81
1

MOB - Catálogo da Exposição

Embed Size (px)

DESCRIPTION

MOB - Catalogue Exposition March to May 2011

Citation preview

Page 1: MOB - Catálogo da Exposição

1

Page 2: MOB - Catálogo da Exposição

2

MOB as MovementFernando Rosenbaum

I organize the exhibition MOB, along with Goura, whom I met by 1998 at a

Hare Krishna temple. Jaques, his father, was introduced to me by a mutual

friend, Napoleão, around 1992; his walking habits inspired my curiosity.

Cleverson was an apprentice at SEEC (Department of Culture) in 2001, one

year after I was dismissed. Franciosi put in action the works of the INTERLUX

group at Bar Pandora. Dulce was my engraving instructor at the atelier at

UFPR in 1998 when I started my art life. Maikel used to frequent the Solar

do Barão, another atelier I’ve worked during 2003. Dach participated with his

work “I cut trees” at “Semi-novos” Exhibition, 2004. Caldas was introduced to

me at Bar Café no Bule, when he was painting on a pannel in 1998. Michele

was an apprentice, as I, at the Cultural Foundation of Curitiba (FCC) in 2004.

Mendes embraced the INTERLUX group in 2006 just as Rimon, Raphael and

Jaime did. Glerm has collaborated in group action since 2005. Valdecimples,

precursor of urban art in Curitiba, matches his way with mine since 2006. Syen

participated more effectively at the annual festival Art Bicycle and Mobility

in 2008, same year that Cyntia and I shared the silkscreen atelier. That

same year I met Cintia as an educator of the FCC when I was at “Também”

exhibition. Later I also met Conde at a party. Still in 2008, I met Fabs working

with midiatic social groups in Curitiba. The same year I visited Sant’ana’s

small country house while the INAIDINDIA meeting were developing which

took me to get involved with Patricia. In 2009 I met Pedro, who I worked with,

in video graphs, as well as Gustavo, whose works I keep following. Through his

writings, I met professor Vinicius in 2011

Page 3: MOB - Catálogo da Exposição

3

Organizo a mostra MOB juntamente com Goura, que conheci em idos de 98 no templo Hare Krishna. Seu pai, Jaques, foi me apresentado pelo amigo Napoleão por volta de 92. Aquele homem caminhante despertava minha curiosidade. Cleverson estagiou na SEEC (Secretaria do Estado da Cultura) em 2001, um ano após eu ser despedido. Franciosi acionava os acontecimentos no bar Pandora promovidos no início do coletivo INTERLUX. Dulce foi minha orientadora no atelier de gravura da UFPR em 98 onde iniciei o fazer artístico. Maikel, em 2003, frequentava o atelier do Solar do Barão, assim como eu. Dach participou da exposição “semi-novos” em 2004 com a obra “corto árvores”. Caldas foi me apresentado no bar Café no Bule, quando realizava uma pintura mural em 98. Michele estagiou comigo no Departamento de Difusão Cultural da FCC em 2004. Mendes abraçou o coletivo INTERLUX em 2006, juntamente com Rimon, Raphael e, posteriormente, Jaime. Glerm interconectou ações coletivas comigo desde 2005. Valdecimples, precursor da arte urbana em Curitiba, entrecruza o caminho comigo, desde 2006. Syen participou mais efetivamente do festival anual Arte Bicicleta Mobilidade em 2008, no mesmo ano que Cyntia dividiu atelier de serigrafia comigo. Neste ano também conheci Cintia no setor educativo da FCC, quando expunha na mostra “também”. Posteriormente, conheci o Conde em um evento festivo. No mesmo ano conheci a Fabs colaborando com os movimentos sociais midiáticos em Curitiba. Neste ano visitei a chacrinha do Sant’ana participando de reuniões do INAIDINDIA, em um movimento que no ano seguinte enlaçou-me com a Patricia. Em 2009 conheci o Pedro, com quem dividi diversos trabalhos video-gráficos, e Gustavo cuja trajetória venho acompanhando. E através de textos conheci o professor Vinícius em 2011.

MOB como MovimentoFernando Rosenbaum

Page 4: MOB - Catálogo da Exposição

4

Page 5: MOB - Catálogo da Exposição

5

Os antecedentes os incriminam. São todos cúmplices de sustentar a crença de que é possível agir criativamente – com liberdade e ousadia – no espaço urbano. Os valores e princípios comuns que compartilham: a psicogeografia, a deriva, a contemplatividade, a descoberta da cidade, a crítica e a reflexão.

MOB nasceu como Arte Bicicleta Mobilidade em setembro de 2007. Intervenções, mostras, debates e ações políticas marcaram o 1º ciclo de atividades do ´mês da bicicleta´. A pergunta era algo como: Arte e política são duas coisas diferentes? A política não é a expressão máxima da arte? A arte não almeja a política?

No referido mês a força policial do estado foi requisitada ao menos duas vezes para conter, de alguma maneira, este monstro híbrido de arte e política que ousava questionar a ordem vigente. Ao término da pintura da 1ª ciclofaixa da cidade e também na 1ª performance do Música Para Sair da Bolha, os militares, representando o Estado, mostraram que a distinção pode ser lida ainda de outra forma: a arte é política quando questiona, quando incomoda, quando nos conduz a becos sem saída.

O Arte Bici se alicerçou no amplo imaginário da bicicleta. A roda imóvel de Duchamp, a cabeça do touro de Picasso, os elogios de Beuys e Hundertwasser, a crítica Situacionista, a anarquia jocosa dos Provos holandeses,

MOB como História, MOB como Práxis.

Goura Nataraj

The records incriminate them. They are

all involved in complicity, believing that is possible

to act creatively – with liberty and boldness – on

the urban space. The values shared by them:

psychogeography, derive, contemplation, the

discovery of the city, criticism and reflection.

MOB was born as Arte Bicicleta Mobilidade

in September of 2007. Interventions, exhibitions,

debates and political actions marked the first cycle

of activities of ´the month of bicycle´. The question

was something like: Art and politics are two different

things? Isn´t politics the maximum expression of art?

Doesn´t art aim for politics?

In the above mentioned month the state

police force was requested, at least twice, to contain

in any way this hybrid monster of art and politics

that dared to question the order of things. At the end

of the painting of the first bike lane of the city, and

also at the first performance of the Music to Get Out

of the Bubble, the military, representing the State,

showed to everybody that the distinction could also

MOB as History, MOB as Práxis

Abstract

Page 6: MOB - Catálogo da Exposição

6

o pensamento ousado de Ivan Illich e por aí vai. Em Curitiba, o grupo Bicicleta inseriu a nomenclatura em 1982. A Bicicletada, desde 2005, politizou o conceito, exigiu que se tornasse política pública – a bike é meio de transporte. Em tempos de fim de mundo ela representa autonomia, liberdade, não-poluição e convivialidade.

O MOB aconteceu de 06 de março a 22 de maio de 2011. Os artistas desta edição produziram obras inéditas e se debruçaram na temática (sobre seus guidões também!). A curadoria da mostra foi baseada nos mesmos princípios de auto-gestão e liberdade. O convite foi aberto e os trabalhos eram livres. A cidade e a mobilidade eram os objetos de meditação. Durante os meses de ocupação do Museu da Fotografia, além dos trabalhos expostos, tivemos ocupações das ruas, esquinas, Música Para Sair da Bolha (duas edições, com o Trombone de Frutas e Seu Zeba) e o nascimento da Ciclo Iguaçu – Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu, cuja fundação ocorreu no encerramento da mostra.

No sentido do aprofundamento teórico e conceitual, que vem se construindo sobre o tema da bicicleta nos últimos anos, convidamos o poeta e jornalista Jaques Brand e o filósofo Vinícius Figueiredo a tecerem suas reflexões e generosamente compartilharem conosco. Os ensaios, primorosos, estão aqui neste livro, bem como pequenos textos dos artistas que acompanham as imagens dos trabalhos.

pág. anterior

A Bolha de Fernando Rosenbaum

esquerda

Abertura da exposicão com Vjing

de Fabs

direita

Criação da Ciclo Iguaçu –

Associação de Ciclistas do Alto

Iguaçu

be understood in yet another way: art is political

when it questions, when it disturbs, when it lead us

into dead ends.

The Arte Bici project was established

over the rich semiotics of the bicycle. Duchamp´s

unmoving wheel, Picasso´s bull´s head, the positive

remarks of Beuys and Hundertwasser, the criticism

from the Situationists, the playful anarchy of the

Dutch Provos, the bold reflections of Mr. Ivan

Illich, and on and on. At Curitiba, the Bicicleta

group has inserted the nomenclature in 1982.

The Bicicletada (local Critical Mass Ride) since

2005 has made it a political subject – bicycles are

modes of transportation and should be respected as

so. In apocalyptical times it represents autonomy,

freedom, non-pollution and conviviality.

MOB happened from March 6th till may

22nd of 2011. The artists of this edition produced

brand new works and the whole curatorship was

based on the same principles of freedom and self-

management. The city and mobility were the object

of meditation. During those months, besides the

works on the walls and all around the museum,

there were performances on the city, on the streets,

at the crossings. MOB also gave birth to Ciclo Iguaçu

– the association of bikers from the Alto Iguaçu,

whose foundation took place at its closing.

Page 7: MOB - Catálogo da Exposição

7

A conclusão do MOB aponta a necessidade de valorizar temas, conceitos e práticas que favoreçam o acesso à cidade, bem como políticas que interrompam a degradação do espaço urbano. As ferramentas de alienação – sejam elas o automóvel ou a televisão – devem ser criticadas e combatidas. Territórios livres, pontuais ou permanentes, devem receber todo apoio e estímulo. Práticas que expandam a nossa liberdade e autonomia devem se consolidar como bases sobre as quais a ética da pólis possa se assentar com força e profundidade.

O MOB não acaba aqui.

O MOB é contínuo.

Providing critical analysis and deepening

the ongoing debate about the subject, we invited the

poet and writer Jaques Brand and the philosopher

Vinicius Figueiredo to draw their reflections and

generously share them with us. These beautiful

essays, as well as small texts from the artists, are

here in this book.

The conclusion of MOB points to the need

of strengthening themes, concepts and practices

that increase the access into the city, as well as

politics capable of interrupting the urban space

degradation. The tools of alienation – whether the

automobile or the television – should be criticized

and fought against. The free territories, temporary

or permanent – must receive all support from us.

Practices that expand our freedom and autonomy

must consolidate as bases over which we can lay

the ethics of the polis with strength and tranquility.

MOB does not end here.

MOB is a continuum.

Page 8: MOB - Catálogo da Exposição

8

Page 9: MOB - Catálogo da Exposição

9

esquerda

Música Para Sair da Bolha,

2009

Stencil pela cidade de Curitiba

direita

Música Para Sair da Bolha nos

arredores do Solar do Barão

Detalhe do projeto

de Glerm Soares

Page 10: MOB - Catálogo da Exposição

10

Metáforas Urbanas

e Política.Vinícius de Figueiredo

Urban Metaphors and Politics

Abstract

What we experience on the urban travel

is conditioned by the mode of transportation we

choose. In Greek, metaphora means transport. In

our language we are accustomed on talking about

metaphors in literature: the discourse, the verbal

expression of thought, makes use of metaphors to

unveil new meanings or simply to reveal what was

there all the time, right before us, under an aspect

not so literal, pointing to an image of the thing so far

wholly ignored.

Well, couldn´t we apply a scheme, similar

to the one used by literature, to the original – Greek

– meaning of metaphor – transportation? If that is

allowed, then, our discourse in relation to the city

will be more or less complex, depending on the

metaphor we choose to transport us. Let us say that

the urban tissue is also the occasion of a text; in

that case the discourse on the city will be more or

less complex, depending on the metaphors available

to its citizens. The city, therefore, also admits the

analysis of its discourses and metaphors.

VINÎCIUS DE FIGUEIREDO

Pelo vidro do carro vê-se muitas coisas. Mais importante que isso, um modo de ver as coisas torna-se possível. Ir de um ponto a outro da cidade de carro ou sem carro são coisas bem diferentes, e não apenas porque se supõe que o motorista, com o celular desligado, esteja mais atento ao trânsito que à paisagem. Há também a questão da velocidade, que incide diretamente sobre a percepção. Mas nem é este o ponto decisivo. A velocidade pode ser mínima, mas ver uma por uma as casas da rua do interior de um carro quase parado no rush é, na maior parte das vezes, um transtorno. Carro foi feito para ganhar tempo. Quanto mais complexa a riqueza dos detalhes captada na paisagem urbana, tanto maior o atraso.

Esta experiência muito familiar aponta para conclusões triviais e relevantes. Primeiro, que o que experimentamos no trajeto urbano é condicionado pelo meio de deslocamento que utilizamos. É interessante que, na língua grega, metáfora signifique “transporte”. Em nossa língua, habituamo-nos a falar de metáforas em literatura: o discurso, expressão verbal do pensamento, faz uso de metáforas para desdobrar novos sentidos ou simplesmente revelar o que estava bem ali, diante de nós, sob um aspecto que não seja literal, assinalando uma figura da coisa até então ignorada. Ora, não caberia aplicar esquema semelhante ao da literatura ao contexto concernido pelo significado originário, grego, de “metáfora” = ‘transporte”? Se isso for lícito, então nosso

Page 11: MOB - Catálogo da Exposição

11

discurso em relação à cidade será mais ou menos complexo, a depender da metáfora empregada por nós para deslocar-se através dela. Supondo que o tecido urbano também seja a ocasião de um texto, o discurso em relação à cidade será mais ou menos complexo, conforme as metáforas à disposição de seus habitantes.

Talvez você suspeite de que nossa aproximação entre o universo linguístico e as questões envolvendo os meios de transporte urbano seja invencionice filosófica. Um pouco é mesmo. Mas pense bem: você tem alguma dúvida de que o automóvel seja, essencialmente, uma metáfora? Eis seu discurso: “poder”, “falo”, “juventude”, “superioridade”, etc. O discurso automobilístico está por toda parte, a ponto de ter se tornado, especialmente entre nós, uma espécie de rito de passagem para a maioridade: agora que fiz dezoito anos, ganharei meu primeiro carro... O que nos interessa, neste brevissimo texto, são duas coisas. Primeiro, investigar o seguinte: o que diz o carro? que utopia ele veicula? Um exercício de análise do discurso pode trazer algum luz a essas perguntas. A outra coisa é um simples ricordo: queira ou não, o automóvel, como metáfora que é (no sentido literal e literário), convive com outros meios de transporte. Por isso, não há por que nos rendermos à completa assimilação do texto urbano ao discurso automobilístico. Embora nunca se tenha visto na telinha uma propaganda de pedestre ou bicicleta, na real ambos existem. Para não falar do resto: carroças puxadas por animais ou por gente, ônibus, motos, skate, cadeira de rodas... É tudo metáfora. Eis o ricordo: se há outras metáforas, são possíveis outras cidades, diversas do império do automóvel.

* * *

A linguagem publicitaria metaforizou a tal ponto o automóvel, que ele deixou de ser apenas meio de transporte, para tornar-se utopia universal, financiável em parcelas a perder de vista.

O que nos promete este discurso? Me vêm à mente mulheres deslumbrantes, aos montes. Deixando-as um instante de lado, acena-se com a ideia de um deslocamento rápido, seguro e confortável para percorrermos livremente os itinerários urbanos. É uma ideia fascinante. Pouco importa à publicidade se a realidade congestionada da urbes nos faça perder cada vez mais tempo dentro do carro. É da natureza da publicidade contrariar a realidade. It’s only job. O ponto é outro. O problema é constatar que um discurso voltado para a venda de mercadorias tenha se tornado quase hegemônico, quando o assunto é a política pública do transporte urbano, como se o viés publicitário tivesse invadido o debate político e o imaginário coletivo sobre o presente e o futuro da urbes.

Em se tratando do imaginário, vale a pena tentar desenrolá-lo. Mesmo se supuséssemos, por um instante, que a utopia automobilística fosse universalizável, no que sua realização nos transformaria? No que se transforma a cidade, vista exclusivamente pelo ótica do vidro do carro? Ela desaparece. O olhar pelo vidro do carro só desfruta seu gozo, na medida em que recusa a realidade. Ou melhor, na medida em que cria a ficção de que podemos alterá-la a nosso bel prazer, a começar pela velocidade. Mas não só. Um pedinde se aproxima, subo os vidros. A notícia aborrece, mudo de estação. Crianças, sendo o que são no banco de trás, põem a segurança de todo o sistema em risco. Uns caras aí na frente bloquearam a rua com um monte de bicicletas; sem problema, passo por cima. O cogito automobilístico é muito particular, a começar pela ficção de soberania que produz nos seus condutores. Basta furar um pneu (isso para não mencionar o Vietnã anual de vítimas produzido ano a ano no Brasil) para o sonho acabar.

O partidário do automóvel sempre poderá retrucar: tudo balela... É fácil imaginar sua réplica. Da minha casa ao meu trabalho, ele dirá, o caminho é um só; a única questão é como

Page 12: MOB - Catálogo da Exposição

12

ganhar tempo, possibilitando acordar mais tarde ou chegar lá mais cedo, a fim de adiantar o expediente. Sem dúvida, nisto há uma lógica incontestável. Mais: sem transporte público pra valer, sem um sistema cicloviário - enfim, sem opções por parte do poder público ao público pagante, as pessoas terminam tendo de se virar como podem. Claro, nesse contexto, é natural que quem não tem carro só pense em comprar logo um. Mas realizar um desejo que satisfaça dificuldades efetivas e imediatas não deveria nos impedir de pensar um pouco: a lógica da coisa toda faz sentido? Já que o assunto é transporte, para onde estamos indo, seguindo esse modelo?

É digno de nota que nosso objetor imaginário, o partidário do raciocínio “realista”, assuma de bandeja que o percurso a ser transcorrido é um obstáculo à produtividade. O que é muito significativo, pois revela que o argumento “realista” converte de partida o texto urbano em metáfora do trabalho. Tal premissa não vai sem implicações, que mereceriam ser pesadas. Uma delas é transformar o ponto ótimo do trajeto urbano na ficção do teletransporte, em que o deslocamento suprime de vez a experiência de percorrer o caminho entre o ponto de partida e o ponto de chegada. Fantástico! A chegada ao destino prescinde do caminho que levaria a ele. Ora, será prudente, sem mais, desejar emancipar o ponto final da travessia? Que discurso é este, que não se quer percurso de nada? É algo assim como um dinheiro que se reproduz sem trabalho, uma conclusão que não resulta de raciocínio algum ou aquela propaganda de um carro que percorre livremente as ruas vazias de uma cidade deserta. Uma propaganda que diz muito: por que a liberdade supõe o vazio do entorno? Desde quando ela tornou-se assim, insociável? Isso tem tudo que ver com o fato de que, pelo vidro do carro, a cidade aparece como um ambiente hostil. Estacionar a um quarteirão do destino a que se quer chegar parece uma infinidade, e é mesmo uma infinidade, mas simbólica. Habituamo-nos a perceber a cidade assim.

* * *

Conclusão a extrair desta brevíssima e pouco rigorosa análise da metáfora do automóvel: é fundamental assegurar o caráter pluridiscursivo da cidade. Sem isso, o sujeito que somos empobrece. Para convencer-se disso, basta reaver aquela constatação inicial, de que o mesmo percurso urbano guarda para o sujeito faces muito diversas. Muitos aspectos invisíveis ao olhar que vê através do vidro do carro iluminam-se quando percorremos o mesmo caminho fora dele. Pode-se até indagar se realmente se trata do mesmo caminho. Diríamos que é e não é

Page 13: MOB - Catálogo da Exposição

13

o mesmo, pois o que há de inteligível no real é sempre condicionado pelo modo de ver e sentir do sujeito.

Este me parece ser o estopim da coletiva Mob 11. Há, na exposição, uma espécie de advertência de frente e verso, uma face política, outra estética. E nisto, o grupo de artistas lança um gancho com muita coisa interessante que vem sendo pensada e feita mundo afora acerca do assunto da amostra realizada no Solar do Barão. A questão do espaço público, os mecanismos de inclusão/exclusão, o controle das manifestações urbanas; a configuração permanente do espaço pelo capital, as virtualidades do urbanismo informal, as “cidades ocasionais” - há toda uma agenda contemporânea tomada pelo tema. Veja-se, por exemplo, o volume organizado por Martí Peran, Post-it City (Barcelona, 2008) ou as reflexões de Guy Débord, D. Harvey, R. Sennett, dentre tantos outros, que tocam nos pontos levantados por Mob 11. Mas nem é preciso ir tão fundo, nem é preciso sair de tão perto. De minha parte, queria insistir mesmo no óbvio: a cidade só se torna palpável a nossa experiência com base no percurso que delineamos dentro dela. Pretender furtar-se ao tempo que isso exige, teimar no uso do carro para abreviá-lo ao máximo, é não apenas caminhar ao revés dos fatos e condenar-se à frustração dos congestionamentos inevitáveis. É também e sobretudo destituir-se da condição de sujeito da experiência mais concreta da política, representada pela nossa inserção cotidiana na Cidade, assim com maiúscula. Eis o lado político da presente exposição, do movimento que a anima.

Natural: se a história do urbanismo é essencialmente uma história política, então a questão dos meios de transporte urbano não deveria ser relegada aos engenheiros do tráfego. Se cada meio traz consigo um modo seu de experimentar o espaço urbano, de viver a cidade, estamos, em consequência, falando de política no sentido mais rigoroso do termo. Ora, não é aconselhável subordinar questões políticas a

soluções técnicas, que costumam recalcar sua natureza política.

Nada como circular pelas ruas para constatar que nossa engenharia de tráfego tacitamente adotou há muito a ótica do automóvel. A proliferação de placas em Curitiba sinalizando “Novo Sentido” só faz reiterar um sentido muito velho, o da supremacia do automóvel, que reduz a rua a uma via destinada ao trânsito motorizado. Nada faz advinhar mudanças à vista. Pode bem acontecer de passarmos os próximos anos quebrando a cabeça para resolver como os clientes vão chegar de carro ao novo shopping ou como vão atravessar com o mesmo carro um centro cada vez mais congestionado.

* * *

O lado estético de Mob 11 concatena-se com isso, pois assinala que a invenção de um sentido verdadeiramente novo passa pela diversificação dos modos de transitar na cidade, de forma a ampliar os modos de experimentá-la.

Por onde se vê que a “estética” do Mob 11 remete ao sentido etimológico da palavra. Aisthesis corresponde, aqui, à “percepção”, “sensação” (a tal brisa no rosto...), remontando ao significado original e anterior àquele assumido pelo termo “estética” mais recentemente, a partir do século XVIII em diante. Este último sentido, o sentido moderno do termo, designa um ideal de formalização livre e criativa, sob a qual os iluministas compreenderam o núcleo da experiência subjetiva do homem, diversa e irredutível à lógica e à teoria. Esse sentido moderno faz da estética o contrário de todo conhecimento, inclusive do conhecimento de si pelo sujeito. Até onde vejo, não é esse o conceito que corresponde ao partido estético mobilizado por Mob 11. Vale ater-se um instante ao ponto, a fim de tirar conclusões pelo contraste.

O “juízo estético”, advertia Kant, não é um juízo objetivo, pois, através dele, ocorre

Page 14: MOB - Catálogo da Exposição

14

apenas de o sujeito sentir-se a si mesmo. Não é exatamente óbvio compreender o que Kant procurou assinalar com isso. Mas é digno de nota que Diderot, Goethe e Rousseau, dentre outros contemporâneos do autor da Crítica do Juízo, tenham identificado o núcleo desta experiência subjetiva, conceitualizada por Kant, em uma espacialização exterior à cidade. Foram a promenade solitária, o jardim frequentado por um Werther melancólico, os derredores de Paris, onde Diderot sentia-se fundido com a natureza, os elementos que terminaram eleitos pelos iluministas como ocasião privilegiada para o sujeito “sentir-se a si mesmo”. Em meio à natureza, em pequenas aldeias, não no agito urbano. Analisando o conjunto das teses do período em que nasce o sentido moderno de estética, poder-se-ia até levantar esta suspeita: por que o núcleo da subjetividade, como pensada pelo limiar de nossa modernidade, projetou-se para fora da urbes? Teriam eles pressentido que a cidade em vias de tornar-se moderna candidatava-se a ser o locus privilegiado da alienacão de si, da perda de autenticidade, da subordinação a mecanismos insconscientes e destrutivos (o congestionamento, enfim)? Naquele momento, ninguém poderia advinhar a utopia automobilística. Mas suspeito que o caráter individualista do discurso automobilístico se apropriou desta temática e desta poética, prometendo este impossível: ser livre na cidade sob a condição de ser proprietário de um automóvel. O pior é que a droga funciona, vicia, apela para o que temos de mais caro: quem é que, na cidade, é reconhecido como sujeito e, mais grave que isso, se sente a si mesmo como sujeito, fora do automóvel?

* * *

Page 15: MOB - Catálogo da Exposição

15

Estética e política, portanto, são tomadas pelo debate trazido à tona por Mob 11 conjuntamente. Vivenciar a cidade de bicicleta é, a um só tempo, experiência política e estética, na medida em que o que está em jogo é um modo de perceber e vivenciar a Cidade fora do automóvel. Os iluministas talvez tenham projetado muito rapidamente para fora da urbes o núcleo da experiência livre do sujeito. Mas após o Iluminismo, Baudelaire e tantos outros souberam ver na cidade um locus privilegiado de nossa experiência ética, estética e política. Não vejo por que razão esta celebração da vida moderna como uma subjetividade expandida no espaço urbano não possa ser reativada. É simples e ao mesmo tempo parece impossível, como bem sabe quem já tentou largar um vício. Você, por exemplo, já pensou no que fazer para largar do carro?

Obviamente, há toda a questão técnica, os engenheiros/urbanistas do IPPUC, o capital, o trabalho, etc. Mas Mob 11 pelo menos nos diz: os dados estão sendo jogados. Diz-nos também que Curitiba tem chances de manter-se uma cidade viva, um belo texto, ou transformar-se de vez em uma cidade qualquer, como a maior parte dos grandes centros urbanos do país. Ainda há tempo. Aqui, as calçadas são enormes, comparadas a de

outras capitais brasileiras. Nem tudo verticalizou. Bairros inteiros ainda são terrestres, a despeito da crescente poluição sobradiça da especulação imobiliária. Mesmo assim, ainda tem muita rua que não dá em lugar nenhum. Existe um trem que passa no meio da cidade. Tem ruas margeadas por grama. Há um monte de absurdos como este a serem preservados e enriquecidos, até que proliferem.

Retrucar que é um absurdo defender absurdos tão preciosos é o mesmo que abandonar a conversa, é negar-se ao discurso. Aliás, para finalizar com a etimologia, o termo “discurso” é formado a partir do particípio passado do verbo latino discurrere, “correr ao redor”. É ao movimentar-se rodeando algo, abrindo perspectivas diversas sobre o que se discorre, que produzimos esta ou aquela compreensão do que é percorrido, que nos apropriamos do percurso como experiência simbólica. Cada metáfora, cada transporte, secreta e produz sentido, atravessando o texto por fora do habitual. Já não é hora de nos autorizarmos a perder um pouco o curso habitual para reaver a força do discurso urbano, sob seu ponto de vista político e estético? Sem falar que emagrece.

Page 16: MOB - Catálogo da Exposição

16 detalhe da obra de Maikel da Maia

Page 17: MOB - Catálogo da Exposição

17rastros das bicicletadas de sábado na reitoria

Page 18: MOB - Catálogo da Exposição

18

Page 19: MOB - Catálogo da Exposição

19

painel coletivo dos

artistas e visitantes

Page 20: MOB - Catálogo da Exposição

20

Page 21: MOB - Catálogo da Exposição

21

esquerda

Marcha das Mil Bikes, 2010

direita

Bicicletada em Curitiba em um

sábado ensolarado.

Café da manhã com os artistas,

em uma das reuniões do MOB.

Page 22: MOB - Catálogo da Exposição

22

Page 23: MOB - Catálogo da Exposição

23

esquerda

Trabalhos expostos

Aspecto do Pátio do

Solar do Barão

Sofia brincando na exposição

direita

Trombone de Frutas na abertura de

exposição

Salas da exposição

Page 24: MOB - Catálogo da Exposição

24

esquerda

Valdecimples na oficina

“Powerpoint”

Maikel da Maia na oficina

da serigrafia, fechamento da

exposição.

direita

Oficina de manutenção de

bicicletas ministrada por

Lourenço Duarte

Lançamento do livro do grupo

Poro de Belo Horizonte.

Page 25: MOB - Catálogo da Exposição

25

Page 26: MOB - Catálogo da Exposição

26

André MendesÁgua de beber, água de beber camaráGarrafas de vidro com água dos rios Belém e Barigui

Barco PirataVídeo digitalEdição: Stéphany MattanóImagens: André Baliu

Em uma oficina de criatividade com a ajuda de uma equipe de marinheiros mirins construímos um barco Pirata, com lixo reciclado, madeira, tinta e tecido.

Terra à vista!Fotografia impressa sobre foam

Se temos rios na cidade por que não utilizá-los como vias de transporte?Quanto tempo levaria do ponto “A” ao ponto “B”? O modal barco em Curitiba é uma alternativa viável? Não demorou muito para obter a resposta e a idéia de navegar os rios da capital paranaense foi por água a baixo. Rios extremamente poluídos, sendo um deles, o Iguaçu, com o titulo de “vice” rio mais poluído do Brasil. Ha trechos canalizados, bloqueados por grades e muitas vezes cobertos por vias rápidas de carros, como a Rua Mariano Torres que cobre um bom trecho do nosso Rio Belém.

André MendesWater to drink, water to drink, fella!Bottle of water from the Belém and Barigui

Rivers

Pirate ShipDigital video

Edition: Stéphany Mattanó

Images: André Baliu

In a creative workshop, with a great team of mariner

kids, a Pirate Ship was built using recycled trash,

wood, paint and fabric.

Land ho!Photograph print over foam

If rivers run through the city, why not make them

useful as transit routes? How long would it take from

point A to point B? Would a boat be a reasonable

transport mode in Curitiba? It didn’t need much for

the answer, as well as the whole idea of navigat-

ing in Curitiba, the capital of the state, to go down

the drain. Extremely polluted rivers, one of them,

the Iguaçu, being the second most polluted river in

Brazil. Some parts of them have been squeezed into

channels, blocked with metal grids and mostly cov-

ered by car lanes, as Mariano Torres Street, where a

good stretch of our Belém River runs underground.

Page 27: MOB - Catálogo da Exposição

27

Page 28: MOB - Catálogo da Exposição

28

Cyntia WernerS/ TítuloInstalação

O trabalho realizado para o MOB em um primeiro momento ocorreu nas proximidades do bairro Vila Isabel, local escolhido para as intervenções. Várias imagens de bicicletas feitas em stêncil foram espalhadas pelos muros, lixeiras, calçadas, etc. Utilizando um material maleável para a produção da máscara, pude adaptar a impressão das imagens aos diversos locais. Para a exposição no Solar do Barão foram utilizadas máscaras do mesmo material, que possibilitaram contornar uma parede de 2 metros x 3 metros com cerca de 20 cm de espessura com imagens das bicicletas.

A proposta surgiu de um pensamento da bicicleta que se adapta a qualquer espaço, qualquer canto serve para que se possa encostar uma bicicleta, um quarto lotado, um pedaço de calçada, encostada em um poste, contra uma lixeira. Até mesmo quando estão empilhadas, as próprias bicicletas se encaixam entre si.

Cyntia WernerUntitledIntallation

The work presented at MOB initially took place

around the Vila Isabel neighborhood in Curitiba.

Several images of a bicycle, from stencil, were

painted over walls, garbage cans, sidewalks. As

I used a flexible material to create the masks, in

several places it turned possible to adapt at local

landscapes and to repaint them over again. At the

exhibition, the same masks made it possible to

line the wall with bicycle prints. It all started from

the thought that bicycles fits everywhere, stays at

any corner – a crowded room, a stretch of side-

walk, a light pole or a garbage can. Even when

they are piled up, bicycles fits one into the other.

Page 29: MOB - Catálogo da Exposição

29

Page 30: MOB - Catálogo da Exposição

30

Page 31: MOB - Catálogo da Exposição

31

Cintia Ribas e Conde BaltazarNovas Miradas Instalação Um objeto fotográfico, entre vidro e camadas de imagens, que procura mostrar um corpo em movimento no espaço urbano a partir de fotografias. Um gesto fotográfico congela um frame daquela realidade vivida na cidade. Assim como a fotografia, o corpo experimenta entradas singulares e inaugura lugares no espaço urbano. Interagir, pensar a cidade e o corpo na cidade distante de vivências viciadas, mas de maneira diferente. As camadas fotográficas convidam ao movimento corporal-visual aos cúmplices-participantes desses pequenos espaços urbanos, sugerindo mobilidade, ecoando novos pontos de visão e percepção do próprio corpo no espaço.

Um corpo dança e cria novas possibilidades dentro da realidade, outras confecções de sentido. Tripas, pernas, braços, coração, olhos que não olham, sentem de maneira relacional o ambiente urbano. O corpo transita entre a fotografia e a vida, esta é curta demais para se viver sempre de maneira viciada. ”viver uma vez só não vale, uma vez só não basta”. Novas formas de linguagens, des_alfabetizar minha visão de mundo. “Eu não sei mais falar das minhas coisas, a imagem no corpo tem alcance infinito”. Um passo errado, um caminho torto é uma brecha para uma vida outra.

Cintia Ribas e Conde BaltazarNew GlancesInstallation

A photograph as an objective installation, with blades

of glass and images set in a sequence of layers,

showing pictures of a moving body in the city. A pho-

tographic act freezes a living reality into frame. Like

photography, the body also experiments new entries

and opens up new places in the space. Therefor to

interact with and to think the city and the body within

it, in a brand new way. The layered images invites fel-

low participants-conspirators to a corporeal and vi-

sual contact, suggesting mobility, echoing new points

of view and perceptions.

The body dances and creates new possibilities with-

in reality, makes new senses of it. Guts, legs, arms,

heart and eyes that do not have to be looking, all

parts of it feel the city as an interactional space. The

body dances between a photographic frame and life,

this one is too precious to be lived in a vicious way.

“(…) to live once is not enough.” New forms of lan-

guage. To de-literate my world vision. “I don’t know

how to tell about my things anymore, images in the

body reach infinitity.” A misstep or a twisted path

opens to a life other than.

Page 32: MOB - Catálogo da Exposição

32

Page 33: MOB - Catálogo da Exposição

33

C. L. SalvaromobioInstalação

De natureza móvel, movente, entre frestas, das fissuras ao extremo, o musgo miúdo cresce entre as pedras das calçadas dessa cidade úmida. Dessa e de outras por onde caminhei. Quase imperceptíveis sob nossos pés, se juntam nas sombras (sobrevivem). Em alguns caminhos o musgo se alastra, evidencia-se, exuberantemente musgo. Alguns pego um tanto. Junto. O melhor abrigo nem sempre é fechado.

Em seu miolo, o museu se abre para o céu, mas ali não há acesso para quem vem, apenas se espia pela janela. Umidade concentrada. Sol, só a pino. Antes e depois, sombra. Condições para o minúsculo musgo transplantado se agarrar nas frestas e texturas do telhado que cobre o pequeno cômodo abaixo. De tanta musguice inunda o espaço, pequeno quadrado verde inclinado, com calombos, tartarugas desgarradas lentamente engolidas, cobertas ao tempo. (I)mobilidade pelo tempo, estendido, orgânico. Essa também é uma fissura, um entre, um sair sem sair. A exposição acaba, as obras saem, o musgo segue.

C. L. SalvaromobioInstallation

Of a moving nature, creeping between gaps, from crack

to extreme, a tiny moss grows among the sidewalk

rocks of this damp city. This and other cities where I’ve

walked. Almost imperceptible under our feet, getting

together in shadows (surviving). Some paths are more

friendly to moss, let it spread and show off, exuberantly.

Some, I catch a bit, I gather it. The best shelter is not

always the better protected.

There is a kind of hole at the center of the museum

which offers a little ceiling to open sky. There is no

entrance to it and you can only spy into it through

an inner window. Here moist concentrates. Either

full sunlight or nothing but shadow, before and after

noon. Which is to say, excellent conditions for a little

transplanted piece of moss to hold on to cracks and

textures. All its moss-i-ness flood the space – a tiny and

slanted green surface where cement turtles used as

traffic signals are slowly eaten up by this expansion. (I)

mmobility through time, extended and organic. This is

also a crack, a gap, an in-between, a going out without

leaving. The exhibition ends, all works depart, and the

moss continues to be.

Page 34: MOB - Catálogo da Exposição

34

Page 35: MOB - Catálogo da Exposição

35

Daniel DACHArapucaVideo instalação

Em uma pequena armadilha para pássaros, vejo uma menina se debatendo feito animal atrás de arames finos, um alçapão. Arapuca feita especialmente para capturar seres penosos, leves, coloridos e indiscretos. Aprisionada agora, um lindo corpo mascarado sobre um fundo azul, parece se conformar.

Dentro de um banheiro feminino vejo um espelho. Nele reflete a imagem desta minúscula jaula. Sem permissão então corro para o quintal dos vizinhos, furto verdes plantas proibidas estáticas por seus donos. Contudo levo as plantas em frente a pequena arapuca, que para o deleite do lindo corpo aprisionado, goza o frescor de sentir uma natureza falsa dentro de si.

Daniel DachTrapVideo installation

In a small bird trap, I see a girl moving from side to side like an animal behind thin wires. A trap made specially to capture feathered

beings – light, colorful and naughty beings. Now a beautifully masked body is caught against a blue background, and looks settled

down. Inside the loo I see a mirror, and it reflects the image of this small cage. Without permission, I run to the neighbors’ yard and

I steal the greenest forbidden plants. I put them in front of the tiny bird trap that, to the delight of the pretty imprisoned body, enjoys

the freshness of feeling a fake nature within itself.

Page 36: MOB - Catálogo da Exposição

36

Dulce OsinskiGeografias UrbanasFotografia

Circuito Barreirinha é uma série de 05 módulos no formato de 46 X 66 cm que compõem uma instalação realizada em fotografia, tendo como temática os trajetos viários do bairro em questão.

A idéia norteadora do trabalho é o deslocamento provocado pela imagem fotográfica, que transforma as cicatrizes das ruas de um bairro periférico da cidade em verdadeiros mapas que remetem a uma paisagem pouco comum. Pensa também as relações entre o transeunte ciclista ou pedestre com os caminhos percorridos, que devido à velocidade e à proximidade do olhar podem ser perscrutados com mais detalhes, evidenciando-se suas fraturas, emendas e destratos.

Page 37: MOB - Catálogo da Exposição

37

Dulce OsinskiUrban GeographiesPhotography

Circuito Barreirinha is a series of five modules of 46

x 66 cm composing a photographic installation that

takes as its theme the street routes of Barreirinha,

a nice city district in the outskirts of Curitiba.

This work aims at the dislocation that a photograph

can provoke, transforming the scarred surface of the

streets into virtual maps of an uncommon landscape.

It also takes into account the physical recognition of

texture, by the slower moving cyclists and pedestrians

as they go, in their inspection of the unfolding path

that opens up to detail of fracture, crack and wear.

Page 38: MOB - Catálogo da Exposição

38

Page 39: MOB - Catálogo da Exposição

39

Fabianne Balvedi/ppm __percepções por minuto

Transitória em sua essência, a obra consiste no lançamento de lúmens de frames sobre os mais diversos tipos de superfícies. Uma tinta efêmera traveste o cotidiano da cidade com imagens que remetem ao uso de bicicletas e à formação de uma massa crítica. A técnica chama-se VJing e define-se por uma performance visual em tempo real.

A interatividade que este tipo de intervenção artística possui permite que o ambiente seja co-autor no processo e que cada performance tenha sua própria identidade. Uma MOBilidade de fluxo que dialoga com a urbanidade das texturas sobre as quais se projeta: muros, fachadas, latarias, asfaltos, semáforos, placas, roupas e peles. Conversa também com as sonoridades presentes no espectro desses momentos, adicionando ritmos diferenciados a sua linha de tempo.

Fabianne Balvedi/ppm __ perceptions per minute

Essentially transitory, the work consists in projecting frames of lumens on all kinds of surfaces. An

ephemeral paint dresses the daily life of the city with images that suggests the use of bicycles and the

growth of a critical mass. The technique called Vjing defines itself as a visual performance in real time.

The interactiveness inherent in this kind of art allows a margin of co-authorship to the environment itself

and makes every performance a unique act. A MOBility in flux that dialogues with textures on walls,

buildings, car surfaces, asphalt, traffic lights, signs, clothes, skin, it incorporates sounds that might be

present at the moment, adding different rhythms into the time line.

Page 40: MOB - Catálogo da Exposição

40

Fernando FranciosiQuestionamentos da 5ª série

Esta intervenção vem a partir de dois momentos, primeiramente por presenciar constantemente a seguinte situação desde as primeiras horas do dia: seis pistas para carros restando ao ciclista ficar debaixo de antenas gigantes de alta tensão, acuado, fragilizado, teimosamente se equilibrando numa espécie de rally urbano, além de muito próximo aos automóveis em alta velocidade. Em seguida, veio um questionamento de uma aluna da 5ª série sobre a inexistência de um espaço seguro para pedalar na via entre o principal município conurbado com Curitiba. Além da minha resposta e de outras que conheço, eu quis saber o que as pessoas que passam pelo local tinham a dizer. Também fui inspirado por um segmento de um vídeo em que Joseph Beuys afirmava que nós devíamos falar mais de nossos problemas em público.

A relutância de uma forte estrutura, a relação amorosa com o tempo e um tipo de doce recusa ao capital, são características que absorvi e procuro perpetuar a partir dos trabalhos do mestre Alfredo Volpi. A performance como um todo simboliza um grito, ou ainda, um assovio de subjetividade diante o compressor da objetivação do mundo. A sutileza mimética garante maior sobrevida ao objeto na rua e assegura algo fundamental nas minhas intervenções públicas: o fator surpresa. Diante de emoções rotineiras e do bombardeio publicitário da cidade, tal surpresa guiaria, de modo invertido aos tempos iniciais do ready-made, as questões: ...o que essa coisa faz aqui? Isso é verdadeiro? É brincadeira? É oficial? Isso é arte?

Fernando FranciosiQuestioning on the 5th degree

This intervention comes, first, from constantly watching

the same situation since first daylight: six lanes for cars

and a cyclist left to pedal at the middle path, under huge

electricity antennae and heavy wires, squeezed and

fragile, resisting stubbornly on two wheels the tensions

of a so called urban rally, dangerously close to wild car

traffic. And second comes from the questioning of a 5th

grader about the nonexistence of a safe place to ride a

bike at that very same highway, connecting an important

district to Curitiba. Though I have my own response to it,

and people that I know have theirs as well, I also wanted

to listen to what people in that place had to say. A further

inspiration comes from a statement in a Joseph Beuys

video where he suggests that we should speak out more

openly about our problems.

Resilience that we have to have to face structures as

massive as that one, an amorous relationship with time

and a kind of sweet denial of capital are lessons that I

have learnt from the art work of master Alfredo Volpi.

Performance itself stands for shouting and hissing our

subjectivity against the steamrolling objectivity of reality.

Mimetic subtleness guarantees a longer survival for the

object in the street and also assures the main element

of my public interventions: the surprise, the unexpected.

Facing the emotional routine that keeps being produced

by the city and its propaganda machine, surprise, as an

inverted guide to the era of the ready-made, may pose

some questions: What is this for? Is it true? Is it a joke?

Is it official? Is it art?

Page 41: MOB - Catálogo da Exposição

41

Page 42: MOB - Catálogo da Exposição

42

Fernando RosenbaumFim de CarreiraInstalação

Uma obra em progresso, vindo da observância das marcas urbanas, resultante do atrito das pessoas pela superfície áspera da urbe, é neste grande ralador que deixamos um pouco a cada movimento. Dos registros sanguíneos sobre o petit-pavet, à borracha queimada que antecede a um incidente, esta é uma documentação de nossa passagem pela superfície terrestre, uma marca delével.

Penso em marcações que dêem conta da imaterialidade, em gravuras de acontecimentos, em impressões de memória, em transposições temporais. Fim de Carreira, segue a linha de outros usadores da cidade com quem me tranço para conectar novos derrames de tinta sobre o asfalto, marcando caminhos e/ou grafando desenhos. O fio de tinta escorre de um pequeno orifício na lata, deixando uma linha ou uma seqüência de pontos. Antes havia tentado outros sistemas de usar tinta, mas algumas experiências catastróficas me direcionaram a simplificar a operação.

Page 43: MOB - Catálogo da Exposição

43

Fernando RosenbaumThe end of the lineInstalation

This is a work in progress that starts from watching

the traces left by people on the rough surface of

the city, the big grater where every movement

takes its little toll. From blood stains on the petit-

pavé sidewalk to the signs of burnt rubber tires

that precede an incident, they all document

our passing by the earthly surface, a lingering

signature. I think of registers that may account

for the immaterial, of the etching of events, of

impressions of memory, of time transpositions.

“The end of the line” follows the path of other

city users whom I link myself to, to join in new

spillings of paint on asphalt, marking tracks and/

or graphing drawings. A thin stream of paint

flowing from a small hole in the can drops a line

or a sequence of dots. Formerly I did try to employ

paint as a classic master but some catastrophic

results led me to simplify the operation.

Page 44: MOB - Catálogo da Exposição

44

Goura NatarajEnergy is Eternal DelightInstalation

It is an attempt at mapping out space under concepts

richer and more meaningful than the mere mobility of

survival, the cartography of industry and capital, the

alienated modes of commuting that care only for the

destiny not the journey, the passive transportation of

the motorized that drains the vital energy of the city

and its citizens.

Energy channeled into “useful” ends neglects and

degrades any of the overflowing possibilities of

contemplation and creation that are not immediately

oriented to pragmatic profit. Criticism is well deserved

by traffic and the city understood as simply passage.

Fast lanes occupied by all types of accelerated, fast-

minded people. Hostile streets where it is better not

to be at.

Psycho-geography rescues space into its primeval

purity – a tabula rasa of emotions and feelings. Its

says we can put meaning on things. We can elect

symbols. We can create holidays. We can put up

nets and free maps. We eulogize the self propelling

machines. Self propelling is self delight! The

unfolding of creative energy is self delight. “Energy is

eternal delight,” said the Blakean demon.

Goura NatarajEnergy is Eternal DelightInstalação

Trata-se de uma tentativa de mapear o espaço sob conceitos mais significativos e ricos do que a simples mobilidade da subsistência, a cartografia das indústrias e do grande capital, o transporte alienado que só pensa em chegar lá, o transporte passivo dos motorizados que exaure a energia vital dos centros urbanos e seus habitantes.A energia destinada a fins ´úteis´ despreza e degrada toda forma super abundante de contemplação e criação ´inúteis´, que não pensem apenas no lucro pragmático. A crítica vai ao trânsito e a cidade considerados apenas como passagem. Velozes vias de acesso para todo tipo de apressado. Ruas que tornam-se hostis pela presença maciça dos automóveis.

A psicogeografia resgata ao espaço sua pureza primordial -Tabula rasa das emoções e sentimentos. Podemos estabelecer significados nas coisas. Podemos eleger símbolos. Podemos criar feriados - individuais ou coletivos. Podemos estruturar redes e mapas livres, que ignoram o enfadonho ir e vir das mercadorias e suas leis tirânicas. Estamos interessados nos territórios livres que surgem da intervenção direta das pessoas. O transporte autônomo, que favorece o contato com o corpo e que expande a liberdade do indivíduo, é o objeto de nosso elogio.

Queremos o desenvolvimento de uma mobilidade hedonista, que priorize a dignidade do corpo, o acesso a cidade, o frio na barriga, os encontros não planejados, o vento na cara, a autonomia do trajeto. Os símbolos livres, instaurados aqui e ali, criam diálogos com a cidade e seus outros símbolos - livres ou institucionalizados - produzindo um certo tipo de espanto, condição de toda filosofia.

Page 45: MOB - Catálogo da Exposição

45

Page 46: MOB - Catálogo da Exposição

46

Guilherme CaldasUm Longo Caminho

Da minha vivência de dez anos como ciclista, aprendi, aos poucos, a apreciar a beleza das pequenas imperfeições e arranhões na pintura de uma bicicleta com alguns anos de uso. São sinais carregados de significado, que carregam as marcas dos caminhos por ela trilhados. (…) Esta percepção se deve, em boa parte, às marcas que trago comigo, tanto quanto às marcas que traz a minha bicicleta. Minhas pernas são fortes, meu capacete é marcado e minhas mãos trazem calos do guidão. E minhas luvas, os furos e as marcas de um uso muito intenso. Daí, minha idéia de comparar estas marcas, das mãos e luvas, com as marcas dos quadros de bicicletas, que são testemunho dos caminhos percorridos pelo ciclista.

Page 47: MOB - Catálogo da Exposição

47

Guilherme CaldasA Long Way

Pedalling the past ten years as a systematic cyclist, I have learned to enjoy the beauty of an used-looking bicycle, with small

imperfections and scratchings at the painting. These are meaningful signs, carrying traces of the places crossed by it. This perception

comes as much from the marks that I carry on me as from the marks that I carry on my bicycle. The strength of my legs join my

helmet’s marks and the calluses from handlebars in both hands. My gloves have holes from being well used. It came naturally, the

idea of comparing these traces, of the hands and gloves, with the bicycle frames – they are all witnesses of the routes travelled by

their owners.

Page 48: MOB - Catálogo da Exposição

48

Guilherme Sant’anaO petróleo é nosso?Painel fotográfico Um grande professor que tive, chamado Rodolfo, me disse há anos atrás: “Ao consumirmos petróleo, criamos um vínculo cármico com os dinossauros”. Esse conceito traçou as bases da minha compreensão sobre a idéia de causa/efeito. Os dinossauros como evidência de ascensão e queda de uma espécie, sempre me fascinaram (dinossauros me fascinam desde criança). Fiz uma série de estudos (historinhas e fotonovelas) usando essa técnica da macro fotografia com brinquedos e objetos. Algum dia por acaso coloquei os homenzinhos que eu usava nas maquetes da faculdade, montados nas mini-feras pré históricas e a metáfora apareceu de forma muito clara.

Considerando-se captura, transporte, adestramento, castração e esterilização em autoclave, o custo de um dinossauro jovem é significativo no orçamento atual do brasileiro médio. Sem falar na quantidade colossal de árvores, arbustos e água consumidos diariamente, pois, um automóvel custa mais caro que isso tudo. Bem mais caro.

Minha conclusão é que prefiro um mundo onde pessoas desloquem-se montadas em dinossauros. Acho mais leve, mais poético e, principalmente, mais honesto.

Guilherme Sant’anaIs that oil really ours?A photographic panel

A great teacher called Rodolfo once told me:

“By consuming oil, we create a karmic bond with

dinosaurs.” This concept drove me to understand

what the action/reaction idea means. As an evident

example of the rise and fall of a species, dinosaurs

fascinate me ever since I was a kid. I have made

several experiments (graphic novels) using the

macro-photography technique on toys and objects.

One day I happened to place a miniature of man

from my architecture school models riding the mini-

pre-historical beast, and the metaphor was clear.

Considering the process of hunting, hauling, training

as well as the castration and sterilization in autoclave,

the cost of a young dinosaur can be a heavy item

in the budget of the ordinary Brazilian. Not even

mentioning the huge quantity of trees, bushes and

water consumed daily.

Well, a single automobile costs more that all that.

Much more. My conclusion is that I rather prefer

a world where people ride dinosaurs. I think it

smoother, more poetic and especially more honest.

Page 49: MOB - Catálogo da Exposição

49

Page 50: MOB - Catálogo da Exposição

50

Glerm SoaresJardim de Volts e a Hidrelétrica Salar-BariguiInstalação

Através deste “artesanato de volts”, ao pedalar em frente a um simulacro audiovisual com uma bicicleta ergométrica de salão, você é transportado para um percurso de deriva urbana e delírio sobre a energia e tecnocracia urbanista nas cidades.

Um passeio virtual que parte da Rodovia do Café, que liga Curitiba ao interior do estado do Paraná (ou ao Oceano Pacífico?), passa por uma rua cheia de vendedoras de automóvel, segue pelo parque Barigüi encontrando o jacaré e o Museu do Automóvel e perde-se desorientado pelas antenas das Mercês, encontrando o Movimento dos Sem Satélite (MSST) numa vertigem que entra no centro da cidade por dentro das portas do Solar, perdendo-se entre seus barões.

Glerm SoaresGarden of Volts and the Hydroelectric Solar-BariguiInstalation

Through this “handicraft of volts”, while riding in

front of an audiovisual simulacrum with a stationary

bike, you drift into a casual journey across the city,

along the energetic deliriums of its urban-planning

technocracy. A virtual ride from Rodovia do Café,

the main road from Curitiba to the state hinterland

(or should I say the Pacific Ocean), will take you

to a street scene with plenty of car sales and on

to Parque Barigui where you will meet its famous

crocodile and visit its Automobile Museum and on

until you get lost among the broadcasting antennae

of the Mercês neighborhood … to the point where

you will run into the Movement of the Sateliteless

Workers (MSST), and finally on to a dizzying drive

across downtown and into the gates that open to the

exhibition at Solar do Barão.

Page 51: MOB - Catálogo da Exposição

51

Page 52: MOB - Catálogo da Exposição

52

Gustavo PrafrenteS/ Título

O trabalho foi realizado através de procedimentos tais como: deriva pelo espaço urbano, focando minha atenção em elementos descartados e marginalizados (sacos de lixo), recolhimento de tais materiais para o espaço expositivo e processamento de tais elementos de acordo com as especi-ficidades da nova localidade (neste caso, eu realizei a ação de re-empacotamento, envolvendo-os com fitas adesivas, buscando criar uma possibilidade de permanência desses elementos dentro do espaço expositivo) e por fim lidei com a questão da disposição dos volumes dentro da sala afim de atingir uma composição equilibrada, buscando acessar o público através dos conhecimentos já utilizados no campo do design e decoração.

Acredito que o trabalho se relacione com o tema da mostra através de um viés não representativo, mas sim buscando incorporar as preocupações e os novos apontamentos pos-síveis para o desenvolvimento da questão da mobilidade dentro do espaço urbano, tais como deriva e atenção ao elemento descartado.

Page 53: MOB - Catálogo da Exposição

53

Gustavo PrafrenteUntitled

Steps have included: drifting through the urban

space with an eye to disregarded or discarded

elements (garbage bags included); gathering and

collecting this material for the exhibition space;

processing these elements according to the

specific conditions of the new location (in this I

repackaged them with a view to their standing at

the space); and finally dealing with the question of

volumes inside the room so as to reach a balanced

composition.

I believe this work has to do with the general theme

in an indirect way, incorporating concerns and new

possible observations, such as relate to driftage

and disposal, that link with the question of what is

mobility within the urban space.

Page 54: MOB - Catálogo da Exposição

54

Jaime VasconcelosS/ TítuloIlustração sobre papel

O desenho junta dois conceitos com os quais todos os envolvidos na exposição convivem diariamente - a vida urbana e o transporte por bicicleta. A grande questão do desenho é propor, à maneira gráfica, adequações para as ações positivas em relação a bicicleta, ações que estão se tornando cada vez mais recorrentes nos grandes centros.

Jaime VasconcelosS/ TítuloIlustration on paper

The drawing puts together two concepts that all

the artists from MOB011 share - the urban life and

the bicycle as a mode of transportation. Its main

purpose is to suggest, in a graphic way, positive and

creative actions in support of a more bike-friendly

environment.

Page 55: MOB - Catálogo da Exposição

55

Page 56: MOB - Catálogo da Exposição

56

Maikel da MaiaCalendário/2011

Identificada à ação de intermédio do panfleto entre e com serviços, informações, ideologias, venda, compra, troca, promoção, etc, utilizo da gratuidade existente na palavra impressa de grande circulação (ACEITAR E LER) e proponho a distribuição de um calendário de bolso do ano vigente 2011 dentro do fluxo de circulação que ocorre no espaço da exposição e fora dele em situações elaboradas ou não, coerentes ou não, permitidas ou não para distribuição de 5.000 impressões off-set.

Page 57: MOB - Catálogo da Exposição

57

Maikel da MaiaCalendar/ 2011

Like a leaflet that mediates services, information, ideologies, buying and selling and

trading and promoting, I avail myself of the gratuity inherent in the printed word of

mass circulation (ACCEPT AND READ) to propose the distribution of a pocket calendar

for the current year of 2011 into the flow of visitors to the exhibition and elsewhere,

in situations that are intended or not, coherent or not, allowed or not allowed, to the

amount of 5000 units.

Page 58: MOB - Catálogo da Exposição

58

Michele MichelettoO Plano das Bikes BrancasHappening

O Plano tem seu antecedente na década de 60, quando um grupo de artistas e anarquistas holandeses, chamado PROVOS, instituiu a bicicleta pública de uso comum.Curitiba teve a sua primeira bike pública exposta no MAC – Museu de Arte Contemporânea, em 2007. No ano seguinte um grande plano foi montado para arrecadação de bicicletas, inicialmente expostas no Centro Histórico de Curitiba, na então denominada Árvore da Mobilidade. No MOB algumas dessas bicicletas foram consertadas e passaram a rodar pela cidade, despertando emoções e sensações aos participantes do projeto.

O usuário permanece 7 dias com a bicicleta para ver a cidade com outros olhos. A idéia das bicicletas comuni-tárias só funciona com a participação do individuo, crian-do uma relação direta do usuário, a pessoa, as histórias, as emoções e visões, criando em cada um, um relato dife-rente e uma vivência única. A ação de divulgar a bicicleta como veículo e seu espaço na cidade vem questionar o uso massivo do automóvel e sugerir a integração da bici-cleta na rotina das pessoas, mostrando seus benefícios físicos e mentais.

Michele MichelettoThe Plan of the White BikesA Happening

The Plan looks for inspiration in the movement of

Dutch artists and anarchists of the 60s known

as Provos, who first instituted the public bicycle

for common use. Curitiba had its first public

bicycle exhibited at the MAC – Museu de Arte

Contemporânea in 2007. The following year a big

campaign was set to collect bikes, which were

initially arranged as a connected sculptural whole in

the so-called Mobility Tree in the downtown historical

area. At the MOB exhibit some of these bicycles were

fixed and once more put to use for the excitement

and thrill of each participant. A seven-day term is

offered as an opportunity to experience a different

point of view of the city, which results in unique

stories of discovery and shared emotion. Pursuing

the bicycle as an alternative mode of transportation

and its full integration in the daily routine, with the

accompanying physical and environmental benefits,

the Plan also means to criticize and decidedly

oppose the irrationality and waste that come with the

massive use of the automobile.

Page 59: MOB - Catálogo da Exposição

59

Page 60: MOB - Catálogo da Exposição

60

Page 61: MOB - Catálogo da Exposição

61

Pedro GiongoMapa para Jacques CousteauVídeo

A cidade cresce a um ritmo vertiginoso, um gráfico surge em volta de um ponto, e o que era apenas uma pequena rachadura se transformou em uma gigante ramificação. Um elefante pesado no meio de tudo - é nisso que a cidade se transformou, num elefante no meio de tudo. O caminho a ser traçado agora é o inverso, e o homem já não se sente mais tão sozinho, porque as imagens do fundo do mar, parecem ressoar imagens de outros espaços, outros universos.

Pedro GiongoA Map to Jacques CousteauVideo

The city grows at breathtaking pace, a graphic

enlarges around a dot, and what was a simple fissure

turned into a huge diffused crack. A heavy elephant

stuck in the middle of everything – that is what is

has become. Now the path to be mapped goes the

other way, and man no longer feels so lonely, since

the images from the bottom of the sea seem to evoke

perceptions of other spaces, other universes.

Page 62: MOB - Catálogo da Exposição

62

Raphael FernandesTeoria da GravidadeInstalação / Perfomance

Baseado no trabalho de dança contemporânea para criança do coletivo Brincante, “Quando tudo cresceu” (2009), a Teoria da Gravidade começou a tomar forma. A idéia do coletivo, de pensar uma dança tendo como ponto central de pesquisa a memória particular do universo infantil, estimulou minha pesquisa, que tomou formas distintas em cada linguagem que foi experimentada.

A performance que apresentei é uma brincadeira que se organiza de maneira provisória, produzindo conhecimento necessário para sonhar, gerando lugares diferenciados de percepção de si e de re-significação poética. Torna-se um jogo que potencializa as construções lúdicas da obra, promovendo a integração de elementos que se articulam entre ganho de percepção, ampliação da experiência motora e estética, bem como a expansão dos repertórios simbológicos.

Page 63: MOB - Catálogo da Exposição

63

Raphael FernandesGravity TheoryInstallation / Performance

Based on the contemporary dance for children

from the Brincante collective - “When everything

grew” (2009), the Gravity Theory slowly took

shape. The main idea was to connect the

particular memories from childhood imagination.

That has stimulated my research, which assumed

distinct forms in every language I used.

The performance is a kind of play which organizes

itself producing knowledge to dream, to create

new levels of self-perception and poetic meaning.

It becomes a game that potencializes the ludic

constructions of the work, promoting a whole set

of aesthetic and bodily experiences.

Page 64: MOB - Catálogo da Exposição

64

Page 65: MOB - Catálogo da Exposição

65

Rimon GuimarãesTeme Treme

Teme Treme os continentes dentro do grande elefante vermelho, suas patas são como receptores de ondas. Intuitiva, a mente liga novas rotas. Em sua orelha leva um periquito de carona para um lugar que chamamos futuro.

Rimon GuimarãesTeme Treme (Fears’n Trembles)

Fears ‘n Trembles … feels the continents inside

the big red elephant, its elephant feet are wave

detectors. Intuitively, the mind reorganizes new

routes. On its huge ears, it gives a ride to a little

parrot to somewhere we call “future”.

Page 66: MOB - Catálogo da Exposição

66

Thiago SyenAcessoInstalação

Acesso é a representação de uma rampa de acesso, um objeto de arte instalado na entrada da Sala do Museu da Fotografia e que questiona o real acesso da população de Curitiba e região aos espaços expositivos da cidade e a própria arte.

O artista acredita que a arte é para todos e que deve chegar a todos. No entanto, para que isso aconteça, os espaços expositivos devem se adequar e proliferar nos bairros mais distantes da cidade, ampliando assim o acesso a arte e inserindo a arte no cotidiano das pessoas.

Page 67: MOB - Catálogo da Exposição

67

Thiago SyenAccessObject and Installation

Access is the representation of a ramp, an object-installation at the entrance to the exhibition rooms in the Museum, that aims at

questioning whether there is real acess to art and art spaces for people in our town.

The artist believes that art is to be shared by everyone, and therefore art and art places ought to multiply and spread to the suburbs

and into the daily life of all.

Page 68: MOB - Catálogo da Exposição

68

Page 69: MOB - Catálogo da Exposição

69

ValdecimplesEu ou parte do euInstalação

Uma instalação composta por dois cartazes colados diretamente na parede e algumas fotografias de meu acervo pessoal em porta-retratos sobre eles.

Dois cartazes associados: um auto-retrato e outro desenhos quadro-a-quadro que se dialogam em balões com questionamentos sobre o cotidiano. Esse é um díptico que trata de relações dialéticas entre imagens e seus discursos. No primeiro, a reprodução em fotografia do autor, e no segundo a criação do desenho como representação da imagem do autor. Qual é a imagem do artista? É aquela que o autor cria ou aquela que a sociedade constrói e determina? Uma busca de realizar analogias entre imagem e palavra. A palavra como índice, como desenho, como signo; e a imagem como palavra, como signo, como índice, como desenho.

Os cartazes tem informações sobre a exposição provocando que transeuntes se interessem mais sobre o trabalho, pois foram confeccionados para circular em lugares específicos da cidade, em lugares para o qual os cartazes são destinados: ônibus, terminais de ônibus, entre outros pontos. Um instrumento utilizado como proposta artística para circular em meios não convencionais e também, para mais uma forma de dar acesso. Colocar em circulação e assim, atingir outros expectadores, despertando outras leituras do formato (cartaz) tão comum em pontos saturados de informações. Essa proposta foi negada aos órgãos competentes e que regulamentam tais inserções em ônibus e terminais, pelo fato de que os cartazes não caracterizam temas de utilidade pública. Fica a pergunta: a arte e a cultura têm caráter de utilidade pública? Num segundo momento, os cartazes foram habitar outros locais: muros, casas, escolas, escritórios e lugares de exposição disponível no corpo construído da cidade.

ValdecimplesMe or a part of meInstallation

Two posters are fastened with glue on the wall and a

series of photographs of my personal collection are

fastened around them. The two figures co-relate as

a self-portrait and drawings with balloons frame by

frame with questions about everyday life – a dyptic

that talks about the dialectic relation of the image

and its meanings. Which is the real image of an

artist? The one that he creates of himself or the one

which society imposes on him?

It also works as an analogy of the tension between

image and word. The word as an index, an icon, a

sign; the image as word, sign, index, and drawing.

Both images were meant to direct attention to the

very MOB exhibit and to be shown at those places

in town where posters are usually framed, like bus

stops and stations. That was not allowed, though,

by those who regulate the fixing of information at

those public spaces, on the excuse that they do not

concern the public interest.

And then comes another good question. Don’t art

and culture address the public interest? I did not wait

for the answer and proceeded to fix them wherever

the constructed body of the city would allow me in

– walls, houses, buildings, schools, business offices

and so on.

Page 70: MOB - Catálogo da Exposição

70

A reeducação dos sentidos e a brisa no

rosto de quem pedala.Jaques Brand

Ali por 1910, 1911, 1912, o noticiário dos jornais

curitibanos já refletia, como problema, a gradual introdução

do automóvel no quadro urbano.

Uma dessas notícias dava conta do atropelamento

de um corneteiro do Exército, ferido na perna por um carro

da Garagem Fontana. O soldado foi assistido por populares,

que se juntaram em multidão na praça Tiradentes, centro de

Curitiba, cenário do ocorrido. Deve ter recebido tratamento

médico e licença do serviço para convalescer em casa.

Leve e trivial para os padrões atuais, o acidente

chocou a cidade, sendo narrado em detalhes, com chamada

em primeira página.

***

Mais ou menos na mesma época, um leitor escrevia à

redação para protestar, indignado, reclamando providências.

Morava em uma chácara dos arredores e vinha denunciar

que, certas noites da semana, a passagem de um automóvel

ali perto acordava toda a família e os animais domésticos.

Cães, galinhas, porcos, vacas e cavalos – todos despertavam

em sobressalto.

***

The reeducation of the senses and the

touch of breeze on the biker’s face.

Abstract

The introduction of the first automobiles

in Curitiba, in southern Brazil, was already felt as a

problem in newspaper reports from the beginning of

the last century. People got hurt in the streets and

even slight accidents gathered whole crowds in the

downtown area; the noise of motorcars throbbing

past distant country-homes would disturb the night

sleep of dwellers and domestic animals alike.

Perceptions change though in time. As

witnessed many decades later by the author, even

a street dog might perform the successful crossing

of a complicated traffic knot, a performance which

illustrates the transformation and reeducation of

the senses, taken as a general consequence of the

industrial revolution.

As that clever street dog, we all have

adjusted to the intrusion of motor vehicles in the

urban landscape. Gradually we have built a new

Convention and we also got used to accept the

Page 71: MOB - Catálogo da Exposição

71

Uns noventa anos mais trde, enquanto espero

meu sanduíche na lanchonete do Billy, contemplo

de uma mesa posta na calçada, junto à complicada

esquina de Martim Afonso com Desembargador

Mota, junto à praça 29 de Março, em Curitiba,

o desfile de colunas maciças de carros, que se

alternam nos ritmos do semáforo, avançando uns e

parados outros na expectativa do sinal verde.

Essa esquina é interceptada por uma via

diagonal, a Fernando Moreira, que abriga a canaleta

do ônibus Expresso – o que faz dela quase uma

estrela: além das ruas em cruz, a diagonal corta a

cruz pelo vértice.

De repente, na calçada da Mota, quase

deserta, esvaziada de gente como tantas outras

calçadas da cidade – de repente aparece,

desfilando em passos elegantes e tranqüilos, um

cachorro de rua, um vira-latas, nem grande nem

pequeno, nem gordo nem magro, aparentado no

perfil encompridado aos “lingüiça” de melhor

pedigree. Aproxima-se do cruzamento com a Martim

Afonso; educadamente, pára junto ao meio-fio; e ali

aguarda a passagem dos carros que descem do alto

do Bigorrilho, em densas colunas duplas.

O sinal muda, os carros na Martim Afonso

param, e o cachorro atravessa sem pressa, diante

dos focinhos protuberantes das duas colunas de

carros, como se estivesse passando-as em revista,

até alcançar a pequena “ilha” do outro lado da

rua. Detém-se por ali um instante, olha nas duas

direções, e completa a travessia do segmento

da diagonal, seguindo então, lépido e fagueiro,

rebolando o rabo, pela continuação da calçada da

Mota, na mesma inalterada velocidade de cruzeiro.

***

Enquanto mastigo o sanduba do Billy,

vou meditando sobre a cena do cão transeunte.

Também os animais passaram, neste século, desde

a introdução do automóvel, pela reeducação dos

sentidos, mencionada por Karl Marx como uma

das conseqüências digamos antropológicas da

Revolução Industrial.

Uma nova Convenção, construída aos poucos

a cada dia, a cada travessia, a cada acidente,

durante muitos anos, instaurou-se afinal entre nós,

Page 72: MOB - Catálogo da Exposição

72

e nos adaptamos a ela, os humanos e os outros bichos.

Aprendemos todos – os cães, os gatos, os ratos, os pombos,

os humanos – a conviver com a intrusão de frotas inteiras

no espaço das ruas. Aprendemos a seguir nosso caminho

entre a massa de máquinas, fiados nos sinais do semáforo.

Aprendemos também, infelizmente, a aceitar o inaceitável.

Alguns de seus ônus são tangíveis ou sensíveis,

como o ruído, a fumaça, o estreitamento do espaço público

para a abertura e o alargamento das pistas de rodagem, a

descontinuidade do passeio dos pedestres, o despovoamento

das calçadas, a cara fechada e tensa das pessoas lacradas

no interior das latarias, o confortável desconforto dos

passageiros, o risco quase permanente de uma colisão...

Outros danos, de imensa monta, nem aparecem na

paisagem organizada das cidades: as guerras invisíveis que

se travam do outro lado do planeta pelo controle das jazidas

de petróleo, o transporte perigoso e a incessante poluição

dos oceanos, os oleodutos que interrompem a continuidade

dos espaços naturais, o passivo ambiental do refino...

Mas há também aquilo que os economistas chamam

o custo-oportunidade, isto é, as preciosas alternativas

de uso do espaço urbano que poderiam ensejar novas

formas de sociabilidade, ou preservar as antigas, e que,

necessariamente, são descartadas, para que as frotas

possam enfim se deslocar... São as oportunidades históricas

perdidas, das quais desembarcamos, para embarcar, aflitos

ou docemente inscientes, na Bolha.

***

Estranho paradoxo, o que se traduz no fenômeno da

multiplicação dos veículos automotores a cifras absurdas: a

maravilha do engenho humano volta-se contra o seu criador.

Conseguimos banir da superfície da Terra os animais

selvagens que visitavam à noite a periferia das nossas

aldeias, e introduzimos um tigre mais feroz, mais voraz do

que todas as feras.

unacceptable: broad environmental and political

damage from the oil industry; the enslaving of

the economy to the automotive industry; the

subordination of urban space to the imperative

demands of vehicle circulation; the high opportunity

cost paid by society in terms of lost old and new

desirable forms of existence and sociability; not to

mention the killing and maiming of millions of people.

As a legitimate daughter of the same

industrial revolution, the bycicle is viewed by the

cycloactivists of the Bicicletada as in itself the

best criticism of the car culture. And though town

authorities refuse to enforce the very laws that would

ensure its legal place as a means of transportation

in daily city life, the movement will go on looking

for ways to make those laws hold and to reeducate

public administrators and citizens toward acceptance

of a clean, resource-saving and healthful transport

modality.

In spite of the thin results of bike-

activism in Curitiba until this moment, the breeze

that caresses our faces as we ride our bycicles is

rewarding enough to persuade us to keep doing our

part, and confirmation enough that History, after all,

is by our side.

JAqUES BRAND

Page 73: MOB - Catálogo da Exposição

73

***

As legiões e legiões e legiões de mortos e

mutilados no trânsito, sejam nas colisões carro

a carro, sejam por atropelamento, pertencem

à normalidade enferma e atormentada da nova

Convenção. E não acharam até hoje o seu poeta

elegíaco, nem o pastor que em estilo asiático

reivindicasse, por atacado, dos púlpitos, a sua

memória e o seu calvário.

***

Já salta aos olhos a evidência de que o

sistema econômico atrelado à matriz petroleira e

automotiva, como os dinossauros do K/T, agoniza,

e com ele o planeta, ferido de uma doença mortal:

o gigantismo, com o mesmo grave sintoma de

sempre: a falta de imaginação.

À força do imperativo keynesiano da

administração da demanda (dá-lhe propaganda!), à

força de guardar a coesão e o dinamismo das cadeias

produtivas, caminha velozmente para o abismo – e

nisto guarda uma solidariedade verdadeiramente

igualitária, pois promete levar-nos a todos para o

mesmo buraco.

Até mesmo em seus próprios termos,

o sistema titubeia: “fliperama” extremamente

primitivo, o máximo de segurança que propõe

são as caríssimas duplicações das vias, e uns

poucos aperfeiçoamentos cosméticos para a

diminuição dos efeitos dos impactos. Nem sequer

se cogita da aplicação massiva dos sistemas de

posicionamento eletrônicos, ou da redução drástica

da escala dos veículos, ou do engenheiramento

das ruas inteligentes, que se valesse dos recursos

espertíssimos da digitalidade...

***

Em recente crise financeira, quando ruiu

o castelo de cartas das aplicações derivativas, e

a conta foi apresentada secamente às populações

estupefatas, o presidente Luiz Inácio Lula da

Silva, do Brasil, um bom sujeito, apressou-se a

garantir crédito e recursos públicos às montadoras

de automóveis...para que pudessem continuar

vendendo tanto como nos dias da farra financeira.

Uma semana depois, o então governador José Serra,

de São Paulo, sem dúvida um bom sujeito, repetiu

o gesto: botou à disposição das montadoras, para

que não parassem de vender no mesmo frenético

andamento, bilhões de reais do erário do Estado.

E isso incondicionalmente, sem sequer extraírem

alguma concessão desses grandes trustes, como

o melhoramento dos filtros de emissão, ou dos

recursos de segurança pessoal dos passageiros...

Nossa conclusão não deve ser moralista.

Ambos os estadistas, diferentes que sejam os

seus estilos, comportaram-se como prisioneiros da

mesma lógica: o motor da economia, a indústria

automotiva, não pode parar. Nossa conclusão

deve ser política: não vamos esperar iniciativa

alguma dessas lideranças, no sentido de uma

mudança de rumo, por menor que seja. Eles são

meros operadores do sistema, com uma interface

sorridente e bem-falante para melhor persuadir e

arrastar as multidões, sem que nisso vá alguma

censura. É como as coisas funcionam dentro do

sistema...

***

Donde virão as mudanças? O pessoal da

Bicicletada tem muito a propor, neste sentido.

Quem são eles? São guerreiros do bem, armados

apenas de suas bikes e de uma idéia central

brilhante: a bicicleta é a melhor crítica à cultura

do automóvel.

Page 74: MOB - Catálogo da Exposição

74

E olha que ela tem pedigree e ascendentes tão bons ou

melhores, do ponto-de-vista histórico e tecnológico, do que o seu

fumacento “colega” e “concorrente”.

Está nos livros: assim como o motor à combustão, a bicicleta

surge no Ocidente como produto industrial de uso massivo nos

anos que Barraclough define como o grande salto tecnológico das

economias do Oeste – entre 1867 e 1881. Em vez das descobertas e

inventos pontuais da Primeira Revolução Industrial, era agora o tempo

da aplicação sistemática dos métodos laboratoriais de descoberta, de

pesquisa e desenvolvimento, a resultar na invenção do telefone, do

microfone, do gramofone, da telegrafia sem-fios, da lâmpada elétrica,

do transporte público mecanizado, dos pneumáticos, da máquina

de escrever, das tintas para a impressão em massa de jornais, das

primeiras fibras sintéticas, da seda artificial, dos primeiros plásticos

sintéticos...

***

Tão genial foi a invenção da bicicleta que, adentrando o novo

milênio, ela conserva quase integralmente as linhas originais. Ficou

ainda mais leve e resistente com a aplicação de novas ligas metálicas,

de fibras desenvolvidas pela pesquisa astronáutica, freios excelentes,

dispositivos de iluminação ágeis e eficazes...

***

Desde os seus primeiros dias, a bicicleta fundiu sua história

com a história da classe trabalhadora. Resulta incompreensível,

por isso mesmo, a hostilidade que podemos dizer sistemática dos

motoristas de ônibus de Curitiba para com seus irmãozinhos de rua,

os ciclistas. Verdadeiros homicídios têm sido cometidos nas canaletas

do sistema Expresso. Culpa dos “caroneiros” irresponsáveis? Onde

está a ciclo-faixa que a lei manda escrever no chão do asfalto de

todas as vias de circulação pública de veículos?

***

O Código Nacional de Trânsito reconhece a bicicleta como

veículo de transporte urbano individual, com direito irrefutável a

trafegar em faixa própria, à direita do espaço de rodagem das ruas.

Page 75: MOB - Catálogo da Exposição

75

Desenhar ciclo-faixas é dever indeclinável do

administrador municipal. Assegurar a integridade

física, a incolumidade do ciclista, acompanha

este indeclinável dever, cujo cumprimento se

traduz também pela educação dos motoristas de

toda índole, no sentido de respeitar o sujeito que

segue pedalando a caminho de casa, do trabalho,

da escola ou de qualquer outro destino. É lei,

tanto quanto pagar o IPTU ou votar para prefeito e

vereador, devolver o troco ou respeitar a autoridade.

Seu cumprimento não depende de disposição

psicológica favorável dessa autoridade, nem é favor

político nem nada. Cumpra-se!

***

A Bicicletada de Curitiba, saudada por

alguns analistas como a grande novidade política

dos últimos anos, nada tem de movimento político

organizado. Move-se por impulso, por agregação

voluntária, por amor à vida, sem chefes, sem

comandos, sem carimbos nem cartórios, em direção

a uma das condições da plena cidadania, o simples

direito de ir-e-vir.

***

Depois de todos os argumentos em favor

de uma política pública em favor da difusão e

viabilização da bicicleta no dia-a-dia da cidade,

exaustiva e incansavelmente apresentados às

autoridades curitibanas, em diversas e reiteradas

ocasiões ao longo de anos de atuação da

Bicicletada, continuam falando mais alto, para os

ciclistas, em favor das nossas magrelas, aqueles

outros argumentos menos persuasivos em política

ou administração: a brisa no rosto, a luz natural, o

equilíbrio elegante e atrevido, a pedalada que vai

mais além...e a certeza de que a História está do

nosso lado.

Page 76: MOB - Catálogo da Exposição

76

André Mendesé artista, formado em Desenho

Industrial (PUC-PR), gravura em

metal (Solar do Barão) e tem

especialização em Ilustração

(Escuela de Imagen y Diseño –

Barcelona).

[email protected]

Cyntia Werner mora em Curitiba. Formou-se em

Gravura na Escola de Música e

Belas Artes do Paraná (EMBAP)

e Comunicação Social com

habilitação em Jornalismo na

Pontifícia Universidade Católica

do Paraná (PUCPR).

[email protected]

Cintia Ribas

é artista, fotógrafa e bacharel em

Pintura (EMBAP).

[email protected]

Conde Baltazar

artista, musico, pai, amante, vivo,

escritor de trincheira, corpo em

transe, ator.

[email protected]

C. L. Salvaro [Cleverson Luiz Salvaro], tem

formação em Educação Artística

(FAP) e mestrado em Artes Visuais

[UDESC] - participa de eventos

ligados às artes visuais desde

a virada dos séculos e continua

nessa onda.

[email protected]

DACH [Daniel Chaves] estudou em

escola pública, trabalhou em

diversas áreas – foi palhaço,

eletricista, encanador e mecânico.

Depois de tudo isso resolveu fazer

faculdade de arte e se deu bem

no ramo.

[email protected]

Dulce Osinski nasceu em Irati, PR. Bacharel

em Pintura (EMBAP), é mestre

e doutora em Educação (UFPR).

Artista plástica, ilustradora,

professora do Departamento de

Artes da UFPR.

[email protected]

Fabianne Balvedié pesquisadora, cineasta e

professora universitária. Trabalha

principalmente com imagens em

movimento através de tecnologias

livres. Do curso de arquitetura,

adquiriu a percepção ampliada

de espaço que utiliza em suas

interações humano-computador.

[email protected]

Fernando Franciosi é artista, membro do coletivo

Interlux, sociólogo de formação

(UFPR). Atualmente é pós-

graduando em História da Arte

pela EMBAP e trabalha no

coletivo doisdois com Lucas Nery.

Busca intervenções pictóricas

miméticas, com potencial irônico,

que questionem a falibilidade do

nosso sistema de percepção e

garantam o fator surpresa e seu

enigma.

[email protected]

Fernando Rosenbaum

nasceu em são Paulo em 1978,

iniciou sua trajetória como

artista em 1997, com 23 anos

cruzou o Brasil montado sobre

uma bicicleta. Bacharel em

gravura e educador trabalha com

o ensino informal para crianças

e adultos, organiza-se de forma

associativa entre coletivos, e na

criação de tramas colaborativas

entre indivíduos. Tem um sonho:

construir uma aeronave mais leve

que o ar.

[email protected]

Page 77: MOB - Catálogo da Exposição

77

Goura Nataraj é mestre em filosofia (UFPR),

professor de yoga, sânscrito e

meditação.

[email protected]

Guilherme Caldas é formado em Artes Plásticas

(ECA-SP). Trabalha como

ilustrador e diretor de arte,

desenha histórias em quadrinhos

e funzines desde os anos 80.

[email protected]

Guilherme Sant’ana é arquiteto, diretor de arte, ciclo-

ativista e surfista de alma

[email protected]

Glerm Soares desenvolve trabalho de

experimentação conceitual de arte

e tecnologia desde 2003 com o

coletivo a Orquestra Organismo.

Organizou com este coletivo,

diversos happenings, exposições,

performances, webart, poesia e

dramaturgia. Atualmente compila

técnicas, repertório poético e

audiovisual para um Movimento

dos Sem Satélite

[email protected]

Gustavo Prafrente “Quando enfim eu nasci, minha

mãe embrulhou-me num manto

Me vestiu como se eu fosse assim

uma espécie de santo

Mas por não se lembrar de

acalantos, a pobre mulher

Me ninava cantando cantigas de

cabaré, laiá, laiá, laiá, laiá”

[email protected]

Maikel Aparecido da Maia

é artista.

[email protected]

Jaime Vasconcelosé artista e cozinheiro.

[email protected]

Michele Micheletto é designer e fotógrafa, graduada

em Design de Produto (PUC-

PR). Desenvolve projetos

relacionados a arte, design, moda

e suas vertentes. É membro do

coletivo criativo Galeria Lúdica,

como coordenadora de design e

fotografia.

[email protected]

Pedro Giongo é artista gráfico, faz vídeos e

contribui para o Estudio Tijucas.

[email protected]

Raphael Fernandes É licenciado em Educação física,

pesquisador de temas da cultura

urbana desde 2003, residente

na Casa Hoffmann em 2006 e

no Cafofo Couve-Flor em 2009,

atua como professor e coreógrafo

de Dança de rua em escolas

da rede publica e particular de

Curitiba. Nas horas vagas faz pão

de queijo e imagina como seria

o inverno nas praias da Florida.

[email protected]

Rimon Guimarães é artista autodidata, segue sua

pesquisa de forma vivencial

se adaptando ao contexto

das cidades onde expõe.

Explora mídias como desenho,

performance, vídeo, música,

pintura e arte pública. Passa

uma boa parte do seu tempo em

cima de uma bicicleta cheia de

adesivos com uma cestinha de

mercado na garupa.

[email protected]

Thiago Syen

é artista, educador de artes,

ciclista e curitibano do bairro

Pilarzinho (cidadão do mundo).

[email protected]

Valdecimples

Atualmente coordena o espaço

de arte ACASA, desenvolve

projetos em artes visuais, design

gráfico e graffiti. Autodidata, sua

formação e experiência foram nas

ruas da cidade de Curitiba, entre

outras capitais. Sempre procurou

experimentar os campos ou meios

das comunicações e hoje estuda

Escultura na EMBAP. É integrante

do coletivo Azulejo, do grupo

SALA e da crew PRN, junto com

Dose e Ades. Edita publicações

de pequenos formatos, adora fazer

caderninhos artesanais, desde

1998.

[email protected]

Page 78: MOB - Catálogo da Exposição

índice

03 MOB Como Movimento - Fernando Rosenbaum

04 MOB como história, MOB como práxis - Goura Nataraj

10 Metáforas Urbanas e Política - Vinícius de Figueiredo

26 André Mendes - Água de beber, água de beber camará

28 Cyntia Werner - S/ Título

30 Cintia Ribas e Conde Baltazer - Novas Miradas

32 C. L. Salvaro - mobio

34 Daniel DACH - Arapuca

36 Dulce Osinski - Geografias Urbanas

38 Fabiane Balvedi - /ppm __percepções por minuto

40 Fernando Franciosi - Questionamentos da 5ª série

42 Fernando Rosenbaum - Fim de Carreira

44 Goura Nataraj - Energy is Eternal Delight

46 Guilherme Caldas - Um Longe Caminho

48 Guilherme Sant’ana - O Petróleo é nosso?

50 Glerm Soares - Jardim de Volts e a Hidrelétrica Salar-Barigui

52 Gustavo Prafrente - S/ Título

54 Jaime Vasconcelos - S/ Título

56 Maikel da Maia - Calendário / 2011

58 Michele Micheletto - O Plano das Bikes Brancas

60 Pedro Giongo - Mapa para Jacques Cousteau

62 Raphael Fernandes - Teoria da Gravidade

64 Rimon Guimarães - Teme Treme

66 Thiago Syen - Acesso

68 Valdecimples - Eu ou parte do eu

70 A reducação dos sentidos e a brisa no rosto de quem pedala. - Jaques Brand

76 Índice dos artistas

Page 79: MOB - Catálogo da Exposição

Copyleft

projeto gráficoPedro Giongo / Estudio Tijucas

revisão e traduçãoJorge Brand e Tissa Valverde

fotografiasArtistas do MOB 011, André Baliu, Stéphany Mattanó, Carol Esmanhoto, Alicia Ayala e Samuel Dickow.

[email protected]@gmail.com

- www.artebicimob.org

Curitiba, PR : Edição Independente80 p. ; 18,5x23 cm.Impresso em papel AltaAlvura 90g. na CorGrafComposta pelas famílias Trade Gothic e Centennial

Exposição - MOB 011Museu da Fotografia Cidade de Curitiba, de 16 março a 22 de maio de 2011

incentivoprodução

“PROJETO REALIZADO COM O APOIO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA, FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA, FUNDO MUNICIPAL DA CULTURA – PROGRAMA DE APOIO E INCENTIVO À CULTURA”

Page 80: MOB - Catálogo da Exposição

80

PROVOS, Amsterdam, 1960’s:An Inspiration!

Page 81: MOB - Catálogo da Exposição

81