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Naturologia

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O livro Naturologia: Reflexões sobre saúde, terapias naturais e pessoas foi desenvolvido a partir da dissertação de mestrado da autora, e tem como objetivo divulgar e fundamentar a Naturologia, visando uma maior compreensão dessa nova área da saúde. As terapias naturais estão inseridas nas mais diversas culturas e fazem parte da vida das pessoas, e embora tenham enfrentado períodos de preconceito ao longo da história, estão em constante processo de reformulação, atualização e comprovação de sua eficácia, visto que o Sistema Único de Saúde – SUS, oferece atendimentos através da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares – PNPIC desde 2006. A abordagem em saúde, que proporciona à Naturologia um olhar diferenciado ao sujeito é a noção de interagência, que orienta os naturólogos a compreenderem as multidimensionalidades do sujeito, e como elas interagem na dinâmica saúde-doença, favorecendo o desenvolvimento do autoconhecimento, da autonomia e do emponderament

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Coordenação Editorial Silvia Segóvia

Preparação de texto Marcio Barbosa

Diagramação Abreu’s System

Capa Monalisa Morato

Revisão Alline Salles

2014

IMPRESSO NO BRASIL

PRINTED IN BRAZIL

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À

NOVO SÉCULO EDITORA LTDA.

CEA – Centro Empresarial Araguaia II

Alameda Araguaia, 2190 – 11º andar

Bloco A – Conjunto 1111

CEP 06455-000 – Alphaville Industrial – SP

Tel. (11) 3699-7107 – Fax (11) 3699-7323

www.novoseculo.com.br

[email protected]

Copyright © 2014 by Michelly Paschuino

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua

Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Paschuino, Michelly Eggert

Naturologia: reflexões sobre saúde, terapias naturais e pes-

soas  / Michelly Eggert Paschuino. – 1. ed. – Barueri, SP: Novo

Século Editora, 2014. – (Coleção talentos da literatura brasileira)

1. Naturopatia 2. Terapia Natural I. Título. II. Série.

14-06801 CDD-615.535

Índices para catálogo sistemático:

1. Ficção : Literatura brasileira 869.93

2. Terapia natural 615.535

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Ded icató r ia

Dedico este livro em primeiro lugar à grande Deusa que, em

face de todas as transformações, me deu forças e me ampa-

rou diante das difi culdades que poderiam me desviar do ca-

minho e, enfi m, me vejo com o mestrado concluído e o sonho

do primeiro livro realizado. Em segundo lugar, mas não com

menor importância, dedico àqueles que são vitais para mi-

nha existência: meus pais José Alfeu Paschuino e Leonita Eg-

gert Paschuino, meus melhores amigos, meus companheiros,

meus maiores amores... O amor por vocês é tão grande que

nenhuma palavra seria capaz de expressar o quanto sou grata

por cada segundo, cada momento de convívio e de aprendi-

zado com vocês. Por fi m, dedico à minha avó Maria Moreira

de Mello Eggert (em memória), que nos deixou em 2011, de

quem recebi o legado de força, luta e persistência para vencer

na vida. Vó, a senhora será eternamente o meu anjo protetor.

Eu e toda a família te amamos infi nitamente.

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“Conheça todas as teorias,

domine todas as técnicas,

mas ao tocar uma alma humana,

seja apenas outra alma humana”

Carl Gustav Jung

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Ag radec imentos

Agradeço do fundo do coração a todos os naturólogos que

participaram desta pesquisa, contribuindo com os resultados

promissores que favorecem a nossa profi ssão. Muito, muito

obrigada!

Agradeço aos coordenadores dos cursos de Naturolo-

gia, André Luiz Ribeiro (UAM) e Fernando Hellmann (UNI-

SUL), que contribuíram e contribuem para que a formação

atinja a qualidade necessária para tornar o naturólogo um

profissional e um ser humano de qualidade. Agradeço tam-

bém por facilitarem o acesso às informações para esta pes-

quisa e o desdobramento a favor da Classificação Brasileira

de Ocupações que está em andamento. Muito obrigada!

Agradeço a você, Marco Fabossi, por ser uma inspiração

durante o exercício de Modelagem no curso de Master em

Programação Neurolinguística. Graças a você, ganhei força

interior extra para dar continuidade ao meu livro. Grati-

dão!

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Miche l l y Paschu ino

Agradeço a você, que tem este livro em mãos, e desejo que

a sua leitura seja rica e proveitosa, e que você possa transfor-

mar essas informações em sementes férteis, fazendo com que

a Naturologia seja valorizada enquanto profi ssão e ciência.

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P re fác io

Quando Paracelso – nos primórdios do Iluminismo – pro-

nunciou-se afi rmando: “Todos são interligados. O céu e a

terra, o ar e a água; o homem e a natureza. Todos são uma

só coisa; não quatro, não duas, nem três, mas uma. Se não

estiverem juntos, há apenas algo incompleto, sem sentido”,

houve o chamado para a reconstrução daquilo que as ordens

sociais se encarregaram de desagregar. O tempo se incumbiu

de confi rmar tal assertiva. O conceito de natureza humana

vem se impondo de tal sorte que, atualmente, a comunidade

científi ca e o público de forma geral reconhecem a presença

das conexões entre homem e natureza; entre corpo, mente e

emoções. Somos, como disse Paracelso, uma só coisa.

Assim, apenas as manifestações físicas, mecânicas e fi -

siológicas não são sufi cientes para conferir plausibilidade às

experiências do homem.

Por desinformação, ainda, alguns colegas da área da saú-

de e de outros campos insistem em não aceitar algo que já

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Miche l l y Paschu ino

é adotado por natureza e agora reconhecido pela vivência: a

formação do sujeito diante da interdependência de sua natu-

reza.

Esta obra tem singulares missões históricas, políticas,

educativas e de expansão pessoal; por isso, ela atrai diferen-

tes públicos sem se distanciar de seu mais importante objeti-

vo: o convite à descoberta das esferas biofísica, social, mental

e sutil que sustentam a Naturologia e sua relação com o ser

humano.

Prefaciar um livro sobre o assunto que também tem sido

minha motivação maior é uma dessas honras que ninguém

pode recusar. Primeiramente por se tratar da produção de

uma prezada amiga que deixa transparecer nas páginas do

livro a mesma paixão e inquietação que vi nos profundos e

sinceros olhos da menina que conheci. A menina que hoje é

uma pesquisadora incansável e uma mestra inspiradora nas

cadeiras que lhes são confi adas por nossa amada Universida-

de. Este magnífi co livro é o reconhecimento da sabedoria de

uma colega que luta pela humanização da saúde bem como

pela cientifi cidade dessa humanização.

A posteriori, trata-se de uma abordagem urgente, uma vez

que nosso país e boa parte do mundo têm posto em questão

a necessidade de se construírem pessoas sensatas e verdadei-

ras e, por meio delas, obter um futuro mais honesto. A res-

peito da ciência, pode-se dizer que vem sendo desconstruída

e também reconstruída sobre novos paradigmas e à luz de

nossas necessidades sem desrespeitar as metodologias até

então vigentes. Não cabe aqui discutir o que é ou não ciência,

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Naturo log ia

no entanto enfatizar que ela também é dinâmica e que este

trabalho vem a calhar num cenário mais amplo e obviamen-

te sedento de novas propostas. A preocupação em colocar a

Naturologia no hall das ciências e, mais precisamente, das

ciências da saúde, alicerçando-a nos pilares da complementa-

ridade e do embasamento em evidências, constrói o sujeito-

-profi ssional ético e consciente. Brinco: com ciência.

A Naturologia como ferramenta de construção do indi-

víduo – considerando suas particularidades físicas, mentais

e emocionais – é a melhor abordagem que vivenciamos dia-

riamente em nossos consultórios pois, ao desenvolvermos

nossos papéis de orientação e reequilíbrio desses níveis do

ser, estamos sendo convidados a edifi car uma estrutura orgâ-

nica permeada por dutos sutis de uma forma que ainda não

fora experimentada pela pessoa. Essa função de “arquiteto

de pessoas” não é vertical, superior à integridade do partici-

pante, pois nesse processo ela permite que a própria pessoa

se construa apoiando-se nas propostas.As muitas contribui-

ções aqui são úteis para estudantes, naturólogos e pacien-

tes, demais colegas da área da saúde, autoridades públicas,

e permitem que este trabalho trace uma linha transversal

unindo o conhecimento e todos aqueles que buscam englo-

bar dimensões mais abrangentes em suas vidas.

Sim, a sabedoria deve ser compartilhada. A sabedoria não

deve ser algo para o repouso de um espírito inquieto e pesqui-

sador, ou o terraço de descanso de uma mente vaidosa, mas,

sim, uma ponte para a glória do Criador e, principalmente, para

o crescimento de seus fi lhos e a diminuição do sofrimento.

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Miche l l y Paschu ino

Agradeço, orgulhosa, em nome de nossa comunidade, a

concepção desta obra, que passa a ser uma fonte de consulta

conveniente aos que ingressam na Naturologia e aos demais

que desejam passar pela deliciosa experiência de se recons-

truir, que é proposta desde Paracelso.

Parabéns, minha amiga Michelly, por atender com maes-

tria ao seu chamado.

Priscila Esteves, naturóloga.

Inverno de 2013.

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I n t rodução

Naturologia...

“Pera aí, natu o quê?”

Estou acostumada a ouvir essa pergunta há nove anos e

meio, tempo que representa o meu envolvimento com a Na-

turologia, mas o meu interesse pelas terapias naturais e com-

plementares começou bem cedo.

Com 15 anos entrei em contato com a cultura celta, que

me estimulou a ver o sujeito com outros olhos, valorizando

suas raízes culturais, crenças, o desenvolvimento espiritu-

al e o relacionamento equilibrado do sujeito com a natureza.

Aprofundei-me nos estudos, dedicando-me à fi losofi a Wicca, e

foi por meio dela que conheci a fi toterapia, a aromaterapia, a

cristaloterapia e o reiki.

Em dezembro de 2003, ao terminar o Ensino Médio e em-

penhada em meu desenvolvimento acadêmico, busquei uma

formação profi ssional que se relacionasse com as minhas ap-

tidões e crenças pessoais. Apaixonei-me pelas terapias natu-

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rais e complementares e estava decidida a fazer disso o meu

futuro profi ssional, mas desconhecia uma formação acadêmi-

ca que abrangesse essa temática.

Sendo assim, decidi que em um primeiro momento eu fa-

ria o curso de Fisioterapia e me especializaria nas terapias

naturais após a graduação. Porém, para a minha felicidade,

conheci o curso de Naturologia da Universidade Anhembi

Morumbi e, contrariando os sonhos dos meus pais de fazer

Direito ou Comércio e Vendas, fui atrás dos meus sonhos.

A proposta de estudar as terapias naturais e complemen-

tares visando à cientifi cidade e à abordagem integral em saú-

de me deixou plenamente segura quanto à minha escolha,

tanto que em dezembro de 2007 fi nalizei o Bacharelado com

a pontuação máxima do Trabalho de Conclusão de Curso, e,

no mesmo período, fui convidada a fazer parte do corpo do-

cente do curso de Naturologia da mesma universidade em

que me formei, e onde continuo até hoje.

Em função da carreira acadêmica, optei por fazer pós-gra-

duação lato sensu em Acupuntura pela FACIS IBEHE em São

Paulo, concluindo o curso em 2009. O mais incrível, pra mim,

é saber que durante a graduação eu detestava a Medicina Tra-

dicional Chinesa, justamente porque, durante a graduação,

não compreendia a complexidade do pensamento chinês.

Nesse mesmo ano, fi z o processo seletivo para o programa

interdisciplinar de mestrado da Universidade Braz Cubas –

UBC em Semiótica, Tecnologias da Informação e Educação.

A maior difi culdade para a minha área é encontrar uma

pós-graduação stricto sensu dentro da complexidade da Natu-

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Naturo log ia

rologia, e o programa de mestrado na UBC, pelo enfoque em

pesquisas interdisciplinares, me acolheu para que pudesse

abordar a minha profi ssão na dissertação.

As refl exões a respeito da profi ssão são claras para mim,

naturóloga, mas, a partir das críticas desenvolvidas ao longo

da minha formação profi ssional e como docente do curso de

Naturologia, as questões epistemológicas e profi ssionais da

formação me trouxeram uma profunda inquietação sobre se

elas estão sendo devidamente passadas aos alunos no âmbito

acadêmico e se os egressos do curso conseguem exercer, na

prática profi ssional, essa visão integrada de sujeito e de inter-

disciplinaridade /transdisciplinaridade.

Diante dessas inquietações, tive dois grandes questiona-

mentos que foram transformados nos dois pilares de discus-

são desta dissertação:

1) O curso de Naturologia oferece subsídios teóricos e téc-

nicos que capacitam o aluno/egresso a ter uma visão integral e

interdisciplinar sobre o processo de saúde-doença? Este questio-

namento é direcionado à formação acadêmica.

2) A formação em Naturologia implicou a abordagem in-

tegral do sujeito? Já este é direcionado ao problema da in-

serção do naturólogo no ambiente social e cultural como

agente transformador da saúde na sociedade.

Sendo assim, este livro tem por objetivo refl etir sobre

a contribuição da Naturologia para a formação do sujeito

enquanto pessoa e no âmbito profi ssional, inserido em um

ambiente em que a integralidade e a interdisciplinaridade se

fazem cada vez mais presentes na abordagem em saúde, con-

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textualizando, por meio da formação acadêmica e da atuação

profi ssional, a construção de uma profi ssão que propõe uma

reformulação de conceito e de aplicabilidade da saúde em fa-

vor da humanização.

Para tornar essa refl exão possível, o nosso percurso se dá

segundo uma perspectiva histórica em que visualizamos as

mudanças no conceito de saúde-doença. Esse olhar cronoló-

gico nos possibilita compreender o que estava acontecendo

na história que favoreceu a fragmentação em saúde.

A fragmentação tanto de sujeito como de saúde obser-

vada ao longo da história refl etiu diretamente na contem-

poraneidade, resultando na desumanização da saúde. Mas,

em contrapartida, com a chegada dos anos 1960 os movi-

mentos políticos a favor da humanização da saúde favore-

ceram o fortalecimento das terapias naturais e resultaram

no surgimento da Naturologia em 1994.

A Naturologia apresenta-se como uma profi ssão que favo-

rece o diálogo entre natureza e ciência, através da interdisci-

plinaridade e a transdisciplinaridade. A interdisciplinaridade

também está presente na integralidade do sujeito, em seus

aspectos biopsicossociais e metafísicos, favorecendo a huma-

nização da saúde e a inserção do profi ssional naturólogo na

sociedade.

Sendo assim, no primeiro capítulo mostra-se, por meio de

uma perspectiva histórica, as mudanças no conceito de saúde

e doença que favoreceram a sua consolidação mas resultaram

na fragmentação da abordagem do sujeito, originando a de-

sumanização dos atendimentos das necessidades básicas em

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saúde. A favor da humanização da saúde, apresento quais são

essas necessidades e a abordagem integral, que é uma das te-

orias que fundamentam a atuação do naturólogo.

No segundo capítulo, apresento a Naturologia, o movi-

mento histórico que favoreceu a sua inserção e seu crescimen-

to como profi ssão, a relevância científi ca das terapias naturais,

integrativas e complementares, atendendo a demanda sócio-

cultural, segundo a OMS, e o profi ssional naturólogo como

educador em saúde e como facilitador da recuperação e manu-

tenção da saúde.

Já no terceiro capítulo abordo a graduação em Naturolo-

gia nas duas únicas universidades reconhecidas pelo MEC – a

UNISUL e a Universidade Anhembi Morumbi –, os pilares que

fundamentam a graduação e as disciplinas teórico-práticas

que formam o perfi l do naturólogo. Por fi m, no último capí-

tulo apresento a pesquisa qualiquantitativa realizada durante

o mestrado, cujo objetivo foi refl etir sobre a contribuição da

Naturologia como uma nova profi ssão na área da saúde e na

formação do sujeito segundo a abordagem da integralidade,

avaliando, através da percepção do egresso, se a formação aca-

dêmica oferece subsídios teórico-práticos para que o profi ssio-

nal possa se desenvolver, atuar em equipes interdisciplinares

e, segundo a abordagem integral, se os conteúdos infl uenciam

na sua formação como sujeito.

Boa leitura!

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AS MUDANÇAS NO CONCEITO DE SAÚDE E DOENÇA

“Tão importante quanto conhecer a doença

que o homem tem, é conhecer o homem

que tem a doença”

William Osler

Para compreender o movimento a favor da abordagem inte-

gral e das terapias complementares, é necessário visualizar

historicamente como as mudanças na abordagem do proces-

so de saúde e doença criaram condições para que a integrali-

dade do sujeito e a humanização da saúde fossem possíveis

na contemporaneidade.

Esse olhar cronológico nos possibilita compreender e rela-

cionar os acontecimentos sociais, políticos e econômicos que,

a partir dos anos 1960, favoreceram o fortalecimento das te-

rapias naturais, até o surgimento da Naturologia em 1994.

As práticas de saúde têm suas origens em rituais religiosos

e esotéricos que se diferenciam nas mais complexas vertentes

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culturais e representam uma relação semiótica de interação

entre os seres humanos e a natureza, fundindo-se plenamen-

te com a história da humanidade e a constituição do sujeito.

Toda e qualquer prática de “cura” (se assim podemos dizer)

estava nas mãos de xamãs, curandeiros, benzedeiros... Todos,

sem distinção cultural, representavam o sacerdote e lidavam

com o invisível, que se manifestava através de dramas visíveis

conhecidos na contemporaneidade como sinais e sintomas.

As práticas populares e tradicionais estiveram intensa-

mente vinculadas ao imaginário mágico religioso. Porém, a

construção da autonomia das ciências da saúde só foi possível

depois da ruptura mitopoética com as práticas religiosas e má-

gicas. A estruturação desse modelo hegemônico de pensamen-

to fundamenta-se em procedimentos políticos que afastam e

reprimem as práticas primárias de cura (MORAES, 2007).

O modelo de clínica ocidental, tal qual conhecemos

na contemporaneidade, está baseado no Positivismo (séc.

XVIII), que possibilitou o avanço do conhecimento criando

as principais condições que mudaram o estilo de vida, o que

resultou na cura de muitas doenças (LUZ, 1997). Esse mo-

delo de clínica favoreceu o conhecimento aprofundado e es-

pecializado em todas as estruturas e processos fi siológicos,

enfatizando o funcionamento das células e o modo como o

processo saúde–doença acontece (TRONCOM, et al., 1998).

Essas características são observadas com maior frequência na

medicina, que sofreu e vem sofrendo uma visão reducionista

e mecanicista, tanto em relação ao homem como à ciência.

Observa-se um aumento na realização de procedimentos

especializados, diagnósticos, medicamentosos e cirúrgicos.

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Além de um distanciamento entre paciente e profi ssional,

ocorre também uma redução da perspectiva terapêutica com

a desvalorização de estilo de vida, valores e fatores subjetivos

que humanizam o atendimento e fazem com que a abordagem

do sujeito seja interdisciplinar (TESSER e BARROS, 2008).

As primeiras mudanças da perspectiva saúde–doença

ocorreram na Grécia antiga, quando se tornou possível reco-

nhecer o papel do curandeiro como profi ssional e não como

sacerdote. A partir do século III a.C., Hipócrates, conhecido

como o “pai da medicina”, promoveu a cisão entre mente e

corpo, que pode ser traduzida como uma cisão entre natureza

e ciência (MORAES, 2007).

O modelo de saúde grego difere dos demais porque pro-

duziu um tipo de pensamento que, pela primeira vez, distan-

cia a natureza do sujeito pensante, produzindo conceitos e

categorias que não mais se fundamentam no espírito do sa-

cerdote antigo, que trabalhava com a noção de natureza como

continuidade em relação às suas habilidades mentais, insepa-

ráveis (LUZ, 1997).

O pensador grego sentia-se separado da natureza e, as-

sim, podia exercitar o pensar analítico e crítico sobre o seu

objeto (os fenômenos naturais). Os gregos pensavam “me-

dicamente”, enquanto os antigos praticavam e veneravam

seus deuses, acreditando que a doença nada mais era do que

um castigo por atitudes e relacionamentos desequilibrados,

como se fosse uma lei do retorno (MORAES, 2007).

A atividade científi co-fi losófi ca implica esse estranhamen-

to, essa antipatia em relação à natureza. Em vez de comunhão

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com a natureza, esta passa a ser analisada como um objeto,

algo separado do próprio investigador, e isso se tornou a prin-

cipal característica do pensamento científi co contemporâneo.

A simpatia pertence ao xamã, ao mago, ao sacerdote anti-

go, que não permite pensar, mas viver a experiência. A anti-

patia pertence ao pensador crítico e analítico fundamentado

no distanciamento que proporciona a refl exão diante de um

acontecimento ou objeto (LUZ, 1997).

Diante dessa visão dualística, Lévi-Strauss, por meio dos

conceitos de “pensamento selvagem” e “pensamento domes-

ticado”, aborda a vivência (que é proporcionada por meio da

tradição e da natureza) e a refl exão (que é alcançada a partir

do modelo científi co). A primeira surge a partir da reunião

de partes e de categorias do que é vivido, e assim o mito é

criado. O mito aqui não é entendido como algo fi ctício ou in-

gênuo, mas como uma profunda compreensão da realidade a

partir de categorias selvagens. O mito não é algo “inferior”,

mas está diretamente relacionado com a vivência de quem o

compreende. Ele pode pertencer a um único sujeito, a uma

tribo ou população. Já o pensamento domesticado objetiva

a realidade, remodelando-a a partir de elementos racionais.

Isso estaria na origem do pensamento racional contempo-

râneo, que pode ser palpável, compreensível logicamente e

comprovado (STRAUSS, 1989).

O pensamento mítico era, entre os gregos, uma forma

imaginativa, poética de se referir aos processos dinâmicos da

vida. Aristóteles, ele mesmo médico, e Platão recorriam ao

pensamento mítico, mesclando-o ao mais puro discurso ra-

cional (LUZ, 1997).

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