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Escola Superior de Educao Joo de Deus
Mestrado em Cincias da Educao na Especialidade em Educao Especial: Domnio Cognitivo-Motor
Ana Catarina Angera Malveira n306050
outubro 2015
Estratgias para ultrapassar Dificuldades de Aprendizagem
em alunos com PHDA no 2 e 3 ciclo:
Estudo comparativo
II
Escola Superior de Educao Joo de Deus
Mestrado em Cincias da Educao na Especialidade em
Educao Especial: Domnio Cognitivo-Motor
Estratrgias para ultrapassar Dificuldades de Aprendizagem em alunos com
PHDA no 2 e 3 ciclo: estudo comparativo
Ana Catarina Angera Malveira n306050
Dissertao apresentada Escola Superior de Educao Joo de
Deus com vista obteno do grau de Mestre em Cincias da
Educao na Especialidade de Educao Especial: Domnio Cognitivo
e Motor sob a orientao do Doutor Jorge Castro.
Lisboa, 9 de outubro de 2015
III
Resumo
Dificuldades de Aprendizagem em alunos com PHDA no 2 e 3 ciclo: estudo comparativo
O presente projeto de investigao tem como objetivo analisar as alteraes na
Educao Especial ao longo dos tempos e as implicaes destas alteraes no que diz
respeito aos alunos com Perturbao de Hiperatividade e Dfice de Ateno, Assim so
apresentadas e desenvolvidas teoricamente noes bsicas sobre a evoluo da
Educao Especial at atualidade, descrita sucintamente o que a Perturbao de
Hiperatividade e Dfice de Ateno, quais as suas causas e consequncias, tal como os
modos de diagnstico e de tratamento atualmente disponveis.
Para alm disso, e j numa vertente mais prtica, esta investigao tem tambm como
objetivo comparar dois estudos relativos ao apoio escolar de alunos com Perturbao de
Hiperatividade e Dfice de Ateno, as consequncias das suas dificuldades e quais as
estratgias postas em prtica em sala de aula pelos professores, estudos esses
realizados com alunos sinalizados ao abrigo de dois Decretos-Lei distintos.
Em suma, aps reviso da literatura apropriada, primeiramente pretende-se analisar as
estratgias utilizadas em sala de aula, a posio dos professores de alunos com PHDA e
tambm concluir quais as alteraes provocadas nas escolas pelo Decreto-Lei 3/2008.
Neste sentido so ainda analisadas as possveis implicaes na elegibilidade de alunos
com PHDA para apoio de Educao Especial e as consequncias no processo de ensino
de alunos com PHDA, no que diz respeito s estratgias a usar em sala de aula e aos
objetivos de ensino.
Palavras-chave: Educao Especial, Dificuldades de Aprendizagem, PHDA, Estratgias
de Ensino;
IV
Abstract
Learning difficulties in students with ADHD in the 2nd and 3rd cycle: a comparative study
This research project aims to analyze the changes in Special Education throughout the
time and concerning students with Attention Deficit Hyperactivity Disorder, presenting and
developing theoretically basic notions about the evolution of Special Education and
making a brief description of what is Attention Deficit Hyperactivity Disorder, the causes
and consequences, such as the currently available ways of diagnosis and treatment.
Furthermore, and in a practical approach, this research also aims to compare two studies
related to the academic support of students with Attention Deficit Hyperactivity Disorder,
the consequences of their difficulties and what strategies are used by the teachers in the
classroom, being these studies made with students referenced by two distinct Decrees-
Law.
To conclude, after the literature revision, first it is intended to analyze the strategies used
in the classroom, the opinion of teachers of students with ADHD and also the changes
caused by the Decree-Law 3/2008 at schools. Regarding these changings, it is also
analyzed its possible implications for students with ADHD referenced for special education
support and the consequences in the process of teaching students with ADHD,
concerning the strategies used in the classroom and the teaching objectives.
Key-Words: Special Education; Learning Difficulties, ADHD; Teaching Strategies;
V
Um ensino atento e participativo nas desigualdades
construir um futuro de iguais oportunidades
Catarina Malveira
VI
Ao meu marido pelo importante apoio e dedicao.
Aos meus filhos pelas horas que no passei com eles,
Aos meus pais e famlia pelo incentivo e preocupao.
Ao Doutor Horcio Saraiva e ao Doutor Jorge Castro pelo auxlio.
psicloga Cludia Sequeira pela pacincia e interesse.
Ao Doutor Pedro Marques e a todos os professores do Colgio de Albergaria pela
disponibilidade.
A todos pela a ajuda e compreenso.
VII
ndice geral
ndice das figuras ............................................................................................................... IX
ndice dos grficos .............................................................................................................. X
Introduo ............................................................................................................................ 1
Parte I 4
Captulo 1 - Perspetiva Histrica das NEE ........................................................................... 4
1 Perspetiva Histrica das NEE ................................................................................... 5
1.1- Enquadramento Histrico das NEE ........................................................................ 5
1.2- NEE vs Dificuldades de Aprendizagem ............................................................... 12
1.3- Aspetos Histricos da Perturbao de Hiperatividade e Dfice de Ateno ........ 13
Captulo 2 - Perturbao de Hiperatividade e Dfice de Ateno ....................................... 18
2 Perturbao de Hiperatividade e Dfice de Ateno ............................................... 19
2.1- Definio de Perturbao de Hiperatividade e Dfice de Ateno ....................... 19
2.2- Caractersticas .................................................................................................... 20
2.3- Causas ................................................................................................................ 23
2.4- Teorias no comprovadas ................................................................................... 23
2.5- Teoria neurobiolgica .......................................................................................... 24
2.6- Diagnstico ......................................................................................................... 25
2.7- Tratamento .......................................................................................................... 32
Captulo 3 - Estratgias de aprendizagem para alunos com PHDA ................................... 37
3. Estratgias de aprendizagem para alunos com PHDA ............................................ 37
3.1- O processo de ensino e o uso de estratgias de aprendizagem para alunos com
PHDA ......................................................................................................................... 38
3.2- Estratgias organizacionais e de gesto de tempo ............................................. 45
3.3- Estratgias para a memorizao ......................................................................... 46
3.4- Realizao de Testes ......................................................................................... 46
3.5- Estratgias para a aquisio de competncias sociais ....................................... 48
3.6- Estratgias gerais para melhorar o rendimento acadmico de alunos com PHDA
............................................................................................................. 49
VIII
3.6-1. Leitura e escrita ................................................................................................ 49
3.6-2. Estratgias para a oralidade............................................................................. 52
3.6-3. Tecnologias para o desenvolvimento de competncias a nvel da escrita e
leitura/oralidade ......................................................................................................... 53
3.6-4. Matemtica ...................................................................................................... 60
3.6-5. reas de contedo ........................................................................................... 61
3.6-6. Criao de bom ambiente ................................................................................ 61
3.7- Criao de novas estratgias .............................................................................. 64
Parte II ............................................................................................................................... 65
Captulo 4 - Problema de investigao: Estratgias para ultrapassar Dificuldades de
Aprendizagem em alunos com Dfice de Ateno no 2 e 3 Ciclo................................... 65
4. Problema de investigao: Estratgias para ultrapassar Dificuldades de
Aprendizagem em alunos com Dfice de Ateno no 2 e 3 Ciclo................................... 66
4.1- Definio e objetivos do problema de investigao: Estratgias para ultrapassar
Dificuldades de Aprendizagem em alunos com Dfice de Ateno no 2 e 3 Ciclo .. 66
4.2- Contextualizao scio-demogrfica da escola onde foi feito o estudo .............. 67
4.3- Metodologia de anlise de dados ......................................................................... 72
4.4- Anlise da amostra em estudo............................................................................. 73
4.5- Apresentao e discusso dos resultados ........................................................... 79
5- Anlise e sugesto de estratgias para ultrapassar Dificuldades de Aprendizagem ...... 88
em alunos com Perturbao de Hiperatividade e Dfice de Ateno ......................... 88
Consideraes finais.......................................................................................................... 93
Concluso .......................................................................................................................... 98
Bibliografia ....................................................................................................................... 100
Sitografia ......................................................................................................................... 104
Anexos ..105
3
IX
ndice das figuras
Figura 1. Escrita com smbolos 54
Figura 2. Overlay Maker 54
Figura 3. Intellikeys 55
Figura 4. Intelli Talk II 55
Figura 5. Ecr ttil 56
Figura 6. Boardmaker 56
Figura 7. SDP 57
Figura 8. Gil Eanes 57
Figura 9. Comunicador Alternativo 58
Figura 10. Bigmack 58
Figura 11. Talara 58
Figura 12. Hagaqu 59
Figura 13. Olha as cores 59
Figura 14. Caleidoscpio 59
Figura 15. Quadros interativos 60
Figura 16. Mapa do concelho de Albergaria-a-Velha 68
Figura 17. Imagens do Colgio de Albergaria 69
Figura 18 e 19. Mapa das turmas do 2 e 3 Ciclo 79/80
X
ndice dos grficos
Grfico 1 e 2. Respostas dos professores ao questionrio nos dois estudos. 74
Grfico 3 e 4. Sexo dos professores que responderam ao questionrio nos dois
estudos .. 74
Grfico 5 e 6. Idade dos professores que responderam ao questionrio nos dois
estudos 75
Grfico 7 e 8. Tempo de servio dos professores que responderam ao questionrio nos
dois estudos . 75
Grfico 9 e 10. Residncia dos professores que responderam ao questionrio nos dois
estudos . 76
Grfico 11. Disciplinas lecionadas dos professores que responderam ao questionrio no
primeiro estudo 77
Grfico 12. Disciplinas lecionadas dos professores que responderam ao questionrio no
segundo estudo . 77
Grfico 13 e 14. Nvel de ensino dos professores que responderam ao questionrio nos
dois estudos .... 78
Grfico 15 e 16. Formao em Educao Especial dos professores que responderam ao
questionrio nos dois estudos .. 78
Grfico 17. Acompanhamento ou ajuda de uma equipa de Educao Especial aos
professores que responderam ao questionrio no primeiro estudo .... 86
Grfico 18. Acompanhamento ou ajuda de uma equipa de Educao Especial aos
professores que responderam ao questionrio no segundo estudo . 86
1 Ana Catarina . Malveira
Introduo
O projeto de investigao que seguidamente se apresenta tem como ttulo Estratgias
para ultrapassar Dificuldades de Aprendizagem em alunos com Perturbao de
Hiperatividade e Dfice de Ateno no 2 e 3 Ciclo: estudo comparativo e tem como
objetivo principal verificar e analisar quais as dificuldades manifestadas pelos alunos com
PHDA na aprendizagem de vrias disciplinas, comparando dois estudos realizados na
mesma escola. O primeiro estudo foi realizado com professores de alunos com PHDA,
todos eles ao abrigo do Decreto-Lei 319/91 e o segundo com alunos referenciados pelo
Decreto-Lei 3/2008, ambos com o intuito de verificar quais as estratgias utilizadas pelos
professores para que os alunos consigam ultrapassar as suas dificuldades.
Desde o meu tempo de estudante universitria que a Educao Especial foi uma rea
que me interessou e qual sempre dediquei especial ateno. Tive a sorte de durante a
minha formao acadmica inicial ter tido disciplinas que me deram algumas luzes nesta
rea e que me deram vontade de continuar, especialmente depois de j no meu estgio
ter tido alunos dislxicos, com PHDA (tipo desatento e misto) e um aluno invisual. Os
desafios da altura e a vontade de aprofundar os conhecimentos foram a base para a
realizao da Ps-graduao em Educao Especial e passados quase oito anos, de
fazer o Mestrado na mesma rea, rea na qual tenho trabalhado nos ltimos anos e que
me tem envolvido muito como pessoa e profissional.
Neste sentido e tendo j acompanhado alguma da evoluo da Educao Especial nas
nossas escolas, penso ser sempre necessrio refletir sobre as injustias da sociedade
perante alunos com deficincia. Felizmente hoje em dia tentamos viver a escola como
uma instituio inclusiva e os tempos da segregao j esto teoricamente longe. As
opinies acerca da catalogao das necessidades so diferentes e contraditrias e h
ainda quem apoie a ideia que as Necessidades Educativas Especiais digam respeito
apenas a deficincias mentais, fsicas, motoras e sensoriais (viso, fala e audio) de
carter permanente, separando as Dificuldades de Aprendizagem conotadas como
temporrias.
Posto isto, podemos afirmar que a Educao Especial ainda uma rea em
desenvolvimento e mudana, principalmente em Portugal. Cabe-nos a ns docentes,
especializarmo-nos para podermos ajudar os alunos com Necessidades Educativas
Especiais da melhor forma possvel, facultando um ensino e uma vida com qualidade.
2 Ana Catarina . Malveira
A escolha desta temtica prendeu-se, principalmente pela atualidade de que se reveste e
pelo facto de, durante o meu percurso no ensino enquanto docente de Ingls e de
Educao Especial, ter tido a oportunidade de trabalhar com vrios alunos com a
Perturbao de Hiperatividade e Dfice de Ateno dos trs tipos. Outro motivo da
escolha deste tema tem a ver com a postura dos professores perante alunos com PHDA.
Desde sempre procurei informar-me sobre os diferentes problemas dos meus alunos,
porm sei que nem todos os meus colegas pensam e agem da mesma forma e da teoria
prtica vai uma grande distncia, o que tenho sentido muito enquanto professora de
apoio. Existem professores que seguem risca o que lhes proponho, outros fazem-no
apenas quando estou presente, outros s pensam nas metas.
Posto isto, procurei com esta investigao averiguar se, do ponto de vista dos
professores, as dificuldades dos alunos com PHDA so geralmente a nvel da perceo e
posterior produo, tal como a Ingls; se os professores desenvolvem estratgias para
ajudar a ultrapassar as suas dificuldades; se as estratgias desenvolvidas so baseadas
na teoria e na prtica em parmetros ou competncias cognitivas adequadas e se os
professores so da opinio que os alunos com PHDA devem ter apoio psicopedaggico
individualizado.
A investigao foi feita no Colgio de Albergaria, colgio semiprivado onde estudei
durante dez anos. A maioria dos professores ainda me familiar e foram eles, os
professores que me ensinaram e fizeram com que eu gostasse do ensino, o objeto do
meu estudo. Com a ajuda da psicloga da escola obtive informaes e dados acerca dos
alunos com PHDA que frequentaram no ano letivo de 2006/2007 naquela escola e,
depois de analisada toda a informao e aps algumas conversas informais com o corpo
docente e com o Director do Colgio, recolhi as opinies dos professores do 2 e 3 ciclo
atravs de um questionrio.1 Passados estes anos voltei ao Colgio para voltar a fazer o
mesmo estudo, para saber quais so agora os alunos com PHDA e o que mudou
entretanto, tendo tambm recolhido as opinies dos professores atravs de um
questionrio, muito similar ao anterior, uma vez que o objetivo era sem dvida o mesmo.
Para fundamentar teoricamente as elaes que iria tomar e as estratgias que apresento
para serem adaptadas na sala de aula, foram feitas vrias pesquisas as quais foram
facilitadas pela existncia de muita bibliografia sobre o tema, especialmente estrangeira.
Alm disso, baseei tambm os meus comentrios na experincia e em conhecimentos j
1 vide anexo A
3 Ana Catarina . Malveira
obtidos ao longo da Ps-graduao, da minha prtica letiva e de formaes que
frequentei.
Este projeto de investigao divide-se essencialmente em quatro captulos. No captulo 1
abordado o enquadramento histrico das NEE, onde so simplificadas concees e
ideias base acerca da evoluo da Educao Especial, do conceito de NEE, de alguns
aspetos histricos relativos PHDA e tambm da situao atual
No captulo 2 analisado o conceito de PHDA, as suas caractersticas, as causas, o
diagnstico e o tratamento.
No captulo 3 so apresentadas estratgias de aprendizagem para alunos com PHDA,
que alm de serem gerais, podem ser adaptadas a outras dificuldades de aprendizagem,
passando pela explicitao da sua eficcia e importncia no processo de ensino. Alm
destas estratgias so tambm abordadas estratgias organizacionais e de gesto de
tempo, estratgias de memorizao, para a realizao de testes, para melhorar o
rendimento acadmico, nomeadamente a leitura, a escrita, a oralidade e a caligrafia.
Sucintamente foram referidas algumas tecnologias existentes para o desenvolvimento de
competncias, tal como apresentadas atividades e estratgias para a Matemtica e
outras reas de contedo. Para finalizar, achei pertinente referir a importncia da criao
de um bom ambiente escolar para fazer com que as estratgias apontadas tenham os
resultados desejados.
A parte II do trabalho iniciada com o captulo 4. Esta a parte prtica da investigao,
onde so apresentados comparativamente os dois estudos, o primeiro desenvolvido no
ano letivo de 2006/2007 e o mais recente no ano letivo de 2014/2015, sendo definido o
problema de investigao, os objetivos e as hipteses. De forma sucinta dado a
conhecer o Colgio de Albergaria e a cidade onde est situado, a metodologia usada nas
investigaes e a anlise da amostra em estudo. De acordo com os questionrios
respondidos tambm feita a anlise ao seu contedo, atravs da apresentao e
comentrio dos resultados e finalmente so apresentadas estratgias para o ensino de
alunos com PHDA e as consideraes finais.
Os objetivos e a motivao para a elaborao desta investigao foram muitos e
estiveram sempre presentes, mesmo quando as coisas no correram da melhor forma.
Tive a oportunidade de voltar minha escola algumas vezes, foi interessante tratar os
meus professores por colegas, mas sobretudo cheguei concluso que ao ensinar
pode aprender-se, mas ensinar bem uma virtude dos professores insatisfeitos com o
seu ensino e preocupados com os seus alunos.
4 Ana Catarina . Malveira
Parte I
Captulo 1 - Perspetiva Histrica das NEE
5 Ana Catarina . Malveira
1 Perspetiva Histrica das NEE
1.1- Enquadramento Histrico das NEE
Ao longo dos tempos, o atendimento e a forma como as pessoas com deficincia eram
vistas na sociedade foi alvo de determinadas condies sociais, valores e atitudes
culturais especficas, que ligava esse conceito ao ocultismo e misticismo. Nas sociedades
antigas era prtica recorrente o infanticdio quando as crianas apresentavam
caractersticas anormais.
Na Idade Mdia a Igreja sentenciou e desaprovou o infanticdio, continuando porm a
rejeio, acalentando a ideia de atribuir a causas sobrenaturais e demonacas o facto de
as pessoas apresentarem deficincias ou anomalias, sujeitando-as a prticas de
exorcismo. No final da Idade Mdia e incio do Renascimento a deficincia comea a ser
analisada segundo a ptica mdica e cientfica e sob a perspetiva da razo, perspetiva
essa ainda estigmatizada pela ignorncia e renncia da pessoa com deficincia.
Em princpios do sculo XIX inicia-se o perodo de institucionalizao especializada de
pessoas com deficincia, podendo-se considerar nesta altura o aparecimento da
Educao Especial. A sociedade toma conscincia da necessidade de prestar apoio,
embora ainda com um carcter mais assistencial do que educativo, imperando a ideia de
proteco e de diferenciao da pessoa normal da no normal, considerando a ltima
como um perigo para a sociedade e eventualmente prejudicial vida colectiva.
No entanto, tambm acontecia o contrrio e era manifestada a necessidade de proteger o
deficiente da sociedade que o poderia ultrajar e prejudicar. Contudo o resultado das duas
ideias vem a ser o mesmo, a separao, segregao e discriminao do deficiente. Face
a isto, abrem-se escolas e instituies fora das povoaes justificando que o campo
proporcionaria uma vida mais saudvel e tranquilizando-se a conscincia colectiva, uma
vez que como pretendido estava a ser proporcionada a assistncia necessria,
protegendo o deficiente da sociedade sem que esta tivesse de comportar o seu contacto.
Os alunos designados na altura de atrasados, porque manifestavam dificuldades e
atraso na aquisio de conhecimentos na aprendizagem, so tambm excludos das
escolas regulares para no acompanharem o processo de aprendizagem dos colegas.
Nos anos 50 e 60, com o desenvolvimento cientfico e tcnico e o consequente apogeu
do modelo mdico - diagnstico, surge a preocupao de diagnosticar e classificar os
6 Ana Catarina . Malveira
vrios tipos de deficincia. Posto isto aparece um sistema educativo paralelo, nascendo
uma pedagogia diferente e uma educao especial institucionalizada. Nesta poca
proliferam as classes especiais que decorriam em espaos segregados. As crianas so
rotuladas de acordo com o seu problema, multiplicando-se as escolas em funo das
diferentes etiologias: cegos, surdos, deficientes mentais, paralisias cerebrais, espinhas
bfidas, dificuldades de aprendizagem, etc. Estes centros especializados, alm de serem
separados dos regulares, tm programas prprios, especialistas e tcnicos constituindo
at aos dias de hoje um subsistema de Educao Especial diferenciado.
Este tipo de educao foi alvo de graves crticas na dcada de 60, o que fez com que se
comeasse a falar, em toda a Europa e na Amrica do Norte, no conceito de
normalizao com o intuito de dar ao deficiente uma vida to normal quanto possvel. J
na dcada de 70, como consequncia da generalizao do conceito de normalizao,
comea a surgir a ideia de integrao no meio educativo, substituindo as prticas
segregadoras por prticas e experincias integradoras. Estamos face a uma mudana de
orientao com o intuito de integrar os deficientes no mesmo ambiente escolar e laboral
dos outros indivduos considerados normais, uma vez que foi considerado que as escolas
especiais proporcionavam s crianas um ambiente demasiado restrito, empobrecedor e
contraproducente do ponto de vista educativo, favorecendo a segregao e a
discriminao. O conceito de integrao tem como base a lei Americana 94-142 (1975) e
o Warnock Report (1978), vindo este relatrio reduzir a importncia mdica conferida s
deficincias das crianas e valorizar uma aprendizagem escolar baseada num currculo
ou num programa devidamente adaptados s mesmas, introduzindo assim o conceito de
Necessidades Educativas Especiais.
O conceito de Necessidades Educativas Especiais surge com a responsabilizao da
escola regular pela ativao de medidas e recursos educativos especializados e
adequados a cada situao e necessidade especfica. Neste contexto, o conceito de NEE
passa a englobar todos os alunos que exigem adaptaes das condies em que se
processa o ensino/aprendizagem que, por apresentarem deficincias ou incapacidades,
os impedem de fazer uso das mesmas oportunidades que so dadas nas escolas a
alunos da mesma idade (Davidson cit in Parecer n 1/99 do Conselho Nacional de
Educao). Em Portugal, nos finais dos anos 70, comeam a ser tomadas medidas com o
intuito de apoiar as crianas que estavam integradas no ensino regular, atravs de
Servios de Apoio s Dificuldades de Aprendizagem e a formao de Equipas de Ensino
Especial. O marco decisivo na garantia do direito de frequncia das escolas regulares por
todos os alunos surgiu apenas na dcada de 90 com a publicao dos Decreto-Lei
7 Ana Catarina . Malveira
n35/90 e o D.L. 319/91 de 23 de Agosto que vm regularizar este direito, com o objetivo
de acolher gratuitamente todas as crianas portadoras de deficincia ao nvel da
escolaridade bsica e adoptar o novo conceito de NEE A Declarao de Salamanca,
aprovada em Junho de 2004, constitui tambm um marco decisivo em direco escola
inclusiva, dado que alarga os direitos da criana e do jovem com NEE aos direitos do
homem. Segundo a Declarao de Salamanca, as escolas devem adaptar-se a todas as
crianas, independentemente das suas condies fsicas, sociais, lingusticas ou outras.
Neste conceito, devem incluir-se crianas com deficincia ou sobredotadas, crianas da
rua ou crianas que trabalham, crianas de populaes remotas ou nmadas, crianas de
minorias lingusticas, tnicas ou culturais e crianas de reas ou grupos desfavorecidos e
marginais (Declarao de Salamanca cit in Parecer n 1/99 do Conselho Nacional de
Educao).
Comea-se ento a definir um novo conceito de escola, com a inteno de romper com a
escola segregada e com a excluso escolar e iniciando um novo percurso de integrao
escolar mais equitativo e acessvel a todos os alunos. Contudo, apesar da importante
evoluo que o conceito de NEE sofreu, observa-se que devido sua heterogeneidade,
no que diz respeito s dificuldades ou incapacidades que engloba, as quais podem ir de
grau ligeiro a severo e de carcter mais ou menos prolongado, est ainda muito
convergido para os problemas dos alunos, deixando para segundo plano muitos fatores
que se tm provado como sendo fulcrais na avaliao de NEE. Isto, no que respeita
especificamente os problemas relacionados com todo o processo de escolarizao, uma
vez que os alunos com NEE necessitaro principalmente de um ensino de qualidade,
regido por princpios de flexibilizao, adequao e estratgias de diferenciao
pedaggica e no necessariamente medidas de Educao Especial. neste sentido que
os Decretos-Lei n6 e n7 de 2001, relativos aos novos modelos de gesto curricular no
Ensino Bsico e Secundrio, circunscrevem a modalidade de Educao Especial a
alunos com NEE de carcter prolongado.
Desta forma, a Direco Geral da Inovao e de Desenvolvimento Curricular (DGIDC)
desenvolveu uma renovada definio de NEE, mais prxima dos atuais modelos de
interveno nesta rea e onde consideram-se alunos com necessidades educativas
especiais de carcter prolongado aqueles que experienciam graves dificuldades no
processo de aprendizagem e participao nos contextos escolar, familiar e comunitrio,
decorrentes da interaco entre fatores ambientais (fsicos, sociais e atitudinais) e
limitaes de grau acentuado ao nvel do seu funcionamento num ou mais dos seguintes
8 Ana Catarina . Malveira
domnios: sensorial (viso e audio); motor; cognitivo; comunicao, linguagem e fala;
emocional e personalidade. (DGIDC cit in Avaliao e Interveno na rea das NEE).
Em 2008 foi aprovado o Decreto-lei no 3/2008, o qual introduziu vrias alteraes, sendo
a mais controversa a elegibilidade dos alunos para a Educao Especial, definindo como
beneficirios dos servios, os alunos com problemas de "baixa - frequncia e alta
intensidade" (problemas estes que se designam por terem uma maior probabilidade de
serem de origem biolgica e que, deviam ter sido detetados precocemente), excluindo
ento os alunos com problemas de alta - frequncia e baixa - intensidade (Simeonsson,
1994, cit. in, ME, 2008). Esta distino de problemticas mostra falta de coerncia
relativamente ao princpio da incluso, defendido pela Declarao de Salamanca (1994),
a qual refere que so consideradas, crianas com NEE, todas as que apresentem
deficincias ou dificuldades de aprendizagem, incluindo, crianas pertencentes a minorias
tnicas, com problemas de comportamento ou de ordem emocional, e crianas em
situao de risco (Bairro, 1998). O que se verifica com a nova poltica de Educao
Especial que uma grande parte das crianas/jovens com dificuldades ao nvel da
aprendizagem deixou de usufruir de apoio especializado. Apesar de alguns autores
defenderem que as escolas tm vindo a fazer um esforo para responder s
necessidades dos alunos no elegveis, ainda assim este apoio continua a ser
insuficiente (Alves, Ferreira, Maia, Pinheiro & Simeonsson, 2010). Perante esta afirmao
importante fazer uma aluso a dois despachos, concretamente, o Despacho Normativo
50/2005, de 9 de novembro e o Despacho Normativo 10/2009, de 19 de fevereiro. Ambos
os Despachos inseriram novas normas no que diz respeito aos alunos com baixo
aproveitamento. O Despacho Normativo 50/2005 de 9 de novembro, aplicvel aos alunos
do ensino bsico, define, no mbito da avaliao sumativa interna, princpios de atuao
e normas orientadoras para a implementao, acompanhamento e avaliao de planos
de recuperao, de acompanhamento e de desenvolvimento como estratgia de
interveno com vista ao sucesso educativo dos alunos.
O plano de recuperao aplicvel aos alunos que revelam dificuldades de
aprendizagem em qualquer disciplina, rea curricular disciplinar ou no disciplinar, e
representa o conjunto das atividades concebidas no mbito curricular e de
enriquecimento curricular, desenvolvidas na escola ou sob a sua orientao, que
contribuam para que os alunos adquiram as aprendizagens e as competncias
consagradas nos currculos em vigor do ensino bsico. Este plano pode integrar as
diferentes modalidades: pedagogia diferenciada na sala de aula; programas de tutoria
para apoio a estratgias de estudo, orientao e aconselhamento do aluno; atividades de
9 Ana Catarina . Malveira
compensao em qualquer momento do ano letivo ou no incio de um novo ciclo; aulas
de recuperao; atividades de ensino especfico da lngua portuguesa para alunos
oriundos de pases estrangeiros.
O plano de acompanhamento refere-se, ao conjunto das atividades nas disciplinas ou
reas disciplinares em que o aluno no adquiriu as competncias essenciais, com vista
preveno de situaes de reteno repetida. As atividades a desenvolver no mbito dos
planos de recuperao e de acompanhamento devem atender s necessidades do aluno
ou do grupo de alunos e so de frequncia obrigatria.
Por fim, o plano de desenvolvimento possibilita aos alunos uma interveno educativa
bem sucedida, quer na criao de condies para a expresso e desenvolvimento de
capacidades excecionais quer na resoluo de eventuais situaes problema. Esta
medida aplica-se aos alunos que revelem capacidades excecionais de aprendizagem,
podendo integrar as seguintes modalidades: Pedagogia diferenciada na sala de aula;
programas de tutoria para apoio a estratgias de estudo, orientao e aconselhamento
do aluno; atividades de enriquecimento em qualquer momento do ano letivo ou no incio
de um novo ciclo.
Todos estes planos surgem aps a avaliao sumativa do primeiro perodo, quando o
professor do 1 ciclo ou o conselho de turma elabora o plano adequado a aplicar e aps
ser submetido e aprovado pela direo executiva do agrupamento ou escola,
implementado na prtica. Os planos devem sempre ser dados a conhecer, pelo
responsvel da turma, aos pais e encarregados de educao.
Todas as medidas supracitadas, enquadradas neste despacho so planeadas,
realizadas, avaliadas, sempre que necessrio, em articulao com os tcnicos de
educao, envolvendo os encarregados de educao e os alunos. Esta articulao
pressupe um envolvimento da famlia na escola e o estabelecimento de uma relao de
cooperao, que este estudo tambm pretende explorar.
Relativamente ao Despacho Normativo n10/2009, de 19 de fevereiro, que surge na
sequncia do Despacho normativo n19/2008, de 19 de maro, aprova os Regulamentos
do Jri Nacional de Exames e dos Exames dos Ensinos Bsico e Secundrio, na medida
em que houve necessidade de atualizar disposies do mesmo. Algumas das
atualizaes decorrem da aprovao do Decreto-Lei n3/2008, de 7 de janeiro, e esto
relacionadas com a adaptao das normas atualmente em vigor respeitantes aos exames
realizados pelos alunos com NEE.
10 Ana Catarina . Malveira
Para efeitos de no penalizao na classificao das provas, pode ser aplicada a ficha A
emitida pelo Jri Nacional de Exames, Apoio para classificao de provas de exame nos
casos de dislexia, nos exames realizados pelos alunos com dislexia diagnosticada e
confirmada at ao final do 2.o ciclo do ensino bsico, e que exigiram apoios pedaggicos
personalizados ou tecnologias de apoio, constantes do respetivo programa educativo
individual, ao abrigo do Decreto-lei n 3/2008, de 7 de janeiro.
Os alunos com um plano de recuperao ou um plano de acompanhamento, ao abrigo
dos artigos 2 ou 3 do despacho normativo n 50/2005, de 9 de novembro, ou
apresentem necessidades especiais de sade devidamente confirmadas pelos servios
de sade, podem usufruir de adaptaes nas condies de exame, sob proposta do
conselho de turma, sempre que a no aplicao destas condicione a realizao dos
exames nacionais nas mesmas condies dos outros alunos ou a sua classificao pelos
respetivos professores classificadores.
Posto isto e resumidamente, no que diz respeito legislao j aplicada na Educao
Especial, segundo o Decreto-lei 319/91, as escolas tinham um suporte legal que garantia
uma organizao quanto ao atendimento de crianas com NEE, numa lgica de "Escola
para Todos", onde a integrao dos alunos com NEE no ensino regular, acontece num
contexto em que a educao se desenvolve num ambiente mais normativo possvel
(Correia, 1997). Com o surgimento do Decreto-lei no 3/2008, foram vrias as alteraes
identificadas, como a extenso dos apoios a alunos do pr-escolar e o alargamento da
Educao Especial para o ensino particular e cooperativo. Esta nova poltica de
Educao Especial refere ainda o modo de organizao das escolas que passa pelas
escolas inclurem nos seus projetos educativos as adequaes relativas ao processo de
ensino e de aprendizagem; estabelecerem a criao de uma rede de escolas de
referncia de ensino bilingue para alunos surdos e para a educao de alunos cegos e
com baixa viso e estabelecerem a possibilidade de os agrupamentos de escolas criarem
unidades especficas para alunos com autismo, multideficincia e surdo cegueira
congnita.
O Decreto-lei 3/2008, ao contrrio do que acontecia anteriormente, estabeleceu o
processo de referenciao bem estruturado, o qual dever ocorrer o mais precocemente
possvel e por qualquer interveniente que estabelea uma relao com a criana. A
avaliao atribuda ao Departamento de Educao Especial e ao Servio de Psicologia
e Orientao que devem elaborar um relatrio tcnico-pedaggico, por referncia CIF -
Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade (OMS, 2004),
11 Ana Catarina . Malveira
estabelecendo regras no processo de referenciao e de avaliao. Por outro lado, a
nova legislao, estabeleceu ainda um documento oficial para o PEI, que deve ser
elaborado num prazo de 60 dias, aps o processo de referenciao, fundamentando as
respostas educativas e as formas de avaliao para cada um. No PEI devero constar os
indicadores de funcionalidade, bem como os fatores ambientais que funcionam como
facilitadores ou como barreiras participao e aprendizagem com referncia CIF
(OMS, 2004). Este documento deve ser elaborado pelo professor titular da turma e pelo
docente da EE, sendo que, no final do ano letivo deve ser elaborado um relatrio no qual
se verifique, os resultados obtidos pelo PEI, introduzindo ainda, o Plano Individual de
Transio (PIT), para os jovens cujas necessidades os impeam de adquirir
aprendizagens e competncias, prevendo a transio para a vida ativa.
O anterior paradigma estabelecia a criao de um certificado para alunos com currculo
alternativo, mas atualmente, o diploma, estabelece a necessidade de se adequarem os
instrumentos de certificao da escola s necessidades especiais dos alunos que
seguem o seu percurso escolar com PEI, que deve conter as medidas aplicadas.
Com o surgimento do Decreto-lei no 3/2008, estabeleceu-se seis medidas educativas que
visam promover a aprendizagem e participao, nomeadamente: o apoio personalizado,
as adequaes curriculares individuais, as adequaes no processo de matrcula, as
adequaes no processo de avaliao, o currculo especfico individual e as tecnologias
de apoio, e por fim, ainda estabeleceu, o que se entende por servio docente e no
docente na educao especial e a necessidade de um constante envolvimento parental
no processo de ensino aprendizagem, o que no acontecia at ao momento.
Numa perspetiva de incluso, o Decreto-lei 3/2008 previu adequao de respostas
educativas de modo a criar condies especializadas, alm de definir a possibilidade de
se estabelecerem parcerias com instituies pblicas, particulares de solidariedade social
e centros de recursos especializados, contrariamente ao Decreto-lei319/91 que previa o
encaminhamento dos alunos para instituies de educao especial. Relativamente aos
alunos surdos que optem pelo ensino bilingue, a adequao ao currculo consiste na
introduo de reas especficas para a primeira lngua (Lngua Gestual Portuguesa),
segunda lngua (Portugus segunda lngua) e terceira lngua (introduo de uma lngua
estrangeira escrita do 3 ciclo ao ensino secundrio). Este novo diploma previu a criao
de uma rede de escolas de referncia para o ensino bilingue de alunos surdos bem como
de uma rede de escolas de referncia para o ensino de alunos cegos e com baixa viso,
definindo as suas funes. Os agrupamentos de escolas passaram a poder organizar
12 Ana Catarina . Malveira
respostas especficas diferenciadas atravs da criao de unidades de ensino
estruturado para a educao de alunos com perturbaes do espectro do autismo e de
unidades de apoio especializado para a educao de alunos com multideficincia e surdo
cegueira congnita.
1.2- NEE vs Dificuldades de Aprendizagem
Todavia, o novo conceito de NEE no agradou a muitos professores e Associaes, os
quais defendem que este conceito limitador no que diz respeito s Necessidades
Educativas Especiais e, que por isso, vai afetar milhares de alunos que beneficiavam de
Apoio Especializado, alm de instituir a excluso como regra e a incluso como
excepo, apesar de pretender o contrrio. A legislao portuguesa que atualmente rege
os servios de Educao Especial no contempla as Dificuldades de Aprendizagem (DA)
nas NEE, fazendo com que alguns alunos que apresentem Dificuldades de
Aprendizagem no possam usufruir de servios de Educao Especial.
So vrias as perspetivas ao nvel do conceito de Dificuldades de Aprendizagem e de
NEE, umas apresentam o conceito de DA num sentido mais lato, como um conjunto de
problemas de aprendizagem de ndole temporria. O Decreto-Lei 319/91, de 23 de
Agosto acentuava esta perspetiva ao referir que a evoluo dos conceitos resultantes do
desenvolvimento de experincias de integrao (cit in Decreto-Lei 319/91 de 23 de
Agosto) levando a salientar a crescente responsabilizao da escola regular pelos
problemas dos alunos com deficincia ou com dificuldades de aprendizagem (cit in
Decreto-Lei 319/91 de 23 de Agosto). Aqui o termo Dificuldades de Aprendizagem,
embora no tenha sido definido no referido Decreto-Lei, parece subentender NEE ou
problemas de aprendizagem. Uma outra perspetiva muito mais controversa a do
relatrio do Conselho Nacional de Educao que situa as DA no foro da deficincia
mental, com consequncias muito negativas, quer para os profissionais de educao,
quer para os alunos que apresentam DA. necessrio diferenciar DA de deficincia
mental, uma vez que tm caractersticas e programas educacionais individualizados
tambm diferentes. Posto isto, excluindo esta problemtica do seio nas NEE, o que
acontece aos alunos com desordens neurolgicas que interferem com a recepo,
integrao ou expresso de informao refletindo-se num impedimento para a
aprendizagem a vrios nveis? Atualmente a Perturbao de Hiperatividade e Dfice de
Ateno, a Dislexia e outras, so tambm consideradas como temporrias, o que
contraditrio visto serem problemticas que podem atenuar as suas caractersticas com o
13 Ana Catarina . Malveira
passar dos anos, mas que tambm podem agravar. Esta uma questo que necessita de
ser ainda muito debatida e dever ser tido em conta o sentido conceptual de DA para
avaliar e intervir eficazmente com os meios possveis da Educao Especial.
Desta forma, de acordo com a Declarao de Salamanca onde defendida a incluso de
alunos com NEE nas classes regulares, no pode ser garantido apenas o acesso fsico,
tm que ser tambm garantidos fatores institucionais, tal como o ajustamento situao
escolar, situao pedaggica e personalidade do professor. Caso esse ajustamento
no exista, o xito escolar fica comprometido, passando a haver um desajustamento a
vrios nveis. Para isso, so necessrias mudanas nas escolas, tal como afirmado por
Mell Ainscow No se trata (...) de introduzir medidas adicionais para responder aos
alunos num sistema educativo que se mantm, nas suas linhas gerais, inalterado. Trata-
se de reestruturar as escolas para atender a todas as crianas (Ainscow 1998).
A educao de crianas e jovens com NEE, no contexto de uma escola inclusiva, no
pode desenvolver-se de forma isolada, tem que haver atitudes mais positivas face
integrao e envolvimento de toda a comunidade educativa. Atualmente as escolas
devem incluir nos seus Projetos de Escola as adaptaes relativas s condies de
frequncia e ao processo de Ensino/Aprendizagem, bem como as medidas de carcter
organizativo, de formao de docentes especializados na rea e as medidas de
funcionamento necessrias para responder adequadamente s Necessidades Especiais
das crianas e jovens, obedecendo a modelos integradores e acompanhando a evoluo
do sistema educativo com estratgias de mudana e inovao.
Contudo, para que o aluno com NEE beneficie adequadamente dos benefcios da escola
inclusiva e do Ensino Especial, o mais importante ser feita uma avaliao eficaz. A
avaliao de NEE num aluno um processo deveras complexo e encaminha-nos
diretamente para as questes relacionadas com esse mesmo processo, numa perspetiva
que contempla conjuntamente diferentes variveis e fatores e os resultados das
interaces entre as mesmas.
1.3- Aspetos Histricos da Perturbao de Hiperatividade e Dfice de Ateno
A Perturbao de Hiperatividade e Dfice de Ateno (PHDA) est entre os diagnsticos
mais comuns da infncia. Os sintomas tpicos desse transtorno foram descritos pela
primeira vez em 1845, pelo mdico Heinrich Hoffman, no seu livro intitulado A estria do
irrequieto Phillip ( Hoffman cit in Hallowell & Ratey 1994). Este mdico atravs da escrita
14 Ana Catarina . Malveira
relatou os comportamentos e atitudes de crianas suas pacientes. Neste livro f-lo em
forma de poema narrando os comportamentos de Philip, que era uma criana irrequieta,
como indica o prprio ttulo do livro.
Deixem ver se Philip capaz
De ser um bom rapaz
Deixem-me ver se ele vai saber
Sentar-se quieto na hora de comer.
Assim o pai mandou Phil comportar-se,
E muito sria a me parecia estar
Mas Phil das Mozinhas sem Paz,
No fica sentado jamais
Remexe-se, o corpo, as mozinhas
E tambm d risadinhas
E ento, posso declarar
Para a frente e para trs pe-se a balanar,
Inclinando a sua cadeira
Como se fosse um cavalinho de madeira
Philip, no estou a brincar!
Veja como danado e no se cansa
Cada vez mais selvagem essa criana
At que a cadeira cai de vez no cho
Philip grita com toda a fora do pulmo,
Segura-se na toalha, mas agora
Agora mesmo que a coisa piora.
No cho tudo cai, e como cai
Copos, garfos, facas e tudo mais
15 Ana Catarina . Malveira
Que caretas e choramingas a me fez!
E o pai fez uma cara to feroz!
Philip encontra-se em maus lenis.
Excerto do livro A estria do irrequieto Phillip
Em 1902, o mdico Ingls George Still fez a primeira descrio mdica da PHDA, o qual
a definiu como um defeito no controlo da moral( Still cit in Hallowell & Ratey 1994;
Morgan 1999; Wender et al 2001). Still defendeu a hiptese de que essa condio teria
como base um substrato biolgio, que poderia ser hereditrio ou relacionado com a
encefalopatia adquirida e que seria consequncia de uma m educao ou depravao
como at ento se acreditava. Em 1934, Kahn e Cohen (cit in Silva 2005) denominaram
como sendo um Distrbio de Comportamento Ps-Encefalite, a falta de ateno, a
irregularidade de atividade fsica e o conrole de impulsos. Este termo derivou de um
estudo efectuado entre 1917 e 1918, em crianas com comportamentos similares aos
descritos por Still, e que foram vitmas da Epidemia de Encefalite de Von Economo, o
qual pretendia mostrar a correlao entre a Encefalite e a Deficincia Mental.
Em 1947, tambm Strauss (cit in Silva 2005) e os seus coladoradores apresentam uma
definio de PHDA, considerando que esta desordem afeta principamente a rea do
comportamento, destacando o nervosismo e o nvel de atividade como sintomas de leso
cerebral. A partir dessa descrio, e ao longo de largos anos, surgiram vrias
denominaes como leso cerebral mnima, sndrome da criana hiperativa, distrbio
primrio da ateno e distrbio do dfice de ateno com ou sem hiperatividade (cit in
Barkley 1998; Cabral 1999), entre outras. Estas denominaes foram gradativamente
transferindo a importncia atribuda leso orgnica para um ponto de vista mais
funcional, passando a descrever a desordem como comportamental e destacando-se a
atividade motora excessiva. de salientar tambm o facto de alguns mdicos no
considerarem correto a aplicao do termo sndrome, uma vez que este implica a
coexistncia de vrias caractersticas, enquanto que os sinais de Dfice de Ateno e
Hiperatividade no constituem uma unidade suficientemente intrnseca devido
heterogeneidade de caraterticas que so apresentadas, desde o foro motor ao
comportamental. A frequente mudana de nome reflete tambm a disparidade de critrios
e as incertezas dos pesquisadores acerca do critrio de diagnstico e das causas da
desordem.
16 Ana Catarina . Malveira
O termo Hiperatividade Infantil s apareceu por volta dos anos 60 por Laufer e Chess (cit
in Bautista 1997). Contudo, as opinies foram dispares. Enquanto Laufer defendia que a
desordem era exclusiva do sexo masculino e desaparecia com o crescimento, Chess
encarou a Hiperatividade Infantil como resultante da gentica individual, da o termo
Sndrome da Criana Hiperativa. Alguns anos mais tarde, em 1968, com a publicao da
DSM-III, a Associao de Psiquitaria Americana (APA) substituiu o termo Hiperatividade
Infantil por Reaco Hipercentica da Infncia.
Nos anos 70, atravs de um estudo elaborado durante algum tempo, Gabriel Weiss (cit in
Silva 2005) provou que o PHDA estaria relacionado com a maturao cerebral na infncia
e que a hiperatividade tenderia a diminuir no nicio da vida adulta, persistindo porm os
problemas de ateno e impulsividade. Tambm um grupo de pesquisadores, entre eles
Leopold Bellak, Hans Huessy, Dennis Cantwel e Paul Wender (cit in Silva 2005), por meio
de observaes clnicas, defenderam a ideia que alguns indivduos que apresentam
PHDA durante a infncia, poderiam continuar a apresentar muitos sintomas de PHDA na
vida adulta. Algum tempo depois, esses pesquisadores desenvolveram critrios clnicos
especficos para o diagnstico no adulto, sendo chamados Critrios de UTAH. Desde
ento vrios estudos tm confirmado e reconhecido a presena de PHDA no adulto.
O PHDA carateriza-se por um conjunto de sintomas que envolve atividade motora,
impulsividade e ateno, afetando cerca de 3% a 6% das crianas, tendo incio antes da
idade escolar. A grande maioria dos estudos observa um predomnio de 2 a 3 vezes
maior no sexo masculino. Em Portugal, incidncia de PHDA desconhecida devido
inexistncia de dados estatsticos relevantes relativos a esta perturbao.(cit in Bautista
1997:162)
Estudos recentes tm observado que entre 30% a 70% das crianas com PHDA
continuam com sintomas ao longo da vida, graves o suficientemente para causar prejuzo
no seu desempenho dirio. Pesquisas populacionais com adultos encontraram uma
prevalncia estimada em torno de 1% a 2,5% na Holanda. A preponderncia do sexo
masculino menos dramtica e as caractersticas sintomatolgicas no adulto so dfice
de ateno, instabilidade emocional e desorganizao. Comparando os sintomas na
criana e no adulto, nota-se que a hiperatividade tende a diminuir e a desorganizao a
ficar mais evidente no adulto, tal como Gabreil Weiss (cit in Silva 2005) defendeu.
A PHDA contribui negativamente no desenvolvimento global do indivduo afetado,
causando prejuzos funcionais em vrios segmentos da vida. Estudos observaram que
adultos com PHDA, comparados populao geral tm menor nvel scio-econmico,
17 Ana Catarina . Malveira
mais dificuldade no trabalho (tanto na realizao de tarefas como na adequao s
rotinas) e mais mudanas de emprego (consequncia das dificuldades que sente no
trabalho) o que compromete a auto-estima e as suas relaes interpessoais.
No que diz respeito designao tal como conhecida hoje, em 1980 a APA reconheceu
tambm este sndrome nos adultos, passando a design-la como Distrbio do Dfice de
Ateno (DDA).
18 Ana Catarina . Malveira
Captulo 2 - Perturbao de Hiperatividade e Dfice de Ateno
19 Ana Catarina . Malveira
2 Perturbao de Hiperatividade e Dfice de Ateno
2.1- Definio de Perturbao de Hiperatividade e Dfice de Ateno
Como j foi referido anteriormente, so vrias as denominaes pelas quais esta
desordem conhecida. Apesar de ser tambm conhecida como Hiperatividade,
Hiperquinsia, problemas de comportamento, entre outros, Perturbao de Hiperatividade
e Dfice de Ateno (PHDA) parece ser a expresso que mais se apropria devido sua
definio, e por isso a definio que se est a generalizar por entre os Psiclogos e
Educadores. Esta expresso surge da traduo de Attention Deficit Disorder and
Hyperactivity, usada pela Associao Americana de Psiquiatria (APA) no seu Manual de
Diagnstico Estatstico de Desordens Mentais, publicado em 1994 (DSM-IV), para referir
indivduos que apresentam comportamentos hiperativos, que tm dificuldade em prestar
ateno s tarefas e que tm a tendncia para ser impulsivos. De acordo com o DSM-IV
da APA, a PHDA carateriza-se por um "padro persistente de falta de ateno e/ou
impulsividade-hiperatividade, com uma intensidade que mais frequente e grave que o
observado habitualmente nos sujeitos com um nvel semelhante de
desenvolvimento"(APA 2002). um distrbio neurobiolgico e carateriza-se por padres
comportamentais inadequados em que a atividade motora muito acentuada ou
excessiva. As crianas com PHDA manifestam sinais de desenvolvimento inadequado,
em relao sua idade mental e cronolgica, nos domnios da ateno, da impulsividade
e da atividade motora. Tm muita dificuldade em permanecer no seu lugar, mexendo-se
ou baloiando constantemente. Em sala de aula podem vir a desenvolver um
relacionamento difcil com os colegas e at mesmo com os professores, uma vez que no
prestam ateno e precipitam as respostas, fruto da sua inerente impulsividade. Contudo,
antes de ser feita a avaliao, por vezes estas manifestaes so confundidas com m
educao ou mau comportamento ocasional.
Durante muito tempo, a hiperatividade foi considerada a caracterstica mais distinta e
significativa da PHDA. Contudo compreendeu-se que, possivelmente, existem diferentes
tipos de Perturbao de Hiperatividade e Dfice de Ateno, uma vez que enquanto
alguns casos com PHDA apresentam caractersticas hiperativas e impulsivas, outros
manifestam mais falta de ateno e outros apresentam a combinao das trs
caractersticas, ou seja o predomnio dos sintomas da falta de ateno e da
hiperatividade-impulsividade. De acordo com a descrio presente na Fourth Edition of
20 Ana Catarina . Malveira
the Diagnostic and Statistical Manual for Mental Disorders (APA 2002) (DSM-IV), a APA
classificou a PHDA com trs subtipos:
1. PHDA do Tipo Predominantemente Desatento;
2. PHDA do Tipo Predominantemente Hiperativo - Impulsivo;
3. PHDA do Tipo Misto;
O tipo predominantemente Hiperativo - Impulsivo e o tipo Misto, que combina
caractersticas dos dois outros tipos, so apresentados para maioria das crianas com
PHDA. Cerca de um tero das crianas com esta desordem pertencem ao tipo um, que
se carateriza pela predominncia de estados de desateno e no apresenta sinais de
hiperatividade ou impulsividade. Para um diagnstico eficaz, o subtipo adequado deve ter
manifestaes sintomticas predominando durante pelo menos seis meses.
2.2- Caractersticas
2.2.1- Tipo Predominantemente Desatento
A desateno no to visvel como a impulsividade ou hiperatividade. um requisito
fundamental para o processo de aprendizagem, e por isso o sintoma que causa mais
problemas na escola. Segundo o DSM-IV, uma criana insere-se no tipo
predominantemente desatento quando se verifica pelo menos seis dos seguintes
sintomas:
1. No presta ateno suficiente aos pormenores ou comete erros por descuido
nas tarefas escolares, no trabalho ou noutras atividades ldicas;
2. Tem dificuldade em fixar a ateno nas tarefas ou atividades ldicas;
3. Parece no ouvir o que lhe dizem diretamente;
4. Tem dificuldade em seguir as instrues e no termina os trabalhos escolares,
as tarefas ou os deveres no local de trabalho (no devido a desobedincia ou a no
compreender as instrues);
5. Tem dificuldade em organizar tarefas e atividades;
6. Evita, no gosta ou mostra-se relutante em se envolver em tarefas que
requerem esforo mental contnuo (tal como trabalhos escolares ou de casa);
21 Ana Catarina . Malveira
7. Perde com frequncia objetos necessrios a tarefas ou atividades que ter de
realizar;
8. Distrai-se facilmente e com frequncia com estmulos irrelevantes;
9. Esquece-se com frequncia de atividades quotidianas;
Contudo, a criana com PHDA que est frequentemente desatenta capaz de prestar
ateno em situaes que vo de encontro aos seus interesses. Isto , quando a sua
ateno requerida para jogos ou atividades diferentes e ldicas, as quais esto no
campo dos seus interesses, a criana no evidencia a sua desateno, mas pelo
contrrio o seu mbito de ateno considerado normal. O mesmo se passa em contexto
de sala de aula, quando seu trabalho individualizado e diretamente monitorizado pelo
professor.
2.2.2- Tipo Predominantemente Hiperativo Impulsivo
Como j foi referido anteriormente, nem todas as crianas com PHDA so hiperativas ou
impulsivas. Contudo, as que o so tm comportamentos que no passam despercebidos.
As hiperativas so agitadas, irrequietas, demonstram problemas no controlo dos
movimentos do corpo, uma excessiva atividade motora e uma necessidade de estar em
constante movimento. Por seu lado a impulsividade repercute-se mais na falta de
capacidade de controlar comportamentos e emoes, com manifestaes a nvel
emocional e cognitivo. A falta de controlo emocional leva a criana a agir sem refletir e
sem avaliar as consequncias dos seus atos, numa busca imediata de satisfao do
desejo sentido. A baixa tolerncia frustrao conduz a manifestaes de irritabilidade,
em consequncia das tenses criadas pelos comportamentos imprevisveis. de
salientar que a criana com PHDA mais propensa a acidentes em virtude da sua
impulsividade ou baixa conscincia do risco. A nvel cognitivo, as manifestaes de
impulsividade afetam sobretudo o desempenho escolar. Um comportamento cognitivo
impulsivo leva a criana a responder aos estmulos sem um processo adequado de
anlise da informao percebida. Assim, pode apresentar dificuldades nas tarefas mais
complexas como a leitura, a escrita e a matemtica.
Esta perturbao do comportamento mais facilmente observvel em idade pr-escolar,
devido liberdade inerente fase de explorao do que o rodeia. Alm de continuarem a
ser irrequietas, facilmente estimulveis pelo que os rodeia e com dificuldade em controlar
os seus comportamentos, no 1 e 2 ciclo o nvel de atividade decresce, devido idade e
22 Ana Catarina . Malveira
tambm s regras de comportamento social que so obrigatoriamente impostas pela
escola. Uma criana com PHDA do Tipo Predominantemente Hiperativo Impulsivo
manifesta pelo menos seis das seguintes caractersticas:
Hiperatividade:
1. Movimenta excessivamente as mos e os ps e move-se quando est
sentado;
2. Levanta-se na sala ou noutras situaes em que se espera que esteja
sentado;
3. Corre de um lado para o outro e/ou salta excessivamente em situaes
em que inadequado faz-lo;
4. Tem dificuldade em envolver-se em atividades ldicas de forma tranquila;
5. Age como se estivesse ligado a um motor;
6. Fala frequentemente de forma excessiva;
Impulsividade
Segundo o DSM-IV, uma criana impulsiva dever apresentar persistentemente os
seguintes sintomas:
7. precipitada nas respostas, mesmo antes de as perguntas terem acabado;
8. Tem dificuldade em esperar pela sua vez em jogos ou em situaes de grupo;
9. Interrompe ou intromete-se frequentemente nas atividades ou conversas dos
outros;
2.2.3- PHDA do Tipo Misto
Como o prprio nome indica, a este subtipo pertencem as crianas que manifestam
sintomas dos dois subtipos anteriores, nomeadamente sintomas de Desateno, de
Hiperatividade e de Impulsividade. Muitas crianas e adolescentes com esta perturbao
incluem-se neste subtipo, as quais manifestam pelo menos seis sintomas do subtipo
predominantemente desatento e seis sintomas de Hiperatividade - Impulsividade acima
descritos.
Uma criana que numa etapa prematura desta perturbao manifeste sintomas de
Desateno e Impulsividade - Hiperatividade, pode vir a desenvolver o tipo misto, ou vice-
23 Ana Catarina . Malveira
versa, dado que o subtipo correto ser indicado de acordo com os sintomas manifestados
nos ltimos seis meses. Se os sintomas permanecerem mas no se adequam a nenhum
dos critrios dos subtipos, o diagnstico adequado ser o de Dfice de
Ateno/Perturbao de Hiperatividade em Remisso Parcial. Porm, se os sintomas no
preencherem todos os critrios desta perturbao e caso os critrios previamente
preenchidos sejam pouco claros, o diagnstico a apresentar deve ser o de uma
Perturbao de Dfice de Ateno com Hiperatividade Sem Outra Especificao.
2.3- Causas
As causas que conduzem PHDA so diversas e dependentes de fatores diversificados,
tornando difcil na maioria dos casos, determinar uma etiologia precisa, j que tambm
no detectvel nenhum dano cerebral como acontece com outras perturbaes
mentais. Muitas so as teorias desenvolvidas para explicar a causa desta desordem. Ao
longo dos tempos muitas das teorias apresentadas tiveram xito devido ao seu mrito,
mas tambm foram algumas as que foram negadas. Apesar da falta de comprovao das
teorias recentemente apresentadas, as que foram ultimamente apresentadas e que de
seguida apresentarei, so no entender dos especialistas as que melhor se enquadram na
explicao da problemtica.
2.4- Teorias no comprovadas
Como teorias no comprovadas e alvo de controvrsia so, entre outras, a iluminao
com luzes fluorescentes, o desalinhamento da coluna, a infeco por candida, as
desordens do ouvido interno e os problemas relacionados com a educao em contexto
familiar, como responsveis pelo comportamento desatento e hiperativo. Porm, todas
estas teorias apresentadas para explicao da PHDA permitiram descobrir correlaes,
embora no tenham sido capazes de explicar com clareza o seu mecanismo de
funcionamento. Por isso no so comprovadas e apesar de reconhecidas como possveis
causas a apontar, no so cientificamente apoiadas.
Alguns especialistas so da opinio que a dieta alimentar pode igualmente ser
responsvel pelos distrbios comportamentais apresentados pelas crianas. Por
exemplo, o mdico pediatra Benjamin Feingold defendeu que os aromatizantes e os
corantes artificiais presentes em muitos alimentos, especialmente nos embalados e
para consumo posterior, os salicilatos naturais, presentes na uva, morango, tomate e
24 Ana Catarina . Malveira
outros, e os acares geravam hiperatividade nas crianas. Feingold aconselhou os pais
dos seus pacientes com PHDA a evitarem estes ingredientes na alimentao dos seus
filhos e foi referido por alguns pais que a dieta de eliminao aconselhada teve sucesso.
Identicamente, Doris Rapp e Lendon Smith apresentaram as suas ideias, indicando que a
dieta e as alergias a alimentos tm um papel significativo enquanto causas da PHDA nas
crianas. Tanto a teoria de Feingold como a de Rapp e Smith, mesmo apresentando
resultados positivos, no so apoiadas por nenhuma investigao cientfica.
2.5- Teoria neurobiolgica
A teoria da causa de PHDA, mais apoiada pela comunidade especialista na rea,
considera-a um distrbio neurobiolgico possivelmente hereditrio. Pensa-se que
caractersticas bioqumicas que influenciam o aparecimento de sintomas de PHDA, sejam
transmitidas de pais para filhos, sendo por isso provvel e comum a existncia de
diversos casos de PHDA em vrios elementos da mesma famlia. Estudos revelaram que
cerca de 20% a 30% dos pais que acompanham o tratamento dos filhos com PHDA,
apercebem-se que na sua infncia tinham comportamentos similares ou que ainda
apresentam caractersticas de DDA na fase adulta.
cada vez mais provado o facto de a PHDA ser causada por um desequilbrio ou
alterao qumica, fazendo com que certos neurotransmissores se revelem deficientes na
transmisso de informao no crebro. A informao de ordem sensorial enviada s
diferentes clulas nervosas existentes no crebro (neurnios) por qumicos
neurotransmissores at aos terminais dos neurnios. Os neurotransmissores so
diretamente responsveis pelo comportamento, pelas emoes e pela cognio, da que
uma concentrao deficiente desses neurotransmissores possa ter efeitos disruptivos
significativos no comportamento e nas emoes. Alguns dos neurotransmissores que
esto envolvidos so a dopamina, a noradrenalina e a serotonina e se for investigado o
nvel dos vrios neurotransmissores existentes no crebro, o que normalmente feito
atravs da anlise de metabolitos destes qumicos cerebrais, possvel encontrar uma
explicao para a causa da PHDA. Contudo, a forma exata como os neurotransmissores
afetam o desenvolvimento de sintomas de PHDA ainda desconhecida e um mistrio por
desvendar. A dopamina tem sido alvo de muita ateno e investigao nos ltimos cinco
anos, uma vez que alguns pesquisadores analisaram que este gene pode ser encontrado
em todos os indivduos, mas tem uma representao mais forte e excessiva em crianas
com PHDA e adultos com DDA.
25 Ana Catarina . Malveira
A causa especfica desta desordem ainda desconhecida, frequentemente indetectvel
e permanece inexplicada. De acordo com cada caso, ter de ser tambm analisado o
passado da criana, uma vez que fatores pr-natais, como o uso de lcool e drogas
durante a gravidez, complicaes intra-uterinas e perinatais, como traumatismos crnio
enceflicos e anoxia, so tambm considerados possveis responsveis por mudanas
estruturais e funcionais do crebro. Para alm de provocarem perturbaes especficas,
estas disfunes cerebrais interferem no desenvolvimento global da criana.
Parece que no restam muitas dvidas de que existe uma base biolgica na origem das
PHDA. Em estudos mais recentes foi possvel estabelecer uma relao entre a
capacidade de uma pessoa prestar ateno s coisas e o nvel de atividade cerebral.
Detectaram-se reas do crebro menos ativas em pessoas portadoras de PHDA do que
em pessoas sem esta problemtica, levando suspeita de uma possvel disfuno do
lbulo frontal e das estruturas diencfalo-mesenflicas. Em todos os casos, os pais de
crianas com PHDA, no se devem sentir culpados. Como refere a ADDA (Attention
Deficit Disorder Association) na sua pgina na Internet, no h uma clara relao entre a
vida familiar e a PHDA, pois nem todas as crianas de famlias instveis ou disfuncionais
tm PHDA e nem todas as crianas com PHDA provm de famlias disfuncionais (Cit in
ADD, www.add.org, consultado em 16/03/2015). Embora o conhecimento das causas que
conduzem PHDA permita o diagnstico mais rigoroso desta problemtica e possibilite a
adopo de medidas preventivas, os pais e educadores devem preocupar-se menos com
a busca das causas (j que to imprecisa a sua determinao) e mais com as medidas
que reduzam o impacto desta desordem na vida das crianas.
2.6- Diagnstico
Esta perturbao conhecida por existir em vrias culturas, com variantes no seu
predomnio nos diferentes pases ocidentais, presumivelmente devido s diferentes
prticas de diagnstico e no a diferenas na apresentao clnica do quadro.
difcil diagnosticar esta perturbao em crianas com idade inferior a 4 ou 5 anos,
devido variabilidade do seu comportamento, no se podendo caraterizar e associar
determinado sintoma perturbao, uma vez que podem manifestar comportamentos
idnticos, mas no os efectivos. Isto porque devido sua idade natural a falta de
ateno, a alienao face ao exterior e a dificuldade em controlar as atitudes e a
persistncia. Posto isto, para se fazer o diagnstico a uma criana pequena necessrio
observar muito bem todos os seus comportamentos, porque apesar de regra geral as
http://www.add.org/http://www.add.org/http://www.add.org/
26 Ana Catarina . Malveira
crianas serem todas irrequietas, uma criana com PHDA no consegue, por exemplo,
estar sentada a folhear um livro com o pai e me visto que se mexe com frequncia e
impossvel mant-las sossegadas.
Contudo, em idade escolar (1, 2 e 3 ciclo) as principais caractersticas so um pouco
mais fceis de serem detectadas em casa ou na escola, dado que resultam em fatores
como a frustrao escolar, a falta de motivao, preocupaes de ordem emocional ou
de sade.
De acordo com a DSM-IV da American Psychiatric Association, a PHDA apresenta nove
sintomas de falta de ateno e nove sintomas de hiperatividade - impulsividade, os quais
j foram descritos nas caractersticas dos subtipos. Uma vez que os sintomas referidos
podem ser observados em qualquer criana, devido sua natural irrequietude j referida,
no querendo dizer que ela sofra de qualquer perturbao, devem, por isso, ser seguidos
os seguintes critrios de diagnstico:
1. Quantidade. Devem estar presentes pelo menos seis dos sintomas de falta de
ateno ou de hiperatividade-impulsividade;
2. Durao. Tiverem persistido por um perodo mnimo de seis meses com uma
intensidade que simultaneamente desadaptativa e inconsistente com o nvel
de desenvolvimento do indivduo;
3. Incio. Tiverem incio antes dos sete anos de idade (antes da idade escolar);
4. Contexto. Acontecerem em dois ambientes ou contextos diferentes (escola e
casa, por exemplo);
5. Provas. Existirem provas claras de um dfice claramente significativo do
funcionamento social e acadmico;
6. Excluso. Os sintomas no so devidos a outra perturbao mental;
Conforme j foi referido anteriormente, ao longo do desenvolvimento da criana os
sintomas mudam e tendem a atenuar, fazendo com que na adolescncia os sintomas de
excesso de atividade sejam menos frequentes, contudo prevalecendo a desateno que
ter as suas consequncias negativas na aprendizagem e rendimento escolar.
A etapa mais importante no processo de diagnstico a avaliao, a qual deve ser
compreensiva. A avaliao compreensiva requer trabalho conjunto de vrios
http://ddah.planetaclix.pt/como_identificar_as_ddah.htm#_Toc477412629#_Toc477412629http://ddah.planetaclix.pt/como_identificar_as_ddah.htm#_Toc477412630#_Toc477412630http://ddah.planetaclix.pt/como_identificar_as_ddah.htm#_Toc477412631#_Toc477412631http://ddah.planetaclix.pt/como_identificar_as_ddah.htm#_Toc477412632#_Toc477412632
27 Ana Catarina . Malveira
profissionais, como o mdico de famlia ou o pediatra, o psiclogo, os professores e
juntamente com a famlia formaram uma equipa.
Apesar de no existir um teste nico que por si s diagnostique a PHDA de forma fivel e
eficaz, existe um grande nmero de procedimentos de avaliao que conjuntamente
facultam informao preciosa para o diagnstico.
O mdico pediatra e/ou de famlia um dos primeiros a ser contactado visto ter
informaes acerca da histria clnica da famlia e da criana. Normalmente pedido ao
mdico que elabore a histria clnica e social atravs da anlise dos antecedentes
genticos da criana, da histria do seu nascimento e do seu desenvolvimento
(Anamnese), para localizar o momento em que os sintomas apareceram pela primeira
vez. Para isso, necessria e importante a colaborao dos pais e professores em
consultas, em questionrios e no preenchimento de escalas de avaliao para avaliar o
comportamento da criana em diferentes contextos. O mdico poder tambm propor a
realizao de exames fsicos de rotina, os quais serviro tambm para despiste de
qualquer outro tipo de doena ou de condies relacionadas que podem causar sintomas
idnticos PHDA. No havendo um exame laboratorial especfico, pode ser tambm
solicitado um estudo de cromossomas, um Electroencefalograma (EEG), ressonncias
magnticas ou Tomografia Axial Computorizada (TAC), que apesar de no serem usados
rotineiramente na avaliao, determinam o estado geral da sade da criana.
Os neurologistas, os psiquiatras e os psiclogos so especialistas importantes e
treinados na avaliao e tratamento de desordens neurobiolgicas do gnero da PHDA.
O psiclogo, quer clnico que escolar, tem formao para aplicar e analisar testes
psicolgicos e emocionais, os quais facultam informao importante acerca de vrios
aspetos relacionados com a criana como o seu funcionamento intelectual e emocional,
as suas competncias de raciocnio, o uso da linguagem, o desenvolvimento percetivo,
da impulsividade e da ateno.
Porm a administrao de cada tipo de teste ser em funo da dificuldade ou
necessidade observada ou sugerida pelo professor. Se o aluno apresenta dificuldades de
aprendizagem, o psiclogo pode aplicar testes a fim de avaliar o nvel de funcionamento
cognitivo da criana, a sua realizao acadmica e as suas competncias percetivas. Se
os problemas manifestados forem do foro emocional podem ser aplicados testes para
avaliar a relao da criana com o outro e como se sente em relao a si mesma e ao
prxima. Na generalidade das vezes so administrados tambm testes para avaliar a
auto-estima, depresso, ansiedade e tenso familiar, para estabelecer um plano do
28 Ana Catarina . Malveira
funcionamento emocional da criana em diferentes situaes e despiste de possveis
causas.
Os principais testes psicolgicos normalmente usados podem ser a nvel Intelectual, a
nvel Percetivo-Psicomotor e provas Projetivas.
A nvel intelectual so normalmente realizados os seguintes testes:
WISC (Wechsler Intelligent Scale for Children);
WAIS (Wechsler Adult Intelligence Scale);
Binet-Terman; Matrizes Progressivas de Raven;
Desenho da Figura Humana.
A nvel Percetivo-Psicomotor:
Bender-Gestalt;
Cpia de Figuras Geomtricas.
Provas Projetivas:
C.A.T (Children Apperception Test);
T.A.T (Thematic Apperception Test).
Recentemente os testes computorizados, tambm conotados como testes de
desempenho contnuo, passaram a fazer parte dos meios mais usados pelos psiclogos
para o diagnstico do PHDA. Atravs de estmulos gerados pelo computador, estes
testes do informaes relativamente a domnios muito importantes para o diagnstico no
mbito da ateno, do tempo de reaco e do controlo dos impulsos. Alguns testes
computorizados mais usados so:
Sistema de diagnstico de Gordon;
Teste de variveis de ateno (TVA);
Teste de desempenho contnuo de Conners;
Teste de desempenho contnuo Integrado Visual e Auditivo (IVA).
A informao facultada pelos testes poder ser complementada por questionrios ou
escalas de avaliao comportamental preenchidas pelos pais e professores, no s
29 Ana Catarina . Malveira
para exporem a sua viso acerca do comportamento da criana em contexto familiar e
escolar mas tambm para analisar os vrios tipos de comportamento da mesma.
As escalas de avaliao comportamental fornecem informao quantificvel e descritiva
da criana, podendo assim fazer-se uma comparao com o comportamento de outras
crianas do mesmo sexo da mesma idade. Na sua maioria, as escalas usadas para
avaliar PHDA integram resultados estandardizados sobre um certo nmero de fatores,
relacionados com a ateno, auto controlo, capacidade de aprendizagem,
hiperatividade, agressividade, comportamento social, ansiedade, etc. Algumas das
escalas mais usadas so:
Escala de Avaliao de Conners para professores revisto;
Escala de Avaliao de Conners para pais revisto;
PHDA Escala de avaliao compreensiva (fichas para pais e
professores);
Escalas de Autorregisto de Conners-Wells para adolescentes;
Sistemas de Avaliao comportamental para crianas;
Escala de Brown da Desordem por dfice da ateno;
Escala da Avaliao de PHDA;
Perfil de Ateno da criana;
Questionrio de situaes em casa/escola revisto;
Escala de avaliao de desempenho acadmico;
A avaliao psicolgica da criana e o recolher de informaes atravs de todos os meios
j descritos so procedimentos demorados. preciso tambm um acompanhamento
contnuo e a repetio de vrios testes para comparar resultados anteriores e posteriores
e determinar at que ponto que as intervenes farmacolgicas (quando j iniciadas)
esto a ajudar a criana com o PHDA.
Contudo, toda a informao recebida atravs deste processo preciosa para ajudar os
restantes membros do processo no cumprimento do seu papel e para se chegar a um
diagnstico eficaz.
A escola desempenha um papel vital na avaliao da criana e do adolescente com
PHDA. Os professores podem observar diretamente a forma como o aluno se comporta
em situao de grupo e comparar o seu desempenho com o de outros alunos na mesma
30 Ana Catarina . Malveira
faixa etria. As escolas tm acesso a toda a informao, em termos acadmicos acerca
do desempenho do aluno na sala de aula, dos seus pontos fortes e fracos, da sua
desateno, assim como de outras caractersticas de ordem social, emocional e
comportamental aplicadas na escola. Com o intuito de recolherem mais informaes
devero/podero ser realizadas entrevistas aos professores, a anlise dos processos
individual do aluno, a anlise dos resultados de testes e a observao direta do aluno na
sala de aula. Estes so procedimentos tpicos usados para recolher informaes acerca
do aluno com PHDA quando sinalizado o seu problema ou para averiguar possveis
progressos.
Muitas escolas optam por recorrer a uma equipa para proceder a avaliao da criana. A
informao recolhida pelos membros da equipa que, por sua vez, fazem as necessrias
recomendaes aos pais e aos professores do aluno, no que diz respeito s
necessidades educativas do aluno.
Os pais da criana fornecem informaes acerca do seu educando a outros membros da
equipa de avaliao. Idealmente, tanto o pai como a me deveriam fazer parte do
processo de avaliao. Uma vez que observaram e acompanharam a criana ao longo da
sua vida numa variedade de diferentes situaes. Os pais tm uma perspetiva nica do
desenvolvimento anterior do seu filho e da sua presente adaptao.
A nfase em geral posta na obteno de informaes relativas sade geral da famlia,
sua estrutura e funcionamento e documentao de aspetos importantes da histria
mdica, desenvolvimental, social e acadmica da criana que sejam relevantes para a
avaliao da PHDA.
O processo de avaliao pode ser emocionalmente difcil, tanto para os pais como para a
criana. Os pais levam para este processo mais do que mera informao objetiva e
registos, quando, no consultrio mdico, se prossegue com a avaliao. Contribuem com
uma mistura de emoes acerca de eles prprios e do seu educando. Para alguns pais, a
entrevista inicial com um profissional de cuidados de sade, ou com um professor,
constituir a sua primeira tentativa de encontrar ajuda e pode ser a primeira vez que
falam com algum exterior famlia acerca dos problemas do seu filho. Outros pais
estaro habituados a debater estas questes, tendo, no passado, procurado ajuda para o
seu filho. Em qualquer dos casos, geralmente os pais sentem-se profundamente afetados
pelos problemas da criana e no raro que, durante o processo, muitos sentimentos
sejam expressos das mais variadas formas, algumas menos prprias, chegando mesmo
o stress familiar a ser tanto que surgem divrcios ou zangas frequentes.
31 Ana Catarina . Malveira
A criana o bem mais precioso a cuidar e a sua entrevista oferece ao clnico a
oportunidade de observar o comportamento dela. Pode ainda fornecer informaes
valiosas quanto adaptao social e emocional da criana, quanto aos sentimentos que
nutre por si prpria e pelos outros, assim como quanto ao modo de a criana encarar a
escola e outros aspetos da sua vida. Informaes deste tipo podem ser obtidas atravs
de entrevistas com a criana e de testes psicolgicos que avaliam a adaptao social e
emocional.
Muitas vezes, as crianas com PHDA tm um bom comportamento durante as
entrevistas, por isso as observaes acerca de comportamento da criana, do seu nvel
de atividade, de ateno ou de conformidade que so feitas durante as sesses no
devem ser tomadas como totalmente verdadeiras para todas as outras situaes em
que a criana se encontre. O comportamento normal num contexto estranho e numa
situao de um para um, no diminui a probabilidade de a criana apresentar uma
desordem por dfice de ateno, pelo contrrio o fator tempo e o nervosismo faz com que
os resultados se alterem.
Uma vez terminada a avaliao, os membros da equipa devem falar uns com os outros
para analisarem as suas descobertas e chegarem a concluses no que diz respeito ao
diagnstico e s recomendaes a fazer. Estas informaes podem ser integradas num
relatrio final, dependendo do contexto em que a avaliao foi realizada. No entanto,
mais comum que cada elemento da equipa elabore um relatrio individual com as suas
concluses.
Se for feito um diagnstico de PHDA (e/ou outras condies), ser elaborado um plano
de tratamento para todas as reas que requerem interveno. O mdico pode determinar
que seja administrada medicao criana. O psiclogo, ou outro profissional de sade
mental, pode recomendar aconselhamento, modificao em competncias sociais e
organizacionais. A escola pode recomendar que sejam feitas mudanas ambientais ou
adaptaes pelo professor na sala de aula, para apoiar o aluno com PHDA, ou pode
disponibilizar programas especiais, se se considerar que a criana necessita de recurso
educao especial e aos servios com ela relacionados, com base numa condio que a
qualifica para tal.
Se se concluir que a criana apresenta PHDA, a avaliao no deve terminar assim que
a avaliao inicial estiver concluda. Devem ter lugares de avaliaes de rotina
subsequentes, realizadas por membros da equipa de avaliao e de tratamento, para
determinar a forma como a criana est a progredir. A PHDA, sendo uma condio
32 Ana Catarina . Malveira
crnica, requer com frequncia cuidados a longo prazo e monitorizao regular. Os pais
necessitaro de coordenar as atividades com os membros da equipa de tratamento de
forma a trabalharem em conjunto no melhor interesse da criana. Esta coordenao, quer
seja realizada pelos pais quer por um profissional, no fcil, mas o resultado
normalmente compensa bem o esforo.
2.7- Tratamento
Para que o tratamento da criana ou do adolescente com PHDA seja bem sucedido
normalmente seguido um plano de tratamento combinado e compreensivo. Alm da
interveno na escola a criana dever tambm ter acompanhamento mdico
(farmacologia) e acompanhamento psicopedaggico. Por essa razo, os profissionais
que tiverem um papel ativo no processo de avaliao, estaro tambm envolvidos na
implementao do plano de tratamento, nomeadamente os professores e a famlia.
Caso haja necessidade de medicar a criana com PHDA, cabe aos pais decidir se
pretendem que seja administrada medicao aos seus filhos, visto esta perturbao no
ter cura ( um trao humano normal externo), mas que pode ser atenuada e os sintomas
aliviados. Normalmente os pais tendem a aceitar sem restries que os seus filhos sejam
medicados, mas por vezes existem alguns mais relutantes neste aspeto.
Para muitas crianas com PHDA, a base do programa mdico consiste na gesto da
medicao para controlar os sintomas da perturbao. Apesar de muitas pessoas
preferirem alternativas ao tratamento farmacolgico, o uso cauteloso de certos
medicamentos em crianas com PHDA est bem estabelecido como componente eficaz
do plano geral de tratamento. Nem todas as crianas com PHDA necessitam de
medicao, quer porque as caractersticas da perturbao que apresentam so ligeiras e
podem ser geridas atravs de estratgias de modificao do comportamento, quer
porque os ambientes escolares e familiar so passveis de sofrerem mudanas, de forma
a compensarem as dificuldades da criana (isto , turmas mais pequenas, maior
superviso por parte do professor, tarefas mais reduzidas, etc.). No entanto podem surtir
alguns efeitos colaterais ao uso da medicao, como a diminuio do apetite, aumento da
frequncia cardaca e da presso arterial, aumento da atividade elctrica cerebral,
insnias, tiques nervosos e psicose temporria.
A medicao um mtodo de elevado nvel de eficcia, porm, nunca demais frisar
que o apoio dos pais e da escola crucial. Para os casos em que requerem medicao
33 Ana Catarina . Malveira
no tratamento da PHDA, as classes de medicamentos geralmente prescritas pelos
mdicos so os psicostimulantes e os antidepressivos.
Desde 1937 existem frmacos que tm sido usados para tratar a hiperatividade, na
sequncia do primeiro relatrio acerca da utilidade da Benzedrine (Parker 2006:19-26) no
tratamento desta perturbao. Porm at data apenas Ritalina, Norpramin e Catapres
(Parker 2006:19-26) so comercializados em Portugal. Suspeita-se que os
psicostimulantes tm efeito nos neurotransmissores do organismo, permitindo assim que
a criana focalize melhor a sua ateno, controle a impulsividade, regule a atividade
motora