27
UNIVERIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA MONOGRAFIA Efeitos da infusão contínua de xilazina e cetamina em ovinos (Ovis aries) Tobias Antas Alves Graduando 2016

MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

UNIVERIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

MONOGRAFIA

Efeitos da infusão contínua de xilazina e cetamina em ovinos

(Ovis aries)

Tobias Antas Alves

Graduando

2016

Page 2: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

2

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

MONOGRAFIA

Efeitos da infusão contínua de xilazina e cetamina em ovinos

(Ovis aries)

Tobias Antas Alves

Graduando

Prof. Dr. Pedro Isidro da Nóbrega Neto

Orientador

Patos-PB

Julho de 2016

Page 3: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

3

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO CSTR

A474e

Alves, Tobias Antas

Efeitos da infusão contínua de xilazina e cetamina em ovinos (Ovis

aries) / Tobias Antas Alves. – Patos, 2016.

27f.: il. color.

Trabalho de Conclusão de Curso (Medicina Veterinária) -

Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e Tecnologia

Rural, 2016.

“Orientação: Prof. Dr. Pedro Isidro da Nóbrega Neto”

Referências.

1. Anestesia. 2. Ruminantes. 3. Sedação. I. Título.

CDU 616-089.5:619

Page 4: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

4

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE SAÚDE E TECNOLOGIA RURAL

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

Tobias Antas Alves

Graduando

Monografia submetida ao Curso de Medicina Veterinária como requisito

parcial para obtenção do grau de Médico Veterinário.

APROVADO EM:....../....../...... MÉDIA:.............

EXAMINADORES:

________________________________ ______

Prof. Dr. Pedro Isidro da Nóbrega Neto NOTA

_________________________________ ______

Prof. Dr. Eldinê Gomes de Miranda Neto NOTA

_________________________________ ______

Med. Vet. MSc. Josemar Marinho de Medeiros NOTA

Page 5: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

5

A Deus, que me fez forte e perseverante e não me permitiu desistir de realizar meu

grande sonho.

À minha esposa, filhos e à tia Inêz, meus maiores motivos de seguir firme em cada

etapa da minha vida.

Dedico.

Page 6: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

6

AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus pelo o dom da vida, pela minha saúde e pela

determinação para vencer todos os obstáculos durante minha caminhada para realização

desse sonho.

À minha esposa, Aline, a quem me falta palavras para agradecer tudo que faz

por nossa família, pela compreensão nos momentos difíceis, por suportar com firmeza

momentos de solidão causados pela minha ausência e, claro, pelo amor que dedica a

mim e aos nossos filhos.

Aos meus filhos, Ruan e Liara, meu motivo maior de perseverar e não desistir

diante dos obstáculos, pelo carinho, amor e paciência com papai. Amo muito vocês.

À tia Inêz pelo amor, carinho, apoio, orações e a mais perfeita dedicação de mãe.

À minha mãe, pelo carinho, amor, paciência e ensinamentos.

Aos meus amigos Cícero de Lima (tio Cícero), Luís Lopes e Carlinhos Burrego,

pelo apoio e acolhida durante esses anos, amizade que nasceu pra durar a vida inteira.

Aos médicos veterinários Paulo Ítalo e Heráclio Gomes, pelo carinho, confiança

e por compartilhar experiências de vida. Cada conversa, cada conselho farão muita

diferença em minha vida.

Ao professor Pedro Isidro, pela paciência, estímulo e disponibilidade em me

orientar.

À professora Verônica Nobre, pelo carinho, confiança, por compartilhar suas

experiências de vida e principalmente pelo apoio em momentos difíceis, meus sinceros

agradecimentos.

Aos amigos e companheiros de jornada Wanesk, João Leite e Paulo Antônio, por

tornarem meus dias mais alegres e me ensinarem o verdadeiro sentido da palavra

amizade. Ao Thafarel Duarte (Bolim) e à Sílvia, pela boa amizade que me

proporcionaram.

Page 7: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

7

“Só resisti porque nasci num pé-de-serra

E quem vem da minha terra resistência é profissão

Que nordestino é madeira de dar em doido

Que a vida enverga e não consegue quebrar não”

Accioly Neto

Page 8: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

8

SUMÁRIO

Pág.

LISTA DE FIGURAS...................................................................................................................9

RESUMO....................................................................................................................................10

ABSTRACT................................................................................................................................11

1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................12

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................................................13

2.1 Anestesia intravenosa................................................................................................13

2.2 Xilazina......................................................................................................................14

2.3 Cetamina....................................................................................................................15

3 METODOLOGIA......................................................................................................................16

4 RESULTADOS.........................................................................................................................20

5 DISCUSSÃO.............................................................................................................................22

6 CONCLUSÃO...........................................................................................................................24

7 REFERÊNCIAS........................................................................................................................24

ANEXO.....................................................................................................................................27

Page 9: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

9

LISTA DE FIGURAS

Pág.

FIGURA 1 - A: Aferição da motilidade ruminal; B: Sistema utilizado para

mensuração da pressão arterial; C: Avaliação da analgesia ...............

19

FIGURA 2 - Valores médios das frequências cardiaca (FC) e respiratória (f) e da

temperatura corpórea (TC), em ovinos sedados com xilazina e submetidos à

anestesia intravenosa com infusão de uma solução contendo xilazina e

cetamina, em diferentes momentos ..................................................................

20

FIGURA 3 - Valores médios da pressão arterial média (PAM) e da saturação parcial de

oxihemoglobina (SpO2), em ovinos sedados com xilazina e submetidos à

anestesia intravenosa com infusão de uma solução contendo xilazina e

cetamina, em diferentes momentos ................................................................

21

FIGURA 4 - Valores médios da analgesia e da motildade ruminal, em ovinos sedados

com xilazina e submetidos à anestesia intravenosa com infusão de uma

solução contendo xilazina e cetamina, em diferentes momentos ..................

21

Page 10: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

10

RESUMO

ALVES, TOBIAS ANTAS. Efeitos da infusão contínua de xilazina e cetamina em

ovinos (Ovis aries). Patos-PB, UFCG, UAMV 2016, 27p. Monografia (Trabalho de

Conclusão de Curso em Medicina Veterinária).

A infusão contínua por via intravenosa é uma forma prática e racional de administração

de fármacos, sendo geralmente empregada por resultar numa anestesia mais consistente

com menores doses de cada agente empregado. Dentre os fármacos mais utilizados para

sedação de ruminantes está a xilazina, assim como para anestesia injetável o mais

empregado é a cetamina. Foram aferidos parâmetros fisiológicos em ovinos submetidos

à infusão contínua com esses fármacos, com o intuito de medir a eficácia e segurança da

técnica. Para isso foram utilizados 10 ovinos machos, hígidos, com idade variando de

12 a 24 meses, pesando 18,6 ± 3,0 kg, os quais foram oriundos da Fazenda

Experimental da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em Patos – PB,

com alimentação e água ad libitum e passando por um período de adaptação de sete dias

Os animais foram medicados com xilazina 2% (0,1 mg/kg), IV e 10 minutos após com

cetamina 10% (2 mg/kg), IV. Cinco minutos após a administração da cetamina, iniciou-

se a infusão contínua IV de uma solução contendo xilazina (0,1 mg/mL) e de cetamina

(1 mg/mL) na dose inicial de 2 mL/kg/hora, durante 60 minutos. Foram mensurados:

frequência cardíaca (FC), pressão arterial média (PAM), frequência respiratória (f),

saturação parcial de oxihemoglobina (SpO2), motilidade ruminal (MR) e temperatura

corpórea (TC). Os parâmetros foram mensurados antes da aplicação da xilazina (T-15),

imediatamente antes da administração da cetamina (T-5), imediatamente antes do início

da infusão contínua da xilazina e cetamina (T0) e a cada 10 minutos após T0, durante 60

minutos (T10, T20, T30, T40, T50 e T60). Os dados foram submetidos à análise

estatística pelo software Graphpad Instat, sendo que a comparação entre os momentos e

entre os grupos foi realizada a partir do emprego da análise de variância para amostras

repetidas e teste de Student-Newman-Keuls e as médias referentes à indução e à

recuperação anestésica avaliadas segundo o teste t de Student, ao nível de 5% de

significância. Ocorreu redução em FC, PA, TR, f e MR. A SpO2 não variou entre os

momentos. Já a analgesia iniciou-se aos 0,5 ± 0,5 minutos após a administração da

cetamina e foi mantida com a infusão contínua, na dose média de 2,4 mL/Kg/hora. Os

animais assumiram o decúbito esternal e a posição quadrupedal 37,6 ± 17,4 e 45,1 ±

15,5 minutos após o término da infusão da solução anestésica, respectivamente. Desta

forma, a técnica empregada demonstrou-se segura e eficaz para a contenção e anestesia

de ovinos.

Palavras-chave: anestesia, ruminantes, sedação.

Page 11: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

11

ABSTRACT

ALVES, TOBIAS ANTAS. Effects of continuous infusion of xylazine and ketamine

in sheep (Ovis aries). Patos-PB, UFCG, UAMV 2016 27p. Monograph (Work

Completion of course in Veterinary Medicine).

Continuous intravenous infusion is a practical and rational way of drug administration,

usually being employed to result in a more consistent anesthesia with lower doses of

each agent used. Among the most used drugs for sedation ruminants is xylazine, as well

as injectable anesthetic is employed as ketamine. Physiological parameters were

measured in sheep subjected to continuous infusion of these drugs, with the aim of

measuring the effectiveness and safety of the technique. For this we used 10 male,

healthy sheep, aged from 12 to 24 months, weighing 18.6 ± 3.0 kg, which were derived

from the Experimental Farm of the Federal University of Campina Grande (UFCG) in

Patos - PB with food and water ad libitum and passing an adjustment period seven days

the animals were treated with 2% xylazine (0.1 mg / kg) 10 minutes after IV and 10%

with ketamine (2mg / kg) IV. Five minutes after administration of ketamine, began

continuous intravenous infusion of a solution containing xylazine (0.1 mg / mL) and

ketamine (1 mg / ml) at an initial dose of 2 mL / kg / hr for 60 minutes. Were measured:

heart rate (HR), mean arterial pressure (MAP), respiratory rate (f), partial

oxyhemoglobin saturation (SpO2), rumen motility (RM) and body temperature (BC).

The parameters were measured before application of xylazine (T-15), immediately

before the administration of ketamine (T-5) immediately before the start of continuous

infusion of xylazine and ketamine (T0) and 10 minutes after T0 for 60 minutes (T10,

T20, T30, T40, T50 and T60). Data were statistically analyzed by Graphpad INSTAT

software, and the comparison between the moments and between groups was performed

from the use of analysis of variance for repeated samples and test Student-Newman-

Keuls and means regarding the induction and anesthetic recovery evaluated according to

Student's t test, at 5% significance level. There was a reduction in HR, MAP, BC, and f

RM. The SpO2 did not vary between times. Since analgesia was started at 0.5 ± 0.5

minutes after administration of ketamine, and was maintained with a continuous

infusion, at a mean dose of 2.4 ml / kg / hour. The animals took sternal recumbency and

standing position 37.6 ± 17.4 and 45.1 ± 15.5 minutes after the infusion of the

anesthetic solution, respectively. Thus, the technique proved to be safe and effective for

containing and anesthesia sheep.

Keywords: anesthesia, ruminants, sedation

Page 12: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

12

1 INTRODUÇÃO

A realização da maioria dos procedimentos cirúrgicos em ruminantes é possível

com o emprego da contenção física e da sedação, associadas à anestesia local ou

regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária,

geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente emprega-se a

anestesia geral inalatória, devido o fato de tal técnica anestésica necessitar de

equipamentos sofisticados e de alto custo. Neste contexto, a anestesia intravenosa –

dissociativa ou geral – oferece maior praticidade para o anestesiologista, especialmente

sob condições de campo, tornando possível o emprego de associações de fármacos que

visam obter efeitos sinérgicos e assim promover uma anestesia de qualidade e com

segurança.

A anestesia intravenosa total (AIT) por infusão contínua é a forma mais prática e

racional de administração dos fármacos nestes tipos de procedimento, sendo uma

técnica anestésica geralmente empregada por resultar em uma anestesia mais consistente

com menores doses de cada agente empregado, bem como melhor controle da

profundidade anestésica.

Considera-se a AIT um método que não requer absorção, permite uma rápida

distribuição, com rápido início de ação, e permite ajustes na dose anestésica. Quando

empregada na forma de infusão contínua, a AIT oferece conforto para o veterinário que

trabalha em condições de campo fazer cirurgias mais complexas com segurança e menor

variação da profundidade anestésica para o paciente.

A AIT na forma de infusão contínua tem sido pouco utilizada durante os

procedimentos cirúrgicos de ruminantes, sob condições de campo. É importante

evidenciar melhor o uso desse método, através de pesquisas que permitam ao cirurgião

que trabalha sob condições de campo usar técnicas confiáveis e acessíveis em termos de

fármacos, e que não requeiram aparelhagens muito sofisticadas.

Dentre os fármacos utilizados na tranquilização e/ou sedação de ruminantes

estão a acepromazina, alfa2 agonistas como xilazina, detomidina, medetomidina e

romifidina. A anestesia dissociativa pode ser induzida por meio da injeção de cetamina

ou tiletamina-zolazepam e a anestesia geral com propofol ou tiobarbitúricos, como o

tiopental (RIEBOLD, 2013).

Page 13: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

13

Portanto, tendo em vista o potencial de utilização da AIT em cirurgias de

ruminantes sob condições de campo, objetiva-se com este estudo avaliar a eficácia e

segurança da anestesia obtida a partir do emprego da associação de xilazina e cetamina,

administradas por infusão intravenosa contínua, a partir da análise dos seus efeitos sobre

alguns parâmetros fisiológicos, em ovinos.

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Anestesia intravenosa

A contenção física e a sedação de bovinos associada à anestesia local ou regional

permitem a realização de muitos procedimentos cirúrgicos (ARAUJO, 2011). Alguns

procedimentos cirúrgicos realizados em condições de campo em ruminantes requerem

maior complexidade sob o ponto de vista anestésico, e em varias ocasiões a anestesia

inalatória se torna inviável, pois requer equipamentos sofisticados e de alto valor

comercial (SANTOS et al., 2010). A praticidade destas técnicas oferecerem maior

segurança cardiorrespiratória além de terem um custo mais baixo, possibilitando o

emprego de associações de fármacos visando obter efeitos sinérgicos e promover

anestesia de qualidade e com segurança (GOUVEIA et al., 2016).

A administração de anestésicos por via intravenosa pode ser realizada através de

injeções em bolus ou por infusão contínua (CÔRTES, 2010). A técnica de infusão

contínua constitui a forma mais prática e racional de administração dos fármacos, tendo

em vista que os mantém em concentrações plasmáticas constantes (AGUIAR, 2009).

Segundo Santos et al. (2010) a infusão contínua de fármacos geralmente resulta

em uma anestesia mais consistente, com menores doses de cada agente empregado, bem

como melhor controle da profundidade anestésica.

Os fármacos mais utilizados na tranquilização e ou sedação de ruminantes

incluem a acepromazina, o diazepam, o midazolam e os agonistas alfa-2 adrenérgicos

como xilazina, detomidina, medetomidina e romifidina (RIEBOLD, 2013). Ainda de

acordo com Riebold (2013) a anestesia pode ser induzida de forma injetável, com

fármacos como tiobarbitúricos, propofol, cetamina e tiletamina-zolazepam, ou de forma

inalatória, com halotano, isoflurano ou sevoflurano.

Page 14: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

14

Lin (2013) afirma que a xilazina costuma ser administrada antes ou em

concomitância com a cetamina para anestesia de curta duração em ruminantes, podendo

ser prolongada pela aplicação intravenosa lentamente de cetamina até alcançar o efeito

desejado.

2.2 Xilazina

A xilazina é um fármaco agonista alfa-2 adrenérgico com características

sedativas, analgésicas e miorelaxantes, empregada com frequência na sedação de

ruminantes (RIEBOLD, 2013).

Na década de 1960 a xilazina foi sintetizada na Alemanha Ocidental para ser

utilizada na medicina humana como anti-hipertensivo, mas logo foi demostrado o seu

potencial no emprego da sedação em animais (LEMKE, 2013) tornando-se o primeiro

agonista alfa-2 adrenérgico usado por veterinários (GROSS, 2003).

Na década de 1970 a xilazina foi utilizada como adjuvante na anestesia

veterinária e descrita na literatura americana e europeia como um fármaco eficaz para

eliminar a hipertonicidade muscular induzida pela cetamina (LEMKE, 2013).

Lemke (2013) assegura ainda que só no início da década de 1980 os efeitos da

xilazina foram definitivamente ligados à ativação dos receptores centrais alfa-2

adrenérgicos, e a variação de doses produziam grande variação do grau de sedação e

analgesia.

A fórmula molecular do cloridrato de xilazina é C12H16N2SHCl, seu peso

molecular é 256,8 e o seu ponto de fusão varia entre 164 e 167°C. É formada por

cristais incolores de sabor amargo e é solúvel em água e metanol e insolúvel em éter e

clorofórmio (MASSONE, 2008).

A xilazina provoca alterações na ativação dos adrenorreceptores alfa-2 pré-

sinápticos do sistema nervoso central, reduzindo as transmissões interneuronais de

norepinefrina (RIBEIRO et al., 2012). Este fármaco também age nesses mesmos

receptores, localizados em tecidos periféricos, causando efeitos colaterais nos tratos

gastrintestinal, cardiovascular e respiratório, além de útero, pâncreas, rins e fígado,

ocasionando timpanismo ruminal, bradicardia, bradipneia, edema pulmonar, hipoxemia,

contrações uterinas, hipoinsulinemia e poliúria (SANTOS et al., 2010; MASSONE,

Page 15: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

15

2011; RIEBOLD, 2013). A administração intravenosa da xilazina provoca um curto

período de hipertensão, seguido por bradicardia reflexa e diminuição duradoura do

débito cardíaco e da pressão arterial (RIEBOLD, 2013).

Em bovinos a farmacodinâmica da xilazina foi determinada após administração

de 0,2 mg/kg por via intravenosa, tendo sido determinada uma meia vida de eliminação

de 36 minutos (LEMKE, 2013).

Em ruminantes, a dose de xilazina normalmente empregada para produzir efeito

sedativo é de 0,05 a 0,1 mg/kg pela via intravenosa e de 0,1 a 0,2 mg/kg pela via

intramuscular, podendo alcançar forte sedação com relaxamento muscular intenso e

prolongado com a dose de 0,3 mg/kg por via intravenosa (MASSONE, 2008; LEMKE,

2013).

2.3 Cetamina

Massone (2008) descreveu que o cloridrato de cetamina é um pó cristalino

branco, formando uma solução límpida incolor, estável na temperatura ambiente, com

fórmula molecular C13H17Cl2NO, peso molecular 237,74 e ponto de fusão entre 262 e

263°C. É uma solução preparada em pH que varia entre 3,5 e 5,5, possui meia vida de

sete minutos e sua metabolização é feita pelo fígado, com eliminação renal.

A cetamina é um fármaco que causa a dissociação do córtex cerebral de modo

seletivo, causando analgesia e desligamento sem perda dos reflexos protetores

(MASSONE, 2011). Esse anestésico dissociativo é atualmente o mais utilizado na

medicina veterinária (LIN, 2013).

Ferreira (2010) e Lin (2013) propõem que a cetamina promove o antagonismo

dos receptores do tipo N-metil-D-aspartato (NMDA) do sistema nervoso central (SNC),

como mecanismo molecular envolvido na condução de impulsos sensoriais espinhais,

talâmicos, límbicos subcorticais e corticais, promovendo assim efeitos anestésico,

analgésico, psicomimético e neuroprotetor.

A cetamina é um fármaco versátil, uma vez que permite sua administração por

via intramuscular e intravenosa. Atinge rapidamente os tecidos muito perfundidos,

como o cérebro, e se redistribui para os tecidos de menor perfusão (músculos) e depois

para o tecido adiposo (SOUZA, 2007; SILVA, 2008).

Page 16: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

16

Os efeitos simpaticomiméticos da cetamina estimulam a frequência cardíaca,

causam ação vasoconstrictora periférica e aumentam de forma considerável a pressão

arterial (MASSONE, 2008). A estimulação cardíaca está associada ao aumento do

trabalho cardíaco e do consumo de oxigênio pelo miocárdio (LIN, 2013).

Massone (2008) refere que o uso da cetamina dispensa a intubação endotraqueal,

mantendo as vias aéreas livres e os reflexos protetores preservados. Ferreira (2010)

ressalta que no sistema respiratório a cetamina causa ventilação apnêustica, e a

respiração se torna pausada e prolongada após a inspiração, e quando aplicada em doses

mais elevadas torna a respiração irregular e superficial.

Lin (2013) menciona que a cetamina aumenta a pressão intracraniana e eleva o

fluxo sanguíneo cerebral, em decorrência da vasodilatação cerebral e incremento da

pressão arterial sistêmica.

A dose de cetamina sugerida para ruminantes por Andrade (2002) e Lin (2013) é

de 1 a 2 mg/kg pela via intravenosa e de 10 a 20 mg/kg pela via intramuscular. A

duração da anestesia é de 15 minutos, quando aplicada pela via intravenosa, e de 30

minutos, quando pela via intramuscular.

3 METODOLOGIA

Foram utilizados 10 ovinos machos, hígidos, com idade variando de 12 a 24

meses, pesando 18,6 ± 3,0 kg, os quais foram oriundos da Fazenda Experimental da

Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em Patos – PB. Os ovinos foram

trazidos para o Hospital Veterinário da UFCG, onde o experimento foi realizado, e

foram mantidos em um curral coletivo, alimentados com capim elefante (Pennisetum

purpureum), feno de capim gramão (Cynodon dactylon) e água à vontade. Respeitou-se

um período de adaptação de sete dias, evitando desta forma que o estresse alterasse a

obtenção dos resultados.

Após jejum alimentar e hídrico de 12 horas, implantou-se um cateter calibre 18G

na veia jugular externa esquerda do animal e outro, calibre 22G, na artéria auricular

média, ambos sob anestesia local subcutânea com três mL de lidocaína 2% sem

Page 17: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

17

vasoconstrictor1. Em seguida o animal foi medicado com xilazina 2%

2, na dose de 0,1

mg/kg, via intravenosa (IV), seguida, 10 minutos após, pela cetamina 10%3, na dose de

2 mg/kg, via IV. Cinco minutos após a administração da cetamina, iniciou-se a infusão

contínua intravenosa de uma solução anestésica contendo 0,1 mg/mL de xilazina e 1

mg/mL de cetamina, na dose de 2,2 mL/kg/hora, durante 60 minutos.

A diluição da solução anestésica foi realizada com NaCl a 0,9%4 e a

administração da mesma feita com bomba de infusão peristática5.

Logo após a indução anestésica os animais foram colocados em decúbito lateral

direito, sobre um colchão ortopédico.

Foram mensurados os parâmetros fisiológicos: frequência cardíaca (FC), pressão

arterial média (PAM), frequência respiratória (f), saturação parcial de oxihemoglobina

(SpO2), motilidade ruminal (MR) e temperatura corpórea (TC).

FC, f e MR foram mensuradas através de auscultação indireta com estetoscópio,

sendo FC e f mensuradas durante um minuto e MR durante dois minutos (Figura 1A).

A temperatura corpórea foi aferida através de um termômetro clínico digital,

cujo bulbo foi introduzido cerca de cinco centímetros no reto do animal e mantido em

contato com a mucosa retal.

A pressão arterial média (PAM) foi aferida com um esfigmomanômetro

aneroide6 (Figura 1B) conectado a um equipo de 30 centímetros de comprimento,

preenchido com solução heparinizada (10 UI de heparina7/mL) até 50% do seu

comprimento e conectado ao cateter 22G previamente inserido na artéria auricular

média.

A saturação parcial de oxihemoglobina foi mensurada através do oxímetro de

pulso de um monitor multiparamétrico8, cujo sensor foi posicionado na prega ano-

caudal do animal.

Todos os parâmetros foram mensurados antes da aplicação da xilazina (T-15),

imediatamente antes da administração da cetamina (T-5), imediatamente antes do início

1 Lidovet – Laboratório Bravet Ltda. –Engenho Novo, RJ

2 Anasedan - Laboratorio Ceva Sante Animale Ltda.- Paulínia, SP

3 Dopalen - Laboratorio Ceva Sante Animale Ltda. - Paulínia, SP

4 Cloreto de Sódio 0,9% - Eurofarma Laboratórios Ltda. – Campo Belo, SP

5 Bomba de infusão peristática rotativa MP-20 – CELM Stramedical, Balneário Camboriú, SC

6 Esfigmomanômetro aneroide Premium – Accumed Produtos Médico-Hospitalares Ltda. – Duque de

Caxias, RJ 7 Liquemine 5000 UI/mL – Roche Laboratórios – São Paulo, SP

8 Monitor InMax Color – Instramed Ind. Médico Hospitalar Ltda. – Porto Alegre - RS

Page 18: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

18

da infusão contínua da xilazina e cetamina (T0) e a cada 10 minutos após T0, durante 60

minutos (T10, T20, T30, T40, T50 e T60).

A analgesia (Figura 1C) foi avaliada apenas partir da indução anestésica (T0),

com base na presença ou ausência de reação ao pinçamento da pele da região

paralombar esquerda, com pinça hemostática de Kocher de 16 centímetros, travada até o

primeiro dente da cremalheira. Esta pesquisa foi realizada a cada minuto após a

administração da cetamina, até que o animal não reagisse à mesma e, a partir de então,

nos momentos já citados para os parâmetros fisiológicos, sempre após a aferição destes.

Como reação positiva ao pinçamento considerou-se qualquer movimentação voluntária,

vocalização ou aumento abrupto da frequência cardíaca e/ou respiratória ao pinçamento.

Caso o animal reagisse ao pinçamento cutâneo durante o período de infusão contínua da

solução anestésica anotava-se o valor 0 (zero) na avaliação e a dose da solução foi

aumentada em 10%. Caso o animal não reagisse, anotava-se o valor 1 (um).

Foram mensurados os tempos decorridos: da administração da cetamina até a

ausência de reação ao pinçamento cutâneo (período de latência); do término da

administração da infusão contínua da xilazina e cetamina até o momento em que o

animal assuma o decúbito esternoabdominal (recuperação esternal); e do término da

administração da anestesia ao retorno à posição quadrupedal (recuperação total).

Page 19: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

19

Figura 1- A: Aferição da motilidade ruminal; B: Sistema utilizado para mensuração da pressão

arterial; C: Avaliação da analgesia.

As alterações comportamentais ocorridas durante os períodos de indução,

manutenção e recuperação anestésica foram anotadas.

A análise estatística foi realizada em microcomputador, com o programa

Graphpad Instat. Os dados referentes às frequências cardíaca e respiratória, à

eletrocardiografia, à motilidade ruminal, à temperatura corpórea foram analisados com o

emprego da análise de variância para amostras repetidas e a comparação entre os

momentos e entre os grupos foi realizada pelo teste de Student-Newman-Keuls. Os

dados referentes à indução e à recuperação anestésica foram avaliados segundo o teste t

de Student. Todos os testes foram aplicados ao nível de 5% de significância.

A B

C

Page 20: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

20

4 RESULTADOS

As médias e desvios-padrão dos parâmetros fisiológicos mensurados podem ser

observados no Anexo 1. Ocorreu redução significativa da FC, PAM e TC em relação

aos valores basais (T-15), a partir do T-5 e da MR a partir do T10, a qual perdurou por

todo o período experimental. A f e a analgesia aumentaram significativamente a partir

do T10, o que perdurou por todo o período experimental. Não houve variação estatística

da SpO2 entre os momentos.

As figuras 2, 3 e 4 demonstram as oscilações dos valores médios referentes a

cada parâmetros fisiológico estudado ao longo do período experimental.

0

20

40

60

80

100

120

140

T-15 T-5 T0 T10 T20 T30 T40 T50 T60

FC

f

TC

Figura 2 - Valores médios das frequências cardiaca (FC) e respiratória (f) e da temperatura

corpórea (TC), em ovinos sedados com xilazina e submetidos à anestesia

intravenosa com infusão de uma solução contendo xilazina e cetamina, em

diferentes momentos.

MOMENTOS

Page 21: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

21

0

20

40

60

80

100

120

T-15 T-5 T0 T10 T20 T30 T40 T50 T60

PAM

SpO2

Figura 3 - Valores médios da pressão arterial média (PAM) e da saturação parcial de

oxihemoglobina (SpO2), em ovinos sedados com xilazina e submetidos à anestesia

intravenosa com infusão de uma solução contendo xilazina e cetamina, em

diferentes momentos.

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

T-15 T-5 T0 T10 T20 T30 T40 T50 T60

Analgesia

MR

Figura 4 - Valores médios da analgesia e da motildade ruminal, em ovinos sedados com xilazina

e submetidos à anestesia intravenosa com infusão de uma solução contendo xilazina

e cetamina, em diferentes momentos.

A abolição da resposta à estimulação dolorosa (período de latência) ocorreu em

média 2,2 ± 2,5 minutos após a administração da cetamina e a dose média da solução

anestésica necessária para manutenção anestésica foi de 2,4 mL/Kg/hora, o que foi

suficiente para manter a analgesia significativamente presente a partir do T10.

MOMENTOS

MOMENTOS

Page 22: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

22

Os períodos de recuperação esternal e recuperação total foram, respectivamente,

37,6 ± 17,4 e 45,1 ± 15,5 minutos.

Foram observadas alterações comportamentais nos animais anestesiados, tais

como hipersalivação, que foi observada em todos os animais entre os momentos T0 e

T10; e vocalização, que ocorreu em momentos alternados entre T20 e T60 em três dos

dez animais. Ocorreu ainda rotação ventral do globo ocular em quatro animais entre T-5

e T0, e micção, em quatro animais, entre T50 e T60.

5 DISCUSSÃO

A diminuição da frequência cardíaca dos ovinos logo após a administração da

xilazina e durante a manutenção da anestesia, está de acordo com os resultados obtidos

por Santos et al. (2010), ao estudar a infusão contínua de xilazina, éter gliceril guaiacol

e cetamina na herniorrafia em bezerros, e por Sousa (2015). Tal efeito pode ser devido à

indução de bradicardia reflexa, seguida pela diminuição do débito cardíaco e da pressão

arterial causados pela ativação de receptores periféricos alfa-2 pós-sinápticos pela

xilazina (LEMKE, 2013). Quando se administra a xilazina associada à cetamina, a

redução da frequência e do débito cardíacos é parcialmente compensada, pois a

cetamina os eleva e também incrementa a pressão arterial, a resistência vascular

sistêmica e o consumo miocárdico de oxigênio (LEMKE, 2013). No entanto esta

compensação do efeito bradicardizante da xilazina pela cetamina não foi suficiente para

evitar a bradicardia nos ovinos, que segundo Feitosa (2014) têm frequência cardíaca de

90 a 115 batimentos cardíacos por minuto.

A redução da pressão arterial observada no presente experimento segue a

tendência descrita por Riebold (2013) sobre a administração intravenosa da xilazina. Já

Massone (2008) demonstra que a cetamina causa vasoconstrição periférica elevando a

pressão arterial devido aos seus efeitos simpaticomiméticos. A administração

intravenosa de xilazina na maioria das espécies é associada a um decréscimo de 20 a

30% na pressão arterial. Em ovinos a queda da pressão arterial é causada pela ativação,

pela xilazina, dos receptores periféricos alfa-2 e na perfusão ocasionada por

desequilíbrio relacionado à ventilação e circulação pulmonar (LEMKE, 2013).

O aumento da frequência respiratória ocorrido durante a manutenção da

anestesia corrobora os resultados de Santos et al. (2010). O uso da xilazina altera

Page 23: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

23

adrenoreceptores α2 pré sinápticos causando bradipneia (MASSONE, 2011). Em

contrapartida, a aplicação de cetamina em doses mais elevadas causa superficialização e

irregularidade respiratória (FERREIRA, 2010) fazendo com que a frequência

respiratória seja elevada para compensação hemodinâmica, fato que provavelmente

justifica a taquipneia registrada no presente experimento.

No presente estudo, apesar de as frequências cardíaca e respiratória haverem

sido alteradas, a manutenção da perfusão e da oferta de oxigênio às células

aparentemente não sofreu alterações significativas, uma vez que a saturação parcial de

oxigênio na hemoglobina (SpO2) não alterou-se, fato também observado por Araújo

(2011).

A diminuição da motilidade ruminal ocorrida concorda com Sousa (2015) e com

Lemke (2013) que citam que os α2 agonistas diminuem a motilidade gastrointestinal ao

se ligarem a receptores pré-sinápticos, provocando diminuição na liberação de

noradrenalina, reduzindo a atividade simpática no sistema nervoso central e as

contrações cíclicas do retículo e do rumem são inibidas pela xilazina, mecanismo

também descrito por Santos et al. (2010), Massone (2011) e Riebold (2013).

A redução da temperatura retal durante a manutenção da anestesia, concorda

com os efeitos causados pela xilazina descritos por Araújo (2011), que se devem à ação

hipotalâmica do fármaco e que, no estudo aqui relatado, causou hipotermia nos ovinos,

uma vez que os limites considerados normais para a espécie são de 38,5 a 40°C

(FEITOSA, 2014).

A analgesia obtida com a infusão de xilazina e cetamina concorda com Sousa

(2015), que descreve o potencial de analgesia causado pela xilazina e principalmente da

cetamina, que conforme cita Lin (2013), deprime seletivamente a atividade neuronal no

eixo neocorticotalâmico e no núcleo central do tálamo, promovendo anestesia e

analgesia. Embora no presente experimento a analgesia tenha sido avaliada apenas com

o pinçamento cutâneo, acredita-se que a anestesia promovida pela associação utilizada

seja suficiente para a realização de procedimentos cirúrgicos, fato que será avaliado em

estudos futuros.

O período de recuperação total registrado no presente estudo foi inferior ao

citado por Santos et al. (2010), que administrou a associação de xilazina, cetamina e éter

gliceril guaicol (EGG) em bezerros, os quais só assumiram a posição quadrupedal 152 ±

60 minutos após o término da infusão. Provavelmente esta diferença deva-se à ausência

Page 24: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

24

do EGG na solução anestésica do presente estudo, uma vez que este fármaco

reconhecidamente acumula-se nos tecidos quando administrado em infusão contínua.

6 CONCLUSÃO

A técnica de infusão intravenosa contínua de xilazina e cetamina mostrou-se

simples de empregar e eficaz na manutenção da analgesia, permitindo a realização de

cirurgias em condições de campo de forma segura tanto para o cirurgião quanto para o

paciente. Os dados obtidos podem subsidiar novos estudos que visem aprimorar e

popularizar a técnica pra ruminantes.

7 REFERÊNCIAS

AGUIAR, A. J. A. Anestesia intravenosa total. In: FANTONI, D. T.; CORTOPASSI, S.

R. G. Anestesia em cães e gatos. 2. ed. São Paulo: Roca, 2009.

ANDRADE, S. F. Manual De Terapêutica Veterinária. 2. ed. Rev. e ampl. São Paulo:

Roca, 2002.

ARAUJO, M. A. Efeitos da infusão contínua de lidocaína em bezerros anestesiados

com isofluorano. Araçatuba: UNESP, 2011. 125 p. Dissertação (Mestrado)- Programa

de Pós Graduação em Ciência Animal, Universidade Estadual Paulista, Araçatuba,

2011.

CÔRTES, L. M. F. Ação analgésica da cetamina e da lidocaína pela via intravenosa

em cães – Revisão de literatura. 2010. Monografia (Especialista Lato Sensu em

Anestesiologia Veterinária) - Faculdade de Jaguariúna, Instituto Brasileiro de Pós-

Graduação e Educação Continuada, Jaguariúna, Rio de Janeiro, 2010.

FERREIRA, M. A. A. Avaliação da anestesia dissociativa com xilazina-cetamina e

midazolam-cetamina, associada à anestesia epidural com lidocaína, em gatas

submetidas à ovariossalpingohisterectomia. Patos: UFCG, 2010. 38 p. Monografia

(Graduação em Medicina Veterinária)- Curso de Medicina Veterinária, Centro de Saúde

e Tecnologia Rural, Universidade Federal de Campina Grande, Patos, 2010.

FEITOSA, F. L. F. Semiologia Veterinária: A arte do diagnóstico. 3ª ed.- São Paulo:

Roca, 2014. cap. 4, p 51 a 67.

Page 25: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

25

GOUVEIA, L. V. et al. Parâmetros cardiopulmonares e hemogasométricos em ovinos

sob anestesia inalatória durante alternâncias de decúbito. Ciência Animal Brasileira.

Brasília, DF. Vol. 17, n. 2, mar. 2016. Disponível em:

http://www.revistas.ufg.br/vet/article/view/13955/20916 Acesso em jul. de 2016.

GROSS, M. E. Tranquilizantes, agonistas α2- adrenérgicos e agentes relacionados. In.

Adams, H. R. Farmacologia e Terapêutica em veterinária. 8. ed. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, 2003.

LEMKE, K. A; Anticolinérgicos e Sedativos. In: TRANQUILLI, W.J.; THURMON,

J.C.; GRIMM, K.A. ‘Lumb & Jones’ Anestesia e analgesia veterinária. Tradução:

Valadão,Carlos. 4 ed. São Paulo: Roca, 2013. cap.09, p.239-246.

LIN, H. C. Anestésicos dissociativos. In: TRANQUILLI, W.J.; THURMON, J.C.;

GRIMM, K.A. ‘Lumb & Jones’ Anestesia e analgesia veterinária. Tradução:

Valadão, Carlos. 4 ed. São Paulo: Roca, 2013. cap.12, p.335-338.

MASSONE, F. Anestesiologia Veterinária - Farmacologia e Técnicas. Texto e atlas,

5.ed. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 2008.

MASSONE, F. Anestesiologia Veterinária - Farmacologia e Técnicas. 6. ed. Rio de

Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

RIBEIRO, G. et al. Efeitos de detomidina e xilazina intravenosa sobre as variáveis

basais e respostas comportamentais em bovinos. Arquivo Brasileiro Medicina

Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v.64, n.6, p.1411-1417, dez., 2012.

Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-09352012000600002&script=sci_arttext>.

Acesso em: 10 jun. 2016.

RIEBOLD, T. W; Ruminantes. In: TRANQUILLI, W.J.; THURMON, J.C.; GRIMM,

K.A. ‘Lumb & Jones’ Anestesia e analgesia veterinária. Tradução: Fagliari Jose. 4

ed. São Paulo: Roca, 2013. cap.28, p.796-799.

SANTOS, P. S. P. et al. Anestesia total intravenosa (ATI) para herniorrafias

umbilicais em bezerros. Vet. E Zootec., v.9, n.1, p. 54-61, mar. 2010. Disponível em:

<http://www.fmvz.unesp.br/rvz/index.php/rvz/article/viewFile/296/237>. Acesso em:

10 jun. 2016.

SILVA C. N. Quetamina e propofol como método de contenção química em

caprinos (capra aegagrus hircus, Linnaeus, 1758), pré- tratados com

Page 26: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

26

acepromazina. 2008. 51 p. Dissertação (Mestrado)- programa de Pós Graduação em

Ciência Veterinária, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2008.

SOUSA, S. S. Efeitos da xilazina e da cetamina em equinos e bovinos. Jaboticabal,

2015. 18 p. Monografia (Graduação em Medicina Veterinária). Faculdade de Ciências

Agrárias e Veterinárias. UNESP, Jaboticabal, São Paulo, 2015.

SOUZA, V. J. N. Cetamina: revisão de literatura. Patos, 2007. 35 p. Monografia

(Graduação em Medicina Veterinária). Centro de Saúde e Tecnologia Rural.

Universidade Federal de Campina Grande, Patos, 2007.

Page 27: MONOGRAFIA - cstr.ufcg.edu.br · regional. Nos procedimentos em que a completa imobilidade do paciente é necessária, geralmente emprega-se a anestesia dissociativa ou a geral. Raramente

27

ANEXO

Tabela1: Valores médios e desvios padrão (x + s) da frequência cardíaca (FC), frequência respiratória ( f ), pressão arterial média (PAM),

temperatura corpórea (TC), saturação parcial de oxihemoglobina (SpO2), analgesia e motilidade ruminal (MR) em ovinos sedados

com xilazina e submetidos à anestesia intravenosa com infusão de uma solução contendo xilazina e cetamina, em diferentes

momentos.

a, b: Médias na mesma linha seguidas por letras diferentes, diferem estatisticamente (p < 0,05)

Parâmetros Momentos

fisiológicos T-15 T-5 T0 T10 T20 T30 T40 T50 T60

FC 117,9±17,8a 98,8±17,0

b 94,5±16,2

b 86,4±13,8

b 92,8±10,6

b 87,4±10,5

b 89,8±11,6

b 90,4±13,7

b 84,2±14,6

b

f 44,4±19,1a 44,4±13,8

a 46,0±13,8

a 73,4±37,7

b 82,2±32,2

b 81,6±32,8

b 88,0±23,6

b 86,8±25,0

b 83,6±21,5

b

PAM 105,6±15,5a 88,0±10,8

b 94,5±11,1

b 97,3±4,1

b 95,9±11,7

b 93,7±13,2

b 89,8±13,0

b 86,9±11,6

b 83,2±12,8

b

TC 39,8±0,6a 39,2±0,8

b 38,8±1,0

b 38,4±1,0

b 38,1±0,8

b 37,8±0,7

b 37,8±0,7

b 37,5±0,9

b 37,1±1,2

b

SpO2 98,1±1,5a 96,2±4,3

a 96,0±3,1

a 93,2±8,5

a 93,1±4,8

a 97,2±4,6

a 94,4±4,7

a 95,8±4,2

a 96,3±5,9

a

Analgesia - - 0,5±0,5 a 0,8±0,4

b 0,9±0,3

b 1,0±0,0

b 0,9±0,3

b 0,9±0,3

b 0,9±0,3

b

MR 0,6±0,5 a 0,4±0,5

a 0,5±0,5

a 0,2±0,4

b 0,1±0,3

b 0,1±0,3

b 0,1±0,3

b 0,1±0,3

b 0,1±0,3

b