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Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH)
Relações Internacionais
Gabriel Costa dos Santos Oliveira
Killing Yourself to Live
Ascensão e significações do Heavy Metal na República Islâmica do Irã
Belo Horizonte
Novembro/2011
GABRIEL COSTA DOS SANTOS OLIVEIRA
Killing Yourself to Live
Ascensão e significações do Heavy Metal na República Islâmica do Irã
Monografia apresentada ao Centro Universitário
de Belo Horizonte (UNI-BH) como requisito
parcial à obtenção do título de bacharel em
Relações Internacionais.
Orientador: Prof. Leonardo Ramos
Belo Horizonte
Novembro/2011
Este projeto é dedicado a todos que me acompanharam nesta longa jornada, vocês sabem
quem são. Um agradecimento especial vai para aqueles que possuem o espírito de
liberdade do rock n’ roll queimando em seus corpos. Keep Rocking.
Sonata Arctica – The Last Amazing Grays
“The mystery of death before us Soon every night can bring the light, and close my eyes
Sometimes life in here is too limited Sometimes we don't care at all
Sometimes
Time will change the familiar face Brightest colors fade to gray
The fear is real, one winter's day brings the clarity
I feel the time is catching up with us How many days until it's hunger is satisfied?
Leaving the final golden days We are the last amazing grays
Hoping the young will lead the pack now
I can feel my heart is beating still I can see you with my eyes, I still see
But I can't run the way my children can Can't accept the helping hand, leave me
You are the strong one, trust in me You must lead instead of me, now
There's no time, don't hesitate Or you will also find your fate
I feel the time is catching up with us
How many days until it's hunger is satisfied? Leaving the final golden days
We are the last amazing grays Hoping the young will lead the pack now
In the eyes of every newborn, I see the future
Life is just a phase I close my eyes and see them all here beside me
The last amazing grays
In the eyes of every newborn, I see the past times A familiar face
I close my eyes and see them, waiting for me Amongst the amazing grays
"Mountain seems to befall this last time, marking the moment"
I have found my place I closed my eyes and joined them, guarding the young
Amongst the amazing grays”
(KAKKO, Tony, 2009)
“You’ve nothing to say They’re breaking away
If you listen to fools The Mob Rules.”
DIO, Ronnie James, IOMMI, Tony, BUTLER, Geezer (1981)
1
Killing Yourself to Live: Ascensão e significações do Heavy Metal na República
Islâmica do Irã
Gabriel Oliveira1
Leonardo Ramos2
Resumo:
A proposta deste artigo é explorar as origens do sub-gênero do rock n’ roll conhecido como
heavy metal, suas principais expressões e ideais como um movimento cultural e nesta ótica,
compreender como se dá sua entrada no Irã pós-revolução de 1979, que proíbe expressões
musicais ocidentalizadas no país. Com isto, objetiva-se entender o caráter que as
composições adquirem pela lente dos artistas iranianos e as significações do estilo para os
membros da comunidade formada em torno da música, em uma dinâmica dual entre esta
parte da sociedade civil e o governo islâmico, embasada pelo arcabouço teórico pós-
colonialista, que serve como base de análise compreensiva das motivações para a
interferência e repressão estatal na matéria em estudo.
Palavras-chave: Heavy Metal. República Islâmica do Irã. Pós-Colonialismo. Música.
História. Cultura. Identidade. Artes.
Abstract:
This articles proposition is to explore the origins of the rock n’ roll subgenre known as heavy
metal, its main expressions and ideals as a cultural movement and in this optic, understand
how it comes to enter post-1979 revolution Iran, which prohibits westernized musical
expressions in the country. With that, the objective pursued is to understand the character
acquired by the compositions through the eyes of Iranian artists and the significances of the
style to the members of the community formed around the music, in a dualist dynamic
between this part of the civil society and the Islamic government, based upon post-colonialist
theory, which serves as the basis of comprehensive analysis of the motivations for State
interference and repression on the study matter.
Key Words: Heavy Metal. Islamic Republic of Iran. Post-Colonialism. Music. History.
Culture. Identity. Arts.
1 Graduando em Relações Internacionais pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH). 2 Professor do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH).
2
1. Looking for Today3
O estudo de movimentos civis que vão de encontro aos interesses Estatais é de suma
importância quando consideramos o papel do indivíduo no sistema internacional. Este se
trata de um ponto presente no estudo teórico das relações internacionais desde sua
concepção como área de estudo nas ciências sociais, datando do primeiro debate entre
escolas de pensamento da área, aonde se defendia, pelo lado liberalista do embate teórico,
o valor do indivíduo, organizações civis, organismos internacionais e instituições sub-
nacionais, como atores internacionais igualmente importantes ao todo-poderoso-Estado
defendido pelos analistas da escola realista.
Hoje, com os efeitos destes atores a cada dia mais relevantes nas vidas dos cidadãos
comuns e não raramente em conflito com os interesses de diversos Estados, torna-se ainda
mais importante obtermos o conhecimento acerca de sua expressão externa e interna,
principalmente quando ideais tornam-se “produto de exportação” mesmo décadas após sua
concepção.
Iniciando a análise de qualquer objeto, à luz desta concepção, devemos primeiramente
compreender suas origens e características gerais. O estilo musical conhecido como Heavy
Metal não trata de uma gama desconexa de sons, grupos e idéias, mas sim, de uma
experiência artística, vista também em outros movimentos musicais. É algo que possui uma
série de códigos, coerentes em uma estrutura específica, que demarcam bandas variadas
como pertencentes invariavelmente ao gênero, um núcleo forte, com diversas variações,
que podem cruzar com outros estilos perifericamente. (WEINSTEIN, 2000)
Existe uma convenção social maleável em vigência entre os integrantes do grupo permeado
por este estilo musical, que prega acerca dos requisitos básicos para que uma banda seja
inclusa em um ponto qualquer do amplo espectro do heavy metal. Os requisitos mais
comuns a serem cumpridos desencadeiam em uma amálgama de elementos que formam
algo que pode ser percebido como heavy metal, a ver, o som pesado e rápido, as letras
questionadoras e com temas polêmicos e o visual mais característico, de cabelos
compridos, roupas pretas, correntes, couro (WEINSTEIN, 2000). Um aprofundamento na
definição do Heavy Metal requer uma análise retroativa das origens e evoluções do estilo
3 Todos os nomes de capítulos deste artigo referenciam músicas da banda quintessencial do gênero em análise, o Black Sabbath, isso inclui o próprio título do projeto. “Killing Yourself to Live”, representa originalmente a luta de Ozzy Osbourne com as drogas, mas em significado amplo, é a sua luta por ser si mesmo, conceito aplicável aos artistas em análise neste artigo. Neste primeiro momento da proposta, “Looking for Today”, demonstra a busca e descoberta de uma nova realidade frente a desafios, um ponto de partida condizente com esta jornada acadêmica.
3
musical Rock n’ Roll e do percurso de bandas que podemos denominar como pertencentes
ao proto-metal. Bandas que criaram a base para o florescimento do estilo, mas que não
uniam todos os signos que eventualmente viriam a definir a música e sua cultura (LEÃO,
1997).
Nesta linha podemos considerar diversas bandas, tanto vindas do Reino Unido, quanto dos
Estados Unidos da América, desde a primeira metade da década de 60, como Yardbirds,
Grateful Dead, Grand Funk Railroad, Blue Cheer e já se aproximando do fim dos anos 60,
Led Zeppelin, Cream, Jimi Hendrix, Deep Purple, The Who, MC5, Mountain, entre outros
clássicos nomes. O estilo, no entanto, encontra um turning point apenas em 1969, quando
nos subúrbios de Birmingham, no Reino Unido, a música pesada adentra “um lugar mais
escuro, mais sinistro” (METAL, 2006 por DUNN, MCFADYEN e WISE), pelas mãos de Tony
Iommi, guitarrista e fundador do Black Sabbath, primeira banda que une os elementos hoje
tidos como heavy metal debaixo de uma só bandeira. O estilo amalgama diversos aspectos
durante as décadas de 70 e 80 e o que se percebe é uma construção cultural in the making
que continua em progressiva expansão, assimilando elementos regionais e de outros estilos
e sub-culturas até hoje.
Em meados dos anos 80, o heavy metal e o hard rock (também conhecido neste período
como hair metal, glam metal) tomam o mundo de assalto e se tornam, efetivamente, os
estilos mais populares na maior parte do mundo ocidental e em grande parte do mundo
oriental (METAL, 2006 por DUNN, MCFADYEN e WISE). No entanto, alguns países acabam
por não perceber o grande boom da música pesada na indústria fonográfica mundial, em
especial, por instituições repressivas e conservadoras de governos ditatoriais, como no caso
do Brasil ao início da década de 80 (AVELAR, 2003). Já no Irã, caso de estudo desta
pesquisa, ao fim da década de 70, ocorria a conhecida Revolução Islâmica, que derruba o
Shah Mohammad Reza Palahvi e leva ao poder o Ayatollah Rouhollah Khomeini e o
Presidente Abulhassan Banisadr. (GHEISSARI, REZA NASR, 2006)
O regime monárquico dos Shahs era muito próximo do mundo ocidental, perpassando
inclusive, durante o correr do século XX, grandes mudanças estruturais e paradigmáticas na
sociedade tradicional persa, de fato, se ocidentalizando. Um fato emblemático desta fase da
política iraniana é a “Revolução Branca” de 1963, que estende diversas liberdades às
mulheres e propicia reformas agrárias e econômicas, levando à fortes protestos públicos,
liderados por Khomeini. (GHEISSARI, REZA NASR, 2006)
4
Em 1977, o então presidente do EUA, Jimmy Carter, chega a declarar o Irã como a “ilha da
estabilidade” no oriente médio, isto, um ano antes de Palahvi ser forçado a se retirar do
país. Através de um referendo levado a cabo por uma junta militar provisória e sob os
auspícios de Khomeini (então recluso em Paris), é proclamada a República Islâmica do Irã
(GHEISSARI, REZA NASR, 2006). O clima de reclusão levado à cabo pelo governo islâmico
acabou por prejudicar a entrada de material fonográfico no país ligado à veia mais pesada,
rebelde e obscura da música, prática que perdura até hoje e só foi de fato sobrepujada pela
popularização do acesso à internet e à mídia musical de fácil e descontrolado acesso e
aquisição, a MP3, que apesar de diversas críticas mundo afora, de fato democratiza o
acesso à música, independente do estilo. (GLOBAL Metal, 2007, por DUNN e MCFADYEN)
Esta pesquisa objetiva analisar a entrada do Heavy Metal na República Islâmica do Irã como
fenômeno cultural internacional, em formato revisionista dos preceitos básicos deste estilo
musical, adaptando-os à realidade política e social do país.
Objetivo tal, a ser levado a cabo através de estudo, contextualização histórica e
interpretação de conteúdo lírico através de um corte metodológico de aproximadamente sete
bandas iranianas de heavy metal. Pontos considerados nesta seleção serão: número de
acessos de cada grupo no sítio Myspace.com, vídeos mais populares no Youtube.com,
entrevistas e reportagens concedidas em meios de comunicação diversos (documentários,
zines, webzines, blogs), relevância em pesquisas de autores estudiosos da cena e contato
direto com membros do movimento do movimento heavy metal underground do Irã, pontos
elaborados com maior clareza ao longo do texto e, em especial, no capítulo 4.
Com este estudo, pretende-se responder à questão: Sob a luz do arcabouço teórico pós-
colonialista, como ferramenta compreensiva das motivações do governo islâmico no poder
desde a revolução de 1979 para agir de maneira repressiva ao movimento cultural, como se
torna possível a entrada do heavy metal no Irã, como se forma uma comunidade em torno
do estilo e nesta ótica, quais as características gerais das principais bandas e as
significações da cena underground dedicada ao estilo no país?
A hipótese levantada é que o governo iraniano parte da ótica da dominação cultural
colonialista como prerrogativa para suprimir o ideário do heavy metal e outras expressões
musicais no país. Ao mesmo tempo, o heavy metal no Irã, aos moldes de outras cenas,
mantém um núcleo forte ao redor da expressão artística como fim em si mesma e agrega
valores personalistas às diversas agremiações musicais formadas. A militância político-
religiosa forte irá ditar os trâmites de significação das músicas, havendo divergência de
5
ideias em um espectro periférico, mas mantendo um centro bem estabelecido onde há
identificação entre os membros em torno unicamente da expressão musical.
O capítulo que se segue desta pesquisa abordará a história do heavy metal, de sua
incepção no final dos anos 60 ao formato observado na cena global hoje. O terceiro ponto
apresentado é a contextualização histórica persa, mostrando a transição revolucionária de
1979 e seus efeitos para a sociedade iraniana cultural, política e religiosamente. Em quarto
lugar, mergulha-se na cena iraniana de heavy metal para se compreender quais as
significações principais da cena como movimento cultural pária do sistema. Em seguida, ao
quinto capítulo, se apresenta a perspectiva teórica pós-colonialista, que se torna a luz pela
qual se faz possível analisar o pensamento de Estado do governo islâmico repressor do
movimento em estudo. Conclui-se por fim o artigo congregando de forma breve estes
elementos previamente apresentados e expondo as conclusões tiradas do estudo em
questão.
2. Tomorrow’s Dream4
Para compreender o estilo musical vislumbrado neste estudo, devemos traçar seu histórico
político-social, além de denotar suas características estruturais e simbologias variadas.
Todos estes elementos, inclusive, agregam novos fatores na jornada de várias décadas
metálicas, criando sub-gêneros variados e entrando em choque com movimentações
políticas conservadoras por todo o globo.
Ao final dos anos 60, o clima no cenário musical rock n’ roll era desanimador. O estilo
oriundo do blues, por sua vez enraizado na emulação cultural escravista nos Estados
Unidos da América, havia seguido uma trajetória evolutiva, ao ponto de tangenciar um
clamor sócio-político, através do que se convenciona chamar Flower Power (CHRISTE,
2010)
Os ideais desenvolvidos por tal sub-movimento intrínseco ao rock n’ roll encontraram na
virada da década (de 1968 a 1972) uma série de contratempos e desilusões. Percebemos
desde a própria fagocitose do movimento pela indústria capitalista, até incongruências
dentro de seu próprio ideário de paz e amor e suas percepções da sociedade,
4 “Tomorrow’s Dream”, do álbum ‘Vol. 4’, do Black Sabbath indica o sonho futuro, longínquo, impensado, mas que eventualmente se torna realidade. Muito como a própria proposta da banda no princípio, desligada de qualquer tipo de amarra musical, mas que acaba se formatando, futuramente, como, para além de um estilo, uma sub-cultura.
6
representados como as mortes de quatro jovens em um show dos Rolling Stones à
dezembro de 1969, a forte repressão à juventude ativista em Chicago, Paris, Cidade do
México, Roma e Berlim, dos massacres de Kent State University e de Jackson State
University em maio de 1970, além dos assassinatos de Martin Luther King, John Kennedy e
Robert Kennedy (CHRISTE, 2010) (WEINSTEIN, 2000).
Em meio à esta decadência pós-woodstock, triunfante festival que representou a esperança
de toda uma geração, uma mudança drástica no cenário musical começa a se formular. Em
meio às bandas de hard rock que se destacam no período e são consideradas popularmente
como padrinhos do estilo, Led Zeppelin e Deep Purple (WALSER, 1993), o Black Sabbath
lança seu primeiro disco, em congruência total com novos valores, de revolta política
intrínseca, amor social não-cego e não-conformidade com normatizações conservadoras,
uma face mais dura e realista para a música, se distanciando da fragilidade demonstrada
pelo Flower Power e o movimento hippie (CHRISTE, 2010).
Esta face menos simpática do rock n’ roll possui ainda mais impulso com a separação da
banda quintessencial da geração paz e amor que colapsava, a separação dos Beatles em
1970 gera um choque extremo na percepção dos ainda esperançosos, e parece anunciar
publicamente o início de uma nova era (WEINSTEIN, 2000) (CHRISTE, 2000).
O Black Sabbath nasceu nos subúrbios de Birmingham na Inglaterra, região severamente
castigada pelos bombardeios estratégicos protagonizadas pela Alemanha nazista durante a
2ª Grande Guerra. O baixista da banda, Geezer Butler, em entrevista (HEAVY Metal, 2006
por CARRUTHERS), fala sobre os sentimentos inerentes à banda no momento de produzir
suas músicas:
“Na época, costumávamos sair nos mesmos lugares em
Birmingham e 90% das casas eram de soul. E as letras
eram sempre a mesma bobagem repetitiva, como você
sabe ‘minha esposa me deixou’, ou ‘encontrei a garota com
quem quero me casar’ (...) existiam tantas coisas horríveis
acontecendo, como a Guerra do Vietnã, o sacrilégio de ir a
um trabalho de merda, sem futuro, todo dia e eu pensava
‘qual o sentido de cantar toda essa coisa que eu não
sinto?’. Quando começamos a compor nossas próprias
músicas, aquilo apenas refletiu o que a banda e nossas
7
famílias viviam à época.” (BUTLER, Geezer, apud HEAVY
Metal, 2006 por CARRUTHERS, Tradução Nossa)5
Já o guitarrista da banda e protagonista de seu som “maléfico”, Tony Iommi, comenta sobre
os entornos de Aston, distrito de Birmingham e o ambiente geral onde a banda é concebida
e como isso os influenciou, fechando o ciclo de diferenciação do que tínhamos na América
ensolarada dos anos 60 em entrevista do mesmo ano (METAL, 2006 por DUNN,
MCFADYEN e WISE):
“Basicamente um buraco de merda. Muito duro, muito...
Não era uma boa área. Mas não pela gente de lá,
simplesmente se arruinou. E eu odiava viver ali. Odiava. A
princípio... Meus pais se mudaram e eu estava com eles e
creio que isso influenciou nossa música, o lugar de onde
viemos, pode haver lhe dado mais significado.” (IOMMI,
Tony apud METAL, 2006 por DUNN, MCFADYEN e WISE,
Tradução Nossa)6
A incepção do estilo já se dá em meio à uma saraivada de críticas e ataques midiáticos,
como demonstrado em Carruthers, 2006, em outro relato de Butler:
“Nós sermos conhecidos como uma banda de metal, a priori era um termo derrogatório para nós. Eu sempre me lembro do início dos anos 70, quando estávamos por aqui e recebemos um péssimo review, como de praxe, de um dos críticos. Mas essa foi realmente, assustadoramente horrível. E ele disse: ‘Isso não é música, não é nem rock pesado. Soa como um monte de metal pesado se chocando, ao invés de música’. E por algum motivo aquele termo ficou.” (BUTLER, Geezer apud HEAVY Metal, 2006 por CARRUTHERS, Tradução Nossa)7
5 Do original: “At the time, we used to go around to all the same clubs in Birmingham and it was like, 90% of the clubs were soul clubs and it was just like the lyrics were the same repetitive bollocks all the time. You know, ‘I just fell out with my girlfriend’ or whatever, or ‘I’ve seen a tart that I want to marry’ (…) there was all these horrible things going on, like the Vietnam War and the drudgery of going to some crap job every day, you know, with no future in it. And I just tought, ‘well, what’s the point of singing about all this stuff I don’t feel?’. And when we started writing our own stuff, I just reflected what the band and our families and everything else were going through.” (BUTLER, Geezer, apud HEAVY Metal, 2006 por CARRUTHERS) 6 Do original: “A shithole, basically. Very rough, very… Not a good area. Not the people in there, it just got runned down. And I hated living there. Hated. At first… My parents moved there and I was with them and I think that influenced our music, as far as, where we come from, the area we were from, gave it sort of, more meaning.” (IOMMI, Tony, apud METAL, 2006 por DUNN, MCFADYEN e WISE) 7 Do original: “With us being known as a metal band, at first it was a derogatory term to us. I always remember the early 70’s, when we were over here and we got this really bad review, as usual, from one of the critics. But this one was like really scathingly horrible review and it said ‘this isn’t music, it’s not even heavy rock. It sounds like a lot of heavy metal crashing, instead of being music’. And for some reason, that term stuck.” (BUTLER, Geezer, apud HEAVY Metal, 2006 por CARRUTHERS)
8
Com o Black Sabbath como carro-chefe do estilo recém fundado e reconhecido, o heavy
metal encontrou seu primeiro contratempo depois da estabilização do gênero em superação
às críticas iniciais, em face do advento do punk rock em meados dos anos 70. Com a
Inglaterra, o berço do metal, em crise, o espaço para a acidez, crítica e desprendimento do
movimento punk acabou por tirar o foco e ao mesmo tempo influenciar a nova cena heavy
que surgiria do processo (CHRISTE, 2010).
A “Nova Onda de Heavy Metal Britânico” (New Wave of British Heavy Metal ou
simplesmente NWOBHM) foi um marco na história do estilo, por retirá-lo da estagnação e
desinteresse observados com o crescimento do punk. Aqui surgem bandas como Iron
Maiden, Motörhead, Saxon e Judas Priest (CHRISTE, 2010).
Na nova virada de década, no entanto, algo impensável acontece, o heavy metal inicia seu
caminho para se tornar a música mais popular do mundo (METAL, 2006 por DUNN,
MCFADYEN e WISE). Sob a filtragem de artistas dos EUA, a música adquire uma
característica quase hollywoodiana. O guitarrista Eddie Van Halen, revoluciona a revolução
iniciada com Sabbath e guiada quase no escuro pelo Iron Maiden, mas desta vez, do outro
lado do Atlântico (WALSER, 1993)
O que se relata então na porta de entrada dos anos 80, é a “americanização” do heavy
metal, dando visibilidade global para um estilo antes marginalizado, através de um
subgênero desta música pesada, o glam metal ou simplesmente hard rock com uma
roupagem oitentista, que causa certa divisão no estilo, por representarem uma postura tida
pelos fãs da sua origem sombria, poser, relacionado ao abuso da utilização de recursos de
imagem, maquiagens, roupas extravagantes, à luz do glam rock, observado anos antes, em
artistas como David Bowie e Elton John (METAL, 2006 por DUNN, MCFADYEN e WISE)
(WEINSTEIN, 2000)
O que se observa neste período é uma amálgama da música pesada sob a bandeira de
heavy metal, uma seleção absolutamente complexa de bandas, das mais ligadas à música
pop, como Bon Jovi, a clássicos do proto-metal como, AC/DC, Aerosmith, KISS, Deep
Purple, chegando aos true heavy metallers, os aceitos como o verdadeiro e fiel ás raízes,
com Black Sabbath, Iron Maiden, Judas Priest, Saxon (WALSER, 1993).
A alta atenção da mídia ao estilo e seus subgêneros, acaba por chamar a atenção de
grupos conservadores nos EUA, levando à organizações ligadas ao Congresso
estadunidense formalizar ataques e requisitar restrições e censuras ao estilo, dado os
9
conteúdos controversos e pouco usuais abordados por grande parte das bandas. O Parents
Music Resource Center (Centro de Recursos Musicais de Pais, ou PMRC), encabeçado pela
esposa do senador Al Gore, Tipper Gore, leva até o congresso questões relativas à sexo,
violência, consumo de drogas e álcool e ligações com ocultismo, nas músicas de variadas
bandas, quase todas, do movimento heavy metal (METAL, 2006 por DUNN, MCFADYEN e
WISE).
Este ataque direto à liberdade de expressão das bandas resulta no famoso, até os dias de
hoje, selo com os ditames “Parental Advisory Explicit Lyrics/Content”8, ainda que em
audiência, o único artista atacado presente, Dee Snider, vocalista da banda Twisted Sister,
tenha apresentado eloqüência e provas concretas em defesa de sua música (METAL, 2006
por DUNN, MCFADYEN e WISE).
Com as posições alçadas pelas músicas do gênero, tem-se uma expressão global deste tipo
de som durante os anos 80. A Europa continua a produzir novos talentos, como o Europe da
Suécia e o Helloween da Alemanha (WALSER, 1993). No entanto, a entrada do estilo em
alguns países vai ser prejudicada pelo sistema político vigente. Mesmo nos EUA, a
chamada “terra dos livres”, o PMRC e grupos religiosos se voltaram contra a música, em
locais menos afetuosos de questões liberais irão encontrar fortes barreiras governamentais
e de grupos de influência, a ver, principalmente, a China popular, as ditaduras militares sul e
centro americanas, além dos governos absolutos do Oriente Médio e Norte da África
(OMNA), oriundos dos movimentos pós-colonialistas, mas em especial o regime iraniano
pós-revolução de 1979, objeto de estudo deste trabalho (LEVINE, 2008) (GLOBAL Metal,
2007 por DUNN e MCFADYEN).
A extrema popularização do estilo glam da música pesada, pelas mãos de bandas como
Van Halen, Mötley Crue, Poison, Bon Jovi, Twisted Sister, Skid Row, Quiet Riot,
Whitesnake, Cinderella, e muitas outras, acabou impulsionando, através de uma
superexposição e vulgarização da cena, um novo subgênero, ligado ainda às origens
desajustadas e nervosas do estilo (METAL, 2006 por DUNN, MCFADYEN e WISE). Surge
então, também nos Estados Unidos da América, o movimento conhecido como Thrash
Metal, pelas mãos de Metallica, Slayer, Megadeth, Anthrax, entre muitos outros mundo
afora, como o próprio Sepultura no Brasil, até hoje um dos grandes nomes do heavy metal
brasileiro, que nasce após a queda do governo militar no país, como um hino de liberdade,
junto a inúmeras outras bandas do estilo (AVELAR, 2003).
8 Aviso aos pais, conteúdo/letras explícitas (tradução nossa).
10
A crescente cena thrash metal, acaba por criar novos subgêneros ao final dos anos 80 e
início dos anos 90, com a decadência do glam e a tomada midiática do grunge rock, estilo
afastado da onda heavy metal. O que temos é a codificação de estilos hoje quintessenciais
para a cena metal mundial, que representam a conexão do gênero com o oculto, com a
morte, com a raiva, com a antítese religiosa e com a simples liberdade de forçar o peso da
música um pouco mais do que os predecessores, nascia o Metal Extremo, nas figuras
principais do death metal e do black metal (com outras subdivisões específicas, como doom
metal e grind[core] metal) (ALLETT, 2010).
A Europa volta a se tornar um grande centro de atenções, com a crescente cena nórdica de
black metal, em especial na Noruega, onde se começa a transgredir os objetos das músicas,
levando a cabo ações concretas anti-religião, com a queima de igrejas locais, engendradas
por membros de bandas como Burzum e Mayhem. Ainda com a atenção captada por tais
atos terroristas, o contraparte do black metal, o death, ainda reinava extremo e supremo na
preferência do grande público headbanger, com bandas como Deicide, Cannibal Corpse,
Morbid Angel, Carcass, liderando o movimento (CHRISTE, 2010).
Além disso, na Europa ainda temos a popularização do subgênero cunhado por Kai Hansen,
do Helloween ao final da década de 80, chamado de power metal, ou metal melódico,
representado por bandas como Stratovarius, Gamma Ray, HammerFall, Edguy, Blind
Guardian, Sonata Arctica e no Brasil, o Angra, todas buscando uma reaproximação com a
música clássica e o estilo operático e teatral apresentado ao mundo por bandas clássicas,
como Queen e Alice Cooper, mas focados na estrutura heavy metal herdada de Iron Maiden
e outras pedras fundamentais do estilo.
Se aproximando dos anos 2000, o metal acaba indo ao encontro de outro estilo musical
urbano nos EUA, dando a luz a colaborações entre artistas de rap e artistas do heavy e do
thrash metal, principalmente. Desta mistura, nasce o polêmico new metal, através de figuras
como Korn, Limp Bizkit, Marylin Manson, System of a Down e Slipknot (CHRISTE, 2010)
Este estilo, no entanto, tende a desagradar fãs mais enraizados e devotados aos clássicos
de Black Sabbath e sua horda original, além dos conectados à cena extrema (HEAVY Metal,
2006 por CARRUTHERS).
Contemporaneamente, temos uma cena global que é uma amálgama de todos os estilos
comentados nesta sessão, com alguns signos enraizados e convencionados como heavy
metal puro e particularidades individuais para cada um dos diversos subgêneros, que
11
compõe o universo headbanger (WEINSTEIN, 2000). Em entrevista ao ano de 2006, a
socióloga Deena Weinstein simplifica a ideia por trás do que se convenciona como núcleo
heavy metal:
“Se você não possui uma guitarra elétrica, com
amplificadores muito bons, com distorção muito boa, você
não possui o núcleo do metal. Você também precisa ter um
som de base muito forte, com o baixo e com a bateria. Eles
não podem ser suaves, bonitinhos, fracos, eles tem que ser
revestidos de couro, de uma maneira ou de outra.”
(WEINSTEIN apud METAL, 2006 por DUNN, MCFADYEN e
WISE, Tradução Nossa)9
Este ideário de força e resistência, em um estilo que é moldado pelo ambiente dentro de
suas características centrais, tende, portanto, a encontrar receptividade muito grande nas
juventudes de locais de grande repressão, vida política forte, violência engendrada e poucos
prospectos de mudança de vida. É exatamente o cenário que encontramos na República
Islâmica do Irã nas últimas décadas e entenderemos o caminho que levou à formulação da
cena heavy metal que se têm no país de Mahmoud Ahmadinejad e do Ayatollah Ali
Khamenei (LEVINE, 2008), analisando aspectos da revolução de 1979 e a entrada de
material fonográfico no Irã, antes e após tal marco político.
3. Changes10
Durante a 2ª Grande Guerra, pressões políticas internas, relacionadas à simpatia de Reza
Shah, então governante do Irã, com a Alemanha nazista, levaram à sua resignação ao ano
de 1941, quando ascende ao poder Mohammad Reza Pahlavi, seu filho. Se mostrando um
apoiador da causa aliada, o novo Shah conseguiu se manter no poder, ainda que em
péssimos termos com sua oposição interna, muito mais experiente e forte, além de
encontrar o país em uma desconfortável situação de ocupação britânica e soviética
(PALMA, 1999).
9 Do original: “If you don’t have an electric guitar, with really good amps really good distortion, you don’t have the core of metal. You also need to have a really strong base sound in it. Base with the base guitars and base with the base drums. They can’t be soft, cute, sly… they have to be leather-longed in one way or another.” (WEINSTEIN, Deena, apud METAL, 2006 por DUNN, MCFADYEN e WISE) 10 Ainda que originalmente “Changes” fale em um nível pessoal da experiência de mudança na vida de uma pessoa, a adaptação se faz válida para a quebra no status quo persa ao ano de 1979.
12
O jovem Shah consegue se manter no poder face à forte oposição devido a planos de
influência regional militar, sobre Azerbaijão e Curdistão, voltando o foco da vida política do
país para sua figura momentaneamente (PALMA, 1999). Com alguma estabilidade, mas
uma oposição ainda muito mais forte que a representação monárquica de Pahlavi, observa-
se um caldeirão borbulhante de caos político, misturado por décadas e articulado por um
dos principais opositores do regime, Ruhollah Khomeini (JANUARY, 2008).
Como colocado anteriormente, o governo do Shah Reza Pahlavi, era muito próximo do
mundo ocidental. Um turning point do período é a “Revolução Branca” de 1963, que estende
liberdades às mulheres e realiza reformas agrárias e econômicas, em um movimento de
influência dos EUA sobre a monarquia. Isto levou a grande descontentamento das elites
religiosas e a protestos públicos, liderados por Khomeini (GHEISSARI, REZA NASR, 2006),
que observava a presença estadunidense como “uma influência maligna, que esmagou a fé
do Irã no Islã e em si mesmo” (JANUARY, 2008).
As palavras de ódio de Khomeini em referência aos EUA contrastavam com o ideário pró-
Washington do Shah e a situação se agravava com o domínio duro e irredutível do monarca
em relação à política iraniana, sobre a qual ele passou exercer controle absoluto e
manipular a situação em seu favor, evitando alguns partidos de concorrerem e jogando a
oposição sempre planos obscuros (JANUARY, 2008).
A mão-de-ferro do Shah se voltava contra os opositores e aos seguidores de Khomeini em
especial e 1963, foi o ano em que o escolástico islâmico iria chegar ao ponto de ruptura em
relação ao monarca, declarando, após eventos repressivos na escola teológica de Qom:
“Seu maldito miserável, quarenta e cinco anos de sua vida
passaram. Já não é tempo de você pensar e refletir um
pouco, ponderar onde tudo isto está te levando, aprender
uma lição da experiência de seu pai? Espero por Deus que
você não tivesse em mente os escolásticos religiosos
quando disse ‘Os reacionários são como um animal
impuro’, pois se o fez, será difícil para nós tolerá-lo por
muito mais tempo”. (KHOMEINI, 1963, apud JANUARY,
2008, p. 26, Tradução Nossa)11
11 Do original: “You miserable wretch, forty-five years of your life have passed. Isn’t it time for you to think and reflect a little, to ponder where all of this is leading you, to learn a lesson from the experience of your father? I hope to God that you did not have in mind the religious scholars when you said, ‘The reactionaries [the shah’s opponents] are like an impure animal,’ because if you did, it will be difficult for us to tolerate you much longer.” (KHOMEINI apud JANUARY, 2008)
13
À manhã seguinte, Khomeini foi preso por desafiar diretamente a autoridade do Shah, mas
os muitos apoiadores do líder religioso saíram às ruas em protesto, levando a uma onda de
caos e enfrentamentos com as forças armadas. Não tardou muito até que o escolástico
fosse libertado devido às pressões populares. No entanto, ao não se afastar da vida política
e reiniciar incitações à figura do Shah, Khomeini foi banido do Irã em 1964 (JANUARY,
2008).
A repressão crescente da monarquia iraniana não foi capaz, no entanto, de calar o exilado
Khomeini, que de sua morada no Iraque, realizou gravações diversas sobre o sistema
islâmico puro e criava paralelismos com a ideia do Filósofo-Rei de Platão, onde ele e seus
co-relatos estudiosos da religião seriam os iluminados filósofos a comandarem o Irã
(JANUARY, 2008). Estas gravações de suas ideias e palestras, percorriam o Irã, de forma
ilegal, em fitas cassetes pirateadas, e mantinham a população pró-Khomeini à par de seu
ideário revolucionário, e instigavam o povo contra o Shah freqüentemente (LEVINE, 2008).
Em meio aos anos 70, a crise do petróleo acabou por aumentar o fluxo de capital dos
países-membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), da qual o
Irã faz parte. No entanto, esse surto de riqueza quase instantâneo no país, apenas
aprofundou a dificuldade de mobilidade social e a péssima distribuição de renda iraniana,
jogando o país em uma crise político-social ainda mais agravada (JANUARY, 2008).
Aos olhos externos, o Irã parecia uma terra completamente estável e modelo de
organização e progresso. O Presidente dos EUA, Jimmy Carter, chegou ao ponto de
declarar o país como uma “ilha de estabilidade” em uma região com grandes problemas, ao
fim de 1977, às vésperas do caos que tomaria conta do regime (JANUARY, 2008)
(GHEISSARI, REZA NASR, 2006)
Fazendo uso da mídia sob seu controle, o Shah iniciou um série de difamações acerca de
Ayatollah Khomeini, que quando contestados em protestos, foram reprimidos de forma brutal
em ocasiões variadas, resultando em muitas mortes e a decadência dos últimos resquícios
de moral governamental de Reza Pahlavi. A população se comoveu ainda mais e foi ás ruas
exigir o retorno de Khomeini. O Shah, em resposta, requisitou à Saddam Hussein que
banisse o Ayatollah do Iraque, em uma última medida desesperada de evitar as palavras
que penetravam através de suas gravações; ele foi removido para Paris, logo após
(JANUARY, 2008).
14
Tal movimento foi absolutamente contra-produtivo, visto que em Paris, Khomeini obteve
maior atenção da mídia internacional e melhores equipamentos de comunicação para
propagar suas idéias. Acabou exercendo ainda maior influência sobre a população iraniana,
que fervia contra o Shah, em um estado revolucionário que podia ser percebido no ar. Com
tal escalada, em janeiro de 1979, Reza Pahlavi decide deixar o país, clamando estar “saindo
de férias devido a um grande cansaço”. Chegava ao fim o governo monárquico no Irã
(JANUARY, 2008).
Duas semanas após tal fato, Khomeini retorna ao país sob as vivas de milhões de
apoiadores e ressalvas de alguns cautelosos membros da vida política. O Ayatollah decide
instaurar seu próprio governo e uma nova constituição é formatada com muita oposição e
adotada em julho de 79. Em meio à restauração política, o ódio cultivado pelos EUA é
materializado em protestos de estudantes contra a presença estadunidense no país, em
forma de sua embaixada em Teerã e outros elementos advindos do processo de
ocidentalização empreendido pelo Shah. A embaixada é tomada, reféns são feitos e uma
nova fase anti-ocidente é inaugurada na agora, República Islâmica do Irã (JANUARY, 2008).
O movimento heavy metal neste contexto acaba por não conseguir penetrar em sua
plenitude a sociedade revolucionária iraniana. Durante o regime ocidentalista do Shah, havia
entrada de materiais de bandas de proto-metal e eram de fato muito populares,
influenciando os artistas de todas as gerações posteriores, através de passagens de
materiais por familiares. O Irã do Ayatollah não enxerga de forma ampla a globalização do
estilo, protagonizada no final da década de 70 e início da década de 80, pelas hostilidades
iniciadas com os EUA, berço do movimento hiper-inflado que toma forma neste período
(LEVINE, 2008).
Ironicamente, assim como o Ayatollah conseguiu driblar o exílio através de recursos de
pirateio de fitas com seus discursos, os fãs iranianos de rock n’ roll e heavy metal também o
fizeram com destreza, abastecendo um mercado negro eficiente, mas perigoso, visto que o
governo islâmico agora vigente buscava de toda maneira suprimir as influências ocidentais
no país, ainda mais expressões musicais tão carregadas (LEVINE, 2008).
O Irã havia saído de um estado de repressão para adentrar outro, em moldes distintos, de
secularismo forçado à teocracia purista. Uma quebra drástica, extrema e ao que se pode
observar, pouco eficaz no tangente ao controle populacional (JANUARY, 2008).
15
4. Children of the Grave12
O Rock n’ Roll inicia sua concepção e entrada no Irã, durante os anos 70, ainda sobos
auspícios políticos do Shah. Anteriormente à proibição do arcabouço cultural ocidentalizado,
os variados sub-gêneros do estilo adentravam inúmeras casas e ganhavam crescente
popularidade, deixando um legado a posteriore aproveitado pela embrionária cena heavy
metal do país nos anos 90, como uma influência musical direta. Durante os primeiros anos
da cena underground estabelecida, algumas veias de expressão nas esferas proprietárias
privadas ainda se faziam possíveis de maneira interessante, fator que mudou com a
ascensão de Mahmoud Ahmadinejad ao poder, período a partir do qual a repressão ao estilo
toma maior escopo e quebra as barreiras público-privadas, com invasões de casas e
aprisionamento sem cerimônia de fãs do estilo (LEVINE, 2008).
A cena iraniana de heavy metal consiste em uma comunidade que provém música feita por
fãs para fãs. Os membros da cena são uma resposta em si ao sistema político islâmico que
reprime suas expressões sinceras de musicalidade e raiva. Não assustadoramente, grande
parte das bandas oriundas deste meio pertence à escola do heavy metal extremo (black e
death e thrash metal) (LEVINE, 2008).
“Quando você respira em nosso país, é político”. Assim clama Ali Azhari, guitarrista e
vocalista da banda de death metal de Teerã, Arthimoth, importante representante da cena
iraniana (LEVINE, 2008). Como, no entanto, definir a importância factual de cada membro
de tal comunidade, cada qual com suas significações e anseios, na busca de uma
compreensão geral do que é hoje o heavy metal no Irã?
A cena que se observa hoje na região possui crescente expressão não somente pela gana
coletiva em propagar a música e a destreza dos membros em escapar das garras
repressivas do Estado islâmico, mas conta-se com a ajuda de um meio de comunicação que
somente se consolidou no país durante a última década, a internet (LEVINE, 2008).
Portanto, em propagação pela rede mundial, encontram-se inúmeras bandas mostrando
materiais proibidos em sua terral natal e ganhando reconhecimento por seu talento, ou por
vezes simplesmente por levantarem uma bandeira de liberdade e fazerem-se ouvir.
12 “Children of the Grave” representa uma geração engendrada pelo medo nuclear, vigente durante a guerra fria e cansada de suas restrições políticas. Trata, de fato, da revolução envisionada por uma geração, de libertação artística, cultural e política, como observado nas mentes dos jovens iranianos headbangers hoje.
16
Estabelece-se assim, os termos para a apresentação do seguinte recorte de bandas como
representativas da cena underground iraniana de heavy metal.
- Referências ao conjunto e à seus membros por especialistas em estudos globais sobre
heavy metal, a ver, Sam Dunn, no documentário “Global Metal” de 2007 e Mark Levine, em
sua obra de 2008 “Heavy Metal Islam”.
- Popularidade das faixas de cada banda nos seguintes sites: Youtube.com e Myspace.com.
- Relevância do nome da banda e de seus membros em fanzines13 da região, como o
“Tehran Avenue”.
- Entrevistas e documentários específicos de cada banda, encontrados em texto em zines,
blogs e em vídeo no site Youtube.com.
- Respostas ao questionário online elaborado especificamente para esta pesquisa e
divulgado via rede social Facebook, em páginas e grupos específicos voltados para o heavy
metal iraniano, além de fóruns de discussão tangenciando a mesma temática14.
Exploraremos neste momento os elementos inerentes à musicalidade e expressão das
bandas Arsames, Arthimoth, SDS (Death Metal), Evoke Efrits (Black Metal), Kathmayan
(Thrash Metal), TarantisT (Heavy Metal), Ahoora (Crossover Metal) e Angband
(Power/Progressive Metal).
A característica primordial que podemos observar em todas as bandas em questão é a
relação com a expressão artística em si própria e, a partir daí, temos movimentações
ideológicas dissidentes de grupo para grupo, mas sempre compartilhando este núcleo
libertário do clamor artístico-cultural inerente ao heavy metal desde sua concepção e a
outros estilos musicais com teor crítico pujante.
Como colocado por Ali Azhari, das bandas Arthimoth e Kathmayan, sobre o espírito geral do
estilo que propaga, em entrevista ao ano de 2007 na rede norueguesa de televisão NRK2,
crê que o “death metal é um estilo musical sério, que fala sobre assuntos sérios”15 e sobre
seus sentimentos pessoais acerca da música:
13 Fan-made Magazine. Revista feita por fãs para fãs sobre algum cenário específico. 14 Questionário disponível em: Insights on the Iranian Heavy Metal Scene <https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?hl=en_US&formkey=dFZBdlNObHdNb09TRWtxN0xKcFl0N0E6MQ#gid=0> (OLIVEIRA, 2011) 15
Do original: “I like death metal music. I believe that’s some kind of serious music, that speaks about serious affects.” (AZHARI, Ali, apud ARTHIMOTH, 2007 por NKR2 STATION)
17
“Não é possível esconder a minha ou a nossa dor. A única maneira de se demonstrar tal dor é pelo death metal. (...) Algumas pessoas acham que elas podem curar as outras, mas na verdade apenas estão querendo forçar suas ideias próprias nas mentes alheias. (...) É muito político e muito crítico. Mas não é algo que eu queira necessariamente falar sobre meu próprio país (...) em qualquer lugar é a mesma situação, sempre há pessoas que acham que estão curando pessoas com seu ideário e conhecimentos” (AZHARI, Ali apud ARTHIMOTH, 2007 por NKR2 STATION, Tradução Nossa).16
Este tipo de referência à dominação ideológica se repete na abordagem geral das bandas
analisadas, como em “The End of Holy Torments”, de 2006, da banda Evoke Efrits que
conclama:
“Juntos dominaremos, com mentiras e ignorância A todo e tempo e em todo lugar São nossos desejos São nossos desejos Então absolva-nos ó redentor (...) Quando nada perdurar além de ódio Na escuridão eterna O futuro irá nos mudar Você pode sentir que na escuridão eterna Até seu profeta é cego.” (NU, Saman, 2006, Tradução Nossa)17
Esta clara mensagem anti-doutrinária tangendo mensagens religiosas de maneira
contundente, é seguida por um trecho em idioma persa, evocando aspectos culturais da
região em incisiva crítica ao corolário islâmico, forçado aos descrentes e críticos do sistema
vigente na república iraniana. Saman Nu (alias Count De Efrit), o responsável pela obra da
Evoke Efrits, comenta em entrevista ao ano de 2008 para o site francês Sombre Arcane,
que, no entanto, não possui motivações políticas em sua música, apenas filosóficas
existenciais, diferindo de diversos de seus contrapartes.
16 Do original: “Can’t shove all my pain aside, and our pain aside. The only way to perform that pain is to perform it in death metal way. (…) Some people think that they can heal other people, but they just want to put all their stuff into heir brain. (…) It’s so political and it’s so critical. But, I told them, It’s not something I want to say about my country. Iran, Afghanistan, everywhere, everywhere is the same situation, there are always some people that think that they are healing other people with their verses and their knowledge.” (AZHARI, Ali, apud ARTHIMOTH, 2007 por NKR2 STATION, 2007) 17 Do original: “Together we will dominate on lies and ignorance Every time and every where It's our wishes It's our wishes Then absolve us pardoner When nothing is remain but hate In eternal darkness Future will change with us Can you feel it that in eternal darkness Even your prophet is blind” (NU, Saman, 2006).
18
Outros membros da cena iraniana que seguem uma linha menos política, (mas ainda
mantendo elementos críticos), em suas composições, é a Arsames, da cidade de Mashhad.
Em suas composições ao longo dos anos, que culminaram no lançamento em 2010 do
álbum “Immortal Identity”, a banda evoca elementos culturais, históricos, religiosos e
identitários do povo persa e traz à público como estas características podem pervertidas por
muitos profetas contemporâneos do sistema islâmico, como exemplificado em música
homônima:
“Identidade Imortal Eu sou o rei do poder, o escolhido Eu sou o primeiro instrutor dos direitos do homem Eu convido todos a um batismo de amor e justiça Lavando os pensamentos diabólicos de suas mentes e almas Eu estou procurando por meus sonhos no coração das trevas Deus me dará para sempre asas de coragem O mundo, repleto de pessoas honestas do poderoso Deus Derramando sangue, é coisa do passado, quando você decidir Mas o mundo não será Como era de se esperar Haverá um jogo eterno Entre eu e Lúcifer Meus guerreiros jamais permitirão Que demônios tomem seus lugares O paraíso está em minhas mãos E o inferno estará sob meus pés” (TOKALLOU, Ahmad, 2008, Tradução Nossa).18
Com este breve arcabouço musical, já consegue-se observar o traçamento de uma linha
básica para a significação central da cena heavy metal iraniana, evidenciada em ainda outra
obra, da banda de Teerã, Tarantist, caso particular do movimento em questão, em virtude de
18 Do original: “Immortal Identity I am the king of power the chosen one I am the first instructor of human rights I invite all to baptism of love and justice Washing away diabolical thoughts of your minds and souls I am looking for my dreams in heart of darkness God will give me forever wings of braveness The world full of honest people of mighty God Shedding blood is the thing of the past if you decide But the world is not gonna be As it is expected to be There will be an endless game Between the Lucifer and me My troopers will never permit Demons to get on their seat Paradise is in my hands Hell will be under my feet .“ (TOKALLOU, Ahmad, 2008)
19
sua mudança para os Estados Unidos da América em busca de maior abertura para
prosperarem enquanto artistas, mas não abandonando o ideário constituído em seu local de
origem:
“Estas merdas que você diz Não são religião Estas são suas mentiras Para me deixar submisso Você as usa Para reinar sobre mim Para forçar Seu controle sobre mim Pare de alimentar meu cérebro Com seus pensamentos levianos Não suportarei mais isso” (ARASH, BAHMAN, 2010, Tradução Nossa)19
O sentimento que une, portanto, a maioria significativa das principais bandas da cena heavy
metal no Irã, é o empreendimento socialmente depreciativo do governo islâmico face à
identidade individual de cada um de seus cidadãos. A imposição de valores e perversão de
ideologias para galgar unidade social de forma absoluta é o que rege o ideário agressivo e
anti-sistêmico do rock pesado iraniano e de outras formas de manifestações artísticas,
musicais ou não, todos, efetivamente rejeitados pelo regime islâmico ou por estarem em
consonância com padrões ocidentalizados ou simplesmente por atestarem contra o status-
quo nesta sociedade.
Trazendo uma linha semelhante à colocada em voga pelo Helloween de Kai Hansen na
Alemanha oitentista, o power metal da Angband (nome que faz referência à obra Silmarillion
de J. R. R. Tolkien) e evoca um conteúdo existencialista e libertador. Musicalmente, os
flertes com o classicismo estão presentes, como é de praxe no estilo, trazendo a tona então
um formato diferenciado de se pensar o protesto musical iraniano em pauta. Como o líder e
principal compositor da banda, Mahyar Dean, descreve em entrevista de 2008, “a maioria
das letras são sobre fatos da vida e outras sobre a história da Pérsia”, no que observa-se
ainda, novamente, o fortalecimento identitário perante as instituições vigentes na região. A
banda, iniciada em 2004, ainda representa um elemento emblemático na cena metal
19 Do original: “These craps that you say Are not religion These are your lies To keep me under You use them To reign on me To force your control over me Stop feeding my brain With your foolish thoughts I can’t get any more of it.” (ARASH, BAHMAN, 2010)
20
iraniana, por ter sido a primeira banda do gênero no país a conseguir um contrato com um
selo internacional de extensão global, o Pure Steel Records da Alemanha.
Retornando às veredas do metal extremo, a SDS (Seven Deadly Sins) tem grande
importância por representar um período de luta pela expressividade da cena. A banda
realizou várias apresentações em regime de exceção aberto ocasionalmente pelas
autoridades governamentais, na qual a banda poderia tocar, mas sem vocais, sem o típico
balançar de cabeças do estilo e sem nenhum tipo de manifestação de exaltação, o mesmo
valendo para o público presente. Nesta dinâmica sub-ótima, o controle sobre os
participantes não se mantém estável e ao exemplo de sua apresentação de 2007 na
Universidade de Teerã, para em torno de 3.000 pessoas, mesmo sem vocais, o público
ensandecia-se e a repressão policial se iniciava. Conseguiram, em dado momento, se
apresentar com vocais publicamente, os primeiros e alguns dos únicos músicos iranianos de
heavy metal a realizarem tal ato em território persa, momento a partir do qual, se tornaria
uma infeliz rotina suas detenções e acusação de práticas satanistas (LEVINE, 2008).
Em uma estrutura crossover (mistura de elementos diversos de vários sub-gêneros do metal
e mesmo de outros estilos de rock n’ roll), a Ahoora mostra um som que alia modernidade e
tradição persa em um jogo cadenciado de ideologias consonantes com a representação
geral da cena heavy metal no país, como evidenciado na música “Out of Mind Walls”, do
álbum “All in Blood With You”, de 2007.
“Por quê não consigo encontrar a resposta para esta questão? Que eu sinto que isso é apenas mais uma enganação Sim, eu tenho que sufocar isso dentro de mim Um amor sagrado ou apenas um desejo da mente Toda minha vida tentei ser um crente E em todo caminho que pisei meus olhos escureceram” (SAEIDIAN, Alizera, 2007, Tradução Nossa)20
Este recorte das cena iraniana é, como o próprio nome sugere, um demonstrativo geral dos
sub-gêneros do heavy metal presentes e suas nuances relativas à percepção de um
sentimento geral de movimento cultural. Diversas outras bandas merecem citação por
20 Do Original: “Why can’t I find a clue to answer this question? That why I feel this is another deception Yes I have to suffocate this inside me A holy love or just a mind’s desire All my life I tried to be a believer And every tread I’ve stepped my eyes went darker.” (SAEIDIAN, Alizera, 2007)
21
contribuições latentes à cena, mas deverão ser analisadas futuramente em outros trabalhos,
a ver, Mordab, Aliaj, 1000 Funerals, Azhirock e 5grs, entre outras.
As expressões anônimas coletadas através de questionário online, evocam ideias
semelhantes de componentes da cena, sejam fãs ou artistas, com conclamações que
descrevem o heavy metal desde como uma “arma de anarquia. Uma música pura e honesta”
a um “estilo de vida (...) um som estranho, para pessoas estranhas” e ainda, de “uma saída
liberadora para a alma, onde se faz possível a inserção de reflexões boas e ruins”.21
O espectro geral que se tem então como significação do estilo para aqueles que compõe o
seu núcleo forte, é exatamente uma idéia central de libertação das amarras repressivas do
governo segregacionista islâmico, com fontes diversas compondo os arredores da ideologia
de cada agrupamento de artistas, muito como uma emulação do que é apontada como a
estrutura sociológica do heavy metal em si, composto por um misto do chamado hardcore
(ideário central da estrutura de determinado gênero) e de elementos circundantes que
trazem aspectos únicos aos diversos sub-gêneros, mas ainda mantendo e congregando a
identificação do elemento metal (WEINSTEIN, 2000) (WALSER, 1993).
5. The Mob Rules22
Neste momento, apresentar-se-á a perspectiva teórica pós-colonialista no contexto iraniano
pós-revolucionário e suas contribuições para a formatação do pensamento geral da cena
heavy metal que se concebe no país durante a trajetória de estabilização do regime
islâmico, em conseqüência da linha ideológica seguida pelo Estado pós-1979.
Este ideário é condizente com o papel representado pelos Estados Unidos da América no
Irã de Reza Shah Palehvi, de proximidade político-comercial de maneira essencialmente
predatória, formatando uma relação de dominação, ainda que mascarada, inclusive utilizada
como elemento apontador dos desígnios das lideranças revolucionárias ao subjugarem o
regime monárquico então regente em 1979.
21 Um corte seletivo de respostas a este questionário podem ser vistas no Anexo 2 deste trabalho, na versão original em língua inglesa. 22 “The Mob Rules” versa sobre o poder emanado do povo, a quebra das amarras do poder repressor.
22
A teoria pós-colonialista é definida em Krishna, 2009, como “...a perspectiva ou visão de
mundo daqueles que acreditam somente ser possível entender o mundo de hoje colocando
em primeiro plano a história do colonialismo (...) nos últimos cinco séculos”23. A noção geral
dos proponentes teóricos pós-colonialistas é, em conseqüência disso, anti-globalista, no
sentido de expor as mazelas sistêmicas do capitalismo de livre mercado absoluto, garantidor
da capacidade de dominação econômica das grandes potências imperialistas sobre o
mundo periférico, por meios da colonização imperial clássica, ou das nuances
mercadológicas professadas contemporaneamente (KRISHNA, 2009).
Ademais do controle por vias econômicas, nota-se grande valor na identificação de aspectos
de dominação culturais por parte dos Estados centrais, carregando em si, modelos de
formatação dos padrões sociais de comportamento e expressão. A profissão, pelo ocidente,
de um corolário cultural superior, aliando modernização, civilidade, progresso e
desenvolvimento podem ainda se replicar no processo continuado da contextualização de
um modelo de dominação por elites nacionais pós-colonialistas (KRISHNA, 2009).
“A crítica pós-colonial é testemunha das forças desiguais e irregulares de representação cultural envolvidas na competição pela autoridade política e social dentro da ordem do mundo moderno. As perspectivas pós-coloniais emergem do testemunho colonial dos países do Terceiro Mundo e dos discursos das "minorias" dentro das divisões geopolíticas de Leste e Oeste, Norte e Sul. Elas intervêm naqueles discursos ideológicos da modernidade que tentam dar uma "normalidade" hegemônica ao desenvolvimento irregular e as histórias diferenciadas de nações, raças, comunidades, povos. Elas formulam suas revisões críticas em torno de questões de diferença cultural, autoridade social e discriminação política a fim de revelar os momentos antagônicos e ambivalentes no interior das "racionalizações" da modernidade.” (BHABHA, 1998, p. 239)
Com a linhagem de pensamento baseada na sempre relevante obra de Homi Bhabha e em
obras posteriores relevantes para o trabalho congregador da teoria pós-colonialista, iremos
buscar a contextualização junto à trajetória iraniana nos anos precedentes à revolução de
1979 e o ideário vigente no regime dos Ayatollahs, com propósito explicativo da relação dual
entre as instituições islâmicas hoje vigentes na República Islâmica do Irã e a parcela de sua
população integrante da cena heavy metal underground de dito país, nosso foco de análise.
A percepção de dominação, neste caso, não necessariamente deve perpassar o senso
estrito de colônia para tomar efeito. Na linha de pensamento dos estudos orientalistas,
principalmente na conceitualização elaborada por Edward Said, isso fica claro, tangendo 23 Do original: “…the perspective or worldview of those who believe that it is possible to understand today’s world only by foregrounding the history of colonialism (…) over the past five centuries.” (KRISHNA, 2009)
23
que, a imagem do outro, independe das pretensões colonialistas, que podem estar
presentes ou não no mindset político de um governo à época dos grandes impérios,
baseando-se estritamente, portanto, no arcabouço escolástico do pensamento orientalista
geral (FRY, 2009). “Orientalismo é um estilo de pensamento baseado em distinções
ontológicas e epistemológicas feitas entre ‘O Ocidente’ e (na maior parte das vezes) ‘O
Oriente’.” (SAID, 1978).
De sobremaneira, é popularmente conhecida a relação próxima estabelecida entre
Mohammed Reza Shah Pahlavi e o governo dos Estados Unidos da América. Já nos
primeiros anos de seu reinado (iniciado em 1941), a influência estadunidense na área se
mostraria pujante; sofrendo mediante os focos de ocupações militares russas e britânicas
pós-2ª Grande Guerra, o Shah cria uma aliança estratégica com os EUA que acaba por
catapultar a formalização das retiradas das tropas de ocupação ao ano de 1945 (WAGNER,
2010).
A articulação de interesses estadunidenses no Irã pré-revolução perpassava desde o ponto
de vista estratégico militar, até o claro interesse econômico que iniciou o processo de
relações entre os dois países após a 2ª Grande Guerra, que tinha como carro-chefe o
petróleo iraniano (SHOAMANESH, 2011) (WAGNER, 2010).
A abertura econômica e as relações amistosas com os EUA no governo do Shah refletiam
diretamente nos processos culturais elaborados durante os anos prévios à revolução. Em
referência ao objeto de pesquisa aqui trabalhado, o rock n’ roll e o heavy metal, enquanto
fenômenos globais penetrados no espectro de influência estadunidense, adentravam e
ganhavam força e popularidade em vários segmentos da sociedade; relatos pessoais de
artistas do cenário metal iraniano hoje colocam que familiares eram “grandes fãs de Pink
Floyd, Jimi Hendrix e Rolling Stones” (LEVINE, 2008).
Nesta perspectiva, abarca-se uma cultura amalgamada, com aspectos clássicos persas
vigentes lado a lado com o multiculturalismo raso norte-americano globalizado. Este ideário
é um dos propulsores dos movimentos das elites do clero iraniano contra a manutenção do
poder do Shah e onde, finalmente, tangemos as concepções revolucionárias islâmicas com
o arcabouço teórico pós-colonialista demarcado ao início deste capítulo.
A dominação cultural dos EUA em detrimento do classicismo iraniano foi notável nas últimas
décadas de governo monárquico no Irã e neste processo as expressões de
descontentamento da população se tornam comuns. O crescente fluxo de aparato militar
24
estadunidense para o país sedimenta a idéia de que o Irã era dos principais, senão o
principal guardião dos interesses políticos norte-americanos no oriente médio. Ainda nesta
lógica, a rápida industrialização e procedimentos de criação de bens de alta tecnologia,
contrastavam com o baixo nível de educação da população iraniana, minando o processo de
forma clara e trazendo consigo sentimentos anti-americanos em virtude do emprego cada
vez mais expansivo de mãe de obra qualificada estadunidense no lugar da nacional
(PALMA, 1999).
Com esse tipo de sentimento regendo de sobremaneira as relações sociais nos anos pré-
revolucionários, quando finalmente se tem a queda de Reza Pahlavi, o regime islâmico
estabelecido leva a cabo as idéias acumuladas em caráter absoluto, negando qualquer tipo
de influência “imperialista”.
“...Khomeini ridicularizava aqueles que falavam de um governo secular. Apenas ateístas pensariam em separar Estado e religião. Política e religião não eram mantidas separadamente nos tempos do Profeta! Tais idéias são aberrações inventadas por imperialistas para manter o clero longe da vida social e material dos povos muçulmanos e roubar suas riquezas mais facilmente. Para assegurar a unidade dos muçulmanos e liberar o mundo islâmico da dominação dos imperialistas, clérigos de alta estirpe devem formar um governo islâmico no Irã, sobrepujar governantes tirânicos apoiados por estrangeiros e então instaurar a autoridade universal do Islã.” (HOVEYDA, 2003, p. 76, Tradução Nossa)24
É neste contexto pós-dominação, portanto, que se tem a exclusão de elementos culturais
ocidentalizados da vida social iraniana com a tomada do poder pelas mãos do revolucionário
Khomeini. Neste sentido, os esforços de manutenção do status quo por parte do governo
islâmico se enquadram em perspectivas estritamente protecionistas em relação ao valor
cultural, político e religioso de suas instituições.
Ao considerarmos então, o heavy metal como fenômeno globalizado e de raízes ocidentais,
ainda que costumeiramente assuma características regionalistas próprias (WEINSTEIN,
2000), da mesma maneira que observado em bandas iranianas como Arsames e Angband,
o estilo vai, de fato, na contra-mão do ideário-guia da revolução de 1979.
24 Do original: “Khomeini riled those who speak of secular government. Only atheists want to separate state and religion. Politics and religion were not kept apart in the lifetime of the Prophet! Such ideas are aberrations invented by imperialists in order to keep the clergy away from the material and social life of Muslim peoples and to steal their riches more easily. To ensure the unity of Muslims and liberate the Islamic world from the domination of imperialists, high-ranking clerics must form an Islamic government in Iran, overthrow the tyrannical rulers supported by foreigners, and then, install the universal authority of Islam.” (HOVEYDA, 2003, p. 76)
25
É, no entanto, notável e essencial colocarmos em pauta a construção identitária única dos
membros inclusos no underground do metal no Irã para que se estabeleça uma análise
apropriada da situação. Como notado anteriormente, o núcleo forte do estilo trabalha a idéia
de expressividade artística como fim em si mesma e se relacionam de forma geral com uma
identidade mista, da beleza clássica persa à brutalidade do metal extremo.
Estes agentes da sociedade civil não representam, no entanto, o braço exploratório do
espectro globalizador capitalista, à medida que, no limite, temos uma inversão de papéis no
tangente ao ideário preservador da identidade observado em Bhabha, ao que temos a
grande elite clerical iraniana reproduzindo a massificação cultural e política vista nos seus
contrapartes internacionais de forma repressiva e absoluta.
O que se tem, portanto, é a nulificação dos desígnios do governo revolucionário, à medida
em que passam a representar os interesses conservadores da elite em detrimento das
expressões miscigenadas das culturas presentes no país, em uma dialética reprodutora da
mesma lógica pela qual expressava-se consternação aos anos pré-1979.
6. Symptom of the Universe25
Nesta breve passagem pela terra dos Ayatollahs, porém, sob uma ótica única, fora da
percepção popular do que é o Islã, de maneira abrangente, hoje, foi possível observar uma
série de conceitos e significações para um estilo musical que, mesmo no ocidente, tende a
ser marginalizado e colocado como sub-ótimo perante a academia.
As contextualizações históricas que iniciam os trabalhos são de perfeita instância para
acolher o conhecimento cruzado requisitado para a interpretação proposta neste trabalho e
compreendermos os pontos de intersecção de cada história e o desenvolvimento de seus
conceitos ao longo da linha temporal vigente.
A exploração do núcleo de ideais das bandas escolhidas como representantes conceituais
da cena heavy metal iraniana traz consigo a essencialidade do projeto, como seu objeto de
estudo máximo. É de sobremaneira que se consegue perceber, em meio à abordagens que
vão desde um conservadorismo histórico das tradições e identificações persas à oblações
25 “Symptom of the Universe”, o sintoma do universo, fala sobre o amor imortal, irrestrito e em congregação mesmo com seus inimigos, ainda que, de certa forma, com tons irônicos.
26
nefandas à formas variadas de entidades obscurantistas, que a união se traz à tona em um
núcleo forte e extremamente cognitivo.
O Leviatã persa hoje no poder consegue ser compreendido de forma clara sob a perspectiva
pós-colonialista apresentada em suas essencialidades primordiais neste texto, onde em um
viés anti-imperialista, centra suas ações em um caráter repressivo e autocrata, indo de
encontro às liberdades que, à suposição, fazem parte do corolário revolucionário e de
destacamento da sociedade iraniana das amarras repressoras e fagocitadoras culturais
ocidentalizadas.
Conclui-se, portanto, que de acordo com a lógica prescrita acima, o governo islâmico do Irã
encontra justificativa ao cerceamento de liberdades de seu povo, em ótica protecionista à
cultura clássica e instituições islâmicas anti-imperialistas. Isso, no entanto, acaba por se
tornar um elemento estranho na dualidade entre o governo e o movimento heavy metal do
país, que, como expressão artística em sua essência, não é regido por uma bandeira
universalizante cultural, mas sim, como observado, por uma abordagem pluralista e
valorizadora dos elementos clássicos persas por muitos momentos, além de ser
estritamente crítica ao elemento repressivo e, essencialmente, perversor do significado
particularista do que é o Islã ou qualquer espécie de fé ou doutrina para os componentes da
comunidade.
A entrada do Heavy Metal na República Islâmica do Irã como um fenômeno cultural
internacional, mas de essência ocidentalizada, se auto-impossibilita de funcionar como uma
base escolástica imperialista-social. Esta essência ocidentalizada, se relaciona apenas com
a sua origem geográfica e estrutura musical, não aos ideais professados, em virtude do
âmago do estilo referenciar a rebeldia e insatisfação com uma sociedade não-condizente
com o que aqueles ligados à sub-cultura viviam em suas respectivas sociedades. Não
estamos falando aqui, de globalização metálica, como foi a proposta mercadológica nascida
nos EUA, do sub-estilo glam metal durante os anos 80, de um rock n’ roll diluído entre o
heavy metal e o classic rock, mas com a imagem de vendas sendo o rótulo metal, que em
dado momento, a tudo congregava; ideário que, inclusive, traz a alguns hoje, principalmente
na América do Norte, a entender o heavy metal como fenômeno que se dá nos anos 80 e ali
desaparecem, pelo senso estrito de exposição na veia principal mercadológica musical.
Estes preceitos centrais do metal se adaptam de maneira mezzo-antropofágica nos locais
onde se estabelecem. Não se trata de uma cultura globalizada (no senso de padronização),
rígida e com uma fórmula universal. O que pudemos observar neste trabalho e mesmo,
27
vivendo-se o estilo, é que a fagocitose de elementos culturais específicos de cada
comunidade se dá de sobremaneira. O próprio caso da identificação automática de bandas
como Sepultura e Angra, principalmente em álbuns seminais das bandas, como os seus
lançamentos de 1996, Roots e Holy Land, com a cultura e história brasileira, denota a não-
limitação desta característica pluralista, mas congregadora, do heavy metal.
O que se observa então é a literal adaptação do núcleo forte aos elementos periféricos à
música como expressão artística em si própria, a ver, sua realidade social, política, religiosa,
cultural daquele meio em que se emerge o metal pesado, de maneira revisionista e caótica,
desordenada, não imperialista, como se sugere pela ação do governo islâmico, pelo fato
ainda, de não se tratar de um estilo representante de alguma espécie de “ocidentalismo”,
mas sim de uma cultura à parte da divisão clássica entre oriente e ocidente, quase como
numa diáspora headbanger onde não existiria uma terra-mãe centralizadora.
Outros apontamentos ainda podem ser realizados na congregação dos elementos aqui
expostos, como, por fim, o demonstrativo de uma emulação da proposição original do Black
Sabbath e dos primórdios do heavy metal como forma de protesto à norma vigente e
expressão musical diferenciada, além do reflexo dos entornos sociais nas características do
som e das letras professadas. Os elementos são reproduzidos de maneira muito
semelhante, como pode ser observado em fala do frontman original do Sabbath, John
“Ozzy” Osbourne:
“Quando eu comecei no Sabbath, a cena musical era de
soul, blues, pop, psicodélica e o movimento flower power.
Agora nós, vivendo na... parte mais indesejável de Aston
em Birmingham, sem dinheiro, sem sapatos nos pés e
escutando no rádio, ‘Se você for para São
Francisco/Coloque uma flor em seu cabelo’, pensávamos,
‘Que porra é essa?’.” (OSBOURNE, Ozzy apud HARDEEP,
2008, Tradução Nossa)26
Esta declaração tem muito em comum com os relatos de fãs e artistas iranianos hoje,
acerca do sistema vigente e as abordagens do governo islâmico em relação à cena heavy
metal hoje estabelecida no país, demonstrando a insatisfação geral com os desígnios
governamentais e o destacamento da juventude headbanger iraniana do que é a
26 Do original: “When I started with Sabbath, the music scene was soul, blues, pop, psychedelic and the flower power movement. Now us guys, living in the . . . dregs of Aston in Birmingham, no money, no shoes on your feet and we’re hearing on the radio, ‘‘If you go to San Francisco/Be sure to wear some flowers in your hair,’’ and we’re thinking, ‘‘What the fuck’s that all about?’.” (OSBOURNE, Ozzy, apud HARDEEP, 2008)
28
significação societal geral do Islã, como, “quando se respira em nosso país, é político”
(AZHARI Ali, apud. LEVINE, 2009) e “o problema não é a religião. Tudo no Irã, no final, é
sobre política; religião é apenas a desculpa” (MAHSA, Vahdat, apud. LEVINE, 2009) e
mesmo em relação à simbologia por trás do heavy metal expressada através de importantes
bandas como o Iron Maiden, como pode ser visto na relação de participantes da
comunidade musical iraniana com a banda:
“Com certeza, Iron Maiden seria a banda mais importante para nós, (...) o Maiden me dá uma visão de um tempo onde o símbolo-chefe da cultura iraniana era o do mártir. A banda é tão visual – apenas pense nas capas de álbuns com tanques e imagens de guerra e morte – é como um sonho combinado com música. A banda lhe permite imaginar estar em outro lugar que você não pode estar fisicamente. (...) Tem-se tantas imagens de guerra e armas nas ruas e prédios de Teerã, é a mesma simbologia na verdade.” (AZHARI, Ali, apud LEVINE, 2009, Tradução Nossa)27
E ainda em outras palavras, referenciando o marcante evento bélico de 1980 a 1988, que foi
a guerra entre Irã e o Iraque de Saddam Hussein, eclodida principalmente pelas tensões
pós-revolução de 1979 e declarações inflamadas de Khomeini (WAGNER, 2010):
“O que faz o heavy metal tão importante são oito anos de guerra brutal – duas vezes a duração do envolvimento estadunidense na II Grande Guerra. Eu me lembro dos mísseis vindo para Teerã, então, usar uma camisa de metal, uma camisa do Maiden com um tanque estampado é muito relevante para mim. Nós não sabíamos se sobreviveríamos à guerra. E mesmo hoje, quando aos doze anos de idade nós ainda somos forçados a aprender a usar AK-47’s e nos defender de armas químicas.” (GHAOUF, Armin, apud LEVINE, 2009, Tradução Nossa)28
No entanto, de todas as epítomes de significância do heavy metal no contexto da vida desta
parcela da sociedade civil e a regência dos conceitos que estilo libera entre os seus
simpatizantes no Irã, a passagem a seguir é a que melhor congrega o espírito em voga, com
o já citado Ali Azhari, explicando o sentido do nome de seu projeto Arthimoth:
27 Do original: “For sure, Iron Maiden would have to be the most important band for us, (...) Maiden gives me a vision at a time when the chief symbol of Iranian culture is that of the martyr. Maiden is so visual – just think of the album covers with their tanks and other images of war and death – it’s like a dream combined with music. The band allows you to imagine being somewhere you can’t physically be. (…) There are so many images of war and guns on the streets of Tehran, it’s the same symbolism really.” (AZHARI, Ali, apud LEVINE, 2009) 28 Do original: “What makes heavy metal so important are the eight years of brutal war – twice the lenght of America’s involvement in World War II. I remember the missiles coming to Tehran, so wearing a metal or Maiden T-Shirt with a tank on it is very relevant to me. We didn’t know if we’d live through the war. And even today, at twelve years old we are still forced to learn how to use AK-47s and to defend against chemical weapons.” (GHAOUF, Armin, apud LEVINE, 2009)
29
“Arthimoth é um novo deus que eu mesmo criei, a combinação de um nome Persa antigo com a deusa grega Artemis [deusa da natureza e fertilidade]. Eu pensei que essa era a hora de re-criar deuses antigos como um legado aos nossos ancestrais. Musicalmente, nós tentamos misturar música muito antigo tradicional iraniana com música contemporânea, em especial o metal extremo. Em outras palavras, nós enraizamos o metal em nossa cultura.” (AZHARI, Ali, apud LEVINE, 2009, Tradução Nossa)
Definitivamente, uma atitude corajosa a de criar novos deuses e recontar mitologias em um
país repressivo como o Irã, mas é a beleza do heavy metal em sua essência: de
congregação de uma comunidade e exaltação das características clássicas e expressões
culturais particulares de cada localidade, sem perder a identidade metálica, reproduzindo
mais uma vez a lógica do núcleo forte do heavy metal cercado pelas diferentes influências e
sub-vertentes cognitivas e de estrutura musical.
E coragem é realmente a palavra a se evocar quando buscamos definir um grupo que age
na contra-mão de uma sociedade perigosa pela crença estrita e verdadeira na sua
expressão musical e no que ela traz em sua essência. É o grito de uma geração que busca
liberdade acima de tudo, que respeita as tradições, mas entende os limites destas em
relação ao individualismo e, no limite, o que é uma sociedade pacífica e alinhadora dos
ideais professados não somente pelos citados neste trabalho, mas por todos os
headbangers persas, irmãos de uma terra distante.
“Não há mais nada em todo o mundo
Que o derrubará
Nós tocaremos nosso passo mais selvagem em todo canto
Precisamos dele líquido em nossas veias em vez de
sangue
Heavy Metal é a lei que nos mantém unidos e livres
Uma lei que estraçalha terra e inferno
Heavy Metal não pode ser vencido por nenhuma dinastia
Somos todos feiticeiros lutando com nossa magia”
(HANSEN, Kai, 1985, Tradução Nossa)29
29 Do original: “There's nothing else in all the world
That will bring it down
We will play our wildest step to all around
We need it as a liquid in our veins instead of blood
Heavy Metal is the law that keeps us all united free
A law that shatters earth and hell
30
7. Behind the Wall of Sleep30
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Heavy Metal can't be beaten by any dynasty
We're all wizards fightin' with our spell” (HANSEN, Kai, 1985) 30 “Behind the Wall of Sleep”, mostra aquilo que está por trás das manifestações subconscientes da mente humana, a saída do corpo e a transcendência em sono.
31
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32
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33
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34
8. Megalomania31
Anexo 1 – Mensagem destinada aos membros da cena heavy metal iraniana via internet
para preenchimento do questionário elaborado
Hello my friends,
My name is Gabriel Oliveira, I'm a heavy metal fan and an International Relations student
from Belo Horizonte, Brazil - Land of Sepultura and so many other important heavy metal
bands.
I come here, for a very special reason: My graduation thesis is a case study of the Iranian
heavy metal scene, the music insertion on the country and its significances to the members
of the underground community. I've created a short questionary, aimed at collecting more
information on what the music is and its identity to the Iranian fans.
I hope you find time to take part in this, which can be accessed on the link below. I assure
you that as soon as the work is finished and translated, you’ll be able to see it published.
https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?hl=en_US&formkey=dFZBdlNObHdNb09TR
WtxN0xKcFl0N0E6MQ#gid=0
Thanks you, brothers.
Gabriel Oliveira
31 “Megalomania”, na essência do termo, designando aquilo que vai além da normalidade, excede o ego e as posses designadas à alguém, mesmo que na esfera da vontade.
35
Anexo 2 – Corte seletivo de respostas ao questionário online
For you, what are the most important elements in heavy metal music?
1- “For me personally, The sound of music! Lyrics is important, But the only thing matter is
music in general. Agression, Brutality, etc.”
2- “There are a number of elements, of course. But for me, one of them must be this fact that
heavy metal is an outlet for my soul. I can put reflections of both good and bad moments of
my life via this outlet out.”
3- “Its darkness and those mysterious and deep atmospheres specially in the case of Gothic
and black metal music.”
Do you believe heavy metal is a weapon for social change?
1- “Yeah, but Anarchy Weapon i would say. Heavy Metal is a pure & honest music. It declaring
war i believe.”
2- “I hope it would have been, because in some periods it certainly was actually. But I don't
really think it is a weapon for social change right now. I might be wrong though, maybe it
really is a weapon for social change today.”
3- “I'm not agree (sic) so much with the weapon word. I think it comes up more useful while we
use that as an artistic tool to make people think deeper even one step farther.”
Why do you think heavy metal was able to become a global phenomenon?
1- “It's already does. We talk about heavy metal in Iran, don't we?”
2- “It is a really a good question and at the same time a tough one. But I think it is mostly
because of its aesthetic point of view.”
3- “Because its objection nature which is in common with wide spectrum of young people
across the world.”
In that perspective, how do you see its entrance in Post-Revolution Iran?
36
1- “I see no rapid relative. But when they decided to banned this kind of music in society like
many other things. Yeah, It'll effect on any ordinary people's life. HM is just one of the
millions reason of freedom.”
2- “Well, as things got worse and worse after the revolution, people found more and more
similarities and values buried in the sound and lyrics of heavy metal music.”
3- “In heavy metal case I have to say it wasn't there before our past revolution.”
Which are, for you, the 7 most important heavy metal bands from the Iranian scene?
1- “Here they are. some of them have/had some regarded works: Zakhm, Ekove Efrits, Mordab,
Qutin, Necromimesis, Connate Exasperation, 1000 Funerals. But one the most succeed
Iranian person in underground metal scene is my friend, Mehdi Vafaei from Abandon (Swe)
which they won the best swedish album in 2009.”
2- “1- Kahtmayan 2- Explode 3- Farzad Golpayegani 4- Malcontent 5- Arsames”
3- “‘Important’ is completely meaningless to me about Iranian underground art. its all about our
different taste in music but I believe each single band in Iran deserves attention because
situation in here is not equal with other parts of the world, in here many problems exist for a
band as instance they can't play any live show , they can't publish their CDs officially and etc
so I think it won’t be fair if I select only several of them and say look these are most important
bands in Iran!”
If you wish to do so, write about yourself, your own experience as a heavy metal fan in
Iran and how the scene works, as well as what it means to you.
1- “I'm the ex-admin of First Iranian Metal Forum & Portal: Bia2Metal.com. I'm the owner of the
metal blog profunder.blogspot.com, which i introduce my favorite band from around the world
and specially from Iran. I've interviewed some Iranian bands. I did my part somehow!”
2- “Just some good musicians and songwriters there. Something that I still cannot find it
thoroughly in where I live now, Istanbul. The level of musicianship in some metal fans in Iran
is just unbelievable, in my opinion. And this is what I really miss when I think of my home,
37
Iran. Other than that like other countries, a lot of passion for this type of music in its lovers is
evident.”
3- “The scene is so much surprising even for Iranian. many talented bands exist here and need
to be heard . I'm so hopeful about future while more and more people will have this chance to
hear Iranian heavy metal music.”