Módulo 4 Cartuchos

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  • Mdulo 4 Cartuchos

    Apresentao do Mdulo

    Cartucho uma palavra de origem italiana (cartoccio) derivada da palavra latina charta,

    que significa papel.

    Um pouco de histria...

    Embora possa parecer que no h relao para as armas de antecarga, os atiradores dos

    sculos XV e XVI, principalmente quando em ao militar, tinham o costume de levar,

    envolta em folha de papel, carga de plvora suficiente para um disparo. Agiam assim com o

    objetivo de facilitar a recarga, agilizando o processo e diminuindo os riscos de uma carga

    excessiva, pois tinham a certeza de estarem utilizando a quantidade adequada de plvora.

    Com o passar do tempo, esses atiradores no carregavam apenas a plvora; passaram a

    colocar junto os projteis, todos embrulhados no mesmo papel.

    Os princpios de facilitar a recarga, acelerar o intervalo de tempo entre os disparos e de

    conter a unidade completa de munio acabaram por dar origem aos cartuchos de armas de

    fogo de nossos dias.

    Um dos primeiros cartuchos a existir foram os cartuchos para os fuzis de agulha ou fuzil

    Dreyse, utilizados na Guerra do Paraguai. Nesse cartucho, embrulhado como num cilindro de

    papel, eram depositados o projtil, em contato com a sua base, a espoleta e, por ltimo, a

    plvora. Quando acontecia o disparo, a agulha percussora furava o papel, atravessava a

    camada de plvora, chocava-se contra a espoleta detonando-a e iniciava a queima da

    plvora.

    Logicamente, no se pode pensar em arma de fogo sem pensar na munio1 empregada

    nessas armas. Existem muitos tipos de cartuchos diferentes, com componentes diferentes e

    que se destinam a empregos distintos. Neste mdulo, voc estudar os cartuchos de armas de

    fogo e seus principais componentes.

    1 A palavra munio empregada como a designao genrica de um conjunto de cartuchos.

  • Objetivos do Mdulo

    Ao final do estudo deste mdulo, voc ser capaz de:

    Identificar os cartuchos de armas de fogo, seus componentes e emprego;

    Compreender a interao dos componentes durante o disparo.

    Estrutura do Mdulo

    Aula 1 Cartuchos

    Aula 2 Projteis de armas de fogo raiadas

    Aula 3 Cartuchos de armas de alma lisa

    Aula 1 Cartuchos

    1.1. O que um cartucho

    Cartucho a designao genrica das unidades de munio utilizadas nas armas de fogo de

    retrocarga. Segundo o Decreto n 3.665, de 20/11/2000, pode-se entender munio como:

    artefato completo, pronto para carregamento e disparo de uma arma, cujo efeito desejado

    pode ser: destruio, iluminao ou ocultamento do alvo; efeito moral sobre pessoal;

    exerccio; manejo; outros efeitos especiais (art. 3, inciso LXIV, anexo).

    1.2. Modelos de cartucho

    Como existem diversos modelos de armas de retrocarga, logicamente existem diversos

    modelos de cartuchos, que variam no formato, na quantidade e tipo de seus componentes.

    Os cartuchos mais conhecidos e empregados hoje em dia so:

    Cartuchos para armas raiadas de percusso central;

    Cartuchos para armas raiadas de percusso radial;

  • Cartuchos para armas de alma lisa de percusso central.

    1.3. Componentes do cartucho e suas funes

    Em quase todas as espcies de

    cartuchos, verifica-se a utilizao de

    alguns componentes essenciais, como

    o estojo, a espoleta, o propelente

    (plvora) e o projtil.

    Nota

    As diferenas entre os cartuchos devem-se ao emprego dado a eles, como acontece com os

    cartuchos de festim, lanadores de granadas que no tm projteis e os cartuchos de manejo

    que no so dotados de espoleta ativa e plvora. Especificamente, para os cartuchos

    destinados s armas de alma lisa, utilizam-se ainda outros componentes, como a bucha e, em

    alguns modelos, discos de papelo com finalidades especficas.

    Estude a seguir as principais funes de cada um desses componentes.

    1.3.1. Estojo

    O estojo o componente que integra os demais elementos do cartucho. Apesar de algumas

    armas de fogo praticamente obsoletas (armas de antecarga) dispensarem o seu uso, trata-se de

    um componente indispensvel s armas modernas. O estojo possibilita que todos os

    componentes necessrios ao disparo fiquem unidos em uma pea, facilitando o manejo da

    arma e acelerando o intervalo em cada disparo. Alm disso, permite a padronizao dos

    projtil

    estojo

    plvora espoleta

    Cartucho

  • cartuchos e determina as dimenses das cmaras onde esses cartuchos so empregados

    Atualmente, a maioria dos estojos construda em metais no ferrosos, principalmente o lato

    (liga de cobre e zinco) dada a facilidade de ser trabalhado (trabalhabilidade), ou seja, pelas

    caractersticas de se expandir, no permitir o escape de gases pelas paredes da cmara e de

    recuperar em parte a forma original aps cessar a presso, facilitando a extrao e permitindo

    a recarga de munio e estojos de alumnio (os cartuchos do tipo BLASER da CCI).

    Nota

    Tambm so encontrados estojos semimetlicos construdos com a base metlica

    (geralmente lato) e o corpo em diversos tipos de materiais, como plsticos (munio de

    treinamento e de espingardas), papelo (espingardas), entre outros.

    Forma do estojo

    A forma do estojo muito importante, pois as armas modernas so construdas de forma a

    aproveitar as suas caractersticas fsicas. Classificam-se os estojos, em relao forma do

    corpo, como:

    Cilndrico O estojo possui dimetro uniforme por toda sua extenso; o caso da

    maioria dos estojos usados em armas de porte, como os cartuchos de calibre .38 SPL,

    .40 S&W e .45 ACP. Alguns fabricantes produzem um ligeiro estreitamento na tera

    parte prxima boca, com o objetivo de garantir a insero do projtil na altura

    correta do estojo. Na prtica, no existe estojo totalmente cilndrico; sempre h uma

    pequena inclinao para facilitar a extrao.

    Cnico ou tronco-cnico O estojo tem o formato do corpo como um segmento de

    cone, com dimetro menor na boca do que na base. um formato de estojo em desuso,

    prprio para alguns rifles antigos como os calibres 8 x 72Rmm, 9,3 x 48Rmm e 7 x

    72Rmm;

    Garrafa O estojo apresenta basicamente dois dimetros, um de maior dimenso

    junto ao aro ou base, o que

    permite conter grande

    quantidade de plvora, seguido

  • de uma reduo (estrangulamento) em formato cnico e de um dimetro menor junto

    boca que facilita a insero de projteis de pequeno dimetro. comumente utilizado

    em cartuchos de fuzis, como o 7,62 x 39mm, 5,56 x 45mm e .308 Winchester.

    Formato da base do estojo

    Outro aspecto importante sobre os estojos refere-se ao formato da base. Ele determina como

    ser a ao do extrator sobre o estojo percutido e facilita o carregamento. A sua forma define

    algum dos pontos de apoio do cartucho na cmara (headspace), o que garante a percusso. Os

    tipos de formato de base mais empregados so:

    Com aro Com ressalto na base (aro ou gola) que permite o travamento do estojo na

    arma, caso do .38 SPL e da maioria dos cartuchos destinados a revlveres;

    Com semiaro Com ressalto de pequenas propores e uma ranhura ou virola para

    encaixe do extrator, como o .32 Winchester Self Loading (Self Loading apenas uma

    referncia indicando que a arma semiautomtica);

    Sem aro A base apresenta o mesmo dimetro do corpo do estojo, tem apenas a

    ranhura ou virola para encaixe do extrator, como a maioria dos calibres de pistola, a

    exemplo do .45 ACP, .40S&W;

    Rebatido A base tem dimetro menor que o corpo do estojo, como o calibre .41

    Action Express.

    Cinturado Apresenta um aro de maior dimetro que a base, situado logo frente

    dela, e empregado em cartuchos com maior energia. Este aro tem por finalidade

    aumentar os pontos de apoio do cartucho na cmara, como o .300 Winchester

    Magnum.

    Tipo de iniciao

    Outra forma de descrevermos um estojo quanto ao tipo de iniciao, que pode ser:

    Fogo circular A mistura detonante colocada no interior do estojo, dentro do aro, e

    detona quando este amassado pelo percursor;

    Fogo central A mistura detonante est disposta em uma espoleta, fixada no centro

  • da base do estojo.

    Nota

    Cabe lembrar que alguns tipos de estojos no foram citados por serem obsoletos, como os de

    papel dos fuzis Dreyse, utilizados pelo Exrcito brasileiro durante a Guerra do Paraguai ou

    outros muito pouco comuns.

    1.3.2 Espoletas

    As espoletas tm por funo iniciar a queima da plvora (propelente). Trata-se basicamente

    de um explosivo e outros componentes depositados no fundo de um pequeno receptculo

    metlico de lato (liga de cobre Cu e zinco Zn), cuja iniciao se d por percusso

    (choque violento), o qual gera a detonao desse explosivo. Na detonao, ocorre a

    transformao abrupta do explosivo em gases, com extraordinria rapidez (velocidade da

    ordem de 5000 m/s), gera calor, chama e elevadas presses, o que ir agir sobre os gros do

    propelente causando agitao aquecimento e ignio.

    Mistura iniciadora

    A mistura iniciadora de uma espoleta para cartucho composta de materiais diversos, com as

    funes especficas de:

    Um explosivo iniciador;

    Materiais oxidantes;

    Materiais redutores;

    Atritante;

    Aglomerante.

    Diversas composies desses materiais so utilizadas por diferentes fabricantes. A

    composio mais comum, utilizada pela Companhia Brasileira de Cartuchos, do incio da

    dcada de 70 at a atualidade, tem por base o estifinato de chumbo (trinitroressorcinato de

    chumbo).

    Composio estifinato de chumbo:

  • Trinitroressorcinato de chumbo;

    Tetrazeno;

    Alumnio em p;

    Trissulfeto de antimnio;

    Nitrato de brio.

    A composio do estifinato de chumbo constitui-se em uma mistura estvel umidade e

    temperatura. Durante o disparo, a ignio da mistura iniciadora produz 40%2 em peso de

    gases e 60% em peso de partculas slidas quentes, liberando CO, CO2, NO, NO2, N2, SO2,

    vapor de gua, xido de chumbo e de brio, vapores de chumbo metlicos, entre outros. A

    composio qumica da mistura iniciadora base de estifinato de chumbo produz

    aproximadamente 300 cm3 de gs por grama de mistura.

    Tipos de espoletas

    Mistura iniciadora nos cartuchos de fogo circular

    Os cartuchos de fogo circular, cujo exemplo mais comum so os cartuchos de calibre .22 LR,

    no possuem uma espoleta como elemento distinto do cartucho, sendo essa a grande diferena

    entre esses cartuchos e os cartuchos de fogo central. Neles a mistura iniciadora depositada

    por um processo de centrifugao na base (orla do estojo). A percusso ocorre no choque do

    percutor contra a orla do estojo, comprimindo-a contra a parede posterior da cmara, na qual o

    cartucho se encontra alojado; isso produz a detonao da massa explosiva e

    consequentement

    e, em funo da

    chama e calor

    gerado, a

    deflagrao do

    propelente.

    2 Pode at parecer pouca a transformao de apenas 40% em gs, mas na queima da plvora o

    percentual apenas de 25 a 30 % e nos motores a exploso no passa de 12%. Sendo o gs

    formado, tem-se o elemento essencial para o funcionamento do motor e acelerao do projtil

    Fonte: Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC)

    (www.cbc.com.br )

  • Espoletas de fogo central

    As espoletas para cartuchos de fogo central so constitudas por um pequeno receptculo de

    lato, semelhante a um copo, denominado de cpsula, com espessura, dureza e tamanho

    compatveis ao tipo de arma e presso gerada pela detonao do explosivo. No interior da

    cpsula, depositada determinada quantidade de explosivos (escorva ou mistura iniciadora)

    que varia em funo das caractersticas balsticas do cartucho e conforme a presso gerada

    pela detonao deste, durante a percusso.

    A percusso acontece em funo do

    choque violento entre dois corpos: o 1, o

    percutor, parte integrante da arma, e o 2,

    a bigorna. A bigorna uma pea metlica,

    geralmente confeccionada em lato,

    manufaturada atravs de estamparia, cuja

    funo garantir a percusso.

    Fonte: CBC

    Fonte: CBC

    A bigorna, por ser uma pea independente, pode

    estar montada na espoleta (espoletas do tipo

    Boxer) ou encontrar-se montada no estojo

    (espoletas do tipo Berdan). Como a bigorna pode

    estar montada quer no estojo, quer na espoleta, a

    transmisso para o interior do estojo onde se

    encontram o propelente, gases, chama e calor

    resultantes da detonao da mistura iniciadora se

    d atravs de orifcios chamados de eventos. Os

    eventos nas espoletas do tipo Boxer so um nico

    orifcio central de maior dimetro e nas espoletas

    Berdan os eventos podem ser constitudos em dois

    (grande maioria dos casos), 4 ou mais.

    As figuras representativas dos tipos de espoletas Boxer e Berdan foram extradas do site da Companhia

    Brasileira de Cartuchos.

  • Aps a transferncia do explosivo para o fundo da cpsula da espoleta, colocada uma fina

    lmina de papel que permite a compresso do explosivo, acarretando uma distribuio

    uniforme no fundo da cpsula, sem que haja contato da puno de compresso e o material

    explosivo.

    1.3.3 Propelentes (plvora)

    Propelentes so substncias que queimam de forma progressiva. Pela caracterstica de

    queimar progressivamente, as plvoras so chamadas de propelentes.

    As plvoras so misturas ou compostos qumicos que, quando queimam, geram em

    velocidade muito alta (da ordem de 400m/s) uma grande quantidade de gases. Obviamente, os

    gases resultantes dessa queima, pela caracterstica da expansividade (inerente aos gases),

    ocupam um volume muito maior que o dos slidos que o geraram, acarretando um aumento

    de presso.

    No estudo da balstica e das munies, como a plvora est acondicionada dentro de um

    cartucho, esse aumento de presso pode at acarretar a exploso da arma, o que s no ocorre

    por dois fatores:

    Fator 1 A queima da plvora no instantnea. As plvoras possuem uma

    velocidade de queima muito alta, mas o tempo necessrio para a sua queima permite um

    aumento da presso de forma gradual. O tempo de queima ser um dos principais critrios

    para definir em que tipo de arma ser empregada determinada plvora (quanto menor o

    comprimento do cano, mais veloz deve ser a sua queima).

    Fator 2 A presso exercida em todas as direes (princpio de Pascal) e, medida

    que a presso aumenta, ela suplanta a fora de engastamento do projtil ao estojo, o que

    propicia o deslocamento do projtil atravs do cano. Com o aumento gradual do volume de

    confinamento do propelente em combusto, a presso gerada diminui e mantm-se dentro dos

    limites para os quais a arma foi projetada. (A presso inversamente proporcional ao

    volume.)

    O projtil acelerado durante todo o seu percurso pelo cano por causa da presso exercida

    pela expansividade dos gases resultantes da queima do propelente. A presso atinge um valor

    mximo, chamado de pico de presso, a partir do qual comea a decair at a presso

  • atmosfrica local, aps a sada do projtil pelo cano.

    A figura ao lado representa o grfico de

    disparo de um cartucho de calibre .30

    Carbine. Na primeira curva do grfico,

    temos a presso exercida versus o

    comprimento do cano. Note que logo aps

    o disparo, a presso na cmara da ordem

    de 45.000 libras por polegada ao

    quadrado, ou seja, em torno de 1.500

    vezes a presso mais usada em pneus de

    automveis. Quando o projtil j se

    deslocou at a sada do provete de 25

    polegadas de comprimento, a presso de

    cerca de 12.000 libras por polegada ao

    quadrado, e a velocidade do projtil (vista

    na outra curva do grfico) de 2.700 ps

    por segundo.

    Nota

    Como os comprimentos dos canos variam de forma significativa das armas curtas raiadas para

    as armas longas raiadas, o controle de tempo de queima demasiadamente importante,

    porque, ao possuir maior ou menor espao de cano para a queima do propelente, a velocidade

    de queima fundamental para fornecer as caractersticas balsticas de velocidade e energia

    cintica ao projtil, mantendo os valores de presso de projeto da arma dentro dos limites.

    Composio qumica das plvoras.

    Existem dois tipos bsicos de plvoras:

    Tipo 1 As negras ou com fumaa, que so

    basicamente a mistura de 75% de nitrato de

    Plvora negra

  • potssio, 15% de carvo vegetal e 10% de enxofre.

    Nota

    A proporo acima apresenta pequenas diferenas dependendo dos fabricantes. O controle da

    velocidade de queima nesse tipo de propelente exercido em funo do tamanho dos gros, e

    a sua produo destinada a armas de antecarga, a fogos de artifcios ou a outros fins

    pirotcnicos, no sendo utilizada em cartuchos modernos, dada a necessidade de presses

    estabelecidas pela SAAMI para os calibres e demais caractersticas balsticas. No disparo,

    esse tipo de plvora gera uma grande quantidade de fumaa e grande quantidade de resduos

    slidos, que podem chegar at a 55% do peso de plvora original.

    Tipo 2 As plvoras qumicas ou plvoras sem

    fumaa so assim chamadas dada a pequena

    quantidade de fumaa gerada na sua queima

    quando comparadas s plvoras negras. Podem ser

    dividas em dois grandes grupos:

    Plvora propelente de base simples Constituda basicamente por nitrocelulose e

    componentes qumicos para sua estabilidade e controle de velocidade de deflagrao.

    Plvora propelente base dupla Apresenta como principais compostos ativos a

    nitrocelulose e nitroglicerina, alm de componentes qumicos para sua estabilidade e

    controle de velocidade de deflagrao.

    Plvora de Base

    Simples

  • Aula 2 Projteis de armas de fogo raiadas

    2.1. O que um projtil

    Projtil, pela conceituao fsica, consiste em qualquer slido que pode ser ou foi lanado

    abandonado ao seu movimento aps ter recebido um impulso inicial.

    Para a balstica forense, o projtil ...

    A parte do cartucho que foi ou que pode ser lanada atravs do cano, sob a ao dos gases

    resultantes da queima do propelente.

    Em todo o disparo, o trabalho realizado pela munio entendendo-se por trabalho a

    diferena de energia cintica transmitida , que resulta em destruio ou dano tecidual,

    devido ao do projtil sobre o suporte do disparo.

    Os projteis modernos, destinados a cartuchos de projteis nicos para armas raiadas,

    apresentam seu dimetro ligeiramente maior que o dimetro do cano da arma. Dessa forma,

    impedem o escape de gases e, ao se engajarem com o raiamento, adquirem o movimento

    rotacional, que lhes garante maior estabilidade, maior alcance mximo e til e uma melhor

    performance aerodinmica ante a resistncia do ar.

    Os projteis podem ser divididos em trs grupos distintos:

    Os projteis de chumbo (projteis nus);

    Os projteis jaquetados ou projteis encamisados (total ou parcialmente);

    Os projteis especiais.

    A seguir, estude sobre cada um deles.

    2.1. Projteis de chumbo

    O chumbo, por ser barato, de fcil obteno, alto peso especfico, baixo ponto de fuso, fcil

    trabalhabilidade e grande maleabilidade, o elemento ideal para os projteis de arma de fogo,

  • tendo sido o material utilizado desde os primeiros informes de disparos de armas de fogo at

    os dias de hoje.

    O projtil do tipo esfera foi inicialmente a escolha natural, por ser a forma que apresentava, a

    princpio, a menor perda de gases. Porm devido a problemas com o alcance til 3e a

    resistncia, eles foram gradativamente sendo substitudos pelos projteis de formato

    pontiagudo, semelhantes s setas, nos cartuchos destinados a armas raiadas. Em sua evoluo,

    procurou-se resolver problemas quanto a sua trajetria, resistncia do ar, movimentos

    errticos dos projteis e problemas que advinham das caractersticas dos materiais, tais como

    a vedao correta dos gases da plvora e a diminuio do atrito com o cano.

    O moderno projtil de liga de chumbo isto , chumbo endurecido com antimnio e/ou

    estanho e contm todos os elementos de sua evoluo.

    Um projtil fundamentalmente dividido em trs partes:

    PONTA CORPO BASE

    Quanto ponta os projteis, verificam-se os seguintes formatos mais comuns: ogival, canto

    vivo, semicanto vivo, cone truncado e ponta plana cada um com objetivos especficos.

    Os corpos dos projteis destinados a armas raiadas so sempre cilndricos e recebem uma

    graxa lubrificante colocada em canaletas apropriadas ou em reas recartilhadas e aplicadas

    por presso, banho ou por spray; a funo dessa graxa diminuir a possibilidade de

    chumbamento do cano. A parte cilndrica a responsvel pelo engajamento dos projteis

    com o raiamento do cano.

    Embora os principais componentes dos projteis de chumbo sejam o prprio chumbo, o

    antimnio e o estanho, os projteis de chumbo so fabricados em diversas ligas, de diferentes

    durezas e, consequentemente, de diferentes pontos de fuso, podendo ser produzidos atravs

    de dois processos: estampagem ou fuso.

    Nota

    A estampagem um processo de fabricao no qual o projtil produzido atravs de corte e

    deformaes em operao de prensagem a frio. Devido s suas caractersticas, esse processo

    de fabricao apresenta vantagens, tais como: bom acabamento, custo reduzido e alta

    3 Os projteis esfricos utilizados no incio apresentavam alcance til de cerca de 50 metros

  • produo. Os projteis frutos desse processo, por causa do encruamento que sofrem, so mais

    resistentes.

    2.2. Projteis encamisados

    So projteis construdos por um ncleo recoberto por uma capa externa chamada camisa ou

    jaqueta. A camisa normalmente fabricada com ligas metlicas como:

    cobre e nquel;

    cobre, nquel e zinco;

    cobre e zinco;

    cobre, zinco e estanho ou ao.

    O ncleo constitudo geralmente de chumbo praticamente puro, conferindo o peso

    necessrio e um bom desempenho balstico.

    Os projteis encamisados podem ter sua capa externa aberta na base e fechada na ponta

    (projteis slidos) ou fechada na base e aberta na ponta (projteis expansivos). Nos projteis

    slidos, destaca-se sua maior capacidade de penetrao e alcance. Os projteis expansivos

    destinam-se defesa pessoal, pois, ao atingir um alvo, so capazes de se deformar e aumentar

    seu dimetro, obtendo maior dissipao da energia cintica e, logo, maior capacidade lesiva.

    Nota

    Esse tipo de projtil teve seu uso proibido para fins militares pela Conveno de Haia em

    1899.

    Os projteis expansivos podem ser classificados em totalmente encamisados (a camisa

    recobre todo o corpo do projtil) e semiencamisados (a camisa recobre parcialmente o corpo,

    deixando sua parte posterior exposta). Os tipos de pontas so basicamente os mesmos que os

    anteriormente citados para os projteis de chumbo, com a adio de projteis de ponta oca e

    outras formas de projteis expansivos.

    2.3. Projteis especiais

    So projteis desenvolvidos com finalidades especficas, como os projteis traantes,

  • incendirios, explosivos, projteis de borracha para controle de tumultos, entre outros.

    Considerando a grande quantidade de projteis especiais e a impossibilidade prtica de

    relacionar todos eles, voc estudar, a seguir, apenas alguns:

    Glaser Este projtil, alm de apresentar reduzida possibilidade de ricochete, possui uma

    grande capacidade de transferncia de energia cintica e remota possibilidade de transfixao,

    o que lhe garante um grande poder traumtico. constitudo de camisa metlica, em cujo

    interior so colocados um grande nmero de balins, e selado com teflon.

    Nyclad Trata-se de um ncleo revestido com nilon. A associao do nilon ao chumbo

    garante, em primeiro lugar, maior expanso s pontas do que os outros tipos de revestimentos

    comumente utilizados nas camisas convencionais. Alm desse fato, garante um menor atrito

    do projtil com o cano e menor quantidade de partculas de chumbo no ar.

    Bat Este projtil associa uma pequena massa a uma altssima velocidade e uma grande

    deformao com o nico intuito de apresentar uma ao traumtica instantnea.

    Armour Piercing e Metal Piercing Trata-se de projteis perfurantes, constitudos com

    ncleos especiais para garantir a perfurao, em muitos casos, at dos equipamentos de

    proteo balstica.

    PMC Ultra Mag Esse projtil constitudo unicamente de um cilindro oco de bronze, o

    que, associado elevada velocidade e energia cintica que apresenta, resulta em uma grande

    cavidade temporria e permanente depois de seu impacto contra tecidos biolgicos.

    Black Talon Esse projtil, alm da expansividade normal de seu ncleo em forma de

    cogumelo , comum maioria dos projteis expansivos, tem a sua jaqueta rompida em locais

    preestabelecidos, gerando pontas afiladas e cortantes capazes de causar um grande dano

    tecidual e dilaceraes.

    Compound Plastic So projteis com pequena massa, da ordem de 2,92 gramas (45 grains)

    para os calibres .38 comuns, resultando em uma munio de alta velocidade, que, a distncias

    menores, apresenta um grande dano tecidual, em funo da energia cintica resultante da

    elevada velocidade.

    Esses, entre muitos outros, se constituem em alguns exemplos de projteis especiais, com fins

    especficos.

  • Muitos projteis

    apresentam um cdigo de

    cores para definir a sua

    utilizao, principalmente

    nos fuzis e metralhadoras.

    Fonte: CBC

    Esse sistema permite ao atirador o emprego adequado da

    munio para o fim esperado. Esse cdigo abrange desde

    as munies comuns at o caso das munies perfurantes

    (fotografia ao lado), armour piercing (AP), traante,

    incendiria, munio de ponta mais pesada e munies

    para disparos de preciso (ETPT Match).

    Aula 3 Cartuchos de armas de alma lisa

    3.1. Elementos essenciais dos cartuchos

    Os cartuchos destinados a armas de alma lisa

    apresentam os seguintes elementos essenciais:

    1. Estojo;

    2. Espoleta;

    3. Plvora;

    4. Projteis (projteis singulares, balins ou projteis

    especiais);

    5. Buchas e discos de papelo.

    A seguir, estude sobre cada um deles.

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  • 3.1.1. Estojo

    Os estojos destinados s armas de alma lisa so confeccionados em diversos materiais, como

    metal (normalmente lato), plstico ou papelo. Esses dois ltimos geralmente apresentam

    uma base metlica.

    Os estojos em papelo esto em desuso, pois a absoro de umidade gera um aumento de

    volume, dificultando a sua introduo na cmara. Os estojos metlicos, devido ao custo de

    produo, no so empregados na confeco de cartuchos comerciais, sendo utilizados na

    recarga artesanal de munio. Os estojos confeccionados em tubos de plstico, por no

    absorverem umidade, por permitirem um considervel nmero de recargas e um melhor

    fechamento, so os mais empregados atualmente.

    Normalmente os estojos confeccionados em tubo de plstico ou papelo apresentam uma base

    metlica (alta ou baixa), com a funo de aumentar a resistncia e principalmente de formar o

    aro de travamento da cmara (headspace). Nesses estojos, empregada uma bucha interna,

    confeccionada em papel ou plstico para afixar o tubo base.

    Foto1 Foto 2 O fechamento dos estojos

    pode ser do tipo orlado (foto

    1), ou em estrela de 6 ou 8

    pontas (foto 2).

    Fonte: CBC

    Nos cartuchos dotados de projteis singulares (balote) o fechamento orlado. Para a

    utilizao do fechamento orlado em cartuchos com carga de balins, necessrio o emprego de

    um disco de papelo sobre essa carga, o que no acontece para o fechamento em estrela.

  • 3.1.2. Espoletas

    As espoletas tm por funo a iniciao do propelente (plvora). Durante o acionamento do

    gatilho, o percutor comprime a mistura iniciadora contra a bigorna, causando a sua detonao,

    o que gera calor, chama e gases, que passam para o interior do estojo onde se encontra a

    plvora atravs de orifcios chamados eventos. A ao do calor, chama e gases sobre os gros

    do propelente agitam, aquecem e levam queima do propelente, o que ir gerar uma grande

    quantidade de gases e a expulso da carga de balins.

    Fonte: CBC

    As espoletas utilizadas em cartuchos destinados a armas

    de alma lisa so do tipo bateria, possuem um copo

    externo, no qual se aloja a bigorna, e a mistura iniciadora

    contida em um recipiente em formato de copo. A

    utilizao desse copo externo deve-se pouca resistncia

    da base metlica do estojo e da bucha interna; dessa forma

    garante-se a percusso e uma montagem adequada.

    Nos estojos de cartuchos metlicos utilizados para recarga artesanal, as espoletas empregadas

    so do tipo Berdan.

    As espingardas apresentam pouqussima resistncia ao deslocamento dos projteis (singular

    ou balins) quando comparadas s armas de alma raiada. A inexistncia de raiamento faz com

    que os projeteis abandonem o cano rapidamente. Esse fato, associado a maior ou menor

    capacidade de expanso das buchas, torna obrigatria a utilizao de plvoras de queima

    rpida nos cartuchos para armas de alma lisa, do mesmo modo daquelas utilizadas em armas

    curtas.

    3.1.3. Plvoras

    As plvoras utilizadas nos cartuchos comerciais so de base simples (nitrocelulose), em

    formato de disco, a exemplo das plvoras nos

    216 e 219 da CBC. Essas mesmas plvoras so

    as utilizadas em revlveres.

  • Nota

    A empresa Condor utiliza plvora negra na produo de cartuchos dotados de projteis de

    borracha, de carga lacrimognea e de efeito moral.

    As plvoras utilizadas em espingardas apresentam pequenos valores de densidade

    gravimtrica4 e tambm menor tempo de queima.

    Nota

    As plvoras que apresentam maior densidade gravimtrica so as que apresentam maior

    tempo de queima (queima mais lenta). So destinadas s armas longas raiadas pela

    necessidade de maior espao para sua queima. Essas armas permitem a colocao de maior

    quantidade de propelente (em peso) para um mesmo volume do estojo, de forma que se

    possam atingir as altas velocidades previstas para os projteis dessas armas. Quando, por

    exemplo, acontece um disparo de espingarda e a vedao no boa, faz-se necessrio utilizar

    plvoras de queima rpida e, logo, de menor densidade gravimtrica.

    3.1.4. Projteis ou balins

    Os projteis ou balins (chumbos) utilizados para carregar cartuchos variam normalmente de

    1,25 a 5,50mm de dimetro, sendo usados, ainda, balotes: um nico projtil de chumbo de

    dimetro equivalente ao calibre da espingarda.

    Os balins so designados por nmeros ou letras e cada nmero ou letra indica um dimetro

    nominal especfico. A numerao arbitrria e no segue o mesmo critrio nos diversos

    pases. O critrio adotado pela Companhia Brasileira de Cartuchos o mostrado a seguir:

    4 o parmetro que indica qual a quantidade de plvora em peso que pode ser colocada em uma mesma unidade

    de volume

  • Fonte: CBC

    3.1.5. Buchas

    As buchas apresentam a funo de, ao se

    expandirem, selarem o cano, no permitindo o escape

    de gases oriundos da queima da plvora e fazendo,

    dessa forma, com que a distribuio da energia seja

    uniforme sobre a carga de balins. Realizam ainda a

    tarefa de manter a presso em nvel adequado, tanto

    na cmara quanto no cano durante o deslocamento da

    carga de balins.

    As buchas so constitudas de diversos materiais,

    como papel, papelo, cortia, serragem e parafina (prensadas), feltro ou buchas pneumticas

    (plsticas). comum a utilizao de discos de papelo na utilizao de buchas prensadas para

    separar a bucha dos gros de plvora e ainda para separ-la da carga de balins, ou com a

    funo de tampa nos cartuchos de fechamento orlado.

    As buchas e os discos de papelo, quando encontrados em locais de crime ou na rea

    lesionada, podem definir o calibre da arma utilizada.

    3.2. Vida til dos cartuchos guardados na embalagem original

    Segundo a Companhia Brasileira de Cartuchos, a vida til de cartuchos marca CBC,

    armazenados em sua embalagem original, de cerca de 5 (cinco) anos. Isso se a munio for

    estocada em condies adequadas, ou seja, em local bem ventilado, protegido de raios diretos

  • do sol e temperatura ambiental normal (20 a 25C). Se a temperatura for mantida uniforme,

    ao redor de 15C, a vida til dos cartuchos CBC pode ser prolongada de 3 a 4 vezes. A

    umidade relativa do ar ideal para a conservao dos cartuchos de 40 a 60%.

    Aps os cinco anos, inicia-se um processo lento de decomposio da plvora, resultando

    numa deteriorao, tambm lenta, mas progressiva, das caractersticas balsticas da munio.

    Na maioria das munies militares, o cartucho considerado ainda em condies de uso,

    mesmo que a velocidade mdia de uma srie de 10 tiros esteja 5% abaixo do valor mdio de

    fabricao. Esse percentual aumentado para munies destinadas ao uso civil, cujos critrios

    de avaliao no so to rgidos.

    Finalizando...

    Neste mdulo, voc estudou que:

    Cartucho a designao genrica das unidades de munio utilizadas nas armas de

    fogo de retrocarga. Segundo o Decreto n 3.665, de 20/11/2000, pode-se entender

    munio como: artefato completo, pronto para carregamento e disparo de uma arma,

    cujo efeito desejado pode ser: destruio, iluminao ou ocultamento do alvo; efeito

    moral sobre pessoal; exerccio; manejo; outros efeitos especiais (art. 3, inciso LXIV,

    anexo);

    Os cartuchos mais conhecidos e empregados hoje em dia so: cartuchos para armas

    raiadas de percusso central, cartuchos para armas raiadas de percusso radial e

    cartuchos para armas de alma lisa de percusso central;

    Em quase todas as espcies de cartuchos, verifica-se a utilizao de alguns

    componentes essenciais como o estojo, a espoleta, o propelente (plvora) e o projtil;

    Para a balstica forense, o projtil a parte do cartucho que foi ou que pode ser

    lanada atravs do cano sob a ao dos gases resultantes da queima do propelente;

    Os projteis podem ser divididos em trs grupos distintos: os projteis de chumbo

    (projteis nus), os projteis jaquetados ou projteis encamisados (total ou

    parcialmente) e os projteis especiais;

    Os cartuchos destinados a armas de alma lisa apresentam os seguintes elementos

    essenciais: estojo, espoleta, plvora, projteis (projteis singulares, balins ou projteis

  • especiais) e buchas e discos de papelo.

    papel, papelo, cortia, prensadas (serragem e parafina), feltro ou buchas pneumticas

    (plsticas).