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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA-UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO-CAMPUS VII SENHOR DO BONFIM-BA PEDAGOGIA 2006.1 AMANDA FEITOSA DE FREITAS SILVA OS CONTOS DE FADAS NA FORMAÇÃO DO LEITOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL DA ESCOLA CENTRO DE EDUCAÇÃO SEMENTINHA DO FUTURO SENHOR DO BONFIM - BA 2011

Monografia Amanda pedaggia 2011

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Pedagogia 2011

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Page 1: Monografia Amanda pedaggia 2011

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA-UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO-CAMPUS VII

SENHOR DO BONFIM-BA

PEDAGOGIA 2006.1

AMANDA FEITOSA DE FREITAS SILVA

OS CONTOS DE FADAS NA FORMAÇÃO DO LEITOR NA

EDUCAÇÃO INFANTIL DA ESCOLA CENTRO DE EDUCAÇÃO

SEMENTINHA DO FUTURO

SENHOR DO BONFIM - BA

2011

Page 2: Monografia Amanda pedaggia 2011

AMANDA FEITOSA DE FREITAS SILVA

OS CONTOS DE FADAS NA FORMAÇÃO DO LEITOR NA

EDUCAÇÃO INFANTIL DA ESCOLA CENTRO DE EDUCAÇÃO

SEMENTINHA DO FUTURO

Trabalho Monográfico apresentado à Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação, Campus VII como pré-requisito para a conclusão do Curso de Pedagogia: Gestão e Docência dos Processos Educativos.

Orientadora Profª. Rita de Cássia Braz Conceição Melo.

SENHOR DO BONFIM - BA

2011

Page 3: Monografia Amanda pedaggia 2011

AMANDA FEITOSA DE FREITAS SILVA

OS CONTOS DE FADAS NA FORMAÇÃO DO LEITOR NA

EDUCAÇÃO INFANTIL DA ESCOLA CENTRO DE EDUCAÇÃO

SEMENTINHA DO FUTURO

Aprovada em _____/_____/_____

___________________________________

Orientador (a)

___________________________________

Avaliador (a)

___________________________________

Avaliador (a)

Page 4: Monografia Amanda pedaggia 2011

Dedico este trabalho ao Autor da minha Fé, minha

fonte de força durante toda esta trajetória. O meu

amor maior é pra ti.

Ao meu amado esposo pela paciência e

compreensão, mesmo com toda a distância seu

apoio foi fundamental.

À minha família agradeço todo amor, carinho e

respeito.

À minha turma querida que sempre estará em meu

coração. em especial ao querido amigo Erivaldo (Erí)

pelas palavras sábias nos momentos oportunos.

À Escola Centro de Educação Sementinha do

Futuro, às professoras, em especial a Adriana

Araujo e Neila Ribeiro que sempre abriram as portas

no momento em que precisei.

Às minhas amigas e colegas: Aurelina, Eliciene,

Jacira, Jeane, Valci, Viviane, Maísa, Jane, Robson e

Mayara pelo companheirismo e apoio durante todos

estes anos.

Page 5: Monografia Amanda pedaggia 2011

AGRADECIMENTOS

À Universidade do Estado da Bahia pelo espaço de construção de conhecimento e à

Profª. Suzzana Alice nossa ex-coordenadora pelas palavras de apoio durante toda

esta trajetória.

Aos professores do curso de Pedagogia do Campus VII por contribuir com a

formação.

À professora orientadora Rita Braz pelo incentivo, paciência e colaboração neste

trabalho.

A todos que de alguma forma fizeram parte da minha trajetória pessoal e acadêmica

durante esses quatro anos e cinco meses o meu eterno obrigada.

Page 6: Monografia Amanda pedaggia 2011

"ERA UMA VEZ uma criança que adorava ouvir histórias...

ela nada mais esperava que viver cada momento,

mas a cada passo dado neste seu mundo de sonhos e fantasia,

pouco a pouco, sem o perceber,

ia encontrando um sentido para a vida..."

"E quanto àquela criança que adorava ouvir histórias?

O mais importante que resta disso tudo é que nunca esqueçamos a lição...

crianças, jovens ou adultos, no mundo das fadas todos seguimos encantados

e... FELIZES PARA SEMPRE!"

Paulo Urban

Revista Planeta nº 345 / junho 2001

Page 7: Monografia Amanda pedaggia 2011

RESUMO

O presente trabalho monográfico parte da importância que tem os Contos de Fadas

na formação do ser humano, seja pessoal ou cognitiva e principalmente no incentivo

a formação do leitor na Educação Infantil. Essa pesquisa tem como aporte teórico

autores como Zilberman (1985), Coelho (2000), Bettelheim (1980), Abramovich

(1997), Silva (2005), Kramer (1994), entre outros. Utilizamos a pesquisa de caráter

qualitativo e como instrumento de coleta de dados a observação participante, e os

questionários aberto e fechado, que nos oferecem elementos importantes para o

propósito da pesquisa. A partir destes instrumentos é que foi possível notar que

apesar de não utilizarem projetos direcionados a leitura os professores da Escola

Centro de Educação Sementinha do Futuro fazem uso dos Contos de Fadas na sala

de aula.

Palavras-chave: Contos de Fadas, Leitura, Educação Infantil e prática Docente.

Page 8: Monografia Amanda pedaggia 2011

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 4.1.1 Percentual quanto ao gênero dos sujeitos.

Gráfico 4.1.2 Percentual quanto ao nível de formação dos sujeitos.

Gráfico 4.1.3 Percentual quanto à carga-horária de trabalho.

Gráfico 4.1.4 Percentual quanto à faixa etária.

Gráfico 4.1.5 Percentual quanto à renda mensal dos sujeitos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................10

CAPÍTULO I................................................................................................................12

1.1 Breve histórico da Literatura Infantil............................................................12

1.2 Literatura e Leitura.....................................................................................14

CAPÍTULO II...............................................................................................................18

2.1 Era uma vez... As Origens dos Contos de Fadas........................................18

2.2 Características e personagens dos Contos de Fadas.................................19

2.3 Leitura e sua construção por meio da Literatura.........................................21

2.4 Educação Infantil: Alicerce do processo educativo......................................24

2.5 Prática docente na Educação Infantil..........................................................26

CAPÍTULO III..............................................................................................................29

3.1 Tipo de pesquisa..........................................................................................29

3.2 Sujeitos da pesquisa....................................................................................30

3.3 Lócus da pesquisa.......................................................................................30

3.4 Instrumentos de coleta de dados.................................................................31

3.4.1 Observação participante..................................................................31

3.4.2 Questionário fechado.......................................................................32

3.4.3 Questionário aberto..........................................................................32

CAPÍTULO IV.............................................................................................................34

4.1 Perfis dos sujeitos........................................................................................34

4.1.1 Gênero..............................................................................................34

4.1.2 Nível de formação............................................................................35

4.1.3 Carga horária de trabalho................................................................36

4.1.4 Faixa etária.......................................................................................36

4.1.5 Renda mensal..................................................................................37

4.2 Contando e analisando: o que dizem as professoras..................................37

4.2.1 O contato com os ouvintes...............................................................38

4.2.2 O que é Literatura Infantil?...............................................................38

4.2.3 Num lugar tão distante ainda existe o gosto pela leitura..................39

4.2.4 Quem conta um conto aumenta... muitos pontos.............................40

4.2.5 E quem quiser que conte outra (o)...................................................41

4.2.6 Pela estrada a fora encantando com um capuz vermelho...............42

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4.2.7 E pra formar leitores precisa de capuz vermelho?...........................42

4.2.8 Contando... qual a sua maneira?.....................................................43

4.2.9 O que precisa usar pra contar?........................................................44

4.2.10 Tem hora certa pra contar?............................................................44

4.2.11 Sobre projetos de leitura?..............................................................45

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................47

REFERENCIAS..........................................................................................................49

ANEXO.......................................................................................................................53

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INTRODUÇÃO

Os Contos de Fadas são uma mistura de lazer e aprendizado, a magia chegando

perto da realidade através do imaginário infantil, uma ligação de mundos que pode

trazer grandes benefícios e compreensões para a educação das crianças

oferecendo novas dimensões a sua imaginação e mexendo com todos os tipos de

convívios na sociedade, seja em família, ou na escola... Trazendo para si todas as

formas de emoções que as histórias permitem transmitir, além de auxiliar na

resolução dos conflitos interiores normais nesta fase da vida.

Trabalhar com Contos de Fadas na escola é sempre prazeroso tanto para o

educando quanto para o educador, pois é algo que agrada bastante as crianças,

despertando encantamento e seu interesse e envolvimento na história. Por isso, o

professor é o grande articulador que traz às crianças, diversas formas de

interpretação dos Contos e através deles é que podem ser trabalhados conflitos do

dia-a-dia dos alunos, procurando também buscar soluções para os mesmos.

A leitura do texto literário não é apenas uma atividade escolar mecânica e

descontextualizada. É, porém uma atividade vital e significativa que deverá ser

estimulada na Educação Infantil, implicando na formação de um leitor espontâneo,

capaz de perceber que a leitura é preciosa e essencial à sua própria vida.

Ouvir histórias é importante para a formação de qualquer criança, são nestes

momentos, de contato com a literatura, que as crianças suscitarão o imaginário,

despertando sua curiosidade, levantando questionamentos, idéias para solucionar

os problemas dos personagens, enfim vivem a história.

É necessário resgatar o poder da literatura infantil antes e durante o processo de

alfabetização. A sala de aula precisa ser um ambiente de interação, capaz de

promover de forma mais eficiente possível a aprendizagem da leitura.

Assim, buscamos no primeiro capítulo fazer um histórico de como surgiu a Literatura

Infantil e os Contos de Fadas, falamos um pouco sobre a importância da leitura

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como instrumento em sala de aula e com isso chegamos então ao final dele na

nossa questão de pesquisa e objetivos.

O segundo capítulo trata-se do referencial teórico que é de fundamental importância

nesta análise, para compreensão da problemática que nos propomos investigar.

O terceiro capítulo traça os caminhos da nossa pesquisa, abordando o tipo de

pesquisa, os sujeitos, o lócus e os instrumentos de coleta de dados.

O quarto capítulo apresenta uma análise e interpretação dos dados obtidos através

da observação e dos questionários respondidos pelas professoras.

Por fim, nas considerações finais destacamos a importância dos resultados

abordando o objetivo da nossa pesquisa e construindo uma visão sobre a prática

dos sujeitos pesquisados.

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CAPÍTULO I

1.1 Breve histórico da Literatura Infantil

A sociedade contemporânea vem demonstrando o quanto é necessário se adentrar

no mundo das letras. E é no encontro com as diferentes formas de Literatura que

crianças, jovens e adultos têm a oportunidade de enriquecer e ampliar suas

experiências de vida, pois não só tem o poder de facilitar a compreensão da

realidade como também de desenvolver o encantamento, o incrível e o mágico

“mundo da imaginação”, especialmente nas crianças.

“A Literatura nasceu na Antiga Grécia. Chamava-se poesia e existia apenas para

divertir a nobreza (ZILBERMAN, 1990, p.12)”. As crianças viviam igualmente com os

adultos, não havia separação, ou seja, não se tinha uma visão de infância, portanto

não se escrevia para crianças. O que realmente acontecia, cita Áries (1978):

Até o século XVII, a infância não era entendida da maneira como percebemos hoje. As crianças eram tratadas como mini-adultos, trabalhavam e viviam juntos aos adultos, vestiam-se como adultos e praticavam de tudo: da vida social, política e religiosa da comunidade, não havia propriamente dito, “um mundo infantil”, diferente e separado, ou uma visão especial sobre infância, não se escrevia para ela, pois não existia “infância” (p. 23).

Com o passar do tempo, a criança foi vista de formas diferentes e os conceitos

quanto à mesma sempre foram modificando-se. No século XVII, muitas mudanças

ocorreram na estrutura da sociedade, tanto no aspecto artístico, como no aspecto

social e com isso a Literatura foi constituindo-se como gênero. Como cita Zilberman

(1993): “Esta faixa etária não era percebida como um tempo diferente, nem o mundo

da criança como um espaço separado (p.13)”. Porém, ainda não existia a Literatura

voltada exclusivamente para o público infantil, pois essas conviviam em igualdade

com os adultos, por não existir até então uma visão sobre infância e o universo

infantil.

Em meados do século XVIII, muita coisa mudou no contexto infantil. Elas, como

comenta Cunha (1995), começaram a ser tratadas de acordo com a sua faixa etária.

A partir deste momento da história começou-se a criar formas e métodos

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pedagógicos para serem utilizados com crianças, com isso também começa-se a

perceber como um ser que necessita de uma atenção especial, e que a família

deveria reorganizar-se para que os filhos crescessem sobre cuidados especiais,

tendo espaço também para sua formação intelectual.

Essa diferenciação do mundo infantil foi que deu margem a surgir à escola para

crianças e acabou dando início a Literatura Infantil, pois as crianças necessitavam

de uma linguagem que chegasse até ela de forma agradável. Com tudo isso, surgiu

então a literatura infantil com suas características próprias, educando e ajudando as

crianças a perceber e utilizar a sua imaginação.

No Brasil, os primeiros textos infantis surgiram no final do século XIX e no início do

século XX. Estes foram inicialmente conhecidos como: Estórias da Carochinha.

Porém a produção nacional ganhou destaque com as famosas obras de Monteiro

Lobato. Cunha (1995) fala sobre o autor:

Com Monteiro Lobato é que tem inicio a verdadeira Literatura Infantil Brasileira. Com uma obra diversificada quanto a gêneros e orientações, Cria esse autor, uma literatura centralizada em algumas personagens, que percorrem e unificam seu universo ficcional (p.24).

A obra de Monteiro Lobato iniciou-se em 1921, com características de criar novas

expectativas de leitura na criança brasileira. As estórias de Lobato vêm cheias de

sonhos, magia, encantamento e formas prazerosas de leitura, procurando interessar

a criança, captar sua atenção e diverti-la.

A Literatura é, portanto um conjunto de obras que auxiliam o desenvolvimento da

criança. Com todos esses enredos cheios de fantasia, temos também os Contos de

Fadas, que na sua maioria estão atreladas à realidade sócio-européia da Europa

Medieval, tratam sobre temas como medo, amor, vida, morte... E envolvem

personagens fantásticos como reis e rainhas, príncipes e princesas, bruxas e fadas,

que são citados como elementos mágicos e que fazem parte da criatividade das

crianças.

Segundo BETTELHEIM (1980):

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Os contos de fadas são os mais indicados para ajudar as crianças a encontrar um significado na vida, pois ao estimular a imaginação, desenvolve o intelecto, harmonizar-se com suas ansiedades e torna clara suas emoções, são enriquecedores, satisfatórios e ajudam a auxiliar no raciocínio das pessoas (p. 83).

CASHDAN (2000, p. 291), por sua vez, considera que “os contos de fadas

representam uma janela especial que se abre para a vida emocional das crianças, e

que o impacto que estes têm sobre os adultos, vem da influência que tiveram

quando eram crianças”. Podemos perceber que para ele, os contos são mais do que

aventuras mágicas que exercitam a imaginação.

1.2 Literatura e Leitura

A leitura é considerada uma das conquistas da humanidade. É pela leitura, que o ser

humano absorve e transforma o conhecimento em um processo de aperfeiçoamento

contínuo. A aquisição da leitura possibilitará a emancipação da criança e a

assimilação dos valores da sociedade.

Como instrumento transformador, ela desenvolve um senso crítico construtivo e

criativo, e dá ao indivíduo condições de ampliar sua visão de mundo, permitindo ao

aluno construir conhecimentos, como mostra Garcia:

É através da leitura que o educando ampliará sua visão de mundo e suas interpretações da história ficará mais bem capacitado para o desempenho específico da parte que lhe cabe no coletivo da escola. Deve ser o educador o primeiro a buscar na leitura os caminhos para as soluções de muitos problemas existentes na escola... (1992, p.77)

Ler não é um ato de decodificar palavras, mas converte-se num processo

compreensivo que deve chegar às idéias centrais, as inferências, à descoberta dos

pormenores, as conclusões. (Zilberman, 1993)

A Literatura faz a criança entrar no texto e viajar num mundo de imaginação e

fantasia. E é por isso que a leitura pode ser contada, ouvida, vista e vivida. “Daí o

atual renascimento da fantasia, do imaginário, da magia, do ocultismo... Na literatura

para crianças e adultos, o mágico e o absurdo irrompem na rotina cotidiana e fazem

desaparecer os limites entre o real e o imaginário.” (COELHO. 2000. P. 26)

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É preciso resgatar o poder que a literatura infantil tem no processo de alfabetização,

pois ela acontece durante toda a Educação Infantil e com isso vem transformando a

sala de aula num ambiente capaz de promover uma aprendizagem da leitura muito

mais eficiente, afirma Coelho (2000):

(...) como objeto que provoca emoções, dá prazer ou diverte e, acima de tudo, modifica a consciência de mundo de seu leitor, a literatura infantil é arte. Sobre outro aspecto, como instrumento manipulado por uma intenção educativa, ela se inscreve na Pedagogia (p. 46)

Esta é a Literatura que nos garante o prazer da leitura, ou seja, a leitura por prazer.

Como afirma Cunha (1995, p. 47):

(...) a leitura é uma forma altamente ativa de lazer. Em vez de propiciar, sobretudo repouso e alienação (daí, a massificação), como ocorre com formas passivas de lazer, a leitura exige um grau maior de consciência e atenção, uma participação efetiva de recebedor-leitor.

A dimensão de Literatura Infantil é muito mais importante e grandiosa nos dias de

hoje, pois ela traz para a criança possibilidades e formas de desenvolvimento social,

cognitivo e emocional. Como afirma Abramovich em seu livro Gostosuras e Bobices

(1997), dizendo que ao ouvir histórias as crianças visualizam mais claramente

sentimentos que tem sobre o mundo em que estão envolvidas, pois as histórias

trabalham temas como medo, carinho, curiosidade, perda, dor, entre outros assuntos

e ainda completa:

É através de uma história que se pode descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética, outra ótica... É ficar sabendo história, filosofia, direito, política, sociologia, antropologia, etc. sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula (ABRAMOVICH, 1997, p. 17)

Quanto mais cedo a criança entrar em contato com os livros e ter a leitura como

forma de lazer e prazer maior será a possibilidade dela se tornar um adulto leitor, daí

a importância de ouvir histórias na Educação Infantil.

Trabalhar com Contos de Fadas fazem os alunos construir significados para as

histórias desenvolvendo o prazer pela leitura. A literatura e a escola têm uma

relação em comum que é estarem voltadas para a formação das crianças, elas

Page 17: Monografia Amanda pedaggia 2011

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devem ser estimuladas desde o início da vida escolar, pois a alfabetização é um

processo lento que abrange toda a Educação Infantil.

Durante a aquisição da leitura e da escrita os Contos podem oferecer mais que o

despertar do imaginário, ao ouvir as histórias a criança constrói o seu conhecimento

de linguagem com todas as formas e recursos lingüísticos. Não é necessário esperar

a criança ser alfabetizada para envolvê-las com as histórias infantis, é necessário

que elas sejam associadas à alfabetização e isso traz melhores resultados na

formação do leitor. De acordo com os Referenciais Curriculares Nacionais para a

Educação Infantil:

[...] as instituições e profissionais de educação infantil deverão organizar sua prática de forma a promover as seguintes capacidades nas crianças: (...) interessar-se pela leitura de histórias; familiarizar-se aos poucos com a escrita por meio da participação em situações nas quais ela se faz necessária e do contato cotidiano com livros, revistas, histórias em quadrinhos, etc. (Brasil/MEC, 1998, v.3, p. 122 e 131).

Na opinião dos autores citados, as contribuições da Literatura Infantil e dos Contos

de Fadas no desenvolvimento das crianças; pode-se ressaltar a relevância desta

pesquisa em evidenciar o que os contos de fadas têm, para colaborar no processo

de formação do leitor na Educação Infantil da escola Centro de Educação

Sementinha do Futuro. Sendo assim, propõe-se fornecer subsídios teóricos e

metodológicos, tendo o Conto de Fadas como um dos instrumentos essenciais no

desenvolvimento da prática docente e da formação dos educandos, capacitando-os

a viverem ativamente em uma sociedade.

No contato com crianças de Educação Infantil de diversas instituições que foi nos

proporcionado pela universidade, não podemos deixar de observar o encantamento

das crianças pelas histórias e contos infantis e o quanto elas inserem isso nas suas

vidas, porém observamos também que nem sempre o professor tem a sensibilidade

de saber que para elas, essas histórias vão além do simples divertimento. Em

muitos lugares por onde passamos no decorrer da nossa vida acadêmica vimos que

essas histórias tornam-se apenas um instrumento para cobrir horas vagas, sem

caráter pedagógico nenhum. Isso nos fez questionar sobre a forma como o professor

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traz as histórias e contos para o cotidiano da sala de aula e como elas podem ser

um instrumento de aprendizagem da leitura.

Portanto, esta pesquisa tem como questão de pesquisa: Os professores têm os

Contos de Fadas como instrumento pedagógico no processo de formação do leitor

na Educação Infantil da Escola Centro de Educação Sementinha do Futuro? Tendo

como principal objetivo identificar se os professores da referida escola fazem uso do

Conto de fadas como instrumento capaz de incentivar os alunos no processo de

formação do leitor na Educação Infantil.

A relevância social e acadêmica do nosso estudo é que esta pesquisa traz

contribuições e subsídios teóricos tornando-se fonte de pesquisa sobre o Conto de

Fadas, prática pedagógica e suas contribuições, compreensão do professor, sobre a

escola em questão e sobre o perfil do sujeito. O resultado da pesquisa pode ser de

grande importância para a escola, onde poderá perceber e melhorar a sua prática

quanto às histórias infantis.

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CAPÍTULO II

2.1 Era uma vez... As Origens dos Contos de Fadas

O termo “Contos de Fadas” por si só nos remete quase invariavelmente a paisagens

da Europa Medieval, com florestas e castelos, príncipes e princesas encantadas.

Não se tem ao certo uma data específica para a sua origem, podemos dizer que

surgiram do imaginário humano provavelmente antes da Idade Média,

aparentemente com finalidade de ensinar valores, regras, atitudes, comportamentos,

possibilidades que fizessem parte do mundo onde viviam. Eram histórias passadas

de geração pra geração, através da tradução oral, desde os tempos mais remotos. É

impossível datar o início de tudo, ou o primeiro conto que surgiu. “Era uma vez, num

lugar muito distante daqui...”, assim começavam suas histórias, e é assim que

poderia ser contada a história dos Contos, de forma imprecisa do mesmo modo que

suas histórias iniciam.

O Conto de Fadas tem origem Celta, surgiram de lendas e histórias contadas por

povos antigos, eram as histórias fabulosas. Era costume desses povos adultos

reunirem-se para contar e ouvir histórias, e foram destes contos populares que

surgiram os Contos de Fadas e os Contos maravilhosos. Esses durante os séculos

vêm evoluindo e sendo adaptados, fazendo com que cada vez mais despertem o

imaginário infantil.

BETTELHEIM (1980), afirma: “Através dos séculos (quando não dos milênios)

durante os quais os contos de fadas, sendo recontados, foram-se tornando cada vez

mais refinados, e passaram a transmitir ao mesmo tempo significados manifestos e

encobertos... (p.14)”.

E completa JUNG (apud GIGLIO, 1991):

Os contos de fadas constituíram através dos séculos instrumentos para a expressão do pensamento mítico, perpetuando-se no tempo por desempenharem uma função psíquica importante relacionada ao processo da individualização: através deles toma-se consciência e vivenciam-se arquétipos do inconsciente coletivo (p. 15).

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A passagem dos Contos adultos para uma temática totalmente infantil foi a partir do

século XVII quando Charles Perrault publicou seus Contos em versões suavizadas

para crianças trazendo o novo ponto de vista da educação, a qual necessitava de

materiais literários que transmitissem um modelo de comportamento para as

crianças, ou seja, lições morais. Pois a Pedagogia trazia os valores da burguesia

sobre a imagem da família e da sociedade bem definidas com grande valorização do

casamento. Como afirma Bettelheim “todos os conflitos humanos são encontrados e

resolvidos através da fantasia.” (BETTELHEIM, 1980, p.7).

2.2 Características e personagens dos Contos de Fadas

A principal característica dos Contos de Fadas é a presença das fadas, nome este

que provém do latim fatum que significa destino, fatalidade, isso quer dizer que a

fada é um espírito da natureza que interfere no destino dos personagens principais

da história. É um ser fantástico que se apresenta em forma feminina com grande

beleza e sempre dotada de poderes sobrenaturais e mágicos. Porém a presença

das fadas não é uma regra nos contos como afirma Abramovich (1997):

Daí que haver numa história fadinhas atrapalhadas, bruxinhas que são boas ou gigantes comilões não significa – nem remotamente – que ela seja um conto de fadas... Muito pelo contrário. Tomar emprestado o nome das personagens-chave desses contos não faz com que essas histórias adquiram sua dimensão simbólica... A magia não está no fato de haver uma fada anunciada já no título, mas na sua forma de ação, de aparição, de comportamento, de abertura de portas... (p. 121).

Os clássicos Contos de Fadas iniciavam sempre com uma marca de temporalidade:

“Era uma vez...”, são narrativas desenvolvidas dentro de uma magia feérica, repletos

de personagens como reis, rainhas, príncipes, princesas, bruxas, fadas, ogros,

gigantes, objetos mágicos... Com presença ou não das fadas, geralmente tratam de

heróis e heroínas que devem superar obstáculos até atingir a realização pessoal que

muitas vezes terminam em uma união entre homem e mulher. Para RADINO (2001):

Todo conto inicia em um outro tempo e em outro lugar, e a criança sabe disso. Ao iniciar um “era uma vez”, a criança sabe que partirá em uma viagem fantástica e que dela retornará com um “e viveram felizes para sempre” ou expressões semelhantes. Esses rituais mostram que vamos tratar de fantasia e isso faz com que embarquem nessa viagem e se identifiquem com os personagens (p.135).

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Eles também apresentam a constituição familiar convencionada pela sociedade, ou

seja, pai, mãe, filhos, mesmo que em algumas ocasiões haja substituição por

padrasto e madrasta, como no caso de “Cinderela”, onde seu pai era viúvo e casou-

se com uma viúva. Neste conto aparece uma menina frágil, submissa, que resiste ao

sofrimento calada e ao final é premiada através de um casamento com um jovem e

belo príncipe.

O modo com que os contos resolvem os conflitos é que oferecem à criança um

espaço que elas podem representar seus próprios conflitos interiores. Quando ela

tem o contato com essas histórias elas se projetam nos personagens, como diz

CASHDAN (2000), “usando-os como repositórios psicológicos para elementos

contraditórios do eu” (p. 31).

O prazer que temos quando nos permitimos ser aptos a um conto, e o encantamento

que sentimos vem das suas qualidades literárias. Eles não teriam impacto

psicológico sobre as crianças se antes de tudo não fossem uma obra de arte.

Os personagens principais na maior parte dos Contos de Fadas são: o protagonista,

geralmente representado pela sua bondade que o leva a riqueza, poder e felicidade,

o antagonista que é o vilão na maioria das vezes é uma madrasta ou bruxa e o

mediador mágico que são fadas, magos, anões que vivem em bosques, florestas e

que interagem naturalmente e não envelhecem nunca.

Não são personagens simplificados das histórias de hoje que despertam grandes

identificações entre eles e as crianças. Os personagens dos Contos têm

características que provocam diversos sentimentos, pois não tem nome próprio,

seus nomes estão ligados às características físicas e emocionais como: Branca de

Neve (“por que sua pele é branca como a neve”), seus familiares não tem idade

definida... Entre outras características que fazem com que qualquer pessoa de

qualquer faixa etária se identifique com a história. Sobre este processo de

identificação AMARILHA (1997) diz-nos que:

Através do processo de identificação com os personagens, a criança passa a viver o jogo ficcional projetando-se na trama da narrativa. Acrescenta-se à experiência o momento catártico, em que a identificação atinge o grau de

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elação emocional, concluindo de forma liberadora todo o processo de envolvimento. Portanto, o próprio jogo de ficção pode ser responsabilizado, parcialmente, pelo fascínio que (o conto de fadas) exerce sobre o receptor (p. 18).

São uma mistura de lazer e aprendizado, a magia chegando perto da realidade

através do imaginário infantil, uma ligação de mundos que pode trazer grandes

benefícios e compreensões para a educação das crianças oferecendo novas

dimensões a sua imaginação e mexendo com todos os tipos de convívios na

sociedade, seja em família, ou na escola... Trazendo para si todas as formas de

emoções que as histórias permitem transmitir. Considera-se “maravilhoso” todas as

situações que ocorreram fora do nosso entendimento, é um dos elementos mais

importantes da literatura e, portanto também, dos Contos de Fadas.

Os Contos de Fadas são eternos. Passam de geração pra geração, e se tornaram

grandes meios de transmissão de valores éticos e morais, mesmo nos tempos que

vivemos com a degradação da família e a proliferação da violência eles continuam

resistindo ao tempo, pois fazem parte da infância contribuindo bastante para a

formação das crianças.

Quando as histórias são trabalhadas em sala de aula as crianças vão se

identificando com os personagens e passam todos os conflitos, alegrias, medos e

tristezas para aqueles que vivem na história, passam então a se envolver de tal

forma e a viver e agir como se fossem um dos personagens.

O professor tem em suas mãos o grande papel de propor ao aluno situações de

aprendizagem para (re) construção do conhecimento, e é nessas aulas que a

criança pode perceber que seus conflitos e medos passam a ser amenizados

quando a professora a faz refletir sobre eles. Isso pode fazer com que as suas

relações sociais se tornem melhores e menos conflitantes, além de incentivar o

aluno ao aprendizado da leitura.

2.3 Leitura e sua construção por meio da Literatura

Page 23: Monografia Amanda pedaggia 2011

22

A leitura desenvolve no indivíduo o senso crítico construtivo e criativo, dando

condições de interpretar e ampliar a visão de mundo. Permite assim, ao aluno

construir seus conhecimentos sobre diferentes gêneros, como mostra Garcia:

É através da leitura que o educando ampliará sua visão de mundo e suas interpretações da história ficará mais bem capacitado para o desempenho específico da parte que lhe cabe no coletivo da escola. Deve ser o educador o primeiro a buscar na leitura os caminhos para as soluções de muitos problemas existentes na escola... (1992, p.77)

Vivemos numa sociedade gafocentrica, assim à leitura é dado um valor positivo, pois

a mesma é considerada como portal de entrada no mundo do conhecimento para

possibilitar a ascensão social.

No século XVIII, os mediadores do texto literário, sacerdotes e críticos, cederam

espaço à figura do leitor - interprete, foram abertas infinitas possibilidades em

sentido à leitura. A partir de essa premissa ler é sempre interpretar, e a leitura tem

uma dimensão social. Provoca, enriquece e encaminha à reflexão.

A leitura dos Contos de Fadas incentiva a busca da identidade e sua interação com

a realidade. Daí porque Bettelheim (1980) define o gênero como aquele que,

enquanto diverte o pequeno, oferece esclarecimentos sobre ele mesmo,

favorecendo o desenvolvimento da sua personalidade.

O ensino da leitura está historicamente vinculado à escola. Para Coelho, “A literatura

infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que

representa o mundo, o homem, a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida

prática, o imaginário e o real, os ideais e a sua possível/impossível realização”...

(2000, p.27).

A Literatura tem o poder de fazer a criança entrar no texto e viajar no mundo da

fantasia. Nesse sentido a leitura pode ser vista, vivida, sentida, falada, ouvida e

contada. “Daí o atual renascimento da fantasia, do imaginário, da magia, do

ocultismo... Na literatura para crianças e adultos, o mágico e o absurdo irrompem na

rotina cotidiana e fazem desaparecer os limites entre o real e o imaginário.”

(COELHO. 2000. P. 26).

Page 24: Monografia Amanda pedaggia 2011

23

É necessário resgatar o poder da literatura infantil antes e durante o processo de

alfabetização. A sala de aula precisa se transformar em uma ambiente dinâmico, e

capaz de promover de forma mais eficiente possível a aprendizagem da leitura.

A leitura se constitui num instrumento enriquecedor de conhecimentos para o aluno,

assim nos diz Silva (1981):

Leitura é uma atividade essencial a qualquer área do conhecimento e mais essencial ainda à própria vida do ser humano. (O patrimônio simbólico do homem contém uma herança cultural registrada pela escrita. Estar com e no mundo pressupõe, então, atos de criação e re-criação direcionados a essa herança. A leitura, por ser uma via de acesso a essa herança, é uma das formas do homem se situar com o mundo de forma a dinamizá-lo.) (p. 42)

Portanto, transpor esse abismo construindo uma nova forma de lidar com essas

práticas, aproximando-as das práticas sociais é o desafio de qualquer instituição,

pois essa atitude exige renovação, persistência e mudanças.

Assim, Silva (1985) nos afirma: “A leitura, se levada a efeito crítico e reflexivamente,

levanta-se com um trabalho de combate à alienação (não-racionalidade), capaz de

facilitar ao gênero humano a realização de sua plenitude (libertação)” (p. 22,23).

Desse modo o momento da leitura não é apenas lazer, mas trás consigo um amplo

grau de informações. O incentivo da leitura as crianças ajuda no desenvolvimento da

escrita e na compreensão do mundo, possibilitando uma formação pessoal e social.

É preciso induzir as crianças a lerem por prazer. É através da leitura de obras

literárias infantis que a criança aprende brincando em um mundo de emoções que

irá despertar a curiosidade e produzir novas experiências. De acordo com

Abramovich (1997):

É ouvindo histórias que se pode sentir (também) emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria, o pavor, a insegurança, a tranqüilidade, e tantas outras mais, e viver profundamente tudo que as narrativas provocam em quem as ouve - com toda a amplitude, significância e verdade que cada uma delas faz (ou não) brotar... Pois é ouvir, sentir e enxergar com os olhos do imaginário (p. 17).

Page 25: Monografia Amanda pedaggia 2011

24

É importante ressaltar o quanto os alunos ficam maravilhados com as histórias

contadas. As atividades de leitura precisam ser planejadas onde o professor através

de uma ação significativa proporcione o encontro dos educandos com o mundo da

leitura e escrita de forma lúdica e consciente levando-os a perceber e questionar o

mundo em que estão inseridos. Garcia (2003) nos diz que:

Organizar o ensino da leitura e escrita procurando criar condições para a apropriação da linguagem escrita como instrumento de compreensão e intervenção da realidade implica... possibilitar vivencias com a leitura e a escrita que tenha relevância e significado para ávida da criança algo que se torne uma necessidade para ela e que lhe permita refletir sobre sua realidade e compreende-la (p. 94).

Assim, é preciso que o professor esteja preparado para desenvolver atividades de

leitura, que esteja dedicado e comprometido com a educação. O ato de ensinar deve

ser algo transformador que possibilite aos educandos não apenas o ler e o escrever

corretamente, mas torná-los críticos e criativos, capazes de questionar a realidade

interagindo ativamente em seu meio social.

2.4 Educação Infantil: Alicerce do processo educativo

A Educação Infantil representa hoje o alicerce no desenvolvimento ao processo

educativo e o seu papel vai além do assistencialismo para trabalhar as estruturas

cognitivas da criança que desde a primeira infância deve ser estimulada a viver

experiências diversas voltadas às aprendizagens que ocorrem por meio de uma

intervenção direta exercendo grande influência no desenvolvimento da criança. E é

também o espaço em que a criança entra em contato propriamente dito com a

Literatura como instrumento auxiliador no processo de aprendizagem, como reforça

AGUIAR (2001): “(...) devemos admitir que o primeiro encontro da criança brasileira

com a produção literária é quase sempre, na esfera escolar, por isso preocuparmos

em oferecer subsídios aos educadores que atentam para a singularidade desse

produto cultural” (p. 158).

A educação Infantil recebeu uma grande contribuição de ROUSSEAU (1712-1772),

com suas idéias que muito influenciaram na educação da modernidade. Segundo

LUZURIAGA (1990) foi ROUSSEAU quem centralizou a questão da infância na

Page 26: Monografia Amanda pedaggia 2011

25

educação, tratando a criança não mais como homem pequeno, mas que ela viva em

um mundo próprio cabendo ao adulto compreendê-la:

Procuram sempre o homem no menino, sem cuidar no que ele é antes de ser homem. Cumpre, pois estudar o menino. “Não se conhece a infância; com as falsas idéias que se tem dela, quanto mais longe vão mais se extraviam”. “A infância tem maneiras de ver de pensar de sentir, que lhes são próprias”. (RAUSSEAU apud LUZURIAGA, 1990. p. 106).

Essa forma de ver a infância teve no século XX, houve interesses psicológicos e

preocupações morais em prol das crianças como seres destinados à escola.

KRAMER (1992), diz que: “Foi criada a primeira creche popular para filhos de

operários; 1909, inaugurando o jardim de infância campos Salles no Rio de Janeiro.

Em 1919, o departamento da criança do Brasil e 1920 foi reconhecido como utilidade

pública” (p. 49).

Conforme KRAMER (1992) começa então a surgir educadores que com suas ideais

passam a interferir e acrescentar nestas instituições. São eles: FROEBEL,

MONTESSORI, DEWEY, PIAGET e outros. Com o passar do tempo alguns jardins

de infância passam a ver a criança não mais como um “adulto em miniatura”, mas

como um ser em desenvolvimento.

TUNES (2006) fala sobre a LDB:

Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996, a educação até os 6 anos ficou definida como a primeira etapa da Educação Básica. A Educação Infantil passou a ser dividida assim: creche – para crianças até 3 anos – e pré-escola de 4 a 6 anos. Essa divisão foi alterada em maio passado, com a sanção presidencial à Lei federal nº. 11.114, que define que as crianças com 6 anos completos devem ser matriculadas no 1º ano do Ensino Fundamental. Dessa forma a Educação Infantil passou a atender crianças até 5 anos de idade (p. 06).

A Educação Infantil é a primeira etapa do processo de escolarização da criança, e

requer uma atenção especial de todos os que estão envolvidos nesta fase que a

criança faz as primeiras descobertas e vive experiências que contribuem para o seu

desenvolvimento psicossocial. Este período é ideal para a criança adquirir a maior

quantidade possível de experiências nessas áreas para seu completo

desenvolvimento. Segundo a afirmação:

Page 27: Monografia Amanda pedaggia 2011

26

A pré-escola serve para propiciar o desenvolvimento infantil, considerando os conhecimentos e valores culturais que as crianças já têm e progressivamente, garantindo a ampliação dos conhecimentos, de forma a possibilitar a construção da autonomia (...). Contribuindo, portanto, para a formação da cidadania (KRAMER, 1994).

A escola e professores devem levar em conta que as crianças estão expostas a

experiências interessantes quanto à literatura em seu cotidiano, isso resulta numa

melhor compreensão do mundo natural e social no qual estão inseridas, para que

isso seja possível elas devem ser induzidas a desenvolver o gosto pela leitura, tendo

como principal função propiciar o encontro entre criança e livro de forma prazerosa.

É nesta fase de Educação Infantil que a criança passa pelo seu processo de

alfabetização que se inicia desde o primeiro ano na escola até o fim da Educação

Infantil, e é nesta fase que a Literatura Infantil pode ser inserida neste processo. Ao

entrar em contato com esse mundo cheio de fantasia, a criança sente a necessidade

de não apenas manusear os livros e ver suas figuras, pois percebe que desvendar

aquilo que está escrito é muito mais fantástico e real, essa curiosidade faz com que

essas histórias tornem-se um importante instrumento pedagógico.

2.5 Prática Docente na Educação Infantil

Considera-se necessário que a prática educativa do professor seja criativa, capaz de

compreender e desenvolver sua ação dentro de um contexto social, buscando ações

conscientes e significativas.

A prática docente é uma atividade orientada com o objetivo de aplicar situações de

ensino aprendizagem, e garantir aos sujeitos além de conteúdos programáticos,

bens históricos, culturais e sociais, uma postura reflexiva, crítica e criadora no seu

meio social. A escola é, portanto, o espaço social com a função de possibilitar ao

educando a apropriação desses conhecimentos e reflexões.

O trabalho dos professores de Educação Infantil exige conhecimentos específicos

que estão entre cuidados e educação, inseridos em sua prática pedagógica docente

ressaltando o desenvolvimento cognitivo e social da criança, podemos perceber isso

no Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998):

Page 28: Monografia Amanda pedaggia 2011

27

[...] que ao professor cabe trabalhar com conteúdos de naturezas diversas que abrangem desde cuidados básicos essenciais até conhecimentos específicos provenientes das diversas áreas do conhecimento. Este caráter polivalente demanda, por sua vez, uma formação bastante ampla do profissional que deve tornar-se, ele também, um aprendiz, refletindo constantemente sobre sua prática, debatendo com seus pares, dialogando com as famílias e a comunidade e buscando informações necessárias para o trabalho que desenvolve. São instrumentos essenciais para a reflexão sobre a prática direta com as crianças a observação, o registro, o planejamento e a avaliação (p. 41).

É preciso ter a prática docente como elemento norteador da escola, pois é uma ação

desempenhada utilizando além de conteúdos programáticos, um conhecimento

prévio do aluno e a realidade em que está inserido. Dando relevância a seu modo de

vida e estrutura familiar.

O professor hoje atua como mediador e não como depositante como em tempos

anteriores, e com isso ele precisa antes de tudo, de ter um pensamento crítico dos

conhecimentos que adquire para que possa passá-lo adiante, em palavras de

Ostetto (2001):

O agir pedagógico deve atender as reais necessidades das crianças, deve ser criativo, flexível, atendendo a individualidade e ao coletivo. Será o eixo organizador da aquisição e da construção do conhecimento, a fim de que a criança passe de um patamar a outro na construção de sua aprendizagem. (p. 26)

É preciso perceber a carga que os alunos já trazem para sala de aula como um

ponto inicial do planejamento de ensino, apesar de essa prática muitas vezes ser

ignorada por professores e muitas vezes por não ser compreendida. Como diz

Basso (1998): "[...] o trabalho alienado descaracteriza toda e qualquer prática

pedagógica exercida por esse professor na escola." (p.27).

Em palavras de Zabala (1998) podemos concluir que significado de prática docente

mudou bastante e deixou de ser uma mera ação que vem da experiência prática do

exercício do magistério, hoje é desenvolvida como uma prática consciente que

requer habilidades, saberes e formação docente.

A formação também servirá de estímulo crítico ao constatar as enormes contradições da profissão e ao tentar trazer elementos para superar as situações perpetuadoras que se arrastam há tanto tempo: a alienação profissional – por estar sujeitos a pessoas que não participam da ação

Page 29: Monografia Amanda pedaggia 2011

28

profissional - as condições de trabalho, a estruturas hierárquicas etc. E isso implica mediante a ruptura de tradições, inércia e ideologias impostas, formar o professor na mudança e para a mudança por meio do desenvolvimento de capacidades reflexivas em grupo, e abrir caminho para uma verdadeira autonomia profissional compartilhada, já que a profissão docente deve compartilhar o conhecimento com o contexto. (Imbernòn, 2002, p. 15)

Assim também Severino (2002) confirma que a universidade tem percebido a prática

docente e criado e conceituado os conteúdos, fazendo então necessário a

capacitação do docente, para que em sua prática saiba compreender o universo

social e cultural dos seus educandos desvendando os desafios de produzir saber em

sala de aula.

Sabemos que a prática ligada a Literatura de modo geral tem um papel importante

no desenvolvimento da leitura, por meio dela é que os educandos entram em

contato com os Contos de Fadas e com todas as outras formas de Literatura. Por

meio desta prática na Educação Infantil é que as crianças vão iniciar o contato com

as histórias e com o livro. A prática da leitura e contação são incorporadas à rotina

escolar com facilidade principalmente nesta fase escolar, pois ela mistura lazer com

aprendizado, podemos perceber isso no Referencial Curricular Nacional Educação

Infantil (1998):

(...) os professores deverão organizar a sua prática de forma a promover em seus alunos: o interesse pela leitura de histórias; a familiaridade com a escrita por meio da participação em situações de contato cotidiano com livros, revistas, histórias em quadrinhos; escutar textos lidos, apreciando a leitura feita pelo professor; escolher os livros para ler e apreciar. Isto se fará possível trabalhando conteúdos que privilegiem a participação dos alunos em situações de leitura de diferentes gêneros feita pelos adultos, como contos, poemas, parlendas, trava-línguas, etc. propiciar momentos de reconto de histórias conhecidas com aproximação às características da história original no que se refere à descrição de personagens, cenários e objetos, com ou sem a ajuda do professor. (p. 117-159)

É importante que o educador dê o devido valor à Literatura Infantil, pois como afirma

Meireles (1990, p. 31): “a Literatura Infantil não é como tantos supõem um

passatempo. É uma nutrição.” Portanto, a prática da leitura em sala de aula é

importante, pois a criança vai descobrir o prazer de ler inicialmente depois que tiver

o prazer de ouvir estas histórias.

Page 30: Monografia Amanda pedaggia 2011

29

CAPITULO III

PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS

A pesquisa é fruto de uma inquietação, dúvida, incerteza, decorrente da busca do

pesquisador em delimitar um problema, em descobrir algo. Segundo JAPIASSU

(1983): “nosso conhecimento nasce na dúvida e se alimenta das incertezas” (p. 14).

Em todo ato de pesquisa faz-se necessário contextualizar a realidade na qual está

inserida a população alvo da pesquisa, o que nos permitirá uma visão mais

abrangente da problemática e das relações múltiplas que se estabelecem sobre

determinada realidade. Na perspectiva de DEMO (1999), pesquisa significa: “(...)

diálogo crítico e criativo com a realidade, culminando na elaboração própria e na

capacidade de interação. Em tese a pesquisa é atitude do “aprender a apreender” e

como tal faz parte de todo processo educativo” (p. 128).

Na busca de conhecer o trabalho dos professores de Educação Infantil da escola

Centro de Educação Sementinha do Futuro adotamos a seguinte metodologia.

3.1 Tipo de Pesquisa

Utilizaremos a abordagem de pesquisa qualitativa por ser o melhor caminho a se

seguir nesse processo de descoberta, justificada pelo fato de que ela responde de

forma discreta a liberdade do pesquisando permitindo envolvimento ou inserção

pessoal, intelectual ou social e também por compreender que a mesma utiliza uma

abordagem sociológica para discutir tanto o comportamento como valores,

expectativas e concepções. Este tipo de pesquisa permite o contato direto entre o

pesquisador, o ambiente e a situação investigada, através do trabalho de campo,

proporcionando um relacionamento mais longo e flexível entre o pesquisador e o

objeto pesquisado, criando um vínculo entre o mundo objetivo e a subjetividade do

sujeito. Assim LUDKE (1986), “(...) a pesquisa qualitativa supõe o contato direto e

prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que sendo investigada, via

de regra através do trabalho intenso de campo.” (p.11).

E DESLANDES (1994) completa:

Page 31: Monografia Amanda pedaggia 2011

30

A pesquisa qualitativa responde a questões particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser o universo de significados, motivos aspirações, crenças, valores e atitudes que correspondem a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos a operacionalização de variáveis (p. 21).

A pesquisa qualitativa é importante para este trabalho, pois permite um contato mais

direto e prolongado com os sujeitos e o ambiente pesquisados e, portanto nos dá

oportunidade de investigar os relatos dados pelos sujeitos obtendo dados descritivos

no contato direto com os mesmos.

3.2 Sujeitos da Pesquisa

Os sujeitos envolvidos na investigação são as cinco professoras de Educação

Infantil da Escola Centro de Educação Sementinha do Futuro. Escolhi as cinco

professoras por optar trabalhar apenas com o turno vespertino.

3.3 Lócus da Pesquisa

O lócus tem fundamental importância para a pesquisa, pois leva o pesquisador a

refletir sobre o seu problema, interações e questionamentos dessa experiência,

abrindo espaço para a investigação. Diante disso TRIVIÑOS (1987) nos diz que:

“Ambos os tipos de pesquisa, a com base fenomenológica e a com fundamentos

materialistas e dialéticos, ressaltam a importância do ambiente na configuração da

personalidade, problemas e situações de existência do sujeito (p. 128).

Portanto a instituição onde o projeto será desenvolvido é a escola Centro de

Educação Sementinha do Futuro, situada à Rua Acesso 04, 01, no bairro de Casas

Populares, na cidade de Senhor do Bonfim-BA. A referida escola é particular e

funciona nos turnos matutino e vespertino, atualmente tem um corpo docente

formado por nove professores, oferecendo cursos de Maternalzinho, Maternal, Pré-

escola I e Pré-escola II, com 40 alunos no turno matutino e Maternalzinho, Maternal,

1º ano (3º período) e 2º ano do Ensino Fundamental, com 43 alunos no turno

vespertino.

Page 32: Monografia Amanda pedaggia 2011

31

3.4 Instrumentos de Coleta de Dados

Nesta pesquisa será utilizada a observação participante, o questionário fechado e o

questionário aberto com o intuito de envolver os alunos na investigação. Como diz

DESLANDES (1994): “Esse questionamento é que nos permite ultrapassar a simples

descoberta para através da criatividade produzir conhecimentos” (p. 52).

3.4.1 Observação Participante

A observação participante é uma fase exploratória e essencial para o

desenvolvimento da pesquisa. É um dos instrumentos de pesquisa mais utilizados,

pois nos permite chegar mais perto dos sujeitos, a partir dessa análise do espaço,

dos alunos, dos professores e com a proximidade dos mesmos é que podemos

perceber a fundo o contato do sujeito com a questão que está sendo pesquisada.

Como afirma Ludke e André (1986):

O pesquisador pode ter acesso a uma gama variada de informações, até mesmo confidências, pedindo cooperação ao grupo. Contudo terá em geral que aceitar o controle do grupo sobre o que será ou não tornado público pela pesquisa (p. 29).

A observação participante também tem vantagens em relação a outros instrumentos,

pois propõe a interação com o grupo e as respostas às suas indagações

dependerão muito do seu comportamento e da sua relação com o grupo, que pode

ser melhor se o pesquisador mostrar-se diferente dos mesmos, na perspectiva de

Ludke e André (1986): Nesse papel ele pode desenvolver a sua atividade de

observação sem ser visto, ficando por detrás de uma parede espelhada, ou pode

estar na presença do grupo sem estabelecer relações interpessoais (p. 29).

Este instrumento traz um contato maior com o sujeito de pesquisa permitindo que o

pesquisador participe do grupo, o que o torna muito importante para a pesquisa. A

observação participante traz o pesquisador ao convívio com o sujeito possibilitando

a vivência de experiências onde o ele poderá acompanhar e compreender o dia-a-

dia do sujeito, permitindo então uma visão maior do real, segundo a afirmação de

Marconi e Lakatos (1996):

Page 33: Monografia Amanda pedaggia 2011

32

[...] consiste na participação real do pesquisador com a comunidade ou grupo, Ele se incorpora ao grupo, confunde-se com ele. Fica tão próximo quanto um membro do grupo que está estudando e participa das agrupo, fazer os indivíduos compreenderam a importância da investigação, sem ocultar o seu objetivo ou sua missão (p. 68).

A observação é um instrumento importante na nossa pesquisa por nos permitir um

contato pessoal com os sujeitos e o lócus pesquisados, nos proporcionando

acompanhar o dia-a-dia dos sujeitos e com isso comparar experiências com os

relatos obtidos nos questionários.

3.4.2 Questionário Fechado

O questionário fechado é o método mais adequado para traçarmos o perfil sócio

econômico dos sujeitos pesquisados. Marconi e Lakatos (1996, p.88) definem o

questionário como “... um instrumento de coleta de dados, constituído por uma série

ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença

de entrevistados”.

O questionário deve ser direto e fácil de responder, ou seja, as questões devem ser

de fácil compreensão, assegurando que assim eles devem ser respondidos

rapidamente e sem dificuldades, assegurando também o anonimato do sujeito

pesquisado.

Portanto o questionário fechado é o meio mais rápido para obter informações sobre

o sujeito, traçando então o seu perfil de forma organizada e objetiva. O questionário

fechado é um instrumento relevante para a nossa pesquisa pela rapidez e facilidade

das repostas, podendo então traçar um perfil detalhado do sujeito.

3.4.3 Questionário Aberto

Outro instrumento a ser utilizado é o questionário-aberto, por enriquecer as

informações, pois possibilita que o sujeito exponha suas idéias de forma evidente.

MARCONI e LAKATOS (1996, p.88) definem o questionário como “... um

instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas,

Page 34: Monografia Amanda pedaggia 2011

33

que devem ser respondidas por escrito e sem a presença de entrevistados”. E

completa GRESSLER (1989):

[...] uma série de perguntas organizadas, com o objetivo de levantar dados para uma pesquisa, cujas respostas são formuladas pelo informante ou pesquisadas sem a assistência direta ou orientação do investigador. Todas as questões do questionário são pré-elaboradas e as respostas são dadas por escrito (p.58).

O questionário dá maior liberdade ao sujeito ao expressar suas opiniões sobre o

tema em questão, permite que ele tenha tempo para refletir sobre o que vai

responder, além de dar maior liberdade de resposta devido ao anonimato exigido.

O questionário aberto é um instrumento muito importante para a nossa pesquisa por

recolher informações com facilidade, relatos mais precisos e reais, permitindo que os

sujeitos expressem suas idéias de forma livre e com isso podemos construir

reflexões sobre a questão de estudo.

Page 35: Monografia Amanda pedaggia 2011

34

CAPITULO IV

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Apresentaremos neste capítulo a análise e interpretação de dados com o intuito de

alcançarmos o objetivo principal desta pesquisa que é perceber a opinião das

educadoras sobre a utilização dos Contos na sala de aula e se elas reconhecem se

os Contos podem colaborar na formação do educando como leitor.

Portanto, este capítulo constitui uma leitura dos dados: observação e questionários.

É preciso ressaltar que estas análises aqui apresentadas representam nossas

interpretações e não uma realidade única e imutável.

4.1 Perfis dos sujeitos

Os sujeitos envolvidos na investigação são cinco professoras de Educação Infantil

da escola Centro de Educação Sementinha do Futuro que lecionam no turno

vespertino. Para traçar o perfil dos sujeitos utilizaremos gráficos com porcentagens.

4.1.1 Gênero

Gráfico 4.1.1 Percentual quanto ao gênero dos sujeitos.

Conforme o gráfico acima com a análise dos sujeitos observados, percebemos que

100% dos educadores são do sexo feminino, o que mostra que a presença feminina

tem grande espaço na área educacional como aponta Kramer (1992):

Page 36: Monografia Amanda pedaggia 2011

35

O gênero como constitutivo das relações sociais e apontando marcas de uma socialização orientada por modelos de papéis sexuais dicotomizados e diferenciados, em que a socialização feminina tem como eixos o trabalho doméstico e a maternagem (p. 125).

E completa Silva (2002): “A feminilização do magistério ocorreu com a luta das

mulheres, para se estabelecerem profissionalmente, configurando um nicho no

mercado de trabalho ocupado por mulheres” (p. 45). Essa predominância do sexo

feminino na educação e principalmente na Educação Infantil vem ao longo do tempo

perpetuando-se essa concepção de que as mulheres seriam as responsáveis pela

formação das crianças.

4.1.2 Nível de formação

Gráfico 4.1.2 Percentual quanto ao nível de formação dos sujeitos.

Quanto ao nível de formação podemos observar no gráfico acima que 20% das

professoras possuem Ensino Médio completo entre elas uma possui o curso de

Magistério e a outra o Ensino Médio básico, 20% delas possuem Ensino Superior

completo o qual corresponde ao curso de Geografia e 60% das professoras

possuem Ensino Superior Incompleto as quais cursam graduação em Pedagogia.

Percebemos que a maior parte dos professores de Educação Infantil vem buscando

aperfeiçoamento na profissão buscando conhecimentos numa formação adequada

para a função exercida, procurando se adequar às exigências legais da lei de

Diretrizes e Bases – LDB, portanto conforme o artigo 62 assim fica determinado:

Page 37: Monografia Amanda pedaggia 2011

36

A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. (BRASIL, 1996)

4.1.3 Carga horária de trabalho

Gráfico 4.1.3 Percentual quanto à carga-horária de trabalho.

A partir da análise deste gráfico, podemos perceber que a carga-horária de trabalho

dos sujeitos está entre 20 e 40 horas semanal. Apenas uma das que trabalham 20

horas tem outro trabalho no turno matutino. Entendemos que a carga horária menor

de trabalho faz com que este profissional desempenhe melhor o seu trabalho, pois

possibilita tempo para planejar suas atividades, porém a precarização do trabalho

docente faz com que eles tenham necessidade de ter outras atividades para

complementar sua remuneração.

4.1.4 Faixa etária

Gráfico 4.1.4 Percentual quanto à faixa etária.

Page 38: Monografia Amanda pedaggia 2011

37

De acordo com o gráfico acima a faixa etária das professoras está em 60% entre 26

a 35 anos, e 40% está entre 19 a 25 anos. Este resultado mostra que a maior parte

dos professores é jovem e isso estabelece uma ligação com o nível de formação

uma vez que 60% estão cursando o nível superior.

4.1.5 Renda mensal

Gráfico 4.1.5 Percentual quanto à renda mensal dos sujeitos.

De acordo com as informações obtidas e representadas no gráfico, identificamos

que 100% das professoras têm renda mensal de um salário mínimo. A renda mensal

das professoras é muito baixa principalmente por ser uma escola de pequeno porte.

Segundo Libâneo (2004):

O professorado diante das novas realidades e da complexidade de saberes envolvidos presentemente na sua formação profissional, precisaria de formação teórica mais aprofundada (...) além, obviamente, da indispensável correção dos salários, nas condições de trabalho e de exercício profissional (p. 77).

Embora exista um piso salarial determinado pelo Ministério da Educação muitas

escolas não o seguem, e a escola pesquisada justifica-se por ser uma escola de

pequeno porte, o valor arrecadado pelas mensalidades não é suficiente para cobrir o

salário determinado. Percebemos então a importância da busca por capacitação do

profissional em educação e com isso podendo então desempenhar um papel

significativo no desenvolvimento dos educandos.

4.2 Contando e analisando: o que dizem as professoras

Page 39: Monografia Amanda pedaggia 2011

38

Analisando o questionário aberto podemos perceber o significado que as

professoras dão aos Contos de Fadas e o que eles representam na formação do

aluno quanto leitor. Para que preservemos a identidade do professor utilizaremos

códigos de identificação dos sujeitos como: P1, P2 (...) P5.

4.2.1 O contato com os ouvintes

Por se tratarem de professoras de Educação Infantil e por trabalhar com cinco

professoras o primeiro passo foi identificar em que turma, ou com qual faixa etária

cada uma delas trabalha.

Entre as professoras estão uma professora de Maternal, que trabalha com crianças

entre dois e três anos, duas professoras de Pré-escola I, que são crianças com

quatro anos e duas professoras de Pré-escola II, que trabalha com crianças de cinco

anos.

4.2.2 O que é Literatura Infantil?

Perguntamos às professoras o que é Literatura Infantil para elas, a maioria foram

respostas simplificadas, sem muitos significados. Ao analisarmos suas respostas

compreendemos o significado que elas dão à Literatura Infantil e com isso já

buscamos perceber um pouco da importância que tem para cada uma delas.

“São histórias para crianças.” (P1)

“É literatura para crianças.” (P2)

Percebemos nas respostas acima uma simplificação grande do que é Literatura

Infantil, podemos também comparar nos questionários que uma das professoras faz

parte dos 20% das professoras que possuem Ensino Médio e a outra faz parte dos

20% que possuem Ensino Superior completo o qual corresponde ao curso de

Geografia. É provável que a resposta seja referente à falta de conhecimento

(formação adequada) sobre o assunto.

Page 40: Monografia Amanda pedaggia 2011

39

“É a literatura voltada para a criança, com uma linguagem voltada para o público

infantil.” (P4)

“É onde a criança interage, cria, imagina, compreende o mundo, são estimuladas a

criar e até mesmo se colocar no lugar dos personagens das histórias dos contos.”

(P5)

Podemos perceber nas respostas de P3, P4 e P5 um aprofundamento e vários

significados e finalidades atribuídos à Literatura Infantil como afirma Dinorah (1995):

“O livro é aquele brinquedo, por incrível que pareça que, entre um mistério e um

segredo, põe idéias na cabeça” (p. 15). Portanto a Literatura Infantil é mais que

histórias contadas para crianças, ela pode ser um mundo de imaginação e prazer no

cotidiano infantil despertando o gosto pela leitura, acreditamos que a simplificação

das respostas vem da falta de formação das educadoras, percebemos ao analisar o

gráfico 4.1.2 que 60% delas ainda estão em processo de formação no curso de

Pedagogia.

4.2.3 Num lugar tão distante ainda existe o gosto pela Leitura

Nos relatos sobre a questão: Você gosta de ler? Percebemos que o gostar de leitura

abrange 100% das professoras todas gostam de ler, mas algumas justificam a falta

de leitura pela fatal de oportunidade, de tempo e afirmam que não costumam ler

habitualmente.

“Gosto, mas não leio muito.” (P1)

“Às vezes, não tenho muito tempo.” (P2)

“Gosto.” (P5)

As opiniões expressas em cada discurso mostram, de várias formas, que a chamada

a leitura por prazer no cotidiano do professor fora da sala de aula quase não ocorre.

“Sim, a leitura para mim abre portas, mundos... e com isso podemos viajar e

vivenciar situações apenas com uma boa leitura”. (P4)

Neste sentido Coelho (2000) afirma:

Page 41: Monografia Amanda pedaggia 2011

40

Chega-se à conclusão de que o professor precisa estar “sintonizado” com as transformações do momento presente e reorganizar seu próprio conhecimento ou consciência de mundo, orientado em três direções principais: da literatura (como leitor atento), da realidade social que o cerca... e da docência (como profissional competente)”. (p. 18)

A resposta de P4 mostra uma leitura por prazer, com isso percebemos que a

professora tem um hábito de ler sempre e essa forma de gostar de ler possivelmente

é transmitida em sala de aula.

4.2.4 Quem conta um conto aumenta... muitos pontos

De modo geral ler e contar histórias na sala de aula é fundamental para muitas

questões, a Literatura Infantil, além de fazer viajar, se emocionar, se encontrar...

forma e informa. E neste sentido, para Abramovich (1997):

[...] é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início de aprendizagem para ser um leitor, e ser um leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo... (p. 16)

As idéias expressas pelas professoras e a observação que foi feita nas salas de aula

mostram que a Literatura Infantil está presente no cotidiano escolar das turmas em

que lecionam.

“Sim, eles gostam muito de ouvir histórias.” (P1)

“Sim, as histórias prendem a atenção deles.” (P2)

“Sim, eles adoram ouvir histórias”. (P4)

“Leio, sempre, na hora das atividades.” (P5)

Notamos que o motivo maior das professoras contarem histórias na sala de aula é o

fator das crianças gostarem de ouvi-las, isso mostra que em meio a um mundo

tecnológico e extremamente informatizado, o gosto por ouvir histórias, contos ainda

sobrevive a tais mudanças no contexto humano e principalmente infantil.

Em palavras de Garcia (1992) vimos anteriormente que é o professor que deve

buscar caminhos para o aprendizado da leitura desenvolvendo senso crítico e

criativo. O fato dessas professoras já fazerem o uso das histórias e dos Contos de

Page 42: Monografia Amanda pedaggia 2011

41

Fadas já mostra que elas têm compreensão de que eles fazem parte do universo

infantil e que podem trazer benefícios na educação dos seus alunos.

4.2.5 E quem quiser que conte outra (o)...

Acerca do tipo de Literatura Infantil que elas utilizam com maior freqüência na sala

de aula as respostas foram em 100% a mesma:

“Conto de Fadas” (P1)

“Contos Clássicos, modernos e fábulas” (P3)

“Os Contos de Fadas” (P5)

Os contos estão envolvidos na magia, na fantasia e misturam o lazer e o

aprendizado. Em palavras de Abramovich (1997):

Por quê? Porque os contos de fadas estão envolvidos no maravilhoso, um universo que denota fantasia, partindo sempre duma situação real, concreta, lidando com emoções que qualquer criança já viveu... Porque se passam num lugar que é apenas esboçado, fora dos limites do tempo e do espaço, mas onde qualquer um pode caminhar... (...) Porque todo esse processo é vivido através da fantasia, do imaginário, com intervenção de entidades fantásticas (bruxas, fadas, duendes, animais falantes, plantas sábias...). (p. 120)

A forma com que os Contos desenrolam os seus conflitos é que mostra à criança um

espaço para que elas representem e encontrem formas de resolver seus conflitos

interiores. Respondendo a pergunta se elas trabalham com Contos Clássicos temos

as seguintes respostas:

“Sim, porque elas gostam.” (P1)

“Sim, porque são histórias que elas mais gostam.” (P2)

“Também. Por que meus alunos gostam e eu também além de despertar a fantasia

e imaginação.” (P3)

“Sim, porque é a literatura que mais encanta.” (P4)

“Sim, acho que é o momento de interação das crianças, onde elas vivem no seu

mundo imaginário.” (P5)

Page 43: Monografia Amanda pedaggia 2011

42

As respostas mostram o interesse do aluno de Educação Infantil pelos Contos de

Fadas, e que o encantamento que essas histórias proporcionam é que faz elas

quererem sempre ouvir mais histórias, podemos perceber esta realidade no

momento da observação participante, observamos a euforia das crianças no

momento das histórias e vimos que alguns até mesmo pedem que a história

preferida seja contada, mesmo que seja pela 5ª vez.

4.2.6 Pela estrada a fora encantando com um capuz vermelho

Perguntamos às professoras qual a história que prende mais a atenção dos seus

alunos e a resposta foi única:

“Chapeuzinho Vermelho” (P1)

“Chapeuzinho Vermelho e Os três porquinhos” (P2)

“Festa no céu e os três porquinhos” (P3)

“Chapeuzinho Vermelho” (P5)

Vimos durante a observação direta também, que elas pedem as histórias que mais

gostam e percebemos que estão entre os Contos de Fadas e geralmente pedem a

mesma história por várias vezes. Preferem histórias em que o professor faça um

suspense e que algo de misterioso aconteça.

As crianças gostam do que é mágico e irreal, como quando a vovó da Chapeuzinho

é engolida pelo Lobo e no final ressurge saindo então da barriga dele, com isso ela

acredita que ao final de situações difíceis tudo acaba bem. Essa característica dos

Contos de Fadas em que tudo no final tem uma solução boa e fácil para quem é “do

bem”, é que traz o encantamento fazendo com que elas se identifiquem com a

história e com isso buscar o conhecimento de forma lúdica e prazerosa.

4.2.7 E pra formar leitores precisa de capuz vermelho?

Quando perguntamos se elas acreditam que os contos de fadas podem ajudar no

processo de formação do leitor na Educação Infantil, as respostas foram positivas:

Page 44: Monografia Amanda pedaggia 2011

43

“Os livros fazem elas terem curiosidade de ler.” (P1)

“Acho que sim, por que o livro, as figuras coloridas, e a forma com que se lê, fazem

elas terem a curiosidade de aprender a ler.” (P2)

“Sim, por que através das histórias a criança vai sendo despertada para o gosto pela

leitura e pela curiosidade de ler outras histórias.” (P3)

“Sim, por que o conto é a primeira forma de literatura que as crianças têm contato e

por ser prazerosa faz com que a criança tenha vontade de aprender a ler.” (P4)

“Acredito. As histórias também ajudam a formar a personalidade das pessoas.” (P5)

A Literatura é o que garante o prazer da leitura, ou seja, a leitura por prazer.

Segundo Cunha (1995, p. 47): “(...) a leitura é uma forma altamente ativa de lazer”.

Como diz a professora P4 os Contos estão presentes na vida da criança, muitas

vezes, desde o berço, e o poder que eles têm de encantar junto com a mediação do

professor, pode incentivar o aluno ao aprendizado da leitura.

As professoras em questão afirmam que os Contos podem sim incentivar os seus

alunos a aprenderem a ler, isso revela que elas acreditam no poder das histórias

infantis, em que o despertar de emoções pode trazer a leitura, a linguagem para

mais perto da criança e que isso pode influenciar na formação do seu aluno quanto

leitor.

4.2.8 Contando... qual a sua maneira?

Ao analisarmos as respostas sobre de que maneira elas utilizam os contos na sala

de aula, percebemos que a contação é o modo mais utilizado pelas professoras:

“Utilizo contando as histórias ou lendo nos próprios livros.” (P1)

“Contando as histórias da minha maneira ou leio nos livrinhos.” (P2)

“É utilizada com as atividades, dependendo do conteúdo.” (P3)

“Contando as histórias, lendo livrinhos. Às vezes eu escolho a história, mas às vezes

mesmo já tendo escolhido, tenho que contar outra, pois eles pedem alguma história

que mais gostam.” (P4)

Page 45: Monografia Amanda pedaggia 2011

44

Na observação participante podemos observar também essas afirmações, vimos

professoras contando histórias dos Contos de Fadas, principalmente, contando com

suas palavras, com seu jeito, da sua maneira, muitas vezes com a participação dos

alunos, percebemos a ansiedade quando a professora dizia que ia contar uma

história e como diz a P4, também ouvimos os pedidos que eles fazem acerca da

história que querem ouvir muitas vezes uma história que já foi contada outras vezes,

mas que mesmo assim ainda traz emoções.

4.2.9 O que precisa usar pra contar?

Acerca de materiais ou recursos que podem ser utilizados para contar essas

histórias perguntamos: Você utiliza algum recurso para contar as histórias? Qual?

Notamos que a escola possui alguns recursos para ajudar as professoras como os

livros, os fantoches e muito material para criar seus próprios recursos.

“Às vezes, utilizo fantoches ou livros.” (P1)

“Sim, fantoches, objetos, livros.” (P2)

“Fantoche, avental, dramatização. Rodinha.” (P3)

“Sim. Utilizo objetos, fantoches, fantoches confeccionados, brinquedos...” (P4)

Com a nossa observação participante podemos ver várias situações de leitura e

contação de histórias, achamos muito interessante a forma de contar de cada uma,

com os fantoches, em algumas situações confeccionando material, assim como

também improvisando com brinquedos e até mesmo com materiais do uso da

criança, como, por exemplo, as borrachas como João e Maria e a cola como bruxa

má, momentos de lazer e aprendizado andando juntos.

4.2.10 Tem hora certa pra contar?

Ouvimos muito falar sobre “a hora do conto”, muitas escolas adotam este

procedimento determinando na rotina semanal o dia e a hora certa para contar

histórias. Então perguntamos se as professoras têm dia e hora específica para

contar histórias e quantas vezes na semana elas o fazem.

Page 46: Monografia Amanda pedaggia 2011

45

“Não tenho dia específico, conto quando sinto vontade de contar. Não tenho

quantidade de vezes durante a semana.” (P1)

“Não, às vezes 1, 2 ou 3 vezes na semana.” (P2)

“Sim, todos os dias após o recreio e na rotina com o conteúdo.” (P3)

“Toda sexta-feira eu conto uma história, mas às vezes conto outros dias da semana,

quando tem tempo livre.” (P4)

“Não, acho que uma vez na semana.” (P5)

Percebemos nos relatos que a maioria delas não tem um tempo determinado para

contar histórias, o momento é aquele que elas julgam ser oportunos para a utilização

das histórias na sala de aula e quanto à quantidade de vezes em que contam

histórias percebemos que na maioria dos relatos as professoras dizem que

trabalham regularmente (mais de uma vez na semana), “Ao ler uma história a

criança também desenvolve todo o potencial crítico. (...) Mas fazendo parte da rotina

escolar, sendo sistemático, sempre presente... (ABRAMOVICH, 1997, p. 173),

percebemos também na observação direta os momentos de contação e leitura de

histórias, além da alegria, euforia e encanto das crianças.

4.2.11 Sobre Projetos de leitura

Não temos dúvida quanto à importância de que a Literatura Infantil e os Contos de

Fadas têm relevância no processo de formação da criança, ampliando

conhecimentos e estimulando o processo de formação de leitores.

O educador deve saber o quanto é importante sua prática e ação em sala de aula,

sua mediação motivará ou não a criança à prática da leitura. Segundo ZILBERMAN,

“(...) Para se alcançar o estímulo à leitura, é preciso que esta disciplina estabeleça

quais metas didáticas são válidas para utilização ao livro infantil na escola” (1993, p.

29). E quanto a Educação Infantil Radino (2003): “O ato de ouvir histórias auxilia a

criança no seu processo de alfabetização, pois quanto mais histórias ouvir mais ela

aguçará sua capacidade de imaginação...”

Page 47: Monografia Amanda pedaggia 2011

46

Questionamos às professoras se na escola elas trabalham com algum projeto

específico de literatura com incentivo a leitura. Percebemos uma contradição nas

falas da professora P2, quando diz:

“Não. Nunca pensei nessa hipótese de já influenciar nisso.” (P2)

Podemos observar que em questões anteriores ela afirmou que acredita sim que os

contos de Fadas podem ajudar no processo de formação do leitor.

“Não, não temos projetos de leitura ou literatura na Educação Infantil.” (P1)

“Não fiz projeto de leitura com eles, pois são muito pequeninos.” (P4)

“Não apenas conto as histórias.” (P5)

Nos relatos acima podemos perceber que elas não trabalham com nenhum projeto

específico de Literatura ou Leitura, a professora P4 afirma inclusive que acham as

crianças muito pequeninas para já serem influenciadas a ler.

Page 48: Monografia Amanda pedaggia 2011

47

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os Contos de Fadas, apesar de trazerem contextos sociais e econômicos que estão

ligados à realidade da Europa Medieval, que se encontram muito distantes do nosso

contexto social, tem seu grande espaço na vida das crianças de casa à escola por

apresentarem problemas muitas vezes envolvendo um meio familiar com

sentimentos de amor, medo, vida, morte, resolvendo os conflitos sempre de forma

simples e objetiva.

Não há projeto de Literatura Infantil com incentivo à leitura, mas, a prática docente

utilizando-se da literatura Infantil pode colaborar com a formação do leitor, visto que

o processo de alfabetização acontece de um modo contínuo durante toda a

Educação Infantil. Sabemos que os Contos de Fadas e a Literatura Infantil de modo

geral são instrumentos significativos neste processo de construção de conhecimento

e formação de leitores.

A leitura de histórias na sala de aula e a forma como o educador conduz é

fundamental para formar leitores críticos e reflexivos, com essa prática ajuda a

desenvolver também o prazer e o hábito da leitura.

Diante de todas as questões que foram levantadas às professoras, percebemos que

apesar de não serem leitores em sua essência, em sala de aula elas admitem que a

leitura e contação dos Contos de Fadas são importantes, e que elas fazem o uso

delas em sala de aula.

Com as observações também percebemos que as professoras permitem o contato

da criança com o livro e que reconhecem que os Contos podem influenciar na

formação do leitor, mas afirmam que não fazem uso das mesmas com a intenção de

incentivá-los a aprender ou querer aprender a ler, vimos que o conto faz parte do

cotidiano escolar, mais como uma forma de lazer e divertimento, e algumas vezes

também atrelado a algum assunto específico, como trabalhar sobre o a órgãos do

sentido contando a história de Chapeuzinho Vermelho, enfatizando a parte em que a

menina pergunta a avó (lobo) sobre as partes exageradas do seu rosto.

Page 49: Monografia Amanda pedaggia 2011

48

Os resultados apontam que a forma com que elas trazem os Contos para a sala de

aula, com estratégias diferentes para atrair a atenção do aluno nos revela que

mesmo inconsciente, as professoras vem incentivando e atraindo os alunos às

histórias e não só ao imaginário e maravilhoso, mas também vem despertando os

alunos a gostarem do que está no livro. Notamos pela forma com que alguns alunos

que ainda não sabem ler, até mesmo de maternal, por exemplo, pegam nos livros

fingem que estão lendo, imitam o jeito das professoras contarem e até mesmo

desvendam a história pelas figuras fazendo leitura de imagem.

Constatamos que as educadoras, por meio da sua prática, mesmo sem intenção,

incentivam as crianças à leitura e se elas investissem em projetos com Contos de

Fadas como instrumento em sala de aula poderia ter estratégias mais definidas para

incentivar os alunos a se tornarem futuros leitores.

Notamos a diferença entre as ações dos professores, que nos momentos que não

tem o que fazer em sala de aula apenas pegam um livro e lêem a história, e as

professoras questionadas durante a pesquisa onde durante a observação

participamos de várias ações de leitura e contação de forma dinâmica, fazendo com

que os alunos queiram interagir neste momento.

Assim, todas as discussões acerca dessas ações docentes envolvem profissionais e

vimos que a maioria deles já estão em formação no curso de Pedagogia, isso mostra

que esses profissionais vêm buscando capacitação e isso os possibilitará a

elaboração de projetos de leitura e com isso no futuro teremos mais leitores “felizes

para sempre”.

Page 50: Monografia Amanda pedaggia 2011

49

REFERENCIAS

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Page 54: Monografia Amanda pedaggia 2011

53

Page 55: Monografia Amanda pedaggia 2011

54

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII

Este questionário sócio-econômico faz parte de um trabalho de pesquisa da

Universidade do Estado da Bahia. Conto com a sua participação. Obrigada!

QUESTIONÁRIO SÓCIO-ECONÔMICO

1. Sexo:

( ) Masculino ( ) Feminino

2. Escolaridade:

( ) Ensino Médio ( ) Superior incompleto

( ) Superior Completo:______________ ( ) Pós-graduação

Ano de Conclusão: ________

3. Carga-horária de trabalho:

( ) 20 horas ( ) 40 horas ( ) 60 horas

4. Idade

( ) 19 a 25 anos

( ) 26 a 35 anos

( ) 36 a 40 anos

Page 56: Monografia Amanda pedaggia 2011

55

( ) Acima de 40 anos

5. Renda familiar:

( ) Um salário mínimo

( ) Dois salários mínimos

( ) Três salários mínimos

( ) Mais de três salários mínimos

Page 57: Monografia Amanda pedaggia 2011

56

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII

Este questionário faz parte de um trabalho de pesquisa da Universidade do Estado

da Bahia. Conto com a sua participação. Obrigada!

QUESTIONÁRIO:

1. Com qual série você trabalha?

___________________________________________________________________

_________________________________________________________________

2. Para você o que é Literatura Infantil?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

_________________________________________________________________

3. Você gosta de ler?

___________________________________________________________________

_________________________________________________________________

4. Você lê sempre para seus alunos?

___________________________________________________________________

_________________________________________________________________

5. Que tipo de literatura você utiliza com maior freqüência na sala de aula?

___________________________________________________________________

_________________________________________________________________

6. Você costuma trabalhar com os Contos clássicos? Por quê?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Page 58: Monografia Amanda pedaggia 2011

57

___________________________________________________________________

_________________________________________________________________

7. Qual história prende mais a atenção de seus alunos?

___________________________________________________________________

_________________________________________________________________

8. Você acredita que os Contos de Fadas podem ajudar no processo de

formação do leitor na Educação Infantil? Por quê?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

_________________________________________________________________

9. De que maneira você utiliza os Contos na sala de aula?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

_________________________________________________________________

10. Você utiliza algum recurso para contar as histórias? Qual?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

_________________________________________________________________

11. Você tem um dia, horário específico para contar histórias? E quantas vezes

na semana você o faz?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

_________________________________________________________________

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58

12. Você utiliza alguma metodologia específica ou projeto que venha a utilizar

os Contos com intuito de formar leitores? Explique.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

_________________________________________________________________