81
Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Orientador Profª. Alcínia Zita de Almeida Sampaio Júri Presidente: Prof. Augusto Martins Gomes Orientadora: Profª. Alcínia Zita de Almeida Sampaio Vogal: Prof. Nuno Gonçalo Cordeiro Marques de Almeida Novembro 2016

Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

  • Upload
    others

  • View
    6

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades

Bernardo Ferreira Silva

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Orientador

Profª. Alcínia Zita de Almeida Sampaio

Júri

Presidente: Prof. Augusto Martins Gomes

Orientadora: Profª. Alcínia Zita de Almeida Sampaio

Vogal: Prof. Nuno Gonçalo Cordeiro Marques de Almeida

Novembro 2016

Page 2: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

i

Agradecimentos

Uma dissertação de mestrado, apesar de representar o trabalho de uma pessoa, acaba

sempre por envolver outras pessoas que de certa forma contribuíram positivamente para a realização

deste trabalho.

Em primeiro lugar, quero agradecer aos meus pais e irmão, o que sou hoje devo quase

inteiramente à educação que me foi proporcionada e pela força e motivação incondicional que me

deram ao longo destes anos, que me permitiu chegar a este momento.

Agradeço igualmente a todos os meus amigos de Santarém, pela força que sempre me

deram e por terem estado sempre presentes neste meu percurso académico, sem eles não teria

conseguido superar esta aventura. Em particular, João Nuno, João Pedro, Ana, Sofia Nunes, Hugo,

João Manso, Madrinha.

Aos meus colegas de curso e amigos, pela presença e companheirismo ao longo destes

anos, seja na universidade ou fora dela, em especial, ao Pedro Nunes, ao Francisco do Vale, ao

Miguel Ribeiro, ao Pedro Gonçalves e ao Nuno Reis.

À Consulgal pela disponibilidade em fornecer toda a informação e material que precisei, e aos

meus colegas de trabalho, Eng.ª Ana Madeira, Eng.º Pedro Mota, Eng.º Pedro Rodrigues e Gisela por

todo o apoio que me deram ao longo da elaboração desta dissertação.

Um enorme agradecimento à Professora Zita Sampaio, que aceitou ajudar-me e acreditou em

mim na pior altura e que me mostrou a razão do IST ser uma faculdade de renome, com profissionais

de excelência. Quero agradecer também aos Professores Eduardo Santos e João Martins pelo

contributo especial.

Um agradecimento especial à Sofia que, apesar de apenas ter contribuído na fase final da

minha dissertação, deu-me apoio na altura crítica e a motivação que eu precisava para fechar este

capítulo. Obrigado, ajudaste mais do que pensas e a tua presença e alegria foram essenciais.

Por último, quero dedicar esta dissertação à minha avó. Desde pequeno que me fez acreditar

que eu conseguia atingir o que queria, ensinou-me a nunca desistir e a ter a ambição de ser sempre

melhor. Obrigado por tudo e desculpa, sei que teria sido um orgulho enorme estares comigo neste

momento.

Page 3: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

ii

Resumo

A medição de quantidades é um processo essencial em obra, pois permite obter as

quantidades de material necessárias na construção, apoiando uma análise prévia do investimento,

assim como a tomada de decisões e o planeamento dos recursos a considerar. Uma medição

incorreta, detetada na fase de construção, pode conduzir a graves problemas económicos e

temporais. A quantificação tradicional, através da medição dos diferentes elementos do projeto, tem

como base os desenhos, os quais podem apresentar inconsistência, originando erros na obtenção de

resultados. Atualmente, a atividade de medição pode ser apoiada em aplicações de base BIM

desenvolvidas para a sua execução.

O principal objetivo da presente dissertação consiste na análise comparativa entre os

métodos tradicional e BIM utilizados no processo de medição. O trabalho desenvolvido permitiu

identificar os benefícios e as limitações da utilização da metodologia BIM, aplicada ao projeto de

estruturas de um caso concreto. O estudo revela que são conseguidos resultados similares em

menos tempo e um aumento de produtividade do processo, baseados na correção e na fácil obtenção

de mapas de quantidades, a partir do modelo BIM elaborado para o projeto. Adicionalmente, contribui

para evidenciar a vantagem competitiva na realização desta tarefa, incentivando a implementação da

metodologia BIM nas empresas de construção.

Conclui-se que, apesar das limitações encontradas, principalmente a relacionada com a

modelação de armaduras, a adoção da metodologia BIM acrescenta diversos benefícios ao processo

de medição e consequentemente à quantificação, evidentes na redução de tempo despendido e na

melhoria da qualidade do produto final.

Palavras-chave: BIM, Medição de Quantidades, Modelo 3D, Mapa de Quantidades.

Page 4: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

iii

Abstract

The Quantity Take-Off (QTO) is an essential process in project, because it allows to manage

the costs involved in construction, supporting the previous investment analysis, as well as the

decision-making and resources planning. An incorrect QTO, only detected on the construction phase,

can lead to serious problems with the economy and schedule of the project. The traditional quantity

take-off, through manual measurement of the different project elements, is based on 2D drawings, that

can present inconsistencies, might produce errors on the results obtained. Nowadays, the QTO

activity can be supported by BIM applications developed exclusively for this process.

The main goal of this study consists in a comparative analysis between both methods,

traditional and BIM, used in the QTO. The work produced made it possible to identify the advantages

and limitations of using the BIM methodology, applied to a real structural project. The study reveals

that better results are obtained and a productivity increase is observed, due to similar results with less

time spent and the ease to obtain bills of quantities from the BIM model created to the project.

Moreover, it contributes to highlight the competitive advantage obtained with this task, encouraging

the BIM implementation by construction companies.

Thus, despite the limitations found, particularly the problem with rebar modeling, BIM adoption

will add various benefits to the QTO process, especially in reducing the time required and in improving

the quality of the final product. This advantages promote lower global costs to the project, making it

more competitive and efficient.

Keywords: BIM, Quantity take-off, 3D Model, Bill of Quantities.

Page 5: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

iv

Índice

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................1

1.1. Motivação ................................................................................................................................ 1

1.2. Objetivo e Metodologia ............................................................................................................ 2

1.3. Estrutura da dissertação .......................................................................................................... 2

2. CONCEITO E APLICAÇÃO DE BIM ............................................................................................3

2.1. Enquadramento BIM ................................................................................................................ 3

2.2. BIM em Portugal ...................................................................................................................... 5

2.3. Interoperabilidade .................................................................................................................... 6

2.4. Normas BIM ............................................................................................................................. 7

2.5. Modelo BIM 5D ...................................................................................................................... 12

2.6. Implementação BIM em Portugal e Brasil ............................................................................. 13

3. MEDIÇÃO DE QUANTIDADES ................................................................................................. 15

3.1. Medição de quantidades ....................................................................................................... 15

3.2. Estimativa de custo e orçamento da obra ............................................................................. 17

3.3. Medição de quantidades em BIM .......................................................................................... 18

3.3.1 Benefícios .......................................................................................................................... 18

3.3.2 Problemas .......................................................................................................................... 20

3.3.3 Evolução da estimativa de custos BIM .............................................................................. 21

3.4. Normalização ......................................................................................................................... 22

3.4.1 Normas .............................................................................................................................. 23

3.4.2 Normalização na obtenção de quantidades ...................................................................... 25

4. PROPOSTA DE METODOLOGIA BIM ...................................................................................... 27

4.1. Metodologia BIM na medição de quantidades ...................................................................... 27

4.2. Pré-requisitos......................................................................................................................... 28

4.3. Modelação ............................................................................................................................. 30

4.4. Medição de quantidades automática ..................................................................................... 32

4.4.1 Criação do modelo BIM ..................................................................................................... 32

4.4.2 Consulta do relatório de modelação .................................................................................. 32

4.4.3 Obtenção de quantidades ................................................................................................. 33

4.4.4 Garantia de qualidade ....................................................................................................... 33

4.4.5 Lista de quantidades ......................................................................................................... 34

4.5. Estimativa do Custo ............................................................................................................... 34

5. CASO PRÁTICO ....................................................................................................................... 36

5.1. Projeto de fundações ............................................................................................................. 36

5.2. Geração do modelo BIM ........................................................................................................ 36

5.3. Recomendações para a quantificação automática ............................................................... 48

5.3.1 Consistência do modelo .................................................................................................... 48

Page 6: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

v

5.3.2 Aplicação de extração de quantidades ............................................................................. 50

5.3.3 Utilização de nomenclaturas específicas .......................................................................... 50

5.3.4 Capacidade de interoperabilidade ..................................................................................... 50

6. OBTENÇÃO DE MAPAS DE QUANTIDADES ........................................................................... 51

6.1. Método tradicional ................................................................................................................. 51

6.2. Método BIM ........................................................................................................................... 54

6.3. Comparação de resultados ................................................................................................... 59

6.4. Condicionantes e limitações .................................................................................................. 60

7. CONCLUSÃO ............................................................................................................................ 62

7.1. Contribuições do estudo ........................................................................................................ 62

7.2. Limitações .............................................................................................................................. 63

7.3. Desenvolvimentos futuros de trabalho .................................................................................. 64

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................ 65

A. ANEXOS ................................................................................................................................. A.1

Anexo A............................................................................................................................................. A.1

Anexo B............................................................................................................................................. A.4

Anexo C ............................................................................................................................................ A.6

Page 7: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

vi

Índice de Tabelas

Tabela 1 - Normas BIM ........................................................................................................................... 7 Tabela 2 - Representação esquemática do processo ........................................................................... 35 Tabela 3 – Fases de modelação no Revit ............................................................................................. 37 Tabela 4 - Método tradicional de medição de armaduras ..................................................................... 54 Tabela 5 - Quantidades e tempo despendido ....................................................................................... 54 Tabela 6 – Lista de Sapatas .................................................................................................................. 57 Tabela 7 – Lista de Lintéis..................................................................................................................... 57 Tabela 8 - Lista de Pilares ..................................................................................................................... 57 Tabela 9 - Lista de Armaduras das Sapatas ......................................................................................... 58 Tabela 10 – Obtenção de quantidades (tradicional e automática) ....................................................... 59 Tabela 11 - Tempo gasto na obtenção de mapas de quantidades ....................................................... 60

Page 8: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

vii

Índice de Figuras

Figura 1 - Método de trabalho tradicional e BIM ..................................................................................... 4 Figura 2 - Check-List para os elementos estruturais [16] ..................................................................... 10 Figura 3 - Processo para a obtenção de quantidades do modelo [16] ................................................. 12 Figura 4 - Processo de quantificação automática ................................................................................. 32 Figura 5 - Ficheiro .dwg preparado para importação pelo Revit ........................................................... 37 Figura 6 - Comando "Import CAD" ........................................................................................................ 38 Figura 7 - Planta importada para o Revit .............................................................................................. 38 Figura 8 - Comando "Visibility Graphics" .............................................................................................. 38 Figura 9 – Cotas e designações atribuídas aos níveis considerados ................................................... 39 Figura 10 - Grelha de alinhamentos ...................................................................................................... 39 Figura 11 - Comando "Column"............................................................................................................. 40 Figura 12 - Interface de propriedades do pilar ...................................................................................... 40 Figura 13 - Lista de Pilares criados ....................................................................................................... 41 Figura 14 - Lista de Vistas (Project Browser) ........................................................................................ 41 Figura 15 - Colocação de um pilar ........................................................................................................ 41 Figura 16 – Representação de pilares .................................................................................................. 42 Figura 17 - Lista de Sapatas ................................................................................................................. 43 Figura 18 - Comando "Structural Foundation: Isolated" ........................................................................ 43 Figura 19 – Modelo BIM com a representação de pilares e de sapatas ............................................... 43 Figura 20 – Modelo 3D das fundações ................................................................................................. 44 Figura 21 - Separador "Extensions" e comando “Reinforcement” ........................................................ 44 Figura 22 - Interface inicial para colocação de armaduras ................................................................... 46 Figura 23 – Perspetiva de uma sapata armada .................................................................................... 46 Figura 24 - Pormenorização de armaduras na ligação entre o pilar e o lintel ...................................... 47 Figura 25 - Render da estrutura final .................................................................................................... 47 Figura 26 – Obtenção do volume de betão das sapatas ...................................................................... 53 Figura 27 - Comando “Schedules” no Separador “View” ...................................................................... 55 Figura 28 - Escolha do tipo de elemento a quantificar (Passo 1) ......................................................... 55 Figura 29 - Escolha das propriedades (Passo 2) .................................................................................. 56 Figura 30 - Interseção entre o pilar e o lintel ......................................................................................... 59

Page 9: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

1

1. INTRODUÇÃO

A metodologia Building Information Modeling (BIM) tem vindo a ser implementada na indústria

da construção, suportada num forte desenvolvimento tecnológico. A sua aplicação tem sido requerida

em projetos de grande volume e complexidade devido às capacidades que as ferramentas de base

BIM apresentam, permitindo menores custos e melhores produtos finais. O desenvolvimento de

projetos em ambiente BIM é apoiado numa abordagem colaborativa, englobando a gestão da

arquitetura e engenharia, o processo construtivo e a atividade de manutenção. A criação e gestão do

projeto é efetuada sobre uma representação digital, centralizada, o modelo BIM, contendo a

informação relativa a todas as etapas do projeto. O modelo facilita a troca de informação, em formato

digital, entre os colaboradores, apoiado na capacidade de interoperabilidade dos programas utilizados

[1]. A adoção desta tecnologia é atualmente visível em todo o mundo, perspetivando-se que,

futuramente, o BIM será um requisito na definição de projetos e será uma aposta na garantia de uma

vantagem competitiva no domínio da Construção.

1.1. Motivação

A metodologia BIM é apoiada em ferramentas de modelação baseada em objetos

paramétricos, permitindo uma intuitiva conceção dos projetos de arquitetura, de estrutura e de

instalações. A visualização 3D é uma das capacidades mais evidentes. No entanto, o modelo BIM

criado, conjugando a informação de diferentes disciplinas, proporciona diferentes usos. Assim, é

possível efetuar as análises estruturais e de deteção de conflitos, a geração do modelo 4D

(calendarização do processo construtivo) e a definição do modelo 5D (quantificação de mapas de

quantidades e orçamentação) [2]. A tecnologia BIM apresenta uma alternativa avançada em relação

ao processo tradicional, em que as diferentes fases de construção são realizadas com uma partilha

de informação bastante limitada e alguma inconsistência. Segundo Parreira [2], o BIM permite uma

melhor produtividade dos processos operacionais e administrativos das empresas, reduzindo tempos

de execução, e a garantia de um melhor produto.

Um dos aspetos importantes na indústria da Construção é a obtenção de quantidades de

trabalho na unidade de medição da operação da construção, base do processo de orçamentação.

Para tal, é efetuada a medição dos elementos do projeto segundo regras de medição, a qual é

organizada em mapas de quantidades, base da realização da estimativa de custos do projeto [3].

O estabelecimento de uma orçamentação detalhada é um processo essencial à construção,

mas demorado. Uma orçamentação que apresente falhas pode conduzir a graves consequências

económicas para a empresa. O processo requer um considerável dispêndio de tempo na consulta e

interpretação dos desenhos técnicos incluídos na documentação gráfica do projeto. Como o modelo

BIM é formado por objetos paramétricos, esta fase pode ser processada de um modo automático.

Assim, o BIM irá permitir reduzir o tempo despendido na obtenção de mapas de quantidades e no

cálculo de custos [4].

Page 10: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

2

1.2. Objetivo e Metodologia

O âmbito BIM é largo na indústria da Construção e vários são os objetivos a atingir,

dependendo do interesse e especificidade do técnico. O presente estudo pretende avaliar a utilização

da metodologia BIM na realização dos processos de medição de quantidades. A avaliação é

suportada na comparação dos métodos tradicional e BIM, relacionados com a atividade de

quantificação de materiais, de forma a permitir delinear estratégias de implementação do BIM nas

empresas, que possam contribuir para lhes proporcionar uma maior vantagem competitiva.

A investigação deve permitir concluir quais os benefícios na utilização do BIM, em

substituição do método tradicional, para a realização da medição de quantidades para apoio do

orçamento do projeto e quais as principais dificuldades encontradas. Nesse sentido, em relação a um

projeto de estruturas existente:

É efetuada a medição de quantidades tradicional do projeto, de acordo com as regras

usualmente aplicadas na medição em construção de edifícios (LNEC);

É criado o modelo BIM que é utilizado na automatização de mapas de quantidades das

componentes da estrutura;

São comparados os dois métodos de forma a identificar as principais vantagens e

desvantagens em cada procedimento;

1.3. Estrutura da dissertação

A dissertação está organizada em seis partes:

O primeiro capítulo apresenta a motivação da investigação e descreve a metodologia de

trabalho adotada;

O segundo capítulo aborda o enquadramento do conhecimento BIM atual com base na

revisão bibliográfica efetuada;

O terceiro, foca os processos de quantificação e de orçamentação de projetos,

recorrendo ao método tradicional e lista algumas das vantagens e desvantagens que são

apontadas, na bibliografia, à utilização do BIM neste contexto;

O quarto capítulo apresenta o desenvolvimento do processo BIM aplicado a um caso de

estudo, permitindo a comparação entre as metodologias tradicional e BIM;

No quinto, são avaliados os resultados da comparação entre os dois processos, sendo

possível delinear recomendações de atuação da implementação do BIM em empresas,

na atividade da orçamentação;

Finalmente, são apresentadas as principais conclusões do trabalho desenvolvido e

indicadas futuras linhas de investigação.

Page 11: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

3

2. CONCEITO E APLICAÇÃO DE BIM

O presente capítulo aborda o conceito, a evolução tecnológica, a aplicabilidade do BIM e,

ainda, os benefícios e as limitações verificadas na sua adoção na indústria da Construção.

Adicionalmente, é referida a capacidade de interoperabilidade dos softwares de base BIM, requerida

na partilha de informação entre etapas do projeto, e são analisadas as normas existentes, e em

detalhe a norma finlandesa, COBIM.

Finalmente, o estudo bibliográfico é orientado para a geração e a utilização dos modelos BIM

5D, relacionados com as atividades de orçamentação de obras.

2.1. Enquadramento BIM

A sigla BIM pode significar a metodologia de trabalho colaborativo, Building Information

Modeling, o modelo digital criado nesse processo, Building Information Model, ou mesmo a

ferramenta utilizada na criação do modelo.

O conceito BIM envolve essencialmente a metodologia, como resultado da sua aplicação é

concebido o modelo, que congrega as diferentes especialidades. O modelo BIM criado, além do

aspeto geométrico tridimensional (3D) contém informação organizada e adequada para ser

manipulada por uma multiplicidade de utilizações, criando-se os modelos BIM nD [2]. O termo BIM foi

popularizado por Jerry Laiserin, em 2002 [5], como uma designação mais ajustada para o software

CAD mais avançado e orientado para a Construção. O novo acrónimo permitiu diferenciar as novas

ferramentas digitais, com um conceito de modelação baseado em objetos representativos de

componentes de construção, dos anteriores sistemas de traçado, de carácter essencialmente

geométrico [5].

Frequentemente, os arquitetos e os engenheiros recorrem ao BIM apenas numa perspetiva

de ferramenta para criar representações geométricas 3D dos edifícios, e as aplicações BIM reforçam

em parte essa ideia, pois oferecem uma interface otimizada para a criação desses modelos. No

entanto, a maior potencialidade do BIM baseia-se na compilação de uma extensa quantidade de

informação concentrada no modelo digital e da sua capacidade de atualização ao longo de todo o

processo do projeto [6]. O desenvolvimento de trabalho sob o conceito BIM requer, por parte da

equipa envolvida, o reconhecimento de que o modelo criado contém toda a informação e que ela está

disponível de um modo acessível, de fácil partilha e compreensão e que é fiável. A Figura 1 ilustra os

dois processos de trabalho, tradicional e BIM, envolvendo as mesmas equipas de trabalho inerentes a

uma construção.

No processo atual, a troca de informação entre as equipas é realizada de uma forma direta

em todos os processos, o que conduz à repetição de dados e a uma eventual incorreção de

inconsistência quando são introduzidas alterações ao projeto. No enquadramento BIM, as mesmas

equipas, “dialogam” com um modelo único BIM. O núcleo BIM representa a plataforma usada para a

troca de informação, com uma única linha de comunicação para cada interveniente. Todas as

Page 12: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

4

equipas, no desenvolvimento do seu trabalho, utilizam a informação disponibilizada pelo modelo e

acrescentam valor ao modelo de acordo com a sua especificidade [2]

Dono de Obra

Engenheiro Civil

Arquiteto

Engenheiro Estrutural

Engenheiro de Sistemas

Construtor

Sub-empreiteiro

Entidades do Governo

Dono de Obra

Engenheiro Civil

Arquiteto

Engenheiro Estrutural

Engenheiro de Sistemas

Construtor

Sub-empreiteiro

Entidades do Governo

BIM

Figura 1 - Método de trabalho tradicional e BIM

No ambiente BIM, a informação é partilhada pelos intervenientes através de normas de troca

de informação, de forma a garantir que a informação compilada é fiável e que é acessível durante

todo o ciclo de vida da construção [6].

A indústria da Construção necessita de desenvolver empreendimentos com melhores e mais

eficientes resultados económicos. A implementação de um novo processo como o BIM tem vindo a

contribuir para a obtenção de melhores produtos na construção. O BIM requer uma abordagem algo

distinta no processo, nomeadamente na criação, manipulação e adição de informação, concentrada

num único modelo, e que essa informação seja acessível em qualquer etapa do desenvolvimento do

projeto. É importante que as empresas promovam a colaboração entre todos, de forma a conseguir

reduzir despesas, melhorar a qualidade do projeto e aumentar a produtividade [6].

Como referido, a capacidade de troca de dados entre as diferentes aplicações e a gestão das

relações colaborativas entre os membros do projeto são essenciais para o bom funcionamento de um

projeto BIM. Essa capacidade é definida como a interoperabilidade. De forma a possibilitar a troca de

informação entre as equipas, é necessário recorrer a formatos que suportem um nível de

transferência de informação com qualidade, pois cada programa computacional tem o seu formato de

dados. Nesse sentido, foi concebido o padrão Industry Foundation Classes (IFC), que é o formato

internacional (não proprietário) para os modelos BIM, registado na International Standardization

Organization (ISO). Outra solução para o apoio a um trabalho colaborativo, é recorrer a um mesmo

software que permita a definição de tarefas por parte de cada membro da equipa, pois, deste modo, a

troca de informação é sempre compatível [2].

Page 13: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

5

2.2. BIM em Portugal

O BIM em Portugal está ainda numa fase inicial. Existe alguma consciencialização, por parte

das empresas, de que é uma metodologia que irá ter um grande impacto no futuro. O interesse na

aquisição de conhecimentos relativos a funcionalidades e vantagens proporcionadas pelo BIM, deve-

se ao facto do BIM começar a ser uma exigência nos contratos em países onde as empresas

portuguesas se internacionalizam, o que incentiva que o setor da Construção aposte na sua

implementação.

Para apoiar a implementação BIM em Portugal, foi criado um fórum BIMForum Portugal, com

o objetivo de promover e acelerar a adoção do BIM na indústria nacional da Construção, nos distintos

setores da indústria. Organizou, em 2013, no Porto, a primeira edição do evento BIM International

Conference, com a participação de especialistas internacionais. Seguiram-se outras edições da

Conferência, em 2014 foi realizada em Lisboa e, em 2015, simultaneamente, no Porto e Madrid [7]. O

BIMForum Portugal criou uma plataforma virtual (BIM CLUB) de discussão informal e promoção de

atividades relacionadas com a implementação e divulgação do BIM. Esta plataforma, com génese no

meio académico e dirigido a estudantes e docentes, pretende reunir todas as instituições de ensino

portuguesas com ligação à indústria de Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC) [8].

Numa parceria entre a Universidade do Minho, o Instituto Superior Técnico, a Faculdade de

Engenharia do Porto, a Faculdade de Arquitetura do Porto e a Ordem dos Engenheiros, foi criado um

curso de formação especializada, destinado a formar BIM-Managers, que reúne formadores com

experiência em BIM, tendo tido bastante recetividade na comunidade empresarial [9].

Ainda a um nível académico tem havido um interesse crescente, por parte dos alunos

finalistas na formação de Engenharia Civil, em desenvolverem teses de Mestrado neste tema, nas

áreas de Estruturas e Construção. Tem havido igualmente uma forte divulgação pelo IST, na

promoção de cursos no âmbito pela FUNDEC (www.fundec.pt) com bastante aceitação pelos

profissionais do setor.

Em março de 2015 foi criada uma Comissão Técnica para a Normalização BIM (CT 197 –

Building Information Modeling) que pretende auxiliar a implementação do BIM em Portugal, através

da criação de normas e do desenvolvimento de um plano de execução BIM, para facilitar a adoção do

BIM por parte das empresas portuguesas [10].

A Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção (PTPC) é uma organização que

promove a reflexão sobre o setor da construção e a implementação de iniciativas e projetos de

investigação, desenvolvimento e inovação, de forma a contribuir para o incremento da

competitividade das empresas portuguesas. De forma natural, esta plataforma criou um grupo de

trabalho BIM que, além de participar ativamente na CT 197, organiza workshops e divulga as mais

recentes notícias sobre a metodologia BIM na sua página [11].

Page 14: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

6

2.3. Interoperabilidade

Na indústria da Construção, as equipas frequentemente trabalham nos seus projetos de um

modo algo independente, em que o projetista participa apenas no acompanhamento da construção e

as suas soluções construtivas geralmente não têm em conta a gestão do edifício. No entanto, a

adequada troca de informação entre as diversas equipas é importante para obter uma construção de

qualidade. A evolução tecnológica atual permite que a maioria das tarefas se processe de um modo

digital, pelo que a troca de informação com os parceiros é realizada por meio de documentos em

formato eletrónico [12]. Num projeto BIM, a informação contida no modelo deve poder ser utilizada

por diversas aplicações. Para tal as aplicações BIM devem admitir uma capacidade adequada de

interoperabilidade [13].

A interoperabilidade pode ser definida como “a habilidade de dois ou mais sistemas trocarem

informação de qualidade sem omissões ou incorreções e usar essa informação” [14]. Uma

interoperabilidade deficiente ou inexistente entre sistemas, numa indústria como a Construção em

que existem diversas aplicações no mercado e que são utilizadas na execução de distintas tarefas,

pode conduzir a custos adicionais, que podem atingir um acréscimo, de cerca de 4%, dos custos de

investimento global da construção [2]. Uma eficaz interoperabilidade elimina a repetição de

informação entre processos assim como omissões ou a incorreta interpretação de componentes da

construção.

A interoperabilidade deve ser suportada num formato comum a incorporar nos softwares de

base BIM. A organização Industry Alliance for Interoperability (IAI) criou um modelo de dados, o

padrão Industry Foundation Class (IFC) que está atualmente a ser desenvolvido pela buildingSMART

International [13]. O padrão IFC fornece uma estrutura padronizada reconhecida por diversas

aplicações que admitem esse formato [12], e garantem a manutenção da geometria, o

relacionamento e a informação de cada elemento do modelo transferido [13].

Adicionalmente, num projeto BIM pode ser aplicada a metodologia Industry Delivery Manuals

(IDM) para documentar os vários processos do projeto, usando a descrição das várias trocas de

informação que decorrem entre os intervenientes nos processos. Os resultados podem ser utilizados

como guias de procedimentos para os membros das equipas [2]. O IDM é constituído por mapas de

processos, requisitos de trocas e partes funcionais que fornecem a informação que é transferida

segundo o padrão IFC. Assim, os IDM especificam qual o tipo de informação que deve ser trocada e

quando no decorrer do desenvolvimento do projeto [15].

A normalização é essencial ao desenvolvimento de multifunções sobre o modelo BIM 3D.

Adicionalmente, os modelos IFC são aceites por diversas aplicações, mas ainda não apresentam um

nível de maturidade suficiente para garantir uma plena confiança na troca de informação, agravado

pela heterogeneidade dos diferentes softwares usados na indústria. Mas a necessidade de

interoperabilidade no processo BIM reconhece que o padrão IFC é, atualmente, a solução mais fiável,

e é a que permite os maiores níveis de rigor na troca de informação entre os participantes,

conduzindo assim a menores riscos e a maiores benefícios para os utilizadores do BIM. Prevê-se que

Page 15: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

7

com o desenvolvimento de versões do padrão IFC melhoradas, será possível atingir níveis mais

elevados de interoperabilidade, e assim aumentar a credibilidade da utilização do BIM na indústria.

2.4. Normas BIM

A implementação BIM no setor da Construção, ao nível da empresa ou do projeto, requer o

estabelecimento de diretrizes de execução de procedimentos BIM e recomendações gerais. Existem

diversas normas e regras de conduta, desenvolvidas internamente pelas empresas. O planeamento

da introdução da implementação do BIM deve basear-se nestas normas para traçar a estratégia de

atuação a seguir. As normas podem ser definidas para serem aplicadas a um projeto apenas, ou para

serem utilizadas na empresa, conduzindo a alterações ao nível da execução de tarefas e de

comunicação interna na empresa e com outros parceiros.

Um plano de execução de implementação BIM deve definir exigências que o projeto ou a

empresa deve seguir, de forma a garantir uma correta adaptação. A estratégia de implementação BIM

pode diferir de projeto para projeto, e assim, é difícil criar um plano de implementação único, que

admita os mesmos níveis de eficiência e de retorno de investimento para todas as empresas. O plano

de execução a definir em cada empresa pode ser específico, e aborda de forma individual as

diretrizes e os processos BIM evidenciados nas normas aplicáveis ao projeto. Um plano elaborado

especificamente para uma empresa, pode não ser válido para outros casos, pois pode conter estudos

da empresa, nomeadamente, relativos a processos de comunicação internos e externos e a escolha

do software mais adequado aos objetivos da empresa [16].

A designação Norma BIM corresponde a um conjunto de regras que descrevem os conceitos

e os processos relacionados com o BIM, e pretendem apoiar a introdução do BIM na empresa no

desenvolvimento de projetos. Os documentos normativos definem o modo de aplicação do BIM no

projeto, as responsabilidades de cada interveniente e os métodos de verificação [16]. Incluem ainda,

os requisitos referentes a cada disciplina do setor, nomeadamente, as ferramentas de apoio à gestão

do ciclo de vida do edifício [17].

As normas, podem ser criadas por entidades públicas, de aplicação na construção pública, ou

por entidades privadas, servindo de guias no desenvolvimento de projetos BIM em cada empresa. A

tabela 1 lista as normas BIM mais utilizadas em cada país, sendo algumas próprias de empresas.

Tabela 1 - Normas BIM

Documento Instituição País

COBIM Building Smart Finlândia

Statsbygg BIM Manual Statsbygg Noruega

NATSPEC National BIM Guide NATSPEC Austrália

NBIMS-US NIBS Estados Unidos

PAS 1192-2:2013 The British Standards Institution Reino Unido

Page 16: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

8

A norma finlandesa COBIM (Common BIM requirements), por enquadrar adequadamente a

situação da construção civil na Europa é a mais utilizada. O capítulo dedicado à obtenção de mapas e

orçamentação, Quantity take-off, desta norma é abordado em detalhe no presente trabalho.

A norma finlandesa COBIM foi criada, em 2012, pela Building Smart Finland que é um fórum

fundado por empresas de construção, consultores e empresas de software. A norma é dirigida à

construção nova, à reabilitação e à manutenção de edifícios [16]. Segundo o documento, os principais

objetivos da implementação BIM são:

Auxiliar no processo de tomada de decisões durante o desenvolvimento do projeto;

Orientar os intervenientes na definição de objetivos no âmbito BIM;

Criar produtos com capacidade de visualização;

Apoiar o desenvolvimento e a coordenação do projeto;

Documentar a qualidade dos processos e dos produtos;

Melhorar a eficiência dos processos durante a construção;

Melhorar a segurança em obra e durante o tempo de vida do edifício;

Auxiliar na análise do custo do projeto;

Apoiar a transferência da informação do projeto para a atividade de manutenção.

A norma inclui os requisitos mínimos definidos do processo de modelação e indica o tipo de

informação que os modelos devem conter, para a obtenção de dados em utilizações posteriores.

Adicionalmente inclui, para casos específicos, os requisitos mínimos que devem ser considerados em

qualquer projeto [16]. Assim, o documento COBIM é composto pelos seguintes capítulos:

1. Requisitos Gerais BIM (General BIM Requirements)

2. Modelação Inicial (Modeling of the Starting Situation)

3. Projeto de Arquitetura (Architectural Design)

4. Projeto de Instalações Prediais (MEP Design)

5. Projeto de Estruturas (Structural Design)

6. Certificação da Qualidade (Quality Assurance)

7. Medição de Quantidades (Quantity Take-off)

8. Uso de Modelos BIM para a Visualização (Use of Models for Visualization)

9. Uso de Modelos para Análise de Instalações Prediais (Use of Models in MEP Analyses)

10. Análise Energética (Energy Analysis)

11. Gestão de um Projeto BIM (Management of a BIM Project)

12. Uso de Modelos para a Gestão da Manutenção (Use of Models in Facility Management)

13. Uso de Modelos na Construção (Use of Models in Construction)

14. Uso de Modelos na Fiscalização (Use of Models in Building Supervision)

O capítulo inicial refere os requisitos e conceitos básicos do uso do BIM, nomeadamente, a

indicação de como o BIM vai ser usado no projeto e quais as responsabilidades dos diferentes

intervenientes, assim como os métodos de verificação. Inclui, ainda, a definição da geometria do

Page 17: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

9

modelo e a informação que deve conter, de forma a obter um modelo eficiente e de qualidade. O

capítulo aborda a necessidade da seleção do software e do formato a utilizar, que garantam a

adequada interoperabilidade na transferência de informação, uma correta modelação e uma

homogeneidade de elementos do modelo. Descreve ainda qual a função do gestor BIM, necessário

no projeto BIM. Adicionalmente, considera a necessidade de criar distinta informação de acordo com

as diferentes fases do projeto, assim como o tipo de uso que o BIM pode ter em cada fase. Os

técnicos envolvidos no projeto BIM devem ter adquirido o conhecimento adequado presente neste

capítulo, pois apresenta as definições e as recomendações a considerar no início do desenvolvimento

do projeto.

O segundo capítulo aborda a modelação do local onde se insere o edifício, baseado em

medições efetuadas sobre a documentação fornecida e estudos prévios realizados no local. É

importante que o modelo criado considere o nível de detalhe necessário para o modelo atingir os

objetivos do projeto. Esta fase origina, essencialmente, a modelação do local e dos edifícios

existentes, de forma a servirem de base à conceção do projeto, devendo ser assegurada a qualidade

do modelo inicial usado.

Os capítulos 3, 4 e 5 referem-se à modelação das especialidades de arquitetura, de

estruturas e de redes de instalações (Mechanical, Electrical and Plumbing, MEP), sendo indicados os

requisitos e as recomendações para uma correta criação dos modelos, como por exemplo, a

definição do tipo de estrutura e as seções dos elementos. As indicações incluídas na norma são

abordadas com bastante detalhe e o documento criado deve referir de um modo claro os objetivos a

atingir com o modelo final. Cada capítulo apresenta tabelas de requisitos por fase, no formato de

check-list, como ilustra a Figura 2, para facilitar o processo de criação dos modelos. São

estabelecidas diretrizes para os diferentes responsáveis no processo de criação de modelos,

especificando quais as necessidades de cada modelo para garantir a qualidade do projeto.

O sexto capítulo aborda a qualidade dos modelos. A verificação da qualidade do projeto dos

edifícios é efetuada sobre a informação contida no modelo BIM criado. O objetivo do capítulo é

contribuir para se obter uma boa qualidade de trabalho de cada responsável e que a troca de

informação se realize entre todos os envolvidos. Na avaliação da qualidade do modelo devem

colaborar o cliente e o projetista, com o objetivo de obter um produto com uma boa qualidade, que

satisfaçam as exigências do cliente. A avaliação do projeto permite estimar os custos e a

calendarização de um modo eficaz. Facilita ainda a fase de construção, pois promove uma adequada

visualização de projeto e a análise de conflitos que possam ser, posteriormente, encontrados em

obra, reduzindo assim eventuais modificações ao projeto em fase de construção. A certificação de

qualidade é, assim, importante para garantir um projeto funcional e de elevada qualidade. Os

problemas que normalmente aparecem em projetos BIM são abordados neste capítulo da norma,

assim como o modo de serem evitados e qual a melhor estratégia de correção.

Page 18: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

10

x – vai ser modelado

(x) – critérios de modelação acordados posteriormente

Projeto estrutural geral

Estrutura Elemento x/(x) Nível de detalhe

Fundações

Estacas (x)

Sapatas x Modelado com geometria básica e localização

Paredes de fundação x Modelado com geometria básica e localização

Pilares de fundação x Modelado com geometria básica e localização

Vigas de fundação x Modelado com geometria básica e localização

Isolamento térmico (x)

Subestrutura

Laje de fundação x Modelado com geometria básica e localização das partes estruturais

Canais de fundação (x)

Piso especial (x)

Isolamento térmico (x)

Estrutura

Esqueleto x Modelado com geometria básica e localização

Paredes estruturais x Modelado com geometria básica e localização

Pilares x Modelado com geometria básica e localização

Vigas x Modelado com geometria básica e localização

Pisos intermédios x Modelado com geometria básica e localização das partes estruturais

Tecto x Modelado com geometria básica e localização das partes estruturais

Estruturas especiais (x)

Fachadas Paredes exteriores (x)

Podem ser modeladas, por exemplo, como uma parede contínua para efeitos de obtenção de quantidades

Estruturas Especiais (x)

Estruturas exteriores

Varandas x Modelado com geometria básica e localização

Coberturas (sem paredes) (x)

Estruturas especiais (x)

Coberturas

Estrutura da cobertura (x)

Estrutura de calhas (x)

Cobertura de vidro x

Partes estruturais são modeladas com geometria básica e localização

Figura 2 - Check-List para os elementos estruturais [16]

Page 19: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

11

Para garantir a qualidade do produto, é importante que a certificação de qualidade seja

efetuada ao longo do desenvolvimento do projeto. Cada projetista deve verificar a qualidade dos seus

produtos, segundo as suas normas de qualidade. Para tal, existem duas maneiras de verificar a

qualidade: análise visual do projetista sobre o modelo de forma a identificar sobreposições ou não

conformidades espaciais dos elementos (Checking); análise da informação obtida do modelo BIM

(Analysis), de forma a interpretar e avaliar a qualidade e a validade dessa informação, como por

exemplo, no cálculo de uma área, é possível compreender se essa área corresponde ao previsto ou

não. O documento inclui uma lista dos ficheiros a analisar que devem ser verificados quanto à sua

qualidade, assim como quais os pontos importantes para se garantir a qualidade do projeto. O

responsável pela qualidade de cada modelo é o projetista, devendo atuar na resolução de qualquer

problema detetado na verificação.

O capítulo 7 aborda a obtenção de quantidades do modelo BIM. Os mapas de quantidades

podem ser obtidos de todos os modelos criados, arquitetura, estrutura e sistemas, podendo apoiar os

processos de decisão. O BIM apresenta vantagens nesta tarefa, mas não evita que seja necessário

algum processo manual na obtenção de quantidades adicionais. O documento lista os requisitos

requeridos para o modelo BIM, como por exemplo, o nível de detalhe necessário ou qual o tipo de

ferramenta a utilizar na geração do modelo. No entanto, a vantagem de se poder facilmente retirar

quantidades do modelo, apoia o estudo de alternativas ao projeto de um modo eficaz, permitindo

tomar decisões com uma grande rapidez e com uma base correta de informação. Devido à facilidade

com que se podem obter quantidades do modelo, é possível estudar alternativas ao projeto e tomar

decisões em conformidade.

A Figura 3 ilustra um esquema de encadeamento de processos relacionados com a obtenção

de quantidades de elementos e materiais num projeto BIM. O primeiro passo é analisar o projeto de

forma a ter conhecimento das especificações do projeto e compreender as singularidades que podem

afetar a obtenção de quantidades. Em seguida, deve recolher-se a informação sobre o processo de

modelação, para se decidir sobre que modelo se devem obter as quantidades requeridas. Deve

garantir-se que o modelo tenha os elementos necessários à execução do processo, e analisar qual o

tipo de quantidades que pode ser retirado do modelo de um modo automático e quais os elementos

que necessitam de ser adicionados manualmente. Caso não tenha sido garantida a qualidade da lista

de quantidades, deve repetir-se o processo. Essencialmente, é definido um plano para obter os

mapas de quantidades do projeto.

O passo seguinte é utilizar a funcionalidade do software utilizado para modelar ou, em

alternativa, utilizar uma aplicação exterior para retirar as quantidades a partir das componentes

selecionadas do modelo BIM. Finalmente, é preciso garantir a qualidade dos dados retirados do

modelo, devendo analisar-se se foram retiradas todas as quantidades pretendidas. O resultado final

do processo é apresentado na forma de uma lista de quantidades, base da orçamentação do projeto.

O esquema da Figura 3 indica que, se na fase do controlo de qualidade não forem obtidos resultados

coerentes, o processo deve voltar à fase relativa à obtenção de quantidades, ou mesmo à fase da

recolha de informação, pois é preciso identificar os problemas que interferiram no processo [16].

Page 20: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

12

Aceder ao

Projeto BIM

Recolher informações sobre

o processo de modelação

Obter quantidades

Garantir a Qualidade

Entregar a lista de quantidades

Figura 3 - Processo para a obtenção de quantidades do modelo [16]

Na parte final do capítulo em análise, são enumerados alguns problemas encontrados

durante o processo, nomeadamente, a dificuldade em obter quantidades de diferentes modelos, pois

existe a possibilidade de sobreposição de quantidades. Por exemplo, se for obtido, a quantificação do

volume de betão de um pilar nos modelos de estruturas e de arquitetura, há duplicação de

quantidades. Outra dificuldade, corresponde à modelação de componentes do edifício criados com

uma forma geométrica não padronizada e, portanto, a ferramenta utilizada não consegue identificar o

elemento, não considerando a sua existência no cálculo de quantidades.

Os restantes capítulos da norma finlandesa, exceto o 11, referem-se à aplicação do modelo

BIM para efeitos de visualização e de análise ao projeto, explicando que tipo de usos os modelos

podem ter na análise energética e na gestão do empreendimento, da construção e da manutenção.

Estas diferentes aplicações da informação centralizada no modelo BIM, ilustram onde é possível

obter parte do retorno do gasto investido na realização do projeto BIM.

O capítulo 11 lista as tarefas de gestão necessárias no projeto BIM, de forma a ser realizado

um projeto, numa perspetiva do gestor e do coordenador BIM. Apresenta, ainda, um resumo relativo

às tarefas que o gestor deve realizar em cada fase da obra, envolvendo as fases de projeto e

construção. Este capítulo é importante para orientar o processo de gestão do projeto num processo

BIM, de forma a serem alcançados os objetivos inicialmente propostos [16].

2.5. Modelo BIM 5D

O processo do desenvolvimento de um projeto abrange diversas dimensões, nD. O modelo

BIM 3D corresponde ao modelo geométrico gerado ao longo do projeto e é a parte mais visível do

processo, apresentando uma grande vantagem sobre os desenhos realizados em sistemas CAD. O

Page 21: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

13

modelo BIM 4D relaciona o modelo 3D com o parâmetro tempo e é aplicado, essencialmente, no

planeamento das atividades da construção. O modelo BIM 5D utiliza a informação contida no modelo

no processo de quantificação e, ao relacionar esta informação com o planeamento (4D) e com a

informação sobre custos de atividades, permite executar a orçamentação do projeto. O modelo BIM

6D envolve a manutenção e a gestão do edifício após ocupação do imóvel.

No modelo BIM 5D, o custo corresponde à 5ª dimensão. O modelo permite conectar a

informação presente no modelo com programas de orçamentação, reduzindo substancialmente o

tempo que é normalmente despendido neste processo. Adicionalmente, aumenta a precisão dos

mapas de quantidades pois minimiza os erros de inconsistência ou repetição e, portanto, reduz o

tempo gasto pelo técnico na correção de erros e em refazer estimativas [18].

O modelo BIM 3D possibilita a medição de quantidades automática pois é formado por

objetos paramétricos definidos por recurso a softwares de base BIM, que permitem utilizar

parâmetros e regras de associação na definição da geometria dos elementos a considerar no modelo.

Ao ser associado ao elemento ou ao material o custo unitário é possível obter, em função do volume

do elemento, a estimativa do seu custo [19].

As empresas de construção têm vindo a reconhecer que a utilização de BIM na medição de

quantidades do projeto apresenta vantagens significativas. Nesse sentido, em 2008 a BuildingSMART

Alliance, que envolve várias entidades americanas, desenvolveu sistemas e protocolos para integrar

o modelo BIM 5D no ciclo de vida do projeto, maximizando os benefícios oferecidos pela metodologia

BIM [18].

Assim, no presente trabalho, pretende-se analisar qual a metodologia a seguir medição de

quantidades, com base na informação e organização do modelo BIM.

2.6. Implementação BIM em Portugal e Brasil

De forma a julgar o grau de implementação BIM, especificamente na atividade da

Quantificação/Orçamentação (Q/O) e como a normalização pode facilitar este processo em Portugal e

no Brasil, foram consultados dois especialistas BIM em cada país. Nesse sentido foram efetuadas

duas entrevistas que contribuem para esclarecer, de uma forma fundamentada, as diferentes

realidades dos dois países e quais os passos que devem ser tomados para apoiar a implementação

BIM no setor. As entrevistas foram dirigidas ao Professor Eduardo Toledo Santos, da Universidade de

São Paulo (USP) e membro da equipa responsável pela criação de normas BIM e ao Professor João

Poças Martins, da Faculdade de Engenharia do Porto (FEUP), com trabalho desenvolvido na área da

Gestão da Informação, e em particular, na aplicação do BIM ao licenciamento automático de projetos.

As entrevistas foram realizadas em agosto de 2014, por e-mail.

O diálogo foi estruturado de acordo com 3 temas: implementação BIM, normalização e futuro

da Q/O BIM. A entrevista completa é apresentada no Anexo A e os principais contributos para o

presente trabalho são de seguida referidos.

Segundo Eduardo Santos a solução mais eficaz para o sucesso da implementação BIM é

envolver as entidades governamentais como clientes, e exigir a sua utilização em projetos estatais.

Page 22: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

14

Esta intenção deve movimentar as empresas no sentido da adoção do BIM, obrigando-as a recorrer à

metodologia BIM como requisito na participação em projetos de obras públicas. De acordo com João

Martins é importante que as universidades se envolvam no processo, formando novos profissionais

com competências BIM e na aposta de investigação sobre o tema. Concorda igualmente que as

entidades governamentais devem criar condições para que as empresas possam retirar benefícios da

adoção BIM, nomeadamente, apoiar o desenvolvimento de normas e a criação de plataformas

eletrónicas para a submissão de projetos. É esperada uma taxa de implementação do BIM crescente

nas empresas, suportada num maior volume de obras apoiadas na metodologia, contribuindo para

uma maior consciencialização dos dirigentes das empresas sobre o valor do BIM nas vertentes do

investimento e retorno financeiro. Este processo deve ser gradual e natural, aumentando o nível de

colaboração e de envolvimento de diferentes setores da construção, à medida que as próprias

empresas exijam a sua aplicação.

A normalização no BIM é, atualmente, uma área relevante de investigação tecnológica, onde

têm sido apresentados avanços significativos, mas ainda limitados, para poder afirmar-se no

panorama da indústria AEC. Não é suficiente adaptar normas existentes à realidade BIM, pois

provavelmente não têm a exigência e a profundidade necessária a uma norma BIM. Os especialistas

entrevistados concordam que a melhor opção é analisar as experiências e os documentos

elaborados, nos países mais desenvolvidos, seguindo a metodologia BIM, adaptando as situações

estudadas à realidade nacional. É importante envolver utilizadores BIM experientes na elaboração de

normas e garantir que as ferramentas BIM existentes no mercado, conseguem cumprir as normas. A

criação de normas deve priorizar o estabelecimento de consensos relativamente às características

dos modelos, adequadas ao uso pretendido por cada utilizador.

A Quantificação de um projeto é um processo simples e as ferramentas BIM atuais admitem

capacidades suficientes para a realização de uma quantificação fácil e fiável. O aspeto mais

importante é a realização do modelo adequado ao uso pretendido. Verifica-se que as empresas

falham neste requisito, pois não têm as diretrizes de modelação regulamentadas de forma a criar

modelos fiáveis e precisos. A tarefa relativa à uniformização de modos de criação de modelos e a

organização dos seus conteúdos deve ser desenvolvida para que o BIM traga mais benefícios aos

utilizadores. O estabelecimento de níveis de informação em cada etapa do projeto deve crescer na

mesma proporção que a implementação do BIM, pois é vantajoso modelar um projeto para as

diferentes atividades de construção, nomeadamente, a Quantificação.

Page 23: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

15

3. MEDIÇÃO DE QUANTIDADES

O presente capítulo aborda o processo de medição de quantidades, descrevendo o método

tradicional e as alterações que a metodologia BIM proporciona a este.

É abordado também o tema da estimativa de custos e da orçamentação de um projeto, com

as devidas diferenças entre eles.

Finalmente é abordada a temática da normalização na construção e como esta pode ajudar a

implementação do BIM nos processos referidos neste capítulo

3.1. Medição de quantidades

A medição consiste na determinação quantitativa dos trabalhos a executar em determinada

obra, destinando-se a diversos fins, entre os quais:

Orçamentação;

Planeamento;

Determinação das quantidades de recursos (mão-de-obra, materiais e

equipamentos).

O resultado deste processo é geralmente compilado em mapas de medições, onde se

apresenta a descrição do item medido, com a unidade utilizada para o medir e as suas

características, como a largura, peso ou altura. As suas quantidades são também apresentadas,

sendo possível apresentá-las em valores parciais (por piso, edifício, etc.) ou totais (de toda a obra)

[20].

A obtenção de mapas de medições de quantidades de materiais é uma tarefa relevante na

fase de projeto, pois é utilizado para realizar uma estimativa do custo e, ainda, do planeamento da

obra. O processo pode dividir-se em três fases [4]:

Identificar os elementos construtivos e as relações entre eles;

Medir as dimensões dos elementos;

Calcular e agregar as quantidades, comprimentos, áreas e volumes dos itens escolhidos para

apresentar no mapa de medições.

Numa metodologia tradicional, estas tarefas têm como base a documentação gráfica e escrita

de projeto, na forma de desenhos e memória descritiva.

O processo de medição de quantidades consiste, assim, na determinação das quantidades,

de diversos itens, como de materiais, de mão-de-obra e de equipamentos, consideradas no projeto. A

eficiência e a precisão desta tarefa são essenciais para atingir uma estimativa de custo mais correta,

e assim, permitir uma análise económica na fase de projeto.

Como referido, a medição de quantidades é normalmente aplicada no final do projeto, no

entanto, quando obtida durante a elaboração do projeto, permite a análise de alternativas sem

desperdício de tempo e recursos. Permite também que o dono de obra acompanhe o

desenvolvimento do projeto e controle o aspeto financeiro do empreendimento, auxiliando na tomada

Page 24: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

16

de decisões. Uma medição de quantidades precisa é essencial para criar um orçamento que englobe

todos os custos, de forma a evitar derrapagens financeiras ao dono de obra, em qualquer fase da

obra.

No processo tradicional, esta operação é realizada manualmente, efetuando medições sobre

os diferentes elementos de projeto (uma parede, uma laje ou uma escada). Como os desenhos que

servem de base podem apresentar inconsistências, erros e omissões e a sua interpretação depende

do conhecimento do técnico, podem ser originados erros na quantificação. Assim, as principais

desvantagens são [3]:

Lacuna na deteção de conflitos, erros e omissões nos desenhos;

Dificuldade de medição de situações de interseção entre elementos;

Falta de sensibilidade do orçamentista para eventuais erros de conceção;

Distinta qualificação dos orçamentistas para idêntica tarefa.

Um dos problemas da medição de quantidades é a ausência de uma norma que estabeleça

regras de medição uniformes. Assim, é recomendável que nas cláusulas técnicas dos cadernos de

encargos se estabeleçam as regras de medição a aplicar nos diferentes trabalhos [20].

Ao aplicar diferentes regras de medição consoante o dono de obra/empresa, a

homogeneização deste processo é limitada, impedindo a utilização dos mapas de quantidades por

empresas que não utilizem as mesmas regras de medição. Esta medida dificulta a implementação do

BIM no processo de medição de quantidades, pois este necessita de um ambiente de total partilha

entre todos os intervenientes. [3].

A indústria da Construção recorre atualmente a tecnologias desenvolvidas para a gestão de

informação introduzindo algum grau de automatização. O BIM propõe agilizar a gestão da informação

na construção, baseada num modelo único centralizado da obra, incorporando todas as

especialidades. As ferramentas BIM admitem várias funcionalidades de automatização,

nomeadamente, a medição de quantidades, fornecendo mapas de quantidades detalhados e

precisos, reduzindo tempo despendido e os custos associados. Os mapas de quantidades podem ser

exportados para um software de orçamentação, permitindo obter custos totais e parciais do projeto.

No desenvolvimento desta atividade, é já reconhecido que a metodologia BIM apresenta

vantagens, pois elimina alguns dos aspetos negativos do processo mencionados anteriormente. O

modelo BIM, como é formado por um conjunto de elementos associados a determinadas

características, permite a extração de informação para a realização de diversas tarefas. Contudo, a

obtenção de quantidades através do BIM pode não fornecer toda a informação necessária para criar

o mapa de quantidades, pelo que é requerido ao técnico responsável a verificação do modelo, para

confirmar que o modelo é uma representação fiel do edifício. Eventualmente deve resolver

manualmente os problemas emergentes e preencher lacunas de medição. Esta tarefa requer um

conhecimento relativo à dinâmica de utilização dos softwares de base BIM, pois o tipo de informação

a extrair do modelo depende do modo como os elementos foram modelados. Este processo não é

automático, pelo que sendo é necessário continuar a requerer a presença do orçamentista para

avaliar a informação extraída e, portanto, associá-la corretamente a materiais, equipamentos e mão-

de-obra.

Page 25: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

17

É importante estabelecer níveis de detalhe adequados ao modelo de acordo com o que é

pretendido em cada fase, para que a informação requerida esteja contida no modelo e evitar um

excesso de informação e, consequentemente, comprometer o processo de quantificação devido ao

incremento de tempo envolvido em todas as tarefas [3].

3.2. Estimativa de custo e orçamento da obra

Um dos produtos de um projeto, normalmente apresentado pelos projetistas ao dono de obra,

é a estimativa de custo da obra. Durante a execução do projeto, é possível obter uma estimativa do

custo da obra utilizando dois métodos, um para a fase inicial do projeto e outro para uma fase mais

adiantada:

Custo unitário da área de construção;

Custo unitário dos trabalhos a realizar.

O primeiro método é aplicado nas fases iniciais do projeto, onde ainda não é possível obter

medições de trabalhos a realizar, pelo que se utiliza valores por unidade de área de construção de

obras semelhantes realizadas pelo projetista ou outros valores existentes, com base em estudos.

Este método fornece valores aproximados que devem ser confirmados com a evolução do projeto,

tendo em conta que cada obra é única e a previsão de um custo baseado neste método pode sofrer

alterações significativas. Apesar da imprevisibilidade presente em obra, este método obtém os

melhores resultados em fases iniciais. Como exemplo, na construção de edifícios, considera-se uma

estimativa do custo médio por m2 de construção corrente na zona do edifício [20].

O segundo método aplica-se na fase do projeto de execução onde o detalhe do projeto já

permite a realização de medições dos trabalhos. Após a obtenção desta lista de medições, são

aplicados os respetivos preços unitários correspondentes a trabalhos da mesma natureza, obtendo

assim uma estimativa de custo ou orçamento de obra.

Esta estimativa de custo é muitas vezes utilizada pelo dono de obra como base da previsão

do investimento necessário para realizar a obra, pelo que se devem considerar também os seguintes

valores [20]:

Valor previsível para erros e omissões do projeto;

Valor previsível para trabalhos a mais;

Valor previsível para a revisão de preços;

Valor correspondente ao Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA).

Após a consideração deste valores, obtém-se o valor previsível no final da obra ou orçamento

da obra para casos correntes.

Realizar uma estimativa de custo da obra é uma tarefa crítica para o desenvolvimento desta,

e de um considerável dispêndio de tempo por parte do projetista. Uma orçamentação incorreta, que

apenas será detetada em obra, pode conduzir a problemas consideráveis em termos económicos e

de tempo.

São utilizadas várias ferramentas no apoio à estimativa de custo, nomeadamente,

marcadores coloridos e desenhos, criados a partir de sistemas de traçado computacionais (CAD).

Page 26: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

18

Neste contexto, o BIM pretende constituir uma ferramenta que permita ultrapassar algumas das

limitações na interpretação de desenhos, uma representação 2D, e, simultaneamente, fornecer um

modelo 3D que auxilie os orçamentistas a identificar casos problemáticos com uma maior rapidez e

eficácia. [4]

3.3. Medição de quantidades em BIM

A adoção do BIM na realização de medição de quantidades é ainda alvo de alguma reserva

na indústria, devido a alguma falta de informação sobre as vantagens proporcionadas na sua

utilização como uma ferramenta estimativa de custos.

Este item aborda as principais vantagens na utilização do BIM dirigido à medição de

quantidades e, ainda, algumas das desvantagens apontadas, como por exemplo, o considerável

investimento em software, a contratação de um BIM manager e a formação de técnicos específicos

para a orçamentação BIM. Esta desvantagem é um dos grandes entraves à implementação BIM, mas

com a consciencialização das vantagens proporcionadas por esta metodologia, tem vindo a ser

ultrapassado gradualmente.

Os pontos fortes a apontar na utilização de uma medição de quantidades automática baseada

em BIM são:

Rapidez de execução;

Estimativa de custo na fase de projeto;

Análise de custos durante a obra;

Medições de quantidades mais precisas;

Vantagem competitiva.

Os problemas mais relevantes a considerar são:

Ausência de normalização;

Insuficiente capacidade de interoperabilidade entre sistemas;

Necessita de ambiente de total partilha entre disciplinas;

Análise da qualidade do modelo BIM;

Verificação da fiabilidade na informação gerada;

Imposição de alterações na empresa, tanto a nível de trabalho colaborativo como em relação

aos métodos de trabalho utilizados (Utilização de novo software).

3.3.1 Benefícios

A quantificação de componentes por categorias ou tipos, baseada no BIM, é uma das

capacidades mais exploradas e mais significativas em termos de ganhos económicos. Alguns dos

benefícios apontados à utilização do BIM na atividade de quantificação de materiais são:

A automatização de processos torna mais rápida a execução de tarefas, quando

comparadas com as realizadas manualmente. Possibilita alocar recursos a outras tarefas,

Page 27: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

19

reduzindo os prazos e custos globais do projeto. Adicionalmente, a execução de processos é

mais rigorosa, permitindo exigir menor tolerância ao erro nos produtos finais [3].

A quantificação BIM, permite uma maior rapidez de execução na tarefa de obter as

quantidades do modelo representativo do projeto de uma forma quase automática, com uma

reduzida intervenção manual, reduzindo o tempo despendido na tarefa quando comparado

com o método tradicional [18].

No método tradicional, a estimativa de custo é realizada quando o projeto se encontra em

fase avançada, limitando o estudo de alternativas e a sua aplicação nessa fase. A

orçamentação baseada no BIM permite realizar uma análise de custos no início do projeto,

analisando alternativas e quantificando o projeto em diversas fases. Este apoio facilita o

processo de decisão pelos responsáveis, uma maior rapidez de entrega do projeto, a

obtenção de um produto com uma maior qualidade, um melhor controlo de processo e uma

previsibilidade mais realista de custos, tempo e resultados para o dono de obra [20].

O BIM possibilita uma adequada análise de custos durante a obra devido à rapidez de

execução da quantificação do projeto em diversas fases e sobre soluções alternativas. O BIM

permite realizar a análise de custo-benefício em várias fases da obra, de forma a apoiar a

tomada de decisão relativa a alternativas que se avaliem ser mais rentáveis para o projeto,

não prejudicando, contudo, o normal decorrer da obra por atrasos que impõe custos

adicionais. A metodologia incrementa o rigor no planeamento da obra e apoia uma redução

de custos no ciclo de vida do empreendimento [18].

As quantidades obtidas são mais precisas pois são definidas por grupos, tipos de

componentes ou de materiais, níveis do empreendimento ou zonas de construção, permitidas

pelo modelo BIM. Numa quantificação BIM, todas as medições são obtidas a partir do modelo

sendo, portanto, mais precisas e confiáveis, desde que o modelo tenha sido corretamente

criado. O estudo referido em [3] admite que em relação à quantificação do volume de betão a

margem de erro é inferior a 1% quando comparado com o método tradicional sujeito ao erro

humano.

Em consequência dos benefícios apontados, a quantificação BIM apresenta uma maior

vantagem competitiva em relação a outras empresas de procedimentos tradicionais pois

consegue fornecer produtos melhores e mais detalhados ao cliente, contribuindo para a

decisão sobre a adjudicação da obra.

Page 28: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

20

3.3.2 Problemas

A utilização BIM no contexto da quantificação e orçamentação de um projeto apresenta ainda

bastantes limitações:

Ausência de uma norma oficial que apoie os intervenientes a estabelecer uma metodologia

de geração da informação necessária para obter uma orçamentação de qualidade. As

empresas enfrentam esta dificuldade na adoção do BIM para realizar orçamentações de obra

[3,18].

Apesar de terem sido desenvolvidas ferramentas BIM com capacidade de obtenção de

mapas de quantidades, apresentam ainda alguma limitação na manipulação deste tipo de

informação para a obtenção de orçamentos. Quando é utilizado um programa de

orçamentação do mesmo fornecedor da ferramenta BIM, a troca de informação ocorre sem

perdas, mas quando os dois programas utilizam formatos diferentes, é necessário recorrer a

formatos comuns, sendo, normalmente, utilizado o padrão IFC. O uso de diferentes

softwares requer uma correta capacidade de interoperabilidade e o IFC é o formato mais

usado para a troca de informação entre plataformas BIM. Existe ainda o problema de falta de

informação sobre os requisitos e potencialidades dos softwares existentes, sendo necessário

avaliar quais as diferenças e especificações de cada programa de quantificação [18].

Os projetistas e empreiteiros costumam desenvolver, nas empresas, as suas próprias

metodologias de trabalho, de acordo com as especificações da direção e tendem a proteger

esse know-how de outras empresas, alegando vantagens competitivas em relação à

concorrência. Esta conduta é um entrave à implementação BIM, pois limita o

desenvolvimento de um trabalho colaborativo envolvendo as diferentes especialidades. No

processo de implementação é necessário estudar estratégias de reorganização de processos

e de fluxos de trabalho, para que o BIM funcione num ambiente de total partilha. Para uma

completa implementação BIM, é essencial que a informação seja partilhada entre todos os

participantes, e muitas vezes alguns participantes podem querer manter privado os custos e a

qualidade dos seus serviços, de forma a não perderem poder de negociação perante os

outros intervenientes. Com a popularidade do BIM a crescer, passará a ser mais fácil obter a

aprovação de todos em partilhar o seu know-how. No entanto, é importante que os novos

contratos sejam efetuados, de forma a proteger os intervenientes de problemas legais quando

colaboram num ambiente de total partilha [18].

A utilização do modelo BIM na obtenção de quantidades e estimativas de custo, requer que o

modelo tenha sido criado com uma elevada quantidade de informação e adequadamente

organizada. A obtenção de um modelo BIM com qualidade requer que o utilizador tenha

investido no desenvolvimento apropriado do modelo, para o nível de detalhe exigido. Um

modelo incorreto ou com informação imprecisa pode comprometer o rigor da operação, pelo

Page 29: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

21

que é necessário garantir um correto nível de detalhe para o sucesso da quantificação e

orçamentação. Nesse sentido, deve ser especificado, previamente à modelação, qual o nível

de detalhe pretendido para o modelo BIM [18].

Como o processo é praticamente automático, a informação gerada pode causar alguma

desconfiança, por ser difícil validar a fiabilidade da informação gerada. Uma incorreta

modelação conduz à obtenção de mapas de quantidades com erros. Existe ainda o problema

de o orçamentista não estar familiarizado com a ferramenta BIM, pois exige treino,

experiência e o conhecimento de como o software atua na quantificação de elementos do

modelo [18].

A adoção do BIM na empresa para a realização de estimativas de custo, requer uma

reavaliação e uma reestruturação de práticas no interior da empresa. A mudança de

procedimentos baseados no modelo BIM e ferramentas associadas tem um impacto

significativo. É necessário um investimento inicial, sem retorno imediato, focado

essencialmente na formação e no estabelecimento de práticas adaptadas ao BIM. Muitas

empresas têm suporte financeiro limitado para investir em tecnologia nova com retorno

incerto, o que pode adiar a adoção do BIM, e consequentemente, na utilização de um modelo

BIM na orçamentação. Alterar a forma de trabalhar na empresa para se adaptar à nova

tecnologia constitui um desafio, pois há alguma relutância dos trabalhadores em aderirem a

novas práticas. Há, no entanto, alguma perceção de que se os trabalhadores não se

adaptarem às tecnologias emergentes, perdem competitividade no mercado. A geração mais

jovem adota mais facilmente as novas tecnologias, porém, não tem a experiência adquirida

pelos membros seniores, pelo que é essencial que haja colaboração, também a este nível, na

empresa [18].

Apesar de os problemas inerentes à implementação BIM serem um entrave à utilização desta

metodologia por parte de todas as empresas, os benefícios proporcionados fornecem claramente

uma vantagem competitiva e uma redução de custos e de tempo necessário aos processos da

empresa. Todos os problemas apresentados também são ultrapassáveis com o devido

acompanhamento por especialistas na matéria e interesse na aplicação do BIM.

3.3.3 Evolução da estimativa de custos BIM

A obtenção de mapas de quantidades para efeitos de orçamentação do projeto com base no

conceito BIM é uma realidade que deve ser considerada no setor da construção pois contribui de um

modo positivo para a agilização do processo e sua correção. Porém o processo ainda não se

encontra sistematizado e a ausência de normas limita a sua adoção nesta atividade. Adicionalmente,

há problemas de interoperabilidade entre sistemas e há alguma inconsistência nos resultados [3]. O

desenvolvimento das capacidades das ferramentas disponíveis e a criação de novos plug-ins que

atuam sobre os softwares BIM têm vindo a incrementar a qualidade dos modelos BIM, ao nível de

Page 30: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

22

forma e conteúdos de informação e, consequentemente, na qualidade dos resultados da estimativa

de custos [21].

O estabelecimento de normas oficiais deve envolver técnicos qualificados na sua elaboração,

que procedam ao estudo de normas existentes noutros países e que mantenham a sua

compatibilidade com as normas nacionais. Como referido, em Portugal foi criada uma comissão

técnica responsável por definir normas BIM, com o objetivo de apoiarem as empresas na adoção da

metodologia nos seus processos de trabalho, de forma a contribuir para uma maior competitividade a

um nível internacional.

Um contributo igualmente importante para aumentar a adoção BIM por parte das empresas

do setor, é o envolvimento governamental, com incentivo do uso do BIM em obras públicas, à

semelhança dos governos do Reino Unido e países nórdicos. Esta medida permitirá acelerar a

adoção do BIM na indústria e, consequentemente, os processos de medição de quantidades e

orçamento em fase de projeto podem ser realizados de um modo mais automático.

A nível nacional deve investir-se na formação de profissionais com conhecimento BIM. As

universidades nacionais têm um papel ativo na formação de Arquitetos e Engenheiros, devendo

incluir nos seus programas curriculares a temática BIM. A investigação nesta área deve também ser

fomentada pelas Universidades, de forma a desenvolver a tecnologia e divulgar a sua aplicação de

forma a consciencializar os intervenientes no processo da construção, para a sua importância.

A medição de quantidades e estimativa de custos requerem a troca de informação entre

programas. A evolução tecnológica em BIM abrange o estabelecimento de versões do padrão IFC

com uma melhor qualidade, pelo que a atividade de orçamentação pode vir a ser melhorada. Um

programa que consiga realizar a quantificação e a orçamentação de um modo integrado é a solução

ótima a considerar nas tarefas de quantificação e orçamentação [1]. A integração de diversas

facilidades numa mesma ferramenta de trabalho é a evolução natural do BIM, pois o modelo, quando

criado, contém toda a informação necessária a diversas atividades que podem atuar sobre o modelo.

O modelo BIM pode ser utilizado em diferentes aplicações, permitindo assim potencializar ao máximo

a metodologia BIM.

3.4. Normalização

A normalização aplicada à indústria AEC abrange, por exemplo, as normas técnicas que

permitem uniformizar e organizar procedimentos relativos ao desenvolvimento do projeto e da

construção e as normas de classificação, ou seja, as taxonomias que facilitam a quantificação e a

orçamentação. Neste contexto, a diferente classificação que um elemento básico, como uma porta,

ou uma janela, pode assumir dificulta a criação de normas universais de aplicação internacional e

nacional.

Com a integração das tecnologias de informação na construção, requerida em ambiente BIM,

as distintas aplicações informáticas devem admitir um fácil acesso à informação criada e manipulada

nas diferentes etapas do desenvolvimento do projeto. Assim, é necessário que a informação esteja

formatada segundo especificações que permitam a sua leitura pelas várias ferramentas, ou seja, os

softwares devem admitir um adequado nível de interoperabilidade [22].

Page 31: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

23

De seguida são abordadas a interoperabilidade e a normalização em BIM, dirigidas, em

especial, à obtenção de quantidades de materiais e estimativas de custo.

3.4.1 Normas

Uma norma pode ser definida como “uma especificação certificada para um conjunto de

soluções para problemas atuais ou futuros, criada para benefício das equipas envolvidas, regulando

as suas necessidades, com o objetivo de ser utilizada repetidamente e continuamente, durante um

certo período de tempo, por várias entidades” [23]. Um dos obstáculos apontados à implementação

do BIM é a heterogeneidade de aplicações informáticas adotadas pelos diferentes participantes da

indústria, para a realização das respetivas tarefas. Neste processo é requerida uma elevada

capacidade de interoperabilidade, de forma a que toda a informação seja criada num formato em que

cada técnico da equipa consiga utilizar no desenvolvimento do seu setor sem que exista perda ou

deficiente interpretação de informação já criada. A interoperabilidade deve apoiar-se em normas que

permitam uma troca de informação realizada sem falhas, constituindo uma base fiável de

comunicação entre aplicações [24].

Na indústria da construção há alguma escassez no estabelecimento de normas que regulem

os múltiplos processos envolvidos. Nas atividades de obtenção de quantidades e estimativas de

custos, cada empresa adota as suas próprias regras de medição, com o objetivo de facilitar e

simplificar este processo, mas são estabelecidas de acordo com o modo de trabalho da empresa. A

ausência de normas comuns ou generalizadas é um obstáculo à integração do BIM, pois a partilha de

informação entre todos os intervenientes, que é essencial ao processo, é dificultada, sem normas que

uniformizem o formato de dados, originando conflitos ou perda de dados [3]. A colaboração requerida

no modo de trabalho BIM, assente num modelo centralizado, exige que todos os intervenientes

operem num mesmo formato. As normas desenvolvidas no contexto BIM pretendem resolver os

problemas de interoperabilidade entre sistemas [18].

As taxonomias definidas no âmbito da Construção, ou seja, os sistemas de classificação de

componentes e processos construtivos são uma parte importante da normalização, pois são

essenciais ao estabelecimento de processos automáticos. A automatização de tarefas necessita de

informação organizada por classes, com vários níveis hierárquicos e por diferentes domínios. Cada

elemento do modelo BIM deve ser identificado por um código específico, quando inserido no modelo,

permitindo, por exemplo, a sua quantificação automática. Há vários padrões de organização e

classificação de dados, designado por Work Breakdown Structure (WBS). Por exemplo, a OmniClass,

bastante utilizada mundialmente, abrange os diversos setores de construção [25]. Os sistemas de

classificação contribuem para tornar homogéneo o método de trabalho, facilitando o ambiente

colaborativo na empresa, pelo que um sistema de classificação é essencial para uma boa prática da

metodologia BIM [25]. Em Portugal, o organismo ProNIC desenvolveu um sistema de classificação,

dirigido à indústria de construção, baseado na compilação de todas as especificações portuguesas,

num só WBS, permitindo uniformizar a geração de mapas de quantidades, as especificações técnicas

e os relatórios de medição [3]. Apesar da existência destas taxonomias, elas não são normas

Page 32: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

24

obrigatórias, pelo que cabe a cada empresa decidir sobre a sua utilização, o que dificulta a

implementação da metodologia.

A normalização é um aspeto integrante no desenvolvimento de ferramentas tecnológicas, pois

devem abranger padrões e classificações que permitam um elevado grau de interoperabilidade entre

softwares BIM [24]. Uma norma pode ser elaborada num âmbito internacional ou em consórcios

relacionados com setores da indústria. A International Organization for Standardization (ISO), uma

organização mundial que cria normas internacionais, reconhecida por grande parte da indústria,

fornece um processo estruturado de suporte à criação de normas, tendo para o efeito equipamento e

recursos humanos necessários para garantir a eficácia das normas criadas. Um consórcio é uma

aliança entre empresas e pessoas individuais, financiado pelos seus membros, e podem conceber

normas orientadas para objetivos financeiros, dirigidas ao interesse desse mesmo consórcio. Neste

caso, as normas abrangem o aspeto tecnológico, mas são enquadradas nas necessidades do

mercado, personalizando-as aos objetivos do consórcio [24].

No Brasil, na Faculdade de Engenharia da Universidade de São Paulo, foi criado um grupo de

trabalho responsável por analisar o aspeto da normalização BIM no Brasil. O projeto é pioneiro no

Brasil, no sentido de facilitar a implementação e potenciar a implementação do BIM no Brasil. O grupo

é coordenado pelo professor Eduardo Toledo Santos, e é apoiado pelo Ministério do

Desenvolvimento do governo brasileiro. Do contato pessoal com o coordenador do grupo foi possível

conhecer a metodologia de trabalho estabelecida. O Anexo A apresenta o essencial da conversa

mantida com o docente. O trabalho elaborado pelo grupo aborda dois aspetos:

Estudar a adaptação do sistema de classificação OmniClass ao contexto da indústria

brasileira, sendo necessário eliminar alguns dos termos e adicionar outros mais adequados.

Foram publicados dois relatórios do sistema adaptado;

Estabelecer a criação de normas que contenham diretrizes para o desenvolvimento de

bibliotecas de componentes para utilizar na modelação BIM, de forma a poderem ser

identificados em diferentes usos BIM e que apoiem o utilizador na definição de bibliotecas

específicas para cada tipo de uso.

A equipa de normalização pretende estabelecer normas oficiais, que possam ser aplicadas

em projetos concretos, tornando-os homogéneos em termos das bibliotecas BIM utilizadas,

contribuindo assim para diminuir os problemas de interoperabilidade e de troca de informação. Esta

equipa tem desenvolvido diretrizes para a criação de bibliotecas relativas:

Ao projeto de instalações hidráulicas, considerando o tipo e a seção dos elementos;

À simulação 4D na construção, envolvendo o cronograma de tarefas e o controlo da

execução;

À análise energética preliminar, referente aos estudos de conforto térmico e iluminação;

À obtenção de quantidades envolvendo o problema da especificação e o nível de detalhe.

Page 33: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

25

Algumas empresas públicas brasileiras, como o Metrô de São Paulo e a SPTrans, começam

a exigir que seja utilizado o BIM nas suas obras públicas na definição de algumas das tarefas, como

por exemplo para visualização 3D e deteção de conflitos, incentivando assim as empresas a adotar o

BIM. Esta medida do governo vai facilitar a implementação do BIM na Indústria por exigência de

mercado, pois as empresas terão de adotar o BIM para serem elegíveis na participação em grandes

obras públicas. Refere ainda Santos que é importante que o governo brasileiro reconheça as

potencialidades do BIM de forma a entender o que pode exigir aos fornecedores, e como retirar o

máximo de benefícios do BIM.

3.4.2 Normalização na obtenção de quantidades

Existem algumas regras de medição, próprias de cada país, como, por exemplo, os guias

Black Book ou New Rules of Measurement (NRM), publicados no Reino Unido pelo Royal Institution

of Chartered Surveyors (RICS). O Black Book é um conjunto de documentos que define boas práticas

para a quantificação de um projeto. O NRM oferece uma norma de medição para a comparação de

custos, durante o desenvolvimento de um projeto de empreendimento. Uma correta avaliação dos

custos durante o ciclo de vida do projeto permite reduzir a incerteza durante o planeamento e diminuir

os eventuais custos adicionais. O NRM permite uma abordagem consistente na orçamentação

usando plataformas BIM. O organismo RICS desenvolve atualmente normas internacionais em

colaboração com outras entidades [18].

Em Portugal, embora não exista nenhuma normativa legal para a obtenção de quantidades de

projetos, esta atividade é apoiada na publicação de boas práticas “Curso sobre regras de medição na

construção (CRMC)”, desenvolvida pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), a qual é

normalmente utilizada como referência. A publicação contém as definições necessárias à medição

dos principais parâmetros da construção, nomeadamente, os componentes, o material e o

equipamento. O guia foi desenvolvido para o processo tradicional apoiado na leitura de desenhos, e

alerta para as situações de difícil medição sobre o documento gráfico de projeto indicando cálculos

aproximados. Utilizando o modelo BIM é possível obter as quantidades exatas dos elementos que o

compõem, sem ser necessário utilizar métodos de quantificação aproximados, aplicando devidamente

as previsões de valores adicionais, como repetições e erros [3].

Apesar dos desenvolvimentos alcançados ao nível da normalização nacional e internacional,

contribuindo para melhorar a capacidade de interoperabilidade entre sistemas, há necessidade,

ainda, de estabelecer soluções específicas para a execução de distintas tarefas. Quando um

utilizador recorre a um software específico, normalmente, tem de desenvolver as suas próprias

práticas, na execução do seu trabalho. Ao considerarem estas práticas, conseguem obter uma

vantagem competitiva e de inovação em relação a outras empresas, pelo que a normalização restrita

pode retirar vantagens à utilização do BIM. Assim, se a normalização for muito específica e, portanto,

restritiva em termos de aplicação, vai inibir a exploração de inovações tecnológicas que podem ser

desenvolvidas, se for dada a liberdade ao utilizador de criar as suas práticas. Mas por outro lado,

demasiada diferenciação nas práticas utilizadas pode conduzir a uma situação pouco homogénea,

em que cada empresa adequa o modelo BIM segundo os seus objetivos, atrasando o

Page 34: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

26

desenvolvimento da tecnologia. A normalização é um aspeto essencial à evolução e à implementação

do BIM, mas esta deve ser controlada de forma a não limitar capacidade de inovar as práticas de

trabalho [26].

Com o incremento de maturidade da implementação do BIM nos diferentes setores de

indústria da construção, há uma crescente variedade de utilizações do modelo e é necessário que a

medição de quantidades acompanhe este processo de expansão, de forma a estruturar soluções

eficazes. A normalização apoia a interoperabilidade, com a criação de modelos definidos de acordo

com normas, e permite o desenvolvimento de processos colaborativos [3].

Page 35: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

27

4. PROPOSTA DE METODOLOGIA BIM

No presente item é proposta uma metodologia para a medição de quantidades BIM em fase

de projeto, baseada na norma finlandesa COBIM [16], que pode ser adaptada às diferentes empresas

do setor. São analisados e avaliados os critérios de modelação, os diferentes métodos para a

obtenção de resultados e o próprio processo, tentando contribuir para a implementação BIM na

realização desta tarefa.

4.1. Metodologia BIM na medição de quantidades

Devido à fragmentação da indústria AEC e à linearidade da fase de projeto, a medição de

quantidades e subsequente estimativa de custos são realizadas, normalmente, em fases avançadas

do projeto, onde é mais difícil estudar alternativas e apoiar o dono de obra na tomada de decisões. O

próprio processo utiliza demasiados recursos, tornando-o moroso e com falhas. Em projetos de

grande dimensão, a diferença entre a estimativa inicial e os custos finais pode ser superior em 40%

do custo total da obra [19].

A medição de quantidades realizada através da metodologia BIM, permite executar um

processo de estimativa de custos mais rápido e correto. A metodologia recorre ao modelo BIM como

fonte única de informação para a obtenção de quantidades, durante todo o projeto, fornecendo

sempre valores coerentes e atualizados, adaptando-se às eventuais alterações impostas ao projeto

[19].

Apesar das evidentes vantagens, a metodologia BIM ainda enfrenta alguma incerteza quando

utilizada para as estimativas de custo. Esta incerteza deriva da falta de informação das

potencialidades do BIM e da forma de ultrapassar as limitações iniciais. Um dos obstáculos

apontados é a dificuldade de o software de orçamentação utilizar as quantidades que podem ser

retiradas do modelo. Como referido, um outro obstáculo é a falta de normas que facilitem a troca de

informação entre os diferentes softwares. Estes obstáculos, com a evolução tecnológica constante e

a utilização do IFC como formato padrão, são ultrapassáveis. [3].

A metodologia proposta pretende uniformizar o processo de medição de quantidades BIM de

forma a permitir a partilha de resultados entre todos os intervenientes na indústria, seguindo assim a

ideologia BIM de partilha total. A proposta abrange o estudo de quatro aspetos:

Pré-requisitos – Decisões a tomar e os fatores a considerar previamente à realização da

orçamentação;

Modelação – Estabelecimento de critérios de modelação 3D;

Medição de quantidades – Obtenção de quantidades a partir do modelo BIM e geração de

mapas de quantidades;

Estimativa de custo – Determinação do custo parcial e geral da obra.

Pretende-se criar um guia de atuação abrangendo a sequência de etapas listadas para a

obtenção de um orçamento correto próximo do custo real da obra. Cada fase é de seguida analisada

sob o ponto de vista das suas especificidades e de recursos tecnológicos de apoio.

Page 36: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

28

4.2. Pré-requisitos

Previamente à execução de orçamentação sobre um projeto devem ser considerados alguns

requisitos de base para a correta utilização da metodologia proposta e garantir o sucesso da sua

aplicação:

1. Levantamento do método de trabalho existente: Inicialmente deve ser analisado e

esquematizado o modo de trabalho da empresa com o objetivo de desenvolver uma estrutura

operacional que prepare a base do processo BIM. Normalmente, o processo de estimativa de

custos tradicional é linear e pouco sofisticado, baseado na determinação de quantidades a

partir dos desenhos, seguindo-se a multiplicação por custos unitários para a obtenção do

orçamento final;

2. Adaptar o método de trabalho à metodologia BIM: Analisar o modo de adaptar o processo

tradicional de forma a integrá-lo num processo BIM. A orçamentação não deve ser pensada

como fragmentada, com tarefas independentes, mas como um processo centralizado num

modelo composto por elementos quantificáveis. Na sua execução, a comunicação entre

intervenientes deve ser constante e a informação totalmente partilhada. A adaptação ao BIM

requer uma mudança cultural na empresa, assim como a formação dos colaboradores na

utilização do software BIM;

3. Selecionar o software BIM: A escolha da plataforma BIM e o conjunto de softwares

associado é a primeira grande decisão a tomar pela empresa. Normalmente, o software que

efetua a modelação BIM proporciona a obtenção automática de quantidades de elementos

por categorias ou tipos, fornecendo um mapa de quantidades, como output, com valores

próximos à realidade. No entanto, frequentemente a manipulação destes dados é muito

limitada pelo que é possível utilizar outro tipo de software [3]. Nesse sentido, devem ser

analisadas as aplicações disponíveis no mercado, considerando o objetivo pretendido e a

fase do projeto sobre a qual se pretende realizar a orçamentação. Existem programas

específicos para o projeto de arquitetura, para o dimensionamento de estruturas e outros,

pelo que devem ser estudadas diversas possibilidades na escolha do software mais

adequado. Nesta análise deve ser avaliada a capacidade de interoperabilidade entre os

programas escolhidos, assim como entre estes e a base de dados que é igualmente utilizada

pela empresa. É aconselhável utilizar um conjunto de programas em que a transferência de

informação se efetue no formato nativo do programa de modelação, como garantia de que

não existe perda de informação na transferência, proporcionando ainda que o programa a

utilizar na orçamentação consiga processar a informação recebida do modelo. A alternativa é

utilizar o formato universal IFC. No entanto, apesar dos significativos avanços relacionados

com o IFC, o padrão não é ainda suficientemente eficaz, pois admite falhas na partilha de

Page 37: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

29

informação entre programas, comprometendo o resultado final, pelo que a utilização de um

formato nativo é, atualmente, a opção aconselhada;

4. Definir uma nomenclatura a utilizar no projeto: Um dos requisitos mais importantes nos

processos automáticos é a utilização de uma taxonomia que permita classificar todos os

elementos e métodos construtivos com um código específico, e que possa ser utilizado por

todos os intervenientes no projeto. Desta forma, mesmo que o formato utilizado seja diferente,

o código associado a um elemento identifica universalmente esse elemento. É importante que

a taxonomia utilizada seja a mesma durante todo o processo. O modo mais adequado de

introduzir este tipo de classificação num modelo BIM, consiste em colocar, no campo de

identificação do elemento, os respetivos códigos. Os campos de identificação podem diferir

entre software como por exemplo, o campo ID no Revit e o campo Layer, no Archicad. No

caso de Portugal, e como anteriormente, aconselha-se o uso do ProNIC, que é a taxonomia

mais utilizada na indústria AEC na modelação do projeto, através da classificação de todos os

elementos presentes no modelo BIM;

5. Adotar normas e critérios de medição: Como referido, a indústria AEC não se encontra

completamente regulada por normas relativamente à medição de quantidades, pelo que cada

empresa aplica as suas próprias regras, não sendo, portanto, este comportamento compatível

com a metodologia BIM, pois impede a partilha total de informação. Em Portugal não existem

regulamentos sobre orçamentação, mas existe um conjunto de boas práticas publicadas pelo

Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) que são normalmente utilizadas como

referência. No entanto, na sua aplicação à metodologia BIM, algumas das recomendações

podem ser ignoradas, como as relacionadas com a medição de quantidades aproximada,

como por exemplo em elementos com seção variável, como no caso do pilar, pois a obtenção

automática de quantidades é exata a partir do modelo BIM, aumentando a fiabilidade nos

resultados. Todos os intervenientes no projeto devem utilizar as normas e/ou critérios

escolhidos;

6. Definir o nível de detalhe do modelo: O nível de detalhe (Level of Detail, LOD) com que o

modelo foi criado afeta o mapa de quantidades que é obtido automaticamente. Um nível LOD

elevado aumenta a quantidade de informação presente em cada elemento modelado e

garante também que a informação colocada é apenas a estritamente necessária. Na

modelação específica para a quantificação, o nível de detalhe recomendado é o 300, que

significa que os elementos são representados graficamente no modelo BIM como um objeto

específico, com a sua quantidade, tamanho, forma, localização e orientação definidas [27].

Se, por exemplo, se pretender estudar alternativas a uma solução, pode considerar-se um

nível inferior de LOD para o modelo criado para cada opção. Se a norma ou o critério

selecionado exigirem um LOD superior, convém registar essa opção em todas as alterações.

Page 38: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

30

A definição de um projeto requer que o nível LOD com que foi executado seja associado ao

modelo BIM.

4.3. Modelação

O passo seguinte consiste na geração do modelo 3D, base da medição de quantidades

automática. O processo de modelação deve seguir diretrizes adequadas ao objetivo, pois modelar

para efeitos de visualização é diferente de modelar para a obtenção de quantidades. Neste item são

abordadas as recomendações que devem ser seguidas no processo de criação do modelo BIM.

O Registo de Modelação (RM) é um documento, baseado na BIM Specification do COBIM [16],

onde é descrito o método utilizado na modelação e indicadas as situações anómalas que tenham

acontecido durante a modelação. Se o medidor-orçamentista não é o modelador, necessita conhecer

quais as ponderações consideradas, os atalhos utilizados e a informação adicional associada a cada

elemento construtivo. O documento permite que este conheça o método de modelação aplicado e

assim, utilizar a informação do modelo de uma forma correta na obtenção de quantidades.

Nesse sentido, para garantir que o modelo BIM está modelado de forma a poder fornecer

resultados fiáveis, independentemente do software utilizado ou do modelador, devem ser aplicados

os seguintes critérios de modelação:

­ Numa perspetiva de obtenção de quantidades do projeto, o aspeto mais relevante é a

consistência do modelo BIM criado. Deve garantir-se na modelação que todos os elementos

seguem os requisitos específicos de cada componente e é importante que o modelo tenha

sido totalmente criado de uma forma homogénea, apoiado nas mesmas diretrizes. As

eventuais alterações ao processo, como por exemplo, uma parte do edifício ser modelada

com um nível de detalhe superior/inferior do restante modelo, devem ser registadas no

documento RM;

­ Cada elemento do modelo deve ser criado através de um objeto paramétrico utilizando o

software BIM específico, devendo ser indicadas as características reais que se pretendem

executar, como por exemplo, a sua constituição com a identificação do valor da espessura de

cada camada e o tipo de material. Deste modo, as características físicas e geométricas do

elemento no modelo correspondem ao que realmente foi executado, ou pelo menos

considerado no projeto. Se o sistema de modelação não contiver o objeto paramétrico

adequado, o elemento deve ser criado com base no objeto que tenha o mesmo tipo de

características, por exemplo, um lintel pode ser modelado como uma viga, mas para a

quantificação de lintéis de uma forma separada das quantidades da viga, deve associar-se

aos lintéis e às vigas um código da taxonomia distinto, de forma a permitir separar as

quantidades através do respetivo código. Estas adaptações devem ser registadas no

documento RM;

Page 39: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

31

­ Alguns elementos do modelo podem admitir dois tipos de função: estrutural e não estrutural.

Por exemplo, o elemento piso é constituído por um núcleo central estrutural e pelo tipo de

pavimento, uma camada não estrutural. No processo de modelação deve considerar-se essa

diferenciação de forma a permitir uma quantificação diferenciada. Esta metodologia deve ser

usada para separar as camadas das componentes com diferentes funções, pois enquanto

que no projeto de arquitetura é indiferente a separação de funções, no projeto de estruturas a

diferenciação de categorias é necessária para a obtenção de mapas de quantidades corretos

por tipo de material;

­ A quantificação de um projeto é preferencialmente elaborada, sobre o modelo BIM, com o

recurso às capacidades próprias do software de modelação utilizado, e desta forma, a

fiabilidade da informação obtida é assegurada. Pode também ser utilizada uma outra

ferramenta de obtenção de quantidades, exterior ao software de modelação. Neste caso o

ficheiro transposto pode apresentar o formato nativo ou o padrão IFC. Ao utilizar o formato

IFC, o orçamentista deve ter conhecimento das limitações do formato, pois é necessário

analisar a qualidade dos elementos exportados para o software de quantificação, de forma a

garantir a confiança nos resultados a obter. Todas as ocorrências devem ser registadas no

RM, um documento escrito, para conhecimento do modelador e do orçamentista

relativamente à transferência de informação;

­ No processo de modelação, deve ser efetuada a deteção de conflitos entre elementos do

modelo, a qual é apoiada por capacidades próprias do software de modelação. Por exemplo,

uma conduta de água não deve atravessar uma viga ou um pilar. Este tipo de análise deve

ser executado de forma a apoiar o estabelecimento de soluções de redes de serviços

adequadas. O processo de quantificação deve incidir sobre o modelo final, alvo de

adaptações em conformidade com a análise de conflitos. Esta tarefa deve ser realizada na

fase de modelação, pois o programa de quantificação não consegue detetar conflitos

automaticamente. Todos os problemas identificados devem ser registados no documento RM.

Criado o modelo BIM, composto pelas especialidades pretendidas, arquitetura, estruturas e

serviços, e elaborado com as recomendações referidas, procede-se à obtenção automática de

quantidades. O documento RM é finalizado simultaneamente com o modelo, registando todos os

processos e alterações durante o processo de modelação.

Page 40: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

32

4.4. Medição de quantidades automática

O processo de medição de quantidades automática é executado com recurso ao software

BIM com capacidade para a manipulação da informação contida no modelo, para efeito de obtenção

de mapas de quantidades. O esquema incluído na Figura 4 ilustra a sequência de tarefas a executar.

Criação do Modelo BIM

Consulta do Relatório de

Modelação (RM)

Obtenção de quantidades

Garantia de qualidade

Lista de quantidades

Figura 4 - Processo de quantificação automática

4.4.1 Criação do modelo BIM

A quantificação do projeto pode ser efetuada sobre o modelo BIM em qualquer fase do seu

desenvolvimento e durante o processo construtivo. Na fase de modelação do projeto é possível obter

a estimativa de custo para as diversas soluções alternativas que venham a ser consideradas, e

analisar os custos envolvidos em cada opção. O custo é obtido de uma forma rápida e eficaz sobre

cada solução modelada, fornecendo ao dono da obra uma estimativa realista do orçamento-base

para o concurso de obra. Durante a fase de construção, o orçamento permite controlar os custos e a

quantidade de material gasta e, ainda, apoiar a decisão sobre os métodos construtivos disponíveis.

A tarefa de medição de quantidades pode ser efetuada sobre a totalidade do projeto, sobre

componentes de especialidade do projeto estrutural, da rede de águas, de zonas do edifício ou tipos

de elementos ou materiais. Como o modelo é formado por objetos basta definir qual o tipo de

seleção, controlada por características associadas a cada objeto e obter automaticamente o mapa de

quantidades requerido.

4.4.2 Consulta do relatório de modelação

Inicialmente, o técnico medidor deve ler o relatório de modelação (RM) criado durante o

processo de modelação. Deve tomar conhecimento de todos os aspetos considerados na modelação

de forma a assegurar que vai realizar uma correta medição de quantidades e certificar-se se a versão

a analisar é a mais atualizada. Previamente à medição devem ser estabelecidos os objetivos a atingir

e salvaguardar eventuais repetições e omissões:

Decidir quais os tipos de material (betão, aço ou madeira) que devem ser contabilizados;

Se as especialidades de arquitetura, estruturas e MEP tiverem sido definidas em diferentes

modelos, os elementos que são comuns a mais do que um modelo deve ser medido apenas

num deles;

Identificar o nível de detalhe necessário para cada elemento, e assegurar que o modelador

cumpriu esse requisito.

Page 41: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

33

4.4.3 Obtenção de quantidades

A obtenção de quantidades deve ser realizada, preferencialmente, com recurso às

capacidades disponibilizadas pelo programa de modelação. O modelo pode ser, ainda, transferido

para um programa específico de quantificação, usando o formato nativo ou o padrão IFC. A medição

de quantidades pode ser classificada em três categorias [16], consoante a informação presente no

modelo:

Completa – Todos os elementos estão presentes no modelo BIM e a informação necessária

na quantificação foi adicionada ao respetivo elemento quando modelado. A medição de

quantidades é totalmente automática e é a melhor opção para a obtenção de resultados

precisos e rápidos;

Semi-Completa – A informação requerida não está completamente inserida no modelo, mas

pode ser obtida, posteriormente, com base na informação de outros elementos. Por exemplo,

se se admitir um reboco com uma espessura de 5 cm, o volume do reboco pode ser obtido

pela multiplicação da área de parede pela espessura, mesmo que o reboco não tenha sido

considerado na modelação. O medidor-orçamentista obtém a informação necessária a partir

do modelo, no entanto, requer alguma experiência para conseguir determinar a quantidade

requerida através de outros elementos.

Incompleta – A informação pretendida não pode ser obtida do modelo pois não foi

considerada no processo de modelação. Por exemplo, se o medidor-orçamentista quiser

contabilizar as armaduras de iluminação e estas não constarem no modelo, o medidor-

orçamentista deve modelar os elementos em falta de forma a obter a medição requerida. O

medidor-orçamentista deve também adquirir conhecimentos de modelação relativamente ao

software utilizado. É necessário atualizar o modelo BIM desenvolvido para a obtenção de

quantidades, o que pode atrasar o projeto.

O medidor-orçamentista pode optar por organizar o mapa de quantidades em função da

localização (divisões ou pisos), pelo código específico (taxonomia) ou pelo tipo de material, em

função do tipo de medição que pretende apresentar.

4.4.4 Garantia de qualidade

Após a realização da quantificação do projeto, a partir do modelo analisado, é aconselhável

avaliar os resultados obtidos. O técnico deve verificar se os tipos de elemento que se pretende

contabilizar foram considerados, por observação dos elementos presentes no modelo BIM. As

quantidades obtidas devem ser avaliadas, com base na experiência do orçamentista, pois facilmente

identifica valores irrealistas que ocorram devido a uma modelação incorreta. Se necessário, pode

efetuar uma quantificação tradicional em relação a alguns elementos ou zonas em que os valores

obtidos automaticamente pareçam incorretos, de forma a identificar se existiu problema com a

modelação.

Page 42: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

34

4.4.5 Lista de quantidades

O resultado da medição é uma lista ou mapa de quantidades que serve de base para a

realização da estimativa de custo do projeto ou para obter orçamentos para fornecedores. Esta lista

de quantidades pode apresentar-se em diversos formatos, podendo ser, posteriormente, importada

por outros programas que realizem a orçamentação. É importante associar os mapas à

correspondente versão do modelo BIM para que não haja uma incorreta correspondência entre

quantidades e modelo.

4.5. Estimativa do Custo

O objetivo final da metodologia é obter uma estimativa de custo que constitua uma base

realista dos custos de obra. A estimativa resulta da interligação do mapa de quantidades aos custos

unitários por item da lista, sendo que esta ligação não necessita de software BIM para ser executada.

Este processo é definido por recurso a um software específico. O software deve ser compatível com a

base de dados que seja definida pela empresa de forma a automatizar a estimativa.

Finalmente, o processo de medição de quantidades BIM está terminado. O resultado é um

orçamento, com a identificação de todos os elementos do projeto e as respetivas quantidades, assim

como o preço unitário e total. A Tabela 2 ilustra a sequência descrita, sendo que o caso prático deste

trabalho incide sobre o processo de medição de quantidades automático.

Page 43: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

35

Tabela 2 - Representação esquemática do processo

Page 44: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

36

5. CASO PRÁTICO

O presente capítulo descreve as várias etapas definidas na metodologia proposta, aplicada a

um caso de estudo. O caso analisado corresponde à componente de estruturas do projeto de uma

escola, sendo consideradas apenas as fundações. É seguida a metodologia BIM para a obtenção de

quantidades do projeto e, posterior, estimativa de custos. O processo é comparado com o tradicional.

5.1. Projeto de fundações

O caso de estudo selecionado é o projeto de uma escola em Faro, disponibilizado pela

empresa CONSULGAL – Consultores de Engenharia e Gestão. O projeto embora tenha sido

elaborado até à fase de construção, não foi executado. A simplicidade do projeto permite uma fácil

modelação, a deteção de eventuais erros na quantificação manual e na automática e a análise

comparativa dos processos tradicional e BIM.

5.2. Geração do modelo BIM

De forma a ilustrar o procedimento inerente à obtenção de quantidades de um projeto em

ambiente BIM, é estudado apenas o projeto de fundações do caso selecionado. A determinação de

quantidades é efetuada sobre o volume de betão de sapatas, pilares e lintéis de fundação e sobre as

armaduras relativas, apenas, às sapatas. A modelação de armaduras é um processo que ainda não

se encontra agilizado nas ferramentas BIM, pelo que a utilização desta metodologia para a obtenção

de quantidades de armaduras ainda se encontra numa fase de desenvolvimento, necessitando de

verificações constantes ao longo do processo. Por esta razão, optou-se por modelar apenas as

armaduras das sapatas. A documentação do projeto inclui a planta de fundações da escola,

desenhada em AutoCAD, a qual se inclui no Anexo B. No desenho são identificados dois corpos do

edifício, correspondentes às zonas Norte e Sul da escola.

Embora a planta apresente sapatas corridas sob paredes de contenção, apenas as sapatas

isoladas vão ser modeladas para efeitos de quantificação. O software escolhido para a modelação foi

o Revit da empresa Autodesk, por apresentar semelhanças à interface do AutoCAD, facilitando a

aprendizagem da sua utilização. A modelação do projeto de estruturas é efetuada através da

componente estrutural do Revit e, adicionalmente, foi utilizada uma extensão, integrada no programa

Revit para a execução da pormenorização das armaduras.

Processo de modelação

A planta de fundações fornecida, na forma de um ficheiro de desenho AutoCAD, foi importado

para o Revit servindo de base à geração do modelo BIM. As fases da sua modelação estão listadas

na Tabela 3.

Page 45: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

37

Tabela 3 – Fases de modelação no Revit

Atividade

1º Criação de níveis e grelhas

2º Inserção de pilares

3º Colocação de sapatas

4º Definição de lintéis

5º Pormenorização de armaduras em sapatas

6º Verificação do modelo

Inicialmente é efetuada a importação, pelo Revit, da planta executada no AutoCAD, servindo

de base ao trabalho a realizar. Previamente, no AutoCAD, deve proceder-se à “limpeza” da planta de

fundações. Assim foram ocultadas as layers do desenho consideradas dispensáveis de forma a

facilitar a interpretação do desenho, após a importação. Apesar de ser possível, quando o desenho é

importado, escolher quais layers a transpor para o Revit, o processo de leitura do desenho é mais

eficiente se este for previamente “limpo”, prevenindo eventuais erros de incorreta interpretação pelo

Revit. A Figura 5 ilustra o desenho .dwg a exportar a partir do AutoCAD.

Figura 5 - Ficheiro .dwg preparado para importação pelo Revit

De seguida, no Revit, e utilizando o comando “Import CAD”, como se ilustra na Figura 6, é

escolhido o ficheiro .dwg pretendido. A Figura 7 apresenta a planta inserida no Revit, sobre a qual

vão ser modelados os elementos das fundações do edifício. A mesma planta encontra-se em formato

A3 no Anexo C. De forma a facilitar a visualização dos elementos que se pretendem modelar, o Revit

permite alterar as definições na opção “Visibility/Graphics”, na seção das importações, exibindo a

Page 46: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

38

planta .dwg segundo a aparência designada de Halftone (Figura 8), o que significa que o desenho é

representado em tons de cinzento.

Figura 6 - Comando "Import CAD"

Figura 7 - Planta importada para o Revit

Figura 8 - Comando "Visibility Graphics"

Page 47: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

39

1º - Criação de níveis e grelhas

O processo de modelação requer a indicação de níveis que vão auxiliar a modelação

tridimensional (3D). Na Figura 9 estão representados os níveis considerados que permitem

estabelecer a altura de cada pilar, limitada pelas cotas 0.55m (“Base dos pilares”) e 3.55m (“Topo dos

Pilares”) e identificar, à cota (0.55m), o topo das sapatas. A base dos pilares, para efeitos de

quantificação, é o topo da sapata correspondente.

Figura 9 – Cotas e designações atribuídas aos níveis considerados

Adicionalmente, é necessário traçar uma grelha, sobre uma vista em planta (0.00),

correspondente aos alinhamentos ortogonais a considerar na modelação. Os alinhamentos devem

apoiar a definição da solução estrutural projetada, de forma a que as interseções dos alinhamentos

representem a localização dos eixos dos pilares. A Figura 10 ilustra a grelha definida.

Figura 10 - Grelha de alinhamentos

2º - Inserção de Pilares

O processo de modelação dos elementos estruturais requer a seleção de um objeto

paramétrico correspondente ao tipo de elemento pretendido. Assim, no separador “Structure”, através

da opção “Column” é selecionado um elemento de seção retangular de betão, que é utilizado como o

pilar base. O comando “Column” está assinalado na Figura 11.

Page 48: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

40

Figura 11 - Comando "Column"

O objeto paramétrico selecionado é duplicado e, posteriormente, adaptado. As dimensões da

sua seção são alteradas e é estabelecida uma designação adequada. Na Figura 12 está representado

a interface de propriedades de um pilar, onde se pode observar o tipo de betão e a classe de aço

utilizados na modelação. O valor “Cost” é apenas representativo do valor utilizado para o processo de

betonagem em obra, por metro cúbico.

Figura 12 - Interface de propriedades do pilar

Consultando o desenho AutoCAD é conhecida a lista de pilares a considerar. Com base nesta

informação são criados os tipos de pilar necessários à modelação. Cada tipo de pilar é previamente

criado e, posteriormente, é inserido no correto local, sobre a grelha, de acordo com o desenho

AutoCAD, também visualizado. A Figura 13 lista os tipos de pilar presentes no projeto. Foram criadas

6 seções diferentes, permitindo inserir os modelos de pilar com estas seções.

De seguida, para a colocação de um pilar, escolhe-se o comando “Column” e seleciona-se o

pilar com a seção pretendida. No separador “Project Browser”, apresentado na Figura 14, seleciona-

se o nível em relação ao qual se quer colocar a base dos pilares e limita-se o topo do pilar através da

opção “Height”, escolhendo o nível de topo dos pilares. Na Figura 15 pode observar-se a janela

referente à colocação de um pilar. No menu superior, é indicada a opção Height, seguida do nível que

Page 49: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

41

limita a altura do pilar. Usando a planta de referência, colocaram-se todos os pilares nos locais

corretos, indicando para todos eles a mesma altura.

Figura 13 - Lista de Pilares criados

Figura 14 - Lista de Vistas (Project Browser)

Figura 15 - Colocação de um pilar

Page 50: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

42

Após a modelação de todos os pilares, estes têm a altura compreendida entre o nível de

trabalho, a base dos pilares, e o nível definido como topo. A Figura 16 ilustra a representação de

todos os pilares numa perspetiva do modelo 3D que se está a criar. Sob os pilares é possível

observar a planta (importada) que serviu de apoio à inserção de todos os pilares.

Figura 16 – Representação de pilares

Nesta fase do processo de modelação foi despendido cerca de uma hora, pois foi necessário

criar cada tipo de pilar a utilizar. No entanto, como esta informação fica gravada no Revit, na

modelação de um outro projeto, em que estejam presentes as mesmas seções, a modelação de

pilares fica reduzida apenas à sua colocação e à criação de outras seções não abrangidas neste

projeto, agilizando esta etapa.

3º - Colocação de Sapatas

O processo de criação de sapatas é análogo ao modo de criação de pilares. Inicialmente é

duplicado um tipo de sapata existente, uma sapata genérica retangular de betão. Da consulta do

desenho AutoCAD foi identificada a lista de sapatas com as dimensões indicadas na Figura 17. Por

recurso ao comando “Structural Foundation: Isolated”, representado na Figura 18, e usando os pilares

como referência, foram colocadas as correspondentes sapatas, ao nível da base dos pilares. Neste

processo, o software identifica automaticamente, através da verificação “Host”, a base dos pilares

com o nível superior das sapatas. O Revit tem, assim, capacidades que facilitam a modelação e a

colocação correta de elementos adjacentes. A Figura 19 apresenta uma perspetiva do modelo 3D

com os pilares e as sapatas definidas.

Page 51: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

43

Figura 17 - Lista de Sapatas

Figura 18 - Comando "Structural Foundation: Isolated"

Figura 19 – Modelo BIM com a representação de pilares e de sapatas

Page 52: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

44

4º - Definição de lintéis

A definição e colocação dos lintéis ou vigas de fundação é, igualmente, baseado na

duplicação de um elemento base, uma viga de betão de seção retangular. Os lintéis foram

considerados com uma seção retangular. Para posicionar os lintéis, considerou-se que o nível

superior do elemento se situa a 1.25m da superfície superior das sapatas, através da opção offset

para garantir que nenhum lintel colidia com as sapatas. O pilar atravessa o lintel para efeitos de

quantificação, como ponderado no projeto. Na Figura 20 estão representados os lintéis devidamente

ligados aos pilares. Esta etapa demorou cerca de 1.5h pois, apesar da colocação de lintéis ser

apoiada pela localização do pilar, considerou-se importante efetuar, na junção de lintéis com pilares,

uma verificação individual para garantir que não existem erros de incorreção em alinhamentos de

elementos. Existem algumas sapatas sem lintel pois, no projeto, eram considerados muros de suporte

e a sua quantificação é separada, como se pode confirmar na Figura 5.

Figura 20 – Modelo 3D das fundações

5º - Pormenorização de armaduras das sapatas

De forma a ilustrar a pormenorização de armaduras nos elementos estruturais e a sua,

posterior, quantificação, consideraram-se apenas as sapatas. Para a definição, no Revit, das

armaduras a colocar em cada sapata, optou-se por utilizar um tipo de aplicação, Extension, associada

ao software. No menu Extension é selecionada a opção designada por Reinforcement (Figura 21).

Este comando permite a colocação automática de armaduras nos elementos.

Figura 21 - Separador "Extensions" e comando “Reinforcement”

Page 53: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

45

Inicialmente é selecionado o tipo de elemento que se pretende armar, uma sapata, um pilar

ou uma viga. A Figura 22 ilustra a interface relativa a uma sapata.

Através da interface deve ser indicada a informação relativa ao tipo de aço, ao diâmetro do

varão, ao recobrimento e ao espaçamento a considerar entre cada varão (Figura 22). De seguida, o

programa calcula o número de varões a colocar e estribos necessários e procede à sua distribuição

no interior dos elementos.

As armaduras consideradas no processo de modelação correspondem às estabelecidas na

solução estrutural fornecida, consultada a partir dos respetivos desenhos .dwg. Embora algumas das

sapatas tivessem as mesmas dimensões, as armaduras consideradas eram distintas. Assim, foram

colocadas, por sapata, as respetivas armaduras superiores e inferiores. Este processo foi o mais

demorado, pois foi necessário consultar por diversas vezes os ficheiros .dwg e proceder à

pormenorização de cada sapata. A Figura 23 ilustra uma sapata armada com a quantidade de

armaduras indicada no projeto. Para efeitos de visualização, é possível optar por deixar o betão

“transparente”, permitindo a visualização da armadura no seu interior. É possível observar na Figura

23 as armaduras de ligação entre o pilar e a sapata, mas, como se irá referir no item 6.1, as mesmas

não são contabilizadas para efeitos de quantificação, sendo meramente ilustrativas neste caso,

devido à dificuldade em modelar armaduras no Revit.

Efetuada a modelação das armaduras de todas as sapatas é possível, posteriormente, obter

de um modo automático, a quantificação, por tipo de varão, de todas as armaduras modeladas. Este

processo é extremamente demorado, quando realizado da maneira tradicional. De realçar a facilidade

com que, no processo de modelação de armaduras, se altera o espaçamento entre varões,

permitindo testar alternativas sem grande dispêndio de tempo adicional.

A Figura 24 representa a pormenorização de um lintel e de uma viga para efeitos de

visualização. A sua modelação seguiu um processo semelhante ao utilizado para o caso das sapatas.

A pormenorização foi totalmente automática, tendo sido apenas necessário efetuar alguns

ajustamentos nos ganchos e nos estribos, na zona de interseção entre os dois elementos. Em análise

ao resultado, é possível verificar que a pormenorização representada não pode ser executada em

obra, pelo que a modelação de armaduras do Revit não contabiliza dificuldades de execução em

obra, pelo que a sua utilização ainda necessita de ser desenvolvida para fornecer resultados

coerentes. A Figura 24 ilustra o resultado da pormenorização estabelecida.

6º - Verificação do modelo

Concluída a geração do modelo BIM, é importante proceder à verificação de todos os

elementos relativamente às suas dimensões e à distribuição de armaduras. Ou seja, é necessário

verificar a qualidade do modelo. Com vista à comparação de processos, tradicional e BIM, é

necessário analisar se o modelo é correto em relação ao desenho fornecido. Só, assim, é possível

garantir que as quantidades que se vão retirar são rigorosas e representam a realidade. Este

processo garante a fiabilidade do modelo, e é um aspeto essencial para terminar o processo de

modelação. A Figura 25 ilustra uma perspetiva do modelo de fundações do edifício. Pode observar-se

que todos os elementos foram colocados na posição correta.

Page 54: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

46

Figura 22 - Interface inicial para colocação de armaduras

Figura 23 – Perspetiva de uma sapata armada

Page 55: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

47

Figura 24 - Pormenorização de armaduras na ligação entre o pilar e o lintel

Figura 25 - Render da estrutura final

A geração do modelo BIM é facilitada pelas capacidades avançadas de modelação

disponibilizadas pelo Revit, contudo no processo de criação do modelo, foram identificadas algumas

limitações:

Alguns dos lintéis não estabeleciam ligação automática entre si, tendo sido necessário

verificar o modo de interseção dos pilares com os lintéis, de forma a garantir a correção do

modelo;

Page 56: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

48

Nas sapatas, quando era utilizada a opção Extension, verificaram-se situações em que as

armaduras ficavam colocadas ao contrário e os ganchos excediam as suas dimensões, o que

obrigou a uma correção manual de forma a definir corretamente as armaduras no elemento;

A quantidade de varões colocada automaticamente não coincide com a quantidade

apresentada no projeto, devido ao facto do Revit calcular automaticamente o número de

varões consoante as dimensões da sapata. Neste caso, o projetista considerou um número

diferente de varões, pelo que foi então necessário aumentar/diminuir o número de varões

para que o projeto coincida com a modelação e reposicionar as armaduras;

O comprimento dos ganchos das armaduras é previamente definido pelo Revit e, devido a

restrições próprias do software, não é possível efetuar pontualmente alterações, requerendo

a criação de uma nova família de armaduras.

Apesar dos contratempos identificados, as vantagens obtidas ao modelar em BIM

compensam a dificuldade inicial de trabalhar com uma ferramenta de base BIM, pois é possível

estudar alternativas ao projeto com o mínimo de esforço e tempo e analisar alternativas com melhor

qualidade e preço, permitindo assim otimizar os custos do projeto.

5.3. Recomendações para a quantificação automática

Relativamente ao cálculo de quantidades, executado por recurso ao software Revit, é

necessário analisar o modo de modelação e considerar algumas regras e boas práticas para que os

resultados, a obter do modelo de um modo automático, sejam fiáveis. No caso de estudo, o modelo

BIM corresponde apenas à estrutura do edifício e apresenta uma distribuição de elementos simples,

mas extensa.

5.3.1 Consistência do modelo

Deve ser efetuada a verificação do modelo BIM relativamente à sua consistência, ou seja,

analisar se o nível de detalhe aplicado a todos os elementos modelados é idêntico, de forma a

garantir a obtenção de quantidades coerentes. O nível de detalhe estabelecido determina a precisão

dos valores de quantidades. Dependente da fase de projeto sobre o qual se pretendem obter valores

do modelo, as quantidades de material são diferentes, aumentando com o detalhe do modelo. O nível

de detalhe com que o modelo é criado depende se a fase de desenvolvimento do projeto se refere ao

projeto base, de execução ou já com as telas finais definidas. Por isso, dependente do objetivo da

medição, é importante que o nível de detalhe seja o adequado [16].

Na análise da consistência do modelo, é importante verificar se cada elemento modelado foi

criado com base no respetivo objeto paramétrico, pois, posteriormente, no processo de quantificação,

o Revit agrupa as medições de acordo com o tipo de família do objeto. Por exemplo, uma viga é

gerada no Revit, através do objeto Beam. Se, erradamente, uma laje for criada com o objeto

paramétrico do tipo viga, o Revit irá considerar que a laje é uma viga bastante esbelta, e conduzirá a

uma contabilização por elementos errada, relativamente à soma total de quantidades. Assim, como o

Page 57: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

49

processo de automatização de quantidades de materiais do modelo é efetuado por tipo de elemento,

deve efetuar-se uma análise prévia, assegurando que todos os elementos do modelo foram criados

com base na família de objetos correspondente. Deste modo são garantidas as medições corretas

por tipo de elemento [3,16,21].

Adicionalmente, deve ser verificado o modo de interseção entre os elementos. Por exemplo,

em relação à interseção entre um lintel e um pilar, deve conhecer-se qual o elemento que atravessa o

outro, para que o volume comum aos dois objetos seja contabilizado apenas num dos elementos. O

Revit admite, como predefinição, que, no caso de uma interseção entre um pilar e uma viga, o pilar

atravessa a viga. Ou seja, a quantidade de betão da interseção é contabilizada no pilar.

Independentemente da definição utilizada, é essencial que o orçamentista conheça qual o modo de

interseção aplicado na modelação, pré-definido no Revit ou outro considerado pelo modelador. É

possível alterar as regras de medição utilizadas pelo Revit [3].

A capacidade de medição de quantidades automática admitida pelas ferramentas BIM está

restringida aos parâmetros de medição de cada elemento, ao contrário da quantificação manual onde

se pode medir livremente. Os parâmetros a considerar no processo de quantificação BIM podem

variar de elemento para elemento. No caso do pilar, os parâmetros a contabilizar podem ser a altura

do pilar, a área da seção transversal ou o volume total. Nas armaduras, os parâmetros requeridos são

normalmente o diâmetro da armadura, o comprimento ou o peso. Ao ser criado um modelo específico

para ser quantificado, é necessário adaptar alguns objetos complexos a elementos com formas

geométricas que permitam uma quantificação precisa. Contudo, o modelo adaptado, embora

semelhante, não é uma representação exata, pelo que um modelo criado com o objetivo de obter

quantidades pode requerer alguma adaptação para a sua visualização 3D com adequadas

capacidades realistas. [21].

Para efeitos de quantificação de materiais é necessário individualizar as diferentes

componentes de um elemento. Por exemplo, em relação a uma parede, os materiais de cada camada

são distintos, sendo necessário criar um novo tipo de parede, onde se diferencie o núcleo, ou parte

estrutural, da parte não-estrutural. Desta forma, é possível obter as quantidades de material

referentes a reboco, painel de tijolo e placa de isolamento, por exemplo. Em relação ao elemento laje,

é facilmente diferenciável a componente estrutural e a não-estrutural, permitindo a extração de

quantidades específicas do material utilizado em cada camada [21].

Por fim, a obtenção da quantificação automática através das ferramentas BIM, requer uma

análise crítica de um medidor experiente para validar os resultados obtidos, e, assim, poder certificar

que o modelo criado está corretamente definido para efeitos de quantificação. O processo de

extração de informação do modelo, deve ser sempre verificada de forma a que o utilizador entenda

como o processo de modelação deve ser orientado, de acordo com o objetivo específico pretendido.

A verificação “humana” deverá ser uma mais-valia a considerar para a qualidade da modelação

efetuada e para corrigir eventuais erros de modelação. [3].

Page 58: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

50

5.3.2 Aplicação de extração de quantidades

A capacidade de quantificação disponibilizada pelo Revit foi utilizada no caso de estudo. O

formato do ficheiro do modelo, .rvt, é o formato nativo do Revit. Se o software a utilizar para a

quantificação for distinto da aplicação BIM de modelação, deve recorrer-se à conversão do formato

original para um formato aceite pela aplicação. No âmbito BIM o formato padrão vulgarizado é o IFC.

Este padrão ainda admite falhas graves originando perda de informação ou uma interpretação errada

dos objetos do ficheiro, induzindo erros na medição [3].

5.3.3 Utilização de nomenclaturas específicas

A atribuição de uma designação ou uma nomenclatura a cada elemento modelado, deve ser

coerente com o processo de medição. A correta identificação dos objetos é essencial para se

diferenciar as famílias de elementos criadas no software BIM de modelação. Por exemplo, o lintel foi

modelado como um elemento da família “viga”. A sua quantificação é considerada no grupo das

vigas. No entanto, como se utiliza uma nomenclatura diferente da usada na viga, os elementos

relacionados com a designação “lintel”, podem ser listados numa tabela gerada pelo Revit, que

apenas contabiliza os elementos com a designação referida. No caso de estudo, atribuiu-se uma

designação distinta a cada conjunto de armaduras, de acordo com o pilar da sapata a que pertencem,

de forma a conseguir agrupá-las por sapatas para facilitar a verificação do modelo [3,16].

5.3.4 Capacidade de interoperabilidade

A tarefa de obtenção de quantidades é seguida de outras atividades como a orçamentação.

Os resultados fornecidos pelo Revit são usados noutras atividades, que recorrem frequentemente a

diferentes tipos de software. Assim, é importante que o processo de conversão entre formatos seja

efetuado com qualidade, de forma a permitir transferir os resultados da quantificação, sem perda de

informação. Uma transferência de dados, entre aplicações, efetuada com qualidade, facilita a

execução de tarefas dependentes da quantificação, reduz o tempo despendido na sua elaboração e

garante a obtenção de resultados corretos. O padrão IFC é o formato mais utilizado na transferência

de informação entre softwares, ou seja, admite um elevado nível de interoperabilidade entre

aplicações. A investigação tecnológica atual tem sido orientada para a obtenção de novas versões do

IFC, mais consistentes, apresentando um o nível de correção melhor, mas ainda não o ideal. A última

versão lançada do IFC é o IFC4 Add1, que foi lançada em julho de 2015 [3].

Efetuada a modelação da componente de estruturas do caso de estudo, e referidas as

principais recomendações a considerar, procede-se, de seguida, à extração de mapas de

quantidades do modelo BIM.

Page 59: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

51

6. OBTENÇÃO DE MAPAS DE QUANTIDADES

O presente capítulo descreve o procedimento de quantificação do projeto por recurso a uma

ferramenta BIM. Apresenta os resultados obtidos segundo o método tradicional e compara ambas as

metodologias. É efetuada, ainda, uma análise relativa às condicionantes e às limitações encontradas

no processo de modelação BIM, expondo as dificuldades registadas ao longo do trabalho.

6.1. Método tradicional

O método tradicional consiste em realizar todas as medições manualmente, como por

exemplo as três dimensões de um pilar/lintel e o comprimento das armaduras das sapatas, utilizando

os desenhos técnicos da documentação gráfica do projeto de estruturas. Em relação ao caso de

estudo e considerando apenas a zona de fundações, foram utilizadas as regras de medição do

Laboratório Nacional de Engenharia Civil, “Medições em Construção de Edifícios” [28]. Foi

consultado, essencialmente, o capítulo 7 referente a estruturas em betão. Foram aplicadas as regras

de medição indicadas para Sapatas (07.1.4), Pilares (07.1.8), Lintéis (07.1.9) e Armaduras (07.3.1)

Como os elementos do caso de estudo tinham formas geométricas simples, a regra de

medição utilizada para os três primeiros elementos corresponde simplesmente à multiplicação das

três dimensões que definem o volume de cada elemento. A medição deve ser realizada a partir das

formas geométricas definidas, não sendo deduzidos os seguintes volumes:

Armaduras;

Aberturas até 0.10 m3;

Reentrâncias até 0.15m de comprimento do perfil;

Chanfros até 0.10m de comprimento do perfil.

Existem ainda regras específicas para cada elemento, como no caso dos pilares, em que a

altura do pilar é medida entre as faces superiores das lajes ou vigas. No caso dos lintéis, o

comprimento é medido entre as faces dos pilares.

Por interpretação da planta de fundações fornecida, obtiveram-se as quantidades das

sapatas, dos lintéis e dos pilares. A Figura 26 ilustra o modo de registo da quantificação dos

elementos de fundação, por inscrição manual dos valores que vão sendo obtidos, junto a cada

elemento.

Adicionando todos os valores registados sobre a planta, obtém-se o volume de 119,57 m3

como a quantidade de betão necessária, para a construção das sapatas. Para a realização desta

tarefa foram despendidos cerca de 25 minutos. A medição de sapatas é um processo simples, pois

apresenta uma projeção retangular em planta, com as respetivas dimensões cotadas e uma altura

também indicada junto à sua representação. A altura dos pilares começa no topo da sapata, pelo que

não existe duplicação de volumes no cálculo de quantidades. O volume resulta do produto das suas

dimensões.

O pilar, devido à sua forma geométrica quase sempre constante, com uma seção transversal

retangular ou quadrangular, tem uma regra de medição bastante simples, que consiste em multiplicar

Page 60: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

52

as três dimensões do elemento. Para efeitos de quantificação e como não altera o objetivo deste

trabalho, a altura do pilar foi admitida com 3 metros, sendo idêntica para todos os pilares do projeto.

Ao somar o volume de cada pilar, obtém-se que a quantidade de betão necessária para os pilares é

de 33,31 m3 e o tempo despendido nesta tarefa foi de 35 minutos.

No caso dos lintéis, a quantidade de betão necessária, é de 108,24 m3, e o tempo despendido

foi de uma hora. A medição do volume de cada lintel tem uma dificuldade acrescida. Pois, apesar da

seção dos lintéis ser constante, o seu comprimento é distinto, sendo necessário conhecer o seu valor

em cada situação. O comprimento considerado foi admitido entre as faces dos pilares extremos em

cada alinhamento. Como o comprimento de cada elemento não é cotado no desenho, foi necessário

recorrer ao sistema AutoCAD, aceder ao ficheiro .dwg e retirar, para cada lintel, a dimensão

pretendida. Esta tarefa aumenta o tempo despendido na quantificação manual.

A regra de medição para as armaduras consiste em determinar o comprimento dos varões,

considerando os levantamentos, os ganchos de amarração e as sobreposições, quando estes

estiverem assinaladas no projeto. A necessidade de se verificar, sobre os desenhos do projeto, todos

os comprimentos das armaduras, aumentou o tempo despendido e a dificuldade deste processo. No

total, o tempo despendido foi de 90 minutos e a quantidade de armadura necessária é de 4.239 kg

Este processo foi bastante moroso pois foi necessário contabilizar as armaduras superior e inferior de

cada sapata, utilizando os desenhos de pormenorização.

Na Tabela 4 encontra-se um excerto do ficheiro excel utilizado para auxiliar a medição das

armaduras de cada sapata, diferenciando a armadura superior da inferior (quando aplicável). Na

tabela podem observar-se quatro células com uma coloração de preenchimento distinta. Estas células

foram marcadas quando a armadura tinha dobragens identificadas nos desenhos do projeto, e a

razão para esta diferenciação é que, devido a experiência prévia, o maior problema na medição

automática de armaduras é as dobragens dos varões, permitindo assim uma comparação adicional.

Na tabela 5 podem observar-se as quantidades obtidas e o respetivo tempo despendido. A

obtenção de quantidades, seguindo a forma tradicional, por leitura direta dos desenhos, demorou

cerca de 3,5 horas. Este tempo não contabiliza a parte da elaboração do projeto que foi desenvolvido

anteriormente.

Relativamente à medição de armaduras, devido às dificuldades encontradas na modelação

BIM das armaduras das sapatas, nomeadamente, em relação à definição correta do comprimento dos

ganchos, optou-se por realizar apenas a medição das armaduras das sapatas. Não se efetuou a

armação de lintéis e de pilares no modelo BIM, pois o processo de modelação requer um

considerável gasto de tempo e os resultados iam ser bastante díspares entre o método tradicional e o

BIM. Por exemplo, a modelação de armaduras na zona de interseção entre o pilar e o lintel

necessitou de bastante tempo para verificar todos os ganchos e estribos, o que leva a um gasto de

tempo elevado quando comparado com o método tradicional. No entanto, se a modelação de

armaduras, pelo método BIM sofrer desenvolvimentos que permitam uma modelação mais precisa, a

medição automática de aço poderá ter ganhos significativos quando comparado com a medição

tradicional. Assim, pelas razões acima indicadas, neste trabalho são comparados os volumes de

betão de elementos de fundação e a quantidade de armaduras, apenas, das sapatas.

Page 61: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

53

Figura 26 – Obtenção do volume de betão das sapatas

Page 62: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

54

Tabela 4 - Método tradicional de medição de armaduras

Sapata Armadura Direção ø Aço Nº de

varões Comprimento

(cm)

Área Seção (cm2)

Massa (kg/m)

Peso (kg)

P1

Superior Normal 16 12 190 2,01 1,58 36,02

Transversal 16 8 270 2,01 1,58 34,13

Inferior Normal 16 12 190 2,01 1,58 36,02

Transversal 16 8 270 2,01 1,58 34,13

P2 e P5

Superior Normal 12 9 130 1,13 0,89 10,39

Transversal 12 7 190 1,13 0,89 11,81

Inferior Normal 12 9 130 1,13 0,89 10,39

Transversal 12 7 190 1,13 0,89 11,81

P3, P4 e P6

Superior Normal

Transversal

Inferior Normal 12 9 154 1,13 0,89 12,31

Transversal 12 11 214 1,13 0,89 20,90

P7

Superior Normal

Transversal

Inferior Normal 12 6 134 1,13 0,89 7,14

Transversal 12 6 134 1,13 0,89 7,14

Tabela 5 - Quantidades e tempo despendido

Elemento Tempo despendido (min) Quantidade medida Material

Sapatas 25 119,52 m3

Betão Pilares 35 33,31 m3

Lintéis 60 102,53 m3

Armaduras das Sapatas

90 4239 kg Aço

Total 210

6.2. Método BIM

O processo de obtenção de quantidades, a partir do modelo BIM criado, é completamente

automático. O Revit tem funcionalidades que permitem a criação de tabelas com as quantidades de

cada elemento e a sua exportação em vários formatos.

Geração de Tabelas

As tabelas de quantidades dos elementos, representados no modelo, são obtidas através da

opção “Schedules”, incluída na barra de comandos do Revit (Figura 27). Para a geração de uma

tabela é, posteriormente, selecionada a opção “New Schedule”. A correspondente janela permite

Page 63: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

55

selecionar o tipo de elemento que se pretende quantificar. A Figura 28 ilustra a lista de categorias

disponíveis.

Figura 27 - Comando “Schedules” no Separador “View”

Figura 28 - Escolha do tipo de elemento a quantificar (Passo 1)

Selecionada a opção de categoria e indicada uma designação para a tabela a criar, são de

seguida, escolhidas as propriedades que se pretendem incluir. Por exemplo, o tipo de elemento, a

sua área ou volume, o material e outras. Nesta interface deve indicar-se a opção de soma de todos

os volumes ou pesos de cada elemento para a obtenção de quantidades globais. A Figura 29 ilustra a

janela de propriedades.

Selecionadas as propriedades, é solicitada a criação da respetiva tabela, com a informação

escolhida. A tabela requerida para a quantificação de sapatas, pertence à categoria “Structural

Foundation” e a designação “Name” atribuída foi “Lista de Sapatas”. Relativamente aos lintéis,

selecionou-se a categoria “Structural Beams” e atribuiu-se a designação “Lista de Lintéis”.

Relativamente aos pilares, selecionou-se a categoria “Structural Columns” e atribuiu-se a designação

“Lista de Pilares”. No caso das armaduras, a categoria selecionada é “Structural Rebar”, sendo que

como apenas se pretendem contabilizar as armaduras nas sapatas, não é necessário utilizar

nomenclaturas para separar as armaduras de diferentes elementos.

Page 64: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

56

Figura 29 - Escolha das propriedades (Passo 2)

A Tabela 6 lista as quantidades relativas às sapatas. A lista contém a designação de cada

tipo de sapata e o seu número no projeto, o material atribuído e o volume calculado. A tabela

apresenta ainda o valor total de betão contabilizado para as sapatas que é de 119,43 m3. Como as

sapatas estão agrupadas pela designação atribuída no processo de modelação, pode conhecer-se a

quantidade de sapatas que existem de cada tipo. Esta informação apoia, por exemplo, o planeamento

da preparação de cofragens, fornecendo o comprimento e largura da sapata, para definir a

quantidade de cofragem necessária para os diferentes tipos de sapata. O processo da obtenção da

tabela demorou cerca de 5 minutos.

A Tabela 7 identifica o resultado referente à quantificação do volume de betão para os lintéis.

Obteve-se um volume total necessário de 103,11 m3. Pode verificar-se que o tipo de lintel apenas

identifica a sua seção transversal. O seu comprimento é considerado caso a caso, retirado

diretamente do modelo. O Revit calcula o comprimento de cada lintel entre os eixos dos pilares de

extremidade. Nesta tabela optou-se por não apresentar o comprimento de cada lintel pois tornava

impossível agrupar os lintéis pela seção transversal, tornando a lista menos legível.

A Tabela 8 representa o resultado referente à quantificação do volume de betão necessário

para os pilares. Foi admitida uma altura constante de 3 metros, pelo que cada tipo de pilar é

identificado pela sua seção transversal, como no caso dos lintéis. Como os pilares foram os primeiros

elementos a ser modelados, e foi definida a sua altura limitada entre dois níveis, esta medida é

sempre calculada com base na distância entre os dois níveis. No caso de se estudarem alternativas

ao projeto, que imponham modificações da altura dos pilares, apenas é necessário corrigir a cota de

alguns dos níveis para que todos os pilares sejam automaticamente ajustados. Solicitada a

atualização da tabela de pilares, os valores são automaticamente corrigidos. Como se pode observar

na tabela, o volume total de betão, necessário para os pilares, é de 33.31 m3.

Page 65: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

57

Tabela 6 – Lista de Sapatas

Tabela 7 – Lista de Lintéis

Tabela 8 - Lista de Pilares

É possível utilizar uma identificação personalizada para cada pilar, como por exemplo, utilizar

siglas como P1 e P2. Esta diferenciação permite, no processo de quantificação, diferenciar dois

pilares que tenham a mesma seção transversal. Qualquer elemento do modelo pode ser identificado

individualmente. Com vista à orçamentação ou planeamento da obra, este tipo de identificação deve

ser efetuado durante o processo de modelação.

A Tabela 9 lista as quantidades necessárias de aço para cada sapata, englobando as

armaduras superior e inferior, nas duas direções. Utilizou-se uma nomenclatura em cada armadura

Page 66: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

58

referente à sapata à qual pertenciam P1, P2, P3. Optou-se por manter a identificação utilizada no

projeto, ao invés de utilizar S1, S2, S3, para facilitar a comparação de quantidades. Desde modo é

facilitada a identificação das mesmas no modelo e permite agrupar todas as armaduras da mesma

sapata, no mapa de quantidades. Do mesmo modo, as sapatas do corpo B do projeto são

identificadas com “-B” depois do seu número. O peso total de aço necessária para as sapatas foi de

4199,03 kg.

Tabela 9 - Lista de Armaduras das Sapatas

Page 67: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

59

6.3. Comparação de resultados

A tabela 10 apresenta os valores obtidos pelos dois métodos. Em relação às sapatas e aos

pilares, pode verificar-se que o resultado é igual, pois a medição em ambos os casos é um processo

simples devido à forma geométrica dos elementos, pelo que os resultados obtidos pelos dois métodos

são equivalentes, pois a medição tradicional utiliza os mesmos parâmetros que os utilizados pelo

Revit.

Tabela 10 – Obtenção de quantidades (tradicional e automática)

Elemento Método tradicional

(m3)

Método BIM

(m3) Diferença

Sapatas 119,52 m3 119,52 m3 0,00 m3

Lintéis 102,53 m3 103,11 m3 0,58 m3

Pilares 33,31 m3 33,31 m3 0,00 m3

Armaduras 4239 kg 4199,03 kg 39,97 kg

No caso dos lintéis, a diferença não é significativa. A justificação para este resultado é que o

projeto tem interseções entre os pilares e os lintéis pouco comuns, onde o lintel envolve o pilar e

segundo as regras de medição [28], não é contabilizado o betão exterior ao pilar que não tem um

lintel no seguimento, como podemos observar no pormenor da Figura 30.

Figura 30 - Interseção entre o pilar e o lintel

Page 68: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

60

No caso das armaduras, a diferença verificada é causada pelo comprimento das dobras,

comprovado com a comparação manual entre os dois métodos. Esta situação pode ser corrigida no

Revit, mas apenas se for criado um novo objeto para cada armadura, solução que introduz um

aumento considerável de tempo de modelação sem, contudo, alterar significativamente os resultados.

A diferença entre os dois métodos é inferior a 1%, pelo que, se se considerar os desperdícios

existentes no processo de armação, pode a diferença verificada ser desprezada.

Em termos de tempo despendido no traçado de desenho do projeto (método tradicional) e de

modelação (método BIM), não é possível apresentar valores comparativos, pois o projeto foi

fornecido. No entanto, em relação ao dispêndio de tempo com a tarefa de obtenção de mapas de

quantidades, o método BIM é bastante mais rápido, como se pode observar na Tabela 11.

Tabela 11 - Tempo gasto na obtenção de mapas de quantidades

Quantificação

Método Tempo (min)

Tradicional 210

BIM 10

É importante referir que, utilizando apenas alguns minutos, é possível estudar uma alternativa

para efeitos de comparação e análise ao projeto. As tabelas obtidas no Revit serão automaticamente

atualizadas, fornecendo resultados instantâneos sem necessitar de medições adicionais. O processo

de elaboração de desenhos de alteração ao projeto requer tempo acrescido de desenhadores, pois é

necessário verificar a conformidade entre desenhos. Esta mais-valia do BIM pode trazer grandes

benefícios ao processo de análise de diversas soluções alternativas. A utilização da informação

contida no modelo BIM, para efeitos de obtenção de quantidades, é considerada uma das atividades

com um maior potencial para o retorno do investimento.

6.4. Condicionantes e limitações

A geração de um modelo BIM requer aprendizagem e treino de forma a que o utilizador

adquira o conhecimento e a prática suficiente para que conceber propostas, interpretar e adicionar

informação e obter resultados, com base na metodologia, seja um recurso essencial ao

desenvolvimento do seu trabalho. O presente trabalho alertou para algumas limitações que devem

ser conhecidas e ilustrou como a ferramenta BIM utilizada interpreta a modelação de elementos e a

sua medição. O processo de criação do modelo BIM adequado para efeitos de obtenção de

quantidades pode ser um processo bastante moroso, e se o utilizador é um iniciante, o processo de

aprendizagem requer uma considerável quantidade de tempo. A adaptação a esta nova metodologia

pode, inicialmente, não trazer benefícios visíveis, a um curto prazo, o que pode afastar potenciais

interessados por não visualizarem um retorno quase instantâneo. É necessário pois, algum grau de

conhecimento para a utilização de um software BIM para se conseguir usufruir de todas as suas

Page 69: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

61

potencialidades, reduzir o tempo de criação do modelo e conseguir utilizar a sua informação para

diversas aplicações.

O investimento inicial, que envolve licenças de software, novo hardware e a formação dos

colaboradores da empresa, é também uma condicionante limitativa ao sucesso da implementação

BIM, pois o retorno do investimento só será atingido a longo prazo.

Como referido, um modelo BIM, direcionado para a obtenção de quantidades, deve seguir

regras de modelação que viabilizem o uso BIM. Se as boas práticas não forem rigorosamente

consideradas, os resultados obtidos do modelo podem não ser corretos. Isto limita os outros usos

para o modelo, como, por exemplo, a visualização 3D que pode não ser uma representação fiel da

realidade devido às adaptações para o uso referido.

A pormenorização de armaduras no Revit é um processo difícil e pouco user-friendly, apesar

de todas as aplicações adicionais já desenvolvidas e incorporadas nos softwares BIM. Como o

processo de modelação de armaduras por elemento é ainda bastante trabalhoso e apresenta

algumas limitações na definição de parâmetros, como exemplificado no caso de estudo, as

quantidades obtidas referentes a estes elementos fica bastante comprometida na metodologia BIM. A

medição BIM do aço das armaduras fornece um resultado que pode não ser o correto e este

componente é bastante importante na estimativa de custo global da obra. Assim as armaduras

constituem uma limitação à utilização da medição automática, por não devolver resultados coerentes.

Se forem estudadas alternativas ao projeto, a obtenção de quantidades do Revit traz

vantagens, pois as tabelas são atualizadas automaticamente após cada alteração imposta ao modelo

BIM. Adicionalmente, o mapa de quantidades pode ser transposto para um programa especializado

em orçamentação, de forma a fornecer toda a informação normalmente requerida pelo utilizador, e

eventualmente estabelecendo a ligação ao planeamento da obra, criando modelos 4D. O Revit

admite o arquivo de ficheiro de quantidades em formato .xls (Excel) e possibilita fazer a transposição

para aplicações atuais de orçamentação.

Page 70: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

62

7. CONCLUSÃO

Este capítulo sintetiza os principais aspetos abordados no desenvolvimento deste trabalho,

identifica as contribuições mais relevantes para a atividade de medição de quantidades na Indústria

da construção e refere as limitações encontradas na utilização das ferramentas BIM.

O desenvolvimento do caso prático facilitou a perceção das vantagens e limitações da

implementação da tecnologia BIM no campo da medição de quantidades e estimativa de custos de

obras. A aprendizagem sobre o uso de ferramentas BIM dirigida ao caso específico da obtenção de

quantidades, revelou que a aplicação utilizada permite a obtenção de resultados precisos e de uma

forma eficiente, com um menor gasto de tempo na sua realização. No entanto, como referido no

estudo, o tempo gasto a realizar um modelo específico para este uso pode ser elevado, se o utilizador

não estiver familiarizado com a ferramenta BIM. Este aspeto deve ser ponderado, de forma a ser

benéfico para a empresa. Com a experiência adquirida com projetos-piloto, a transição do método

tradicional para o método automático deve ser gradual e com consciência dos cuidados a ter com o

processo de modelação. No futuro, a vantagem competitiva pode compensar o investimento inicial ao

utilizar BIM, podendo elevar a cota da empresa no mercado.

Conclui-se que a adoção da metodologia BIM para realizar a medição de quantidades é

vantajoso, em substituição do método tradicional. Porém, os custos iniciais são elevados e o retorno

do investimento não é imediato, dependendo da rapidez de adaptação à nova metodologia. A longo

prazo, a adoção BIM e a utilização de todos os seus usos traz benefícios significativos.

7.1. Contribuições do estudo

Foi possível comprovar, através do caso prático, que a medição de quantidades automática

através da metodologia BIM produz resultados precisos na estimativa de custo de um projeto. No

caso analisado, dirigido à especialidade de estruturas e apenas à zona das fundações do edifício,

obteve-se uma redução substancial de tempo para obter as quantidades de material.

A elaboração do modelo não cumpriu os requisitos de nenhuma norma existente, tendo

seguido apenas regras de modelação que orientaram a elaboração do modelo para uma

quantificação precisa e eficiente. A criação de normas obrigatórias é o próximo passo para uma

implementação BIM no país, e para uma homogeneização dos modelos apresentados de forma a

facilitar a troca de informação entre todos os intervenientes.

Foi possível comprovar que os mapas de quantidades obtidos a partir da quantificação

automática são precisos e não são afetados pelo erro humano. Embora, os erros humanos possam

acontecer na parte da modelação, pelo que se deve garantir que a modelação é executada seguindo

os critérios de modelação previamente estabelecidos, para não fornecer resultados incorretos.

Comprovou-se, através da aplicação do caso de estudo, que existem benefícios a longo prazo que

devem compensar o investimento inicial, mas é requerida uma constante aprendizagem e

acompanhamento por parte da empresa. Não é desejável que seja adotada a metodologia BIM num

projeto e depois, por falta de reconhecimento de benefícios imediatos, se volte a utilizar o método

Page 71: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

63

tradicional nos projetos seguintes, pois esta atitude leva a que a implementação não seja bem-

sucedida e a custos elevados sem retorno.

O estudo revelou a importância de automatizar processos e de acompanhar a tecnologia na

sua evolução. Métodos mais eficientes permitem melhores rendimentos, custos inferiores e

resultados mais precisos. No estado em que se encontra a indústria no país, qualquer método

comprovado que reduza custos será uma mais-valia competitiva em relação à concorrência, e deve

ser estudada a possibilidade de adoção por todas as empresas.

A presente dissertação apresenta alguns passos que devem ser tomados pela indústria para

que a adoção da metodologia BIM seja uma realidade, como por exemplo, a criação de normas

nacionais, formação de profissionais qualificados e exigência da utilização do BIM em contratos

públicos.

Através do caso de estudo ficou comprovado que a obtenção de quantidades é um uso BIM

com grande potencial e que pode facilmente ser adotado depois da criação do modelo para efeitos de

visualização, com as devidas adaptações. Porém, a utilização do BIM, apenas para este uso, não é

aconselhada, visto que o tempo gasto na modelação pode ser superior ao tempo gasto a obter

quantidades manualmente. Assim, é aconselhável utilizar a metodologia BIM para diferentes usos,

como a visualização e a deteção de conflitos, e adaptar este modelo para obter mapas de

quantidades precisos. A utilização da metodologia BIM apenas para quantificação deve ser alvo de

uma avaliação cuidada para não ter o efeito contrário ao pretendido (aumento de custos).

7.2. Limitações

O caso prático apenas abordou a especialidade de fundações, e apesar da variedade de

elementos, estes eram simples e de fácil modelação. Uma estrutura mais complexa e com mais

especialidades irá certamente aumentar o tempo de modelação necessário, exigindo um maior

conhecimento do software por parte do modelador. No entanto, os benefícios retirados de um projeto

mais complexo serão certamente superiores.

O projeto estrutural foi realizado de maneira tradicional, e não foi possível obter os tempos de

cada tarefa, pelo que não foi possível comparar o tempo de realização do projeto entre o método

tradicional e o método BIM.

A modelação de armaduras e a sua medição é um processo pouco intuitivo e que não obtém

os resultados esperados nas primeiras tentativas. Isto prende-se com o facto de a modelação manual

de cada armadura, sem recurso a aplicações específicas, ser um processo bastante moroso e

propenso a erros, enquanto que a utilização de extensões para modelar cada elemento, cria

limitações como o comprimento das dobragens, comprovado no caso de estudo. É importante

salientar que, se as empresas de software otimizarem a modelação e a medição deste elemento, será

possível realizar uma medição de quantidades de armaduras correta e precisa.

Os elementos modelados são simples, pelo que a sua medição foi de fácil execução e os

resultados foram precisos. No entanto, no caso de estruturas mais complexas e especialidades que

envolvam formas geométricas não tradicionais, pode levar a resultados errados devido às limitações

do software, e a regras de medição mais profundas, pelo que o resultado não deve ser tão exato

Page 72: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

64

como o apresentado [3]. O adiamento da realização da obra devido a problemas financeiros não

permitiu a comparação das quantidades reais com as quantidades calculadas no projeto.

O processo de quantificação de mão-de-obra e de equipamentos, assim como a

orçamentação total de um projeto não foram abordados e os resultados apresentados podem não ser

semelhantes para diferentes tipos de medição.

Algumas empresas portuguesas estão a iniciar projetos-piloto que irão permitir agilizar a

implementação BIM, especialmente os gabinetes de projeto e empreiteiros. A sua implementação

ainda é lenta, devido ao baixo investimento disponível para novas tecnologias por parte das

empresas, à crise no setor nos últimos anos e à resiliência em mudar os métodos de trabalho

estabelecidos na empresa. No entanto, o envolvimento de empresas nacionais em projetos

internacionais, requer o uso de BIM, pelo que o setor nacional deve atualizar a sua tecnologia nesse

sentido, de forma a manter-se competitivo internacionalmente.

7.3. Desenvolvimentos futuros de trabalho

Como trabalhos futuros considera-se de interesse a aplicação da medição automática a

diferentes especialidades e com diferente nível de complexidade, assim como utilizar a metodologia

BIM para uma completa quantificação em fase de projeto, com medição da mão-de-obra e dos

equipamentos necessários, entre outros. Acompanhar o método tradicional desde o início do projeto

até à sua conclusão, e comparar os tempos entre o projeto tradicional e a modelação BIM é essencial

para determinar a viabilidade da obtenção de quantidades como único uso. A comparação destes

resultados com uma obra que esteja a decorrer, para ter em conta o valor real das quantidades

utilizadas e comparar com as obtidas no projeto, é um estudo com bastante interesse. É também

importante estudar o papel do orçamentista na estrutura da equipa BIM, em que fase é essencial a

sua opinião e participação. A adaptação de uma empresa para utilizar a obtenção de quantidades

automática é um aspeto interessante para futuras pesquisas, abordando as alterações necessárias à

empresa, os custos inerentes e a criação de novos postos de trabalho. A ligação dos resultados

obtidos com programas de orçamentação utilizados atualmente será uma linha de investigação

interessante, permitindo estudar alternativas ao processo de orçamentação, quer seja do cliente ou

do empreiteiro. Estudar a possibilidade de as entidades públicas se envolverem no processo, seja a

exigir a utilização do BIM enquanto clientes ou a facilitar a sua adoção, criando normas e plataformas.

As universidades também têm um papel preponderante ao formar profissionais com o conhecimento

necessário para implementar o BIM nas empresas. A tecnologia BIM deve apoiar-se em bases

sólidas para que a sua integração no panorama nacional seja o mais eficaz possível. A normalização

é essencial para atingir esse objetivo e facilitar as empresas no seu processo de implementação, pelo

que a avaliação do estado da normalização em Portugal é um projeto interessante.

Em síntese, ainda existe muito trabalho para que a implementação BIM em Portugal seja uma

certeza, assim como a sua utilização para o processo de obtenção de quantidades. Os primeiros

passos já foram tomados.

Page 73: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

65

BIBLIOGRAFIA

[1] Seul-Ki, L. et al, BIM and ontology-based approach for building cost estimation, Automation in

Construction, 41, pp 96-105, 2014.

[2] Parreira, J.P., Implementação BIM nos processos organizacionais em empresas de construção –

um caso de estudo, Dissertação Mestrado. Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova

de Lisboa, 2013.

[3] Monteiro, A., Martins, J.P., A survey on modeling guidelines for quantity takeoff-oriented BIM-

based design, Automation in Construction, 35, pp 238-253, 2013.

[4] Shen, Z., Issa, R.R.A., Quantitative evaluation of the BIM-assisted construction detailed cost

estimates, Journal of Information Technology in Construction (ITcon), Vol.15, pp 234-257, 2010.

[5] Laiserin, J., Comparing Pommes and Naranjas, The Laiserin Letter, Issue 15, 2002

[6] Smith, D.K., Tardif, M., Building Information Modeling : a strategic implementation guide for

architects, engineers, constructors, and real estate asset managers, John Wiley & Sons, Inc.,

Hoboken, New Jersey, 2009, ISBN 978-0-470-25003-7

[7] BIMForum Portugal, http://www.bimforum.com.pt/, Consultado em Abril de 2014.

[8] BIMCLUB, http://bimclub.pt/, Consultado em Abril de 2014.

[9] Curso BIM, http://www.cursobim.com/, Consultado em Junho 2015.

[10] Instituto Português da Qualidade, http://www1.ipq.pt/PT/, Consultado em Janeiro 2016.

[11] Plataforma Tecnológica Portuguesa da Construção, http://www.ptpc.pt/index.php/pt/, Consultado

em Janeiro 2016.

[12] Vanlande, R. et al, IFC and Building lifecycle management, Automation in Construction, 18, pp

70-78, 2008.

[13] Santos, E.T., Building Information Modeling and Interoperability, SIGraDI 2009 – Do Moderno ao

Digital: Desafios de uma Transição (16 a 18 de Novembro), 2009

[14] Grilo, A., Jardim-Gonçalves, R., Value proposition on interoperability of BIM and collaborative

working environments, Automation in Construction, 19, pp 522-530, 2010

[15] Bazjanac, V., Early lessons from deployment of IFC compatible software, Presented at the

European Community Product and Process Modeling Conference (ECPPM 2003), 2002.

[16] BuildingSMART Finland, COBIM – Common BIM Requirements, Series 1 - 12, 2012

[17] National Institute of Building Sciences BuildingSMART aliance, NBIMS- US : National BIM

Standard – United States, Version 2, 2011.

[18] Smith, P., BIM & the 5D Project Cost Manager, Social and Behavioral Sciences, 119, pp 475-484,

2014.

[19] Forgues, D. et al, Rethinking the Cost Estimating Process through 5D BIM: a Case Study,

Construction Research Congress, ASCE, 2012.

Page 74: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

66

[20] Alves, L et al, Elementos de apoio a aulas das disciplinas da área temática da Gestão da

Construção - Mestrado Integrado em Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico, Fevereiro 2016

[21] Monteiro, A., Martins, J.P., BIM Modeling for contractors – Improving model takeoffs, Proceedings

of the CIB W78: International Conference, Beirut – Lebanon, 2012.

[22] Björk, B-C., Laakso, M., CAD standardisation in the construction industry – A process view,

Automation in Construction, 19, pp 398-406, 2010.

[23] Vries, H. Advanced Topics in Information Technology Standards and Standardization Research,

Volume 1, Idea Group Publishing, Hershey, PA, United States of America, 2005, ISBN 978-1-591-

40938-0.

[24] Laakso, M., Kiviniemi, A., The IFC Standard – a Review of History, Development, and

Standardization, ITcon, 17, pp 134-161, 2012.

[25] Menezes, G.L., Lelis, R.L., Desafios da Padronização Nacional de Componentes BIM, IX

Congresso de Iniciação Científica do IFRN, 2013.

[26] Miettinen, R., Paavola, S., Beyond the Bim utopia: Approaches to the development and

implementation of building Information modeling, Automation in Construction, 43, pp 84-91, 2014.

[27] The American Institute of Architects, Document G202 – 2013, 2013.

[28] Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Medições em Construção de Edifícios, LNEC, Lisboa,

1983.

[29] Orçamentos, http://orcamentos.eu/project/precos-de-betao-pronto/, consultado em junho 2015.

[30] Mendes, N. Estrutura de Custos de Edifícios de Habitação, Dissertação Mestrado. Instituto

Superior de Engenharia de Lisboa, 2011.

Page 75: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

A.1

A. ANEXOS

Anexo A

Entrevista

Implementação BIM

Pergunta 1: Qual considera ser a melhor forma de implementação BIM na indústria AEC e

quais os passos a considerar (Governo, entidades responsáveis, empresas, universidades)

para que a utilização BIM seja uma realidade?

Professor João Martins (JM): As universidades devem, inicialmente, formar novos profissionais e

apostar na investigação nessa área, devido à escassez de profissionais e à indefinição do papel do

BIM nos processos de trabalho.

As entidades ligadas à indústria devem definir uma "estratégia BIM", que deve incluir

objetivos tecnológicos mensuráveis, como o desenvolvimento de normas ou implementação de

plataformas eletrónicas para submissão de projetos. Devem criar condições para que qualquer

empresa do sector possa adotar o BIM. Podem também adotar uma postura mais interventiva,

tornando obrigatória a utilização do BIM em determinadas obras.

No caso das empresas, devem estar atentas ao desenvolvimento tecnológico e às exigências

do mercado, devendo enquadrar o BIM no âmbito de uma estratégia mais ampla. Existem mercados

onde os clientes exigem a entrega de projetos em BIM pois serão ferramentas de gestão importantes

durante a sua utilização. Algumas empresas irão adotar o BIM por exigência do mercado, enquanto

outras irão reconhecer as vantagens que o BIM introduz nos processos de trabalho.

Professor Eduardo Santos (ES): A estratégia com melhores resultados tem sido o envolvimento de

entidades governamentais no processo, como clientes BIM. A exigência de projetos em BIM gera

importante demanda no mercado e é capaz de motivar e movimentar as empresas do sector a se

capacitarem para atendê-la. É preciso que as entidades governamentais se capacitem para saber o

que exigir aos fornecedores e também como utilizar e beneficiar do BIM nas obras.

P2: O que falta ao seu país para se atingirem maiores taxas de implementação BIM?

JM: Dinheiro e obras!

Existe um grande interesse à volta deste tema. As empresas já conhecem o BIM e as suas

vantagens, muitas já usam em algumas das suas tarefas. A implementação do BIM será gradual e

natural, à medida das exigências colocadas às empresas do sector que operam por todo o mundo.

ES: Maior demanda do cliente; bibliotecas de componentes BIM de produtos nacionais; demanda

de entidades governamentais; ensino de BIM nas faculdades de Arquitetura e Engenharia Civil;

capacitação dos profissionais já no mercado; conscientização dos dirigentes das empresas sobre o

que é realmente o BIM e quais são as suas vantagens.

Page 76: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

A.2

Normalização

P3: Um dos maiores desafios do BIM é a falta de normas oficiais. Qual a sua opinião sobre

o assunto?

JM: Concordo. A interoperabilidade não se esgota no desenvolvimento de formatos de ficheiros

como o IFC: os modelos têm que ser definidos de acordo com as regras comuns, ou serão inúteis no

processo de desenvolvimento colaborativo.

ES: As normas têm um papel importante para fomentar o uso do BIM, facilitando a sua

implantação e favorecendo a exploração do BIM em todo o seu potencial

P4: Se forem criadas normas oficiais no País, estas devem seguir as normas existentes no

país para os processos construtivos (Quantificação/Orçamentação) ou devem ser criadas

normas baseadas nas normas BIM existentes em países mais avançadas na metodologia

(Reino Unido, Finlândia)?

JM: As normas "pré-BIM" nem sempre se adequam aos processos automáticos. Várias normas

não podem ser alvo de avaliações subjetivas ou que não conseguem cobrir todos os casos práticos

existentes. É útil que as normas existentes sirvam de base, mas devem sofrer alterações profundas.

A harmonização de normas a nível internacional é uma exigência prática num sector onde a

internacionalização é uma realidade.

No caso de Portugal, como não existem normas obrigatórios na medição, a resposta a essa

questão é mais óbvia que nas outras áreas.

ES: Na elaboração de normas BIM nacionais devem ser estudadas as experiências e documentos

elaborados em outros países, porém sempre adaptando-os à realidade nacional.

P5: Que cuidados se devem ter na elaboração de uma norma BIM para a Q/O?

ES: É importante garantir a participação de utilizadores BIM experientes na elaboração de

normas, manter a sua compatibilidade com as outras normas e garantir que é viável e pode ser

cumprida com os principais aplicativos do mercado.

P6: No Brasil estão a ser criadas normas que vão ajudar na criação de Bibliotecas

dependendo do uso BIM (Projeto do Professor Eduardo Santos). Pensa que é mais importante

criar normas que forneçam diretrizes para a criação de Bibliotecas que possam ser utilizadas

por todos, como no caso brasileiros, ou seria preferível a criação de normas que

enumerassem todas as propriedades que os objetos BIM devem ter, deixando assim a

conceção das bibliotecas para os utilizadores?

Page 77: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

A.3

JM: Não conheço essas normas.

Neste momento, é mais útil estabelecer consensos relativamente às características dos

modelos do que às dos objetos. As exigências impostas aos objetos devem permitir o cumprimento

de objetivos mais amplos, que devem ser desenvolvidos primeiros.

ES: As duas alternativas não são mutuamente excludentes. A melhor alternativa para uma norma

de componentes BIM é especificar os requisitos dos componentes a partir do uso que se fará ao

modelo ao invés de enumerar as propriedades para cada tipo de componente.

Futuro da Q/O BIM

P7: O que ainda falta, tecnologicamente, à Q/O BIM? Que limitações existe, atualmente,

para que o processo possa ser generalizado?

PM: Penso que não falta nada que impeça a sua implementação. As ferramentas que existem já

permitem obter benefícios.

A nível nacional, penso que o maior obstáculo se prende menos com os aspetos relacionados

com o BIM do que com a carência da normalização na construção. Por exemplo, os Mapas de

Quantidades de Trabalho (MTQ). Um modelo é composto por instâncias de objetos que têm de ser

associados a artigos de um MTQ. Se, em cada nova obra a estrutura destes artigos for distinta, a

complexidade desta tarefa cresce drasticamente.

ES: A quantificação é um processo simples, desde que o modelo tenha sido construído de

maneira adequada para esse processo. A maioria das empresas não tem essas diretrizes de

modelagem. Os aplicativos atuais são suficientes para realizar uma quantificação precisa.

P8: Qual será o futuro da Q/O BIM, e que entidades podem ter um papel importante para o

aumento do uso BIM?

JM: Será um processo mais transparente para o utilizador BIM e cada vez melhor integrado nos

seus processos e ferramentas de trabalho habituais. É uma das aplicações mais interessantes, e

também uma das que mais depende do estabelecimento de regras de modelação e de organização

de informação.

O sucesso da Q/O será sempre o resultado do trabalho em conjunto das organizações que

intervêm neste sector.

ES: A Quantificação é um dos usos mais básicos do BIM e que um computador consegue

desempenhar com velocidade e precisão. A tendência é para que esse uso cresça na mesma

proporção que a adoção BIM. Mas não é vantajoso modelar um projeto apenas para a Q/O, pois pode

ser mais lento e custoso que o processo tradicional. Este uso crescerá juntamente com os demais

usos BIM, mas, provavelmente, não será um fomentador do BIM.

Page 78: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

A.4

Anexo B

Page 79: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

A.5

Page 80: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

A.6

Anexo C

Page 81: Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades...Metodologia BIM no apoio à medição de quantidades Bernardo Ferreira Silva Dissertação para obtenção do Grau de Mestre

A.7