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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MORFOLÓGICAS Carolina Pontes Soares Efeitos da retirada de colesterol membranar sobre cardiomiócitos crescidos in vitro Dissertação apresentada a Pós-Graduação em Ciências Morfológicas do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre Orientadora: Cláudia dos Santos Mermelstein Março / 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MORFOLÓGICAS

Carolina Pontes Soares

Efeitos da retirada de colesterol membranar sobre

cardiomiócitos crescidos in vitro

Dissertação apresentada a Pós-Graduação em Ciências

Morfológicas do Instituto de Ciências Biomédicas da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos para obtenção do Título de Mestre

Orientadora: Cláudia dos Santos Mermelstein

Março / 2009

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Efeitos da retirada de colesterol membranar sobre

cardiomiócitos crescidos in vitro

CAROLINA PONTES SOARES

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em

Ciências Morfológicas do Instituto de Ciências Biomédicas da

Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos

necessários à obtenção do Grau de Mestre em Ciências.

Banca Examinadora composta pelos professores:

___________________________ Profa. Tecia M. Ulisses de Carvalho - IBCCF / UFRJ

___________________________ Profa. Maria Isabel Doria Rossi - ICB / UFRJ

___________________________ Profa. Silvana Allodi - ICB / UFRJ

___________________________ Profa. Ana Maria B. Martinez - ICB / UFRJ - revisora

___________________________ Prof. Marcelo E. Lamas - IBCCF / UFRJ - suplente

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Ficha Catalográfica

SOARES, Carolina Pontes Efeitos da retirada de colesterol membranar sobre cardiomiócitos crescidos in vitro / Carolina Pontes Soares. Rio de Janeiro, UFRJ, Pós Graduação em Ciências Morfológicas, 2009. 65 pp, xv Tese (Mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, PCM, 2009. 1. Cardiomiócitos. 2. Colesterol. 3. Membrana plasmática. 4. Tecido cardíaco. 5. Caderina – Tese. I. Tese (Mestrado) – Pós Graduação em Ciências Morfológicas. II. Título

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iv

O presente trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Diferenciação

Muscular e Citoesqueleto do Instituto de Ciências Biomédicas da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, sob orientação da Profa. Cláudia

dos Santos Mermelstein e na vigência de auxílios concedidos pelo

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ),

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e

Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (FAPERJ).

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v

“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena”

Fernando Pessoa

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vi

Agradecimentos

• Aos professores Cláudia Mermelstein e Manoel Costa pela grandiosa orientação,

por toda dedicação, exemplo de profissional e pessoa, apoio e principalmente

pelo incentivo, os quais foram indispensáveis para a realização deste trabalho.

• A minha querida amiga Débora, minha “Sub-orientadora” que mesmo passando

um tempo longe (Boston), esteve sempre presente dando conselhos e palavras

doces de incentivo.

• As minhas amiga e companheiras laboratório Danielle, Eliane, Laise e Eliana

que sempre compartilhavam as alegrias e as tristezas, vividas neste período de

mestrado, sempre com muita alegria.

• A minha querida amiga de laboratório Juliana pela amizade e pelos bons

momentos nesses últimos anos.

• Aos alunos de iniciação cientifica Cacau, Renata, Natalia e Joseph pelos

momentos de descontração e alegria vividos no laboratório, obrigada pela

amizade e pelo carinho.

• A professora Ana Martinez por ter me proporcionado a participação em seu

artigo e pela minuciosa revisão feita em minha tese.

• Ao Professor Vivaldo pelo apoio e incentivo dado neste período de mestrado.

• A Tânia e Alrizete por toda atenção e carinho.

• Aos meus pais Raimundo e Marize por todo amor, carinho e incentivo ao

ingresso no curso de mestrado. Sem o amor de vocês não teria alcançado este

sonho.

• As minhas amadas irmãs Celita e Laura, minha vida, por todo carinho, amizade

e incentivo.

• Aos meus avôs maternos Dona Maria (in memorium) e Sebastião e paternos

Narciso (in memorium) e Celita (in memorium) pelo exemplo de vida, amor,

carinho e principalmente por acreditarem no meu sonho.

• Aos meus tios queridos Acrinaldo, Delci e Maria Antônia, meus

“patrocionadores”, por todo carinho, amor e principalmente por acreditarem no

meu sonho.

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vii

• A toda família Pontes e Soares; tios, tias, primos e primas, que são muitos, por

torcerem sempre por mim mesmo longe.

• A minha querida amiga Dra. Carla Lessa pelo incentivo dado na graduação e por

ter me indicado a fazer estágio no laboratório da Profa. Cláudia Mermelstein.

• Aos meus queridos amigos do Acre, da graduação em especial Adriana, Gabriel,

Hugo, Luciana e Magda pela força e pela amizade, sempre com uma palavra de

conforto e incentivo no período de mestrado.

• Aos meus bichinhos de estimação Neneca, Mila, Becky (Gatas) e Lisinha

(cachorrinha) pelos momentos de descontração proporcionados em minha vida.

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viii

Dedicatória

A minha família, minha base, minha vida.

Aos meus amados pais, Raimundo Viana Soares e Marize Pontes Soares, pelo exemplo

de dignidade, caráter e por todo amor, carinho e incentivo que me deram ao longo da

minha vida.

As minhas queridas irmãs Celita e Laura, por todo amor, carinho, alegria, amizade e

pelas palavras doces de incentivo.

Aos tios, tias e primos que sempre, mesmo de longe, me apoiaram nesta caminhada.

Com amor, dedico este trabalho

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ix

Abreviações

APS – Persulfato de amônio

ATP - Adenosina trifosfato

BSS - Solução salina balanceada

CMF - Solução salina balanceada sem cálcio e sem magnésio

CAMs - Moléculas de adesão celular

DABCO - 1,4-diazabiciclo-2-(2.2.2) octano

DAPI – 4,6-diamidino-2-fenilindole

DNA - Ácido desoxirribonucleico

DTT - Ditioetreitol

ECL - “Excelent chemiluminescent labeling”- marcador quimioluminescente

Fz - Proteína frizzled

FITC - Isotiocianato de fluoresceína

GATA - Fator da família de "zinc finger”

GFAP - Proteína ácida fibrilar glial

GPI – Glicosil-fosfatidil-inositol

GSK -3ββββ - Cinase sintase glicogênio-3β

GTP - Guanosina trifosfato

IgG - Imunoglobulina G

LDL - Lipoproteína de baixa densidade

LRP-5/6 - Proteína relacionada ao receptor de LDL tipo 5/6

MCD ou MββββCD – Metil-β-ciclodextrina

MEF-2 - Fator estimulatório miocítico tipo 2

MEM - Meio essencial mínimo

Nkx2.5 - Fator de transcrição da família homeobox

PBS - Tampão fosfato com salina

PVDF - Membrana difluoridro polivinilideno hidrofóbica

SFB - Soro fetal bovino

SDS - Dodecil sulfato de sódio

TBS-Tween - Tampão tris com salina e monolaurato de polioxietilenosorbitano

TCF/LEF – Fator de célula T / fator linfóide

TEMED – N,N,N,N-tetrametil-etilenodiamina

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TRIS - Tris-hidroximetil-aminometano

TRITC - Isotiocianato de tetraetilrodamina

Triton X-100 – t-octilfenoxipolietoxietanol

Wnt - Família de genes de vertebrados homólogos ao fator de crescimento Wingless de

Drosophila

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Sumário

Página

1. INTRODUÇÃO...............................................................................1

Os tecidos musculares.........................................................................................................................1 O músculo cardíaco.............................................................................................................................2 As adesões entre cardiomiócitos.........................................................................................................7 O citoesqueleto..................................................................................................................................10 Microfilamentos e microtúbulos.......................................................................................................12 Filamentos intermediários.................................................................................................................13 Membrana plasmática.......................................................................................................................14 Relevância do presente estudo..........................................................................................................18

2. OBJETIVOS...................................................................................19 2.1 Objetivo geral..........................................................................................................................19 2.2 Objetivos específicos..............................................................................................................19

3. MATERIAIS E MÉTODOS..........................................................20

3.1 Culturas primárias de cardiomiócitos........................................................................................20 3.2 Tratamento das culturas primárias de cardiomiócitos com metil-beta-ciclodextrina

(MCD)........................................................................................................................................21 3.3 Imunofluorescência de células em cultura.................................................................................22 3.4 Aquisição e processamento de imagens.....................................................................................23 3.5 Eletroforese em gel de poliacrilamida.......................................................................................26 3.6 Immunoblotting...........................................................................................................................26 3.7 Desligamento de anticorpo (strip) em immunoblotting..............................................................27

4. RESULTADOS ..............................................................................29

5. DISCUSSÃO....................................................................................43 6. SUMÁRIO DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES..................51 7. BIBLIOGRAFIA............................................................................53 8. ANEXOS..........................................................................................65

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xii

Lista de Ilustrações

Página

Figura 1 - A estrutura histológica do músculo estriado cardíaco.....................................4

Figura 2 - O sarcomêro dos cardiomiócitos.....................................................................4

Figura 3 - A estrutura dos discos intercalares..................................................................6

Figura 4 - Adesão célula-célula via caderina...................................................................8

Figura 5 - Estrutura e composição de micro-domínios de membrana............................15

Figura 6 - Organização da cavéola.................................................................................17

Figura 7 - Microscopia de fase de agregados de células cardíacas............................... 33

Figura 8 - Agregados de cardiomiócitos contraem espontaneamente em cultura..........34

Figura 9 - Cardiomiócitos expressam desmina e tropomiosina......................................35

Figura 10 - A expressão da caveolina-3 é reduzida logo após a depleção do colesterol

em agregados cardíacos............................................................................................36

Figura 11 - A caveolina-3 colocaliza-se com a desmina nos cardiomiócitos.................37

Figura 12 - Caderina se distribui em linhas contínuas ao longo da região de adesão

intercelular de cardiomiócitos...................................................................................38

Figura 13 - β-catenina se distribui em linhas descontínuas ao longo da região de adesão

intercelular de cardiomiócitos...................................................................................39

Figura 14 - A depleção de colesterol aumenta a expressão de caderina em agregados

cardíacos................................................................................................................... 40

Figura 15 - A depleção de colesterol aumenta a expressão de tropomiosina sarcomérica

em agregados cardíacos............................................................................................41

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Figura 16 - A depleção de colesterol aumenta a expressão de Nkx2.5 em agregados

cardíacos....................................................................................................................42

Figura 17 - Esquema dos resultados obtidos na tese......................................................50

Tabela 1 - Anticorpos primários.....................................................................................24

Tabela 2 - Anticorpos secundários e sondas...................................................................25

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Resumo

O colesterol é um lipideo que tem uma série de funções na membrana plasmática. Ele

está envolvido na manutenção da fluidez e da permeabilidade da membrana, além de

estruturar os micro-domínios de membrana. Apesar de sua importância, nenhum estudo

ainda foi feito sobre as conseqüências da retirada de colesterol da membrana sobre a

adesão intercelular cardíaca. Nós decidimos então investigar os mecanismos celulares e

moleculares associados com a retirada de colesterol durante a diferenciação do músculo

cardíaco. Nós utilizamos a substância metil-beta-ciclodextrina (MCD) em culturas

primárias de células cardíacas de embriões de galinha, para retirar o colesterol da

membrana e investigar seu papel na diferenciação cardíaca através da expressão de

vários marcadores cardíacos, tais como o fator de transcrição Nkx2.5, a proteína

miofibrilar tropomiosina, a proteína dos filamentos intermediários desmina, a proteína

caveolar caveolina-3 e o complexo de adesão caderina/beta-catenina. Nossos resultados

mostram que a retirada de colesterol pela MCD leva a uma concentração tanto de

caderina, como de sua proteína associada beta-catenina, nas regiões de adesão

intercelular em cardiomiócitos. Além disso, o tratamento com MCD aumenta a

expressão de caderina, de tropomiosina e de Nkx2.5. É possível se concluir que o

colesterol membranar tem aumenta a diferenciação de cardiomiócitos, e que as adesões

intercelulares mediadas por caderina estão envolvidas nestes eventos.

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xv

Abstract

Cholesterol is a sterol lipid that plays pleiotropic roles in plasma membrane function; it

is involved in maintaining membrane fluidity and impermeability and the structure of

lipid microdomains. Despite its importance, no report was made on the consequences of

membrane cholesterol depletion in cardiac intercellular adhesion. Thus, we decided to

investigate the cellular and molecular mechanisms associated with cholesterol depletion

during cardiac muscle differentiation. We used the chemical methyl-β-cyclodextrin

(MCD) in primary cultured chick cardiac cells, to deplete membrane cholesterol and

investigate its role in cardiac differentiation by following the expression of several

markers, such as the transcriptional factor Nkx2.5, the myofibrillar protein tropomyosin,

the cytoskeletal intermediate filament protein desmin, the caveolar protein caveolin-3

and the cadherin/β-catenin adhesion complex. Our results show that cholesterol

depletion by MCD leads to a concentration of both cadherin and its partner β-catenin in

cell-cell adhesion sites in cardiomyocytes. Further, treatment with MCD increases the

expression of cadherin, tropomyosin and Nkx2.5. It is possible to conclude that

membrane cholesterol enhances cardiomyocyte differentiation, and that the cadherin-

based intercellular adhesions are involved in these events.

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1

1 – Introdução

Os tecidos musculares

Os tecidos musculares dos vertebrados podem ser subdivididos, com base em

diferenças funcionais e morfológicas, em três tipos: músculo liso, músculo estriado

esquelético e músculo estriado cardíaco. Os três tecidos musculares citados são

constituídos por células contráteis (Huddart, 1975).

O músculo liso é formado por células fusiformes e mononucleadas, que não

possuem estriações. A contração destas células é lenta e involuntária. Esta contração é

possivel graças ao deslizamento de filamentos de actina e miosina ancorados a

estruturas chamadas de corpos densos, que são compostos pelas proteínas desmina e

alfa-actinina. O tecido muscular liso está presente nos vasos sanguíneos e em órgãos

ocos ou tubulares, como o intestino.

O músculo estriado esquelético é formado por feixes de células cilíndricas longas e

multinucleadas, que apresentam estriações transversais. Estas células têm contração

rápida e estão sujeitas ao controle voluntário. O tecido muscular esquelético recebe este

nome porque suas contrações geralmente movem alguma parte do esqueleto.

O músculo estriado cardíaco é formado por células alongadas que são geralmente

mononucleadas ou binucleadas, e que se unem às células vizinhas através de junções

celulares (Figura 1). Estas células, os cardiomiócitos, apresentam estriações. A

contração destas células é rápida, rítmica e involuntária.

Tanto as células do tecido cardíaco como as do esquelético possuem estruturas

periódicas que proporcionam suas contrações. Estas estruturas são chamadas de

sarcômeros e são compostas de proteínas do citoesqueleto.

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2

O músculo cardíaco

O músculo cardíaco desenvolve-se a partir do mesoderma esplâncnico, através dos

dois primórdios cardíacos laterais que migram para a linha média e que se fundem

iniciando a formação do tubo cardíaco que inicialmente é simétrico. O tubo cardíaco

alonga-se e começa a realizar o movimento de formação de alças (looping) que é o

primeiro sinal de assimetria esquerda-direita do coração. Os mioblastos cardíacos

diferenciam-se apartir do miocárdio primitivo e desenvolvem-se apartir de genes

cardíacos específicos (Moore, 2004). Os fatores de transcrição tem-se mostrado

fundamentais no controle da cardiomiogênese (Zheng et al., 2003). Embora alguns dos

fatores da cardiomiogênese tenham sido determinados, todo o estudo da regulação da

cascata ainda tem que ser melhor caracterizada (Mably e Liew, 1996). O

desenvolvimento cardíaco depende da regulação da atividade de fatores de transcrição

como as famílias T-Box e Homeodomínio (Cripps e Olson, 2002; Harvey, 2002).

Existem diversas famílias de fatores de transcrição envolvidas na cardiomiogênese,

dentre as quais estão as famílias GATA, MEF2 e Nkx2.5. Os fatores GATA são uma

família de reguladores transcricionais que são expressos de uma maneira específica. A

família MEF2 pertence à família de reguladores transcricionais MADS-box, e apresenta

uma função central na morfogênese e miogênese de celulas musculares esqueléticas,

cardíacas e lisas (Zheng, 2003).

O Nkx2.5 é o marcador mais precoce do desenvolvimento do coração, precedendo

outros genes cardíacos específicos. Este interage com os fatores de transcrição e

membros das famílias T-Box e GATA (Lyons et al., 1995; Tanaka et al, 1999; Harvey,

2002), colaborando na regulação de promotores (Chen e Schwartz, 1996; Durocher et

al.,1997; Bruneau et al., 2000; Hiroi et al., 2001; von Both et al., 2004). Sua expressão

também é detectada em mioblastos, no mesoderma visceral da extremidade distal do

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estômago e no tecido mesentérico próximo ao estômago (Lints et al., 1993). A sua

expressão em células progenitoras embrionárias cardíacas e em coração adulto sugere

um papel na diferenciação da linhagem do miocárdio e na manutenção do fenótipo

cardíaco (Mably e Liew, 1996).

O músculo estriado cardíaco mostra muitas características estruturais e funcionais

intermediárias entre os tecidos musculares esquelético e liso. Suas contrações são fortes

e utilizam uma grande quantidade de mitocôndria como no músculo estriado

esquelético, e, como o músculo liso, suas contrações são contínuas e iniciadas por

mecanismos involuntários (Young et al., 2007). As mitocôndrias encontram-se

enfileiradas entre as miofibrilas (Lullmann-Rauch, 2006).

O músculo estriado cardíaco, o qual constitui o miocárdio, é formado por células

longas e cilíndricas denominadas cardiomiócitos (Figura 1). A contração destas células

é rápida, rítmica e involuntária. Os cardiomiócitos são cilíndricos com

aproximadamente 85 a 100 µm de comprimento e de 15 a 20 µm de diâmetro. As

células musculares cardíacas dos átrios são menores do que as do ventrículos (Gartner e

Hiatt, 2007; Young et al., 2007). Estes podem ser mononucleados ou binucleados, onde

seu núcleo apresenta uma forma grande e oval. Os núcleos localizam-se centralmente se

diferenciando das células musculares esqueléticas maduras (miotubos), as quais

possuem núcleos periféricos (Lullmann-Rauch, 2006).

O estudo das miofibrilas ao microscópio eletrônico revela que são formadas por

unidades que se repetem: os sarcômeros. O sarcômero é a unidade morfofuncional da

miofibrila (Figura 2). Cada sarcômero é limitado por duas linhas Z e mede cerca de 2 a

3µm de comprimento quando relaxado. O sarcômero é formado por uma banda A e

metades de bandas I que são cortadas ao meio pela linha Z, e entre as linhas Z existe

ainda a linha M (Huxley e Niedergerke, 1954).

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4

Figura 1 - A estrutura histológica do músculo estriado cardíaco. Note a presença de

estriações, núcleos (em roxo) e discos intercalares (seta) em corte longitudinal de tecido

cardiaco corado com hematoxilina-eosina (http://cytochemistry.net/cell-

biology/medical/pratice practical muscle.htm).

Figura 2 - O sarcômero dos cardiomiócitos

(www.kcl.ac.uk/schools/medicine/cardio/pi/gautel- m.html).

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5

Os principais componentes dos sarcômeros (Figura 2) são os filamentos grossos

(15 nm de diâmetro e 1,5 µm de comprimento), constituídos de miosina do tipo II, e os

filamentos finos (6 nm de diâmetro e 1 µm de comprimento), constituídos de actina,

tropomiosina e as troponinas C, T e I (Complexo Troponina). Estes filamentos estão

organizados num padrão longitudinal e regular na direção do movimento do sarcômero.

Os filamentos de miosina ocupam a região central do sarcômero, a banda A. As linhas Z

participam da transmissão da tensão mecânica para os outros sarcômeros interligados e

são constituídas por desmina e α-actinina (Wang et al., 2000; Costa et al., 2004), essa

última relacionada com a organização dos filamentos de actina. A linha M é composta

pelas proteínas miomesina e proteína C e sua função é interligar os filamentos de actina

e miosina. As proteínas titina e nebulina também auxiliam nessa associação (Gregorio et

al., 1999). O citoesqueleto existe em todos os tipos de células eucarióticas e os

sarcômeros das células musculares são descritos como uma adaptação do citoesqueleto

para uma alta eficiência contrátil.

Os cardiomiócitos apresentam estriações transversais por toda miofibrila, o que se

assemelha com o aparelho contrátil do músculo esquelético (Kierszenbaum, 2008).

Entretanto apresentam algumas diferenças, como os túbulos T que são encontrados na

região do disco Z e são mais largos que os de músculos esqueléticos encontrados na

região de junção de banda A-I, o retículo sarcoplasmático não é tão longo quanto o do

músculo esquelético, a presença de díades (interação entre o túbulo T com uma cisterna

do retículo sarcoplasmático) ao invés de tríades que são típicas de músculo esquelético e

maior quantidade de mitocôndrias em comparação com o músculo esquelético. Outra

característica importante é a presença de discos intercalares que ligam as células

cardíacas funcionando como regiões juncionais especializadas entre estas células e onde

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suas extremidades se unem (coincidindo sempre com a linha Z). Os discos intercalares

são responsáveis por transmitir a força de contração e oferecem áreas de baixa

resistência elétrica para a rápida disseminação da excitação através do miocárdio. Os

discos intercalares são regiões de membrana plasmática interdigitante (Figura 3) e

apresentam três tipos de junções intercelulares: nas regiões transversais dos discos

intercalares, onde o tipo de junção predominante são as faixas de adesão ou faixas

adherens, os demossomas e as junções comunicantes (também chamadas de junções do

tipo gap).

Figura 3 – A estrutura dos discos intercalares. Este esquema mostra duas células do

tecido cardíaco unidas por discos intercalares, que são estruturas presentes em regiões

próximas à membrana plasmática das células vizinhas. Notar que os filamentos de

actina dos sarcômeros terminam nestas regiões (modificada a partir de Alberts et al.,

2004).

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7

As adesões entre cardiomiócitos

As faixas de adesão ou faixas adherens possuem uma importância para a

citoarquitetura cardíaca. Os filamentos de actina nas extremidades dos sarcômeros

terminais se inserem nas faixas de adesão, transmitindo dessa forma as forças contráteis

de célula para célula. As faixas de adesão são compostas de complexos de proteínas

transmembrana, especificamente as caderinas (Figura 4), um conjunto de cateninas (α,

β e γ) e proteínas que se ligam a estas como a vinculina e a α-actinina, que ligam o

citoesqueleto de actina à membrana (Hirschy et al., 2006).

Em vertebrados, duas classes distintas de moléculas de adesão célula-célula atuam

em vias dependentes ou independentes de Ca2+. As moléculas envolvidas na adesão

célula-célula em um mecanismo independente de Ca2+ são as CAMs (cellular adhesion

molecules). As caderinas (Figura 4) constituem o grupo de proteínas de adesão celular

relacionadas com a adesão célula-célula dependente de Ca2+ e esta atividade é regulada

por interações citoplasmáticas entre caderinas, cateninas e o citoesqueleto de actina

(Hazan et al., 1997). Os membros da superfamília de caderinas (100-130 kDa) são

divididos em tipo clássico e tipo protocaderina (Suzuki, 1996). Estudos recentes têm

mostrado importante papel das caderinas clássicas na adesão celular, morfogênese e

outros processos biológicos que ocorrem durante a vida embrionária de vertebrados.

A adesão entre as células cardíacas é mediada principalmente pela adesão das

moléculas de caderina dependentes de Ca2+ (Takeichi, 1990; Geiger e Ayalon, 1992;

Hertig et al., 1996). A proteína caderina está localizada na junção aderente nos discos

intercalares no miocárdio, onde o seu domínio N-teminal homofilíco extracelular

medeia as interações entre as células vizinhas. As caderinas atuam como proteínas de

adesão transmembrana que ligam de forma indireta o citoesqueleto de actina de células

vizinhas. As caudas citoplasmáticas das caderinas são altamente conservadas e

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interagem com os filamentos de actina por meio de um grupo de proteínas de

ancoramento intracelular denominadas cateninas (Kemler, 1993). Esta interação é

essencial para a eficiência da adesão célula-célula, já que as caderinas sozinhas não

conseguem manter as células fortemente unidas (Alberts et al., 2004).

Figura 4 - Adesão célula-célula via caderina (modificada a partir de Cooper, 2000).

Diferentes tipos celulares expressam subtipos específicos de caderinas, tais

como a N- e a M-caderina (Knudsen et al., 1995; Zeschnigk et al., 1995; Wernig et al.,

2004). A N-caderina é expressa por células neuronais, células musculares esqueléticas e

cardíacas em desenvolvimento ou maduras. A M-caderina é encontrada em células

musculares esqueléticas e está relacionada com a miogênese (adesão e fusão de

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miócitos), sendo também considerada um marcador de células satélites (células

comprometidas com a linhagem muscular).

A α-catenina é fundamental para a fixação transmembranar de caderinas e

mutações nesta proteína impedem a adesão. A α-catenina se liga à β-catenina, e esta se

liga à γ-catenina que por sua vez se associa à actina. A interação do complexo

caderina/catenina com a actina não está bem elucidada, já que alguns trabalhos mostram

que esta interação se dá ainda via α-actinina (Knudsen et al., 1995) enquanto outros

indicam que a ligação com o citoesqueleto de actina ocorre via vinculina (Hazan et al.,

1997).

O complexo caderina/catenina pode promover o crescimento das miofibrilas em

direção à periferia da célula (Goncharova et al., 1992). Além disso, demonstrou-se que

a N-caderina associa-se com microdomínios de membrana ricos em colesterol que

permitem a formação de um complexo de adesão funcional (Causeret et al., 2005).

Outro tipo de junção intercelular é o desmossoma, são que ocorre nas regiões

transversais dos discos intercalares e é menos frequente que as faixas de adesão. Eles

fornecem ancoragem para os filamentos intermediários do citoesqueleto. Possuem uma

estrutura relativamente semelhante a junções aderentes com um conjunto de caderinas

transmembranares desmossomais (desmogleínas e desmocolinas) que ligam os

filamentos intermediários na membrana através da interação de várias proteínas, como a

desmoplaquina, placoglobulina e placofilina (Garrod e Chidgey, 2008).

As junções aderentes (as faixas de adesão) e os desmossomas desempenham

principalmente um papel mecânico, dando uma direção longitudinal aos cardiomiócitos

Alterações nas moléculas que constituem as estruturas desses dois tipos de adesões

estão associadas a doenças cardíacas (Clark et al., 2002; Saffitz e Kleber, 2004; Hirschy

et al., 2006).

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As junções comunicantes ou junções do tipo gap estão presentes principalmente

nas porções longitudinais dos discos intercalares e são locais de baixa resistência

elétrica, através dos quais ocorre excitação de célula para célula. Elas possuem um

papel importante na excitação do miocárdio bem como na mediação da propagação do

impulso, coordenando a contração cardíaca (Simon e Goodenough, 1998). No coração

adulto os canais das junções comunicantes são essenciais para a propagação do

potencial de ação a partir do nodo sinoatrial para a integridade mecânica do miocárdio.

As junções comunicantes possuem conexons que são canais intercelulares responsáveis

pela troca de íons, metabólitos, e pequenas moléculas entre cardiomiócitos vizinhos. Os

conexons tem um papel importante tanto no início do desenvolvimento cardíaco como

na diferenciação e na proliferação de cardiomiócitos (White e Paul, 1999; Gros et al.,

2004; Sohl e Willecke, 2004). Estes conexons são compostos por proteínas

denominadas conexinas, que possuem mais de 20 genes identificados em mamíferos.

Estes genes codificados são nomeados de acordo com seus respectivos pesos

moleculares (Delorme et al., 1997; Alberts et al., 2004). Dentre as conexinas expressas

no coração podemos citar as conexina 37, 40, 43 e 45. Em cardiomiócitos ventriculares

as isoformas embrionárias são as conexinas 40 e 45. Sabe-se que ambas as isoformas

são substituídas durante o desenvolvimento pela conexina 43 em células ventriculares

do miocárdio (Fromaget et al., 1992; Delorme et al., 1997; Alcolea et al., 1999).

O citoesqueleto

O citoplasma das células eucarióticas é espacialmente organizado por uma

complexa rede de filamentos protéicos chamada de citoesqueleto. Essa estrutura é

altamente dinâmica e se reorganiza continuamente, à medida que a célula muda de

forma, divide-se e responde ao seu meio ambiente. É responsável pela adesão das

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células ao substrato, pela contração muscular e pelas inúmeras mudanças de forma que

ocorrem nas células de um embrião de vertebrado em desenvolvimento. Também

fornece a maquinaria necessária aos movimentos intracelulares, como o transporte de

vesículas, organelas e a segregação dos cromossomos na mitose. Além de manter a

compartimentalização das funções celulares de forma altamente organizada, participa

das vias de comunicação entre as células e destas com o meio extracelular.

O citoesqueleto das células cardíacas possui uma estrutura altamente organizada

que é responsável pela eficiência da contração muscular. Em cardiomiócitos o

citoesqueleto é um fator intrínsico determinante na eficácia da função destas células, já

que qualquer dano ao citoesqueleto poderá levar à insuficiência cardíaca (Heling et al.,

2000). Um conjunto de proteínas do citoesqueleto compõe as miofibrilas e as suas

interações com a membrana plasmática e com a matriz extracelular (Ganote e

Armstrong, 1993).

O citoesqueleto das células eucarióticas é basicamente formado por três tipos de

filamentos protéicos, classificados segundo a sua espessura aproximada:

microfilamentos (4 a 6 nm), microtúbulos (22 a 25 nm) e filamentos intermediários (7 a

11 nm). Cada um desses filamentos é formado por um tipo diferente de subunidade

protéica: os microfilamentos são formados por unidades globulares de actina, os

microtúbulos formados por treze protofilamentos compostos de tubulina α e β, e os

filamentos intermediários formados por uma família de proteínas fibrosas que variam de

acordo com o tipo celular (Mermelstein et al., 2000; Herrmann et al., 2000; Amos e

Schlieper, 2005; Revenu et al., 2005). Os filamentos intermediários, por serem

constituídos por unidades fibrosas, são menos dinâmicos que a maioria dos polímeros

de actina e tubulina (Lazarides, 1980).

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Microfilamentos e microtúbulos

Os microfilamentos e os microtúbulos são formados por subunidades protéicas

globulares que podem se associar e dissociar rapidamente, no interior da célula. O

processo de polimerização e despolimerização dos microfilamentos e dos microtúbulos

é regulado, respectivamente, por ATP e GTP, e ainda, por íons bivalentes de cálcio e

magnésio e proteínas acessórias (Fujiwara e Pollard, 1976).

Os microtúbulos, estruturalmente, são polímeros de subunidades de α e β-

tubulinas que contribuem substancialmente para a estabilidade da célula por ancorar

organelas, tais como as mitocôndrias, complexo de Golgi, núcleos, e miofibrilas,

podendo inclusive modular respostas β-adrenérgicas em cardiomiócitos (Palmer et al.,

1998).

Os microfilamentos são compostos de actina, onde o monômero globular é

chamado de actina-G e a sua forma polimérica filamentosa é chamada de actina-F.

Existem duas isoformas de actina nos músculos estriados, a esquelética e a cardíaca, que

são diferentes das isoformas de células de músculo liso e de células não musculares,

sendo cada uma destas 4 variantes de actina codificada por um gene diferente

(Schiaffino e Reggiani, 1996). Os microfilamentos são especialmente importantes nas

adesões célula-célula (via caderinas) e nas adesões célula-matriz extracelular (via

integrinas). Além disso, os microfilamentos têm um papel fundamental na constituição

das miofibrilas das células musculares, sendo estes os filamentos finos presentes nas

bandas-I dos sarcômeros.

Os filamentos de actina se ligam a uma grande variedade de proteínas acessórias

que permitem aos mesmos participarem de diferentes funções. Algumas dessas

proteínas acessórias ligam os filamentos de um mesmo tipo entre si, a outro tipo de

filamento e, ainda, a componentes celulares. Existem também proteínas motoras, que

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hidrolisam ATP, produzindo força e movimento direcionado ao longo desses filamentos

(Voet e Voet, 1990; Darnell et al., 2000; Mermelstein et al., 2000; Alberts et al., 2004).

Estas proteínas associadas à actina são essenciais para o correto funcionamento dos

sarcômeros das células musculares cardíacas, podendo citar como exemplos a

tropomiosina, as troponinas (I, C e T) e a miosina do tipo II.

Filamentos intermediários

Os filamentos intermediários estão presentes na maioria das células eucarióticas

e seus constituintes protéicos possuem distribuição celular específica. As principais

proteínas dos filamentos intermediários são: a queratina (específica de células

epiteliais), a vimentina (presente em células de origem mesenquimal), os

neurofilamentos (específica de células neuronais), a GFAP (específica de células gliais),

a periferina (presente em células do sistema nervoso periférico), a nestina (presente em

células precursoras dos sistemas nervoso e muscular), as laminas (presentes no núcleo

de células eucarióticas) e a desmina (específica de células musculares). A desmina está

presente em todas as células de músculo liso, esquelético e cardíaco. Nas células de

músulo liso ela se encontra nos corpos densos, que são as regiões de ancoramento de

filamentos de actina à membrana. Nas células de músculos estriados a desmina se

localiza na região das linhas Z, onde os filamentos de actina se ancoram. Foi descrito

que as proteínas nebulina e nebulete participam da interação dos filamentos de desmina

com as linhas Z (Moncman e Wang, 1995). A localização da desmina na linha Z é

descrita como tendo um papel na manutenção da integridade do sarcômero no momento

da contração cardíaca (Fusch e Cleveland, 1998).

Além de sua localização na linha Z, a desmina também se encontra associada à

membrana externa do envelope nuclear (Mermelstein et al., 2006). Foi mostrado que

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filamentos de desmina se encontram funcionalmente ancorados às laminas nucleares nas

fibras cardíacas (Lockard e Blomm, 1993), possivelmente através da ligação à proteína

anquirina (Capetanaki et al., 1997).

O aumento de desmina em cardiomiócitos foi descrito na hipertrofia cardíaca

(Hein et al., 1994; Collins et al., 1996). E, por sua vez, a deficiência dos filamentos

intermediários de desmina na insuficiência cardíaca está relacionada com a redução da

função cardíaca (Di Somma et al., 2004).

Membrana plasmática

A membrana plasmática tem inúmeras funções vitais para a célula, dentre as

quais podemos citar a separação dos meios intra- e extra-celulares, o transporte de íons

e nutrientes entre estes dois compartimentos, a recepção de moléculas sinalizadoras e a

adesão entre células adjacentes e com a matriz extracelular. A membrana plasmática é

formada por uma bicamada lipídica, com espessura de 8 a 10 nm, que funciona como

um mosaico fluido bidimensional onde proteínas e lipídios se encontram imersos

(Singer e Nicolson, 1972). As proteínas presentes na membrana plasmática podem ser

integrais (ou transmembranares) que atravessam toda a membrana, ou, periféricas

voltadas para o citoplasma ou para a matriz extracelular. E, ainda, podem estar

associadas a glicídeos, na face extracelular, sendo chamadas de glicoproteínas. As

funções das proteínas de membrana são variadas, podendo ser estruturais ao conferirem

sustentação ao citoesqueleto, ou de transporte de íons, ou de recepção e transdução de

sinais. Já os lipídeos de membrana podem ser classificados em 3 tipos principais: os

fosfolipideos, os glicolipídeos e o colesterol. Os fosfolipídeos constituem a base

estrutural das membranas. Já os glicolipídeos, são moléculas de lipídeos associadas a

glicídeos que são encontrados na face extracelular da membrana e desempenham papel

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importante nas interações da célula com o ambiente exterior. O colesterol é um dos

responsáveis pela fluidez da membrana e pela formação de regiões especializadas

chamadas de micro-domínios lipídicos (ou rafts), uma vez que ele é um dos principais

constituintes destas regiões. Graças a esta recente descoberta, a membrana plasmática é

hoje vista como um mosaico de diferentes compartimentos ou domínios (Figura 5).

Figura 5 - Estrutura e composição de micro-domínios de membrana

(retirado de Alberts et al., 2004).

Além de colesterol, os micro-domínios lipídicos são enriquecidos também em

glicoesfingolipídeos e por proteínas ancoradas por GPI. As rafts são regiões mais

espessas da membrana, e as proteínas integrais ali presentes têm um longo domínio

transmembranar. Os micro-domínios funcionam como plataformas que concentram

moléculas específicas para certas funções celulares, tais como tráfego de vesículas,

transdução de sinais (Galbiati et al., 2001b) e ainda como local de entrada de

microorganismos patogênicos (Fivaz et al., 1999).

Devido à alta concentração de colesterol e lipídeos com longas caudas saturadas,

dentro da bicamada fosfolipídica, estes domínios estão fortemente empacotados e

inseridos em um estado líquido organizado. Estes micro-domínios coexistem com a fase

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líquida desorganizada que possui menos colesterol (London e Brown, 2000; Simons,

2004). Dessa forma, a membrana plasmática apresenta diferentes fases (organizada e

desorganizada) em seu estado líquido (Ipsen et al., 1987, 1989).

Os micro-domínios lipídicos podem, então, fixar proteínas como: proteínas

transmembranares longas e ancoradas a GPI. Além dessas proteínas, os micro-domínios

podem ser enriquecidos com caveolina, componente protéico estrutural (integral na

membrana) que provoca alterações na morfologia e na função do micro-domínio

lipídico (Razani et al., 2002). A presença da proteína caveolina causa a formação de

invaginações nos micro-domínios, chamadas de cavéolas (Figura 6). Estas

invaginações podem levar à formação de vesículas que serão endocitadas. Foram

descritas tres diferentes caveolinas: 1, 2 e 3. Enquanto as caveolinas-1 e 2 estão

presentes em todas as células eucarióticas, a caveolina-3 é específica de células dos

músculos liso, esquelético e cardíaco. A presença de caveolina-1, a primeira caveolina

descoberta, determina a formação de cavéolas (Smart et al., 1999).

Estudos recentes mostram que existe a presença das três isoformas de caveolina

em cardiomiócitos adultos, onde estariam associadas a proteção cardíaca em isquemias

(Hagiwara et al., 2002; Krajewska e Maslowska, 2004; Head et al., 2006; Siracusano et

al., 2006). Horikawa e colaboradores (2008) mostraram que as cavéolas e a expressão

de caveolina-3 são requeridas para proteção cardíaca em casos de hipóxia e isquemia.

Exitem muitos métodos utilizados no estudo de micro-domínios de membrana

(Ostrom e Liu, 2007; Kim et al., 2008). Dentre eles podemos citar o isolamento

bioquímico destas regiões de membrana por ultracentrifugação e com o uso de

detergentes e baixa temperatura. Também são bastante empregados os métodos de

alteração dos níveis de colesterol através do uso de substância com afinidade por

colesterol. Dentre estas substâncias, a metil-β-ciclodextrina (MCD) tem sido utilizada

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em diversos modelos biológicos por ter uma alta afinidade pelo colesterol e poder assim

retirá-lo momentaneamente da membrana, levando à desorganização dos micro-

domínios. Nosso laboratório utilizou a MCD para desorganizar micro-domínios da

membrana plasmática de células de músculo esquelético de embriões de galinha

crescidas in vitro. Nossos resultados mostram que a retirada de colesterol aumenta a

taxa de fusão de mioblastos e sua posterior diferenciação em miotubos (Mermelstein et

al., 2005, 2007b; Portilho et al., 2007).

Figura 6 - Organização da cavéola (retirado de Razani et al., 2002).

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Relevância do presente estudo

O colesterol é um componente lipídico abundante da membrana plasmática,

sendo o principal regulador da sua fluidez. Além disso, possui um papel crucial na

formação e na estabilização de regiões especializadas, os chamados micro-domínios de

membrana. Já foi mostrado que os micro-domínios de membrana ricos em colesterol

têm um papel crucial na regulação de canais de potássio e na sinalização dependente de

AMPc em cardiomiócitos (Abi-Char et al., 2007; Calaghan et al., 2008). No entanto,

nenhum estudo mostrou, até o presente momento, as consequências da retirada de

colesterol membranar na organização do aparato contrátil de células cardíacas, assim

como na adesão intercelular em cardiomiócitos. Alguns pesquisadores já estudaram os

efeitos da retirada de colesterol pela MCD em cardiomiócitos, mas nenhum com esta

abordagem. Um destes trabalhos mostra que cardiomiócitos obtidos de ratos recém

nascidos e tratados com MCD apresentaram uma inibição da interação da proteína

caveolina 3 com a enzima óxido nítrico sintase endotelial e assim apresentam uma

inibição da produção de AMPc e da atividade da adenil ciclase (Ostrom et al., 2004).

Outro estudo mostra que a cavéola tem papel importante no processo de contração e

excitação de cardiomiócitos ventriculares de rato adulto e que a utilização da MCD leva

a uma diminuição do fluxo de Ca2+ e desta forma uma inibição da contração (Calaghan

e White, 2006).

No presente trabalho, foi utilizada a substância metil-beta-ciclodextrina (MCD),

que por ter uma alta afinidade por moléculas de colesterol consegue retirá-lo

seletivamente das membranas celulares (Christian et al. 1997). A MCD foi utilizada

com o objetivo de alterar a composição e a estrutura da membrana, e assim poder

investigar os mecanismos celulares e moleculares dependentes do colesterol durante a

diferenciação de células cardíacas crescidas in vitro.

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2 - Objetivos

2.1 - Objetivo Geral

Estudar os efeitos da retirada de colesterol membranar sobre cardiomiócitos crescidos

em cultura de células

2.2 - Objetivos Específicos

Obter culturas primárias de cardiomiócitos a partir de coração de embrião de galinha;

Estudar os possíveis efeitos da substância metil-beta-ciclodextrina (MCD) em culturas

primárias de cardiomiócitos em tempos curtos e longos após o tratamento;

Analisar a distribuição de proteínas sarcoméricas, do citoesqueleto e de membrana em

cardiomiócitos controle e tratados com MCD;

Analisar a expressão de fatores de transcrição e de proteínas sarcoméricas, do

citoesqueleto e de membrana em cardiomiócitos controle e tratados com MCD.

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3 - Materiais e Métodos

3.1 - Culturas primárias de cardiomiócitos

Ovos provenientes da Granja Tolomei (Rio de Janeiro, RJ), contendo embriões

de galinha com 11 dias de desenvolvimento, eram quebrados sobre uma placa de petri

de 100 mm. A cabeça e os restos de membranas que envolvem os embriões eram

retirados e descartados, enquanto o corpo do embrião era transferido para uma placa de

petri de 60 mm contendo Solução de Sais Balanceada (BSS).

A pele e o músculo peitoral eram cortados através de uma incisão, com o uso de

duas pinças. Feita a incisão ao longo do esterno, era exposto o coração. Este, por sua

vez, era retirado no sentido crânio-caudal e transferido para uma placa de petri de 35

mm contendo BSS. Após a transferência, eram removidos os grandes vasos e retirado o

sangue aprisionado nas câmaras cardíacas (átrios e ventrículos), sendo transferido

novamente para outra placa de petri de 35 mm contendo 2 mL de Solução de Sais

Balanceada sem cálcio e sem magnésio (CMF) para ser feita a separação mecânica das

células do tecido cardíaco com o uso de duas facas de micro-cirurgia sobre o tecido.

Após, o material era colocado em um tubo de 15 mL e centrifugado por 10 minutos em

centrifuga clínica.

Em seguida era aplicada uma solução de tripsina a 0,2% (Gibco) com o objetivo

de retirar as células mais externas dos fragmentos cardíacos. Os fragmentos eram

colocados em estufa de células a 370C com a atmosfera de 5% de gás carbônico durante

5 minutos. Cinco ciclos de incubação (como o descrito) foram feitos. A primeira

incubação era descartada e as próximas eram acrescentadas ao seguinte meio gelado:

Meio Essencial Mínimo (MEM) contendo soro fetal bovino (SFB) a 10%. O SFB era

utilizado nesta etapa para inibir a ação da tripsina. Os fragmentos de tecido cardíaco

eram centrifugados e, posteriormente, tinham seu sobrenadante descartado. O pellet era

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suspenso com 4 mL de meio de plaqueamento (MEM contendo 5% SFB, 1% penicilina

/ estreptomicina, 1% L-Glutamina). Em seguida eram colocados 2 mL da suspensão de

células em cada placa de cultura de 35 mm. As placas continham no seu interior um

quadrado de 22 mm x 22 mm de plástico do tipo Aclar recoberto com solução de

colagéno isolado a partir de rabo de rato (preparada em nosso laboratório).

Todos os procedimentos acima foram feitos em fluxo laminar, com material

descartável estéril ou material de vidro ou plástico autoclavados.

As células cardíacas eram colocadas em uma incubadora de células a 370C com

atmosfera de 5% de gás carbônico. Eram observadas diariamente ao microscópio óptico

por contraste de fase e o meio era trocado após 24 horas de plaqueamento pelo meio de

crescimento (MEM contendo 5% SFB, 1% penicilina / estreptomicina e sem L-

glutamina).

Em tempos determinados as células eram submetidas ao tratamento com metil-

beta-ciclodextrina (MCD), e posterior fixação para imunofluorescência ou preparação

para eletroforese.

Algumas culturas de agregados de cardiomiócitos foram filmadas utilizando-se

um microscópio óptico invertido Axiovert 100 (Carl Zeiss, Alemanha) e uma câmera de

vídeo CCD modelo DP71 (Olympus, Japão).

3. 2 - Tratamento das culturas primárias de cardiomiócitos com metil-beta-

ciclodextrina (MCD)

As culturas primárias de cardiomiócitos com 24 horas de crescimento eram

tratadas com 2 mM de MCD (concentração final) adicionados no meio de crescimento.

Após 1 hora, o meio de cultura era trocado por um meio fresco sem a MCD e as células

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eram deixadas na estufa por mais 3 ou 24 horas. Após estes tempos, as células eram

submetidas à fixação para imunofluorescência ou preparadas para eletroforese.

3.3 - Imunofluorescência de células em cultura

As células eram lavadas com tampão fosfato com salina (PBS) por 5 minutos, e

depois fixadas com 2mL de paraformaldeído a 4% (em PBS) durante 10 minutos. O

paraformaldeído era retirado e em seguida eram realizadas 3 lavagens de 10 minutos

com PBS contendo Triton X-100 à 0,5% (o detergente Triton X-100 permeabiliza a

membrana plasmática para a entrada dos anticorpos). Os anticorpos primários eram

diluidos em PBS/Triton X-100 a 0,5% (ver Tabela 1) e colocados em contato com as

células em uma câmara úmida. Após 1 hora, as células eram lavadas 3 vezes (de 10

minutos cada) e incubadas em câmara úmida com os respectivos anticorpos secundários

(ver Tabela 2). Após 1 hora, as células eram lavadas 3 vezes (de 10 minutos cada) com

PBS/Triton X-100 a 0,5% e em seguida lavadas com NaCl 0,9% por 5 minutos. Depois

era realizada a incubação com a sonda fluorescente DAPI a 0,1 µg/ml (em NaCl a 0,9%)

por 3 minutos para marcação dos núcleos celulares. Para retirar o excesso de DAPI,

fazia-se uma nova lavagem com NaCl 0,9% por 5 minutos. As células eram então

montadas em lamínulas de vidro de 24 x 60 mm, usando-se uma solução de montagem

contendo N-Propil-Galato a 5% e DABCO a 25% em glicerol a 60% (pH 7,5).

Como controle dos experimentos de imunofluorescência, algumas culturas de

agregados cardíacos eram fixadas e permeabilizadas (conforme descrito acima) e em

seguida eram incubadas com os anticorpos secundários fluorescentes. A etapa de

incubação com anticorpos primários era omitida de forma a se analisar possível

marcação fluorescente resultante apenas da incubação com anticorpos secundários.

Nestes experimentos não foram observadas marcações fluorescentes nas lâminas.

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23

3.4 - Aquisição e processamento de imagens

As células eram observadas em um microscópio óptico invertido Axiovert 100

(Carl Zeiss, Alemanha), com filtros seletivos apropriados para os canais de fluoresceína,

rodamina e DAPI (ultra-violeta). As imagens das células eram adquiridas com uma

câmera CCD C24001 integrada ao processador de imagens Argus 20, ambos da

Hamamatsu Photonics (Japão), transferidas para um computador Dell OptiplexGI 575

(Dell Computadores, EUA), onde as pranchas finais foram montadas com uso do

programa Photoshop (Adobe System, EUA). Algumas lâminas foram observadas e

analisadas também em um microscópio óptico confocal Fluoview da Olympus (Japão).

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24

Tabela 1 - anticorpos primários

IB = immunoblotting IF = imunofluorescência

Anticorpos

Primários

Tipo

Feito em

Diluição

Utilizada

Peso

Molecular

Fabricante

anti-caveolina-3

de rato

monoclonal

(clone 26)

camundongo

1:3000 IB

1:50 IF

24kDa

Transduction

anti-

tropomiosina

sarcomérica

monoclonal

(clone CH1)

camundongo

1:3000 IB

1:50 IF

37kDa

Sigma

anti-desmina

de galinha

policlonal

coelho

1:20000 IB

1:100 IF

52kDa

Sigma

anti-Nkx2.5

humano

policlonal

coelho

1:1000 IB

1:50 IF

40 KDa

Santa Cruz

anti-β-catenina monoclonal

(clone 349)

camundongo

1:3000 IB

1:50 IF

68kDa

Transduction

anti-pan

caderina de

coelho

policlonal

coelho

1:3000 IB

1:50 IF

337kDa

Sigma

anti-α-

tubulina de

galinha

monoclonal

(clone DM

1A)

camundongo

1:3000 IB

55kDa

Sigma

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Tabela 2 - anticorpos secundários e sondas

Anticorpos Secundários e Sondas Feito em Diluição Origem

anti-IgG de camundongo-peroxidase cabra 1:15000 Amersham

anti-IgG de coelho-peroxidase cabra 1:20000 Amersham

anti-IgG de coelho- TRITC cabra 1:50 Sigma

anti-IgG de camundongo-FITC cabra 1:50 Sigma

DAPI sonda p/ DNA 1:2000 Molecular Probes

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26

3.5 – Eletroforese em gel de poliacrilamida

Para preparar as amostras de culturas primárias de cardiomiócitos para eletroforese,

o meio de crescimento era descartado e em seguida as células eram lavadas 3 vezes com

PBS. Após, aplicava-se 100 µl de tampão de amostras (SDS 4%, Tris-HCl 125 mM pH

6,8, glicerol 20%, DTT 0,2 M) sobre as células e estas eram então raspadas das placas e

transferidas para tubos do tipo eppendorf.

Géis de corrida com acrilamida a 10% (Laemmli, 1970) e géis de empilhamento

com acrilamida a 6% eram preparados e quantidades iguais de amostras eram aplicadas

nos poços dos géis. As eletroforeses eram realizadas com corrente constante (cerca de

30 mA) em tampão de corrida 2 vezes concentrado (Tris 50 mM, glicina 384 mM e SDS

0,2%). Em seguida, os géis de corrida eram corados com solução corante (azul de

Coomassie 0,01%, álcool isopropílico 25% e ácido acético 10%) para serem analisados

ou submetidos a transferência para folha de PVDF (ver descrição a seguir).

3.6 – Immunoblotting (Reveleção imunológica da transferência eletroforética de

proteínas em gel desnaturante de poliacrilamida para folha de PVDF)

Ao final da eletroforese, o gel era colocado no tampão de transferência (Tris 25

mM, glicina 191 mM e metanol 20%) por 20 minutos. A folha de PVDF era lavada por

10 segundos em metanol 100%, colocada em água destilada por 5 minutos (sob

agitação) e depois por 10 minutos em tampão de transferência. A seguir as proteínas

eram transferidas eletroforeticamente do gel para a folha de PVDF, durante a noite, a 30

mV (85 mA) e a 4 0C. A seguir a folha de PVDF era saturada com 10 mL de solução de

saturação (Tris 10 mM, NaCl 150 mM, Tween 20 0,2%, 5% leite desnatado em pó

Molico, em água destilada) por 1 hora. Depois a folha era lavada 3 vezes (de 5 minutos

cada) com tampão TBS-Tween (Tris 10 mM, NaCl 150 mM, Tween 20 0,2%) e

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incubada com o anticorpo primário devidamente diluido (ver Tabela 1) neste mesmo

tampão por 12 horas, à temperatura ambiente e sob agitação. Após a incubação, a PVDF

era lavada 3 vezes (de 10 minutos cada) com o mesmo tampão. A seguir era incubada

por 1 hora, à temperatura ambiente e sob agitação, com o anticorpo secundário

conjugado à peroxidase (ver Tabela 2) devidamente diluido no tampão TBS-Tween.

Após 4 lavagens de 10 minutos com este mesmo tampão, a PVDF era submetida à

revelação pelo kit ECL (da Amersham), e o procedimento era feito segundo protocolo

da Amersham Biosciences.

Todos os experimentos de immunoblotting eram realizados em triplicatas e um

destes resultados para cada uma das proteínas estudadas (caderina, tropomiosina,

caveolina-3 e Nkx2.5) foi mostrado nesta tese.

3.7 - Desligamento de anticorpo (strip) em immunoblotting

Em alguns immunoblots, após a revelação era feito o desligamento (strip) dos

anticorpos para permitir a marcação de outras proteínas na mesma folha de PVDF.

Desta forma, a folha de PVDF era lavada com tampão TBS-Tween por 3 minutos e, em

seguida, incubada com tampão de strip (2-mercaptoetanol 110 mM, SDS 2%, Tris-HCl

62,5 mM, pH 6,7) por 30 minutos a 600C sob agitação. Depois, eram feitas 5 lavagens

de 3 minutos cada com tampão TBS-Tween e a folha de PVDF podia, então, ser

incubada com solução de saturação (Tris 10 mM, NaCl 150 mM, Tween 20 0,2%, 5%

leite desnatado em pó Molico, em água destilada) e o immunoblotting era novamente

realizado.

Esse procedimento de strip era realizado para normalizar os dados dos Western

Blots, através da proteína α-tubulina, por esta ser uma proteína constitutiva das células

eucarióticas. As bandas de α-tubulina provenientes das culturas controle e tratadas com

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MCD, com o mesmo valor de área (medidas pelo programa Adobe Photoshop 7.0,

Adobe Systems Incorporated, CA, EUA), eram escolhidas, para análise da expressão

das proteínas caveolina-3, caderina, tropomiosina e Nkx2.5. Isso permitiu as semi-

quantificações (razão entre α-tubulina e a proteína em questão), que podem ser

visualizadas pelos gráficos das densidades ópticas, realizados pelo programa Microsoft

Excel 6.0 (Microsoft Corporation, Brasil).

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4 - Resultados

A técnica de cultura de cardiomiócitos isolados tem a vantagem de ser mais

acessível a estudos sobre a distribuição de proteínas em compartimentos celulares

específicos, quando comparada a cultura de agregados de cardiomiócitos aderidos entre

si. Por outro lado, o tecido cardíaco não é composto de células isoladas e os

cardiomiócitos são encontrados em estreito contacto uns com os outros no coração,

onde funcionam de uma maneira altamente coordenada. Por este motivo, o sistema de

cultura que escolhemos neste presente estudo foi constituído de agregados celulares que

são pequenos fragmentos de tecido cardíaco obtidos a partir de embriões de galinha com

11 dias de desenvolvimento, e que são similares aos cardiomiócitos in vivo.

Inicialmente analisamos a morfologia dos agregados cardíacos (Figura 7A), por

miscroscopia óptica de contraste de fase. Na Figura 7B podemos observar em um

maior aumento algumas células cardíacas saindo do agregado e migrando em uma

direção oposta. Esses agregados (com 72 horas de cultura) tinham cerca de 300 µm de

diâmetro e apresentavam contrações espontâneas que duravam 0,5 segundos e com

intervalos de 1,7 segundos entre as contrações (Figura 8).

Para confirmarmos se as células presentes na cultura de agregados de

cardiomiócitos eram realmente células cardíacas realizamos uma imunofluorescência

com dupla marcação para as proteínas desmina e tropomiosina. Tanto a desmina como a

tropomiosina sarcomérica foram utilizadas por serem específicas de células musculares

estriadas e não serem expressas em fibroblastos. Na Figura 9A podemos observar um

cardiomiócito crescido por 24 horas e observado por microscopia óptica de contraste

interferencial (DIC), que permite a obtenção de imagens que mostram toda a célula.

Esta célula foi marcada com anticorpos anti-desmina (Figura 9B) e anti-tropomiosina

sarcomérica (Figura 9C). A marcação de tropomiosina sarcomérica obtida foi na forma

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30

de estriações ao longo de toda miofibrila enquanto a de desmina ocupa todo o

citoplasma e a região perinuclear.

Após a confirmação que nossas culturas continham cardiomiócitos (além de

fibroblastos, que são comuns em culturas primárias de tecido cardíaco), decidimos

realizar o tratamento com a substância metil-β-ciclodextrina (MCD), para investigarmos

os mecanismos celulares e moleculares associados com a depleção do colesterol em

cardiomiócitos. Para tal tratamos as culturas de agregados com uma concentração de 2

mM de MCD por 1 hora, retiramos a droga e depois deixavamos que as células

permanecessem em meio fresco por mais 3 horas. Utilizamos esta concentração de 2

mM da MCD devido a trabalhos anteriores de nosso laboratório com culturas de células

musculares esqueléticas (Mermelstein et al., 2005; Portilho et al., 2007).

Já que a MCD retira moléculas de colesterol e desorganiza micro-domínios de

membrana (as rafts), decidimos iniciar nossos testes com a análise da expressão da

proteína caveolina-3, já que ela é um marcador de rafts caveolares de células

musculares. Analisamos a expressão de caveolina-3 através de immunoblottings de

extratos protéicos de agregados de cardiomiócitos crescidos em cultura e tratados com

MCD (Figura 10A). A quantificação dos immunoblots revelou uma diminuição de

cerca de 30% nos níveis de expressão da proteína caveolina-3 após 3 horas de

tratamento com a MCD em comparação às culturas não tratadas. Os níveis de caveolina-

3 aumentam em relação a culturas controle quando as células são analisadas após 24

horas de tratamento com MCD (Figura 10B).

Partimos então para o estudo da distribuição da proteína caveolina-3 através de

microscopia óptica de imunofluorescência. Analisamos também a distribuição da

proteína desmina, por ser um marcador de células musculares (Figura 11). Tanto os

cardiomiócitos controle como os tratados com a MCD apresentaram co-localização das

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distribuições das proteínas caveolina-3 (Figura 11A) e desmina (Figura 11B) em

estruturas filamentosas presentes na região subsarcolemal (abaixo da membrana

plasmática) e na região perinuclear das células cardíacas.

Culturas de agregados de cardiomiócitos crescidas in vitro exibem, assim como o

músculo cardíaco exibe in vivo, muitas regiões de adesão célula-célula mediadas pela

proteína caderina. Desta forma nosso próximo passo foi investigar se as adesões

intercelulares haviam sofrido alguma alteração após a retirada do colesterol membranar.

Analisamos através de microscopia de imunofluorescência (Figuras 12 e 13) a

distribuição da caderina e de sua proteína associada β-catenina em células cardíacas

controle (dados não mostrados) e após 24 horas de tratamento com a MCD. Em ambas

as condições, a proteína caderina foi encontrada em linhas contínuas presentes ao longo

das regiões de contato célula-célula (Figura 12B), enquanto que a proteína β-catenina

foi encontrada distribuída em linhas descontínuas nas mesmas áreas de adesão

intercelular (Figura 13B). É importante chamar a atenção para o fato de não termos

achado diferenças significativas em relação à distribuição das proteínas caderina e β-

catenina antes e depois do tratamento com MCD. O que observamos foi um nítido

aumento de intensidade de fluorescência (tanto para caderina como para β-catenina) nas

regiões de adesão célula-célula nas culturas tratadas com MCD em relação às culturas

controle (dados do controle não mostrados).

Para examinarmos com maior acurácia este possível aumento na expressão destas

proteínas de adesão, partimos para a análise através de immunobloting da expressão da

proteína caderina em culturas de agregados de cardiomiócitos tratadas ou não com

MCD (Figura 14). A quantificação dos immunoblots revelou um aumento superior a

2,5 vezes nos níveis de expressão de caderina nas células tratadas com MCD quando

comparadas às células controle.

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Junto com as marcações para caderina e β-catenina fizemos também marcações

para a proteína tropomiosina, para estudarmos o grau de estriação dos cardiomiócitos

antes e após o tratamento com a MCD (Figuras 12 e 13). Tropomiosina foi encontrada

distribuida sob a forma de estriações nas bandas I dos sarcômeros em ambas as

situações, controle (dados não mostrados) e tratada com MCD. No entanto, observamos

um aumento na intensidade de fluorescência nas culturas tratadas com MCD em relação

as culturas controle (dados do controle não mostrados).

Resolvemos então quantificar através de immunoblotting a expressão da proteína

tropomiosina sarcomérica antes e após a depleção de colesterol em culturas de

agregados de cardiomiócitos (Figura 15). A quantificação dos immunoblots revelou um

aumento superior a 2,5 vezes nos níveis de expressão da proteína tropomiosina

sarcomérica em células tratadas com a MCD quando comparados às células controle.

Decidimos por fim verificar se a depleção de colesterol estava afetando a expressão

do fator de transcrição Nkx2.5, uma vez que ele é um marcador de diferenciação

cardíaca (Figura 16). Analisamos então através de immunoblots a expressão de Nkx2.5

em culturas de agregados de cardiomiócitos tratados ou não com MCD. A quantificação

dos immunoblots revelou um aumento superior a 5 vezes nos níveis de expressão do

fator de transcrição Nkx2.5 em células tratadas com a MCD quando comparados às

células controle.

Em resumo, nossos resultados mostram que a depleção de colesterol através da

metil-beta-ciclodextrina leva a um aumento da expressão de diversos marcadores do

músculo cardíaco, como o fator de transcrição Nkx2.5, a proteína sarcomérica

tropomiosina e as proteínas de adesão caderina e β-catenina.

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Figura 7 – Microscopia de fase de agregados de células cardíacas. Microscopia

óptica de contraste de fase mostrando um agregado de células cardíacas que foi isolado

a partir de embriões de galinha e crescido in vitro por 72 horas (A). Em um maior

aumento (B), podemos observar muitas células se espalhando (seta) a partir do centro do

agregado. Barras de 20 µm.

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Figura 8 – Agregados de cardiomiócitos contraem espontaneamente em cultura.

Sequência de imagens de microscopia de contraste de fase de um agregado de

cardiomiócitos. As imagens mostradas tem intervalos de 0,03 segundos entre elas. Notar

que a área marcada em vermelho no centro da imagem A é maior que a da imagem I, o

que caracteriza a contração do agregado. A imagem J mostra um perfil temporal das

imagens A-I e as setas apontam momentos de contração do agregado. Barra em G de 40

µm.

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Figura 9 – Cardiomiócitos expressam desmina e tropomiosina. Microscopia óptica

confocal mostrando dupla-marcação para desmina (verde, B) e para tropomiosina

sarcomérica (vermelho, C) em cardiomiócito. A marcação de desmina foi observada ao

redor do núcleo (seta em B) e em todo citoplasma e a de tropomiosina ficou concentrada

nas estriações sarcoméricas. Em A a mesma célula é vista por microscopia óptica de

contraste interferencial (DIC). Barra de 10 µm.

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Figura 10 - A expressão da caveolina-3 é reduzida logo após a depleção do

colesterol em agregados cardíacos. Em A, células controle (Co) foram cultivadas por

27 ou 48 horas. Outras células foram cultivadas por 24 horas, tratadas com MCD por 1

hora e após 3 ou 24 horas foram analisadas em Western blot utilizando anticorpos anti-

caveolina-3 e anti-α-tubulina. Em B, a quantificação dos immunoblots revelou uma

diminuição de 30% nos níveis de expressão caveolina-3 após 3 horas de tratamento com

MCD e um aumento de 60% após 24 horas de tratamento.

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Figura 11 - A caveolina-3 colocaliza-se com a desmina nos cardiomiócitos. Culturas

de agregados de cardiomiócitos de embrião de galinha foram cultivadas por 24 horas,

tratadas com MCD por 1 hora e fixadas após 24 horas. As células foram triplamente

marcadas com anticorpos anti-desmina (A, vermelho), anti-caveolina-3 (B, verde), e a

sonda DAPI para visualização do núcleo (C, azul). Em uma sobreposição das 3 imagens

(em D), é possível ver a co-localização da caveolina-3 com a desmina e a concentração

de ambas as proteínas na região perinuclear (seta em D). A barra de escala representa 10

µm.

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Figura 12 - Caderina se distribui em linhas contínuas ao longo da região de adesão

intercelular de cardiomiócitos. Culturas de agregados de cardiomiócitos de embrião

de galinha foram cultivadas por 24 horas, tratadas com MCD por 1 hora e fixadas após

24 horas. As células foram triplamente marcadas com anticorpos anti-tropomiosina

sarcomérica (A, verde), anti-caderina (B, vermelho) e a sonda DAPI para visualização

do núcleo (C, azul). Notar a distribuição da tropomiosina em sarcômeros (A) e da

caderina em regiões de adesão célula-célula (seta em B). A imagem mostrada em D

corresponde a sobreposição das 3 imagens anteriores (A-C). A barra de escala

representa 10 µm.

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Figura 13 - ββββ-catenina se distribui em linhas descontínuas ao longo da região de

adesão intercelular de cardiomiócitos. Culturas de agregados de cardiomiócitos de

embrião de galinha foram cultivadas por 24 horas, tratadas com MCD por 1 hora e

fixadas após 24 horas. As células foram triplamente marcadas com anticorpos anti-

tropomiosina sarcomérica (A, verde), anti-βcatenina (B, vermelho) e a sonda DAPI para

visualização do núcleo (C, azul). Notar a distribuição da tropomiosina em sarcômeros

(A) e da β-catenina em regiões de adesão célula-célula (seta em B). A imagem mostrada

em D corresponde a sobreposição das 3 imagens anteriores (A-C). A barra de escala

representa 10 µm.

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Figura 14 - A depleção de colesterol aumenta a expressão de caderina em

agregados cardíacos. Em A, células controle (Co) foram cultivadas por 24 horas; e

outras células foram cultivadas por 24 horas e depois tratadas com MCD durante 1 hora.

Após 3 horas foram analisadas por Western blot utilizando anticorpos anti-pan-caderina

e anti-α-tubulina. Em B, a quantificação dos immunoblots revelou um aumento superior

a 2 vezes nos níveis de expressão da caderina quando comparados às células controle.

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Figura 15 - A depleção de colesterol aumenta a expressão de tropomiosina

sarcomérica em agregados cardíacos. Em A, células controle (Co) foram cultivadas

por 24 horas; e outras células foram cultivadas por 24 horas e depois tratadas com MCD

durante 1 hora após 3 horas foram analisadas por Western blot utilizando anticorpos

anti-tropomiosina sarcomérica e anti-α-tubulina. Em B, a quantificação dos

immunoblots revelou um aumento de mais de 2 vezes nos níveis de expressão da

tropomiosina sarcomérica quando comparada às células controle.

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Figura 16 - A depleção de colesterol aumenta a expressão de Nkx2.5 em agregados

cardíacos. Em A, células controle (Co) foram cultivadas por 24 horas; outras células

foram cultivadas por 24 horas e depois tratadas com MCD durante 1 hora após 3 horas

foram analisadas por Western blot utilizando anticorpos anti-Nkx2.5 e anti-α-tubulina.

Em B, a quantificação dos immunoblots revelou um aumento de mais de 5 vezes nos

níveis da expressão Nkx2.5 quando comparado às células controle.

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43

5 - Discussão

Recentemente o modelo de estrutura da membrana plasmática foi revisto com

base na descoberta de regiões especializadas de membrana enriquecidas em colesterol,

os chamados micro-domínios de membrana ou “rafts” (balsas, plataformas). Estes

microdomínios (Galbiati et al., 2001b) são regiões enriquecidas em colesterol e

esfingolipídeos que fazem com que sejam menos fluidas do que o resto da membrana.

Acredita-se que estas balsas, que podem se mover na membrana, servem para organizá-

la em uma série de micro-domínios discretos, que podem participar de várias funções

celulares, tais como tráfego intracelular de vesículas e transdução de sinais (Simon e

Ikonen, 1997). Diferentes proteínas podem ser seletivamente incluídas ou excluídas

destes micro-domínios. Várias proteínas têm sido descritas tendo associações com

micro-domínios de membrana, e mais ainda, dependendo de colesterol ou de

esfingolipídeos para sua atividade (Klein et al., 1995; Mutoh et al., 1995). Colesterol

influencia a interação entre lipídeos e proteínas através do aumento da espessura da

membrana nos micro-domínios.

Experimentalmente, existe uma substância chamada de metil-beta-ciclodextrina

(MCD) que se liga especificamente a moléculas de colesterol e desta forma as retira

seletivamente da membrana plasmática (Christian et al., 1997), alterando a composição

e a estrutura da membrana. Uma vez que micro-domínios são enriquecidos em

colesterol, esta substância tem sido utilizada para desorganizar as “rafts”, e desta forma

testar as relações entre as “rafts” e eventos celulares específicos.

Utilizamos esta substância nesta tese com o objetivo de estudar os possíveis

efeitos da retirada seletiva de colesterol na diferenciação de cardiomiócitos crescidos in

vitro.

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44

Os micro-domínios de membrana são divididos em 2 sub-tipos: os caveolares e

os não-caveolares. O que diferencia estes dois sub-tipos é a presença ou não da proteína

chamada de caveolina. A presença de caveolina leva o micro-domínio a formar uma

invaginação na membrana plasmática e esta invaginação recebe o nome de cavéola. A

cavéola é então um subconjunto específico de micro-domínio de membrana que é

caracterizada pela presença das proteínas caveolinas, além de colesterol e

esfingolipídeos. A família das proteínas caveolinas é constituída de caveolinas 1, 2 e 3

(Parton, 1996, Scherer et al., 1996; Tange et al., 1996; Okamoto et al., 1998). A

proteína caveolina-1 é o principal componente da cavéola na maioria dos tipos

celulares, sendo necessária para a formação da cavéola (Fra et al., 1995; Razani e

Lisanti, 2001). A proteína caveolina-2 colocaliza com caveolina-1 e compartilha a

distribuição semelhante nos tecidos. Já a proteína caveolina-3 tem uma distribuição

seletiva nos tecidos e é predominantemente expressa em células musculares cardíacas,

lisas e esqueléticas (Song et al., 1996). Uma vez que este trabalho de tese se concentrou

no estudo de células musculares cardíacas, decidimos analisar a distribuição e a

expressão da proteína caveolina-3.

Em nossos resultados tanto as culturas de cardiomiócitos controle quanto as

tratadas com a MCD apresentaram colocalizações entre as proteínas especificas de

músculo caveolina-3 e desmina, com uma distribuição contínua das estruturas

filamentosas na região subsarcolemal dos cardiomiócitos. Relatos anteriores de nosso

grupo e de outros pesquisadores confirmam que caveolina-3 se distribui em forma de

filamentos longitudinais que se localizam no citoplasma logo abaixo da membrana

plasmática em células musculares humanas, de camundongo, de rato e de galinha

(Parton et al., 1997; Voldstedlund et al., 2001; Draeger et al., 2003; Mermelstein et al.,

2007a). Além disso, nosso grupo mostrou resultados similares de colocalização de

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caveolina-3 e desmina em células de músculo esquelético (Mermelstein et al., 2007a). É

possível que a desmina tenha um papel de ligação do citoesqueleto com a membrana

plasmática, através de sua ligação com caveolina-3.

Desmina é um filamento intermediário do citoesqueleto e sua distribuição no

citoplasma também é sob a forma filamentosa (Costa et al., 2004). Além desta

distribuição no citoplasma, os resultados desta tese mostraram também uma marcação

da desmina em torno do núcleo dos cardiomiócitos crescidos in vitro. A marcação

perinuclear da desmina está de acordo com achados anteriores de nosso laboratório que

mostram a associação de desmina com a membrana nuclear externa em células

musculares esqueléticas de embriões de galinha (Mermelstein et al., 2006). Desmina

teria portanto um papel de ancoragem e sustentação do núcleo tanto em células

musculares esqueléticas quanto cardíacas.

Nossos resultados mostraram uma diminuição da expressão de caveolina-3 nas

culturas de agregados cardíacos após 3 horas de tratamento com a metil-beta-

ciclodextrina (MCD) em relação ao controle. Pelo menos duas possibilidades podem ser

pensadas para explicar estes dados: ou a caveolina estaria sendo degradada por

proteassomas após o tratamento com MCD, ou a caveolina estaria sendo liberada da

membrana para o meio de cultura após a saída do colesterol membranar. É importante

lembrarmos que a caveolina é uma proteína transmembranar e portanto acessível tanto

do meio extra como do intracelular.

A plena funcionabilidade do tecido cardíaco depende da contração sincronizada de

suas células musculares, assim como da elasticidade e resistênca mecânica das mesmas.

As miofibrilas, o sistema citoesquelético e as suas ligações com a membrana plasmática

proveem estas propriedades funcionais. Discos intercalares e desmossomas são os dois

principais sistemas de ancoragem do aparato miofibrilar e do citoesqueleto das células

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musculares cardíacas (Zuppinger et al., 2000). A adesão entre cardiomiócitos é mediada

principalmente pela caderina, uma proteína dependente de cálcio (Takeichi, 1990;

Geiger e Ayalon 1992; Hertig et al., 1996). Caderina se localiza nas junções aderentes

nos discos intercalares do miocárdio, onde seu domínio extracelular N-terminal medeia

interações homotípicas entre células vizinhas. Já o domínio C-terminal da caderina se

liga às cateninas, proteinas citoplasmáticas que interagem com o citoesqueleto de actina

(Kemler, 1993). A molécula de caderina tem ainda um domínio transmembranar que

permite que a proteína tenha sua inserção na bicamada lipídica e onde ela pode interagir

com outras proteínas e lipídeos, como fosfolipídeos e colesterol. Desta forma, fica clara

a importância das caderinas na manutenção das adesões célula-célula no tecido

cardíaco. Por este motivo decidimos estudar a distribuição e a expressão desta proteína

nos cardiomiócitos crescidos in vitro e tratados ou não com a metil-beta-ciclodextrina.

Além da caderina, estudamos também a distribuição da proteína β-catenina. β-

catenina é uma proteína multifuncional, pois participa tanto da adesão intercelular

mediada por caderinas, como pode participar da sinalização da via de Wnt. Esta

sinalização é iniciada pela ligação de glicoproteínas chamadas de Wnt a duas moléculas

receptoras, a proteína transmembranar Frizzled (Fz) e a proteína co-receptora LRP-5/6

(proteína relacionada ao receptor de LDL) (Nelson e Nusse, 2004). Em resposta ao sinal

Wnt, os receptores frizzled ativam a fosfoproteína dishevelled. Apesar do mecanismo

ainda não ser completamente conhecido, sabe-se que a fosfoproteína dishevelled inibe a

função de GSK-3β (glicogênio sintase quinase-3β), cuja inibição leva ao acúmulo da

proteina β-catenina hipofosforilada no citoplasma e a sua translocação para o núcleo

(Barth et al., 1997), onde ela está envolvida na ativação transcricional de genes alvo em

complexo com TCF/LEF. Na ausência de sinalização Wnt, os níveis de β-catenina são

mantidos baixos pela fosforilação dela pela GSK-3β, o que sinaliza para a degradação

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de β-catenina. Esta fosforilação pela GSK-3β é catalizada por um grande complexo

molecular que inclui a proteína axina, o supressor tumoral APC (adenomatous polyposis

coli) e várias outras proteínas. A competição entre diferentes parceiros citoplasmáticos e

nucleares da β-catenina por um pool limitado de β-catenina pode determinar se sua

função será na adesão celular ou na transativação (Ben-Ze’ev et al., 2000).

Nossos resultados mostram a β-catenina apenas nas regiões de adesão na

membrana, não tendo sido encontrada no núcleo em nenhuma das 2 situações estudadas

(tratadas ou não com MCD). Isso sugere que a via de Wnt/β-catenina não está sendo

ativada nos cardiomiócitos nestas situações. A via de Wnt pode estar sendo ativada

antes do momento que as nossas células são fixadas, e portanto estaríamos perdendo

esta marcação nuclear da β-catenina. Estes dados deverão ser aprofundados pelo nosso

grupo no futuro, uma vez que trabalhos de outros grupos mostram o papel da via de Wnt

na ativação da diferenciação cardíaca (Liu et al., 2009).

Recentemente, nosso grupo mostrou que a depleção de colesterol pela substância

metil-beta-ciclodextrina (MCD) induz a proliferação e a diferenciação de células

musculares esqueléticas crescidas em cultura (Mermelstein et al., 2005). Além disso,

mostramos que a ativação da via Wnt/β-catenina está envolvida nestes eventos

(Mermelstein et al., 2007b). Uma possível explicação para os resultados obtidos nesta

tese é que um mecanismo semelhante ao descrito por nosso grupo para o modelo de

células musculares esqueléticas esteja ocorrendo nas culturas de cardiomiócitos. Ou

seja, a depleção do colesterol membranar poderia estar liberando para o meio de cultura

proteínas ancoradas em rafts lipídicas e desta forma estas moléculas poderiam ativar

vias de sinalização em células vizinhas. Uma destas moléculas é o Wnt-3a, que

mostramos recentemente que é de fato solubilizada e liberada da membrana plasmática

para o meio de cultura de células musculares esqueléticas tratadas com MCD (Portilho

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et al., 2007). Esta hipótese precisa ser testada e para tal seguiremos a mesma abordagem

metodológica utilizada no nosso trabalho anterior feito com células musculares

esqueléticas. Esta abordagem inclui imunoprecitação e immunoblotting com anticorpo

anti-Wnt3a do meio condicionado das culturas tratadas com MCD.

Neste trabalho também analisamos a expressão do fator de transcrição Nkx2.5.

Nkx2.5 é um elemento fundamental da cardiomiogênese, uma vez que ele controla a

expressão de vários genes cardíacos específicos. Ele é expresso por células progenitoras

desde o inicio da cardiomiogênese até a vida adulta do músculo cardíaco (Lints et al.,

1993). Desta forma, se tornou importante analisar a sua expressão nos agregados de

cardiomiócitos tratados ou não com a metil-beta-ciclodextrina (MCD). Nossos

resultados mostram um aumento de mais de 5 vezes na expressão de Nkx2.5 nos

extratos protéicos das culturas tratadas com MCD em relação às culturas controle. Este

aumento tão expressivo nos surpreendeu. Dados da literatura mostram que o Nkx2.5

tem sua expressão induzida pela ativação da via de Wnt (Liu et al., 2009). Como já

discutido anteriormente nesta tese, é possível que a via de Wnt esteja envolvida nos

efeitos por nós observados nos cardiomiócitos após a depleção de colesterol.

É importante também chamarmos a atenção para o fato de termos estabelecido

durante este trabalho de tese um sistema de cultura de agregados de células cardíacas.

Estes agregados são pequenos fragmentos de tecido cardíaco obtidos a partir de

embriões de galinha com 11 dias de desenvolvimento, e que são similares aos

cardiomiócitos in vivo. Mostramos que estas células são funcionais, pois contraem

espontaneamente, e expressam vários marcadores de diferenciação cardíaca (como o

Nkx2.5). Este modelo poderá servir para futuros estudos para se entender melhor as

bases celulares e moleculares dos mecanismos que governam a diferenciação cardíaca.

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Exemplos destes estudos seriam análises dos efeitos de fármacos e transfecções de

genes para análise de super-expressão ou desligamento de genes específicos.

Em resumo, os resultados desta tese mostram que a depleção de colesterol

membranar de cardiomiócitos pela substância metal-beta-ciclodextrina leva a um

aumento na expressão de vários marcadores de diferenciação cardíaca, tais como o fator

de transcrição Nkx2.5, a proteína sarcomérica tropomiosina, a proteína de adesão

caderina e a proteína caveolar caveolina-3 (Figura 17). Além disso, mostramos que a

retirada de colesterol leva a uma concentração de caderina e de sua associada β-catenina

em regiões de adesão entre cardiomiócitos vizinhos. Desta forma sugerimos que o

colesterol presente na membrana plasmática desempenha um papel importante na

diferenciação cardíaca, em especial na regulação da adesão intercelular.

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Figura 17 – Esquema dos resultados obtidos na tese. Em (A) vemos um agregado de

cardiomiócitos de embrião de galinha cultivado por 24 horas e analisado depois de mais

3 ou 24 horas de crescimento. Em (B) vemos um agregado de cardiomiócitos de

embrião de galinha cultivado por 24 horas, tratado com metil-beta-ciclodextrina

(MβCD, que retira o colesterol membranar) e analisado depois de 3 e 24 horas de

crescimento. Após a depleção de colesterol, foi observado um aumento na expressão das

proteínas β-catenina, caderina, caveolina-3, desmina, tropomiosina e Nkx2.5. Uma das

hipóteses levantadas para explicar este fenômeno seria a liberação de fatores solúveis

para o meio de cultura após o tratamento com a MCD.

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6 – Sumário dos Resultados e Conclusões

• Neste trabalho foi possível estabelecermos a técnica de cultivo de agregados de

cardiomiócitos isolados de corações de embriões de galinha;

• Os cardiomiócitos de embrião de galinha migram para fora dos agregados em

várias direções;

• Os cardiomiócitos de embrião de galinha expressam a proteína dos filamentos

intermediários desmina e seus filamentos se distribuem por todo citoplasma, se

concentrando na região próxima do núcleo celular;

• Os cardiomiócitos de embrião de galinha expressam a proteína tropomiosina e

esta se localiza nas bandas I dos sarcômeros das miofibrilas;

• Os cardiomiócitos de embrião de galinha expressam a proteína caveolar

caveolina-3 e esta se localiza sob a forma de filamentos que se distribuem por

todo citoplasma das células e na região perinuclear;

• As proteínas desmina e caveolina-3 se co-localizam sob a forma filamentosa por

todo o citoplasma e na região perinuclear de cardiomiócitos de embrião de

galinha;

• Os cardiomiócitos de embrião de galinha expressam as proteínas de adesão

intercelular caderina e β-catenina;

• Os cardiomiócitos de embrião de galinha expressam o fator de transcrição

Nkx2.5;

• O tratamento de cardiomiócitos de embrião de galinha por 3 horas com a

substância metil-beta-ciclodextrina (MCD) leva a redução da expressão da

caveolina-3, e que após 24 horas aumenta em 60%;

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• O tratamento de cardiomiócitos com a MCD leva a um aumento das proteínas

caderina e β-catenina em regiões de adesão intercelular de cardiomiócitos;

• O tratamento de cardiomiócitos com a MCD leva a um aumento de mais de 2

vezes da expressão de tropomiosina sarcomérica e de caderina quando

comparados às células controle;

• O tratamento de cardiomiócitos com a MCD leva a um aumento de mais de 5

vezes da expressão do fator de transcrição Nkx2.5 quando comparado às células

controle;

• O colesterol membranar tem um papel significante na regulação da diferenciação

de cardiomiócitos e em especial nas adesões intercelulares mediadas por

caderina envolvidas nestes eventos.

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Lista de sitios da internet usados nesta tese:

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www.kcl.ac.uk/schools/medicine/cardio/pi/gautel- m.html

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8 - ANEXOS

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