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No que Stradivari não pensou ? Antonio Stradivari (1644-1737) “Supostamente trabalhando em seu Atelier ” Aos cameristas: “As vezes nos sons oriundos de uma grande orquestra, tal qual o troar da procela, o clangor da tuba encobre o arpejo da lira singela.” “Weisswasser”

No que Stradivari no pensou que Stradivari não pensou___.pdf · de Antonio Stradivari são muito mais sensíveis e requintados do que os de seu único rival sério, ... Quando Servais,

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No que Stradivari não pensou ?

Antonio Stradivari (1644-1737) “Supostamente trabalhando em seu Atelier ”

Aos cameristas:

“As vezes nos sons oriundos de uma grande orquestra, tal qual o troar da procela, o clangor da tuba encobre o arpejo da lira singela.”

“Weisswasser”

Adrien-François Servais (1807-1866) portando seu Stradivarius de 1701

Os conceitos e os preconceitos:

O violoncelo depois do virtuose belga Adrien-François Servais, tirou os “pés do chão”, abandonando a tradição secular herdada das violas da gamba, surgidas no renascimento, tendo atingido seu auge no barroco. Essa outra família de instrumentos, que na linhagem de ascendência culmina com o baixo de viola de sete cordas, muito apreciado durante o barroco francês, é demasiadamente grande e desajeitada para ser portada por mulheres, tal qual foi o violoncelo nos primórdios, também em razão de sua posição aprumada, e, espremida entre as pernas. Um outro motivo que no período pós-clássico desestimulou o uso das violas da gamba de grande porte, tem origem no conceito científico da física ondulatória, pelo fato de que o instrumento, muito próximo, ou em contato direto com o solo reverberante, pode gerar, além dos efeitos nefastos causados pelas ressonâncias espúrias e colorações de timbre que não estejam presentes na música, a redução da projeção sonora abaixo da freqüência de sessenta ciclos, (60 Hertz) cuja senóide mede mais de seis metros de comprimento, na onda fundamental, (primeira harmônica) necessitando por esse motivo de uma irradiação mais ascendente para sua propagação, e, adequado alcance. Esse fenômeno acústico, na música pré-clássica, não deveria apresentar inconveniente algum, ou era pouco notado, pelo fato de que as obras escritas durante o renascimento, o barroco, e o maneirismo, eram destinadas às pequenas orquestras de câmara, de palco sonoro restrito, e também, atreladas ao contínuo, (cravo ou viola da gamba) que na mescla de sons e timbres, tornava a massa orquestral homogenia, de modo que, não dava autonomia ou enfoque ao instrumento solo, como era de costume à época. Durante o classicismo, com o aumento do contingente da orquestra, começou-se a perceber a necessidade de posicionar os instrumentos nos salões palacianos, nas capelas e nos teatros, de modo a aproveitar o máximo possível do rendimento de cada um, e mesmo assim, ainda sem uma

uniformidade acústica ou qualquer tratamento das salas de audição, prevendo a reflexão e absorção do som, já que por essa época, o capítulo da ciência física que trata do espectro audível estava em seu nascedouro. As raras exceções á essa regra com relevância para a música de câmara da época, são as Sonatas e Partitas para violino desacompanhado, e as Suites para violoncelo solo de Johann Sebastian Bach, sendo estas últimas, na verdade escritas para viola pomposa, instrumento pentacórdio, de maior tamanho que a viola comum, também conhecido como cellopiccolo, ou violoncello da spalla, idealizado e fabricado especialmente para esse gênio da composição musical. Quanto aos fenômenos de refração e reverberação do som, gerados na música, até os limites de distância impostos pelo eco, basta lembrar que um pedal sustenido de orgão de nave nas grandes igrejas, pode gerar através de seu tubo uma freqüência de 15 ciclos, cuja onda tem quase 30 metros de comprimento, na fundamental. Para ilustrar o que foi dito, se fossemos estabelecer uma comparação entre o comportamento físico das caixas de ressonância dos instrumentos de arco de uma orquestra, mais especificamente aqueles de grande tamanho, (as violas da gamba da orquestra primitiva, e, os violoncelos e contrabaixos da moderna) com o das caixas acústicas de reprodução musical, (transdutoras) ou seja, aquelas dinâmicas, munidas de alto falante com cone de papelão e bobina móvel, iríamos perceber que o comportamento na reprodução das notas graves, (baixas freqüências) é diretamente proporcional ao volume, (cubagem) em ambos os sistemas. Nas caixas acústicas transdutoras, especialmente aquelas caracterizadas como refletoras de baixo, (com duto sintonizado) a onda sonora traseira é aproveitada em contrafase de 180 graus, saindo através do duto, e reforçando a onda dianteira, num processo semelhante ao que acontece na caixa de ressonância dos instrumentos de arco. No que diz respeito às ressonâncias indesejáveis, ambos os sistemas comportam-se do mesmo modo e com a mesma semelhança física, ou seja, aqueles que irão produzir colorações de timbre, tanto dos instrumentos quanto dos transdutores acústicos, são diretamente proporcionais à massa e a área de contato com o solo.Isto quer dizer que, se a massa for grande, e o solo não for totalmente absorvente (anecóico) haverá reverberação. A diferença entre ambos esta no modo de reprodução de cada um; enquanto que no instrumento o contato do arco com as cordas gera ondas sonoras que são amplificadas diretamente por sua caixa acústica, em única fase, já que recebe os sons gerados através da vibração do cavalete do instrumento, no transdutor acústico, devido ao fenômeno da compliância do cone, a onda dianteira é irradiada, como já dito, em contrafase com a traseira, e, em se tratando de caixa transdutora totalmente hermética, (princípio do baffle infinito) a onda interna traseira será imediatamente absorvida pelo gabinete de madeira da caixa transdutora, acarretando com isso a vibração de todo o sistema acústico, podendo gerar, além da coloração dos timbres, a transmissão das ressonâncias ao solo, e deste, a todo o ambiente.

Ludwig Van Beethoven (1770-1827)

As inovações na arte e na técnica: Decerto a musa inspiradora de Beethoven foi beber da água do Hipocrene quando esse gigante da arte retirou de sua música o contínuo, no ascender das luzes do romantismo, período que acabara de criar. Na mudança radical que Beethoven resolveu fazer no pentagrama, teve em mente, uma reformulação para as obras de câmara que compôs a seguir, mais dirigidas ao instrumento solo com acompanhamento ao fortepiano, (hammerklavier) numa concepção totalmente inovadora dos Duos clássicos de Mozart e Haydn, a exemplo do Duo para violoncelo obligatto opus 5 de números 1 e 2, que escreveu, dedicou, e, tocou, para toda a nobreza européia, com Duport, o violoncelista de Napoleão Bonaparte, portando seu Stradivarius de 1711, (instrumento,hoje com carga para Mitslav Rostropovich) sendo esse, talvez, o primeiro verdadeiro duo da história da música. Também nos concertos com orquestra, Beethoven deu autonomia ao Spalla na concepção ampla do têrmo, para qualificar aquele musico que porta a viola de braço, ou o violino como solista, personificado em seu Concerto opus 61 através da figura do primeiro violino Joseph Bohm, portando o Stradivarius Kevenhuller de 1733, para que viesse a surgir, como de fato vieram em seguida, vultos em destaque como solistas isolados, identificando verdadeiramente a figura do virtuoso, a exemplos de Viotti, Lipinsky, Paganini e muitos outros. Ainda complementando essa transformação genial, o mesmo Beethoven reforma os conceitos do metrônomo e da progressão do gênero sinfônico criado por Haydn, a partir de sua terceira sinfonia, (a Heróica) dedicada inicialmente ao próprio Napoleão Bonaparte, rompendo com a tradição clássica, agora com orquestra de grande porte, coral, e demais requisitos orquestrais, á esse tempo

regendo do piano, de modo que, criando esse “status”, sua música passou a exigir cada vez mais salas maiores, e amplo rendimento do instrumental. Um século antes, antecipando-se aos pensamentos de Beethoven, Stradivari já tinha remodelado seus violinos de corpo alongado, no molde interno PG com o aplainamento do tampo e o redimensionamento das aberturas ff, reforço da barra harmônica, e demais melhoramentos, objetivando amplificar o ganho sonoro sem perda de timbre, reajustando o diapason do lá central, dos 415 ciclos da época de Tartini, para os 430 ciclos, que permaneceu até o advento da orquestra contemporânea. Acresça-se a isso o fato de que, além do registro mais alto que possuem naturalmente esses instrumentos, os violinos, assim como as violas spalla de concerto, eram e são até hoje, tocados pelo artista, portando o instrumento em pé, o que favorece sobremaneira um alcance sonoro maior, em relação ao violoncelo. Aplicando o mesmo raciocínio que em seus violinos, o mestre Stradivari reformula os violoncelos, inicialmente, a partir de um novo molde interno, o molde B, (Buono) e, posteriormente no segundo molde, o B (Picolo). Os instrumentos fabricados e montados a partir do início do período áureo do mestre, até o ano de 1736, possuem um redimensionamento da caixa de ressonância, que os tornaram menores e mais longilineos, reforçada a barra harmônica e com um novo projeto e desenho das aberturas ff, que passaram a funcionar como se fossem dutos sintonizados, sem prejuízo dos baixos. Com essas modificações intrínsecas, e também, aparentes, seus violoncelos se diferenciaram bastante daqueles produzidos pelas antigas escolas de Bréscia, e mesmo de seus contemporâneos de Cremona. Assim como com os violinos; os de Antonio Stradivari são muito mais sensíveis e requintados do que os de seu único rival sério, o luthier cremonês Giuseppe Guarneri “Del Gésu”; enquanto que os de Stradivari exigem do intérprete grande esforço e destreza virtuosística para deles extrair o “supra sumo” de seu potencial, com os de “Del Gésu”, mais toscos e resistentes, o intérprete consegue levar o instrumento à “scordattura”, obtendo o máximo de rendimento com exelente qualidade tonal. Talvez por essa razão, tenha sido o preferido de Paganini e de seus prosélitos. Com os violoncelos ocorre a mesma coisa em relação aos de Stradivari e os de seu também, único concorrente sério para esse instrumento, o luthier vêneto Domenico Montagnana. Quando Servais, em meados do século XIX, considerando suas limitações de movimentos em razão da obesidade em que se encontrava, teve a idéia de criar e instalar o espigão em seu Stradivarius de 1701, (instrumento hoje com carga para o violoncelista Anner Byilsma) acabou por solucionar, além do seu próprio, a um mesmo tempo, mais dois outros problemas: O portamento do violoncelo pelas mulheres, e, - graças ao ângulo de inclinação ascendente de aproximadamente 45 graus - , o incremento do alcance sonoro do instrumento até os recônditos das salas de concerto da época. O espigão é facilmente instalavel em qualquer violoncelo a partir do botão de encaixe do estandarte na base do instrumento, acessório esse que no romantismo tardio, teve seu comprimento aumentado, facilitando ainda mais os predicados do violoncelo adaptável às mulheres, com ampla liberdade de movimentos e de expressão para a gema dos virtuosos do sexo feminino que vieram surgindo logo a seguir.

As Violoncelistas de Stradivari :

Estima-se que Antonio Stradivari tenha construido entre 70 e 80 violoncelos ao longo de sua vida. Dos que sobreviveram, talvez uma dúzia deles em seu periodo áureo, (pouco antes à 1700, a pouco após 1720) ou seja, aqueles com as características de timbre que permaneceram imutáveis até nossos dias, mais especificamente os dos moldes B, e B Picolo, com a caixa de ressonância variando no comprimento, de 766 inicialmente, a 742 milimetros posteriormente , sendo que em ambos os modelos, atribui-se o mais alto grau de perfeição do mestre. Desses, quase todos passaram pelas mãos de mulheres virtuosos nos últimos 150 anos.

Stradivarius Cristiani 1700

Elise Barbier Cristiani (1827-1853), parece ter sido a primeira mulher virtuoso a tocar seu violoncelo em público, ainda portando o instrumento ao estilo clássico, que exigia muito maior destreza no dedilhado para o glissando, esforço no braço, e, absoluto controle da mão que empunha o arco. Foi considerada como gênio do violoncelo por Felix Mendelssohn-Bartholdi, que dedicou-lhe sua obra “Canção sem Palavras”. Assim

como um outro gênio nos instrumentos de arco, o violinista virtuoso Joseph Hassid, que, segundo palavras de um famoso personagem, nasce um deles à cada 200 anos, morreu precoce e tragicamente aos 26 anos de idade. Além de não ter alcançado o registro sonoro do cilindro de Edson, também nos privou de sua arte escrita na composição e arranjos para o instrumento. Charles Beare acredita que o Stradivarius Cristiani de 1700 (do molde B com 766 mm) tenha sido encomendado ao mestre pela família Visconti, (talvez o próprio Gasparo Visconti, virtuoso do violino, e amigo particular de Antonio Stradivari). Sabe-se que anteriormente o instrumento esteve na posse de Jean-Louis Duport, e, posteriormente na de Hugo Becker, que, além da própria Lisa Cristiani, foram os únicos dois musicos virtuosos a toca-lo. Hoje o instrumento encontra-se sob égide da Walter Stauffer Musicological Foundation of Cremona.

Guilhermina Suggia portando o Stradivarius - Bonamy Dobree - 1717 Guilhermina Suggia (1885-1950), portuguesa de ascendência italiana, foi a primeira mulher violoncelista a ter o reconhecimento e aceitação do público como respeitável artista. Com apenas 13 anos já era violoncelista da orquestra da cidade do Porto, e,

também atuava no quarteto de cordas Bernardo Moreira de Sá. Em 1898 começou a receber aulas de Pablo Casals, aproveitando a demorada estadia em Portugal, na cidade do Espinho, próxima ao O Porto, do já então famoso violoncelista Catalão. Em 1901, por iniciativa de *Dona Amélia - Rainha de Portugal, dama requintada e de grande cultura, recebe uma bolsa de estudos à sua escolha, fazendo então a opção de ir para Leipzig para receber aulas de Julius Klengel, o primeiro violoncelista da Gewandhaus, orquestra dirigida na ocasião por Arthur Nikisch.

*nota: Pessoalmente, acredito que as mulheres violoncelistas devem muito de sua conquista ao acesso e prática do instrumento à Dona Amélia - Rainha de Portugal, pois

como exprime Bilac em seus versos á ela dedicados:

...“Faltava no brazão de Bragança, encerrando o orgulho da conquista,

A graça e o alvo lírio de França, E a alma gentil de artista”...

Suggia revolucionou a técnica do instrumento, sua posição e sonoridade. Abriu as portas profissionais do violoncelo às mulheres, até então quase fechadas. De fato, o considerável gasto de energia exigido para manejar a envergadura do violoncelo, acrescido do preconceito às mulheres que tripudiava na época, obrigando a posicionar o instrumento de um ou outro lado do corpo com uma significativa contorção do dorso, tornavam o instrumento ainda mais inacessível às executantes femininas.

Em 1906, reencontrando seu antigo admirador, tornou-se companheira de Casals e passam a residir em Paris à Vila Molitor, partilhando com ele seu sucesso na dupla de violoncelistas mais famosa da Europa de então. O compositor húngaro Emanuel Móor dedica-lhes seu concerto para dois violoncelos, que a que tudo indica, nunca foi gravado. A partir de 1913, separa-se de Casals e passa a viver em Londres onde se apresentou como solista no Royal Albert Hall, e no Wigmore Hall com as orquestras da Royal Philharmonic Society, London Symphony Orchestra e da BBC de Londres. Em 1927 casou-se com o médico Jose Casimiro Mena, e em seguida retorna à Portugal para criar com Maria Adelaide de Freitas Gonçalves, diretora do Conservatório de Música da cidade de O Porto, sua orquestra sinfônica. Em 1949, já doente, cria o Trio de Cordas de O Porto, juntamente com o violinista Henri Mouton e o violista François Broos, trio do qual, também parece não haver gravações. Em 3 de maio de 1950 toca pela última vez em público num recital no Teatro Aveirense em duo com Maria Adelaide de Freitas Gonçalves, ao piano, para os sócios do Círculo de Cultura Musical do Aveiro. Morre na noite de 30 de Julho de 1950 em sua casa na cidade de O Porto. Por testamento seus instrumentos foram leiloados, entre eles, o Stradivarius Bonamy Dobree de 1717, com o valor apurado, foram instituídos fundos para os melhores alunos de violoncelo da Royal Academy of Music, da Inglaterra, e, do Conservatório de Musica de O Porto, Portugal. O Stradivarius Suggia-ex Bonamy Dobree 1717, (do Molde B com 757 mm) encontra-se atualmente em poder da Habisreutinger Foundation, com carga para Maja Weber.

Edições de gravações de Guilhermina Suggia

Em 1988 a EMI Records - Hayes Middlesex-England fez a edição em vinil do LP ref "mono EH 7 61083 1" sob o título de "A Centenary Tribute to Madame Suggia". Supostamente homageava o centenário do nascimento de Suggia. (Suggia nasceu em 1885 e não em 1888 como é referido no LP e na maior parte dos dicionários de música ingleses)

O LP contém as seguintes gravações realizadas entre 1927 e 1930:

Benedetto Marcello - Largo e Allegro da Sonata nº 3 em Ré com George Reeves ao piano G.B.Samartini - Sonata in Sol maior, com George Reeves ao piano Francesco Guerini - Allegro con brio, com George Reeves ao piano Camargo - Moto perpétuo, com Reginald Paul ao piano Sains-Saëns - Minuet de Concerto para violoncelo nº 1 in La menor op 33, com orquestra n.n. dirigida por Lawrance Collingwood Lalo - Intermezzo de Concerto para violoncelo in Ré Menor, c/ orq n.n. dirigida por Lawrence Collingwood Fauré - Elégie in Do menor op 24, com Reginald Paul ao piano Ravel - Pièce en forme de Habanera, com George Reeves ao piano Haydn - Concerto para violoncelo in Ré H VIIb:2 (op101), c/ orquestra n.n. dirigida por John Barbirolli Max Bruch - Kol Nidrei op 47, com orq. n.n. dirigida por Lawrence Collingwood

Em 1992 a Gravadora Pearl fez a edição de uma caixa com 3 CD, ref "Gemm CDS 9981-3", intitulada " The Recorded Cello - Vol I - The history of the recording of the world's finest cellists up to the early post-war years, including: Casals, Rostropovich, Rose, Suggia, Piatigorsky, Mainardi, Sadlo, Knushevitzky, Cassadó, Miller, Salmond, De Machula, e Shaffran.

Suggia interpreta nesta edição, de Sinigaglia - Humoresque (gravação de 1924)

Raya Garbousova portando o Stradivarius Davidov de 1712 (foto de 1938)

Raya Garbousova (1909-1997), russa natural da Georgia (Imperio Russo), fez seu “debut” em Moscou no ano de 1923, e em seguida, apresentou-se em Leningrado, então com 15 anos de idade, interpretando as “Variações Rococó” de Tchaikovsky. Foi comparada à violoncelistas mais maduros, como Emanuel Feuermann, que “a posteriori”, já nos Estados Unidos da America, tornou-se seu particular amigo. Iniciou seus estudos com o professor Kostantin Miniar, pupilo do próprio Karl Davidov. Tocou música de câmera com Nathan Milstein e Vladimir Horowitz. Em 1925, foi a Leipzig mostrar sua técnica à Julius Klengel, que após ouvir, resolveu encaminha-la para estudar, inicialmente com Hugo Becker, e este por sua vez, à Pablo Casals. Pablo Casals observando atentamente seu estilo, entendeu por bem encaminha-la para aperfeiçoamento com Diran Alexanian, mestre que exerceu grande influência em sua técnica. Apresentou-se na Europa até 1935, quando recebeu convite para uma apresentação nos Estados Unidos, que teve lugar no mesmo ano em Nova York, onde permaneceu até ser aceita como imigrante em 1939. Em 1948 casou-se com o médico cardiologista Kent Biss e passou a viver em Illinois. Teve dois filhos, Paul Biss, que casou-se com a violinista Miriam Fried, e, Jonathan Biss, que é pianista clássico. Ensinou o violoncelo na Northern Illinois University, e no Hartford College of Music em Connecticut de 1973 até 1991. Como virtuoso, foram-lhe dedicadas diversas primeiras performances e obras de compositores contemporâneos, como a Sonata número 3 de

Martinu, a Sonata de Prokofiev, e particularmente, a Sonata e o Concerto de Samuel Barber que o compositor escreveu e dedicou-lhe as obras, bem como as primeiras apresentações, face à intimidade e a introspecção que Garbousova tinha com essas criações do compositor. O “avant primiere” do concerto foi dirigido por Serge Koussevitzky regendo a Boston Symphony Orchestra em 1946. Tanto a gravação do Concerto para Violoncelo, quanto a Sonata para violoncelo e piano de Samuel Barber, são referência até hoje.Tocou nos Estados Unidos em duo com Albert Einstein, de quem gostava muito, embora tivesse dito que o pai da teoria da relatividade, era teoricamente relativo como músico. Admirava a arte e a técnica de Guilhermina Suggia, com quem manteve correspondência, e orientação. Morreu em 28 de janeiro de 1997 em sua casa de DeKalb, Illinois, onde residia e atendia seus alunos mais próximos e admiradores.

Raya Garbousova US Decca DL 710132 ( Gold Label )

Raya Garbousova portou o Stradivarius Davidov 1712 até o ano de 1960 em diversas apresentações e gravações por empréstimo da familia Straus, (Sr. e Sra.Herbert Straus) que mantinham uma coleção particular de instrumentos Stardivarius. Hoje, o instrumento acha-se com carga vitalícia para o violoncelista Yo Yo Ma.

Zara Nelsova no Canadian Trio portando o Stradivarius Marques de Corberon de 1726

Zara Nelsova (1918-2002), violoncelista e professora, natural de Winnipeg, Canadá, naturalizada cidadã americana em 1953, recebeu as primeiras lições de violoncelo com Dezso Mahalek de 1924 a 1928. De 1929 a 1935, estudou com Herbert Wallenn, e, até 1940, com Pablo Casals, Emanuel Feuermann e Gregor Piatigorsky. Em 1928 a família resolveu transferir-se para a Inglaterra, onde formou em 1929, juntamente com suas irmãs, Anne pianista e Ida violinista, o primeiro Canadian Trio. Deu seu primeiro recital em Londres em 1930 apresentando o Concerto de Eduard Lalo, e, um ano após, com a London Symphony Orchestra regida por Malcolm Sargent. Com seu Trio fez “tourneés” pela Australia e Africa do Sul de 1934 a 1936. Em 1939, retornou ao Canadá onde permaneceu como primeira violoncelista da Toronto Symphony Orchestra, de 1940 a 1943, e, membro do segundo Canadian Trio que criou juntamente com o pianista Ernest MacMillan e a violinista Kathleen Parlow, trio que passou a atuar a partir de 1941. Fez seu “debut” em Nova York em 1942. Em 1949, Ernest Bloch convidou-a a apresentar o Schelomo no festival de suas obras que acontecia em Londres. Com a orquestra da BBC,

apresentou, em 1950 a primeira performance européia do Concerto de Samuel Barber, gravado em seguida pela Decca com a New Symphony Orchestra, sob a batuta do compositor. Em 1955, tiveram lugar as apresentações e gravações das Sonatas de Zoltan Kodaly, Max Reger, e, Sergei Prokofiev, no Wigmore Hall de Londres. Fez as primeiras apresentações de, “A frog He went A-Courtry” de Paul Hindemith, em 1947, da versão para violoncelo e orquestra de “Arabesque”, obra de Alexander Brott, em Montreal no ano de 1958, da Sonata de Alexei Haiffe, em 1963, e, ainda, do Concerto de Hugh Wood com a Boston Symphony Orchestra, sob a regência de Colin Davis, em 1969. Em 1966 tornou-se a primeira violoncelista a fazer uma “tourneé” através da então União Soviética. Em 1972 apresentou a “avant premiére” da Sonata de Casadesus. Apresentou-se por inúmeras vezes como solista em concertos, recitais, e, festivais, nas Americas e na Europa, incluindo; Aspen, Bergen, Casals, Praga, Marlboro, Tanglewood, e Vancouver. Foi solista em mais de 30 orquestras, incluindo a BBC, a London Symphony Orchestra, a NY Philharmonic, a, Montreal, Vancouver, e Toronto do Canadá, a Berlin Philharmonic e a Orquestre da Suisse Romande, com Ernest Ansermet. Em duo com seu marido pianista Grant Johannesen, (1963-1973) fez diversas apresentações e gravações. Lecionou na Juilliard School of Music de 1962 até sua morte em 2002.

Zara Nelsova - Discografia resumida (sómente Long Plays de referência)

Duo Nelsova-Balsam UK Decca LXT 5228 – Rachmaninov Sonata para Violonello e Piano opus 19.

Zara Nelsova UK Decca LX 3048 (10”) - Samuel Barber - Concerto para Violoncelo e Orquestra opus 22 - The New Symphony Orchestra of London conduzida pelo

compositor.

Zara Nelsova UK Decca LXT 5252 - Zoltan Kodaly - Sonata para Violoncelo Solo opus 8, e, Max Reger - Suite número 2 para Violoncelo Solo (gravação de 1956).

Zara Nelsova UK London LL 1232 - Bloch - Voice in the Wilderness Poema Simfonico para Violoncelo obligatto, e, Schelomo Rapsódia para Violoncelo e Orquestra - London

Philharmonic regida por Ernest Ansermet.

Zara Nelsova UK Decca LXT 2906 - Camille Saint-Saëns - Concerto para Violoncelo e Orquestra número 1, e, Eduard Lalo - Concerto para Violoncelo e Orquestra - London

Philharmonic regida por Adrian Boult.

Duo Nelsova-Balsam UK London LLA 52/3 - Beethoven Sonatas Completas para Violoncelo e Piano – 1956.

O Stradivarius Marques de Corberon/ex-Loeb de 1726, encontra-se na posse da Royal Academy of Music of London, com carga para Colin Carr.

Amaryllis Fleming portando seu Stradivarius de 1717

Amaryllis Fleming (1925-1999), violoncelista inglesa, segundo Tully Potter no artigo “Living to the Full” publicado na revista Strad Magazine em dezembro de 1999, foi vista na época, por alguém do meio artístico-musical, (não se sabendo quem) como “a mulher fatal” que obteve sucesso na prática do violoncelo. Verdade ou não, ela foi excelente como violoncelista, professora, e inovadora. Sua adolescência foi emocionalmente difícil. A mãe, Eve Fleming, foi uma dama do lar em Chelsea, viúva de um herói de guerra, e, filha endeusada de uma princesa. Sua mãe Eve, estudou violino com as irmãs Adila Fachiri e Jelly d’Aranyi, esta última violinista, muito admirada por Maurice Ravel. Eve teve tres filhos; Amaryllis, Peter, e Ian. Peter, tornou-se um bem sucedido escritor viajante, e Ian, romancista, criou James Bond (007). Amaryllis não teve um relacionamento muito feliz com sua mãe, que sempre disse a ela não ser sua mãe biológica. Entretanto, aos 23 anos, o artista plástico Augustus John disse à Amaryllis ser seu pai, e que Eve era realmente sua verdadeira mãe. Ela começou a estudar piano aos três anos, e, aos nove quis estudar violino, entretanto sua mãe a convenceu a estudar o violoncelo. Em 1937 foi encaminhada à Downe House School, em Berkshire como pensionista, mas ia ocasionalmente à Londres para ter aulas com John Snowden do Royal College of Music, onde fez um rápido progresso. Aos 15 anos, fez sua primeira apresentação com a orquestra da BBC, em Londres. Em 1941, mãe e filha foram para Sutton Courtenay, Berkshire. Amaryllis, tocou então na Orquestra de Oxford, cujo diretor, Thomas Armstrong, sugeriu que ela voltasse para Downe House afim de complementar seus estudos. Aos 17 anos, ganhou uma bolsa de estudos em tempo integral para freqüentar o Royal College of Music e ter aulas com Ivor James. Em 1944 foi solista no concerto de Elgar com a Newbury String Players. Também estudou em Paris com Pierre Fournier, que ofereceu-lhe orientação gratuita, tornando-se seu particular orientador e amigo pessoal. Teria dito à sua amiga Margaret Campbell que Fournier tinha-lhe aumentado as possibilidades virtuosísticas, especialmente quanto às técnicas de arco. Também estudou com Guilhermina Suggia, Gaspar Cassadó e Enrico Mainardi. Em Prades, nos Pirineos, juntamente com Casals, estudou profundamente o concerto de Schumann. Em 1953, foi novamente solista no concerto de Elgar, desta vez com a Hallé Orchestra, sendo que por essa época, Anthony Pini era considerado o melhor violoncelista ingles. No final dos anos cincoenta, Amaryllis adquiriu seu Stradivarius 1717, instrumento que teve, além do tampo; o braço, o cavalete e a voluta substituidos pelo luthier Jose Contreras de Madrid, por volta de 1799. Ela tornou-se a maior incentivadora, depois de Piatigorsky, do concerto de Walton e apresentou em “primiére”, diversos novas obras para o instrumento, incluindo, as Tre Pezzi by Mathyas Seiber, que foram apresentadas no Festival de Cheltenham, sob a regência de Barbirolli, as Sonatas de Arnold Cook, e, as de Peter Racine Fricker. No final dos anos sessenta, Amaryllis voltou-se para as Suites de Bach, e através de uma partitura extraida do livro de Anna Magdalena Bach interpretou a obra, com um pequeno violoncello Amati pentacórdio de 1610, que adquiriu especialmente para essa finalidade. Esse instrumento, conhecido como violoncello picollo, ou violoncello da spalla, é anterior ao nascimento de Bach, portanto, ainda não sendo aquele que o grande gênio encomendou, e teria usado para a adequada interpretação de suas Seis Suites Desacompanhadas, entretanto, a interpretação dessa obra, à época de Fleming, portando o Girolamo Amati, parece ter sido a primeira executada por um intérprete compenetrado ao que se refere corretamente

a partitura original. Sua pupila, Jane Salmon, da Schubert Ensemble of London, declarou ter sido uma versão na íntegra, e, completamente diferente daquelas executadas com o grande violoncelo. Na maturidade, cada vez menos interessada em apresentações como solista em grandes concertos, em parte pelo fato de sentir-se eclipsada por Jacqueline Du Pre, jovem estrela em grande projeção, Amaryllis dedicou-se mais à música de câmara, com poucas aparições como solista. Entretanto, tocou o concerto de Dvorak no Wigmore Hall, cuja apresentação foi muito bem comentada. Nesse mesmo ano, constituiu o Fleming Strig Trio, em companhia do violista Kenneth Essex, e do violinista Granville Jones, sendo com a morte deste último, substituido por Emanuel Hurwitz. A partir de 1993, com problemas de saúde, passou a dedicar-se mais a lecionar. Michal Kaznowski integrante do Quarteto Maggini declarou que as aulas que teve com ela foram fundamentais para sua técnica de arco. Por essa época, ela passou a interessar-se também pela metafísica, cultivando o Budismo. Alguns meses antes de sua morte, teve uma audiência no Tibet com o Dalay Lama, e, após isso, retirou-se completamente do cenário musical. Amaryllis foi totalmente ignorada pelas gravadoras, entretanto, a BBC deve possuir seus tapes do Trio para Piano, e, seguramente, suas gravações de estúdio das Suites de Bach, importantíssimas pelo fato da utilização “em premiére” do instrumento supra citado, que, pessoalmente, considero a gravação como de fundamental importância, sugerindo aqui o empenho da BBC para que sejam licenciadas para o disco, tornando-as de conhecimento público, e, o enriquecimento da musicologia.

Só mais recentemente, a master gravadora ingleza (BBC) veio a disponibilizar os direitos sobre os tapes das Sonatas para Violoncelo e Piano de Brahms op.38, e, o de Schubert D.821, de Amaryllis Fleming em duo com o pianista Geoffrey Parsons, que foram levados ao disco pela gravadora ingleza Nimbus, sendo este, talvez, ao que se tem noticia, o único LP gravado dessa violoncelista.

Duo Fleming-Parsons UK Nimbus 2111

O Stradivarius Amaryllis/ex-Kuchler de 1717, pertence hoje, à recém criada Amaryllis Fleming Foundation of London, tendo sido ouvido pela última vez em 2003, portado pelo

violoncelista Raphael Wallfisch.

Jacqueline Du Pre portando seu Stradivarius Davidov de 1712

Jacqueline Du Pre (1945-1987), nascida em Oxford, Inglaterra, foi a segunda filha de Derek Du Pre, e da pianista Iris Du Pre. Com apenas quatro anos, ouviu o som do violoncelo pelo radio e perguntou à mãe “se poderia ter um instrumento daqueles”. Ela começou a ter aulas com a própria mãe, que compunha pequenas peças acompanhadas de desenhos para ajudar em sua mentalização. Aos cinco anos, foi matriculada na Escola de Violoncelo de Londres. De 1955 a 1961 estudou com William Pleeth, mestre responsável pela sua preparação para o grande salto que veio a dar em sua carreira. Participou de um masterclass com Pablo Casals, em Zermatt, Suissa em 1960, causando grande impressão no mestre catalão. Estudou com Paul Tortelier em Paris, durante o ano de 1962, e, em 1966, também com Mistlav Rostropovich, na Rússia, deixando tão impressionado o grande mestre russo com sua virtuosidade de jovem violoncelista, a ponto dele declarar ter sido ela a única jovem de o ter superado na técnica do instrumento. Em março de 1961, então com 16 anos, fez oficialmente seu “debut”no Wigmore Hall de Londres, e, no ano seguinte, no Royal Festival Hall, como solista no concerto de Elgar, com a orquestra da BBC e Rudolf Schwarz na regência, e, ainda, no ano seguinte, com a The Proms, o mesmo concerto, sob a batuta de Malcolm Sargent. Sua performance nesse concerto veio ganhando tanta popularidade, que se tornou o preferido nas apresentações do Britsh Festival até 1969. Em 1965, com vinte anos de idade, na gravação que fez do concerto de Elgar, portando o violoncelo Stradivarius

Davidov de 1712, para o selo HMV, com a London Symphony Orchestra e John Barbirolli na regência, fez seu talento virtuosístico assombrar o mundo, dada a introspecção que a artista tinha com aquela música, somada à educação de violoncelista do maestro, gravação essa, que é tida como referência até hoje.

Du Pre UK HMV ASD 655 Semi Circle Label 1965 (reference performance)

Jacqueline Du Pre também foi solista desse concerto de Elgar para seu “debut” nos Estados Unidos, com a orquestra da BBC, no Carnegie Hall, dirigida por Antal Dorati, em 14 de maio de 1965. Em 1966, casou-se com o pianista e regente Daniel Barenboim, que passou a reger suas apresentações e gravações, como também outras atividades, incluindo a concepção, e a constituição de um Trio com a participação do violista Pinchas Zukerman, além de sua atuação em duos de musica de câmara com piano. No início de sua carreira como profissional, do ano de 1961 ao ano de 1964, ela utilizou-se de um instrumento Stradivarius datado de 1673, criado pelo molde maior e mais antigo no “atelier” do mestre Stradivari. A partir de 1964, e, até 1969, ela passou a usar o Stradivarius Davidov de 1712, já produzido a partir do molde B. Ambos os instrumentos foram-lhe presenteados pela sua madrinha Ismena Holland. Foi com o Davidov que ela fez as melhores gravações de sua historia, incluindo: O concerto de Elgar com Barbirolli, o concerto de Schumann com Baremboin, e, as duas sonatas de Brahms.

Du Pre UK HMV ASD 2498 semi circle label

Em Duo com o pianista Stephen Bishop Kovacevitch, gravou as sonatas de Beethoven; a gravação ilustrada abaixo é de uma rara prensagem pelo selo Electrola de Colônia

(HMV Alemanha)

Duo Du Pre-Bishop Germany EMI Electrola SME 81104 (First StereoLabel)

Jacqueline Du Pre apresentou-se como solista nas maiores orquestras do mundo, dirigidas pelos maiores expoentes da regência; tais como: BBC Orchestra, London Symphony Orchestra, London Philharmonic, New Philharmonia Orchestra, New York Philharmonic, Berlin Philharmonic, Los Angeles Philarmonic, Israel Philharmonic, com os maestros; Daniel Barenboim, John Barbirolli, Malcolm Sargent, Leonard Bernstein, Zubin Mehta, entre outros. Suas gravações em vinyl, (Long-Plays) dependendo da raridade do item, selo, prensagem, e demais atributos específicos, são hoje em dia altamente colecionáveis, além dos já citados acima, as seguintes gravações e prensagens:

Duos Du Pre-Downes e Du Pre- Moore UK HMV CSD 1499 (Green Dog Label)

Jacqueline Du Pre interpretando (no violoncello) e Herbert Downes (na viola )músicas de: Handel - Adágio da sonata in C maior , Fantasia de Greensleeves de Vaughan Williams , Orientale de Cui , com John Williams , Hungarian Dance No. 17 de Brahms , com Gerald Moore no piano , Ave Maria de Bach - Gounod , Galop da suite para viola de Vaughan Williams , Adagio e allegro da sonata in D maior de Bach , Adagio da Toccata de Bach , O Cisne de Camille Saint-Saens com Osian Ellis na harpa , Jota da Suite Popular Espanhola de De Falla , Kol Nidrei , op. 47 de Bruch com Gerald Moore, gravações monoaurais e estereofônicas realizadas a partir de 1963.

Du Pre UK HMV ASD 2466 Semi Circle Label - Concertos de Haydn e Monn com Barbirolli

Du Pre UK HMV ASD 2331 Semi Circle Label - Concertos de Haydn e Boccherini com Barenboim

Em 1971, iniciou-se um período de declínio na produção de Du Pre, era o início da doença que já estava lhe afetando a sensibilidade nos dedos das mãos.Ela gravou durante o ano as sonatas de Chopin e de Cesar Franck. Em 1973 numa “tourneé” aos Estados Unidos, sentiu-se mal e teve que interromper sua apresentação. Sua última apresentação pública foi em fevereiro de 1973, quando se apresentou no concerto duplo de Brahms com Pinchas Zukerman, com a NY Philharmonic sob a regência de Bernstein.Em outubro do mesmo ano foi diagnosticada sua doença em Londres, como sendo esclerose múltipla. Morre em 19 de outubro de 1987 com 42 anos. O Stradivarius de 1673 recebeu seu nome, e foi adquirido pelo violoncelista Lynn Harrell. O Davidov de 1712 foi oferecido à Yo Yo Ma, que, face ao alto prêço pedido na ocasião, não conseguiu adquiri-lo. Hoje, o instrumento esta em poder da LVMH - Sociétè Moët Hennessy Louis Vuitton, com carga vitalícia ao violoncelista Yo Yo Ma.

O desaparecimento do Davidov do Palácio dos Médici em Florença, onde permanecia desde que Stradivari o entregara ao Gran Duque da Toscana Cozimo III, em 1712, e, seu reaparecimento em 1870 nas mãos do conde Apraxim, vassalo da côrte do Czar Alexandre II, continua sendo um mistério até hoje. Após isso, sabe-se que o conde o vendeu a outro nobre, o conde Wielhorski, diletante do violoncelo, e que este teria presenteado seu protegido, Karl Davidov, então o maior virtuoso do violoncelo na Europa. Não se sabe exatamente quando o instrumento recebeu o espigão, a reforma do braço, a substituição do espelho e o novo cavalete, entretanto, é provável que em 1863 o próprio conde tenha providenciado sua adequação como instrumento moderno, já que é mencionado em carta desse fidalgo, à outro nobre russo, a substituição das cordas graves do instrumento, muito deterioradas na época, por cordas de tripa enroladas em prata.O

instrumento deve ter sido muito tocado, face ao mau estado de conservação em que se encontrava quando examinado por Charles Beare, no momento em que passou para a posse da familia Straus, como um “objeto de desejo” de artistas, colecionadores e luthiers compondo o quarteto particular de instrumentos Stradivarius dessa familia. De acôrdo com o comentario feito recentemente por um luthier : “Antonio Stradivari fez esse violoncelo para dar a todos nós (os luthiers) uma lição de humildade”.

Myung-Wha Chung portando o Stradivarius Braga de 1731

Myung-Wha Chung nasceu em 19 de março de 1944 em Seoul, Coreia do Sul, e provem de uma familia de músicos. A irmã mais nova Kyung-Wha Chumg é virtuoso do violino, e seu irmão, também mais novo, Myung-Whun Chung é pianista e regente. Após concluir seus estudos na Escola de Música da Universidade de Seoul, fez seu “debut” na Seoul Philharmonic Orchestra, antes de continuar a estudar nos Estados Unidos da America. Na Juilliard School of Music, em Nova York, foi pupila de Leonard Rose, entre os anos de 1961 e 1965. Posteriormente, estudou também com Gregor Piatigorsky, na

Universidade da California, em Los Angeles, entre os anos de 1965 e 1968. Fez sua primeira apresentação como solista em concerto nos Estados Unidos em 1969, e, nesse mesmo ano, além de seu “debut” europeu que teve lugar no festival da cidade italiana de Espoleto, recebeu convite da presidência dos Estados Unidos da America, para apresentar-se num recital na Casa Branca. Em 1971 ganhou a competição internacional de música de Genebra. Em sua carreira de solista-concertista tem tocado nas principais orchestra do mundo, e muito requisitada por regentes célebres. Para a música de câmara, constituiu, juntamente com seus irmãos, o Chung Trio. Atualmente, leciona seu instrumento no Mannes College of Music, em Nova York, e, também como titular da cadeira de violoncelo do Instituto Nacional de Artes, em Seoul.

Myung-Wha Chung gravou para os maiores selos da atualidade, tanto como solista em concertos, como em música de câmara com o Chung Trio. Seus “highlights” incluem :

• Beethoven - Piano Trios (EMI, 1994, reissued 2007) • Beethoven - Archduke Trio (Deutsche Grammophon, 1998) • Brahms/Mendelssohn - Piano Trios (Decca, 1995) • Tchaikovsky - Rococo Variations. Com a Los Angeles Philharmonic Orchestra

dirigida por Charles Dutoit. (Decca, SXL 6955 (411 210-1)

O Stradivarius Braga de 1731, (Molde B Picolo com 742mm) pertence à Chicago Symphony Orchestra com carga para Myung-Wha Chung.

Maria Kliegel portando o Stradivarius Gendron/ex-Lord Speyer de 1693

Maria Kliegel nasceu em 11 de fevereiro de 1952 em Dillenburg, Alemanha. Aos 19 anos de idade passou a estudar com Janos Starker, na Universidade de Indiana. Ganhou os primeiros prêmios no concurso da Alemanha, no concurso Aldo Parisot, em Yale, e o Grand-Prix Rostropovich, em Paris. Apresentou-se em recitais nas mais importantes salas de concerto do mundo, a exemplo de Basle, e, Villa Hügel, entre outras tantas.

Uma das primeiras e raras prensagens em vinyl (Long-Playing) gravado ao vivo no Museu de Alfred Krupp.

Suas gravações dos concertos de Elgar e Dvorak, a partir de 1981, foram “best sellers”, durante muito tempo. Foi solista nas apresentações e gravações do repertorio erudito mundial junto a quase todas as grandes orquestras, e seus afamados regentes, com destaque à Washington National Symphony Orchestra, e a Orquestre National de La Radio e Television Française, sob a batuta de Rostropovich. Em 1990, gravou o primeiro concerto de Alfred Schnittke, que o compositor russo qualificou sua performance, como interpretação e gravação referência. Na música contemporânea, apresentou a obra do compositor Wilhelm Kaiser – Linderman, composta em homenagem à Nelson Mandela, cuja apresentação ao então presidente da Africa do Sul, teve lugar em recital privado.Desde 1986, é mestre na Academia de Música de Colônia, onde oferece “masterclasses” anualmente. Participa também do Trio Xyrion, constituído em no ano de 2001, juntamente com a pianista Nina Tichman, e, a violinista Ida Bieler.

O Stradivarius Gendron/ex-Lord Speyer 1693, pertence à Foundation for the Arts and Culture of North-Rhine, Westphalia, com carga para Maria Kliegel.

Rachel Mercer portando o Stradivarius Bonjour de 1696

Rachel Mercer nasceu em Edmonton, Canadá, e, é um jovem talento do cenário musical que iniciou seus estudos no violoncelo aos três anos de idade com Diana Nuttall, e, posteriormente com Kirstl Armstrong na Academia de Musica de Vancouver. Fez seu “debut” como solista em concerto aos doze anos com a Vancouver Academy Chamber Orchestra. Depois disso foi para Ontário, estudar no Royal Conservatory of Music, onde recebeu seu diploma e a medalha de ouro, por indicação de seus mestres, Susan Gagnon e David Hetherington, graças à sua técnica e desempenho com o instrumento. Fez sua primeira apresentação na Europa, como solista de concerto no ano de 2001, com a Concertgebouw Orchestra de Amsterdam. Em 2002 passou a integrar o Aviv Strig Quartet, com temporadas por toda Europa, America do Norte, e, principalmente Israel, cujas apresentações passaram então, ser gravadas através do selo Naxos. Constituiu em 2008 o Mercer - Oh Trio, juntamente com sua irmã Akemi, e o pianista Gregory Oh. Atualmente é a primeira violoncelista da Via Salzburg Chamber Orchestra, e, também da Canadian Opera Company. Seu repertório é extenso, incluindo interpretações solo, duos, trios e quartetos, inclusive com piano, música para orquestra de câmara, e, música de concerto, desde o barroco, o clássico, ao romantismo tardio, até o contemporâneo, mantendo uma performance virtuosística.

Como vencedora da competição nacional de 2006 do Musical Instrument Bank, Rachel Mercer recebeu a carga do Stradivarius Bonjour de 1696, (do molde B com 762 mm) que esta atualmente na posse do Canada Council for the Arts, demonstrando com isso que a tradição de Stradivari, permanece ao longo dos séculos, o que continua é a nova geração de virtuosos.

Saulo Zucchello Filho