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Michele Moreira Nunes Avaliação do funcionamento cognitivo de pacientes com Síndrome de Williams-Beuren Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências Programa de: Pediatria Orientadora: Dra: Chong Ae Kim Co-orientador: Dr: Francisco B. A. Júnior São Paulo 2010

Michele Moreira Nunes Avaliação do funcionamento cognitivo de

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  • Michele Moreira Nunes

    Avaliao do funcionamento cognitivo de pacientes com Sndrome de Williams-Beuren

    Tese apresentada Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Cincias

    Programa de: Pediatria Orientadora: Dra: Chong Ae Kim Co-orientador: Dr: Francisco B. A. Jnior

    So Paulo 2010

  • Michele Moreira Nunes

    Avaliao do funcionamento cognitivo de pacientes com Sndrome de Williams-Beuren

    Tese apresentada Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Cincias

    Programa de: Pediatria Orientadora: Dra: Chong Ae Kim Co-orientador: Dr: Francisco B. A. Jnior

    So Paulo 2010

    Verso Original Corrigida

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Preparada pela Biblioteca da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

    reproduo autorizada pelo autor

    Nunes, Michele Moreira Avaliao do funcionamento cognitivo de pacientes com Sndrome de Williams-Beuren / Michele Moreira Nunes. -- So Paulo, 2010.

    Tese(doutorado)--Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo. Programa de Pedriatria.

    Orientadora: Chong Ae Kim.

    Descritores: 1.Sndrome de Williams 2.Avaliao 3.Cognio 4.Dficit visuo-espacial 5.Traos autsticos

    USP/FM/DBD-410/10

  • Dedicatria

    A minha filha Vitria, meu maior tesouro.

    Aos meus queridos pais Antnio e Suzana, por todo incansvel incentivo a minha

    carreira, por terem me ensinado o grande valor do respeito, da perseverana, da

    dedicao, da responsabilidade, pela valiosa oportunidade de ser sua filha.

    Ao meu irmo Vincius, pela amizade e pela certeza de poder contar sempre com

    ele.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus, que o meu orientador divino, e que me guia nesses caminhos, nem sempre fceis, porm necessrios de serem percorridos como parte do meu crescimento espiritual e pessoal. Aos pacientes e seus familiares pelo exemplo de f, humildade, carinho, respeito e disponibilidade que foram fundamentais para a realizao deste trabalho. A minha orientadora Dra Chong, pesquisadora incansvel, pela confiana depositada em mim, pela motivao e disponibilidade durante a orientao. Ao meu co-orientador Dr Francisco B. Assumpo Jr., pela confiana, pacincia, respeito e competncia. A Presidente da Associao Brasileira de Sndrome de Williams-Beuren J Nunes, me da Jssica, quem eu pude conhecer e admirar pela sua incansvel luta na busca pelo respeito e direitos dos portadores de SWB. A Silvana Alves do Nascimento Vice Presidente da Associao Brasileira de Sndrome de Williams-Beuren. A Elizabeth Martins Campoy, secretria da Associao Brasileira de Sndrome de Williams-Beuren. A Dra Adriana Bhrer do Nascimento, mdica geneticista e diretora cientfica da Associao Brasileira de Sndrome de Williams-Beuren. A Dra Rachel Honjo, exemplo de competncia e profissionalismo. A biloga Roberta Lelis Dutra. As mdicas do grupo de gentica do Icr pelos esclarecimentos quanto aos termos mdicos.

  • Ao Dr. Ullysses Dria Filho, pela pacincia e auxlio na realizao da anlise estatstica. As funcionrias da Secretaria de Ps-Graduao, pelas orientaes constantes ao longo da realizao deste trabalho. A Bibliotecria Marinalva Arago da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo FMUSP, pela elaborao da ficha catalogrfica. A Mrcia Arruda (funcionria) e a bibliotecria Valria Lombardi da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo FMUSP. A Bibliotecria Mariza Kazue Umetsu do Instituto da Criana - FMUSP pela elaborao da reviso bibliogrfica. As colegas Ester Vargem Rodrigues Assistente Social e Vera Alice Alcntara dos Santos Amaral Pedagoga. A Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo FAPESP, pelo auxlio financeiro desta pesquisa. E, finalmente, a todos que, de alguma forma no se encontram aqui citados, mas que possuem minha considerao e reconhecimento para este estudo.

  • HOMENAGEM A JESSICA NUNES HERCULANO (in memria)

    Preciso Saber Viver

    Composio: Erasmo Carlos / Roberto Carlos

    Quem espera que a vida

    Seja feita de iluso

    Pode at ficar maluco

    Ou morrer na solido

    preciso ter cuidado

    Pra mais tarde no sofrer

    preciso saber viver

    Toda pedra do caminho

    Voc pode retirar

    Numa flor que tem espinhos

    Voc pode se arranhar

    Se o bem e o mal existem

    Voc pode escolher

    preciso saber viver

    preciso saber viver

    preciso saber viver

    preciso saber viver

    Saber viver, saber viver!

  • Esta tese est de acordo com as seguintes normas, em vigor no momento desta publicao: Referncias: Adaptado de International Committee of Medical Journals Editors (Vancouver) Universidade de So Paulo. Faculdade de Medicina. Servio de Biblioteca e Documentao. Guia de apresentao de dissertaes, teses e monografias da FMUSP. Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Julia de A. L. Freddi, Maria F. Crestana, Marinalva de Souza Arago, Suely Campos Cardoso, Valria Vilhena. 2 Ed. So Paulo: Servio de Biblioteca e Documentao; 2005. Abreviaturas dos ttulos dos peridicos de acordo com List of Journals Indexed in Index Medicus.

  • SUMRIO

    Lista de abreviaturas

    Lista de Tabelas

    Lista de Figuras

    Resumo

    Abstract

    INTRODUO 01

    Consideraes histricas 03

    Incidncia 04

    Quadro Clnico 05

    Etiologia e Diagnstico da SWB 06

    Fentipo Neurocognitivo 13

    Sndrome de Williams Beuren e Autismo 17

    JUSTIFICATIVA 19

    OBJETIVOS 21

    METODOLOGIA 23

    Procedimentos 24

    Casustica 24

    Critrios de incluso 25

    Tratamento dos dados 25

    Instrumentos de avaliao 25

    WAIS - Wechsler adult intelligence scale 25

    WISC - Wechsler intelligence scale children 25

    Figuras complexas de Rey 29

    Escala de traos autsticos ATA 30

    RESULTADOS 32

    DISCUSSO 40

    CONCLUSES 52

    ANEXOS 54

    BIBLIOGRFIA 81

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    ATA - Escala de Traos Autsticos

    CAPPesq - Comit de tica para Anlise de Projetos de Pesquisa

    FISH - Fluorescence In Situ Hibridisation

    EAS Estenose de aorta supravalvar

    EAP Estenose de artria pulmonar

    ELN - Genes da elastina

    Icr - Unidade de Gentica do Instituto da Criana

    LIMK1 - LIM-KINASE 1

    MLPA - Multiplex Ligationdependent Probe Amplification

    QI - Quociente Intelectual

    QIE - Quociente Intelectual de Executivo

    QIT - Quociente Intelectual Total

    QIV - Quociente Intelectual Verbal

    SWB - Sndrome de Williams-Beuren

    WAIS - Wechsler adult intelligence scale

    WISC - Wechsler intelligence scale children

  • LISTA DE TABELAS

    TABELA 1 - Descrio das variveis do WISC III: Funo verbal

    TABELA 2 - Descrio das variveis do WISC III: Funo execuo

    TABELA 3 - Descrio das variveis do QI verbal, execuo e total (WISC III).

    TABELA 4 - Descrio dos ndices de compreenso verbal, organizao perceptual,

    resistncia distrao e velocidade de processamento (WISC III).

    TABELA 5 - Descrio das variveis do WAIS III: Funo verbal

    TABELA 6 - Descrio das variveis do WAIS III: Funo execuo

    TABELA 7 - Descrio das variveis do QI verbal, execuo e total (WAIS III).

    TABELA 8 - Descrio dos ndices de compreenso verbal, organizao perceptual,

    ndice e memria operacional e velocidade de processamento (WAIS III).

    TABELA 9 - Descrio das variveis do dficit visuo-espacial

    TABELA 10 Descrio das variveis de sujeitos com presena de traos autsticos e

    sem traos autsticos, divididos por sexo.

    TABELA 11- Descrio das variveis de sujeitos com presena de traos autsticos e

    sem traos autsticos versus dficit visuo-espacial.

    TABELA 12 Descrio do tamanho da deleo com presena de traos autsticos e

    sem traos autsticos.

    TABELA 13 - Descrio do resultado positivo e negativo materno/paterno

  • LISTA DE FIGURAS

    FIGURA1: Cromossomo 7 do gentipo humano

    FIGURA 2: a) FISH Positivo, b) FISH Negativo

    FIGURA 3: Representao esquemtica da regio 7q11.23)

    FIGURA 9.1: Freqncia de traos autsticos

  • Nunes MM. Avaliao do funcionamento cognitivo de pacientes com Sndrome de

    Williams-Beuren. Tese (doutorado). So Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade

    de So Paulo; 2010. 88 p

    Sndrome de Williams-Beuren (SWB) caracterizada por fcies tpico, estenose

    artica supravalvar, retardo mental, hiperacusia e anormalidades comportamentais com

    personalidade amigvel e distrbios de ansiedade. causada por microdeleo de

    genes contguos localizados na regio 7q11.23.

    Foram estudados 31 pacientes WBS (19 M e 12 F) a idade variou de 9 a 26 anos

    (mediana 14). O diagnstico da SWB foi confirmado pelo FISH (Fluorescence In Situ

    Hibridisation) ou anlise de marcadores microssatlites em todos os pacientes.

    Os objetivos foram avaliar a capacidade cognitiva, o QI (Quociente de

    Inteligncia) de execuo, verbal e total, a freqncia de dficits visuo-espaciais, traos

    autisticos e comparar os resultados encontrados com os moleculares. Os testes utilizados

    foram: WISC-III, WAIS-III, Figuras Complexas de Rey e Escala de Traos Autsticos

    (ATA).

    O QI total variou de 51 a 86 (mediana de 63): 22 com deficincia mental leve, 4

    com deficincia mental moderada; 4 limtrofes, 1 mdia inferior. Todos os pacientes

    apresentaram dficit visuo-espacial. A freqncia de traos autisticos foi encontrada em

    13/31 pacientes (41,94%) com predomnio no sexo masculino (10M: 3F). No foi

    encontrada correlao entre a presena de traos autsticos em relao ao tamanho da

    deleo.

    Nosso estudo refora a importncia da avaliao sistemtica da funo cognitiva

    em pacientes com SWB e alerta para a presena da alta freqncia de traos autsticos

    encontrados em pacientes com SWB.

    Estes ltimos dados so preliminares e novos estudos sero necessrios para

    confirmar esse achado especfico na SWB.

    Palavras-chave: Sndrome de Williams, avaliao, cognio, dficit visuoespacial,

    traos autsticos.

  • Nunes MM. Assessment of cognitive functioning of patients with Williams-Beuren

    Syndrome. Tese (doutorado). So Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de So

    Paulo; 2010. 88 p.

    Williams-Beuren syndrome (WBS) is characterized by typical facies,

    supravalvular aortic stenosis, mental retardation, hyperacusis and behavioral

    abnormalities with overfriendly personality and anxiety disorders. It is caused by a

    microdeletion of continuous genes located in 7q11.23 region.

    We studied 31 WBS patients (19 M and 12 F) whose ages ranged from 9 to 26

    years (median 14y). The diagnosis of WBS was confirmed by FISH or microsatellite

    markers analysis in all patients.

    The objectives were to evaluate cognitive ability, IQ(Intelligence Quotient)

    execution, verbal and total, frequency of visual-spatial deficits and autistic traits and

    compare the results of molecular findings. The tests used were the WISC-III, WAIS-III,

    Rey Complex Figure and a scale of autistic traits (ATA).

    The total IQ ranged from 51 to 86 (median 63): 22 with mild intellectual

    disability, 4 with moderate metal retardation, 4 limitrofe and 1 below the normal mean.

    All patients had marked visual-spatial deficit. The frequency of autistic traits were found

    in 13 of 31 patients (41.94%) with a predominance in males (10M:3F). There was no

    correlation with the incidence of autistic traits in relation to the size of the deletion.

    Our study reinforces the importance of the systematic assessment of cognitive

    function in WBS patients, and alerts researchers to the presence of a high frequency of

    autistic traits found in patients with WBS. These latter data are preliminary and further

    studies are necessary to confirm this specific finding in WBS patients.

    Keywords: Williams syndrome, acessment, cognition, visual-spatial deficits, austistic traits.

  • INTRODUO

  • Introduo Williams et al. (1961) foram os primeiros a descrever a sndrome que ser

    abordada na presente tese. Posteriormente, em 1962, Beuren et al. (1972) descobriram

    novas caractersticas que compem o fentipo da doena (cf. Elioglu et al., 1998;

    McKusick, 1994).

    Os indivduos portadores da Sndrome de Williams-Beuren (SWB) apresentam

    microdeleo hemizigtica do brao longo do cromossomo 7, na regio 7q11.23, que

    inclui o gene da elastina. A SWB um distrbio multissistmico, com fentipo

    complexo, que apresenta como principais caractersticas: aparncia facial dismrfica,

    anormalidades cardiovasculares, baixa estatura, retardo mental, anormalidades do tecido

    conjuntivo, perfil cognitivo e personalidade amigvel (Morris et al., 1993; Elioglu et.

    al., 1998).

    O diagnstico da SWB feito atravs do reconhecimento das caractersticas

    clnicas tpicas e, posteriormente, confirmado por testes laboratoriais. A base para esses

    testes confirmatrios hemizigosidade do gene da elastina. O mtodo para a deteco

    dessa anormalidade a tcnica de FISH (Fluorescence In Situ Hybridization), MLPA

    (Multiplex Ligation-dependent Probe Amplification) ou anlise de marcadores

    microssatlites.

    Dentre os diversos aspectos que caracterizam a SWB, salientam-se aqueles

    referentes s alteraes moleculares responsveis pelos traos fenotpicos. A correlao

    fentipo-gentipo apresenta muitos pontos a serem elucidados, decorrendo da o

    interesse dos autores em discorrer sobre essa sndrome, com abordagem voltada,

    principalmente, para os aspectos cognitivos.

    2

  • Consideraes histricas A SWB uma doena caracterizada por mltiplas anomalias associadas a retardo

    mental, descrita quase ao mesmo tempo por Williams et al. (1961) na Nova Zelndia e

    por Beuren et al. (1962) na Alemanha.

    Em seu trabalho, Williams et al. (1961) descreveram quatro crianas com

    fcies peculiar e estenose artica supravalvular (EAS). No ano seguinte, Beuren et al.

    (1962) descreveram quatro pacientes com caractersticas clnicas semelhantes, somadas

    presena de estenose da artria pulmonar. Com base nas evidncias, observaram tratar-

    se de uma sndrome no descrita previamente na literatura mdica.

    A etiologia desta doena permaneceu desconhecida at 1993, quando Ewart et al.

    (1993) demonstraram que a completa deleo de um dos alelos da elastina implicava a

    patognese desta doena.

    Figura: 1 - Cromossomo 7 do gentipo humano

    3

  • Incidncia A incidncia da SWB foi estimada em 1:25.000 a 1:40.000 (Morris et al., 1993).

    considerada uma entidade rara pela maioria dos autores, no existindo predomnio por

    sexo, raa ou regio geogrfica (Lashkari et al., 1999). A ocorrncia de casos familiares

    rara, mas quando presente obedece a um padro de herana autossmica dominante

    (Morris et al., 1993).

    4

  • Quadro clnico A SWB caracteriza-se pela presena de fcies dismrfico tpico, cardiopatia

    congnita, baixa estatura, anomalias renais e genitourinrias, deficincia mental e,

    ocasionalmente, hipercalcemia na lactncia (Pagon et al., 1987; Morris et al., 1998;

    Lashkari et al., 1999).

    Os indivduos com SWB tendem a exibir linguagem relativamente pobre, grande

    habilidade para reconhecer as pessoas e escassez de recursos intelectuais, como

    dificuldades para fazer clculos matemticos. Alm destas caractersticas, podem

    apresentar reduo da habilidade motora, da cognio espacial e outras (Lashkari et al.,

    1999; Sugayama, 2001). Ainda assim, frequentemente manifestam comportamentos

    emocionais distintos, como: hiperatividade, desinibio social, afabilidade, insegurana

    e baixa capacidade de concentrao. Estas caractersticas podem contribuir para

    dificuldades de aprendizado, alm de comprometer o relacionamento interpessoal e

    prejudicar a adaptao social (Preus, 1984; Gosch e Pankau, 1996).

    Os principais critrios diagnsticos da SWB consistem em fcies peculiar,

    estenose artica supravalvular (EAS) ou estenose da artria pulmonar (EAP), dficit de

    crescimento, anomalias dentrias, retardo mental e hipercalcemia infantil (Jones e Smith,

    1975; Pagon et al., 1987). Outros achados, como hrnia inguinal e umbilical, contraturas

    articulares, sinostose radioulnar e estrabismo so frequentes e tambm devem ser

    considerados no diagnstico.

    A suspeita diagnstica da SWB pode ser feita com base na presena do conjunto

    das anomalias citadas. No entanto, o diagnstico clnico pode ser confirmado por meio

    da realizao do estudo citogentico molecular, no qual se verifica a perda de um dos

    alelos do gene da elastina, pela tcnica de hibridizao in situ por fluorescncia (FISH),

    Multiplex Ligation-dependent Probe Amplification (MLPA) ou anlise de marcadores

    microssatlites.

    5

  • Etiologia e diagnstico da SWB Desde os relatos iniciais da doena at o incio da dcada de 90, o diagnstico da

    SWB era feito com base nos sinais clnicos (Williams et al. 1961; Preus, 1984).

    Contudo, o diagnstico clnico tornava-se muito difcil em algumas situaes,

    como durante os primeiros anos de vida e nos pacientes com fentipo varivel que

    tambm poderia se modificar com a vida adulta (Borg et al., 1995).

    A maior contribuio para o diagnstico da SWB ocorreu quando Ewart et al.

    (1993) estudaram nove casos de SWB, sendo cinco espordicos e quatro familiares, e

    concluram que esta causada por delees submicroscpicas do cromossomo 7 na

    regio 7q11.23. Nestes nove casos, a deleo cromossmica no lcus do gene da elastina

    foi identificada pela tcnica da hibridizao in situ com fluorescncia (FISH),

    utilizando-se a sonda da elastina genmica pELN5-4.

    A partir deste estudo, a SWB passou a ser considerada uma sndrome de deleo

    de genes contguos da regio 7q11.23 (brao longo do cromossomo 7), com padro de

    herana autossmica dominante. Esta deleo encontra-se presente em 96 a 100% dos

    afetados (Ewart et al., 1993; Borg et al., 1995; Elioglu et al., 1998). Este mtodo,

    altamente sensvel, confirma o diagnstico nos afetados, possibilitando melhor

    abordagem teraputica, aconselhamento gentico precoce e adequado, e preveno das

    complicaes.

    Alm disso, este achado representou uma grande contribuio para o diagnstico

    desta sndrome, principalmente em casos de dificuldade diagnstica, especialmente nos

    primeiros anos de vida e naqueles com manifestaes clnicas variadas e atpicas.

    Borg et al. (1995) demonstraram concordncia em 100% dos casos, ao avaliarem

    cinco pacientes com os achados clinicamente clssicos da SWB, onde todos

    apresentaram a deleo no lcus da elastina, refletindo a alta sensibilidade e

    especificidade deste mtodo diagnstico.

    Uma srie de estudos moleculares identificou alguns genes individuais

    responsveis pelo fentipo da SWB. O gene da elastina fica localizado na regio

    cromossmica afetada na SWB. Sua deleo parece ser a causa das alteraes

    6

  • cardiovasculares e do tecido conjuntivo que frequentemente ocorrem na SWB, alm de

    hrnias da parede abdominal, envelhecimento precoce da pele, hiperextensibilidade

    articular, voz rouca, dismorfismos faciais, divertculos vesicais e outras anormalidades.

    O segundo gene mais frequentemente deletado nos afetados pela SWB o gene

    LIM-KINASE 1 (LIMK1). A deleo deste gene, expresso no sistema nervoso central

    (SNC), seria responsvel pelo perfil cognitivo peculiar da SWB, caracterizado pela

    deficincia de integrao visiomotora (Frangiskakis et al., 1996).

    J foram identificados mais de 15 genes na regio 7q11.23, alm dos genes da

    elastina (ELN) e LIM-KINASE 1 (LIMK1), cuja importncia na SWB ainda esta sendo

    investigada.

    Foram descritos, na literatura, dois sistemas de pontuao fenotpica (escores)

    para auxiliar o diagnstico diante da suspeita clnica. Preus (1984) elaborou um sistema

    de pontuao com base em 50 caractersticas clnicas, incluindo anomalias menores.

    Este mtodo foi considerado muito complexo, e o prprio autor admitiu a possibilidade

    de ocorrer discrepncias no caso de um mesmo paciente ser avaliado por diferentes

    examinadores. Lowery et al. (1995), avaliando 110 pacientes portadores da SWB,

    elaboraram um sistema de pontuao fenotpica e demonstraram que 96% dos pacientes

    examinados com as caractersticas fenotpicas da SWB apresentavam o teste de FISH

    positivo.

    Em nosso meio, para auxiliar na suspeita diagnstica da SWB, Sugayama (2001)

    elaborou um sistema de pontuao fenotpica com base na presena ou ausncia de 15

    caractersticas clnicas. Neste estudo, envolvendo 20 afetados, realizou-se uma

    metanlise para definir quais caractersticas clnicas estariam associadas ao teste de

    FISH positivo, sendo que as mais significativas foram: fcies tpico, retardo do

    crescimento intrauterino, dificuldades alimentares, obstipao, anomalias dentrias,

    EASV e personalidade amigvel. Para cada indivduo, a tabela foi aplicada e os pontos,

    somados. Os valores da pontuao nos 17/20 pacientes FISH positivos variaram de 19 a

    28 pontos e os valores dos afetados FISH negativos, de 12 a 16. Utilizando este sistema

    de pontuao, a possibilidade do paciente com valor igual ou superior a 20 pontos ser

    FISH negativo foi zero. Portanto, este sistema de pontuao seria um recurso de triagem,

    7

  • e o teste de FISH estaria indicado somente para os indivduos com sinais de SWB e

    pontuao inferior a 20.

    Apesar dos importantes e recentes avanos no diagnstico gentico da SWB, esta

    continua sendo considerada uma doena com sinais clssicos e de diagnstico clnico.

    Vrias tcnicas esto disponveis, entre elas o FISH (Fluorescence In Situ

    Hybridization), estudo de marcadores polimrficos de DNA e o MLPA (Multiplex

    Ligation-dependent Probe Amplification).

    Fluorescence In Situ Hybridization (FISH) na SWB Embora os portadores da SWB apresentem um perfil fenotpico bastante

    caracterstico, o diagnstico de certeza s possvel com a realizao de testes

    moleculares apropriados. A citogentica clssica pelo bandamento G (Giemsa) muito

    til para pesquisar as translocaes. Todavia, o nvel de resoluo desta tcnica no

    possibilita a deteco da microdeleo 7q11.23. A introduo das tcnicas moleculares

    na citogentica clssica, como o mtodo de hibridao in situ por fluorescncia (FISH),

    solucionou este problema, pois consegue detectar delees inferiores a 5 Mb. Vrios

    pacientes com caractersticas clnicas da SWB comearam a ser diagnosticados com a

    deleo 7q11.23 (Hoovers et al., 1999; Igbal et al., 1999; Sugayama, 2001).

    Hirota et al., em 1996, encontrou uma positividade de 100% no FISH de 32

    pacientes estudados, assim como Brewer et al. (1996), em outros 16 casos. Elioglu et

    al. (1998) realizou FISH em 16 pacientes com achados clnicos de SWB e encontrou

    deleo em 14 deles. Em tese de Doutorado desenvolvida na Unidade de Gentica do

    ICr, Sugayama (2001) realizou FISH em 20 pacientes com diagnstico clnico de SWB,

    encontrando uma confirmao (FISH positivo) em 17 pacientes (85%).

    Embora atualmente seja o mtodo padro-ouro para o diagnstico da SWB, o

    FISH tem um custo muito elevado, o que dificulta sua utilizao na rotina laboratorial

    em hospitais pblicos.

    8

  • Figura 2: FISH

    a) FISH Negativo

    b) FISH Positivo

    9

  • Marcadores polimrficos de DNA na SWB Outra forma de diagnstico menos dispendiosa para a deteco das delees o

    uso de marcadores polimrficos de DNA (Gilbert-Dussardier et al., 1995; Urban et al.,

    1996; Dutly e Schinzel, 1996), que tem se tornado uma ferramenta importante no estudo

    de microdelees. Com essa tcnica possvel definir a origem parental do cromossomo

    deletado e mapear os pontos de quebra cromossmica. Por isso, o uso de marcadores

    pode detectar delees atpicas e pequenas delees.

    A grande maioria dos pacientes com SWB (90%) apresenta uma deleo de 1,55

    Mb. Cerca de 8% dos pacientes apresenta uma deleo de 1,83 Mb (Bays et al, 2003).

    Apenas 2% dos casos apresentam delees maiores ou menores que afetam sempre o

    mesmo intervalo, com quadros clnicos atpicos, muitas vezes correlacionados com o

    tamanho da deleo. Os pacientes com delees variveis tm sido muito teis para

    estudos de correlao clnico-molecular.

    A deleo pode ser de origem materna ou paterna (Ewart et al., 1993; Dutly e

    Schinzel, 1996; Urban et al., 1996). Wu et al. (1998) no observou diferenas

    fenotpicas entre pacientes com deleo de origem parental distinta, mas Jurado et al.

    (1996) relacionou microcefalia e um atraso do crescimento mais marcante s delees

    nos cromossomos de origem materna.

    10

    http://www.genetests.org/servlet/access?id=8888891&key=t-J0jzQyxIcZS&gry=INSERTGRY&fcn=y&fw=7LHM&filename=/glossary/profiles/williams/details.html#gcID2877#gcID2877http://www.genetests.org/servlet/access?id=8888891&key=t-J0jzQyxIcZS&gry=INSERTGRY&fcn=y&fw=7LHM&filename=/glossary/profiles/williams/details.html#gcID2875#gcID2875http://www.genetests.org/servlet/access?id=8888891&key=t-J0jzQyxIcZS&gry=INSERTGRY&fcn=y&fw=7LHM&filename=/glossary/profiles/williams/details.html#gcID2875#gcID2875http://www.genetests.org/servlet/access?id=8888891&key=t-J0jzQyxIcZS&gry=INSERTGRY&fcn=y&fw=7LHM&filename=/glossary/profiles/williams/details.html#gcID2917#gcID2917

  • Figura 3: Representao esquemtica da regio 7q11.23.

    11

  • Multiplex Ligation-dependent Probe Amplification (MLPA) na SWB Em 2002, Schouten et al. descreveram a tcnica de MLPA, um mtodo novo e

    relativamente fcil de detectar delees e duplicaes de sequncias-alvo especficas,

    com hibridao simultnea e amplificao de mais de 40 sondas diferentes em uma

    nica reao.

    O MLPA pode ser utilizado para a avaliao molecular de pacientes que

    apresentem caractersticas clnicas da SWB. A deleo em 7q11.23 pode ter um tamanho

    varivel (Bays et al, 2003), envolvendo o gene da elastina (ELN) e outros genes

    adjacentes. Foi desenvolvido um kit para MLPA especfico para a SWB, capaz de

    detectar delees ou duplicaes de um ou mais xons dos seguintes genes: ELN,

    CYN2, TBL2, STX1A, LIMK1, RFC2 e FKBP6.

    Em outras sndromes para as quais j haviam kits para MLPA, como a sndrome

    da deleo 22q11.2, existem trabalhos comparando essa tcnica com outras, tais como

    FISH e marcadores polimrficos de DNA. Fernndez et al, em 2005, comparou os

    resultados de 30 pacientes com sndrome 22q11.2. Todos os pacientes com diagnstico

    prvio por FISH tiveram alteraes quando analisados por MLPA. Alm disso, os

    resultados pelo MLPA foram concordantes em todos os pacientes com anlise de

    marcadores polimrficos no que diz respeito ao tamanho da deleo, e conseguiram

    resolver sete casos que estavam indeterminados pela anlise dos marcadores.

    Em 2007, Kirchhoff et al. estudaram 258 pacientes com deficincia mental e

    dismorfias com um kit de MLPA desenvolvido para um painel de sndromes com

    deficincia mental (sndromes da deleo 1p36, Sotos, Williams-Beuren, Prader-Willi,

    Angelman, Miller-Dieker, Smith-Magenis e deleo 22q11). Foi encontrado um paciente

    com SWB e outro com uma pequena duplicao 7q11.

    No h, at o presente momento, na literatura estudo especfico para a SWB

    utilizando essa metodologia.

    12

  • Fentipo Neurocognitivo A sndrome de Williams aparece frequentemente descrita por um perfil de picos

    e vales, em que uma preservao ou excelncia de funcionamento social e da

    linguagem contrastam com profundos dficits em termos do funcionamento cognitivo

    global e visioespacial (e.x.: Bellugi, Korenberg e Klima, 2001). Por exemplo, as crianas

    diagnosticadas com sndrome de Williams so descritas como altamente socializveis,

    com um alto nvel de desenvolvimento verbal e revelando-se, no contexto da sua

    interao com os outros, verdadeiros contadores de histrias. No entanto, este

    aparentemente elevado nvel de funcionamento social e lingustico no de modo algum

    correlativo de um elevado funcionamento cognitivo geral. Muito pelo contrrio, estas

    crianas tm frequentemente um QI na faixa de deficincia mental leve a moderado,

    com acentuadas dificuldades em termos de raciocnio espacial, aptides de soluo de

    problemas ou mesmo da motricidade fina.

    O fentipo neurocognitivo inclui tambm a facilidade para habilidades musicais

    e para o reconhecimento facial (Pagon et al., 1987; Udwin e Yule 1990; Jarrold et al.,

    1998; Mervis et al., 2000; Atkinson et al., 2001).

    A caracterstica de fala fluente, bem articulada e gramaticalmente correta,

    contrastando com prejuzos cognitivos, compuseram as primeiras e principais descries

    sobre o fentipo comportamental da SWB.

    Segundo Galaburda et al. (2002) sob o ponto de vista neuroanatmico, os

    portadores desta sndrome apresentam uma reduo no volume cerebral (cerca de 13%).

    Esta diminuio de volume no , no entanto, homognea, encontrando-se uma

    preservao proporcional de determinadas estruturas, contrastando com outras que se

    encontram claramente em dficit. Estes estudos tendem a sustentar a existncia de uma

    preservao proporcional das reas corticais anteriores e temporo-lmbica

    (circunvoluo temporal-superior) e, sobretudo, para a predominncia do neocerebelo.

    Em termos cognitivos gerais, embora as investigaes tendam a chamar a

    ateno para uma disperso substancial das amostras e da possibilidade da existncia de

    endofenotipos, a verdade que se assiste, de um modo geral, a um acentuado dficit

    intelectual (QI mdio de 55 com um desvio padro de 11 pontos), associado a

    13

  • dificuldades generalizadas na realizao de tarefas conceituais e de soluo de

    problemas (e.x.: conservao do nmero, peso ou substncia). O perfil de

    disfuncionamento cognitivo semelhante ao encontrado na Sndrome de Down, no

    existindo diferenas significativas entre estas duas sndromes em termos de QI verbal,

    QI de execuo e QI total (Bellugi et al., 2000). Sob o ponto de vista visuoespacial,

    esses indivduos apresentam profundos dficits, evidenciando grandes dificuldades quer

    nas tarefas de desenho livre quer nas cpias de figuras geomtricas. Assiste-se,

    sobretudo, a uma grande dificuldade na integrao e coeso da informao

    visuoespacial. Alguns estudos tm apontado para o fato destas dificuldades espaciais

    estarem ligadas s estratgias utilizadas no processamento, apontando para o fato de os

    sujeitos com Sndrome de Williams privilegiarem estratgias locais em detrimento de

    estratgias globais (Bellugi et al.,2000; Farran e Jarrold, 2003; Farran, Jarrold e

    Gathercole, 2001).

    No entanto, estes dficits em termos cognitivos gerais e de processamento

    visuoespacial parecem contrastar claramente com aquilo que se passa em termos do

    desenvolvimento socioafetivo e lingustico. No domnio socioafetivo, a investigao

    aponta para uma significativa capacidade para reconhecer, discriminar e lembrar de

    faces familiares e no familiares, em vrias condies de iluminao e orientao, e que

    estas capacidades contrastam com acentuados dficits nas mais diversas tarefas

    visuoespaciais (Rossen, Jones, Wang e Klima, 1995). Do mesmo modo, bebs com

    SWB demonstram uma excessiva atrao pela face de adultos (Jones, Bellugi, Lai,

    Chiles, Reilly e Adolphs, 2000).

    Quanto a linguagem expressiva, tm sido apresentados dados acerca da relativa

    preservao dos aspectos lexicais, sintticos e semnticos, sobretudo em funo do que

    seria de esperar tendo em conta os dficits de funcionamento cognitivo geral. Estudos

    realizados por Bellugi et al. (2001) apontam para trs aspectos principais: Em primeiro

    lugar, estes pacientes apresentam resultados particularmente elevados, quer em termos

    de compreenso e produo, quer em testes da linguagem expressiva; esta capacidade

    acrescida ainda extensiva a nveis metalingusticos, permitindo-lhes a expresso

    correta de modos gramaticalmente complexos. Em segundo lugar, estes pacientes so

    14

  • prolixos na produo vocabular corrente e ainda na produo de vocbulos invulgares.

    Finalmente, naquela que talvez a sua caracterstica narrativa mais distintiva, estes

    pacientes apresentam um significativo envolvimento afetivo nas suas histrias,

    manifestado por abundante prosdia (e.x.: modificaes do ritmo e volume da voz),

    comentrios acerca dos afetos das personagens, uso de discurso direto, efeitos de som e

    frases exclamatrias.

    No entanto, alguns autores tm reclamado que esta dissociao presente no

    fentipo cognitivo de indivduos com Sndrome de Williams mais aparente do que

    real, e que resulta de vrios artefatos metodolgicos, a partir dos quais destacam-se trs

    situaes problemticas:

    Em primeiro lugar, o fato de grande parte dos estudos utilizarem como

    populaes controle outras perturbaes genticas ou o mero emparelhamento em

    termos de idade mental pode dar uma falsa iluso da natureza intacta de determinadas

    funes (Mervis, 2003).

    Em segundo lugar, possvel que alguns dos resultados encontrados sugerindo

    uma excelncia no desenvolvimento da linguagem sejam falsamente induzidos pela boa

    memria verbal e pela utilizao privilegiada das estratgias fonolgicas em detrimento

    das semnticas (Kamirloff-Smith et al., 2003).

    Em terceiro lugar, no mnimo estranho que, sendo a narrativa uma tarefa

    neurocognitiva de grande complexidade que envolve uma multiplicidade de funes

    executivas, lingusticas, atencionais, mnsicas e afetivas , ela possa estar sequer

    preservada numa sndrome com caractersticas neurodesenvolvimentais implicando

    alteraes ao nvel de diferentes estruturas e mecanismos de funcionamento intercortical

    e crtico-subcortical.

    Com efeito, estudos realizados com outros tipos de perturbaes

    psicopatolgicas, mesmo na ausncia de etiologia gentica definida, tm chamado a

    ateno para as possibilidades de alteraes na estrutura, processo e contedos da

    narrativa; mostrando ser a narrativa um elemento particularmente sensvel da qualidade

    do funcionamento neurocognitivo (Gonalves et al., 2002; Gonalves et al., 2000;

    Gonalves et al., 2002).

    15

  • Os estudos de reviso realizados por Meyer-Lindenberg et al. (2009) sobre as

    relaes entre as funes psicolgicas e o substrato estrutural neural na SWB,

    destacaram que, embora pessoas com esta sndrome relatem estados de bem-estar

    subjetivo, as avaliaes psicolgicas padronizadas indicam a presena de transtorno do

    humor e fobias especficas. Korenberg et al. (2008) realizaram um estudo de reviso

    sobre o fentipo social e concluram que os portadores desta sndrome apresentam:

    ausncia de acanhamento, boa socializao, empatia e altos nveis de ansiedade e tenso.

    Recentemente, Marini et al. (2010) investigaram a fluncia verbal e a habilidade

    de narrativa oral de 9 indivduos com a SWB, comparando-as s de um grupo com idade

    mental semelhante. A fluncia verbal foi avaliada em situao de nomeao, sendo

    verificado desempenho semelhante aos controles. J a narrativa oral foi obtida com o

    uso de pranchas de figuras em sequncia e uma prancha nica (prancha do roubo dos

    biscoitos). Os resultados mostraram que os indivduos com a SWB apresentam

    desempenho diferente quanto aos aspectos macro e microlingusticos da narrativa. Os

    autores verificaram que os indivduos com esta sndrome eram capazes de produzir o

    mesmo nmero de palavras com velocidade de fala semelhante em relao aos controles,

    mas com prejuzo significativo quanto coerncia global da narrativa, principalmente,

    no instrumento de figuras em sequncia. Esses achados sugeriram que o estmulo

    utilizado para avaliar a narrativa pode ter influenciado no desempenho dos mesmos,

    considerando que o uso de figuras em sequncia requer uma narrativa mais elaborada, se

    comparada figura nica, que leva a uma descrio. Os autores concluram que as

    dificuldades apresentadas pelos indivduos com a SWB na narrativa oral utilizando

    instrumentos visuais devem-se aos prejuzos na organizao e ao processamento das

    informaes e no s dificuldades da anlise perceptual do estmulo.

    Podemos observar que estudos voltados para a caracterizao do fentipo

    neurocognitivo e lingustico desta sndrome, associados a estudos moleculares, podero,

    num futuro prximo, trazer benefcios aos pacientes e a seus familiares, uma vez que

    esses resultados podero auxiliar a conduta do aconselhamento gentico e as

    perspectivas de interveno.

    16

  • Sndrome de Williams-Beuren e Autismo A SWB um distrbio neurolgico causado por uma deleo na regio 7q11.23

    que inclui pelo menos 17 genes. Segundo pesquisa realizada por Herguner e Mukaddes

    (2006), a presena de caractersticas autistas na SWB uma questo controversa.

    Enquanto alguns autores descrevem um fentipo oposto ao do autismo, estudos recentes

    indicam que ambos compartilham muitas caractersticas em comum. Estudos de gentica

    molecular tm mostrado que a supresso do gene da elastina pode explicar as anomalias

    cardiovasculares vistas na SWB, mas que as caractersticas autistas so provavelmente

    causadas por outros genes que flanqueiam elastina.

    Segundo pesquisas realizadas por Targer-Flusberg et al. (2006), o autismo e a

    SWB so entendidos geneticamente como perturbaes do desenvolvimento neurolgico

    e apresentam diferentes fentipos sociais. Autismo envolve deficincias fundamentais na

    reciprocidade social e de comunicao, enquanto as pessoas com SWB so altamente

    sociveis e cativantes. Neste artigo, os autores reveem a literatura comportamental e de

    neuroimagem, que explorou os mecanismos cognitivos que contribuem para estes

    fentipos sociais, concentrando-se em estudos de processamento de rosto. O artigo

    concludo com uma discusso de como os fentipos sociais de ambas as sndromes

    podem ser caracterizadas pela deficincia de conectividade entre a amgdala e outras

    regies crticas no crebro social.

    Pesquisa realizada no departamento de psiquiatria e psicoterapia do Institute of

    Mental Health ressaltou que faz-se necessrio maiores investigaes genticas, visto que

    a medicina molecular vem apresentando grandes avanos acerca dos fentipos

    comportamentais (Meyer-Lindenberg, 2009). Resultados de pesquisas sugerem que os

    dficits sociais de ambos os transtornos podem aumentar, ao invs de reduzir, a

    importncia da msica para os indviduos com SWB (Heaton e Allen, 2009).

    Outros estudos tambm reconhecem a relao do funcionamento da amgdala ao

    reconhecimento de faces e revelam um padro atpico na ativao desta regio cerebral

    dos autistas, principalmente na regio da amgdala, durante o processamento visual de

    faces humanas (Adolphs et al., 2001; Pelphrey et al., 2007; Spezio et al., 2007; Dalton et

    al., 2007; Ashwina et al., 2007; Golarai et al., 2006; Schultz, 2005; Tirapu-Ustrroz et

    17

  • al., 2007). E apontam essa estrutura como tendo papel importante na sociabilidade,

    especificamente na relao com outras pessoas e na conduta social, e o envolvimento de

    reas frontais (Valdizn, 2008).

    18

  • JUSTIFICATIVA

  • Justificativa Uma caracterstica fundamental desta sndrome a reproduo de cpias

    desordenada (Bellugi et al. 2000). As figuras so geralmente reprodues inexatas do

    modelo, e a severidade do distrbio varia entre os sujeitos, a deficincia intelectual

    tambm est presente em todos os pacientes. O coeficiente de inteligncia (QI) varia de

    41 a 80 (Jones e Smith, 1975). Algumas crianas so mais afetadas que outras, porm a

    maioria encontra-se na faixa de DM leve a moderada (Jones e Smith, 1975; Udwin et al.,

    1996; Morris et al., 1988).

    Com este estudo pretende-se trazer contribuies para uma compreenso

    abrangente, de forma a possibilitar uma viso mais integrada desta sndrome, visto que

    no foi realizado nenhum estudo deste tipo em nossa literatura.

    20

  • OBJETIVOS

  • Objetivos Avaliar a habilidade cognitiva QI de execuo, verbal e total; frequncia de

    dficit visuoespacial; frequncia de traos autsticos e comparar os achados

    encontrados com os resultados moleculares nos pacientes com SWB.

    22

  • METODOLOGIA

  • Metodologia

    Procedimentos A pesquisa foi realizada na Unidade de Gentica do Instituto da Criana (ICr) do

    Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

    (HCFMUSP). Este estudo foi submetido Comisso de tica para Anlise de Projetos

    de Pesquisa da diretoria clnica do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da

    Universidade de So Paulo (CAPPesq), em sesso de 11/10/2006, sendo aprovado o

    protocolo de pesquisa nmero: 805/06 (anexo: 1) e o consentimento livre e esclarecido

    (anexo: 2).

    Os pacientes foram avaliados individualmente em sala adequada para isso.

    Iniciei explicando a forma de preenchimento de cada instrumento utilizado na pesquisa e

    a bateria de testes foi divida em:

    1a WISC-III

    2a WAIS-III

    3a Figuras Complexas de Rey

    4a ATA

    Casustica Foram selecionados para esta pesquisa 31 crianas, adolescentes e adultos com

    sndrome de Williams-Beuren, sendo 19 (dezenove) do sexo masculino e 12 (doze) do

    sexo feminino.

    Todos os participantes desta pesquisa estavam matriculados na Unidade de

    Gentica do Instituto da Criana do HCFMUSP e, no caso dos menores de idade, os pais

    assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. O presente projeto tem apoio

    financeiro da FAPESP, processo n: 2008/55391-6.

    24

  • Critrios de incluso Pacientes ambulatoriais com o diagnstico confirmado de sndrome de Williams-

    Beuren.

    Tratamento dos dados As informaes coletadas formam submetidas estatstica descritiva. Para

    realizao dos clculos foi utilizado o software SPSS 13.0.

    Esta anlise foi realizada sob orientao do Prof. Dr. Ullysses Dria Filho.

    Instrumentos de avaliao

    Escalas de Inteligncia: Wechsler intelligence scale children

    (WISC-III) (Wechsler D. 2002) e Wechsler adult intelligence scale

    (WAIS-III) (Wechsler D. 1997). As escalas Wechsler de inteligncia so amplamente utilizadas, fazendo parte das

    baterias de avaliao neuropsicolgica. A correlao de seus resultados com a

    localizao cerebral vem sendo objeto de muito estudo e tem contribudo

    significativamente para o entendimento do crebro humano (Lezak, 1995; Spreen e

    Strauss, 1998).

    A estrutura geral das escalas dividida em dois grupos de subtestes: os verbais e

    os no-verbais (ou execuo ou performance). Nas funes verbais, a soma dos escores

    ponderados dos subtestes: vocabulrio, semelhana, aritmtica, nmeros, informao e

    compreenso geram QI verbal. O QI performance decorrente da soma dos escores

    ponderados dos subtestes: cdigo, smbolos, cubos, matrizes, arranjo de histrias, armar

    objetos e labirintos.

    A sobreposio das escalas para algumas faixas de idade permite ao examinador

    escolher qual a mais adequada para certas situaes. Quando um examinando de 6 anos

    j apresenta sinais de comprometimento das funes cognitivas mais conveniente

    utilizar a escala Wechsler Primary and Intelligence Scale for Children WPPSI, pois se

    25

  • for utilizada a escala WISC III, a criana encontrar muitas dificuldades logo no incio

    de cada subteste, ao passo que com a outra escala ter oportunidade de mostrar algumas

    de suas aquisies bsicas. O mesmo pode ser utilizado na sobreposio entre WISC III

    e WAIS III (Wechsler Adult Intelligence Scale for Children) para a faixa de 16 anos.

    Um adolescente de 16 anos com excelente desempenho acadmico pode ser avaliado

    pelo WAIS III, mas aquele com longo comprometimento escolar respondero melhor ao

    WISC III.

    A seguir, descreveremos os subtestes das escalas WISC III; WAIS-III e suas

    principais funes:

    O subteste informao contm questes referentes a conhecimentos gerais,

    incluindo nomes de objetos, data, fatos histricos e geogrficos, entre outros. Avalia-se

    o conhecimento adquirido pelo indivduo em experincias vividas, no dependendo

    exclusivamente de conhecimentos acadmicos, em que a memria um importante

    aspecto a ser considerado. Ressalta-se que indivduos com alto desempenho nesse

    subteste no necessariamente possuem eficincia mental e competncia para isso

    necessrio que saibam utiliz-las.

    No subteste semelhana, o examinador pede ao indivduo para falar das

    semelhanas de cada par de palavras. So avaliados os conceitos verbais e habilidade

    para integrar objetos e eventos pertencentes ao mesmo grupo, em que as respostas

    podem ser concretas, referindo-se ao que pode ser visto ou tocado; funcionais ou

    condizentes com a funo ou uso dos objetos; e abstrata, com propriedades mais

    universais ou restritas a uma classificao de um grupo. O desempenho do avaliado

    demonstra ser relacionado com suas oportunidades culturais e de acordo com o seu

    interesse, a memria tambm est envolvida.

    Vocabulrio um subteste que avalia o conhecimento de palavras, incluindo a

    capacidade de aprendizagem, acmulo de informao de conceitos e desenvolvimento da

    linguagem. Com o tempo, os resultados normalmente se apresentam estveis e, de certa

    forma, resistentes a dficit neurolgico e distrbios psicolgicos.

    O subteste compreenso contm a questo com situaes-problema, envolvendo

    conhecimento corporal, relaes interpessoais e sociais. Indivduos que possuam

    26

  • habilidades para relacionar experincias vividas na obteno de solues tero melhor

    desempenho. Assim, as respostas so relacionadas a julgamento social, ou senso

    comum, e compreenso de padres sociais.

    A aritmtica um importante subteste que avalia o raciocnio numrico do

    indivduo e sua capacidade para solucionar problemas, necessitando de ateno e

    concentrao em partes selecionadas das questes e uso de operao numrica. Os itens

    so apresentados oralmente, sendo que somente no WISC III os primeiros e ltimos

    itens so apresentados visualmente; no so fornecidos papel e lpis ao indivduo a ser

    testado e esse um teste com limite de tempo. A boa performance nesse subteste pode

    ser garantia de um adequado processamento da informao para compreender e integrar

    informaes verbais presentes no contexto matemtico.

    O subteste nmeros (ou span de dgitos) aplicado oralmente e em duas

    diferentes etapas. Na primeira apresentada uma sequncia de nmeros que variam de 3

    a 8 dgitos, sendo solicitado ao indivduo que repita cada srie; so avaliadas a

    aprendizagem e a memria, em conjunto com habilidade em processos sequenciais. Na

    segunda etapa, a sequncia de nmeros varia de 2 a 8 dgitos e deve ser invocada

    inversamente; envolve processos cognitivos mais complexos. O entrevistado avaliado

    segundo sua capacidade de inverso de sequncia, flexibilidade, tolerncia ao estresse e

    concentrao.

    Completar figuras um subteste em que o examinador apresenta figuras com

    desenhos, sendo que falta um elemento importante em cada uma, e solicita que esse

    elemento seja identificado. So avaliados reconhecimento de objetivos, discriminao

    visual e habilidade para diferenciar detalhes.

    No subteste arranjo de histrias, pede-se ao examinador que organize uma srie

    de figuras em sequncia lgica. um teste no-verbal, por meio do qual se avalia a

    capacidade de organizao, planejamento e sequncias temporais, bem como se verifica

    se a ideia geral de cada histria foi bem compreendida.

    H, ainda, o subteste de cubos, os quais apresentam dois lados brancos, dois

    vermelhos e dois bicolores. O indivduo avaliado precisa fazer uma montagem com

    cubos idnticos ao modelo apresentado e, com isso, avalia-se sua habilidade de perceber

    27

  • e analisar formas e seu raciocnio para questes visuoespaciais. um teste no-verbal,

    que requer organizao perceptual e visualizao espacial; e que sofre interferncia da

    atividade motora visual.

    Armar objetos um subteste com limite de tempo para cada tarefa, no qual se

    examina, principalmente, a capacidade de sntese. O examinado deve selecionar partes

    de objetos familiares para formar um nico objeto. Para isto, necessrio ter habilidade

    visuomotora, organizao perceptual e compreender o modelo por inteiro por

    antecipao, diante das partes individuais apresentadas.

    Cdigo consiste em uma etapa da Escala Weschler que requer cpias de

    smbolos acompanhados por nmeros, envolvendo a discriminao e memria de

    modelos visuais. Avalia-se a habilidade para aprender combinaes de smbolos e

    formas e a capacidade para fazer associaes de forma rpida e precisa. Ateno,

    memria imediata, motivao, flexibilidade cognitiva, coordenao visuomotora

    tambm so importantes neste subteste, no qual o bom desempenho influenciado,

    ainda, pela destreza com o lpis e o papel.

    O ltimo subteste o labirinto, um teste complementar utilizado de acordo com

    o interesse do avaliador, podendo ser correlacionado com as respostas obtidas

    anteriormente. Mede a habilidade de planejamento e organizao perceptual,

    necessitando de ateno e concentrao, controle visuomotor e velocidade combinada

    com preciso.

    28

  • Figuras complexas de Rey Oliveira et al., 1999 O teste de figuras complexas de Rey foi idealizado por Andr Rey, em 1942,

    para auxiliar no diagnstico diferencial entre a debilidade mental constitucional e o

    dficit adquirido, em conseqncia de traumatismo crnio-enceflico (Rey, 1999).

    Contudo, foi Osterrieth que, em 1945, desenvolveu o trabalho de estudo gentico da

    prova (Osterrieth, 1945).

    Trata-se de um instrumento composto de uma figura complexa, geomtrica e

    abstrata, composta por vrias partes. A aplicao constituda por dois momentos: no

    primeiro deles pede-se ao sujeito que copie a figura com o maior nmero de detalhes

    possveis. Posteriormente (aps trs minutos), pede-se ao sujeito que desenhe a mesma

    figura sem o estmulo, isto , as partes que consegue lembrar-se do que realizou

    anteriormente.

    As tcnicas de screening neuropsicolgicos popularizam-se inicialmente entre

    1940 e 1950 (Caffarra et al., 2002), quando se acreditava que as perdas cerebrais

    poderiam ser identificadas por algumas manifestaes gerais. Desde ento, os testes

    neuropsicolgicos tm se proposto a avaliar a cognio dos sujeitos em vrios

    ambientes.

    Este instrumento foi descrito como sendo um teste neuropsicolgico bastante

    usado na prtica clnica para investigar a memria visual, a habilidade visuoespacial e

    algumas funes de planejamento e execuo de aes. Tambm avalia a organizao, o

    planejamento e as habilidades de resoluo de problemas (Fernando et al., 2003), bem

    como a memria imediata (Lu et al., 2003). amplamente usado para explorar a

    memria no-verbal. Um aspecto interessante desse teste que, criando-se uma ordem

    significativa durante a cpia da figura, consequentemente a evocao da memria ser

    melhor do que se no tivesse sido feito nenhum esquema ou ordem.

    Este teste considerado um instrumento de extrema importncia para o auxlio

    de dados na percepo visual e na memria imediata. Diante dos custos para realizar

    outros tipos de exames que avaliam tais funes, este teste mostra-se eficaz, fidedigno e

    de fcil aplicao.

    29

  • Escala de Traos Autsticos (ATA) Ballabriga et al., 1994 adapt.

    Assumpo et al., 1999 A escala ATA composta por 23 subescalas, cada uma das quais dividida em

    diferentes itens. Sua construo foi realizada levando-se em conta os critrios

    diagnsticos do DSM-III, DSM-III-R e da CID-10 e, na nossa padronizao, foram

    utilizadas tambm as correes de critrios decorrentes da publicao do DSM-IV

    (APA, 1995). Assim sendo, quinze das suas subescalas so representativas dos trs

    critrios bsicos e somente as subescalas 8, 10 e 15 so apontadas como itens adicionais

    nas escalas ERCN (chelle d'valuation resume du comportement autistique), ERCA-

    IIIA (chelle d'valuation resume du comportement du nourrison) e na escala de

    Rivire. As subescalas 1, 16 e 21 so aquelas que se apresentam com maior frequncia

    nos instrumentos diagnsticos revisados pelos autores.

    A ATA um instrumento de fcil aplicao, acessvel a profissionais que tm

    contato direto com a populao autista, por exemplo, professores, bem como pais,

    informando o estado atual do paciente. Ela aplicada por profissional conhecedor do

    quadro, embora no necessariamente mdico, sendo ele o responsvel pela avaliao das

    respostas dadas, em funo de cada item. No , portanto uma entrevista diagnstica,

    mas uma prova estandardizada que d o perfil conductual da criana, embasada nos

    diferentes aspectos diagnsticos. Baseia-se na observao e permite fazer seguimentos

    longitudinais da evoluo, tendo por base a sintomatologia autstica, auxiliando tambm

    a elaborao de um diagnstico mais confivel desses quadros. administrada aps

    informao detalhada dos dados clnicos e evolutivos da criana, podendo auxiliar no

    processo teraputico, possibilitando a avaliao constante. Pode ser aplicada a partir dos

    dois anos de idade e, mesmo considerando-se que apresenta muitos itens especficos, os

    autores referem-se a tempo pequeno para sua aplicao (ao redor de 20 a 25 minutos).

    Na aplicao em nossa populao, o tempo mdio ficou entre 20 e 30 minutos,

    aproximadamente.

    A escala se pontua com base nos seguintes critrios: cada subescala da prova tem

    um valor de 0 a 2; pontua-se a escala positiva no momento em que um dos itens for

    30

  • positivo; a pontuao global da escala se faz a partir da soma aritmtica de todos os

    valores positivos da subescala e seu ponto de corte de 15 pontos.

    31

  • RESULTADOS

  • Resultados Os resultados obtidos para cada um dos testes foram descritos atravs de suas

    medianas e valores mnimos e mximos.

    A mediana de idade deste grupo de 14, com valor mximo de 26 e valor

    mnimo 9.

    13/31 eram alfabetizados, sendo que 15 estavam matriculados em escola

    especial, 11 em escola comum e 5 estavam fora da escola.

    Tabela 1: Descrio das variveis do WISC-III: Funo verbal

    Varivel (n: 31) Mediana Valor mximo Valor mnimo

    Informao 6,5 10 2

    Semelhana 6,5 9 2

    Aritmtica 4 7 1

    Vocabulrio 5 9 1

    Compreenso 6 9 2

    Tabela 2: Descrio das variveis do WISC: Funo de execuo

    Varivel (n: 31) Mediana Valor mximo Valor mnimo

    Completar figuras 6 12 1

    Cdigo 4 9 1

    Arranjo de figuras 4 8 1

    Cubos 2,5 6 1

    Armar objetos 3 8 1

    33

  • Tabela 3: Descrio das variveis do QI verbal, de execuo e total (WISC-III)

    Varivel (n:31) Mediana Valor mximo Valor mnimo

    Verbal 71 87 57

    De execuo 58 83 45

    Total 62 85 50

    Tabela 4: Descrio dos ndices de compreenso verbal, organizao perceptual,

    resistncia distrao e velocidade de processamento (WISC-III)

    Varivel (n: 31) Mediana Valor mximo Valor mnimo

    Compreenso verbal 23 35 10

    Organizao perceptual 16,5 30 7

    Resistncia distrao 4 7 1

    Velocidade de processamento 4 9 1

    34

  • Tabela 5: Descrio das variveis do WAIS-III: Funo verbal

    Varivel (n: 31) Mediana Valor mximo Valor mnimo

    Informao 7 10 4

    Semelhana 7 10 3

    Aritmtica 3 9 3

    Dgitos 1 3 1

    Vocabulrio 6 8 5

    Compreenso 6 8 3

    Tabela 6: Descrio das variveis do WAIS: Funo de execuo

    Varivel (n: 31) Mediana Valor mximo Valor mnimo

    Completar figuras 8 9 2

    Cdigo 5 9 2

    Arranjo de figuras 5 9 3

    Cubos 5 8 2

    Raciocnio matricial 3 6 2

    Armar objetos 3 6 1

    35

  • Tabela 7: Descrio das variveis do QI verbal, de execuo e total (WAIS-III)

    Varivel (n:31) Mediana Valor mximo Valor mnimo

    Verbal 70 86 64

    De execuo 64 82 60

    Total 67 86 61

    Tabela 8: Descrio dos ndices de compreenso verbal, organizao perceptual, ndice

    e memria operacional, e velocidade de processamento (WAIS-III)

    Varivel (n: 31) Mediana Valor mximo Valor mnimo

    Compreenso verbal 18 28 14

    Organizao perceptual 14 23 10

    ndice e Memria Operacional 6 10 4

    Velocidade de processamento 5 9 2

    Tabela 9: Descrio das variveis do dficit visuoespacial

    Varivel (n: 31) Mediana Valor mximo Valor mnimo

    Cpia 3,0 23,0 0,0

    Memria 2,0 18,5 0,0

    36

  • Figura 1. Frequncia de traos autsticos

    37

  • Tabela 10: Descrio das variveis de sujeitos com presena de traos autsticos e sem

    traos autsticos, divididos por sexo

    Varivel (n: 31) Sim No

    Masculino 10 (52,6%) 9 (47,4%)

    Feminino 9 (75,0%) 3 (25,0%)

    Tabela 11: Descrio das variveis de sujeitos com presena de traos autsticos e sem

    traos autsticos versus dficit visuoespacial

    Varivel (n: 31) Mediana Valor mximo Valor mnimo

    Cpia (com traos autsticos) 3,0 16,0 1,0

    Cpia (sem traos autsticos) 3,0 23,0 0,0

    Memria (com traos autsticos) 2,0 8,0 5,0

    Memria (sem traos autsticos) 2,0 18,5 0,0

    38

  • Tabela 12: Descrio do tamanho da deleo, com presena de traos autsticos e sem

    traos autsticos

    Total 26

    Deleo 1,55Mb (com traos autsticos) 9

    Deleo 1,55Mb (sem traos autsticos) 14

    Deleo 1,83Mb (com traos autsticos) 2

    Deleo 1,83Mb (sem traos autsticos) 1

    Tabela 13: Descrio da origem parental da deleo

    Varivel (n: 31)

    Materno 13

    Paterno 13

    No determinado 5

    39

  • DISCUSSO

  • Discusso

    A investigao baseou-se na utilizao de instrumentos padronizados que

    avaliam a funo cognitiva (WISC-III e WAIS-III), dficit visuoespacial (figuras

    complexas de Rey) e escala de traos autsticos (ATA).

    Aps a descrio dos dados obtidos por meio de coletas, realizadas durante a

    composio deste estudo, faz-se necessrio, estabelecer relaes dos achados com a

    literatura consultada.

    Os sujeitos estudados formam uma amostra composta por 31 indivduos entre

    crianas, adolescentes e adultos com diagnstico confirmado de Sndrome de Willians-

    Beuren; a idade variou entre 9 e 26 anos, sendo que a mediana deste grupo de 14,

    variando em 26 (valor mximo) e 9 (valor mnimo).

    Em nossa pesquisa foram encontrados 19 sujeitos do sexo masculino e 12 do

    sexo feminino, ou seja, houve um predomnio do sexo masculino, porm a literatura

    mostra que nesta sndrome no h relao entre sexo, cor ou regio geogrfica e a

    incidncia estimada da Sndrome de Willians-Beuren de 1:25.000 a 1:40.000 (Morris e

    Thomas, 1993).

    WISC-III

    Com relao ao Quociente Intelectual Verbal (QIV) do WISC-III, a mediana dos

    sujeitos ficou entre 6,5 (informao) e 4 (aritmtica).

    Podemos inferir que o valor obtido pelo subteste informao apresentou maior

    resultado devido a seus contedos corresponderem a conhecimentos gerais, incluindo

    41

  • nomes de objetos, fatos histricos, entre outros e ao fato dele avaliar o conhecimento

    adquirido pelo indivduo em experincias vividas, no dependendo exclusivamente de

    conhecimentos acadmicos.

    Apresentou o menor valor no subteste a aritmtica porque esta prova avaliar o

    raciocnio numrico e a capacidade para solucionar problemas, necessitando tanto de

    ateno quanto de concentrao. Estudo longitudinal das dificuldades de aprendizagem

    comprovou que o aprendizado de leitura, escrita e aritmtica, ocorre de forma bastante

    comprometida, sendo mais favorvel nos primeiros anos escolares, passando a certa

    estagnao na idade adulta (Udwin et al., 1996).

    Estudos revisados sobre as habilidades de linguagem mostraram achados

    divergentes, inclusive questionados por alguns autores. As habilidades de linguagem

    oral da SWB tm sido muito mais frequentemente descritas, se comparadas s

    habilidades da linguagem escrita. At mesmo os estudos destinados s habilidades de

    linguagem oral ainda so escassos no que diz respeito abordagem da habilidade

    pragmtica e do uso de recursos comunicativos utilizados por esses sujeitos, nos

    diversos contextos comunicativos.

    Em relao ao Quociente Intelectual de Execuo (QIE) do WISC-III a mediana

    entre os sujeitos ficou entre 6 (completar figuras) e 2,5 (cubos). Ao compararmos os

    resultados destas duas provas (verbal e de execuo), verificamos que o resultado na de

    execuo menor que o na verbal.

    Nesta subprova podemos observar que os sujeitos apresentaram maiores

    dificuldades nas provas de cubos e armar objetos. Estes achados de certa forma

    42

  • condizem com os achados literrios, porque avaliam habilidade de perceber e analisar

    formas, raciocnio para questes visuoespaciais/visuomotoras e organizao perceptual.

    Estudos realizados por Jordan et al. (2002) mostraram que sujeitos com SWB

    apresentam dificuldade nas habilidades visuoconstrutivas, ou seja, demonstram prejuzo

    na relao parte/todo, sugerindo comprometimento para a integrao de estmulos

    visuais.

    O conceito de desempenho executivo se refere a uma coleo de habilidades

    cognitivas essenciais para a organizao do funcionamento mental e comportamental. O

    desempenho cognitivo constitudo de dimenses mltiplas, como ocorre, por exemplo,

    com a memria e a linguagem. Conforme Souza et. al (2001), a expresso desempenho

    executivo denota a capacidade de planejar, organizar e efetuar aes e comportamentos

    de valor adaptativo. O desempenho executivo no unitrio, sendo possvel desmembr-

    lo em flexibilidade, aquisio de hbitos, habilidades e planejamento. Estas dimenses

    so mediadas por alas prefrontais-subcorticais.

    No que diz respeito ao QI total (QIT) do WISC-III, podemos observar que os

    indivduos analisados apresentaram mediana 62, com valor mximo 85 e mnimo 50.

    Estes dados comprovam os resultados at ento mostrados pela literatura, cuja descrio

    aponta sujeitos com SWB que apresentam QI variando entre 41 e 80 (Jones e Smith,

    1975).

    Segundo Jones e Smith (1975), algumas crianas so mais afetadas que outras,

    porm a maioria encontra-se na faixa de DM leve a moderada.

    Atravs dos dados coletados podemos observar que este estudo comprovou

    alguns achados da literatura em relao ao QI total e tambm mostrou achados iguais ao

    43

  • da literatura que relata que QI verbal, embora abaixo da mdia, se sobressai em relao

    ao QI de execuo.

    Segundo Jarrold et al. (1998), alguns testes tm mostrado comprometimento

    significativo nas tarefas visuoconstrutivas, se comparadas s verbais, o que caracteriza

    dissociao dessas tarefas.

    Em relao ao ndice de compreenso verbal, apresentaram mediana 23, valor

    mximo 35 e mnimo 10. Estes valores mostram que a compreenso verbal destes

    sujeitos se sobressai em relao aos outros ndices. Segundo Wechsler (2002), o fator

    compreenso verbal se alinha escala verbal, podemos, portanto, comprovar atravs da

    nossa anlise que os sujeitos com SWB apresentam maior desempenho na parte verbal

    do que na de execuo.

    Quanto ao ndice de organizao perceptual, embora tenham apresentado uma

    mediana com valor 16,5, podemos observar que estes sujeitos demonstram baixa

    capacidade de organizao e planejamento, dificuldade de perceber e analisar formas e

    baixo desempenho nas questes visuoespacias. Desta forma, podemos verificar que

    nossos resultados correspondem com os da literatura, que mostra que portadores desta

    sndrome apresentam baixo desempenho nas provas de execuo, quando comparado ao

    verbal (Udwin e Yule, 1991; Jarrold et al., 1998). Porm, necessrio lembrar que

    alguns estudos demonstraram comprometimento equiparado para as tarefas verbais e

    executivas (Carrasco et al., 2005; Porter e Coltheart, 2005).

    O estudo das habilidades visuoconstrutivas na SWB tem mostrado a presena de

    prejuzo na relao parte/todo, sugerindo comprometimento na integrao de estmulos

    visuais (Jordan et al., 2002).

    44

  • O sistema de controle da ateno regula o fluxo das informaes para a ala

    fonolgica e para o bloco de notas visuoespacial, mantendo-as na memria para uso

    temporrio. A informao de um desses sistemas funcionais pode tornar-se uma

    memria de longo prazo (Kandel, Schwartz e Jessell, 2003).

    Ao analisarmos a prova que avalia o ndice de resistncia distrao e

    velocidade de processamento, verificamos que a pontuao dos dois foi mesma:

    mediana 4, valor mximo 7 e mnimo 1.

    Ambas as provas avaliam ateno, memria em curto prazo, capacidade

    numrica, dificuldades essas inerentes aos sujeitos analisados.

    WAIS-III

    No resultado do Quociente Intelectual Verbal (QIV) do WAIS-III, a mediana dos

    sujeitos ficou entre 7 (informao) e 1 (dgitos).

    Podemos inferir disso que o valor obtido pelo subteste informao apresentou

    maior resultado devido a seus contedos corresponderem a conhecimentos gerais, ou

    seja, conhecimento adquirido pelo indivduo em experincias vividas, no dependendo

    exclusivamente de conhecimentos escolares.

    Apresentou o menor valor o subteste dgitos devido a esta prova avaliar

    processos cognitivos mais complexos (aprendizagem e memria) e, tambm, a

    capacidade de inverso de sequncias, flexibilidade, tolerncia ao estresse e

    concentrao.

    45

  • Estudos longitudinais comprovam este resultado, visto que portadores da SWB

    demonstram dificuldades de aprendizagem: leitura, escrita e aritmtica (Udwin et al.,

    1996).

    Em relao ao Quociente Intelectual de Execuo (QIE) do WAIS-III, a mediana

    entre os sujeitos ficou entre 8 (completar figuras) e 3 (raciocnio matricial e armar

    objetos). Ao compararmos os resultados destas duas provas (verbal e de execuo)

    verificamos que o resultado na de execuo menor que o na verbal.

    Podemos inferir que o valor obtido pelo subteste completar figuras apresentou

    maior resultado devido a seus contedos corresponderem a reconhecimento de objetivos,

    discriminao visual e habilidade para diferenciar detalhes, caractersticas para as quais

    esta sndrome apresenta bom resultado.

    Apresentaram o menor valor os subtestes raciocnio matricial e armar objetos

    devido a estas provas avaliarem habilidades visuomotoras e organizao perceptual.

    Sujeitos com SWB apresentam dificuldade nas habilidades visuomotoras, ou

    seja, demonstram prejuzo na relao parte/todo, sugerindo comprometimento para a

    integrao de estmulos visuais e organizao perceptual (Jordan et al., 2002).

    No que diz respeito ao QI total (QIT) do WAIS-III, podemos observar que

    apresentaram mediana 67, com valor mximo 86 e mnimo 61. Estes dados comprovam

    os resultados at ento mostrados pela literatura, cujos sujeitos com SWB apresentam QI

    que varia de 41 a 80 (Jones e Smith, 1975).

    Em relao ao ndice de compreenso verbal, apresentaram mediana 18, valor

    mximo 28 e mnimo 14, estes valores mostram que a compreenso verbal destes

    sujeitos se sobressai em relao aos outros ndices. Sujeitos com SWB realmente

    46

  • apresentam maior desempenho na parte verbal do que na de execuo (Jarrold et al.,

    1998).

    No ndice de organizao perceptual, apresentaram uma mediana com valor 14.

    Podemos observar que estes sujeitos demonstram baixa capacidade de organizao e

    planejamento, dificuldade de perceber e analisar formas e baixo desempenho nas

    questes visuoespacias. Logo, nossos resultados correspondem aos da literatura, a qual

    mostra que portadores desta sndrome apresentam baixo desempenho nas provas de

    execuo, quando comparado ao das verbais (Udwin e Yule, 1991; Jarrold et al., 1998).

    A prova que avalia o ndice de memria operacional apresentou mediana 6, valor

    mximo 10 e mnimo 4. Esta prova est relacionada aos subtestes dgitos, aritmtica,

    sequncia de nmeros e letras, em observao aos processos cognitivos mais complexos,

    tolerncia ao estresse e concentrao (Udwin et al., 1996).

    O ndice de velocidade de processamento apresentou mediana 5, valor mximo

    90 e valor mnimo 2. Esta prova avalia: ateno, memria em curto prazo e capacidade

    numrica. Estes valores tambm coincidem com os dados da literatura (Porter e

    Coltheart, 2005).

    Figuras complexas de Rey

    Na nossa pesquisa avaliamos o dficit visuoespacial atravs da figura complexa

    de Rey (Oliveira et al., 1999) e verificamos que tanto a cpia quanto a memria so

    muito comprometidas.

    47

  • Segundo Farran et al. (2003), esta dificuldade integrativa ocorre quando tarefas

    de julgamento espacial so solicitadas. Na pesquisa realizada por Vicari et al. (2003),

    que investiga as habilidades de memria visual e espacial, mostrou-se que a falha na

    integrao decorrente do comprometimento espacial.

    O conhecimento da diminuio da massa branca subcortical com aumento das

    pregas corticais e a reduo do volume da massa cinzenta nos sulcos parieto-occiptal,

    indicam que sejam responsveis pelo dficit visuoespacial.

    O dficit especfico na cognio visuoespacial mais aparente quando testado

    juntamente com portadores de Sndrome de Down. Tassabehji (2003) mostrou que tanto

    a Sndrome de Down quanto a Sndrome de Willians-Beuren apresentam dficit

    cognitivo em diferentes nveis, pois o portador de Sndrome de Down consegue desenhar

    a figura proposta sem dar nfase a detalhes, enquanto o portador de sndrome de

    Willians-Beuren consegue apenas focar os detalhes, sem conseguir dar a forma real

    figura.

    Outros achados tm sido frequentemente descritos no que diz respeito s

    habilidades visuais que incluem a facilidade para reconhecimento facial e de julgamento

    de expresses emocionais (Bellugi et al., 2000).

    ATA

    Ao avaliarmos traos autsticos percebemos que dos 31 sujeitos, 13 apresentaram

    traos autsticos (41,94%), tambm verificamos que este resultado independe do seu

    nvel de comprometimento (QI total) com mediana no valor de 63, e que a interao

    48

  • destes dois grupos (QI de execuo e QI total) so homogneos. Isto mostra que a

    caracterstica intelectual no fator determinante no resultado do trao autstico.

    A construo das figuras complexas de Rey foi bem alterada nos dois grupos,

    porm o grupo com traos autsticos apresentou maior dificuldade. Este resultado

    parece que independe da interao, e pode estar associado a funo executiva

    (estratgias de construo) e coerncia central (influenciada por detalhes).

    Apesar de a Sndrome de Williams-Beuren e o autismo serem fenotipicamente

    diferentes, partilham uma vulnerabilidade gentica no cromossomo 7. Enquanto o

    gentipo SWB caracterizado por uma deleo no lcus 7q11.23, o do autismo tem sido

    associado a uma duplicao da mesma regio crtica do SWB (Klein-Tasman et al.,

    2009). Isto sugere que diferentes rearranjos genticos no cromossomo 7, especialmente

    neste lcus, podem estar na base dos diferentes fentipos socioemocionais. Alm disso,

    alterao na atividade neural tem sido considerada importante mediadora na interao

    entre genes e ambiente, havendo evidncias de diferenas no processamento neural de

    estmulos socioemocionais no autismo e na SWB (Meyer-Lindenberg, 2009).

    Em nossa pesquisa podemos observar que a presena de traos autsticos

    predominou entre o sexo masculino, dos 13 sujeitos avaliados com traos autsticos, 10

    eram meninos, este fato justificado, pois este transtorno ocorre predominantemente em

    meninos, numa proporo de 8:1 (Fambonne, 2003).

    descrito na literatura que pacientes com SWB possuem caractersticas de

    sociabilizao, porm ao investigar traos autsticos nesta populao, verificamos que

    41,94% apresentam traos autsticos. Talvez a caracterstica de sociabilizao esteja

    associada falta de inibio social, e este fato parece estar associado a uma m ativao

    49

  • da amgdala (centro do crebro responsvel pelo medo) ao ver faces estranhas ou

    agressivas.

    O estudo comportamental realizado por Doyle et al. (2004), com 64 portadores

    de Sndrome de Williams-Beuren, 31 com Sndrome de Down e 27 crianas normais

    como grupo-controle, demonstrou que o comportamento social dos portadores de

    Sndrome de Williams-Beuren era significantemente elevado em relao ao dos demais

    grupos. Tambm demonstraram que a hipersociabilidade maior nos portadores mais

    jovens acometidos pela microdeleo 7q11.23.

    Comparamos as amostras das medianas entre os sujeitos com traos autsticos e

    sem traos autsticos atravs do teste Mann-Whitney, nos seguintes testes do WISC-III e

    WAIS-III, nas funes verbais, funes de execuo, QI verbal, QI de execuo, QI

    total, nos ndices de compreenso verbal, organizao perceptual, resistncia distrao

    e velocidade de processamento, e verificamos que no foram encontradas diferenas

    significantes nestes grupos. Tambm realizamos o mesmo procedimento em relao ao

    dficit visuoespacial e verificamos que em todos os dados analisados no foram

    encontradas diferenas estatisticamente significantes entre estas medianas.

    Ao compararmos o tamanho da deleo com traos autsticos, observamos que 9

    apresentaram 1,55Mb, 2 apresentaram 1,83Mb e 2 no apresentaram resultados

    conclusivos. Atravs destes resultados podemos inferir que no houve correlao destes

    achados com traos autsticos.

    Analisamos, tambm, os achados moleculares positivos materno/paterno e

    observamos que dos 31 sujeitos analisados, 21 apresentaram resultados negativos e 10

    no apresentaram resultados conclusivos, portanto no houve correlao destes achados

    50

  • com traos autsticos. Talvez se a amostra fosse maior, poderamos ter um resultado

    significante nos grupos analisados.

    51

  • CONCLUSES

  • Concluses

    O QI total variou de 51 a 86 (mediana de 63): 22 com deficincia mental leve, 4

    com deficincia mental moderada, 4 limtrofes, 1 mdia inferior da normalidade.

    Todos os pacientes apresentaram dficit visuoespacial.

    A frequncia de traos autsticos foi encontrada em 13/31 pacientes (41,94%),

    com predomnio no sexo masculino (10M: 3F).

    No foi encontrada correlao entre o tamanho da deleo em relao presena

    de autismo e nem com a origem parental.

    Nosso estudo refora a importncia da avaliao sistemtica da funo cognitiva

    em pacientes com SWB e alerta para a presena da alta frequncia de traos

    autsticos, no lado oposto da personalidade amigvel tipicamente encontrado em

    pacientes com SWB. Estes ltimos dados so preliminares e novos estudos sero

    necessrios para confirmar esse achado especfico na SWB.

    53

  • ANEXOS

  • ANEXO: 01

    55

  • 56

  • ANEXO: 02

    57

  • 58

  • 59

  • 60

  • ANEXO: 03

    61

  • High frequency of autistic traits in Williams-Beuren patients

    Authors: Nunes M M , Honjo R S , Dutra R L , Amaral V AS , Oh H K , Bertola D R ,

    Albano L M J , Assumpo Jnior F B , Kim C A

    1 2 2 2 3 4

    5 6 7

    1- Aluna de ps-graduao nvel doutorado do Instituto da Criana da FMUSP

    2- Alunas de ps-graduao da Unidade de Gentica do Instituto da Criana da

    FMUSP

    3- Professor da Faculdade de Medicina Alternativa de Jeonju - Coria do Sul

    4- Mdica assistente da Unidade de Gentica do Instituto da Criana FMUSP

    5- Mdica assistente aposentada da Unidade de Gentica do Instituto da Criana

    FMUSP

    6- Professor associado do IP-USP

    7- Prof Livre Docente responsvel pela Unidade de Gentica do Instituto da

    Criana-FMUSP

    Trabalho realizado na Unidade de Gentica do Instituto da Criana com o apoio

    financeiro de FAPESP nmero 2008/55391-6

    Endereo para correspondncia: Chong Ae Kim

    Unidade de Gentica do Instituto da Criana

    Av Dr Enas Carvalho de Aguiar 647 So Paulo, CEP 05403-000

    62

  • Abstract

    Williams-Beuren syndrome (WBS) is characterized by typical facies,

    supravalvular aortic stenosis, mental retardation,hyperacusis and behavioral

    abnormalities with overfriendly personality and anxiety disorders. It is caused by a

    microdeletion of continuous genes located in 7q11.23 region.

    We studied 31 WBS patients (19 M and 12 F) whose ages ranged from 9 to 26

    years (median 14y). The diagnosis of WBS was confirmed by FISH or microsatellite

    markers analysis in all patients.

    The objectives were to evaluate cognitive ability, IQ (Intelligence Quotient)

    execution, verbal and total, frequency of visual-spatial deficits and autistic traits and

    compare the results of molecular findings. The tests used were the WISC-III, WAIS-III,

    Rey Complex Figure and a scale of autistic traits (ATA).

    Their total IQ scores ranged from 51 to 86 (median 63): 22 with mild mental

    retardation, 4 with moderate retardation, 4 classified as borderline and 1 as below

    average. All patients had marked visual-spatial deficit. The frequency of autistic traits

    were found in 13 of 31 patients (41.94%) with a predominance in males (10M:3F).

    There was no correlation with the incidence of autistic traits in relation to the size of the

    deletion.

    Our study reinforces the importance of the systematic assessment of cognitive

    function in WBS patients, and alerts researchers to the presence of a high frequency of

    autistic traits, as opposed to the overfriendly personality traits typically exhibited by

    WBS patients. These latter data are preliminary and further studies are necessary to

    confirm this specific finding in WBS patients.

    Keywords: Williams syndrome, acessment, cognition, visual-spatial deficits, austistic

    traits.

    63

  • Resumo

    Sndrome de Williams-Beuren (SWB) caracterizada por fcies tpico, estenose

    artica supravalvar, retardo mental, hiperacusia e anormalidades comportamentais com

    personalidade amigvel e distrbios de ansiedade. causada por microdeleo de genes

    contguos localizados na regio 7q11.23.

    Foram estudados 31 pacientes WBS (19 M e 12 F) a idade variou de 9 a 26 anos

    (mediana 14). O diagnstico da SWB foi confirmado pelo FISH (Fluorescence In Situ

    Hibridisation) ou anlise de marcadores microssatlites em todos os pacientes.

    Os objetivos foram avaliar a capacidade cognitiva, o QI (Quociente de

    Inteligncia) de execuo, verbal e total, a freqncia de dficits visuo-espaciais, traos

    autistas e comparar os resultados encontrados com os moleculares. Os testes utilizados

    foram: WISC-III, WAIS-III, Figuras Complexas de Rey e Escala de Traos Autsticos

    (ATA).

    Todos os pacientes apresentaram dficit cognitivo em todos os testes, o QI total

    variou de 51 a 86 (mediana de 63): 22 com deficincia mental leve, 4 com deficincia

    mental moderada; 4 limtrofes, 1 mdia inferior. Todos os pacientes apresentaram dficit

    visuo-espacial. A freqncia de traos autistas foi encontrada em 13/31 pacientes

    (41,94%) com predomnio no sexo masculino (10M: 3F). No foi encontrada correlao

    entre a presena de traos autsticos em relao ao tamanho da deleo.

    Nosso estudo refora a importncia da avaliao sistemtica da funo cognitiva

    em pacientes com SWB e alerta para a presena da alta freqncia de traos autistas,

    oposto da personalidade amigvel tipicamente encontrado em pacientes com SWB.

    Estes ltimos dados so preliminares e novos estudos sero necessrios para

    confirmar esse achado especfico na SWB.

    Palavras-chave: Sndrome de Williams, avaliao, cognio, dficit visuo-espacial,

    traos autsticos.

    64

  • Introduction The Williams-Beuren syndrome (WBS) is a rare genomic disorder (1/7,500

    1/20,000) caused by a hemizygous deletion of contiguous genes on chromosome

    7q11.23 . It was first described in the 1950s by Fanconi, Lightwood and Payne as

    idiopathic infantile hypercalcaemia with failure to thrive . WBS patients display

    a characteristic pattern of symptoms, including vascular stenosis (predominantly

    supravalvular aortic stenosis, SVAS), weakness of connective tissue, atypical facial

    features, short stature and mental retardation . Facial symptoms include a wide mouth

    with full lips, full and periorbital fullness with a broad forehead. The cardiovascular

    manifestations comprise SVAS and peripheral artery stenosis, which occur in 75% of

    affected children .

    1

    2,3

    4,5

    6

    Developmental delay in tasks that require complex visual analysis of incoming

    information is pronounced among WBS patients who instead perform better on tasks

    with auditory and verbal output . The typical behavioral features, such as poor social

    relationships, overfriendliness, high sociability and empathy persist usually from

    childhood to adulthood . There is a clear deficiency in daily living skills and motor

    abilities in patients with WBS . The IQ range of these patients varies from severe

    mental retardation to a nearly normal level (mean value 57), and attention deficit

    hyperactivity disorder (ADHD) is common . Typical cranial abnormalities are not

    frequent in WBS patients except for an unspecific decrease in parieto-occipital lobe

    volume . Additional universal clinical symptoms are intermittent hypercalcaemia,

    hypertonia, renal anomalies, dental problems (malocclusion), scoliosis/kyphosis, and

    joint limitation . Studies on monozygotic twins suffering from WBS revealed that

    most clinical signs, such as cardiac defects and abnormal behavioral features, are

    concordant, whereas birth weight, stature and degree of mental retardation seem to be

    influenced by environmental factors as well . Adults with WBS suffer predominantly

    from the consequences of cardiac defects and hypertension, sensorineural hearing loss,

    subclinical hypothyroidism, gastrointestinal problems and urinary tract abnormalities.

    Progressive joint limitation affects coordination and motor skills . Furthermore, a

    high frequency of psychiatric symptoms, such as anxiety and depression, are noticeable.

    7

    7,8

    9,10

    11

    12, 13

    14,15

    16

    8,11,17

    65

  • Independent living and employment are limited by their mental handicap and by their

    physical problems . 11,18,19

    In the current study, we assessed cognitive ability in 31 Brazilian WBS patients. Materials and Methods

    Patients

    This study, approved by the Institutional Review Board at Hospital das Clnicas,

    So Paulo, Brazil, involved 31 WBS patients (19 M and 12 F) and their ages ranged

    from 9 to 26 years (with a median of 14 y).

    The diagnosis of WBS was confirmed by Fluorescence In Situ Hybridization

    (FISH) or microsatellite markers analysis in all patients. Of the 31 subjects evaluated, 23

    had a deletion of 1.55 Mb, and 3 had a deletion of 1.83 Mb; it was not possible to

    determine the size of the deletion for the remaining 5 because the tests were performed

    by FISH.

    Tests

    The objectives were to evaluate cognitive ability, execution IQ (verbal and total),

    frequency of visual-spatial deficits and autistic traits. The tests used were: Wechsler

    Intelligence Scale for Children - III (WISC-III) , Wechsler Adult Intelligence Scale-III

    (WAIS-III) , Rey Complex Figure and scale of autistic traits (ATA) .

    20

    21 22 23

    Patients were evaluated individually, and all tests were applied and corrected

    according to the evaluation system established by the manual of each instrument.

    The results for each of the tests were described by their medians, maximum

    values and minimum values. The presence of autistic traits was described by its

    frequency. We used SPSS 13.0 software for performing calculations and adopted a

    significance level of 5%.

    66

  • Results Discussion

    The results for each of the tests were described by their medians and minimum

    and maximum values.

    The median age of this group is 14 years, with maximum value of 26 and

    minimum value of 9.

    Thirteen out of 31 patients were illiterate, while 15 were enrolled in special

    school, 11 in regular schools and five were out of school.

    WISC-III

    Regarding Verbal Intellectual Quotient (VIQ) of the WISC-III, the median of the

    subjects was between 6.5 (Information) and 4 (arithmetic).

    We can infer that the value obtained by the information subtest showed higher

    results due to its contents match the knowledge, including object names, historical facts,

    among others, and he assesses the knowledge acquired by individual experiences, not

    depending solely on academic knowledge.

    The low value in the arithmetic subtest might have occurred because this test

    evaluates the numerical reasoning and problem-solving capacity, requiring both

    attention and concentration. Longitudinal study of learning disabilities has proven that

    the learning of reading, writing and arithmetic, is quite compromised, being more

    favorable in the early school years, going to certain sta