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Método para Análise e Avaliação de Estudo de Viabilidade Técnica,
Econômica e Comercial e do Impacto Ambiental e Social (EVTECIAS)
Artigo completo
Autor:
Adriana Ferreira de Faria1
Co-autores:
Tiago Pinheiro da Silva2
Marcos Fernandes de Castro Rodrigues3
Resumo
O presente trabalho constituiu-se na elaboração de um modelo de referência para avaliar
quantitativamente os fatores analisados em estudos de viabilidade de empresas nascentes de
base tecnológica (ENBT). O referido modelo foi estruturado de modo que possibilitasse aos
pesquisadores conhecer melhor a tecnologia e as aplicações da mesma, tanto no âmbito
técnico quanto no comercial, além de averiguar quais fatores necessitam receber mais atenção
e serem melhorados. Para que fosse possível desenvolver este modelo foi necessário realizar
um levantamento bibliográfico relativo aos seguintes temas: fatores de sucesso no
desenvolvimento de novos produtos, marketing e forças competitivas, além disso, o contato
direto com estudos de viabilidade permitiu que fossem identificados fatores que necessitavam
de uma avaliação mais clara e objetiva e outros fatores que não eram estudados na
profundidade necessária. Outra etapa da pesquisa foi a priorização dos fatores com maior
impacto no sucesso da tecnologia, depois disso foram desenvolvidos sistemas de pontuações
para se avaliar quantitativamente tais fatores. Por fim são feitas sugestões de como se utilizar
as informações fornecidas pelo modelo desenvolvido.
Palavras chave: EVTECIAS; Spin-off acadêmico; Inovação
1 Doutora em Engenharia Química pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) - Diretora Executiva do
Centro Tecnológico de Desenvolvimento Regional de Viçosa (CenTev/UFV) - Av. Oraida Mendes de Castro Nº
6.000, Bairro Novo Silvestre, Viçosa, Minas Gerais, CEP 36570-000 - Tel: +55 (31) 3899 3133 -
[email protected] 2 Graduando em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) - Rua dos Estudantes, Nº
110, apt. 102, Bairro Centro, Viçosa, Minas Gerais, CEP 36570-000 - Tel: +55 (31) 92074289 -
[email protected] 3 Graduado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) - Gerente de Projetos do
Parque Tecnológico de Viçosa (tecnoPARQ) - Av. Oraida Mendes de Castro Nº 6.000, Bairro Novo Silvestre,
Viçosa, Minas Gerais, CEP 36570-000 - Tel: +55 (31) 3899 1211 - [email protected]
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Method for Analysis and Evaluation of Technical, Economic and
Commercial Feasibility Study and Environmental and Social Impact Study
(EVTECIAS)
Full paper
Author:
Adriana Ferreira de Faria
Co-authors:
Tiago Pinheiro da Silva
Marcos Fernandes de Castro Rodrigues
Abstract
This work consisted in developing a reference model to evaluate quantitatively the factors
analyzed in feasibility studies of technology-based start-ups. The model was structured to
allow researchers to better understand the technology and its applications, both in the
technical and business fields, and determine which factors need more attention and be
improved. To enable it possible to develop this model was necessary to conduct a literature on
the following topics: success factor in new product development, marketing and competitive
forces, in addition, direct contact with feasibility studies allowed the identification of factors
that needed a clearer and more objective assessment and other factors that were not studied in
sufficient depth. Another stage of the research was the prioritization of the factors with the
greatest impact on the success of the technology, after that, scores systems have been
developed to quantitatively evaluate such factors. Finally suggestions for how use the
information provided by the developed model are done.
Keywords: Feasibility studies; Academic spin-off; Innovation
3
1 Introdução
Segundo Carneiro (2008 apud Tidd, Bessant & Pavitt, 1997), o processo de inovação é
um processo chave do negócio da empresa, associado com a renovação e a evolução do
negócio, renovando o que a empresa oferece e como ela cria e entrega àquela oferta. As novas
tecnologias desempenham um papel fundamental para a sobrevivência das empresas no atual
ambiente competitivo, as empresas que não inovam ficam obsoletas e perdem espaço para
aquelas que incentivam a cultura inovadora e investem em Pesquisa & Desenvolvimento &
Inovação (P&D&I).
No atual contexto concorrencial as organizações que desejarem incrementar o valor de
seus produtos e/ou serviços procuram substituir a cultura do consumo padronizado e em
massa por uma que privilegie estratégias de diferenciação e/ou enfoque de mercado
(MARQUES; NIGRO e FARIA, 2011). Em países desenvolvidos, as empresas aumentam
tanto a variedade quanto a frequência de introdução de novos produtos, proporcionando
ganhos em produtividade e permitindo com que tais empresas saiam de suas crises ou
prosperem graças à inovação de produtos (TAKAHASHI; TAKAHASHI, 2007). Arai et al.
(2003) salientam que a atividade de desenvolvimento de novos produtos é arriscada, haja
visto que tanto pode representar um sucesso, auferindo os lucros esperados, como um
fracasso, representando um prejuízo em relação ao investimento dos recursos envolvidos.
Considerando-se tais condições de contorno, o aparecimento de novas empresas de
base tecnológica (EBT), intensivas em conhecimento e capazes de transformar pesquisas em
novos negócios é um fenômeno cada vez mais consolidado em virtude de tais
empreendimentos desempenharem um papel transformador nas economias regionais graças à
geração de novos empregos e o desenvolvimento local (MARQUES; NIGRO e FARIA,
2011). Segundo os autores, iniciativas têm sido tomadas com o intuito de aproveitar o
potencial transformador que tais empresas apresentam. Para eles, isto tem ocorrido em
especial em ambientes tecnológicos e acadêmicos pelo fato destes serem geradores de
conhecimento e concentradores de mão-de-obra especializada.
As empresas de base tecnológica são consideradas empresas do futuro e o
empreendedorismo tecnológico vem sendo apontado como forte aliado do desenvolvimento
econômico e social de regiões e países (CHENG, 2007). De acordo com Shane (2004 apud
LEONEL et al., 2006) a inclusão da pesquisa como parte da missão das universidades
possibilitou a criação das primeiras empresas de base tecnológica oriundas de ambiente
acadêmico no final do século XIX. Essas empresas são chamadas spin-off acadêmicos e
trazem consigo tecnologias inovadoras que, através da utilização de ferramentas de gestão,
podem se transformar em produtos diferenciados e com grande potencial de mercado.
Sabe-se que as Empresas Nascentes de Base Tecnológica (ENBT’s), em especial os
spin-off acadêmicos transcorrem por caminhos arriscados de evolução durante suas fases
iniciais de planejamento, implantação e consolidação do negócio. A experiência prática revela
que o sucesso na criação da nova empresa está atrelado às fases iniciais de planejamento do
negócio, que devem ocorrer preferencialmente dentro de um centro de empreendedorismo
tecnológico, capacitados com métodos e medidas auxiliares capazes de suprir a deficiências
relacionadas à gestão e às limitações da equipe de empreendedores, muitas vezes inábeis com
os processos gerenciais de um novo negócio (CHENG, 2007).
De modo geral, o desenvolvimento de um novo produto parte da geração de novas
ideias oriundas da percepção de oportunidades oferecidas no mercado (OLIVEIRA e FARIA,
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2009). Ainda segundo os autores, tais ideias são mais bem trabalhadas até que se possa
realizar a escolha de uma que tenha maior viabilidade de desenvolvimento, avaliando-se
fatores como custos, atratividade de mercado, agregação de valor para o cliente e para a
empresa. Uma ferramenta importante para se realizar as atividades citadas descritas é a
utilização de Estudos de Viabilidade Técnica, Econômica, Comercial e do Impacto Ambiental
e Social (EVTECIAS), o desenvolvimento desta ferramenta exige que seja levantada uma
grande quantidade de informações acerca da tecnologia e suas aplicações. A partir desse
levantamento os pesquisadores conhecem melhor sua tecnologia, principalmente no âmbito
comercial, que geralmente não é considerado nas etapas iniciais do desenvolvimento da
pesquisa, além de que o estudo serve de fonte de informações para muitas outras ferramentas,
como por exemplo, o technology roadmapping (TRM). Portanto, pode-se considerar que o
EVTECIAS é uma ferramenta fundamental para as ENBT’s, pois contém uma grande
quantidade de informações essenciais para o sucesso dos produtos da tecnologia e serve de
base para a utilização de outras ferramentas de gestão.
O objetivo desse artigo é propor um método para análise e avaliação de estudos de
viabilidade, referentes à projetos tecnológicos com potencial de se tornarem empreendimentos
de base tecnológica. Este trabalho irá propor um modelo no qual serão analisados aspectos
(conjunto de fatores) que interferem na viabilidade técnica e comercial de tecnologias
desenvolvidas no meio acadêmico. Cada aspecto possui fatores que serão avaliados através de
sistemas de pontuação, a partir desses sistemas será possível chegar a apenas dois valores, que
poderão ser utilizados para se ter uma visão geral da viabilidade técnica e comercial da
tecnologia a ser estudada.
O modelo é composto pelas seguintes etapas: (1) Elaboração do EVTECIAS; (2)
Definição dos fatores de análise e atribuição de pesos e pontos; (3) Elaboração do relatório. O
resultado da utilização da metodologia é um conjunto de pontos, dentro de uma escala
comparativa, que mensura o grau de viabilidade do projeto. Os principais resultados da
aplicação do modelo proposto subsidiam processos de seleção de projetos, gestão de portfólio,
valoração de tecnologias e modelagem de negócios. A ferramenta permite a identificação dos
pontos fracos e fortes do projeto, reduzindo a subjetividade no julgamento.
2 Referencial teórico
2.1 Spin-off acadêmico
De acordo com Brisolla (1998), a formação de spin-offs acadêmicas “é um processo
mediante o qual pesquisadores acadêmicos, geralmente como fruto de uma atividade de
pesquisa que lhes parece promissora do ponto de vista prático, aventuram-se a assumir o papel
de empresário ou associam-se a empresários interessados em assumir o risco de transformar
sua ideia ou o resultado de sua pesquisa em produto. Geralmente isso é acompanhado pelo
afastamento do cientista das universidades de origem ou pela redução de sua dedicação ao
trabalho acadêmico”.
Sánchez & Pérez (2000) defendem que os spin-offs de universidades desempenham
um papel muito importante na rede de inovação. Para os autores, a maioria dos spin-offs
acadêmicos surge para materializar, aplicar, difundir ou aproveitar os resultados de um
projeto de pesquisa ou do conhecimento tecnológico acumulado na atividade de pesquisa do
pessoal universitário.
As novas ideias para produtos surgem a todo o momento, principalmente em
ambientes inovadores, característicos das empresas de base tecnológica. Tais ideias, ao
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mesmo tempo em que são oportunidades de geração de novos produtos, também são desafios
para avaliação da viabilidade por parte da empresa. Neste impasse, muitas vezes, novas ideias
não conseguem atender a uma provável necessidade de mercado por falta de uma análise mais
detalhada e adequada à realidade de cada empresa (OLIVEIRA e FARIA, 2009). Baxter
(1998 apud FILHO, 2003) constatou por meio de pesquisa que a chance de sucesso de novos
produtos é muito maior quando há uma forte orientação para o mercado com o oferecimento
de benefícios significativos e valores superiores aos consumidores.
Para que se obtenha os benefícios oriundos da criação dessas empresas é importante
superar algumas dificuldades inerentes do processo de formação de spin-off. De acordo com
Azevedo (1983), “os talentos nas áreas técnicas, como em qualquer outra, são reduzidos; e os
que aliam a ele o talento empresarial são ainda em menor número. Além disso, embora sejam
profissionais de grande competência na área técnica para a qual foram treinados, na área
empresarial são amadores e, em geral, não têm condição de sobrevivência na competição. Isto
origina uma situação cada vez mais comum: o empresário oriundo da área universitária cria
uma empresa de tecnologia de ponta e é empresário de ‘produto único’. Ao fim do processo
de industrialização daquele produto ele não tem recursos para novos desenvolvimentos
associando-se a capitalistas ou sendo absorvido, interrompendo o processo”.
Conforme aponta Louis (2001), os spin-offs acadêmicos ajudam diretamente as
universidades no cumprimento de sua missão, uma vez que: i) são uma motivação adicional
para a pesquisa; ii) atraem estudantes e pesquisadores talentosos e iii) ajudam na educação e
no treinamento dos estudantes. A sociedade também se beneficia sobremaneira com a criação
dessas empresas, seja por meio da geração de divisas, empresas ou tecnologias que levam ao
desenvolvimento tecnológico, econômico e social do país. Para Araújo et. al. (2005), alguns
benefícios relacionados a criação de spin-offs são:
Geram alto valor econômico, manufaturando produtos inovadores de alto valor
agregado, satisfazendo necessidades e desejos de clientes específicos e diferenciados;
Geram empregos, especialmente para a população com maior grau de instrução;
Induzem o investimento no desenvolvimento de pesquisa, favorecendo o surgimento
de novas tecnologias; e
Têm impacto econômico fortemente localizado e acabam tendo um efeito importante
na economia local.
2.2 Estudos de viabilidade
O EVTECIAS é um documento desenvolvido para apoiar aqueles que têm a intenção
de empreender ou transferir/licenciar uma tecnologia, neste documento são coletadas
informações relevantes de cinco dimensões: Técnica, Econômica, Comercial, Ambiental e
Social. Segundo Barreto et. al. (2011), as novas informações geradas e pesquisadas a cerca do
projeto são estruturadas de forma a auxiliar o desenvolvimento da tecnologia, produto e
negócio, e levá-los ao mercado, facilitando a aproximação e contato com possíveis
investidores ou parceiros. Ainda segundo os autores, a elaboração do documento tem como
foco a diminuição das incertezas relacionadas às indefinições do projeto a partir do
levantamento de informações.
Diversas tecnologias, com potencial de aplicação mercadológica, são desenvolvidas
dentro de ambientes de pesquisa acadêmicos. O EVTECIAS possui o objetivo de analisar a
viabilidade destas tecnologias e constitui uma importante ferramenta capaz de auxiliar no
processo de transferência de tecnologias para a sociedade.
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Esse estudo é uma ferramenta muito importante para o desenvolvimento da tecnologia,
visto que com sua realização o pesquisador conhece melhor seu trabalho, uma vez que itens
avaliados no estudo podem ainda não ter sido explorados. O processo produtivo é um
exemplo típico do que foi descrito anteriormente, é comum os pesquisadores conhecerem o
processo produtivo do protótipo, mas não saberem detalhes da produção em larga escala dos
produtos da tecnologia.
3 Metodologia de pesquisa
O modelo apresentado neste trabalho foi desenvolvido no Centro Tecnológico de
Desenvolvimento Tecnológico de Viçosa (CenTev/UFV), no âmbito dos programas Spin-Off,
Pré-incubação e Incubação, da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (IEBT/CenTev).
O contato com pesquisadores e empresários e suas ideias inovadoras foi um grande facilitador
para que o modelo apresentado pudesse ser desenvolvido. O método apresentado neste artigo
tem como foco as tecnologias desenvolvidas por esses pesquisadores, sendo que os sistemas
de pontuações idealizados foram desenvolvidos considerando o contexto do desenvolvimento
de tecnologias nas universidades federais.
Considerando-se os procedimentos técnicos, o estudo desenvolvido se enquadra como
pesquisa-ação, que é caracterizada pela produção e a utilização do conhecimento de forma
simultânea. De acordo com Lima (2004), a pesquisa-ação tem o propósito de explicar alguns
aspectos da realidade para, assim, ser possível agir/intervir sobre ela, identificando problemas,
formulando, experimentando, avaliando e aperfeiçoando alternativas de solução, em situação
real, com a intenção de contribuir para o aperfeiçoamento contínuo da realidade que é o
objeto de investigação.
As etapas e atividades necessárias para o desenvolvimento do trabalho estão listadas a
seguir:
Revisão bibliográfica: consulta a livros, artigos, dissertações de mestrado, revistas e
meios eletrônicos referentes às áreas de fatores de sucesso no desenvolvimento de
novos produtos, marketing e forças competitivas;
Análise do material: foi analisado o material coletado e escolheram-se os fatores que
seriam utilizados para desenvolver o modelo;
Agrupamento dos fatores: decidido os fatores que seriam avaliados, os mesmos foram
agrupados em aspectos de sucesso, e estes últimos agrupados em outros dois grupos
(viabilidade técnica e viabilidade comercial);
Avaliação dos fatores: foram criados sistemas de pontuação para avaliar cada um dos
fatores escolhidos;
Tratamento dos dados: com o intuito de facilitar a análise dos aspectos de sucesso, foi
desenvolvido um método que utiliza pontuações de referência para enquadrar as
pontuações obtidas nos aspectos em uma porcentagem entre -100 e 100%;
Saídas do modelo: foram sugeridas aplicações possíveis com o modelo de referência
desenvolvido.
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4 Resultados e discussões
4.1 O modelo desenvolvido
O modelo de referência desenvolvido neste trabalho pode ser considerado como
complementar ao estudo de viabilidade, pois o modelo busca avaliar, através dos sistemas de
pontuação, os principais aspectos abordados no EVTECIAS. Permitindo assim que muitas das
avaliações qualitativas presente no estudo de viabilidade sejam avaliadas de forma
quantitativa, o que diminui a subjetividade na tomada de decisões.
O modelo é dividido em três etapas. A primeira dela avalia a viabilidade técnica, a
segunda a viabilidade comercial e a última a viabilidade financeira. Um fato importante é que
muitas informações contidas na viabilidade técnica e comercial são utilizadas para se calcular
as métricas que definem a viabilidade financeira do projeto, logo, uma análise financeira com
qualidade depende de uma análise prévia das outras duas viabilidades. Por causa dessa
dependência, aconselha-se a analisar a viabilidade financeira por último e deve-se avaliar a
viabilidade técnica antes da comercial, pois não adianta a tecnologia possuir viabilidade
comercial, mas não ser possível de ser desenvolvida. A forma como as viabilidades técnica e
comercial serão avaliadas é o principal objeto de estudo da pesquisa que originou esse artigo.
O esquema de funcionamento do modelo proposto está representado na Figura 1. O
primeiro passo do modelo é o desenvolvimento do EVTECIAS, este fornece informações para
o próximo passo e define o valor presente líquido (VPL) inicial da tecnologia. No segundo
passo deve-se analisar os aspectos de sucesso da tecnologia a partir do EVTECIAS e dos
sistemas de pontuações desenvolvidos, para então se chegar as pontuações finais em cada
aspecto e as probabilidades de que o projeto possua viabilidade técnica (A%) e dele possuir
viabilidade comercial (B%). No último passo devem ser elaborados relatórios contendo
interpretações das pontuações obtidas em cada aspecto sucesso e planos de melhoria.
Figura 1 - Esquema do funcionamento do modelo proposto
4.2 Viabilidade técnica
A viabilidade técnica da tecnologia está relacionada com a possibilidade da tecnologia
ser desenvolvida com sucesso pelos pesquisadores no seu ambiente de trabalho. É
fundamental realizar o estudo da viabilidade técnica, pois com ele se obtém conhecimento
sobre os recursos e competências necessárias para o desenvolvimento da tecnologia, além de
evitar gastos desnecessários caso o projeto não possa ser desenvolvido com as atuais
restrições da equipe de pesquisadores.
Os aspectos necessários à avaliação da viabilidade técnica são: estágio de
desenvolvimento da tecnologia, competências técnicas, plataforma, scale up, complexidade e
outros. Os principais fatores avaliados nessa viabilidade são apresentados na Tabela 1.
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Tabela 1 - Principais fatores analisados para avaliação da viabilidade técnica
Aspecto Fatores analisados
Estágio de desenvolvimento da
tecnologia
Investimento, tempo e recursos necessários para conclusão; dificuldades
técnicas e incertezas tecnológicas.
Competências técnicas
Características dos pesquisadores (formação, experiência, olhar no mercado,
etc.), atendimento aos conhecimentos exigidos e fatores relacionados ao
ambiente organizacional/propensão a inovação.
Plataforma Estágio de desenvolvimento da aplicação, competência para desenvolver a
aplicação e variação de performance.
Scale up
Investimento, maquinário e mão-de-obra necessários para realizar o scale up;
possibilidade de perda de qualidade e dificuldades técnicas no aumento e
flexibilidade de produção.
Complexidade
Grau de novidade da tecnologia, tempo médio de desenvolvimento de
tecnologias na indústria, interação com outras tecnologias e envolvimento da
saúde humana ou animal.
Outros Dificuldade de obtenção de matéria-prima e parceiros de desenvolvimento.
Fonte: Elaborado pela equipe de autores
Mesmo nos casos em que a tecnologia já esteja desenvolvida é importante se analisar
os aspectos listados, pois com essas análises irá se obter uma quantidade de informações sobre
a tecnologia que permite descobrir etapas do desenvolvimento que eventualmente foram
ignoradas pelos pesquisadores (geralmente o processo produtivo) ou que precisam ser
revistas. Essa análise permite também demonstrar a qualidade do projeto através da avaliação
das competências técnicas dos pesquisadores.
4.3 Viabilidade comercial
Uma das principais utilidades da análise da viabilidade comercial consiste em estimar
o tamanho do mercado de aplicação da tecnologia. O correto dimensionamento demanda de
mercado é fundamental para determinar o retorno econômico da tecnologia, e se esse retorno
é suficiente para cobrir os recursos investidos no seu desenvolvimento. Uma contribuição
do estudo de viabilidade comercial é a ampliação do conhecimento sobre o público-alvo da
aplicação tecnológica, o que pode auxiliar na determinação dos rumos do projeto. Para as
empresas, a avaliação da viabilidade comercial é importante para se realizar a priorização dos
projetos de pesquisa.
Os aspectos da viabilidade comercial são: demanda, concorrentes, mercados da
tecnologia, vantagens da tecnologia, necessidade dos clientes, características dos clientes,
produtos substitutos, produtos complementares, poder de negociação dos clientes, poder de
negociação dos fornecedores, impacto ambiental, impacto social e outros. Os principais
fatores avaliados na viabilidade comercial são apresentados na Tabela 2.
Tabela 2 - Principais fatores analisados para avaliação da viabilidade comercial
Aspecto Principais fatores analisados
Demanda Demanda existente, expectativa de crescimento e estabilidade do mercado.
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Concorrentes Anos no mercado, imagem, fidelidade, nível de satisfação e barreiras à
entrada de novos entrantes.
Mercados da tecnologia Quantidade de informações e entendimento das necessidades e
comportamento dos clientes.
Vantagens da tecnologia
Benefícios únicos oferecidos pela tecnologia, problemas em tecnologias
concorrentes solucionados e justificativa para o mercado mudar para a nova
tecnologia.
Necessidades dos clientes Atendimento aos atributos de qualidade obrigatórios, lineares e atrativos.
Características dos clientes Percepção dos benefícios, tendências e acompanhamento de mudanças e
dificuldade para convencer a testar novos produtos.
Produtos substitutos Força do substituto, custo de mudança e ritmo de substituição.
Produtos complementares
Demanda, expectativa de crescimento e quantidade atual do produto
complementar; impacto no desempenho do complementar e frequência de
compra simultânea dos produtos.
Poder de negociação dos
clientes
Quantidade de clientes, importância da tecnologia para os clientes e
dificuldade de migrar de fornecedor.
Poder de negociação dos
fornecedores
Quantidade de fornecedores, importância da tecnologia para os fornecedores
e existência de insumos substitutos.
Impacto ambiental
Consumo de energia, água, gás carbônico e outros materiais,
reaproveitamento de matéria-prima, utilização de materiais escassos e
perigosos e a substituição desses insumos.
Impacto social Impacto na qualidade de vida, abrangência e impacto do desenvolvimento e
substituição de importações.
Outros Canais de distribuição, parceiros comerciais e outras ameaças.
Fonte: Elaborado pela equipe de autores
4.4 Viabilidade econômico-financeira
Outra viabilidade importante de ser analisada é a econômico-financeira, nela deve-se
monitorar constantemente se o projeto desenvolvido possui o retorno financeiro esperado,
essa análise é fundamental para que a organização não invista em um produto que não possui
futuro. Descobrir que o projeto não possui viabilidade financeira no começo é fundamental,
pois quanto mais tarde um projeto sem viabilidade for cancelado, maior será a perda. Os
principais fatores que podem mudar ao longo do tempo, em função de mudanças no mercado,
são a quantidade de vendas projetada, o preço de venda a ser praticado e o aparecimento de
novos custos e investimentos expressivos.
A criação de cenários é fundamental para a análise dessa viabilidade, a partir da
simulação desses cenários os gestores do negócio possuem uma importante ferramenta para a
tomada de decisão. As principais variáveis simuladas são o plano de vendas e o preço dos
produtos. Outra prática essencial é atualizar constantemente a análise de viabilidade
econômico-financeira, uma vez que ao longo do tempo muitas informações e estimativas são
modificadas.
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No entanto, essa viabilidade não foi objeto de estudo desse trabalho, uma vez que a
análise financeira possui métodos consolidados na literatura, como por exemplo, o valor
presente líquido (VPL), a Taxa Interna de Retorno (TIR) e o tempo de retorno do
investimento (payback).
4.5 Definição da viabilidade técnica e comercial da tecnologia
Para a definição da probabilidade de sucesso técnico e comercial são utilizadas três
pontuações: pontuação total, pontuação mínima para obter 100% e pontuação final. Essas
pontuações e o cálculo das principais saídas do modelo serão explicadas a seguir.
4.5.1 Pontuação total
A pontuação total é obtida a partir do preenchimento dos fatores de avaliação. Cada
aspecto de sucesso possui uma pontuação total. A análise dessas pontuações pode ser útil para
a melhoria do projeto, pois elas indicam onde a tecnologia tem um desempenho bom ou ruim.
4.5.2 Pontuação mínima para obter 100%
Pontuação correspondente ao cenário ideal do aspecto. Esses cenários foram
construídos a partir da máxima pontuação possível ou pelo estabelecimento de uma situação
que seja considerada como suficiente para o sucesso da tecnologia. Essa pontuação será
comparada com a pontuação total para se determinar o resultado encontrado no aspecto
(pontuação final).
4.5.3 Pontuação final
Resultado da comparação entre a pontuação total e a pontuação mínima. Uma regra de
três simples é utilizada para se calcular a pontuação final:
Equação 1 – Cálculo da pontuação final de cada aspecto
Sendo que:
P100 = Pontuação mínima para obter 100%
PT = Pontuação total
PF = Pontuação final
4.5.4 Cálculo da viabilidade técnica e comercial
Nesta etapa são calculadas as porcentagens “A” (viabilidade técnica) e “B”
(viabilidade comercial), que são os valores finais desse modelo. Essas porcentagens são
obtidas pela seguinte fórmula:
∑
∑
Equação 2 – Cálculo das porcentagens “A” e “B”
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Sendo que:
P.F.i = Pontuação Final do aspecto i
Pi = Peso do aspecto i
4.6 Aplicações do modelo
A principal aplicação do modelo são as pontuações finais de cada um dos aspectos
estudados, essas pontuações permitem que os envolvidos com a tecnologia tenham
conhecimento sobre quais aspectos precisam ser revistos e quais fatores precisam ser
melhorados. O pesquisador pode analisar os aspectos que receberam uma pontuação final
baixa e determinar se algo pode ser feito para melhorar o aspecto, como por exemplo,
explorar mais profundamente o processo produtivo para aumentar a pontuação do aspecto
Scale Up, ou se a pontuação baixa é devido a fatores externos, como por exemplo, uma
pontuação ruim no aspecto Concorrentes, devido a presença de muitos concorrentes fortes.
As probabilidades de sucesso técnico (A) e comercial (B) podem ser utilizadas para o
pesquisador ter uma visão global sobre a situação em a tecnologia se encontra nessas duas
viabilidades. Isso pode ser útil para o detentor da tecnologia como uma forma de argumento
de venda, caso o mesmo possua interesse em comercializar a tecnologia. Isso é possível
porque a partir do estudo de viabilidade e do sistema de pontuação, as incertezas do projeto
ficam mais claras, facilitando a negociação e aumentando as chances de vender a tecnologia
por um valor mais justo.
5 Conclusões
No modelo são analisados diversos fatores que impactam a viabilidade técnica e
comercial de tecnologias desenvolvidas em universidades e centros de pesquisa. A partir
dessas análises foram propostos sistemas de pontos e pesos para se avaliar essas viabilidades e
chegar a probabilidade de sucesso. A pesquisa teve como principal resultado o
desenvolvimento de uma ferramenta capaz de quantificar e mensurar o grau de
desenvolvimento e a qualidade de diversos aspectos contidos no EVTECIAS. O
dimensionamento destes aspectos constitui um subsídio para o correto direcionamento do
projeto: cancelamento ou arquivamento; transferência ou licenciamento de tecnologia;
constituição de empresa.
Uma das dificuldades que podem ser encontradas no modelo é a subjetividade. Em
muitos fatores a pessoa responsável por conduzir o estudo de viabilidade e preencher o
sistema de pontuação terá de avaliar fatores muito subjetivos, como por exemplo, o risco de
não aceitação dos produtos da tecnologia por parte dos clientes. Nesse momento, pode ser
interessante utilizar outras ferramentas relacionadas, como por exemplo, Gestão de
Desenvolvimento de Produto, Gestão da Inovação, Marketing e outras.
O principal desafio na aplicação do modelo é a obtenção das informações necessárias,
dificuldade que se agrava quando a avaliação é realizada em fases iniciais do
desenvolvimento da tecnologia, pois as incertezas técnicas e comerciais ainda são muitas. No
entanto, é fundamental que avaliações sobre a viabilidade do projeto sejam realizadas desde o
começo do desenvolvimento para evitar investimentos em projetos inviáveis.
Para validar o modelo de referência proposto será necessária a realização de aplicações
em tecnologias reais. Através dessas aplicações será possível identificar erros nos sistemas de
pontuações e fatores que não foram considerados no modelo. Nesse momento, o modelo está
sendo testado a partir do estudo de tecnologias de empresas incubadas no CenTev.
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