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Uso da Terapia Oxigênio-Ozônio para Tratamento da Lombalgia Causada por Hérnia Discal Lombar RESUMO INTRODUÇÃO: A dor lombar acomete uma parcela considerável da população mundial: 70 a 85% têm dor lombar em alguma época da vida. A presença de hérnia discal não justifica a lombalgia em grande parte dos pacientes, pois a etiologia abrange, além da compressão mecânica do disco na raiz nervosa, uma reação inflamatória local que produz uma série de substâncias, dentre elas, citocinas (interleucina-1 Alfa e TNF-Alfa). Reconhecendo esse mecanismo multifatorial é que se baseia a técnica de infiltração da mistura gasosa de oxigênio-ozônio intradiscal. Sendo o ozônio o maior oxidante conhecido, ele reage com espécies reativas de oxigênio e libera a bradicinina e inibe a síntese de prostaglandinas inflamatórias, diminuindo, em teoria, a dor lombar. OBJETIVO: Realizar revisão sistemática sobre a terapia de oxigênio-ozônio no tratamento da dor causada por hérnia discal lombar. METODOLOGIA: uma busca nos bancos de dados MEDLINE e BIREME com as seguintes palavras- chave: lumbar herniation and ozone. Os artigos encontrados foram limitados a ensaios clínicos com humanos, publicados nos últimos 10 anos, nos idiomas italiano e inglês e as palavras- chave presentes no título e no resumo. RESULTADOS: foram selecionados seis artigos de ensaio clínico sobre resultados da terapia de infiltração de ozônio em pacientes com dor lombar e hérnia discal. CONLUSÃO: a ozonioterapia, ainda que não aprovada pelo Federal Drug Administration (FDA) tem obtido 1

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Uso da Terapia Oxigênio-Ozônio para Tratamento da Lombalgia Causada por Hérnia Discal Lombar

RESUMO

INTRODUÇÃO: A dor lombar acomete uma parcela considerável da população mundial: 70

a 85% têm dor lombar em alguma época da vida. A presença de hérnia discal não justifica a

lombalgia em grande parte dos pacientes, pois a etiologia abrange, além da compressão

mecânica do disco na raiz nervosa, uma reação inflamatória local que produz uma série de

substâncias, dentre elas, citocinas (interleucina-1 Alfa e TNF-Alfa). Reconhecendo esse

mecanismo multifatorial é que se baseia a técnica de infiltração da mistura gasosa de

oxigênio-ozônio intradiscal. Sendo o ozônio o maior oxidante conhecido, ele reage com

espécies reativas de oxigênio e libera a bradicinina e inibe a síntese de prostaglandinas

inflamatórias, diminuindo, em teoria, a dor lombar. OBJETIVO: Realizar revisão sistemática

sobre a terapia de oxigênio-ozônio no tratamento da dor causada por hérnia discal lombar.

METODOLOGIA: uma busca nos bancos de dados MEDLINE e BIREME com as seguintes

palavras-chave: lumbar herniation and ozone. Os artigos encontrados foram limitados a

ensaios clínicos com humanos, publicados nos últimos 10 anos, nos idiomas italiano e inglês e

as palavras-chave presentes no título e no resumo. RESULTADOS: foram selecionados seis

artigos de ensaio clínico sobre resultados da terapia de infiltração de ozônio em pacientes com

dor lombar e hérnia discal. CONLUSÃO: a ozonioterapia, ainda que não aprovada pelo

Federal Drug Administration (FDA) tem obtido excelentes resultados no tratamento de hérnia

discal lombar. PALAVRAS-CHAVE: Dor lombar, ozônio e hérnia de disco lombar

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INTRODUÇÃO

A dor lombar acomete uma parcela considerável da população mundial. Cerca de 70%

a 85% têm dor lombar em alguma época da vida. A dor lombar classificada como moderada a

severa em intensidade e duração tem incidência de 15 a 30% 1. A lombalgia afeta igualmente

ambos os sexos quase sempre na faixa etária de 30 a 50 anos e sua etiologia é complexa e

multifatorial. Estudos experimentais sugerem que a dor lombar deve ser originada de muitas

estruturas, incluindo ligamentos, periósteo vertebral, musculatura paravertebral e fáscia, vasos

sanguíneos, anéis fibrosos e raízes nervosas espinhais2.

A presença da hérnia de disco lombar não deve ser considerada como etiologia única

para causar a lombalgia. Muitos indivíduos portadores de hérnia de disco lombar vivem com a

morfologia da lesão intacta entre as crises de dor se comparada ao seu padrão radiológico na

Tomografia Computadorizada (TC) ou de Ressonância Magnética Nuclear (RMN) durante os

episódios em que experimentam a dor lombar3.

Esses dados corroboram para um entendimento mais aprofundado do mecanismo da

dor, o qual vai muito além do fator mecânico direto de compressão da raiz nervosa. O outro

componente da dor lombar é a reação inflamatória perineural e perivertebral envolvidas no

processo.

A terapia de oxigênio e ozônio é uma técnica minimamente invasiva que mostra em

muitos estudos a redução da lombalgia em pacientes com hérnia de disco lombar. Ao

considerarmos a multifatoriedade da dor lombar, a aplicação do ozônio como tratamento de

escolha para esses pacientes mostrou uma boa taxa de sucesso obtendo excelentes resultados

em 50,3-64% das amostras 4,5.

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METODOLOGIA

Foi realizada uma busca nos bancos de dados MEDLINE e BIREME com as seguintes

palavras-chave: lumbar herniation and ozone. Os artigos encontrados foram limitados a

ensaios clínicos com humanos, publicados nos últimos 10 anos, nos idiomas italiano e inglês e

as palavras-chave presentes no título e no resumo. Foram incluídos na análise artigos citados

nas referências da literatura encontrada. Dentre eles foram escolhidos especificamente cinco

que foram realizados entre 1997 e 2007, os quais apresentaram homogeneidade de materiais e

métodos utilizados.

Os ensaios clínicos selecionados focalizaram uma questão clínica específica: a eficácia

da terapia de oxigênio-ozônio na analgesia da lombalgia desencadeada pela hérnia discal.

Os critérios de inclusão nos estudos foram: (1) dor lombar resistente a tratamentos

conservadores (uso de medicação, fisioterapia, acupuntura entre outros.); (2) duração mínima

de dois meses; (3) Evidência na TC ou RNM de hérnia discal lombar compatível com o

quadro clínico do paciente e (4) parestesia ou hipoestesia no dermátomo envolvido e sinais de

irritação na raiz ganglionar. Os critérios de exclusão foram: (1) evidência neuroradiológica de

prolapso discal ou fragmentos livres de hérnia de disco; (2) portadores das síndromes

facetária, sacroileíte e lesões ósseas (infecção, inflamação ou neoplasia); (3) déficit

neurológico severo e/ou distúrbio esfincteriano e (4) pacientes com paresia/plegia, diátese

hemorrágica ou suspeita de espondilolistese.

3

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RESULTADOS

Um total de nove artigos foi encontrado através da primeira busca. Em seguida, foi

feita uma busca manual na qual foram incluídos os demais artigos. Dos seis artigos que

atenderam ao critério de utilização da dor lombar como desfecho, cinco deles foram

selecionados para embasar esta revisão sistemática. A tabela 2 é uma sinopse das publicações

revisadas.

Os estudos revisados utilizaram um ou mais dos seguintes critérios de estratificação de

dor para avaliar suas amostras: Visual Analog Pain Scale (VAS), Oswestry Disability Index

(ODI) ou Escala de MacNab Modificada (tabela 1).

Tabela 1. Escala de MacNab Modificada.

Resultados Descrição

Sucesso no Tratamento

Excelente Desaparecimento dos Sintomas

Completa recuperação das atividades de trabalho e esportes

Bom Episódios ocasionais de lombalgia ou ciatalgia

Sem limitações das atividades ocupacionais

Falha no Tratamento

Pobre Melhora insuficiente dos sintomas

Administração periódica de drogas

Limitação das atividades físicas

Cirurgia Nenhuma melhora

Piora da situação clínica

Foi utilizada a avaliação dos pacientes cerca de 2 a 18 meses após a intervenção. Os

materiais utilizados para realizar a técnica de nucleólise foram semelhantes, utilizando agulha

de calibre entre 18 a 22 Gauges para infiltração. A faixa etária foi variável entre os estudos

(19 – 94 anos).

Todos os resultados tiveram como desfecho a dor lombar. Um dos artigos (8)

estratificou a amostra e analisou individualmente seus subgrupos de acordo com as variáveis:

idade, gênero e número de segmentos afetados.

Dois estudos (4,6) compararam a técnica de nucleólise com injeção de O2O3 com

injeções de esteróides. Bonetti M (6) encontrou um resultado de 77,9% dos pacientes que

4

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tiveram sucesso no tratamento com O2O3; em contrapartida, dentre aqueles que foram

submetidos à injeção com esteróide obtiveram 67,5% de sucesso.

No estudo de Andreula C, et al (4) foram comparados um grupo que recebeu injeção

de O2O3 e um grupo que recebeu além de O2O3, uma dos e de esteróide. O grupo que foi

tratado com dose esteroidal além do O2O3, em 6 meses de seguimento, 78,3% dos seus

pacientes tiveram no tratamento enquanto que no outro grupo a taxa de sucesso foi de 70,3%.

A diferença nos resultados entre os grupos foi estatisticamente significante (p< 0,05).

As taxas de sucesso da técnica de nucleólise com infiltração de O2O3 foram

significantes em todos os estudos analisados. Em 6 meses de avaliação, os grupos obtiveram

taxas de sucesso do referido tratamento que variavam entre 70,3% (4), 74,4% (6) e 77%(5), de

acordo com a Escala de MacNab Modificada (Tabela 2). Nos demais estudos (8,9) foi

utilizada uma outra escala – VAS – na qual, no mesmo período de seguimento, demarcou uma

redução de 3.0 (9) e de 3.3 (8) nas amostras. O Oswestry Disability Index (ODI) foi utilizado

e devidamente documentado por Oder B, et al (8), computando uma redução de 51% da

pontuação (p=0,015) do ODI após 2 meses de tratamento.

Gallucci M, et al (7) aplicou seu estudo sob uma abordagem diferente: randomizou

dois grupos para receber tratamento apenas com infiltração com esteróide (grupo A) e outro

que recebeu além do esteróide, infiltração com O2O3 (grupo B). A técnica aplicada é bastante

semelhante às dos demais estudos analisados, utilizando materiais compatíveis com os

demais, concentração de ozônio de 27µg/mL. O método de estadiamento da dor foi o ODI. No

grupo B, 78,0% dos pacientes obtiveram sucesso após três meses de acompanhamento,

enquanto que após 6 meses, esta porcentagem caiu para 74,0%. Dentre o grupo tratado apenas

com esteróides, (grupo A), após três meses do procedimento, 67,0% teve sucesso com o

tratamento, mas após seis meses, eles foram reavaliados e constatou-se que apenas 47,0%

deles ainda continuaram no mesmo patamar (Intervalo de Confiança= 95,0%). Esse estudo

mostrou diferenças estatisticamente relevantes após seis meses da realização do procedimento

(p < 0,001).

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Tabela 2. Comparativo entre populações dos estudos que utilizaram injeção de O2O3 para

tratamento de lombalgia decorrente de hérnia discal lombar.

Estudo Amostra (n) Desfecho Critérios de

Avaliação

Avaliação em

3 meses*

Avaliação em

6 meses*

Avaliação em

12 meses*

Avaliação em

18 meses*

Bonetti M, et al

(6)

86 Dor Lombar Escala de

MacNab

Modificada

77,9%

(p= 0,1318)

74,4%

(p= 0,0021)

- -

Muto M,

Andreula C, et

al (5)

2.200 Dor Lombar Escala de

MacNab

Modificada

- 77,0% (Valor

de p não

informado)

- 62%

(Valor de p não

informado)

Andreula C,

Simonetti L, et

al (4)

300 Dor Lombar Escala de

MacNab

Modificada

- 70,3%

(p ‹ 0,05)

- -

Muto M,

Ambrosanio G,

et al (9)

2.625 Dor Lombar Escala de

MacNab

Modificada,

ODI e VAS

- - 75,0 %

,redução de

30% do ODI e

redução de 3,0

do VAS em 85

% dos casos.

Valor de p não

informado

-

(*): Porcentagem da população que obteve sucesso no tratamento (de acordo com a classificação da Escala de MacNab Modificada).

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Tabela 3. Comparativo entre estudos cujas amostras receberam infiltração com ozônio apenas.

Estudo Concentração de

Ozônio

Tempo Estimado

da Infiltração

Volume

Intraforaminal

Volume

Intradiscal

Volume

Periganglionar

Volume Faceta

Articular

Bonetti M, et al (6) 25 µg/mL - 3 mL - - 5 mL

Muto M, Andreula

C, et al (5)

30 µg/mL - 10 mL 3 – 4 mL - -

Andreula C, et al

(4)

27 µg/mL 15 segundos - 4 mL 8 mL -

Muto M,

Ambrosanio G, et

al (9)

30 – 40 µg/mL - 10 mL 3 - 4 mL - -

Tabela 4. Comparativo dos estudos que possuíam amostras que utilizaram esteróide e ozônio

concomitantemente.

Estudos Amostra

(n)

Esteróide Dose de

Esteróide

Volume de

O2-O3

Concentraç

ão de O3

Anestésico Critério de

Avaliação

Avaliação

após 3

meses*

Avaliação

após 6

meses*

Andreula C,

Simonetti L,

et al (4)

300 Acetato de

Metilpredni

solona

1 mL (40

mg) Região

Periganglio

nar

12 mL

(Intradiscal

e

periganglion

ar)

27 µg/mL 2 mL de

marcaína a

0,5%

Escala de

MacNab

Modificada

- 78,3 %

(p ‹ 0,05)

Gallucci M,

et al (7)

82 Triamcinolo

ne

Acetonide

2 mL

(Intradiscal

e

Intraforamin

al)

12,3 mL

(Intraforami

nal e

intradiscal)

28 µg/mL 2-4 mL

Ropivacaína

a 2%

ODI 78,0 %

(IC: 95%)

74,0 %

(IC: 95%)

Oder B, et

al (8)

185 Betametaso

na

1 mL

(Intraforami

nal)

10 mL

(intradiscal

e epidural)

30 µg/mL 3 mL de

lidocaína a

2%

ODI e VAS - Redução de

3,3 na VAS

(p<0,001)

(*): Resultados classificados como excelente.

7

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Tabela 5. Comparativo dos estudos que possuíam amostras que utilizaram esteróide apenas.

Estudos Amostra (n) Esteróide Dose de

Esteróide

Anestésico Critério de

Avaliação

Avaliação após

3 meses*

Avaliação após

6 meses*

Bonetti M, et al

(6)

80 Acetato de

Metilprednisolo

na

2mL (80mg) Local spray de

etil clorideo

Escala de

MacNab

Modificada

67,5%

(p=0,1318)

46% (p=0,2460)

Gallucci M, et al

(7)

82 Triamcinolone

Acetonide

2 mL

(Intradiscal e

Intraforaminal)

2-4 mL

Ropivacaína a

2%

ODI 78,0 %

(IC: 95%)

74,0 %

(IC: 95%)

(*): Resultados classificados como excelente.

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DISCUSSÃO

A dor relacionada à hérnia discal lombar deve ser considerada com múltiplas

etiologias, dentre as quais a reação inflamatória neural e perineural e seus mediadores

biohumorais exercem o maior papel. Associado a isso, tem a estase venosa associada ao efeito

de massa na circulação perineural. A compressão mecânica do gânglio da raiz dorsal (GRD)

pode desempenhar um papel adjuvante pela geração de anormalidades na condução nervosa

devido à desmielinização da fibra com mecanismos diretos e indiretos de anóxia-isquemia3.

O disco pode ser a fonte primária de dor, mas pode ter origem em outras estruturas

tais como: terminações nervosas interdiscais, ligamento longitudinal posterior, dura-máter

ventral, ramificações dorsais, anel fibroso externo, cápsula da faceta articular e até a borda do

corpo vertebral.

De acordo com Cox10, a lombalgia pode estar relacionada também ao ambiente

químico dentro do disco intervertebral e ao estado de sensibilização de seus nociceptores

anelares, que são extremidades terminais periféricas de neurônios sensoriais que são

seletivamente suscetíveis a estímulos álgicos. Além disso, aliado à compressão do nervo,

ocorrem mudanças funcionai devido à deformação mecânica: uma pressão de 30 a 50 mmHg

aplicada a um nervo resulta em modificações no fluxo sanguíneo intraneural, permeabilidade

vascular e transporte axonal. É interessante acrescentar que em diversos autores afirmaram

que a compressão de um nervo periférico normal ou da raiz nervosa, pode induzir o

entorpecimento, mas não é causa obrigatória de dor.

O que pode levar à dor é a mudança na composição química (radiculite química), cuja

hipótese baseia-se no extravasamento do conteúdo do anel fibroso que está enfraquecido pela

degeneração do disco intervertebral. Este conteúdo, de composição glicoprotéica, o qual é

reconhecido como antígeno e produz títulos de anticorpos desencadeando uma cascata

inflamatória auto-imune3. Além da glicoproteína temos a liberação da fosfolipase A2, ácido

láctico (decorrente da glicólise do disco), sulfato de condroitina e fluido sinovial decorrente

das facetas degeneradas10. O núcleo pulposo contém componentes próinflamatórios

imunomediados que induzem a resposta à dor: condrócitos, fibrócitos, células notocórdicas e

células secretoras estreladas12.

A hérnia do núcleo pulposo é responsável por desencadear uma reação auto-imune e

levar a um aumento no processo inflamatório peri-regional através de um mecanismo não-

imuno mediado, sustentado por histiócitos, fibroblastos e condrócitos nas protusões discais

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capazes de produzir citocinas (interleucina-1 Alfa e TNF-Alfa). Isso leva a um aumento da

fosfolipase A2, prostaglandina E2, leucotrienos e tromboxanos (13).

O ozônio reage com biomoléculas (ácidos graxos poliinsaturados e antioxidantes) no

plasma. A reação produz peróxido de hidrogênio (espécies reativas de oxigênio – ROS´s) e

produtos de oxidação lipídica (LOP´s). O rápido aumento na concentração de peróxido de

hidrogênio ativa inúmeros eventos bioquímicos e simultaneamente é reduzido pelo sistema

antioxidante. ROS´s e LOP´s são responsáveis por: inativar e inibir a liberação de enzimas

proteolíticas e citocinas pró-inflamatórias; induzir síntese de enzimas antioxidantes (SOD,

GSH-Px e catalase); liberar a bradicinina e inibir síntese de prostaglandinas inflamatórias com

diminuição do edema; aumentar a concentração de receptores de IL-1 e de antagonistas que

neutralizam citocinas pró-inflamatórias (IL-, IL-8, IL-12, IL-15 e TNF) e, finalmente, liberar

citocinas imunossupressivas, tais como TGF-β e IL-10 (14).

Esta revisão mostrou alguns dos poucos estudos de ensaio clínico existentes na

literatura científica que avaliaram a eficácia da ozonioterapia no tratamento da dor lombar em

pacientes portadores de hérnia discal lombar.

A despeito dos excelentes resultados encontrados em todos os estudos analisados, os

vieses devem ser considerados. Na tabela 3 pode-se observar que não há uma uniformidade

nas técnicas utilizadas: a abordagem ocorre em vários regiões (intraforaminal, intradiscal,

periganglionar e faceta articular). Cada uma dessas regiões é capaz de gerar sintomas álgicos:

a dor pode ser causada pelo alongamento das fibras anelares periféricas do disco, pelos

ligamentos longitudinal anterior e posterior, pela borda do corpo vertebral, pela cápsula da

faceta articular, pela estimulação de raízes nervosas edemaciadas ou comprimidas. Portanto, é

importante identificar as estruturas envolvidas na gênese do processo álgico, além de

discriminar a técnica utilizada.

Na tabela 3, também se nota que apenas um dos estudos (4) registrou o tempo

estimado de infiltração. Andreula C., Simonetti, et al (4) atribuíram a necessidade de registrar

esse dado à instabilidade do ozônio, o qual inicia seu decaimento (2µg/mL) após 20 segundos.

Os demais estudos não informaram o tempo gasto para infusão da droga. Esse tempo gasto

para infusão é importante para manter a dose correta de ozônio necessária para realizar seu

efeito terapêutico. De acordo com Andreula C, et al (4) uma concentração de ozônio a 27

µg/mL garante um efeito direto nos proteoglicanos e colágenos que compõem o núcleo

pulposo (15), resultando na liberação de moléculas de água e subseqüente degeneração celular

da matriz, que será reposta por tecido fibroso em 5 semanas e a formação de novas células

sanguíneas. O estudo histológico realizado nos pacientes desse estudo revelou que o ozônio

10

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causou desidratação do núcleo pulposo, revelando fibras colágenas e sinais de regressão

(formação vacuolar e fragmentação) – chamada de “mumificação”.

Ao se comparar a técnica de infiltração com O2O3 e a técnica de infiltração com

esteróide observa-se que ambas as técnicas têm resultados, no mínimo satisfatórios para boa

parte dos pacientes, entretanto, a associação entre estes fármacos é promissora. A diferença no

resultado dos grupos do estudo de Gallucci et al.7 (grupo A: esteróide e grupo B: esteróide e

O2O3) foi estatisticamente significante (p<0,01), tendo após seguimento de seis meses um

excelente resultado de 74% no grupo B e 47% do grupo A. Esse resultado é atribuído às ações

complementares farmacológicas da mistura gasosa O2O3. O mesmo ocorreu no estudo de

Andreula et al.4 que demonstraram que a associação dessas drogas é mais efetiva do que a

associação dessas drogas é mais efetiva do que o uso do ozônio isoladamente. O grupo que

recebeu a mistura gasosa de ozônio-oxigênio e esteróide apresentou efeito cumulativo de

ambas as drogas, o que potencializou a taxa de sucesso terapêutico, obtendo 78,3% de

sucesso, enquanto que o grupo com ozônio-oxigênio apenas teve 70,3%. Logo, a associação

entre esteróide e ozônio tem melhores resultados do que se utilizados separadamente.

As altas taxas de sucesso demonstradas em todos os estudos comparados nesta revisão

sistemática devem ser avaliadas criticamente. Vieses são encontrados desde a técnica, que não

é padronizada, sendo feitas várias abordagens diferentes (intraforaminal, periganglionar,

epidural, faceta articular, intradiscal). Em relação à concentração de ozônio, não houve

uniformidade entre os estudos analisados: variação entre 25µg/mL a 40µg/mL. A contagem

do tempo gasto para infusão da mistura gasosa foi citado por Andreula et al (4), que justificou

a necessidade de se infundir rapidamente devido ao decaimento do ozônio de 2µg/mL a cada

20 segundos. Ainda que os demais autores não tenham registrado este dado, é importante

comprovar até que ponto esse fator influencia no sucesso terapêutico. Houve grande variação

quanto ao volume infundido, além da falta de critério para determiná-lo: variação de 3 mL a

15mL.

Ao se comparar os grupos que receberam esteróides, é importante identificar qual

corticosteróide foi utilizado. Gallucci et al.7 obteve 74,0 % de sucesso terapêutico utilizando o

Triamcilone acetonide, enquanto Bonetti, que fez uso do acetato de metilprednisolona, obteve

47,0% de sucesso terapêutico. Há a possibilidade de que esses resultados díspares devam-se

ao tipo ou dose de esteróide utilizado16.

Complicações ocorreram apenas no grupo que recebeu esteróide e mistura de

oxigênio-ozônio4. Dois pacientes pertencentes a esse grupo apresentaram episódios de

sensibilidade prejudicada (hipoestesia) no membro inferior ipsilateral, que foi resolviddo

11

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espontaneamente em duas horas após o procedimento. As complicações decorrentes da

técnica de infiltração com ozônio não forma observadas nos demais estudos analisados,

entretanto, algumas outras são relatadas na literatura. Gazzeri et al (17) relatou um caso de

septicemia fatal fulminante num paciente que recebeu, há quinze dias, seis ciclos da

infiltração de oxigênio-ozônio para tratar dor lombar causada por hérnia discal. Argumentou-

se que houve a inoculação direta da bactéria durante o procedimento, portanto, ainda que se

usem técnicas assépticas, agulha espinhais ou epidurais podem vir a estar contaminadas. O

autor conclui que a septicemia aguda fatal deve ser considerada uma das maiores

complicações da terapia de oxigênio-ozônio. O relato de caso descrito por Ginamneschi et al

(18) demonstrou o dano das raízes ventral e dorsal, uma outra complicação da infiltração de

oxigênio-ozônio. O paciente do referido estudo recebeu uma infiltração de 10µg/mL de

ozônio e, após o procedimento, desenvolveu um quadro de parestesia ao longo do

compartimento ântero-lateral da perna esquerda, hipoestesia no dorso plantar esquerdo e

lombociatalgia â esquerda. Além dessas alterações, houve desaparecimento do reflexo patela

esquerdo.

Tian et al (19) realizou um ensaio clínico em porcos no intuito de explorar as

mudanças no líquido céfalo-raquidiano (LCR) e na patomorfologia da medula espinhal após

infiltrar volume de alta concentração de ozônio no espaço subaracnóideo. Após o

experimento, em períodos de seguimento variados (um dia, uma semana, um mês e três

meses) não foram constatadas nenhuma anormalidade na composição do LCR, no padrão

radiológico ou patofisiológico das medulas espinhais dissecadas. Ainda que esse estudo

possua limitações importantes, são fornecidas evidências da segurança da injeção inadvertida

de ozônio no espaço subaracnóide no tratamento clínico da hérnia discal.

12

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CONCLUSÃO

A terapia de oxigênio-ozônio para o tratamento da hérnia discal lombar é um

procedimento considerado geralmente livre de risco e seus efeitos colaterais, se utilizado na

faixa de concentração terapêutica (10µg/mL - 30µg/mL) (18). A ozonioterapia, ainda que não

aprovada pelo Federal Drug Administration (FDA) e encontre na Itália, seu centro de

referência mundial, tem obtido excelentes resultados no tratamento de hérnia discal lombar

(20). Entretanto, apesar de não serem observado quaisquer complicações inerentes ao

procedimento relatadas nos artigos analisados (4, 5, 6, 7, 8, 9), deve-se considerar possíveis

riscos ao recomendá-lo.

13

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Page 15: Monogfinallllllll

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