Michael_Crichton_-_O_Enigma_de_Andrômeda

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    AGRADECIMENTOS

    Este livro descreve os cinco dias da mais grave crise da histria cientfica america-na.

    Tal como sucede na maioria das crises, os acontecimentos que envolveram a Es-pcie Andrmeda constituram um complexo de precauo e insensatez, inocncia eignorncia. Quase todos os que estiveram envolvidos nesses acontecimentos tiveramos seus instantes de grande brilho, bem como momentos de inacreditvel estupidez.Torna-se, portanto, impossvel narrar os fatos sem ofender alguns de seus participan-tes.

    Entretanto, creio ser importante o relato dos fatos. Este pas possui a maior orga-

    nizao cientfica de toda a historia da humanidade. Continuamente fazem-se novasdescobertas, muitas delas com importantes implicaes polticas ou sociais. No futuroprximo podero surgir novas crises do tipo de Andrmeda. Acredito, portanto, sertil colocarmos o pblico a par da maneira como surgem as crises e como elas soenfrentadas.

    Ao pesquisar e relatar a histria da Espcie Andrmeda, contei com o auxlio ge-neroso de inmeras pessoas que compartilhavam o meu ponto de vista e que me en-corajaram a narrar os fatos com exatido e detalhes.

    Quero apresentar meus agradecimentos aos participantes do Projeto Wildfire e dainvestigao da assim. chamada Espcie Andrmeda. Todos eles concordaram emme receber e com muitos deles as minhas entrevistas prolongaram-se por dias. Almdisso, tive a oportunidade de consultar as transcries de seus depoimentos arquiva-dos em Arlington Hall (Subestao nmero 7), somando mais de quinze mil pginasdatilografadas. Esse material, reunido em vinte volumes, constitui a histria completados acontecimentos que se desenrolaram em Flatrock, Nevada, conforme o relato decada um dos participantes. Dessa forma, tive a oportunidade de utilizar os seus pon-tos de vista individuais ao elaborar um relato conjunto.

    Trata-se de uma narrativa um tanto tcnica, detendo-se nos problemas complexosda cincia. Sempre que possvel, procurei explicar os aspectos cientficos, os proble-mas e as tcnicas. Evitei a tentao de simplificar demasiado tanto as indagaes

    quanto as solues, e assim, caso o leitor seja por vezes obrigado a lutar com umapassagem contendo detalhes tcnicos, peo desculpas,

    Tentei, igualmente, captar e transmitir a tenso e a agitao dos acontecimentosque se desenrolaram naqueles cinco dias, pois h um drama inerente na histria deAndrmeda e se esta uma crnica de erros estpidos e letais, tambm uma cr-nica de herosmo e inteligncia.

    M.C.Cambridge, Massachusetts.Janeiro de 1969

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    dia 1/CONTATO

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    A REGIO DAS FRONTEIRAS PERDIDAS

    Um homem com binculo. Foi assim que comeou: com um homem parado junto estrada, numa elevao de onde se descortinava a vista sobre uma pequena povoa-o do Arizona, numa noite de inverno.

    O Tenente Roger Shawn deve ter encontrado dificuldade em manipular o binculo.O metal estaria frio, e ele se sentiria desajeitado em seu casaco de pele e suas gros-sas luvas. Sua respirao, em contato com a atmosfera iluminada pelo luar, embaa-ria as lentes. Seria forado a interromper-se para limp-las frequentemente, usandoum dedo enluvado e rgido.

    No poderia avaliar a inutilidade desse ato. O binculo era intil na tentativa deexaminar aquela cidade e desvendar seus segredos. Ficaria espantado se soubesseque os homens que finalmente conseguiram faz-lo usaram, para tal, instrumentosum milho de vezes mais possantes do que um simples binculo.

    H algo de triste, tolo e humano na figura de Shawn, recostado numa pedra, sobrea qual apoiava os braos, segurando o binculo junto aos olhos. Apesar de desajeita-do, o binculo ao menos seria reconfortante e familiar em suas mos. Aquela seriauma das ltimas sensaes familiares antes da sua morte.

    Podemos imaginar e tentar reconstituir o que aconteceu desse momento em dian-te.

    O tenente examinou a cidadezinha lenta e metodicamente. Pde ver que ela noera grande, com apenas uma meia dzia de construes de madeira distribudas aolongo de uma nica rua principal. Estava envolta na quietude, sem luz, sem ativida-de, sem qualquer som que fosse trazido pelo vento suave.

    Desviou sua ateno do povoado para os morros circundantes, os quais eram bai-xos, poeirentos e ridos, com vegetao raqutica, percebendo-se aqui e ali uma icamurcha em meio neve. Alm daqueles morros, ao longe, estendia-se a vastidoplana do Deserto de Mojave, enorme e desprovido de trilhas. Os ndios o denomina-vam de Regio das Fronteiras Perdidas.

    O Tenente Shawn verificou que tremia com o vento. Era fevereiro, o mais frio dosmeses, e j passava das 22 horas. Voltou pela estrada acima em direo ao furgoFord Econovan, com sua grande antena rotativa ao alto. O motor trabalhava suave-mente, e era esse o nico som audvel. Abriu a porta traseira e subiu fechando-aatrs de si.

    Foi envolvido por uma luz vermelha, destinada a evitar o ofuscamento ao sair doveculo. Sob aquela luz vermelha, os instrumentos e o equipamento eletrnico ti-nham um brilho esverdeado.

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    O soldado Lewis Crane, tcnico em eletrnica, encontrava-se dentro do furgo,usando tambm um pesado agasalho. Debruava-se sobre um mapa, fazendo clcu-los e consultando de quando em quando os instrumentos que tinha diante de si.

    Shawn perguntou a Crane se ele estava certo de terem chegado ao ponto; Craneconfirmou. Os dois homens estavam cansados: haviam dirigido o dia inteiro, proveni-entes de Vandenberg, em busca do ltimo satlite Scoop. Nenhum dos dois sabiagrande coisa a respeito dos Scoops, alm do fato de que se tratava de uma srie decpsulas secretas, com a finalidade de analisar as camadas superiores da atmosfera,regressando em seguida. Shawn e Crane eram encarregados da recuperao dascpsulas depois da sua aterrissagem.

    Para facilitar sua recuperao, os satlites eram equipados com dispositivos eletr-nicos que comeavam a emitir sinais sonoros ao baixarem a uma altitude de oito qui-lmetros.

    Esta a razo para a grande quantidade de equipamento radio-direcional no interiordo furgo. Basicamente, ele efetuava sua prpria triangulao. Em linguagem militar,aquilo era conhecido como triangulao unitria que, apesar de lenta, mostrava-se

    muito eficiente. O sistema era bem simples: o furgo detinha-se e determinava suaposio, registrando a potncia e a direo da onda de rdio proveniente do satlite.Isso feito, dirigia-se no rumo mais provvel, percorrendo uma distncia de trinta qui-lmetros. Ento, detinha-se novamente, estabelecendo novas coordenadas. Dessaforma, era marcada uma srie de pontos da triangulao, e o furgo prosseguia emdireo ao satlite atravs de uma trajetria em ziguezague, detendo-se a cada trin-ta quilmetros, a fim de corrigir os possveis erros. O mtodo era mais lento do quepoderia obter com a utilizao de dois veculos. Entretanto, era bem mais seguro. OExrcito era de opinio de que dois furges numa rea serviriam para despertar sus-peitas.

    Durante seis horas, o furgo viera aproximando-se do satlite Scoop. E agora jhaviam quase chegado. .Crane bateu nervosamente com um lpis no mapa e anunciou o nome daquela ci-

    dadezinha ao p da montanha: Piedmont, Arizona. Populao: quarenta e oito habi-tantes. Os dois homens riram diante dessa informao, se bem que intimamente es-tivessem preocupados. O ponto previsto para a chegada, determinado por Vanden-berg, situava-se a dezoito quilmetros ao norte de Piedmont. Vandenberg estabele-cera esse ponto com base em observaes do radar e trajetria fornecida pelo com-putador 1410. As estimativas geralmente no apresentavam erros superiores a algu-mas centenas de metros.

    No havia como descrer das informaes do equipamento radio-direcional, que in-dicava o dispositivo sonoro do satlite estar bem no centro do povoado. Shawn suge-riu que talvez algum habitante do lugar o tivesse visto descer - ele estaria brilhandocom o sol - e talvez o apanhasse, levando-o para Piedmont.

    Aquilo parecia razovel, exceto pelo fato de que qualquer pessoa que deparassecom um satlite americano recm-chegado do espao teria informado a algum: re-prteres, polcia, NASA, Exrcito, algum, enfim.

    Entretanto, no houvera qualquer informao.Shawn desceu novamente do carro, seguido por Crane, tremendo ao ser atingido

    pelo ar glido. Os dois homens juntos contemplaram o povoado.

    O lugarejo estava calmo, completamente s escuras. Shawn observou que tanto oposto de gasolina quanto o motel estavam com as suas luzes apagadas. E no entantotratava-se do nico posto de gasolina e do nico motel numa grande extenso.

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    Foi ento que Shawn notou os pssaros. luz da lua cheia, ele podia v-los. Eram pssaros enormes, descrevendo crculos

    lentos acima das casas, passando qual sombras negras pela lua. Ficou imaginandopor que no os notara antes e indagou o que Crane pensava daquilo.

    Crane respondeu que no sabia.- Talvez sejam abutres - acrescentou guisa de piada.

    - E isso mesmo o que parecem - disse Shawn.Crane riu nervosamente. Sua respirao chiava em contato com o ar da noite.- Mas por que haveria abutres por aqui? Eles s aparecem quando h alguma coisa

    morta.Shawn acendeu um cigarro, formando uma concha com as mos, a fim de prote-

    ger a chama do vento. No disse nada, mas olhou para baixo, em direo s casas.Em seguida, voltou a examinar o povoado atravs do binculo, mas no percebeuqualquer sinal de vida ou de movimento.

    Ato contnuo, abaixou o binculo e jogou o cigarro na neve fresca, onde a pequenachama se apagou com um chiado.

    - Acho melhor descermos para dar uma olhada - disse Shawn, voltando-se paraCrane.

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    VANDEBERG

    A 480 quilmetros de distncia, na grande sala quadrada desprovida de janelasque servia como Controle de Misso para o Projeto Scoop, o Tenente Edgar Comroeestava sentado com os ps sobre a mesa e uma pilha de artigos de publicaes cien-tficas sua frente. Naquela noite, Comroe se encontrava de servio como oficial decontrole. Ele cumpria essa tarefa uma vez por ms, dirigindo as operaes noturnasda turma de elite composta de doze elementos. Naquela noite, a turma acompanha-va os progressos e as informaes fornecidas pelo furgo codificado como CaperUm, o qual se deslocava atravs do deserto do Arizona.

    Comroe no gostava daquele trabalho. A sala era cinzenta, iluminada por lmpadasfluorescentes; o ambiente era apenas funcional, o que o desagradava. No costuma-va vir ao Controle de Misso, exceto por ocasio dos lanamentos, quando ento oambiente era bem diferente. Nessas ocasies, a sala enchia-se de tcnicos atarefa-dos, cada qual encarregado de um servio especfico e complexo, todos tensos na-quela expectativa fria e caracterstica que precede qualquer lanamento de nave es-pacial.

    As noites, porm, eram montonas. Jamais acontecia algo durante a noite. Comroeaproveitava o tempo para pr a leitura em dia. Sua especialidade era a fisiologia car-dio-vascular, com especial interesse pelas tenses provocadas por aceleraes muitasvezes superiores da gravidade.

    Naquela noite, Comroe estava revendo um artigo intitulado "Estoiquiometria daCapacidade de Transportar Oxignio e Gradientes de Difuso com Tenses GasosasArteriais Aumentadas". Achou-o de leitura lenta e apenas vagamente interessante.Assim, de certa forma, estava desejoso de ser interrompido quando percebeu o cli-que do alto-falante que trazia as transmisses vocais do furgo de Shawn e Crane.

    Ouviu-se a voz de Shawn:- Aqui Caper UmparaVandal Deca. Caper Umpara Vandal Deca. Est me

    ouvindo? Cmbio.

    Comroe confirmou.- Estamos a ponto de penetrar em Piedmont e recuperar o satlite.- Muito bem, Caper Um. Deixe o rdio ligado.- Entendido!

    Esta era uma das regras da tcnica de recuperao, segundo determinava o Ma-nual de Regras e Sistemas do Projeto Scoop. Esse manual era uma brochura grossade cor cinza que se encontrava numa ponta da mesa de Comroe para facilitar a con-

    sulta. Comroe sabia que a conversa entre a base e o furgo seria gravada e que maistarde passaria a fazer parte do arquivo permanente do projeto. Entretanto, jamaisdescobrira uma boa razo para esse procedimento. Na realidade, aos seus olhos, a

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    - Prossiga em direo cpsula, Caper Um.

    Enquanto dava essa ordem, correu os olhos pela sala. Os demais doze homens daturma olhavam-no, com um olhar distante, parecendo no v-lo. Estavam atentos transmisso.

    O furgo ps-se novamente em movimento.

    Comroe tirou os ps da mesa e apertou o boto vermelho situado no painel. Trata-va-se de um dispositivo de segurana que isolava automaticamente a sala do Contro-le de Misso. Ningum, da em diante, poderia entrar ou sair sem a sua permisso.

    Em seguida, pegou o telefone, ordenando:- Chame o Major Manchek. M-A-N-C-H-E-K. um chamado oficial. Eu espero.Manchek era o oficial de servio naquele ms. Era o homem diretamente respons-

    vel por todas as atividades do Projeto Scoop no ms de fevereiro.Enquanto esperava, Comroe acomodou o fone no ombro e acendeu um cigarro.

    Atravs do alto-falante vinha a voz de Shawn que dizia:

    - No lhe parecem mortos, Crane?Crane: - Sim, senhor. Muito calmos, mas mortos.Shawn: - De certa forma no parecem realmente mortos. como se estivesse fal-

    tando alguma coisa. estranho... Mas esto por toda a parte. Deve haver dezenasdeles.

    Crane: - Como se estivessem indo para algum lugar e cassem. Tropeassem e cas-sem mortos.

    Shawn: - Esto por toda a parte, pelas ruas, pelas caladas...

    Outro silncio, e ento o grito de Crane:

    - Senhor!Shawn: - Deus do cu!Crane: - Est vendo? O homem de manto branco, atravessando a rua...Shawn: - Estou vendo, sim!Crane: - Ele est pisando por cima deles como se...Shawn: - Ele vem em nossa direo!Crane: - Tenente, escute, acho melhor dar o fora daqui, se que permite a mi-

    nha...

    O som seguinte foi um grito agudo e um rudo de trituramento. A transmisso foi

    interrompida nesse ponto e o Controle da Misso Scoop no foi mais capaz de en-trar em contato com os dois homens.

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    CRISE

    Dizem que Gladstone, ao ser informado da morte de Gordon, o "Chins", no Egito,teria resmungado irritado que o seu general poderia ter escolhido um momento maispropcio para morrer. A morte de Gordon lanaria o governo de Gladstone em caos ecrise. Um auxiliar teria explicado que as circunstncias haviam sido especiais e im-previsveis, ao que Gladstone teria respondido mal-humorado: "Todas as crises soiguais." .

    Evidentemente referia-se a crises polticas. Em 1885, no havia crises cientficas, e

    na realidade no ocorreriam quaisquer crises dessa categoria nos quarenta anos se-guintes. Desde ento, ocorreram oito de maior importncia, duas das quais recebe-ram ampla publicidade. E interessante notar que as duas crises divulgadas publica-mente - energia atmica e capacidade espacial - referiam-se qumica e fsica e no biologia.

    Isso era previsvel. A fsica foi a primeira das cincias naturais a modernizar-se e atornar-se altamente matemtica. A qumica seguiu os passos da fsica, mas a biolo-gia, a criana atrasada, viria bem atrs. Mesmo nos tempos de Newton e Galileu, oshomens tinham mais conhecimento sobre a lua e outros corpos celestes do que arespeito de si mesmos.

    Somente nos fins da dcada de quarenta, as coisas mudariam de figura. O perodops-guerra deu margem a uma nova era de pesquisa biolgica, estimulada pela des-coberta dos antibiticos. Repentinamente surgiu o entusiasmo pela biologia, atraindofundos para pesquisas, havendo, em consequncia, uma verdadeira torrente de des-cobertas: tranquilizantes, hormnios esteroides, imunoqumica, o cdigo gentico.Em 1953, foi efetuado o primeiro transplante de rim e, em 1958, foram testadas asprimeiras plulas anticoncepcionais. No demorou muito para que a biologia se trans-formasse no campo de maior desenvolvimento dentre todas as cincias. Seus conhe-cimentos eram duplicados a cada dez anos. Pesquisadores previdentes falavam seria-mente em mudanas de genes, controle da evoluo, ordenao da mente - idias

    essas que dez anos antes no passavam de especulao inconsequente.E no entanto nunca, at ento, houvera uma crise biolgica. A Espcie Andrme-da se encarregaria da primeira delas.

    De acordo com Lewis Bornheim, uma crise uma situao em que um conjunto decircunstncias, anteriormente tolervel, subitamente, por adio de um novo fator,transforma-se em algo totalmente intolervel. Se o fator adicional poltico, econ-mico ou cientfico, pouco importa: a morte de um heri nacional, a instabilidade dospreos, ou uma descoberta tecnolgica podem igualmente desencadear os aconteci-mentos. Nesse sentido, Gladstone estava com a razo: todas as crises so iguais.

    Alfred Pockran, conhecido estudioso, fez, em sua anlise das crises (Culture, Crisis

    and Change), diversas observaes interessantes. Em primeiro lugar observa ele quetoda crise tem os seus primrdios em fase bem anterior situao atual. Dessa for-ma, Einstein publicou suas teorias da relatividade em 1905-1915, quarenta anos an-

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    tes do seu trabalho culminar na concluso de uma guerra, no incio de uma nova erae no comeo de uma crise.

    Paralelamente, no incio do sculo XX, os cientistas alemes, russos e americanosinteressavam-se pelo problema das viagens espaciais; entretanto, apenas os alemesreconheceram o potencial militar dos foguetes. E, finda a guerra, quando a instala-o de foguetes alemes em Peenemunde foi desmantelada pelos soviticos e ameri-

    canos, somente os russos deram passos imediatos e decisivos no sentido do desen-volvimento das capacidades espaciais. Os americanos contentaram-se em brincar ga-lhofeiramente com foguetes, coisa que, mais tarde, redundaria na crise cientficaamericana, envolvendo o Sputnik, problemas de educao, mssil balstica interconti-nental e a lacuna nos msseis.

    Pockran observa ainda que uma crise composta de indivduos e personalidadesespecficas:

    "E to difcil imaginar Alexandre no Rubico e Eisenhower em Waterloo quanto difcil imaginar Darwin escrevendo para Roosevelt narrando o potencial de uma bom-ba atmica. Uma crise feita por homens que entram nela com os seus prprios pre-

    conceitos, propenses e predisposies. Uma crise o somatrio de intuio e pon-tos cegos, uma mistura de fatos notrios e fatos ignorados."Entretanto, subjacente singularidade de cada crise, est uma perturbadora se-

    melhana. Uma caracterstica de todas as crises a sua previsibilidade em retrospec-to. Parece haver uma certa inevitabilidade, como se fossem predestinadas. Isto no verdadeiro em todas as crises, mas ocorre em tantas delas que se torna o suficientepara transformar o mais empedernido historiador em cnico e misantropo."

    luz dos argumentos de Pockran, torna-se interessante analisarmos os anteceden-tes bem como as pessoas que tomaram parte no caso da Espcie Andrmeda. Atento, jamais ocorrera uma crise de cincia biolgica, e os primeiros americanos que

    se defrontaram com os fatos no estavam em condies de pensar em termos de cri-se. Shawn e Crane eram homens hbeis, no sendo, contudo, previdentes. E EdgarComroe, o oficial noturno em Vandenberg, apesar de cientista, no estava preparadopara maiores consideraes alm da irritao imediata diante do problema inexplic-vel que perturbara uma noite calma.

    De acordo com o protocolo, Comroe chamou o seu superior, Major Arthur Man-chek, e nesse ponto os acontecimentos tomam um rumo diverso. Pois Manchek esta-va preparado e em condies de enfrentar uma crise de graves propores.

    Mas no estava preparado para reconhec-la.......................................................................................................................

    O Major Manchek, com o rosto ainda enrugado pelo sono, sentou-se na extremida-de da mesa de Comroe e ouviu a fita gravada da transmisso do furgo.

    - a coisa mais estranha que jamais ouvi - disse ele quando a fita terminou. Emseguida, tocou-a mais uma vez. Enquanto ouvia, enchia cuidadosamente seu cachim-bo com fumo, acendendo-o e socando-o.

    Arthur Manchek era engenheiro, um homem pesado e quieto, sofrendo de hiper-tenso oscilante que ameaava as suas futuras promoes como oficial do Exrcito.Por diversas vezes, fora aconselhado a perder peso, mas no conseguira faz-lo. Es-tava, portanto, levando em considerao a possibilidade de abandonar o Exrcito emtroca de carreira cientfica em alguma indstria particular, onde ningum se incomo-daria com o seu peso ou a sua presso arterial.

    Manchek chegara a Vandenberg, vindo da Wright Patterson, em Ohio, onde fora oresponsvel pelas experincias em mtodos de aterrissagem de naves espaciais. Sua

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    incumbncia fora a de desenvolver um desenho de cpsula que possibilitasse suadescida igualmente segura em terra ou no mar. Manchek conseguira desenvolver trsnovos modelos promissores. Seu sucesso redundara em promoo e em sua transfe-rncia para Vandenberg.

    O seu trabalho era administrativo e ele o detestava. As pessoas o aborreciam e eleno sentia qualquer fascnio pelas tarefas sob a sua responsabilidade. Frequente-

    mente desejava poder estar de volta aos tneis aerodinmicos da Wright Patterson;sobretudo nas noites em que era tirado da cama por algum problema estpido.

    Nessas ocasies, sentia-se irritado e tenso. Sua reao natural era tornar-se lento.Movia-se com lentido, pensava devagar, avanava com uma deliberao laboriosa elerda. Esse era o segredo do seu sucesso. Toda a vez que as pessoas ao seu redor setornavam agitadas, Manchek parecia mergulhar em crescente desinteresse, at che-gar a dar a impresso de que estava prestes a adormecer. Aquilo era um truque paraconseguir manter-se totalmente objetivo e de mente clara.

    Agora, enquanto a fita girava pela segunda vez, Manchek suspirava, tirando bafora-das de seu cachimbo.

    - Segundo compreendi, no houve avaria no sistema de comunicao, no ?- Verificamos todos os sistemas - anuiu Comroe. Alis ainda continuamos em sinto-nia com a frequncia. Dizendo isso, ligou o rdio, e o rudo da esttica invadiu a sala.- Conhece o sistema da tela de udio? - perguntou.

    - Vagamente - respondeu Manchek , reprimindo um bocejo.Na realidade, tratava-se de matria que ele desenvolvera trs anos antes. Em re-

    sumo, podia-se dizer que era a maneira de se encontrar uma agulha num palheirocom o auxlio de um computador. Tratava-se de um programa capaz de detectar irre-gularidades num som aparentemente qualquer, escolhido ao acaso. Por exemplo: po-der-se-ia gravar o burburinho das conversas num coquetel de embaixada, fornecen-

    do, em seguida, a gravao ao computador, o qual selecionaria uma das vozes, sepa-rando-a das demais.- Pois bem - continuou Comroe. Depois de encerrada a transmisso no pudemos

    ouvir nada alm da mesma esttica que est ouvindo agora. Recorremos, ento, tela de udio para ver se o computador seria capaz de selecionar alguma coisa. Utili-zamos igualmente o osciloscpio ali do canto.

    Do outro lado da sala, a superfcie verde da tela exibia uma linha recortada, bran-ca e oscilante: o som resumido da esttica.

    - Ento - prosseguiu Comroe - entramos com o computador. Assim.Apertou um boto no seu painel de mesa. A linha visvel no osciloscpio mudou

    abruptamente de aspecto. Tornou-se subitamente mais suave, mais regular, comoque representando batidas, pulsaes.

    - Compreendo - disse Manchek.Ele realmente j o identificara, entendendo o seu significado. Sua mente estava

    vagando em outras paragens, examinando outras possibilidades, com ramificaesmais amplas.

    - Aqui est o udio - anunciou Comroe.Dizendo isso, apertou outro boto e a verso de udio do sinal veio encher a sala.

    Tratava-se de um ranger regular mecnico, contendo um estalido metlico repetido.Manchek meneou a cabea.- Um motor. Com uma batida irregular - comentou.

    - Sim senhor. Acreditamos que o rdio do furgo continue emitindo e que o motorainda esteja funcionando. isso o que estamos ouvindo agora, com a esttica filtra-da.

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    - Muito bem - disse Manchek.Seu cachimbo se apagara. Ele o sugou por um instante, depois reacendeu-o, reti-

    rou-o da boca e arrancou um fiapo de fumo que estava preso sua lngua.- Precisamos de prova - falou Manchek, como que para si mesmo.Pensava nas variedades de provas, bem como nas possveis descobertas e even-

    tualidades.

    - Prova de qu? - perguntou Comroe.Manchek no prestou ateno sua pergunta.- Temos algum Scavenger na base?- No estou certo. Se no tivermos, poderemos conseguir um em Edwards.- Ento faa isso.Dada a ordem, Manchek ps-se de p. Tomada a sua deciso, voltava a sentir-se

    cansado .. Tinha diante de si uma noite de telefonemas, com telefonistas irritadas, li-gaes mal feitas e vozes surpresas na outra extremidade.

    - Vai ser preciso sobrevoar aquele povoado - disse ele. - E tambm fazer um levan-tamento fotogrfico detalhado. Todas as latas de filmes devero vir diretamente para

    c. Previna os laboratrios.Deu tambm ordens a Comroe para que convocasse os tcnicos, especialmente Ja-ggers. Manchek no gostava de Jaggers, que era um sujeito delicado e minucioso.Sabia, porm, que Jaggers sera bom, e naquela noite ele precisava de gente boa.

    s 23h07, Samuel Wilson, o "Artilheiro", sobrevoava o deserto de Mojave a mil qui-lmetros por hora. Acima dele, luz do luar, podia ver os dois jatos lderes, com osseus queimadores de sada brilhando ferozmente contra o cu noturno. Os avies ti-nham um aspecto pesado, grvido: havia bombas de fsforo sob suas asas e fusela-

    gem.O avio de Wilson era diferente, lustroso, comprido e negro. Era um Scavenger,um dos sete existentes em todo o mundo.

    O Scavenger era a verso operacional do X-18. Tratava-se de um jato de reconhe-cimento, com raio de ao mdio, totalmente equipado para misses secretas diur-nas ou noturnas Dispunha de duas mquinas de filmar, de 16mm, colocadas lateral-mente, uma delas para o espectro visvel e a outra para radiao de baixa frequn-cia. Alm disso, dispunha de uma mquina central Homans, de multispex infraverme-lho, bem como equipamento eletrnico convencional e de radiodeteco. Evidente-mente, todos os filmes e chapas eram processados automaticamente, em pleno voo,podendo ser examinados imediatamente aps a chegada do avio base.

    Toda essa tecnologia transformava o Scavenger em um aparelho inacreditavelmen-te sensvel. Ele era capaz de delinear os contornos de uma cidade em meio a umblackout, podendo acompanhar o deslocamento de caminhes e carros de uma altu-ra de 2.500 m. Era capaz de detectar um submarino at a profundidade de sessentametros. Localizava minas em portos, atravs das deformaes nos movimentos dasondas, sendo igualmente capaz de obter uma fotografia precisa de uma fbrica porintermdio do calor residual do edifcio, quatro horas depois do seu fechamento.

    Assim sendo, o Scavenger era o aparelho ideal para sobrevoar Piedmont, na caladada noite.

    Wilson examinou cuidadosamente o seu equipamento, com suas mos percorren-

    do os controles, tocando cada um dos botes e alavancas, examinando as luzes ver-des que piscavam indicando o bom funcionamento de todos os sistemas.

    Ouviu um estalido em seus fones. Era o avio lder. A voz soou preguiosa:

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    - Estamos nos aproximando de Piedmont, "Artilheiro". Pode v-la?Wilson inclinou-se para frente em sua cabina apertada. Voava baixo, apenas a uns

    150 metros acima do solo, e por um instante no viu nada alm de uma mancha deareia, neve e icas. E ento, mais adiante, avistou casas ao luar.

    - Confirmado. Estou vendo ..- Certo, "Artilheiro". Abra espao para ns.

    Ele se deixou ficar para trs, mantendo a distncia de aproximadamente 800 me-tros entre o seu avio e os outros dois, que estavam se colocando em formao P-quadrado para visualizao direta do alvo com iluminao fosfrica. A visualizaodireta na realidade no era necessria, uma vez que o Scavenger podia funcionarsem ela. Entretanto, Vandenberg insistira na necessidade de obter toda a informaopossvel a respeito do povoado.

    Os dois avies afastaram-se, tomando posio paralela rua principal do lugarejo.- Tudo pronto, "Artilheiro"?Wilson colocou os seus dedos delicadamente sobre os botes da cmara de filmar.

    Quatro dedos, como se fosse tocar piano.

    - Pronto.- L vamos ns.Os dois avies mergulharam graciosamente em direo ao povoado. Estavam ago-

    ra bem afastados e pareciam distantes apenas centmetros do solo ao comearem asoltar as bombas. Ao atingir o solo, elas produziam uma esfera luminosa de um bran-co incandescente que se elevava, banhando a cidadezinha de uma luz espectral ebrilhante, refletindo os ventres metlicos dos avies.

    Concluda sua tarefa, os jatos ganharam altitude, mas agora o "Artilheiro" nomais os via. Toda a sua ateno, seu corpo e sua mente estavam concentrados na ci-dade.

    - Ela toda sua, "Artilheiro".Wilson no respondeu. Baixou o nariz, abriu os flapes, sentindo um tranco, en-quanto o avio mergulhava, qual uma pedra, em direo ao solo. Abaixo dele, toda area ao redor do povoado estava iluminada, por centenas de metros, em todas as di-rees. Ele apertou os botes, sentindo, mais que ouvindo, o zunido vibrante das c-maras.

    Por um longo momento, continuou a cair e ento empurrou o manche com fora.O avio pareceu agarrar o ar, para alar voo e ganhar altitude. Wilson teve um rpidovislumbre da rua principal. Viu corpos, corpos por toda parte, estendidos, cados narua, por cima dos carros.

    - Meu Deus... - murmurou.Agora voltava a subir, fazendo com que o avio descrevesse uma curva suave pre-parando-se para nova descida e mais uma passagem. Esforava-se por no pensarno que vira. Uma das primeiras regras do reconhecimento areo "no dar atenoao cenrio". A anlise e a avaliao no so assuntos da alada do piloto. Essa tarefadeveria ser deixada para os especialistas. Os pilotos que esqueciam essa regra, inte-ressando-se demasiado pelo objeto de suas fotografias, geralmente acabavam mal eat estatelados.

    Enquanto o avio sobrevoava o alvo pela segunda vez, Wilson tentou no olharpara o solo. Mas o fez e voltou a ver os corpos. O brilho do fsforo era agora menosintenso, a iluminao mais fraca e mais sinistra. Mas os corpos continuavam no lu-gar; no tinham sido fruto de sua imaginao.

    - Meu Deus - murmurou novamente. - Meu Deus do cu!

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    - Agora impe-se a pergunta: continuou Jaggers - estaro mortas todas essas pes-soas? Quanto a isso no podemos ter certeza. Os corpos parecem ter temperaturasvariadas. Quarenta e sete esto bastante frios, indicando que a morte ocorreu h al-gum tempo. Trs esto mais quentes. Dois deles se encontram aqui neste carro.

    - Os nossos homens - disse Comroe. - E o terceiro?- O terceiro parece um tanto misterioso. Aqui est ele, aparentemente em p ou

    encolhido na rua. Observem que est bem branco e portanto bastante quente. Ostestes que fizemos indicam que sua temperatura dever estar oscilando em tornodos 34C, o que um tanto baixa, mas que pode ser provavelmente atribudo va-soconstrio perifrica em contato com o ar frio da noite. Isso faz com que caia bas-tante a temperatura da pele. Outra foto.

    A terceira foto foi projetada na tela.Manchek reagiu imediatamente.- O ponto se moveu.- Exatamente. Esta foto foi tomada por ocasio da segunda passagem. O ponto se

    deslocou aproximadamente vinte metros. Outra foto.

    Mais outra imagem.- Se mexeu novamente!- Correto. Mais uns cinco ou dez metros.- Isso quer dizer que h uma pessoa viva l embaixo?- Parece-me ser esta a concluso lgica - disse Jaggers.Manchek pigarreou,- Quer dizer que esta a sua opinio.- Sim, senhor. Esta a nossa opinio.- Que h uma pessoa l embaixo, caminhando por entre os cadveres?Jaggers deu de ombros, enquanto dedilhava a tela. - Parece-me difcil imaginar

    qualquer outra coisa e...Nesse instante, um soldado entrou na sala, trazendo trs latas circulares debaixodo brao.

    - Aqui esto os filmes de visualizao direta atravs do P-quadrado.- Exiba-os - pediu Manchek.O filme foi colocado no projetor. Em seguida, o Tenente Wilson foi introduzido na

    sala.- Eu ainda no revi estes filmes - informou Jaggers. - Talvez seja melhor que o pi-

    loto os narre para ns.Manchek concordou e olhou para Wilson que se levantou dirigindo-se para a extre-

    midade da sala, esfregando nervosamente as mos nas calas. Postou-se do lado datela e encarou a audincia, comeando a falar num tom monocrdio:- Sobrevoei a regio entre 23h08 e 23h13 desta noite. Fiz duas passagens, de les-

    te para oeste e de oeste para leste, velocidade de 350 quilmetros por hora, numaaltitude mdia com altmetro corrigido de 240 metros e...

    - Um instante, meu filho - interrompeu Manchek, levantando a mo. - Isto aquino um interrogatrio. Basta contar as coisas naturalmente como se passaram.

    Wilson anuiu e engoliu em seco. As luzes foram apagadas e o projetor comeou afuncionar. A tela mostrava a cidadezinha banhada por luz brilhante, enquanto o aviodescia sobre ela.

    - Esta a minha primeira passagem - informou Wilson. - De leste para oeste, s23h08. So tomadas feitas pela cmara da asa esquerda, funcionando a 96 quadrospor segundo. Conforme podem ver, a minha altitude est caindo rapidamente. Bemem frente est a rua principal do alvo...

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    Ele se deteve. Os corpos eram nitidamente visveis. Bem como o furgo, parado nomeio da rua, com a sua antena do teto ainda girando lentamente. Enquanto o avioprosseguia em sua trajetria, passando mais prximo ao veculo, puderam avistar omotorista tombado sobre o volante.

    - Excelente exposio - comentou Jaggers. - Este filme de gro fino realmente efi-ciente.

    Manchek interrompeu-o- Wilson nos falava sobre a sua passagem.- Sim, senhor - continuou Wilson pigarreando e olhando para a tela. - Aqui estou

    bem em cima do alvo quando ento pude observar os mortos que os senhores estovendo aqui. Nessa ocasio, eu calculei uns setenta e cinco.

    Sua voz era baixa e tensa. Houve uma interrupo das imagens, surgindo uma s-rie de nmeros, mas logo a imagem retornou.

    - Agora estou voltando para fazer a minha segunda passagem - informou Wilson. -Conforme podem ver, as luzes esto mais fracas mas ainda assim se pode...

    - Pare o filme - ordenou Manchek.:

    O operador imobilizou o filme num dos quadros. Via-se a rua principal, longa ereta, bem como os corpos.- Volte atrs.O filme foi rodado ao contrrio, dando a impresso de que o jato se afastava da

    rua.- A! Pare agora!O quadro foi imobilizado. Manchek levantou-se e dirigiu-se para a tela, colocando-

    se num dos lados.- Olhem para isto aqui - disse ele apontando para uma figura. Era um homem com

    um manto branco at os joelhos, em p, olhando para cima em direo ao avio.

    Tratava-se de um velho, com o rosto seco e os olhos muito arregalados.- O que que acha disso? - perguntou Manchek, dirigindo-se a Jaggers.Jaggers aproximou-se, o sobrolho franzido.- Rodem o filme um pouco.

    O filme foi posto em movimento. Puderam ver nitidamente que o homem virava acabea, deslocando os olhos e seguindo o avio, enquanto este o sobrevoava.

    - Agora para trs - pediu Jaggers.Seu pedido foi atendido. Jaggers sorriu ligeiramente.- Na minha opinio, o homem est vivo, senhor.- Isso mesmo - concordou Manchek em tom decidido. - No h dvida que sim.E dizendo isso deixou a sala. Na sada, deteve-se por um instante para anunciar

    que estava declarando estado de emergncia; que todos os presentes na base nopoderiam deixar o local at ordem em contrrio; que no haveria comunicaes como exterior e que tudo aquilo que haviam visto naquela sala era confidencial.

    Uma vez no corredor, tomou o rumo do Controle da Misso, seguido por Comroe.- Quero que chame o General Wheeler - disse Manchek. - Diga a ele que eu decla-

    rei o estado de emergncia sem a devida autorizao e pea a ele que venha para cimediatamente.

    Tecnicamente apenas o comandante e ningum mais tinha o direito de declarar umestado de emergncia.

    - No gostaria de diz-lo o senhor mesmo?

    - Tenho outras coisas para fazer.

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    ALERTA

    Quando Arthur Manchek entrou na pequena cabina prova de som e sentou-sediante do telefone, sabia exatamente o que iria fazer, sem contudo estar bem certopor que o faria.

    Na qualidade de um dos oficiais graduados do Projeto Scoop, recebera, aproxima-damente um ano antes, instrues referentes ao Projeto Wildfire. Tais instrues,recordava Manchek, haviam sido transmitidas por um sujeito baixinho, que se ex-pressava de maneira seca e precisa. Era um professor universitrio que explicara oprojeto em linhas gerais. Manchek esquecera os detalhes, exceto o fato de que haviaum laboratrio montado num certo ponto do pas e uma equipe de cinco cientistasque, mediante aviso de alerta, assumiriam suas funes nesse laboratrio. A funodessa equipe seria a investigao de possveis formas de vida extraterrestre que fos-sem trazidas por uma nave espacial americana de retorno Terra.

    Manchek no sabia quem eram esses cinco homens, pois no fora informado dassuas identidades. Sabia, porm, que havia uma linha especial do Departamento deDefesa que serviria para convoc-las. Para poder entrar nessa linha, teria que discaro binrio de um determinado nmero. Meteu a mo no bolso e retirou sua carteira.Procurou por alguns instantes at encontrar o carto que lhe fora entregue pelo pro-

    fessor.

    Fitou longamente o carto, imaginando o que exatamente aconteceria se discasseo binrio de 222. Tentou visualizar o encadeamento dos acontecimentos: Quem oatenderia? Algum voltaria a cham-lo? Haveria alguma investigao, ou informaojunto a autoridade superior?

    Esfregou os olhos e voltou a olhar o carto. Por fim deu de ombros. Acabaria des-cobrindo de uma forma ou de outra.

    Arrancou uma folha de papel do bloco que tinha diante de si, junto ao telefone eescreveu:

    EM CASO DE FOGONotificar Diviso 222

    Exclusivamente emergncias

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    27 26 25 24 23 22 21 20

    Esta era a base do sistema binrio: base dois elevada a alguma potncia. Dois ele-vado a zero era um; dois a um era dois; dois ao quadrado era quatro; e assim por

    diante. Manchek escreveu rapidamente outra linha abaixo da primeira:

    27 26 25 24 23 22 21 20

    128 64 32 16 8 4 2 1

    Ento comeou a somar os nmeros com a finalidade de obter um total de 222.Marcou um trao embaixo desses nmeros:

    27 26 25 24 23 22 21 20

    128 64 32 16 8 4 2 1__ __ __ __ __ __

    Em seguida, introduziu o cdigo binrio. Os nmeros binrios eram previstos paraos computadores que utilizam o tipo de linguagem ligado-desligado, sim-no. Certavez, um matemtico gracejara dizendo que os nmeros binrios eram o processo uti-lizado pelas pessoas que s tinham dois dedos para contar. Basicamente os nmeros

    binrios exprimiam os nmeros normais (que necessitam de nove algarismos e deci-mais) por intermdio de um sistema que depende somente de dois algarismos: um ezero.

    27 26 25 24 23 22 21 20

    128 64 32 16 8 4 2 11 1 0 1 1 1 1 0

    Manchek olhou para o nmero que acabara de escrever e introduziu os travesses:1-101-1110. Um nmero de telefone perfeitamente razovel.

    Manchek pegou o fone e discou.Era meia-noite em ponto.

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    dia 2/PIEDMONT

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    AS PRIMEIRAS HORAS

    A maquinaria estava l. Os cabos, os cdigos, os teletipos haviam esperado inati-vos por dois anos. Bastava o chamado de Manchek para pr o mecanismo em movi-mento.

    Ao terminar a discagem, ouviu uma srie de estalidos mecnicos, seguidos por umzumbido abafado, o que, segundo ele sabia, significava que a sua ligao estava sen-do feita atravs de um dos troncos especiais. Decorrido um instante, o zumbido ces-sou e ouviu-se uma voz que dizia:

    "Isto uma gravao. Declare o seu nome e transmita a sua mensagem, desligan-do em seguida."

    - Major Arthur Manchek. Base Vandenberg da Fora Area, Controle da MissoScoop. Creio ser necessria a convocao deAlerta Wildfire. Tenho em meu poderdados para confirmao visual, os quais se encontram neste local, que acabou de serisolado por medida de segurana.

    Enquanto falava, teve a sbita impresso de que tudo aquilo era um tanto irreal.At mesmo o gravador no acreditaria nele. Continuou com o fone na mo, comoque de certa forma aguardando uma resposta.

    Entretanto, no houve qualquer resposta, apenas um estalo quando a ligao foiautomaticamente cortada. O telefone estava mudo. Manchek desligou, suspirando.Aquilo tudo era altamente frustrante.

    Decorridos dez minutos do chamado de Manchek, a seguinte mensagem era rece-bida pelas unidades de teletipo nos setores de segurana da nao:

    ..........................................................................................................................

    UNIDADE

    ALTAMENTE SECRETO

    SEGUE CDIGODE ACORDO COMCBW 9/9/234/435/6778/90

    PULG COORDENA DELTA 8997

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    SEGUE MENSAGEMCONFORME ABAIXO

    ALERTA WILDFIRE CONVOCADO.REPETIMOS ALERTA WILDFIRE FOICONVOCADO. LEITURA DE COORDENADASNASA/AMC/NSC COMB DEC.LEITURA DA HORA DE COMANDOLL-59-D7 NA DATA.

    ANOTAES ADICIONAISCONFORME ABAIXOSILNCIO PARA IMPRENSAESQUEMA 7-4-2 POTENCIALESTADO DE ALERTA AT NOVO AVISOFIM DA MENSAGEM

    DESLIGAR..........................................................................................................................

    Tratava-se de mensagem automtica. Todo o seu contedo, inclusive o referente imprensa e a possibilidade de utilizao do esquema 7-12, era automtico, decor-rente do chamado de Manchek.

    Cinco minutos depois, foi transmitida uma segunda mensagem, contendo os no-mes dos integrantes da Equipe Wildfire:

    ..........................................................................................................................

    UNIDADE

    ALTAMENTE SECRETOSEGUE CDIGODE ACORDO COMCBW 9/9/234/435/6778/900

    SEGUE MENSAGEMCONFORME ABAIXOOS SEGUINTES CIDADOS AMERICANOSDO SEXO MASCULINO SO ENQUADRADOSNA CONDIO ZED KAPPA. ANTERIORLIBERAO ALTAMENTE SECRETA FOICONFIRMADA. OS NOMES SOSTONE, JEREMY 81LEAVITT, PETER 04

    BARTON, CHARLES L51CHRISTlANS ENKRIKE CANCELAR ESTA LINHACANCELAR ESTA LINHA CANCELAR

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    LEIA-SE CONFORME ABAIXOKIRK, CHRISTIAN 142HALL, MARK L77

    CONCEDER A ESTES HOMENSCONDIO ZED KAPPA AT NOVO AVISO

    FIM DA MENSAGEM FIM DA MENSAGEM

    ..........................................................................................................................

    Teoricamente tambm essa mensagem era simples rotina; seu propsito era o deenumerar os cinco membros enquadrados na condio Zed Kappa, ou seja, o cdigopara condio "OK". Infelizmente, porm, a mquina soletrou errado um dos nomese deixou de reler a mensagem completa. (Normalmente quando uma das unidadesdo tronco secreto transmitia um erro em algum ponto de uma mensagem, toda essamensagem era re-escrita, ou melhor, relida pelo computador, a fim de assegurar asua forma correta.)

    Consequentemente a mensagem deixava margem a dvidas. Em Washington e ou-tros lugares, foi convocado um especialista em computadores com a finalidade deaveriguar a exatido da mensagem atravs do chamado "traado reverso". O peritode Washington expressou sua grande preocupao quanto validade da mensagem,uma vez que a mquina estava cometendo, alm daqueles, outros erros de menorvulto, tais como imprimindo "L" em lugar de "I".

    Em consequncia, os dois primeiros nomes da lista foram considerados qualifica-

    dos, enquanto os demais ficaram em suspenso, aguardando confirmao.

    Allison Stone estava cansada. Em sua casa localizada nas montanhas, com vistasobre a Universidade de Stanford, ela e seu marido, presidente do Departamento deBacteriologia da Universidade, haviam organizado uma festa para quinze casais, sen-do que todos se demoraram at tarde. A Sra. Stone estava aborrecida. Fora educadaem meio formalidade de Washington, onde uma segunda xcara de caf, oferecidaostensivamente sem conhaque, era recebida como um aviso de que chegara a horade ir para casa. Infelizmente, pensava ela, os acadmicos no se sujeitavam a tais

    regras. Haviam decorrido horas desde que servira o segundo caf, e todos ainda sedeixavam ficar.Faltava pouco para uma hora da manh, quando a campainha da porta de entrada

    tocou. Ao abrir deparou, surpresa, com dois militares, lado a lado. Eles pareciam em-baraados e nervosos, e ela imaginou que estivessem perdidos. Era bastante comumas pessoas se perderem durante a noite ao enveredarem pelas reas residenciais.

    - Em que posso servi-los?- Sentimos muito incomodar, minha senhora, - disse um dos militares, amavelmen-

    te. - Mas esta no a residncia do Dr. Jeremy Stone?- Sim - respondeu ela, franzindo o sobrolho. - aqui mesmo.

    Dizendo isso olhou para alm dos dois homens, em direo entrada de autom-veis. Avistou um sed militar de cor azul, e junto a ele, um homem em p, parecen-do segurar algo nas mos.

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    - Aquele homem est armado? - perguntou ela.- Senhora - insistiu o homem. - Temos que ver o Dr. Stone imediatamente, por fa-

    vor.Aquilo tudo lhe pareceu muito estranho, e ela sentiu medo. Correu os olhos pelo

    gramado e percebeu a presena de um quarto homem que se aproximava da casa eolhava atravs da janela. Em meio luz plida que banhava o gramado, ela pode

    perceber nitidamente o rifle em suas mos.- Que que est acontecendo?- Escute, minha senhora. No queremos estragar a sua festa. Por favor, pea ao Dr.

    Stone que venha at a porta.- No sei se...- Caso contrrio, seremos obrigados a ir busc-lo - avisou o homem.Ela hesitou por um breve instante, dizendo em seguida:- Esperem aqui.Deu um passo para trs, fazendo meno de fechar a porta, mas um dos homens

    j deslizara para o corredor. Foi postar-se junto porta, muito ereto e corts, com o

    quepe na mo. - Vou aguardar aqui, minha senhora informou ele, sorrindo-lhe.A Sra. Stone retornou sua festa, esforando-se por no permitir que os convida-dos percebessem o que se passava. Todos continuavam conversando e rindo. Haviamuito barulho e fumaa na sala. Encontrou Jeremy num dos cantos, mergulhadonuma discusso a respeito de arruaas. Tocou o seu ombro, e ele afastou-se do gru-po.

    - Sei que parece estranho, mas acontece que h um militar l no corredor, outrodo lado de fora e mais dois com armas no gramado. Eles dizem que querem v-lo.

    Por um instante, Stone pareceu surpreso, mas logo em seguida acenou com a ca-bea.

    - Pode deixar que eu vou tratar disso.Sua reao aborreceu-a; ele deu a impresso de quase estar esperando pela coisa.- Bem, se voc sabia, poderia ter-me avisado.- Eu no sabia - protestou ele. - Depois explico.Dirigiu-se para o corredor onde o militar continuava esperando. Ela seguiu o mari-

    do.- Sou o Dr. Stone.- Capito Morton, senhor - apresentou-se o oficial. No estendeu a mo para um

    aperto. - H fogo, senhor.- Muito bem - disse Stone, olhando para o seu traje a rigor. - H tempo para trocar

    de roupa?- Infelizmente no.Para sua surpresa, Allison viu o marido concordar calmamente.- Est bem.Stone voltou-se para ela.- Tenho que sair.Seu rosto estava plido e inexpressivo, e ela teve a impresso de estar vivendo um

    pesadelo. Sentia-se confusa e assustada.- Quando vai voltar?- No sei bem. Uma semana ou duas. Talvez mais.Ela tentou conservar a voz calma, mas no conseguiu. Estava por demais pertur-

    bada- O que isto? Voc est sendo levado preso?- Nada disto - protestou Stone, com um ligeiro sorriso. - No nada disso. Apre-

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    sente minhas desculpas a todos, est bem?- Mas... e as armas?- Sra. Stone - interferiu o oficial - nossa tarefa proteger o seu marido. Nada de-

    ver lhe acontecer daqui por diante.- E isso mesmo - confirmou Stone. - Procure compreender. Repentinamente eis

    que me transformo numa pessoa muito importante.

    Dizendo isso voltou a sorrir, um sorriso estranho e forado, e deu-lhe um beijo.E ento, antes mesmo que ela percebesse o que se passava, saiu de casa, ladeado

    pelo Capito Morton e pelo outro militar. O homem do rifle postou-se atrs deles,sem uma palavra. O outro, que se encontrava junto ao carro, fez uma continncia eabriu a porta.

    Os faris foram acesos, as portas bateram e o carro ps-se em movimento, afas-tando-se e desaparecendo dentro da noite. Ela ainda continuava em p junto portaquando um dos convidados acercou-se perguntando:

    - Voc est bem, Allison?Ao voltar, ela percebeu que era capaz de sorrir e dizer: - Est tudo bem, no foi

    nada. Apenas Jeremy foi obrigado a sair. Foi chamado ao laboratrio. Mais uma dassuas experincias noturnas que no est dando certo.O convidado meneou a cabea.- Que pena. A festa est adorvel.No carro, Stone recostou-se e fitou os militares. Mais tarde lembraria que seus ros-

    tos eram inexpressivos.- O que que vocs tm para mim? - perguntou.- O que temos?- Claro, maldio! O que foi que mandaram para mim? Devem ter-lhes dado algu-

    ma coisa para mim.

    - Ah, sim senhor.Passaram-lhe uma pasta fina. Sobre a capa de papelo marrom estava escrito: RE-SUMO DE PROJETO: SCOOP.

    - Nada mais?- No senhor.Stone suspirou. Jamais ouvira falar em Projeto Scoop. A pasta deveria ser lida

    cuidadosamente. Entretanto, interior do carro era escuro demais para ler. Teria tem-po para faz-lo mais tarde, no avio. Passou a rememorar aqueles ltimos cincoanos. Relembrou aquele simpsio um tanto estranho, realizado em Long Island, bemcomo aquele orador britnico tambm um tanto estranho e que de certa forma de-

    sencadeara tudo aquilo.

    No vero de 1962, J. J. Merrick, biofsico britnico, apresentou um trabalho ao D-cimo Simpsio Biolgico em Cold Spring Harbor, Long Island. O ttulo do seu trabalhoera: "Frequncia de Contato Biolgico de Acordo com as Probabilidades de Dife-renciao das Espcies."

    Merrick era um cientista rebelde, muito pouco ortodoxo, cuja reputao em nadase beneficiara do seu recente divrcio ou da presena de sua bonita secretria louraque ele levava consigo ao simpsio. Seguindo-se apresentao da sua tese, houvebem poucas discusses srias quanto natureza de suas idias que estavam resumi-das na parte final do trabalho:

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    Sou levado a concluir que o primeiro contato com vida extraterrestre ser de-terminado pelas probabilidades conhecidas da diferenciao das espcies. umfato indiscutvel que os organismos complexos so raros sobre a Terra, enquanto or-ganismos simples florescem abundantemente. H milhes de bactrias e milharesde espcies de insetos. H poucas espcies de primatas e somente quatro de maca-

    cos de grande porte. Existe exclusivamente uma espcie humana.Essa frequncia de diferenciao das espcies acompanhada por uma frequn-cia correspondente em nmeros. As criaturas simples so muito mais comuns doque os organismos complexos. H trs bilhes de homens sobre a Terra e isso podeparecer muito at que nos lembremos de que dez ou at mesmo cem vezes essenmero de bactrias poder ser contido num s frasco grande.

    Todas as provas disponveis quanto origem da vida levam-nos a uma evoluoprogressiva das formas de vida das mais simples s mais complexas. o que aconte-ce na Terra. Provavelmente o mesmo se aplica a todo o universo. Shapley Merrow eoutros calcularam o nmero de possveis sistemas planetrios no universo prximo.Os meus prprios clculos, divulgados mais acima neste trabalho, tratam da relati-va abundncia de diferentes organismos atravs do universo.

    O meu propsito foi o de determinar a probabilidade de contato entre o homeme outra forma de vida. Esta probabilidade a seguinte:

    FORMA PROBABILIDADE

    Organismos unicelulares ou inferiores (in-formao gentica isolada) ....................................................... .7840Organismos multicelulares, simples ............................................. .1940Organismos multicelulares, complexos,

    porm desprovidos de sistema nervosocoordenado .......................................................................... .0140Organismos multicelulares com rgosintegrados, inclusive sistema nervoso .......................................... .0078Organismos multicelulares com sistemanervoso complexo capaz de controlar da-dos 7 + (capacidade humana) .................................................. .0002

    1.0000

    Essas consideraes me levam a acreditar que a primeira interao com vida ex-traterrestre consistir em contato com organismos semelhantes, se no idnticos, abactrias ou vrus terrestres. As consequncias de tal contato parecem-nos pertur-badoras quando lembramos que trs por cento de todas as bactrias terrestres socapazes de exercer algum efeito danoso sobre o homem.

    Mais tarde, o prprio Merrick aventara a possibilidade de que o primeiro contatoconsistiria numa praga trazida da lua pelo primeiro homem que l chegasse. Essaideia foi acolhida com hilaridade pelos cientistas presentes.

    Um dos poucos a levar a coisa a srio fora Jeremy Stone. Com 36 anos, Stone se-ria talvez a personalidade mais destacada a comparecer ao simpsio daquele ano.Era professor de Bacteriologia em Stanford, posto que ocupava desde os 30 anos, e

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    acabara de receber o Prmio Nobel.A relao dos feitos de Stone - isso sem levar em considerao a srie de expe-

    rincias que culminaram no Prmio Nobel - realmente espantosa. Em 1955, ele foio primeiro a utilizar a tcnica da contagem multiplicativa de colnias de bactrias.Em 1957, aperfeioou um mtodo para a suspenso puro-lquida. Em 1960, Stoneapresentou uma nova teoria radical da atividade operon de E. coli e S. tabuli, edesenvolveu provas da natureza fsica das substncias indutivas e repressivas. O seutrabalho a respeito das transformaes virticas lineares, apresentado em 1958,abriu novas frentes para pesquisa cientfica, sobretudo junto equipe do InstitutoPasteur de Paris que subsequentemente recebeu o Prmio Nobel de 1966.

    Em 1961, o prprio Stone recebeu o Prmio Nobel. Esse laurel lhe foi concedidopor seu trabalho sobre a reverso bacteriana que ele tinha elaborado nas horas va-gas em seus tempos de estudante de direito em Michigan, quando contava vinte eseis anos.

    Talvez o fato mais significativo sobre a pessoa de Stone fosse o de ter elaborado oseu trabalho digno de um prmio dessa categoria quando estudante de direito, uma

    vez que isso demonstra a profundidade e a variedade dos seus interesses. A seu res-peito disse uma vez um amigo: "Jeremy sabe tudo e tem fascinao pelo resto." lestava sendo comparado a Einstein e Bohr, como um cientista possuidor de conscin-cia, viso global e justa valorizao da importncia dos acontecimentos.

    Fisicamente, Stone era um homem magro, ligeiramente careca, possuidor de me-mria prodigiosa, capaz de catalogar fatos cientficos e anedotas infames com igualfacilidade. Entretanto, a sua caracterstica mais marcante era uma espcie de impaci-ncia, fazendo com que todos ao seu redor se sentissem como se estivessem desper-diando o seu tempo. Tinha o pssimo hbito de interromper oradores e encerrarconversas, hbito esse que tentava controlar sem grande sucesso. Suas maneiras im-

    periosas, acrescidas ao fato de ter sido agraciado com o Prmio Nobel muito jovemainda, bem como os escndalos da sua vida particular - casara-se quatro vezes, duasdas quais com esposas de seus colegas - no contribuam em nada para aumentar asua popularidade.

    Entretanto, fora Stone quem, no incio da dcada de sessenta, representara a novaclasse cientfica junto aos crculos governamentais. Ele prprio encarava esse papelcom uma tolerncia divertida. Seu comentrio era de que se tratava de "um vcuoimpaciente por ser enchido com gs quente". Na realidade, porm, sua influncia erabastante considervel.

    No incio da dcada de sessenta, a Amrica compreendera com certa relutncia

    que possua, na qualidade de nao, o mais poderoso complexo cientfico de toda ahistria do mundo. Oitenta por cento das descobertas cientficas feitas nas ltimastrs dcadas eram devidas aos americanos. Os Estados Unidos possuam 75 por cen-to de todos os computadores e 90 por cento dos lasers existentes no mundo. Os Es-tados Unidos possuam trs vezes e meia mais cientistas do que a Unio Sovitica eos gastos em pesquisas obedeciam a essa mesma proporo. Possuam ainda quatrovezes mais cientistas do que a da Comunidade Econmica Europeia, gastando empesquisa sete vezes mais do que esta. A maior parte desse dinheiro provinha, diretaou indiretamente, do Congresso, e este tinha grande necessidade de homens paraaconselharem-no quanto sua aplicao.

    Durante a dcada de cinquenta, todos os grandes conselheiros tinham sido fsicos:Teller, Oppenheimer, Bruckman e Weidner. Entretanto, decorridos dez anos, com maisverbas para a biologia e maior interesse pelo assunto, surgiu um novo grupo lideradopor DeBakey, em Houston; Farmer, em Boston; Heggerman, em Nova York; e Stone,

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    na Califrnia.A notoriedade de Stone devia-se a muitos fatores: o prestgio decorrente do Pr-

    mio Nobel; seus contatos polticos; sua nova mulher, filha de Thomas Wayne, Sena-dor pelo Estado da Indiana; sua experincia jurdica.

    Todos esses fatores associados possibilitaram a Stone o comparecimento frequenteaos confusos subcomits do Senado, concedendo-lhe o poder de qualquer conselhei-

    ro acreditado.E foi esse mesmo poder que ele utilizou com tanto sucesso para pr em prtica a

    pesquisa e a construo que resultariam em Wildfire.As idias de Merrick despertaram a curiosidade de Stone por se assemelharem a

    alguns de seus prprios conceitos. Ele os expusera num trabalho curto intitulado "Es-terilizao de Espaonaves", publicado na revista Science e mais tarde reproduzidona revista britnica Nature. Defendia o ponto de vista de que a contaminao bacte-riana era uma faca de dois gumes e que o homem deveria proteger-se contra ambosos gumes.

    Antes do aparecimento do trabalho de Stone, a maior parte das discusses refe-

    rentes contaminao restringia-se aos riscos que correriam os outros planetas nocaso de satlites e sondas que levassem inadvertidamente organismos terrestres emseu bojo. Esse problema fora aventado bem no incio do programa espacial america-no. Em consequncia, por volta de 1959, a NASA estabelecera normas severas quan-to esterilizao de sondas de origem terrestre.

    Tais normas tinham por finalidade prevenir a contaminao de outros mundos. Evi-dentemente, uma sonda que fosse enviada para Marte ou Vnus, em busca de novasformas de vida, teria anulada a finalidade de sua misso caso levasse em seu bojobactrias terrestres.

    J Stone se preocupava com a situao inversa. Alegava que seria igualmente pos-

    svel que organismos extraterrestres contaminassem a Terra atravs das sondas es-paciais. Fazia ver que as espaonaves que se incendiavam por ocasio da re-entradana atmosfera no apresentavam qualquer problema. Entretanto, os retornos "vivos",os voos tripulados e sondas do tipo em que se enquadrava o satlite Scoop, apre-sentavam aspecto totalmente diverso. Nesses casos, afirmava ele, o problema dapossibilidade de contaminao era muito srio.

    Seu trabalho provocou um certo alvoroo e interesse, sem ser, conforme ele mes-mo declararia mais tarde, "nada de espetacular". Portanto, em 1963, Stone deu incioa um seminrio coletivo informal, com o grupo reunindo-se duas vezes por ms naSala 410, no ltimo andar da seo de Bioqumica da Escola de Medicina de Stan-

    ford. Nessas ocasies, almoavam e discutiam os problemas de contaminao. Foiesse grupo de cinco homens - Stone e John Black, de Stanford; Samuel Holden e Te-rence Lisset, da Cal Med; e Andrew Weiss, da Biofsica de Berkeley - que acabaramconstituindo o ncleo primitivo do Projeto Wildfire. Em 1965, apresentaram uma pe-tio ao presidente, conscienciosamente calcada na carta escrita em 1940 por Eins-tein a Roosevelt, com referncia bomba atmica.

    Universidade de StanfordPalo Alto, Califrnia10 de junho de 1965

    Ao Presidente dos Estados Unidos da Amrica

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    Casa Branca1600 Pensylvania AvenueWashington, D. C

    Caro Senhor Presidente,

    Recentes exames tericos levam a crer que os processos de esterilizao dassondas espaciais que so recuperadas talvez sejam inadequados para garantir a re-entrada estril na atmosfera deste planeta. A consequncia disso a introduo

    potencial de organismos virulentos na presente estrutura ecolgica terrestre. nossa opinio que a esterilizao de sondas recuperveis e cpsulas tripuladas

    jamais poder ser totalmente satisfatria. Nossos clculos indicam que mesmo nocaso de ser processada uma esterilizao das cpsulas no espao, ainda assim a

    probabilidade de contaminao seria de uma em dez mil, ou talvez muito mais.Tais estimativas so baseadas nos nossos conhecimentos sobre a vida organizada;

    podero existir outras formas de vida inteiramente resistentes aos nossos mtodosde esterilizao.

    Assim sendo, solicitamos insistentemente que sejam criadas condies visando possibilidade de enfrentar uma forma de vida extraterrestre no caso de sua intro-duo inadvertida em nosso planeta. O propsito de tal instalao seria duplo: li-mitar a disseminao dessa forma de vida e dispor de laboratrios para seu estudoe anlise, visando a proteger as formas de vida terrestre de sua influncia.

    Recomendamos que tal estabelecimento fique localizado em regio desabitadado territrio americano; que seja construdo subterraneamente; que seja dotadode todos os dispositivos tcnicos de isolamento conhecidos; e que seja equipadocom um dispositivo nuclear para a sua autodestruio no caso de emergncia. Aoque nos dado saber, no h forma de vida capaz de sobreviver a dois milhes de

    graus de calor que sucedem uma detonao nuclear.Cordialmente, subscrevemo-nos

    Jeremy StoneJohn BlackSamuel HoldenTerence Lisset

    Andrew Weiss.

    A reao a essa carta foi agradavelmente rpida. Vinte e quatro horas depois, Sto-ne recebia um chamado de um dos conselheiros do presidente e no dia seguinte voa-va para Washington, a fim de conferenciar com o presidente e com os membros doConselho de Segurana Nacional. Duas semanas depois, voava para Houston, a fimde discutir novos planos com o pessoal da NASA.

    Se bem que Stone recorde uma ou duas confuses a respeito da "desgraada pe-nitenciria para micrbios", a maioria dos cientistas com quem discutiu o assuntomostrou-se favorvel ao projeto. Decorrido um ms, a equipe informal constitudapor Stone foi reforada e transformada em comit oficial que deveria estudar os

    problemas da contaminao, apresentando recomendaes nesse sentido.O comit foi includo na Relao dos Projetos de Pesquisa Avanada do Departa-mento de Defesa e subvencionado por este ltimo. Nessa ocasio estavam sendo fei-

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    tos investimentos substanciais nos campos de Qumica e da Fsica - pulverizao ini-ca, duplicao reversa, substratos pimeson- mas havia tambm um interesse cres-cente pelos problemas biolgicos. Dessa forma, havia um grupo das Pesquisas Avan-adas estudando o ritmo eletrnico das funes cerebrais (um eufemismo para desi-gnar controle da mente); um outro preparara um estudo sobre a bios-sinergia, ouseja as possveis combinaes futuras de homem e mquina implantada no corpo;

    um terceiro grupo, ocupava-se do Projeto Ozma, levado a efeito no perodo 1961-64em busca de vida extraterrestre. Havia ainda um quarto grupo tratando dos estudospreliminares de uma mquina capaz de desempenhar todas as funes humanas.

    Todos esses projetos eram essencialmente tericos, sendo dirigidos e constitudospor cientistas de prestgio. A admisso s Pesquisas Avanadas era sinnimo de boasituao e de garantia de subvenes futuras para o seu desenvolvimento e incre-mento.

    Portanto, quando o comit chefiado por Stone apresentou um plano primrio parao Protocolo de Anlise da Vida, plano esse que detalhava a maneira pela qual de-veria ser estudada qualquer forma de vida, o Departamento de Defesa reagiu forne-

    cendo uma verba direta de vinte e dois milhes de dlares para a construo de umlaboratrio especial e isolado. (Essa importncia to elevada justificava-se, uma vezque o projeto teria aplicao em outros estudos j ento em cursos. Em 1965, todoesse setor referente esterilidade e contaminao tinha grande importncia e desta-que. A NASA, por exemplo, estava construindo o Laboratrio de Recepo Lunar, ins-talao de segurana destinada aos astronautas do Projeto Apollo quando de voltada Lua, pois seriam possivelmente portadores de bactrias ou vrus ao homem. Cadaastronauta de retorno da Lua seria encerrado nesse laboratrio, permanecendo emquarentena por trs semanas, at que fosse completada a descontaminao. Havia,alm disso, os problemas das "salas limpas" na indstria, onde o nvel de poeira e

    bactrias deveria ser o mnimo possvel, e tambm as "cmaras estreis", em estudoem Bethesda, igualmente da maior importncia. Coisas como ambientes asspticos,"ilhas de vida" e sistemas estreis de manuteno pareciam ter grande significadopara o futuro e, consequentemente, a verba posta disposio de Stone era consi-derada um bom investimento em todos esses setores.)

    Uma vez havendo numerrio disponvel, a construo prosseguiu rapidamente,surgindo assim, em 1966, o Laboratrio Wildfire, construdo em Flatrock, Nevada. Oprojeto foi entregue aos arquitetos navais da Electric Boat Division da General Dyna-mics, uma vez que essa organizao possua considervel experincia em projetaralojamentos em submarinos atmicos onde homens precisavam sobreviver e traba-

    lhar por longos perodos.O plano consistia de uma estrutura subterrnea cnica, com cinco pavimentos.Cada um desses pavimentos possua planta circular, com um ncleo central abrigan-do os cabos, as instalaes em geral e os elevadores. Cada pavimento era mais est-ril do que aquele que lhe era superior. Assim, o primeiro andar no era estril, o se-gundo moderadamente estril, o terceiro estritamente estril e assim por diante. Nohavia liberdade de circulao entre os andares; os funcionrios eram submetidos adescontaminao e quarentena ao subir ou descer.

    Uma vez concluda a construo do laboratrio, restava apenas selecionar a equipedoAlerta Wildfire: o grupo de cientistas que deveria estudar qualquer novo organis-mo. Aps demorados estudos para a composio de uma equipe, foram selecionadoscinco homens, incluindo o prprio Jeremy Stone. Os cinco foram preparados parauma mobilizao imediata no caso de ocorrer uma emergncia biolgica.

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    Decorridos apenas dois anos da sua carta dirigida ao presidente, Stone tinha a sa-tisfao de verificar que "este pas est em condies de lidar com qualquer agentebiolgico estranho". Declarou-se feliz com a reao de Washington e a rapidez comque as suas idias haviam sido postas em prtica. Entretanto, muito particularmente,ele confessava aos amigos que tudo havia sido quase que demasiado fcil, que Wa-shington concordara com seus planos de maneira excessivamente rpida.

    Stone no poderia adivinhar ento quais os motivos existentes por trs da ansieda-de de Washington ou avaliar a grande e genuna preocupao de muitos membrosdo governo com esse problema. Pois Stone ignorava totalmente a existncia do Pro-

    jeto Scoop at a noite em que deixou a festa e entrou naquele sed militar de corazul.

    - Foi a coisa mais veloz que conseguimos arranjar - informou o militar.Stone entrou no avio com uma sensao de que tudo aquilo era absurdo. Era um

    Boeing 727, inteiramente vazio, com os assentos arrumados em filas.

    - Pode acomodar-se na primeira classe, se quiser - gracejou o oficial. - No faz di-ferena.

    Em seguida, saiu. Em seu lugar no surgiu uma aeromoa, e sim um austeromembro da Polcia Militar, com uma pistola na cintura, postando-se junto porta, en-quanto os motores eram ligados e comeavam a zunir suavemente em meio ao siln-cio noturno.

    Stone acomodou-se em seu assento, com a pasta Scoop diante de si. Comeou aler, percebendo imediatamente que o seu contedo era fascinante. Terminou to ra-pidamente que o policial deve ter pensado que o passageiro estava apenas folheandoa pasta e passando os olhos ligeiramente. Stone, entretanto, estava lendo palavra

    por palavra.

    O Projeto Scoop. fora idealizado pelo General-de-diviso Thomas Sparks, chefe doCorpo Mdico do Exrcito, Diviso Militar de Qumica e Biologia. Sparks era o respon-svel pela pesquisa das instalaes CBW em Fort Detrick, Maryland, Harley, Indiana eDugway, Utah. Stone tivera a oportunidade de encontr-lo uma ou duas vezes e serecordava dele como sendo um sujeito afvel que usava culos. No era o tipo dohomem que se imaginaria para o posto que ocupava.

    Prosseguindo com a leitura, Stone ficou sabendo que o Projeto Scoop fora contra-

    tado ao Laboratrio de Propulso a Jato do Instituto de Tecnologia da Califrnia, emPasadena, no ano de 1963. Seu propsito declarado era o de coletar quaisquer orga-nismos que pudessem ser encontrados no "espao prximo", ou seja, a camada su-perior da atmosfera terrestre. Em termos claros, tratava-se de um projeto do Exrci-to, porm custeado atravs da NASA, supostamente uma organizao civil. Na reali-dade, a NASA era um rgo do governo, com grandes conotaes militares; 43 porcento do seu trabalho contratual em 1963 eram de carter secreto.

    Teoricamente, o objetivo do LPJ era projetar um satlite que penetrasse nos limi-tes do espao, com a finalidade de coletar organismos e poeira para exame. O proje-to era considerado puramente cientfico - quase como simples curiosidade -, sendo

    aceito como tal por todos os cientistas envolvidos em seu estudo.Na realidade, porm, os verdadeiros propsitos eram bem diversos.As reais finalidades do Scoop eram as de encontrar novas formas de vida visando

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    a incrementar o programa de Fort Detrick. Em essncia, tratava-se de pesquisa desti-nada a descobrir novas armas biolgicas para a guerra.

    Detrick era uma estrutura desconexa situada em Maryland e dedicada descober-ta de armas qumicas e biolgicas. Ocupando uma rea de 5,2 km2, com instalaesavaliadas em cem milhes de dlares, era considerada como um dos maiores estabe-lecimentos de pesquisa de todos os gneros dentro dos Estados Unidos. Somente 15

    por cento de suas descobertas chegavam a ser divulgados em publicaes cientficass quais o pblico tinha acesso; o restante era secreto, o mesmo acontecendo comrelatrios apresentados por Harley e Dugway. Harley era um estabelecimento de m-xima segurana, ocupando-se, de um modo geral, com pesquisas de vrus. Nos dezanos anteriores, haviam sido desenvolvidos nesse local inmeros novos vrus, desdea variedade codificada como Carrie Nation (que provocava diarreia) at a denomina-da Arnold (que ocasiona espasmos clnicos e morte). O campo de provas de Dugwayera maior do que o estado de Rhode Island, sendo utilizado principalmente para tes-tar. gases venenosos, tais como Tabun, Sldar e Kuff-11.

    Stone sabia que bem poucos americanos conheciam a extenso das pesquisas fei-

    tas nos Estados Unidos no campo das armas qumicas e biolgicas. O total da verbagovernamental para tais atividades era superior a meio bilho de dlares anuais. Boaparte dessa importncia era distribuda pelos centros acadmicos, tais como JohnsHopkins, Pensilvnia e Universidade de Chicago, onde pesquisas referentes a armaseram contratadas sob condies nebulosas. Por vezes, claro, essas condies noeram to vagas assim. O programa de Johns Hopkins visava a "estudos de danos emolstias reais ou potenciais, estudos referentes a molstias potencialmente signifi-cativas como armas biolgicas, e avaliao de certas reaes qumicas e imunolgi-cas a determinados toxoides e vacinas".

    Nos ltimos oito anos, nenhuma das concluses obtidas em Johns Hopkins fora di-

    vulgada publicamente. Os estudos de outras universidades, como Chicago e UCLA,eram publicados ocasionalmente, sendo, porm, considerados nos crculos militarescomo "bales de ensaio", visando a divulgar itens das pesquisas em curso com a fi-nalidade de intimidar os observadores estrangeiros. Um exemplo clssico era o traba-lho elaborado por Tendron e outros cinco, intitulado: "Pesquisas Referentes a umaToxina que Desacopla Rapidamente a Fosforilao Oxidativa Atravs da Absoro Cu-tnea."

    O trabalho descrevia, mas no identificava, um veneno capaz de matar uma pes-soa em menos de um minuto, sendo absorvido atravs da pele. Dizia-se que a desco-berta era relativamente sem importncia, se comparada a outras toxinas isoladas em

    anos recentes.Com tanto dinheiro e empenho aplicado no programa das armas qumicas e biol-gicas, seria de esperar que novas armas cada vez mais virulentas fossem continua-mente aperfeioadas. Entretanto, isso no ocorreu de 1961 a 1965. A concluso aque chegou em 1961 o subcomit do Senado para o estado de prontido foi de que"a pesquisa convencional fora menos que satisfatria" e que "novos caminhos e pro-cessos de investigao" deveriam ser adotados nesse campo.

    Era essa precisamente a inteno do General-de-diviso Thomas Sparks ao ideali-zar o Projeto Scoop.

    Em sua forma definitiva, o projeto visava a colocar dezessete satlites em rbita,em torno da Terra, os quais coletariam organismos, trazendo-os de volta ao nossoplaneta. Stone leu os relatrios referentes a cada um dos voos anteriores.

    O Scoop I era um satlite revestido de ouro de formato cnico, pesando dezessete

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    quilos, incluindo-se o equipamento. Fora lanado da base area de Vandenberg, emPurisima, Califrnia, no dia 12 de maro de 1966. Vandenberg a base de lanamen-to para rbita de trajetria oeste-leste, em oposio ao Cabo Kennedy, onde so fei-tos lanamentos leste-oeste. Vandenberg conta ainda com a vantagem adicional demelhores condies de sigilo do que em Cabo Kennedy

    O Scoop I permaneceu em rbita por seis dias antes de ser trazido de volta. Ater-rissou com sucesso num pntano nas proximidades de Athens, na Gergia Infeliz-mente chegou-se concluso de que continha to-somente organismos terrestresconhecidos.

    O Scoop II incendiou-se por ocasio da re-entrada, em consequncia de falha nosinstrumentos. O Scoop III incendiou-se igualmente, apesar de contar com um novotipo de blindagem antitrmica, sob forma de um laminado base de plstico e tung-stnio.

    Os Scoops IV e V foram recuperados intatos no Oceano ndico e junto aos MontesApalaches, respectivamente, sem que contivessem quaisquer organismos radicalmen-te novos; os encontrados eram variantes inofensivas de S. AIbus, um contaminante

    comum da pele humana normal. Esses insucessos levaram intensificao dos pro-cessos de esterilizao que precediam aos lanamentos.

    O Scoop VI foi lanado no dia do Ano Novo, em 1967. Estava equipado com os l-timos aperfeioamentos decorrentes das mais recentes descobertas no ramo. Gran-des esperanas acompanhavam a misso desse satlite, o qual retomaria depois deonze dias, aterrissando nas proximidades de Bombaim, na ndia A 34 Unidade Aero-transportada, baseada em Evreux, perto de Paris, na Frana, foi despachada em sigi-lo para recuperar a cpsula. Essa unidade ficava de prontido todas as vezes que seiniciava uma viagem espacial. Tal procedimento obedecia ao disposto na OperaoScrub, um plano que inicialmente visara a proteger as cpsulas Mercury e Gemini,

    caso fossem obrigados a descer na Rssia ou num dos pases do bloco oriental.Scrub era, portanto, a razo bsica para a manuteno de uma nica diviso depara-quedistas na Europa Ocidental na primeira metade da dcada de sessenta.

    O Scoop VI foi recuperado sem grandes novidades. Continha uma forma j conhe-cida de organismo unicelular, de formato cocobacilar, gram-negativo, coagulase etrioquinase-positivo. Esse organismo, entretanto, revelou-se inofensivo de um modogeral para com as coisas vivas, com exceo das galinhas domsticas, nas quais pro-vocava uma ligeira molstia com quatro dias de durao.

    Em meio ao pessoal de Detrick, diminuam as esperanas de conseguir a recupera-o de uma forma patognica atravs do programa Scoop. Apesar disso, o Scoop

    VII foi lanado logo aps o Scoop VI. A data exata mantida em sigilo, entretantoacredita-se que tenha sido 5 de fevereiro de 1967. O ScoopVII entrou imediatamen-te numa rbita estvel, com um apogeu de 507 quilmetros e um perigeu de 360quilmetros. Permaneceu em rbita por dois dias e meio. Nessa ocasio, o satliteabruptamente abandonou a rbita, por motivos desconhecidos, sendo tomada a de-ciso de faz-lo retomar por intermdio de controle pelo rdio.

    O ponto previsto para a sua aterrissagem era uma rea deserta na regio nordestedo Arizona.

    Em meio ao voo, sua leitura foi interrompida por um oficial que lhe trouxe um tele-fone, afastando-se em seguida e mantendo-se a uma distncia respeitosa, enquantoStone falava.

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    - Sim? - disse Stone, com uma sensao estranha. No estava habituado a conver-sas telefnicas em plena viagem area.

    - Aqui fala o General Marcus - informou uma voz cansada. Stone no conhecia oGeneral Marcus. - Desejo apenas informar-lhe que todos os membros da equipe fo-ram convocados, exceto o Professor Kirke.

    - O que aconteceu?

    - O Professor Kirke est no hospital- informou o General Marcus. - Receber maio-res detalhes quando aterrissar.

    A conversa terminou a. Stone devolveu o telefone ao oficial. Pensou por um ins-tante nos demais membros da equipe, imaginando quais teriam sido as suas reaesao serem tirados da cama.

    Havia Leavitt. Este reagiria rapidamente. Leavitt era um microbiologista clnico, umhomem altamente experimentado nos processos de tratamento de doenas infeccio-sas. Leavitt j tivera oportunidade de se defrontar com inmeras pragas e epidemias,

    sabendo da importncia de uma ao rpida. Alm disso, havia o seu pessimismoinato que no o abandonava jamais (Leavitt dissera certa vez: "No meu casamento,eu s conseguia pensar na penso que minha mulher me custaria."). Era um sujeitoirritadio, rabugento e pesado, com expresso taciturna e olhos tristes que pare-ciam contemplar um futuro negro e miservel. Entretanto, era tambm um indivduocuidadoso, imaginativo e no temia pensar ousadamente.

    E havia tambm Burton, o patologista de Houston.Stone jamais apreciara Burton, sem deixar de reconhecer, contudo, seu talento ci-

    entfico. Burton e Stone eram muito diferentes: enquanto Stone era organizado, Bur-ton era displicente; enquanto Stone era controlado, Burton era impulsivo; enquanto

    Stone era confiante, Burton era nervoso, tenso e ranheta. Seus colegas referiam-se aele como o "tropeador", em parte devido ao seu hbito de andar com os cordesdos sapatos desatados e as bainhas das calas despregadas, e em parte devido frequncia com que esbarrava por acaso em descobertas importantes.

    E tambm Kirke, o antropologista de Yale, que aparentemente estaria impedido decomparecer. Caso a informao fosse confirmada, Stone sentiria sua falta. Kirke eraum homem mal informado e tambm um tanto afetado, mas que possua, como quepor obra do acaso, um crebro espantosamente lgico. Era capaz de destacar os de-talhes essenciais de um determinado problema e manpul-los de forma a obter o re-sultado necessrio; se bem que fosse incapaz de contabilizar o seu prprio talo decheques, era frequentemente procurado pelos matemticos que buscavam sua ajudapara a soluo de problemas altamente abstratos.

    Esse tipo de mente faria falta a Stone. Certamente, o quinto homem no seria degrande valia. Stone franziu o sobrolho ao pensar em Mark Hall. Seu ingresso na equi-pe era consequncia de uma concesso. Stone teria preferido um mdico com expe-rincia em distrbios do metabolismo, e a escolha de um cirurgio foi acolhida comgrande relutncia. Tinha havido fortes presses por parte da Defesa doAEC visando aceitao de Hall, pois esses grupos acreditavam na Hiptese do Homem S;por fim, Stone e os demais acabaram cedendo.

    Stone no conhecia Hall muito bem. Ficou imaginando o que ele teria dito ao serinformado do estado de alerta. Stone no estava a par da demora havida em notifi-car os demais membros da equipe. No sabia, por exemplo, que Burton, o patologis-ta, no fora convocado at s 5 da manh e que Peter Leavitt, o microbiologista, sfora chamado s 7h30, hora em que estava chegando ao hospital.

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    E quanto ao Hall, este s foi chamado s 7h05. Segundo Mark Hall diria depois:"Aquela foi uma experincia aterrorizante. Num instante, fui arrancado do mais fami-liar dos mundos e mergulhado no mais desconhecido deles." s 6h45, Hall encontra-va-se no banheiro adjacente sala de operao n7, preparando-se para a primeira

    interveno do dia. Estava em meio rotina diria executada anos a fio; sentia-se re-pousado e gracejava com o residente que tambm estava se lavando.

    Ao terminar, dirigiu-se para a sala de operao, com os braos estendidos diantede si, e a instrumentadora passou-lhe uma toalha para que enxugasse as mos. Nasala havia ainda outro residente que estava preparando o paciente para a interven-o, bem como uma enfermeira. Houve uma troca geral de saudaes.

    Dentro do hospital, Hall era considerado um cirurgio vivo, impaciente e imprevis-vel. Operava rapidamente, com quase o dobro da velocidade dos demais cirurgies.Se as coisas corriam bem, ele ria e pilheriava com os assistentes, as enfermeiras e oanestesista, enquanto estava trabalhando. Entretanto, quando as coisas se desenro-

    lavam com lentido e dificuldade, Hall era capaz de tornar-se extraordinariamenteirascvel.Como acontece com a maioria dos cirurgies, dava grande importncia obedin-

    cia de uma rotina. Tudo deveria seguir uma certa ordem, uma determinada maneira.Caso contrrio, Hall perdia a calma.

    Sabedores disso, os demais presentes na sala de operao olharam apreensiva-mente para Leavitt, quando esse surgiu na galeria do anfiteatro. Leavitt ligou o siste-ma de intercomunicao da galeria com a sala e cumprimentou:

    - Ol,Mark...Hall estava recobrindo o paciente com panos verdes esterilizados, deixando apenas

    descoberto o abdome. Olhou surpreso pra cima.- Ah, ol Peter.- Sinto muito atrapalh-lo - declarou Leavitt. - Mas acontece que se trata de uma

    emergncia.- Ter que esperar. Estou iniciando uma interveno. Hall conclura a arrumao do

    campo operatrio e estava pedindo um dermtomo. Apalpou o abdome para localizara rea onde iniciaria a inciso.

    - No possvel esperar - insistiu Leavitt.Hall deteve-se. Largou o escalpelo e olhou para cima. Seguiu-se um longo silncio.- Que histria essa de no poder esperar?Leavitt conservou a calma.- Voc vai ter que interromper. Trata-se de uma emergncia.- Escute, Peter. Estou com um paciente aqui na mesa. Anestesiado. Pronto para

    comear. No posso sair como se nada houvesse...- Kelly o substituir.Kelly era um dos cirurgies do hospital.- Kelly?- Isso mesmo. Ele j est se preparando. Est tudo arranjado. Vou esper-lo na

    sala dos cirurgies. Procure-me imediatamente.E dizendo isso, Leavitt desapareceu.Hall correu o olhar pelos presentes na sala. Ningum se moveu ou falou. Em segui-

    da, retirou as luvas e deixou a sala praguejando bem alto.Hall encarava a sua ligao com o Projeto Wildfire como coisa sem grande impor-

    tncia. Fora procurado por Leavitt, chefe de bacteriologia do hospital em 1966. Este

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    lhe explicara esquematicamente a finalidade do projeto. Hall achou tudo aquilo umtanto divertido e concordou em juntar-se equipe, caso algum dia os seus prstimosse tornassem necessrios. Sua opinio pessoal era de que aquela histria jamais da-ria em coisa alguma.

    Leavitt se oferecera para fornecer-lhe todas as informaes, bem como para man-t-lo a par do desenvolvimento do projeto. Inicialmente, Hall aceitara as pastas ama-

    velmente, mas logo tornou-se evidente que no se dava ao trabalho de l-las, e as-sim Leavitt desistiu de fornecer-lhas. Essa deciso agradou a Hall j que preferia nover a sua mesa abarrotada de papis,

    Um ano antes, Leavitt perguntara-lhe se Hall no tinha qualquer curiosidade comrelao a algo com que concordara associar-se e que, no futuro, poderia tornar-seperigoso.

    - No - respondera Hall.Agora, porm, na sala dos mdicos, Hall lamentava essas palavras. O aposento era

    pequeno, com escaninhos nas quatro paredes e no tinha janelas. No centro, haviauma grande mquina de caf tendo ao lado uma pilha de copos de papel. Leavitt es-

    tava se servindo, com o seu rosto solene e aparentemente pesaroso.- Aposto que esse caf est horrvel - comentou ele.- No se consegue uma xcara de caf decente em todo o hospital. Ande logo e

    mude de roupa.- Ser que no se incomoda de me dizer primeiro por qu?- Me incomodo sim. Vamos; troque de roupa. H um carro esperando l fora e j

    estamos atrasados. Talvez j seja at tarde demais.Leavitt falava de modo melodramtico e grosseiro, coisa que sempre aborrecera a

    Hall.Ouviu-se um rudo caracterstico, enquanto Leavitt bebia o seu caf.

    - Exatamente como desconfiei - disse ele. - Como que vocs conseguem suportaresta porcaria? Vamos depressa, por favor.Hall destrancou o seu escaninho e chutou a porta para mant-la aberta. Encostou-

    se porta e arrancou a cobertura plstica dos sapatos. Essa proteo era usada nasala de operaes com a finalidade de prevenir descargas de eletricidade esttica.

    - Imagino que a prxima coisa que me dir que isto tem alguma relao comaquele desgraado projeto.

    - Isso mesmo. Agora trate de andar depressa. O carro est esperando e o trfegomatinal ruim.

    Hall trocou de roupa rapidamente, sem pensar, com a sua mente instantaneamen-te obnubilada. Na realidade, jamais imaginara que isso fosse possvel. Uma vez pron-to, seguiu Leavitt em direo entrada do hospital. Do lado de fora, ao sol, avistou osed verde-oliva do Exrcito, estacionado junto ao meio-fio, com as luzes piscando.De repente, compreendeu, um tanto horrorizado, que Leavitt no estivera brincando,que ningum estava brincando e que uma espcie de pesadelo terrvel estava se to-mando realidade.

    Peter Leavitt, por sua vez, mostrava-se irritado com Hall. Leavitt, de modo geral,no tinha muita pacincia com mdicos praticantes. Apesar de ele prprio ter-se for-mado em medicina, jamais a praticara, preferindo dedicar o seu tempo pesquisa.Seu campo era o da microbiologia clnica e epidemiologia, sendo especializado emparasitologia. Fizera pesquisas parasitolgicas em diversos pases; o seu trabalho

    conduzira descoberta da tnia brasileira, Taenia renzi, que ele descrevera em 1953.Entretanto, sentindo-se envelhecer, Leavitt deixara de viajar. Gostava de dizer que

    os problemas da sade pblica eram brincadeiras para os jovens. Depois da quinta

  • 7/31/2019 Michael_Crichton_-_O_Enigma_de_Andrmeda

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    crise de amebase intestinal, era chegado o momento de cair fora. Leavitt contrara asua quinta amebase na Rodsia, em 1955. Ficara gravemente enfermo por trs me-ses, perdendo vinte quilos. Depois disso, pedira demisso do seu cargo no servio desade pblica. Tendo-lhe sido oferecido o cargo de chefe de microbiologia do hospitalele o aceitou, ficando estabelecido que lhe seria permitido dedicar boa parte de seutempo pesquisa.

    Dentro do hospital, era considerado como um extraordinrio bacteriologista clnico.Seu interesse verdadeiro, entretanto, eram parasit