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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
MESTRADO EM MATEMÁTICA
ELEMENTOS DE ORDEM ALTA EM CORPOSFINITOS
Lucas da Silva Reis
Março 2016
Lucas da Silva Reis
Elementos de ordem alta em corpos�nitos
Dissertação submetida à banca examinadora, de-
signada pelo Programa de Pós-Graduação em
Matemática da UFMG, como requisito parcial
para a obtenção do título de mestre em Mate-
mática.
Orientador: Fabio Enrique Brochero Martínez
Universidade Federal de Minas Gerais
Março de 2016
2
Agradecimentos
Primeiramente gostaria de agradecer ao meu orientador Fabio pela paciência, aten-
ção e con�ança depositada ao longo da preparação deste trabalho.
Agradeço a minha família por me apoiar em todas as fases da minha vida, me
ajudando a superar as di�culdades e vencer os medos. Em especial agradeço ao meu
pai, minha avó, minha irmã e minha tia Fernanda.
Agradeço aos meus amigos Letícia, Victor, Cláudia, Elisa e todos os outros que me
acompanharam nesta intensa jornada desde a graduação.
Agradeço aos professores Sylvie, Mário Jorge, Alberto Sarmiento e Seme Gebara
pelo grande apoio desde o começo da minha graduação. O incentivo e apoio que recebi
de vocês em diversos pontos como o PICME e as olimpíadas universitárias �zeram toda
a diferença.
Agradeço as Elianes da secretaria da PGMAT-UFMG por toda a paciência e carinho
proporcionado nestes 2 últimos anos.
Por �m, agradeço ao projeto OBMEP pelo belo trabalho que tem feito por todo o
país desde 2005. Acredito que as oportunidades proporcionadas a mim pelos programas
PIC Jr e PICME foram decisivas para o meu sucesso.
Resumo
Neste trabalho, apresentaremos o problema de encontrar elementos α de ordem alta
em corpos �nitos. Mais especi�camente, trataremos deste problema em dois tipos de
extensões de corpos �ntios: as extensões ciclotômicas Fq[x]/Φr(x) e as extensões de
Artin-Schreier Fq[x]/(xp − x − a). Ordens exatas dos elementos α não são calculadas;
encontraremos limitantes inferiores.
4
Abstract
In the present text, we discuss the problem of �nding high order elements in �nite
�elds. More precisely, we present this problem in two classes of extensions of �nite �elds:
the cyclotomic extensions Fq[x]/Φr(x) and the Artin-Schreier extensions Fq[x]/(xp−x−
a). We do not determine exactly the order of the elements α; lower bounds are found.
5
Sumário
Introdução 7
1 Fundamentos 9
1.1 Teoria dos Números . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.2 Álgebra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.3 Corpos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.4 Polinômios sobre um corpo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.5 Corpos Finitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2 Extensões Ciclotômicas 20
2.1 Polinômios Ciclotômicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2 Elementos de ordem alta em extensões ciclotômicas . . . . . . . . . . . 22
2.3 Limitantes inferiores explícitos, em função de p e r . . . . . . . . . . . 27
2.4 Alguns Exemplos Numéricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3 Extensões de Artin-Schreier 29
3.1 Polinômios de Artin-Schreier sobre Fq . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.2 Extensões de Artin-Schreier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.3 Números de Bell . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Referências Bibliográ�cas 38
Introdução
Dado um corpo �nito Fq, sabemos que o seu grupo multiplicativo F∗q é cíclico. Um
problema interessante, mas ainda em aberto, é o de encontrar um algoritmo genérico
e e�ciente que determina geradores para o grupo F∗q, também chamado de problema
do elemento primitivo. Existem métodos particulares e e�cientes no caso em que a
fatoração prima de q − 1 é conhecida e todos os fatores são relativamente pequenos.
Mas, em geral, fatorar números é um problema computacionalmente difícil. Por essa
razão nos restringimos a uma questão mais simples: encontrar elementos de ordem alta
em F∗q.
Elementos de ordem alta desempenham um papel importante em diversos ramos
de pesquisa, como criptogra�a, teoria de códigos, combinatória e geradores de núme-
ros pseudoaleatórios. Por exemplo, no algoritmo AKS ([1]) que determina em tempo
polinomial a primalidade de um número, é necessário encontrar um subgrupo �grande�
de F∗q com um número pequeno de geradores. Além disso, todos os métodos de crip-
togra�a que envolvem o cálculo do logaritmo discreto, como o método ElGamal, usam
elementos de ordem alta para a codi�cação. Entretanto, calcular a ordem exata de um
elemento de F∗q requer o conhecimento dos fatores primos de q − 1 e, por esta razão, o
que usualmente fazemos é estimar inferiormente essas ordens.
Neste trabalho estudaremos o problema de encontrar elementos de ordem alta em
essencialmente dois tipos de extensões de corpos �nitos: as extensões ciclotômicas
Fq[x]/Φr(x), onde Φr(x) denota o r−ésimo polinômio ciclotômico e as extensões de
Artin-Schreier Fq[x]/(xp − x − a), onde p é primo, q é uma potência de p e a ∈ F∗p.
O primeiro capítulo consiste numa introdução a Álgebra e Teoria dos Números, fun-
7
damentais para o entendimento do texto. Já o segundo capítulo é uma versão mais
detalhada da pesquisa feita por Popovych (ver [8]), onde são encontrados elementos
de ordem alta em extensões da forma Fq[x]/Φr(x). Finalmente, o terceiro capítulo é
um trabalho original desenvolvido pelos presentes autores (ver [4]), onde são encontra-
dos, com alta probabilidade, elementos de ordem alta em extensões de Artin-Schreier
Fq[x]/(xp − x− a).
8
Capítulo 1
Fundamentos
Para o entendimento deste trabalho, precisamos de alguns conceitos básicos em Te-
oria dos Números e Álgebra. Neste capítulo vamos apresentar algumas de�nições e
resultados que serão essenciais ao longo do texto, destacando o estudo dos corpos �ni-
tos. Apesar de quase todos estes resultados serem enunciados sem prova, o leitor pode
consultar [6] e [3] para mais informações.
1.1 Teoria dos Números
Dado um inteiro positivo n, podemos particionar o conjunto dos números inteiros Z
segundo uma relação ∼ tal que a ∼ b se n divide b−a. Observemos que esta relação é de
equivalência e particiona os números inteiros em exatamente n classes de equivalência.
Tomando um representante de cada classe, temos o conjunto Zn de classes. Por exemplo,
se n = 2, temos as partições dos números pares e ímpares e podemos escrever Z2 =
{0, 1}. Em geral tomamos os representantes mais simples, Zn = {0, 1, . . . , n− 1}.
Dados dois inteiros a, b numa mesma classe, dizemos que a e b são congruentes
módulo n e escrevemos a ≡ b (mod n). Como veremos mais adiante, podemos induzir
as operações de Z nos conjuntos Zn.
Seja k é um inteiro relativamente primo com n e considere as seguintes potências:
k, k2, . . . , kn+1.
Temos exatamente n+ 1 elementos e Zn possui apenas n elementos. Logo duas dessas
9
potências estão na mesma classe, isto é, existem i < j tais que n divide ki − kj =
ki(kj−i − 1). Como k e n são relativamente primos, segue que n dvide kj−i − 1, ou
seja, kj−i ≡ 1 (mod n). Em particular o conjunto S = {t > 0; kt ≡ 1 (mod n)} é um
subconjunto não vazio de N, logo possui elemento mínimo. Isto nos leva a seguinte
de�nição.
De�nição 1.1.1 (Ordem). Seja a um inteiro relativamente primo com n > 0 e r o
menor inteiro positivo tal que ar ≡ 1 (mod n). Dizemos que r é a ordem de a módulo
n e escrevemos r = ordn a.
Em particular, mostramos acima que r é sempre menor que n. Como veremos a
seguir isso pode ser melhorado e, para tanto, precisaremos de introduzir a função de
Euler: dado n inteiro positivo, seja Cn o conjunto de todos os inteiros positivos a ≤ n
relativamente primos com n. A função de Euler ϕ conta exatamente o número de
elementos de Cn, isto é, ϕ(n) = |Cn|. Por exemplo, ϕ(1) = 1, ϕ(p) = p− 1 se p é primo
e ϕ(2k) = 2k−1.
Observemos que todo inteiro positivo menor que n pode-se classi�car segundo seu
máximo divisor comum com n: por exemplo, temos ϕ(n) números relativamente primos
com n e, mais geralmente, para cada divisor d de n, temos ϕ(n/d) inteiros positivos
j ≤ n tais que mdc(j, n) = d. Deste argumento obtemos que
n =∑d|n
ϕ(d). (1.1)
O Teorema a seguir relaciona a função de Euler numa interessante identidade em
Zn:
Teorema 1.1.2 (Euler). Se a, n são primos entre si, então aϕ(n) ≡ 1 (mod n).
Corolário 1.1.3 (Fermat). Se p é primo e a é um inteiro arbitrário, então
ap ≡ a (mod p).
Podemos veri�car que se at ≡ 1 (mod n), então t é divisível por r = ordn a. Em
particular, pelo Teorema de Euler, r é sempre um divisor de ϕ(n). Mas será que r pode
10
ser exatamente ϕ(n)? Ora, note que o conjunto Z∗n de elementos em Zn que não possuem
fatores em comum com n tem cardinalidade ϕ(n). Em particular, se ordn a = ϕ(n),
podemos representar Z∗n somente com potências de a, isto é, para todo j ∈ Z∗n existe
um inteiro positivo m entre 1 e ϕ(n) tal que
j ≡ am (mod n).
Neste caso, dizemos que a é uma raíz primitiva módulo n.
Teorema 1.1.4. Os únicos inteiros n que admitem raízes primitivas são
n = 2, 4, pk, 2pk,
onde p é um primo ímpar.
Lembremos que a função de Euler é uma função de�nida nos inteiros positivos.
Funções deste tipo são chamadas de funções aritméticas.
Outra função aritmética muito usada em teoria dos números é a função de Möbius:
De�nição 1.1.5 (Função de Möbius). A função de Möbius µ é de�nida da seguinte
maneira: µ(1) = 1, µ(n) = 0 se n é divisível por algum quadrado perfeito t > 1 e
µ(n) = (−1)k se n se fatora em exatamente k primos distintos.
Ainda, temos uma bela relação entre as funções de Möbius e de Euler
Teorema 1.1.6. Para todo n inteiro positivo vale
ϕ(n) =∑d|n
d · µ(nd
).
Na equação (1.1) temos uma relação entre a função identidade e a função ϕ, enquanto
o teorema anterior relaciona a função ϕ com a função identidade via a função de Möbius.
O teorema a seguir mostra que uma relação deste tipo não é exclusiva destas funções e
a função de Möbius desempenha um papel fundamental nestas relações de �dualidade�:
11
Teorema 1.1.7 (Inversão de Möbius). Se f é uma função aritmética qualquer e F é a
função aritmética de�nida por F (n) =∑d|n
f(d), onde a soma percorre todos os divisores
positivos de n, então
f(n) =∑d|n
F (d)µ(nd
).
1.2 Álgebra
Um conjunto abstrato G (não necessariamente �nito) munido de uma operação �×�
é chamado grupo se G é fechado com relação a essa operação, temos associatividade,
existe elemento neutro em G e todo elemento admite inverso em G. Se, além disso, a
operação em G é comutativa, dizemos que G é um grupo abeliano.
Exemplo 1.2.1. Os conjuntos Zn são grupos abelianos com relação a operação de soma
induzida pelos inteiros. O elemento neutro é 0 ∈ Zn, a classe dos múltiplos inteiros de
n. Além disso, se denotarmos por Z∗n o subconjunto de Zn formado apenas pelas classes
de números relativamente primos com n, podemos mostrar que Z∗n é um grupo abeliano
com relação a operação de produto induzida pelos inteiros e que Z∗n possui exatamente
ϕ(n) elementos.
Exemplo 1.2.2. O conjunto R∗ dos números reais não nulos com a operação de produto
é também um grupo, mostrando que os grupos não são necessariamente �nitos.
No caso em que G é �nito, de�nimos a ordem de G como sendo o número de
elementos de G, isto é, |G|.
Se (G, ·) é um grupo, um conjunto H ⊆ G que é também grupo com a mesma
operação é chamado de subgrupo de G. Escrevemos H ≤ G. Em particular o conjunto
formado apenas pelo elemento neutro de G e o próprio G são subgrupos de G, ou seja,
{e}, G ≤ G. O teorema a seguir, devido a Lagrange, relaciona as ordens de subgrupos
num grupo �nito:
Teorema 1.2.3 (Lagrange). Se G é um grupo �nito e H ≤ G, então |H| divide |G|.
12
Um importante conceito na teoria de grupos é o de geradores. Dado um conjunto
S ⊆ G, o menor subgrupo H ≤ G que contém S é chamado o grupo gerado por S.
Escrevemos H = 〈S〉 e dizemos que S gera H. Se o grupo G é gerado por apenas um
elemento, isto é, G = 〈a〉, dizemos que G é cíclico. Facilmente construímos grupos
cíclicos: dado g ∈ G, o subgrupo H = 〈g〉 = {gk; k ∈ N} é cíclico. Em particular, como
vale a associatividade, todo grupo cíclico é abeliano.
Exemplo 1.2.4. A classe do número 1 em Zn, 1, é sempre um gerador do grupo
(Zn,+). Em particular (Zn,+) é um grupo cíclico. No caso de Z∗n, geradores são
equivalentes a raízes primitivas módulo n pois 〈a〉 = {ak (mod n), k ≥ 0}.
Dado G um grupo �nito e g ∈ G, dizemos que |〈g〉| é a ordem de g e denotamos
por ord g. No caso de (Z∗n, ·), as de�nições de ordem num grupo e ordem módulo n
coincidem. Como consequência direta do Teorema de Lagrange, temos o seguinte:
Corolário 1.2.5. Se G é um grupo �nito, então ord g divide |G| para todo g ∈ G.
Visto a noção de grupos, podemos de�nir anéis (com unidade), que são conjuntos A
munidos de duas operações +,× tais que (A,+) é um grupo abeliano e (A,×) possui
todos os axiomas de grupo, exceto o de inverso. Além disto, se cumpre a propriedade
distributiva a× (b+ c) = a× b+ a× c.
Exemplo 1.2.6. Os conjuntos (Zn,+,×) são anéis com as operações de soma e produto
induzidas de Z.
1.3 Corpos
Fortemente relacionados aos grupos no universo algébrico, temos os corpos, que são
conjuntos K munidos de duas operações +,× tais que
(K,+), (K∗,×)
são grupos abelianos, onde K∗ = K \ {0} e 0 ∈ K é o elemento neutro com relação a
primeira operação. Corpos são casos particulares de anéis. Se K é um corpo e L ⊆ K é
13
um corpo com as mesmas operações, dizemos que L é um subcorpo de K e escrevemos
L ⊆ K.
Exemplo 1.3.1. O conjunto R dos números reais é um corpo com relação a soma e
produto usuais e Q, o conjunto dos números racionais, é um subcorpo de R.
Exemplo 1.3.2. Se p é primo, então todo inteiro positivo menor que p é relativamente
primo com p e assim Z∗p = Zp\{0}. Em particular Zp é um corpo com a soma e produto
induzido dos inteiros.
Sendo 1 ∈ K o elemento neutro de K com relação ao produto, por abuso de notação,
escreveremos n = 1 + · · · + 1 onde a soma possui n > 0 parcelas. Se nenhuma destas
somas for igual a 0, o elemento neutro da adição, dizemos que K possui característica
0. Entretanto, se existe p > 0 tal que a soma p = 1 + · · · + 1 é igual a 0, e se p é o
menor inteiro positivo com esta propriedade, dizemos que K possui característica p.
Exemplo 1.3.3. O corpo dos números reais R possui característica 0 e os corpos Zppossuem característica p.
Se K possui característica zero, os elementos 1, 1 + 1, 1 + 1 + 1, . . . devem ser todos
distintos e assim K deve ser in�nito. Em particular, se K é �nito, então K possui
característica p > 0. No caso dos inteiros módulo p, vimos que sua característica é p,
um número primo. Vejamos que isso não é uma particularidade desses corpos:
Teorema 1.3.4. A característica de um corpo K é 0 ou um número primo p.
Em corpos cuja característica é um número primo, de�nimos a seguinte função:
De�nição 1.3.5 (Aplicação de Frobenius). Seja K um corpo de característica p. De-
�nimos a aplicação de Frobenius de K como sendo a função
τp : K → Ka 7→ ap.
O teorema a seguir é basicamente uma generalização do Teorema de Fermat para
corpos de característica não nula.
14
Teorema 1.3.6. Se K é um corpo de característica p, então τp é aditiva, isto é,
(a+ b)p = ap + bp
para todos a, b ∈ K.
Usando a notação da De�nição 1.3.5, temos τp(ab) = (ab)p = τp(a)τp(b) e o Teorema
1.3.6 mostra que τp(a + b) = τp(a) + τp(b). Funções que preservam as estruturas das
operações de anéis são chamadas homomor�smos.
De�nição 1.3.7 (Homomor�smo). Sejam (K,+,×) e (L,⊕, ·) anéis, e f : K → L
uma função qualquer. Dizemos que f é um homor�smo se f(a + b) = f(a) ⊕ f(b) e
f(a× b) = f(a) · f(b), ou seja, f é compatível com as operações dos anéis.
De maneira semelhante podemos de�nir homomor�smo em grupos. Se além de
satisfazer as condições acima a função f admite um homomor�smo inverso, isto é, g
homomor�smo tal que g ◦f = idK e f ◦g = idL, então dizemos que f é um isomor�smo.
Exemplo 1.3.8. A função de�nida por f(x) = 3x é um isomor�smo de R em si mesmo.
Sua inversa é a função f(x) = x/3.
1.4 Polinômios sobre um corpo
Dado K um corpo e uma variável x, consideramos o conjunto S de todas as expressões
da forma a0 + a1x + · · · + anxn onde ai ∈ K e n é um inteiro não negativo. Cada
elemento de S é chamado de polinômio a uma variável. Podemos induzir naturalmente
as operações de K em S e, com estas operações, vemos que o conjunto S é um anel.
Dizemos que S é o anel de polinômios a uma variável sobre K e escrevemos S = K[x].
Dado f(x) = a0 + a1x+ · · ·+ anxn, dizemos que os elementos ai são os coe�cientes de
f(x) e n é o grau de f(x) se n > 0 ou n = 0 e a0 6= 0. Se f ≡ 0, por conveniência,
dizemos que o seu grau é −∞. O grau de f(x) é denotado por deg f(x).
Exemplo 1.4.1. Se K = Z2, então os elementos de K[x] so possuem coe�cientes 1 ou
0. Por exemplo, f(x) = x2 +x+ 1 e g(x) = x9 +x5 +x são elementos de K[x] de graus
2 e 9, respectivamente.
15
Como nos inteiros, temos uma noção de divisibilidade em K[x]: dizemos que f(x)
divide g(x) se existe h(x) ∈ K[x] tal que g(x) = f(x)h(x). Por exemplo, em Z2[x]
temos que x + 1 divide x2 + 1 pois x2 + 1 = (x + 1)(x + 1). Da mesma forma que
acontece nos números inteiros, temos a noção de �primos� no anel de polinômios.
De�nição 1.4.2 (Irredutibilidade). Dizemos que f(x) ∈ K[x] é irredutível se f(x) não
pode ser escrito como o produto de dois polinômios em K[x] de graus maiores que zero.
Por exemplo, os polinômios x+ a, onde a ∈ K[x] são sempre irredutíveis.
Observação 1.4.3. Irredutibilidade é um conceito que depende fortemente do corpo: o
polinômio x2 + 1 é irredutível sobre R porém x2 + 1 = (x+ i)(x− i) sobre C.
Dado um polinômio f(x) 6= 0 de grau n sobre um corpo K, podemos de�nir uma
relação ∼ como �zemos para construir Zm: g(x) ∼ h(x) se g(x) − h(x) é divisível por
f(x) em K[x]. Facilmente vemos que ∼ é uma relação de equivalência e, tomando um
representante de cada classe, temos o conjunto K[x]/(f(x)) de classes. Em geral os
representantes a serem tomados são
K[x]/(f(x)) = {a0 + · · ·+ an−1xn−1; ai ∈ K}.
Assim como no caso dos conjuntos Zn, podemos induzir as operações de K[x] em
R = K[x]/(f(x)) e, com estas, R é um anel. Dizemos que R é o anel quociente de
K[x] por f(x). Em particular, se K é �nito, então K[x]/f(x) possui exatamente |K|n
elementos.
Teorema 1.4.4. Se f(x) ∈ K[x] é um polinômio irredutível de grau n > 0, então
R = K[x]/(f(x)) é um corpo.
1.5 Corpos Finitos
O principal objeto algébrico de estudo neste trabalho são os corpos �nitos e, sobretudo,
polinômios sobre esses corpos. Em se tratando de corpos �nitos, temos uma classe
interessante de polinômios, os polinômios ciclotômicos.
16
De�nição 1.5.1. Seja n um inteiro positivo e K um corpo �nito. O n−ésimo polinômio
ciclotômico, denotado por Φn(x), é de�nido como segue: Φ1(x) = x − 1 e, se n > 1,
Φn(x) é dado recursivamente pela identidade
xn − 1 =∏d|n
Φd(x).
Exemplo 1.5.2. Como x2 − 1 = Φ1(x)Φ2(x) e x4 − 1 = Φ1(x)Φ2(x)Φ4(x), temos que
Φ2(x) = x+ 1 e Φ4(x) = x2 + 1. Mais geralmente, se p é primo, então
Φp(x) = xp−1 + · · ·+ x+ 1.
Estes polinômios podem ser de�nidos também sobre o corpo dos números reais. De
fato, estes possuem coe�cientes inteiros e são irredutíveis em Q. Mas no caso de corpos
�nitos não garantimos irredutibilidade. Por exemplo, Φ3(x) = x2 + x + 1 é irredutível
sobre Z2 mas em Z7 temos Φ3(x) = (x + 3)(x + 5). Como veremos na próxima seção,
temos um teorema que determina o número de fatores irredutíveis de qualquer polinômio
ciclotômico Φn(x) sobre um corpo �nito K.
Uma maneira alternativa de de�nir estes polinômios é a apartir de raízes da unidade.
De�nição 1.5.3. Seja K um corpo e a ∈ K, dizemos que a é uma raiz n−ésima da
unidade se an = 1. Se ad = 1 e d é o menor inteiro positivo com esta propriedade,
dizemos que a é uma raiz primitiva d-ésima da unidade.
Exemplo 1.5.4. Todos os elementos de Zp que possuem ordem r são raízes r−ésimas
da unidade.
De�nimos então, o r−ésimo polinômio ciclotômico sobre K como sendo
Φr(x) =∏ζ
(x− ζ)
onde o produto acima é sobre todos as raízes r−ésimas primitivas da unidade em K.
Para encerrar esta seção apresentamos dois teoremas que dizem a respeito da estru-
tura de um corpo �nito. O segundo, em particular, é a motivação deste trabalho.
17
Teorema 1.5.5. Seja K é um corpo �nito de característica p. Então existe n ≥ 1 tal
que |K| = pn.
Demonstração: Note que K possui Zp como subcorpo. Em particular, podemos
ver K como um espaço vetorial de dimensão n sobre o corpo Zp. Seja {v1, · · · , vn} uma
base desse espaço vetorial. Então K = {∑aivi; ai ∈ Zp} e claramente |K| = pn. �
Comumente escrevemos K = Fq, onde q = pn. Se n = 1 temos K = Zp, que pode
ser descrito pelo conjunto K = {0, 1, · · · , p−1}. O caso em que n > 1 os elementos são
mais abstratos e na prática, como em processos computacionais, identi�camos os corpos
Fq como um quociente Zp[x]/(f(x)) onde f(x) é um polinômio de grau n irredutível
sobre Zp. Esta técnica funciona pois quaisquer dois corpos �nitos que possuem a mesma
quantidade de elementos são isomorfos.
Teorema 1.5.6. Se K é um corpo �nito, então K∗ é um grupo cíclico.
Demonstração: Seja q = |K|. Segue da de�nição que K∗ é um grupo. Seja f(n)
o número de elementos de K∗ que possuem ordem n; claramente f(n) é uma função
aritmética. Pelo corolário 1.2.5 do Teorema de Lagrange, segue que a ordem de qualquer
elemento de K∗ é um divisor de |K∗| = q − 1 ≥ 1. Em particular, f(n) = 0 se n não
divide q − 1. Logo
q − 1 =∑n≥0
f(n) =∑n|q−1
f(n).
Usando a inversão de Möbius e o Teorema 1.1.6 temos
f(q − 1) =∑d|q−1
µ
(q − 1
d
)d = ϕ(q − 1).
Em particular f(q − 1) > 0 e assim existe a ∈ K∗ tal que |〈a〉| = q − 1 = |K∗|. Como
〈a〉 ≤ K∗, segue que K∗ = 〈a〉, isto é, K∗ é cíclico. �
Visto o teorema acima, é natural nos questionarmos se existe uma maneira de de-
terminar um gerador de K∗. Por exemplo, se K = Zp (note que |Z∗p| = p − 1). Se
soubermos fatorar p− 1 = pα11 · · · p
αkk e encontrarmos elementos θj de ordem p
αjj , o ele-
mento θ =∏k
i=1 θi possui ordem p− 1, logo é um gerador. Mas a fatoração de números
é um problema difícil.
18
Construir, com e�ciência, um gerador de K∗ é um problema difícil na teoria compu-
tacional de corpos �nitos. Por essa razão nos questionamos algo mais simples: encontrar
um elemento de ordem multiplicativa alta. Elementos de ordem alta são úteis em di-
versas aplicações, incluindo criptogra�a, teoria de códigos e combinatória.
Os próximos dois capítulos deste texto são dedicados ao estudo dessa questão. Em
cada capítulo estudaremos o problema em um corpo quociente Fq[x]/(f(x)): no primeiro
teremos f(x) = Φr(x) e no segundo f(x) = xp−x−a ∈ Fp[x] onde p é a característica de
Fq. Em ambos os casos, encontraremos elementos de ordem alta mas não calcularemos
exatamente suas ordens; de fato, exibiremos cotas inferiores para essas ordens.
19
Capítulo 2
Extensões Ciclotômicas
Neste capítulo vamos considerar a situação em que Φr(x), o r−ésimo polinômio ciclotô-
mico, é irredutível sobre Fq, onde q = pn é a potência de um primo ímpar. Desta
forma, o quociente Fq[x]/Φr(x) é um corpo. Nós encontraremos cotas inferiores para os
elementos da forma θe(θf + a) (e similares) onde θ é a classe x no corpo quociente, isto
é,
θ ≡ x (mod Φr(x)).
Para tanto, precisaremos estudar a irredutibilidade dos polinômios ciclotômicos num
corpo �nito.
2.1 Polinômios Ciclotômicos
Como já observado no primeiro capítulo, existe um interessante resultado que determina
o número de fatores irredutíveis dos polinômios Φr(x), apresentado a seguir:
Teorema 2.1.1. Seja d um inteiro postivo tal que mdc(d, q) = 1. Então Φd(x) se
decompõe em exatamente ϕ(d)/t polinômios mônicos e irredutíveis de grau t, onde t =
ordd q.
Vamos demonstrar este teorema com o auxílio de um lema e, antes disso, precisamos
de�nir o expoente de um polinômio.
De�nição 2.1.2. Seja f(x) ∈ Fq[x] um polinômio irredutível tal que f(0) 6= 0. Então
20
existe um inteiro positivo d tal que f(x) divide xd−1. O menor d com essa propriedade
é chamado o expoente de f(x).
O lema a seguir é um resultado clássico sobre a estruturas das raízes de um polinômio
f(x) em um corpo �nito.
Lema 2.1.3. Sejam f(x) ∈ Fq[x] um polinômio mônico irredutível de grau m, expoente
d, e α uma raiz qualquer de f(x). Então
f(x) =m∏i=1
(x− αqi) e m = ordd q.
Demonstração: Seja α uma raiz qualquer de f(x) e u = ordd q. Observe que
α ∈ Fqm é uma raiz primitiva d−ésima da unidade e seja
g(x) :=u∏i=1
(x− αqi).
Uma vez que o polinômio g(x) é invariante pela aplicação do tipo Frobenius
τ : Fqm → Fqm ,β 7→ βq
segue que g(x) ∈ Fq[x]. Além disso, temos que τ j(f(x)) = f(x) para todos j e então
concluimos que os elementos αqjsão também raízes de f(x). Em particular temos que
f(x) é divisível por g(x) em Fq[x] e como f(x) é irredutível, por hipótese, segue que
f(x) = g(x) e m = deg f(x) = deg g(x) = ordd q. �
Demonstração do Teorema 3.2.1: Seja Φr(x) = m1(x) · · ·ms(x) a fatoração de Φr(x)
em Fq[x] onde cada termo mi(x) é mônico e de grau positivo. Por de�nição, Φr(x)
possui expoente r e em particular todas as suas raízes são raízes r−ésimas primitivas
da unidade. Logo todas as raízes de cada mi(x) são também r−ésimas primitivas. Em
particular, cada mi tem expoente r. Sendo t = ordr q, segue do lema 2.1.3 que cada
polinômio mi possui grau t. Comparando então os graus na igualdade
Φr(x) = m1(x) · · ·ms(x),
concluimos que ϕ(r) = st e então s = ϕ(r)t. Ou seja, Φr(x) se fatora em ϕ(r)/t fatores
mônicos irredutíveis de grau t, onde t = ordr q. �
21
Em particular, este teorema nos dá um critério de irredutibilidade para os polinômios
ciclotômicos em corpos �nitos
Corolário 2.1.4. O polinômio Φr(x) ∈ Fq é irredutível se, e somente se, q é raiz
primitiva módulo r.
2.2 Elementos de ordem alta em extensões ciclotômi-cas
Como vimos no primeiro capítulo, apenas algumas classes de números admitem raízes
primitivas. No nosso caso, consideraremos r primo e q uma raiz primitiva módulo r.
Em particular Fq[x]/Φr(x) é um corpo e de fato coincide com Fq(θ), o menor corpo que
contém Fq e θ. Como deg Φr(x) = r − 1, temos Fq(θ) = Fqr−1 .
Para enunciarmos o principal resultado deste capítulo, precisamos de alguns concei-
tos em Teoria de Partições.
De�nição 2.2.1 (Partição). Dado um inteiro positivo n, uma partição de n é uma
n−upla de inteiros não negativos (a1, · · · , an) tais que
n∑i=1
iai = n.
Os números 1, 2, · · · , n são chamados de partes.
Exemplo 2.2.2. As partições do número 3 são (1, 1, 0), (3, 0, 0) e (0, 0, 1) e, na primeira
tripla, cada parte aparece no máximo 1 vez.
Além disso, denotaremos por U(n) o número de partições de n e U(n, d) o número
de partições de n onde cada parte não aparece mais que d vezes, isto é, ai ≤ d para
todos 1 ≤ i ≤ n. Finalmente, seja Q(n, d) o número de partições de n tais que aj = 0
se j é divisível por d.
Exemplo 2.2.3. Temos U(3) = 3, U(3, 2) = Q(3, 3) = 2.
O principal resultado deste capítulo é o seguinte
22
Teorema 2.2.4. Sejam q uma potência de um primo ímpar p, r um primo ímpar tal
que mdc(q, r) = 1 e q é raiz primitiva módulo r. Sejam ainda e um inteiro qualquer, f
um inteiro relativamente primo com r e a ∈ F∗q. Então
(a) o elemento θe(θf + a) tem ordem maior ou igual a U(r − 2, p− 1);
(b) o elemento (θ−f + a)(θf + a) para a2 6= −1 tem ordem maior ou igual a U((r −
3)/2, p− 1) e esta ordem divide q(r−1)/2 − 1;
(c) o elemento θ−2e(θ−f +a)(θf +a)−1 para a2 6= 1 tem ordem maior ou igual a U((r−
3)/2, p− 1) e esta ordem divide q(r−1)/2 + 1;
(d) o elemento θe(θf + a) para a2 6= ±1 tem ordem maior ou igual a
[U((r − 3)/2, p− 1)2/2].
Demonstração:
(a) Primeiro, como a ∈ Fq, temos aq = a e pelo Teorema 1.3.6, segue que (θ + a)q =
θq+a. Indutivamente, segue que (θ+a)qm
= θqm
+a. Agora, notemos que a aplicação
de Frobenius θ 7→ θp é um automor�smo em Fq(θ). Como q é raiz primitiva módulo
r, a congruência f ≡ qm (mod r) tem solução para qualquer f coprimo com r. Uma
vez que q é uma potência de p, o mapa θ 7→ θqmé uma potência do automor�smo
de Frobenius, sendo também um automor�smo em Fq(θ). Note então que este
último automor�smo leva θg(θ + a) em θe(θf + a), onde g ≡ ef−1 (mod r) e assim
estes elementos possuem a mesma ordem. Desta forma, é su�ciente provarmos que
qualquer elemento da forma θg(θ + a), onde g é um inteiro qualquer, possui ordem
maior ou igual a U(r − 2, p− 1).
Como q é raiz primitiva módulo r, para qualquer j = 1, · · · , r−2, existe um inteiro
αj tal que qαj ≡ j (mod r). Além disso, as potências
(θg(θ + a))qαj
= θgqαj
(θqαj
+ a) = θgj(θj + a)
23
pertencem todas ao grupo G = 〈θg(θ + a)〉. Seja então T1 o conjunto de partições
(a1, . . . , ar−2) de r − 2 onde cada parte não aparece mais que p − 1 vezes. A cada
uma dessas partições nós associamos um produto
r−2∏j=1
[θgj(θj + a)]aj = θg(r−2)r−2∏j=1
(θj + a)aj
que também pertencem ao grupo G. Nós mostraremos que partições distintas estão
associadas a produtos distintos.
Suponha, por contradição que as partições (a1, . . . , ar−2) e (b1, . . . , br−2) de T1 são
distinstas mas seus produtos associados são iguais, isto é:
θg(r−2)r−2∏j=1
(θj + a)aj = θg(r−2)r−2∏j=1
(θj + a)bj . (2.1)
Como Φr(x) é o polinômo minimal de θ sobre o corpo Fq[x], a igualdade 2.1 implica
emr−2∏j=1
(xj + a)aj ≡r−2∏j=1
(xj + a)bj (mod Φr(x)). (2.2)
Em outras palavras, a diferença D(x) dos dois polinômios acima é divisível por
Φr(x) em Fq. Uma vez que cada um desses polinômios possui grau r− 2 < r− 1 =
deg Φr(x), devemos ter D(x) ≡ 0, isto é
r−2∏j=1
(xj + a)aj =r−2∏j=1
(xj + a)bj . (2.3)
Seja k o menor índice para o qual ak 6= bk e, por exemplo, suponhamos ak > bk.
Após simpli�carmos os termos iguais dos dois lados da equação 2.3, nós obtemos a
seguinte igualdade
(xk + a)ak−bkr−2∏j=k+1
(xj + a)aj =r−2∏j=k+1
(xj + a)bj . (2.4)
Seja B o coe�ciente independente de x em∏r−2
j=k+1(xj + a)aj . Então o termo
(ak − bk)aak−bk−1Bxk
24
aparece no lado esquerdo de 2.4 como coe�ciente da menor potência positiva de x.
Como 0 ≤ bk < ak ≤ p − 1 e a,B 6= 0, este termo é não nulo. Porém, note que
qualquer potência positiva de x que aparece no lado direito de 2.4 possui expoente
ao menos k+1. Isso implica que a igualdade 2.4 não pode ocorrer, uma contradição.
Concluimos então que partições distintas correspondem a produtos distintos. Em
particular temos que |G| ≥ |T1| = U(r − 2, p− 1) e o resultado segue.
(b) A primeira parte da demonstração desse item é fortemente semelhante a do item
(a) e, por esta razão, a omitiremos. Vamos apenas demonstrar que a ordem de
elementos da forma (θ−f + a)(θf + a) é um divisor de q(r−1)/2 + 1. Para tanto, note
que como q é raiz primitiva módulo r, valem as seguintes congruências:
q(r−1)/2 ≡ −1 (mod r) e qr−1 ≡ 1 (mod r).
Então, notamos que
[θe(θf + a)]q(r−1)/2+1 = θe(q
(r−1)/2+1)(θfq(r−1)/2
+ a)(θf + a) = (θ−f + a)(θf + a).
Tomando a (q(r−1)/2 − 1)−ésima potência dos dois lados da equação acima e lem-
brando que αqr−1−1 = 1 para todo α ∈ Fq(θ) = Fqr−1 , obtemos
[(θ−f + a)(θf + a)]q(r−1)/2−1 = 1.
Em particular, a ordem de (θ−f + a)(θf + a) divide q(r−1)/2 − 1.
(c) Novamente, a primeira parte da demonstração desse item é semelhante a do item
(a) e por esta razão a omitiremos. A segunda parte é semelhante a demonstração
feita em (b). Observe que
q(r−1) ± 1 ≡ −1± 1 (mod r)
e portanto temos a seguinte igualdade
[θe(θf + a)]q(r−1)/2−1 = θe(q
(r−1)/2−1)(θfq(r−1)/2
+ a)(θf + a)−1
= θ−2e(θ−f + a)(θf + a)−1.
25
Tomando a (q(r−1)/2 − 1)−ésima potência dos dois lados da equação acima e lem-
brando que αqr−1−1 = 1 para todo α ∈ Fq(θ) = Fqr−1 , obtemos
[θ−2e(θ−f + a)(θf + a)−1]q(r−1)/2+1 = 1.
Em particular, a ordem de θ−2e(θ−f + a)(θf + a)−1 divide q(r−1)/2 + 1.
(d) Lembremos que a ordem de F∗qr−1 é qr−1 − 1 = (q(r−1)/2 − 1)(q(r−1)/2 + 1) e que
os fatores q(r−1)/2 ± 1 possuem máximo divisor comum 2. Considere o subgrupo
gerado por θe(θf + a). Esse grupo possui dois subgrupos interessantes: o primeiro
é gerado por
ω1 = [θe(θf + a)]q(r−1)/2+1 = (θ−f + a)(θf + a)
e o segundo é gerado por
ω2 = [θe(θf + a)]q(r−1)/2−1 = θ−2e(θ−f + a)(θf + a)−1.
De acordo com o item (b), a ordem de ω1 divide q(r−1)/2 − 1 e, de acordo com o
item (c), a ordem de ω2 divide q(r−1)/2 + 1.
Seja ω o elemento construído da seguinte maneira:
ω =
{ω21ω2, se ν2(q(r−1)/2 − 1) = 1
ω1ω22, se ν2(q(r−1)/2 + 1) = 1
onde ν2(n) denota o maior expoente t para o qual se tem 2t|n. Se ν2(q(r−1)/2+1) = 1,
temos que a ordem de ω21 é um divisor de (q(r−1)/2 − 1)/2, um número ímpar.
Portanto, nesse caso, 〈ω〉 = 〈ω21〉 × 〈ω2〉. De maneira análoga temos o outro caso.
De qualquer forma, a ordem de ω é o produto das ordens de ω1, ω2, dividido por
2. Segue dos itens (b) e (c) que a ordem de ω e, consequentemente a ordem de
θe(θ + a) (para a2 6= ±1), é maior ou igual a
[U((r − 3)/2, p− 1)2/2].
�
26
Na próxima seção, usando alguns resultados de Teoria de Partições, teremos estima-
tivas para os números U(n, p). Por não se tratar do objetivo deste trabalho, omitiremos
esses resultados (e suas demonstrações). Apenas aplicaremos esses resultados para es-
timarmos as ordens dos elementos que estudamos.
2.3 Limitantes inferiores explícitos, em função de p er
Faremos algumas estimativas das funções relacionadas a partições, apresentadas no
começo desta seção, para dar cotas inferiores explícitas das ordens de certos elementos
em Fq(θ). Para mais detalhes, ver [2] e [7]. De acordo com [2] (Corolário 1.3), temos a
seguinte relação entre as funções U(a, b) e Q(a, b) de�nidas anteriormente
U(n, d− 1) = Q(n, d),
isto é, o número de partições não contendo d partes iguais é igual ao número de partições
de n onde nenhuma parte é divisível por d. Ainda, cotas inferiores explícitas de Q(n, d)
no caso em que n ≥ d2 são dadas em [7]. Se n < d, então claramente U(n, d−1) = U(n)
e em [7] encontramos cotas inferiores explícitas de U(n) para todo inteiro positivo n.
Usando essas estimativas, encontramos cotas inferiores para a ordem multiplicativa dos
elementos estudados. Em todas as estimativas, usaremos a aproximação π√
2/3 ≈ 2.5.
Dividimos essencialmente em dois casos:
Caso 1. r é grande quando comparado a p.
Neste caso, o seguinte corolário vale
Corolário 2.3.1. (a) Se r ≥ p2 + 2, então θe(θf + a) possui ordem maior que(p(p− 1)
160(r − 2)
)√pexp
(2.5
√(r − 2)(p− 1)
p
)
(b) Se r ≥ 2p2 + 3 e a2 6= ±1, então θe(θf + a) possui ordem maior que
1
2
(p(p− 1)
80(r − 3)
)2√p
exp
(2.5
√2(r − 3)(p− 1)
p
)
27
Caso 2. r é pequeno, comparado a p, ou possui a mesma grandeza que p. Neste
caso, o seguinte corolário vale
Corolário 2.3.2. (a) Se r < p+ 2, então θe(θf + a) possui ordem maior que
exp(2.5√r − 2)
13(r − 2)
(b) Se r < 2p+ 3 e a2 6= ±1, então θe(θf + a) possui ordem maior que
2 exp(2.5√
2(r − 3))
169(r − 3)2
A demonstração dos corolários acima pode ser encontrada em [8].
2.4 Alguns Exemplos Numéricos
Daremos alguns poucos exemplos numéricos de cotas inferiores para as ordens dos
elementos anteriormente considerados.
Sejam b1, b2, respectivamente, os limitantes inferiores das ordens dos elementos
θe(θf + a) e θe(θf + a) (para a2 6= ±1) . Como os bi's possuem alta ordem de grandeza,
usaremos o logaritmo na base 2. Lembremos que o grupo multiplicativo F∗qr−1 possui
qr−1−1 elementos. Os logaritmos de qr−1−1, b1, b2 nos exemplos 1-5, calculados com o
auxílio de um computador, são dados na tabela a seguir. Em todos esses exemplos, r é
primo, q = p é primo e raiz primitiva (mod r), e consideramos o corpo Fqr−1 . Estamos
no caso 1 nos exemplos 1−4, pois r ≥ 2p2 +3, e no caso 2 no exemplo 5, pois r < p+2.
Exemplo q r log2(qr−1 − 1) log2 b1 log2 b2
1 3 401 633.99 35.65 -2 5 257 594.41 26.93 -3 11 419 1446.04 39.56 43.534 11 1009 3847.10 74.25 90.145 107 97 647.18 24.72 28.71
Os vazios acima, nas duas primeiras linhas, são explicados pelo seguinte fato: não
existe a 6= 0 tal que a2 6≡ ±1 (mod 5).
Enfatizamos que todos os dados tabelados acima foram retirados de [8].
28
Capítulo 3
Extensões de Artin-Schreier
Neste capítulo vamos considerar a situação em que f(x) = xp−x−a é irredutível sobre
Fq[x], onde p é característica de Fq (q = pn) e a ∈ Fp. Os polinômos f(x) são chamados
de polinômios de Artin-Schreier. Em particular, se f(x) = xp − x − a é irredutível,
então o quociente Fq[x]/〈f〉 é um corpo, chamado a extensão de Artin-Schreier. Nós
encontraremos uma cota inferior para a ordem dos elementos da forma θ+ b onde θ é a
classe de x no corpo quociente Fq[x]/(xp − x− a) e b ∈ Fq satisfaz uma certa condição
especial. Nós provaremos também que a probabilidade de um elemento aleatório em Fqsatisfazer tal condição é próxima de 1.
3.1 Polinômios de Artin-Schreier sobre Fq
Existem poucos resultados que garantem a irredutibilidade de uma classe de polinômios
num corpo �nito. Um deles está contido no seguinte:
Lema 3.1.1. O polinômio xp− x− a ∈ Fq[x] é irredutível se, e somente se, não possui
nenhuma raiz em Fq.
Demonstração: Se xp − x − a ∈ Fq[x] é irredutível, claramente não possui raízes
em Fq. Reciprocamente, suponha que xp− x− a não possui nenhuma raiz em Fq e seja
m1(x) · · ·mt(x) sua fatoração em irredutíveis em Fq[x], deg(mi(x)) = di > 1.
Sendo αi uma raiz de mi(x), Fq(αi) é uma extensão de grau di sobre Fq. Em
29
particular, αi é raíz de xp − x− a e como
(αi + k)p − (αi + k)− a = αpi − αi − a = 0,
temos que αi + k ∈ Fq(αi) são todas as raízes de xp − x − a, onde 0 ≤ k ≤ p − 1.
Tomando αj raiz de mj(x), como observado, temos que αj ∈ Fq(αi) e αi ∈ Fq(αj), e
portanto Fq(αi) = Fq(αj). Logo di = dj para todos i, j. Comparando os graus em
xp − x − a = m1(x) · · ·mt(x), temos p = td1 e como d1 > 1, segue que d1 = p, t = 1,
isto é, xp − x− a é irredutível sobre Fq[x].
Em particular, temos o seguinte:
Corolário 3.1.2. Seja n inteiro positivo não divisível por p e a ∈ F∗p. Então o polinômio
f(x) = xp − x− a é irredutível em Fq[x].
Demonstração: Pelo Toerema 2.25 em [6], temos que a = bp− b para algum b ∈ Fqse, e somente se, TrFq |Fp(a) = a+ ap + · · ·+ ap
n−1 6= 0. Mas, uma vez que a ∈ Fp, segue
que api
= a e assim TrFq |Fp(a) = na 6= 0 pois n não é divisível por p e a 6= 0.
3.2 Extensões de Artin-Schreier
O principal resultado deste capítulo é o seguinte:
Teorema 3.2.1. Seja xp − x − a um polinômio irredutível em Fq[x], onde q = pn,
mdc(n, p) = 1 e a ∈ Fp. Se θ é a classe de x na extensão de Artin-Schreier Fq/(xp −
x − a) e b ∈ Fq satisfaz b 6∈ Fpm, para todo divisor próprio de n, então a ordem
multiplicativa do elemento θ + b é ao menos
1
π(p− 1)
√2n+ 1
2n− 1
((2n+ 1)2n+1
(2n− 1)2n−1
)(p−1)/2
exp
(− 1
3(p− 1)
4n2
4n2 − 1
).
Observe que em [9], Popovych considereou o caso q = p, obtendo a cota inferior 4p
para cada elemento θ+ b. Em particular nosso resultado melhora o de Popovych, como
mostraremos no Corolário 3.2.8.
30
Nesta seção, xp − x − a é um polinômio irredutível sobre Fq[x], onde q = pn,
mdc(n, p) = 1 e a ∈ Fp. Além disso, θ denota a classe de x na extensão de Artin-
Schreier K := Fq/(xp − x− a) e b ∈ Fq \ An, onde
An =⋃
m|n,m<n
Fpm .
Antes de estimarmos a ordem do elemento θ + b, vejamos qual é a densidade dos
elementos de Fq que satisfazem a condição que colocamos sobre b.
Teorema 3.2.2. O número de elementos de Fq \An é∑d|n
pdµ(n/d), onde µ é a função
de Möbius. Além disso, escolhendo-se aleatoriamente um elemento de Fq, a probabili-
dade de que este não pertença a An é maior que 1 − logr n
q1−1/r , onde r é o menor fator
primo na fatoração de n.
Demonstração: De�na a função g : N∗ → N por g(m) = |Fpm \ Am|. Observe
que g(m) é igual ao número elementos de Fpm que não pertencem a nenhum subcorpo
menor e então temos que ∑d|m
g(d) = |Fpm| = pm.
Pela fórmula da inversão de Mobius, segue que
g(m) =∑d|m
g(d)µ(m/d).
Note que não é simples de estimar a cardinalidade de An pela fórmula acima. Vamos
então usar uma outra ideia para dar uma cota superior para |An|: suponha que n =
pα11 · · · p
αkk é a fatoração de n em primos, onde p1 < ... < pn. Para cada d divisor próprio
de n, existe primo pi, (1 ≤ i ≤ k), tal que d divide npi. Em particular An ⊆
⋃1≤i≤k Fpni ,
onde ni = npi
e assim
|An| ≤
∣∣∣∣∣ ⋃1≤i≤k
Fpni
∣∣∣∣∣ ≤ ∑1≤i≤k
pni ≤ (logp1 n)pn1 = q1/p1 logp1 n.
Portanto, escolhendo-se aleatoriamente um elemento de Fq, a probabilidade de que este
não pertença a An é
1− |An|q≥ 1−
logp1 n
q(1−1/p1).
31
�
O teorema acima mostra que a maior parte dos elementos de Fq satisfazem a condição
que colocamos sobre b.
Para a demonstração do nosso resultado principal, precisaremos dos seguintes lemas
técnicos:
Lema 3.2.3. Sejam i, j inteiros tais que 0 ≤ i, j ≤ np − 1 e b ∈ Fq \ An. Se i 6= j,
então ai+ bpi 6= aj + bp
j.
Demonstração: Sejam i0, j0, respectivamente, os restos de i, j quando dividos
por n. Supomos, sem perda de generalidade, que i0 ≥ j0. Como b ∈ Fq, segue que
bpn
= b e consequentemente bpi
= bpi0 , bp
j= bp
j0 . Suponhamos, por contradição, que
ai+ bpi
= aj + bpje assim
a(j − i) = bpi0 − bpj0 (3.1)
Temos dois casos a considerar:
(a) i0 = j0; isto é, |i − j| = nk para algum k > 0. Como 0 ≤ i, j ≤ np − 1, segue que
|i− j| < np e assim 0 < k < p. Voltando a equação 3.1 , teremos
0 = |bpi0 − bpj0 | = a|i− j| = ank
Como a 6= 0, segue que nk = 0, isto é, nk é divisível por p. Uma vez que mdc(p, n) =
1, então k é divisível por p. Temos uma contradição pois 0 < k < p.
(b) 0 < i0 − j0 < n; tomando a pn−j0−ésima potência da equação 3.1 , teremos
a(j − i) = bpn−i0+j0 − bpn = bp
n−i0+j0 − b.
Dessa forma, existe 0 ≤ t < n tal que bp− b ∈ Fpt ou, equivalentemente, bpt+1 − b =
(bpt − b)p = bp
t − b. A última igualdade pode ser reescrita como bp − b = (bp − b)t,
ou seja, bp − b ∈ Fpt . Notemos então que se α ∈ Fpt é raiz de xp − x − a, então
α + i, 0 ≤ i ≤ p − 1 são todas as raízes deste polinômio e se encontram em Fpt .
Logo xp − x − a possui 0 ou p raízes em Fpt . Em particular, como b é raiz de
32
xp − x− (bp − b), segue que se b 6∈ Fpt então xp − x− (bp − b) não possui raízes em
Fpt se e somente se xp − x− (bp − b) é irredutível sobre Fpt , pelo Lema 3.1.1 .
De qualquer maneira, deve valer b ∈ Fppt . Como b ∈ Fq = Fpn e mdc(n, p) = 1, segue
que b também pertence a
Fpn ∩ Fppt = Fpmdc(n,pt) = Fpmdc(n,t) ,
onde mdc(t, n) < n é um divisor próprio de n, o que contradiz a escolha de b 6∈ An. �
Enfatizamos que para a demonstração do lema acima, a condição que colocamos
sobre b é essencial.
Lema 3.2.4. Sejam s, t inteiros não negativos tais que 0 ≤ s + t ≤ p − 1 e Is,t o
subconjunto de Znp, tal que ~r := (r0, . . . , rnp−1) ∈ Is,t se, e somente se∑0≤j≤np−1,rj<0
(−rj) ≤ t e∑
0≤j≤np−1,rj>0
rj ≤ s.
Então a funçãoΛ : Is,t → G
~r 7→∏
0≤j≤np−1
(θ + b)rjpj
,
onde G = 〈θ + b〉 ≤ K∗, é uma função injetiva.
Demonstração: Uma vez que θ é a classe de x na extensão de Artin-Schreier
K := Fq[x]/(xp− x− a), então cada elemento de K tem uma representação única como
h(θ), onde h é um polinômio em Fq de grau no máximo p− 1. Além disso, θp = θ + a
e assim, para todo inteiro j ≥ 0
θpj+1
= (θp)pj
= (θ + a)pj
= θpj
+ a
e assim segue indutivamente que
θpj
= θ + ja, para todo j ≥ 0.
Dessa forma, dado que ~r = (a0, ..., anp−1) ∈ Is,t, temos
Λ(~r) =∏
0≤j≤np−1
(θ + b)rjpj
=∏
0≤j≤np−1
(θ + aj + bpj
)rj .
33
Suponhamos agora que ~s = (s0, ..., snp−1) é outro elemento de Is,t tal que Λ(~r) = Λ(~s),
isto é ∏0≤j≤np−1
(θ + aj + bpj
)rj =∏
0≤j≤np−1
(θ + aj + bpj
)sj .
Então os polinômios
F (x) =∏
0≤j≤np−1,rj>0
(x+ aj + bpj
)rj∏
0≤j≤np−1,sj>0
(x+ aj + bpj
)−sj
e
G(x) =∏
0≤j≤np−1,sj>0
(x+ aj + bpj
)sj∏
0≤j≤np−1,rj<0
(x+ aj + bpj
)−rj
são congruentes (mod xp − x− a).
Como deg(F ), deg(G) ≤ s + t ≤ p − 1, segue que F (x) = G(x). Além disso, pelo
Lema 3.2.3 , nós sabemos que x+ ai+ bpi 6= x+ aj+ bp
jpara todos 0 ≤ i < j ≤ np− 1.
Comparando os fatores lineares, temos ~r = ~s. �
Lema 3.2.5. Seja Is,t como no Lema 3.2.4. Então
|Is,t| =t∑
j=0
s∑i=0
(np
i
)(np− ij
)(s
i
)(t
j
)(3.2)
e
max0≤s+t≤p−1
|Is,t| ≥(
np
(p− 1)/2
)(np+ (p− 1)/2
(p− 1)/2
)(3.3)
Demonstração: Observe que, para cada 0 ≤ j ≤ t e 0 ≤ i ≤ s, podemos selecionar
j coordenadas de ~r para serem negativas e i coordenadas para serem positivas e esta
escolha pode ser feita de(npi
)(np−ij
)modos. Além disso, o número de soluções positivas
de x1 + · · · + xi ≤ s e x1 + · · · + xj ≤ t são, respectivamente,(si
)e(tj
). Dessa forma,
para cada par (i, j), existem(npi
)(np−ij
)(si
)(tj
)vetores ~r com essa propriedade e então,
34
somando sobre todos os i e j, obtemos a igualdade 3.2. Por outro lado,
max0≤s+t≤p−1
|Is,t| = max0≤s+t≤p−1
s∑i=0
(s
i
)(np
i
)( t∑j=0
(np− ij
)(t
j
))
= max0≤s+t≤p−1
s∑i=0
(s
i
)(np
i
)(np+ t− i
t
)> max
0≤s+t≤p−1
(np+ t− s
t
) s∑i=0
(s
i
)(np
i
)= max
0≤s+t≤p−1
(np+ t− s
t
)(np+ s
s
)≥(
np
(p− 1)/2
)(np+ (p− 1)/2
(p− 1)/2
). �
O próximo (e último) lema nos dá uma cota inferior para números binomiais da
forma(rss
)onde r, s são inteiros positivos:
Lema 3.2.6. Dados r, s inteiros positivos, temos(rs
s
)>
√r
2π(r − 1)s·(
rr
(r − 1)r−1
)sexp
(−1
12s·(
1 +1
r(r − 1)
)).
A demonstração desse lema pode ser encontrada em [10].
Demonstração do Teorema 3.2.1: Pelo Lema 3.2.4 , sabemos que |〈θ + b〉| ≥ |Is,t|,
para todos os inteiros não negativos s, t tais que s+ t ≤ p− 1. Dessa forma, pelo Lema
3.2.5 , temos que
|〈θ + b〉| >(
np
(p− 1)/2
)(np+ (p− 1)/2
(p− 1)/2
)Utilizando a aproximação de binomiais do Lema 3.2.6, teremos(
np
(p− 1)/2
)>
(2n(p− 1)/2
(p− 1)/2
)(3.4)
>
√2n
π(2n− 1)(p− 1)·(
2n2n
(2n− 1)2n−1
)(p−1)/2
Θ(2n− 1)
e (np+ (p− 1)/2
(p− 1)/2
)>
((2n+ 1)(p− 1)/2
(p− 1)/2
)(3.5)
>
√2n+ 1
2n(p− 1)π·(
(2n+ 1)2n+1
2n2n
)(p−1)/2
Θ(2n)
35
onde Θ(t) = exp(− 1
6(p−1) ·(
1 + 1t(t+1)
)).
Finalmente, multiplicando os lados direitos de 3.4 e 3.5, e simpli�cando teremos:
|〈θ + b〉| > 1
(p− 1)π
√2n+ 1
2n− 1
((2n+ 1)2n+1
(2n− 1)2n−1
)(p−1)/2
exp
(− 1
3(p− 1)
(4n2
4n2 − 1
))como queremos.
Observação 3.2.7. A sequência an :=(2n+12n−1
) (2n−1)(p−1)+12 é uma sequência crescente
tal que a2 >√
53(2.1516)p−1 e lim
n→∞= ep−1. Então, para n ≥ 2, nós conseguimos uma
estimativa mais simples (porém mais fraca)
|〈θ + b〉| >√
5√3π(p− 1)
(2.1516(2n+ 1))p−1 exp
(− 1
3(p− 1)
(4n2
4n2 − 1
)).
No caso q = p (n = 1), temos o
Corolário 3.2.8. Sejam a, b elementos arbitrários de F∗p. Então a ordem multiplicativa
de θ + b em Fp[x]/(xp − x− a) é limitado inferiormente por
(3p− 1)(3√
3)p−1
3π(p2 − 1).
Demonstração: O polinômio xp − x − a é sempre irredutível em Fp[x] se a 6= 0
e a condição imposta sobre b é vazia. Além disso, fazendo n = 1 em 3.2, obtemos os
seguintes coe�cientes binomiais:(p
(p− 1)/2
)=
2p
p+ 1
(2(p− 1)/2
(p− 1)/2
)e
((3p− 1)/2
(p− 1)/2
)=
3p− 1
2p
(3(p− 1)/2
(p− 1)/2
)que podem ser limitados inferiormente usando o Lema 3.2.6.
3.3 Números de Bell
Seja [1, n] o conjunto formados pelos inteiros positivos até n.
De�nição 3.3.1. O n−ésimo número de Bell é o número de partições distintas do
conjunto [1, n] e B(0) = 1.
36
Por exemplo temos B(1) = 1 e B(2) = 2. O seguinte teorema nos dá a função
geradora da sequência B(n):
Teorema 3.3.2.∞∑n=0
B(n)xn = eex−1.
Seja p um número primo. Como o conjunto dos possíveis resíduos (mod p) é �nito,
a sequência B(n) (mod p) é periódica. Para cada primo p, denotaremos por bp o menor
período de B(n) (mod p). Seja também cp a ordem da classe θ de x na extensão de
Artin-Schreier Fp[x]/(xp − x− 1).
Conjectura 3.3.3. Para todo primo p temos
bp = cp =pp − 1
p− 1.
A conjectura é verdadeira para todos os primos p < 126 e alguns primos maio-
res. Entretanto, todas as veri�cações feitas são computacionais e requerem a fatoração
completa do número pp−1p−1 , que cresce rapidamente. Do ponto de vista teórico, existem
poucos resultados em direção para a veri�cação completa da conjectura. Para mais
informações, ver [5].
37
Referências Bibliográ�cas
[1] Agrawal, M., Kayal, N., Saxena, N., Primes is in P, Annals of Mathematics 160
(2004), 781-793.
[2] Andrews, G.E. The theory of partitions, Addison-Wesley, 1976.
[3] Brochero Martínez, F.E, Moreira, C. G.; et al., Teoria dos Números: Um passeio
com primos e outros números familiares pelo mundo inteiro, Rio de Janeiro, IMPA,
2011.
[4] Brochero Martínez, F.E., Reis, L., Elements of high order in Artin-Schreier exten-
sions of �nite �elds Fq, Finite Fields Appl. 41 (2016), 24�33
[5] Car, M., Gallardo, L., Rahavandrainy, O. and Vaserstein, L., About the period
of bell numbers modulo a prime, Bulletin of the Korean Mathematical Society 45
(2008), 43-155
[6] Lidl, R., Niederreiter, H., Finite Fields. Encyclopedia of Mathematics and Its
Applications, Vol 20, Addison-Wesley 1983.
[7] Maroti,A., On elementary lower bounds for the partition function, Integers 3
(2003), A10.
[8] Popovych, R., Elements of high order in �nite �elds of the form Fq[x]/Φr(x),
Finite Fields Appl. 18 (2012), 700-710.
[9] Popovych, R., Elements of high order in Artin-Schreier extensions of �nite �elds.
Mat. Stud. 39 (2013), 115-118
38
[10] Sasvári, Z.,Inequalities for binomial coe�cients. J. Math. Anal. Appl. 236 (1999),
223-226.
39