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MOB - Catalogue Exposition March to May 2011
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MOB as MovementFernando Rosenbaum
I organize the exhibition MOB, along with Goura, whom I met by 1998 at a
Hare Krishna temple. Jaques, his father, was introduced to me by a mutual
friend, Napoleão, around 1992; his walking habits inspired my curiosity.
Cleverson was an apprentice at SEEC (Department of Culture) in 2001, one
year after I was dismissed. Franciosi put in action the works of the INTERLUX
group at Bar Pandora. Dulce was my engraving instructor at the atelier at
UFPR in 1998 when I started my art life. Maikel used to frequent the Solar
do Barão, another atelier I’ve worked during 2003. Dach participated with his
work “I cut trees” at “Semi-novos” Exhibition, 2004. Caldas was introduced to
me at Bar Café no Bule, when he was painting on a pannel in 1998. Michele
was an apprentice, as I, at the Cultural Foundation of Curitiba (FCC) in 2004.
Mendes embraced the INTERLUX group in 2006 just as Rimon, Raphael and
Jaime did. Glerm has collaborated in group action since 2005. Valdecimples,
precursor of urban art in Curitiba, matches his way with mine since 2006. Syen
participated more effectively at the annual festival Art Bicycle and Mobility
in 2008, same year that Cyntia and I shared the silkscreen atelier. That
same year I met Cintia as an educator of the FCC when I was at “Também”
exhibition. Later I also met Conde at a party. Still in 2008, I met Fabs working
with midiatic social groups in Curitiba. The same year I visited Sant’ana’s
small country house while the INAIDINDIA meeting were developing which
took me to get involved with Patricia. In 2009 I met Pedro, who I worked with,
in video graphs, as well as Gustavo, whose works I keep following. Through his
writings, I met professor Vinicius in 2011
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Organizo a mostra MOB juntamente com Goura, que conheci em idos de 98 no templo Hare Krishna. Seu pai, Jaques, foi me apresentado pelo amigo Napoleão por volta de 92. Aquele homem caminhante despertava minha curiosidade. Cleverson estagiou na SEEC (Secretaria do Estado da Cultura) em 2001, um ano após eu ser despedido. Franciosi acionava os acontecimentos no bar Pandora promovidos no início do coletivo INTERLUX. Dulce foi minha orientadora no atelier de gravura da UFPR em 98 onde iniciei o fazer artístico. Maikel, em 2003, frequentava o atelier do Solar do Barão, assim como eu. Dach participou da exposição “semi-novos” em 2004 com a obra “corto árvores”. Caldas foi me apresentado no bar Café no Bule, quando realizava uma pintura mural em 98. Michele estagiou comigo no Departamento de Difusão Cultural da FCC em 2004. Mendes abraçou o coletivo INTERLUX em 2006, juntamente com Rimon, Raphael e, posteriormente, Jaime. Glerm interconectou ações coletivas comigo desde 2005. Valdecimples, precursor da arte urbana em Curitiba, entrecruza o caminho comigo, desde 2006. Syen participou mais efetivamente do festival anual Arte Bicicleta Mobilidade em 2008, no mesmo ano que Cyntia dividiu atelier de serigrafia comigo. Neste ano também conheci Cintia no setor educativo da FCC, quando expunha na mostra “também”. Posteriormente, conheci o Conde em um evento festivo. No mesmo ano conheci a Fabs colaborando com os movimentos sociais midiáticos em Curitiba. Neste ano visitei a chacrinha do Sant’ana participando de reuniões do INAIDINDIA, em um movimento que no ano seguinte enlaçou-me com a Patricia. Em 2009 conheci o Pedro, com quem dividi diversos trabalhos video-gráficos, e Gustavo cuja trajetória venho acompanhando. E através de textos conheci o professor Vinícius em 2011.
MOB como MovimentoFernando Rosenbaum
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Os antecedentes os incriminam. São todos cúmplices de sustentar a crença de que é possível agir criativamente – com liberdade e ousadia – no espaço urbano. Os valores e princípios comuns que compartilham: a psicogeografia, a deriva, a contemplatividade, a descoberta da cidade, a crítica e a reflexão.
MOB nasceu como Arte Bicicleta Mobilidade em setembro de 2007. Intervenções, mostras, debates e ações políticas marcaram o 1º ciclo de atividades do ´mês da bicicleta´. A pergunta era algo como: Arte e política são duas coisas diferentes? A política não é a expressão máxima da arte? A arte não almeja a política?
No referido mês a força policial do estado foi requisitada ao menos duas vezes para conter, de alguma maneira, este monstro híbrido de arte e política que ousava questionar a ordem vigente. Ao término da pintura da 1ª ciclofaixa da cidade e também na 1ª performance do Música Para Sair da Bolha, os militares, representando o Estado, mostraram que a distinção pode ser lida ainda de outra forma: a arte é política quando questiona, quando incomoda, quando nos conduz a becos sem saída.
O Arte Bici se alicerçou no amplo imaginário da bicicleta. A roda imóvel de Duchamp, a cabeça do touro de Picasso, os elogios de Beuys e Hundertwasser, a crítica Situacionista, a anarquia jocosa dos Provos holandeses,
MOB como História, MOB como Práxis.
Goura Nataraj
The records incriminate them. They are
all involved in complicity, believing that is possible
to act creatively – with liberty and boldness – on
the urban space. The values shared by them:
psychogeography, derive, contemplation, the
discovery of the city, criticism and reflection.
MOB was born as Arte Bicicleta Mobilidade
in September of 2007. Interventions, exhibitions,
debates and political actions marked the first cycle
of activities of ´the month of bicycle´. The question
was something like: Art and politics are two different
things? Isn´t politics the maximum expression of art?
Doesn´t art aim for politics?
In the above mentioned month the state
police force was requested, at least twice, to contain
in any way this hybrid monster of art and politics
that dared to question the order of things. At the end
of the painting of the first bike lane of the city, and
also at the first performance of the Music to Get Out
of the Bubble, the military, representing the State,
showed to everybody that the distinction could also
MOB as History, MOB as Práxis
Abstract
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o pensamento ousado de Ivan Illich e por aí vai. Em Curitiba, o grupo Bicicleta inseriu a nomenclatura em 1982. A Bicicletada, desde 2005, politizou o conceito, exigiu que se tornasse política pública – a bike é meio de transporte. Em tempos de fim de mundo ela representa autonomia, liberdade, não-poluição e convivialidade.
O MOB aconteceu de 06 de março a 22 de maio de 2011. Os artistas desta edição produziram obras inéditas e se debruçaram na temática (sobre seus guidões também!). A curadoria da mostra foi baseada nos mesmos princípios de auto-gestão e liberdade. O convite foi aberto e os trabalhos eram livres. A cidade e a mobilidade eram os objetos de meditação. Durante os meses de ocupação do Museu da Fotografia, além dos trabalhos expostos, tivemos ocupações das ruas, esquinas, Música Para Sair da Bolha (duas edições, com o Trombone de Frutas e Seu Zeba) e o nascimento da Ciclo Iguaçu – Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu, cuja fundação ocorreu no encerramento da mostra.
No sentido do aprofundamento teórico e conceitual, que vem se construindo sobre o tema da bicicleta nos últimos anos, convidamos o poeta e jornalista Jaques Brand e o filósofo Vinícius Figueiredo a tecerem suas reflexões e generosamente compartilharem conosco. Os ensaios, primorosos, estão aqui neste livro, bem como pequenos textos dos artistas que acompanham as imagens dos trabalhos.
pág. anterior
A Bolha de Fernando Rosenbaum
esquerda
Abertura da exposicão com Vjing
de Fabs
direita
Criação da Ciclo Iguaçu –
Associação de Ciclistas do Alto
Iguaçu
be understood in yet another way: art is political
when it questions, when it disturbs, when it lead us
into dead ends.
The Arte Bici project was established
over the rich semiotics of the bicycle. Duchamp´s
unmoving wheel, Picasso´s bull´s head, the positive
remarks of Beuys and Hundertwasser, the criticism
from the Situationists, the playful anarchy of the
Dutch Provos, the bold reflections of Mr. Ivan
Illich, and on and on. At Curitiba, the Bicicleta
group has inserted the nomenclature in 1982.
The Bicicletada (local Critical Mass Ride) since
2005 has made it a political subject – bicycles are
modes of transportation and should be respected as
so. In apocalyptical times it represents autonomy,
freedom, non-pollution and conviviality.
MOB happened from March 6th till may
22nd of 2011. The artists of this edition produced
brand new works and the whole curatorship was
based on the same principles of freedom and self-
management. The city and mobility were the object
of meditation. During those months, besides the
works on the walls and all around the museum,
there were performances on the city, on the streets,
at the crossings. MOB also gave birth to Ciclo Iguaçu
– the association of bikers from the Alto Iguaçu,
whose foundation took place at its closing.
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A conclusão do MOB aponta a necessidade de valorizar temas, conceitos e práticas que favoreçam o acesso à cidade, bem como políticas que interrompam a degradação do espaço urbano. As ferramentas de alienação – sejam elas o automóvel ou a televisão – devem ser criticadas e combatidas. Territórios livres, pontuais ou permanentes, devem receber todo apoio e estímulo. Práticas que expandam a nossa liberdade e autonomia devem se consolidar como bases sobre as quais a ética da pólis possa se assentar com força e profundidade.
O MOB não acaba aqui.
O MOB é contínuo.
Providing critical analysis and deepening
the ongoing debate about the subject, we invited the
poet and writer Jaques Brand and the philosopher
Vinicius Figueiredo to draw their reflections and
generously share them with us. These beautiful
essays, as well as small texts from the artists, are
here in this book.
The conclusion of MOB points to the need
of strengthening themes, concepts and practices
that increase the access into the city, as well as
politics capable of interrupting the urban space
degradation. The tools of alienation – whether the
automobile or the television – should be criticized
and fought against. The free territories, temporary
or permanent – must receive all support from us.
Practices that expand our freedom and autonomy
must consolidate as bases over which we can lay
the ethics of the polis with strength and tranquility.
MOB does not end here.
MOB is a continuum.
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esquerda
Música Para Sair da Bolha,
2009
Stencil pela cidade de Curitiba
direita
Música Para Sair da Bolha nos
arredores do Solar do Barão
Detalhe do projeto
de Glerm Soares
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Metáforas Urbanas
e Política.Vinícius de Figueiredo
Urban Metaphors and Politics
Abstract
What we experience on the urban travel
is conditioned by the mode of transportation we
choose. In Greek, metaphora means transport. In
our language we are accustomed on talking about
metaphors in literature: the discourse, the verbal
expression of thought, makes use of metaphors to
unveil new meanings or simply to reveal what was
there all the time, right before us, under an aspect
not so literal, pointing to an image of the thing so far
wholly ignored.
Well, couldn´t we apply a scheme, similar
to the one used by literature, to the original – Greek
– meaning of metaphor – transportation? If that is
allowed, then, our discourse in relation to the city
will be more or less complex, depending on the
metaphor we choose to transport us. Let us say that
the urban tissue is also the occasion of a text; in
that case the discourse on the city will be more or
less complex, depending on the metaphors available
to its citizens. The city, therefore, also admits the
analysis of its discourses and metaphors.
VINÎCIUS DE FIGUEIREDO
Pelo vidro do carro vê-se muitas coisas. Mais importante que isso, um modo de ver as coisas torna-se possível. Ir de um ponto a outro da cidade de carro ou sem carro são coisas bem diferentes, e não apenas porque se supõe que o motorista, com o celular desligado, esteja mais atento ao trânsito que à paisagem. Há também a questão da velocidade, que incide diretamente sobre a percepção. Mas nem é este o ponto decisivo. A velocidade pode ser mínima, mas ver uma por uma as casas da rua do interior de um carro quase parado no rush é, na maior parte das vezes, um transtorno. Carro foi feito para ganhar tempo. Quanto mais complexa a riqueza dos detalhes captada na paisagem urbana, tanto maior o atraso.
Esta experiência muito familiar aponta para conclusões triviais e relevantes. Primeiro, que o que experimentamos no trajeto urbano é condicionado pelo meio de deslocamento que utilizamos. É interessante que, na língua grega, metáfora signifique “transporte”. Em nossa língua, habituamo-nos a falar de metáforas em literatura: o discurso, expressão verbal do pensamento, faz uso de metáforas para desdobrar novos sentidos ou simplesmente revelar o que estava bem ali, diante de nós, sob um aspecto que não seja literal, assinalando uma figura da coisa até então ignorada. Ora, não caberia aplicar esquema semelhante ao da literatura ao contexto concernido pelo significado originário, grego, de “metáfora” = ‘transporte”? Se isso for lícito, então nosso
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discurso em relação à cidade será mais ou menos complexo, a depender da metáfora empregada por nós para deslocar-se através dela. Supondo que o tecido urbano também seja a ocasião de um texto, o discurso em relação à cidade será mais ou menos complexo, conforme as metáforas à disposição de seus habitantes.
Talvez você suspeite de que nossa aproximação entre o universo linguístico e as questões envolvendo os meios de transporte urbano seja invencionice filosófica. Um pouco é mesmo. Mas pense bem: você tem alguma dúvida de que o automóvel seja, essencialmente, uma metáfora? Eis seu discurso: “poder”, “falo”, “juventude”, “superioridade”, etc. O discurso automobilístico está por toda parte, a ponto de ter se tornado, especialmente entre nós, uma espécie de rito de passagem para a maioridade: agora que fiz dezoito anos, ganharei meu primeiro carro... O que nos interessa, neste brevissimo texto, são duas coisas. Primeiro, investigar o seguinte: o que diz o carro? que utopia ele veicula? Um exercício de análise do discurso pode trazer algum luz a essas perguntas. A outra coisa é um simples ricordo: queira ou não, o automóvel, como metáfora que é (no sentido literal e literário), convive com outros meios de transporte. Por isso, não há por que nos rendermos à completa assimilação do texto urbano ao discurso automobilístico. Embora nunca se tenha visto na telinha uma propaganda de pedestre ou bicicleta, na real ambos existem. Para não falar do resto: carroças puxadas por animais ou por gente, ônibus, motos, skate, cadeira de rodas... É tudo metáfora. Eis o ricordo: se há outras metáforas, são possíveis outras cidades, diversas do império do automóvel.
* * *
A linguagem publicitaria metaforizou a tal ponto o automóvel, que ele deixou de ser apenas meio de transporte, para tornar-se utopia universal, financiável em parcelas a perder de vista.
O que nos promete este discurso? Me vêm à mente mulheres deslumbrantes, aos montes. Deixando-as um instante de lado, acena-se com a ideia de um deslocamento rápido, seguro e confortável para percorrermos livremente os itinerários urbanos. É uma ideia fascinante. Pouco importa à publicidade se a realidade congestionada da urbes nos faça perder cada vez mais tempo dentro do carro. É da natureza da publicidade contrariar a realidade. It’s only job. O ponto é outro. O problema é constatar que um discurso voltado para a venda de mercadorias tenha se tornado quase hegemônico, quando o assunto é a política pública do transporte urbano, como se o viés publicitário tivesse invadido o debate político e o imaginário coletivo sobre o presente e o futuro da urbes.
Em se tratando do imaginário, vale a pena tentar desenrolá-lo. Mesmo se supuséssemos, por um instante, que a utopia automobilística fosse universalizável, no que sua realização nos transformaria? No que se transforma a cidade, vista exclusivamente pelo ótica do vidro do carro? Ela desaparece. O olhar pelo vidro do carro só desfruta seu gozo, na medida em que recusa a realidade. Ou melhor, na medida em que cria a ficção de que podemos alterá-la a nosso bel prazer, a começar pela velocidade. Mas não só. Um pedinde se aproxima, subo os vidros. A notícia aborrece, mudo de estação. Crianças, sendo o que são no banco de trás, põem a segurança de todo o sistema em risco. Uns caras aí na frente bloquearam a rua com um monte de bicicletas; sem problema, passo por cima. O cogito automobilístico é muito particular, a começar pela ficção de soberania que produz nos seus condutores. Basta furar um pneu (isso para não mencionar o Vietnã anual de vítimas produzido ano a ano no Brasil) para o sonho acabar.
O partidário do automóvel sempre poderá retrucar: tudo balela... É fácil imaginar sua réplica. Da minha casa ao meu trabalho, ele dirá, o caminho é um só; a única questão é como
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ganhar tempo, possibilitando acordar mais tarde ou chegar lá mais cedo, a fim de adiantar o expediente. Sem dúvida, nisto há uma lógica incontestável. Mais: sem transporte público pra valer, sem um sistema cicloviário - enfim, sem opções por parte do poder público ao público pagante, as pessoas terminam tendo de se virar como podem. Claro, nesse contexto, é natural que quem não tem carro só pense em comprar logo um. Mas realizar um desejo que satisfaça dificuldades efetivas e imediatas não deveria nos impedir de pensar um pouco: a lógica da coisa toda faz sentido? Já que o assunto é transporte, para onde estamos indo, seguindo esse modelo?
É digno de nota que nosso objetor imaginário, o partidário do raciocínio “realista”, assuma de bandeja que o percurso a ser transcorrido é um obstáculo à produtividade. O que é muito significativo, pois revela que o argumento “realista” converte de partida o texto urbano em metáfora do trabalho. Tal premissa não vai sem implicações, que mereceriam ser pesadas. Uma delas é transformar o ponto ótimo do trajeto urbano na ficção do teletransporte, em que o deslocamento suprime de vez a experiência de percorrer o caminho entre o ponto de partida e o ponto de chegada. Fantástico! A chegada ao destino prescinde do caminho que levaria a ele. Ora, será prudente, sem mais, desejar emancipar o ponto final da travessia? Que discurso é este, que não se quer percurso de nada? É algo assim como um dinheiro que se reproduz sem trabalho, uma conclusão que não resulta de raciocínio algum ou aquela propaganda de um carro que percorre livremente as ruas vazias de uma cidade deserta. Uma propaganda que diz muito: por que a liberdade supõe o vazio do entorno? Desde quando ela tornou-se assim, insociável? Isso tem tudo que ver com o fato de que, pelo vidro do carro, a cidade aparece como um ambiente hostil. Estacionar a um quarteirão do destino a que se quer chegar parece uma infinidade, e é mesmo uma infinidade, mas simbólica. Habituamo-nos a perceber a cidade assim.
* * *
Conclusão a extrair desta brevíssima e pouco rigorosa análise da metáfora do automóvel: é fundamental assegurar o caráter pluridiscursivo da cidade. Sem isso, o sujeito que somos empobrece. Para convencer-se disso, basta reaver aquela constatação inicial, de que o mesmo percurso urbano guarda para o sujeito faces muito diversas. Muitos aspectos invisíveis ao olhar que vê através do vidro do carro iluminam-se quando percorremos o mesmo caminho fora dele. Pode-se até indagar se realmente se trata do mesmo caminho. Diríamos que é e não é
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o mesmo, pois o que há de inteligível no real é sempre condicionado pelo modo de ver e sentir do sujeito.
Este me parece ser o estopim da coletiva Mob 11. Há, na exposição, uma espécie de advertência de frente e verso, uma face política, outra estética. E nisto, o grupo de artistas lança um gancho com muita coisa interessante que vem sendo pensada e feita mundo afora acerca do assunto da amostra realizada no Solar do Barão. A questão do espaço público, os mecanismos de inclusão/exclusão, o controle das manifestações urbanas; a configuração permanente do espaço pelo capital, as virtualidades do urbanismo informal, as “cidades ocasionais” - há toda uma agenda contemporânea tomada pelo tema. Veja-se, por exemplo, o volume organizado por Martí Peran, Post-it City (Barcelona, 2008) ou as reflexões de Guy Débord, D. Harvey, R. Sennett, dentre tantos outros, que tocam nos pontos levantados por Mob 11. Mas nem é preciso ir tão fundo, nem é preciso sair de tão perto. De minha parte, queria insistir mesmo no óbvio: a cidade só se torna palpável a nossa experiência com base no percurso que delineamos dentro dela. Pretender furtar-se ao tempo que isso exige, teimar no uso do carro para abreviá-lo ao máximo, é não apenas caminhar ao revés dos fatos e condenar-se à frustração dos congestionamentos inevitáveis. É também e sobretudo destituir-se da condição de sujeito da experiência mais concreta da política, representada pela nossa inserção cotidiana na Cidade, assim com maiúscula. Eis o lado político da presente exposição, do movimento que a anima.
Natural: se a história do urbanismo é essencialmente uma história política, então a questão dos meios de transporte urbano não deveria ser relegada aos engenheiros do tráfego. Se cada meio traz consigo um modo seu de experimentar o espaço urbano, de viver a cidade, estamos, em consequência, falando de política no sentido mais rigoroso do termo. Ora, não é aconselhável subordinar questões políticas a
soluções técnicas, que costumam recalcar sua natureza política.
Nada como circular pelas ruas para constatar que nossa engenharia de tráfego tacitamente adotou há muito a ótica do automóvel. A proliferação de placas em Curitiba sinalizando “Novo Sentido” só faz reiterar um sentido muito velho, o da supremacia do automóvel, que reduz a rua a uma via destinada ao trânsito motorizado. Nada faz advinhar mudanças à vista. Pode bem acontecer de passarmos os próximos anos quebrando a cabeça para resolver como os clientes vão chegar de carro ao novo shopping ou como vão atravessar com o mesmo carro um centro cada vez mais congestionado.
* * *
O lado estético de Mob 11 concatena-se com isso, pois assinala que a invenção de um sentido verdadeiramente novo passa pela diversificação dos modos de transitar na cidade, de forma a ampliar os modos de experimentá-la.
Por onde se vê que a “estética” do Mob 11 remete ao sentido etimológico da palavra. Aisthesis corresponde, aqui, à “percepção”, “sensação” (a tal brisa no rosto...), remontando ao significado original e anterior àquele assumido pelo termo “estética” mais recentemente, a partir do século XVIII em diante. Este último sentido, o sentido moderno do termo, designa um ideal de formalização livre e criativa, sob a qual os iluministas compreenderam o núcleo da experiência subjetiva do homem, diversa e irredutível à lógica e à teoria. Esse sentido moderno faz da estética o contrário de todo conhecimento, inclusive do conhecimento de si pelo sujeito. Até onde vejo, não é esse o conceito que corresponde ao partido estético mobilizado por Mob 11. Vale ater-se um instante ao ponto, a fim de tirar conclusões pelo contraste.
O “juízo estético”, advertia Kant, não é um juízo objetivo, pois, através dele, ocorre
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apenas de o sujeito sentir-se a si mesmo. Não é exatamente óbvio compreender o que Kant procurou assinalar com isso. Mas é digno de nota que Diderot, Goethe e Rousseau, dentre outros contemporâneos do autor da Crítica do Juízo, tenham identificado o núcleo desta experiência subjetiva, conceitualizada por Kant, em uma espacialização exterior à cidade. Foram a promenade solitária, o jardim frequentado por um Werther melancólico, os derredores de Paris, onde Diderot sentia-se fundido com a natureza, os elementos que terminaram eleitos pelos iluministas como ocasião privilegiada para o sujeito “sentir-se a si mesmo”. Em meio à natureza, em pequenas aldeias, não no agito urbano. Analisando o conjunto das teses do período em que nasce o sentido moderno de estética, poder-se-ia até levantar esta suspeita: por que o núcleo da subjetividade, como pensada pelo limiar de nossa modernidade, projetou-se para fora da urbes? Teriam eles pressentido que a cidade em vias de tornar-se moderna candidatava-se a ser o locus privilegiado da alienacão de si, da perda de autenticidade, da subordinação a mecanismos insconscientes e destrutivos (o congestionamento, enfim)? Naquele momento, ninguém poderia advinhar a utopia automobilística. Mas suspeito que o caráter individualista do discurso automobilístico se apropriou desta temática e desta poética, prometendo este impossível: ser livre na cidade sob a condição de ser proprietário de um automóvel. O pior é que a droga funciona, vicia, apela para o que temos de mais caro: quem é que, na cidade, é reconhecido como sujeito e, mais grave que isso, se sente a si mesmo como sujeito, fora do automóvel?
* * *
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Estética e política, portanto, são tomadas pelo debate trazido à tona por Mob 11 conjuntamente. Vivenciar a cidade de bicicleta é, a um só tempo, experiência política e estética, na medida em que o que está em jogo é um modo de perceber e vivenciar a Cidade fora do automóvel. Os iluministas talvez tenham projetado muito rapidamente para fora da urbes o núcleo da experiência livre do sujeito. Mas após o Iluminismo, Baudelaire e tantos outros souberam ver na cidade um locus privilegiado de nossa experiência ética, estética e política. Não vejo por que razão esta celebração da vida moderna como uma subjetividade expandida no espaço urbano não possa ser reativada. É simples e ao mesmo tempo parece impossível, como bem sabe quem já tentou largar um vício. Você, por exemplo, já pensou no que fazer para largar do carro?
Obviamente, há toda a questão técnica, os engenheiros/urbanistas do IPPUC, o capital, o trabalho, etc. Mas Mob 11 pelo menos nos diz: os dados estão sendo jogados. Diz-nos também que Curitiba tem chances de manter-se uma cidade viva, um belo texto, ou transformar-se de vez em uma cidade qualquer, como a maior parte dos grandes centros urbanos do país. Ainda há tempo. Aqui, as calçadas são enormes, comparadas a de
outras capitais brasileiras. Nem tudo verticalizou. Bairros inteiros ainda são terrestres, a despeito da crescente poluição sobradiça da especulação imobiliária. Mesmo assim, ainda tem muita rua que não dá em lugar nenhum. Existe um trem que passa no meio da cidade. Tem ruas margeadas por grama. Há um monte de absurdos como este a serem preservados e enriquecidos, até que proliferem.
Retrucar que é um absurdo defender absurdos tão preciosos é o mesmo que abandonar a conversa, é negar-se ao discurso. Aliás, para finalizar com a etimologia, o termo “discurso” é formado a partir do particípio passado do verbo latino discurrere, “correr ao redor”. É ao movimentar-se rodeando algo, abrindo perspectivas diversas sobre o que se discorre, que produzimos esta ou aquela compreensão do que é percorrido, que nos apropriamos do percurso como experiência simbólica. Cada metáfora, cada transporte, secreta e produz sentido, atravessando o texto por fora do habitual. Já não é hora de nos autorizarmos a perder um pouco o curso habitual para reaver a força do discurso urbano, sob seu ponto de vista político e estético? Sem falar que emagrece.
16 detalhe da obra de Maikel da Maia
17rastros das bicicletadas de sábado na reitoria
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painel coletivo dos
artistas e visitantes
20
21
esquerda
Marcha das Mil Bikes, 2010
direita
Bicicletada em Curitiba em um
sábado ensolarado.
Café da manhã com os artistas,
em uma das reuniões do MOB.
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esquerda
Trabalhos expostos
Aspecto do Pátio do
Solar do Barão
Sofia brincando na exposição
direita
Trombone de Frutas na abertura de
exposição
Salas da exposição
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esquerda
Valdecimples na oficina
“Powerpoint”
Maikel da Maia na oficina
da serigrafia, fechamento da
exposição.
direita
Oficina de manutenção de
bicicletas ministrada por
Lourenço Duarte
Lançamento do livro do grupo
Poro de Belo Horizonte.
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André MendesÁgua de beber, água de beber camaráGarrafas de vidro com água dos rios Belém e Barigui
Barco PirataVídeo digitalEdição: Stéphany MattanóImagens: André Baliu
Em uma oficina de criatividade com a ajuda de uma equipe de marinheiros mirins construímos um barco Pirata, com lixo reciclado, madeira, tinta e tecido.
Terra à vista!Fotografia impressa sobre foam
Se temos rios na cidade por que não utilizá-los como vias de transporte?Quanto tempo levaria do ponto “A” ao ponto “B”? O modal barco em Curitiba é uma alternativa viável? Não demorou muito para obter a resposta e a idéia de navegar os rios da capital paranaense foi por água a baixo. Rios extremamente poluídos, sendo um deles, o Iguaçu, com o titulo de “vice” rio mais poluído do Brasil. Ha trechos canalizados, bloqueados por grades e muitas vezes cobertos por vias rápidas de carros, como a Rua Mariano Torres que cobre um bom trecho do nosso Rio Belém.
André MendesWater to drink, water to drink, fella!Bottle of water from the Belém and Barigui
Rivers
Pirate ShipDigital video
Edition: Stéphany Mattanó
Images: André Baliu
In a creative workshop, with a great team of mariner
kids, a Pirate Ship was built using recycled trash,
wood, paint and fabric.
Land ho!Photograph print over foam
If rivers run through the city, why not make them
useful as transit routes? How long would it take from
point A to point B? Would a boat be a reasonable
transport mode in Curitiba? It didn’t need much for
the answer, as well as the whole idea of navigat-
ing in Curitiba, the capital of the state, to go down
the drain. Extremely polluted rivers, one of them,
the Iguaçu, being the second most polluted river in
Brazil. Some parts of them have been squeezed into
channels, blocked with metal grids and mostly cov-
ered by car lanes, as Mariano Torres Street, where a
good stretch of our Belém River runs underground.
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Cyntia WernerS/ TítuloInstalação
O trabalho realizado para o MOB em um primeiro momento ocorreu nas proximidades do bairro Vila Isabel, local escolhido para as intervenções. Várias imagens de bicicletas feitas em stêncil foram espalhadas pelos muros, lixeiras, calçadas, etc. Utilizando um material maleável para a produção da máscara, pude adaptar a impressão das imagens aos diversos locais. Para a exposição no Solar do Barão foram utilizadas máscaras do mesmo material, que possibilitaram contornar uma parede de 2 metros x 3 metros com cerca de 20 cm de espessura com imagens das bicicletas.
A proposta surgiu de um pensamento da bicicleta que se adapta a qualquer espaço, qualquer canto serve para que se possa encostar uma bicicleta, um quarto lotado, um pedaço de calçada, encostada em um poste, contra uma lixeira. Até mesmo quando estão empilhadas, as próprias bicicletas se encaixam entre si.
Cyntia WernerUntitledIntallation
The work presented at MOB initially took place
around the Vila Isabel neighborhood in Curitiba.
Several images of a bicycle, from stencil, were
painted over walls, garbage cans, sidewalks. As
I used a flexible material to create the masks, in
several places it turned possible to adapt at local
landscapes and to repaint them over again. At the
exhibition, the same masks made it possible to
line the wall with bicycle prints. It all started from
the thought that bicycles fits everywhere, stays at
any corner – a crowded room, a stretch of side-
walk, a light pole or a garbage can. Even when
they are piled up, bicycles fits one into the other.
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Cintia Ribas e Conde BaltazarNovas Miradas Instalação Um objeto fotográfico, entre vidro e camadas de imagens, que procura mostrar um corpo em movimento no espaço urbano a partir de fotografias. Um gesto fotográfico congela um frame daquela realidade vivida na cidade. Assim como a fotografia, o corpo experimenta entradas singulares e inaugura lugares no espaço urbano. Interagir, pensar a cidade e o corpo na cidade distante de vivências viciadas, mas de maneira diferente. As camadas fotográficas convidam ao movimento corporal-visual aos cúmplices-participantes desses pequenos espaços urbanos, sugerindo mobilidade, ecoando novos pontos de visão e percepção do próprio corpo no espaço.
Um corpo dança e cria novas possibilidades dentro da realidade, outras confecções de sentido. Tripas, pernas, braços, coração, olhos que não olham, sentem de maneira relacional o ambiente urbano. O corpo transita entre a fotografia e a vida, esta é curta demais para se viver sempre de maneira viciada. ”viver uma vez só não vale, uma vez só não basta”. Novas formas de linguagens, des_alfabetizar minha visão de mundo. “Eu não sei mais falar das minhas coisas, a imagem no corpo tem alcance infinito”. Um passo errado, um caminho torto é uma brecha para uma vida outra.
Cintia Ribas e Conde BaltazarNew GlancesInstallation
A photograph as an objective installation, with blades
of glass and images set in a sequence of layers,
showing pictures of a moving body in the city. A pho-
tographic act freezes a living reality into frame. Like
photography, the body also experiments new entries
and opens up new places in the space. Therefor to
interact with and to think the city and the body within
it, in a brand new way. The layered images invites fel-
low participants-conspirators to a corporeal and vi-
sual contact, suggesting mobility, echoing new points
of view and perceptions.
The body dances and creates new possibilities with-
in reality, makes new senses of it. Guts, legs, arms,
heart and eyes that do not have to be looking, all
parts of it feel the city as an interactional space. The
body dances between a photographic frame and life,
this one is too precious to be lived in a vicious way.
“(…) to live once is not enough.” New forms of lan-
guage. To de-literate my world vision. “I don’t know
how to tell about my things anymore, images in the
body reach infinitity.” A misstep or a twisted path
opens to a life other than.
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C. L. SalvaromobioInstalação
De natureza móvel, movente, entre frestas, das fissuras ao extremo, o musgo miúdo cresce entre as pedras das calçadas dessa cidade úmida. Dessa e de outras por onde caminhei. Quase imperceptíveis sob nossos pés, se juntam nas sombras (sobrevivem). Em alguns caminhos o musgo se alastra, evidencia-se, exuberantemente musgo. Alguns pego um tanto. Junto. O melhor abrigo nem sempre é fechado.
Em seu miolo, o museu se abre para o céu, mas ali não há acesso para quem vem, apenas se espia pela janela. Umidade concentrada. Sol, só a pino. Antes e depois, sombra. Condições para o minúsculo musgo transplantado se agarrar nas frestas e texturas do telhado que cobre o pequeno cômodo abaixo. De tanta musguice inunda o espaço, pequeno quadrado verde inclinado, com calombos, tartarugas desgarradas lentamente engolidas, cobertas ao tempo. (I)mobilidade pelo tempo, estendido, orgânico. Essa também é uma fissura, um entre, um sair sem sair. A exposição acaba, as obras saem, o musgo segue.
C. L. SalvaromobioInstallation
Of a moving nature, creeping between gaps, from crack
to extreme, a tiny moss grows among the sidewalk
rocks of this damp city. This and other cities where I’ve
walked. Almost imperceptible under our feet, getting
together in shadows (surviving). Some paths are more
friendly to moss, let it spread and show off, exuberantly.
Some, I catch a bit, I gather it. The best shelter is not
always the better protected.
There is a kind of hole at the center of the museum
which offers a little ceiling to open sky. There is no
entrance to it and you can only spy into it through
an inner window. Here moist concentrates. Either
full sunlight or nothing but shadow, before and after
noon. Which is to say, excellent conditions for a little
transplanted piece of moss to hold on to cracks and
textures. All its moss-i-ness flood the space – a tiny and
slanted green surface where cement turtles used as
traffic signals are slowly eaten up by this expansion. (I)
mmobility through time, extended and organic. This is
also a crack, a gap, an in-between, a going out without
leaving. The exhibition ends, all works depart, and the
moss continues to be.
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Daniel DACHArapucaVideo instalação
Em uma pequena armadilha para pássaros, vejo uma menina se debatendo feito animal atrás de arames finos, um alçapão. Arapuca feita especialmente para capturar seres penosos, leves, coloridos e indiscretos. Aprisionada agora, um lindo corpo mascarado sobre um fundo azul, parece se conformar.
Dentro de um banheiro feminino vejo um espelho. Nele reflete a imagem desta minúscula jaula. Sem permissão então corro para o quintal dos vizinhos, furto verdes plantas proibidas estáticas por seus donos. Contudo levo as plantas em frente a pequena arapuca, que para o deleite do lindo corpo aprisionado, goza o frescor de sentir uma natureza falsa dentro de si.
Daniel DachTrapVideo installation
In a small bird trap, I see a girl moving from side to side like an animal behind thin wires. A trap made specially to capture feathered
beings – light, colorful and naughty beings. Now a beautifully masked body is caught against a blue background, and looks settled
down. Inside the loo I see a mirror, and it reflects the image of this small cage. Without permission, I run to the neighbors’ yard and
I steal the greenest forbidden plants. I put them in front of the tiny bird trap that, to the delight of the pretty imprisoned body, enjoys
the freshness of feeling a fake nature within itself.
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Dulce OsinskiGeografias UrbanasFotografia
Circuito Barreirinha é uma série de 05 módulos no formato de 46 X 66 cm que compõem uma instalação realizada em fotografia, tendo como temática os trajetos viários do bairro em questão.
A idéia norteadora do trabalho é o deslocamento provocado pela imagem fotográfica, que transforma as cicatrizes das ruas de um bairro periférico da cidade em verdadeiros mapas que remetem a uma paisagem pouco comum. Pensa também as relações entre o transeunte ciclista ou pedestre com os caminhos percorridos, que devido à velocidade e à proximidade do olhar podem ser perscrutados com mais detalhes, evidenciando-se suas fraturas, emendas e destratos.
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Dulce OsinskiUrban GeographiesPhotography
Circuito Barreirinha is a series of five modules of 46
x 66 cm composing a photographic installation that
takes as its theme the street routes of Barreirinha,
a nice city district in the outskirts of Curitiba.
This work aims at the dislocation that a photograph
can provoke, transforming the scarred surface of the
streets into virtual maps of an uncommon landscape.
It also takes into account the physical recognition of
texture, by the slower moving cyclists and pedestrians
as they go, in their inspection of the unfolding path
that opens up to detail of fracture, crack and wear.
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Fabianne Balvedi/ppm __percepções por minuto
Transitória em sua essência, a obra consiste no lançamento de lúmens de frames sobre os mais diversos tipos de superfícies. Uma tinta efêmera traveste o cotidiano da cidade com imagens que remetem ao uso de bicicletas e à formação de uma massa crítica. A técnica chama-se VJing e define-se por uma performance visual em tempo real.
A interatividade que este tipo de intervenção artística possui permite que o ambiente seja co-autor no processo e que cada performance tenha sua própria identidade. Uma MOBilidade de fluxo que dialoga com a urbanidade das texturas sobre as quais se projeta: muros, fachadas, latarias, asfaltos, semáforos, placas, roupas e peles. Conversa também com as sonoridades presentes no espectro desses momentos, adicionando ritmos diferenciados a sua linha de tempo.
Fabianne Balvedi/ppm __ perceptions per minute
Essentially transitory, the work consists in projecting frames of lumens on all kinds of surfaces. An
ephemeral paint dresses the daily life of the city with images that suggests the use of bicycles and the
growth of a critical mass. The technique called Vjing defines itself as a visual performance in real time.
The interactiveness inherent in this kind of art allows a margin of co-authorship to the environment itself
and makes every performance a unique act. A MOBility in flux that dialogues with textures on walls,
buildings, car surfaces, asphalt, traffic lights, signs, clothes, skin, it incorporates sounds that might be
present at the moment, adding different rhythms into the time line.
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Fernando FranciosiQuestionamentos da 5ª série
Esta intervenção vem a partir de dois momentos, primeiramente por presenciar constantemente a seguinte situação desde as primeiras horas do dia: seis pistas para carros restando ao ciclista ficar debaixo de antenas gigantes de alta tensão, acuado, fragilizado, teimosamente se equilibrando numa espécie de rally urbano, além de muito próximo aos automóveis em alta velocidade. Em seguida, veio um questionamento de uma aluna da 5ª série sobre a inexistência de um espaço seguro para pedalar na via entre o principal município conurbado com Curitiba. Além da minha resposta e de outras que conheço, eu quis saber o que as pessoas que passam pelo local tinham a dizer. Também fui inspirado por um segmento de um vídeo em que Joseph Beuys afirmava que nós devíamos falar mais de nossos problemas em público.
A relutância de uma forte estrutura, a relação amorosa com o tempo e um tipo de doce recusa ao capital, são características que absorvi e procuro perpetuar a partir dos trabalhos do mestre Alfredo Volpi. A performance como um todo simboliza um grito, ou ainda, um assovio de subjetividade diante o compressor da objetivação do mundo. A sutileza mimética garante maior sobrevida ao objeto na rua e assegura algo fundamental nas minhas intervenções públicas: o fator surpresa. Diante de emoções rotineiras e do bombardeio publicitário da cidade, tal surpresa guiaria, de modo invertido aos tempos iniciais do ready-made, as questões: ...o que essa coisa faz aqui? Isso é verdadeiro? É brincadeira? É oficial? Isso é arte?
Fernando FranciosiQuestioning on the 5th degree
This intervention comes, first, from constantly watching
the same situation since first daylight: six lanes for cars
and a cyclist left to pedal at the middle path, under huge
electricity antennae and heavy wires, squeezed and
fragile, resisting stubbornly on two wheels the tensions
of a so called urban rally, dangerously close to wild car
traffic. And second comes from the questioning of a 5th
grader about the nonexistence of a safe place to ride a
bike at that very same highway, connecting an important
district to Curitiba. Though I have my own response to it,
and people that I know have theirs as well, I also wanted
to listen to what people in that place had to say. A further
inspiration comes from a statement in a Joseph Beuys
video where he suggests that we should speak out more
openly about our problems.
Resilience that we have to have to face structures as
massive as that one, an amorous relationship with time
and a kind of sweet denial of capital are lessons that I
have learnt from the art work of master Alfredo Volpi.
Performance itself stands for shouting and hissing our
subjectivity against the steamrolling objectivity of reality.
Mimetic subtleness guarantees a longer survival for the
object in the street and also assures the main element
of my public interventions: the surprise, the unexpected.
Facing the emotional routine that keeps being produced
by the city and its propaganda machine, surprise, as an
inverted guide to the era of the ready-made, may pose
some questions: What is this for? Is it true? Is it a joke?
Is it official? Is it art?
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Fernando RosenbaumFim de CarreiraInstalação
Uma obra em progresso, vindo da observância das marcas urbanas, resultante do atrito das pessoas pela superfície áspera da urbe, é neste grande ralador que deixamos um pouco a cada movimento. Dos registros sanguíneos sobre o petit-pavet, à borracha queimada que antecede a um incidente, esta é uma documentação de nossa passagem pela superfície terrestre, uma marca delével.
Penso em marcações que dêem conta da imaterialidade, em gravuras de acontecimentos, em impressões de memória, em transposições temporais. Fim de Carreira, segue a linha de outros usadores da cidade com quem me tranço para conectar novos derrames de tinta sobre o asfalto, marcando caminhos e/ou grafando desenhos. O fio de tinta escorre de um pequeno orifício na lata, deixando uma linha ou uma seqüência de pontos. Antes havia tentado outros sistemas de usar tinta, mas algumas experiências catastróficas me direcionaram a simplificar a operação.
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Fernando RosenbaumThe end of the lineInstalation
This is a work in progress that starts from watching
the traces left by people on the rough surface of
the city, the big grater where every movement
takes its little toll. From blood stains on the petit-
pavé sidewalk to the signs of burnt rubber tires
that precede an incident, they all document
our passing by the earthly surface, a lingering
signature. I think of registers that may account
for the immaterial, of the etching of events, of
impressions of memory, of time transpositions.
“The end of the line” follows the path of other
city users whom I link myself to, to join in new
spillings of paint on asphalt, marking tracks and/
or graphing drawings. A thin stream of paint
flowing from a small hole in the can drops a line
or a sequence of dots. Formerly I did try to employ
paint as a classic master but some catastrophic
results led me to simplify the operation.
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Goura NatarajEnergy is Eternal DelightInstalation
It is an attempt at mapping out space under concepts
richer and more meaningful than the mere mobility of
survival, the cartography of industry and capital, the
alienated modes of commuting that care only for the
destiny not the journey, the passive transportation of
the motorized that drains the vital energy of the city
and its citizens.
Energy channeled into “useful” ends neglects and
degrades any of the overflowing possibilities of
contemplation and creation that are not immediately
oriented to pragmatic profit. Criticism is well deserved
by traffic and the city understood as simply passage.
Fast lanes occupied by all types of accelerated, fast-
minded people. Hostile streets where it is better not
to be at.
Psycho-geography rescues space into its primeval
purity – a tabula rasa of emotions and feelings. Its
says we can put meaning on things. We can elect
symbols. We can create holidays. We can put up
nets and free maps. We eulogize the self propelling
machines. Self propelling is self delight! The
unfolding of creative energy is self delight. “Energy is
eternal delight,” said the Blakean demon.
Goura NatarajEnergy is Eternal DelightInstalação
Trata-se de uma tentativa de mapear o espaço sob conceitos mais significativos e ricos do que a simples mobilidade da subsistência, a cartografia das indústrias e do grande capital, o transporte alienado que só pensa em chegar lá, o transporte passivo dos motorizados que exaure a energia vital dos centros urbanos e seus habitantes.A energia destinada a fins ´úteis´ despreza e degrada toda forma super abundante de contemplação e criação ´inúteis´, que não pensem apenas no lucro pragmático. A crítica vai ao trânsito e a cidade considerados apenas como passagem. Velozes vias de acesso para todo tipo de apressado. Ruas que tornam-se hostis pela presença maciça dos automóveis.
A psicogeografia resgata ao espaço sua pureza primordial -Tabula rasa das emoções e sentimentos. Podemos estabelecer significados nas coisas. Podemos eleger símbolos. Podemos criar feriados - individuais ou coletivos. Podemos estruturar redes e mapas livres, que ignoram o enfadonho ir e vir das mercadorias e suas leis tirânicas. Estamos interessados nos territórios livres que surgem da intervenção direta das pessoas. O transporte autônomo, que favorece o contato com o corpo e que expande a liberdade do indivíduo, é o objeto de nosso elogio.
Queremos o desenvolvimento de uma mobilidade hedonista, que priorize a dignidade do corpo, o acesso a cidade, o frio na barriga, os encontros não planejados, o vento na cara, a autonomia do trajeto. Os símbolos livres, instaurados aqui e ali, criam diálogos com a cidade e seus outros símbolos - livres ou institucionalizados - produzindo um certo tipo de espanto, condição de toda filosofia.
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Guilherme CaldasUm Longo Caminho
Da minha vivência de dez anos como ciclista, aprendi, aos poucos, a apreciar a beleza das pequenas imperfeições e arranhões na pintura de uma bicicleta com alguns anos de uso. São sinais carregados de significado, que carregam as marcas dos caminhos por ela trilhados. (…) Esta percepção se deve, em boa parte, às marcas que trago comigo, tanto quanto às marcas que traz a minha bicicleta. Minhas pernas são fortes, meu capacete é marcado e minhas mãos trazem calos do guidão. E minhas luvas, os furos e as marcas de um uso muito intenso. Daí, minha idéia de comparar estas marcas, das mãos e luvas, com as marcas dos quadros de bicicletas, que são testemunho dos caminhos percorridos pelo ciclista.
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Guilherme CaldasA Long Way
Pedalling the past ten years as a systematic cyclist, I have learned to enjoy the beauty of an used-looking bicycle, with small
imperfections and scratchings at the painting. These are meaningful signs, carrying traces of the places crossed by it. This perception
comes as much from the marks that I carry on me as from the marks that I carry on my bicycle. The strength of my legs join my
helmet’s marks and the calluses from handlebars in both hands. My gloves have holes from being well used. It came naturally, the
idea of comparing these traces, of the hands and gloves, with the bicycle frames – they are all witnesses of the routes travelled by
their owners.
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Guilherme Sant’anaO petróleo é nosso?Painel fotográfico Um grande professor que tive, chamado Rodolfo, me disse há anos atrás: “Ao consumirmos petróleo, criamos um vínculo cármico com os dinossauros”. Esse conceito traçou as bases da minha compreensão sobre a idéia de causa/efeito. Os dinossauros como evidência de ascensão e queda de uma espécie, sempre me fascinaram (dinossauros me fascinam desde criança). Fiz uma série de estudos (historinhas e fotonovelas) usando essa técnica da macro fotografia com brinquedos e objetos. Algum dia por acaso coloquei os homenzinhos que eu usava nas maquetes da faculdade, montados nas mini-feras pré históricas e a metáfora apareceu de forma muito clara.
Considerando-se captura, transporte, adestramento, castração e esterilização em autoclave, o custo de um dinossauro jovem é significativo no orçamento atual do brasileiro médio. Sem falar na quantidade colossal de árvores, arbustos e água consumidos diariamente, pois, um automóvel custa mais caro que isso tudo. Bem mais caro.
Minha conclusão é que prefiro um mundo onde pessoas desloquem-se montadas em dinossauros. Acho mais leve, mais poético e, principalmente, mais honesto.
Guilherme Sant’anaIs that oil really ours?A photographic panel
A great teacher called Rodolfo once told me:
“By consuming oil, we create a karmic bond with
dinosaurs.” This concept drove me to understand
what the action/reaction idea means. As an evident
example of the rise and fall of a species, dinosaurs
fascinate me ever since I was a kid. I have made
several experiments (graphic novels) using the
macro-photography technique on toys and objects.
One day I happened to place a miniature of man
from my architecture school models riding the mini-
pre-historical beast, and the metaphor was clear.
Considering the process of hunting, hauling, training
as well as the castration and sterilization in autoclave,
the cost of a young dinosaur can be a heavy item
in the budget of the ordinary Brazilian. Not even
mentioning the huge quantity of trees, bushes and
water consumed daily.
Well, a single automobile costs more that all that.
Much more. My conclusion is that I rather prefer
a world where people ride dinosaurs. I think it
smoother, more poetic and especially more honest.
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Glerm SoaresJardim de Volts e a Hidrelétrica Salar-BariguiInstalação
Através deste “artesanato de volts”, ao pedalar em frente a um simulacro audiovisual com uma bicicleta ergométrica de salão, você é transportado para um percurso de deriva urbana e delírio sobre a energia e tecnocracia urbanista nas cidades.
Um passeio virtual que parte da Rodovia do Café, que liga Curitiba ao interior do estado do Paraná (ou ao Oceano Pacífico?), passa por uma rua cheia de vendedoras de automóvel, segue pelo parque Barigüi encontrando o jacaré e o Museu do Automóvel e perde-se desorientado pelas antenas das Mercês, encontrando o Movimento dos Sem Satélite (MSST) numa vertigem que entra no centro da cidade por dentro das portas do Solar, perdendo-se entre seus barões.
Glerm SoaresGarden of Volts and the Hydroelectric Solar-BariguiInstalation
Through this “handicraft of volts”, while riding in
front of an audiovisual simulacrum with a stationary
bike, you drift into a casual journey across the city,
along the energetic deliriums of its urban-planning
technocracy. A virtual ride from Rodovia do Café,
the main road from Curitiba to the state hinterland
(or should I say the Pacific Ocean), will take you
to a street scene with plenty of car sales and on
to Parque Barigui where you will meet its famous
crocodile and visit its Automobile Museum and on
until you get lost among the broadcasting antennae
of the Mercês neighborhood … to the point where
you will run into the Movement of the Sateliteless
Workers (MSST), and finally on to a dizzying drive
across downtown and into the gates that open to the
exhibition at Solar do Barão.
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Gustavo PrafrenteS/ Título
O trabalho foi realizado através de procedimentos tais como: deriva pelo espaço urbano, focando minha atenção em elementos descartados e marginalizados (sacos de lixo), recolhimento de tais materiais para o espaço expositivo e processamento de tais elementos de acordo com as especi-ficidades da nova localidade (neste caso, eu realizei a ação de re-empacotamento, envolvendo-os com fitas adesivas, buscando criar uma possibilidade de permanência desses elementos dentro do espaço expositivo) e por fim lidei com a questão da disposição dos volumes dentro da sala afim de atingir uma composição equilibrada, buscando acessar o público através dos conhecimentos já utilizados no campo do design e decoração.
Acredito que o trabalho se relacione com o tema da mostra através de um viés não representativo, mas sim buscando incorporar as preocupações e os novos apontamentos pos-síveis para o desenvolvimento da questão da mobilidade dentro do espaço urbano, tais como deriva e atenção ao elemento descartado.
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Gustavo PrafrenteUntitled
Steps have included: drifting through the urban
space with an eye to disregarded or discarded
elements (garbage bags included); gathering and
collecting this material for the exhibition space;
processing these elements according to the
specific conditions of the new location (in this I
repackaged them with a view to their standing at
the space); and finally dealing with the question of
volumes inside the room so as to reach a balanced
composition.
I believe this work has to do with the general theme
in an indirect way, incorporating concerns and new
possible observations, such as relate to driftage
and disposal, that link with the question of what is
mobility within the urban space.
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Jaime VasconcelosS/ TítuloIlustração sobre papel
O desenho junta dois conceitos com os quais todos os envolvidos na exposição convivem diariamente - a vida urbana e o transporte por bicicleta. A grande questão do desenho é propor, à maneira gráfica, adequações para as ações positivas em relação a bicicleta, ações que estão se tornando cada vez mais recorrentes nos grandes centros.
Jaime VasconcelosS/ TítuloIlustration on paper
The drawing puts together two concepts that all
the artists from MOB011 share - the urban life and
the bicycle as a mode of transportation. Its main
purpose is to suggest, in a graphic way, positive and
creative actions in support of a more bike-friendly
environment.
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Maikel da MaiaCalendário/2011
Identificada à ação de intermédio do panfleto entre e com serviços, informações, ideologias, venda, compra, troca, promoção, etc, utilizo da gratuidade existente na palavra impressa de grande circulação (ACEITAR E LER) e proponho a distribuição de um calendário de bolso do ano vigente 2011 dentro do fluxo de circulação que ocorre no espaço da exposição e fora dele em situações elaboradas ou não, coerentes ou não, permitidas ou não para distribuição de 5.000 impressões off-set.
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Maikel da MaiaCalendar/ 2011
Like a leaflet that mediates services, information, ideologies, buying and selling and
trading and promoting, I avail myself of the gratuity inherent in the printed word of
mass circulation (ACCEPT AND READ) to propose the distribution of a pocket calendar
for the current year of 2011 into the flow of visitors to the exhibition and elsewhere,
in situations that are intended or not, coherent or not, allowed or not allowed, to the
amount of 5000 units.
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Michele MichelettoO Plano das Bikes BrancasHappening
O Plano tem seu antecedente na década de 60, quando um grupo de artistas e anarquistas holandeses, chamado PROVOS, instituiu a bicicleta pública de uso comum.Curitiba teve a sua primeira bike pública exposta no MAC – Museu de Arte Contemporânea, em 2007. No ano seguinte um grande plano foi montado para arrecadação de bicicletas, inicialmente expostas no Centro Histórico de Curitiba, na então denominada Árvore da Mobilidade. No MOB algumas dessas bicicletas foram consertadas e passaram a rodar pela cidade, despertando emoções e sensações aos participantes do projeto.
O usuário permanece 7 dias com a bicicleta para ver a cidade com outros olhos. A idéia das bicicletas comuni-tárias só funciona com a participação do individuo, crian-do uma relação direta do usuário, a pessoa, as histórias, as emoções e visões, criando em cada um, um relato dife-rente e uma vivência única. A ação de divulgar a bicicleta como veículo e seu espaço na cidade vem questionar o uso massivo do automóvel e sugerir a integração da bici-cleta na rotina das pessoas, mostrando seus benefícios físicos e mentais.
Michele MichelettoThe Plan of the White BikesA Happening
The Plan looks for inspiration in the movement of
Dutch artists and anarchists of the 60s known
as Provos, who first instituted the public bicycle
for common use. Curitiba had its first public
bicycle exhibited at the MAC – Museu de Arte
Contemporânea in 2007. The following year a big
campaign was set to collect bikes, which were
initially arranged as a connected sculptural whole in
the so-called Mobility Tree in the downtown historical
area. At the MOB exhibit some of these bicycles were
fixed and once more put to use for the excitement
and thrill of each participant. A seven-day term is
offered as an opportunity to experience a different
point of view of the city, which results in unique
stories of discovery and shared emotion. Pursuing
the bicycle as an alternative mode of transportation
and its full integration in the daily routine, with the
accompanying physical and environmental benefits,
the Plan also means to criticize and decidedly
oppose the irrationality and waste that come with the
massive use of the automobile.
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Pedro GiongoMapa para Jacques CousteauVídeo
A cidade cresce a um ritmo vertiginoso, um gráfico surge em volta de um ponto, e o que era apenas uma pequena rachadura se transformou em uma gigante ramificação. Um elefante pesado no meio de tudo - é nisso que a cidade se transformou, num elefante no meio de tudo. O caminho a ser traçado agora é o inverso, e o homem já não se sente mais tão sozinho, porque as imagens do fundo do mar, parecem ressoar imagens de outros espaços, outros universos.
Pedro GiongoA Map to Jacques CousteauVideo
The city grows at breathtaking pace, a graphic
enlarges around a dot, and what was a simple fissure
turned into a huge diffused crack. A heavy elephant
stuck in the middle of everything – that is what is
has become. Now the path to be mapped goes the
other way, and man no longer feels so lonely, since
the images from the bottom of the sea seem to evoke
perceptions of other spaces, other universes.
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Raphael FernandesTeoria da GravidadeInstalação / Perfomance
Baseado no trabalho de dança contemporânea para criança do coletivo Brincante, “Quando tudo cresceu” (2009), a Teoria da Gravidade começou a tomar forma. A idéia do coletivo, de pensar uma dança tendo como ponto central de pesquisa a memória particular do universo infantil, estimulou minha pesquisa, que tomou formas distintas em cada linguagem que foi experimentada.
A performance que apresentei é uma brincadeira que se organiza de maneira provisória, produzindo conhecimento necessário para sonhar, gerando lugares diferenciados de percepção de si e de re-significação poética. Torna-se um jogo que potencializa as construções lúdicas da obra, promovendo a integração de elementos que se articulam entre ganho de percepção, ampliação da experiência motora e estética, bem como a expansão dos repertórios simbológicos.
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Raphael FernandesGravity TheoryInstallation / Performance
Based on the contemporary dance for children
from the Brincante collective - “When everything
grew” (2009), the Gravity Theory slowly took
shape. The main idea was to connect the
particular memories from childhood imagination.
That has stimulated my research, which assumed
distinct forms in every language I used.
The performance is a kind of play which organizes
itself producing knowledge to dream, to create
new levels of self-perception and poetic meaning.
It becomes a game that potencializes the ludic
constructions of the work, promoting a whole set
of aesthetic and bodily experiences.
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Rimon GuimarãesTeme Treme
Teme Treme os continentes dentro do grande elefante vermelho, suas patas são como receptores de ondas. Intuitiva, a mente liga novas rotas. Em sua orelha leva um periquito de carona para um lugar que chamamos futuro.
Rimon GuimarãesTeme Treme (Fears’n Trembles)
Fears ‘n Trembles … feels the continents inside
the big red elephant, its elephant feet are wave
detectors. Intuitively, the mind reorganizes new
routes. On its huge ears, it gives a ride to a little
parrot to somewhere we call “future”.
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Thiago SyenAcessoInstalação
Acesso é a representação de uma rampa de acesso, um objeto de arte instalado na entrada da Sala do Museu da Fotografia e que questiona o real acesso da população de Curitiba e região aos espaços expositivos da cidade e a própria arte.
O artista acredita que a arte é para todos e que deve chegar a todos. No entanto, para que isso aconteça, os espaços expositivos devem se adequar e proliferar nos bairros mais distantes da cidade, ampliando assim o acesso a arte e inserindo a arte no cotidiano das pessoas.
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Thiago SyenAccessObject and Installation
Access is the representation of a ramp, an object-installation at the entrance to the exhibition rooms in the Museum, that aims at
questioning whether there is real acess to art and art spaces for people in our town.
The artist believes that art is to be shared by everyone, and therefore art and art places ought to multiply and spread to the suburbs
and into the daily life of all.
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ValdecimplesEu ou parte do euInstalação
Uma instalação composta por dois cartazes colados diretamente na parede e algumas fotografias de meu acervo pessoal em porta-retratos sobre eles.
Dois cartazes associados: um auto-retrato e outro desenhos quadro-a-quadro que se dialogam em balões com questionamentos sobre o cotidiano. Esse é um díptico que trata de relações dialéticas entre imagens e seus discursos. No primeiro, a reprodução em fotografia do autor, e no segundo a criação do desenho como representação da imagem do autor. Qual é a imagem do artista? É aquela que o autor cria ou aquela que a sociedade constrói e determina? Uma busca de realizar analogias entre imagem e palavra. A palavra como índice, como desenho, como signo; e a imagem como palavra, como signo, como índice, como desenho.
Os cartazes tem informações sobre a exposição provocando que transeuntes se interessem mais sobre o trabalho, pois foram confeccionados para circular em lugares específicos da cidade, em lugares para o qual os cartazes são destinados: ônibus, terminais de ônibus, entre outros pontos. Um instrumento utilizado como proposta artística para circular em meios não convencionais e também, para mais uma forma de dar acesso. Colocar em circulação e assim, atingir outros expectadores, despertando outras leituras do formato (cartaz) tão comum em pontos saturados de informações. Essa proposta foi negada aos órgãos competentes e que regulamentam tais inserções em ônibus e terminais, pelo fato de que os cartazes não caracterizam temas de utilidade pública. Fica a pergunta: a arte e a cultura têm caráter de utilidade pública? Num segundo momento, os cartazes foram habitar outros locais: muros, casas, escolas, escritórios e lugares de exposição disponível no corpo construído da cidade.
ValdecimplesMe or a part of meInstallation
Two posters are fastened with glue on the wall and a
series of photographs of my personal collection are
fastened around them. The two figures co-relate as
a self-portrait and drawings with balloons frame by
frame with questions about everyday life – a dyptic
that talks about the dialectic relation of the image
and its meanings. Which is the real image of an
artist? The one that he creates of himself or the one
which society imposes on him?
It also works as an analogy of the tension between
image and word. The word as an index, an icon, a
sign; the image as word, sign, index, and drawing.
Both images were meant to direct attention to the
very MOB exhibit and to be shown at those places
in town where posters are usually framed, like bus
stops and stations. That was not allowed, though,
by those who regulate the fixing of information at
those public spaces, on the excuse that they do not
concern the public interest.
And then comes another good question. Don’t art
and culture address the public interest? I did not wait
for the answer and proceeded to fix them wherever
the constructed body of the city would allow me in
– walls, houses, buildings, schools, business offices
and so on.
70
A reeducação dos sentidos e a brisa no
rosto de quem pedala.Jaques Brand
Ali por 1910, 1911, 1912, o noticiário dos jornais
curitibanos já refletia, como problema, a gradual introdução
do automóvel no quadro urbano.
Uma dessas notícias dava conta do atropelamento
de um corneteiro do Exército, ferido na perna por um carro
da Garagem Fontana. O soldado foi assistido por populares,
que se juntaram em multidão na praça Tiradentes, centro de
Curitiba, cenário do ocorrido. Deve ter recebido tratamento
médico e licença do serviço para convalescer em casa.
Leve e trivial para os padrões atuais, o acidente
chocou a cidade, sendo narrado em detalhes, com chamada
em primeira página.
***
Mais ou menos na mesma época, um leitor escrevia à
redação para protestar, indignado, reclamando providências.
Morava em uma chácara dos arredores e vinha denunciar
que, certas noites da semana, a passagem de um automóvel
ali perto acordava toda a família e os animais domésticos.
Cães, galinhas, porcos, vacas e cavalos – todos despertavam
em sobressalto.
***
The reeducation of the senses and the
touch of breeze on the biker’s face.
Abstract
The introduction of the first automobiles
in Curitiba, in southern Brazil, was already felt as a
problem in newspaper reports from the beginning of
the last century. People got hurt in the streets and
even slight accidents gathered whole crowds in the
downtown area; the noise of motorcars throbbing
past distant country-homes would disturb the night
sleep of dwellers and domestic animals alike.
Perceptions change though in time. As
witnessed many decades later by the author, even
a street dog might perform the successful crossing
of a complicated traffic knot, a performance which
illustrates the transformation and reeducation of
the senses, taken as a general consequence of the
industrial revolution.
As that clever street dog, we all have
adjusted to the intrusion of motor vehicles in the
urban landscape. Gradually we have built a new
Convention and we also got used to accept the
71
Uns noventa anos mais trde, enquanto espero
meu sanduíche na lanchonete do Billy, contemplo
de uma mesa posta na calçada, junto à complicada
esquina de Martim Afonso com Desembargador
Mota, junto à praça 29 de Março, em Curitiba,
o desfile de colunas maciças de carros, que se
alternam nos ritmos do semáforo, avançando uns e
parados outros na expectativa do sinal verde.
Essa esquina é interceptada por uma via
diagonal, a Fernando Moreira, que abriga a canaleta
do ônibus Expresso – o que faz dela quase uma
estrela: além das ruas em cruz, a diagonal corta a
cruz pelo vértice.
De repente, na calçada da Mota, quase
deserta, esvaziada de gente como tantas outras
calçadas da cidade – de repente aparece,
desfilando em passos elegantes e tranqüilos, um
cachorro de rua, um vira-latas, nem grande nem
pequeno, nem gordo nem magro, aparentado no
perfil encompridado aos “lingüiça” de melhor
pedigree. Aproxima-se do cruzamento com a Martim
Afonso; educadamente, pára junto ao meio-fio; e ali
aguarda a passagem dos carros que descem do alto
do Bigorrilho, em densas colunas duplas.
O sinal muda, os carros na Martim Afonso
param, e o cachorro atravessa sem pressa, diante
dos focinhos protuberantes das duas colunas de
carros, como se estivesse passando-as em revista,
até alcançar a pequena “ilha” do outro lado da
rua. Detém-se por ali um instante, olha nas duas
direções, e completa a travessia do segmento
da diagonal, seguindo então, lépido e fagueiro,
rebolando o rabo, pela continuação da calçada da
Mota, na mesma inalterada velocidade de cruzeiro.
***
Enquanto mastigo o sanduba do Billy,
vou meditando sobre a cena do cão transeunte.
Também os animais passaram, neste século, desde
a introdução do automóvel, pela reeducação dos
sentidos, mencionada por Karl Marx como uma
das conseqüências digamos antropológicas da
Revolução Industrial.
Uma nova Convenção, construída aos poucos
a cada dia, a cada travessia, a cada acidente,
durante muitos anos, instaurou-se afinal entre nós,
72
e nos adaptamos a ela, os humanos e os outros bichos.
Aprendemos todos – os cães, os gatos, os ratos, os pombos,
os humanos – a conviver com a intrusão de frotas inteiras
no espaço das ruas. Aprendemos a seguir nosso caminho
entre a massa de máquinas, fiados nos sinais do semáforo.
Aprendemos também, infelizmente, a aceitar o inaceitável.
Alguns de seus ônus são tangíveis ou sensíveis,
como o ruído, a fumaça, o estreitamento do espaço público
para a abertura e o alargamento das pistas de rodagem, a
descontinuidade do passeio dos pedestres, o despovoamento
das calçadas, a cara fechada e tensa das pessoas lacradas
no interior das latarias, o confortável desconforto dos
passageiros, o risco quase permanente de uma colisão...
Outros danos, de imensa monta, nem aparecem na
paisagem organizada das cidades: as guerras invisíveis que
se travam do outro lado do planeta pelo controle das jazidas
de petróleo, o transporte perigoso e a incessante poluição
dos oceanos, os oleodutos que interrompem a continuidade
dos espaços naturais, o passivo ambiental do refino...
Mas há também aquilo que os economistas chamam
o custo-oportunidade, isto é, as preciosas alternativas
de uso do espaço urbano que poderiam ensejar novas
formas de sociabilidade, ou preservar as antigas, e que,
necessariamente, são descartadas, para que as frotas
possam enfim se deslocar... São as oportunidades históricas
perdidas, das quais desembarcamos, para embarcar, aflitos
ou docemente inscientes, na Bolha.
***
Estranho paradoxo, o que se traduz no fenômeno da
multiplicação dos veículos automotores a cifras absurdas: a
maravilha do engenho humano volta-se contra o seu criador.
Conseguimos banir da superfície da Terra os animais
selvagens que visitavam à noite a periferia das nossas
aldeias, e introduzimos um tigre mais feroz, mais voraz do
que todas as feras.
unacceptable: broad environmental and political
damage from the oil industry; the enslaving of
the economy to the automotive industry; the
subordination of urban space to the imperative
demands of vehicle circulation; the high opportunity
cost paid by society in terms of lost old and new
desirable forms of existence and sociability; not to
mention the killing and maiming of millions of people.
As a legitimate daughter of the same
industrial revolution, the bycicle is viewed by the
cycloactivists of the Bicicletada as in itself the
best criticism of the car culture. And though town
authorities refuse to enforce the very laws that would
ensure its legal place as a means of transportation
in daily city life, the movement will go on looking
for ways to make those laws hold and to reeducate
public administrators and citizens toward acceptance
of a clean, resource-saving and healthful transport
modality.
In spite of the thin results of bike-
activism in Curitiba until this moment, the breeze
that caresses our faces as we ride our bycicles is
rewarding enough to persuade us to keep doing our
part, and confirmation enough that History, after all,
is by our side.
JAqUES BRAND
73
***
As legiões e legiões e legiões de mortos e
mutilados no trânsito, sejam nas colisões carro
a carro, sejam por atropelamento, pertencem
à normalidade enferma e atormentada da nova
Convenção. E não acharam até hoje o seu poeta
elegíaco, nem o pastor que em estilo asiático
reivindicasse, por atacado, dos púlpitos, a sua
memória e o seu calvário.
***
Já salta aos olhos a evidência de que o
sistema econômico atrelado à matriz petroleira e
automotiva, como os dinossauros do K/T, agoniza,
e com ele o planeta, ferido de uma doença mortal:
o gigantismo, com o mesmo grave sintoma de
sempre: a falta de imaginação.
À força do imperativo keynesiano da
administração da demanda (dá-lhe propaganda!), à
força de guardar a coesão e o dinamismo das cadeias
produtivas, caminha velozmente para o abismo – e
nisto guarda uma solidariedade verdadeiramente
igualitária, pois promete levar-nos a todos para o
mesmo buraco.
Até mesmo em seus próprios termos,
o sistema titubeia: “fliperama” extremamente
primitivo, o máximo de segurança que propõe
são as caríssimas duplicações das vias, e uns
poucos aperfeiçoamentos cosméticos para a
diminuição dos efeitos dos impactos. Nem sequer
se cogita da aplicação massiva dos sistemas de
posicionamento eletrônicos, ou da redução drástica
da escala dos veículos, ou do engenheiramento
das ruas inteligentes, que se valesse dos recursos
espertíssimos da digitalidade...
***
Em recente crise financeira, quando ruiu
o castelo de cartas das aplicações derivativas, e
a conta foi apresentada secamente às populações
estupefatas, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, do Brasil, um bom sujeito, apressou-se a
garantir crédito e recursos públicos às montadoras
de automóveis...para que pudessem continuar
vendendo tanto como nos dias da farra financeira.
Uma semana depois, o então governador José Serra,
de São Paulo, sem dúvida um bom sujeito, repetiu
o gesto: botou à disposição das montadoras, para
que não parassem de vender no mesmo frenético
andamento, bilhões de reais do erário do Estado.
E isso incondicionalmente, sem sequer extraírem
alguma concessão desses grandes trustes, como
o melhoramento dos filtros de emissão, ou dos
recursos de segurança pessoal dos passageiros...
Nossa conclusão não deve ser moralista.
Ambos os estadistas, diferentes que sejam os
seus estilos, comportaram-se como prisioneiros da
mesma lógica: o motor da economia, a indústria
automotiva, não pode parar. Nossa conclusão
deve ser política: não vamos esperar iniciativa
alguma dessas lideranças, no sentido de uma
mudança de rumo, por menor que seja. Eles são
meros operadores do sistema, com uma interface
sorridente e bem-falante para melhor persuadir e
arrastar as multidões, sem que nisso vá alguma
censura. É como as coisas funcionam dentro do
sistema...
***
Donde virão as mudanças? O pessoal da
Bicicletada tem muito a propor, neste sentido.
Quem são eles? São guerreiros do bem, armados
apenas de suas bikes e de uma idéia central
brilhante: a bicicleta é a melhor crítica à cultura
do automóvel.
74
E olha que ela tem pedigree e ascendentes tão bons ou
melhores, do ponto-de-vista histórico e tecnológico, do que o seu
fumacento “colega” e “concorrente”.
Está nos livros: assim como o motor à combustão, a bicicleta
surge no Ocidente como produto industrial de uso massivo nos
anos que Barraclough define como o grande salto tecnológico das
economias do Oeste – entre 1867 e 1881. Em vez das descobertas e
inventos pontuais da Primeira Revolução Industrial, era agora o tempo
da aplicação sistemática dos métodos laboratoriais de descoberta, de
pesquisa e desenvolvimento, a resultar na invenção do telefone, do
microfone, do gramofone, da telegrafia sem-fios, da lâmpada elétrica,
do transporte público mecanizado, dos pneumáticos, da máquina
de escrever, das tintas para a impressão em massa de jornais, das
primeiras fibras sintéticas, da seda artificial, dos primeiros plásticos
sintéticos...
***
Tão genial foi a invenção da bicicleta que, adentrando o novo
milênio, ela conserva quase integralmente as linhas originais. Ficou
ainda mais leve e resistente com a aplicação de novas ligas metálicas,
de fibras desenvolvidas pela pesquisa astronáutica, freios excelentes,
dispositivos de iluminação ágeis e eficazes...
***
Desde os seus primeiros dias, a bicicleta fundiu sua história
com a história da classe trabalhadora. Resulta incompreensível,
por isso mesmo, a hostilidade que podemos dizer sistemática dos
motoristas de ônibus de Curitiba para com seus irmãozinhos de rua,
os ciclistas. Verdadeiros homicídios têm sido cometidos nas canaletas
do sistema Expresso. Culpa dos “caroneiros” irresponsáveis? Onde
está a ciclo-faixa que a lei manda escrever no chão do asfalto de
todas as vias de circulação pública de veículos?
***
O Código Nacional de Trânsito reconhece a bicicleta como
veículo de transporte urbano individual, com direito irrefutável a
trafegar em faixa própria, à direita do espaço de rodagem das ruas.
75
Desenhar ciclo-faixas é dever indeclinável do
administrador municipal. Assegurar a integridade
física, a incolumidade do ciclista, acompanha
este indeclinável dever, cujo cumprimento se
traduz também pela educação dos motoristas de
toda índole, no sentido de respeitar o sujeito que
segue pedalando a caminho de casa, do trabalho,
da escola ou de qualquer outro destino. É lei,
tanto quanto pagar o IPTU ou votar para prefeito e
vereador, devolver o troco ou respeitar a autoridade.
Seu cumprimento não depende de disposição
psicológica favorável dessa autoridade, nem é favor
político nem nada. Cumpra-se!
***
A Bicicletada de Curitiba, saudada por
alguns analistas como a grande novidade política
dos últimos anos, nada tem de movimento político
organizado. Move-se por impulso, por agregação
voluntária, por amor à vida, sem chefes, sem
comandos, sem carimbos nem cartórios, em direção
a uma das condições da plena cidadania, o simples
direito de ir-e-vir.
***
Depois de todos os argumentos em favor
de uma política pública em favor da difusão e
viabilização da bicicleta no dia-a-dia da cidade,
exaustiva e incansavelmente apresentados às
autoridades curitibanas, em diversas e reiteradas
ocasiões ao longo de anos de atuação da
Bicicletada, continuam falando mais alto, para os
ciclistas, em favor das nossas magrelas, aqueles
outros argumentos menos persuasivos em política
ou administração: a brisa no rosto, a luz natural, o
equilíbrio elegante e atrevido, a pedalada que vai
mais além...e a certeza de que a História está do
nosso lado.
76
André Mendesé artista, formado em Desenho
Industrial (PUC-PR), gravura em
metal (Solar do Barão) e tem
especialização em Ilustração
(Escuela de Imagen y Diseño –
Barcelona).
Cyntia Werner mora em Curitiba. Formou-se em
Gravura na Escola de Música e
Belas Artes do Paraná (EMBAP)
e Comunicação Social com
habilitação em Jornalismo na
Pontifícia Universidade Católica
do Paraná (PUCPR).
Cintia Ribas
é artista, fotógrafa e bacharel em
Pintura (EMBAP).
Conde Baltazar
artista, musico, pai, amante, vivo,
escritor de trincheira, corpo em
transe, ator.
C. L. Salvaro [Cleverson Luiz Salvaro], tem
formação em Educação Artística
(FAP) e mestrado em Artes Visuais
[UDESC] - participa de eventos
ligados às artes visuais desde
a virada dos séculos e continua
nessa onda.
DACH [Daniel Chaves] estudou em
escola pública, trabalhou em
diversas áreas – foi palhaço,
eletricista, encanador e mecânico.
Depois de tudo isso resolveu fazer
faculdade de arte e se deu bem
no ramo.
Dulce Osinski nasceu em Irati, PR. Bacharel
em Pintura (EMBAP), é mestre
e doutora em Educação (UFPR).
Artista plástica, ilustradora,
professora do Departamento de
Artes da UFPR.
Fabianne Balvedié pesquisadora, cineasta e
professora universitária. Trabalha
principalmente com imagens em
movimento através de tecnologias
livres. Do curso de arquitetura,
adquiriu a percepção ampliada
de espaço que utiliza em suas
interações humano-computador.
Fernando Franciosi é artista, membro do coletivo
Interlux, sociólogo de formação
(UFPR). Atualmente é pós-
graduando em História da Arte
pela EMBAP e trabalha no
coletivo doisdois com Lucas Nery.
Busca intervenções pictóricas
miméticas, com potencial irônico,
que questionem a falibilidade do
nosso sistema de percepção e
garantam o fator surpresa e seu
enigma.
Fernando Rosenbaum
nasceu em são Paulo em 1978,
iniciou sua trajetória como
artista em 1997, com 23 anos
cruzou o Brasil montado sobre
uma bicicleta. Bacharel em
gravura e educador trabalha com
o ensino informal para crianças
e adultos, organiza-se de forma
associativa entre coletivos, e na
criação de tramas colaborativas
entre indivíduos. Tem um sonho:
construir uma aeronave mais leve
que o ar.
77
Goura Nataraj é mestre em filosofia (UFPR),
professor de yoga, sânscrito e
meditação.
Guilherme Caldas é formado em Artes Plásticas
(ECA-SP). Trabalha como
ilustrador e diretor de arte,
desenha histórias em quadrinhos
e funzines desde os anos 80.
Guilherme Sant’ana é arquiteto, diretor de arte, ciclo-
ativista e surfista de alma
Glerm Soares desenvolve trabalho de
experimentação conceitual de arte
e tecnologia desde 2003 com o
coletivo a Orquestra Organismo.
Organizou com este coletivo,
diversos happenings, exposições,
performances, webart, poesia e
dramaturgia. Atualmente compila
técnicas, repertório poético e
audiovisual para um Movimento
dos Sem Satélite
Gustavo Prafrente “Quando enfim eu nasci, minha
mãe embrulhou-me num manto
Me vestiu como se eu fosse assim
uma espécie de santo
Mas por não se lembrar de
acalantos, a pobre mulher
Me ninava cantando cantigas de
cabaré, laiá, laiá, laiá, laiá”
Maikel Aparecido da Maia
é artista.
Jaime Vasconcelosé artista e cozinheiro.
Michele Micheletto é designer e fotógrafa, graduada
em Design de Produto (PUC-
PR). Desenvolve projetos
relacionados a arte, design, moda
e suas vertentes. É membro do
coletivo criativo Galeria Lúdica,
como coordenadora de design e
fotografia.
Pedro Giongo é artista gráfico, faz vídeos e
contribui para o Estudio Tijucas.
Raphael Fernandes É licenciado em Educação física,
pesquisador de temas da cultura
urbana desde 2003, residente
na Casa Hoffmann em 2006 e
no Cafofo Couve-Flor em 2009,
atua como professor e coreógrafo
de Dança de rua em escolas
da rede publica e particular de
Curitiba. Nas horas vagas faz pão
de queijo e imagina como seria
o inverno nas praias da Florida.
Rimon Guimarães é artista autodidata, segue sua
pesquisa de forma vivencial
se adaptando ao contexto
das cidades onde expõe.
Explora mídias como desenho,
performance, vídeo, música,
pintura e arte pública. Passa
uma boa parte do seu tempo em
cima de uma bicicleta cheia de
adesivos com uma cestinha de
mercado na garupa.
Thiago Syen
é artista, educador de artes,
ciclista e curitibano do bairro
Pilarzinho (cidadão do mundo).
Valdecimples
Atualmente coordena o espaço
de arte ACASA, desenvolve
projetos em artes visuais, design
gráfico e graffiti. Autodidata, sua
formação e experiência foram nas
ruas da cidade de Curitiba, entre
outras capitais. Sempre procurou
experimentar os campos ou meios
das comunicações e hoje estuda
Escultura na EMBAP. É integrante
do coletivo Azulejo, do grupo
SALA e da crew PRN, junto com
Dose e Ades. Edita publicações
de pequenos formatos, adora fazer
caderninhos artesanais, desde
1998.
índice
03 MOB Como Movimento - Fernando Rosenbaum
04 MOB como história, MOB como práxis - Goura Nataraj
10 Metáforas Urbanas e Política - Vinícius de Figueiredo
26 André Mendes - Água de beber, água de beber camará
28 Cyntia Werner - S/ Título
30 Cintia Ribas e Conde Baltazer - Novas Miradas
32 C. L. Salvaro - mobio
34 Daniel DACH - Arapuca
36 Dulce Osinski - Geografias Urbanas
38 Fabiane Balvedi - /ppm __percepções por minuto
40 Fernando Franciosi - Questionamentos da 5ª série
42 Fernando Rosenbaum - Fim de Carreira
44 Goura Nataraj - Energy is Eternal Delight
46 Guilherme Caldas - Um Longe Caminho
48 Guilherme Sant’ana - O Petróleo é nosso?
50 Glerm Soares - Jardim de Volts e a Hidrelétrica Salar-Barigui
52 Gustavo Prafrente - S/ Título
54 Jaime Vasconcelos - S/ Título
56 Maikel da Maia - Calendário / 2011
58 Michele Micheletto - O Plano das Bikes Brancas
60 Pedro Giongo - Mapa para Jacques Cousteau
62 Raphael Fernandes - Teoria da Gravidade
64 Rimon Guimarães - Teme Treme
66 Thiago Syen - Acesso
68 Valdecimples - Eu ou parte do eu
70 A reducação dos sentidos e a brisa no rosto de quem pedala. - Jaques Brand
76 Índice dos artistas
Copyleft
projeto gráficoPedro Giongo / Estudio Tijucas
revisão e traduçãoJorge Brand e Tissa Valverde
fotografiasArtistas do MOB 011, André Baliu, Stéphany Mattanó, Carol Esmanhoto, Alicia Ayala e Samuel Dickow.
[email protected]@gmail.com
- www.artebicimob.org
Curitiba, PR : Edição Independente80 p. ; 18,5x23 cm.Impresso em papel AltaAlvura 90g. na CorGrafComposta pelas famílias Trade Gothic e Centennial
Exposição - MOB 011Museu da Fotografia Cidade de Curitiba, de 16 março a 22 de maio de 2011
incentivoprodução
“PROJETO REALIZADO COM O APOIO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA, FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA, FUNDO MUNICIPAL DA CULTURA – PROGRAMA DE APOIO E INCENTIVO À CULTURA”
80
PROVOS, Amsterdam, 1960’s:An Inspiration!
81