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Anotações da primeira aula do curso filosofia na praça, ministrado pela professora Alice Serra
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Filosofia na Praça - Conhecimento e cultura
Módulo I. Filosofia da cultura: Dilthey, Cassirer, Gadamer
Curso de extensão do departamento de filosofia da UFMG
Coordenadora: Patrícia
Professora: Alice
Secretaria: Margareth
A filosofia tem nascimento localizado na Grécia Antiga, precisamente no movimento em
que a desvinculou do universo do mito. A pergunta fundamental era: o que podemos
conhecer.
Questões antropológicas foram tratadas pelos filósofos de então. Os Sofistas, cujo
pensamento era excessivamente prático, entendiam que o homem seria a medida de todas
as coisas. Trata-se de relativismo, que não abordava questões culturais mais abrangentes,
menos localizadas no espaço/tempo. Sócrates, por sua vez, engendrou reflexão mais
ampla sobre o homem, com vistas à formação de pensamento universalizado.
Intervenção: Segundo Cassirer, não nos relacionamos com objetos quando em âmbito
cultural. Os processos simbólicos medeiam as relações que estabelecemos com a
matéria.
As Ciências Humanas tiveram surgimento mais lento, quando comparado com as demais
áreas do conhecimento. Por quê? Por longo período, a ideia de método não existiu, ainda
que a reflexão filosófica e de outros cunhos fosse empreendida. A independência das
Ciências Humanas começou a ser alcançada a partir do Discurso sobre o método, obra de
Descartes.
O autor francês buscava criar um método mais seguro, uma metodologia que permitisse
o alcance da verdade: “é preciso desmanchar antigos edifícios e erguer novos
fundamentos”.
Método, do grego metos, que significa caminho
Ao longo do tempo, criaram-se dois grandes métodos científicos:
1. Cartesiano, fundado no racionalismo, de caráter dedutivo;
2. Inglês, fundado no empirismo, de caráter indutivo;
A indução parte do particular para o geral. Fazer ciência indutiva é fazer observações
particulares e desenvolver teorias sobre o universal. Trata-se da característica
predominante no método científico da Inglaterra de então e que logrou se enraizar em
todo o Ocidente. Hoje, o mundo capitalista valoriza as ciências indutivas, entre outras
razões, por ter sido a Inglaterra o Estado cuja proeminência no cenário internacional
ocorreu paralelamente ao desenvolvimento da ciência.
A dedução parte do geral para o particular. A validade do raciocínio indutivo, segundo
Descartes, deixa de ter qualquer universalidade, na medida em que surgem particulares
extraordinários, que refutam a regra. Nada na experiência é capaz de oferecer validade
universal.
Descartes põe tudo em dúvida. O ceticismo absoluto, contudo, é contraditório: se eu
duvido de tudo, preciso duvidar da dúvida, logo o ceticismo me coloca em contradição.
De toda forma, Descartes entende que nada permanece e o mundo sensível não nos
fornece qualquer segurança para a formação do raciocínio e do método científicos.
Intervenção. Platão é o primeiro grande idealista. Qual a verdade da experiência? As
ideias, segundo ele, são o que permite o conhecimento do mundo sensível, não o
conhecimento oriundo do empirismo.
Descartes duvida de tudo, mas deixa a dúvida quanto à própria dúvida à salvo, pois esta
é manifestação do pensamento. O pensamento é a única certeza inicial para ele, o que
implica a sua existência. Diante da percepção de ser capaz de duvidar, Descartes entende
que duvidar é pensar e pensar é existir.
Para Descartes, a matemática é identificável no mundo sensível. Ela seria uma verdade
transcendental. A racionalidade acessa aquilo que escapa aos nossos sentidos. A formação
de um método tem por fim estabelecer um procedimento que, independentemente de
quem o siga, a verdade será encontrada. Assim, Descartes cria o seu método com base na
geometria, influenciado pela matemática, e o divide em 4 partes.
A determinação da matemática como centro do método científico favorece o
florescimento da física no século seguinte. Dois outros filósofos sofreriam grande
influência dessa posição privilegiada da matemática: Spinoza, cuja ética é demonstrada
segundo a geometria (Descartes não ousou em propor um pensamento ético); Leibniz
alcançou o cálculo infinitesimal. Os dois autores foram fundamentais para a consolidação
da física, estabelecida sobre os alicerces da matemática.
Kant parte de Newton, quem, para ele, fazia indução e dedução. Tanto a experiência
quanto o racionalismo são necessários para explicar a ciência de Newton. Segundo Kant,
não somos, ao contrário dos empiristas ingleses, tábulas rasas onde as experiências
cotidianas são inscritas e formam a consciência. Para Kant, um aparato transcendental
acompanha o indivíduo desde o nascimento, isto é, a consciência é formada a priori.
Nesse sentido, todo indivíduo já seria dotado da noção de espaço/tempo, de modo a
permitir que sejam estabelecidas relações entre corpos sucessivamente. Tempo e espaço
não provém da experiência. Sem as condições de espaço/tempo, tudo seria caótico, ou
seja, nada seria compreensível.
Conseguimos ordenar de acordo com o espaço, o tempo, a quantidade e a qualidade. Não
nascemos com os conteúdos, que se originam a partir da experiência, mas a nossa
sensibilidade é inata.
Kant afirma que Newton conseguir chegar ao conhecimento sintético a priori.
Racionalismo com plena relação com o mundo. Dedução e indução.
Em sua obra A crítica da razão pura, Kant questiona: o que posso conhecer? Como devo
agir? Se agir bem, o que posso esperar? O que é o homem? Se sou incapaz de sintetizar
algo por meio da sensibilidade (noção de espaço/tempo), sou incapaz de fazer ciência. O
fenômeno, para Kant, é a síntese da sensibilidade e do racionalismo/razão.
A história não nos chega pela percepção. É preciso sair da percepção/experiência e entrar
no âmbito da racionalidade para depreender o significado histórico. Diante de um
monumento, o indivíduo não experimenta a história. O monumento remete a épocas
passadas, a períodos antecedentes, somente compreensíveis quando acessadas por meio
da razão, do conhecimento.
As 2 primeiras ciências humanas consolidadas são história e psicologia. Outras áreas das
foram conquistando seu espaço paulatinamente, até que se consolidou a noção de ciências
humanas. Kant, no entanto, não consolida as humanas. Para ele, trata-se de especulação,
de metafísica.
Os sucessores do iluminismo, que ainda bebiam dessa fonte, levaram o esforço de
consolidação das humanas adiante. Hegel tentou constituir um sistema filosófico
abrangente. Era preciso pensar o mundo por meio de uma subjetivação e de uma
objetivação. Todos os objetos são construções culturais, que se originam no espírito.
Trata-se de manifestação do sujeito.
A dialética hegeliana: subjetivamos o mundo racionalmente e pelo reconhecimento. A
cultura é uma exteriorização do subjetivo, que se aliena (primeiro pensador a usar o
conceito de alienação), mas que retorna a si. Tudo o que somos capazes de pensar é
delimitado pela cultura em que estamos inseridos.
Marx, por sua vez, afirma que na alienação não nos reconhecemos; que nos perdemos no
processo: o escrevo não reconhece o produto do próprio trabalho como seu. Há uma cisão
irreconciliável em Marx, o que não ocorre em Hegel. Essa cisão é tornar-se incapaz de
reconhecer, de conceituar. Segundo Marx, o indivíduo não reconhece o mundo no
contexto em que está inserido, ao passo que Hegel entende que a alienação é sucedida por
uma acomodação: a consciência vai até o objeto, subjetivando o mundo, e o mundo torna-
se compreensível no seio da cultura, que devolve o significado ao indivíduo. Não
obstante, o método não é uma preocupação central para Hegel.
Como Marx afirma que perdemos a capacidade de conhecer o objeto, como as ciências
humanas podem se constituir? Com base em outras ciências, por ex., como fez Comte ao
recorrer à física para criar uma física social. Recorrer às ciências naturais.