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Michele Moreira Nunes
Avaliao do funcionamento cognitivo de pacientes com Sndrome de Williams-Beuren
Tese apresentada Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Cincias
Programa de: Pediatria Orientadora: Dra: Chong Ae Kim Co-orientador: Dr: Francisco B. A. Jnior
So Paulo 2010
Michele Moreira Nunes
Avaliao do funcionamento cognitivo de pacientes com Sndrome de Williams-Beuren
Tese apresentada Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Cincias
Programa de: Pediatria Orientadora: Dra: Chong Ae Kim Co-orientador: Dr: Francisco B. A. Jnior
So Paulo 2010
Verso Original Corrigida
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
Preparada pela Biblioteca da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo
reproduo autorizada pelo autor
Nunes, Michele Moreira Avaliao do funcionamento cognitivo de pacientes com Sndrome de Williams-Beuren / Michele Moreira Nunes. -- So Paulo, 2010.
Tese(doutorado)--Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo. Programa de Pedriatria.
Orientadora: Chong Ae Kim.
Descritores: 1.Sndrome de Williams 2.Avaliao 3.Cognio 4.Dficit visuo-espacial 5.Traos autsticos
USP/FM/DBD-410/10
Dedicatria
A minha filha Vitria, meu maior tesouro.
Aos meus queridos pais Antnio e Suzana, por todo incansvel incentivo a minha
carreira, por terem me ensinado o grande valor do respeito, da perseverana, da
dedicao, da responsabilidade, pela valiosa oportunidade de ser sua filha.
Ao meu irmo Vincius, pela amizade e pela certeza de poder contar sempre com
ele.
AGRADECIMENTOS
A Deus, que o meu orientador divino, e que me guia nesses caminhos, nem sempre fceis, porm necessrios de serem percorridos como parte do meu crescimento espiritual e pessoal. Aos pacientes e seus familiares pelo exemplo de f, humildade, carinho, respeito e disponibilidade que foram fundamentais para a realizao deste trabalho. A minha orientadora Dra Chong, pesquisadora incansvel, pela confiana depositada em mim, pela motivao e disponibilidade durante a orientao. Ao meu co-orientador Dr Francisco B. Assumpo Jr., pela confiana, pacincia, respeito e competncia. A Presidente da Associao Brasileira de Sndrome de Williams-Beuren J Nunes, me da Jssica, quem eu pude conhecer e admirar pela sua incansvel luta na busca pelo respeito e direitos dos portadores de SWB. A Silvana Alves do Nascimento Vice Presidente da Associao Brasileira de Sndrome de Williams-Beuren. A Elizabeth Martins Campoy, secretria da Associao Brasileira de Sndrome de Williams-Beuren. A Dra Adriana Bhrer do Nascimento, mdica geneticista e diretora cientfica da Associao Brasileira de Sndrome de Williams-Beuren. A Dra Rachel Honjo, exemplo de competncia e profissionalismo. A biloga Roberta Lelis Dutra. As mdicas do grupo de gentica do Icr pelos esclarecimentos quanto aos termos mdicos.
Ao Dr. Ullysses Dria Filho, pela pacincia e auxlio na realizao da anlise estatstica. As funcionrias da Secretaria de Ps-Graduao, pelas orientaes constantes ao longo da realizao deste trabalho. A Bibliotecria Marinalva Arago da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo FMUSP, pela elaborao da ficha catalogrfica. A Mrcia Arruda (funcionria) e a bibliotecria Valria Lombardi da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo FMUSP. A Bibliotecria Mariza Kazue Umetsu do Instituto da Criana - FMUSP pela elaborao da reviso bibliogrfica. As colegas Ester Vargem Rodrigues Assistente Social e Vera Alice Alcntara dos Santos Amaral Pedagoga. A Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo FAPESP, pelo auxlio financeiro desta pesquisa. E, finalmente, a todos que, de alguma forma no se encontram aqui citados, mas que possuem minha considerao e reconhecimento para este estudo.
HOMENAGEM A JESSICA NUNES HERCULANO (in memria)
Preciso Saber Viver
Composio: Erasmo Carlos / Roberto Carlos
Quem espera que a vida
Seja feita de iluso
Pode at ficar maluco
Ou morrer na solido
preciso ter cuidado
Pra mais tarde no sofrer
preciso saber viver
Toda pedra do caminho
Voc pode retirar
Numa flor que tem espinhos
Voc pode se arranhar
Se o bem e o mal existem
Voc pode escolher
preciso saber viver
preciso saber viver
preciso saber viver
preciso saber viver
Saber viver, saber viver!
Esta tese est de acordo com as seguintes normas, em vigor no momento desta publicao: Referncias: Adaptado de International Committee of Medical Journals Editors (Vancouver) Universidade de So Paulo. Faculdade de Medicina. Servio de Biblioteca e Documentao. Guia de apresentao de dissertaes, teses e monografias da FMUSP. Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Julia de A. L. Freddi, Maria F. Crestana, Marinalva de Souza Arago, Suely Campos Cardoso, Valria Vilhena. 2 Ed. So Paulo: Servio de Biblioteca e Documentao; 2005. Abreviaturas dos ttulos dos peridicos de acordo com List of Journals Indexed in Index Medicus.
SUMRIO
Lista de abreviaturas
Lista de Tabelas
Lista de Figuras
Resumo
Abstract
INTRODUO 01
Consideraes histricas 03
Incidncia 04
Quadro Clnico 05
Etiologia e Diagnstico da SWB 06
Fentipo Neurocognitivo 13
Sndrome de Williams Beuren e Autismo 17
JUSTIFICATIVA 19
OBJETIVOS 21
METODOLOGIA 23
Procedimentos 24
Casustica 24
Critrios de incluso 25
Tratamento dos dados 25
Instrumentos de avaliao 25
WAIS - Wechsler adult intelligence scale 25
WISC - Wechsler intelligence scale children 25
Figuras complexas de Rey 29
Escala de traos autsticos ATA 30
RESULTADOS 32
DISCUSSO 40
CONCLUSES 52
ANEXOS 54
BIBLIOGRFIA 81
LISTA DE ABREVIATURAS
ATA - Escala de Traos Autsticos
CAPPesq - Comit de tica para Anlise de Projetos de Pesquisa
FISH - Fluorescence In Situ Hibridisation
EAS Estenose de aorta supravalvar
EAP Estenose de artria pulmonar
ELN - Genes da elastina
Icr - Unidade de Gentica do Instituto da Criana
LIMK1 - LIM-KINASE 1
MLPA - Multiplex Ligationdependent Probe Amplification
QI - Quociente Intelectual
QIE - Quociente Intelectual de Executivo
QIT - Quociente Intelectual Total
QIV - Quociente Intelectual Verbal
SWB - Sndrome de Williams-Beuren
WAIS - Wechsler adult intelligence scale
WISC - Wechsler intelligence scale children
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Descrio das variveis do WISC III: Funo verbal
TABELA 2 - Descrio das variveis do WISC III: Funo execuo
TABELA 3 - Descrio das variveis do QI verbal, execuo e total (WISC III).
TABELA 4 - Descrio dos ndices de compreenso verbal, organizao perceptual,
resistncia distrao e velocidade de processamento (WISC III).
TABELA 5 - Descrio das variveis do WAIS III: Funo verbal
TABELA 6 - Descrio das variveis do WAIS III: Funo execuo
TABELA 7 - Descrio das variveis do QI verbal, execuo e total (WAIS III).
TABELA 8 - Descrio dos ndices de compreenso verbal, organizao perceptual,
ndice e memria operacional e velocidade de processamento (WAIS III).
TABELA 9 - Descrio das variveis do dficit visuo-espacial
TABELA 10 Descrio das variveis de sujeitos com presena de traos autsticos e
sem traos autsticos, divididos por sexo.
TABELA 11- Descrio das variveis de sujeitos com presena de traos autsticos e
sem traos autsticos versus dficit visuo-espacial.
TABELA 12 Descrio do tamanho da deleo com presena de traos autsticos e
sem traos autsticos.
TABELA 13 - Descrio do resultado positivo e negativo materno/paterno
LISTA DE FIGURAS
FIGURA1: Cromossomo 7 do gentipo humano
FIGURA 2: a) FISH Positivo, b) FISH Negativo
FIGURA 3: Representao esquemtica da regio 7q11.23)
FIGURA 9.1: Freqncia de traos autsticos
Nunes MM. Avaliao do funcionamento cognitivo de pacientes com Sndrome de
Williams-Beuren. Tese (doutorado). So Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade
de So Paulo; 2010. 88 p
Sndrome de Williams-Beuren (SWB) caracterizada por fcies tpico, estenose
artica supravalvar, retardo mental, hiperacusia e anormalidades comportamentais com
personalidade amigvel e distrbios de ansiedade. causada por microdeleo de
genes contguos localizados na regio 7q11.23.
Foram estudados 31 pacientes WBS (19 M e 12 F) a idade variou de 9 a 26 anos
(mediana 14). O diagnstico da SWB foi confirmado pelo FISH (Fluorescence In Situ
Hibridisation) ou anlise de marcadores microssatlites em todos os pacientes.
Os objetivos foram avaliar a capacidade cognitiva, o QI (Quociente de
Inteligncia) de execuo, verbal e total, a freqncia de dficits visuo-espaciais, traos
autisticos e comparar os resultados encontrados com os moleculares. Os testes utilizados
foram: WISC-III, WAIS-III, Figuras Complexas de Rey e Escala de Traos Autsticos
(ATA).
O QI total variou de 51 a 86 (mediana de 63): 22 com deficincia mental leve, 4
com deficincia mental moderada; 4 limtrofes, 1 mdia inferior. Todos os pacientes
apresentaram dficit visuo-espacial. A freqncia de traos autisticos foi encontrada em
13/31 pacientes (41,94%) com predomnio no sexo masculino (10M: 3F). No foi
encontrada correlao entre a presena de traos autsticos em relao ao tamanho da
deleo.
Nosso estudo refora a importncia da avaliao sistemtica da funo cognitiva
em pacientes com SWB e alerta para a presena da alta freqncia de traos autsticos
encontrados em pacientes com SWB.
Estes ltimos dados so preliminares e novos estudos sero necessrios para
confirmar esse achado especfico na SWB.
Palavras-chave: Sndrome de Williams, avaliao, cognio, dficit visuoespacial,
traos autsticos.
Nunes MM. Assessment of cognitive functioning of patients with Williams-Beuren
Syndrome. Tese (doutorado). So Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de So
Paulo; 2010. 88 p.
Williams-Beuren syndrome (WBS) is characterized by typical facies,
supravalvular aortic stenosis, mental retardation, hyperacusis and behavioral
abnormalities with overfriendly personality and anxiety disorders. It is caused by a
microdeletion of continuous genes located in 7q11.23 region.
We studied 31 WBS patients (19 M and 12 F) whose ages ranged from 9 to 26
years (median 14y). The diagnosis of WBS was confirmed by FISH or microsatellite
markers analysis in all patients.
The objectives were to evaluate cognitive ability, IQ(Intelligence Quotient)
execution, verbal and total, frequency of visual-spatial deficits and autistic traits and
compare the results of molecular findings. The tests used were the WISC-III, WAIS-III,
Rey Complex Figure and a scale of autistic traits (ATA).
The total IQ ranged from 51 to 86 (median 63): 22 with mild intellectual
disability, 4 with moderate metal retardation, 4 limitrofe and 1 below the normal mean.
All patients had marked visual-spatial deficit. The frequency of autistic traits were found
in 13 of 31 patients (41.94%) with a predominance in males (10M:3F). There was no
correlation with the incidence of autistic traits in relation to the size of the deletion.
Our study reinforces the importance of the systematic assessment of cognitive
function in WBS patients, and alerts researchers to the presence of a high frequency of
autistic traits found in patients with WBS. These latter data are preliminary and further
studies are necessary to confirm this specific finding in WBS patients.
Keywords: Williams syndrome, acessment, cognition, visual-spatial deficits, austistic traits.
INTRODUO
Introduo Williams et al. (1961) foram os primeiros a descrever a sndrome que ser
abordada na presente tese. Posteriormente, em 1962, Beuren et al. (1972) descobriram
novas caractersticas que compem o fentipo da doena (cf. Elioglu et al., 1998;
McKusick, 1994).
Os indivduos portadores da Sndrome de Williams-Beuren (SWB) apresentam
microdeleo hemizigtica do brao longo do cromossomo 7, na regio 7q11.23, que
inclui o gene da elastina. A SWB um distrbio multissistmico, com fentipo
complexo, que apresenta como principais caractersticas: aparncia facial dismrfica,
anormalidades cardiovasculares, baixa estatura, retardo mental, anormalidades do tecido
conjuntivo, perfil cognitivo e personalidade amigvel (Morris et al., 1993; Elioglu et.
al., 1998).
O diagnstico da SWB feito atravs do reconhecimento das caractersticas
clnicas tpicas e, posteriormente, confirmado por testes laboratoriais. A base para esses
testes confirmatrios hemizigosidade do gene da elastina. O mtodo para a deteco
dessa anormalidade a tcnica de FISH (Fluorescence In Situ Hybridization), MLPA
(Multiplex Ligation-dependent Probe Amplification) ou anlise de marcadores
microssatlites.
Dentre os diversos aspectos que caracterizam a SWB, salientam-se aqueles
referentes s alteraes moleculares responsveis pelos traos fenotpicos. A correlao
fentipo-gentipo apresenta muitos pontos a serem elucidados, decorrendo da o
interesse dos autores em discorrer sobre essa sndrome, com abordagem voltada,
principalmente, para os aspectos cognitivos.
2
Consideraes histricas A SWB uma doena caracterizada por mltiplas anomalias associadas a retardo
mental, descrita quase ao mesmo tempo por Williams et al. (1961) na Nova Zelndia e
por Beuren et al. (1962) na Alemanha.
Em seu trabalho, Williams et al. (1961) descreveram quatro crianas com
fcies peculiar e estenose artica supravalvular (EAS). No ano seguinte, Beuren et al.
(1962) descreveram quatro pacientes com caractersticas clnicas semelhantes, somadas
presena de estenose da artria pulmonar. Com base nas evidncias, observaram tratar-
se de uma sndrome no descrita previamente na literatura mdica.
A etiologia desta doena permaneceu desconhecida at 1993, quando Ewart et al.
(1993) demonstraram que a completa deleo de um dos alelos da elastina implicava a
patognese desta doena.
Figura: 1 - Cromossomo 7 do gentipo humano
3
Incidncia A incidncia da SWB foi estimada em 1:25.000 a 1:40.000 (Morris et al., 1993).
considerada uma entidade rara pela maioria dos autores, no existindo predomnio por
sexo, raa ou regio geogrfica (Lashkari et al., 1999). A ocorrncia de casos familiares
rara, mas quando presente obedece a um padro de herana autossmica dominante
(Morris et al., 1993).
4
Quadro clnico A SWB caracteriza-se pela presena de fcies dismrfico tpico, cardiopatia
congnita, baixa estatura, anomalias renais e genitourinrias, deficincia mental e,
ocasionalmente, hipercalcemia na lactncia (Pagon et al., 1987; Morris et al., 1998;
Lashkari et al., 1999).
Os indivduos com SWB tendem a exibir linguagem relativamente pobre, grande
habilidade para reconhecer as pessoas e escassez de recursos intelectuais, como
dificuldades para fazer clculos matemticos. Alm destas caractersticas, podem
apresentar reduo da habilidade motora, da cognio espacial e outras (Lashkari et al.,
1999; Sugayama, 2001). Ainda assim, frequentemente manifestam comportamentos
emocionais distintos, como: hiperatividade, desinibio social, afabilidade, insegurana
e baixa capacidade de concentrao. Estas caractersticas podem contribuir para
dificuldades de aprendizado, alm de comprometer o relacionamento interpessoal e
prejudicar a adaptao social (Preus, 1984; Gosch e Pankau, 1996).
Os principais critrios diagnsticos da SWB consistem em fcies peculiar,
estenose artica supravalvular (EAS) ou estenose da artria pulmonar (EAP), dficit de
crescimento, anomalias dentrias, retardo mental e hipercalcemia infantil (Jones e Smith,
1975; Pagon et al., 1987). Outros achados, como hrnia inguinal e umbilical, contraturas
articulares, sinostose radioulnar e estrabismo so frequentes e tambm devem ser
considerados no diagnstico.
A suspeita diagnstica da SWB pode ser feita com base na presena do conjunto
das anomalias citadas. No entanto, o diagnstico clnico pode ser confirmado por meio
da realizao do estudo citogentico molecular, no qual se verifica a perda de um dos
alelos do gene da elastina, pela tcnica de hibridizao in situ por fluorescncia (FISH),
Multiplex Ligation-dependent Probe Amplification (MLPA) ou anlise de marcadores
microssatlites.
5
Etiologia e diagnstico da SWB Desde os relatos iniciais da doena at o incio da dcada de 90, o diagnstico da
SWB era feito com base nos sinais clnicos (Williams et al. 1961; Preus, 1984).
Contudo, o diagnstico clnico tornava-se muito difcil em algumas situaes,
como durante os primeiros anos de vida e nos pacientes com fentipo varivel que
tambm poderia se modificar com a vida adulta (Borg et al., 1995).
A maior contribuio para o diagnstico da SWB ocorreu quando Ewart et al.
(1993) estudaram nove casos de SWB, sendo cinco espordicos e quatro familiares, e
concluram que esta causada por delees submicroscpicas do cromossomo 7 na
regio 7q11.23. Nestes nove casos, a deleo cromossmica no lcus do gene da elastina
foi identificada pela tcnica da hibridizao in situ com fluorescncia (FISH),
utilizando-se a sonda da elastina genmica pELN5-4.
A partir deste estudo, a SWB passou a ser considerada uma sndrome de deleo
de genes contguos da regio 7q11.23 (brao longo do cromossomo 7), com padro de
herana autossmica dominante. Esta deleo encontra-se presente em 96 a 100% dos
afetados (Ewart et al., 1993; Borg et al., 1995; Elioglu et al., 1998). Este mtodo,
altamente sensvel, confirma o diagnstico nos afetados, possibilitando melhor
abordagem teraputica, aconselhamento gentico precoce e adequado, e preveno das
complicaes.
Alm disso, este achado representou uma grande contribuio para o diagnstico
desta sndrome, principalmente em casos de dificuldade diagnstica, especialmente nos
primeiros anos de vida e naqueles com manifestaes clnicas variadas e atpicas.
Borg et al. (1995) demonstraram concordncia em 100% dos casos, ao avaliarem
cinco pacientes com os achados clinicamente clssicos da SWB, onde todos
apresentaram a deleo no lcus da elastina, refletindo a alta sensibilidade e
especificidade deste mtodo diagnstico.
Uma srie de estudos moleculares identificou alguns genes individuais
responsveis pelo fentipo da SWB. O gene da elastina fica localizado na regio
cromossmica afetada na SWB. Sua deleo parece ser a causa das alteraes
6
cardiovasculares e do tecido conjuntivo que frequentemente ocorrem na SWB, alm de
hrnias da parede abdominal, envelhecimento precoce da pele, hiperextensibilidade
articular, voz rouca, dismorfismos faciais, divertculos vesicais e outras anormalidades.
O segundo gene mais frequentemente deletado nos afetados pela SWB o gene
LIM-KINASE 1 (LIMK1). A deleo deste gene, expresso no sistema nervoso central
(SNC), seria responsvel pelo perfil cognitivo peculiar da SWB, caracterizado pela
deficincia de integrao visiomotora (Frangiskakis et al., 1996).
J foram identificados mais de 15 genes na regio 7q11.23, alm dos genes da
elastina (ELN) e LIM-KINASE 1 (LIMK1), cuja importncia na SWB ainda esta sendo
investigada.
Foram descritos, na literatura, dois sistemas de pontuao fenotpica (escores)
para auxiliar o diagnstico diante da suspeita clnica. Preus (1984) elaborou um sistema
de pontuao com base em 50 caractersticas clnicas, incluindo anomalias menores.
Este mtodo foi considerado muito complexo, e o prprio autor admitiu a possibilidade
de ocorrer discrepncias no caso de um mesmo paciente ser avaliado por diferentes
examinadores. Lowery et al. (1995), avaliando 110 pacientes portadores da SWB,
elaboraram um sistema de pontuao fenotpica e demonstraram que 96% dos pacientes
examinados com as caractersticas fenotpicas da SWB apresentavam o teste de FISH
positivo.
Em nosso meio, para auxiliar na suspeita diagnstica da SWB, Sugayama (2001)
elaborou um sistema de pontuao fenotpica com base na presena ou ausncia de 15
caractersticas clnicas. Neste estudo, envolvendo 20 afetados, realizou-se uma
metanlise para definir quais caractersticas clnicas estariam associadas ao teste de
FISH positivo, sendo que as mais significativas foram: fcies tpico, retardo do
crescimento intrauterino, dificuldades alimentares, obstipao, anomalias dentrias,
EASV e personalidade amigvel. Para cada indivduo, a tabela foi aplicada e os pontos,
somados. Os valores da pontuao nos 17/20 pacientes FISH positivos variaram de 19 a
28 pontos e os valores dos afetados FISH negativos, de 12 a 16. Utilizando este sistema
de pontuao, a possibilidade do paciente com valor igual ou superior a 20 pontos ser
FISH negativo foi zero. Portanto, este sistema de pontuao seria um recurso de triagem,
7
e o teste de FISH estaria indicado somente para os indivduos com sinais de SWB e
pontuao inferior a 20.
Apesar dos importantes e recentes avanos no diagnstico gentico da SWB, esta
continua sendo considerada uma doena com sinais clssicos e de diagnstico clnico.
Vrias tcnicas esto disponveis, entre elas o FISH (Fluorescence In Situ
Hybridization), estudo de marcadores polimrficos de DNA e o MLPA (Multiplex
Ligation-dependent Probe Amplification).
Fluorescence In Situ Hybridization (FISH) na SWB Embora os portadores da SWB apresentem um perfil fenotpico bastante
caracterstico, o diagnstico de certeza s possvel com a realizao de testes
moleculares apropriados. A citogentica clssica pelo bandamento G (Giemsa) muito
til para pesquisar as translocaes. Todavia, o nvel de resoluo desta tcnica no
possibilita a deteco da microdeleo 7q11.23. A introduo das tcnicas moleculares
na citogentica clssica, como o mtodo de hibridao in situ por fluorescncia (FISH),
solucionou este problema, pois consegue detectar delees inferiores a 5 Mb. Vrios
pacientes com caractersticas clnicas da SWB comearam a ser diagnosticados com a
deleo 7q11.23 (Hoovers et al., 1999; Igbal et al., 1999; Sugayama, 2001).
Hirota et al., em 1996, encontrou uma positividade de 100% no FISH de 32
pacientes estudados, assim como Brewer et al. (1996), em outros 16 casos. Elioglu et
al. (1998) realizou FISH em 16 pacientes com achados clnicos de SWB e encontrou
deleo em 14 deles. Em tese de Doutorado desenvolvida na Unidade de Gentica do
ICr, Sugayama (2001) realizou FISH em 20 pacientes com diagnstico clnico de SWB,
encontrando uma confirmao (FISH positivo) em 17 pacientes (85%).
Embora atualmente seja o mtodo padro-ouro para o diagnstico da SWB, o
FISH tem um custo muito elevado, o que dificulta sua utilizao na rotina laboratorial
em hospitais pblicos.
8
Figura 2: FISH
a) FISH Negativo
b) FISH Positivo
9
Marcadores polimrficos de DNA na SWB Outra forma de diagnstico menos dispendiosa para a deteco das delees o
uso de marcadores polimrficos de DNA (Gilbert-Dussardier et al., 1995; Urban et al.,
1996; Dutly e Schinzel, 1996), que tem se tornado uma ferramenta importante no estudo
de microdelees. Com essa tcnica possvel definir a origem parental do cromossomo
deletado e mapear os pontos de quebra cromossmica. Por isso, o uso de marcadores
pode detectar delees atpicas e pequenas delees.
A grande maioria dos pacientes com SWB (90%) apresenta uma deleo de 1,55
Mb. Cerca de 8% dos pacientes apresenta uma deleo de 1,83 Mb (Bays et al, 2003).
Apenas 2% dos casos apresentam delees maiores ou menores que afetam sempre o
mesmo intervalo, com quadros clnicos atpicos, muitas vezes correlacionados com o
tamanho da deleo. Os pacientes com delees variveis tm sido muito teis para
estudos de correlao clnico-molecular.
A deleo pode ser de origem materna ou paterna (Ewart et al., 1993; Dutly e
Schinzel, 1996; Urban et al., 1996). Wu et al. (1998) no observou diferenas
fenotpicas entre pacientes com deleo de origem parental distinta, mas Jurado et al.
(1996) relacionou microcefalia e um atraso do crescimento mais marcante s delees
nos cromossomos de origem materna.
10
http://www.genetests.org/servlet/access?id=8888891&key=t-J0jzQyxIcZS&gry=INSERTGRY&fcn=y&fw=7LHM&filename=/glossary/profiles/williams/details.html#gcID2877#gcID2877http://www.genetests.org/servlet/access?id=8888891&key=t-J0jzQyxIcZS&gry=INSERTGRY&fcn=y&fw=7LHM&filename=/glossary/profiles/williams/details.html#gcID2875#gcID2875http://www.genetests.org/servlet/access?id=8888891&key=t-J0jzQyxIcZS&gry=INSERTGRY&fcn=y&fw=7LHM&filename=/glossary/profiles/williams/details.html#gcID2875#gcID2875http://www.genetests.org/servlet/access?id=8888891&key=t-J0jzQyxIcZS&gry=INSERTGRY&fcn=y&fw=7LHM&filename=/glossary/profiles/williams/details.html#gcID2917#gcID2917
Figura 3: Representao esquemtica da regio 7q11.23.
11
Multiplex Ligation-dependent Probe Amplification (MLPA) na SWB Em 2002, Schouten et al. descreveram a tcnica de MLPA, um mtodo novo e
relativamente fcil de detectar delees e duplicaes de sequncias-alvo especficas,
com hibridao simultnea e amplificao de mais de 40 sondas diferentes em uma
nica reao.
O MLPA pode ser utilizado para a avaliao molecular de pacientes que
apresentem caractersticas clnicas da SWB. A deleo em 7q11.23 pode ter um tamanho
varivel (Bays et al, 2003), envolvendo o gene da elastina (ELN) e outros genes
adjacentes. Foi desenvolvido um kit para MLPA especfico para a SWB, capaz de
detectar delees ou duplicaes de um ou mais xons dos seguintes genes: ELN,
CYN2, TBL2, STX1A, LIMK1, RFC2 e FKBP6.
Em outras sndromes para as quais j haviam kits para MLPA, como a sndrome
da deleo 22q11.2, existem trabalhos comparando essa tcnica com outras, tais como
FISH e marcadores polimrficos de DNA. Fernndez et al, em 2005, comparou os
resultados de 30 pacientes com sndrome 22q11.2. Todos os pacientes com diagnstico
prvio por FISH tiveram alteraes quando analisados por MLPA. Alm disso, os
resultados pelo MLPA foram concordantes em todos os pacientes com anlise de
marcadores polimrficos no que diz respeito ao tamanho da deleo, e conseguiram
resolver sete casos que estavam indeterminados pela anlise dos marcadores.
Em 2007, Kirchhoff et al. estudaram 258 pacientes com deficincia mental e
dismorfias com um kit de MLPA desenvolvido para um painel de sndromes com
deficincia mental (sndromes da deleo 1p36, Sotos, Williams-Beuren, Prader-Willi,
Angelman, Miller-Dieker, Smith-Magenis e deleo 22q11). Foi encontrado um paciente
com SWB e outro com uma pequena duplicao 7q11.
No h, at o presente momento, na literatura estudo especfico para a SWB
utilizando essa metodologia.
12
Fentipo Neurocognitivo A sndrome de Williams aparece frequentemente descrita por um perfil de picos
e vales, em que uma preservao ou excelncia de funcionamento social e da
linguagem contrastam com profundos dficits em termos do funcionamento cognitivo
global e visioespacial (e.x.: Bellugi, Korenberg e Klima, 2001). Por exemplo, as crianas
diagnosticadas com sndrome de Williams so descritas como altamente socializveis,
com um alto nvel de desenvolvimento verbal e revelando-se, no contexto da sua
interao com os outros, verdadeiros contadores de histrias. No entanto, este
aparentemente elevado nvel de funcionamento social e lingustico no de modo algum
correlativo de um elevado funcionamento cognitivo geral. Muito pelo contrrio, estas
crianas tm frequentemente um QI na faixa de deficincia mental leve a moderado,
com acentuadas dificuldades em termos de raciocnio espacial, aptides de soluo de
problemas ou mesmo da motricidade fina.
O fentipo neurocognitivo inclui tambm a facilidade para habilidades musicais
e para o reconhecimento facial (Pagon et al., 1987; Udwin e Yule 1990; Jarrold et al.,
1998; Mervis et al., 2000; Atkinson et al., 2001).
A caracterstica de fala fluente, bem articulada e gramaticalmente correta,
contrastando com prejuzos cognitivos, compuseram as primeiras e principais descries
sobre o fentipo comportamental da SWB.
Segundo Galaburda et al. (2002) sob o ponto de vista neuroanatmico, os
portadores desta sndrome apresentam uma reduo no volume cerebral (cerca de 13%).
Esta diminuio de volume no , no entanto, homognea, encontrando-se uma
preservao proporcional de determinadas estruturas, contrastando com outras que se
encontram claramente em dficit. Estes estudos tendem a sustentar a existncia de uma
preservao proporcional das reas corticais anteriores e temporo-lmbica
(circunvoluo temporal-superior) e, sobretudo, para a predominncia do neocerebelo.
Em termos cognitivos gerais, embora as investigaes tendam a chamar a
ateno para uma disperso substancial das amostras e da possibilidade da existncia de
endofenotipos, a verdade que se assiste, de um modo geral, a um acentuado dficit
intelectual (QI mdio de 55 com um desvio padro de 11 pontos), associado a
13
dificuldades generalizadas na realizao de tarefas conceituais e de soluo de
problemas (e.x.: conservao do nmero, peso ou substncia). O perfil de
disfuncionamento cognitivo semelhante ao encontrado na Sndrome de Down, no
existindo diferenas significativas entre estas duas sndromes em termos de QI verbal,
QI de execuo e QI total (Bellugi et al., 2000). Sob o ponto de vista visuoespacial,
esses indivduos apresentam profundos dficits, evidenciando grandes dificuldades quer
nas tarefas de desenho livre quer nas cpias de figuras geomtricas. Assiste-se,
sobretudo, a uma grande dificuldade na integrao e coeso da informao
visuoespacial. Alguns estudos tm apontado para o fato destas dificuldades espaciais
estarem ligadas s estratgias utilizadas no processamento, apontando para o fato de os
sujeitos com Sndrome de Williams privilegiarem estratgias locais em detrimento de
estratgias globais (Bellugi et al.,2000; Farran e Jarrold, 2003; Farran, Jarrold e
Gathercole, 2001).
No entanto, estes dficits em termos cognitivos gerais e de processamento
visuoespacial parecem contrastar claramente com aquilo que se passa em termos do
desenvolvimento socioafetivo e lingustico. No domnio socioafetivo, a investigao
aponta para uma significativa capacidade para reconhecer, discriminar e lembrar de
faces familiares e no familiares, em vrias condies de iluminao e orientao, e que
estas capacidades contrastam com acentuados dficits nas mais diversas tarefas
visuoespaciais (Rossen, Jones, Wang e Klima, 1995). Do mesmo modo, bebs com
SWB demonstram uma excessiva atrao pela face de adultos (Jones, Bellugi, Lai,
Chiles, Reilly e Adolphs, 2000).
Quanto a linguagem expressiva, tm sido apresentados dados acerca da relativa
preservao dos aspectos lexicais, sintticos e semnticos, sobretudo em funo do que
seria de esperar tendo em conta os dficits de funcionamento cognitivo geral. Estudos
realizados por Bellugi et al. (2001) apontam para trs aspectos principais: Em primeiro
lugar, estes pacientes apresentam resultados particularmente elevados, quer em termos
de compreenso e produo, quer em testes da linguagem expressiva; esta capacidade
acrescida ainda extensiva a nveis metalingusticos, permitindo-lhes a expresso
correta de modos gramaticalmente complexos. Em segundo lugar, estes pacientes so
14
prolixos na produo vocabular corrente e ainda na produo de vocbulos invulgares.
Finalmente, naquela que talvez a sua caracterstica narrativa mais distintiva, estes
pacientes apresentam um significativo envolvimento afetivo nas suas histrias,
manifestado por abundante prosdia (e.x.: modificaes do ritmo e volume da voz),
comentrios acerca dos afetos das personagens, uso de discurso direto, efeitos de som e
frases exclamatrias.
No entanto, alguns autores tm reclamado que esta dissociao presente no
fentipo cognitivo de indivduos com Sndrome de Williams mais aparente do que
real, e que resulta de vrios artefatos metodolgicos, a partir dos quais destacam-se trs
situaes problemticas:
Em primeiro lugar, o fato de grande parte dos estudos utilizarem como
populaes controle outras perturbaes genticas ou o mero emparelhamento em
termos de idade mental pode dar uma falsa iluso da natureza intacta de determinadas
funes (Mervis, 2003).
Em segundo lugar, possvel que alguns dos resultados encontrados sugerindo
uma excelncia no desenvolvimento da linguagem sejam falsamente induzidos pela boa
memria verbal e pela utilizao privilegiada das estratgias fonolgicas em detrimento
das semnticas (Kamirloff-Smith et al., 2003).
Em terceiro lugar, no mnimo estranho que, sendo a narrativa uma tarefa
neurocognitiva de grande complexidade que envolve uma multiplicidade de funes
executivas, lingusticas, atencionais, mnsicas e afetivas , ela possa estar sequer
preservada numa sndrome com caractersticas neurodesenvolvimentais implicando
alteraes ao nvel de diferentes estruturas e mecanismos de funcionamento intercortical
e crtico-subcortical.
Com efeito, estudos realizados com outros tipos de perturbaes
psicopatolgicas, mesmo na ausncia de etiologia gentica definida, tm chamado a
ateno para as possibilidades de alteraes na estrutura, processo e contedos da
narrativa; mostrando ser a narrativa um elemento particularmente sensvel da qualidade
do funcionamento neurocognitivo (Gonalves et al., 2002; Gonalves et al., 2000;
Gonalves et al., 2002).
15
Os estudos de reviso realizados por Meyer-Lindenberg et al. (2009) sobre as
relaes entre as funes psicolgicas e o substrato estrutural neural na SWB,
destacaram que, embora pessoas com esta sndrome relatem estados de bem-estar
subjetivo, as avaliaes psicolgicas padronizadas indicam a presena de transtorno do
humor e fobias especficas. Korenberg et al. (2008) realizaram um estudo de reviso
sobre o fentipo social e concluram que os portadores desta sndrome apresentam:
ausncia de acanhamento, boa socializao, empatia e altos nveis de ansiedade e tenso.
Recentemente, Marini et al. (2010) investigaram a fluncia verbal e a habilidade
de narrativa oral de 9 indivduos com a SWB, comparando-as s de um grupo com idade
mental semelhante. A fluncia verbal foi avaliada em situao de nomeao, sendo
verificado desempenho semelhante aos controles. J a narrativa oral foi obtida com o
uso de pranchas de figuras em sequncia e uma prancha nica (prancha do roubo dos
biscoitos). Os resultados mostraram que os indivduos com a SWB apresentam
desempenho diferente quanto aos aspectos macro e microlingusticos da narrativa. Os
autores verificaram que os indivduos com esta sndrome eram capazes de produzir o
mesmo nmero de palavras com velocidade de fala semelhante em relao aos controles,
mas com prejuzo significativo quanto coerncia global da narrativa, principalmente,
no instrumento de figuras em sequncia. Esses achados sugeriram que o estmulo
utilizado para avaliar a narrativa pode ter influenciado no desempenho dos mesmos,
considerando que o uso de figuras em sequncia requer uma narrativa mais elaborada, se
comparada figura nica, que leva a uma descrio. Os autores concluram que as
dificuldades apresentadas pelos indivduos com a SWB na narrativa oral utilizando
instrumentos visuais devem-se aos prejuzos na organizao e ao processamento das
informaes e no s dificuldades da anlise perceptual do estmulo.
Podemos observar que estudos voltados para a caracterizao do fentipo
neurocognitivo e lingustico desta sndrome, associados a estudos moleculares, podero,
num futuro prximo, trazer benefcios aos pacientes e a seus familiares, uma vez que
esses resultados podero auxiliar a conduta do aconselhamento gentico e as
perspectivas de interveno.
16
Sndrome de Williams-Beuren e Autismo A SWB um distrbio neurolgico causado por uma deleo na regio 7q11.23
que inclui pelo menos 17 genes. Segundo pesquisa realizada por Herguner e Mukaddes
(2006), a presena de caractersticas autistas na SWB uma questo controversa.
Enquanto alguns autores descrevem um fentipo oposto ao do autismo, estudos recentes
indicam que ambos compartilham muitas caractersticas em comum. Estudos de gentica
molecular tm mostrado que a supresso do gene da elastina pode explicar as anomalias
cardiovasculares vistas na SWB, mas que as caractersticas autistas so provavelmente
causadas por outros genes que flanqueiam elastina.
Segundo pesquisas realizadas por Targer-Flusberg et al. (2006), o autismo e a
SWB so entendidos geneticamente como perturbaes do desenvolvimento neurolgico
e apresentam diferentes fentipos sociais. Autismo envolve deficincias fundamentais na
reciprocidade social e de comunicao, enquanto as pessoas com SWB so altamente
sociveis e cativantes. Neste artigo, os autores reveem a literatura comportamental e de
neuroimagem, que explorou os mecanismos cognitivos que contribuem para estes
fentipos sociais, concentrando-se em estudos de processamento de rosto. O artigo
concludo com uma discusso de como os fentipos sociais de ambas as sndromes
podem ser caracterizadas pela deficincia de conectividade entre a amgdala e outras
regies crticas no crebro social.
Pesquisa realizada no departamento de psiquiatria e psicoterapia do Institute of
Mental Health ressaltou que faz-se necessrio maiores investigaes genticas, visto que
a medicina molecular vem apresentando grandes avanos acerca dos fentipos
comportamentais (Meyer-Lindenberg, 2009). Resultados de pesquisas sugerem que os
dficits sociais de ambos os transtornos podem aumentar, ao invs de reduzir, a
importncia da msica para os indviduos com SWB (Heaton e Allen, 2009).
Outros estudos tambm reconhecem a relao do funcionamento da amgdala ao
reconhecimento de faces e revelam um padro atpico na ativao desta regio cerebral
dos autistas, principalmente na regio da amgdala, durante o processamento visual de
faces humanas (Adolphs et al., 2001; Pelphrey et al., 2007; Spezio et al., 2007; Dalton et
al., 2007; Ashwina et al., 2007; Golarai et al., 2006; Schultz, 2005; Tirapu-Ustrroz et
17
al., 2007). E apontam essa estrutura como tendo papel importante na sociabilidade,
especificamente na relao com outras pessoas e na conduta social, e o envolvimento de
reas frontais (Valdizn, 2008).
18
JUSTIFICATIVA
Justificativa Uma caracterstica fundamental desta sndrome a reproduo de cpias
desordenada (Bellugi et al. 2000). As figuras so geralmente reprodues inexatas do
modelo, e a severidade do distrbio varia entre os sujeitos, a deficincia intelectual
tambm est presente em todos os pacientes. O coeficiente de inteligncia (QI) varia de
41 a 80 (Jones e Smith, 1975). Algumas crianas so mais afetadas que outras, porm a
maioria encontra-se na faixa de DM leve a moderada (Jones e Smith, 1975; Udwin et al.,
1996; Morris et al., 1988).
Com este estudo pretende-se trazer contribuies para uma compreenso
abrangente, de forma a possibilitar uma viso mais integrada desta sndrome, visto que
no foi realizado nenhum estudo deste tipo em nossa literatura.
20
OBJETIVOS
Objetivos Avaliar a habilidade cognitiva QI de execuo, verbal e total; frequncia de
dficit visuoespacial; frequncia de traos autsticos e comparar os achados
encontrados com os resultados moleculares nos pacientes com SWB.
22
METODOLOGIA
Metodologia
Procedimentos A pesquisa foi realizada na Unidade de Gentica do Instituto da Criana (ICr) do
Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo
(HCFMUSP). Este estudo foi submetido Comisso de tica para Anlise de Projetos
de Pesquisa da diretoria clnica do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de So Paulo (CAPPesq), em sesso de 11/10/2006, sendo aprovado o
protocolo de pesquisa nmero: 805/06 (anexo: 1) e o consentimento livre e esclarecido
(anexo: 2).
Os pacientes foram avaliados individualmente em sala adequada para isso.
Iniciei explicando a forma de preenchimento de cada instrumento utilizado na pesquisa e
a bateria de testes foi divida em:
1a WISC-III
2a WAIS-III
3a Figuras Complexas de Rey
4a ATA
Casustica Foram selecionados para esta pesquisa 31 crianas, adolescentes e adultos com
sndrome de Williams-Beuren, sendo 19 (dezenove) do sexo masculino e 12 (doze) do
sexo feminino.
Todos os participantes desta pesquisa estavam matriculados na Unidade de
Gentica do Instituto da Criana do HCFMUSP e, no caso dos menores de idade, os pais
assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. O presente projeto tem apoio
financeiro da FAPESP, processo n: 2008/55391-6.
24
Critrios de incluso Pacientes ambulatoriais com o diagnstico confirmado de sndrome de Williams-
Beuren.
Tratamento dos dados As informaes coletadas formam submetidas estatstica descritiva. Para
realizao dos clculos foi utilizado o software SPSS 13.0.
Esta anlise foi realizada sob orientao do Prof. Dr. Ullysses Dria Filho.
Instrumentos de avaliao
Escalas de Inteligncia: Wechsler intelligence scale children
(WISC-III) (Wechsler D. 2002) e Wechsler adult intelligence scale
(WAIS-III) (Wechsler D. 1997). As escalas Wechsler de inteligncia so amplamente utilizadas, fazendo parte das
baterias de avaliao neuropsicolgica. A correlao de seus resultados com a
localizao cerebral vem sendo objeto de muito estudo e tem contribudo
significativamente para o entendimento do crebro humano (Lezak, 1995; Spreen e
Strauss, 1998).
A estrutura geral das escalas dividida em dois grupos de subtestes: os verbais e
os no-verbais (ou execuo ou performance). Nas funes verbais, a soma dos escores
ponderados dos subtestes: vocabulrio, semelhana, aritmtica, nmeros, informao e
compreenso geram QI verbal. O QI performance decorrente da soma dos escores
ponderados dos subtestes: cdigo, smbolos, cubos, matrizes, arranjo de histrias, armar
objetos e labirintos.
A sobreposio das escalas para algumas faixas de idade permite ao examinador
escolher qual a mais adequada para certas situaes. Quando um examinando de 6 anos
j apresenta sinais de comprometimento das funes cognitivas mais conveniente
utilizar a escala Wechsler Primary and Intelligence Scale for Children WPPSI, pois se
25
for utilizada a escala WISC III, a criana encontrar muitas dificuldades logo no incio
de cada subteste, ao passo que com a outra escala ter oportunidade de mostrar algumas
de suas aquisies bsicas. O mesmo pode ser utilizado na sobreposio entre WISC III
e WAIS III (Wechsler Adult Intelligence Scale for Children) para a faixa de 16 anos.
Um adolescente de 16 anos com excelente desempenho acadmico pode ser avaliado
pelo WAIS III, mas aquele com longo comprometimento escolar respondero melhor ao
WISC III.
A seguir, descreveremos os subtestes das escalas WISC III; WAIS-III e suas
principais funes:
O subteste informao contm questes referentes a conhecimentos gerais,
incluindo nomes de objetos, data, fatos histricos e geogrficos, entre outros. Avalia-se
o conhecimento adquirido pelo indivduo em experincias vividas, no dependendo
exclusivamente de conhecimentos acadmicos, em que a memria um importante
aspecto a ser considerado. Ressalta-se que indivduos com alto desempenho nesse
subteste no necessariamente possuem eficincia mental e competncia para isso
necessrio que saibam utiliz-las.
No subteste semelhana, o examinador pede ao indivduo para falar das
semelhanas de cada par de palavras. So avaliados os conceitos verbais e habilidade
para integrar objetos e eventos pertencentes ao mesmo grupo, em que as respostas
podem ser concretas, referindo-se ao que pode ser visto ou tocado; funcionais ou
condizentes com a funo ou uso dos objetos; e abstrata, com propriedades mais
universais ou restritas a uma classificao de um grupo. O desempenho do avaliado
demonstra ser relacionado com suas oportunidades culturais e de acordo com o seu
interesse, a memria tambm est envolvida.
Vocabulrio um subteste que avalia o conhecimento de palavras, incluindo a
capacidade de aprendizagem, acmulo de informao de conceitos e desenvolvimento da
linguagem. Com o tempo, os resultados normalmente se apresentam estveis e, de certa
forma, resistentes a dficit neurolgico e distrbios psicolgicos.
O subteste compreenso contm a questo com situaes-problema, envolvendo
conhecimento corporal, relaes interpessoais e sociais. Indivduos que possuam
26
habilidades para relacionar experincias vividas na obteno de solues tero melhor
desempenho. Assim, as respostas so relacionadas a julgamento social, ou senso
comum, e compreenso de padres sociais.
A aritmtica um importante subteste que avalia o raciocnio numrico do
indivduo e sua capacidade para solucionar problemas, necessitando de ateno e
concentrao em partes selecionadas das questes e uso de operao numrica. Os itens
so apresentados oralmente, sendo que somente no WISC III os primeiros e ltimos
itens so apresentados visualmente; no so fornecidos papel e lpis ao indivduo a ser
testado e esse um teste com limite de tempo. A boa performance nesse subteste pode
ser garantia de um adequado processamento da informao para compreender e integrar
informaes verbais presentes no contexto matemtico.
O subteste nmeros (ou span de dgitos) aplicado oralmente e em duas
diferentes etapas. Na primeira apresentada uma sequncia de nmeros que variam de 3
a 8 dgitos, sendo solicitado ao indivduo que repita cada srie; so avaliadas a
aprendizagem e a memria, em conjunto com habilidade em processos sequenciais. Na
segunda etapa, a sequncia de nmeros varia de 2 a 8 dgitos e deve ser invocada
inversamente; envolve processos cognitivos mais complexos. O entrevistado avaliado
segundo sua capacidade de inverso de sequncia, flexibilidade, tolerncia ao estresse e
concentrao.
Completar figuras um subteste em que o examinador apresenta figuras com
desenhos, sendo que falta um elemento importante em cada uma, e solicita que esse
elemento seja identificado. So avaliados reconhecimento de objetivos, discriminao
visual e habilidade para diferenciar detalhes.
No subteste arranjo de histrias, pede-se ao examinador que organize uma srie
de figuras em sequncia lgica. um teste no-verbal, por meio do qual se avalia a
capacidade de organizao, planejamento e sequncias temporais, bem como se verifica
se a ideia geral de cada histria foi bem compreendida.
H, ainda, o subteste de cubos, os quais apresentam dois lados brancos, dois
vermelhos e dois bicolores. O indivduo avaliado precisa fazer uma montagem com
cubos idnticos ao modelo apresentado e, com isso, avalia-se sua habilidade de perceber
27
e analisar formas e seu raciocnio para questes visuoespaciais. um teste no-verbal,
que requer organizao perceptual e visualizao espacial; e que sofre interferncia da
atividade motora visual.
Armar objetos um subteste com limite de tempo para cada tarefa, no qual se
examina, principalmente, a capacidade de sntese. O examinado deve selecionar partes
de objetos familiares para formar um nico objeto. Para isto, necessrio ter habilidade
visuomotora, organizao perceptual e compreender o modelo por inteiro por
antecipao, diante das partes individuais apresentadas.
Cdigo consiste em uma etapa da Escala Weschler que requer cpias de
smbolos acompanhados por nmeros, envolvendo a discriminao e memria de
modelos visuais. Avalia-se a habilidade para aprender combinaes de smbolos e
formas e a capacidade para fazer associaes de forma rpida e precisa. Ateno,
memria imediata, motivao, flexibilidade cognitiva, coordenao visuomotora
tambm so importantes neste subteste, no qual o bom desempenho influenciado,
ainda, pela destreza com o lpis e o papel.
O ltimo subteste o labirinto, um teste complementar utilizado de acordo com
o interesse do avaliador, podendo ser correlacionado com as respostas obtidas
anteriormente. Mede a habilidade de planejamento e organizao perceptual,
necessitando de ateno e concentrao, controle visuomotor e velocidade combinada
com preciso.
28
Figuras complexas de Rey Oliveira et al., 1999 O teste de figuras complexas de Rey foi idealizado por Andr Rey, em 1942,
para auxiliar no diagnstico diferencial entre a debilidade mental constitucional e o
dficit adquirido, em conseqncia de traumatismo crnio-enceflico (Rey, 1999).
Contudo, foi Osterrieth que, em 1945, desenvolveu o trabalho de estudo gentico da
prova (Osterrieth, 1945).
Trata-se de um instrumento composto de uma figura complexa, geomtrica e
abstrata, composta por vrias partes. A aplicao constituda por dois momentos: no
primeiro deles pede-se ao sujeito que copie a figura com o maior nmero de detalhes
possveis. Posteriormente (aps trs minutos), pede-se ao sujeito que desenhe a mesma
figura sem o estmulo, isto , as partes que consegue lembrar-se do que realizou
anteriormente.
As tcnicas de screening neuropsicolgicos popularizam-se inicialmente entre
1940 e 1950 (Caffarra et al., 2002), quando se acreditava que as perdas cerebrais
poderiam ser identificadas por algumas manifestaes gerais. Desde ento, os testes
neuropsicolgicos tm se proposto a avaliar a cognio dos sujeitos em vrios
ambientes.
Este instrumento foi descrito como sendo um teste neuropsicolgico bastante
usado na prtica clnica para investigar a memria visual, a habilidade visuoespacial e
algumas funes de planejamento e execuo de aes. Tambm avalia a organizao, o
planejamento e as habilidades de resoluo de problemas (Fernando et al., 2003), bem
como a memria imediata (Lu et al., 2003). amplamente usado para explorar a
memria no-verbal. Um aspecto interessante desse teste que, criando-se uma ordem
significativa durante a cpia da figura, consequentemente a evocao da memria ser
melhor do que se no tivesse sido feito nenhum esquema ou ordem.
Este teste considerado um instrumento de extrema importncia para o auxlio
de dados na percepo visual e na memria imediata. Diante dos custos para realizar
outros tipos de exames que avaliam tais funes, este teste mostra-se eficaz, fidedigno e
de fcil aplicao.
29
Escala de Traos Autsticos (ATA) Ballabriga et al., 1994 adapt.
Assumpo et al., 1999 A escala ATA composta por 23 subescalas, cada uma das quais dividida em
diferentes itens. Sua construo foi realizada levando-se em conta os critrios
diagnsticos do DSM-III, DSM-III-R e da CID-10 e, na nossa padronizao, foram
utilizadas tambm as correes de critrios decorrentes da publicao do DSM-IV
(APA, 1995). Assim sendo, quinze das suas subescalas so representativas dos trs
critrios bsicos e somente as subescalas 8, 10 e 15 so apontadas como itens adicionais
nas escalas ERCN (chelle d'valuation resume du comportement autistique), ERCA-
IIIA (chelle d'valuation resume du comportement du nourrison) e na escala de
Rivire. As subescalas 1, 16 e 21 so aquelas que se apresentam com maior frequncia
nos instrumentos diagnsticos revisados pelos autores.
A ATA um instrumento de fcil aplicao, acessvel a profissionais que tm
contato direto com a populao autista, por exemplo, professores, bem como pais,
informando o estado atual do paciente. Ela aplicada por profissional conhecedor do
quadro, embora no necessariamente mdico, sendo ele o responsvel pela avaliao das
respostas dadas, em funo de cada item. No , portanto uma entrevista diagnstica,
mas uma prova estandardizada que d o perfil conductual da criana, embasada nos
diferentes aspectos diagnsticos. Baseia-se na observao e permite fazer seguimentos
longitudinais da evoluo, tendo por base a sintomatologia autstica, auxiliando tambm
a elaborao de um diagnstico mais confivel desses quadros. administrada aps
informao detalhada dos dados clnicos e evolutivos da criana, podendo auxiliar no
processo teraputico, possibilitando a avaliao constante. Pode ser aplicada a partir dos
dois anos de idade e, mesmo considerando-se que apresenta muitos itens especficos, os
autores referem-se a tempo pequeno para sua aplicao (ao redor de 20 a 25 minutos).
Na aplicao em nossa populao, o tempo mdio ficou entre 20 e 30 minutos,
aproximadamente.
A escala se pontua com base nos seguintes critrios: cada subescala da prova tem
um valor de 0 a 2; pontua-se a escala positiva no momento em que um dos itens for
30
positivo; a pontuao global da escala se faz a partir da soma aritmtica de todos os
valores positivos da subescala e seu ponto de corte de 15 pontos.
31
RESULTADOS
Resultados Os resultados obtidos para cada um dos testes foram descritos atravs de suas
medianas e valores mnimos e mximos.
A mediana de idade deste grupo de 14, com valor mximo de 26 e valor
mnimo 9.
13/31 eram alfabetizados, sendo que 15 estavam matriculados em escola
especial, 11 em escola comum e 5 estavam fora da escola.
Tabela 1: Descrio das variveis do WISC-III: Funo verbal
Varivel (n: 31) Mediana Valor mximo Valor mnimo
Informao 6,5 10 2
Semelhana 6,5 9 2
Aritmtica 4 7 1
Vocabulrio 5 9 1
Compreenso 6 9 2
Tabela 2: Descrio das variveis do WISC: Funo de execuo
Varivel (n: 31) Mediana Valor mximo Valor mnimo
Completar figuras 6 12 1
Cdigo 4 9 1
Arranjo de figuras 4 8 1
Cubos 2,5 6 1
Armar objetos 3 8 1
33
Tabela 3: Descrio das variveis do QI verbal, de execuo e total (WISC-III)
Varivel (n:31) Mediana Valor mximo Valor mnimo
Verbal 71 87 57
De execuo 58 83 45
Total 62 85 50
Tabela 4: Descrio dos ndices de compreenso verbal, organizao perceptual,
resistncia distrao e velocidade de processamento (WISC-III)
Varivel (n: 31) Mediana Valor mximo Valor mnimo
Compreenso verbal 23 35 10
Organizao perceptual 16,5 30 7
Resistncia distrao 4 7 1
Velocidade de processamento 4 9 1
34
Tabela 5: Descrio das variveis do WAIS-III: Funo verbal
Varivel (n: 31) Mediana Valor mximo Valor mnimo
Informao 7 10 4
Semelhana 7 10 3
Aritmtica 3 9 3
Dgitos 1 3 1
Vocabulrio 6 8 5
Compreenso 6 8 3
Tabela 6: Descrio das variveis do WAIS: Funo de execuo
Varivel (n: 31) Mediana Valor mximo Valor mnimo
Completar figuras 8 9 2
Cdigo 5 9 2
Arranjo de figuras 5 9 3
Cubos 5 8 2
Raciocnio matricial 3 6 2
Armar objetos 3 6 1
35
Tabela 7: Descrio das variveis do QI verbal, de execuo e total (WAIS-III)
Varivel (n:31) Mediana Valor mximo Valor mnimo
Verbal 70 86 64
De execuo 64 82 60
Total 67 86 61
Tabela 8: Descrio dos ndices de compreenso verbal, organizao perceptual, ndice
e memria operacional, e velocidade de processamento (WAIS-III)
Varivel (n: 31) Mediana Valor mximo Valor mnimo
Compreenso verbal 18 28 14
Organizao perceptual 14 23 10
ndice e Memria Operacional 6 10 4
Velocidade de processamento 5 9 2
Tabela 9: Descrio das variveis do dficit visuoespacial
Varivel (n: 31) Mediana Valor mximo Valor mnimo
Cpia 3,0 23,0 0,0
Memria 2,0 18,5 0,0
36
Figura 1. Frequncia de traos autsticos
37
Tabela 10: Descrio das variveis de sujeitos com presena de traos autsticos e sem
traos autsticos, divididos por sexo
Varivel (n: 31) Sim No
Masculino 10 (52,6%) 9 (47,4%)
Feminino 9 (75,0%) 3 (25,0%)
Tabela 11: Descrio das variveis de sujeitos com presena de traos autsticos e sem
traos autsticos versus dficit visuoespacial
Varivel (n: 31) Mediana Valor mximo Valor mnimo
Cpia (com traos autsticos) 3,0 16,0 1,0
Cpia (sem traos autsticos) 3,0 23,0 0,0
Memria (com traos autsticos) 2,0 8,0 5,0
Memria (sem traos autsticos) 2,0 18,5 0,0
38
Tabela 12: Descrio do tamanho da deleo, com presena de traos autsticos e sem
traos autsticos
Total 26
Deleo 1,55Mb (com traos autsticos) 9
Deleo 1,55Mb (sem traos autsticos) 14
Deleo 1,83Mb (com traos autsticos) 2
Deleo 1,83Mb (sem traos autsticos) 1
Tabela 13: Descrio da origem parental da deleo
Varivel (n: 31)
Materno 13
Paterno 13
No determinado 5
39
DISCUSSO
Discusso
A investigao baseou-se na utilizao de instrumentos padronizados que
avaliam a funo cognitiva (WISC-III e WAIS-III), dficit visuoespacial (figuras
complexas de Rey) e escala de traos autsticos (ATA).
Aps a descrio dos dados obtidos por meio de coletas, realizadas durante a
composio deste estudo, faz-se necessrio, estabelecer relaes dos achados com a
literatura consultada.
Os sujeitos estudados formam uma amostra composta por 31 indivduos entre
crianas, adolescentes e adultos com diagnstico confirmado de Sndrome de Willians-
Beuren; a idade variou entre 9 e 26 anos, sendo que a mediana deste grupo de 14,
variando em 26 (valor mximo) e 9 (valor mnimo).
Em nossa pesquisa foram encontrados 19 sujeitos do sexo masculino e 12 do
sexo feminino, ou seja, houve um predomnio do sexo masculino, porm a literatura
mostra que nesta sndrome no h relao entre sexo, cor ou regio geogrfica e a
incidncia estimada da Sndrome de Willians-Beuren de 1:25.000 a 1:40.000 (Morris e
Thomas, 1993).
WISC-III
Com relao ao Quociente Intelectual Verbal (QIV) do WISC-III, a mediana dos
sujeitos ficou entre 6,5 (informao) e 4 (aritmtica).
Podemos inferir que o valor obtido pelo subteste informao apresentou maior
resultado devido a seus contedos corresponderem a conhecimentos gerais, incluindo
41
nomes de objetos, fatos histricos, entre outros e ao fato dele avaliar o conhecimento
adquirido pelo indivduo em experincias vividas, no dependendo exclusivamente de
conhecimentos acadmicos.
Apresentou o menor valor no subteste a aritmtica porque esta prova avaliar o
raciocnio numrico e a capacidade para solucionar problemas, necessitando tanto de
ateno quanto de concentrao. Estudo longitudinal das dificuldades de aprendizagem
comprovou que o aprendizado de leitura, escrita e aritmtica, ocorre de forma bastante
comprometida, sendo mais favorvel nos primeiros anos escolares, passando a certa
estagnao na idade adulta (Udwin et al., 1996).
Estudos revisados sobre as habilidades de linguagem mostraram achados
divergentes, inclusive questionados por alguns autores. As habilidades de linguagem
oral da SWB tm sido muito mais frequentemente descritas, se comparadas s
habilidades da linguagem escrita. At mesmo os estudos destinados s habilidades de
linguagem oral ainda so escassos no que diz respeito abordagem da habilidade
pragmtica e do uso de recursos comunicativos utilizados por esses sujeitos, nos
diversos contextos comunicativos.
Em relao ao Quociente Intelectual de Execuo (QIE) do WISC-III a mediana
entre os sujeitos ficou entre 6 (completar figuras) e 2,5 (cubos). Ao compararmos os
resultados destas duas provas (verbal e de execuo), verificamos que o resultado na de
execuo menor que o na verbal.
Nesta subprova podemos observar que os sujeitos apresentaram maiores
dificuldades nas provas de cubos e armar objetos. Estes achados de certa forma
42
condizem com os achados literrios, porque avaliam habilidade de perceber e analisar
formas, raciocnio para questes visuoespaciais/visuomotoras e organizao perceptual.
Estudos realizados por Jordan et al. (2002) mostraram que sujeitos com SWB
apresentam dificuldade nas habilidades visuoconstrutivas, ou seja, demonstram prejuzo
na relao parte/todo, sugerindo comprometimento para a integrao de estmulos
visuais.
O conceito de desempenho executivo se refere a uma coleo de habilidades
cognitivas essenciais para a organizao do funcionamento mental e comportamental. O
desempenho cognitivo constitudo de dimenses mltiplas, como ocorre, por exemplo,
com a memria e a linguagem. Conforme Souza et. al (2001), a expresso desempenho
executivo denota a capacidade de planejar, organizar e efetuar aes e comportamentos
de valor adaptativo. O desempenho executivo no unitrio, sendo possvel desmembr-
lo em flexibilidade, aquisio de hbitos, habilidades e planejamento. Estas dimenses
so mediadas por alas prefrontais-subcorticais.
No que diz respeito ao QI total (QIT) do WISC-III, podemos observar que os
indivduos analisados apresentaram mediana 62, com valor mximo 85 e mnimo 50.
Estes dados comprovam os resultados at ento mostrados pela literatura, cuja descrio
aponta sujeitos com SWB que apresentam QI variando entre 41 e 80 (Jones e Smith,
1975).
Segundo Jones e Smith (1975), algumas crianas so mais afetadas que outras,
porm a maioria encontra-se na faixa de DM leve a moderada.
Atravs dos dados coletados podemos observar que este estudo comprovou
alguns achados da literatura em relao ao QI total e tambm mostrou achados iguais ao
43
da literatura que relata que QI verbal, embora abaixo da mdia, se sobressai em relao
ao QI de execuo.
Segundo Jarrold et al. (1998), alguns testes tm mostrado comprometimento
significativo nas tarefas visuoconstrutivas, se comparadas s verbais, o que caracteriza
dissociao dessas tarefas.
Em relao ao ndice de compreenso verbal, apresentaram mediana 23, valor
mximo 35 e mnimo 10. Estes valores mostram que a compreenso verbal destes
sujeitos se sobressai em relao aos outros ndices. Segundo Wechsler (2002), o fator
compreenso verbal se alinha escala verbal, podemos, portanto, comprovar atravs da
nossa anlise que os sujeitos com SWB apresentam maior desempenho na parte verbal
do que na de execuo.
Quanto ao ndice de organizao perceptual, embora tenham apresentado uma
mediana com valor 16,5, podemos observar que estes sujeitos demonstram baixa
capacidade de organizao e planejamento, dificuldade de perceber e analisar formas e
baixo desempenho nas questes visuoespacias. Desta forma, podemos verificar que
nossos resultados correspondem com os da literatura, que mostra que portadores desta
sndrome apresentam baixo desempenho nas provas de execuo, quando comparado ao
verbal (Udwin e Yule, 1991; Jarrold et al., 1998). Porm, necessrio lembrar que
alguns estudos demonstraram comprometimento equiparado para as tarefas verbais e
executivas (Carrasco et al., 2005; Porter e Coltheart, 2005).
O estudo das habilidades visuoconstrutivas na SWB tem mostrado a presena de
prejuzo na relao parte/todo, sugerindo comprometimento na integrao de estmulos
visuais (Jordan et al., 2002).
44
O sistema de controle da ateno regula o fluxo das informaes para a ala
fonolgica e para o bloco de notas visuoespacial, mantendo-as na memria para uso
temporrio. A informao de um desses sistemas funcionais pode tornar-se uma
memria de longo prazo (Kandel, Schwartz e Jessell, 2003).
Ao analisarmos a prova que avalia o ndice de resistncia distrao e
velocidade de processamento, verificamos que a pontuao dos dois foi mesma:
mediana 4, valor mximo 7 e mnimo 1.
Ambas as provas avaliam ateno, memria em curto prazo, capacidade
numrica, dificuldades essas inerentes aos sujeitos analisados.
WAIS-III
No resultado do Quociente Intelectual Verbal (QIV) do WAIS-III, a mediana dos
sujeitos ficou entre 7 (informao) e 1 (dgitos).
Podemos inferir disso que o valor obtido pelo subteste informao apresentou
maior resultado devido a seus contedos corresponderem a conhecimentos gerais, ou
seja, conhecimento adquirido pelo indivduo em experincias vividas, no dependendo
exclusivamente de conhecimentos escolares.
Apresentou o menor valor o subteste dgitos devido a esta prova avaliar
processos cognitivos mais complexos (aprendizagem e memria) e, tambm, a
capacidade de inverso de sequncias, flexibilidade, tolerncia ao estresse e
concentrao.
45
Estudos longitudinais comprovam este resultado, visto que portadores da SWB
demonstram dificuldades de aprendizagem: leitura, escrita e aritmtica (Udwin et al.,
1996).
Em relao ao Quociente Intelectual de Execuo (QIE) do WAIS-III, a mediana
entre os sujeitos ficou entre 8 (completar figuras) e 3 (raciocnio matricial e armar
objetos). Ao compararmos os resultados destas duas provas (verbal e de execuo)
verificamos que o resultado na de execuo menor que o na verbal.
Podemos inferir que o valor obtido pelo subteste completar figuras apresentou
maior resultado devido a seus contedos corresponderem a reconhecimento de objetivos,
discriminao visual e habilidade para diferenciar detalhes, caractersticas para as quais
esta sndrome apresenta bom resultado.
Apresentaram o menor valor os subtestes raciocnio matricial e armar objetos
devido a estas provas avaliarem habilidades visuomotoras e organizao perceptual.
Sujeitos com SWB apresentam dificuldade nas habilidades visuomotoras, ou
seja, demonstram prejuzo na relao parte/todo, sugerindo comprometimento para a
integrao de estmulos visuais e organizao perceptual (Jordan et al., 2002).
No que diz respeito ao QI total (QIT) do WAIS-III, podemos observar que
apresentaram mediana 67, com valor mximo 86 e mnimo 61. Estes dados comprovam
os resultados at ento mostrados pela literatura, cujos sujeitos com SWB apresentam QI
que varia de 41 a 80 (Jones e Smith, 1975).
Em relao ao ndice de compreenso verbal, apresentaram mediana 18, valor
mximo 28 e mnimo 14, estes valores mostram que a compreenso verbal destes
sujeitos se sobressai em relao aos outros ndices. Sujeitos com SWB realmente
46
apresentam maior desempenho na parte verbal do que na de execuo (Jarrold et al.,
1998).
No ndice de organizao perceptual, apresentaram uma mediana com valor 14.
Podemos observar que estes sujeitos demonstram baixa capacidade de organizao e
planejamento, dificuldade de perceber e analisar formas e baixo desempenho nas
questes visuoespacias. Logo, nossos resultados correspondem aos da literatura, a qual
mostra que portadores desta sndrome apresentam baixo desempenho nas provas de
execuo, quando comparado ao das verbais (Udwin e Yule, 1991; Jarrold et al., 1998).
A prova que avalia o ndice de memria operacional apresentou mediana 6, valor
mximo 10 e mnimo 4. Esta prova est relacionada aos subtestes dgitos, aritmtica,
sequncia de nmeros e letras, em observao aos processos cognitivos mais complexos,
tolerncia ao estresse e concentrao (Udwin et al., 1996).
O ndice de velocidade de processamento apresentou mediana 5, valor mximo
90 e valor mnimo 2. Esta prova avalia: ateno, memria em curto prazo e capacidade
numrica. Estes valores tambm coincidem com os dados da literatura (Porter e
Coltheart, 2005).
Figuras complexas de Rey
Na nossa pesquisa avaliamos o dficit visuoespacial atravs da figura complexa
de Rey (Oliveira et al., 1999) e verificamos que tanto a cpia quanto a memria so
muito comprometidas.
47
Segundo Farran et al. (2003), esta dificuldade integrativa ocorre quando tarefas
de julgamento espacial so solicitadas. Na pesquisa realizada por Vicari et al. (2003),
que investiga as habilidades de memria visual e espacial, mostrou-se que a falha na
integrao decorrente do comprometimento espacial.
O conhecimento da diminuio da massa branca subcortical com aumento das
pregas corticais e a reduo do volume da massa cinzenta nos sulcos parieto-occiptal,
indicam que sejam responsveis pelo dficit visuoespacial.
O dficit especfico na cognio visuoespacial mais aparente quando testado
juntamente com portadores de Sndrome de Down. Tassabehji (2003) mostrou que tanto
a Sndrome de Down quanto a Sndrome de Willians-Beuren apresentam dficit
cognitivo em diferentes nveis, pois o portador de Sndrome de Down consegue desenhar
a figura proposta sem dar nfase a detalhes, enquanto o portador de sndrome de
Willians-Beuren consegue apenas focar os detalhes, sem conseguir dar a forma real
figura.
Outros achados tm sido frequentemente descritos no que diz respeito s
habilidades visuais que incluem a facilidade para reconhecimento facial e de julgamento
de expresses emocionais (Bellugi et al., 2000).
ATA
Ao avaliarmos traos autsticos percebemos que dos 31 sujeitos, 13 apresentaram
traos autsticos (41,94%), tambm verificamos que este resultado independe do seu
nvel de comprometimento (QI total) com mediana no valor de 63, e que a interao
48
destes dois grupos (QI de execuo e QI total) so homogneos. Isto mostra que a
caracterstica intelectual no fator determinante no resultado do trao autstico.
A construo das figuras complexas de Rey foi bem alterada nos dois grupos,
porm o grupo com traos autsticos apresentou maior dificuldade. Este resultado
parece que independe da interao, e pode estar associado a funo executiva
(estratgias de construo) e coerncia central (influenciada por detalhes).
Apesar de a Sndrome de Williams-Beuren e o autismo serem fenotipicamente
diferentes, partilham uma vulnerabilidade gentica no cromossomo 7. Enquanto o
gentipo SWB caracterizado por uma deleo no lcus 7q11.23, o do autismo tem sido
associado a uma duplicao da mesma regio crtica do SWB (Klein-Tasman et al.,
2009). Isto sugere que diferentes rearranjos genticos no cromossomo 7, especialmente
neste lcus, podem estar na base dos diferentes fentipos socioemocionais. Alm disso,
alterao na atividade neural tem sido considerada importante mediadora na interao
entre genes e ambiente, havendo evidncias de diferenas no processamento neural de
estmulos socioemocionais no autismo e na SWB (Meyer-Lindenberg, 2009).
Em nossa pesquisa podemos observar que a presena de traos autsticos
predominou entre o sexo masculino, dos 13 sujeitos avaliados com traos autsticos, 10
eram meninos, este fato justificado, pois este transtorno ocorre predominantemente em
meninos, numa proporo de 8:1 (Fambonne, 2003).
descrito na literatura que pacientes com SWB possuem caractersticas de
sociabilizao, porm ao investigar traos autsticos nesta populao, verificamos que
41,94% apresentam traos autsticos. Talvez a caracterstica de sociabilizao esteja
associada falta de inibio social, e este fato parece estar associado a uma m ativao
49
da amgdala (centro do crebro responsvel pelo medo) ao ver faces estranhas ou
agressivas.
O estudo comportamental realizado por Doyle et al. (2004), com 64 portadores
de Sndrome de Williams-Beuren, 31 com Sndrome de Down e 27 crianas normais
como grupo-controle, demonstrou que o comportamento social dos portadores de
Sndrome de Williams-Beuren era significantemente elevado em relao ao dos demais
grupos. Tambm demonstraram que a hipersociabilidade maior nos portadores mais
jovens acometidos pela microdeleo 7q11.23.
Comparamos as amostras das medianas entre os sujeitos com traos autsticos e
sem traos autsticos atravs do teste Mann-Whitney, nos seguintes testes do WISC-III e
WAIS-III, nas funes verbais, funes de execuo, QI verbal, QI de execuo, QI
total, nos ndices de compreenso verbal, organizao perceptual, resistncia distrao
e velocidade de processamento, e verificamos que no foram encontradas diferenas
significantes nestes grupos. Tambm realizamos o mesmo procedimento em relao ao
dficit visuoespacial e verificamos que em todos os dados analisados no foram
encontradas diferenas estatisticamente significantes entre estas medianas.
Ao compararmos o tamanho da deleo com traos autsticos, observamos que 9
apresentaram 1,55Mb, 2 apresentaram 1,83Mb e 2 no apresentaram resultados
conclusivos. Atravs destes resultados podemos inferir que no houve correlao destes
achados com traos autsticos.
Analisamos, tambm, os achados moleculares positivos materno/paterno e
observamos que dos 31 sujeitos analisados, 21 apresentaram resultados negativos e 10
no apresentaram resultados conclusivos, portanto no houve correlao destes achados
50
com traos autsticos. Talvez se a amostra fosse maior, poderamos ter um resultado
significante nos grupos analisados.
51
CONCLUSES
Concluses
O QI total variou de 51 a 86 (mediana de 63): 22 com deficincia mental leve, 4
com deficincia mental moderada, 4 limtrofes, 1 mdia inferior da normalidade.
Todos os pacientes apresentaram dficit visuoespacial.
A frequncia de traos autsticos foi encontrada em 13/31 pacientes (41,94%),
com predomnio no sexo masculino (10M: 3F).
No foi encontrada correlao entre o tamanho da deleo em relao presena
de autismo e nem com a origem parental.
Nosso estudo refora a importncia da avaliao sistemtica da funo cognitiva
em pacientes com SWB e alerta para a presena da alta frequncia de traos
autsticos, no lado oposto da personalidade amigvel tipicamente encontrado em
pacientes com SWB. Estes ltimos dados so preliminares e novos estudos sero
necessrios para confirmar esse achado especfico na SWB.
53
ANEXOS
ANEXO: 01
55
56
ANEXO: 02
57
58
59
60
ANEXO: 03
61
High frequency of autistic traits in Williams-Beuren patients
Authors: Nunes M M , Honjo R S , Dutra R L , Amaral V AS , Oh H K , Bertola D R ,
Albano L M J , Assumpo Jnior F B , Kim C A
1 2 2 2 3 4
5 6 7
1- Aluna de ps-graduao nvel doutorado do Instituto da Criana da FMUSP
2- Alunas de ps-graduao da Unidade de Gentica do Instituto da Criana da
FMUSP
3- Professor da Faculdade de Medicina Alternativa de Jeonju - Coria do Sul
4- Mdica assistente da Unidade de Gentica do Instituto da Criana FMUSP
5- Mdica assistente aposentada da Unidade de Gentica do Instituto da Criana
FMUSP
6- Professor associado do IP-USP
7- Prof Livre Docente responsvel pela Unidade de Gentica do Instituto da
Criana-FMUSP
Trabalho realizado na Unidade de Gentica do Instituto da Criana com o apoio
financeiro de FAPESP nmero 2008/55391-6
Endereo para correspondncia: Chong Ae Kim
Unidade de Gentica do Instituto da Criana
Av Dr Enas Carvalho de Aguiar 647 So Paulo, CEP 05403-000
62
Abstract
Williams-Beuren syndrome (WBS) is characterized by typical facies,
supravalvular aortic stenosis, mental retardation,hyperacusis and behavioral
abnormalities with overfriendly personality and anxiety disorders. It is caused by a
microdeletion of continuous genes located in 7q11.23 region.
We studied 31 WBS patients (19 M and 12 F) whose ages ranged from 9 to 26
years (median 14y). The diagnosis of WBS was confirmed by FISH or microsatellite
markers analysis in all patients.
The objectives were to evaluate cognitive ability, IQ (Intelligence Quotient)
execution, verbal and total, frequency of visual-spatial deficits and autistic traits and
compare the results of molecular findings. The tests used were the WISC-III, WAIS-III,
Rey Complex Figure and a scale of autistic traits (ATA).
Their total IQ scores ranged from 51 to 86 (median 63): 22 with mild mental
retardation, 4 with moderate retardation, 4 classified as borderline and 1 as below
average. All patients had marked visual-spatial deficit. The frequency of autistic traits
were found in 13 of 31 patients (41.94%) with a predominance in males (10M:3F).
There was no correlation with the incidence of autistic traits in relation to the size of the
deletion.
Our study reinforces the importance of the systematic assessment of cognitive
function in WBS patients, and alerts researchers to the presence of a high frequency of
autistic traits, as opposed to the overfriendly personality traits typically exhibited by
WBS patients. These latter data are preliminary and further studies are necessary to
confirm this specific finding in WBS patients.
Keywords: Williams syndrome, acessment, cognition, visual-spatial deficits, austistic
traits.
63
Resumo
Sndrome de Williams-Beuren (SWB) caracterizada por fcies tpico, estenose
artica supravalvar, retardo mental, hiperacusia e anormalidades comportamentais com
personalidade amigvel e distrbios de ansiedade. causada por microdeleo de genes
contguos localizados na regio 7q11.23.
Foram estudados 31 pacientes WBS (19 M e 12 F) a idade variou de 9 a 26 anos
(mediana 14). O diagnstico da SWB foi confirmado pelo FISH (Fluorescence In Situ
Hibridisation) ou anlise de marcadores microssatlites em todos os pacientes.
Os objetivos foram avaliar a capacidade cognitiva, o QI (Quociente de
Inteligncia) de execuo, verbal e total, a freqncia de dficits visuo-espaciais, traos
autistas e comparar os resultados encontrados com os moleculares. Os testes utilizados
foram: WISC-III, WAIS-III, Figuras Complexas de Rey e Escala de Traos Autsticos
(ATA).
Todos os pacientes apresentaram dficit cognitivo em todos os testes, o QI total
variou de 51 a 86 (mediana de 63): 22 com deficincia mental leve, 4 com deficincia
mental moderada; 4 limtrofes, 1 mdia inferior. Todos os pacientes apresentaram dficit
visuo-espacial. A freqncia de traos autistas foi encontrada em 13/31 pacientes
(41,94%) com predomnio no sexo masculino (10M: 3F). No foi encontrada correlao
entre a presena de traos autsticos em relao ao tamanho da deleo.
Nosso estudo refora a importncia da avaliao sistemtica da funo cognitiva
em pacientes com SWB e alerta para a presena da alta freqncia de traos autistas,
oposto da personalidade amigvel tipicamente encontrado em pacientes com SWB.
Estes ltimos dados so preliminares e novos estudos sero necessrios para
confirmar esse achado especfico na SWB.
Palavras-chave: Sndrome de Williams, avaliao, cognio, dficit visuo-espacial,
traos autsticos.
64
Introduction The Williams-Beuren syndrome (WBS) is a rare genomic disorder (1/7,500
1/20,000) caused by a hemizygous deletion of contiguous genes on chromosome
7q11.23 . It was first described in the 1950s by Fanconi, Lightwood and Payne as
idiopathic infantile hypercalcaemia with failure to thrive . WBS patients display
a characteristic pattern of symptoms, including vascular stenosis (predominantly
supravalvular aortic stenosis, SVAS), weakness of connective tissue, atypical facial
features, short stature and mental retardation . Facial symptoms include a wide mouth
with full lips, full and periorbital fullness with a broad forehead. The cardiovascular
manifestations comprise SVAS and peripheral artery stenosis, which occur in 75% of
affected children .
1
2,3
4,5
6
Developmental delay in tasks that require complex visual analysis of incoming
information is pronounced among WBS patients who instead perform better on tasks
with auditory and verbal output . The typical behavioral features, such as poor social
relationships, overfriendliness, high sociability and empathy persist usually from
childhood to adulthood . There is a clear deficiency in daily living skills and motor
abilities in patients with WBS . The IQ range of these patients varies from severe
mental retardation to a nearly normal level (mean value 57), and attention deficit
hyperactivity disorder (ADHD) is common . Typical cranial abnormalities are not
frequent in WBS patients except for an unspecific decrease in parieto-occipital lobe
volume . Additional universal clinical symptoms are intermittent hypercalcaemia,
hypertonia, renal anomalies, dental problems (malocclusion), scoliosis/kyphosis, and
joint limitation . Studies on monozygotic twins suffering from WBS revealed that
most clinical signs, such as cardiac defects and abnormal behavioral features, are
concordant, whereas birth weight, stature and degree of mental retardation seem to be
influenced by environmental factors as well . Adults with WBS suffer predominantly
from the consequences of cardiac defects and hypertension, sensorineural hearing loss,
subclinical hypothyroidism, gastrointestinal problems and urinary tract abnormalities.
Progressive joint limitation affects coordination and motor skills . Furthermore, a
high frequency of psychiatric symptoms, such as anxiety and depression, are noticeable.
7
7,8
9,10
11
12, 13
14,15
16
8,11,17
65
Independent living and employment are limited by their mental handicap and by their
physical problems . 11,18,19
In the current study, we assessed cognitive ability in 31 Brazilian WBS patients. Materials and Methods
Patients
This study, approved by the Institutional Review Board at Hospital das Clnicas,
So Paulo, Brazil, involved 31 WBS patients (19 M and 12 F) and their ages ranged
from 9 to 26 years (with a median of 14 y).
The diagnosis of WBS was confirmed by Fluorescence In Situ Hybridization
(FISH) or microsatellite markers analysis in all patients. Of the 31 subjects evaluated, 23
had a deletion of 1.55 Mb, and 3 had a deletion of 1.83 Mb; it was not possible to
determine the size of the deletion for the remaining 5 because the tests were performed
by FISH.
Tests
The objectives were to evaluate cognitive ability, execution IQ (verbal and total),
frequency of visual-spatial deficits and autistic traits. The tests used were: Wechsler
Intelligence Scale for Children - III (WISC-III) , Wechsler Adult Intelligence Scale-III
(WAIS-III) , Rey Complex Figure and scale of autistic traits (ATA) .
20
21 22 23
Patients were evaluated individually, and all tests were applied and corrected
according to the evaluation system established by the manual of each instrument.
The results for each of the tests were described by their medians, maximum
values and minimum values. The presence of autistic traits was described by its
frequency. We used SPSS 13.0 software for performing calculations and adopted a
significance level of 5%.
66
Results Discussion
The results for each of the tests were described by their medians and minimum
and maximum values.
The median age of this group is 14 years, with maximum value of 26 and
minimum value of 9.
Thirteen out of 31 patients were illiterate, while 15 were enrolled in special
school, 11 in regular schools and five were out of school.
WISC-III
Regarding Verbal Intellectual Quotient (VIQ) of the WISC-III, the median of the
subjects was between 6.5 (Information) and 4 (arithmetic).
We can infer that the value obtained by the information subtest showed higher
results due to its contents match the knowledge, including object names, historical facts,
among others, and he assesses the knowledge acquired by individual experiences, not
depending solely on academic knowledge.
The low value in the arithmetic subtest might have occurred because this test
evaluates the numerical reasoning and problem-solving capacity, requiring both
attention and concentration. Longitudinal study of learning disabilities has proven that
the learning of reading, writing and arithmetic, is quite compromised, being more
favorable in the early school years, going to certain sta