratégia 7, terão reforçado aimportância atribuída a Zambia co mo via de penetração e rectaguarda da luta naFrente de Tete.Criadas as condiçoes de penetração, com um apa relho de actuaçao reactivado nointerior, com um

exército reestruturado, a FRELIMO poderia rapidamen te iniciar a luta em Tete.Esse passo afígurava-se fundamental no quadro da estratégia global da luta delibertação. De facto, a abertura de mais uma fren te iria aligeirar a pressão feitapelas forças colo niais sobre as restantes, iria permitir que a FRELIMO chegassefisicamente junto de mais um grande numero de moçambicanos e, na frentediplomática, daria uma idéia bem concreta do avanCo da luta de libertação.Depois, uma sólida implantação em Tete permitiria a FRELIMO oprosseguimento dos seus dois grandes objectivos estratégicos na região: ameaçara construção da barragem de Cabora Bassa e abrir uma via de passagem quepermitisse a travessia do rio Zambeze para atingir o Distrito de Manica e Sofala,no centro do país.Eduardo Mondlane, nos inícios de 1968, explica va ao jornal norte-americano"The Sun" o significado estratégico do projecto de Cabora Bassa8, que ím plicavaa construção da barragem e a criação de uma extensa zona irrígada. Estapermitiria a instalação de um milhão de colonos portugueses, segundo o projecto,que além do desenvolvimento acelerado que ope rariam na região, que estavadentro das perspectivas coloniais, constituiriam uma importante barreira àpenetração da guerrilha. Mais importante ainda era a internacionalização doconflito que a própria construção da barragem .implícaria. Esta, com efeito, paraser rentável, produziria energia também, e sobretudo, para a República da Áfricado Sul, que teria igualmente um papel importante no financiamento do projecto.Uma vez construida a barragem era, por tanto, praticamente certa a presençaposterior do exército sul-africano na sua defesa. A FRELIMO procuraria, por isso,impedir ou atrasar o mais possivel a construção do empreendimento, quersabotando a via férrea Beira-Moatize, por onde passariao gros so do equipamentopara o projecto, quer aproximando-se o mais possível do local de construção, visando ameaça-lo militarmente.

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Por outro lado, se o vale do rio Chire, atravessando a Mutarara, constituía a viamais curta e mais favorável, do ponto de vista geográfico, para se atingir o rioZambeze, o que e certo e que o estrangulamento da zona, que poderia ser bemdefendida, e, sobretudo, os obstáculos criados pelo Malawi, tornavam impossívelo estabelecimento de um corrèdor seguro que conduzisse a Manica e Sofala. Eranecessaria, portanto, através da generalização da luta armada no território deTete, a criaçao de vias de penetração alternativas que permitissem chegar e atravessar o rio Zambeze.Se tais objectivos se foram tornando claros nos anos de 1966 e 1967, eles teriamtambém que ter em conta as forças que serviriam de base ao seu prosse guimento.Seguramente que uma parte impdrtante dessas forças se encontrava estabelecida eorganizada no Malawi e na Znbia.O aparelho da FRELIMO no MalawiO Distrito de Tete foi sempre caracferizado por um extenso movimento migratóioque originou o esta belecimento de comunidades moçambicanas relativamen teimportantes nas regioes círcunvizinhas. Se consi derarmos igualmente a afinidadedas populações fron teiriças, falando, em ambos os lados da fronteira, as mesmaslínguas, não é difícil concluir a relativa segurança com que os imigrantesmoçambicanos se integravam nos países vizinhos. Afectados, tal como apopulação desses territórios, pela propaganda dos movimentos que ai lutavampela independencia, muitos moçambícanos que residiam ou visitavam a Rodésiado Norte e a Niassalândía desde o início da década de sessenta que começaram aintegrar-se numa perspectiva anti-coloníal e independentísta. No caso daNiassalândia, muitos moçambicanos chegaram mes mo a fazer campanha peloMalawi Congress Party do Dr.Hastings Banda, que reivindicava extensas zonas

do território de Tete, baseando-se precisamente no facto de se tratar da mesmapopulaçao do futuro Malawi, de expressão chewa, nguni, lomue e yao, divididaarbitrariamente pelas fronteiras coloniais9.Neste quadro, Baltazar Chagonga, enfermeiro da Companhia Carbonífera deMoatize, refugia-sena Nias salandia em 1961, e, com Evaristo Gadaga, forma aUNAMI [União Nacional Africana de Moçambique Independente], organizaçãomuito proxima do Malawi Congress Party do Dr.Banda, e que baseou o seurecruta mento precisamente entre os moçambicanos imigrados no Malawi. AUNAMI iniciou as suas actividades em Agosto de 1962. Limitada pela própriaorigem dos seus dirigentes, o Presidente Chagonga e o Secretário-Ge ral Gadaga,ambos originarios de Moatize, era nesse concelho do Distrito de Tete queconcentrava a sua actividade, definindo-se de uma forma míméticaem re lação aoMalawi Congress Party. Tal como este, procurava a independencia através de umasolução negociada com a potência colonizadora 10.Todavia, entre finais de 1963 e inícios de 1964, a instalação do Comité Regionalda FRELIMO em Chile ka, arredores de Blantyre e, curiosamente, próximo daresidência dos dirigentes da UNAMI, veio alterar profundamente aquele estado decoisas . De facto, a FRELIMO apresentava ja um projecto político radicalmentediferente, na medida em que o seu 12 Congresso se havia referido à

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inevitabilidade da luta armada face a intransigencia do poder colonial, estando, janessa altura, grupos de moçambicanos a re ceber treino político-militar naArgélia12. Assim, e embora o primeiro Comité Regional fosse composto pormenos de uma vintena de elementos, maioritariamente imigrantes moçambicanosde Blantyre, foi inevitável a passagem de muitos simpatizantes da UNAMI paraas fileiras da FRELIMO13.O Comité Regional começou com funções de enqua dramento de imigrantes erefugiados e, apos a independência do Malawi, em 4 de Julho de 1964, desempenhou também o complexo papel de representar a FRELIMO

junto do governo daquele país. A independência levou o Malawi aoestabelecimento progressivo de um "modus vivendi" com Portugal. De facto, agrande dependêncda do Malawi, país interior, em relação aos portos portuguesesde Moçambique, impedia um apoio directo do Governo malawiãno à lutanacionalista e foi ditando uma aproximação progressiva daqueleem relação aoregime colonial e à República sul-africana. De qualquer forma, entre 1963 e 1965a FRELIMO conseguiu algum espaço de manobra para crescer dentro do Malawi,com a formação de "branches" - espécie de subdelegaçoes do Comité Regional deBlantyre noutras localidades - baseados também em núcleos de imigran tes erefugiados. Os primeiros surgiram em Chiromo, N'sange e M'lange, regiões ondese concentrava gran de numero de imigrantes, mas também que demonstravam ointeresse da FRELIMO em criar estruturas nas zonas fronteiriças, paraacolhimento de refugiados e para apoio ao trabalho do DOI, visando, neste caso,as re giões de Milange, Lugela e Morrumbala, e também a Circunscrição daMutarara. Igualmente a Ocidente, em Lílongwe, Chikwawa, Dedza e Mwanza,surgem "branches" da FRELIMO14.O crescimento do aparelho da FRELIMO no Malawi, apesar das restrições que oGoverno malawiano começava a impor logo após a independência daquele pais,estava, em grande medida, relacionado com o clima de optimismo generalizadoque reinava entre os refugiados moçambicanos e que tinha a ver com a euforia independentista do Malawi e com o proprio desencadeamento da luta armada,levado a cabo pela FRELIMO em Cabo Delgado e Niassa. Era convicçaogeneralizada, entre os refugiados moçambicanos, que apos a independência doMalawi teria lugar a invasão da Zambézia e de Tete pelos guerrilheiros daFRELIMO15. Nes te contexto, multiplicava-se o numero de aderentes no Malawi.Rapidamente, a FRELIMO começa a criar condições para o inicio de acçõesarmadas no interior do territorío de Tete. Na segunda metade de 1964, a acção

do DOI, a partir dos "branches" de Chikwawa, Mwanza, Chiromo e N'sange,incide sobretudo nas regiões de Moatize e Mutarara, atravês de contactos ereunies 16, procurando recrutar elementos, edificar uma estrutura clandestina deapoio e estabelecer depósi tos de mantimentos, armamento e munições - ou seja,condições para a chegada dos guerrilheiros17.Tal empreendimento foi facilitado pela agudização da crise interna do Governo doMalawi que con duziu, no final do ano de 1964, à ruptura levada a cabo por umgrande número de ministros do gabinete do Dr.Banda. Por detrás desta situação

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estava, entre outros motivos, o desacordo em relação a atitude do Malawi face aosgovernos coloniais do Sul. Para os ministros Chipembere, Chirwa, Chíume eoutros, o Go verno do Malawi tinha a obrigação de dar um apoio muito maisconcreto e efectivo aos movimentos de li bertação, em contradição flagrante coma dinâmica de aproximaçao que estava a ser imprimida pelo Dr.Banda,nomeadamente através do estabelecimento de acor dos comerciais e de transportescom Portugal18. Na sequencia da agudização deste conflito rebenta, em Janeirode 1965, uma insurreição armada liderada pe lo ex-ministro 4a educação HenryChipembere. É evidente que, politicamente, a FRELIMO estava mais pro ximadas suas posições que do regime do Dr.Banda. Além disso, no terreno, osobjectivos da acção mili tar eram os mesmos, nomeadamente o corte da ligaçãoferroviária entre o Malawi e a Beira, para prejudicar o fundamento económico daaproximação entre o Malawi e Portugal. A FRELIMO procurou, no entanto,manter uma posição prudente. Todavia, colocavam-se uma série de elementos queligavam a FRELIMO aos cha mados "ministros rebeldes", alguns deles veiculadospelos serviços de informaçoes portugueses que, pron tamente e por razoes óbvias,os punham a disposição do Governo malawiano. Assim, ora se referia que oscontingentes de Chipembere estavam a ser treinados na Tanzania juntamente comos guerrilheiros naciona listas moçambicanos, ora que se sucediam reuniões en 54

tre o Presidente Mondlane e os rebeldes malawianos, visando colaboração mútua19.O Governo malawiano tinha ainda razoes adicionais para apertar o controlo sobreos movimentos da FRELIMO no seu territõrio. Coincidindo as areas onde semovimentava a FRELIMO com as zonas de ínfluen cia da rebelião deChipembere, era-lhe extremamente difícil determinar, uma vez localizados gruposde guerrilheiros numa região, se se tratava de homens de Chípembere ou daFRELIMO. Assim, a capacidade de manobra da FRELIMO foi drasticamentereduzida e a sua primeira (e única) acção militar, que ocorreu na Mutarara, noPosto de Charre, em 23 de Dezembro de 1964, foi perfeitamente extemporanea enão teve qual quer continuidade 20.A tendência imediata do'Dr.Banda, nos primeiros meses de 1965 e ate aoesmagamento da revolta que enfrentava, foi de reforçar a: cooperação com os serviços de segurança portugueses sobretudo nas areas fronteiriças, oferecend comocontrapartida à perse guiçao que aqueles moviam aoshomens de Chipembere, aperseguiçao aos guerrilheiros da FRELIMO e a prol bição da propaganda anti-portuguesa nas suas regiões fronteiriças21.No fim do primeiro semestre de 1965 a revolta de Chipembere estavapraticamente controlada, com muitos dos seus principais elementos detidos ou exilados no exterior. Para a FRELIMO iniciou-se um perÍodo difícil e delicado,durante o qual ela procurou manter-se no Malawi a todo o custo. Muitas das dasantigas razoes que a levavam a manter-se no Malawi continuavam válidas. Emprimeiro lugar, o Malawi continuava a constituir uma importante rectaguardaestratégica para a luta armada, sobretudo na zona do Niassa Austral. Pela sua rotacontinuavam a circular guerrilheiros e abastecimentos da Tanzania para as frentesde combate22. Por outro lado, e ape sar dos reveses da Zambézia e de Tete, a

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permanência do aparelho da FRELIMO no Sul do Malawi continuava a ser umagarantia de enquadramento dos refugiados 55

e de recrutamento de novos candidatos a integrar nas fileiras da guerrilha, assimcomo uma base fundamen tal para a penetração dos quadros do DOI na Zambézia,na Mutarara, Moatize e Angónia.Em Março de 1967, numa reuniao que terá havido entre o Dr.Banda e oPresidente da FRELIMO, Dr. Eduar do Mondlane, ficaram estabelecidos osprincípios re guladores da actividade da FRELIMO no Malawí, sendo concedidaàquela liberdade para exercer a sua actívidade política junto dos refugiados, massendo-lhe interdito imiscuir-se na politica interna do Malawi, assim como ter emsua posse armamento de qualquer espécie. Todo o armamento existente noMalawi deveria ser movimentado pelas autoridades daquele país 23. Obviamenteque a FRELIMO tinha que por reservas a es ta decisão, conhecedora dacooperação entre as auto ridades malawianas e as forças portuguesas, no âmbi toda segurança. Assim, as forças nacionalistas con tinuaram a movimentarclandestinamente o seu material de guerra pelo pais, com a consequencia deaumen tar a tensao já existente com o Governo do Dr.Banda.Apesar de tu4o foi ainda possível alargar a im plantação dos "branches" doComité Regional do Malawí. No início de 1967, para além da sede em Blantyre,existiam quinze delegaçoes da FRELIMO localizadas em Lilongwe, Dedza,Nchínge, Ngabo, Chikwawa, Chiromo, N'sange, Cholo, M'lange, Malosa,Ndirande, Zomba, Fort Johnston e Maguire24.A malha das delegaçoes nacionalistas moçambica nas no Malawi indicava umatendência para reforçar a implantação na região Centro-Sul daquele paÍs, demonstrando um reforço da intenção de actuar na Muta rara, no que respeita a Tete,intenção essa frisada por declaraçoes a imprensa, nas quais se reiterava que aMutarara era a via mais curta para o centro do país25. Porém, eram já claros paraa FRELIMO os limites de tuna estratégia baseada principalmente no Malawi e,assim, paralelamente aos esforços para permanecer naquele pais, assiste-se, desdeo ano de 1966, aos esfor ços para fazer da Zambia uma base sólida para a luta. 56

NchinjiLilongwea*04Dediza < EL Ncheuf l*Mwa f ChikwawCZomba riza BlantyreaaMianje j Cholo 'iiromot*Nsange6. 0 estabelecimento da FRELIMO no sul do Malawi em 1967.330 oI

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Não terão sido só as dificuldades postas pelo Governo do Malawi que levaram aFRELIMO a reorientar as actividades preparatórias da luta armada, fa zendo-aspassar a incidir na zona Norte do Distrito de Tete. De facto, é natural que,associada a elas, estivesse a conclusão, ditada pela experiência dos anos de 1964 e1965, que nas regiões de Moatizee Mu tarara as dificuldades eram bem maioresdevido, sobretudo, a muito mais forte implantação das forças coloniais naquelaszonas, à incipiencia, ainda, do trabalho de mobilização no interior e asdificuldades com a rectaguarda do Malawi, já referidas.A fai xa setentrional deTete, da Macanga ao Zumbo, muito mais "abandonada" pelo Estado colonial, semvias de comunicação significativas, dava, associada a um tra balho emprofundidade por parte do DOI, muito mais garantias para o estabelecimento decontingentes de guerrilheiros, mesmo tendo em conta as dificuldades que oGoverno zambiano pudesse eventualmente colocar.Prolongando-se pelos anos de 1966 e 1967 correm, assim, insistentes, asinformaçoes dos serviços de inteligência portugueses, relativas ao transito deguerrilheiros e armamento oriundos da Tanza nia que, penetrando no Malawi porSitima, atravessa vam aquele paÍs até à região definida por Nchinge, Namizana,Lilongwe e, em certa medida, por Dedza26. Através da serra de Dzaranhama,excelente região pa ra a edificação de bases guerrilheiras, ficava directamente aoalcance a faixa do Concelholda Macanga entre os rios Luia e Luangua, confinantecom o Malawi.A Zâmbia, rectaguarda da Frente de TeteTambém em 1964 a Rodésia do Norte se tornou na Zâmbia independente. Emcerto sentido, a Zâmbia punha à FRELIMO, problemas idênticos aos apresentadospelo Malawí, na medida em que era, também, um pais interior que usava asinfraestruturas ferroviárias58

e portuárias portuguesas, sobretudo da Beira e do porto angolano do Lobito. Estasituação, reforçada pela Declaração Unilateral de Independência da Rode sia, namedida em que lhe foi restringida mais uma rota de salda, determinou, tal comopara o Malawi, embora em medidas diferentes, uma certa ambiguidade norelacionamento com as autoridades coloniais portuguesas. Todavia, as suasposiçoes em relação aos movimentos de libertação eram mais positivas, como opoderia provar o simples facto do papel desempenhado por ela junto do Comité deLibertação da OUA, para o qual a Zâmbia era o terceiro maior contribuinte27.Tal atitude positiva, muito clara no ambito in ternacional, tomava, internamente, aforma de apoio aos refugiados e aos movimentos anti-coloníais de An gola eMoçambique. Para eles foi criadx), em 1965, o African Liberatíon Centre, emLusaka, onde se concentravam não so os dois movimentos reconhecidos oficialmente, a FRELIMO e o MPLA, como também o COREMO e a UNITA.Concentrando as representaçoes dos movimentos em Lusaka, a Zambia pretendiaexercer um con trolo eficaz sobre a sua acçao, reforçado por uma série de medidascomo a proibição de se envolverem na política local ou de operarem entre osimigrantes e refugiados da sua propria origem, além de serem impedidos de

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organizar recolhas de fundos ou de via jarem para além de dez milhas fora dacapital sem as respectivas permissoes. O movimento de guerrilhei ros earmamento era regulado por uma serie de medidas destinadas, no dizer dasautoridades zambianas, não a impedir a acção dos guerrilheiros mas sim aminímizar os riscos para a segurança interna da República da Zâmbia. Assim, aosguerrilheiros era con cedido o direito de passagem pelo pais em dírecção as suasfrentes de combate e a estabelecerem, nessas rotas, campos de transito. Alémdisso, os guerrilheiros, uma vez penetrados nos seus próprios pai ses, eramproibidos de regressar a território zambíano, visando tal medida impedir aproliferação de

guerrilheiros armados no interior do seu território. Finalmente, aos zambianosestava vedada a colaboração com as forças nacionalistas, para impedir tráfi co dearmas e influencias varias que poderiam origi nar instabilidade interna 28.É claro que estas medidas não eram totalmente eficazes, na medida em que asforças nacionalistas contavam com muitos apoios internos na Zâmbía, incluindopor parte das suas autoridades regionais, da do que o Governo zambiano tinhadificuldade em controlar zonas "remotas" do seu território, nomeadamente as suasorlas fronteiriças. Assim, e apesar de toda a regulamentação restritiva, a posiçãopoli tica perfilhada pelo Governo da Zâmbia, de grandes reservas em relação aPortugal, Rodésia e África do Sul, bastante diferente da do Governo do Malawi,as sim como a sua solidariedade política com os movimentos de libertação, foramfactores que permitiram o estabelecimento confiante de uma rectaguarda sóli danaquele pais.Devido aos factos apontados, desde finais de 1965 que o estabelecimento daFRELIMO na Zâmbia ganhou preponderância em relação ao do Malawi, com oestatuto de representação e tendo como representante Alberto Sithole. A partir de1966 e em 1967, no decorrer, portanto, da grande reestruturação do sec tor dadefesa e do DOI, essa preponderância acentuou-se: Em grande medida, era apartir da Zâmbia que Mariano Matsinhe, nomeado responsável do DOI em Agostode 1966, dirigia todo o trabalho de preparaçao da luta levado a cabo pelarepresentação da FRELIMO na Zâmbia e pela sua delegação no Malawi29.Transferindo a incidência da preparação da luta armada para o Norte do entãoDistrito de Tete, a FRELIMO passava, no entanto, a ter que contar com umadificuldade suplementar que consistia na actuação dos diversos grupos"dissidentes", nomeadamente o COREMO, bem implantado na Zâmbia eefectuando incursoes no Norte do território de Tete.

O COREMO e os outros grupos "dissidentes" no Norte de TeteO COREMO surgiu em Maio de 1965, em Lusaka, in tegrando elementos depequenos agrupamentos, tendo em comum o serem dissidentes da FRELIMO,nomeadamen te as duas UDENAMO [União Democrática Nacional deMoçambique ou do Monomotapa], facções Adelino Chito fo Gwambe e PauloGumane, o MANC [Mozambique African National Congress] e a novaMANU[Mozambique African National UnionI, além de outras.

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A única pequena organização que teve um percur so independente do COREMOfoi a já referida UNAMI, de Baltazar Chagonga, sediada no Malawi, mas que, dequalquer forma, acabou, em 1966, completamente instrumentalizada pela PIDE,que aproveitou a perspectiva da obtenção da independência por meios paci ficos enegociados, defendida por aquela organizaçao, para a usar contra os outrosmovimentos, partindo do principio que era dificil as outras organi zaçoessubsistirem nas zonas onde a UNAMI já estava implantada e procurando, assim,manter o controlo sobre áreas do território sem ter que recorrer a meiosmilitares30.As pequenas organizações existentes tinham, an tes de 1965, alguns contactosinternacionais e procuravam a formação de guerrilheiros e alguma implan taçãoem zonas de Moçambique. Ao mesmo tempo, e curiosamente, reforçavam os seuslaços com outras organizaçoes da mesma natureza, oriundas da então Pro vlnciade Angola. Assim, a UDENAMO-Gwambe teria pla neado uma acção militar, nãoconcretizada, contra a linha ferrea Beíra-Malawi, apoiada por Chipembere, emcoordenação com uma acção idêntica contra a linha férrea Lobíto-Teixeira deSousa, em Angola, que seria levada a cabo por outra organização recém-forma da,a UNITA de Jonas Savimbí31. Por outro lado, a UDENAMO-Gumane tinha, namesma altura, o seu pequeno contingente militar em treinos em campos da UPA[União dos Povos de Angola] de Holden Roberto, loca

lizados em Brazzaville32. Estas organizaçoes desenvolviam intensos esforçospara se estabelecerem, quer no Malawi quer na Zâmbia, na orla de Moçambíque,de onde poderiam tentar acçoes, senão com continuidade pelo menosespectaculares, forma, segundo elas proprias, de se fazerem notadas econseguirem apoio in ternacional. O ELINAMO [Exército de Libertaçao do Monomotapa], auto-proclamado braço armado da UDENAMO-Gwambe, chegoumesmo a desencadear um assalto a se cretaria do Posto Administrativo do Chire,na Circunscrição da Morrumbala, Distrito da Zambézia, em Dezembro de 1964, eque foi largamente noticiado na Tanzania, embora as consequências pareçam tersido mínimas33.A tentativa de unificação destes pequenos grupos não era nova. Já em 1963 tinhasido criada a FUNIPAMO [Frente Unida Popular Anti-Imperialista Afri cana deMoçambíque], composta pelas duas UDENAMO, pela nova MANU e peloMANC, portanto uma especie de antepassada do COREMO e que teve curtaduraçao. De facto, este tipo de iniciativas dava lugar a lutas acesas pelo controloda nova organizaçao que se for mava, por parte 4os dirigentes dos pequenosgrupos.Com a formaçao do COREMO muitas dessas questoes se repetiram, embora oapoio prestado pela Zâm bia lhe desse outra garantia de sobrevivência. Para estepais era claro que uma frente tinha mais hipóteses de levar a cabo uma lutaconsequente do que di versos pequenos grupos envolvidos em questiúnculasintermináveis entre si. Assim, embora as autoridades zambianas tivessemrecusado a UDENAMO o direito de operar na Zâmbia, não puseram, depois,entraves a instalação do COREMO.

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Embora constítuído em Maio, o processo de colí gação que deu lugar aoCOREMO arrastou-se por todo o ano de 1965 e so em Novembro o EREPOMO[Exército Revolucionário Popular de Moçambique], seu braço ar mado, levou acabo a sua primeira acção numa aldeia da regedoria João, no Zumbo34. Comoresultado da re pressao que se seguiu, levada a cabo pelas autorida

des coloniais, milhares de camponeses da zona refugiaram-se na Zâmbia,inviabilizando a continuidade daquele tipo de acçoes na zona.Durante o ano de 1966, o COREMO tentou ainda, a partir de Mimosa, no Sudestedo Malawi, realizar acçoes em Milange e Morrumbala, na Zambézia35, semconsequências. Simultaneamente, constituiu depósitos de armanento na fronteiraentre a Zâmbia e Moçambique, em Petauke, Nyimba e Nsadzu36. Em 1967,desencadeou então uma série de acçoes cobrindo, sobretudo, a faixa NQrte doZumbo e Marávia e, particularmente, a Macanga. Todavia, eram acções que,embora espectaculares, não podíam-ter continuidade, quer devido aos problemasinternos resultantes da indef1 nição do inimigo, quer devido ao sistema deguerrilha de foco adoptado. Assim, durante os anos de 1966 e 1967, vão-seagravando os conflitos internos, que culminaram com a saída de AdelínoGwambe, que tentou, em seguida, formar o PAPOMO [Partido Popular deMoçambique], e com a luta do Vice-Presidente do COREMO, Amos Sumane,no início de 1968,.pela defesa de um "partido dos nacionalistas do Norte", opostoaos militantes originários do Sul de Moçambique37. Sumane participou, poucotempo depois, na formação de uma nova organização, a UNAR [União NacionalAfri cana da Rumbézia], que tinha o propósito de lutar pela independência doterrit6rio situado entre os rios Rovuma e Zambeze 38. Por outro lado e apesar detudo, o COREMO continuou, durante o ano de 1967, a intensificar a sua acção deguerrilha, sobretudo na Macanga. Porém, as acções eram realizadas a partir dafronteira, sem a preocupação de apoios no interior, resultando daí que os grupos,embora fazendo acçoes espectaculares como a assalto a cantinas e o assassinatode cantineiros, eram facilmente detecta dos e perseguidos pelas forças militarescoloniais. Assim escapou, por pouco, de ser capturadoo seu Pre sidente, PauloGumane, e assim foi abatido, na mesma altura, em Fevereiro de 1968, o seuSecretário dos Negócios Estrangeiros, Millíon Bobo39. O ataque

ao quartel de Furancungo, em Janeiro de 1968, constituiu a última acçãoimportante do COREMO. Em seguida agravou-se o processo de deserção dos seusmi litantes, nomeadamente para as fileiras da FRELIMO.Condições do desencadeamento da luta no interiorOs grandes objectivos a atingir pela FRELIMO com a abertura da Frente de Tete,estavam definidos. Embora ela pretendesse alastrar o conflito, rapidamente, a todoo território do Distrito, era preciso determinar, no entanto, por onde começar osconflitos armados. Durante todo o ano de 1967 o esforço empreendido no interiorlevava as forças coloniais a concluir que a FRELIMO visava, com igualintensidade, quer a região de Mutarara-Moatize, quer a Marávia-Macanga, mais aNorte, quer, ainda, o Zumbo, no extremo ocidental. Torna-se, portanto,

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interessante prdcurar os factores que levaram ao desencadeamento da luta no eixodo rio Capoche, entre a Ma rávía e a Macanga.Vimos ja as razões que inviabilizaram, quase por completo, a acção na regiãoMutarara-Moatize, apesar da importância desta, e que se prendem a políticamalawiana, ao controlo exercido pelas forças portuguesas e a incipiência dotrabalho polÍtico no seio das populações. Quanto ao Zumbo, no extremo oposto,tudo leva a crer que, até ao último trimestre do ano de 1967, tenha sidoconsiderado como uma das alternativas mais sólidas. De facto, apesar de ser umazona tradicionalmente visada pelo COREMO, a maioria da população que sehavia refugiado na Zambia, na altura dos acontecimentos de 1965, já estava deregresso, e a presença portuguesa naquela região, a nível militar e administrativo,como a nível do co mercío e agricultura, era praticamente nula40.Emto da aregião do Zumbo o exército português tinha ape nas instalada a Companhia deArtilharia 1514 (cerca de cem soldados), do Batalhão de Artilharia 1882,

com um pelotão no Zumbo e outro no Puato41. Por isso, durante todo o ano de1967 o Governador do Distrito referiu a necessidade de reforço militar nestaregião 42. Finalmente, e provável que na escolha da região ocidental do Zumbo,junto ao rio Aruangua, também interviessem elementos mais gerais de apoio aluta de libertação da África Austral, como a ajuda à abertura de um corredor paraos combatentes na cionalistas zimbabweanos se infiltrarem na Rodésia. Todavia,essas perspectivas foram drasticamente goradas com a descoberta, pelasautoridades coloniais, em Setembro de 1967, da rede de militantes e apoian tes daFRELIMO na região do Puato, e subsequente cap tura de um depósito dearmamento que deveria servir de base ao desencadeamento das acçoes militares,acontecimento de que a FRELIMO, no Zumbo, so se viria a recompor no decorrerdo ano de 1968 43.A região de Marávia-Macanga, que depois passou a conter, também, aCircunscrição do Bene44, foi, assim, nao propriamente a zona escolhida mas, daszo nas visadas, aquela onde foi possivel continuar a desenvolver e aprofundar ascondições para o desencadeamento das acçoes armadas, ou seja, o trabalho com aspopulaçoes e a edificação das bases guerrilheiras. É, assim, relevante oconhecimento sumário da situação económica e das relaçoes políticas, fac toresessenciais no desenvolvimento dos acontecimen tos nesta região.De uma forma geral, a região Marávia-Bene4Macanga, localizada no grandeplanalto d Marávia, en contrava-se a grande distância dos centros polÍticos eeconómicos portugueses do Distrito de Tete. A quase total ausencia deinvestimento colonizador limitado à presença da autoridade administrativa e deescassos estabelecimentos comerciais, era acentuada pela inexistência quaseabsoluta de vias de comunicação transitáveis todo o ano. Os relatórios de campodas brigadas dos Serviços de Acção PsicoSocial coloniais45davam conta destasituação em detalhe, e dos perigos que ela encerrava para a ordem

colonial. De facto, a generalidade das aldeias da re gião tinha grande dificuldadena colocação da sua produção agrícola excedentária devido à ausencia de postosde comercializaçao ou, onde eles existiam, devido, no dizer das autoridades locais

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e dos produ tores, à "injustiça" dos preços praticados. Tal situação era ainda maisaguda nas zonas de produção tradicional de culturas de mercado, como a regiãode Vila Gamíto, produtora de tabaco. DaÍ resultava a tendêhcia crescente para,ignorando as fronteiras, os camponeses procurarem colocar os seus produtos nosmercados fronteiriços do Malawi e da Zâmbia. Con sequentemente, grande partedos escassos bens de con sumo tinha também origem no exterior e, ao longo dosanos, foi-se acentuando um movimento migratório para esses paÍses, assim comopara as cidades da pró pria colónia, nomeadamente Tete e Beira. Ou seja, umdespovoamento e uma pauperização progressivos.Dependência dos países vizinhos, maior na razão directa da proximidade dasfronteiras setentrionais, e pauperizaçao progressiva, eram factores quedificultavam o controlo político por parte das autorida des coloniais. Aquele, atépela capacidade relativa destas, era concretizado, a nÍvel local, de uma for maindirecta, através da figura do regedor. Era este que "desmultiplicava" aautoridade do administra dor de posto, recebendo orientações daquele e exercendoo poder a nível da sua regedoria. Assim, a au toridade colonial tinha que conheceros meandros po líticos da regedoria e norteava a sua acção tendo como referênciaas caracterÍsticas do regedor ideal, na perspectiva da administração: fortementedependente da administração, ávido de adquirir a cultura e os valores danacionalidade portuguesa, pouco dependente dos chamados centros decomandamento exter no, gozando de grande prestígio e autoridade junto das"suas" populações, forte e saudável (na medida em que isso asseguravaestabilidade) e, na medida do possível, dentro dos requisitos de sucessão que lheconferiam legitimidade.

Ora um tal regedor era difícil de encontrar. Se era "amigo dos portugueses",legitimo e com prestigio, como o Fifetine Chofombo, da regedoria Chofombo,era, no entanto, velho e doente; ou tinha oposi tores de respeito, mais reservadosem relação a pre sença portuguesa, como acontecia na regedoria Chimuara; ou,ainda, era considerado tÍmido e sem qual quer influencia junto das populaçoes,como na regedoria Caduco, o que originava ser posto em causa pe los chefes degrupo de povoaçoes, com opiniões nao coincidentes com as suas46. Na Marávia,a situaçao era ainda agavada pela submissão generalizada a um forte"comandamento externo", o Undi, localizado na Zâmbia, a que anteriormente jáfoi feita referência.O poder assim exercido, através de uma pessoa, tornava-se frágil na medida emque, de um momento para o outro, toda a ordem colonial poderia ser posta emcausa, sobretudo numa região tão isolada como esta. Assim, por exemplo, oFifetine Chofombo, regedor de Chofombo, no Norte da Marávia, era consi deradopelas autoridades peça-chave na contenção das chamadas "actividadessubversivas" que írradiavam do Zumbo. A sua morte, em Janeiro de 1967,desencadeou uma grande luta pelo poder entre facções rivais e a situaçãodegradou-se rapidamente, na perspectiva da administração, passando a regedoria aser considera da como uma das mais receptivas ao trabalho polÍtico das forçasnacionalistas, que se moviam naquele território sem que nada fosse reportado àsautorida des portuguesas47.

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Tudo isto significava que, numa situação de des contentamento generalizado, emque a reserva ao colonialísmo vinha da situaçao concreta das populaçoes,acentuada pelas idéias independentistas que uma relação estreita com os paísesvizinhos favorecia, o trabalho político nacionalista que precedeu a luta, quandochegava junto das populações e auto ridades tradicionais, podia, por si s6, p8rprofundamente em causa toda a ordem colonial e fazer com que a situação sealterasse radicalmente num curto 67

espaço de tempo. Entre a segunda metade do ano de1967 e os inícios de 1968, a ordem colonial começou a desfazer-se como umcastelo de cartas, na regiao, num dramatico movimento de que a seguintepassagem dá bem idéia:,,( ... ) O regedor Cangombe cQlabora com a FRELIMO. (De notar que em Julhode 67 nao contunicou às autoridades o avanço do terrorismo ao longo do rioCapoche; (...) De salientar que este regedor é o sobrinho dilecto do Hundi e seupresumivel herdeiro. Do grupo de terroristas da FRELIMO ora actuando nodistrito faz parte um irmão do regedor).- O regedor Chimuara aderiu à FRELIMO e compeliu as suas p2pulações a aderirem também (...)1,48.

Capitulo IIIA ABERTURA DA FRENTE DE TETE (1968-1969)Detivemo-nos anteriormente nos grandes objectí vos perseguidos pela FRELIMOcom a preparaçao da abertura da Frente de Tete, nas condições que rodea ram essapreparação e na forma como as autoridades portuguesas encaravam o desenrolardos acontecimentos. Procuraremos agora as còndições decisivas que permitiram odesencadeamento da luta e o seu prosse guimento durante o ano de 1968, assimcomo os seus elementos estratégicos essenciais: a população e as bases deguerrilha. Veremos, enfim, a reacção do exercito colonial e como tentou pelaúltímavez, por volta de Setembro, resolver definitivamente o conflito. Aqui, maisuma vez, se coloca o problema da prudência com que devemos encarar as fontescoloniais escritas, na medida em que, por definição, o trabalho polÍtíco com aspopulaçoes era clandestino e as bases de guerrilha inacessíveis. A informação quechegava em primeiro lugar às autoridades era, assim, veiculada por colaboradorese por infiltrados. A caracterÍstica predominante que resulta deste tipo de situação,em relação à documentação, é, pois, o seu atraso. Atraso no conhecimento que umgrupo de guerrilheiros pernoitou numa aldeia ou que uma base se situava emdeterminado local. Consequen temente, todo o encadeamento logico operadopelos serviços de ínteligência coloniais realizava-se "a posteriori": quando umabase de guerrilha era detec

tada, atraves do relato de um ínformador, do interrogatório de um prisioneiro esua sequente "explora ção" ou, ainda, por via de um raide aéreo ou de umpatrulhamento, ela já existia há algum tempo ou, até- o que era frequente - já tinha sido abandonada, já tinha deixado de existir. Paraas forças coloniais, portanto, a nitidez era muito difícil de obter ou, se era

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conseguida, era-o com atraso. Esta si tuação, como se pode depreender, causougrandes díficuldades às forças coloniais, no seu esforço para compreender asíntenções operacionais da FRELIMO.Assim e curiosamente, as forças militares, na primeira metade do ano de 1968,terão caído no mesmo tipo de erro em que haviam caldo as forçasadministrativasI, procurando localizar as bases de guer rilha partindo do principioque estavam fixas no ter reno e que destrui-las era destruir as forças da guerrilha.A experiência mostrou-lhes, mais tarde, que uma base destruida ressurgia, poucodepois, na mesma região e que, p3rtanto, era necessario visar antes os gruposoperacíonaís e as suas inter-relações organizativas, mais do que, propriamente, asba ses no seu sentido físico. Assim, e enquanto as for ças portuguesas procuravamcom afinco os parâmetros de uma guerra de posição, procurar-se-á mostrar que,do lado da guerrilha, nada estava fixo e que, em Te te, entre os anos de 1967 e1968, não chegoua haver uma zona de bases no sentido que Mao Zedong lhe atribui: se é certo que a tropa portuguesa, nesta altura, podia chegar a todo o ladòcom o recurso aos seus meios aereos, nao e menos certo que os seus objectivosmilitares lhe escapavam por entre os dedos, quando encontrava palhotas vazias deguerrilheiros que, avisados, tinham recuado, escapando às investidas coloniais.A ligação com as populaçõesNa luta de libertação de Moçambiquea população- o povo - sempre ocupou um lugar de destaque. Vi

mos já que no seio das forças portuguesas cedo foi abandonada a perspectiva deencarar a população como mero espectador passivo da luta, considerando-se, pelocontrario, que conquistar a população era essencial para ganhar a guerra, e esseprincipio norteou grande parte da sua acção ate que, mais tarde, perdida essa luta,se enveredou pela vingança e pelo massacre. Foi, portanto, a perspectiva dapopula ção como instrumento.Obviamente que a ligação dos guerrilheiros nacionalistas com a populaçãb f9idiferente, na sua na tureza. A FRELIMO, por definição política, afirmava-se como movimento popular. Não iremos argumentar aqui sobre esse percurso deidentificação popular, que ganhou ímpeto com o 12 Congresso e as suas tesessobre a inevitabílidade da guerra e da sua defi nição não só como luta contra ocolonizador mas, tam bem, contra a exploração. Pretende-se, antes, discu tir aquestão de como essa identificação com o povo foi essencial, do ponto de vistaoperacidnal da guerrilha.O ponto de vista original dos clássicos do mar xismo - Marx e Engels - sobre aorganização militar das massas oprimidas consistiu na necessidade de armamentodo povo, de armamento das massas revolucionárias. A FRELIMO concluiu esteprincípio - co mo muitos outros - não só pela via da leitura ma atraves da suapropria experiencia. Os guerrilheiros entrados pelas fronteiras nao vinham elespr6prios libertar o povo mas, antes, constituíam uma pequena vanguarda que, como povo, ia libertar o pais. Ques tão óbvia, se atentarmos que o início da luta foiprecedido por intenso trabalho político clandestino e que, desde o início tambem,houve bases de treino de'elementos recrutados localmente para as fileiras doscombatentes. Questão, também, que releva directamente da definição política do

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inimigo e dos fins a atingir com a luta de libertação2. Um dos chefes guerrilheirosque actuou na preparação e no desenca deamento da luta na regedoria Mucipo,por exemplo, 71

era irmão do proprio regedor e acompanhavam-no outros familiares3.Portanto, é clara a importância de uma unidade profunda com as populaçõeslocais, do ponto de vista operacional: era a população que fornecia os seus jovensque, apos uma curta preparaçao militar, iam engrossar os contingentes dagúerrílha, à partida tão escassos. Era ela quem transportava o material, fornecia aalimentação e punha as bases ao corrente da movimentação das forças coloniais.O trabalho político que precedeu a luta era, pois, clandestino, e, portanto, muitodifícil de re constituir na documentação colonial. Contudo, a captura dedocumentação, nomeadamente de diários de cam panha ou de correspondênciatrocada entre combatentes, assim como os registos de interrogatórios, per mitemuma idéia de como terão decorrido este tipo de acçoes. A formação dodestacamento de Chizame constitui um bom exemplo, na medida em que foipossível reconstituir o seu percurso desde o inÍcio4. Nos pri meiros dias deFevereiro de 1968 este destacamento recebeu ordens para se estabelecer naconfluência dos rios Luatize e Capoche, região estrategicamente muito importanteporque iria constituir a frente mais meridional da luta em preparação, porqueassegurava a ligação entre Marávia e Bene, e porque ficava ao seu alcance oaquartelamento militar e a vila de Be ne. Outras unidades estavam ja estabelecidasno ter reno, nomeadamente no Noroeste da Marávia e na região de entrada do rioCapoche em Moçambique. Provavelmente, os comandos militares doscombatentes preten diam o estabelecimento de forças militares nas zonasestrategicamente mais importantes para desencadearem, simultaneamente, asacçoes armadas em diversos pontos. Quando o destacamento, chefiado porRudolfo Mendes5, chegou a região visada, a única facilidade que tinha era umapequena reserva alimentar e o con tacto com alguns elementos da população. Omês de Fe vereiro passou-se em reuníões de mobilização com che fes de gruposde povoações, notâveís e camponeses

das aldeias da zona, tentando os guerrilheiros explicar as razões do combate eapelando à participação de todos na luta. Na mesma altura foi, tambem, possÍvelenviar um grupo de voluntários a outra base atrasada (provavelmente a baseMutarara), para trazerem armamento. No final do mes, o destacamento,continuando as reunioes com a populaçao, iniciou uma acção de reconhecimentomais vasta das zonas em redor e foi, inclusivamente, contactar o regedorCangombe, que conseguiu mobilizar. Pelo caminho, contactou o maior numeropossível de aldeias. EmMarço, o seu estabelecimento na região era járelativamente sólido e pode receber a ordem de ataque ao aquar telamento militarde Bene, que executou no dia 26 do mesmo mes.Vimos já a relativa facilidade na mobilização das populações para a luta, a rapidezque caracteri zou a adesão popular, que tinha, seguramente, a ver com ascondiçoes concretas vividas nas aldeias. Nes te ponto, e curioso notar asdiferenças de sensibilidade em relação ao que as forças portuguesas desi& navam

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de "estado de espirito das populaçoes": as es truturas centrais como o Quartel-General em Nampula, face a crescente adesão popular a luta de libertação noNorte de Tete, ou renunciavama qualquer análise ou concluiam que ela se devia aum maior apoio do Malawi à guerrilha e a uma "viragem" da Zâmbia que, apartir de Setembro de 1967, teria passado a manifestar uma atitude mais favorávelem relação a FRELIMO6. Todavia, tais conclusões nao se deviam à falta deelementos prestados pelas =".z2idades mili tares locais, que, estas sim, viamclaramente no des contentamento popular a razao central da rapidez com que sedesenvolvia a implantação guerrilheira. São eloquentes os relatórios do comandosub-sectorial de Fingoé a este respeito:"(...) As AA [Autoridades Administrativas] nunca contactaram pessoalmente comas populações nas zonas onde se desenrolam os acontecimentos por falta de viasde comunicação, pelo aci dentado do terreno, arborização densa e distância aosPA [Pos

tos Administrativos]. Mas é sobretudo a inexistência de elos materiais que fazcom que as pop [populações] debandem ao me nor sintoma de alarme. Ja foiexposto por este comando o pro.blema da inexistência de cantinas ou de outros meios para se conseguir oescoamento dos produtos locais. Por outro lado é muito deficiente a coberturasanitária e escolar, dois assun tos que as populações põem como pretensões suasas ADPA [Administraçoes de Posto] e as NT [Nossas Tropas] (...),,7E o mesmo comando concluía, noutro passo:"(...) Aproveita-se a oportunidade para mais uma vez referir que o problema daspopulações (...) se agrava de dia para dia em virtude da falta de escoamento dascolheitas e inexistência de cantinas onde possa efectuar as suas compras, o que leva as pop a olhar com total descrença quer as AA quer as NT"8Neste contexto, um esforço de sensibilização para a luta bem estruturado,poderia trazer - como trouxe -= resultados imediatos. No espaço de um ano, entre1967 e 1968, a ordem colonial deixou pratica mente de existir na maior parte dasregiões da Marã via, Macanga e Bene. As primeiras zonas onde ocorreu umasolida implantação da FRELIMO, nos inicios de1967, foram as regedorias de Chimuara e Caduco, na Marávia, e Mucipo eCussarara, assim como Sabondo(rgião de Vuende), na Circunscrição de Bene9.Emto das estas zonas a FRELIMOcontou com a colaboração de regedores ou, onde tal não foi possível (como nocaso de Cussarara), pelo menos com a colaboração de chefes de grupos depovoações importantes. Logo em seguida vieram as regedorias de Chofombo,Cachombo, Cantengo, Cangombe e Chamanga, na Marávia, esta última ja nasmargens do rio Zambeze, e Cassacatiza e Bene, na Circunscrição de Bene10.Alguns regedores permaneceram, durante este ano, colaborantes com asautoridades coloniais, como os de Mulirima, Manjanja e Caduco, mas tal nãoimpedia a grande agitação que ocorria nos seus territórios. Entretanto, nas regedorias vizinhas daquelas que as autoridades consi deravam já "afectadas",começavam a aparecer panfle tos de propaganda e sinais de presença de

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elementos da FRELIMO, efectuando reuniões e procurando sensibilizar oscamponeses.

Nas regedorias particularmente apoiantes dos combatentes, as forças do exércitoportuguês tinham grandes dificuldades em desenvolver a sua acção. Em primeirolugar, pela já referida dificuldade de cir culação devido a ausencia de vias decomunicação. De pois - como frequentemente acontecia - porque os camponeses,avisados da chegada dos soldados, abandonavam as aldeias e refugiavam-se nomato, ou, simplesmente, quando contactados, remetiam-se a um mutismoabsoluto, recusando7se a fornecer informações. Finalmente, começou, emSetembro de 1967, um proces so de abandono de aldeias inteiras por parte dosseus habitantes, pela primeira vez assinalado na região de Bene1I.O estabelecimento das bases e a organização combativa dos guerrilheirosA luta de guerrilhas s6 pode ser levada a cabo duradouramente se houver umarelação profunda entre os guerrilheiros e a populaçao, por um lado, e se es tiverestabelecido um sistema sólido de bases de apoio, por outro. O princípio daguerrilha, do ponto de vista militar, consiste em alargar o conflito armado a toda agrande área ocupada pelo inimigo, convertendo em frente a rectaguarda do -inimigo e obrigando-o a combater nas suas proprias zonas de ocupação. SegundoMao Zedong, tal principio nâo pode ser praticado e desenvolvido sem "basesestratégicas nas quais se apoia a guerrilha para levara ca bo as suas tarefasestratégicas assim como para atin gir os seus objectivos de auto-preservação eexpansão, e de aniquilamento e expulsao do inimigo"12.A importancia das bases de guerrilha e, assim, um principio geral, comum a todasas experincias históricas deste tipo de luta. Todavia, e exactamen te por ser geral,a designação de "base" abrange rea lidades extremamente diversas, adaptadas asituações concretas e variadas. De facto, é abissal a diferen

ça entre uma grande base central, fixa no território e composta por centenas deguerrilheiros, por exemplo, e um pequeno refúgio onde dois guerrílheiros, cujamissao e minar uma estrada, pernoitam.Mao Zedong, relativamente a experiência da Chi na na guerra anti-japonesa,tipíficava as bases em bases de montanha, de planície e dos rios ou estuários,segundo a sua localização, e em permanentes ou temporárias, segundo o nível dedesenvolvimento militar e os imperativos estratégicos da guerrilha. Se talclassificação parece óbvia, mais interessante se torna a análise, que ele faz, daszonas de guerrilha e das condições para o estabelecimento de bases. Distingue aszonas de bases, que o inimigo ja não contesta, as zonas de guerrilha, contestadaspor ambos os lados, e as zonas dominadas pelo inimi go. Neste sentido, oobjectivo da guerrilha seria de operar clandestinamente nas zonas do inimigo,para provocar o levantamento e as converter em zonas de guerrilha, e, em relaçãoa estas, procurar aniquilar o inimigo para as converter em zonas de bases,abandonadas já por aqueles 13.Entretanto, e como atrás se referiu, procurare mos mostrar que no Norte de Tete,entre 1967 e 1969, não houve uma zona especÍfica de bases, no sentido que Maolhe atribui, mas antes uma extensa zona de guerrilha onde foi possível estabelecer

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bases eficazmente, devido sobretudo à ausência quase total de vias decomunicação. É claro que uma tal' realidade obrigou a que as bases fossemextremamente móveis no terreno e, em certo sentido, muito dependentes umas dasoutras, constituindo aquilo que se poderia desi& nar por sistemas de bases. Assim,cada umdesses sis temas era composto por um certo número de bases, comfunções diferenciadas mas formando um todo com um objectivo estratégicodeterminado. Com todas as pre cauções e reservas, inevitáveis no estabelecimentode uma tipologia baseada em documentação indirecta, pode-se dizer que,normalmente, um sistema era composto por. uma base central, como que o núcleodo sis

tema, que distribuía as orientações e ordens de batalha, e que canalizava asinformações do terreno de operações. Era nela, geralmente, que se processava ainstrução militar dos elementos recrutados local mente, embora houvesse tambémbases com a função es pecifica de instrução. Normalmente, existia também umabase de trânsito, para recepção de homens e material, localizada junto a fronteira,e bases de se gurança e de guerrilha. Se existiam outros tipos, co mo por exemplobases de população, assim denominadas por se destinarem a proteger núcleospopulacionais, eram determinados pelas linhas de penetraçao, pela relação com apopulação e pelas acções operacionais concretas.Pelas limitações já referidas, torna-se difÍcil estabelecer a forma como essessistemas se implanta vam no terreno. Todavia, e natural que o primeiro propósitofosse o de estabelecer, no terreno, uma estratégia geral previamente determinada.No caso do primeiro sistema, este t'inha como eixo central de penetração todo ovale do rio Capoche - portanto aquilo que as autoridades militares portuguesasdesig navam de "ínfiltrante central". Depois, a localização das bases do sistemadefinia, igualmente, "subínfíltrantes": o Destacamento de Chizame, por exemplo,levava, como vimos, a missão de estabelecer a ligação entre a Marávia e Bene, ede ameacar directamente a vila de Bene. Por outro lado, e também evi dente que aligação com a população constituiaump2 deroso factor do estabelecimento de umabase numa zona especÍfica: as bases tendiam a ser mais só1idas onde o trabalhode mobilização popular tinha sido mais profundo e dado mais resultados.De qualquer forma, o primeiro sistema de bases da FRELIMO em Tete surgiu, asautoridades coloniais, já totalmente constituído e, mesmo então, elas tive ramdificuldades em compreender que ele funcionava como um corpo único, como severa. Antes disso, so se refere vagamente a eventualidade da existência de'depósitos de armamento, a movimentação de grupos de

guerrilheiros e o seu contacto com diversas aldeias espalhadas pelo território, semser possível dai re tirar conclus6es sobre uma estratégia determinada. A confusãoda situação era acentuada pela deambulação de alguns grupos de guerrilheiros doCOREMO nas mesmas zonas (sobretudo Macanga e Zumbo), e pela con vicção,por parte das autoridades portuguesas, que estes actuariam em coordenação comos combatentes da FRELIMO. Em suma, as bases devem ter começado a serestabelecidas em meados de 1967, e a primeira infor mação sistematizada sobre asua existencía e articu lação só foi produzida pelos serviços de informações

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portugueses nos fínais do mês de Março de 196814, quase um ano depois, e apósos primeiros ataques, que ocorreram a 8 de Março.As razoes desse atraso são diversas. Em primei ro lugar, ele denota um trabalhocauteloso por parte dos guerrilheiros e um significativo apoio popular: asdenúncias eram minimas, muitas vezes contra ditórias e não confirmadas. Asuspeita era a base de trabalho das autoridades coloniais neste dominio. Depois, éimportante notar que a intensificação das actividades de instalação das bases doprimeiro sis tema ocorreu nos finais de 1967, com o inicio da es tação daschuvas15, que afectou as poucas estradas relativamente importantes, e cortoupraticamente to das as pequenas picadas, como ocorria todos os anos. Além disso,como se referiu, era muito difícil destrinçar, de entre todos os movimentosconsiderados subversivos, quais os levados a cabo pela FRELIMO. De facto, nasegunda metade do ano de 1967, sobretu do na Macanga, operaram grupos dematrizes tão diversas como a propria FRELIMO, vários grupos do COREMO,que só puderam ser neutralizados (e, mesmo assim, relativamente) no decorrer doano de 196816, um contingente de dissidentes malawianos comandados pelo ex-ministro Yatuta Chisiza, que atravessoua Ma canga, a Angónia e Moatize emSetembro-Outubro de 196717, e, ainda, grupos do PAPOMO de AdelinoGwambe18, embora mais inclinados a actuar a oriente da

Macanga, além de outros que se reivindicavam da UNAMI.Neste contexto, assaz confuso para as forças portuguesas, foi, portanto, possívelestabelecer, de uma forma praticamente clandestina, o primeiro sistema de bases.Dentro dele, é natural que a primeira base estabelecida tenha sido Kauandama,localiza da no triângulo formado pelos rios Duânguae Capoche com a fronteirazambiana, na região onde aquele último rio entra no território de Tete. Dela poucose diz, para além de que era de pequena envergadura, que pouco variou de local eque se destinava ao tran sito de guerrilheiros e equipamento da povoação deCassanto, na fronteira da Zâmbia, para o valedo rio Capoche19. Era, portanto, abase de transito ou recepçao, e deve ter existido desde finais de 1967. Em Marçode 1968, o Governo de Tete referia"um gran de depósito de material no triângulodefinido pelos rios Capoche-Duângua-fronteira da Zâmbia, materiali zando-seassim a anunciada intenção [da FRELIMO] de passar à luta armada no Distrito ecausando extraor dinário agravamento da situação''20.Mais para o interior, dentro do triângulo maior formado pelos rios Luatize eCapoche com a fronteira zambiana, localizada de inicio, provavelmente, nos -montes Chuamba, estava a base central Mutarara. Apesar de não ter tido grandesproporçoes - o seu efectivo, embora variável, era calculado, nos primeiros mesesde 1968, em cerca de 17 guerrilheiros armados e 15 em instrução21 - era ela quemcentralizava e distribuia os guerrilheiros e armamento vin dos de Kauandama parao interior, quem distribuía as ordens de combate, quem assistia os feridos maisgraves no único hospital de campanha do sistema e quem comunicava com oexterior via rádio, uma vez que era ela, igualmente, quem detinha o único aparelho de rádio do sistema. O seu comandante era Ernes to Tembe (aliás EliasSambo), e nela se encontrava, normalmente, Antonio Manhanga, chefe provincial,e Wassira, comissãrio político provincia122.

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A base Mueda, com uma estrutura e envergadura

7. Bases principais da FRELIMO na altura do desencadeamento da luta armada.Março de 1968.

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idênticas às da base central mas dependente desta, começou por ser localizadarelativamente proximo de Kauandama, mas logo em seguida desceu, vindo asituar-se, em Março de 1968, na região entre os montes Tarai e Camessongue,relativamente perto da base Mutarara. Cabia-lhe, ao que parece, a função de basede instrução principal23.Na confluência entre os rios Luatize e Capoche ficava o chamado DestacamentoChizame, a que anteriornente já foi feita referência, chefiado por RudolfoMendes24, comandante da zona ocidental da Fren te de Tete, e, um pouco mais aSul, entre os rios Ca poche e Mevira, a base Quembo, formada por elementosdaquele destacamento, e que assegurava a acção de guerrilha na região da vila deBene, assim como o recrutamento de camponeses para a guerrilha, que enviavapara a base Mutarara, para instrução25A base Dzembe completava o dispositivodo vale do Capoche, na sua margem direita. Situada relativa mente perto da basecentral, junto aos montes Chuam ba, parece ter sido uma base de população, ondese ministrava alguma instrução a novos recrutas. PossuÍa também uma escola combastantes alunos26Na margem esquerda do rio Capoche, pertencendo ao mesmo dispositivo masactuando nas regiões de Be ne e Macanga, encontravam-se as bases deFurancungo e Vuende. A primeira, base principal da Macanga, era chefiada porAntónio Canhemba, comandante da zona oriental da Frente de Tete, e situava-senaconfluên cia dos rios M'pule e Chimbudzi, perto da vila de Fu rancungo27.Finalmente, a base Vuende, formada por um grupo destacado da base Mutarara,segundo as autorídades portuguesas, mas talvez proveniente da ba se Furancungo,actuava na região de Vuende28.Mais ainda que sobre outros aspectos se torna patente aqui a imprecisão dasinformaçoes portuguesas. Tudo era vago: locais das bases, sua articulaçao eorganização. No aspecto da organização militar dos guerrilheiros, a confusão eramaior ainda. Segundo a PIDE29, a maior unidade era o batalhão,

composto por varias companhias, estas por pelotões formados por secçoes e,abaixo destas, finalmente, os grupos, constituídos por cerca de três elementos. AnÍvel do batalhão, ou da companhia quando destaca da do seu batalhão, existia umcomando com o respec tivo comnissário político. A base central ou provincial eracomposta por um batalhão, as bases gerais ou operacionais por uma ou variascompanhias, as ba ses provinciais de instrução por uma companhia, as bases desegurança por um pelotão. Finalmentê, as ba ses de populsção eram enquadradas

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por um pelotão ou mesmo algumas secções. Todos, bem entendido, sem re ferir osserviços de administração ou de logÍstica a eles inerentes. Contudo, trata-se deuW conhecimento geral, independente das condições concretas do terreno, esabia-se da extrema capacidade de adapta ção da guerrilha aos cenários concretosde operações. Como se concretizavam então estes princípios organizativos geraisno dispositivo do vale do rio Capoche, que apareceu montado "de um dia para ooutro" em 8 de Março de 1968? Pouco se avançou neste sentido: Mutarara era abaseocentral, Furancungo se ria, talvez, a base central da zona oriental e Mueda abase provincial de instrução. Todavia, pouco mais se sabia, a começar pelosefectivos de cada uma delas, sobre os quais as informações eram assaz contraditôrías. A morosidade dos serviços de informações portugueses neste campodenota grandes dificul dades em conseguirem obter informaçoes junto dapopulaçãào. Por outro lado, e talvez decorrendo deste aspecto, a documentaçaomilitar revela uma certa sub estimação dtste factor em favor da preocupaçaode localízar fisicamente as bases. De facto, eram escassas as referências a aspectosorganizacionais das forças guerrilheiras, e quando eram feitas eram-no,geralmente, de uma forma desprovida de rigor. Pelo contrário, qualquerinformação referente à localiza ção de umã base era imediatamente "explorada",ou eram imediatamente pedidos detalhamentos. Tal distorçao táctica das forçasportuguesas, que predomi-

nau durante a fase de ofensiva da FRELIMO, no primeiro semestre de 1968,revelava, talvez, falta de de sensibilidade sobre a natureza extremamente movel eflexivel das bases. Na maioria dos casos reportados de destruição de bases, eramdestruídas apenas algumas palhotas porque os seus guerrilheiros ja ti nhamretirado para, dias depois, edíficarem nova ba se com o mesmo nome, proximo daprimeira.A ofensiva da FRELIMOApesar das forças militares portuguesas estarem conscientes havia pelo menosseis meses da iminência de acçoes armadas da FRELIMO, não conseguiram reagirde imediato a ofensiva dos guerrilheiros, por diversas razoes. Este período cobre,assim, o tempo desde que a FRELIMO tomou a iniciativa militar no terreno, emMarço de 1968, até à altura em que as forças militares portuguesas conseguiram,com alguma eficácia, travar aquela iniciativa, seis meses de pois, a partir de finaisde Agosto do mesmo ano.O desencadeamento da luta armada teve lugar por meio de duas operaçõesmilitares, a 8 e 11 de Março de 1968: um ataque ao aquartelamento militar de vilaGago Coutinho e uma emboscada na serra Chimanto, ambos no Norte da Marávía.No ataque ao aquartelamento e segundo as fontes portuguesas, entre 20 e 30guerrilheiros armados com duas metralhadoras, uma bazuca, granadas de mao,armas automáticas, morteiros e LGF (lança granadas e foguetes), fizeram fogodurante 45 minutos30 sobre um pelotão da Companhia de Caçadores 1655, doBatalhão de Caçadores 1906 (Subsector FFG)31. Na emboscada, realizada nosopé da serra Chimanto, na margem direita do rio Chingom be e próximo dapovoação Piringo, um grupo não determinado de guerrilheiros emboscou umaforça adminístrativa constituída pelos administradores da Cir cunscriçao da

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Maravia e do Posto de Chofombo, um guarda da PSP e alguns milícias do Postode Cassuende,

que se dirigia para a referida serra explorando informações sobre umacampamento guerrilheiro32.Foi grande o impacto destas duas acções, agravado pelo facto do Batalhão deCaçadores 1906 ser recém-chegado ao Subsector FFG para render o Batalhão deArtilharia 188233, e em escassos dias não podia ter controlo sobre o territórionem sequer uma idéia da situação de terreno. O próprio Quartel-General emNampula mostra bem quanto as forças milita res foram surpreendidas:"(...) No dirito de Tete foi recentemente referenciada, em bora não identificadapor enquanto, uma estrutura militar ao que parece forte, da FRELIMO, que sedesconhecia e de que não havia indícios, o que vem determinar uma modificaçãomais ou menos profunda nas possibilidades que se conferiam à FRELIMOnaquele distrito. Sabe-se da existencia de um Comando Operacional Provincialresponsável pela actividade no distrito e de pelo menos 4 BA [bases] (Mutarara,Chizame, Mueda e Furancungo) (...),,34Parece legítimo concluir que o facto do eixo de penetração coincidir com o valedo rio Capoche colo cava díficuldades adicionais as forças militarespor tuguesas.De facto, constituindo aquele rio a linha de demarcação entre dois Subsectores -FFGe FFR e, portanto, entre territórios sob a responsabilida de de dois batalhõesdistintos, era posta a prova a capacidade de articulação entre eles. Por outro lado,o facto de se estar em plena época das chuvas, tornando impraticáveis quase todasas vias de comunicação da zona, fazia com que fosse difícil e moro sa a alocaçaode forças militares suplementares para as regiões onde a acção dos guerrilheirosse começava a fazer sentir.Colhido de surpresa, o exercito portugues tentou de alguma forma responderàqueles dois ataques com as operaçoes especiais "Concorde" e "Strong", a 9 e15 de Março respectivamente, com as quais con seguiu destruir doisacampamentos sem, todavia, lograr encontrar guerrilheiros35. Mas a atitude dasforças militares era de espera, tentando descortinar a "intençao operacional" daFRELIMO. Os guerrilhei-

ros, por seu turno, ,rocurar-aam, durante o mês de Mar ço, tirar partido destasituação de surpresa, desen volvendo a sua iniciativa e penetrando profundamenteno território. Na região dos primeiros ataques minaram as estradas, sobretudo oitinerário que ligava vila Gago Coutínho a Cassuende36, procurando di ficultarainda mais a circulação e, portanto, tornar mais inacessivel o triângulo onde selocalizava a base Kauandama, e criar condições para descer para Sul, em direcçaoa Vila Vasco da Gama. Emrelação à região oriental, na área do Subsector FFR, osser viços de informaçoes militares portugueses debatiam-se ainda com maiores dificuldades. Presumia-se que a entrada de guerrilheirospara a zona de Bene e da Macanga.(região de Furancungo) se processava pela rotaMontes Mbizi-rio Mecumbuzi-río Chisiboe-rio Muan gadzi-Serra Sacari-SerraUnanze-Furancungo37. Se bem que essa rota tenha sido provavelmente utilizada,

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as forças portuguesas desconheciam ainda a capacidade do dispositivo deChizame, já referido, a partir de onde foi possível efectuar importantes acçoes queas colheram, mais uma vez, de surpresa, nomeadamente o ataque à vila de Bene, a26 de Março, com a destrui ção das pontes dos rios Luângua e Luia, nas suasproximidades, e a flagelação do prõprio aquartelamento das forças da Companhiade Caçadores 155638. Logo em seguida, a 29 do mesmo mes, foram emboscadasforças militares na estrada Furancungo-Vuende9, começaram a aparecer engenhosexplosivos na mesma estrada40 e surgiram as primeiras atções na estrada queligava Furancungo a Tete41. Novamente a ocidente, na Marávia, teve lugar, a 2de Abril, um ataque de grande envergadura contra a Vila Vasco da Gama e o seuaquartelamento militar42.Enquanto as forças militares procuravam locali zar as bases donde tinham origemestas acções, come çava a tornar-se clara a intenção dos guerrilheiros. Tudo leva acrer que o objectivo fosse paralizar as forças militares, nomeadamente através deataques às sedes das companhiasmilitares e pelotões, como

Vasco da Gama, Gago Coutinho e Bene, dificultando a sua saida para operaçoes,e através do corte das principais vias de comunicaçao: Cassuende-vila GagoCoutinho e Fingoé-Vila Vasco da Gama, na Maravia, e Cassacatiza-Bene, Bene-Chiúta, Bene-Vuende-Furancun go e Furancungo-Tete, na Macanga e Bene,procurando isolar as sedes dos contingentes militares entre si e entre a região e oexterior, enfim, procurando com pletar o trabalho iniciado pela natureza com aesta !po das chuvas.Por outro lado e num sèntido mais geral, torna va-se claro constituir o rioCapoche a linha princi pal de penetração, apoiada por dois flancos largos aocidente e a oriente. A preocupação das autoridades portuguesas era agravadaquer pela tendência de progressão dos guerrilheiros para Sul, que pareciaimparável, quer pela possibilidade de alargamento dos dois flancos referidos. Defacto, a ocidente co meçavam a ser assinalados movimentos de guerrilheiros naregião de Zambué, no Zumbo, e a oriente era permanente a apreensão em relaçãoa possibilidade dos guerrilheiros poderem abrir uma frente sobretudo a partir daSerra Salambídua (no Concelho de Moa tize), e de Mutarara, que conseguissemligar a Furancungo43. Um mês depois do primeiro tiro, o Coman do do Sector Freconhecia que a situação militar em Tete era tão intensa quanto a de Niassa eCabo DelgadoÃ4.Para além da ofensiva militar no sentido estri to, a verdadeira solidez do avançoguerrilheiro estava na sua capacidade de mobilização popular. Na margem direitado rio Capoche, as regedorias Chímua ra e Caduco eram consideradas pelasautoridades coloniais como "completamente subvertidas", enquanto que Cantengoe Cangombe estavam "seriamente afectadas". Na margem esquerda a situação era,talvez, ain da mais aguda a este respeito, abrangendo as regedo rias Cassacatiza,Mucipo, Cussarara, Bene, Manjanja e Mulirima. Foi feita atrás referência a estasitua ção, que tendia a evoluir da simples agítaçã%opopu-

lar para a subtracção de aldeias inteiras à ordem colonial, cujos habitantes serefugiavam em bases de população controladas pelos guerrilheiros, fora do

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alcance das autoridades. Esta situação, que começou a intensificar-se a partir deMaio, incidindo sobre tudo nas regioes de Gago Coutínho, por um lado, e deBene-Vuende, por outro45, era previsivel atendendo a que, isoladas e paralizadas,as forças militares e administrativas coloniais tinham dificuldades cres centes emassinalar a sua presença nas aldeias.Maio de 1968 assinala assim, possivelmente, a entrada da estratégia ofensiva daFRELIMO numa nova fase. A reacçao militar colonial, procurando locali zar eneutralizar as bases, tinha uma contundencia muito relativa. De facto, das 14operaçoes especiais realizadas visando bases de guerrilheiros, entre o inicio daluta e o mês de Maio, s6 4 proporcionaram um contacto directo com aqueles. Nasrestantes, ou não se localizaram os acampamentos ou estes foram encontradosabandonados46. Os sistemas de alerta, com postos de vigia ligadosengenhosamente às bases, muitas vezes através de fios presos a latas ou deestafetas, a morosidade do avanço dos grupos de com bate do exército colonial,faziam com que as bases já estivessem evacuadas a chegada daqueles, na maiorparte dos casos. A base Quembo, por exemplo, descoberta e destruÍda nasequência do ataque de 26 de Março contra a vila de Bene, foi imediatamentereconstruida a Sul, na confluência dos rios Menene e Capoche, continuando aameaçar a região de Bene elo calizando-se, desta feita, muito mais proximodo rioZambeze e de Cabora Bassa 47.Mas a ofensiva, nos moldes que a caracterizavam, estava a atingir, de certa forma,um limite. A estação das chuvas chegara ao fim. Apesar de terem decorridoapenas três meses, em Maio a penetração era tão profunda que punha naturaisproblemas de li gação com a rectaguarda e, portanto, de reabastecimento. Alémdisso, se era relativamente viável a pe netração rápida ao longo do vale do rioCapoche, on 88

de não havia presença colonial relevante, era mais difÍcil manter a largura das alasoriental e ociden tal, à medida em que era feita a progressao. A manter-se o ritmode avanço no vale do rio Capoche, a frente corria o risco de "afunilar", tornando-se mais vulnerável,ou - o que ainda era pior - de se isolar da rectaguarda. Além domais, era provavel que os problemas de reabastecimento tivessem ja começado afazer-se sentir48. Havia, portanto, razoes para suster o impeto do avanço dafrente, procurando-se antes consolidá-la atràvés do reforço da ligação com apopulação, das acções de treino militar de cam poneses e da continuação dasoperaçoes destinadas a dificultar o movimento militar colonial.De inicio, o Comando Sectorial F interpretou esta mudança táctica como umsinal de fraqueza dos combatentes. Para ele, a diminuição de actividade dosguerrilheiros dever-se-ia provavelmente à inten sa perseguição movida peloexercito português,à pri são de regedores prestigiados e influentes, colaboradoresda FRELIMO, à quebra na cadeia de reabastecimentos, ao insuficiente apoio dapopulação e ao possivel desentendimento entre os diferentes chefes daguerrilha49, ou, ainda, devido ao facto de estarem a aguardar ordens e instruçõessuperiores 50. Na verdade, tratava-se de uma perspectiva que subestimava osrecursos de que a FRELIMO dispunha no terre no. É natural que, apos tres mesesde incapacidade de resposta a ofensiva guerrilheira com um mÍnimo de^eficácia,

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os comandos do exercito colonial estivessem desejosos de assistir à inversão dosentido dos acontecimentos. Todavia, a evolução da situação nos meses de Junho,Julho e Agosto seguintes levaram as autoridades a alterar progressivamente a suaperspectiva. Nos finais de Junho, o mesmo Comando admitia que a FRELIMOestaria agora a colher os fru tos das demonstrações de força de Março e Abril'criando condições para a adesão das populações e pa ra o treinamento do pessoalrecrutado 51. Um mês depois, era a vez do Governo de Tete afirmar que89

"continuando sistemática e presistentemente a sua acção, a FREL0IM vemalternando períodos de intensa actuação com outros de quase nula actividadeoperacional. Porém, habilidosa mente, aproveita estes últimos para efectuar osseus aliciamentos e provocar movimentos de populações (...),,52De facto, as operaçoes militares levadas a cabo pelos guerrilheiros e destinadas acortar as vias de comunicação, prosseguiam. Na Marávia, foi sobretudo a Norteque se mantiveram as emboscadas e a mi nagem de picadas, visandoprincipalmente a que liga va Gago Coutinho a Cassuende, com grandesemboscadas a colunas militares em 21 de Maio e 9 de Junho e, mais a Sul, naregedoria Caduco, com um ataque à própria povoação Caduco e às forças daOPVDC ali es tacionadas, visando cortar a estrada que, através de Chofombo,ligava ao Fingoé53_ Para sacudir a pressão que estava a ser exercida pelo exercitoportugues, nomeadamente com as operações "Reacção"e "Aju da", oscombatentes começaram a mover as suas bases principais da margem direita paraa margem esquerda do rio Capoche54, criando simultaneamente condições paraapoiar a frentý de Furancungo-Bene-Vuende. Aqui, sempre com o objectivo decortar as vias de comunicação, foram intensificadas as emboscadas e a colocaçãode minas nas estradas Bene-Tembué-Cassacatiza, Bene-Fingoé, Bene-Chiúta,Bene-Vuende-Furancungo e Furancungo-Casula. A estrada que ligava Bene aCassacatiza, ameaçando a linha de reabastecimento da frente oriental, foiduramente flagelada nos meses de Junho e Julho, e o próprio Posto de Tembueataca do, a 21 de JunhoSS. No dia 2 do mesmo mês fora ocu pado o acampamentodas obras públicas de Chiticula, desalojada a força de PSP/Milícias que o protegiae destruIdas máquinas que trabalhavam na reabertura de picadas56, e no final domes os guerrilheiros rea lizaram dois grandes ataques ao aquartelamento daCompanhia de Caçadores 2358, no Bene. A 28 levaram ali a cabo um ataque quedurou sete horas e meia, em boscando simultaneamente a coluna militar queregres sava de Caliramo, já junto da vila. Dois dias depois, um largo efectivoguerrilheiro tornou a atacá90

-la quase ocupando o quartel, salvo pela intervenção da aviação57. No messeguinte, por sua vez, foram flagelados a vila e o aquartelamento de Furancungo,sede do Subsector FFR58.Esta nova fase da ofensiva da FRELIMO constituiu, também, uma resposta àtentativa de desalojar os guerrilheiros do vale do rio Capoche, criando ao mesmotempo uma alternativa eventual de rota de rea bastecimento para a frente oriental,

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que descia o rio Muangadzi e era apoiada pelas novas bases Juromol e Beira.Nesta frente, o recrudescimento das ac ções operacionais foi suportado por umnovo sistema de bases no qual Furancungo continuava a ser a base principal. Arota que conduzia a Kauandama e à fron teira era, como se disse, apoiada pelasbases Beira e Juromol (ou Chitequele). Na frente Bene-Vuende pro priamentedita, estavam em ligação com a base principal as bases Antonio Enes, Rovuma,Quelimane (base de treino), e Chingale, todas bases de guerrilha59, emboratambém devessem ter tido grandes concentrações de população nas suascercanias. Tal hi pótese coloca-se devido à insistente referência aodespovoamento sistemático e quase total das regies de Cassacatiza e de Bene-Vuende, sem que tivesse si do possível às autoridades coloniais detectar o ras todas populaçoes, na maioria dos casos60.Por outro lado, também o Norte da Marávia contou com uma proliferação debases para apoiarema ma nobra táctica. Ao lado do sistema do Capoche, centradonas bases Mutarara, Mueda e Kauandama, surgiram as bases Chíngombe, Rome(ou Catcha), Aquissone, Maera (ou Boane), M'solola, Alfeu e Duângua61.Também aqui foi feito um grande esforço para retirar populaçoes ao controlo daadministração colonial, nomeadamente na área de Vila Vasco da Gama e naregedoria Cangombe, onde, em Agosto, se verificou o abandono generalizado dealdeias por um largo número de populações62. Todavia, é muito difícil descortinar o sistema de apoio que permitiu a progressao para Sul, na zona ocidental eno mês de Agosto, exac

tamente porque as forças coloniais nunca chegaram a ter um conhecimentominimamente concreto desta situaçao. Era feita apenas uma referencia vaga a baseMenene, extremamente móvel, e a um dispositivo sõl do com "bom potencial defogo" ao longo dos eixos Capoche-Luatize63.Em finais de Agosto, portanto, tanto a ocidente como a oriente do rio Capoche, afrente tendia a ultrapassar a linha Fingoé-Bene-Vuende, aproximando se do rioZambeze. Contudo, e apesar do inequívoco apoio popular, começava a apresentaralgumas debili dades, nomeadamente a sua profundidade, ja referida, com asdificuldades de reabastecimento inerentes, a tendência a enfraquecer-se o eixo dorio Capoche, o que originaria, a prazo, o corte dalígação entre os sectores orientale ocidental, e o estrangulamento da rectaguarda na regiao do rio Duangua, apesardos esforços para a alargar, quer a ocidente na região de Cassuende, quer a orientena faixa entre Cassacatiza e Missale 64 . Por outro lado, o atra so na penetraçãopelo Zumbo e por Moatíze-Mutarara Ia conduzindo a frente a um impasse.A contra-ofensiva militar portuguesaO mes de Setembro de 1968 assinala uma viragem no desenrolar dosacontecimentos, e como que a ulti ma tentativa do exercito colonial para recuperarto talmente o controlo sobre o território do então Dis trito de Tete. Dá início a umperíodo aqui designado por periodo da contra-ofensiva em que ele, efectivamente,conseguiu inverter a tendência de progressão da Frente, que se vinhamanifestando desde Março, empurrando os guerrilheiros ate à fronteirasetentrional e colocando a FRELIMO numa situação de desiquiiíbrio, da qual ela

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só se viria a recompor com o inÍcio da estação das chuvas, sensivelmente no finaldo ano de 1968.Digamos que em Agosto a direcção do exercito co

loníal, em Tete, constatava que tendia para uma situação de paralização completadas suas forças e que, a permanecerem estas acantonadas na estrategia defensivaque era a sua, não conseguiriam evitar que os guerrilheiros, a curto prazo,atingissem o rio Zambeze e tomassem o controlo total de todo o Norte doDistrito. Aumentar o efectivo estacionado na região era uma primeira soluçãoobvia, e tal foi feito com a alocação de um novo batalhão e a reestrutu ração dossubsectores. Aos três existentes veio jun tar-se o Subsector FBN, ocupando a áreada Circunscrição de Bene e faixas a Sul e Norte da Marávia, pro vavelmente65Por outro lado, o exército português procurou viabilizar as suas operações. Defacto, não eram so os patrulhamentos vulgares das tropas em quadrícula que setinham tornado virtualmente impossíveis devi do ao controlo que os guerrilheirosdetinham sobre as vias de comunicação. Também as operaçoes especiais bemsucedidas se iam tornando cada vez mais raras. Quando um grupo de combate saiapara atacar uma base, por exemplo, e partindo do principio que conheciaexactamente a sua localizaçao, tinha que percorrer grandes distãncías através depicadas minadas e sofrendo emboscadas a cada passo. Depois, havia queabandonar as viaturas e penetrar num mato que lhe era hostil. As populações comque conseguiam deparar fugiam ou resistiam a dar-lhes qualquer tipo deínformaçoes, e quando chegavam perto do objec tivo, extenuados e tendo jásofrido baixas, os soldados estavam tudo menos preparados para assaltar a base.Esta situação era sintetizada da seguinte forma:"(...) [A FRELIMOI conhece os nossos processos habituais de luta; sabe por ondeas NT se deslocam, o material quepossuem e e-lhe fácil furtar-se ao contacto eprovocar-lhes todaasé rie de contratempos, desgastando, enfraquecendo,desmoralizando.O problema, conforme se nos afigura, não está na maior ou me nor quantidade deforças e num maior ou menor número de viaturas - [a FRELIMO] sabe comoactuar perante esta nossa apa rente força - mas sim na selecção de pessoal eescolha apropriada de meios.

~~~i Iqe Rgo.) <kGr ~I f%'IrIu " aZ.__.~ri : r.:o;:Z I nSeemr fio 1968

v. s*210. Operações especiais do exército português no âmbito da sua contra-ofensivade Setembro de 1968.

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A táctica que [a FRELIMO] tem demonstrado nesta luta, diluin do-se no terreno,segurando-se nos seus acampamentos com um sistema de vigilancia e alertaeficazes, não é propícia ao em prego da massa de pessoal, que so se fatiga e sofre,a todo o momento, emboscadas, armadilhas, flagelações, rebentamento de minas,que ela, ardilosa e habilmente sabe implantar noterreno"66.Neste contexto, o novo tipo de operaçoes posto em prática pelo exércitocoloni.ql», a partir de Setembro, caracterizava-se por contar com efectivosmenores e mais organizados, e, sobretudo, helítrans portados para os locais deoperaçoes, onde intervinham, igualmente, caças bombardeiros. Deste modo esperavam os comandos militares tirar um rendimentomaximo do efeito de surpresa, evitando todos aqueles obstáculos anteriores eimprimindo uma nova eficácia as operações."As operações deste tipo, dadas as possibilidades dos meios aéreos, conduzemsem sombra de dúvida a resultados muito mais rentáveis, quer sob o aspectooperacional quer pelo aspecto psicologico que exercem [sobre a FRELIMO],sobre a população que com'ela vive, quer sobre aquela cujo estado de espírito edubio. (...) Ao contrário do que acontece normalmente, em que ao fim de 2 ou 3dias já se encontram em condições físicas desvantajosas para atacar uma base ouum Gr In [Grupo lni migo] ou reagir a uma emboscada, estas operaçoes permitemque tropas frescas sejam empenhadas nestas acções sem aquelegrande factor desmoralizante"67.À preparação deste novo tipo de operações veio juntar-se um elemento vital paraque elas pudessem realizar-se: o conhecimento de importantes dados so bre aestrutura da FRELIMO e suas bases e efectivos, sobretudo a oriente do rioCapoche, nas regiões de Bene e Cassacatiza68.No início de Setembro, a Companhia de Caçadores 2350 desencadeou, a partirde Tembué, a operação "Mãos Dadas" sobre a base Beira, que foi encontradaabandonada mas que destruíram e onde puderam capturar importantedocumentação sobre o dispositivo guer rilheíro na região 69. Dias depois tevelugar uma ope ração idêntica, denominada "Salado", desta feita so bre a baseQuelimane, com idênticos resultados, mas

no decorrer da qual a tropa colonial experimentou maiores dificuldades, tendoinclusivamente sido aba tido um dos seus aviões nos arredores da referida base70.Estas primeiras operações constituíram como que um preâmbulo, visando jáobjectivos importantes mas servindo ainda como uma espécie de teste de eficácia. Elas mostraram de imediato que, apesarde pro porcionarem ao exercitoportuguês a recolha de importante informaçao e a destruição de instalaçõesfísicas, não permitiam o efeito de surpresa completo e, portanto, o confrontofísico e o aníquilamen to de guerrilheiros. O sistema de alerta destes estava bemmontado e funcionava instantaneamente. Aban donando as bases imediatamenteantes da chegada dos grupos de combate portugueses, os guerrilheirosestacionavam em seguida perto delas, refazendo-se rapidamente e, portanto,minimizando os estragos que as incursões pudessem causar71. A experiência

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assim obtida pelo exército colonial conduziu a preparação da série de operaçoes"Equator", cujo principio era aproveitar mais intensamente o efeito deý surpresa,procurando explorar todas as informaçoes obtidas com incursoes simultaneassobre o maior numero possível de bases e considerando que, mesmo que não fossepos sível surpreender os guerrilheiros em todas elas, pelo menos conseguiriamafectar as lígações entre as bases, remetendo os guerrilheiros para uma posíçâodefensiva. Em 17 de Setembro executou-se a operação "Equator Alfa", constituídapor unia série de golpes de mão às bases Rovuma, Antônio Enes e Queli mane(esta última reconstruída prõximo do local onde tinha sido destruídaanteriormente). As duas pri meiras encontravam-se já abandonadas mas na últimacapturaram três guerrilheiros, muita população e ar mamento72.Simultaneamente, a operação "Equator Bra vo" visou novamente a base Beiracom o objectivo de pressionar o corte da ligação entre o eixo Bene-Vuen de e arectaguarda, no triângulo do rio Duângua73. Dois dias depois teve lugar aoperação "Equator Char lie", com golpes de mão às bases M'solola, Duangua,

11. Dispositivo paramilitar colonial na zona de guerra. Abrilde 1968.98

12. Dispositivo paramilitar c. :..al na zona de guerra em Setembro de 1968:aumento generalizado dos contingentes.99

Mutarara e Juromol (ou Chitequele), no vale do rio Capoche e dentro do tringuloformado por este e pe lo rio Luatize com a fronteira, para dificultar o apoio queesta rectaguarda pudesse eventualmente dis pensar à região Bene-Vuende.Integradas na mesma ope raçao, foram também desencadeadas acçoes de destruiçâo de "meios de vida", ou seja, todas as machambas e celeiros encontrados, como intuito de impedir a sobrevivência de guerrilheiros e populaçôes na região74.Em Outubro e Novembro seguiu-se uma série inten sa de operações do mesmotipo, visando as regiões referidas, nomeadamente com o regresso a bases anteriormente destruídas, e cobrindo todo o vale do rio Capoche com incidência naregião dos rios Menene, Me cumbúzi (Sul) e Nhimbe, onde suspeitavam existirum dispositivo da FRELIMO ainda desconhecido 75. A ofen siva culminou com aoperação "Garden" sobre a então recém-formada base Capoche, constituÍdaeventualmen te por contingentes retirados de bases anteriormente atacaáas76.A contra-ofensiva colonial provocou poucos recontros com os guerrilheiros, se setiver em conta o aparato dç que se revestiu e a envergadura dos meios accionados.De facto, das 37 operaçõés especiais empreendidas entre Setembro e Novembrode 1968, apenas 5 reportaram baixas de guerrilheiros77. Toda via, cumpriramcom o seu objectivo estratégico na me dida em que cortaram a ligação entre arectaguarda e a frente Bene-Vuende-Furancungo, que era assegura da pelas basesJuromol e Beira, e controlaram a linha de fronteira, Cassacatiza-Vila Gamito, parapre venirem a eventualidade do surgimento de rotas alternativas dereabastecimento. Além disso, atingiram duramente todo o vale do rio Capoche,

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aniquilaram o dispositivo de bases em Bene e atingiram seriamente o dispositivorecuado do Norte da Marávia, procurando dificultar o apoio de rectaguarda àregião de Vila Vasco da Gama. Cortada a ligaçâo entre as frentes oriental eocidental da FRELIMO, inter100

rompida a ligaçao entre os dispositivos avançados e a rectaguarda, apenasrestaram duas bolsas, nas regiões de Vila Vasco da Gama e do Vuende, quetendiam a ser totalmente aniquiladas.É natural que o problema central dos guerrilheiros fosse a dificuldade dereabastecimento, a ausência de reforços em soldados e equipamento 78. Dequalquer forma, dada a violência e a rapidez da con tra-ofensiva colonial, ficaramcom pouco espaço de manobra para reagir. A ocidente, tentaram passar pa ra Sulde Vila Vasco da Gama, dando continuidade a uma pressão que se vinha sentindodesde Julho e que já tinha originado o abandono pela população de gran denúmero de aldeias da região79. O comando militar colonial considerava que acontinuação desta pressão visava proteger o avanço no eixo do rio Capoche,dificultar as comunicações entre Fingoé e Bene e dispersar a tropa colonial numaaltura em que se pro curava concentra-la, no quadro das operaçoes especiais 80.De qualquer forma, o apoio de rectaguarda tinha-se tornado virtualmenteimpossível apos a ope raçao "Equator Charlie" e outras que se seguiram. Aoriente, os guerrilheiros foram obrigados a retirar para Norte, na sua maioria,"deixando a descoberto" um grande numero de populaçoes, segundo a terminologia colonial. Populaçoes que, na esteira das operaçoes especiais, o exercito visavacapturar ou pressíonar por diversos meios a sua apresentação junto dasautoridades administrativas e militares. Datam desta altura as primeirasexperiências concretas de formação de aldeamentos em Tete, visando a populaçãoda região Bene-Vuende. Para trás ficava o cortejo de horrores trazido por estasoperaçoes especiais, sob a capa de designações como "destruição dos meios devida" (destruição de machambas e celeiros que impli cava o prolongamento dafome), ou"aniquilamento dos apoios da guerrilha". Situação sintetizada por umajovem que em Fevereiro do ano seguinte escrevia ao Administrador da Macanga,procurando por familiares: "A minha família foi toda atingida pelos helícópte-101

ros que queimaram essa Macanga (...), a minha família foi encontrada no mato,sem roupa e sem vida ( . .),, 81A FRELIMO retoma a iniciativaA alteração do curso dos acontecimentos a partír de Setembro de 1968, mais doque uma crise de crescimento da frente, sígníficava que o exército co lonial tinhaencontrado uma forma mais eficaz de reagir a progressão da guerrilha. De facto,ate essa altura a FRELIMO vinha manifestando capacidade de conquistar cadavez maior número de populações para a luta de libertação e não tinha cessado deprogredir para Sul. Porém o exército colonial tinha conse guido, repentinamente,resolver o problema da colocação de forças nas zonas críticas em prazos muitocurtos, através do uso de meios aéreos, e isso tinha desíquilíbrado a tendência deevolução da guerra. No essencial, o exército colonial havia concretizado o

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principio do "número napoleónico", conseguindo obter a superioridade numéricaem cada recon tro de forças específico82. Toda a sucessão destes recontros visavaa manutenção da ofensiva para a con cretização da estratégia militar colonial queconsistia em fazer recuar os guerrilheiros para lá da fronteira setentrional com aZâmbía.Apesar da propaganda colonial, segundo a qual o território do Norte de Teteestava, no final de 1968 - e, portanto, após a série de operações espe ciaisapontada - completamente "limpo" da presença guerrilheira, o que e certo e que,no início de Janeiro de 1969, o Comando Sectorial F reconhecia a eventualidadedas coisas não se terem passado exactamente assim. De facto, ele admitia que noextremo norte do vale do rio Capoche havia grande concentra ção deguerrilheiros83 oriundos das bases de onde haviam sido expulsos, mais a interíordo território, e mantendo grande capacidade de fogo e de resposta102

as operações destinadas a desalojá-los. A ausencia de controlo sobre esta zona porparte do exército co lonial estava, assim, directamente relacionada com a falta deinformaçoes a ela respeítantes. E todavia, a FRELIMO pode retomar, no decorrerida época do "capim alto", a sua dinâmica de penetração no ter ritõrio mantendo nogeral a mesma estratégia com aí gumas alterações, nomeadamente a introdução dereforços aparentemente consideráveis nos seus contingentes e o alargamento dacapacidade de operaçoes tácticas no terreno. Na pratica, visando concretizar osdois deslgnios que já Engels considerava fun damentais para o sucesso dequalquer insurreição: forte superiorjdade numérica e postura ofensiva84.Em suma, os guerrilheiros tinham que alargar o seu campo de actuação mais doque nunca para obrigar o exercito colonial a dispersar, tinham que sair quantoantes da posição concentrada e defensiva que detinham na confluência dos riosCapoche e Duângua. Tal era possível partindo do principio que a tropa portuguesanão conseguiria eternizar a pressão que vinha exercendo mas, por outro lado,subentendia o reforço já referido dos contingentes guerrilheiros.Dissemos que a falta de controlo da fronteira norte colocou grandes dificuldadesaos serviços de informaçoes coloniais na determinação do tipo de re forço que osguerrilheiros estavam a receber, assim como na localização das rotas de entradados reabas tecímentos. De início, recolhiam simples rumores de que estariam apenetrar através da Zâmbia contingen tes de guerrilheiros oriundos da Tanzanía85. Depois, durante Fevereiro de 1969, as informações referiam de diversas fontesque cerca de 350 a 400 guerrilhei ros tinham passado por Lusaka por volta de 8 deJaneiro 86, e penetrado no territorio de Tete. Aparentemente, os guerrilheirosdividiram-se em diversos grupos dirigindo-se para Gago Coutinho, Cassacatiza,Bene-Vuende e Furancungo, e quando o exército teve confirmaçoes mais precisas,em Março de 1969, já eles tinham penetrado havia quase dois meses87.103

13. Bases principais da FRELIMO após a contra-ofensiva do exér cito portuguesno final de 1968.104

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Yxx14. Bases principais da FRELIMO após ter retomado a iniciativa no primeirosemestre de 1969.105

Reforçada e reabastecida, a FRELIMO manteve o mesmo processo de penetração,aproveitando as regiões onde anteriormente obtivera apoio popular. Este aspecto émuito importante na medida em que pos a cla ro a fragilidade da estratégia dacontra-ofensiva co lonial. Apesar de todo o seu sucesso pontual, os co mandos doexercito colonial perseguiam uma ilusao quando esperavam esmagar a luta coma destruição das bases e a contenção dos guerrilheiros. De facto, a populaçãopermaneceu e, tendo ela sido sempre a base da estrategia guerrilheira, permitiu areposição rápida da situação anterior a contra-ofensiva colonial. Assim, de umaforma geral, a FRELIMO procurou reactivar os sistemas de bases anteriores,nomeadamente o da região de vila Gago Coutinho e o do eixo Bene-Vuende-Furancungo. No entanto, efectivou algumas alteraçoes fundamentais respeitantesàs linhas de reabastecimento e aos eixos de penetração. Em re lação aoabastecimento, havíamos verificado que um dos graves problemas da frente nodecorrer do ano de 1968 dizia respeito a ele estar demasiado concentra do (ouestrangulado) no triângulo dos rios Duangua e Capoche com a fronteira, na zonade acção da base Kauandama. No primeiro semestre de 1969, pelo contra rio,surgiu uma serie de bases importantes que, atra vés da sua acçao, permitiu aosguerrilheiros manter aberta uma extensa linha de fronteira entre o rio Ucanha e aregião Missale-Freitas, nomeadamente as bases Messensa, de treino do rioDuãngua88, e a base central de Calichero89.Outra alteração fundamental, respeitante aos eixos de penetraçao, consistiu nodistanciamento des tes em relação ao vale do rio Capoche, facto tornado possívelexactamente pelo controlo da linha de fronteira proporcionado pelas novas bases.Assim, a oriente foi estabelecido um corredor que, através das bases central deCalichero, Moatize (que substi tuíra a base Beira) e Furancungo90, ligava a umase rie de novas bases, sempre no eixo Bene-Vuende-Furancungo, restabelecendoas operaçoes nesta zona e106

permitindo inclusivamente um novo impeto na progres são para Sul através dasbases Bereko e Sabondo91. Mais a Norte, foi instalado um sistema novo na regiãode Vila Gamito e, pela primeira vez, o disposi tivo colonial na região e a estradaque ligava a Fu rancungo passaram a estar ameaçados. O estabelecimento destafrente oriental permitiu de novo as acções militares sobre as vias de comunicaçãoe o ata que a localidades importantes. Em 31 de Janeiro foi atacado oaquartelamento de Tembué92 e a 3 de Fevereiro o Posto Fiscal de Míssale93. Asérie de opera çoes militares que se seguiu94 provocou novamente uni estado dequase paralização da tropa colonial e permitiu aos guerrilheiros retomarem a suaacção jun t3 das populaçoes, nomeadamente na região de Vuende, regedoriaManjanja, onde recomeçou o abandono massi vo de aldeias 95. Conjuntamente

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com o facto de possuir uma rectaguarda mais larga, a nova frente oríen tal tinhaoutra característica marcante: penetrando profundamente na Macanga, acercaua-se muito mais da Angónia e Moatize do que no ano anterior. Em Fevereiro, assim,a FRELIMO tinha conseguido aquilo que tentara insistentemente, mas semresultados, no ano anterior, ou seja, a ligação as regiões de Tsangano e VilaCoutinho, na Angónia96. Estava assim a umpas so de poder ligar a frente orientalao dispositivo de rectaguarda que tinha no MalawiA ocidente e numa sequência idêntica, os guerrilheiros reínstalaram o dispositivoda região de Gago Coutínho, já referido, com as bases Messensa, Capoche,Chingombe e Palande97, e em seguida estabe leceram-se solidamente na regiãode Vila Vasco da Gama, em torno da base central de Mevira98, descendo os riosMenene e Mecumbúzi-Sul em direcção ao rio Capoche. O forte apoio popular aosguerrilheiros, com paralelo só talvez na zona de Vuende, fez com que o exercitocolonial perdesse quase por completo o controlo sobre esta região, nomeadamenteem relação as estradas vila Gago Coutinho-Fingoé e Vila Vas co da Gama-Fingoé. Curiosamente, num movimento pra-107

R15. Dispositivo militar portuguès na zona de guerra em Abril de 1969. 108

a.16. DiSpositivo paramilitar colonial na zona de guerra, no pri meiro semestre de1969: aumento das forças de milícias.109

ticamente simetrico em relação, a frente oriental, também a área da ala ocidentalde 1968 foi, em 1969, substancialmente alargada, neste caso para ocidente, com apenetração pela regedoria Chofombo ate às margens do rio Ucanha, procurandofazer a ligação com o Zumbo99.O exercito portugues poucas soluçoes pos em pra tica face a este súbito retomarda ofensiva por par te da FRELIMO. Estrategicamente surpreendido, esperavauma reentrada dos guerrilheiros pelo vale do rio Capoche ou, muito a ocidente, aolongo do rio Ucanha100, tendo no entanto que se defrontar com duas alas depenetração que tendiam a alargar para os lados e que, evitando o vale do rioCapoche,. se vinham a unir a Sul, exactamente na confluência des te rio com osrios Luía e Cherize, já muito proximo do rio Zambeze e de Cabora Bassa101.Tardiamente em relação ao sentido estratégico que lhes queria conferir, o exércitoparticipou ainda com a admínistra ção na edificação de aldeamentos, não com afinalidade preventiva que o Governo do Distrito preconiza va mas antesprocurando, nas regiões mais afectadas pela guerra, impedir o contacto entreguerrilheiros e populaçoes102. Processo que, por si so, provocou a fuga depopulações em todo o território, nomeadamente a Norte, onde extensas zonasficaram despovoa das103.Em suma, nenhuma solução pode evitar que em mea dos de 1.969 as autoridadescoloniais se defrontassem com uma situação de guerra em praticamente todo o

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território de Tete a Norte do rio Zambeze, situação que já não viriam a conseguiralterar durante a estação seca como haviam feito um ano antes.110

17. Aldeamentos coloniais iniciados na zona de guerra entre fi nais de 1968 einicio de 1969.111

NOTAS1 ntroduçãoiVer argumentação sobre esta questão na secção introdutõria de WilliamJ.Pomeroy, Guerrilla Warfare and Marxism (Londres: Lawrence & Wishart,1969).2Eduardo Mondlane, Lutar Por Moçambique (Lisboa: Sá da Costa, 1977),pp.133-135.3São excepções, por exemplo, os trabalhos de Basil Davidson, The People'sCause - A History of Guerrillas inAfrica (Harlow:Long man, 1981), e ThomasH.Henriksen, Revolution and Counterrevolution - Mozambique's War ofIndependence, 1964-1974 (Westport, Connecticut: Greenwood Press, 1983). Oprimeiro aponta algumas vias e dá uma perspectiva geral da guerrilha comotactica privi legiada das lutas de libertação africanas; o segundo, colocado numaposição hostil ao Movimento de Libertação sob uma capa de equidistancia, eapesar de mostrar um grande esforço em relação as fontes, não sai doreducionaismo que o seu proprio metodo, baseado em categorias dicotomicas, lheimpos.4Aliás os trabalhos que tentam essa análise são igualmente escas sos. Entre asexcepçoes, ver Aquino de Bragança e Jacues Depel chin, Da Idealizaçao daFRELIMO a Compreensão da Historia Recen te de Moçambique (Maputo: Centrode Estudos Africanos, 1986, mi meo).5Wa]ter C.Opello Jr., Guerrilla War in Portuguese Africa: An Assessment of theBalance of Force in Mozambique, Issue 4(2), Verão de 1974: 29-37.6A recolha de maior envergadura que conhecemos foi efectuada pelo Centro deEstudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane no âmbito do seu Projectode Cabo Delgado.7De entre uma literatura vasta, uma argumentação breve e estimulante sobre estaproblemática em W.G.Clarence-Smith, For Braudel: A Note on the "Ecole desAnnales" and the Historiography of Africa, in History of Africa, vol.4(1977),pp.275-281.8Exemplo de uma tentativa de trabalho neste sentido e das possibilidades abertas,pode ser colhido num episódio ocorrido em Te te, em 1983, durante um processode recolha de depoimentos, no113

âmbito do Projecto de Tete do Arquivo Historico de Moçambique. O trabalhoteve inicio com uma reunião preliminar organizada pe lo secretário do

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Governador da Provincia, na qual participaram destacados antigos combatentes daProvíncia. Estes, por inicia tiva própria e para alem das biografias individuais,apresenta ram uma pequena narrativa da luta armada em Tete. Foi relator dogrupo o senhor Celestino de Sousa, que pertencera a primeira rede clandestina daFRELIMO no Zobue. Mais tarde, foi possi vel entrevistar o mesmo protagonistasobre o período preciso por ele vivido, com um forte apoio na documentaçao daadministração colonial, que permitiu aprofundamento e detalhe nas ques toestendo-se ele, no final, declarado surpreendido com as coí sas de que ainda selembrava. Vér Arquivo Historico de Moçambi que, Projecto de Tete, 1983, JoãoPaulo Borges Coelho e Jose Ne grao, Entrevista com Celestino de Sousa (Tete:1983). 9A descriçao da documentaçao e apresentada no final, no âmbitodas Fontes e Bibliografia.lOEm Tete esse esforço culminou com a unificação das estruturas .civis emilitares sob um único comando quando, debaixo da intensa pressão da guerra,foi criada a ZOT [Zona Operacional de Tete], em 1971, dirigida pelo brigadeiroRocha Simoes.Capitulo 1iUm exemplo sugestivo da intensidade destas ligações "que desprezavam asfronteiras" e que serviam potencialmente de excelente veículo das idéias anti-coloniais e-nos dado pelo pequeno estudo do Administrador do Posto do Zobue.Ver Arquivo Histórico de Moçambique [daqui em diante AHM], Fundo de Tete[daqui em diante FT], Moatize, cx 107, "Grupos Étnicos Existentes na Area doPosto do Zobue. Sua Localizaçao em Relaçao a Fronteira, Afinidades com asPopulações Malawianas Fronteiriças e Atitudes que Vêm Exteriorizando Perantea Administração ea Sub versão", s/r, 20 de Junho de 1967. Ele refere, a dadopasso: "Da cobertura populacional nas terras do Zóbue, ressaltamzonas~privilegiadas de convívio e intercâmbio, de contactos e re laçoes com arease povos de além fronteiras mais os provocados pelo trânsito rodoviário através daszonas habitacionais. Tem-se, neste caso, a regedoria M'Boola e uma parte da deCambuêm bua, ambas localizadas ao longo da fronteira e através das quais sulca aestrada nacional que liga as cidades de Tete e Blantyre. Inevitavelmente, oscontactos surgem a cada passo e por ra zoes de toda a ordem desde as querespeitam a problemas de eco nomia através do comércio, as que culminam comas relações de parentesco entre as populaçoes localizadas no Malawi, nas regiõesde Tambani, Mwanza e Blantyre e áreas de Chicuaua. O intercâmbio registadoabrange os habitantes radicados nas zonas limítrofes em maior percentagem,diminuindo satisfatoriamente114

para o interior salvo nas zonas onde a emigração para Blantyre atinge algumrealce, como no caso da regedoria Zacarias". É também interessante umdocumento emanado do mesmo Posto, Pos to Administrativo do Zóbuè,"Relatório Mandado Elaboiar Pelo Inspector dos Serviços de Acção PsicossocialExcelentissimo Se nhor Antonio Henriques de Oliveira Sobre o MovimentoMigratorio de Africanos na Área Deste Posto e Existência de Seitas Re ligiosas,s/r, 20 de Maio de 1964, AHM, FT-Moatize, cx 100: "(...) Quase que a totalidade

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dos africanos residentes ao longo da f-onteira têm família do lado da Niassalandiae vice-ver sa. Individuos há que tem uma mulher na área do Zobue e outra do ladoda Niassalandia. Durante os três anos de estadia do si& natário neste Posto, tenhoverificado que para o africano resi dente ao longo da fronteira e numaprofundidade que varia entre os 20 e os 50 quilómetros, esta nao existe,circulando ele livremente num e noutro território. Segundo estou informado, aolongo de toda a fronteira, especialmente na região compreendida entre o Zóbuè eTambani, todos os africanos residentes na Niassalandia são portugueses e para aliemigram em procura de melhoria de vida. Sera de aceitar esta versao seatendermos a que a grande maioria daqueles individuos fala o português ".2Sobre o aspecto da migração, assim como para uma caracterização geral daeconomia do Distrito, que nao cabe analisar no âm bito deste trabalho mas tão sóreferir as implicações que teve na edificação da estratégia de defesa colonial facea ofensivanacionalista, ver AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo de Te te, cx 42,Governo do Distrito de Tete, "Panorama Geral do Dis trito de Tete -Apontamentos para Sua Excelencia o Senhor Ins pector Hortênsio de Sousa",Tete, Dezembro de 1966.3Ver Decreto n2 43896, de 6 de Setembro de 1961, in Ministério do Ultramar,Legislação de 6 de Setembro de 1961 (Lourenço Mar ques: Imprensa Nacional,1961) pp.99-100; e Decreto-Lein2 39666, de 20 de Maio de 1954. Os termos regedor e regedoria, tinham, emMoçanbique, a designaçao local de reg.,lo e regulade tal como em Angola sereferiam como Soba e Sobado. 4AHM, FT-Arquivo Confidencial, cx 42, Governodo Distrito de Tete, "Panorama Geral. .", já cit., pp.4-5.51dem.6Houve, durante a primeira metade da década de sessenta, umacer ta preocupaçãoem conhecer outras experiencias coloniais no abito da contra-guerrilha,nomeadamente atraves da divulgação de publicações e da realizaçao deconferencias e de palestras. Ver por exemplo, AHM, FT-Moatize, cx 97, aconferência do tenente-coronel frances Pierre Closterman em Tete, a 23 de Maiode 1961. Por outro lado, efectuaram-se ediçoes restritas de obras referentes aguérrilha, como por exemplo, Corpo de Polícia da Província de Moçambique,Arte da Guerra de Guerrilhas de Mao Tse Tung (Lourenço Marques, Março de1963), ou Corpo de Polícia115

da Provincia de Moçambique, Cento e Cinquenta Perguntas a um Guerrilheiro(Lourenço Marques, Outubro de 1963). O Comando Militar efectuou igualmente publicações do gênero.7Aá*, FT-Macanga, cx 103, Serviços de Centralização e Coordenaçao deInformaçoes [daqui em diante SCCI], Relatório Imediaton2 14, de 26 de Abril de 1966.8AHM, Secção Especial, n0 22, aIII, prt.6, Ferraz de Freitas, Conquista daAdesão das Populações (Lourenço Marques, Fevereiro de 1965), p.6.

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9Estas definições são apresentadas, textualmente, assim "Enquanto comandarsignifica dirigir e implica o conhecimento e o manejo das 'forças sociais', mandarsignifica impor e e suficiente a detenção da for2a física. O comandamento exigeparticipação e promove a adesao; o mando pode provocar a repulsa,nomeadamente quando exercido sobre populações culturalmente di ferentes e quese não compreendem e a sua eficiência diminuira à medida que for diminuindo aforça física de quem o exerce. E na Província a força física da Administraçãodiminuirã de 'po.der' até se tornar incapaz de controlar as populações> se estas aoinvés de lhe concederam a sua adesão a concederem a subversão". Ferraz deFreitas, "Conquista da Adesão...", já cit. E o conceito de accionamento: "Aqueleconjunto de medidas que émis ter tomar para por as populações a trabalharconnosco e torna-las repulsivas a propaganda do inimigo costuma chamar-se o accionamento das populaçoes (...). No accionamento das populações, nostentaremos conseguir trazer até ã nossa órbita, inte grar no nosso meio e na nossacivilização, na nossa cultura e nacionalidade, as populações que nos estaoentregues. Esta será, digamos, uma das finalidades. A outra seráconseguirmosqueas populaçoes trabalhem activamente connosco na detecçao e no combate asacções subversivas que o inimigo venha porventura a desencadear". AHM,Secção Especial, n2 237-1, aIII, prt.lO, Go verno do Distrito de Tete/ServiçosDistritais de Administração Civil, Acta das Sessões da Reunião dosAdministradores e do In tendente com o Governador do Distrito nos Termos doart.377 daR.A.U., 19 de Abril de 1966, p.45.lOIdem, pp.42-43. Dizia, nomeadamente, o Governador:"(...) o fac,tor essencial da guerra subversiva e a populaçao e eu ja tive ocasião de aqui vosdizer que enquanto na guerra convencional os militares pensavam em termos deterreno, hoje em dia, na guerra subversiva, o terreno perde a sua validade e passaa va ler somente a sua população. A população é pois o objectivo da guerrasubversiva, essa visa a conquista da população e nós p2 demos dizer, sem errar,que aguele de dois partidos que estiver em luta e tiver a populaçao do seu lado,será esse a ganhar a guerra".llEram as seguintes, as suas palavras: "(...) cada umdenós, dentro da area que tem à sua responsabilidade, tem que conhecer as116

populações que lhe estão entregues, e sabendo nós que a maioria das populaçõesvive ainda em estado atrasado, agarrada as suas tradiçoes tribais, o conhecimentodessas regras de vida é indispensável para que nos possamos antecipadamenteencontrar a explicação para determinadas atitudes que as populações tomam.Impoe-se, portanto, que cada um de nos conheça profundamente as populaçoesdas respectivas áreas, as suas etnias, as forças que agem no seu seio e as leis queregema sua vida (...).Existem, portanto, no seio das populaçoes, forças que puxam em sentidos diversosque nos importa acima de tudo conhecer porque só c.om o conhecimento perfeitode quais são estas forças e para onde se dirigem nos será permitido amanhãmanobrar ou dar mais força a um sector e criar, por assim dizer, um conflito, se

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isso nos viesse a interessar (...)". Governo do Distrito de Tete/Serviços Distritaisde Administração Civil, "Acta das Se!soes.. .", ia cit., pp.45-46.Este tipo de orientação era levado bastante a peito velo Administrador doConcelho de Moatize, que afirmava: "Deviamosir pa ra soluções por assim dizermaquiavelicas, que levassem as populações a pensar na sua auto-defesa comonecessidade imperiosa. (...) Se colocássemos um fornilho que fizesse algumavitima, poderíamos também tirar partido do facto criando no espíri to daspopulações uma atitude reprovadora contra os supostos terroristas. Desta forma osagentes subversivos que chegassem depois as terras com o intuito de montarfornilhos não teriam ia um bom acolhimento". Governo do Distrito de Tete 1Serviços Distritais de Administração Civil, Segunda Conferência de Administradores de Concelho e Circunscriçao, 1967, AHM, Secção Especial, n9 245,aV, prt.6, pp.129-130.Ja anteriormente o mesmo administrador propunha idêntico tipo de medidastendentes a desacreditar os combatentes e militantes do interior junto daspopulações: "Assim, no campo político e objectivo, que e afinal o terreno no qualtemos que nos ba ter, cre o signatario que daria um óptimo resultado seconseguíssemos arranjar 2 ou 3 conjuntos de indivíduos de áreas diferentes,devidamente mentalizados para, a semelhança de verda deiros agentessubversivos... ", etc. AHM, FT-Moatize, cx 102, Administração do Concelho deMoatize, s/r, 27 de Junho de 1966.12Ver por exemplo o estudo sobre o poder nas regedorias da Circunscrição daMarávia, de António Fernando Torres dos Santos, primeiro adjunto do Gabinetede Zona do Serviço de Acçao Psico-bocial d- Distrito de Tete, intitulado "Contribuição para o Es tudo do Estaao ý-Espírito das Populaçoes da Circunscrição da Marávia", AM, FT-ArquivoConfidencial, cx 42, SCCI, Relatório de Informaçao n2 129/66, de 9 de Setembrode 1966.13Ver por exemplo, AHM, FT-Moatize, cx 105, Governo do Distrito de Tete,Circular s/r, de 25 de Janeiro de 1967.14Comentavam os SCCI: "Embora se desconheça o actual grau de subordinaçãodos diferentes regedores do distrito de Tete ao Undi (da Zâmbia) e do prestígioque este goza perante as popula-117

ções do mesmo distrito, sabe-se que a área por si outrora ocupada e hojeincorporada na regedoria Bene se encontra devoluta por ninguem se atrever aocupa-la: sabe-se mais, que o regedor Sabondo, da Macanga, aquando da suanomeaçao, declarou nao poder assumir as funçoes sem previamente obter anecessaria auto rização do Undi, suspeitando-se que a grande maioria dosregedores, senao a totalidade, das areas da Marávia, Macanga, Maguè e alguns doZumbo, adoptaram igual procedimento". AHM, FT-Moatize, cx 102, SCCI,Boletim de Difusão de Informaçoesn2 177/66, de 8 de Março de 1966.15Como exemplo, em 1965 tinha sido um informador do Administrador

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do Posto do Zobue que, com o seu trabalho, havia levado a completa identificaçãoda rede local da FRELIMO desde o inicio.Ver AHM, FT-Moatize, cx 102, Posto Administrativo do Zobue, Bo letim deInformaçoes n9 5/65, de 3 de Março de 1965, e toda adocumentação deste processo.16Em Janeiro de 1967, por exemplo, o major Costa Freire, chefedos SCCIM, lamentava-se junto do Governador da Província sobre a ausencia desensibilidade para este problema, apontando o ca so de um posto administrativoque, tendo recebido uma noticia importante de interesse imediato para a PIDE,apenas a transmi tiu a administração da circunscrição, seu escalao superior, e aosorgaos distrítal e provincial dos SCCI. De escalao em esca iao, a nQticia.passoudespercebida e só mais tarde, fora de oportunidade, e que a PIDE teve delaconhecimento. AHM, FT-Moatize, cx 105, SCCI, nota n2 132, de 27 de Janeiro de 1967.l7AHM, FT-Moatize, cx 102, SCCI, Relatório de Informação ng 1, de14 de Março de 1966. Aqui se procura explicar detalhadamente, com base nasoperaçoes e no interrogatório pormenorizado de um prisioneiro (assim como natranscrição do seu diário de campanha), a estratégia da FRELIMO na zona e osacontecimentos de to do este processo.18AHM, FT-Moatize, cx 102, Governo do Distrito de Tete, Boletim deInformação n9 57/66, de 11 de Março de 1966.191ntervençao do Administrador da Circunscrição da Mutarara, João da LuzBourgard, in AHM, Secção Especial, ng 237-1, alIl, prt.10, "Acta das Sessoes.. .",já cit., pp:127-128. O mesmo administrador da também uma sugestiva imagem davulnerabilidade da Mutarara: "Na realidade, h quilómetros e quilómetrosquadrados, seguidos sem interrupção, de terreno totalmente coberto com umaaltura média de agua de dois metros. Toda esta infindável superficie liquida e aomesmo tempo uma enor me e cerrada floresta de plantas aquáticas que saiemacima do nível das águas cerca de dois metros. De modo que a dois, a trêsmetros, já não se vê, de uma, outra almadia que.passe ou esteja estacionada. Portoda esta vastidão, que nao e pântano mas também não é rio, é uma espectacularexuberância vegetal e um espantoso fervilhar de vida, abundantemente criadanum insu118

portável calor húmido - insectos, peixes, aves ribeirinhas, hipopótamos,crocodilos, tudo em quantidades que nao e frequen te ver-se. Por vezes no meiodesta estagnaçao letal, surgem inex plicavelmente torrentes impetuosas que noslevam e arrastam, sendo necessário vencê-las a viva força por entre um equilíbrioque escassamente as almadias garantem. Enfim, toda esta região que daqui pordois meses ficará completamente seca, e agora um tremendo obstáculo onde,privado de poder nadar ou andar, pere cera sem remissão todo aquele que, porqualquer motivo, deixar de poder utilizar a embarcação de que disponha e, poroutro la do, impossível de eficientemente fiscalizar a não ser, talvez, dehelicóptero. Mas, não há dúvida, com água ou sem agua, toda esta vasta regiao,que ainda por cima entra pelo Malawi, tem que ser patrulhada e fiscalizada. É

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que é uma via de acesso ao nosso territorio protegida por uma camuflagemperfeita e, justamente no tempo em que esta inundada, muito mais utilizavel quedepois". AHM,.FT-Moatize, cx 105, Governo do Distrito de Te te/SCCI de ]ete,Relatório da Operaçao Ponta do Bico, n2 126/D/31, de 21 de Março de 1967.20Ver João Paulo Borges Coelho, A Primeira Frente de Tete e o Malawi, Projecto de Tete, Relatório de Investigação (Maputo:AHM, 1984, mimeo),p.51, onde se resumem as operaçoes no seguinte quadro:EFECTIVOS ADMINIS.OPERAÇÕES DATA MIL. E PARA-MILIT. POPULAÇÃO TOTALOperação Con 13-16 126 600 726junta Goma/ JunhoDoaOp.Surpresa 8-9 27 46 73Nhapale AgostoOp.Chire SetembroOp. D/CX 13-19NovembroOp.Cavernas 19-20 54 40 94JaneiroOp.Ponta do 6-11 85 222 307Bico MarçoFontes das operações: Goma-Doa: AHM, FT-Macanga, cx 103, Gover no doDistrito de Tete, Boletim de Informaçao n2 116/66, de 5 de Julho de 1966;Nhapale: Governo do Distrito de Tete, Boletim de Informação n2 139/66, de 23de Agosto de 1966; Chire: FT-Caldas Xavier, cx 1, Governo do Distrito de Tete,nota ng 157/66, de 28 de Setembro de 1966; D/CX: FT-Moatize, cx 103, Governodo Distrito de Tete, nota ng 180/66, de 28 de Novembro119

de 1966, e SCCI, Boletim de Difusão de Informações, n0 609/66, de 3 deNovembro de 1966; Cavernas: SCCI de Tete, n2 50/D/31, de 28 de Janeiro de1967; e Ponta do Bico: FT-Moatize, cx 105, SCCI de Tete, n2 126/d/31, de 21 deMarço de 1967.21AHM, FT-Moatize, Administração do Concelho de Moatize, ng 25/A/2, de 22de Janeiro de 1963.22Ver por exemplo o trabalho das brigadas do Serviço de Acção Psico-Social,em AHM, FT-Moatize, cx 102, Comando da Policia dos Portos e Caminhos deFerro, Relatório Sobre a Segurança da População de Goma/Tete, 7 de Dezembrode 1964, tanscrito, em parte, na nota 33 deste capitulo.23AHM, FT-Moatize, cx 105, Governo Geral, Despacho de 25 de Janeiro de1967.24AHM, FT-Moatize, cx 105, Gabinete de Informação e Formação da OpiniãoPública, Sobre a Implementação dos Centros Informativos, s/r, 2 de Maio de1967.25AHM, FT-Moatize, cx 105, SCCI, s/r, 20 de Junho de 1967, e cir culares n2s.271 e 273/D/35.

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26Delegação Distrital dos SCCI, Gabinete de Zona do Serviço deAc çao Psico-Social, Subdelegaçao Distrital da PIDE, Forças Armadas, OPVDC, SecretariasDistritais diversas...27AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, circular ng 154/D/35,de 25 de Julho de 1968. 28Governo do Distrito de Tete/Serviços Distritais deAdministração Civil, "Acta das Sessoes.. 1", já cit., p.2729Em Moatize, por exemplo, depois de, por imperativos estratégicos de defesa, seterem -projectado aldeamentos com determinada envergadura para determinadoslocais, e de estudos do Instituto de Investigação Agronómica terem demonstrado ainviabilidade dos terrenos para a agricultura para tão grande número de pessoas,tais estudos foram simplesmente ignorados e os aldeamentos foram feitos.30Ê esclarecedor o facto de, mais tarde, o antigo Governador do Distrito justificaro atraso do processo dos aldeamentos exclu sivamente devido à dificuldade em"convencer" as populações, estando absolutamente posta de lado, segundo ele, asolução do aldeamento pela força. Ver João Paulo Borges Coelho, Entrevista como coronel João Cecilio Gonçalves, Antigo Governador do Distrito de Tete, Lisboa,Janeiro de 1986, AHM, Projecto de Te te. A violência constituir-se-á comométodo nas zonas onde a guerra já se implantou e à medida em que as autoridadesvão perdendo o controlo dos acontecimentos.120

3iVer, por exemplo, AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 37, Planosde Actividade Operacional do Batalhão de Caçadores 1890-Furancungo, entreoutros os n2s 9/67, de 18 de Setembro de 1967, e 2/68, de 24 de Janeiro de 1968.32AHM, FT-Moatize, cx 100, Governo do Distrito de Tete, circular n2 1026/SDI,de 7 de Setembro de 1964; cx 104, Governo do Distrito de Tete, SitrepCircunstanciado no 40/67, de 6 de Outubro de 1967. Existe extensa documentaçãorelativa às revoltas de Chipembere e Chisiza e à sua alegada relação com amLIMO.33Vale a pena transcrever esta passagem, que dá uma imagem da gra vidade dasituação para a ordem colonial: "(...) Grande parte da região acusa uma forteimpregnação doutrinária como resulta do principalmente de dois factores: ainfiltração constante e segura de agentes subversivos actuando pela intimidação,regra geral, e a carencia de protecção e apoio as populações intimi-dadas. &deserção de dois povoados com os seus chefes, o insolito comportamento deoutros e a atmosfera de tensão e expecta tiva que por todo o lado se respira, levama concluir que a in tensa~propaganda revolucionaria, a par de toda a especie depressoes, se exprime pela adesão activa ou passiva da maior par te da populaçãonativa aos propósitos dos activistas estrangei ros (...). De prever ainda, e suportar-lhe os efeitos, o silên cio e a frieza das populaçoes sempre que abordadas sobre aactuação dos propagandistas ou com a resposta invariável de que nada sabem.Uma neutralidade, portanto, sempre que nao se trate de opção pela força contraria.(...) Goma, no vale do mesmo nome, a duas centenas de metros do rio, situa-se auns escassos seis quilómetros do local onde, apos uma rusga militar, se descobriuum depósito de armamento clandestino. (...) Linha de comunicação natural, abre

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caminho fácil e encoberto para as zo nas baixas do Bárue, favorecendo a.penetraçao nas regioes ao sul do Zambeze. É com efeito a senda seguida pelosgrupos que procedem do Malawi, com destino a estas regioes (...). A populaçãoactiva das proximidades tem fornecido as prisões grandes contingentes (...). Estesfactos, a par do recrudescimento do numero de pescadores no Zambeze, a poucadistancia do Sinjal, levaram o administrador da circunscrição a adquirir um barcoa motor para patrulhamento do rio, na suspeita de que grande par te do armamentoque se presume tenha dado entrada no nosso ter ritório pela fronteira, sejadestinado as areas limítrofes a sul do Zambeze e transportado durante a noiteatravés do rio. Constitui mesmo opinião do administrador de que outra base deagitadores se situara na Serra da Gorongosa, a partir da qual uma complexa redede células revolucionarias se estendera ate a Beira. Soube-se recentemente que ovolumoso número de autóctones desta região, além de participar~nas quotizaçõesque os agente-s da FRELIMO cobravam sem oposiçao, se deslocavamregularmente ao território vizinho do Malawi onde recebiam instrução militar. Aalteração dos hábitos e atitudes da população desta area tem sido tao rápida eprofunda que as brigadas da Acção Psicossocial notam diferenças acentuadas decada vez que121

as visitam (...). Um laconismo frio e pesado substitui a loquacidade tãocaracterística dos indígenas quando se lhes fala na lingua nativa. E até para aprestaçao de pequenos serviços se verifica relutância". AHM, FT-Moatize, cx102, Comando da Polícia dos Portos e Caminhos de Ferro, Relatório Sobre aSegurança da População de Goma/Tete, 7 de Dezembro de 1964.34Para uma perspectiva mais detalhada do contexto das relações da Zambia comPortugal ver Douglas G.Anglin, Confrontation in Southern Africa: Zambia andPortugal, in n9 99: International Journal (Canadian Institute of InternationalAffairs), Vol.XXV, ng 3, 1970.35AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Plano de Operações Terra Quente, s/r, de 29 de Novembro de 1967.Capilulo IIIAHM, FT-Macanga, cx 103, SCCI, Relatório Imediato n9 14, de 26 de Abril de1966.2Luis de Brito, João Paulo Borges Coelho e José Negrão, História deMoçambique IV, A Luta Armada de Libertação Nacional (Maputo: inédito,1983).3Eduardo Mondlane, Lutar Por Moçambique (Lisboa: Ed.Sá da Costa, 1977),pp.167-170.41dem, p.169.5L.de Brito et al., já cit.6joão Paulo Borges Coelho, A Primeira Frente de Tetp..., jácit.7AHM, FT-Moatize, cx 102, SCCI, Relatório de Informação, n2 1, de 14 deMarço de 1966.

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8AHM, FT-Macanga, cx 103, SCCI, Resenha de Informações, n9 2/68, deFevereiro de 1968. Nao e possível, a partir deste documento, determinar a origemdo jornal citado, mas e provável que se trate do "Sun" de Baltimore.A seguinte passagem de um outro documento, embora não refira a vertente desegurança, dá uma idéia global dos objectivos do projecto: "Potencialmente oesquema de povoamento e utilização da terra mais importante, que vem sendoestudado desde o principio da década de 50 é o projecto integrado para odesenvolvi mento do vale do rio Zambeze, baseado no controlo e utilização dorio. O projecto encara a construção de uma grande barragem em Cahora Bassa, anorte de Tete, e uma série de barragens me-122

nores pelo rio abaixo, que permitiriam o desenvolvimento do p2 voamento eoutros objectivos numa área de 140.000 quilómetros quadrados, ou seja, umdécimo do território. Simultaneamente, a energia hidroeléctrica produzida emCahora Bassa seria usada para desenvolver as reservas de ferro e carvão doDistrito de Tete, e a construção das barragens tornaria possível a navegaçao pelorio entre Tete e Chinde, na foz do Zambeze, onde se pretenderia construir umnovo porto". Organização das Nações Unidas, XXII Sessão da Assembleia Geral,Relatório do Comité Especial Sobre a Situaçao Respeitante à Implementação daDecla ração Sobre a Concessão de Independência aos Países e Povos Colonizados, 11 de Outubro de 1967, Nova Iorque, p.107.9Por exemplo, intervenção do Presidente do Malawi na Assembleia Geral daONU em 3 de Dezembro de 1964, in AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo doDistrito de Tete, s/r, nomeadamente: "( ...) Por exemplo a minha propria tribo, atribo Chewa, está dividida em duas, de facto em tres se nos contarmos com osnossos pri mos da fronteira zambiana. Mas eu estou agora falando de Moçambique e do Malawi e por isso devo dizer dividida em duas. Exis tem Chewas dolado do Malawi da linha imaginaria e existem Chewas do lado de Moçambiquedaquela linha imaginária. O mesmo se da com outras tribos do Malawi, comosejam as tribos Nguni, L6muè e Yao. Estas tribos, como a tribo Chewa, tambémestao di vididas em duas. Há Ngunis, Lómués e Yaos do lado de Moçambique dalinha imaginaria (...)". Ou ainda a intervenção do Dr.Banda numa sessão do Parlamento, em Julho de 1966, nas vésperas daproclamação da República do Malawi: "(...) Temos cá pes soas que são africanas,ou melhor, que são Nguni, Chewa, mas unicamente porque calhou nascerem dolado de lá da linha imagj naria que separa o Malawi de Moçambique, emborasejam Yaos, Ngu nis, Lomues, Chewas ou Senas, sao considerados estrangeiros enao se podem registar como cidadãos. Têm que se submeter ao pracesso~dispendioso e moroso da naturalizaçao. Isso, na minha opinião, e injusto,muito injusto. Foi por isso que achei necessario promulgar uma nova lei, queentrará em vigor quando o pais se tornar uma República, a 6 de Julho. (...) Porisso, de agora em diante, todos os africanos de Moçambique a norte do Zambezetem direito, se tiverem vivido no nosso pais ou fizerem parte da mesma família dooutro lado da fronteira, a torna rem-se cidadãos do Malawi, registando-se e sem

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necessidade de se naturalizarem". AHM, FT-Moatize, cx 104, Administração doConcelho de Moatize, s/r.10Sobre este aspecto ver AHM, FT-Moatize, cx 98, PIDE, Relatório n2 1280/62-SR, de 4 de Agosto de 1962; cx 101, Administração do Concelho de Moatize, n21/A/9, de 4 de Janeiro de 1964; FT-Macanga, cx 101, Governo do Distrito deTete, Boletim de Informaçao ng 9, de 14 de Julho de 1963, citando SCCI, Boletimde Informação n2 53/631 e AHM, Projecto de Tete, João Paulo Bor ges Coelho eJosé Negrao, Entrevista com Celestino de Sousa, ja cit.123

11AHM, Projecto de Tete, João Paulo Borges Coelho e José Negrão,Entrevista com Celestino de Sousa..., ja cit., pp.2, 8, 9, 30, 31.12Eduardo Mondlane, Lutar Por Moçambique, já cit., p.138.I3AHM, Projecto de Tete, João Paulo Borges Coelho e José Negrão,Entrevista com Celestino de Sousa..., já cit. Celestino de Sou sa dizia: "(...) omovimento da IJAMI estava mesmo a perder o seu ritmo porque estava fraco ( ..).Eles, UNAMI, queriam inde pendência, mas era uma independencia pacífica,conversada, dada. Convencer os portugueses a dar a independencia. E nao era realisso. Os portugueses nao iam dar a independência (...). Co mo e que vocês[UNAMI] querem que nós venhamos aqui para a UNAMI? Voces não tem paraonde ir. O melhor é que a gente va para a FRELIMO. Sai-se daqui vai-se para aTanzania. Quando che ga a Tanzania vai para o exterior. Treinar, fazer isto eaquilo, outros vão seguir cursos e aquela coisa toda".141dem; e referências, por exemplo, em AHM, FT-Moatize, cx 100,Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 49/66, de 16 de Dezembrode 1966, citanclo SCCI. Boletim de Difusão deInformaçoes ng 630/66, de 3 d-' Jeztntou ue 1966.15AHM, FT-Moatize, cx 101, Governo do Distrito de Tete, Boletimde Informação n2 183/64, de 18 de Junho de 1964, citando SCCI, Boletim deDifusão de Informaçoes n2 37 /64, de 16 de Maio de 1964.16AHM, FT-Moatize, cx 101, Posto Administrativo do Zobuè, Boletim deInformaçao n2 25/64, de 27 de Novembro de 1964.I7AHM, FT-Moatize, cx 99, Governo do Distrito de Tete, circulars/r, de 28 de Novembro de 1964, e telegrama s/r, de 26 de Novembro de 1964;AHM, FT-Moatize, cx 101, Governo do Distrito de Tete, Boletim de Informaçãon2 87/652 de 24 de Março de 1965, citando Posto Administrativo do Zobue,Boletim de Infornmação n2 2/65, de 12 de Fevereiro de 1965.18Carolyn McMaster, Malawi Foreign Policy and Development (Lon5dres:J.Friedmann Publishers Ltd., 1974), pp.55 e segs. 19Ver por exemplo AHM, FT-Moatize, cx 100, Governo do Distritode Tete, circular n2 1026/SDI, de 7 de Novembro de 1964.20AHM, FT-Moatize, cx 100, Governo do Distrito de Tete, n9 100/64, de 23 deDezembro de 1964.21Ver por exemplo, AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete,Sitrep Circunstanciado n_44/67, de 3 de Novembro de 1967, citandoAdministração do Concelho de Moatize, Boletim de Informação n2 39, de 31 de

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Outubro de 1967; e cx 100, Governo do Distrito de Tete, Sitrep CircunstanciadonO 49/66, de 16 de Dezembro de 1966, citando Administração do ConcelhodeMoatize, Boletim de Informação n2 51/66, de 2 de Dezembro de 1966.124

22A colecção de Sitrep's Circunstanciados do Governo do Distritode Tete relativa aos anos 1967-1968, sobretudo os anexos relativos ao Malawi,dão ufia idéia da importância do Malawi relativamente ao Niassa. AHM, FT-Moatize, cx 104 e cx 106.23AHM, FT-Moatize, cx 104, PIDE, relatório n2 581/67/GAB, de 19de Abril de 1967.24AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, SitrepCircunstanciado n2 4/67, de 27 de Janeiro de 1967, citando SCCI, Boletim deDifusão de Informaçoes ng 3/67, de 16 de Janeiro de 1967.25Por exemplo, entrevista de Marcelino dos Santos ao jornal soviético Pravda, emfinais de 1966, referido em AHM, FT-Moatize, cx 104, Serviços de Informaçõesdo Exército, relatório n2 22/B,de 2 de Fevereiro de 1967.26AHM, FT-Moatize, cx 100, Governo do Distrito de Tete, SitrepCircunstanciado n2 19/66, de 26 de Maio de 1966, citando Posto da PIDE doZóbuè, Informação s/r, de 12 de Maio de 1966; e Governo do Distrito de Tete,Sitrep Circunstanciado n2 12/66, ci tando a Circunscrição Fiscal de Tete, nota n258/20.05/K, de 28de Março de 1966.'27Douglas G.Anglin, Confrontation..., ja cit.28Idem.29AHM, Projecto de Tete, João Paulo Borges Coelho e José Negrão,Entrevista com Celestino de Sousa..., ja cit., pp.26-27.30AHM, FT-Moatize, cx 102, Governo do Distrito de Tete, n2 251, proc2 13/18,de 20 de Maio de 1966; e cx 103, Governo do Distrito de Tete, relatório n2 6/66,de 15 de Outubro de 1966. É esclarecedor o texto da primeira nota aqui citada,que se trans creve parcialmente: "0 Baltazar da Costa foi e continua a ser opresidente do partido 'União Nacional Africana de Moçambique Independente',organização que dirige sob o controlo desta polícia (...) preocupando-se emdesbaratar ou pelo menos dificul tar a acçao da FRELIMO e do COREMO ououtros partidos na sua luta de subversão dirigida contra a Provincia. Para evitarque membros desses partidos subversivos, ou outros, pretendam a in dependênciadesta Província pela força ou métodos terroristas, o Baltazar da Costa tem dadoinstruçoes no sentido de identifi car a propaganda da 'UNAMI' quer na áres deTsangano quer noutras limítrofes com paises vizinhos, propaganda que se resumena 'independência desta Província por meios pacificos e de acor do com oGoverno Português' - Esta propaganda tem o fim de criar membros ou adeptospara esse partido para se 'povoar' a area fronteiriça. Segundo as instruçoes doBaltazar da Costa nos lo cais 'tomados pela UNAMI' não podem permanecerelementos de ou tros partidos, armados ou desarmados, pois serão imediatamentedenunciados as autoridades. (...) Ha necessidade, de facto, de

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tolerância dada aos elementos da 'UNAMI' nas áreas do Distrito de Tete, uma vezque estão procedendo de acordo com as determi nações do Baltazar da Costa. sobnosso controle, pois se conse guirmos que eles, nas suas areas, expulsem ouentreguem as autoridades os indivíduos dos outros partidos, quer venham comfins terroristas quer venham com fins de propaganda, teremosguardada uma regiao por meios pacificos".3IAHMl, FT-Moatize, cx 102, Governo do Distrito de Tete, Boletimde Informação n2 142/65, de 20 de Março de 1965.32AHM, FT-Moatize, cx 102, Governo do Distrito de Tete, Boletimde Informação n2 148/65, de 26 de Abril de 1965.33AHM, FT-Moatize, cx 101, Governo do Distrito de Tete, circularn2 188/SDI, de 23 de Junho de 1964.34AHM, FT-Moatize, cx 105, SCCI, Boletim de Difusão de Informaçoes n2 8, de29 de Agosto de 1968.35AHM , FT-Moatizep cx 103, Governo do Distrito de Tete, Boletim deInformação n2 145/66, de 31 de Agosto de 1966, citando SCCI, Boletim deDifusão de Informações n2 233/66, e PIDE, relatório n2 446/66-GAB, de 5 deAgosto de 1966; e cx 102, SCCI, Relatório Imediato n2 116, de 28 de Agosto de1966, citando PIDE, re latõrio n2 473/66-GAB, de 13 de Agosto de 1966.36AHM, FT-Moatize, cx 105, SCCI de Tete, Boletim de Informação n2 57/B/2,de'10 de Abril de 1967. 37AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito deTete, SitrepCircunstanciado ng 11/68, de 15 de Março de 1968.38A primeira referência à UNAR é feita em Janeiro de 1968. Ver AHM, FT-Moatize, SCCI, Boletim de Difusão de Informações n2 17/68, de 13 de Março de1968. A UNAR constitui o tipicq exemplo de organizaçao pseudo-nacionalistainstrumentalizada pelo colonia lismo, na esteira daquilo que este já lograraconseguir em relação a UNAMI. Não sao, alias, dificeis de documentar asligaçoes directas deste movimento quer ao Malawi quer ao regime co lonial. Paraeste último, a UNAR, reivindicando oterritorio en tre os rios Rovuma e Zambeze,serviria de tampão ao avanço da luta da FRELIMO a partir das zonassetentrionais, num papel se melhante ao reservado à UNAMI em Tete (ver nota30). Em relação à ligação da UNAR com o Malawi, referia o Comando da Policiade Segurança Pública de Quelimane: "A actividade ate agora desenvolvida pelopartido [UNAR] no Malawi não só e do conheci mento deste pais, como ainda lhedispensa apoio ideológico emo netário, sendo quem até agora tem pago ahospedagem, no Rest House-Limbe, de Sumane e Massamba, estando mesmoestes dirigen tes a contar que é o próprio Governo do Malawi quem, a seu pedido,ira interceder junto do Governo português para ceder às suas intenções (...). ComoSumane referiu, a maioria dos ac-126

tuais militantes do COREM0 abandonarão este partido para ingres sar no seu(...)". Sobre a ligação da UNAR ao regime colonial, ver por exemplo o percursó

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pessoal de Calisto Trindade, um dos seus dirigentes: Calisto Trindade foiresponsável do 'branch' da FRELIMO Pm Dedza, Malawi. Abandona-o por voltade Fevereiro de 1966. Uns meses depois parece encontrar-se a trabalhar nas obraspúblicas do Malawi, alegadamente como recompensa de 'ser viços prestados' aoGoverno, que teriam consistido em informaçoes sobre Chiume e Chipembere,colhidas na Tanzania onde se havia dýslocado aparentemente como quadro daFRELIMO. Mais tar de, em Março de 1968, encontra-se a trabalhar na firma'General Construction Company' de Pombeiro de Sousa, cônsul de Portugal noMalawi e o ?rincipal 'instrumento de presença% de Jor ge Jardim naquele pais.Simultaneamente, Trindade e já o vice-presidente da UNAR. Desta forma oregime colonial, atraves de Jorge Jardim, empresário portugues com bastanteinfluência no Malawi, tentou recuperar e instrumentalizar dirigentes e militantesque "sobravam" do processo de auto-destruiçao que se desenrolava no seio doCOREMO. Ver argumentação em João Paulo Borges Coelho, A Primeira Frentede Tete..., ja.cit.,pp.73-76, baseada na seguinte documentação: AMM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 45/67,de 10 de Novembro de 196/, citando PIDE de Tete, Relatório Imedia to n2 495-GAB, de 9 de Outubro de 1967; cx 100, Governo do Dis trito de Tete, SitrepCircunstanciado n2 30/66, de 5 de Agosto de 1966, citando Administração doConcelho da Angónia, Boletim de Informação n2 22/66, de 28 de Julho de 1966;cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado ng 14/68, de 5 deAbril de 1968, citando SCCI, Boletim de Difusão de Informações n2 22, de 27 deMarço de 1968; Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 12/68, de22 de Março de 1968, ci tando Comando Distrital da Policia de Segurança Publicade Q;Êlimane, Relatório Imediato n2 67/SI', de 6 de Março de 1968.39AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep'sCircunstanciados ngs 8, 9 e 10, de 23 de Fevereiro, 1 e 8 deMarço de 1968, respectivamente.4400 Relatório deNInformaçoes ng 187/66, de 9 de Novembro de 1966,dos SCCI, confirmando informações de 1962, afirmava existirem em todo oZumbo 29 europeus, entre homens, mulheres e crianças.AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 8.41AHMr, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando do Sector F, Plano de Operações Terra Quente, s/r, de 29 de Novembrode 1967.42AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, SitrepCircunstanciado n2 41/67, de 13 de Outubro de 1967. Toda a serie de Sitrep'sCircunstanciados do Governo do Distrito de Tete relativos ao ano de 1967 serefere ao aumento de sinais de presença do CORFMO e da FRELIMO na zona.127

43AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, SitrepCircunstanciado n2 37/67, de 15 de Setembro de 1967, e segs.

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44A Circunscrição do Bene foi criada pela Portaria n2 20818, in Boletim Oficialn2 4, I Série, de 27 de Janeiro de 1968.45AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 43. Relatórios das BrigadasMoveis n2s 6 e 13, cobrindo as zonas da Marávía e Macanga entre Julho de 1963e Junho de 1965, dos Serviços de Acção Psicossocial da zona de Tete.46Ver a este respeito AHM, FT-Arguivo Confidencial do Governo,cx 13, os Relatórios da Situaçao dos SCCI relativos a 1967 e 1968,nomeadamente o exemplo de Chofombo, em SCCI, Relatórios da Situação ngs8/67 e 16/67, de 14 de Março e 6 de Maio de 1967.47AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 13, SCCI, Relatório daSituação n2 3, de 15 de Maio de 1968.48Idem.Capilulo IIIiDe facto òs administradores recebiam a incumbência de fazer o levantamentominucioso das aldeias para se aperfeiçoar o controlo sobre as populações. Algunsargumentavam sobre a vulnera bilidade de tal levantamento - contra outros que otinham por definitivo - defendendo que uma vez que as aldeias estavam sem pre,por diversos motivos, a mudar de lugar, mais do que deter minar os seus locaisexactos era necessario conhecer as razoes dessas mudanças. AHM, FT-Moatize,cx 102, Administração do Con celho de Moatiz,e, Memorando de 14 de Setembrode 1965.2A indefinição do COREMO está estreitamente ligada a sua defini çao estratégicae táctica da guerrilha, baseada em guerrilheiros claramente destacados dapopulação e nas acçoes espectaculares e pontuais, o que conduziu, a par daindefinição da sua política, ao isolamento dos seus guerrilheiros e ao malogro dasua acçao.3AHM, FI-Arquivo Confidencial do Governo, cx 12, SCCIM, Relatório daSituação ng 25, de Novembro de 1967.4A partir de um diário de campanha do Comissário Político doDestacamento, Santos Monteiro. AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 17/68, de 29 de Abril de1968.5Sobre a constituição do Destacamento ver AHM, FT-Arquivo Confi dencial doGoverno, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circuns tanciado n2 12/68, de 25 deMarço de 1968. 128

6AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 26, Quartel General/Nampula,2a Rep., Relatório Mensal de Informaçoes n2 4/68, de 15 de Abril de 1968.Todavia, não é explicada, na sua perspectiva, a forma como a Zâmbia teriaalterado a sua posiçao emrelação à FRELIMO, nem as razões de tal atitude.7AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 34, Batalhão de Ar tilharia1882/Fingoé, Relatório de Contra-Informação n2 15/67,de 15 de Agosto de 1967.8AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 34, Batalhão de Ar tilharia1882/Fingoé, Sitrep Circunstanciado n2 35/67, de 28de

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Agosto de 1967.9AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 12, SCCIM, Relatórios daSituação nos 8/67, 14/67 e 20/67, respectivamente de 14de Março, 26 de Abril e 20 de Junho de 1967.lOEntre outros, AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 42,Comando Sectorial F, Relatório de Acção Psicológica (2_ Trimes tre de 1968), de27 de Julho de 1968. Cx 12, SCCIM, Relatórioda Situação n2 3/68, de 15 de Maio de 1968.11AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 12, SCIM, Relatório daSituação n2 25/67, de Novembro de 1967.12Mao Zedong, Base Areas in the Anti-Japanese Guerrilla War, inJ. Pomeroy, Guerrilla Warfare and Marxism, já cit., pp.184 e segs.131dem, pp.185-189. Na história da luta de libertação nacional,o correspondente às zonas de bases de Mao seriam as zonas libertadas.I4AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep Circunstanciado n2 12/68, deà25 deMarço de 1968.Aqui se referem as três bases principais e a constituição dassuas direcções.15Ver, por exemplo, AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distritode Tete, Sitrep Circunstanciado n2 9/68, de 1 de Março de 1968, que refere asdificuldades passads na muãança do ano, e presentes, a este respeito. Alemdisso, o período seco no ano de 1967 foi extremamente curto devido àanormalidade, em inten sidade e duração, da estação das chuvas de 1966-1967.AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciadon2 12/67, de 24 de Março de 1967.16Sobre a actuação do COREMO ver, entre outros, AHM, FT-Moatize, cx 104,Governo do Distrito de Tete, Sitrep's Circunstanciados nos 38/67, 41/67, 43/67 e45/67, respectivamente de 22 de Setembro, 13 de Outubro, 27 de Outubro e 10 deNovembro de 1967; e cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep'sCircunstanciados n-s 3/68, 4/68, 5/68 e 6/68, respectivamente de 19 de Ja-129

neiro, 26 de Janeiro, 2 de Fevereiro e 9 de Fevereiro de 1968.Sobre a destruição de grupo do COREMO ver por exemplo Sitrep'sCircunstanciados ngs 8/68 e 9/68, respectivamente de 23 de Fevereiro e 1 deMarço de 1968.17Ver, entre outros, AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete,Sitrep Circunstanciado n9 40/67, de 6 de Outubrode 1967, e segs.18AHM, FT-Moatize, cx 104, Governo do Distrito de Tete, SitrepCircunstanciado ng 11/67, de 24 de Março de 1967; cx 106, Governo do Distritode Tete, Sitrep Circunstanciado ng 4/68, de26 de Janeiro de 1968.19AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep Circunstanciado n2 14/68, de 8 de Abril de 1968. 20AHM, FT-Moatize, cx106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep

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Circunstanciado n2 10/68, de 8 de Março de 1968.2IAHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 34, Batalhão de Caçadores 1906/Fingoé, Sitrep Circunstanciado n2 18/68, de 29 deAbril de 1968.22AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep's Circunstanciados n2s 14/68, 18/68, 19/68 e 37/68, respectivamente de 8de Abril, 6 de Maio, 13 de Maio e16 de Setembro de 1968.23AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep's Circunstanciados n2os 14/68, 16/68 e 19/68, respectivamente de 8 deAbril, 22 de Abril e 13 de Maio de 1968; cx 34, Batalhão de Caçadores1906/Fingoe, Sitrep's Circunstanciados n2s 18/68 e 25/68, respectivamente de 29de Abril e 17de Junho de 1967.24AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep Circunstanciado n2 14/68, de 8 de Abril de 1968. 25AHiM, FT-ArquivoConfidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sítrep's Circunstanciadosn2s 16/68 e 19/68, respectivamente de 22 de Abril e 13 de Maio de 1968.26AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep Circunstanciado n2 16/68, de 22 de Abril de 1968. 27AHM, FT-ArquivoConfidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep's Circunstanciadosn2s 14/68 e 20/68, respectivamente de 8 de Abril e 20 de Maio de 1964. 28AHM:FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, SitrepCircunstanciado n2 19/68, de 13 de Maio de 1968.130

29AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 42, PIDE, RelatórioSuplamentar de Informaçoes n2 2/67, de 29 de Novembro de 1967. 30AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, SitrepCircunstanciado n2 10/68, de 8 de Março de 1968, citando Administrador doPosto de Chofombo, mensagem-rãdio s/r, de 8 de Mar ço de 1968; e FT-ArquivoConfidencial do Governo, cx 31, Coman do Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n210/68, de 11 de Março de 1968.3iVer dispositivo do exército colonial em Tete em AHM, FT-ArquivoConfidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, SitrepCircunstanciado n2 9/68, de 4 de Março de 1968.32AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, SitrepCircunstanciado n2 10/68, de 8 de Março de 1968, citando Posto de Milícias deCassuende, mensagem-radio n2 14, de 8 de Março de 1968. Os ataques tambemsao detalhados em FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, ComandoSectorial F, Sitrep's Circunstanciados ngs 10/68 e 11/68, respectivamente de 11 e18 deMarço de 1968.33Ver em AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 34, asequência de Sitrep's Circunstanciados de ambos os batalhões, entre Fevereiro e Marçode 1968, e cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep

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Circunstanciado n2 9/68, de 8 de Março de 1968.34AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 26, Quartel Generalem Nampula, 2! Rep., Relatório Mensal de Informações ng 4/68,de 15 de Abril de 1968, p.6.35AHM, Fr-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep's Circunstanciados ngs 10/68 e 11/68, respectivamente de 11 e 18 de Marçode 1968.36AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep Circunstanciado n2 13/68, de 1 de Abril de 1968. 37AHM, FT-ArquivoConfidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n211/68, de 18 de Março de 1968. 38ARIM, FT-Arquivo Confidencial do Governo,cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 13/68, de 1 de Abril de1968, e Batalhão de Caçadores 1890/Furancungo, Sitrep Circunstanciado n214/68, de 1 de Abril de 1968. 39Idem, idem.40AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 42, Comando Sectorial F,Relatório de Acção Psicológica (22 trimestre de 1968),27 de Julho de 1968.4lIdem.131

42AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep Circunstanciado n2 14/68, de 8 de Abril de 1968. 43AHM, FT-ArquivoConfidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep's Circunstanciadosnos 13/68, 15/68e17/68, respectivamente de 1, 15 e 29 de Abril de 1968.44AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep Circunstanciado ng 15168, de 15 de Abril de 1968. 45Idem.46AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, ver asequênciade Sitrep's Circunstanciados do Comando Sectorial F, entre o n2 10/68, de 11 deMarço de 1968, e o n2 18/68, de 6 de Maio de1968.47AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep Circunstanciado n2 17/68, de 29deAbril de 1968. 480 Comando Sectorial Fvinha-os referindo com uma certa insistência. AHM, FT-Arquivo Confidencial doGoverno, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado ng 18/68, de 6 deMaiode 1968.49Idem.50AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep Circunstanciado n2 22/68, de 3 de Junho de 1968. 5IAHM, FT-ArquivoConfidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n224/68, de 17 de Junho de 1968. 52AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo doDistrito de Tete, SitrepCircunstanciado n2 29/68, de 19 de Julho de 1968.53AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 42, Comando Sectorial F,Relatório de Acção. Psicológica (22 trimestre de 1968), de 27 de Julho de 1968; e

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cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 24/68, de 17 de Junho de1968. 54AHM , FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando SectorialF, Sitrep's Circunstanciados n2s 18/68 e 19/68, respectivamente de 6 e 13 de Maiode 1968. 55AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, ComandoSectorial F, Sitrep Circunstanciado n2 25/68, de 24 de Junho de 1968. 56AHM,FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, SitrepCircunstanciado n2 23/68, de 10 de Junho de 1968. 57AHM, FT-ArquivoConfidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n-26/68, de 1 de Julho de 1968, 132

e cx 42, Comando Sectorial F, Relatório de Acção Psicológica(29 trimestre de 1968), de 27 de Julho de 1968.58AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F.Sitrep Circunstanciado n2 29/68, de 22 de Julho de 1968.59AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep's Circunstanciados n9s 36/68 e 38/68, respectivamente ]e 9 e 23 deSetembro de 1968.60AHM, FT--Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep's Circunstanciados n2s 21/68, 26/68, 27/68 e 28/68, respectivamente de 27de Maio, 1, 8 e 15 de Julho de 1968.6IAHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep's Circunstanciados ngs 25/68, 29/68, 30/68 e 33/68, respectivamente de 17de Junho, 22 e 29 de Julho, e 12de Agosto de 1968.62AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep Circunstanciado n9 31/68, de 5 de Agosto de 1968.631dem.64Referência ao esforço nesta faixa em AHM, FT-Arquivo Confidencial doGoverno, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep's Circunstanciados n2s 29/68, 31/68e 33/68, respectivamente de 22 de Julho, 5 e 19 de Agosto de 1968; e FT-Moatize,cx 106, Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 35/68, de 30de Agosto de 1968.650 Comando Sectorial F não faz qualquer referência especifica àcriação do Subsector FBN (iniciais de Bene-BN, tal como FFG de signavaFingoé-FG, FFR Furancuno-FR e FTT Tete-TT). Todavia, na rubrica de análiseda situaçao por subsectores passa a cons tar o Subsector FBN a partir de finais deAgosto (AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando SectorialF, Sitrep Circunstanciado n2 34/68, de 26 de Agosto de 1968), e na referência queera feita periodicamente ao dispositivo militar no terreno, passa a ser referenciadoem Setembro o Batalhão de Cavalaria 2850, com o seu comando na vila de Bene(AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, SitrepCircunstanciado n9 39/68, de 30 de Setembro de 1968). Por outro lado, erelativamente aos seus limites, e referenciada a regedoria de Cangombe comofazendo parte do Subsector FBN (MIM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n9 35/68, de 2 de Setembro de

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1968), as sim como incluia no seu dispositivo a região de Cassuende (AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep Circunstanciado n9 39/68, de 30 de Setembro de 1968).66AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep Circunstanciado n2 42/68, de 21 de Outubro de 1968.133

671dem.68AHM, FT-Moatize, cx 106, Governo do Distrito de Tete, SitrepCircunstanciado n936/68, de 6 de Setembro de 1968. 69AHM, Fr-ArquivoConfidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado n-37/68, de 16 de Setembro de 1968. 70Idem.7lidem.72AHM, FT-Arquivo Confidencial do. Governo, ex 31, Comando Sectorial F,Sitrep Circunstanciado n2 38/68, de 23 de Setembro de 1968. 731dem.741dem.75Ver Anexo II relativo as operaçoes espaciais do exército portugues.76AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31. Comando Sectorial F,Sitrep Circunstanciado n2 44/68, de 4 de Novembro de 1968. 77Ver Anexo. II.78Entre outras, uma orientação de combate referida pelos guerrilheiros nestaaltura dizia que deviam fazer os possiveis por economizar as suas muniçõestentando fazer, pelo contrario., com que os soldados portugueses gastassem omais possível as muniçoes deles. Ver AHN, FT-Moatize, cx 106, Governo doDistrito de Tete, Sitrep Circunstanciado no_ 37/68, de 13 de Setembro de 1968.79AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep Circunstanciado n0 37/68, de 16 de Setembro de 1968. 80AHM. FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, SitrepCircunstanciado n20 41/68, de 14 de Outubro de 1968. 81AHM FT-Bene, cx 2,Administração da Circunscrição de Bene, nota n2 125/A/16, de 5 de Abril de 1969.82Dizia Napoleão: "9uando com forças inferiores me encontrava lace a um grande exercito, concentrava com rapidez todas as minhas tropasprecipitando-me como um raio sobre uma das alas ini migas e esmagava-a.Aproveitava depois a desordem que esta manobra não deixava de produzir noexercito inimigo para o atacar noutro lado, sempre com todas as minhas forças.Batia-o as sim em detalhe e a vitoria, que era o resultado, constitua sepre - vêde -o triunfo do grande número sobre o mais pequeno". Ver Emílio Lussu, Teoria daInsurreição (Lisboa: Ulmeiro,s/d), pp.45 e segs.134

83AH, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, SitrepCircunstanciado n2 3/69, de 21 de Janeiro de 1969. 84F.Engels, Revolución yContrarrevolución en Almania, in Obras

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Escogidas, Tomo I (Moscovo: Editorial Progreso, 1973), p.385. 85AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F, Sitrep'sCircunstanciados nos 49/68, 50/68, 3/69 e 6/69, respectivamente de 9 e 16 deDezembro de 1968, 21 de Janeiro e10 de Fevereiro de 1969.86AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, SitrepCircunstanciado n9 6/69, de 7 de Fevereiro de 1969.87AHM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep Circunstanciado n9 6/69, de 10 de Fevereiro de 1969; FT-Moatize, cx 108,Governo do Distrito deTete, Sitrep's Circunstanciados ngs 6/69, 10/69 e 13/69,respectivamente de7 de Fevereiro, 7 e 28 de Março de 1969.88AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, SitrepCircunstanciado n9 2/69, de 10 de Janeiro de 1969.89AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, SitrepCircunstanciado n9 18/69, de 6 de Junho de 1969.90AHM, FT-MoatiLe, cx 108, Governo do Distrito de Tete, Sitrep'sCircunstanciados n2s 2/69 e 18/69, respectivamente de 10 de.Janeiro e 6 de Junho de 1969.9IAHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, SitrepCircunstanciado n9 20/69, de 20 de Junho de 1969.92AkH[, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, SitrepCircunstanciado 5/b9, de 31 de Janeiro de 1969, citando Administração daCircunscrição de Bene, mensagem-rádio n9 26, de 31de Janeiro de 1969.93AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, SitrepCircunstanciado n9 6/69, de 7 de Fevereiro de 1969, citando Ad ministração doPosto de Vila Gamito, mensagem n2 7, de 4 de Fe vereiro de 1969, eCircunscrição Fiscal de Tete,n213/20.05/K,de 4 de Fevereiro de 1969.94Ver Anexo I sobre as operações militares da FRELIMO reportadaspelas autoridades portuguesas.95Ver por exemplo AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete,Sitrep Circunstanciado ng 6/69, de 7 de Fevereiro de 1969. 96AHM, FT-ArquivoConfidencial do Governo, cx 31, Comando Sectoríal W, Sitrep Circunstanciadon9 7/69, de 17 de Fevereiro de 1969; FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito deTete, Sitrep135

Circunstanciado n2 10/69, de 7 de Março de 1969, citando Subde legação daPIDE de Tete, Relatório Imediato n2 162/69-GAB, de 5 de Março de 1969; eGoverno do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado nO 13/69, de 23 de Março de1969, citando Subdele gação da PIDE de Tete, Relatório Imediato n5 198/69-GAB, de 22de Março de 1969.

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97AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, SitrepCircunstanciado n9 3/69, de 17 de Janeiro de 1969.98AHM, FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete, SitrepCircunstanciado n2 19/69, de 13 de Junho de 1969.99Ver por exemplo AHFM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31,Comando Sectorial F, Sitrep Circunstanciado ng 4/69, de 27 deJaneiro de 1969.100AIM, FT-Arquivo Confidencial do Governo, cx 31, Comando Sectorial F,Sitrep Circunstanciado ng 50/68, de 16 de Dezembro de 1968. 1OiEm Junho eradetectada já a passagem de muitos contingentes deguerrilheiros pela região da Chiuta, no mesmo paralelo do rio Zambeze. AHM,FT-Moatize, cx 108, Governo do Distrito de Tete,Sitrep Circunstanciado ng 19/69, de 13 de Junho de 1969.1020 primeiro processo de edificação de aldeamentos em Tete, queteve lugar entre finais de 1968 e o correr do ano de 1969, sai fora do ãmbito destetrabalho. Todavia, o Mapa 17 destina-se a dar uma idéia da sua localização noterritório e de como elacoincide com as linhas de penetração da FRELIMO.103Sobre a fuga de populações, por exemplo AHM, FT-Moatize, cx 108,Governo do Distrito de Tete, Sitrep Circunstanciado n2 18/69,de 6 de Junho de 1969.136

BIBLIOGRAFIAEste trabalho baseia-se fundamentalmente no acer vo documental do Fundo deTete do Arquivo Histórico de Moçambique, nomeadamente nas secções Moatize(Ar quivo Confidencial e Secreto dos Processos), Arquivo Confidencial doGoverno, e em algumas caixas das secçoes Macanga e Bene. No interior dessassecções ressalta, pela sua importância, a documentação produzida pelo Governodo Distrito de Tete (Sitrep's Circunstanciados, ou seja, relatórios da situação,circulares, Boletins de Informação e outros), pelos Serviços de Centralização eCoordenação de Informações (Boletins de Difusão de Informaçoes, relatóriosdiversos), pelas admínistrações de concelho, circuns criçao e posto, e pelasdiversas estruturas militares coloniais, nomeadamente os Sítrep'sCircunstáncíados de algumas companhias e batalhões (subsectores), assim como aserie praticamente completa dos Sitrep's Circunstanciados do Comando SectorialF re ferente ao período abordado e um importante conjunto de documentos doComando-Chefe do exercito colonial, em Nampula.Pela sua importância para o estudo da estratégia global de defesa das forçascoloniais, merecem tambem referência alguns relatórios da Secção Especial doArquivo Historico de Moçambique, nomeadamen te Ferraz de Freítas, Conquistada Adesão das Populações (Lourenço Marques: SCCI, 1965), AHM, SE n5 22,137

cota: SE alIl p.6; Governo do Distrito de Tete/Serviços Distrítais deAdministração Civil, as actas das sessoes anuais do Governador do Distrito com

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os administradores de concelho e circunscrição relativas aos anos de 1966, 1967,1968 e 1969, respectiva mente com as seguintes referências: AHM, SEn9 237-1,cota: SE alIl p.10; SE n2 245, cota: SE aV p.6; SE n9 237-3, cota: SE alIl p.10; eSE n9 237-4, cota: SE alIl p.lO.No âmbito do trabalho foram efectuadas entrevistas a Celestíno de Sousa,membro da primeira rede clandestina da FRELIMO no Zóbue, Tete (Tete: 1983),e ao tenente-coronel João Cecílio Gonçalves, que foi Governador do Distrito deTete durante este período (Lisboa: 1986).Foram ainda consultados alguns livros e artigos. No âmbito do Movimento deLibertação muçambíca no, o insubstituível trabalho de Eduardo Mondlane, LutarPor Moçambique (Lisboa: Sa da Costa, 1977), e alguns textos da série daFRELIMO, Voz da Revolução, nomeadamente o ng 8, "Da Necessidade de umaGuerra Prolongada", in Aquino de Bragança eImmanuel Wallerstein, Quem e oInimigo (III)? (Lisboa: Iniciativas Editoriais, 1978); e FRELIMO, O Processo Revolucionário da Guerra Popular de Libertação (artigos coligidos do orgão deinformação da FRELIMO, A Voz da Revolução, desde 1963 até 1974)(Maputo:DTI, Textos e Documentos da FRELIMO, 1, 1977). Constituem tambémreferência obrigatória os trabalhos de Samora Machel, nomeadamente, OProcesso da Revolução De mocrática Popular em Moçambique (Maputo: DTI,Estudos e Orientações, 8, 1980); e AVítriaConstrói-se A Vitória Organiza-se(Mensagens do Secretáriado De partamento de Defesa e Presidente da FRELIMO,Camarada Samora Machel, aos Combatentes e ao Povo Moçam bicano, 1967-1974) (Maputo:DTI, Textos e Documentos da FRELIMO, 2, 1977). Umapanoramica geral da luta de libertação moçambícana neste período, que permitiuuma visão global de contexto, é dada em Luís de Brito, João Paulo Borges Coelhoe José Negrão, His138

tória de Moçambique IV: A Luta de Libertação Nacional; e em ThomasH.Henriksen, Revolutionafid Counter revolution - Mozambique's War ofIndependence, 1964-1974 (Westport: Greenwood Press, 1983). Sobre aspectosparticulares da guerra existem diversos arti gos e cronicas, como por exemploWalter C.Opello Jr, Guerrilla War ín Portuguese Africa: An Assessment of theBalance of Force in Mozambique, Issue 4(2), Verão de 1974, pp.29-37. Sobrediversos aspectos liga dos à luta em Tete, particularmente a problemática doempreendimento de Cahora Bassa, são importantes os trabalhos de ÕscarMonteiro, Moçambique no Contexto Especifico da África Austral, in AquinodeBra gança e Immanuel Wallerstein, op.cit., pp.70-76; e Keíth Middlemass, CaboraBassa: Engeneeríng and Politics ín Southern Africa (Londres: Weidenfeld andNicholson, 1975). Sobre as relações do Malawí com Portugal e a FRELIMO, nocontexto da luta de libertação, existe já uma extensa literatura, nomeadamen teCarolyn McMaster, Malawí Foreign Polícy and Deve lopment (Londres:J.Friedman, 1974); Robert d'A.Hen derson, Relatíons of Neíghbourliness -Malawi and Portugal, 1964-1974, in Journal of Modern African Studies, 15(3),Cambridge e Nova York, 1977; João Paulo Borges Coelho, A Primeira Frente deTete e o Malawi (Maputo: AHM, 1984, mímeo); e Phílip Short, Banda (Londres eBoston: Routledge & Kegan Paul, 1974). Sobre o papel da Zâmbía neste processo

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a literatura e mais escassa, sobressaindo Dougles G.Anglín, Confrontation inSouthern Africa: Zambia and Portugal, Internatíonal Journal (Canadían Instítuteof International Affairs, vol.XXV, 3, 1970). Existem diversas obras coloniais coma sua perspectiva, como Kaulza de Arriaga, Coragem Tenacidade e Fé (LourençoMarques: Empresa Moderna, 1973); Guilherme de Melo, Moçambique Norte -Guerra e Paz (Lisboa: Ulis seja, 1969); e, sobre as relações com os países vizinhosde Moçambique neste contexto, Jorge Jardim, Moçambique: Terra Queimada(Lisboa: Intervenção, 1976). A obra de Maria Carrilho, Forças Armadas e139

Mudança Política em Portugal no Séc.XX (Lisboa: Imprensa Nacional - Casa daMoeda, 1985), constituí um importante estudo sociológico sobre o exércitoportugues e o impacto que a guerra colonial produziu nele. Foram aindaconsultadas algumas obras gerais sobre a luta de guerrilha na sua genese históricae desenvolvimento como, Emílío Lussu, Teoria da Insur reição (Lisboa: Ulmeiro,s/d); e Friedrich Engels, Revolución e Contrarrevolución en Alemanía, in ObrasEscogidas, Tomo I (Moscovo: Editorial- Progreso, 1973). Um-excelenteenquadramento teórico e panoramica sobre a prática da guerrilha é constituídopela antologia de William J.Pomeroy, Guerrilla Warfare and Marxism (Londres:Lawrence & Wishart, 1969), que in clui o importante texto de Mao Zedong, BaseAreas in the Anti-Japanese Guerrílla War. O livro de Basil Davidson, ThePeople's Cause: A History of Guer rillas in Africa (Harlow: Longmann, 1981)abre algu mas perspectivas para o estudo do fenômeno da luta de guerrilhas emÁfrica. O livro de Carl von Clause witz, Da Guerra (Lisboa: Perspectivas eRealidades, 1976), constitui ainda um clássico importante sobre a arte militar; eYves Lacoste, A Geografia Serve An tes de Mais Para Fazer a Guerra (Lisboa:Iniciativas Editoriais, 1977), abre perspectivas inovadoras e criativas sobre opapel da geografia no estudo des te campo. Finalmente, o texto de Aquíno deBragança e Jacques Depelchin, Da Idealizaçâo da FRELIMO aCom preensao daHistória Recente de Moçambique (Maputo: CEA, 1986, mimeo), constitui um dosescassos trabalhos de reflexão crítica da historiografia sobre a FRELIMO; e oartigo de W.G.Clarence-Smith, For Brau del: A Note on the 'Ecole des Annales'and the Historiography of Africa, in History of Africa, vol.4, 1977, pp.275-281,contém interessante reflexão teorica sobre a problemática das fontes.A elaboração dos mapas apresentados baseou-se nos Sítrep's Circunstanciados doGoverno do Distrito de Tete e do Comando Sectorial F, referidos no início.,140

SIGLAS USADAS NA DOCUMENTAÇÃOAA'AAutAB AcampAdAdm ALDAPsic AquartAux BA,

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BART BCAÇBCAV CART CCAÇ CCAVCCSCi rcCMCOCAPcom C2OM SECConc Coord COREMOELINAMOEmbFFFBNFFGFFRFRFRELIMOFUNIPAMOGAA-Autoridades Administrativas Arma Automática Aeródromo Base AcanpamentoAdministração (exemplo: AdConc Concelho) Administrativo Aldeamento AcçãoPsicológica Aquartelamento AuxiliaresAdministraçãoBase (normalmente de guerrilha) Batalhão de Artilharia Batalhão de CaçadoresBatalhão de Cavalaria Companhia de Artilharia Companhia de CaçadoresCompanhia de Cavalaria Companhia de Comando e Serviços (ref. a um Batalhão)CircunscriçãoComando (ref. a um Batalhão) Comissão de Coordenação da Acção PsicológicaComandoComando Sectorial (de Tete: COM SEC F) ConcelhoCoordenadasComité Revolucionário de Moçambique (ou MORECO - Mo zambiqueRevolutionary Committe) Exército de Libertação de Moçambique (braço armadodo COREMO), também designado de EREPOMO. EmboscadaForça (normalmente Grupo Armado) Sector militar portugues em Tete Subsectormilitar português de Bene Subsector militar portugues de Fingoé Subsector militarportuguês de Furancungo FRELIMOFrente de Libertação de Moçambique Subsector militar portugues de Tete FrenteUnida para a Autonomia de Moçambique Guardas Auxiliares da Administração141

GComb - Grupo de Combate (normalmente ref. ao exército português)GD - Granada DefensivaGDT - Governador do Distrito de Tete ou Governo do Distritode TeteGF - Guarda FronteiraGIFOP - Gabinete de Informação e Formação da Opinião Pública GM - Granadade MaoGO - Granada Ofensiva

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GR - GrupoIN - Inimigo (ref. normalmente aos guerrilheiros)INT - Intervençao (normalmente F INT - Força de Intervenção)LGF - Lança Granadas e Foguetes (tipo de Arma)MAC - Mina Anti-CarroMAP - Mina Anti-PessoalMCP - Malawi Congress Party (Partido do Governo do Malawi)Metr - MetralhadoraMIL - MiliciaMort - MorteiroMte - MonteNF - Nossas Forças (ref. as forças portuguesas) NT - Nossas Tropas (ref. aoexército português)Op - Operação ýmilitar)OPVDC - Organizaçao Provincial de Voluntários de Defesa Civil PA - PostoAdministrativoPel - Pelotão (ref. ao exército português)PIDE - Policia Internacional de Defesa do EstadoPop - Popula2ãoPov - PovoaçaoPSP - Policia de Segurança PúblicaQG - Quartel GeneralR - RioRec - ReconhecimentoRef - ReferênciaReg - RegiãoReged - Regedoria RI - Relatório de Informações ou Relatório ImediatoRN - Relatório de NoticiaS - SerraSAP - Serviços de Acção PsicológicaSCCIM - Serviços de Centralizaçao e Coordenação de Informações(por vezes apenas SCCI)SEC - SecçaoSIM - Serviços de Informa£ões MilitaresSITREP - Relatório da Situaçao (do inglês Situation Report) T6 - Avião militar dedois lugares, a hélice UDENAMO - União Democrática Nacional de MoçambiqueUNAMI - União Nacional de Moçambique Independente UNAR - UniãoNacional Africana da RumbéziaUNIP - United National Independence Party (Partido do Governo da Zâmbia)142

ANEXO 1Principais acções militares reportadas à FRELIMO pela documentação colonialentre Março de 1968 e Junho de 1969

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(Fonte: Sitrep's Circunstanciados do Comando Sectorial F e do Governo doDistrito de Tete, in AHM, respectivamente, FT-Arquivo Confidencial doGoverno, cx 31, e FT-Moatize, cxs 106 e 108).143

8MAR68 Vila Gago CoutinholIMAR68 Serra Chimanto, na margem do rio Cangombe17MAR68 A 4 km de Cassuende18MAR68 A 10 km de Cassuende26MAR68 Vila de Bene26MAR68 Rio Luângua, a ý km de Bene26MAR68 Rio Luia, na estrada Bene-Cassacatiza26MAR68 Estrada GagoCoutinho-Cas suende29MAR68 Estrada Furancungo-Vuende, a 6 km de Vuende31MAR68 Estrada Gago Coutinho-Cassuende31MAR68 Na mesma estrada, adianteIABR68 Estrada Gago-Cout inho-Cassuende2ABR68 Vila Vasco da Gama5ABR68 Cantina Alves (Mlunga), estrada Furancungo-Tete1ABR68 Estrada Bene-Cassacatiza, a 9 km do rio Chiticula15ABR68 A 7 km de Cassuende16ABR68 Junto à povoação Donato (Cassuende)17ABR68 Estrada Furancungo-Vuende20ABR68 Estrada Cassuende-Gago Coutinho25ABR68 Estrada Bene-Cassacatiza, junto ao rio Luia25ABR68 Região de Chizame4MA168 Estrada Bene-Cassacatiza, a 4 km de Cassacatiza5MAI68 Povoação de Chizame11MA168 Regiao de Cassuende14MA168 Região de Cassuende14MA168 Mesmo local, adiante15MAI68 Estrada Bene-Vuende, junto ao rio M'pule15MAI68 A 3 km do rio Capoche, perto da povoação Penhame21MAI68 Estra4a Cago Coutinho-Cassuende, junto ao monteCamedima2JUN68 Chiticula5JUN68 A 1 km de Chiticula7JUN68 Chiticula9JUN68 Região de Cassacatiza9JUN68 Estrada Gago Coutinho-Cassuende12JUN68 Povoação Caduco13JUN68 Junto ao rio Mavai21JUN68 Vila de Tembué144DataLocal

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Tipo de Acção ObservaçcesAtaque a vila e seu aquartelamento Emboscada a colunaMina anti-carro Mina anti-carroAtaque a vila e seu aquartelamento Destruição de ponte com explosivosDestruição de ponte MinaEmboscada a coluna militarMinaMina anti-carroMinaAtaque a vila e seu aquartelamento Assalto a povoação MinaMina anti-carro MinaEmboscada a coluna militar Mina anti-carro Emboscada a grupo de PSP/MilíciasRecontro com grupo de Milícias Emboscada a coluna militar Ataque a Pov epostoPSP/Milircias Emboscada a coluna militarEmboscada a coluna militar Emboscada a coluna militar Mina anti-carro Recontrocom grupo de MilíciasEmboscada a coluna militarDestruição de acampamento das Obras Públicas Emboscada a coluna de MiliciasAtaque a acampamento das Obras PúblicasMinaEmboscada a coluna militarAtaque a povoação e aquartelamento da OPVDC Emboscada a coluna da OPVDCAtaque a Posto AdministrativoDuração: 45 minutos Na coluna iam o AdCirc Maravia, o AdPa Chofombo, 1 PSPeMilicias de Cassuende4 feridos da CCAÇ 1655 Atingida coluna da CCAÇ 1655 Duraçao: 20 minutosApoio de camponeses na acção Atingida coluna da CCAÇ 1569 O grupo deguerrilheiros foi esti mado em 15. 1 oficial portugues gravemente ferido Colunada CCAÇ 1569 Atingida a mesma coluna Atingido 1 miliciano Duraçao: 1 horaAccionada por patrulha militarAccionada por patrulha militar Guerrilheiros estimados em 12 Accionada porcoluna militarA coluna militar tomava parte na Operação Reacção . CCAÇ 1654, integrada naOp Ajuda Mesma coluna da emboscada anterior Accionada por viatura decomerciante O grupo de Milícias de 22 elementos pos-se em fugaFuga do grupo de Milícias que o protegiaOs mesmos Milicias da acção anteriorO mesmo. Duração: 20 minutos Accionada por CCAÇ/Vila Gouveia Pelotão daCART 2385145Tipo de AcçãoObservações

Data Local25JUN68 25JUN68 26JUN68 28JUN68 28JUN68 30JUN68

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3JUL686JUL68 7JUL68 15JUL68 203UL6821JUL68 23JUL68 26JUL68 26JUL68 27JUL6828JUL6828J"UL68 21AGO68 23AGO68 23AG068 24AGO68 27AG068 4SET68 6SE1689SET68 1lSET68 12SET68 12SET68 14SET6814SET68 15SET68 24SET68 26SET6814OUT68 150UT68 150UT68OUT68 1NOV68Rio Mecumbuzi Perto do monte CagulaEstrada Cassuende-Gago Coutinho Entre Chiticula e o rio Capoche A 7 km daVila de Bene Vila de Bene Estrada Caliramo-Bene, a 500 m de Bene Vila de BeneEstrada Bene-CassacatizaRegião de Tembué TembueEstrada Bene-Cassacatiza, junto ao rio Mecumbuzi Estrada Cassuende-GagoCoutinho Furancungo Região de Tembué, perto do rio Puepua Perto de ChiticulaRegião de Tembué Estrada Bene-Tembué Estrada Vuende-CauereRegedoria Cangombe (Uiliamo) Região de Cassuende Vila de Tembué EstradaBene-Fingoé Vila de Bene Vila de Tembué Região de Cassacatiza A Sul de VilaVasco da Gama Estrada Bene-Vuende CaducoEstrada Bene-Cassacatiza, a 15 km de Cassacatiza Estrada Bene-Cassacatiza, a 2km de Bene Perto da povoação Caduco Estrada Tembue-Cassacatiza MonteChidima Povoação de Cassacatiza Região do rio Sadzo CauasaNo mesmo local Estrada Vila Vasco da Gama-Fingoé146DataLocal

Tipo de AcçãoMinaAtaque a patrulha de Milícias Emboscada a coluna Ataque a vila e seuaquartelamento Emboscada a coluna Ataque a vila e seu aquartelamentoMinaRecontro com patrulha PSP/Mil Ataque a vila MinaEmboscada a grupo de combate Ataque a vila e seu aquartelamento MinaMinaMinaMinaMinaEmboscada a grupo de milhcias Recontro Ataque a aquartelamento MinasAtaque a aquartelamento Ataque a aquartelamentoMinaAtaque a patrulha MinaAtaque a povoação e posto PSP/Mil MinaMinaEmboscada Mina

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Emboscada Ataque a aquartelamentoMinaAtaque a posto PSP/Milícias Ataque a posto PSP/Milicias Emboscada a grupoPSP/MiliciasIncêndio e destruição de ponte RecontroObservaçõesAccionada por CART 2385Coluna da CART 2385 Duração: 7 horas e 20 minutos Em simultãneo com oataque anterior O grupo guerrilheiro foi estimado em cerca de 200. So aintervenção da aviação impediu que a vila fos se ocupada.Accionada por escolta do brigadei ro comandante do Sector FAccionada por coluna da CCAÇ 2358 GComb da CART 2385 Sede do batalhãodo Subsector FFR Accionada por coluna da CCAÇ 2358 Accionada por colunamilitar Accionada por coluna militar Accionada por coluna militar Accionada porcoluna militar da CCS/BCAÇ 2842Milicias de Vila Vasco da Gama Secção da CART 2385Accionadas pot coluna militarAccionada por coluna militar Patrulha do Posto Administrativo Accionada porcoluna militarAccionada Accionada Ao Gr Mil Accionada Ao Gr MilColuna da Um guardapor coluna militar por coluna militar de Vila Vasco da Gama por coluna militar deVila Vasco da GamaCCAV 2400PSP ferido1 tenente morto e 4 feridos, entre os quais o administradorForças da CCAV 2400 integradas na Op Sentinela Alerta. 1 morto e 4 feridos.147

DataLocal4NOV68 Estrada Tembue-Bene5NOV68 (3225.1504)11NOV68 Estrada Bene-Tembué, a 10 km de Bene5DEZ68 Estrada Vuende-Furancungo, a 4 km de Vuende1ODEZh8 Estrada Cassuende-MsololalODEZ68 Estrada Sadzo-rio Mecumbuzi4JAN69 Estrada Cassuende-Gago Coutinho14JAN69 Estrada Chiticula-Sadzo16JAN69 Estrada Bene-Chiticula17JAN69 A 17 km de Furancungo18JAN69 Povoações Tsingano e Jeque (Vuende)31JAN69 Vila de Tembue2FEV69 Povoação Chuanga (Vuende)3FEV69 Missale12FEV69 Povoação Cuncere

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14FEV69 Estrada de Missale, a 5 km de Vila Gamito15FEV69 Estrada Cassuende-Gago Coutinho, rios Metambazie Chingombe17FEV69 Povoaçao Cangombe19FEV69 Povoação Cangombe25FEV69 Povoação Cussarara25FEV69 Serra Chirundi26FEV69 Estrada Furancungo-Vila Gamito27FEV69 Bonina2 perto de Cussarara24MAR69 Povoaçao Ponde, a 30 km de Vuende29MAR69 Povoação Ponde30MAR69 Povoações Cussarara e Chissinde3ABR69 Estrada de Furancungo, a 6 km de Vila Gamito4ABR69 Serra Chirungué7ABR69 A 4 km da povoação Camões1OABR69 Cassuende12ABR69 Sadzo (Cassacatiza)16ABR69 Aldeamento Cherize19ABR69 Povoação Capeza (Chofombo)20ABR69 Zona da fronteira entre o rio Ucanha e Gago Coutinho20ABR69 Estrada Bene-Tembué24ABR69 Sobre o rio Luatize, perto de Gago Coutinho148

Tipo de Acção ObservaçaesMinaEmboscadaMinaMina anti-carroMina anti-carroMina anti-carro Engenho explosivo Engenho explosivo Engenho explosivoEngenho explosivoFuga de pop com guerrilheirosAtaque a vila e seu aquartelamento Fuga de pop com guerrilheiros Ataque a vila eposto fiscal Fuga de pop com guerrilheiros MinaDestruição de duas pontesFlagelação de povoação eaquartelamentoFlagelação de aquartelamento Ataque a casa de regedor colaborante com asautoridades Emboscada a grupo de combateMinaAssalto a cantina Ataque a grupo de combate Rapto de Cabo de Terrascolaborante com a autoridade Rapto de dois Cabos de Terras co laborantes com aautoridadeMinaRecontro com grupo de combate Mina

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Ataque a aquartelamento Ataque a aquartelamento Ataque a força dePSP/MilíciasFuga de pop com guerrilheiros Fuga de pop com guerrilheirosMinaDestruição de ponteForças integradas na Op Mosquito Coluna da CCAV 2398Accionada por coluna da CCAÇ 2359. A mina era de 10 kg de TNT e foiaccionada electricamente Accionada por coluna da CCAV 2400. Muitas baixasAccionada por coluna da.CCAV 2398 Accionado por coluna militar Accionadopor coluna militar Accionado por coluna militar Accionado por viatura daAdConc-MacangaAs aldeias ficaram desertas Duração: 25 minutos A aldeia ficou desertaAccionada por coluna militar A estrada ficou interrompidaDéstruição da casa e saque do imposto domiciliário Muitos soldados feridosAccionada por coluna militarO GComb estava dentro duma cantinaAccionada por coluna militarA força protegia a construção doaldeamentoFuga massivaAccionada por coluna militar149ObservaçõesTipo de Acção

DataLocal26ABR69 Povoações M'zonza e Taulo26ABR69 Povoações Lucas e Nhacona Tembo28ABR69 Povoaçao Camboto2MA169 Estrada Bene-Chiuta3MA169 Vila Gamito5MAI69 Estrada Vila Gamito-Frcitas6MAI69 Grupo de povoações Causo9MAI69 Sadzo9MAI69 Regiões de Malipna, Catona e Chissinga (Chofombo)11MA169 Estrada Chiticula-rio Mucumbuzi15MA169 Freitas (Vila Gamito)15MAI69 Monte N'gosa16MA169 Gibe (Freitas)18MAI69 Gibe (Freitas)19MAI69 Estrada Fingoé-Chicoa21MAI69 Estrada Sabondo-Cheridze29MA169 Estrada Fingoé-Vila Vasco da Gama29MA169 Estrada Vila Vasco da Gama-Cantina Oliveira3JUN69 Bene

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3JUN69 Tembue3JUN69 Povoação Besseremo (Tambuê)3JUN69 Caliramo7JUN69 Povoação Piri-Piri/Cope8JUN69 Povoação Chimponda150

Tipo de Acção Observaç~esFuga de pop com guerrilheiros Fuga de pop com guerrilheiros Fuga de pop comguerrilheiros Emboscada Ataque a aquartelamento MinaFuga de pop com guerrilheiros Ataque a aquartelamento Fuga massiva depopulaçõesMinaAtaque a aquartelamento Emboscada Assalto a cantina MinaEmboscada RecontroMinaMinaAtaque a vila Ataque a aldeamento Fuga de pop com guerrilheiros MinaFuga de populaçSes Fuga de populaçoesJunto ã fronteiraA coluna militarAccionada por coluna militar Todo o grupo de povoaçoesFugiram 19 povoações (perto de 1000 pessoas) provavelmente devido àperspectiva dos aldeamentos. A re giaó ficou deserta Accionada por coluna militarA forças militaresAccionada por patrulha militar A coluna militar Com grupo de combateAccionada por coluna militar Accionada por coluna militarAs pop iam ser aldeadas Accionada por coluna militar151Tipo de AcçãoObservações

ANEXO IIOperações militares especiais efectuadas pelo exercito português em Tete noãmbito da sua contra-ofensiva de Setembro de 1968 (entre Agosto e Dezembro de1968)(Fonte: Sitrep' s Circunstanciados do Comando Sectorial F, AHMM, FT-ArquivoConfidencial do Governo, cx 31).153

Operação Protagonista Data Duração NaturezaTampão1- Bucha 2- Bucha Bota-ForaDeverFronteira Mãos Dadas

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SaladoPimenta Equator AlfaEquator Bravo Colorau Equator CharlieCCAÇ 16542GComb/CCAÇ 1655 2GComb/CCAV 1730 CCAÇ 1655CCAÇ 2357 e 2GComb/Subsector1AG068 Variável6AGO68 6AG068 10AG0685 dias 5 dias 3 dias11AG068 A indicarlGComb/CCAÇ 2357 3SET68 GComb/INTCCAÇ 2358CCAÇ 2358 e 1GComb/CCAV4 diasNão in- Não indidicada cadaNão in- Não indi2398 dicada cadaCCAV 2399 16SET68IGComb/CCAÇ 2358 17SET68 IGComb/CCAÇ 2357 IGComb/CCAÇ 2359CCS/BCAÇ 2842 CCAÇ 2358 17SET68CART 2385 18SET68lGComb/CCAV 1730 19SET68 CCS/BCAÇ 2842 CCAV 2398 CCAV 24004 dias1 dia1 dia 3 dias1 diaBatida e Golpe de Mão Nomadização Nomadização Golpe de Mão NomadizaçãoNomadização Golpe de Mão Golpe de Mão Batida Golpe de MãoGolpe de Mão Golpe de Mão Golpe de MãoMais Outra Vez Ano Grande Grande Premio Pequeno Prémio Cigano Bate CertoColaboraçãoVagabundoIGComb/CCAÇ 3GComb/CCAV CCAV 2398CCAV 2400 CCAÇ 2422 CCAÇ 2358 CCAÇ 2357 mais lGComb2358 24SET68 2398 27SET6829SET68dias dias dias30SET68IOUT68 15 dias30UT68 15OUT682GComb/CCAÇ 2421 18OUT682 dias15 diasGolpeGolpe GolpeMão Mão M4oBatida e embos cadas

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Batida e embos cadasEmboscadas Linhas e embos cadasBatida com em boscada~e go! pe de mao154

Local Resultados ObservaçõesMargens dos rios Aruân gua e Zambeze (3254.1539) (3254.1539) (3155,7.1535,1)(3245.1412) (3247.1417,5) (3252,5.1425,5) (3246.1412) (3239.1415)(3245.1412). BA BeiraBA Quelimane (3305.1458)Rios Menene e Capoche BA Rovuma (3254.1458), BA Quelimane (3306. 1454),e BA Antonio Enes (3306.1506) BA Beira (3Z48.1443) BA Maera (3157.1435)BAMsolola (3206.1423), BADuângua (3209.1424), BA Mutarara (3213,5. .1427),e BA Chitequele ou Juromol (3229.1424) BA António Enes R Capoche(3213,5.1427) BA MutararaSem contacto Sem contacto Sem contactoDestruida a BA abando nada e capturados documentosDestruida a BA abando nada e capturados documentosDestruída BA Maera que estava abandonadaTerminou em 2SET Terminou em 7SET. gido um avião T6AtinApoio aéreoBAs Rovuma e Antonio Enes abandonadas. Na BA Quelimane, já destruida,queimadas 200 palhotas, abatidos 3G, capturada pop e armamento. Apoio AéreoCapturado IG Apoio aéreoDestruidas 2 pov aban Apoio aereo donadas (3200.1437,5)2 soldados mortos. IG morto. Destruido 1 hospital FRELI0O. Destruida BAJuromol. Destruidos meios de vida entre os rios Duangua, Capo che e a fronteira.Apoio aéreoDestruida a nova BAApoio aéreo A CCAV sofreu 2 emboscadasBA MutararaR Mucumbuzi'(3222.1502)(3305.1454)Entre o rio Muangadzi (3239.1415,5) e a foz do rio Mesotosi (3243. 1432)Rios Menene, Mucumbuzi e margem esquerda do rio NhimbeSem contacto Sem contactoSem contacto. Destrui das 2 pov (3227.1459) e 1 pov (3226.1501)Destruida mais 1 pov (3226.1504,5). Queimados 8 celeiros155

Operação Protagonista Data Duração NaturezaGardenTeimosiaAlerta EstáAtalaia

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Sentinela Alerta Soma e Segue Nova OrdemTentativaSaltimbanco Mosquito Decepção Pente FinoBirthday Albatroz Arara Cotovia Papagaio ConfirmaçãoCCAV 1730200UT68lGComb/CCAÇ 2359 210UT68 ref SEC/CCAÇ 1710 2GComb/CCAV 2398220UT682GComb/CCAV 1730 230UT68 2GComb/CCAV 2400 240UT682GComb/CCAV 1728 250UT68 2GComb/CCAV 2399 270UT682 diasNão determinada3 diasNão determinada 1 diaNão determinada1GComb INT/CCAÇ 280UT68 2357, iGComb INT /CCAÇ 2359 e iPel Rec/CCSBCAÇ 2842 IGComb/CCAÇ 2423 4NOV68 15 dias24CCAÇ/BCAÇ 17IGComb INT/CCAÇ 2357, elementos CCS/BCAÇ 2842 1GComb/CCAÇ 23571GComb/CCAÇ 2359 IGComb/CCS BCAÇ 2842BCAV 28504NOV68 3 dias5NOV68 1 dia 9NOV68 1 dia Não in- Não indidicada cadaCMD/CCAÇ 2359 e 18NOV68 2GComb/CCAÇ 23594 diasGolpe de MãoGolpe de Mão Patrulhamento e emboscada Nomadização e emboscada Patrulhamento e emboscada Golpe de Mão NomadizaçâoCerco e batida com emboscada Batida com em boscada~e gol pe de mao Batidacom em boscadasCerco e ataque Cerco e batidaNão indicadaBatida

Local Resultados ObservaçõesBA Capoche (3214.1429)Rio Mepule (3307.1504), suposto local da BA An tonio EnesVronteira-R Capoche- RMecumbuzi nas linhas de infiltração prováveis Fronteira c/Malawi des de limite Ndo Subsector até S Salambidua Fronteira, do R Capoche até Cassuende SupostaBA Rovuma (3258.1457)Margem do R Capoche en tre Dalauene (3237. .1455,5) e Chizame (3229.1445) Ede Furancingo (3339. .1454)Vale do rio Mepizizi, rios Mecumbuzi e MeneneVale do rio Nhimbe rios Nhacolave, Mucumbuzi e Zunga(3334.1449)

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Entre Furancungo, estrada para Tete e vale do rio Chuala (3333.1452)Vale do rio CapocheRios Luangua Grande ePequeno, Massange, Chi rembue e ChiundiDetruída a BA Capoche Sem contactoApreendido muito material de guerra e documentos. Destruida alimentaçaoA BA foi localizada á completamente destrudaInterrompidaSem contactoInterrompidaNão localizada a BA Sem contactoRecuperados 31 pop Terminou em 4NOVSem contactoEncontrado esconderijo em (3218.1506)Sem contactoSem contactoSem contactoOriginou o abandono pela FRELIMO das BAs dos rios Capoche e Luatize.Terminou em 21NOV Terminou em 23NOV Terminou em 23NOV Terminou em22NOVTerminou em 22NOV157

Operação Protagonista Data Duração NaturezaAndorinha Tarata (1c Parte) Tarata (2Lk Parte)Bóta-Fora Vespa :SadoNatalToméTiago Pedro Paulo JoãoBoas Festas Pai NatalVontade Forte Ponte a Pé Consoada2GComb/CCAV 2399 25NOV68CCAV 2399CCAV 2398CCAÇ 2423CART 2385 CCAÇ 2359 CCAÇ 2423 1GComb/2a CCAÇ BCAÇ 17 2L CCAÇBCAÇ 17 CCAÇ 2357 CCAÇ 2357CCAV 2400CCAÇ CCAÇ1710 23594 dias28NOV68 2 dias28NOV68 1DEZ68 2DEZ688DEZ68 9DEZ68 9DEZ68 9DEZ68 9DEZ68 11DEZ6815DEZ68dias dias

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dias dias dias dias dias dias dias15DEZ68 Não determinada15DEZ68 6 dias 16DEZ68 4 diasBatida e embos cadaBatidaEmboscada e gol pe de mao Batida e golpe de maoBatida e golpe de mãoBatida e embos cadaBatida e pesqui sa de noticias Batida e embos cadaBatida e embos cadaBatida e embos cadaBatida e cerco a monte Cerco e batidacom golpe de maoBusca, batida e emboscadaBusca, batida e emboscada Cerco e batidacom golpe de mãoÁssim Sim3GComb/CCAÇ 2398 20DEZ68 2 diasBatida com gol pe de mão imediato158

Local Resultados ObservaçõesEntre os rios Capoche, Nhimbe, Messuze e pica da Cangombe-Fingoe MesmolocalCruzamento rio Sadzo-fronteiraS Mepãdue(3228.1511)Montes Mecusse e AntundaMontes Tchidima e Mucuose, rio Casula Rios Zambeze, Capoche, Luia, NhimbeRio Nhimbe e ChiperaMonte Chuamba e rio MeneneRios Menene e Mucumbuzi e monte Ancanga Rio MessansamaRio Luângua Grande, es trada Cauasa-Chizampeta-rio Luangua Pequeno-Mte Pembe (3220.1435) Rios Duângua e Chingom be e Monte Megosa(3158..1358) até à fronteira Ponte do rio Mucumbuzi na estrada Sadzo Messediza(3321.1448), R Metangola (3329.1448), S Mecuancuangala(3329. .1443), RLuangua Pequeno e Chirembue(3316..1443)Confluência dos R Messala e Mucumbuzi (suposta BA Juromol)Terminou em 23NOVDestruida BA, abatido IG e capturado armamentoSem vestigiosSem contactoDescoberta pov Quelifo te. BA em (3236.1515)Encontradas abandona-das 4 pov

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Destruídas duas pov abandonadas no monte Ahtunda 3219.1506,5), e BA(3221,7.1507,6) Destruidas 10 BA (3232.1459),(3229,5.1459,5), (3230.1502,5),(3238.1511,8),(3241,5.1512,2), (3238.1514,5), (3242,5.1513,5),(3235.1507),(3229.1512), (3234,5.1514). 2G mortos, 50 pop recuperadas, destruidoarmamento Sem contactoSem contactoSem contactoSeit contactoSem contacto Sem contacto Sem contactoMonte localizado nas co ord.(3334,5.1448,5)Interrompida em 22DEZDestruidas palhotas vários meios de vida159

Operação Protagonista Data Duração NaturezaFogo2GComb/BCAÇ 1906 20DEZ68Sheltox Reveillon Labareda5 dias2GComb/2-_ SEC 20DEZ68 4 dias CCAV 1730 e lGComb/CCAÇ VManica3GComb/CCAÇ 2358 23DEZ68 3 dias2GComb/2L CCAÇ BCAÇ 1726DEZ68 4 diasBatida com gol pe de mão imediatoDetectar actividade FRELIMO junto popNomadização e golpe de mão à BA BeiraBatida para gol pe de mãoCCAÇ 242326DEZ68 4 dias2GComb/CCAÇ 2399 28DEZ682 diasBatida e recolha de cereais das Pop Batida e embos cadaApoioGalucho160

Local Resultados ObservaçõesR Mucumbuzi desde (3208. .1456) até (3222.1503) e Mte Mulima e vale do RMepizizi desde(3204. 1503) até (3254.1505) Reged.Mboola, Chimarizene e areaCaldas Xavier-Ncungas-fronteira com o Malawi Rios Chisibué e MuangadziRio Mevira até rio Mulemba (3234.1455) desde vale do rio Menene até rioMuerixeSul da Cantina Oliveira e rio MepiziziRios Menene e Mucumbuzi e área (3239.1512)Sem contactoTerminou em 23DEZ

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Sem contacto Sem contacto Sem contactoDestruidos muitos meios de vida abandonadosAlterado local para o Mte Uncanha, vale dos rios Cadize, Mucumbuzie Mepizizi por Gr terem ai raptado Pop. Aumentada duração para 5 diasRecolhidos haveres de9 Pov da area Jones161

Impresso na Divisao Grafica da Universidade Eduardo Mondiane*!1092-636- 1-6-94"4m7c

3 5556 021 767 0901 - _____________

eEstdo e