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ISBN: 978-85-63473-35-6
Mobilidade pendular na região metropolitana de Belém: os distritos de
Benfica, Murinim e Santa Maria inseridos no contexto metropolitano
Pendular mobility in the metropolitan area of Belém: the districts of
Benfica, Murinim and Santa Maria inserted in the metropolitan context
Alex Baima Amaral Júnior
Graduando em Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade da Amazônia, Bacharel em
Geografia pela Universidade Federal do Pará
Tainara Carvalho Garcia Miranda Filgueiras
Graduanda em Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal do Pará, membro do Programa
de Ensino Tutorial
Tiago Barreto de Andrade Costa
Professor da Faculdade de Geografia e Cartografia da Universidade Federal do Pará
Resumo
Este estudo resultou da necessidade de se investigar mobilidade populacional dentro da Região
metropolitana de Belém, para que se possam entender as movimentações diárias das populações que
se deslocam de lugares distantes em direção ao centro da metrópole, com ênfase na inserção dos
moradores de Benfica dentro da Região metropolitana. O objetivo analisar as dificuldades
encontradas pelos moradores de três distritos administrativos do município de Benevides, no estado
do Pará, na realização da mobilidade pendular. Em termos metodológicos a presente pesquisa se
baseia num levantamento bibliográfico acerca da formação da região metropolitana de Belém, bem
como a formação dos distritos de Benfica, Murinim e Santa Maria. A pesquisa consistiu em
referencial teórico a respeito da temática espacial urbana juntamente com todos os agentes que
produzem o espaço urbano, seguida de contextualização local e análise de dados obtidos através de
pesquisa de campo. A pesquisa de campo decorreu de aplicação de questionário, que após serem
analisados resultaram na inferência de que as mudanças ocorridas após a construção da rodovia BR-
316 impulsionaram ao aumento do fluxo de pessoas diário entre Belém e as demais cidades da região
metropolitana de Belém.
Palavras-chave: Espaço urbano; Mobilidade populacional; Centro; Região Metropolitana de
Belém; Benfica.
Abstract
This study resulted from the need to investigate the population mobility within the metropolitan area
of Belém, to be able to understand the daily movements of the populations that move from distant
places towards the center of the metropolis, with emphasis on the insertion of residents of Benfica,
located within the metropolitan region. the objective was to analyze the difficulties encountered by
the residents of three administrative districts of the municipality of Benevides, in the state of Pará,
in the accomplishment of the pendular mobility. In methodological terms the present research is
ISBN: 978-85-63473-35-6
based on a bibliographical survey about the formation of the metropolitan area of Belém, as well as
the formation of the districts of Benfica, Murinim and Santa Maria. The research consisted of a
theoretical reference regarding the urban spatial theme along with all the agents that produce the
urban space, followed by local contextualization and analysis of data obtained through field
research. The field research was carried out by applying a questionnaire, which after being analyzed
resulted in the inference that the changes that occurred after the construction of the BR-316 highway
drove the increase in the daily flow of people between Belém and other cities in the metropolitan
area of Belém.
Keywords: Urban space; Mobility; Center; Belém Metropolitan Region; Benfica
1. INTRODUÇÃO
A mobilidade diária da população ou mobilidade pendular, pode ser definida como o
deslocamento realizado por determinada população para ter acesso a bens, recursos, atividades e
infraestrutura que sejam mínimos ou inexistentes no seu local de residência (CUNHA; PESSINI,
2008). Logo, a mobilidade pendular caracteriza-se como o deslocamento diário entre residência e
trabalho (ou estudo). Desse modo, tal mobilidade, apresenta-se como uma estratégia concebida dentro
do espaço social metropolitano que contribui com o acesso da população a equipamentos urbanos
(CUNHA; PESSINI, 2008).
Nessa perspectiva, para Correa (1989) o espaço urbano está condicionado a uma intensidade
mutável na medida em que os fluxos acontecem, sejam eles cotidianos (mobilidade pendular entre
residência e trabalho), sejam em menor frequência, como atividades de lazer. Entretanto, Villaça
(2001) afirma que a mobilidade entre diferentes lugares acontece dentro de um espaço denominado
intra-urbano, pois o termo refere-se ao fluxo de pessoas dentro da urbe, que pode ser caracterizado
por uma ampla variação de tempo entre esses deslocamentos, fato que depende da localização nesse
espaço.
Dessa forma, à partir dos pensamentos propostos e levando em consideração a disposição de
equipamentos urbanos, os agentes modeladores e a teia de relações intrínsecas, ao se analisar o espaço
da Região Metropolitana de Belém (RMB)1, no estado do Pará, percebe-se que, de certa forma, a
população da RMB, depende da metrópole, município de Belém, para ter acesso às suas demandas.
Tal acesso está relacionado à emprego, hospitais, locais de consumo e setores comerciais.
1 Composta pelos municípios de Ananindeua, Belém, Benevides, Castanhal, Marituba, Santa Barbara do Pará e Santa
Isabel do Pará.
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Deste modo, observa-se que o município de Belém, dentro da RMB tem em seu território a
maior concentração de bens, serviços, recursos e equipamentos urbanos (infraestrutura, bens e
serviços), impulsionando diariamente uma conversão de fluxos populacionais de moradores
residentes de outros municípios para exercer atividades de trabalho e/ou estudo, caracterizando a
mobilidade pendular. Nesse contexto, os distritos administrativos Benfica, Murinim e Santa Maria
pertencentes ao município de Benevides na RMB, estão inseridos como local de residência de
indivíduos que realizam esse deslocamento para exercer suas atividades diversas.
A população desses distritos, ao longo dos anos vem estabelecendo relações intensas com os
municípios vizinhos na RMB, sobretudo os que ficam no sentido da centralidade metropolitana.
Assim sendo, faz-se necessário estudar a mobilidade diária dos referidos distritos, no intuito de
compreender a realidade dessas comunidades, no que diz respeito a sua condição socioeconômica, as
necessidades de equipamentos urbanos. Outro fator que justifica a importância desse estudo é a
produção de material técnico cientifico na área da geografia que possa subsidiar gestores responsáveis
pelo planejamento urbano.
Desta maneira, a presente pesquisa, objetiva, analisar as dificuldades encontradas pelos
moradores de três distritos administrativos do município de Benevides, estado do Pará, na realização
da mobilidade pendular dentro da Região Metropolitana de Belém.
2. METODOLOGIA
2.1 Área de estudo
A área de estudo compreende aos distritos de Benfica, Murinim e Santa Maria, situados no
município de Benevides (01º 21' 41" S 48º 14' 41" W) pertencente à mesorregião metropolitana e a
microrregião Belém no estado do Pará, Brasil. Os referidos distritos foram selecionados como locus
desta pesquisa por representar um exemplo típico de mobilidade pendular, que ocorre diariamente em
direção ao centro da RMB, conforme figura 1.
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Figura 1 – Localização dos distritos Benfica, Murinim e Santa Maria na RMB
Fonte: Base cartográfica do IBGE/ execução: autoria própria.
2.2 Desenho do estudo
Por se tratar de uma investigação empírica sobre um fenômeno que não pode ser dissociado
de seu contexto e que requer a observação de vários elementos simultaneamente, optou-se como
suporte metodológico o estudo de caso, visto que o referido estudo é indicado para questões de como
ou por que ocorre um determinado fenômeno contemporâneo da vida real e para quando o
investigador tem pouco controle sobre os eventos (YIN, 2005).
Para a obtenção de informações, foram realizadas pesquisas bibliográficas e pesquisas de
campo. A pesquisa bibliográfica é um procedimento reflexivo sistemático que possibilita definir,
esclarecer e tentar responder as questões indagadas pela comunidade científica, governos, sociedade
civil, entre outros. (CHIZZOTTI, 2006)
Na coleta de informação, primeiramente, utilizou-se a técnica da observação com o intuito de
conhecer a realidade da população que realiza a mobilidade pendular. Posteriormente foi aplicado um
questionário (14 perguntas fechadas) a 101 moradores dos referidos distritos que se movimentam
diariamente através de transporte público coletivo. A aplicação desse instrumento de coleta objetivou
recolher informações, envolvendo questões sobre o perfil, local de exercício de suas atividades
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laborais, entre outros aspectos. No período de recolha de informação, foi realizado 20 inserções no
ônibus da linha Murinin-Castanheira, sendo excluídos todos os usuários não residentes nos distritos
de estudo.
Nesse estudo, foram escolhidas três categorias de análise do fluxo pendular da população
desses distritos pela região metropolitana, a saber: categoria trabalho (deslocamento por trabalho);
categoria estudo (deslocamento por estudo); e categoria trabalho e estudo (deslocamento por trabalho
e estudo). Justifica-se essa escolha por essas categorias impulsionarem movimentações cotidianas nos
referidos distritos.
Os dados quantitativos obtidos a partir da tabulação do questionário foram divididos e
analisados conforme a disposição do questionário. Para facilitar a análise dos dados, construiu-se, ao
longo da pesquisa, um banco de dados no qual foi feita a tabulação das respostas dos questionários
aplicados. Após a tabulação dos dados procedeu-se à análise das frequências das respostas dos
questionários.
3. REFERENCIAL TEÓRICO
Ao debruçar-se sobre os estudos das populações e sua espacialidade, a geografia
classicamente tem como foco de seu estudo as migrações. No entanto, deslocamentos para a fixação
em outro local, como a mudança de habitat, de lugar de moradia dos indivíduos, considera-se como
migração. Assim sendo, Brunet, Ferras e Théry (1993), afirmam que há de se considerar a
temporalidade dos deslocamentos e distinguir se tais movimentações se tratam de migrações
periódicas ou definitivas. Deste modo, os autores asseguram que “mobilidade pendular” se define
como os deslocamentos referentes a trabalho (ou não) que sejam cotidianos, bicotidianos.
Corroborando com o exposto, como definição do que é caracterizado como migração,
Carvalho e Rigotti (1998, p. 211), atestam que "excluem-se dela os movimentos cujos indivíduos não
se estabelecem permanentemente no local de residência". Logo, movimentos, como o pendular,
sazonal e de populações nômades não se definem como migração, mas como deslocamentos
temporários.
Deste modo, o conceito de mobilidade relaciona-se de forma direta com as práticas do
cotidiano, assim, Andan, D’Arcier e Raux (1994, p.247) definem que essa “mobilidade corresponde
ao conjunto de deslocamentos que o indivíduo efetua para executar os atos de sua vida cotidiana”
(trabalho, compras, lazer). Nesse contexto, uma vez que se trata de movimentos que acontecem para
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se obter acesso a atividades diárias, pressupõe-se que dentro de uma cidade, ou de uma região
metropolitana, há uma grande quantidade populacional realizando estes deslocamentos. Deste modo,
Beujeu-Garnier (1980) sugere que se reconheça que:
“de fato, há enorme número de pessoas envolvidas nesse movimento diário, comumente
realizado duas vezes por dia, poderemos restringir o uso do termo 'commuting' a movimentos
que encerram três características: apreciável extensão, uso de alguns meios de transporte
mecânicos e certo grau de convergência (BEAUJEU-GARNIER 1980, p. 292-293).”
Entretanto, para se entender a mobilidade pendular, faz-se necessário acrescentar que esta
ocorre no espaço social (BOURDIEU, xxx), que no plano da metrópole, Correa (1989) chama de
espaço urbano e Villaça (2001) a fim de restringir a espacialidade das relações, reduz a espaço intra-
urbano, faz-se necessário fazer considerações sobre como se encontra este espaço, que apresenta-se,
devido as relações capitalista, de maneira dicotômica. Correa define como:
“fragmentado e articulado: cada uma de suas partes mantém relações espaciais com as
demais, ainda que de intensidade muito variável. Estas relações manifestam-se
empiricamente através de fluxos de veículos e de pessoas associados às operações de carga
e descarga de mercadorias, aos deslocamentos quotidianos entre as áreas residenciais e os
diversos locais de trabalho, aos deslocamentos menos frequentes para compras no centro da
cidade ou nas lojas do bairro, às visitas aos parentes e amigos, e às idas ao cinema, culto
religioso, praia e parques” (CORREA, 1989, p.7).
Desta forma, tem-se nos fluxos que discorrem sobre o espaço urbano, a característica da
mobilidade, seja ela de mercadorias, capital, e de pessoas. Ao qual, sendo próprio do contexto urbano
tais movimentações diárias. Assim sendo, a mobilidade pendular é um fenômeno urbano, e este só é
possível devido à concentração desigual de bens, recursos e infraestrutura urbana. Deste modo, na
Região Metropolitana de Belém, é possível perceber o espaço urbano como agentes produtores e os
fluxos que se manifestam.
Desta maneira, para efeito de contextualização, a Região Metropolitana de Belém (RMB)
surge a partir da lei federal nº 14 de 08/07/73, em que Belém e Ananindeua passam a integrar a RMB.
Em 1995, os municípios de Benevides, Santa Barbara do Pará e Marituba foram adicionados, por
meio da Lei Complementar Estadual nº 5.693 de 19/10/95. Desde 2011, a RMB é composta pelos
municípios de Ananindeua, Belém, Benevides, Castanhal, Marituba, Santa Barbara do Pará e Santa
Isabel do Pará, somando um total de sete municípios.
A RMB apresenta em sua estrutura urbana particularidades que chama atenção por se tratar
de uma metrópole que na medida em que a população se apossou de assentamentos nos eixos de
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expansão, sobretudo em no eixo da rodovia BR-316, entrando em contato com outros povoados e
definindo uma dinâmica de fluxos com Belém e com estes outros povoados ou municípios. LIMA e
MOYSÉS (2009), citados pelo relatório, de 2015, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
(IPEA) assinalam que Belém concentra em seu território a maioria dos equipamentos urbanos da
RMB, conforme dispõem LIMA e MOYSÉS (2009):
“Analisando a RM de Belém, verificamos que a capital paraense possui uma grande
concentração populacional e de equipamentos urbanos diante do conjunto de municípios
metropolitanos. Belém é a cidade que apresenta a maior implantação de serviços e de
empregos, principalmente no setor terciário da economia.” IPEA (2015, p. 8 apud LIMA
e MOYSÉS, 2009):
Desta forma, a concentração de equipamentos urbanos, bens e serviços, observadas em Belém,
refletem no espaço metropolitano as exclusões que existem no espaço social (BOURDIER, 2000).
Deste modo, os indivíduos residentes em municípios vizinhos à Belém, dentro da RMB, têm na
mobilidade pendular o mecanismo pelo qual se utilizam para obter acesso aos equipamentos urbanos
(infraestrutura, bens, serviços) concentrados em Belém.
Assim sendo, verifica-se que há mobilidade intra-metropolitana diária de parcela da população
em busca de mercadorias ou para cumprir suas jornadas de trabalhos em seus devidos empregos.
Contudo, esta movimentação diária não é exclusiva do contexto urbano atual com a integração da
parte continental da RMB através de rodovias de acesso.
Nesse contexto, vale ressaltar que até meados do século XX, a Amazônia, e isto inclui o
território pertencente à RMB, obedecia ao padrão de ocupação do território, definido por Gonçalves
(2015) como Rio-Várzea-Floresta, ao qual o ritmo de vida cotidiana diferenciava-se do ritmo
acelerado, próprio da atualidade do espaço urbano. Há, entretanto, uma mudança significativa quanto
ao novo padrão de ocupação amazônico. O padrão Estrada-Terra firme-Subsolo (GONÇALVES,
2015). Este modo de ocupação tem na utilização da estrada a forma integradora do território, assim
sendo, as localidades próximas a Belém passam a estreitar suas relações com a capital.
Concomitantemente, a construção de rodovias, que embora tenham sido pensadas com viés de
escoamento da produção realizada na Amazônia, sobretudo decorrente do novo padrão, trouxe
consigo também uma reformulação da característica regional quanto ao modo de se deslocar. O rio
que outrora fora a principal (única) via de locomoção da Amazônia entre distintos povoados, deu
lugar a estrada e estreitou relações influenciando, inclusive, no modo de vida dos habitantes.
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Desta maneira, a região metropolitana, atualmente apresenta uma integração dos municípios
pertencentes a ela, sobretudo através dos fluxos de mercadorias e de pessoas através da rodovia BR-
316, principal via de acesso entre os municípios da RMB. Portanto, a partir do fluxo populacional
dentro da RMB, que se dá por motivações diversas, mas que nesta pesquisa, restringe-se à analise das
categorias trabalho e estudo como condicionantes para a mobilidade pendular praticada, sobretudo
pelos residentes dos distritos de Benfica, Murinim e Santa Maria.
Deste modo, considerando que desde seu surgimento, em 1757, a localidade de Benfica, seguia
o padrão rio - várzea – floresta ainda que com alguns pormenores, decorrente da forma (Gonçalves,
2015). Em Benfica, segundo Souza (2011) se encontrava um porto localizado as margens do rio
Benfica. Deste porto partia em direção à Belém um navio levando peixes e mariscos coletados através
da pesca extrativista por moradores de Benfica e Murinim.
No entanto, para além deste montante, seguia também para Belém o que era produzido na
Colônia Agrícola Nossa Senhora do Carmo, correspondente ao território do distrito sede do município
de Benevides, mas ainda assim estabelecendo ralação com as hidrovias, que caracteriza o padrão.
Consequentemente, a partir da integração através da criação da Br-316, o então povoado de Benfica,
hoje os distritos de Benfica, Murinim e Santa Maria aumentou seu fluxo com Belém/PA.
A população destes distritos, que por sua vez, ao passar dos anos vem estabelecendo relações
cada vez mais intensas com os municípios vizinhos na RMB, sobretudo os que ficam no sentido da
centralidade da metrópole (em direção à Belém) em contramão a isso apresenta queda nas relações
com o próprio município. Pressupõe-se, então, que haja um deslocamento populacional diário para os
municípios vizinhos, que se dá em função da possibilidade de acesso a equipamentos urbanos estar
delimitada dentro de uma centralidade, que majoritariamente é exercida por Belém dentro da RBM.
Desse modo, o fornecimento de materiais para a construção civil (tijolos e telhas) e da pesca
extrativista (peixes e mariscos), que foram, durante muito tempo a forma de subsistência dos
povoados dos distritos, conforme Souza (2011) passou por mudanças provenientes do novo padrão
de ordenamento territorial da Amazônia que fomentou significativas alterações na vivência dos
distritos, ocasionando a diminuição da comercialização destes produtos com Belém, devido às
possibilidades de mercado utilizadas por Belém, após a integração por rodovias, como a BR-316.
Destarte, na lógica que se inaugura com a fase de urbanização da metrópole, especialmente no
que diz respeito ao meio de locomoção até Belém se dá agora por rodovias. Inicia-se, portanto, o
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processo de busca aos subsídios necessários para a (sobre) vivência desta população, uma vez que seu
cotidiano fora modificado pela nova dinâmica territorial.
Diante do exposto, ao observar a dinâmica populacional estabelecida na Região Metropolitana
de Belém e o contexto em que a população residente dos distritos de Benfica, Murinim e Santa Maria
estão inseridos, sabendo da necessidade que parcela desta população tem, a priori, devido às mudanças
decorrentes da criação da BR-316, verifica-se a mobilidade pendular como estratégia ao qual estes
indivíduos adotam para serem inseridos no contexto metropolitano.
Assim sendo, o acesso à recursos não existentes nos distritos, impulsiona a busca por acesso
a infraestrutura, bens e recursos, através do trabalho e do estudo, a fim de que se mitigue os problemas
decorrentes da ausência de equipamentos urbanos nos seus locais de residência. Portanto, caracteriza-
se como mobilidade pendular os deslocamentos diários realizados pela população residente dos
distritos de Benfica, Murinim e Santa Maria, em direção do centro metropolitano.
4. ANÁLISE DE DADOS E RESULTADOS DA PESQUISA
Em 2018, foi realizada pesquisa de campo dentro do transporte coletivo da linha Murinim-
Castanheira em que se aplicou questionário aos usuários do transporte público que fossem residentes
dos distritos. Dentre os 100 entrevistados, 72 residem em Benfica, 17 em Murinim e 12 moram em
Santa Maria.
A partir da tabulação dos dados coletados a respeito dos indivíduos que, nos dias da aplicação
do questionário movimentaram-se para outros municípios da RMB, constatou-se, conforme a tabela,
que além das categorias trabalho e estudo, outras atividades foram exercidas pelos participantes da
pesquisa, que ressaltam também a concentração de bens de consumo e serviços, como para as
atividades relacionadas à consultas médicas e compras diversas, conforme tabela 1.
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Tabela 1: Indivíduos que se deslocam para outros municípios da RMB por atividades
Indivíduos que se deslocam para outros municípios da RMB por atividades
Atividades Indivíduos
Trabalho 62
Estudo 18
Trabalho e Estudo 12
Consulta médica 3
Compras diversas 4
Visita a entes 2
Total 101
Fonte: Pesquisa de campo.
Entretanto, como foco investigativo acerca da mobilidade pendular, e também por
apresentarem maior relevância quantitativa dentro da amostra investigativa, ater-se-á as categorias
trabalho e estudo que foram elegidas como parâmetro investigativo desta pesquisa.
Deste modo, conforme a figura 2, identifica-se que a maioria dos participantes da pesquisa
trabalha e estuda em Belém, caracterizando a centralidade exercida por Belém em relação aos distritos
estudados. Por conseguinte, os municípios Ananindeua e Marituba, adjacentes a Belém na hierarquia
metropolitana exercem certa atração sobre os distritos estudos.
No entanto, observou-se que o fluxo da população estudada converge para o centro
metropolitano, Belém, de modo que os municípios que se encontram no sentido oposto dessa cidade,
não exercem atração sobre os indivíduos dos distritos de estudo, com exceção do município de
Castanhal, que se encontra na extremidade oposta a Belém, dentro da RMB, mas que apesar da
contrariedade converge quantidade de fluxo, ainda que mínima, fato que pode caracterizar
timidamente um novo centro de convergência metropolitano.
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FIGURA 2 - Distribuição dos residentes nos distritos de Benfica, Murinim e Santa Maria na RMB, de acordo com a
categoria trabalho e a categoria estudo
Fonte: base cartográfica do IBGE/dados coletados em pesquisa de campo.
Neste contexto, outro dado importante para caracterizar a mobilidade pendular é a quantidade
de horas por dia que cada participante passa no trânsito entre residência e local de trabalho, local de
estudos. Pois, como ressalva, vale destacar que a linha de transporte público que atende os referidos
distritos tem seu itinerário limitado, pois tem seu início na rodovia estadual PA-404, no distrito de
Murinim e termina no Km 0 da BR-316, sem adentrar no município de Belém que concentra os
equipamentos urbanos, sendo o município que mais atrai indivíduos participantes da pesquisa.
Dessa maneira, sabendo que os distritos são atendidos somente por uma única linha de ônibus
sem adentrar Belém, verifica-se que a maioria utiliza mais de um transporte coletivo para chegar ao
se local de trabalho ou de estudo, conforme figura 3.
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Figura 3 - Quantidade de transportes coletivos utilizados por cada pessoa diariamente para ir ao local de trabalho ou
estudo e para retornar para sua residência em uma amostra de 100 pessoas.
Fonte: Pesquisa de campo.
Assim sendo do percurso que a linha do transporte coletivo Murinim-Castanheira realiza em
suas viagens, pode-se verificar, que do número mínimo de pessoas que utilizam mais de dois ônibus
na ida e na vinda está relacionado às distâncias mais longas da rodovia BR316 que é uma das duas
únicas vias utilizadas na rota da linha de ônibus em questão.
Deste modo, observa-se na figura 4 que, apesar do equilíbrio, a maioria dos participantes da
pesquisa gastam 4h ou mais, de seu tempo livre, nos deslocamentos entre residência e trabalho, a
mobilidade pendular, nesse sentido, apresenta o ônus da demora no transito como fator negativo na
estratégia de acesso a equipamentos urbanos.
Entretanto, verificou-se, se o acesso a casa própria é um fator que limita a possibilidades
desses indivíduos de tentarem residir próximos a seus locais de trabalho e/ou estudo. Deste modo, foi
constatado que 84 participantes moram em casa própria, 12 em residência cedida e somente 5 pagam
o aluguel do imóvel em que residem, enquanto que do total de entrevistados 78 sempre moraram no
município de Benevides.
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Figura 4 - Horas gastas no deslocamento diário no trânsito entre os distritos (Benfica, Santa Maria e Murinim) e o
município onde trabalha e/ou estuda.
Fonte: Pesquisa de campo.
Isto posto, considera-se que o grupo que detém casa própria associa-se com o pertencimento
ao lugar, pois os 78 que sempre moraram também afirmaram que a família sempre morou no
município, denotando certo pertencimento, que se caracteriza como variável proeminente para se
residir nos distritos pesquisados.
Assim sendo, foi na pesquisa de satisfação em morar nos distritos que se teve a possibilidade
de mensurar o que satisfaz e o que gera descontentamento na população que reside nos distritos de
Benfica, Murinim e Santa Maria. todavia, algumas características do urbano e do rural para as pessoas
que ali habitam são fundamentais para se ter certa qualidade de vida, principalmente sob a premissa
do que torna prazeroso morar em determinado lugar.
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Figura 5 - Motivos para os residentes gostarem ou não de morar nos distritos.
Fonte: dados coletados em pesquisa de campo.
Como se pode ver na figura acima, o fator tranquilidade do lugar é importante para 34% dos
participantes da pesquisa quando se fala em motivos para morar nos distritos pesquisados, 66% tem
na proximidade com a família, enquanto que a infraestrutura, fator primordial, obteve 0%. Daí
entende-se que a infraestrutura não atende as necessidades dos moradores ou, pelo menos, que não é
fator mais importante para escolherem morar nos distritos. Tanto é que a baixa qualidade do
transporte público, que é um fator infra estrutural, é motivo de insatisfação de 46% dos moradores e
5% são insatisfeitos com a segurança.
Desse modo infere-se que: 1) 100% das respostas sobre o que agrada em morar nos distritos
estão relacionadas ao modo de vida que era predominante antes da nova configuração espacial local
que são tranquilidade do lugar e morar próximo da família; 2) distância e baixa qualidade do
transporte público são fatores que ratificam as mudanças ocorridas no espaço local, pois denota a
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necessidade em se locomover dos distritos para outros lugares em busca daquilo que não está ao
alcance dos moradores ali próximo.
Assim sendo, a partir dos dados coletados pode-se deduzir que apesar de se ter residindo nos
distritos de Benfica, Murinim e Santa Maria pessoas oriundas de outros municípios, este número
dentro do campo amostral da pesquisa é bem pequeno comprado com a quantidade de residentes que
sempre moraram no município de Benevides, de modo a ilustrar que o crescimento da metrópole
influenciou sim no cotidiano destas comunidades, no entanto, não foi a dispersão da metrópole através
das novas áreas de assentamentos que condicionou a reconfiguração do espaço local.
Logo, constatou-se que agentes modeladores interviram sim na vida dos poucos que nesses
locais residem, mas são oriundos de outros, no entanto os agentes modeladores do espaço urbano
interviram e interveem na configuração do espaço local sim, na medida em que a população que
sempre residiu nos distritos pesquisados é diretamente atingida no contexto de expansão da
metrópole.
Deste modo, não somente como expansão física, fato observado pelo fenômeno de conurbação
existente entre os municípios de Ananindeua e Belém, mas pela centralidade de recursos necessários
para cotidiano da população que são forçadas a um movimento de saída e retorno diário do lugar.
Lugar que outrora tinha no seu modo de vida específico, o da sobrevivência e subsistência através da
pesca extrativista de peixes e mariscos e da produção de cerâmica como estilo adotado pelos
residentes.
Entretanto, como forma de inseri-los, mas também coibi-los de consumir o espaço urbano, os
agentes modeladores do espaço urbano metropolitano, através da manutenção das pessoas residentes
destas comunidades nos locais em que moram, por meio de políticas de ordenamento territorial que
as condicionam à buscarem fora dos distritos o que lhe é necessário, mas que também limitam sua
livre circulação no interior de Belém.
Tem-se, portanto, o exemplo prático desta configuração do espaço urbano no itinerário da
linha de transporte público que atende os distritos pesquisados, pois a linha não “adentra” o território
Belenense, forçando os usuários a utilizarem mais de um ônibus para chegar ao seu destino, seja qual
for. E aqui não se limita à questão de trabalho ou estudo, mas à pluralidade de motivações que fazem
as pessoas, se não todo dia, vez ou outra ir para fora dos limites municipais de Benevides em busca
de atendimento a alguma especialidade médica, de necessidade em adquirir algum produto que só
exista fora dos distritos ou até mesmo para visitar algum familiar.
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5. CONCLUSÃO
Diante do exposto, infere-se, mantem estas populações presas no local em que moram, apesar
de estarem inseridas no movimento pendular diário tendo o ônus das longas distâncias com as horas
livres perdidas no trânsito, ocorre devido a possibilidade de continuar morando na porção de terra
que fora da família por tempos e que é herança, assim como, pela possibilidade de se adquirir um lote
de terra ou um imóvel mais barato em relação as moradias próximas do centro.
Por conseguinte, o movimento pendular, com base no resultado da pesquisa e das informações
coletadas sobre o processo formativo do município de Benevides, com o entendimento da dinâmica
existente antes da estrada de ferro Belém-Bragança, durante o período da estrada de ferro e depois da
construção da BR-316, constatou-se que houve mudanças significativas no que diz respeito à vida
das pessoas que tiveram que se adaptar.
Neste sentido, uma vez que as necessidades como as de trabalho não precisavam estar
integradas fisicamente com Belém, apesar de Belém sempre exercer centralidade sobre o povoado de
Benfica e seu entorno desde a época e que os fluxos se davam pelo rio, entende-se que a mobilidade
diária das pessoas se dá em decorrência das alterações que ocorreram na configuração do interior dos
distritos forçando que os residentes das comunidades busquem seu lugar ao sol fora de seu município,
já que as interações são outras, os fluxos inserem-se em outro contexto de demanda e temporalidade
que difere do que fora antes da institucionalização da região metropolitana de Belém. .
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6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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