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Edição nº 29 – 1º semestre de 2020
Artigo recebido até 15/01/2020 Artigo aprovado até 15/02/2020
NEOLOGISMO FEMININO: CRIAÇÃO LEXICAL EM COMUNIDADES DO
Stiélic Leão Prestes Nobre – PG/UEMS
Resumo: De natureza sociolinguística, a epistemologia utilizada neste artigo toma como estudo as
acepções neológicas na língua portuguesa. Desse modo, em decorrência dos fatores sociais em
comunidades virtuais, o objeto se estrutura na estreita relação entre o léxico e a sociedade. Assim, a
problemática se passa em responder se fatores extralinguísticos, isto é, temáticas adotadas nas
comunidades de fala, corroboram ou determinam a ampliação lexical. Nessa conjuntura, o objetivo é
observar e descrever as formas de ampliação e renovação lexical, bem como, avaliar como os fatores
extralinguísticos colaboram para a promoção dos fenômenos neológicos. Desse modo, o estudo de cunho
quali-quantitativo utiliza como fonte de extração os neologismos selecionados a partir de publicações e
comentários divulgados em textos escritos, redigidos pelos falantes do universo feminino, detectados em
comunidade exclusiva para mulheres da rede social do Faceboock, Clube das Poderosas, sob a temática
de entretenimento, analisada entre os meses de janeiro e maio de 2020. Como conclusão investigativa, na
projeção de chegada aos estudos, os dados apontam que o fator social desempenha papel primordial na
ampliação do léxico, sobretudo nos fenômenos da produção, fluxo quantitativo e tipologia neológica.
Palavras-chave: neologismo; formação de palavras; comunidades virtuais.
FEMALE NEOLOGISM: LEXICAL CREATION IN FACEBOOK COMMUNITIES
Abstract: From a sociolinguistic nature, the epistemology used in this article takes as a study the
neological meanings in the Portuguese language. Thus, due to social factors in virtual communities, the
object is structured in the close relationship between the lexicon and society. Thus, the problem is to
answer whether extralinguistic factors, that is, themes adopted in the speech communities, corroborate or
determine the lexical expansion. In this context, the objective is to observe and describe the forms of
lexical expansion and renewal, as well as to evaluate how extralinguistic factors collaborate for the
promotion of neological phenomena. In this way, the qualitative and quantitative study uses as a source
of extraction the neologisms selected from publications and comments published in written texts by the
speakers of the female universe, detected in an exclusive community for women from the social network of
Facebook, "Clube das Poderosas", under the theme of entertainment, analyzed between the months of
January and May 2020. As an investigative conclusion, in the projection of arrival at the studies, the data
indicate that the social factor plays a primordial role in the expansion of the lexicon, especially in the
phenomena of production, quantitative flow and neological typology.
Keywords: neologism; word formation; virtual communities.
Introdução
A intenção do presente artigo é discutir a ampliação e renovação lexical da
língua portuguesa a partir dos neologismos identificados em textos na modalidade
escrita, no perfil feminino dos falantes, localizados em uma comunidade do Facebook,
composta exclusivamente por mulheres, Clube das Poderosas, na abordagem temática
do entretenimento.
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Artigo recebido até 15/01/2020 Artigo aprovado até 15/02/2020
De natureza sociolinguística, o estudo desta pesquisa de cunho quali-
quantitativo é embasado em grande escala pelo trabalho pioneiro de William Labov
([1978] 2008), que vislumbra a abordagem social da língua, isto é, Teoria da Variação e
Mudança, que
incrementou nas últimas três décadas, uma nova compreensão da
natureza ao mesmo tempo variável e mutável da linguagem. Ativou
também o reconhecimento do caráter regular e sistemático da
heterogeneidade mediante um conjunto de estudos empíricos, de
natureza quantitativa com foco na língua em uso no contexto social
(CAMACHO, 2013, p. 19).
Nesse contexto, esta pesquisa sociolinguística tem como escopo os estudos da
língua em seus aspectos sociais e heterogêneos, por compreender que o ambiente lexical
não está dissociado do ambiente social, isso implica em “compreender os complexos
padrões de interação entre língua, cultura e sociedade” (MOURA, 2007, p. 11).
Nessa percepção, no contexto sociolinguístico, que compreende a língua como
instituição social ou elemento social da linguagem, podendo retomar sempre que
necessário, utilizando-se da correlação imprescindível entre língua e sociedade, Tarallo
(1985) aconselha: “[m]unicie-se desta relação e tire dela todo o proveito teórico e
metodológico possível!” (TARALLO, 1985, p. 6).
Desse modo, a epistemologia utilizada nesta investigação toma como objeto de
pesquisa a estreita relação entre o léxico e a sociedade, nos parâmetros dos saberes da
ampliação lexical da língua portuguesa, analisados a partir dos elementos neológicos
identificados no comportamento lexical dos falantes, registrados nos textos escritos,
produzidos pelo público feminino, especificamente na comunidade do Facebook, Clube
das Poderosas.
Assim, de cunho sociolinguístico, o objetivo desta pesquisa é avaliar e
descrever como os fatores extralinguísticos (temática abordada na comunidade de fala)
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corroboram de maneira favorável ou desfavorável para os fenômenos neológicos da
língua portuguesa.
Assim, a fim de estabelecer uma correspondência ao objetivo geral ou melhor
delimitá-lo, definimos os objetivos específicos:
(i) refletir acerca dos impactos que as temáticas abordadas nos ambientes de
comunicação exercem sobre a ampliação/renovação lexical da língua
veiculada;
(ii) pensar sobre os ambientes propícios e incentivadores à expansão lexical;
(iii) debater sobre o que a língua diz a respeito da sociedade e o que a
sociedade permite compreender a respeito da língua;
(iv) expor o panorama comparativo acerca da produção neológica entre as
comunidades analisadas;
(v) apresentar e socializar o resultado desta pesquisa.
(vi)
Desse modo, considerando a relevância da pesquisa sob diferentes
perspectivas, compreende-se que há mais de três décadas, estudiosos têm se debruçado
sobre pesquisas e elaborações teóricas acerca das questões linguísticas e conceitos
neológicos, com apontamentos científicos sistematizados. Assim, evidenciar a busca
pelas acepções da neologia parece tornar mínima a importância dos interesses
investigativos deste estudo. No entanto, não estamos tratando de conceitos linguísticos,
apenas, mas considerações neológicos compreendidas a partir de um material
sociolinguístico que representa características específicas de identidade linguística,
particulares da comunidade estudada.
Mediante tal perspectiva, torna-se imperioso reafirmar a busca pelos estudos
neológicos em comunidades virtuais, sobretudo, analisar as concepções da ampliação do
léxico por panoramas extralinguísticos. Assim, prosseguindo na busca pelo
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conhecimento sociolinguístico da ampliação lexical, adentramos aos estudos do
neologismo no português brasileiro.
Acepções Neológicas: A Vivacidade da Língua
Neste item, abordaremos os estudos dos neologismos, mais especificamente, os
estudos neológicos da língua portuguesa. Portanto, relacionando-se ao objeto de estudo
desta investigação, as acepções neológicas devem ser compreendidas não apenas como
processo de criatividade linguística, mas como processo da ampliação lexical
considerando as características dos ambientes de interação comunicativa e o falante.
Neologia no campo social
Na medida em que a sociedade evolui, a língua acompanha a mesma dinâmica,
ou seja, pelo léxico é possível perceber as mudanças culturais e históricas da língua.
Para Bechara (2009, p. 351),
[a]s múltiplas atividades dos falantes no comércio da vida em
sociedade favorecem a criação de palavras para atender às
necessidades culturais, científicas e da comunicação de um modo
geral. As palavras que vêm ao encontro dessas necessidades
renovadoras chamam-se neologismos, que têm, do lado oposto ao
movimento criador, os arcaísmos, representados por palavras e
expressões que, por diversas razões, saem de uso e acabam esquecidas
por uma comunidade linguística, embora permaneçam em
comunidades mais conservadoras, ou lembrados em formações deles
originados.
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Desse modo, o neologismo tem significado ainda mais amplo uma vez que
representa o retrato social dos falantes ou a época histórica de uma língua. Assim, os
neologismos descrevem o desenvolvimento da língua e todos os processos de criação
pertinente a esse desenvolvimento. Além disso, o neologismo acompanha e delineia as
inovações de uma sociedade. Assim, ao estudarmos as concepções neológicas, não
estamos apenas analisando os processos de formação de novas palavras, mas estudamos
também a evolução de uma sociedade.
Estudos neológicos
Aos estudos que versam os mecanismos da ampliação lexical, a neologia e
neologismo tratam especificamente do acervo lexical que se renova constantemente.
Para Alves (2007), a neologia é o processo de criação lexical e o neologismo é o
produto resultante desse processo.
Por base de composição grega, a neologia e o neologismo têm “neo”, com
significação de “novo” e “logos”, com significado de “noção” (CORREIA e
ALMEIDA, 2012, p. 17). Desse modo, compreende-se que a renovação lexical está
relacionada, sobretudo, à nova palavra ou novo sentido destinado à palavra já existente.
Nessa perspectiva, o neologismo e a neologia apesar de indissociáveis, apresentam
conceitos distintos, como confirma Barbosa (1996):
A oposição entre processo e produto pode-se fazer corresponder a
distinção entre neologia e neologismo: se neologia é o processo que
pode ser definido em termos de uma tipologia, o neologismo é o
produto que, depois que passar por aquele processo, pertence a uma
tipologia de neologia (BARBOSA, 1996, p. 78).
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Assim, considerando a distinção entre os termos, nos próximos parágrafos,
trataremos das definições específicas de cada nomenclatura, nas suas diversas acepções
da renovação lexical.
Neologia
Tradicionalmente, para Correia e Almeida (2012), a neologia é compreendida
por dois conceitos distintos: renovação e estudo.
A capacidade de renovação representa os mecanismos de reiteração pela
inserção de novas unidades no léxico, isto é, a capacidade que o falante tem de ampliar
o léxico de sua língua de origem, agregando novas unidades lexicais ao acervo
linguístico.
O estudo da ampliação lexical está relacionado às especificadas do trabalho
de observação, coleta de dados, registro e análise das palavras incorporadas ao léxico,
ou seja, novas unidades lexicais inseridas no contexto linguístico em que a língua foi
estudada.
No entanto, quando pensamos em estudos neológicos, conjecturamos que o
processo é algo novo, porém, “[o] conceito de neologia, no entanto, é muito anterior ao
aparecimento do termo, pois acompanha o desenvolvimento do acervo lexical de todas
as línguas” (ALVES 1996, p. 12).
Nessa linha de raciocínio, considerando a relação entre a evolução do léxico,
juntamente à evolução neológica, Carvalho (1983) conceitua Neologia como
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[...] estudo da criação da palavra ou conjunto da palavra ou conjunto
de palavras, de sua produção e aparecimento, num momento dado da
história da língua. Isto conduz evidentemente à análise do contexto
sociolinguístico. Mas para que o uso do neologismo se torne efetivo,
é preciso que, além das pressões sociais, o sistema linguístico esteja
apto a absorvê-lo (CARVALHO, 1983, p. 23).
Complementando, Guilbert (1975) afirma que o conceito de neologia está
relacionado a todos os fenômenos de inovação da língua, produzidos a partir de regras
de produção do sistema lexical. Para Correia e Almeida (2012) a neologia tem relação
com a capacidade de renovação do léxico, por meio da criação e da incorporação de
unidades novas, os chamados neologismos.
Desses estudos, Correia Almeida e Almeida (2012) estabelecem três vertentes
distintas à renovação linguística. Para as autoras, a neologia pode ser representada por
três tipos:
(a) neologia denominativa: resultante da necessidade de nomear
novas realidades (objetos, conceitos), anteriormente existentes;
(b) neologia estilística: correspondente à procura de uma maior
expressividade do discurso, para traduzir ideias não originais de uma
maneira nova, ou para exprimir de modo inédito uma certa visão de
mundo;
(c) neologia de língua: que são unidades lexicais do discurso que, por
não se distinguirem das restantes unidades lexicais da língua (elas
correspondem apenas à atualização da competência derivacional dos
falantes), não despertam qualquer sentimento de novidade do falante
(CORREIA ALMEIDA E ALMEIDA, 2012, p. 18).
Desse modo, observa-se que a ampliação lexical, acepções da neologia,
abrange características pontuais do neologismo, especificidades que abordaremos no
próximo tópico.
Neologismo
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Facilmente um falante reconhece a existência de uma nova unidade lexical, no
entanto, definir o conceito de neologismo requer um empenho um pouco mais
acentuado.
Os neologismos não significam apenas ampliação ou alteração dos mecanismos
linguísticos de uma língua. O conceito de neologismo aplica-se aos novos fenômenos
que descrevem uma língua, como afirmam Correia e Almeida (2012),
Dessa definição, decorre que os neologismos podem constituir
palavras formalmente novas, palavras preexistentes que adquirem um
novo significado, ou ainda, palavras que passam a ocorrer em registros
linguísticos nos quais não costumavam ocorrer (CORREIA e
ALMEIDA, 2012, pp. 24-25).
Assim, o momento em que a palavra é criada e a percepção de novidade podem
determinar a característica neológica de uma palavra. Desse modo, em outro período da
história, a mesma palavra poderá ser mencionada no repertório linguístico e novamente
poderá ser sentida como nova pelos usuários que nunca tivessem acesso àquela unidade
lexical.
Basílio (2004) diz que no momento e por intermédio do próprio ato da
comunicação, novas palavras surgem automaticamente ao repertório linguístico do
falante, ou seja, as palavras são criadas a partir dos contextos sociais em decorrência da
necessidade do falante.
Sentimento de novidade
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De caráter inédito, no instante da sua criação, uma palavra de imediato não é
reconhecida como neológica, ou seja, nesse momento, a nova palavra se passa no
período enunciativo, na fase de reconhecimento por parte dos falantes. Esse processo de
consideração é identificado como critério psicológico (GUILBERT, 1975) ou
sentimento de novidade (CORREIA E ALMEIDA, 2012).
A esse respeito, Carvalho (1983) explica que,
[h]istoricamente, toda palavra foi um dia nova, isto é, a partir de certo
momento é que passou a fazer parte de uma comunidade. O
reconhecimento do estado de uma língua implica no reconhecimento
intuitivo do caráter de novidade de certas palavras. Algumas
pertencem à fala, mas ainda não à língua, porque têm condição
provisória (CARVALHO, 1983, p. 24).
Nesse contexto da ampliação lexical é necessário observar o juízo de valor que
a palavra “nova” acarreta, ou seja, quando o falante encontra uma unidade lexical que
parece ser nova, surgem algumas dúvidas.
Sobre essa reflexão, Biderman (2001) descreve dois tipos de novidade, a
novidade que se passa na estrutura formal da palavra ou semântica. Assim, “[p]erante
uma unidade lexical que é sentida como nova, uma questão que importa ressaltar é a
seguinte: em que essa unidade lexical é nova? “[...] [P]odemos verificar que os
neologismos podem sê-lo em vários níveis, isto é, podem apresentar tipos de novidade
distintos [...]” (CORREIA e ALMEIDA, 2012, p. 24), que é a novidade formal e a
novidade semântica.
Período “probatório do léxico” e processo de desneologização
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Durante a comunicação linguística algumas palavras passam pelo discurso,
porém, nem todas pertencem à língua (CARVALHO, 2012). Isso quer dizer que, a partir
dessa dinâmica e a depender da aceitação do usuário, a palavra pode ou não ser
dicionarizada, que é o período pós-criação da palavra, ou seja, a nova unidade lexical
passa pela condição provisória ou validação por parte dos falantes.
Para Alves (2007), o fato da palavra ser nova não garante que ela se tornará um
elemento do idioma. O neologismo passa a ter estabilidade quando é reconhecido pelo
menos por um grupo de indivíduos, após o “período probatório”, ou seja, “[s]ó
conseguimos comprovar uma mudança quando adotada por vários falantes salvo em
raros casos. E quase sempre impossível descobrir quem e quando iniciou uma inovação”
(CARVALHO 2006, p. 196). Após essa etapa, existe a possibilidade do neologismo ser
agregado ao dicionário.
Sobre a dicionarização de novos termos, isto é, a inserção dos neologismos aos
dicionários, Alves (1994) diz que
[n]ão basta a criação do neologismo para que ele se torne membro
integrante do acervo lexical de uma língua. É, na verdade a
comunidade linguística, pelo uso do elemento neológico ou pela sua
não difusão, que decide sobre a integração dessa nova formação o
idioma (ALVES, 1994, p. 84).
Ainda, Biderman (2001b) diz que as palavras surgem nas línguas e
desaparecem do convívio social. Acerca dessa probabilidade de nascimento de itens
lexicais é chamada de produtividade lexical.
As mudanças sociais e culturais acarretam alterações nos usos
vocabulares; daí resulta que unidades ou setores completos do Léxico
podem ser marginalizados, entrar em desuso e vir a desaparecer.
Inversamente, porém, podem ser ressuscitados termos que voltam à
circulação, geralmente com novas conotações. Enfim, novos
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vocábulos, ou novas significações de vocábulos já existentes, surgem
para enriquecer o Léxico (BIDERMAN, 2001b, p. 178).
Dito de outro modo, Correia e Almeida (2012) esclarecem que nesse contexto,
nem todas as palavras criadas serão registradas nos dicionários, visto que muitas
palavras são produzidas para atender necessidades específicas do momento da fala, isto
é, são construções efêmeras para atender um demanda pontual e momentânea. Daí o
motivo de muitos registros lexicais desaparecem com a mesma agilidade com que foram
criados.
A esse respeito, Rocha (2008) diz que
nem toda formação nova se torna institucionalizada, ou seja,
conhecida de uma comunidade linguística. Há certas criações que
chamamos de formações esporádicas, [...] que nascem de uma
discussão com um amigo, por exemplo, ou da pena de um escritor.
Uma formação esporádica tem uma experiência efêmera (ROCHA,
2008, p. 39).
Desse modo, se a nova palavra – o neologismo – se torna uso comum entre os
falantes, essa palavra se desprende da função neológica, agregando-se às obras
lexicográficas e, por conseguinte, se torna parte do sistema linguístico.
Numa perspectiva diacrônica, caso a palavra não desapareça, a unidade integra-
se à norma, deixando de representar um ruído e ocorre a etapa de desneologização
(CARVALHO,1987). No entanto, esse movimento de criação e fixação da nova palavra
ao repertório linguístico não acontece de forma abrupta. Na medida em que o uso da
palavra se torna constante, o sentimento de novidade perde força. “É por isso que toda
língua possui um dicionário, que, além de registrar palavras antigas, acolhe também as
novas formações que se “congelam” em um idioma, como resultado do acionamento das
regras morfológicas” (ROCHA, 2008. p. 39).
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Para tratarmos especificamente dos processos de formação desta investigação,
faz-se necessário apresentarmos os processos metodológicos da pesquisa, como
veremos no próximo item.
Especificações e Metodologia da Pesquisa
Este estudo toma como parâmetro investigativo o falante em contexto de uso
da fala, que representa características pessoais de uso da língua, que serve à
coletividade, constituindo a primeira via de transformação lexical.
Nessa vertente, ocorre um ponto importante de discussão que é a qualidade dos
textos que o falante lança mão quando está em comunicação linguística. Para esta
pesquisa, de caráter sociolinguístico, é justamente nesse contexto que abarcamos nossos
estudos.
Liberdade de expressão linguística
Devido a inesgotável produção comunicativa no que diz respeito aos textos
diagnosticados nos ambientes virtuais, a qualidade desses escritos pode limitar ou
delimitar o corpus da pesquisa, como esclarecem Correia e Almeida (2012),
É preciso não esquecer que, nos dias que correm, a internet é uma
fonte inesgotável de texto escrito (algum de pouca qualidade, é certo,
mas, se a perspectiva dominante do trabalho a desenvolver não for
normativa, a “qualidade” pode não ser um aspecto muito relevante,
além de materiais com “erros” constituem, como é sabido, excelentes
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pontos de partida para o ensino-aprendizagem de diferentes aspectos
da língua) (CORREIA e ALMEIDA, 2012, p. 26).
Assim, por se tratar de uma investigação que olha para a língua em seu
contexto social e heterogêneo de uso, a intenção foi apropriar-se dessa rica e
diversificada produção linguística, na proposta de estabelecer conexão aos fenômenos
neológicos que se estabelecem nesses contextos variados, denominado por Tarallo
(1985) como “caos” linguístico. É uma espécie de campo de guerra, em que variáveis
maneiras de representar a mesma coisa se enfrentam em um duelo sangrento de honra,
como uma arena de disputa frequente por estabilidade e domínio, subsistência e
coexistência.
Na produção lexical, sobretudo, na atmosfera virtual, percebe-se na fala dos
participantes relativa1 liberdade e despreocupação com as expressões linguísticas. No
entanto, essa despreocupação acontece em menor grau nas comunidades tidas como
“abertas”. A esse cuidado de expressão da fala, Bortoni-Ricardo (2004) chama de
linguagem monitorada ou monitoração linguística.
Em linhas gerais, esses conceitos dizem respeito ao monitoramento que o
falante lança mão ao comunicar-se linguisticamente em determinado grupo social,
sendo mais ou menos cuidadoso durante a expressão linguística, fator que ocorre com
menor frequência nos grupos tidos como “fechados”, as conhecidas comunidades
privadas. Desse modo, “[...] o falante vai sentir-se desobrigado de proceder a uma
vigilante monitoração e pode usar estilos mais coloquiais” (BORTONI-RICARDO,
2004, p. 73), configurando-se um ambiente vasto e propício à ampliação lexical.
Partindo dessa discussão, para aprofundar os estudos desta investigação, nos
apoiamos exatamente nesse espaço “fechado”, visto que, toda e qualquer manifestação
linguística torna-se um objeto riquíssimo de pesquisa.
1 Usamos o termo “relativo”, visto que por se tratar de ambientes virtuais, é grande a vulnerabilidade na
segurança e sigilo das postagens.
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Nesse contexto, no nível da fala e em textos escritos, 20 neologismos foram
extraídos por um corte sincrônico durante o primeiro semestre de 2020, entre os meses
de janeiro e maio.
A partir da leitura das publicações e comentários identificados no portal
selecionado, as unidades lexicais sentidas como novas, pelo sentimento de novidade
(CORREIA e ALMEIDA, 2012), foram extraídas manualmente na extensão temporal
estabelecida.
No que se segue, à guisa de ilustração concreta da pesquisa neológica da língua
portuguesa, em comunidades virtuais, os possíveis neologismos, isto é, todas as palavras
sentidas como novas foram inseridos à Ficha de Registro de Possibilidade Neológica,
estruturada e organizada para atender a esse fim.
Critério de exclusão/existência e critério lexicográfico
Com a organização dos possíveis neologismos incorporados às Fichas de
Registro de Possibilidades Neológicas, após a conclusão do corpus de extração,
objetivando verificar o caráter neológico das palavras identificadas, todas as unidade
lexicais foram submetidas ao critério de exclusão (CORREIA E ALMEIDA, 2012) ou
critério de existência (ROCHA, 2008).
Assim, cada palavra foi comparada ao corpus de exclusão, ou seja, o possível
neologismo foi sujeitado ao dicionário, seguindo alguns critérios descritos por Correia e
Almeida (2012):
i. verificar se a unidade está registrada;
ii. verificar se a categoria morfossintática é a mesma registrada;
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iii. verificar se o significado detectado corresponde ao registrado;
iv. verificar se as combinatórias correspondem às registradas;
v. verificar os diferentes aspectos da unidade lexical.
Desse modo, o critério lexicográfico serviu como fonte de certificação dos
possíveis neologismos, a partir da inserção das palavras registradas nos dicionários
gerais da língua em análise, qual seja: Caldas Aulete Dicionário da Língua Portuguesa,
Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa e Michaelis Dicionário Brasileiro
da Língua Portuguesa.
Após a recolha e o registro dos neologismos, importa comparar os
resultados obtidos com o corpus de exclusão definido. Para cada
unidade deve-se verificar se a sua forma está registrada, se a categoria
morfossintática é a mesma que se encontra registrada no dicionário, se
o significado detectado corresponde ao(s) registrado(s)
lexicograficamente, se as combinatórias da palavra correspondem às
registradas; enfim, importa verificar os diferentes aspectos da unidade
lexical que podem constituir novidade (CORREIA e ALMEIDA,
2012, p. 28).
Assim, apenas as unidades que não registraram-se ao crivo lexicográfico,
foram consideradas como neológicas. Nas páginas que seguem, trataremos da descrição
mais detalhada de cada um desses processos.
Descrição e Análise Dos Dados
De maneira essencial, neste espaço da pesquisa, faremos a descrição e análise
dos dados detectados a partir da identificação neológica, retirada da comunidade do
Facebook, Clube das Poderosas, na esfera do entretenimento, a fim de perceber a
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influência que os fatores extralinguísticos exercem sobre a expansão lexical, nos
espaços de interação social do falante.
Desse modo, no propósito de facilitar a compreensão, os neologismos foram
inseridos em uma ficha de análise neológica, como descrito no item anterior, que foi
organizada para discriminar as características do processo de formação de expansão do
léxico.
Assim, para estudarmos a produtividade lexical, foi adotado o aspecto
morfológico, fazendo fronteira com a semântica e a sociolinguística. No
desenvolvimento da pesquisa, 20 (vinte) neologismos foram registrados, contudo, para
este documento, como parâmetro de amostra, abordaremos alguns exemplos, como
veremos nos próximos parágrafos.
Registro e descrição neológica na comunidade virtual Clube das Poderosas
FICHA-RESUMO DE DESCRIÇÃO NEOLÓGICA
Corpora: Comunidade Facebook Corpus: Cube das Poderosas
Âmbito Temático: entretenimento Extração: janeiro a maio/2020
Ord.
Neologismo
Correspondente
Nov.
C.G.
Neol. Neologismo
Form.
Den. Fonol.
Marginal Estil. Semân.
Sem. Líng. Sintát.
Emp.
1. Cabrunco homem de pênis avantajado
form. sub. estil. - gíria
2. Neiva do céu pênis pequeno sem. sub. estil. semân. -
3. Mulesta pênis avantajado form. sub. estil. - gíria
4. Nenis neném form. sub. estil. - abreviação
5. Safadenha safadinha form. adj. estil. fonol. -
6. Séquiçu sexo form. sub. estil. fonol. -
7. Serpenis pênis form. sub. estil. - cruz. voc.
8. Sol das 10 homossexual sem. sub. estil. semân. -
9. Tabs ânus form. sub. estil. - abreviação
10. X as vezes sem. adv. estil. semân. -
Fonte: https://www.facebook.com/groups/659322547926043/
Tipo de novidade: formal e semântica
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Perante uma palavra tida como nova, ocorre o processo de estranhamento por
parte do falante. Esse processo é conceituado por Correia e Almeida (2012) como
sentimento de novidade, caracterizado em novidade formal e semântica. Assim, as
palavras tidas como novas passam por um processo de construção, de acordo com as
regras de produção do sistema lexical.
A novidade formal constitui uma palavra nova, nas esferas do significante e
do significado, isto é, palavras que ainda não foram agregadas à língua. A novidade
semântica relaciona-se a um novo sentido dado à palavra já existente. Nesse contexto,
apenas o significado é alterado, porém, a forma permanece a mesma, isto é, a palavra
tida como nova é existencial em sua forma, porém recebe um novo sentido, uma nova
conotação.
Na comunidade estudada, foram diagnosticadas as duas novidades, sendo a
novidade formal representada em 35% dos casos, podendo ser observada nos exemplos:
[cabrunco > homem de pênis pequeno]; [nenis > neném]. Já a novidade semântica é
responsável por 65% dos neologismos localizamos, como é possível verificar nas
representações: [sol das 10 > homossexual]; [x > às vezes].
Classe gramatical
O indicativo abaixo representa a distribuição de novos registros de acordo com
as quatro classes abertas do português, isto é, as quatro possibilidades que permitem a
formação de novas unidades lexicais: substantivo, adjetivo, verbo e advérbio. Contudo,
nas produções analisadas, o verbo não foi localizado. O adjetivo foi identificado em
apenas um caso, configurando 5% dos neologismos: [safadenha > safadinha]. Do
mesmo modo ocorreu com os advérbios, apontando apenas uma palavra: [x > às vezes].
Já os substantivos, assumem a grande parte dos registros.
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Os dados revelam que 90% das palavras novas são substantivos, isto é, o
falante necessita criar novas unidades lexicais que atribuem nomes aos seres, ações,
objetos, características, sentimento, estados, observados no cotidiano sociolinguístico,
como vemos: [cabrunco > homem de pênis avantajado]; [Neiva do céu > pênis
pequeno]; [nenis > neném]; [mulesta > pênis avantajado]; [séquiçu > sexo]; [serpenis >
pênis]; [Sol das 10 > homossexual]; [tabs > ânus].
Tipo de neologia
Como vimos anteriormente, a neologia pode ser caracterizada em neologia
denominativa, neologia estilística e neologia de língua, contudo, a neologia que
somente fixará à língua é aquela que for de fato necessária, ou seja, “unidades de
discurso, passando para o sistema da língua apenas aquelas formações que assumem um
caráter permanente e estável, isto é, normalmente aquelas que resultam de uma
necessidade do sistema, sobretudo as de caráter denominativo” (CORREIA;
ALMEIDA, 2012, p. 20).
Na pesquisa, apenas uma neologia foi evidenciada, representando 100% das
palavras registradas, que foi a neologia estilística. Esses dados indicam que o falante
procura por maior expressividade no discurso, na tentativa de traduzir uma nova
maneira de se exprimir as ideias.
Formação neológica
O fenômeno da ampliação lexical se estabelece em bases distintas de expansão,
visto que cada língua possui mecanismos próprios de construção. Na língua portuguesa,
a construção da inovação lexical (os neologismos) normalmente se estabelece
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basicamente em três pilares mais produtivos: construção, atribuição e importação.
Os mecanismos de construção e atribuição ocorrem na esfera da língua de
origem, ou seja, a construção se ocupa das regras da própria língua para estabelecer sua
estrutura. Na atribuição, novos significados são agregados às palavras que já existem
na íngua. No caso da importação, a formação ocorre por meio de palavras oriundas de
outras línguas, isto é, estruturas existenciais fora do sistema linguístico.
Nessa perspectiva, os processos de formação neológica apresentam-se em
quatro tipologias de formação, assim como descritos por Guilbert (1975) e Alves
(2007):
I. Neologismos fonológicos é a criação de um item lexical em que o significante
seja inédito, sem base em nenhuma palavra já existente na língua.
II. Neologismo sintáticos são aqueles gerados pela combinação de elementos
existentes na língua e sua combinação pode estar no nível frasal, alterando a
categoria lexical do item.
III. Neologismos semânticos são criados sem a operação de mudanças formais no
léxico já existente. Uma palavra passa a receber um novo significado na língua
sem prejudicar os outros.
IV. Neologismo por empréstimos possuem palavras ou elementos de línguas
estrangeiras.
Na investigação, não foram identificados neologismos sintagmáticos e
neologismos por empréstimos. Desse modo, constaram apenas neologismos
fonológicos, com 10%, neologismo semântico, com 65% e formações “marginais”,
representando 25% dos casos.
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Neologismos fonológicos
Apesar de rara, a neologia fonológica, por vezes, pode ser usada na intenção de
alterar o item lexical, porém, essa alteração não modifica o significado lexical, isto é,
não abala a compreensão do leitor, uma vez que a mudança se passa no campo do
significante.
A esse respeito Alves, (2007, p. 12) descreve alguns exemplos:
a) substantivo turma > tchurma;
b) verbo beber e comer > bebemorar;
c) substantivo show > xou da Xuxa.
Nos textos estudados, apenas dois casos foram identificados como neologismo
fonológico: [safadenha > safadinha]; [séquiçu > sexo].
Neologismo: safadenha
Texto:
Dia dos namorados chegando ... hora de inovar no “séquiçu”, pra dar aquela apimentada na
relação...
[imagem]
Significado: [Formal] adj. fem. - safadinha.
Definição: Diminutivo de safada.
Referência: [Formal] adj. fem.- safada.
Feminino de safado. O mesmo que: devassa, tirada, arrastada, desavergonhada, desbotada,
descarada, irada, obscena.
[Regionalismo: Nordeste] Diz-se da criança inquieta ou traquinas. Etimologia: particípio de
safar.
Neologismos semânticos
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Os neologismos semânticos decorrem da criação de novos sentidos,
significados novos para um significante preexistente, que já é utilizado entre os falantes.
Esse fenômeno representou grande parte dos neologismos identificados, compondo
mais da metade dos casos identificados. Vejamos o exemplo:
Neologismo: Neiva do céu
Texto:
Dança da mãozinha
[imagem]
Não vejo graça, com certeza é Neiva do céu, tentei enxergar alguma coisita aí e não vi
nada...
Significado: [Formal] sub. masc.- pênis pequeno.
Definição:
Pênis - [Anatomia] Órgão genital/sexual presente nos indivíduos do sexo masculino.
[Zoologia] Órgão masculino de função copuladora presente num animal invertebrado.
Etimologia: latim - penis.is.
Pequeno - De reduzido porte, de pouca extensão, de baixa estatura, franzino. Cuja estatura
está abaixo da média: criança muito pequena. Etimologia: latim - pitinnus.
Referência: [Formal] Vocativo - Neiva do céu.
Expressão conhecida na internet e fora dela após vazamento de um áudio em que uma
mulher conta à sua amiga sobre um encontro mal sucedido que teve com um homem.
Processos “marginais” de formação
Além dos processos de formação de palavras mais comuns: derivação e
composição, que corresponde aos neologismos sintagmáticos, ocorre ainda, “Outros
processos” (BASILIO, 2004), “Tipos especiais” (BECHARA, 2009), dentre outras
nomenclaturas. Já Gonçalves (2016) reconhece como processos “marginais” de
formação de palavras.
Apesar do nome, “esses mecanismos nada tenham de marginais: são tão
importantes quanto os canônicos processos de composição e derivação, altamente
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produtivos no atual estágio da língua e sistematizáveis (não são foras-da-lei)”
(GONÇALVES, 2016, p. 9). Esses processos foram evidenciados em 25% dos casos,
totalizando 5 (cinco) palavras neológicas: dois casos de gírias, dois de abreviação e um
caso de cruzamento vocabular:
Neologismo: cabrunco
Texto:
“Eu assisto toy boy pq gosto da história”
A história:
#toyboynetflixbrasil
[imagem]
- Ohhhh Cabrunco...
Significado: [Formal] sub. masc. – homem de pênis avantajado.
Definição:
Homem – sub. masc. Indivíduo dotado de inteligência e linguagem articulada, bípede,
bímano, classificado como mamífero da família dos primatas, com a característica da
posição ereta e da considerável dimensão e peso do crânio. Espécie humana; humanidade: a
evolução social do homem. Pessoa do sexo masculino. Esposo, marido, companheiro. A
criatura humana sob o ponto de vista moral: todo homem é passível de aperfeiçoamento.
Etimologia: latim - homo.inis.
Pênis – subs. masc. - [Anatomia] Órgão genital/sexual presente nos indivíduos do sexo
masculino. Etimologia: latim - penis.is.
Avantajado – adj. Diz-se do que é superior a, excede, leva vantagem sobre.
Referência: [Formal] sub. fem. masc. – cabrunco.
[Brasil] Alguém de má aparência; algo desproporcional. Que demonstra admiração diante
de alguma coisa extremamente bonita ou muito feia. Etimologia: questionável.
Considerações Finais
O que emerge a partir da análise dos dados observados é que, os fenômenos da
ampliação lexical e a interação comunicativa entre os falantes é delimitada a partir das
abordagens desenvolvidas nos ambientes de fala, ou seja, compreende-se que para
ocorrer a criatividade, isto é, ampliação do acervo lexical, é necessário que o falante
esteja inserido em um ambiente de descontração e bem-estar. As atitudes
comportamentais e linguísticas advêm da interação social entre os participantes. A partir
da influência mútua e comunicativa, os falantes passam a adotar atitudes semelhantes
entre si.
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A interferência de fatores sociais e extralinguísticos interferem fortemente nos
fenômenos da ampliação lexical, especialmente no fluxo de produção neológica e nos
processos de formação dos neologismos, além da intensidade comunicativa entre os
usuários da língua. Desse modo, as temáticas existentes nas comunicadas de fala
influenciam significativamente na produtividade da ampliação lexical, fatores que
conversam com as hipóteses definidas inicialmente nesta pesquisa.
Dito de outro modo, as temáticas abordadas nas comunidades de fala
influenciam quantitativamente não apenas no número de neologismos produzidos, mas
pode representar a identidade sociolinguística desses falantes. Assim, o contexto social
é fator determinante, não apenas como representatividade da criatividade linguística,
mas atua como protagonista de representatividade sociolinguística.
Desse modo, como projeções de chegada aos estudos desta pesquisa, tem-se a
proposição de que o fator social desempenha papel primordial na ampliação do léxico,
acepções pelas quais promovem práticas que possibilitem estudar o léxico por outros
olhares, como constatação de que os estudos neológicos não se restringem apenas ao
viés comunicativo, mas aos espaços onde o falante atua, que é heterogêneo,
principalmente com advento da evolução na atmosfera científica e tecnológica.
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