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noite memorável terminou com um buquê de lindas flores entregue a Carmen Miranda pelo Interventor Carlos Lima Cavalcanti,Hotel Central, chegou ao Recife, vinda de Salvador, no vapor Ruy Barbosa e só voltará à Cidade Maravilhosa depois do dia 5 de novembro, desta feita no luxuoso Zelândiaterceira maior metrópole do Brasil
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FELLIPE TORRES
R
econhecimento in-
ternacional, traba-
lhos publicados
em vrios pases,
mais de 60 livros ilustrados
no Brasil, homenagens, tro-
fu HQ Mix de Grande Mestre.
Aos 70 anos, o pernambuca-
no J Oliveira conquistou qua-
se tudo o que a carreira de
artista grfico poderia ofere-
cer. Quase tudo. Ainda falta
amolecer o corao de um ou-
tro mestre. H dois anos, por
intermdio de um amigo, ele
pediu autorizao do escri-
tor Ariano Suassuna, 86, pa-
ra adaptar aos quadrinhos O
auto da Compadecida. Teve o
pedido veementemente nega-
do, pois, segundo a justifica-
tiva do dramaturgo, gibi
coisa de americano.
Sem querer tirar a razo de
Ariano, J Oliveira conside-
rado por muita gente o autor
da primeira graphic novel bra-
sileira (verso mais sofistica-
da das histrias em quadri-
nhos). Chama-se A guerra do
reino divino e foi publicada h
exatos 40 anos na Itlia (s
em 1976 saiu no Brasil). O
mais interessante so as re-
ferncias do lbum: o canga-
ceiro Lampio, a figura do
beato sertanejo, Dom Se-
bastio, a literatura de cor-
del e o Romance da pedra do
reino e o prncipe do sangue do
vai-e-volta (1971), de Ariano.
Segui a mesma linha nar-
rativa dele. Alm de Ariano
ter me influenciado muitluenciado muitinf o,
foi uma homenagem. J nos
encontramos, mas no sei se
ele soube disso. Nascido na
Ilha de Itamarac e hoje radi-
cado em Braslia, o ilustrador
diz no ter a conscincia do
pioneirismo na graphic novel,
embora seja apontado por es-
pecialistas como o jornalista
e editor do site Universo HQ,
Sidney Gusman, e pela pes-
quisadora da Universidade de
Braslia Eliane Dourado.
A paixo pelos quadrinhos
acompanhou J desde a ju-
ventude. Quando foi morar
em Campina Grande (PB), ad-
quiriu o hbito de trocar gi-
bis com os colegas (esses de
super-heris norte-america-
nos, mesmo), mas sempre
sentiu falta de uma HQ bra-
sileira que representasse can-
gaceiros. Em 1957, surgiu a
revista Jernimo, o heri do Ser-
to, mas aquele heri no con-
venceu. Fiquei decepciona-
do. Era um caubi de cartu-
cheira, baseado em faroeste.
Surgiram Os aba-largas (1962),
inspirados na polcia monta-
da do sul do pas, e Saci-pere-
r (1958), de Ziraldo.
Aps passar pela Escola de
Belas Artes, no Rio de Janei-
ro, e de prosseguir os estudos
na Escola Superior de Artes
Industriais, na Hungria, J
ganhou o mundo. A guerra do
reino divino estampou revistas
italianas, foi publicado na Di-
namarca, Argentina, Espa-
nha, Grcia. J pensou Lam-
pio falando grego? Conse-
gui a faanha. Recentemen-
te, ele se deparou com uma
foto da (sua) Ilha de Itamar-
c estampada em painel no
aeroporto de Braslia. A pro-
paganda turstica consolidou
a impresso: Pernambuco es-
t em alta. O estado tem tra-
dio, identidade e levanta a
bandeira da cultura.
d10
Recife, DOM - 18/05/2014
viver DIARIO
ddddeeeePPPPEEEERRRRNNNNAAAAMMMMBBBBUUUUCCCCOOOO
Pernambucano autor
da primeira graphic
novel do pas, h 40
anos, quer que o
dramaturgo autorize
adaptao de O auto
da Compadecida
TRABALHOS
PRODUZIDOSPOR
ELE JCHEGARAM
EUROPAE
AMRICALATINA
D para viver de quadrinhos?
Hoje em dia muito difcil
viver de quadrinhos no Brasil,
pois uma atividade que le-
va muito tempo. Nenhuma
editora quer sustentar o qua-
drinista por todo esse pero-
do. Por isso, fao muito livro
infantil. Somente neste ano,
j foram trs. Em breve, sai-
r um livro meu, Os donos da
bola, que no tem texto, ape-
nas ilustraes, e conta a his-
tria fictcia de como o fute-
bol foi criado no Brasil e os in-
gleses roubaram a ideia.
Como comeou?
Sempre tive paixo por his-
trias em quadrinhos. Era lei-
tor assduo de gibis, desses
de super-heri americano,
mesmo. Quando me mudei
de Itamarac para a Paraba,
a programao do fim de se-
mana era me encontrar com
outras pessoas para trocar re-
vistinhas. Assim, ningum
precisava comprar as novas.
O que faz agora?
Estou fazendo adaptaes da
obra de Shakespeare, e fiquei
espantado como possvel
transformar a histria para a
criana ter acesso ao texto de
uma maneira menos preten-
siosa, mas que possa desen-
volver o gosto pela obra. Eu es-
tudei arte aplicada, ou seja,
quando lido com o texto,
meus desenhos so narrati-
vos, acoplados com a hist-
ria. Ento tenho essa viso de
educador.
Como foi o primeiro livro?
Desenvolvi alguns desenhos,
um editor italiano se interes-
sou e pediu para eu transfor-
mar em HQ. Meses depois, fo-
ram publicadas 16 pginas em
uma revista italiana. Foi uma
grande vitria. Na poca co-
nheci Ziraldo, e ele disse que
quando voltasse ao Brasil, pu-
blicaria a HQ no Pasquim.
entrevista >> J Oliveira
devolta
+
Embora esteja longe de
Pernambuco h muitas
dcadas, boa parte do
trabalho de J Oliveira pega
emprestado elementos da
cultura do estado e do
Nordeste. uma maneira de
resgatar minha infncia,
confessa. H muito tempo o
artista deseja retomar o
contato com a terra natal,
mas diz no conhecer
ningum e no saber se
promover.
Os desejos de J:
Adaptar para os quadrinhos
O auto da Compadecida
Fazer outras adaptaes
infantis da obra de Ariano
Suassuna
Doar ilustraes de Luiz
Gonzaga para o Museu Cais
do Serto (no Recife Antigo)
Fazer exposio com os mais
de 30 selos postais que fazem
referncia cultura
nordestina
* A reportagem entrou em
contato com a assessoria do
escritor Ariano Suassuna,
mas no obteve resposta at
o fechamento da edio.
influncias
+
HISTRIAS
No interior sempre h
a figura do contador
de histria, da alma penada,
assombrao, cangaceiros.
CORDEL
Convivi com literatura
de cordel nas feiras.
Meus pais e avs eram de
Joo Alfredo, no interior de
Pernambuco, e traziam
muitos livretos.
CINEMA
Era uma coisa muito
fascinante naquela
poca, em que no havia
televiso, sobretudo no
interior. O filme O cangaceiro
foi uma sensao.
ANIMAO
Os desenhos
animados mais legais
eram os do Bloco Sovitico.
Depois de ter uma animao
premiada em festival, no Rio
de Janeiro, ganhei bolsa para
estudar na Hungria.
ARTE POPULAR
So influncias os
mamulengos, as
gravuras, a arte de Mestre
Vitalino, o So Joo de
Caruaru... Alm de inspirao,
J. Borges um grande amigo
HEDRA EDITORA/DIVULGAO
SRGIO AMARAL/DIVULGAO
J OLIVEIRAJ OLIVEIRAJ OLIVEIRA/DIVUL/DIVUL/DIVULGGGAOAOAO
Lampio falou em italiano e grego pelas mos de J
Ilustrao da novela
grfica pioneira
evocou o cangao.
Ao lado, capa da
primeira edio
lanada no Brasil
Pernambucano da Ilha de Itamaracmora emBraslia
Oua o apelo,
Ariano