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Na Finlândia, competência toma lugar do conteúdo Redesenho do sistema educacional coloca projetos transversais à frente de disciplinas. Leia entrevista com secretária de Helsinque 26/03/15 // ESCOLA // ESPAÇO PÚBLICO // FAMÍLIA // GOVERNO POR VINÍCIUS DE OLIVEIRA Experimentar e não ter medo de falhar é um lema repetido com certa frequência por empreendedores. Na educação, até pelo número de envolvidos diretamente no processo, a estratégia costuma ser deixada de lado. Não na Finlândia. Apesar de figurar entre os 10 melhores em ciências e leitura no PISA (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Alunos, exame realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o país começa a pôr em prática uma nova maneira de ensinar, na qual disciplinas e o conteúdo perdem espaço para competências e alunos ganham papel ativo na avaliação. Leia também: Para além do ‘na Finlândia é fácil, quero ver no Brasil’ Na última semana, uma reportagem do jornal britânico The Independenttrouxe pistas sobre o novo plano finlandês: tópicos, como “mudança climática” e “centenário da independência da Finlândia” começam a receber mais ênfase do que a transmissão de conteúdo por meio da rigidez das disciplinas. Em um passo além do que hoje acontece por no mínimo dois períodos ao ano nas chamadas “aulas de fenômenos”, a grade horária se torna mais flexível para que o estudante entre em contato com conceitos de economia, história, geografia e línguas estrangeiras de modo transversal com a ajuda de temas do cotidiano. A partir de 2016, novas diretrizes curriculares vão induzir a implantação de aulas e práticas colaborativas com diversos professores trabalhando simultaneamente com um mesmo grupo

modelos pedagógicos

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modelo pedagógico na Finlândiafonte http://porvir.org/porfazer/na-finlandia-competencia-toma-lugar-conteudo/20150326

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Na Finlndia, competncia toma lugar do contedoRedesenho do sistema educacional coloca projetos transversais frente de disciplinas. Leia entrevista com secretria de Helsinque26/03/15 //ESCOLA//ESPAO PBLICO//FAMLIA//GOVERNOPOR VINCIUS DE OLIVEIRAExperimentar e no ter medo de falhar um lema repetido com certa frequncia por empreendedores. Na educao, at pelo nmero de envolvidos diretamente no processo, a estratgia costuma ser deixada de lado. No na Finlndia. Apesar de figurar entre os 10 melhores em cincias e leitura no PISA (sigla em ingls para Programa Internacional de Avaliao de Alunos, exame realizado pela Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico), o pas comea a pr em prtica uma nova maneira de ensinar, na qual disciplinas e o contedo perdem espao para competncias e alunos ganham papel ativo na avaliao.Leia tambm:Para alm do na Finlndia fcil, quero ver no BrasilNa ltima semana, uma reportagem dojornal britnico The Independenttrouxe pistas sobre o novo plano finlands: tpicos, como mudana climtica e centenrio da independncia da Finlndia comeam a receber mais nfase do que a transmisso de contedo por meio da rigidez das disciplinas. Em um passo alm do que hoje acontece por no mnimo dois perodos ao ano nas chamadas aulas de fenmenos, a grade horria se torna mais flexvel para que o estudante entre em contato com conceitos de economia, histria, geografia e lnguas estrangeiras de modo transversal com a ajuda de temas do cotidiano. A partir de 2016, novas diretrizes curriculares vo induzir a implantao de aulas e prticas colaborativas com diversos professores trabalhando simultaneamente com um mesmo grupo de alunos. Na capital do pas, Helsinque, 10 escolas j aplicam essa metodologia, enquanto outras do os primeiros passos.Crdito: Photo KR / Fotolia.comPara saber mais sobre as mudanas em curso, Porvir conversou com Marjo Kyllnen, secretria de educao da cidade, a maior rede do pas, com 198 escolas, 36.000 alunos e 3.000 professores. Kyllnen explica que o plano mudar o foco, sair do ensino tradicional que forma indivduos prontos para obedecer e partir para uma soluo inovadora que ajude no progresso da sociedade finlandesa. A representante de Helsinque detalha ainda mudanas no modo de avaliar professores, que passariam a ter feedback da prpria classe. Medo de dar errado? Eu no tenho medo. Esse novo jeito de ensinar permite resultados muito melhores em diferentes reas, porque voc passa a aprender sobre determinado tema para a vida e no somente para a escola. Leia a entrevista abaixo:No podemos sentar e ficar s esperando e, sim, trabalhar no redesenho do sistema educativoPorvir Por que vocs esto fazendo essas mudanas agora?Marjo Kyllnen -Precisamos mudar a maneira de ensinar e o trabalho que feito dentro da sala de aula. Claro, ainda necessrio conhecimento em matemtica e cincias, mas agora o foco garantir s crianas as habilidades necessrias para a sociedade do futuro. O modo tradicional de ensino foi feito para a era industrial, com todos os trabalhadores fazendo a mesma coisa e se mostrando obedientes, mas para o amanh e para o futuro necessrio fazer diferente e desenvolver habilidades individuais e, ao mesmo tempo, demonstrar colaborao, capacidade de inovar, ter coragem para fracassar e encontrar novos modos de fazer as coisas. por isso que acredito que a Finlndia ocupa a parte de cima de rankings como o PISA (sigla em ingls para Programa Internacional de Avaliao de Alunos) . No podemos sentar e ficar s esperando e, sim, trabalhar no redesenho do sistema educativo.Porvir Como as mudanas tm sido implementadas?Kyllnen Quando falamos de Helsinki, nos referimos a dez escolas que adotaram esse tipo mais abrangente da metodologia, com aulas de fenmenos substituindo de modo abrangente as disciplinas no currculo. A grande maioria, no entanto, j tem realizado um trabalho experimental: o critrio mnimo que cada estudante participe em dois processos a cada ano letivo, da primeira nona srie [perodo que compreende a educao obrigatria]. Esse trabalho deve durar pelo menos duas semanas e envolver diferentes disciplinas. Quando levamos esse assunto s escolas, falamos sobre o que muda no dia a dia, do papel mais ativo dos alunos, de como o contedo no to importante quanto se pensa e, principalmente, para que os lderes [das escolas] no tenham medo de falhar, porque quando se comea algo novo, no se sabe quais sero os resultados.Porvir Como vocs preveem o impacto dessas mudanas em exames internacionais como o PISA?KyllnenUma parte da resposta que depende do que o PISA vai avaliar. Se continuar a verificar o aprendizado de habilidades do dia a dia, penso que continuaremos em boa posio no ranking. Se quiserem acompanhar conhecimento em matemtica, tudo bem, no vamos deixar de lado essas habilidades bsicas. S que faremos isso de um jeito diferente e nosso objetivo que os resultados em escala global nos permitam ficar entre as dez primeiras posies e, por que no, na liderana [risos]. Eu no tenho medo. Esse novo jeito de ensinar permite resultados muito melhores em diferentes reas, porque voc passa a aprender sobre determinado tema para a vida e no somente para a escola.Porvir Existe alguma data para que todas as escolas sigam anova metodologia em seu nvel mais amplo?Kyllnen No temos um prazo. Estamos discutindo e reimaginando a educao h anos e agora a proposta ficou suficiente madura. Minha experincia mostra que quando o professor aprende a desenhar essas aulas de fenmenos, ele no quer voltar para o modo tradicional de ensino. Mesmo quando est sozinho, ensinar matemtica de um jeito diferente o mais importante, porque alunos ficam mais motivados e tm melhor desempenho. Estamos dando pequenos passos e, em agosto de 2016, um novo currculo ser implementado e comearemos a ensinar a partir dele. Sei que temos mais escolas que planejam adotar um currculo baseado em fenmenos para todas suas atividades. No momento temos dez, mas a maioria comea a fazer alguma coisa.Quando a informao vem do cho da escola, os professores se convencem de que possvel e ficam mais motivadosPorvir Como o trabalho para convencer professores a mudar sua filosofia de trabalho?Kyllnen Essa uma questo que tambm tem sido trabalhada h algum tempo. Alm de responsvel pela educao em Helsinque, tambm sou pesquisadora e fiz minha tese de PhD sobre liderana escolar. A meu ver, os principais agentes de mudana so os lderes escolares. Em 2005, adotamos um nova organizao em todas as escolas: temos um grupo formado por diretor, vice-diretor e, abaixo deles, lderes de equipe. Ao mesmo tempo, existe um grupo de 50 professores-tutores, supervisionado por especialistas do meu departamento, que trabalham em sala de aula e ainda fazem um trabalho de desenvolvimento profissional promovido pelo municpio. Eles vo at as escolas para dar exemplo de como implementar as aulas de fenmenos. Ns fazemos assim porque eles podem dizer Eu j fiz isso na aula e funciona dessa maneira, estas so as dificuldades e desafios e no fica parecendo que o nvel mais alto da hierarquia dando ordens. Quando a informao vem do cho da escola, os professores se convencem de que possvel e ficam mais motivados.Porvir E qual a opinio dos pais dos alunos?Kyllnen Na Finlndia, temos o privilgio de ter uma sociedade que valoriza a educao e os professores. Existem algumas escolas que esto dando apenas os primeiros passos e outras muito avanadas nessa reforma de suas rotinas. A resposta dos pais, no entanto, muito satisfatria porque seus filhos esto verdadeiramente motivados.Porvir Que tipos de tpicos os alunos vo trabalhar?Kyllnen A base curricular comum da Finlndia permite autoridade local decidir os rumos da educao e a autoridade nacional d apenas as diretrizes. Antes das aulas de fenmenos, professores e tutores se envolvem no planejamento para escolher as disciplinas, objetivos e contedos que sero trabalhados. A palavra final fica por conta dasescolas. No obrigamos a fazer isso ou aquilo. At mesmo os alunos podem definir quais sero os tpicos do currculo, pois podem aprender um mesmo contedo com a ajuda de diferentes tpicos. Ento, no h necessidade que a autoridade municipal defina o que ser visto na sala de aula.Porvir Falando um pouco mais sobre novas maneiras de ver o aprendizado, a Frana discute abolir notas de avaliao. Vocs pensam em fazer algo parecido?Kyllnen Na Finlndia no fazemos ranking de escolas. Em vez resultados individuais, pensamos no processo de aprendizagem. Uma das principais maneiras de se fazer isso torn-lo mais perceptvel,orientar estudantes e dizer a eles em quais reas esto bem, quais so suas dificuldades e como podem resolv-las. Enfatizamos o processo, no o resultado em si. Esse nosso principal conceito de avaliao. Claro, no final de cada ano escolar, eles recebem suas notas para saber em que nvel esto, mas no para se comparar com os colegas, e simpara entenderse os objetivos traados no incio das aulas foram cumpridos. Como eles podem criar um plano individual de estudos, os objetivos so diferentes daqueles dos colegas. Nossoethospara avaliao bem singular e vemos esse processo como oportunidade de guiar a aprendizagem. Deve-se dar aos alunos meios para autovaliao e o professor no deve ser o nico responsvel por ela, que tambm deve acontecer entre pares, por meio de feedback entre colegas. Alm disso, vemos que importante que o professor seja avaliado pelos pupilos e no s por seus chefes e o que buscamos enfatizar para o futuro.Fonte: http://porvir.org/porfazer/na-finlandia-competencia-toma-lugar-conteudo/20150326