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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANACURSO DE ESPECIALIZACAO
SAUDE MENTAL- ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR
TRANSTORNOS MENTAIS X TRABALHO
Jose Jurandir Pereira
2003
Curitiba, Parana
~c\ r,
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANACURSO DE ESPECIALlZA<;AO EM SAUDE MENTAL
ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR
TRANSTORNOS MENTAIS X TRABALHO
Jose Jurandir Pereira
Monografia apresentada a Universidade Tuiuti doParana como requisito parcial para obtenc;ao do Titulo
de Especialista em Saude Mental Interdisciplinar
Orientador: Prof. Milton Carlos Mariotti eAna Maria Coelho Pereira Mendes
Curitiba IParana2003
MEUS AGRADECIMENTOS
A minha esposa e filhas, Nilva, Juliana e Raquel
por incentlvarem este perlodo de estudo. Sem
voces minha vida nao teria sentido.
Aos meus amigos e colegas que ajudaram e me
estimularam a continuar, nao permitindo que eu
desistisse da empreitada.
MENSAGEM
o esforyo pessoal e a vida avanyam para a
plenitude, tudo conlribui para 0 crescimento e
salisfayao do ser.
Aspirar por alcan~r as cumeadas da evoluyao e
o impulso do pensamento, consegui-Io e 0
resultado dos esforyos pela ayao.
Tendo-se em vida as admiraveis dadivas de
Deus ao ser humano, descobre-se que os Iimiles
e as dificuldades que surgem pelo caminho sao
tambem desafios que devem ser vencidos a com
satisfa~o.
SUMARIO
RESUMO .............................................•.................. V
1 INTRODUC;;Ao 1
2 ESQUIZOFRENIA ..........•....•................................... 3
2.10 UNIVERSO DAS PESSOAS ESQUIZOFRENICAS .... 4
2 CAUSAS DA ESQUIZOFRENIA. ..7
3 OFICINAS TERAPEUTICAS ...............................•..... 9
3.1 TRABALHO E SAUDE MENTAL
32 OF1C1NAS TERAP~UTICAS - DEFINICAo.
3 ATIVIDADES NA OFICINA TERAPEUTICA.
....... 9... 12
..16
4 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA 18
4.1 CARACTERIZACAO DO CONTEXTO.. . 18
42 COLETA DE DADOS. . 25
4.3 ANALISE DOS DADOS COLETADOS 26
CONSIDERAC;;OES FINAlS 36
BIBLIOGRAFIA 38
ANEXOS 39
RESUMO
No decorrer deste trabalho sera focalizada, de maneirasimples e objetiv8, a problematica dos transtornosmentais X trabalho, a relacrao entre eles e, como aSecretaria Municipal de Saude de Joinville, vern tratandodo assunto nestes oito anos. Expoe-se urna visaopanoramica da trajetoria da Saude Mental no municipiocom inicio de urn programa de Oficinas Terap€!uticas emparceria com urna associ8c;ao de pacientes, envolvendotambem tecnicos, amigos e voluntarios. Atraves degr,Hicos, estatisticas e relatos, serao demonstrados asresultados alcanc;ados neste periodo de existencia doprograma Em contrapartida, busea-se valorizar a trabalhodo Terapeuta Ocupacional, enfatizando sua ac;ao junto apacientes que sao acompanhados em oficinas terapeuUcase de geracrao de renda. A intenc;ao e tambem mostrar aoleitor a import~ncia das oficinas terapeutica comoinstrumento de reabilitac;ao, inserc;ao social e resgate dacidadania propiciando a leitura pratica do tema atual epreocupante onde este profissional exerce papel de sum arelevancia.
v
INTRODUCAO
Esta pesquisa esta inserida na area de ReabilitaC;:8o
Psicossocial enquanto objeto da Terapia Ocupacional A
escolha do tema S9 deve a experiencia do autor que par
sete anos atuou no contexte de Oficinas de Terapia
Ocupacional com enfoque de Irabalho protegido,
terapeutico e de geraC;:8o de renda, com porta dares de
sofrimento mental, junto a Secretaria Municipal da Saude
em Joinville SC. Trabalho este desenvolvido no CAPS
(Centro de Aten9i!0 Psicossocial) do municipio nos anos
de 1995 a 2002.
Acredlta-se que 0 trabalho determina a vida dos
individuos, mais que isse, 0 valor social atribuido ao
trabalho permite que as pessoas S8 sUbmetam as mais
diversas condic;:6es. Dentro dessa 169ica, a do processo
produtivo, e necessaria que todas, aptos ou nao tenham
como parametro a vida para a trabalho, que se transforma
em valor social e um dos mais importantes.
Relatamos aqui uma experiencia onde os
profissionais tecnicos, junta mente com familiares
simpatizantes, aproveitando a necessidade resolveram
fundar uma associa9ao que veio a se denominar REPART
(Associa9ilo de Recupera9i!0 para 0 Trabalho)
Essa Associayao, foi idealizada para dar conta de
gerenciar as trocas entre 0 paciente e 0 servi90 publico e
tern como objetivo acolher e reunir os portadores de
transtornos mentais, permitir integrayao e interayao,
possibilitar a inclusao e criar urn ambiente de trabalho 0
mais proximo possivel da realidade atraves de parcerias e
sub-contratos com empresas da localidade.
Neste trabalho mesma esta sendo campo de
pesquisa, para relatar ao publico interessado as
resultados alcan~ados durante este periodo.
A metodologia utilizada foi a analise de urn
experi~ncia que dura oito anos. A coleta de dadas, foi
feita atraves de registros dos arquivos da PrefeituraMunicipal de Joinville e a tabulac;:ao dos dados fcram
fornecidos pela equipe de Terapia Ocupacional desse
servic;:o durante estes anos.
No capItulo dais discute-se 0 panorama geral da
saude mental em especifico a Esquizofrenia. No capitulo
tr~s, as oficinas terap~uticas e suas indic8c;oes e no
capitulo quatro, desenvolvimento do trabalho
propriamente dito caracterizando 0 contexto.
Numa experiencia similar, relatamas 0 trabalho
desenvolvido em Campinas SP, descrito no Pratacala de
Saude Mental, sabre a Nucleo de oficinas: frentes de
trabalho para gerac;:ao de renda. Para os idealizadores
deste nucleo, a que as diferencia do hospital psiquiatrico
seria que, neste, noc;:aa de trabalho e restrita
finalidade de "produzir controle" Segundo a pessoal do
nucleo, a trabalho e encarado enquanto direito, produtor
de valor social e material e, nesse sentido, de
construc;:a.o, valorizac;:ao e possibilidade de expressao e
en contra de diferentes subjetividades, tendo como
desafio, tanto a produc;:aa de bens materiais, a garantia
de renda que possibilite, ao usuario-trabalhador,
participar de trocas sociais, como de saude, enquanto a
reproduyao social, autonomia e resgate de cidadania.
ESQUIZOFRENIA
Esquizofrenia e um termo utilizado para descrever urn
estada extrema mente complexo mais croniea e
incapacitante entre as principais doenyas mentais, pode
consistir em uma 56 doen98 au pode incluir muitas
doen9as com causas diferentes. Pela sua complexidade,
poucas generaliza90es podem aplicar-S8 a todas as
pessoas diagnosticadas como esquizofrenicas.
Com 0 surgimento repentino de 5intomas psic6ticos
muito graves, diz-se que a individuo apresenta transtorna
esquizofr~nico agudo. 0 termo "psicotico" refere-s8 aperda do sentido de realidade ou incapacidade de
distinguir entre as experiencias reals
imaginarias.(BECHELLI,1991 p4) relere que: Algumas
pessoas apresentam urn episodio psic6tico apenas uma
unica vez; outras tl!m varios epis6dios no decorrer de sua
vida, porem levam uma vida relativamente normal nos
intervalos entre urn episodio e outro. 0 individuo com
esquizofrenia crOnica (continua ou recorrente)
frequentemente nao recupera integralmente suas fun90es
normais e necessita, em geral, de uma combina9ao de
tratamento a longo prazo, que inclui medicamentos para
controlar as sintomas. Alguns pacientes esquizofrenicos
cronicos jamais poderao prescindir de algum tipo de
ajuda. Aproximadamente 1% da popuJa9Ao desenvolve
esquizofrenia no decorrer da vida. Esta doen9a afeta
homens e mulheres com igual frequencia. Em geral, as
primeiros sintomas psic6ticos da esquizofrenia aparecem
durante a adolescencia au durante a decada dos vinte
anos nos homens durante a decada dos vinte au
princfpia da decada dos trinta anas nas mulheres.
Sintomas menos evidentes, tais como isolamento au
retraimento social, disturbio do pensamento, do discurso
(conversa,ao) ou da conduta, podem preceder etouacompanhar as sintomas psic6tieos.
2.10 UNIVERSO DAS PESSOAS ESQUIZOFRENICAS.
Os individuos esquizofr~nicos, tam sua pr6pria
pereep<;ao da realidade e sua visao do mundo, entretanto,
e em geral surpreendentemente diferente da realidade que
normalmente e percebida e eompartilhada pelas outras
pessoas.
Supostamente vivendo em um mundo que pareee
distorcido, instavel e faltando-Ihe as pontos de referencia
eonfiaveis, que todos as pessoas usam para se ancorarem
a realidade, a portador de transtorno esquizofrenieo pode
sentir-se ansioso e confuso, podendo parecer distante,
isolado au preocupado ou ainda, pode permanecer
sentado durante horas sem se mover, com rigidez petrea
e mudez. Podendo tambem mover-se constantemente, com
agita<;ao pSicomotora, vigilante e alerta. Continuando a
descri,ao do assunto, BECHELLI relata.
'0 mundo de um indivlduo esquizofr~nico pode estar cheiode alucinacOes: ele pode perceber estrmulos ou objetos quena realidade nao existem, tais como ouvir vozes que Iheordenam que fac;a determinadas coisas, ou ver pessoas ouobjetos que nflo estao real mente ali ou sentir dedosinvisiveis que Ihe tocam 0 corpo. Estas alucinacOes podemser bem assustadoras. Ouvir vozes que os oulros nao ouveme 0 tipo mais comum de alucinaCao na esquizofrenia. Taisvozes pod em descrever a atividade do paciente, dialogarentre Si, alertar sabre perigos eminentes au dizer a esle 0
que deve fazer"
Segundo relata 0 autor, os delirios sao crenc;as
pesseais falsas, nao sujeitas razae au evidencia
contraria, e que nao fazem parte da cultura da pessea.
Sao sintomas comuns da esquizofrenia e podem, par
exemplo, envolver-se em temas de perseguiC;ao ou
grandeza. As vezes os delirios na esquizofrenia podem
ser bem estranhos - como, por exemplo, a indivfduo
esquizofranico pode acreditar que urn vizinho esta
controlando sua conduta com ondas magneticas au que as
pessoas na televisao estao enviando mensagens
especificamente dirigidas eles. Os delirios de
perseguiC;ao, que sao comuns na esquizofrenia paran6ide,
consistem na crenc;a falsa e irracional de que a pessoa
esta sendo enganada, agredida, envenenada au que se
conspira contra ela.
Continua dizendo que a paciente pode acreditar que
ele (au ela) au um membra de sua familia au de outros
grupos seja a centro desta perseguiC;ao imaginaria.
Frequentemente a pensamento da pessoa
esquizofranica e afetado pela doenc;a. A pessoa pode ter
dificuldade em "pensar estruturalmente" durante muitas
horas. Os pensamentos podem ir e vir tao rapidamente
que nao e possivel "ret~-Ios". 0 esquizofrenico pode nao
conseguir concentrar-se em um 56 pensamento par muito
tempo e se distrair facilmente, incapaz de fixar atenc;ao
E passive I que pessoa com esquizofrenia nao
consiga discernir entre a que e e a que nao e importante
em uma determinada situac;.ao. Ela pode nao ser capaz de
concatenar as pensamentos em sequencia 169ica, pais
estes se tornam desorganizados fragmentados. Os
pensamentos podem saliar de tema em tema, deixando as
demais pessoas sem compreender a que a paciente quer
d izer.
As pessoas com esquizofrenia as vezes manifestam 0
que se denomina "afeto inadequado~ 1510 significa
demonstrar uma em0980 que nao tem rela9Bo com 0 que a
pes so a pensa ou diz.
Por exemplo, uma pessoa esquizofrenica pode dizer
que esta sendo perseguida p~r demanios e come9a a rir.
Isto nao pode ser confundido com 0 comportamento de
pessoas normais quando, por exemplo, tem urn riso
nervoso depois que acontece um incidente pouco
importante. FreqOentemente as pessoas com
esquizofrenia apresentam um afeto embotado Islo
representa uma severa redu9ao da capacidade de
expressar em090es. Um esquizofrenico pode dernonstrar
afeto embotado atraves de um tom de voz monotone e
diminui980 da expressao facial
Algumas pessoas com sintomas de esquizofrenia
tambem apresentam estados extremos de euforia ou de
depressao, e €I irnportante determinar se um paciente eesquizofrenico ou se, na realidade, tern um transtorno
afetivo bipolar (maniaco - depressivo) ou urn transtorno
depressivo maior. Quando nao e possivel categorizar 0
diagnostico com clareza, e 0 paciente apresenta ao
mesmo tempo sintomas da esquizofrenia e de doen9as
afetivas, classificam-se estes casos como transtorno
esquizoafetivo.
Algumas vezes individuos normais podem sentir,
pensar e agir de forma semelhante aos esquizofrenicos.
FreqOentemente pessoas normals ficam, em determinadas
situa90es, incapazes de pensar de forma organizada Por
exemplo, alguem pode ficar extrema mente ansioso quando
tern que falar diante de urn grupo de pessoas e pode
sentir-se confuso, incapaz de coordenar as ideias e
esquecer a que ia dizer.
Assim como as pessoas norma is podem as vezes
fazer coisas estranhas, muitos esquizofrl!!nicos podem
pensar, sentir e agir de forma normal. A menos que se
encontre em um estado extremamente desorganizado, uma
pessoa esquizofr~nica tera urn certo sensa de realidade;
par exemplo, sabe que a maioria das pessoas come tr~s
vezes par dia e dorme durante a noite. Estar fora de
cantata com a realidade (que e urna forma de descrever
as sintomas psic6ticos da esquizofrenia) nao signifiea
que 0 individuo esteja vivendo total mente em outro
mundo, mas sim, que ha certos aspectos do mundo deste
individuo que nao sao compartilhados pelos demais, e que
pareeem nao Ter nenhuma base real Ouvir uma voz que
ninguem mais pode ouvir nao uma experi~ncia
compartilhada pela maioria das pessoas e e, clara mente
uma distorC;8o da realidade, porem e somente a distorc;ao
de uma parte da realidade Uma pessoa esquizofrl!!nica
pode, portanto, parecer normal durante boa parte do
Ie mpo. (BEC HELLI, 1991 p4-7)
2.2 CAUSAS DA ESQUIZOFRENIA
Nao se eonheee nenhum fator espeeifico que causa a
esquizofrenia, pareee que existem fatores geneticos que
produzem uma predisposic;ao a esquizofrenia, aliados a
fatores ambientais que contribuem para odesenvolvimento de diferentes graus da doenc;a em
diferentes individuos. Assim como a personalidade de
cada individuo e 0 resultado da interac;ao de muitos
fatores. Os especialistas naa sao unanimes quanta a
f6rmuta particular necessaria para produzir esta doent;a.
Nao foi encontrado ainda nenhum gene especifico, nao foi
encontrado ainda nenhum defeito bioquimico, nem de
nenhum epis6dio especffico de tensao que parecesse ser
suficiente, por si 56, para produzir esquizofrenia
(BECHELLI,1991,p.7-9)
3 OFICINAS TERAPEUTICAS
3 1 TRABALHO E SAUOE MENTAL
JORGE (1981,p.82), quando esluda atividade
humana, conclui que 0 homem em atividade e antes de
tudo, urn homem vivo. A inercia absoluta corresponds amorte 0 ocio enquanto morte da atividade signifiea naD
56 a morte do homem, mas urn retorno do mesma a urn
astagia anterior de seu desenvolvimento.
Este autor ex poe tambem que a Fazer e 0 Saber saocaisas que distinguem a homem de Qutros animais Que 0
macaco pode usar urna roupa, andar de bicicleta, mas naD
pode construi-Ios, naD 56 porque the falta a oponencia do
polegar, como lambem Ihe falla 0 poder de combinar as
imagens mentais, a imaginac;ao, falta-Ihe
conceitual. Ainda segundo 0 autor:
proceSSD
'0 fazer enquanto atividade de transformac~o e, de fato, aaCao que deifica a hom em. A forma que nasce de suas maose a materializaCao do seu sentir e pensar. Explorando aforma no maximo de sua utilidade e chegando com ela aforma em si 0 homem evolui de "faber" para 'sapiens' econcomitantemente para "Ioquens".
Continua, dizendo que":
nao e posslvel mentir quando se fabrica Os erros osacertos, os objetos, sao obra intencional, ainda que naoconsciente, pois em bora seja a mente que busca, com muitafreqOencia e a mao que encontra, e 0 ato de fazer traz emseu bojo, necessariamente 0 pensar. E 0 pensar trazconsigo a necessidade de comunicar, 0 que se pode dar deforma expllcita, clara, ou de forma implfcita, velada.Ninguem faz s6 por fazer. Faz-se alguma coisa em busca deoutra. E a busca sera sempre a do instrumento adequado dodiscurso e do prazer,"
Ja BARRETO (1994) no seminario do Cinquenlenario
da Associac;ao Brasileira de Medicina do Trabalho - Rio
10
de Janeiro, 1994, tala que:" a homem, considerado a obra
maxima da criay.a, veia da lama trabalhada, plasmada
pelas maos do criador"; referindo-se ao capitulo do
Genesis da Biblia Sagrada;" e a criador fazendo-o it sua
imagem e semelhanc;:a", ao mesma tempo em que se
perpetua no homem como agente transformador do caDs,
nos convida a repetir esse ge5to criador pelo trabalho.
Para ele, e 0 trabalho que transforma a lama em vida e
poe ordem 80 caos. 0 caos €I, portanto, a materia prima
de tada construc;:ao.
Similarmente a JORGE(1981), BARRETO(1994, P 1)
segue tambem dizendo que:" a divino do trabalho €I 0 seu
sopro de hominizac;:ao Ete e 0 passaporte para 0 mundo
da existencia e do reconhecimento pessoal e social
Nesta perspectiva, naD passivel imaginar ordem eprogresso social, sem 0 trabalho de cad a homem e de
todos os homens
Conclui dizendo que 0 trabalho e, portanto, um utero
de vidas que se vinculam, se desenvolvem, se artlculam e
se completam Ele permite ao homem criar, transformar a
paisagem social, transformando-se, fixar-se numa famflia
e na sociedade, projetar sonhos e esperanyas, e construir
seu futuro. 0 trabalho unico instrumento de
transformayao pessoal e social. Ele confere seguranya,
garante a dignidade da vida, nos liga aos outros, nos faz
pertencer a uma famflia, a um grupo e a uma sociedade
Enfim ele da sentido maior a nossa exist~ncia. Pelo
trabalho, sentimo-nos sujeitos, aceitos, capazes,
cidad~os. 0 trabalho e a teia da vida, 0 trampolim das
metamorfoses tanto no campo pessoal como social
(BARRETO, 1994, p.3).
11
E passive I verificar que 0 psic6tico e urn sujeito
livre, solto, per naD estar amarrado a nenhum eixo central
que Ihe guie, falta um ordenador. Ele parlicipa da lei,
sem ter urna referencia desta lei, sem conhece-Ia; esta
excluido de qualquer intercfimbio, pais falta urn sistema
de referencia comum, 0 que compliea seu lado social
Neste sentido 0 psic6tico e urn sujeito errante em busea
de urna referencia que Ihe falta, que e 0 universal da
neurose, que coloca sujeito no mundo, pelo
assujeitamento do pr6prio as regras que regem 0 mundo,
a referencia que sustenta a lei (RIBEIRO, 1998).
Em rela9ao ao trabalho, RIBEIRO(1998) diz ainda,
que 0 mesma e"
• parte fundamental do discurso neur6tico, ao qual apSic6tico pede se aproximar na tentativa de criac~o de suapseudo-referencia. Urn projeto interligando a psicose e 0trabalho deve pautar-se na recuperaQao do pacientepsic6tico como um ser produtivo retornando a condiQao desujeito, perdida temporariamente pela crise, e nao encaradocomo um peso que s6 atrapalha sua familia e gasta dinheiroem hospitals psiquiatricos. t:: bom frisar que essapossibilidade de atuaQflo nao exclui tratamentomedicamentoso nem psicoterapico, eles podem sercomplernentares, mas nunca excludentes Um nflo podesubstituir 0 outro, pois cad a intervenQflo guarda suasespecificidades e moment os de acontecer. Urn trabalhoneste sentldo visa a passagem de uma situaQflo de proteQflototal, momenta de viv~ncia na instituiQao que acolhe 0sujeito psic6tico, para uma situacflo de desprotecflo parcial,momento em que 0 sujeito consegue organizar sua pseudo-refer~ncia, pela via do trabalho·
o objetivo maior deve ser de favorecer a
reconstruy8o e reapropriay80 da hist6ria e experiencia de
vida de cada participante, acreditando que esta
reconstruy8o e basica no processo de criay80 da pseudo-
referencia de cad a urn, passando da doenya para a vida,
do dominio da doen9a para a apropria980 da vida, via urn
trabalho.
12
3.2 OFICINAS TERAPEUTICAS DEFINICAO
Pensar a trabalho enquanto possibilitador de saude e
como interven<;ao terap~utica, sempre fo; a principal
preocupa<;3o dos Terapeutas Ocupacionais, pais, segundo
FARIA (1994,p.48).
"Repensar as caminhos das politicas de saude, coloca-nosfrente a dois pi lares, que sempre sustentaram as hospitalspsiquiatricos: a medicar;:ao e 0 trabalho. Estes, porcaminhos diferentes, fazem calar as rnais diversas formasde manifest8<;ao da doen<;8 mental 0 trabalho, ponto focalde nossa interesse, esta no centro das propostas dasoficinas. As oficinas terapeuticas regulamentadas pelamesma portaria que oficializou as Nucleos de AtenQaoPsicossocial (NAPS) as Centr~s de Atenyao Psicossocial(CAPS) encontram-se te6rica e ideologicamente vinculadasas perspectivas da Psiquiatria Democratica. Positivamente,elas abrem questoes importantes para os profissionaisenvolvidos com a pratica clfnica No entanto, nao nosparece Ter havido grandes avanQos propostas deoficinas que operam com tais concepQoes, apesar defazerem circular tantos significantes novos a seremdecodificados. exist~ncia, sofrimen10, cidadania, usuario,saude inventada, e outros. Inegavelmente, 0 momento e decriaQao. CriaQao que compatibilize, se possrvel, a etica daclfnica e 0 discurso universalizante das pollticas de saudepublica. as interesses que introduzem 0 trabalho nasinstituiQoes oscilam desde econ6micas ate organizadoras davida institucional, chegando ate 0 reconhecimento em que 0trabalho, por um atributo seu, modificava as condutasm6rbidas dos intern ados Esses eram orient ados viatrabalho para fins mais aceitaveis socialmente. Hospitais -ColOnias para alienados mentais, como 0 Hospital Juquerl(Sao Paulo) sao adotados oficialmente em 1898. A ideia erautilizar os doentes mentals como recurso de mao-de-obranas lavouras. Essa primeira tentativa configura-sepuramente ocupacional."
A experiencia declina nos anos 30 com a crise
economica e a res pasta improdutiva do empreendimento.
A economia muda, a Estado concentra recursos na
industrializac;ao e na formac;ao do monop61io nacional.
Fata que se repete constantemente. Em tada crise
13
econOmica as politicas socials, especialmente a saude eeduc8C;80, sofrem cortes abruptos de verbas e
reorientac;ao das condutas. 0 trabalho que se pretendiaextra-muros dos manicOmios, eles se recolhe. As
oticin85 refletem as diferentes sustentac;oes te6ricas dosprofissionais da saude mental. As discussoes mais
recentes tentam situa-Ios em relaC;8:o a clinica e ao
trabalho. Ao considerarmos a clinica e a tipo de oferta de
01icina, pergunta-se sabre a adequac;so da mesma aohomem que a freqOentara. A indic8c;ao fica a criteria do
profissional respons8vel pel a conduC(8o do tratamento.
Nesse contexto, as 01icina5 implicam-se com a orientaC;80
clinica configurando-se enquanto urn dispositivo dessa.
Ha tambem uma vertente em direyAo ampliada que
concebe as oficinas como estrategias clfnicas, indicaytio
que objetiva provocar, causar, produzir efeitos que vAo se
refletir na clinica; fala-sa de efeitos do sujeito, algo que
implique na subjetividade e represente a autor da obra.
SAo algumas das construyOes do referencial psicanalftico
Num trabalho, que implique a subjetividade introduzem-se
questOes quanta ao objeto de atenc;Ao e a finalidade das
propostas que tem no trabalho um meio privilegiado de
abordagem do adoecer. Em 1920, 0 Presidente do Estado
de Minas Gerais fala ao Congresso Mineiro. "Temas que
adaptar e desenvolver a colonia dos alienados, por forma
que 0 trabalho clinicamente orientado, complete 0
tratamento medico de assist~ncia consoante 0
ensinamento dos especialistas".
o trabalho inicialmente orientado a fa tores
economicos, agora completara 0 tratamento medico de
assistencia e ser clinicamente arientado. Vislumbra-se
14
aqui a possibilidade de utiliz8yao do trabalho com fins
terapeuticos.
Em 1930, Lopes Rodrigues, entao diretor do Instituto
neuro-psiquiatrico, posteriormente chamado Instituto Raul
Soares, assim se expressa: a trabalho deve ser voltado
produyao de bens rentaveis e trabalho voltado a
sensibilidade, e criay80 As oficinas que fizeram parte
das propostas dos hospitais psiquiatricos, desde a sua
Criay80, sofrem ainda de indefinic;8o. Hoje, sob 0 nome de
"Oficinas Terap~uticas", incluem-se oficinas de produy8.o
artesanal, oficinas de geray80 de renda, de pre e I ou
profissionaliz8C;8o dos Centres de Reabilita980
Profissional (CRPs) e ainda as oficinas artisticas au de
expressa,o livre.
As oficinas, hoje, arientam-se fundamentalmente para
re-inser9ao social. Essa forma de justificar 0 trabalho
fundamenta-se na teoria Marxista
As oficinas pretendem trazer urn novo fazer de algo
muito antigo nas institui90es. Recriar 0 que ja existe
pressupoe conhecer e esgotar todas as possibilidades do
velho instrumento que iluminara a nova constru9ao. Se
desconsiderarmos 0 antigo, correremos 0 risco de repetir
os enganos do passado, tornando a rota de chegada mais
longa e mais dificil.
Qual seria a contribui980 do Terapeuta Ocupacional
para se pensar a questOes das oficinas?
A questao da clinica se impEle, sem que, no entanto,
estes percam de vista os problemas e desmandos que as
politicas de saude publica a equipe de atendimento. Haoficinas inseridas em institui90es de tratamento que se
orientam para a questao da produ9ao. Produzir e fazer
15
ci rcular seu produto pressupoe agressividade,
competitividade e estruturac;:ao bastantes para urna aC;:8o
organizada e Qutros tant05 requisitos necessarios e
essenciais ao homem que produz. Antes de reabilitar-se
para 0 outro (social) 0 homem reabilita-se para si, podera
entaD estabelecer escolhas, planejar, organizar sua ac;:ao,
Retomar sua vida, a oficina poderia se direcionar a ser
este espac;:o de experimentay80 protegida, ciente que nern
todos conseguem dar a passo seguinte. As oficinas de
produc;:ao gerac;:ao de renda pareee terem sido
organizadas para tentarem provar a sociedade ao
pr6prio paciente que ele pode produzir. Alguns podem
estar confirmados. Que destine dar ao trabalho e ao
trabalhador? Quando respondemos essas questoes
encerrando-as nas instituic;oes de tratamento pensamos
estarmos repetlndo a mesma pratica de sempre: a de
tentarmos encobrir as contradic;oes sociais, em nome de
uma divida da instituic;~o psiquiatrica. Para os Terapeutas
Ocupacionais, a 169ica que nos orienta e a do fazer
comprometido com 0 conhecimento do pr6prio sujeito da
al'ao.
De forma geral, pensamos as oficinas enquanto
espac;o de transformac;ao ou de experimentac;ao cuja
finalidade sera direcionada ao projeto no qual se insere.
Do ponto de vista social, 0 trabalho produz bens
concretos que servem a sobreviv~ncia. Produz bens
abstratos como reconhecimento, poder, identidade, prazer
outros. Produz cultura. Nestes termos meio de
transformac;ao da realidade material e subjetiva do
homem(FARIA,1994.p48}.
16
3.3 ATIVIDADES NA OFICINA TERAPEUTICA
As atividades sao utilizadas com 0 objetivo de
favorecer a produtividade, sendo 0 desenvolvimento das
habilidades 0 caminho para tal conquista. 0 prop6sito elevar 0 individua a alcanyar 0 objetivo, resoluC;80 do
problema de desempenho, num tempo menor do que este
[evara, usanda a seu propria recurso so mente Nao basta
conseguir realizar urna atividade 0 fundamental
conseguir realiza-Ia com perfeiy80 em urn tempo men or da
maneira exigida pelo social.
Oesta forma, 0 recurso terapeutico, e a atividade sao
de fundamental importflncia no processo. Enquanto
atividade e a base e material, no tratamento, 0 cliente eaquele que traz seus conceitos e ac;oes, advinda da
experiencia com a doenc;a, e 0 terapeuta e aquele que
favorece as reflexoes e discussoes na perspectiva de
identificac;ao das questoes conflituosas
De acordo com FARIA 0 processo nada mais e que
urn acontecer das a<;oes do grupo, as quais podem ser
compreendidas enquanto identificac;ao das necessidades,
elaborac;ao de urn projeto de atividade grupal, execu<;ao
do projeto e reflexoes com respeito as a<;oes e suas
implicac;oes. Entretanto, nao devemos entender tais a<;oes
como uma estrutura em que as eta pas devem seguir-se
passo a passo, mas como uma estrutura dina mica na qual
cada grupo imprime sua maneira de organizar-se
construir seu projeto.
E, portanto, a partir do fazer e das reflexoes e
entendimento das experi~ncias do dia - a -.dia que a
grupo atua em seu meio e toma suas pr6prias decisoes.
17
Sendo assim, pelo trabalho do grupo e passivel que as
pessoas reorganizem suas a,oes.(FARIA, 1994,p.51).
18
4 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
4.1 CARACTERIZACAO DO CONTEXTO
A experiencia desenvolveu-se em uma AssOCia9c3o
filantr6pica, apoiada pela Secretaria Municipal de Saude,
sem fins lucrativQs, composta par uma diretoria paritaria,
com tecnicos da pr6pria secreta ria de forma voluntaria,
familiares, voluntarios e amigos. Sua instala9BO fi5ica
fica na rua Getulio Vargas, em im6vel alugado, ha urn
ana, pela Secreta ria de Saude com area de
aproximadamente 120m2, A edificac;:ao composta de
cQzinha, dais sanitarios e quatro salas. Na sala maior
funciona oficina de gerac;:ao de renda, nas Qutras
acontaee, grupo de maes, oficina de Tapec;:aria, oficina de
Marcenaria e cursos de informatica respectivamente.
E cedido urn agente de sauds, que coincidentemente
e graduada em Psicologia, trabalhando em expediente
integral, e com supervisao da equipe Tecnica do Centro
de AtenQao Diaria do municipio. Este modele e 0 embriao
de um projeto que visa ampliayao com descentrallzac;ao,
esperando alcanyar as Regionais dos bairros para
possibilitar a inclusao social e facilitar 0 retorno a vida
produtiva ajudar a individuo a lidar com
empobrecimento de sua vida social, afetiva e profissional
A seguir, a fim de tornar conhecida do publico,
relatar-se-a a hist6ria dessa associac;ao com atranscric;ao de partes da ata que descreve a epoca da
fundac;ao e dara ao leitor condi<;oes de acompanhar seu
desenvolvimento.
19
A historia dessa 8ssociaC;8o esta diretamente ligada
cria980 do servic;:o de saude mental no municipio de
Joinville Ate meados do ano de 1988 a politica da saude
em geral era administrada pelo governo do Estado atraves
da Secretaria Estadual de Saude e pelo INPS (Instituto
Nacional de Previdencia Social), era atendimento
generalizado sem distinc;:ao. A parte que era de
responsabilidade do municipio era gerenciada pela
Secretaria do Bem Estar Social. Nesta epoca, as casas de
doenc;:a mental eram tratados na unica clinica da cidade
"Clinica Nossa Senhora da Luz" conveniada do INPS.
Neste periodo 56 havia tres medicos Psiquiatras
particulares na cidade, Dr. Schroeder dono da mesma
clinica aeima citada, Dr. Furlanetto e Dr.Wilbert que
faleceu ainda jovem de acidente automobilistico.
Data desta epoca a fundaq80 da Secreta ria Municipal
de Saude do municipio de Joinville. A primeira equipe
completa de saude mental do municipio data do final do
ano de 1988 foi composta de um psiquiatra, Osmar Jose
Torres, tr~s psic6logos, Jose Carlos de Camargo, Marilia
e Sandra Lucia Vitorino, uma assistente social, Dineusa A
de Souza e urna terapeuta Ocupacional, Maria Cristina P,
Mathias. Esta Equipe foi responsavel pelo primeiro
projeto de saude mental do municipio que primeiramente
iniciou num bairro da zona sui da cidade, "Bairro
FlorestaU
, onde a densidade populacional uma das
maiores da cidade e onde ja havia um ambulat6rio
construido. Logo ap6s seis meses alguns desses
profissionais foram remanejados para urn bairro da zona
Norte da cidade, para formar a segunda equipe no Bairro
"Costa e Silva~ e alguns desses profissionais faziam
escala de atendimento em alguns dias da semana, num
20
posta, e 0 restante no Dutro par falta de profissionais na
rede publica municipal de saude ate entaD.
A estrutura fisiea utilizada, era a do Posta de Saude
improvisado e 0 atendimento era em revezamento das
salas com outros profissionais, pOis naD havia lugar para
urna equipe de profissionais de saude completa.
Neste espayo improvisado surgiram entaD as oficinas
terap~uticas, oficinas de produ98o e de reabilita9ao,
conduzidas pel a Terapia Ocupacional, cujas produyoes
eram comercializadas em urna feira semanal no calyadao
da cidade. De inicio houve muito entusiasmo com
programa que era avalizado pelo entaa Secretario da
Saude, Dr. Altair Pereira. Com 0 passar do tempo as
animas fcram se arrefecendo, pais se tinha tambem que
trabalhar com a frustra<;~o do paciente de n~o conseguir
apresentar um produto com qualidade suficiente para
competir em igualdade de condi<;oes com as demais
concorrentes, e que a clientela n~o continuaria
comprando apenas a prod uta como boa a<;ao.
Pensando-se em outras estrategias, foi ventilada
entao a possibilidade de se criar uma cooperativa de
associados do tipo "cooperativa especial", que estaria
atendendo a servi<;o publico e outras iniciativas privadas,
mas n~o pode ser efetivada, pais ela n~o poderia par
for<;a da lei, receber as doa<;oes e cotas de incentivos,
tanto publicos quanta privados, de que tanto se
necessitava.
Decidiu-se entao pelo sistema de associa<;ao onde
essas prerrogativas estariam sendo garantidas. Fundou-se
a partir dai a associa<;ao, com a delibera<;ao a seguir:
21
-Ata da reuniao de funday80 da Associay8o de
Recuperac;:ao para 0 Trabalho
Aos trinta dias do mes de marc;:o de hum mil
novecentos neventa e tras, reuniram-se diversaspessoas no enderec;;o, site a rua Laura de Andrade, NO 52,
Centro JoinvillelSC. Sede do CAPS do municipio, com a
finalidade de fundar-se a "Associa98o de RecuperaC;:8o
para a Trabalho. Nesta ocasiao fizeram-se presentes a
Sr" Matilde S. de Liz (familiar), Maria Cristina P.
Mathias (Terapeuta Ocupacional da rede publica), Marita
da Silva Roela (familiar), Rainildes das Neves Goulart
(familiar), Ida Heidemann (paciente), Anelori B. Heinzen
(familiar). Dineusa A Souza (familiar). Jusmara do Racia
M. da Hora (Terapeuta Ocupacionalj, Ana Maria Fucker
(familiar), a Sr. Jose Soares Laurentino (familiar), Jorge
Luiz Martins (Terapeuta Ocupacional), Julio Campigotto e
Waldemar M. F. de Liz (familiares), como s6cios
fundadores, sendo aprovados pel os presentes. Dando-s9
em seguida a formac;:ao da primeira Diretoria, do conselho
deliberativo, e do Conselho Fiscal fundador, sen do tal
decisao consenso entre os presentes Ficando os mesmos
assim constitufdos. Diretoria Fundadora
Presidente: Maria Cristina P. Mathias
Vice-presidente: Matilde S. de Liz
Secretaria Geral: Dineuza A de Souza
Primeira Secretaria' Rainildes das Neves Goulart
Tesoureira Geral: Jusmara do Rossio M. da Hora.
Primeiro Tesoureiro: Jose Soares Laurentino
Assessor Geral: Jorge Luiz Martins
Assessora Juridica. Ana Maria Fucker
22
Canselho Deliberativo Fundador: Dineusa A de
Souza, Jorge Luiz Martins e Maria Cristina P Mathias.
Canselha Fiscal Fundador: Presidente: Ida
Heidemann, Secretario' Julio Campigotto; Prirneiro
Suplente: Wlademir M. F. de Liz; Segundo Suplente:
Marita da Silva Roela; Membra: Anelori B. Heizen. Apes a
aprova~ao pelos presentes e sem nada mais a relatar,
deu-se par concluida e finalizada a reuniaa. Foi aprovado
estatuta da Associac;ao de Recuperay80 para 0
Trabalho."
Durante os nove anos da existencia dessa
Associac;ao cinco presidentes sucederam-se pela ordem.
Maria Cristina P. Mathias, Maria Solene Brenneisen
(Terapeutas Ocupacional) Glades Salete Rech (Terapeuta
Ocupacional), Katia Pessin Benvenutti (Assistente Social)
e atual presidente Sra Juleides Shlikmann (voluntaria),
que esta no segundo mandata
Durante
presidentes,
as mandates das quatro
cada,
primeiras
conformetiveram dois mandatos
estatuto 0 mandato eo de urn ana, com possibilidade de
reeleiC;ao, esta AssociaC;ao vivia em regime de total
dependencia do servic;o publico, instalada que estava,
junto area fisica da Secretaria da Salide onde
funcionava 0 CAPS do municIpio, 59 utilizando igualmente
da logistica da secreta ria.
No segundo mandato da presidencia a tu a I,
cOincidindo com as rnudanc;as de paradigmas da SaLlde
Mental no pais, com a luta anti-manicomial do projeto lei
do Deputado Paulo Delgado e instalac;ao no municipio de
um Centro de Atenc;ao Diaria. A partir de janeiro do ana
de 2002 foi incentivado maior independencia esta
23
AS50cia980 que conseguiu para si espa90 fisico proprio,
ainda que subsidiado, pela Secretaria da Saude do
municipio, inieiando ai uma nova jornada.
Nesta caminhada de varios anos
conseguiu
parceria
va ri a 5
com a
parcerias,
Empresa
dentre elas destaca-se
de Materiais Plasticos
"AMANCO", que durante esses anos tern contribufdo com
fornecimento de produtos "abrayadeiras" de varias bitolas
cnde as montagens das mesmas sao feitas pelos
pacientes. 0 que representa urn ganho mensal de mais ou
menes cinqOenta a duzentos reais. Esta empresa apoiada
pelo projeto "Avina" tambem colabora com urn corpo de
voluntariado entre seus funcionarios que dedicam algumas
horas semanais, dando palestras sobre temas pertinente,
cursos de aifabetiz8980 marcenaria e de informatica
No decorrer deste ana sera aberto 0 segundo turno,
uma vez que no momento 0 funcionarnento e apenas nurn
periodo.
A associac;ao tambern desenvolve, na sua
prograrnac;ao sernanal, oficina de rnarcenaria, oficinas de
artes e oficina de tapec;aria, orientado por terapeuta
ocupacional de forma voluntaria e por voluntarios da
cornunidade.
Desenvolve-se uma programac;ao de cunho cultural e
esportivo, onde rnensalmente ha urn dia separado para
esportes, nas dependencias do Ginasio dos Servidores
Publicos, sao realizados tarnbem passeios pela area
turistica, museus da cidade comemorac;6es das
festividades obedecendo ao calendario mensal.
A eleic;ao da atual diretoria se deu no dia trinta de
abril de 2002, e ficou assim composta
24
PreSidente- Juleides Schlikmann. Vice presidente
Alzira Feder, Secretaria Geral- Isolde da Costa, Primeira
Secretaria- Ana Lucia Urbanski, Tesoureiro Geral- Dorita
Koch, Primeiro Tesoureiro- Lizete Rodrigues. 0 conselha
deliberativo ficou assim constituido. Jose Jurandir
Pereira, Glades S. R. de Souza, Sandra Lucia Vitofiano,
Graziela C. L. Zavatini e Maria Lucia Bueno. Assumiu
como Assessor Geral indicada pelo canselha: Marlise
Binttencourt.(Livro Ata das reunioes da REPART)
A posse dessa Diretoria aconteceu no dia dezoito de
maio de 2002, par Qcasiao das festividades do "Oia
Nacional da Luta Anti-manicomial",
o servi~o de Saude Mental do municipio e distribuido
em oito Regionais e cada uma dessas reune dais au mais
bairros da cidade, medido pelo contingente populacional
do local. Em cad a Regional dessas, manti:!m uma equipe
basica de saude mental composta de' Psiquiatra,
Psic610go e Terapeuta Ocupacional,
o projeto dessa Associac;ao visa descentralizac;ao
procurando atingir estas regionais com uma celula do
programa, visando atender maior numero de clientela, e
que possa servir de suporte para 0 servic;o de saude
mental.
E um modelo de programa de oficina$ terapeuticas e
de gerac;ao de renda que alem de favorecer a formac;ao de
vinculo dos seus participantes, 0 que por si 56 jil e muito
importante, cumpre seu papel fundamental, na busca da
otimizac;ao das capacidades residuais, aumentando
tranquilidade fisica e emocional dos pacientes, de modo
que estes possam ajustar-se as limitac;oes temporarias ou
permanentes, favorecendo promoc;ao da saude e a
25
prevenC;80 de agravantes no processo reabilitador. Nao eapenas um esfofC;:o para a ocupay8o do tempo oeioso do
paciente, indo alam, na tentativa de S8 trabalhar 0 seus
aspectos sadios, voltado sempre para a seu passivel
reingresso na sociedade, culminando com a conquista da
cidadania
4.2 COLETA DE DADOS
A coleta de dados deu-se atraves de pesquisa
documental nos mapas resultantes das fichas de registro
ambulatorial de produy8o ditHia e relat6rios mensais dos
Terapeutas Ocupacionais, emitidos pelo Data-SUS
Foram pesquisados as documentos relativQs ao
perlodo de 1995 a 2002
A compilaC;8o dos dados tei realizada atraves de
computay80 eletrOnica no programa EXCEL .do sistema de
informac;:6es da Secretaria Municipal da Saude
26
4.3 ANALISE DOS DADOS COLETADOS
PLANILHA DE ATENDIMENTO DA OFICINA PROTEGIDA
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Total de inscritos 11 16 20 25 30 30 30 28
Reagudiza(f:ao/sem 2 1 2 5 4 3 1interna9ao
Retorno ao Trabalho 1 1 7 1 6 2 1-
Desist~ncia do 3 5 2 7 1 2Tratamento
Reinternac;:ao Hospitalar 3 1 2 1 3 2
Sem Intercorr~ncias 6 6 15 7 16 19 23 24
Out ros 1 2 2
Mantidos em 8 10 18 14 20 23 28 21Acompanhamento
A tabela acima demonstra 0 numero de inscritos per ana
no periodo de 1995 a 2002
27
Figura 1, Distribui~ao percentual da clientela da
Oficina Terapeutica da REPART, segundo manuten~ao em
acompanhamento, no periodo de 1995 a 2002,
9,.q° 87%9Ao
73% 7/="/0 F
-= 6';'% 67%i>"
5~% ~I~ j ~,
'Il' ~ 'l"'1;1.
~.~. >," ~
f- 1- f-1!, -'0 _"'" ':7
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Fonte: Oados levantados pel a equipe de Terapia Ocupacional daREPART, Secretaria Municipal da Saude, Joinville, 2002.
Observa-se na figura 1 que a propor~ao da clientela que
se manteve em acompanhamento apresentou uma
tendencia crescente de 1998 para ca., chegando a urn
percentual de 96% em 2002, que podemos considerar
excelente, sugerindo ser urn indicador de adesao ao
tratamento.
28
Figura 2. Distribui930 percentual da clientela da
Oficina Terapeutica da REPART, segundo acometimento
de reagudizac;oes sem internay8o, no periodo de 1995 a
2002.
20 18%18
16,.12
10
20%
10%
13%
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Fonte: Oados levantados pela equipe de Terapia Ocupacional daREPART, Secretaria Municipal da Saude, JOinV'ille, 2002.
A figura 2, com exce,ao do ana de 1998, demonstra
urn claro decl[nio nos casas de reagudiz8C;;30 sem
internac;;8o. E importante salientar que a clientela
acompanhada neste perfodo manteve-se praticamenteestavel, com uma rotatividade muito baixa, 0 que pede ser
urn born indicador de eficacia deste tipo de proposta.
29
Figura 3. Distribui~ao percentual da clientela da
Oficina Terapeutica da REPART, segundo retorno ao
trabalho, no periodo de 1995 a 2002,
2 0
20%
I7%3,% 1ln,.!1, 4%
iJ- ~~1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Fonte: Oados levant ados pela equipe de Terapia Ocupacional daREPART, Secretaria Municipal da Saude, Joinville, 2002.
Na figura aeima, vale a pen a salientar que nos anos
de 1998 2000, respectivamente, houve urna maior
incidencia de retorno ao trabalho, fato que se deve aparticipaQ80 na oficina de pacientes com retardo mental
leve que, urna vez compensados, foram encaminhados de
retorno ao seu trabalho Mesma assim, para este tipo de
clientela com graves comprometimentos mentais, a saida
da oficina par retorno ao trabalho pode ser considerada
tambem um excelente indicador de eficacia
30
Figura 4. Distribui,iio percentual da clientela daOficina Terapl§utica da REPART, segundo percentual de
desistencia do acompanhamento, no periodo de 1995 a
2002.
35
25
20
15
10 7%
11Jti4tj~~tj~~3%~~1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Fonte: Dadas levantado$ pela equipe de Terapia Ocupacionalda REPART, Secretaria Municipal da Saude, Joinville, 2002.
Nos primeiras colunas a porcentagem de desistencia
aparece alta, ests percentual mais alto deve-s9 ao fatc
de, proporcionalmente, referir-se a urn numera absoluto
menor da clientela acompanhada no periodo, cndepequenas oscilac;:6es numericas se traduzem numpercentual muito alto. Este percentual volta a S9 repetir
no ano de 1999, porem no restante dos anos volta a
indices bastante menores, 0 que nos sugere, novarnente,
urn indicador de eficacia da proposta.
31
Figura 5. Distribuic;:ao percentual da clientela da
Oticina Terapeutica da REPART, segundo acometimentode reinternac;ao, no periodo de 1995 a 2002
Fonte: Oados levantados pela equipe de Terapia Ocupacional daREPART, Secretaria Municipal da Saude, Joinville, 2002.
Oesde 0 ano de 1996 observa-s9 que a tendencia de
reinternac;:ao e de declinio. No ano de 2001, 0 percentual
aparece maior, provavelmente par tratar-se do ano em
que ocorreram mudanC;:8s efetivas no programa, quando a
Oficina da REPART sai da tutela do servic;:o publico,
passando a um regime de semi-independencia.
32
Figura 6. Oistribuic;:ao percentual da clientela da
Oficina Terap~utica da REPART, sem acometimento de
intercorrencias, no perfodo de 1995 a 2002.
86%
Fonte: Dados tevantados pela equipe de Terapia Ocupacional daREPART, Secretaria Municipal da Saude, Joinvilte, 2002.
Conforme S9 observa na figura aeirna 0 percentual de
pacientes sem intercorrf}ncia, melhorou chegando a 86%
no ultimo ano, 0 que sugere eficacia deste modele de
acompanhamento.
33
Figura 7 Evoluc;ao temporal da clientela da Oficina
terapeutica da REPART, segundo acometimento par
intercorrencias (reagudiza,oes e/ou interna,oes), noperiodo de 1995 a 2002.
1995 1996 1997 1998 1999 2DOO 2001 2002
Fonte: Dados levantados pela equipe de Terapia Ocupacional daREPART, Secretaria Municipal da Saude, Joinvitle, 2002.
Na figura acima, nos anos posteriores a 1998,
observa-s9 a declinio continuo das intercorrencias, 0 que
sugere de eficiencia no acompanhamento.
34
Figura 8. Evoluc;ao temporal da clientela da Oficina
Terapilutica da REPART, segundo ausencia de altera~iles,
no periodo de 1995 a 2002.
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Fonte: Dadas levant ados pela equipe de Terapia Ocupacional daREPART, Secretaria Municipal da Saude, Joinville, 2002
Os dados desta figura indicando 0 percentual da
clientela que nao apresentou alterac;oes, demonstram a
eficacia do atendimento presta do
35
Figura Evolur;ao temporal da clientela da Oficina
Terapeutica da REPART, segundo desistencias do
acompanhamento, no periodo de 1995 a 2002.
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Fonte: Oados levantados pela equipe de Terapia Ocupacionalda REPART, Secretaria Municipal da Saude, Joinville, 2002.
Observa-se no gr,Hico picas de desistencias nos anas
de 1996 e 1999. Na continuidade dos anas que se seguem
percebe-se declinio no numera de desistencias
36
CONSIDERACDES FINAlS
No decorrer deste trabalho procurou-se demonstrar a
relayeo entre Trabalho e Saude Mental e como urn afeta 0
outro.
Foi realizada uma reviseo bibliografica procurando
clarear cada um desses pontcs e reunir material parafuturas discussoes 0 objetivo principal foi retratar a
realidade que vive a AssociaC;:8:o de Recuperay8:o para 0
Trabalho e 0 programa de Oficinas Terapeuticas que vem
ali sendo desenvolvido
Reuniu-se dados do acompanhamento da clientela no
periodo de 1995 a 2002, que fcram expostos em graficos
que servem para analise, bem como para ajudar
estabelecer a relayeo entre Trabalho e Esquizofrenia, na
tentativa de perceber as implic8c;oes dessa relayeo para a
sociedade Pode-se tambem visualizar 0 panorama
atualizado dos resultados da utiliza9ao da tecnica de
Oficinas pelos Terapeutas Ocupacionais, quando na
aten,ao a clientela portadora de Iranstornos
esquizofrenicos
Vale lembrar que a pro posta €I fazer considera90es e
despertar interesse pelo assunto.
Busca-se tambem promover 0 levantamento das
principais caracteristicas da tecnica de oficinas
terapeuticas na pratica dos Terapeutas Ocupacionais
o conteudo discutido e multo rico e nao foi aqui
explorado em todas as suas dimensoes. Tanto a pratica
desenvolvida, como as verificadas atraves de contato com
outros profissionais apontaram para necessidade
urgente de reflexao aprofundamento do estudo par
outros colegas, que possa contribuir para a detec9ao e
37
minimiz8980
poputa9ao
dos problemas s6ci a-acup a ci 0 na i 5 da
estudada, dentro de uma proposta
interdisciplinar.
Pela pr6pria experiencia no campo de Oficinas em
saude mental, 0 autor canclu; que as objetivos foram
alcanc;;ados po is pade-se avaliar, que apesar dos
obstaculos naturals de todo processo hist6rico, como
positives as resultados das intervenyoes dos profissionaisde Terapia Ocupacional envolvidos no referido processo.
Nao restarn duvidas de que a tecnica estudada e
eficaz e eficiente na atenc;ao a clientela portadora e
transtornos esquizofrenicos, nos aspectos bio-psico-
socio-ambientais, principalmente par se tratar de uma
proposta com decisao em equipe interdisciplinar.
38
BIBLIOGRAFIA
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NEISTAD & CREPEAU. Willard & Spackmann Terapia Ocupacional. Barcelona:2002
VIANNA,R G V.Oficina do Homem Se Fazer.VoI7, Belo Horizonte: 1994.GES-TOIUFMG.
HARDY, E et all. Conteudos Minimos Que um Protocolo De
Pesquisa Deve Conter. Campinas: 1 992, J un. Ver.
UNICAMP.VIII, P 42-45.
39
AV1NE- Funda9ao internacional de proteyao 80 meio
am b i e n te.
ANEXOS
40
ANEXO 1
QUEM TEM MEDO DO BICHO-PAPAO?
Desde crianc;as aprendemos que devemos ser normalS,
obedientes, bonzinhos.
Oevernos ser bons filhos, bons alunos e bons empregados.
E devemos nos comportar dignamente, falar baixo, Ter a
postura certa, nunca falar palavroes, nunca gritar de
raiva, fiear quietinho
E de repente, nos deparamos com seres humanos que
xingam, esperneiam, andam sem parar e sem cansar, que
tern "blasfemia" de dizer que sao Deus au seus
missionarios, que veern pessoas que ja morreram com a
naturalidade de crianc;as sem culpa.
Imaginem a angustia de viver em dais mundos: urn real e
outro imaginario que se torn a cada vez mais real, quase
palpavel
"Eu OUC;O vozes que me chamam ou falam mal de mim,
OUC;O ruidos estranhos, e converso com pessoas que os
outros nao veem"- diz um desses seres especiais.
Veem discos voadores, monstros, vultos, espfritos, cores
e formas que os "normais" nao lem acesso.
Morrem de medo da policia, sentem-se perseguidos,
maltratados, marginalizados, desmoralizados - sempre
fugindo de suas pr6prias ideias, tao poderosas que
mudam seu mundo desvirtuam suas percepc;:oes.
41
Alguns desistem de viver - buscam a unica soluc;:ao na
morte e planejam 0 5uicidio. Sente-se no fundo do palto
escuro, frio e vazio.
Qutros par vezes riem, brincam e podem ser agressivos
se contrariados, parecem crianc;as pequenas e perturbam
muito as adultos ordenados. Qutras vezes desesperam-se
com urna tristeza tao profunda que a gente nac encontra
nos "normais", urna tristeza repleta de desamparo,
desanimo e total desconsolo."
Em geral estas pessoas assustam e suscitam as emoc;oesmais intensas em nos mesmas - odio, amor desespero,
dor e alegria.
Podemos nos perguntar porque tantas vezes as
rechac;amos e as desprezamos.
Porque, desde pre-hist6ria da cit!ncia, as doenc;:as
mentais tern intrigado a nos humanos?
Talvez porque ela desestruture a ordem e ameace nosso
canfarta.
Durante varios seculos foi posta atras das grades,
amarrada, sufocada e queimada nas fogueiras da idade
media. Sofreu as mais diversas tarturas na tentativa de
Wtirar a diaba do corpa".
Mas pademas nos perguntar se a diabo naa estava em
quem tarturava.
E melhor calar quem nos amea9a porque assim nao vemos
que poderiamos estar no lugar desta pessoa.
42
Creia que ninguem honestamente falanda, pode dizer -
em sua sa consciencia - que nunca falou sQzinho, nunca
gritou com alguem nunca teve seu momento de
"Ioucura~
Diante do que estas pessoas sofreram, nos question amos
se tambem nao teriamos Uenloquecido~, pois 0 equilibria
emocional humano e mais tragil do que geralmente
gostariamos que fosse.
Entre 0 normal e a anormal esta urn fio de cabelo.
E como dizia Raul Seixas:
"Dizem que sou loueo par eu ser assim,
Mais loueo e quem me diz que naD e feliz".
Gisele Fontenelle de Oliveira1
1 Psic610ga da equipe de Saude Mental da SecretariaMunicipal da Saude de Joinville.