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1 FACULDADES NORDESTE (FANOR) COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO MISIA CRISTINA ARAI A SEXUALIDADE FEMININA REPRESENTADA NA REVISTA NOVA

Misia Arai - Sexualidade Feminina Na Revista Nova

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FACULDADES NORDESTE (FANOR)

COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO

MISIA CRISTINA ARAI

A SEXUALIDADE FEMININA REPRESENTADA NA REVISTA NOVA

FORTALEZA - CE

2008

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FACULDADES NORDESTE

MISIA CRISTINA ARAI

A SEXUALIDADE FEMININA REPRESENTADA NA REVISTA NOVA

Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Jornalismo.

Orientador: José Anderson Freire Sandes

FORTALEZA – CE

2008

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Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel do curso de Jornalismo e comunicação Social, da Faculdades Nordeste - FANOR

_____________________________________

Misia Cristina Arai

Monografia aprovada em ____/____/_______

__________________________________________________Orientador: Mestre José Anderson Freire Sandes – Fanor

__________________________________________________ Professor: Especialista Carlos Enrique Gibaja Melgar – Fanor

__________________________________________________Professora: Mestre Elizabeth Linhares Catunda– Fanor

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AGRADECIMENTOS

Foram muitos os que me ajudaram a concluir este trabalho. E para estes os meus sinceros

agradecimentos...

... Primeiramente os meus pais, pelo apoio e a força dedicada nesses anos

que passei na faculdade, espero que em breve possa retribuí-los. Ao meu

namorado pelo companheirismo que me foi dedicado. Pelas maravilhosas

amigas que de presente a faculdade me proporcionou e por fim, aos

professores que tornaram essa jornada gratificante.

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RESUMO

Objetivo dessa monografia é percorrer e discutir a imprensa feminina. Mais precisamente a revista Nova, considerada precursora ao abordar desde o seu primeiro exemplar um tema considerado tabu: o sexo. Focamos a história das primeiras publicações até a linguagem característica das revistas femininas. Analisamos exemplares do ano de 2006, onde escolhemos determinadas matérias para demonstrar o excesso do coloquialismo e até a conduta da revista ao tratar de temas que oscilam do puro entretenimento ao educacional.

Palavras-chave: Imprensa Feminina, Revista Feminina, Sexualidade.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 7

2 OS CONTORNOS DA IMPRENSA FEMININA........................................................ 10

3 DAS RECEITAS DE BOLOS ATÉ AS DICAS DE SEXO......................................... 16

3.1 A imprensa feminina brasileira ..................................................................................... 18

3.2 Revista Nova ................................................................................................................. 22

4 FOLHEANDO A REVISTA NOVA............................................................................ 26

4.1 A linguagem Feminina.................................................................................................. 27

4.2 Notícia ausente, novidade fabricada.............................................................................. 29

4.3 A Despolitização............................................................................................................ 33

4.4 Sexualidade na Revista Nova – Análise de matérias do ano de 2006 .......................... 39

5 CONCLUSÃO ................................................................................................................ 44

6 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 47

7 ANEXOS.......................................................................................................................... 49

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1 INTRODUÇÃO

Analisar a imprensa feminina implica em interpretar o mundo atual e suas segmentações,

compreendendo as articulações históricas, mais especificamente sua importância, seja ela no

âmbito social, cultural ou econômico. Inicialmente, para analisar a imprensa feminina,

apresentamos o processo do nascimento desse suporte, que se tornou um fenômeno editorial,

desde seus primeiros periódicos, chegando até as suas últimas conquistas gráficas e sociais, que

passa pelas lutas feministas ao puro entretenimento, das receitas de bolos às dicas de sexo. O

objetivo dessa monografia é fazer uma análise mais aprofundada desse cenário, mais

especificamente sobre a revista Nova.

A Nova utiliza desde o seu início uma linguagem própria, em muitos casos impondo um

estilo de vida, que pode ser aplicado na moda, na casa, no trabalho ou na vida sexual. Em sua

grande maioria, a imprensa feminina, e dentro dela a revista Nova, procura oferecer para suas

leitoras respostas as dúvidas freqüentes relacionadas a este universo, criando, na maioria das

vezes, um laço de fidelidade com a leitora.

O tom intimista apresentado se assemelha mais a um diálogo entre a “revista” e a mulher.

Passando a idéia de intimidade, o periódico reveste-se de poder, determinado pela linha editorial,

para comunicar códigos sociais e processos ligados ao mundo feminino. A sutileza dessa

estratégia dificulta um grau de distanciamento e, com isso, a revista pode dizer à leitora como ela

deve conduzir sua sexualidade, influenciando diretamente no seu hábito de consumo, tornado-se

um agente importante na construção de um modo de vida feminino.

Atualmente, as revistas femininas têm sido objeto de estudo tanto do ponto de vista

cultural quanto em análise do discurso, por serem classificadas desde os seus primeiros

exemplares, como guias ou manuais para a resolução de problemas femininos. Os

questionamentos referentes ao jornalismo apresentando nesses tipos de publicações, também

serão analisados, através de critérios de noticiabilidade, o que, na maioria das vezes, nos

periódicos femininos ganham uma nova lógica. Classificamos a imprensa feminina atualmente

dentro de uma concepção do jornalismo de serviço, mais principalmente de entretenimento com

uma dose generosa de sensacionalismo, voltando-se especialmente para o consumo e qualidade

de vida.

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Com foco na imprensa feminina, observamos uma rede de elementos que se constituem

em dispositivos que ajudam a construir o ideal de feminilidade apoiadas no ato de consumir,

desde produtos de beleza até questões mais complexas como a sexualidade. Os textos indicam

discursos e enunciados como moralizadores, selecionando alguns conteúdos e silenciando outros.

A revista Nova Cosmopolitan, conhecida como Nova, foi à escolhida para o estudo devido

suas características que marcaram a história dos periódicos, tanto no Brasil como

internacionalmente, tratando do mesmo assunto há mais de 35 anos: o sexo. Sendo umas das

primeiras revistas a falar abertamente sobre esse tema, o que a transformou em um grande

sucesso editorial. A relevância de se estudar esse meio de comunicação pode ser atestado não só

pelo fato de que ele representa uma ferramenta lucrativa, atingindo um público considerável em

vários países, mas também pelas informações e pressuposições que veiculam sobre as mulheres

na sociedade contemporânea.

Priorizamos analisar as diversas formas de como são veiculadas as temáticas sexuais, que

na maioria das vezes, são apresentadas de maneira niveladas não havendo uma distinção entre os

assuntos, que oscilam entre entretenimento e educacional. Na revista Nova, constatamos uma

forma superficial, na maioria das vezes, leviana, não contendo uma base teórica e cientifica, para

que, assim a mulher também possa utilizar a revista como um meio de educacional.

Na maior parte das matérias analisadas há uma presença marcante da finalidade

puramente de entretenimento, até mesmo quando se discute a educação sexual, o que minimiza a

seriedade de certos conteúdos focados. Um dos exemplos estudado refere-se a uma matéria

apresentada em novembro de 2006, com o título de “Fortes Emoções no Ginecologista”. Partimos

do conceito que ao se tratar de um meio de comunicação, e este, presente nas vidas de suas

leitoras há muitos anos, ao reduzir a importância do acompanhamento médico, a sentimentos

como ansiedade, vergonha, preocupando-se com questões menores como a necessidade da

depilação, se é homem ou mulher o médico que irá lhe atender, desvincula o foco de importância

que deve se dar a este profissional.

Identificamos no texto elementos fúteis que tentam direcionar e auxiliar a mulher sobre

seu comportamento ao se consultar com o ginecologista, apresentando uma ausência de

informações que esclareçam as leitoras sobre a importância desse profissional.

Reforçamos que algumas temáticas deveriam ser abordadas de maneira mais completas,

contendo maior qualidade de informações, que podem ser sim, sentimentais, comportamentais,

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mais também cientificas. Aliás, tratando-se de um meio de comunicação é necessário destacar

que ao focar a complexidade do assunto abordado - a sexualidade feminina - e, principalmente, a

educação sexual da mulher, é necessário impor regras ao discurso de intimidade, não se limitando

exclusivamente a esfera do entretenimento.

Desta forma, a revista Nova exemplifica de forma bastante esclarecedora que, no palco

contemporâneo, o sentido de relevância pública do conteúdo ofertado pela mídia está apoiado

principalmente em critérios do lucro. O pólo econômico se sobressai aos conteúdos da imprensa

feminina, reduzida assim como mais um simples produto comercial. Iniciamos nosso estudo

apresentando um panorama desse universo feminino, prosseguimos contando a trajetória desse

suporte desde os seus primeiros exemplares e analisamos a temática mais abordada pelo

periódico: o sexo.

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2 OS CONTORNOS DA IMPRENSA FEMININA

A imprensa feminina realiza um jornalismo que, desde o seu surgimento, deixa claro a

missão desse tipo de publicação, que, no caso, seria o aprofundamento dos assuntos destinados a

público específico.

No jornalismo de revistas, o público alvo é bem definido e possui características

específicas, sendo a publicação escolhida pelo leitor exatamente por suas peculiaridades.

Segundo Scalzo, autora do livro “Jornalismo de Revista”, as publicações têm a capacidade de

reafirmar a identidade de grupos, oferecendo tendências que estão sempre surgindo,

principalmente na sociedade de consumo.

Através do suporte magazine, que agrega uma variedade de produtos, o que é mais

importante e característico em sua essência seria a sua estreita relação com o receptor, construída

na base da segurança, cumplicidade, intimidade e simpatia. Exemplo dessa relação existente entre

uma revista e seu receptor é destacado por inúmeras pessoas que colecionam as revistas. Essa

relação é destacada por Scalzo ao detalhar que o contato entre emissor e receptor é o que

diferencia uma revista dos outros meios de comunicação:

São várias as maneiras de escutar o que o leitor quer e tem a nos dizer. Seja por intermédio de pesquisas qualitativas e quantitativas, ou mesmo por meio de telefonemas, cartas e e-mails enviados à redação. Para quem trabalha numa publicação que depende muito da sintonia fina com o seu público, esse contato é essencial (Scalzo, Marília; Jornalismo de Revista,2003 p.37).

A revista Nova, versão brasileira da norte-americana Cosmopolitan, é um exemplo

clássico que pode demonstrar essa relação de intimidade com o receptor. Publicada mensalmente

desde 1973, o periódico marcou o cenário editorial brasileiro por ser umas das primeiras revistas

direcionada para o público feminino, abordando assuntos até então poucos discutidos. Se antes de

1970, a premissa era apresentar uma narrativa que construísse o perfil na mulher brasileira,

mudanças aconteceram a partir da década de 70, quando Nova coloca na pauta brasileira

temáticas como a liberação sexual e a independência financeira da mulher.

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Todas essas transformações que ocorreram na imprensa aconteceram no pós-guerra, que,

segundo Sodré, provocou alterações na vida e na produção dos periódicos.

Se, com o pós-guerra, profundas alterações se denunciam na vida brasileira, tais alterações, para a imprensa, acentuam rapidamente o acabamento da sua fase industrial, relegando ao esquecimento a fase artesanal: um periódico será, daí por diante, empresa nitidamente estruturada em moldes capitalistas. Continuam a aparecer revistas de vida efêmera, literárias ou humorísticas...”(Sodré; História da Imprensa no Brasil,1999, p 355).

Scalzo, ao contar a história do jornalismo de revista, especificando a história da imprensa

feminina, assinala que os periódicos femininos tiveram seu destaque logo após a Segunda Guerra

Mundial. Na França, por exemplo, os periódicos tinham a intenção de restituir a vida da mulher

francesa, depois de todo o sofrimento que a guerra tinha proporcionado. Através das páginas da

revista Elle procurava-se resgatar a feminilidade da mulher apagada pelas dores da guerra. Mas,

segundo a autora, que discorre sobre os sucessos editoriais direcionados para as mulheres, a

revista Cosmopolitan, ganha um destaque.

Mas a revista feminina que se tornou o maior sucesso de todos os tempos – e hoje é o título que possui mais edições internacionais - foi inventada por uma secretária, que escreveu um livro chamado Sex and the Single Girl (O Sexo e as Solteiras). O sucesso do livro foi tamanho que, em 1962, Helen Gurley Brown (a secretária) procurou um editor para propor uma revista com os mesmos temas. (Scalzo, Marília; Jornalismo de Revista,2003, p.25).

Assim na década de 70 surge no Brasil uma revista feminina direcionada não somente

para a mulher casada, como até então era feito, mas também para as mulheres solteiras. Por tanto,

Nova é considerada uma das primeiras revistas a introduzir com nitidez o conceito de liberação

sexual no Brasil. Estando até hoje entre os periódicos que vem tratando mais metodicamente da

construção da imagem da “mulher liberada” e seus novos parâmetros da relação entre homem e

mulher.

Exemplificando essa afirmação, que a revista Nova trouxe mudanças efetivas nos meios

de comunicação, podemos utilizar conteúdos que estavam presentes nas revistas femininas antes

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das transformações ocorridas na década de 70. Como é o caso da seguinte frase, retirada do

periódico Jornal das Moças, de 1957: “Se o seu marido fuma, não arrume briga pelo simples fato

de cair cinzas no tapete. Tenha cinzeiros espalhados por toda casa” ou então essa outra máxima

também retirada do mesmo periódico “A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas,

servindo-lhe uma cerveja bem gelada. Nada de incomodá-lo com serviços ou notícias

domésticas”. Quer dizer, as revistas estavam dentro de um contexto patriarcalista, onde a mulher

era apenas um objeto. Segundo Ana Maria Seixas, em seus estudos sobre a sexualidade feminina,

por muito tempo as mulheres eram consideradas fracas, ingênuas e tinham as suas emoções

sexuais reprimidas.

Constitui-se, portanto, a nova feminilidade, assentada em quatro pilares. O primeiro, a domesticidade, quando aprece a figura da dona de casa, mulher incentivada a ficar em casa e cuidar dos filhos. O segundo, a criação do amor materno, a imagem da mãe dedicada e sofredora. O terceiro é o pedestal feminino – a mulher deve ser pura e submissa, religiosa e despreparada para as atividades públicas. O quarto é o amor romântico: homens e mulheres podem se casar por atração individual. A base desse amor é o afeto, e não a sexualidade. (Seixas, Ana Maria Ramos: Sexualidade Feminina, 1998, p: 70)

A partir dessa constatação podemos afirmar que através das páginas de uma revista, é

possível conhecer a história de uma época e o retrato de uma sociedade. Prova disso, é a imprensa

feminina que demonstra bem o progresso das mulheres no cenário público do Brasil. Segundo

Maria Rita Kehl, se década de 30, 40 e 50 para ser uma “boa” mulher, as revistas afirmavam que

ela deveria cuidar do bem-estar da família, com as mudanças de hábitos de leitura das mulheres,

isso teria provocado alterações no papel feminino, que atualmente, não se restringe à

administração da casa, pois uma mulher competente e completa para as novas publicações tem

que ser sedutora e realizada. É usando justamente esses argumentos que a revista Nova acerta o

seu público alvo.

Mudanças nos hábitos de leitura, curiosidades despertadas pelas convulsões políticas recentes, desejos de participações que compensasse a solidão da vida doméstica, tudo isso somado ao surgimento dos folhetins que aumentavam muito a circulação da literatura romanceada, criaram para as mulheres a possibilidade de, “através da leitura (...), aventurar-se num domínio até então exclusivamente masculino”. (Kehl, Maria Rita: Deslocamentos Femininos,1998, p: 97)

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Ao folhear os produtos culturais destinados ao público feminino constatamos a construção

do perfil das mulheres em torno de assuntos relacionados à sua esfera específica: sedução, sexo,

casamento, dinheiro, família e consumo. Na revista Nova estes assuntos são divididos nas

seguintes sessões: Amor e Sexo; Vida e Trabalho; Beleza e Saúde; Moda e Estilo. Assuntos

domésticos e questões sobre maternidade não entram na pauta da publicação. Algo que se destaca

ao analisar a imprensa feminina seria justamente essa miscelânea de assuntos, sobre os vários

universos abordados em uma mesma publicação, Buitoni explica:

Poesias, receitas de bolo, reportagem, figurinos, consultório sentimental, artigos de psicologia, entrevistas, testes, horóspoco, conto, fofocas, maquilagem, plantas de arquitetura, moldes, saúde, educação infantil, tudo parece caber dentro da imprensa feminina. Sua área de abrangência parece infinita: embora freqüentemente ligados ao âmbito domésticos, seus assuntos podem ir da dor de dente no filho de sete anos à discussão da política de controle da natalidade, passando pelos quase inevitáveis modelos de roupas e pelas receitas que prometem delícias. (Buitoni; Imprensa Feminina, 1986, p 8).

Porém, o que se discute muito na atualidade é a soberania de determinados discursos o

que provoca a ausência de outros, como debate político, de assuntos econômicos e questões

jurídicas na imprensa feminina. Na maioria das vezes, o feminino aparece quase sempre reduzido

à sua expressão mais simples, fazendo funcionar poderosos setores industriais ligados a

eletrodomésticos, produtos de limpeza, móveis, ou, então, como é no caso da revista Nova, a

sedução através da moda, cosméticos, do mercado do sexo, do romance, do amor. Conquistando

suas leitoras com “dicas” e “estratégias” para ter um melhor desenvolvimento na vida amorosa e

sexual.

A imprensa feminina contemporânea é uma das responsáveis direta pela colocação do

sexo em seu discurso, já que antes a imagem da mulher era associada ao amor romântico. No

amor romântico, assinala Ana Seixas, a mulher era colocada num pedestal de pureza e

idealização.

Surge, então, a idéia do amor espiritual do jovem trovador ou do herói cavaleiro por sua dama, que é uma figura pura, estática, inacessível. Sexualmente, é a

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exaltação da frieza. O amor palaciano será, mais tarde, um conceito literário e de costumes, o amor romântico. (Seixas, Ana Maria Ramos: Sexualidade Feminina, 1998, p: 52)

Nos estudos realizados por Kehl, a domesticação da sexualidade feminina seria causada

pela educação que recalcou as mulheres em papéis como esposa, mãe e nessa figura pura, como

já assinalou Seixas.

A sexualidade feminina teria aspectos ameaçadores para o homem, que deveriam ser reprimidos desde cedo pela educação para que ela pudesse, por um lado, estimular a virilidade masculina e por outro, desempenhar a contento papéis de esposa e mãe. Os defensores da sujeição feminina no século XIX continuaram os raciocínios de Rousseau e Kant, de que a mulher é um animal selvagem que é preciso domar com mãe de ferro para que ela possa pacificada, encarregar-se da paz doméstica. (Kehl, Maria Rita: Deslocamentos Femininos,1998, p: 84)

Hoje, como afirmamos, as revistas se tornaram responsáveis pela difusão das questões

relacionadas ao sexo. Além disso, os periódicos se transformaram em um espaço de confissão.

Segundo Buitoni, ao tratar da presença do sexo na imprensa, a autora afirma que somente duas

revistas falaram da temática mais abertamente uma, a Revista Nova (1973), outra era Carícia

(1975), ambas da mesma editora.

Às vezes tratando em profundidade, ás vezes de modo leviano, todas as páginas transpiravam sexo. Nos artigos de cunho psicológico ou nos anúncios que passaram a ostentar mulheres vestindo sutiãs e calcinhas transparentes, lá estava o grande chamariz. O sexo se vendia por si, e também servia para vender inúmeros produtos, até os que aparentemente não tinham qualquer conotação sexual. (BUITONI; Imprensa Feminina, 1986, p 67).

Adotando uma linha editorial que tenta inspirar uma autoconfiança nas leitoras, suprindo

uma lacuna no mercado, para Buitoni, nem sempre o ideal de valorização da mulher se confirma

nas páginas dos periódicos. Em muitos casos, assuntos importantes são apresentados de forma

superficial, com o predomínio do jornalismo de entretenimento. Com isso o suporte feminino já

provocou várias discussões. Adotando um discurso de defesa, para Scalzo, é necessário frisar que

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o jornalismo de revista desde o seu surgimento tem como prioridade as questões educacionais e

de entretenimento.

Mas é preciso ficar claro que há funções que as revistas desempenham que não tem nada a ver – e nunca tiveram – com o jornalismo propriamente dito. São, sim, puro entretenimento. Assim eram as gravuras que distraíam um público sem televisão no século XIX e começo do século XX. Assim são, até hoje, as palavras cruzadas, as histórias em quadrinhos, as fotos de mulheres nuas em revistas masculinas e tantas outras “informações” que ocupam páginas e páginas nas revistas. (Scalzo, Marília; Jornalismo de Revista,2003, p.52).

Para Vilas Boas, o texto de revista é agraciado pela maior liberdade em termos de estilo,

provocando assim rupturas com o jornalismo apresentado pelas demais mídias.

Como qualquer outro texto, o de revista se caracteriza pela correção gramatical. Mas tem também o sentido de informação e, por que não dizer de entretenimento. Um lazer que mistura sedução, necessidade de haver personagens, “espetáculos” etc. Além dessas, há uma outra característica que devemos discutir em separado: a liberdade.(BOAS, Sergio Vilas; O Estilo Magazine,1996, p. 34).

O estilo no jornalismo de revista assume uma linguagem ágil e de fácil assimilação. No

caso do jornalismo feminino utiliza-se uma linguagem que poderá ser assimilada pelo seu público

alvo, tema que nos próximos capítulos iremos discutir ao analisar exemplos presentes na revista

Nova, questionando a utilização excessiva do entretenimento provocando às vezes, a

desinformação. No próximo capítulo nos atemos na trajetória e desenvolvimento da imprensa

feminina.

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3 DA RECEITAS DE BOLOS ATÉ AS DICAS DE SEXO

Estudar os contornos da imprensa feminina no cenário brasileiro ou internacional torna-se

obrigatório conceituar suas várias articulações através de um contexto histórico, destacando

periódicos que contribuíram de diversas maneiras para evolução desse suporte, esboçando assim

os seus caminhos.

A imprensa feminina, de modo geral, desenhou em suas páginas uma sociedade de

consumo, onde, cada novidade que surgia, era imediatamente incorporada, desenvolvida e

difundida. Quando se fez necessário um meio para a expressão da literatura, das lutas femininas

ou simplesmente de conselhos sobre o cotidiano.

Mas antes de traçar a história das revistas femininas, é necessário mencionar a evolução

dos correios, por se tratar de uns dos fatores decisivos para o progresso das distribuições das

revistas, até mesmo porque, na época, o correio era o suporte principal da imprensa que trazia

carta de suas leitoras, que ocupavam bastante espaço nas páginas das revistas no século XVII.

Assim em um cenário de desenvolvimento não só político-econômico mais também de mudanças

sociais que começaram a alterar a relação homem-mulher, a imprensa feminina foi se

aprimorando e se tornando mais acessível.

Segundo Buitoni, o primeiro periódico de destaque direcionado para as mulheres apareceu

na Inglaterra em 1693, com o nome de Ladies’ Mercury. Apresentando uma circulação regular,

foi à primeira revista que trazia um consultório sentimental, onde através dele as leitoras

contavam experiências e dúvidas referentes ao cotidiano. A novidade proporcionou um grande

sucesso, que durou mais de um século. Para Scalzo, este periódico trouxe a fórmula editorial

voltada basicamente aos fazeres do lar e às novidades da moda. Segundo Buitoni, a seção de

consultório sentimental é definida da seguinte maneira:

Consultório Sentimental: as leitoras expõem seus problemas amorosos, para os quais a revista aponta algum tipo de solução. Às vezes, as cartas são forjadas, mas na maioria dos casos não. Desse modo, representam um documento vivo do comportamento de gerações. Algumas responsáveis por essa seção tornaram-se famosas por terem acompanhado e até modificado o nível de consciência das leitoras. (Buitoni; Imprensa Feminina, 1986, p 90).

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No século seguinte, as revistas tratavam de literatura, conselhos sentimentais e horóspoco.

E só a partir de 1800 a moda apareceu nas publicações. Para Edgar Morin, a moda foi e continua

sendo impulsionada pela imprensa feminina, onde através das suas páginas ela se renova e se

difunde democraticamente. Segundo Buitoni foi na Europa e na França que a imprensa feminina

mais se destacou. Desde meados do século XVIII, jornais franceses, conhecidos em toda Europa,

publicavam poemas, crônicas, falavam sobre teatro e moda. Porém, foi nos Estados Unidos que

se designou o nome de “magazine”, com a publicação de Ladies Magazine, fundado em 1828.

O Ladies’ Magazine apresentava mudanças editoriais importantes, oferecendo a partir de

então entretenimento, serviços e esclarecimento. “A influência dos moldes sobre as vestimentas

das pessoas, homens e mulheres, foi enorme; a padronização do talhe das roupas começava a

atenuar a diferença entre as classes”, afirma Buitoni (1986, p.29). O periódico era dirigido por

Sarah Josepha Hale, uma feminista lutadora, apesar de nunca ter mencionado a palavra política

em sua revista, defendia a educação como direito fundamental das mulheres.

A partir de 1869, surgiram moldes de roupa de papel, que foram agregados nos periódicos

causando uma explosão nas vendas. Mais do que um grande fenômeno editorial podemos afirmar

que a imprensa feminina foi uma das responsáveis pela democratização de costumes. As

publicações aumentaram o seu alcance, quando elas passaram a ser vendidas em livrarias,

deixando de ser um produto exclusivo de uma classe social, chegando a atingir a maior parte da

população.

As primeiras revistas femininas, segundo Buitoni, apresentavam conteúdos políticos, com

a presença de discursos revolucionários de defesa dos direitos das mulheres. Proteção do trabalho

feminino, direitos civis das mulheres, restabelecimento do divórcio, ação de investigação de

paternidade, direito de exercer certas profissões, direito ao voto, foram causas defendidas por

muitas revistas. Em outras palavras, começava a ser difundida a idéia de que, embora haja

diferenças entre os sexos, as mulheres podem, sim, ser iguais aos homens no que se refere aos

direitos na esfera pública. Dessa forma, elas começam a tornar público seu descontentamento,

diante da exclusão imposta.

Mas quando o assunto é campeão de vendas de exemplares, o periódico que ganha

destaque é o Lady’s Home Journal, de 1893, que, segundo Buitoni, o diretor Edward Bok,

apresentava idéias práticas sobre a mulher rompendo com a tradição do moralismo, onde suas

matérias obedeciam a três linhas básicas: aperfeiçoar o gosto, apresentar temas de interesse

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público e defender certas causas, às vezes triviais, às vezes idealistas (1986, p.33). Foi também a

primeira publicação a introduzir arquitetura e decoração em suas páginas. Assim no século XX,

fica registrada publicações femininas que ultrapassaram a marca de um milhão de exemplares em

1919.

Durante o período da Segunda Guerra Mundial, muitos periódicos deixaram de circular.

Só em 1954 que a revista Marie-Claire voltou a funcionar. Harper’s Bazaa, no tempo da guerra,

uniu o estilo americano ao francês. E a revista Elle se consagrou como a primeira publicação

européia a ter publicidade em cores, conquistando logo imenso sucesso.

Depois sucederam o que Buitoni convencionou a chamar de império da vida prática, onde

os periódicos traziam conselhos e matérias que facilitavam a vida das mulheres. Logo após

vieram a sofisticada Vogue aplicando a filosofia do “você pode”, máxima ainda reconhecida na

maior parte dos periódicos atuais.

3.1 A imprensa feminina brasileira

A primeira publicação para mulheres no Brasil teria sido O Espelho Diamantino, em

1827, fundada pelo francês Pierre Plancher, mesmo ano em que se tem o serviço regular de

vapores entre Rio de Janeiro e Santos, contribuindo com a imprensa que começava a se expandir .

No periódico, segundo o historiado Gondim da Fonseca, os assuntos discutidos eram política,

literatura, belas-artes e moda. A revista se intitulava como sendo para as “senhoras brasileiras”.

Outros estudos, segundo Buitoni, listam o também carioca A Fluminense Exaltada, de 1832,

como o primeiro jornal brasileiro feminino.

Mas o grande destaque na imprensa feminina no país foi O Jornal da Senhora, fundado

em 1º de Janeiro de 1852 no Rio de Janeiro. Apresentava temas como literatura, moda e belas

artes, mas o principal objetivo da revista era uma constante crítica da necessidade da

emancipação da mulher. Enquanto isso, em São Paulo, Josefa Álvares de Azevedo lança o jornal,

A Família, em 1863. A sua principal função era a formação de uma mulher prendada e que

dominasse os deveres de esposa e mãe.

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Com uma finalidade contraria da proposta pelo jornal A Família, Presciliana Duarte de

Almeida, lança A Mensageira, entre os anos de 1897 a 1900. Os seus artigos defendiam a

emancipação da mulher, através de uma educação de qualidade e a diminuição das desigualdades

entre gêneros. A intenção era a de discutir questões relativas à emancipação da mulher, com a

veiculação de textos literários, artigos que tratassem do tema, além dos editoriais com a reflexão

crítica acerca da situação feminina.

Faz necessário ressaltar que do seu nascimento até muitos anos depois, a imprensa

feminina significava um canal de expressão para as sufocadas vocações literárias das mulheres.

Aliás, segundo Buitoni, no século passado, não existia nenhuma folha ou revista feminina que

não apresentasse parte literária. “Vários jornais e revistas eram publicações de associações

literárias femininas. Assim, as épocas iniciais da imprensa feminina abriram para a mulher um

campo que não lhe era próprio, tanto na Europa e EUA, como no Brasil”. (1986, p. 40).

A Revista da Semana, foi a responsável pela inauguração da fotografia, graças a evolução

das gráficas. Em 1900, a revista apresentava notícias, editoriais, comentários e muito pouco de

literatura. Com edições que tratavam de assuntos variados e trazia muitas ilustrações.

A primeira grande magazine feminina brasileira, A Revista Feminina, lançada em 1914,

por Virgínia de Souza Salles, associava assinaturas da revista com a venda de produtos para

mulheres fabricados pela mesma empresa. Entre os produtos foi disponibilizado pela primeira vez

a tinta para colorir os cabelos. A Revista Feminina anunciava estes e outros produtos. A

publicação circulou até 1936 com uma tiragem de aproximadamente de 30 mil exemplares.

Continha diversas seções sobre etiqueta, moda, relacionamento conjugais, bordados e

comportamento. E publicava matérias traduzidas da imprensa estrangeira. Contava a seu favor

também a colaboração de leitores e de escritores renomados do período tais como Coelho Neto,

Júlia Lopes de Almeida, Menotti Del Picchia, entre outros.

Segundo Buitoni, Revista Feminina foi a primeira que a indústria específica de produtos

femininos influíam decisivamente num veículo destinado às mulheres.

A Revista Feminina apresentava um toque de modernidade não só nos produtos que anunciava, mas na diagramação bastante inovadora para a época. Sua força estava demonstrada no número de suas páginas, 90 em média. Essa publicação pode ser considerada como precursora das modernas revistas brasileiras dedicadas à mulher. (Buitoni; Imprensa Feminina, 1986, p 45).

Page 20: Misia Arai - Sexualidade Feminina Na Revista Nova

20

Mas o grande filão para a imprensa feminina foi descoberto na Europa, em 1951. Tratava-

se da fotonovela que tem suas origens ligadas ao cinema. Ela nasceu das publicações conhecidas

como cine-romance, apresentando resumos de filmes contendo fotografias das principais cenas e

um texto curto e explicativo. A narrativa romântica da fotonovela se difundiu velozmente pela

América Latina, basicamente por causa de seu conteúdo melodramático e sentimentalista,

apresentando em suas histórias intrigas amorosas, traições, desencontros. Seus vilões, heróis e

vítimas, assim como a divisão do mundo entre os ricos e pobres, logo fizeram sucesso. As

editoras descobriram que falar de assuntos ligados ao coração era como uma fórmula mágica que

“enfeitiçava” suas leitoras. Durante mais de 20 anos, as fotonovelas representaram um filão

importante no mercado de revistas, mas a partir da década de 70 esse gênero começou a entrar em

declínio. Assinala Buitoni, que logo depois surgiu uma imprensa feminina mais reivindicatória,

em decorrência das contradições urbanas e sociais, ampliadas pela ditadura militar.

Nos anos 50 e 60, a fotonovela se destacou fortemente no Brasil em termos de circulação,

só perdendo para os quadrinhos de Disney que se mantinham fortes entre as crianças. Várias

editoras resolveram entrar no mercado de fotonovelas, a Editora Abril, por exemplo, lançou

revistas como, Ilusão (1958-1982), Noturno (1959-1975), Contigo (1963) e vários outros

subprodutos de Capricho . Sobre a expansão de leitoras de romances e fotonovelas, Kehl afirma

que existiram alguns fatores que favoreceram a essa adesão.

Vimos que a expansão do número de leitores de romances e fotonovelas não se deve apenas à crescente escolarização das classes médias, mas também à necessidade de se ocupar o tempo de lazer, tempo vivido na privacidade da vida doméstica e não entre as multidões nas praças e ruas das cidades. A literatura oferecia as compensações sublimatórias necessárias a um novo contingente de homens e principalmente mulheres desgarrados tanto de forma de lazer popular. (Kehl, Maria Rita: Deslocamentos Femininos,1998, p: 114)

Sendo que a revista Capricho, em 1952, se destacou das demais porque apresentava um

diferencial que atraiu as leitoras, pois ela publicava em uma única edição uma fotonovela

completa, o que agradou um grande número de leitoras, proporcionando um crescimento

vertiginoso da revista, chegando a ter uma tiragem de 500 mil exemplares no final da década de

50. Segundo Scalzo, a revista Capricho foi responsável pelas transformações das publicações

Page 21: Misia Arai - Sexualidade Feminina Na Revista Nova

21

voltadas para os adolescentes. A Editora Abril, fortalecida com o sucesso de suas primeiras

revistas e atenta para a vinculação do consumo com a publicação feminina, lançou em 1959, a

revista Manequim, que está no mercado há 43 anos.

A primeira revista feminina brasileira com nome de mulher foi lançada pela Editora Abril

em 1961, a revista Claudia, com 150 páginas editoriais, em média, por mês, e 2,5 milhões de

leitoras e uma circulação de 425.500 exemplares mensais (IVC – abr/2001). A revista se destacou

na imprensa na América Latina e no segmento feminino como a publicação mais importante.

Claudia nasceu da necessidade da elaboração de uma revista que conseguisse conciliar beleza,

moda, culinária, política, sexo e cultura. Suas matérias buscavam representar a mulher de classe

média urbana, estimulada por um consumo emergente. Segundo Buitoni, foi a partir desse

periódico que surgiu a mulher no contexto da cultura de consumo.

Claudia, com nome de gente, veio ao encontro de uma certa busca de identidade da mulher de classe média urbana; também veio estimular por todo um consumo emergente. [...] Claudia é uma revista que procura adequar-se às exigências do mercado. Houve época de publicar reportagens mais polêmicas, temas mais intelectualizantes, mas seu grande filão , além da moda, é o mundo doméstico. (BUITONI; Imprensa Feminina, 1986, p 49).

Logo depois, os periódicos começaram a tratar de assuntos tabus, entre eles, a utilização

de pílulas e a discutir o sexo como um meio de alcançar o prazer. Na época, o periódico que tinha

essa linha editorial era a revista Nova, lançada em 1973.

A revista Marie Claire foi lançada no Brasil em 1991, uma versão brasileira da famosa

revista que circulava na França, desde 1937. Hoje, a revista apresenta um perfil editorial que

promove o seu diferencial a partir da conquista de prêmios jornalísticos distribuídos por

instituições prestigiosas.

A editora Abril é a maior editora de revistas da América Latina, e tem nas revistas o seu

principal produto. Elas representam cerca de 64% dos negócios do grupo. Atualmente,

disponibiliza 233 títulos de revistas por ano, que são lidos por 30 milhões de pessoas. No ano

2000, a editora alcançou a marca de 224 milhões de exemplares vendidos e 4,6 milhões de

assinaturas (mais de dois terços de toda a base de assinaturas do país), veiculando 47.700 páginas

de anúncio. Com esses números ocupa a confortável posição de líder hegemônica em circulação,

assinaturas e publicidade no Brasil.

Page 22: Misia Arai - Sexualidade Feminina Na Revista Nova

22

Para Buitoni, a editora Abril foi se fortalecendo desde que começou com a revista

Capricho, editando cada vez mais produtos aperfeiçoados na área, sendo atualmente uma

verdadeira escola de jornalismo feminino no Brasil. Atualmente, as grandes revistas femininas

apresentam o mesmo modelo, apesar de cada uma ter um tipo especifico de público.

Tratar da história da imprensa feminina, mais especificamente as revistas femininas,

concluímos que essas publicações nasceram através da literatura, seguido pela moda, depois

houve a introdução de assuntos como trabalhos manuais, economia doméstica e conselhos sobre a

saúde. Com o desenvolvimento industrial, e a concretização da classe média, criaram-se outras

exigências: a casa, arquitetura, decoração e utensílios domésticos ganharam destaque estimulando

o consumo.

A indústria cosmética, intitulada como editoria de beleza, complementou assim as quatro

grandes editorias, que são a marca registrada dessa imprensa: moda, beleza, casa e culinária.

Segundo Buitoni, novos temas foram surgindo como realimentadores indispensáveis ao processo

de produção da imprensa feminina. Mas na grande maioria, os assuntos tratados nos periódicos

estão voltados para essas editorias mencionadas.

3.2 Revista Nova

Na história do jornalismo a imprensa feminina foi se desenvolvendo e promovendo

inovações no mercado editorial. Desde o seu início este segmento funcionou como um medidor e

anunciador dos acontecimentos e costumes de uma época.

Se traçarmos uma linha do tempo apresentando características das mulheres e suas

representação através das revistas veremos que a mulher da década de 50, já estava no cenário

público, porém a imprensa feminina a retratava como uma simples dona de casa. O amor

romântico e as habilidades domésticas era o que mais vendia nos periódicos. Afirmava-se que a

formação de uma parceria amorosa teria como objetivo a construção de uma família e não na

procura de prazer. Assim o casamento ou qualquer vínculo amoroso era apresentando de uma

forma onde não se mencionava o prazer sexual, até mesmo porque o sexo ainda era tratado de

forma tabu. Segundo Scalzo, foi nessa década que a mulher começa a ser identificada pelo

mercado consumidor, devido ao fortalecimento do mercado interno e à relativa ampliação da

Page 23: Misia Arai - Sexualidade Feminina Na Revista Nova

23

classe média. Também nos anos 50, a imprensa feminina teve a sua vinculação com o consumo.

Essa relação foi consolidada devido ao crescimento das indústrias relacionas à mulher e a casa.

A partir dos anos 60 admitiu-se que o desempenho sexual era um elemento essencial para

um relacionamento feliz e foi esse fator que garantiu que o sexo ganhasse espaço nas revistas

femininas, proporcionando uma verdadeira crise nas normas e sentimentos tradicionais vigente na

época. Após essa constatação, as revistas trabalharam em cima da idéia de que ser boa dona de

casa não era mais o suficiente e, tão pouco, garantia um casamento feliz e duradouro. Nesse

período também é destacada a abordagem de alguns assuntos tabus como métodos de controle de

natalidade.

Mas a grande transformação na comunicação foi consolidada na década de 70. Entre ela

foi a segmentação no mercado editorial brasileiro, que buscava públicos específicos com assuntos

delimitados. A entrada da mulher na economia do país influenciou diretamente na produção de

revistas direcionado para elas, pois temáticas como o sexo, que até então, era pouco discutido,

tornou-se mais acessível. É neste contexto de intensas transformações que, em 1973, surge à

revista Nova. Na época, a revista se diferencia das demais congêneres por uma abordagem mais

direta da questão sexual e pela adoção da revisão dos papéis sexuais masculinos e femininos

como carro-chefe. Para Buitoni, essa publicação veio para suprir uma lacuna no mercado

editorial, onde o consumismo surge como remédio para os problemas femininos.

Como já foi mencionado, Nova faz parte do grupo Cosmopolitan, que tem o seu

surgimento nos Estados Unidos em um cenário de pós-guerra, onde uma parcela das mulheres já

tinha seus empregos e desejava a cada dia sua emancipação. O jornalismo feminino se destaca na

ordem da sociedade moderna. Já no Brasil, com o fim da ditadura, houve uma explosão do sexo

na mídia em geral que coincidiu na mesma época do lançamento da revista Nova.

A história da Cosmopolitan, tem inicio nos anos 60, nos Estados Unidos, quando Helen

Gurley Brown criou a revista Cosmopolitan, apresentando-se como obrigatória para as mulheres

jovens, sexy e surpreendentes. Nessa época, as mulheres solteiras estavam desfrutando de um

novo nível de liberdade, começando a se destacar em campos que até então era de domínio do

sexo masculino e presenciando a pré-exploração da temática sexual nos periódicos. Ao longo dos

anos, Cosmopolitan não só se tornou o número um nas vendas das revistas mensais, mas tem

também como um agente de mudança social. Segundo o site oficial da Cosmopolitan, a revista

incentivou as mulheres em todos os lugares do mundo a serem ousadas.

Page 24: Misia Arai - Sexualidade Feminina Na Revista Nova

24

Segundo o site ao traçar a história da revista, em 1962, Helen Brown, escreveu Sex and

the Single Girl. No livro assinalava que as mulheres não precisavam de um homem, referindo-se

ao casamento, para ser feliz. Podemos perceber que a autora incentivava a mulher a desfrutar de

sexo para a obtenção do prazer e não com a finalidade de formação de uma família, e que as

mulheres deveriam fazer isso sem sentir culpada. Com essa mensagem o livro foi um best-seller.

Com o grande sucesso proporcionado pelo livro, Helen decidiu que gostaria de ter uma

revista, porque assim poderia oferecer para todas as mulheres de uma única vez aconselhamento

sobre dúvidas das mulheres. Assim, Cosmopolitan foi criada em 1965, nos Estados Unidos, e o

seu primeiro grande tema foi sobre o anticoncepcional que até então não estava sendo discutido

na mídia. Desde então, a revista continuou a publicar artigos sobre assuntos tabus, como questões

extraconjugais.

Segundo Laurie Ouellette, professora assistente de estudos mídia no Queens College, a

rede Cosmopolitan, causou um grande impacto cultural nos anos 60 e 70, proporcionando para as

mulheres uma visão detalhada com aconselhamentos sobre como viver uma vida melhor,

colocando a sexualidade feminina na capa.

Visando prioritariamente atingir a mulher de classe média, Nova é uma revista de

comportamento, onde na maioria das vezes o mesmo tema pode ser reeditado apresentando

pequenas alterações, contudo mantendo o seu principal objetivo que é proporcionar através de

matérias o aumento do prazer sexual de suas leitoras.

A Nova, publicada no Brasil apresenta textos, ou melhor, traduções ou adaptações das

matérias presentes na matriz. Mas a revista não é simplesmente uma tradução da norte americana,

pois pode até utilizar muitas matérias da Cosmopolitan internacional, porém a revista tem que

fazer um parâmetro com o universo cultural brasileiro, até mesmo para sua sobrevivência.

Segundo Buitoni, ao tratar das adaptações, “A modelo com roupa decotada na capa, muitos

artigos sobre comportamento, sexo, liberação, um desejo de luxo e estudada descontração,

algumas pitadas culturais, eis a fórmula que se foi adequado ao “clima brasileiro.” (1986, p. 51)

O jornalismo da revista Nova oferece para as mulheres um texto carregado de otimismo e

individualismo, apresentando para as leitoras fórmulas para sempre estar de bem com o corpo,

dando um destaque maior em relação a sexualidade, utilizando imagens para destacar a liberdade

sexual da mulher. Olhando de forma mais crítica se percebe que a revista Nova apresenta como

Page 25: Misia Arai - Sexualidade Feminina Na Revista Nova

25

ideal feminino aquilo o que os homens gostariam que elas fossem, de modo geral, a revistas

apresentam condutas para satisfazer os desejos masculinos.

Segundo dados apresentados pelo Mídia Nova, site responsável por apresentar dados

referente as publicações da editora Abril, a revista Nova tem como perfil de suas leitoras uma

mulher jovem, entre 18 a 39 anos, da classe AB. Mulheres que trabalham fora, determinadas,

ambiciosas, cheia de energias, curiosas, independentes, competitivas e extremamente vaidosas,

que, segundo a linha editorial da revista procuram sempre superarem os seus limites e viver

intensamente o amor, o sexo e a carreira profissional. Em uma pesquisa, a Editora Abril afirma

que as assinantes de Nova levam em média 5 dias para ler a revista, onde 86% das leitoras acham

que a revista informa e 61% da assinantes dizem que a revista diverte. E o dado que mais

interessou aos publicitários é que 78% das assinantes prestam atenção e lêem os anúncios

publicados.

Ainda segundo Mídia Nova, a Rede Cosmopolitan tem publicações em vinte e três

idiomas, quarenta e sete edições diferentes, e que estão presentes em mais de 100 países. Aqui no

Brasil a revista Nova apresenta uma circulação mensal de 214.930 exemplares, com um total de

1.400.000 de leitores.

Page 26: Misia Arai - Sexualidade Feminina Na Revista Nova

26

4 Folheando a Revista Nova

Atualmente, existe no mercado um grande número de revistas voltadas para as mulheres.

Há revistas para mulheres jovens, mulheres casadas, mulheres de 30 de 40, mulheres solteiras,

mulheres que querem aproveitar plenamente sua vida sexual, mulheres que gostam de fofocas, de

celebridades, grávidas, mulheres que cozinham, enfim, uma grande variedade de publicações que

tentam atingir um público alvo.

Com isso, definir quais as funções das revistas femininas na atualidade não seria se limitar

somente às receitas e ao aconselhamento quanto ao modo de se vestir ou se portar. Em relação as

funções da imprensa feminina, Buitoni afirma:

Suas funções não são transparentes, não visam apenas conselhos práticos ou lazer. No espelho da imprensa feminina, as imagens e as verdades são muitas. Dentre as funções em destaque a de construir o imaginário feminino, através dos discursos e silêncios sobre os modos de cuidar de si/corpo e o exercício da sexualidade. (Buitoni; Imprensa Feminina, 1986, p 5).

A revista Nova optou por ser a maior representante de uma imprensa feminina preocupada

com a temática sexual. Em suas edições mensais, tem trazido constantemente suplementos

especiais, conhecidos como Sexo&Lacrado, com dicas, sugestões e aspectos pedagógicos sobre

vida sexual, com a função de ensinar a mulher como ser mais eficiente na cama ou como agradar

seu companheiro nos diferentes aspectos da vida. O que segundo Foucault, ao discutir a história

da sexualidade, anteriormente abordar esses assuntos não era possível, principalmente na

sociedade burguesa, pois era de fácil reconhecimento à existência de austeridade ao se tratar da

sexualidade, onde a sociedade reprovava a imoralidade e costumes dissolutos.

A sexualidade é, então, cuidadosamente encerrada. Muda-se para dentro de casa. A família conjugal a confisca. E absorve-a, inteiramente, na seriedade da função de reproduzir. Em torno do sexo, se cala. O casal, legítimo e procriador, dita a lei. Impõe-se como modelo, faz reinar a norma, detém a verdade, guarda o direito de falar, reservando-se o princípio do segredo. No espaço social, como no coração de cada moradia, um único lugar de sexualidade reconhecida, mas utilitário e fecundo: o quarto dos pais. (Foucault, Michel; Historia da Sexualidade – a vontade de saber, 1988, p. 9).

Page 27: Misia Arai - Sexualidade Feminina Na Revista Nova

27

Partindo desse pressuposto pretendemos demonstrar e discutir uma das maneiras que a

revista Nova utiliza para apresentar um jornalismo que desde seu nascimento tenta exaltar tanto a

liberação das mulheres referentes a assuntos tabus como também evidenciar como são os textos

presentes na revista.

4.1 A Linguagem Feminina.

Iniciamos este trabalho, destacando que os vários elementos como os textos, fotos,

ilustrações e publicidades, condicionam a afirmar que as chamadas são sensacionalistas,

principalmente quando o assunto se refere a sexualidade, o que chama a atenção das leitoras. Só

para citar exemplos, podemos utilizar “Jogos Sexy”, “Clube do Livro Erótico”, “Uma noite e

muito mais” e outros. Para Felipe Pena, ao discutir essa questão do sensacionalismo, o autor

afirma que a imprensa em sua grande maioria está preocupada em fornecer entretenimento e

espetáculo ao invés de oferecer informação, tratando assim o receptor como simples consumidor,

sem apresentar sentido de relevância pública nas notícias.

O público é tratado como um consumidor inserido na lógica comercial, que fabrica ícones e veicula situações inusitadas ou irreverentes. Em outras palavras, entretenimento e espetáculo. O que vem ao encontro da famosa definição de notícia, criada por Amus Cummings: “ Se um cachorro morde um homem, não é notícia; mas se um homem morde um cachorro, aí, é notícia, e sensacional. (Pena, Felipe; Teoria do Jornalismo,2006, p. 90).

A justificativa, segundo Buitoni, para a utilização dessa linguagem presente nos títulos e

sessões da revista seria por causa da maior parcela do seu público alvo, que tem até 30 anos. Por

isso, o periódico da prioridade a artigos e reportagens que julgam ser de interesse dessas

mulheres. Exemplificando, às reportagens de sexo, etiqueta sexual, regras para recém-namorados,

idéias para apimentar a relação, que estão sempre presentes nas páginas da revista. Para Buitoni,

as reportagens são centradas na maioria das questões pelas quais as mulheres solteiras estão

passando.

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28

Referente a essas chamadas ou textos, Maingueneau tenta ressaltar a complexidade das

relações entre o sentido, contexto e receptor:

Considera-se, geralmente que cada enunciado é portador de um sentido estável, a saber, aquele que lhe foi conferido pelo locutor. Esse mesmo sentido seria decifrado por um receptor que dispõe do mesmo código, que fala a mesma língua. Nessa concepção da atividade lingüística, o sentido estaria de alguma forma inscrito no enunciado, e sua compreensão dependeria essencialmente de um conhecimento do léxico e da gramática da língua; o contexto desempenharia um papel periférico, fornecendo os dados que permitem desfazer as eventuais ambigüidades dos enunciados. (Maingueneau; Análise de Texto de Comunicação, 2002, p 19).

Segundo Buitoni, ao analisar esse suporte inicialmente se faz necessário enfatizar que a

imprensa feminina é um conceito terminantemente sexuado, indicando claramente para quem se

dirige, com um conteúdo e uma linguagem enquadrada no perfil de suas leitoras. Trata-se assim

de uma segmentação1 do mercado, onde as empresas jornalísticas, para sobreviverem, também

tiveram que se adaptar a essa realidade e focar seus produtos informativos e jornalísticos para

públicos segmentados.

Portanto desde “Consulta Íntima”, onde há uma profissional disponível para tirar dúvidas

referentes a anticoncepcional, menstruação, orgasmo, sexo e outros assuntos da intimidade da

mulher, a revista tem seção fixa como “1001 idéias de sexo”, “Conselho de Amiga”, “Dilema de

Amor”, trabalhando sempre com a idéia de estar oferecendo para as leitoras conhecimentos

referentes a assuntos de sua intimidade, com uma linguagem apropriada para seu público.

Para Elisa Guimarães, no que se refere a organização do discurso realizado pela revista

Nova, seu texto, na maioria das vezes, tenta passar a idéia de formato didático, reunindo

elementos estruturais e significativo na enfatização do processo de ensinar. A linguagem direta e

sedutora e que se apresenta como um manual, também pode ser claramente identificada não

somente em seções de amor e sexo, mas também está presente em quase todas as páginas da

revista, com expressões como “passo a passo”, “faça o teste”. Mais esse modelo de texto não é

exclusivo da revista Nova, estando presente em quase todos os periódicos feitos para as mulheres.

1 A segmentação que foi resultada da revolução industrial que propiciou a oportunidade de oferecer produtos mais acessíveis financeiramente, em menos tempo para um maior contingente de pessoas. Ao longo do tempo, a segmentação foi se aprimorando, tendo atingido seu auge após 1980.

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Assim, a revista deixa claro que a temática sexual tem uma grande procura na atualidade.

Segundo Jeffrey Weeks2, a sexualidade tem a ver com as palavras, as imagens, os rituais e as

fantasias como com o corpo. Portanto as identidades sexuais são constituídas em meio a

representações culturais e a relações de poder estabelecidas por um sistema de significados

dominante, que impõe formas de comportamento e naturaliza relações que são construídas.

4.2 Notícia ausente, novidade fabricada.

Com relação ao jornalismo apresentado pela revista, é necessário deixar claro uma

característica marcante presente nos periódicos femininos, que, no caso, seria a ausência da

notícia sobre acontecimentos atuais, selecionadas pelos critérios de noticiabilidade, presente

diariamente nos jornais, o que, no periódico feminino não tem muito espaço, pois se trabalha com

um outro conceito, que, no caso, seria a troca da notícia factual pela novidade.

Assim o jornalismo presente no universo das revistas, principalmente nas revistas

femininas, o fator tempo não condiciona o processo de produção das matérias, diferente das

outras mídias, onde a notícia tem prazo de validade, sendo marcada pela hora do fechamento do

jornal. Segundo Vilas Boas, ao discutir o estilo do tempo focado no texto de revista:

Plano é o segmento de tempo enfocado no texto. Significa que o assunto pode ir e vir, passear no tempo, afastar-se em direção ao passado ou ao futuro. O ponto de referência é o presente. Não necessariamente um presente imediato (agora) ou próximo (na semana passada). O que se considera “tempo presente” no texto pode ser um assunto de meses, anos, décadas, séculos atrás. (Boas, Sergio Vilas; O Estilo Magazine,1996, p. 55).

Na revista Nova podemos demonstrar a troca da notícia presente na maioria das mídias

pela novidade, ou melhor, aquilo que a revista apresenta como novo. Podemos utilizar as matérias

que trabalha bem essa idéia como é o caso da moda, pois quando a revista "lança" ou "inventa"

um modismo, logo em seguida cai no gosto das mulheres que sempre tentam se manter

atualizadas. Sobre essa estratégia utilizada pela imprensa feminina, Buitoni explica:

2 Jeffrey Weeks (n. 1945, em Rhondda, Gales) é um historiador e sociólogo que se especializou em sexualidade. É autor de vários livros, incluindo Sexuality and its Discontents, (Routledge, 1985), Sex, Politics and Society (Longman, 1989) e Coming Out (Quartet, 1977).

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A ancoragem temporal desloca-se para uma relação mental: a revista (ou indústria, a publicidade) inventa um modismo que logo é apresentado como o que existe de mais “atual”. “Atual” aqui é apenas sinônimo de novo, medidor de novidade e não momento situado no tempo. Muitas vezes nascidos por causa da moda em vestuário, os veículos femininos impregnaram-se de febre do novo, que é fundamental no sistema da moda e que passou a contaminar todos os outros conteúdos publicados a seu lado. (Buitoni; Imprensa Feminina, 1986, p; 13)

Essa relação entre atualidade e novidade está relacionada com o conceito de

temporalidade. Segundo Felipe Pena, a novidade nem sempre é atual e a atualidade nem sempre é

nova, e que constantemente a atualidade é confundida com novidade. Para discutir essa relação o

autor cita uma frase presente no livro de Ricardo Kotscho, “qualquer assunto serve se pudermos,

por meio dele, mostrar algo novo que está acontecendo, ainda que o tema seja batido”. Para

Felipe Pena, outra confusão que é permanente seria utilização na mídia do novo e do

desconhecido.

Outra confusão muito comum é entre o novo e o desconhecido. É evidente que o fato de você desconhecer um assunto não significa que ele seja novo. Você pode simplesmente ter ignorado o tal assunto por algum tempo enquanto outras pessoas tomavam conhecimento dele, deixando, portanto de ser novidade. Mesmo assim, na primeira vez que a informação chegar até você, na sua acepção será sim uma novidade. Não existe o novo para todos, pois alguém tem que saber primeiro para contar aos outros. E ainda por cima há as gradações de novidade de acordo com o contexto do acontecimento. Esse é o cerne da questão. (Pena, Felipe; Teoria do Jornalismo,2006, p. 40)..

Com isso Pena, afirma que o conceito de atualidade e novidade só tem significado por

meio de contextualizações, sob a perspectiva da recepção. Portanto o receptor é quem classifica

algo como atual, mesmo que esse seja velho, ou como novo, mesmo já não sendo novidade para

outros receptores.

Para definir essa troca da notícia atual, pela novidade, presente na imprensa feminina

Buitoni (1986) destaca:

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31

A pedra de toque da imprensa feminina é a novidade. A fim de parecer sempre atual, usa-se o novo. O atual pressupõe uma relação de presença efetiva no mundo histórico. O atual pode ser descoberto ou estimulado, mas não pode ser criado. O atual precisa ter uma relação concreta com os acontecimentos, mesmo que apenas latente. (Buitoni; Imprensa Feminina, 1986, p 13)..

Para muitos comunicadores a única e verdadeira forma de jornalismo é aquela que

trabalha com a noticia quente, com fatos novos, apresentando uma dimensão temporal bem

demarcada. Defendendo esse conceito, Nilson Lage, afirma que a notícia jornalística é definida

por quatro elementos essenciais: clareza, objetividade, concisão e precisão. Segundo ele, a notícia

é um fato que pode ser do interesse de uma maioria, podendo ser utilizado por um coletivo.

Nelson Traquina apresenta uma definição de notícia afirmando que há uma interação entre

o jornalista e a sociedade e é justamente nessa relação que é demarcada uma linha de fronteira

entre o normal e anormal, aceitável e desviante, o legítimo e o ilegítimo, compartilhando valores

com os membros da sociedade. O autor ainda ressalta, que os valores-notícia podem ser mutáveis

e que não há uma regra única aplicada na seleção do que é ou não notícia.

Mas os valores-notícia não são imutáveis, com mudanças de uma época histórica para outra, com sensibilidades diversas de uma localidade para outra, com destaques diversos de uma empresa jornalística para outra, tendo em conta as políticas editorias. As definições do que é notícia estão inseridas historicamente e a definição da noticiabilidade de um acontecimento ou de um assunto implica um esboço da compreensão contemporânea do significado dos acontecimentos como regras do comportamento humano e institucional. (Traquina, Nelson; Teoria do Jornalismo,2005, p. 95).

O que não pode ser esquecido para dar continuidade na discussão a respeito da revista

feminina seria a própria história das revistas no contexto de sua finalidade. Segundo Scalzo, as

revistas no âmbito geral não tem uma aptidão noticiosa, mas sim a finalidade de ser um meio de

educação e de entretenimento, enquanto os jornais possuem em sua origem a marca explícita da

política, as revistas destacam-se por cumprir a função de ajudar na complementação da educação,

no oferecimento de certos serviços a seus leitores, no detalhamento de assuntos, na segmentação,

na interpretação e contextualização dos acontecimentos.

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As revistas nasceram, por um lado, sob o signo da mais pura diversão – quando traziam gravuras e fotos que serviam para distrair seus leitores e transportá-los a lugares aonde jamais iriam, por exemplo. Por outro lado, ajudaram na formação e na educação de grandes fatias da população que precisavam de informações especificas, mas que não queriam – ou não podiam – dedicar-se aos livros. (Scalzo, Marília; Jornalismo de Revista,2003, p.25).

Se partirmos do conceito de jornalismo especializado e, dentro dele, o jornalismo de

revista, enquanto o jornal diário escreve para uma platéia heterogênea e precisa satisfazer essa

maioria, as revistas privilegiam um público específico e, por isso, fala diretamente a um

determinado grupo, produz uma sensação de proximidade com o leitor. O que fica mais evidente

nas revistas quinzenais e mensais, devido a sua periodicidade que dificulta o trabalho com

noticias quentes enfatizando em suas páginas o que é desejado por seus leitores. Assim o

imediatismo, conceito que é definido pelo tempo que decorre entre o acontecimento e o momento

em que a notícia é transmitida, nas revistas este conceito não é aplicado.

No âmbito das revistas femininas, essa diferença é ainda mais notória, o factual é deixado

de lado, no máximo pode influenciar para se falar de determinados assuntos. Segundo Buitoni,

isso acontece devido ao estilo das editorias presentes nesse tipo de veículo de comunicação. Elas

podem até aceitar ligação com o factual, mas não são por ele determinadas. Alegando que todo o

conteúdo presente na imprensa feminina é de fato responsável pela sua caracterização que é

dirigida e pensada para as mulheres.

Ao tratar de um gênero jornalístico, podemos concluir que a sua principal finalidade está

atrelada no fato de ordenar e classificar. Segundo Felipe Pena, muitos autores dedicaram suas

pesquisas para entender os critérios da separação entre forma e conteúdo. Partindo assim do

emissor a função do texto, que pode ser de opinar, informar, interpretar ou entreter. A utilização

de gêneros pode ser explicada, por Pena da seguinte maneira “seu objetivo é fornecer um mapa

para a análise de estratégias de discurso, tipologia, funções, utilidades e outras categorias”. (2006,

p. 66).

Quando determinado o estilo de discurso a ser utilizado pela mídia, que no caso da

Revista Nova teria a função principal de entreter, as matérias presentes no periódico tende a

confirmar esse discurso, como por exemplo, as matérias relacionadas ao sexo, onde a cada edição

acrescenta-se uma nova dica para a longa lista já existente. Aliás, segundo Buitoni, a revista

feminina em sua grande maioria, apresenta um jornalismo que é visto como se fosse uma

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prestação de serviço para as mulheres que tentam tirar dúvidas referentes a intimidades. Seria

então o Jornalismo de Serviço, que em sua definição corresponde que toda matéria ou informação

que possa prestar um serviço à vida cotidiana de sua leitora. Jornalismo de serviço não se define

pelo assunto, mais pela maneira de veiculá-lo, mas sempre ligado à economia de consumo.

Segundo Buitoni, tudo começou quando se classificou que a seção de respostas às cartas

das leitoras, conhecida como o consultório sentimental, se tratava de uma prestação de serviço.

Que contavam com a participação de colaboradores que respondiam as milhares de cartas. Esse

rótulo de jornalismo de serviço abrange reportagens, seções que são usadas em várias editorias

como na moda, beleza, sexo e no campo profissional.

As seções de resposta às consultas a leitoras, ou outros texto apresentado nas editorias da

revista Nova, são predominantes em várias publicações femininas, prestam um serviço por

focarem em determinados problemas femininos, proporcionando “soluções” a diversos assuntos.

Para Buitoni, o conceito de jornalismo de serviço nasceu no Estados Unidos provavelmente

relacionada a imprensa feminina: “A definição parece estar centrada na utilidade com reflexo no

cotidiano do leitor. Acena-se com a possibilidade de realização imediata, poupa-se trabalho,

presta-se um serviço a mais”. (1968, p.20).

4.3 A Despolitização

Embora as revistas femininas representem um espaço importante para a discussão de

problemas das mulheres e tentem, por vezes, incorporar características de discursos feministas

contemporâneos, pode-se notar que há um predomínio de determinados assuntos, temas

freqüentemente apresentados em versões contraditórias, onde que em uma página se destaca a

conquistas profissionais das mulheres, abordando temas para se destacar no trabalho ou como

economizar para ter uma boa poupança no futuro, e na página seguinte oferece uma cartilha para

conquistar um amor reduzindo a mulher a uma simples aprendiz para satisfazer o seu parceiro.

Apesar de muitas vezes ser questionável a relevância das matérias vinculadas para as

mulheres, é importante frisar que a partir desse veiculo que foi feita a construção da mulher

enquanto leitora e se torna possível produzir uma parte da história da leitura no Brasil.

É inegável a importância dessa mídia no quesito de acompanhar a evolução das mulheres,

desde o seu crescimento no mercado de trabalho, como também o seu crescente número nas

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34

universidades, representando a maior parcela dos leitores de revistas no Brasil, cerca de 56%,

segundo dados da Associação Nacional dos Editores de Revistas - ANER. Essa trajetória exige

que as revistas tenham cuidados na relação dialética que se constrói entre texto e leitor. Porque o

texto é construído para o leitor e o leitor se constrói através do texto. Portanto, ao mesmo tempo

em que os textos refletem as transformações sociais e culturais o leitor modifica suas ações,

relações sociais com o conteúdo que lhe é ofertado.

De acordo com Maria Rita Kehl, ao discutir os deslocamentos do feminino boa parte da

literatura do século XVIII e XIX, vinha sendo produzida especialmente para as mulheres, recém

chegadas no mundo das letras. Esse acesso da mulher a leitura foi chamada de “fúria de ler”,

aponta Kehl.

A “fúria de ler” das mulheres foi rapidamente satisfeita por uma florescente indústria de novelas e romances escritos por e para as mulheres, de modo que houve uma feminização daquele domínio até então reservado aos homens; a literatura foi invadida por mulheres, tanto leitoras quanto escritoras. (Kehl, Maria Rita: Deslocamentos Femininos,1998, p: 97)

Para Carla Bassanezi3, que realizou uma pesquisa sobre a imprensa feminina, a

constatação de uma transformação no comportamento das mulheres, não se apresenta

significativa para o progresso na posição da mulher na mídia brasileira, até mesmo porque,

segundo a pesquisadora, um exemplo clássico seria a própria revista Nova que desde a década de

70 permanece restrita a mesma temática, alegando se tratar de um periódico revolucionário.

Ainda segundo a pesquisadora, a leitura de Nova permanece em uma repetição da

condição feminina enquanto dependente do homem para a sua felicidade. É o mito do amor

romântico que aparece com uma abordagem diferenciada, pois agora a mulher não busca ser uma

boa dona de casa e sim ter uma vida sexual satisfatória.

É como se houvesse ocorrido uma troca de tema principal no cenário das revistas

femininas. Segundo Ana Seixas, se nas primeiras décadas do século XX, falava-se de amor, até

3 Historiadora. Doutora em Ciências Sociais pela Unicamp e mestre em História Social pela USP, bacharel e licenciada em História pela Unicamp. Foi por sete anos pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu - Unicamp. Coordenou vários projetos editoriais, sendo um deles (História das Mulheres no Brasil) ganhador dos prêmios Jabuti e Casa Grande & Senzala.

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mesmo porque a temática amor sempre se remete a assuntos femininos, hoje os textos tratam e

exploram o sexo.

As primeiras percepções que temos indicam que essas mulheres não conheciam seu corpo, suas zonas erógenas, não tocam o próprio corpo. Não o fazem por vergonha, receio de estar cometendo um erro, fazendo algo feio, pecaminoso. O papel sexual é pouco desenvolvido e associado a uma performance estereotipada, na qual a mulher simula e representa por medo de perder o companheiro. (Seixas, Ana Maria Ramos: Sexualidade Feminina, 1998, p: 18).

Para Focault, as produções discursivas do sexo passaram a formular a verdade do sexo ou

mentiras destinados a ocultá-los.

Ora, uma primeira abordagem feita deste ponto de vista parece indicar que, a partir do fim do século XVI, a “colocação do sexo em discurso”, em vez de sofrer um processo de restrição, foi, ao contrário, submetida a um mecanismo de crescente incitação; que as técnicas de poder exercidas sobre o sexo não obedeceram a principio de seleção rigorosa, mas, ao contrário, de disseminação e implantação das sexualidades polimorfas e que a vontade de saber não se detém diante de um tabu irrevogável. (Foucault, Michel; Historia da Sexualidade, 1988, p 17).

Nas revistas femininas atuais não há o caráter dos almanaques antigos. Segundo Buitoni,

eles foram os antecessores da imprensa feminina, com a presença de economia doméstica,

medicina caseira, agricultura e outros assuntos. Mas a semelhança reside no caráter de

conselheiro e na questão da utilização de mulheres belas como atrativo. Aliás, o atrativo é

quesito que dá vida aos periódicos femininos, a exploração da temática sexual amorosa tem início

na capa do periódico que tem uma função importantíssima tornando-se atualmente o carro-chefe

da linha editorial, onde se procura evidenciar a qualidade e raridade do que está dentro da revista.

A capa tem o papel de mostrar como um todo a proposta do periódico dando destaque a supostos

assuntos que faça a mulher adquirir a revista.

E utilizando desses argumentos às capas da Nova, exemplificam os assuntos

predominantes onde cerca de 50% das chamadas presentes nas capas tem um apelo sexual. Como

é o caso do exemplar da edição 395, agosto de 2006 (ver em anexo a capa da revista), contendo

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enunciados do tipo “Seis tipos de orgasmo”, “Guia astrológico da sedução”, “Cinco pistas que

seu namorado dá quando trai”. Há também a exaustiva utilização de modelos ou artistas que tem

a função de incorporar e representar a mulher de Nova, aparecendo uma postura que evidencie as

formas do corpo e que possa demonstrar toda a ousadia que é ser a mulher que lê a revista Nova.

Aliás, nesta mesma edição 395, é exaltada a dedicação que esse suporte dá para as capas,

no editorial Cynthia Grenier, editora de redação, festeja que no 31º Prêmio de Jornalismo por

terem conquistado o prêmio pelo conjunto da obra:

No 31º Prêmio Abril de jornalismo, que a cada ano destaca a qualidade editorial das revistas da Editora Abril, NOVA mereceu um reconhecimento e tanto. Conquistamos o prêmio pelo conjunto da obra, que inclui as capas estreladas por Juliana Paes (abril/2005), Angélica (setembro/2005) e Bruna Magagna (outubro/2005). Toda redação ficou orgulhosíssima. Afinal, por mais que acreditemos ter dado o nosso melhor quando a revista vai para as bancas, o elogio traz um significado maior. (Revista Nova, edição 395, Agosto de 2006, p: 8).

Ler as chamadas da revista Nova, o questionamento que fica, seria então a ausência de

outros assuntos para apresentar para suas leitoras. Na mesma época desta edição o tema que

estava sendo discutido na grande mídia era a luta da Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos

Sexuais e Direitos Reprodutivos, mobilizava o Brasil, exigindo a descriminalização do aborto.

Assunto que não aparece em nenhuma edição da revista. Segundo Buitoni, a explicação da

ausência desse tema seria porque a imprensa feminina não se aprofunda em determinados

assuntos devido a sua estreita relação com as leitoras:

A revista precisa gratificar suas consumidoras e não enchê-las de preocupações. As publicações brasileiras, sempre mais tímidas, raramente se posicionam enquanto órgão de comunicação. Não trazem editorias; a opinião, quando aparece, está nos textos assinados por colaboradores. A jornalista de imprensa feminina tambem evita posicionar-se, socorre-se da opinião de especialistas que têm o respaldo de seu conhecimento.(BUITONI; Imprensa Feminina, 1986, p 71).

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Ao invés de abordar tal assunto, Nova prefere discutir as melhores posições na cama,

mostrando acessórios que aceleram prazer, truques que facilitam a obtenção do orgasmo,

oferecendo numerologia do amor. De fato, parte da imprensa feminina privilegia assuntos que

acelerem as vendas das edições. Trabalhar a sexualidade é abordar uma sabedoria que apresenta

estratégias diversas, que no caso da revista Nova, percorrem e utilizam a sexualidade da mulher.

A sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não à realidade subterrânea que se aprende com dificuldade, mas à grande rede de superfície em que a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres, a incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos, o reforço dos controles e das resistências, encadeiam-se uns aos outros, segundo algumas estratégias de saber e de poder. (Foucault, Michel; Historia da Sexualidade, 1988, p 100).

Esta é segundo Buitoni, uma das acusações mais freqüentes aos periódicos femininos, o

fato das maiorias delas estarem pressas a temáticas especifica e incentivarem o individualismo, a

busca do conforto de bens materiais e a aquisição de produtos supérfluos, sendo uma mídia quase

sempre despolitizadora, muito diferente de sua finalidade nos séculos XVIII e XIX, onde a

imprensa feminina teve um importante papel na luta pelos direitos da mulher, chegando a

conseguir a feitura de lei e outras significativas vitórias.

Atualmente o privilégio exaustivo e permanente em tratar do tema do cuidado de si, do

individualismo, discutido por Foucault, que apresenta um histórico desde Sócrates, afirmando

que o princípio do cuidado do si adquiriu um alcance bastante geral que se faz presente em várias

doutrinas que ocasionou a elaboração de um saber.

[...] ocupar-se consigo mesmo é em todo caso um imperativo que circula entre numerosas doutrinas diferentes: ele também tomou a forma de uma atividade, de uma maneira de se comportar, impregnou formas de viver; desenvolveu-se em procedimentos, em práticas e em receitas que eram refletidas, desenvolvidas, aperfeiçoadas e ensinadas; ele constitui assim uma pratica social, dando lugar a relações interindividuais,... (Foucault; História da Sexualidade, 2005, p. 50).

Conforme analisamos, para a revista a mulher de Nova está em uma busca constante pelo

aprendizado e aprimoramento das técnicas amorosas e sexuais. Então para satisfazer essa busca

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por informações a revista oferece a cada nova edição matérias que disponibiliza um arsenal de

fórmulas que estão apoiadas em informações disponibilizadas por profissionais da área que tenta

persuadir a leitora. Relacionado a esse uso da linguagem para o ato de convencer sobre

determinada verdade, Citelli afirma:

Persuadir é, sobretudo, a busca de adesão a uma tese, perspectiva, entendimento, conceito, etc. Evidenciando a partir de um ponto de vista que deseja convencer alguém ou um auditório sobre a validade do que se anuncia. Quem persuade leva o outro a aceitar determinada idéia, valor, preceito. É aquele irônico conselho que está embutido na própria etimologia da palavra: per + suadere = aconselhar. (Citelli, Adilson; Linguagem e Persuasão,2004, p.14)

Segundo Edgar Morin, a revista pode representar diversos papéis ou diversos discursos,

dependendo do seu consumidor, como: publicitário, conselheiro ou testemunha. Mas destacando

o seu papel de doador de bens que satisfazem os desejos e as necessidades dos receptores.

Confirmando o discurso de Morin, para Buitoni, a imprensa feminina usa uma “armadilha

lingüística”, que por detrás do tom coloquial existe todo um ordenamento de conduta.

A utilização de formas verbais imperativas – “Faça”, “Olhe”, “Ande”... – diminui a faixa de liberdade da leitora. Numa linguagem muito próxima da publicitária, os textos dirigidos à mulher são verdadeira comunicação persuasiva, aconselhando-a a todo momento sobre o que fazer. A proximidade e a contaminação são tão grandes, que muitas vezes não distinguimos um texto publicitário de uma matéria. A matéria parece anúncio e vice-versa. Publicidade e parte editorial atingem as leitoras usando os mesmos recursos, o que não é muito louvável.(BUITONI; Imprensa Feminina, 1986, p 75).

Através de uma relação assimétrica, ela leva a consumidora a convencer-se consciente ou

inconscientemente de que possuir bens materiais, família, independência pessoal, sensualidade ou

ter vida sexual ativa, tudo isso é sinônimo de alcançar felicidade, representa bem estar e êxito.

Exaltando os desejos que toda mulher na atualidade busca referente a sucesso na atividade

profissional, a tão sonhada juventude eterna e realização pessoal.

De modo geral, na imprensa feminina, a leitora pode ser reconhecida através do próprio

texto, com o tom protetor do jornalista quando se reporta às mulheres, adotando uma posição de

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delegado do público alvo que assim, passa a ensinar a linguagem do sexo pecando na

superficialidade ao se tratar de determinados assuntos, como a educação sexual.

4.4 Sexualidade na Revista Nova – Análise de matérias do ano de 2006

Caracteristicamente, as matérias que abordam o assunto sexualidade na revista Nova,

referente ao ano de 2006, notasse a predominância de um texto com a função de ensinar

estratégias para agradar os homens através de dicas de sexo, apresentando um passo a passo para

que seja alcançada a tão desejada estabilidade amorosa, confirmando assim a linguagem que foi

estudada ainda nesse capítulo. Ao se investigar os traços apresentados nos textos das revistas

femininas, torna-se necessário à utilização de lentes críticas, levando-se em conta as dualidades e

contradições presentes nelas. Assim será mais fácil a compreensão dos discursos contidos nessa

publicação e sua relação com as diversas práticas sociais na contemporaneidade, apoiadas na

maioria das vezes no consumo.

Para exemplificar essa afirmação utilizaremos inicialmente a edição 392, publicada em

maio de 2006. Uma das matérias de destaque da edição, intitulada de "40 atitudes femininas que

os homens adoram”, discorre sobre gestos, atitudes e comportamentos tipicamente femininos que

agradam aos homens. As informações são mostradas em formas de depoimentos, o que provoca

mais confiabilidade na leitora, onde os entrevistados narraram o que mais os encantam em uma

mulher. Logo no primeiro depoimento, a revista Nova deixa claro que a sua utilização tem efeito

direito nos homens.

Minha garota é viciada nos testes da NOVA e sempre me pede para fazermos juntos. Finjo que não estou nem aí, que isso é coisa de mulher, mas a verdade é que morro de curiosidade para ver o que ela vai responder.Roberto, 26 anos. (“40 atitudes femininas que os homens adoram”, Revista Nova/Cosmopolitan, edição 392, 2006, p.46).

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No decorrer dos quarentas depoimentos apresentados pela revista, de alguma maneira

sejam eles singelos ou descarados, fazem alusão os inúmeros conselhos que estão sempre

presentes na revista Nova, quando, por exemplo, o entrevistado faz referência à utilização de

produtos de beleza, o rapaz alega que reclama com a namorada por gastar uma “fortuna” com os

produtos indicados pela revista, mais frisa que o resultado sempre o deixa mais apaixonado. A

mulher que estará lendo fará intuitivamente uma relação com a seção denominada de “Repórter

de Beleza”, onde são apresentadas lições de beleza que conta com a participação do especialista

Marcos Antônio. Nessa seção, encontramos uma grande variedade de preços de produtos, dicas

atualizadas sobre beleza e outras novidades do universo feminino. Assim, os assuntos sobre

beleza, estão atrelada ao ato do consumo de produtos, e resumidamente a felicidade amorosa

sempre aparece ligado um ao outro.

Antes de ser questionada a veracidade e importância desses depoimentos na formação

social das leitoras, não se pode esquecer, o que já foi afirmado anteriormente, que a comunicação

apresenta três objetivos, sendo uns deles a informação, que invocaria a razão, o persuasivo, que

tocaria o lado emocional, e o terceiro seria a mistura de ambos os apelos, o de entreter. Para

Scalzo, a função da revista na maioria dos casos é para explicar e aprofundar assuntos que já

foram discutidos pelas outras mídias, atuando como extensão comentada do jornalismo, que

podem seguir o caminho do entreter, como já foi mencionado, ou do educacional:

Elas cobrem funções culturais mais complexas que a simples transmissão de notícias. Entretêm, fazem análises, reflexões, concentração e experiência de leitura… Estudando a história da revista verificam-se dois caminhos evidentes: o da educação e o do entretenimento por isso seu corpo de informação é mais pessoal. (Scalzo, Marília; Jornalismo de Revista, 2003, p.39).

Para Buitoni, a revista Nova se encaixa no perfil de um jornalismo voltado para entreter,

com uma pitada generosa de persuasão, mostrando um jornalismo para sociedade, ou para uma

parcela dessa sociedade, num momento em que os temas da qualidade de vida e do bem estar

social e individual, emergem nas esferas temáticas do mundo da mídia. Segundo Citelli (2004,

p.15) “persuadir não é apenas sinônimo de enganar, mas também o resultado de certa organização

do discurso que o constitui como verdadeiro para o destinatário”.

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Mas devemos ressaltar que há determinadas matérias que exigem mais cuidados antes que

serem apresentadas para as leitoras. Quando a revista proporciona depoimentos alegando ser de

homens discutindo atitudes das mulheres, sua importância é questionável ou quase nula para a

leitora. Porém ao tratar de assuntos que remete a formação de compreensão de determinados

temas, é necessário que a matéria esteja de acordo com a estrutura jornalística. Contudo,

contrariando esse conceito, na revista Nova a predominância é do texto excessivamente coloquial,

onde diversos assuntos são tratados de maneiras iguais, independentes de sua importância, aliás,

destacamos que ao fazer uma leitura do periódico temos a sensação de que todas as matérias

foram escritas pela mesma pessoa.

Podemos demonstrar essa afirmação, comprando trechos de duas matérias, presentes na

revista Nova, sobre assuntos diferentes e por que não dizer de importância também diferenciada

para a leitora. Inicialmente, trata-se de uma matéria de entretenimento presente a seção Amor e

Sexo, onde o texto aborda estratégias para se reconquistar um amor.

Mas ele vai voltar... Assim diz Charlie Brown Jr. em sua música. Às vezes é difícil acreditar, pois alguns homens são tão escorregadios que parecem revestidos daquela película antiaderente - teflon! Se o seu escapuliu para cantar em outra freguesia, é hora de conhecer os segredos para trazê-lo de volta. (“Mas ele vai voltar”, Revista Nova/Cosmopolitan, edição 394, 2006).

Comparamos agora, outro parágrafo de uma matéria que julgamos ser não apenas de

entretenimento, mais sim referente à educação sexual feminina. Na reportagem trata-se de uma

temática de suma importância para o aprendizado da leitora sobre a estreita relação entre a

mulher e o ginecologista.

Se não bastasse ter que vestir um avental, é inevitável subir na cama ginecológica e colocar as panturrilhas nas desconfortáveis perneiras. O exame das mamas vem primeiro. Depois, o médico vai dar uma olhada lá embaixo - e aumenta o constrangimento. Ele começa investigando a vulva, grande e pequenos lábios, períneo. Chega a hora do espetáculo, mais conhecido como bico-de-pato. (“Fortes Emoções no Ginecologista”, Revista Nova/Cosmopolitan, edição 398, 2006. p, 167).

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Devemos observar que falar sobre a sexualidade feminina nos periódicos teve no seu

início a prioridade de trabalhar através da conscientização, onde para Carmem da Silva4, até então

a mulher vivia mergulhada em um sono vegetal. Segundo Buitoni, o assunto sexo aparecia em

matérias didáticas, e que tratar da sexualidade era fortemente censurado nos ano 50 até meados

de 70.

Desde os anos 50 até meados de 70, a censura interna das editorias e a censura governamental permitiam avanços extremamente vagarosos no tratamento da questão sexual. Não podia, por exemplo, nomear as partes do aparelho genital feminino, mesmo pelos nomes científicos; só era possível descrevê-los. Havia problemas para publicar desenhos, ainda que esquemáticos; fotos eram praticamente proibidas. Depois, a libertação. As revistas para homens tipo Playboy foram pouco a pouco rompendo barreiras. A década de 70 foi marcada pela presença do sexo na imprensa brasileira, já associado ao consumo. (Buitoni; Imprensa Feminina, 1986, p 67).

Retornando a matéria “Fortes Emoções no Ginecologista”, publicada em Novembro de

2006, como podemos demonstrar, notamos a ausência de uma preocupação jornalística, onde as

questões educacionais são substituídas por entretenimento. Compreendemos que a linguagem e o

foco variam muito de uma publicação para outra e que, segundo Scalzo, o texto de revista é

diferente dos demais, justamente por unir qualidade, exclusividade e a sua principal preocupação:

que o leitor receba a informação de forma prazerosa.

Ressaltamos que apesar de ser tratar de um assunto importante, o ginecologista, um

especialista na saúde da mulher, a matéria prioriza questões secundárias dessa estreita relação.

Destacando atitudes que devem ser realizadas em uma consulta, levantando dúvidas referentes a

depilação e comparando um determinado exame como se fosse um espetáculo desconfortável e

constrangedor, como demonstramos anteriormente. Podemos utilizar também essa outra máxima

que emprega palavras que em vez de enfatizar que devemos manter um diálogo aberto como

médico destaca o medo de determinadas perguntas.

4 Carmem da Silva, tinha uma seção na revista Claudia, denominada de “A arte de ser mulher”, onde introduziu uma série de conceitos psicológicos que foram sendo absorvidos. Segundo Buitoni, Carmem abriu o caminho para tudo o que depois foi veiculado na imprensa feminina.

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O começo da consulta é fácil. Conversamos sobre generalidades. Mas aí sou metralhada com um questionário dos meus hábitos, do número de parceiros que tive no último mês às minhas queixas sobre sexo. Essa parte dá medo. (“Fortes Emoções no Ginecologista”, Revista Nova/Cosmopolitan, edição 398, 2006. p, 167).

O questionamento principal é referente não exclusivamente à maneira como foi

apresentado o assunto, mais sim, a ausência de informações essenciais para que a mulher possa

tirar suas dúvidas sobre o tema. A lacuna de informações é sobre a importância desse

profissional e as possíveis doenças que se pode prevenir em uma simples ida ao ginecologista. No

entanto, a revista Nova prefere permanecer no caminho didático, este respectivo, na enfatização

de estar oferecendo comportamentos que devem ser adotados pela leitora e não como um suporte

de educação, requisitos necessário para discutir determinado tema.

Consolidamos nossa constatação utilizando o saber discutido por Foucault, que afirma que

o discurso sobre o sexo deve superar o moralismo e regular o sexo por meio de discurso útil e

público:

Deve-se falar de sexo, e falar publicamente, de uma maneira que não seja ordenada em função da demarcação entre o lícito e o ilícito, mesmo se o locutor preservar para a distinção (é para mostrá-lo que servem essas declarações solenes e liminares); cumpre falar de sexo como de uma coisa que não se deve simplesmente condenar ou tolerar, mas geri, inserir em sistemas de utilidade, regular para o bem de todos, fazer funcionar, segundo um padrão ótimo. O sexo não se julga apenas, administra-se. Sobreleva-se ao poder público; exige procedimentos de gestão; deve ser assumido por discursos analíticos. (Foucault, Michel; Historia da Sexualidade, 1988, p 27).

Ao retratar sobre a educação sexual feminina, Ana Seixas assinala que a educação é um

processo cooperativo em que meios de comunicação e a família, dividem responsabilidades ao

fornecer padrões de comportamentos que estabelecem um conjunto geral de sentimentos em

relação ao corpo e interiorizam a identidade sexual. E que geralmente, os discursos sobre a

sexualidade é diferente de como ela é vivenciada.

CONCLUSÃO

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A partir século XVII, a mulher dá seu primeiro grande passo, iniciava-se a alfabetização e

junto com ela surge à imprensa feminina, disposta a oferecer uma miscelânea de assuntos para

abastecer a leitora com conteúdos literários, educacionais e entretenimento.

Quando nos dedicamos a estudar a imprensa feminina, priorizamos analisar sua trajetória

desde os primeiro periódicos até os dias atuais, nesse percurso traçado notamos que o suporte aos

longos dos anos tentou suprir certas necessidades da leitora em cada época. Apresentando

finalidades que variam entre discursos como se fosse uma fornecedora de comportamento,

assuntos de moda e suplementos didáticos referente à sexualidade.

Como podemos acompanhar, na evolução desses periódicos, inicialmente as lutas

feministas ganhavam destaques, e depois de alcançados alguns direitos como o voto, o divórcio e

outros, houve o predomínio de determinados interesses estritamente apoiados na publicidade. A

preocupação com a obtenção do prazer sexual apagou o brilho das lutas contra as injustiças

sociais que antes tinhas destaque em muitos periódicos femininos.

Nova, versão brasileira da Cosmopolitan americana, que tem edições locais em vários

países do ocidente e até no Japão, centra-se na idéia de que é preciso infundir na leitora confiança

em si própria, através de artigos sobre comportamento, sexo, desejo de luxo e liberação. Como

disse Buitoni “é o velho: agarre seu homem”. Podemos afirmar que a revista Nova é um produto

que veio para suprir uma lacuna no mercado decorrente da segmentação dos meios de

comunicações.

De modo geral, encontramos dualidade, que se manifesta na tentativa de integração de

hábitos, valores coletivos com tendências individuais. Cada leitora é situada num contexto

específico, com influências de fatores globais. Como mais um produto da cultura de massa, a

imprensa feminina proporcionou e ajudou a democratização de costumes que abrange desde

modelos de roupas a pedagogia do sexo.

A revista Nova é uma das responsáveis pela representação da sexualidade feminina na

mídia, tem suas idéias apoiada na apresentação de um texto que é caracterizada pelas

contradições, apresentando-se como um campo imenso que tenta abordar temas da vida feminina,

priorizando página por página a temática sexual. Por se tratar de uma publicação que está no

mercado a mais de 35 anos, podemos afirmar então, que o sexo vende, como também é

responsável pela venda de outros produtos. O sexo que na maioria das vezes se confunde e se

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completa na revista Nova com o amor, que provoca a união de duas temáticas que impulsiona o

mercado econômico.

O prazer, o desempenho sexual e o relacionamento a dois, temas exaustivamente tratado

pela revista, aparecem resumidamente como uma habilidade que podem ser desenvolvida e

aperfeiçoada, onde as matérias tentem a apresentar essas técnicas satisfazendo os desejos

masculinos e as dúvidas femininas. Apresentamos algumas características fortes da imprensa

feminina, destacamos que no texto há o predomínio de uma linguagem sensacionalista que a

revista alega estar de acordo com o seu público alvo.

Resumidamente, como discutimos, se na década de 30, 40 e 50 a mulher era representada

como uma simples dona de casa, hoje o predomínio é da despolitização da mulher no periódico,

nada de discurso políticos somente entretenimento. A mulher contemporânea, analisando a

imprensa feminina, está focada no sucesso profissional, na juventude eterna e a realização

pessoal.

Ao analisar os conteúdos dos textos presente na revista Nova, podemos também afirmar

que o suporte tem como tema central à sexualidade e as condutas femininas. Porém, acreditamos

que a revista erra ao nivelar todos os assuntos, não diferenciando os que estão relacionados a

aprendizagem da mulher, enquanto sua saúde sobre sexualidade.

Demonstramos o exemplo referente à reportagem, “Fortes Emoções no Ginecologista”,

onde sentimos a ausência de informações que possam estimular a ida da mulher no médico. Ao

analisar e apresentar determinada matéria sobre a sexualidade feminina, a revista Nova tem como

responsabilidade não esquecer os vários anos de repressão e preconceitos contra a mulher e do

longo período de desinformação que a mulher foi submetida. Principalmente por que raras são as

oportunidades que o periódico se dedica a abordar temas relevantes para a leitora e, quando surge

à oportunidade, a revista prefere questionar pontos sem importância, levantando dúvidas nas

leitoras sobre questões secundárias.

Utilizamos os conhecimentos ofertados por autores que estudaram as revistas, imprensa

feminina, sexualidade da mulher e linguagem jornalística, e concluímos que, apesar das revistas

terem suas raízes na finalidade de entreter e educar, como afirma Scalzo, na revista Nova sua

base está fixada no consumo. No periódico, a mulher apresenta um perfil consumista,

estereotipada e individualista. Não mostra a negra, a índia, a japonesa nem a podre. Aborda a

sexualidade de maneira rasa como se estivesse falando de qualquer outro assunto.

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Concluímos que a imprensa feminina contemporânea, e principalmente a revista Nova,

não tem a pretensão de modificar o mundo, mas sim de reforçar e trabalhar em cima do repertório

do seu público alvo, constituindo um poderoso mercado consumidor. Através de mecanismos da

sociedade de consumo, onde os desejos das mulheres são transformados em mercadorias, dentro

da economia capitalista. Aliás, sobre essa questão Werneck Sodré, afirma que a história da

imprensa é a própria história do desenvolvimento da sociedade capitalista. O controle dos meios

de difusão de idéias e de informações que se verifica ao longo do desenvolvimento da imprensa é

reflexo da sociedade capitalista e o traço que comprova esta ligação dialética se constata na

influência que a difusão impressa exerce sobre o comportamento das massas e dos indivíduos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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SCALZO, Marília. Jornalismo de Revista. São Paulo: Editora Contexto, 2003.

SEIXAS, Ana Maria Ramos. Sexualidade Feminina. São Paulo, 1998.

SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. 4 ed. Rio de Janeiro: Mauad, 1999.

TRAQUINA, Nelson. Teoria do Jornalismo – uma comunidade interpretativa. – Florianópolis: Insular, 2005.

__________. Teoria do Jornalismo – porque as notícias são como são – Florianópolis: Insular, 2. ed., 2005.

VILAS BOAS, Sergio. O estilo magazine: texto de revista. – São Paulo: Summus, 1996.

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INFORMAÇÕES CONSULTADAS NA INTERNET

http://www.fashionbubbles.com/2007/midia-impressa-revista-feminina-parte-2/

Média Kit Nova. Disponível em: < http://elle.abril.com.br/midia_kit/nova/potencial.html > Acesso em 1 vez por mês em busca de dados novos.

K Plus. A Emancipação da Mulher e a Imprensa Feminina (séc. XIX – séc. XX). Disponível em: < http://kplus.cosmo.com.br/materia.asp?co=119&rv=Literatura > Acesso em 15 de maio de 2008.

Scribd. Frases retiradas de Revistas Femininas. Disponível em: < http://www.scribd.com/doc/417549/frasesretiradasderevistasfemininas > Acesso em 23 de maio de 2008.

Observatório da Imprensa. Poções de uma rica miscelânea. Disponível em: < http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/fd050820033.htm > Acesso em 5 de agosto de 2008.

Fashion Bubbles. Mídia Impressa - Revista Feminina / Parte 2. Disponível em: < http://www.fashionbubbles.com/2007/midia-impressa-revista-feminina-parte-2/ > Acesso em 13 de agosto de 2008.

Imagens e Representações. Algumas imagens que representam a História da Moda. Disponível em: < http://www.anhembi.br/museudamoda/imagens4.htm>. Acesso em 10 de Setembro de 2008.

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ANEXOS

ANEXO – CAPA

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Sexo e Amor – Fortes Emoções no Ginecologista

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Edição 392, ano 2006

Amor e Sexo

40 atitudes femininas que os homens adoram.

Divertir-se com os testes da revista, criar apelidos carinhosos, entender tudo de moda e estilo, ter bolsa multiúso... Há milhões de coisas que você faz instintivamente, sem imaginar que elas seduzem o seu amor. E seria até pecado deixar informações tão preciosas na caixa-preta dos corações masculinos. Texto: Luana Leme | foto: Karine Basilio

Quantas vezes você já ouviu dizer que, para agradar um homem, basta ser... mulher? Pois, embora pareça um pouco simplista resumir dessa maneira, a verdade é que eles realmente se encantam com gestos, atitudes e comportamentos tipicamente femininos - até mesmo aquelas manias cheias de frescura, como escovar cem vezes o cabelo antes de dormir e ter uma coleção interminável de cosméticos. Então, pare de bancar a durona, garota. E deixe seus hormônios, sua essência, seu DNA falarem mais alto perto de quem faz seu coração bater forte. Basta agir conforme os próprios instintos para ver o gato completamente fissurado. Como inspiração, leia agora o que 40 entrevistados mais curtem na amada e traga à tona seu lado absolutamente feminino e carregado de charme - com muito orgulho!

1"Minha garota é viciada nos testes da NOVA e sempre me pede para fazermos juntos. Finjo que não estou nem aí, que isso é coisa de mulher, mas a verdade é que morro de curiosidade para ver o que ela vai responder." Roberto, 26 anos

2. "Fico fascinado com a delicadeza com que a minha noiva move a mão para ir pintando as unhas dos pés. Tem ainda uma parafernália toda por perto, incluindo aquela coisa que coloca entre os dedos. Parece um ritual tribal erótico. E mais: vê-la depilar a perna e a virilha também me agrada muito." Osmar, 33 anos

3."Descobri que a Ângela era a mulher da minha vida pouco antes do Natal. Ela mesma fez os cartões e escreveu uma mensagem diferente em cada um. Não conheço ninguém que teria todo esse trabalho para mostrar à família e aos amigos que gosta deles." Marco Antônio, 36 anos

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4."Homens curtem um clima, sim. Minha namorada acende velas perfumadas e a casa toda fica ainda mais convidativa. Pode acreditar: o sujeito que diz que não liga pra essas coisas é um panaca - ou um mentiroso." Daniel, 22 anos

5."Não tem nada mais sexy do que mulher de salto alto. Minha namorada usa o tempo todo e costuma chegar em casa "morta". É incrível o que o mulherio agüenta por vaidade. Não que esteja reclamando." Alex, 35 anos

6."Minha namorada se emociona até com filme de ficção científica. Tiro o maior sarro, mas no íntimo acho comovente ela ser tão sensível. Todo homem acha, porque não somos capazes de demonstrar direito as nossas emoções." Wagner, 25 anos

7."A Andréia leva horas para se arrumar, mas não me importo. Ficar observando ela trocar de roupa mil vezes 'porque não tem nada para vestir' é um dos meus shows eróticos preferidos." Danilo, 24 anos

8. "Curto demais ver minha namorada dormindo. Parece tão frágil. Às vezes, fica abraçada ao travesseiro e é a coisa mais sexy. Eu me sinto poderoso, o cara que está ali para protegê-la." Lucas, 27 anos

9."Assim que chega das compras, a Natália veste todas as roupas que adquiriu para me mostrar. Adoro ver a gata, eufórica, desfilando só para mim" Juliano, 25 anos

10. A Suzana sempre passa protetor labial antes de a gente ir para a cama. É uma bobagem, mas deixa a boca tão macia e gostosa..."

(A continuação da matéria está presente no site da revista Nova Cosmopolitan: http://nova.abril.com.br/edicoes/392/fechado/amor_sexo/conteudo_131358.shtml)

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Edição 394, Julho de 2006

Amor e Sexo

Mas ele vai voltar...

Assim diz Charlie Brown Jr. em sua música. Às vezes é difícil acreditar, pois alguns homens são tão escorregadios que parecem revestidos daquela película antiaderente - teflon! Se o seu escapuliu para cantar em outra freguesia, é hora de conhecer os segredos para trazê-lo de volta.

Luana Leme

Sabe qual é a primeira coisa que os consultores de marketing explicam a uma empresa que está perdendo um ótimo cliente? Que ele só abandona alguém quando está completamente desmotivado e não acredita mais no produto. No amor acontece a mesma coisa. Se o seu querido foi embora, a possibilidade de seus departamentos de assistência técnica e atendimento personalizado terem pisado na bola pode ser enorme. Claro que não é romântico colocar sua infelicidade em termos tão comerciais. Mas, às vezes, é preciso deixar o sentimentalismo de lado, mesmo que temporariamente. Em outras palavras, manter a cabeça fria, sem nenhum tipo de fantasia a respeito do amado, é imprescindível para montar uma estratégia digna de profissionais.

Análise do mercado

Por falar em falsas ilusões, a primeira coisa a fazer é descobrir se ele é reconquistável. Caso contrário, vai desperdiçar munição. A melhor maneira é analisar o jeito como ele a deixou. Aprontou a maior cafajestada? Nem olha para a sua cara e rompeu por e-mail? Passou os últimos dias (semanas ou meses) fazendo tudo que você mais odiava? Veio com aquele papo furado de "Não é culpa sua nem minha, o encanto é que acabou"? Confessou que ainda não se sentia preparado para um namoro sério? Pediu um tempo? Fora os dois últimos casos (nos quais existe uma dúvida razoável), todos os demais indicam que a melhor pedida é partir para outra porque o rapaz - desculpe a franqueza - queria mesmo cair fora.

Olho na demanda

Um indício de que nem tudo está perdido é o seguinte: no final do namoro, ele reclamava de atitudes suas? Se a resposta for sim, é bom sinal. Por um simples motivo que o marketing também explica: um cliente que reclama é um cliente interessado no relacionamento. Não quer mudar de marca, quer ter o problema resolvido. Portanto, seu amado pode ter desistido porque não conseguiu nenhum retorno. O bom da história é que na certa você faz idéia daquilo que o incomodava; sabe, portanto, em que errou e o tipo de demanda que ele busca.

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Mudança da embalagem

Mudar é a palavra-chave na luta pela reconquista. Não se iluda. Se ele voltar, não será para a mesma mulher que deixou. Essa, seu amado conhece bem e não quer mais. Antes de considerar uma tática, você precisa decidir até que ponto as queixas dele eram justas e quanto está disposta a mudar seu comportamento. Porém, não adianta agir como ele espera só para fazer média. Afinal, o objetivo não é apenas que ele volte, mas que fique, certo?

A força da auto-estima

O amor, dizem os psicólogos, apóia-se sobre um tripé: amizade, paixão e respeito. Basta um deles fraquejar para a estrutura desabar. A maneira mais eficiente de colocá-lo de pé outra vez é recuperar, primeiro, o respeito perdido - todo o resto depende disso. A menos que seu ex seja um sujeito neurótico (e aí é melhor manter distância), ele sonha com uma mulher independente e autoconfiante. Dar um passo sem consultá-lo não revela que você possui auto-estima de sobra. De modo que o primeiro degrau rumo à reconquista é não dar passo algum - não na direção dele. A idéia é fazê-lo perceber que saiu perdendo por tê-la dispensado. Então, mantenha a calma e não o procure. Pelo menos nos dois ou três primeiros meses da separação. Esse é o espaço de tempo que os especialistas chamam de "fase do alívio", quando a tendência é seu amado se sentir livre, leve, solto. Ele só não está preparado para a hipótese de já ter sido esquecido. É a hora certa para suas amigas ajudarem, aproveitando todas as chances para comentar com o rapaz que você está ótima. Não que dê a mínima para o que aconteceu; ao contrário, sofre porque gosta dele, mas pretende tocar a vida. Assim, quando se encontrarem "por acaso", seu amado irá olhá-la com outros olhos. Aproveite para se mostrar amigável, porém não a ponto de aceitar qualquer avanço romântico ou sexual.

Drible na concorrência

Quais são as suas chances se ele já tiver outra? Depende de quem ela é e há quanto tempo estão juntos. Quando um homem troca uma mulher por outra, presume-se que comparou as duas e, no caso, você perdeu. Recomenda o bom senso que fique na sua e não se exponha tentando voltar. Espere para ver no que dá o novo namoro. Se, por outro lado, ele conheceu a outra depois que se separaram, você é quem deve fazer as comparações. São muito parecidas? Mau sinal. Significa que ele encontrou uma espécie de você melhorada - poucas rivais são mais difíceis de vencer que uma versão bem acabada da gente. São muito diferentes? Calma. Talvez ele esteja traumatizado com o fracasso da relação e resolveu tentar o oposto. Ninguém está dizendo que será fácil e não há garantia de que dará certo. Mas você não sairá dessa luta derrotada. Na pior das hipóteses aprenderá muito sobre si mesma e não voltará a cometer os mesmos erros - com ele ou com um novo amor.

6 dicas para ele nunca mais ir embora

Partilhar experiências, poder confiar no outro, crescer como pessoa são necessidades emocionais importantes num relacionamento. Para isso, é preciso haver respeito mútuo. Por isso, lembre-se:1 Quem não se sente importante para o outro também não se sente motivado para ficar.2 Ninguém agüenta a responsabilidade de ser o ar que o parceiro respira.3 Por mais que a ame, é natural que ele queira um mínimo de privacidade.4 Nem tudo que se faz por amor é necessariamente bom

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para seu amado - ou é o que ele deseja que você faça.5 Ser solidária e dar apoio não é a mesma coisa que tentar controlar e dirigir a vida dele.6 As incompatibilidades só ficam perigosas quando você faz de conta que elas não existem. 

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