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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS E MATEMÁTICA ANA KARLA VARELA DA SILVA SIQUEIRA MATEMÁTICA INCLUSIVA: UM ESTUDO COLABORATIVO SOBRE JOGOS COM REGRAS NATAL/RN 2019

MATEMÁTICA INCLUSIVA: UM ESTUDO COLABORATIVO …...colaboraram com meu trabalho, apontando caminhos para que este fosse construindo a fim de responder ao nosso desejo maior: o de

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS E

MATEMÁTICA

ANA KARLA VARELA DA SILVA SIQUEIRA

MATEMÁTICA INCLUSIVA: UM ESTUDO COLABORATIVO SOBRE JOGOS

COM REGRAS

NATAL/RN

2019

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ANA KARLA VARELA DA SILVA SIQUEIRA

MATEMÁTICA INCLUSIVA: UM ESTUDO COLABORATIVO SOBRE JOGOS COM

REGRAS

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Ensino de

Ciências Naturais e Matemática da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte como requisito

necessário para obtenção do título de Mestre.

Orientadora: Profa. Dra. Mércia de Oliveira

Pontes

NATAL/RN

2019

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ANA KARLA VARELA DA SILVA SIQUEIRA

MATEMÁTICA INCLUSIVA: UM ESTUDO COLABORATIVO SOBRE JOGOS COM

REGRAS

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Ensino de

Ciências Naturais e Matemática da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte como requisito

necessário para obtenção do título de Mestre.

Natal/RN,

BANCA EXAMINADORA

_________________________________

Profa. Dra. Mércia de Oliveira Pontes - UFRN

Orientadora

__________________________________

Profa. Dra. Cláudia Rosana Kranz - UFRN

Examinadora Externa ao Programa

__________________________________

Profa. Dra. Ana Cláudia Gouveia de Sousa - IFCE

Examinadora Externa à Instituição

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A minha Sofia, minha Ana Sofia. Maior presente de

Deus para mim. Com ela aprendi que nada nessa

vida importa se não tivermos a certeza do amor de

Deus.

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AGRADECIMENTOS

A Deus minha gratidão eterna. Por todo amor, carinho e cuidado. Por não permitir

que o medo e a insegurança tomassem conta de mim. A ti, meu Deus, toda honra e toda

glória.

A minha família, mãe, irmã, marido, filha e sobrinhos. Aos meus avós (in

memoriam) por ter me ensinado que acima de tudo está Deus, e nos guiando na terra,

está o amor.

À Mércia Pontes, por ter tido a coragem de acreditar em mim. Depois de tantos

nãos e de uma história marcada pelo fracasso, ela me disse o sim que mudou minha

história. Serei eternamente grata a você, minha orientadora.

Aos meus colegas de profissão e labuta da Escola Municipal Professora Iapissara

Aguiar. Todas as palavras de incentivo, todo apoio e ajuda, e todos os dias que me

ouviram chorar e ter medo e disseram “ei, você é capaz!”, meu muito obrigada, em

especial a Sara, Kedj, Miriam, Ricardo, Pâmella, Chaguinha, Thiago Belo, Perícles,

Jorge e Andrinho, companheiros fiéis e parceiros nessa empreitada.

Aos meus meninos e meninas, que junto comigo ingressaram no programa, cheios

de sonhos e desejos. A vocês meu muito obrigada pela recepção e carinho; a pedagoga de

vocês sente orgulho de ter tido parceiros tão comprometidos com a educação. Em

especial, as minhas meninas, Rosa e Paloma, por terem seguido ao meu lado até aqui e a

Alison Luan, meu herege favorito, por todo apoio, por toda troca de conhecimento e pela

amizade.

Às professoras Claúdia Kranz e Ana Cláudia Gouveia, que gentilmente

colaboraram com meu trabalho, apontando caminhos para que este fosse construindo a

fim de responder ao nosso desejo maior: o de colaborar com a escola pública brasileira.

À Ana Cláudia Nunes Silva (bolsista de iniciação científica da minha orientadora)

e ao transcritor de Braille, Sidney Trindade, do laboratório de acessibilidade da

Biblioteca Zila Mamede da UFRN. Sem eles o jogo não teria sido materializado como

planejado.

À Rouseane Paula, minha amiga fiel. Sempre ao meu lado, orando, intercedendo,

puxando minhas orelhas e me dizendo que só o amor de Deus é o que importa. Sua ajuda

foi essencial, Rouse. Tanto na escrita do projeto como nas conversas e apoio espiritual.

Por fim, aos meus professores do Programa de Pós-Graduação em Ensino de

Ciências Naturais e Matemática da Universidade Federal do Rio Grande do Norte por

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todo conhecimento divido, por todo apoio, colaboração carinho e dedicação. Afirmo que

essa equipe fez a diferença em minha vida acadêmica, me mostrando um outo lado da

academia, o lado da parceria, do trabalho em equipe e do respeito. Agradeço por ter tido

a oportunidade de ser aluna de mestres tão dedicados e comprometidos com a formação

docente.

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“Mire, veja: o mais importante e

bonito no mundo, é isto: que as pessoas

não são sempre iguais, ainda não foram

terminadas...” (Guimarães Rosa)

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RESUMO

O presente estudo trata de uma dissertação de mestrado intitulada Matemática Inclusiva:

um estudo colaborativo sobre jogos com regras e está vinculada ao Programa de Pós-

Graduação em Ensino de Ciências Naturais e Matemática (PPGCNM/UFRN), tendo

como objetivo investigar as potencialidades do uso dos jogos com regras em uma

perspectiva inclusiva no ensino dos números racionais. A pesquisa foi desenvolvida junto

a um grupo de trabalho colaborativo formado por professores de Matemática e, ainda,

com alunos dos anos finais do Ensino Fundamental de uma escola pública da rede

municipal de Natal/RN. O mesmo insere-se na abordagem qualitativa, configurando-se

como uma pesquisa colaborativa, compreendendo esta como um processo de interação,

mediado pela colaboração e reflexão acerca de um dado objeto, no qual pesquisador e

sujeitos colaboradores passam a ter direitos e deveres iguais dentro de uma cadeia de

estudo e reconstrução de conhecimentos e formulação de saberes. Assim, nossa pesquisa

buscou contribuir para os estudos no campo da Educação Matemática Inclusiva,

fundamentada em D’Ambrosio (2201, 2013), Fiorentini (2013), Kranz (2014, 2015),

dentre outros, tendo os estudos referentes ao conceito de mediação e colaboração

presente na Psicologia Histórico-Cultural como referencial no tocante ao ensino

colaborativo e inclusivo. Como produto educacional, elaboramos um manual didático,

apresentando o jogo com regras e o planejamento didático-pedagógico do mesmo,

construído e desenvolvido junto ao grupo colaborativo. O processo de construção e

desenvolvimento do jogo nos possibilitou perceber que o uso desse recurso pedagógico

potencializa os processos de ensino e de aprendizagem dos alunos, favorecendo a

colaboração e a mediação entre os envolvidos, aguçando os processos de pensamento

através da problematização do jogo, sistematizando os conceitos matemáticos presentes

no mesmo, bem como, contribuindo com os processos formativos dos professores

colaboradores e da pesquisadora. Dessa forma, almejamos que esse material favoreça o

repensar do ensino da Matemática, em especial, do conceito de números racionais,

contribuindo, assim, com a prática docente dos professores de Matemática, numa

perspectiva inclusiva.

PALAVRAS-CHAVE: Matemática Inclusiva; Jogos com regras; Pesquisa Colaborativa;

Números Racionais;

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ABSTRACT

This present study is about a masters dissertation entitled “Included mathematics”: An

collaborate study about games with rules; and it is linked to Postgraduate Program in

Teaching Natural Sciences and Mathematics (UFRN), that aims to investigate the

potentialities using rules games in an inclusive perspective in teaching rational numbers

with a collaborative work group composed by elementary mathematic teachers by public

school in Natal. This study is included in a qualitative approach, being configured as

collaborative research, understanding collaborative research as an interaction and reflection

process about an given object, where researcher and collaborate subjects have equal rights

and duties within a chain of study and reconstruction of knowledge and knowledge

formulation. Thus, our research sought to contribute to the studies in the field of Inclusive

Mathematical Education, based on D’Ambrosio (2201, 2013), Fiorentini (2013), Kranz

(2014, 2015), and others, with the studies referring to the concept of mediation and

collaboration present in Historical-Cultural Psychology, as a reference for collaborative and

inclusive teaching. As an educational product, we developed a didactic manual, presenting

the game with rules built with the collaborative group. Thus, we hope that this material

favors the rethinking of mathematics teaching, especially the concept of rational numbers,

contributing to the teaching practice of Mathematics teachers, in an inclusive perspective.

KEY WORDS: Inclusive Mathematics; Games with rules; Collaborative Research; Rational

Numbers;

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Distribuição de alunos matriculados ........................................... 52

Quadro 2 – rendimento Acadêmico (2015 – 2017) ........................................ 53

Quadro 3 – Identificação Fictícia dos Professores Colaboradores ................. 56

Quadro 4 – Pontos Positivos e Negativos ...................................................... 76

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Rendimento Acadêmico (2015 – 2017) ...................................... 54

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Gráfico Evolução dos Resultados / SAEB .................................... 25

Figura 2 – Tabuleiro do jogo........................................................................... 71

Figura 3 – Marcadores do jogo ....................................................................... 71

Figura 4 – Dados d10 ampliados .................................................................... 72

Figura 5 – Moedas para trabalhar os múltiplos e divisores ............................ 72

Figura 6 – Régua de fração ............................................................................ 72

Figura 7 – Disco de Fração ............................................................................ 73

Figura 8 – Cartas ampliadas e com Braille .................................................... 74

Figura 9 – Escrita do aluno com autismo ...................................................... 85

Figura 10 –Registro do aluno 1 ..................................................................... 87

Figura 11 – Registro do aluno 2 .................................................................... 89

Figura 12 – Calculando o MMC por decomposição ..................................... 90

Figura 13 - Calculando o MMC por conjunto de múltiplos ......................... 91

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO………………………………………………................................ 13

CAPITULO I – LEVANTANDO AS PAREDES: UM POUCO DA

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E SUA IMPORTÂNCIA NO

REPENSAR A ESCOLA A PARTIR DA INCLUSÃO........................................

19

1.1. Educação Matemática: uma breve discussão ............................................................ 19

1.2. Educação inclusiva: novos caminhos, velhos olhares........................................ 26

1.3. A Educação Matemática inclusiva: um novo caminhar?.................................... 30

1.4. O desenho universal em contextos educacionais.......................................................

33

CAPITULO II – O ENSINO DA MATEMÁTICA NUMA PERSPECTIVA

INCLUSIVA E COLABORATIVA À LUZ DA PSICOLOGIA

HISTÓRICA–CULTURAL ....................................................................................

37

2.1. Mediação e colaboração nos estudos da Psicologia Histórico-Cultural.............. 39

2.2. Os jogos com regras enquanto metodologia colaborativa e participativa .......... 42

CAPITULO III – UM ESTUDO COLABORATIVO SOBRE O USO DE

JOGOS COM REGRAS NO ENSINO DOS NÚMEROS RACIONAIS............

46

3.1. O locus da pesquisa…………………………………………............................. 50

3.1.1. O grupo colaborativo e seus participantes............................................... 54

3.1.2. Perfil da turma do 6° ano......................................................................... 57

3.2. Os encontros do grupo colaborativo ................................................................... 59

3.3. O produto educacional: jogos construídos colaborativamente............................ 64

3.3.1. Role Playing Game – RPG e a colaboração..................................................... 68

3.3.2. Desafio das Frações – o jogo............................................................................ 70

3.4 . Refletindo sobre as possibilidades do uso de jogos com regras no ensino dos

números racionais em uma perspectiva inclusiva .....................................................

77

3.4.1. Planejando a aplicação do jogo...................................................................... 79

3.4.2. Jogando o “Desafio das Frações” .................................................................. 82

3.4.3. O jogo com regras e suas potencialidades inclusivas no ensino dos

números racionais ......................................................................................................

88

4. TECENDO CONSIDERAÇÕES ....................................................................... 92

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REFERÊNCIAS ……………………………………………….............................. 95

APÊNDICES …………………………………………………................................ 103

APÊNDICE I – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................ 104

APÊNDICE II – Descrevendo o Jogo das Frações ................................................... 105

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INTRODUÇÃO

Essa pesquisa realizou-se em nível de mestrado profissional, e tem como título

“Matemática Inclusiva: um estudo colaborativo sobre jogos com regras”. A mesma está

vinculada à linha de pesquisa Ensino e Aprendizagem de Ciências Naturais e

Matemática, do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências Naturais e

Matemática (PPGECNM/CCET/UFRN). Apresenta a seguinte questão foco: quais as

potencialidades dos jogos com regras nos processos de ensino e de aprendizagem dos

números racionais em uma perspectiva inclusiva e colaborativa?

Nosso estudo foi pensado buscando atender às exigências do PPGECNM/UFRN,

que orienta como requisitos para a conclusão do curso, em nível de mestrado

profissional, a defesa da dissertação do estudo realizado e a elaboração de um produto

educacional. Segundo o documento 001/2012 Comunicado/CAPES – Área de Ensino

(BRASIL, 2012), o foco dos mestrados profissionais está na aplicação do conhecimento,

na pesquisa aplicada e no desenvolvimento de produtos e processos educacionais que

sejam implementados em condições reais de ensino.

Diante da proposta do programa, nossa intenção consistiu em promover um

trabalho colaborativo junto a professores de Matemática que atuam nos anos finais do

Ensino Fundamental, visando contribuir com o ensino dos Números Racionais no

6°ano, a partir do uso de jogos com regras na perspectiva da Educação Matemática

Inclusiva, em uma escola pública da rede municipal de Natal/RN.

O tema da pesquisa teve sua origem em reflexões desenvolvidas ao longo da

minha atuação e formação profissionais, desde o curso de Pedagogia, vinculado à

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Dessa forma, algumas questões

foram reafirmadas a partir das inquietações originadas da minha atuação como

coordenadora da rede municipal de Natal/RN, desde 2008, que desdobraram no

acompanhamento e formação de professores de Matemática, no âmbito das escolas nas

quais atuei.

Dos questionamentos que surgiram no decorrer do meu processo de atuação

como coordenadora pedagógica, alguns são pertinentes quando pensarmos nas formas

de atuação dos profissionais que ensinam Matemática. Questões como: o uso de jogos

com regras favorece a aprendizagem da Matemática? O trabalho colaborativo

possibilitará melhorias nos processos de ensino e de aprendizagem? A utilização de

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jogos com regras em uma perspectiva inclusiva auxiliará os professores em sua ação

didática? Os alunos se sentirão motivados e atores no processo de aprender?

Os referidos questionamentos, dentre outros que permeiam a nossa prática,

foram surgindo e somando-se no decorrer de uma trajetória de vivências. Nesse sentido,

na perspectiva de ampliarmos as reflexões fomentadas por nossa prática, apresentamos

interesse e motivação em continuar nossos estudos, ingressando no Programa de Pós-

Graduação em Ensino de Ciências Naturais e Matemática (PPGECNM) da UFRN,

buscando contribuir para o ensino da Matemática na Educação Básica.

Sabemos que a nossa sociedade delega, de maneira equivocada, à instituição escolar

a competência da educação do cidadão, tanto na sua formação geral como para o mundo do

trabalho. É na escola, espaço reconhecido socialmente como privilegiado, onde deveria

ocorrer o processo de sistematização do saber, bem como o seu tratamento teórico,

parametrizado, modelado, isto é, científico. Contudo, é nesse espaço de “poder” que os

indivíduos são “conduzidos” a aprender a analisar, refletir, criticar e avaliar as ações

imbricadas em sua condição sócio-humana.

Em alguns modelos de educação, cabe ao professor o papel, enquanto “detentor

do conhecimento”, de transmitir ao aluno, agente passivo nesse processo, os saberes

acumulados ao longo da História. O ensino da Matemática nessa concepção

conservadora de Educação tem “sido desenvolvido através de conteúdos programáticos

enciclopédicos, abstratos e formalizados” (LAUDARES, 2002, p. 22). Partindo de tais

pressupostos, a Matemática originada basicamente pelas necessidades de medir,

explicar a natureza e os seus fenômenos vem sendo tratada como um “amontoado” de

fórmulas e equações dissociadas da atividade humana que a gerou.

Como contraponto, a educação escolar assume papel fundamental já que lhe

cabe a sistematização, pelo menos no campo empírico, de forma competente, dos

conhecimentos formais, historicamente acumulados, “instrumentalizando” os indivíduos

à compreensão da sociedade em que vivemos para nela atuarem de forma consciente.

Reportando-se ao universo educacional de crianças e adolescentes, a instituição

escolar assume o papel de “preparar” cidadãos para uma sociedade cada vez mais

desenvolvida tecnológica e cientificamente, bem como heterogênea, multicultural e

globalizada. Assim, o espaço escolar deve ser pensado para e com todos e todas,

partindo do princípio de que todos os processos de ensino e de aprendizagem devem

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estar pautados no respeito e valorização dos saberes e conhecimentos de seus atores e no

trabalho com a diversidade sociocultural, religiosa e política.

Nesta perspectiva, o ensino da Matemática, juntamente com as outras áreas do

conhecimento, assume a tarefa de contribuir com o exercício pleno da cidadania destes

indivíduos.

Nossa pesquisa buscou, assim, contribuir para os estudos no campo da Educação

Matemática, fundamentada em D’Ambrosio (2201, 2013), Fiorentini (2013), Kranz

(2014, 2015) dentre outros, tendo os estudos referentes ao conceito de mediação

presente na Psicologia Histórico-Cultural como referencial no tocante ao ensino

colaborativo e inclusivo.

Tendo como objetivo geral investigar as potencialidades do uso dos jogos com

regras em uma perspectiva inclusiva no ensino dos números racionais, organizamos um

grupo colaborativo, fundamentado em Ibiapina (2009, 2016), Ferreira (2006, 2012),

Fiorentini (2013), e Lopes e Nacarato (2018) junto a professores de Matemática dos

anos finais do Ensino Fundamental.

Para tanto, buscando consolidar nosso processo investigativo, tendo em vista

nossa questão foco, supracitada e o objetivo geral, elegemos dois objetivos específicos,

citados a seguir: avaliar os aspectos colaborativo, inovador e inclusivo dos jogos com

regras no ensino e aprendizagem de números racionais nos anos finais do Ensino

Fundamental e elaborar, como produto educacional, o jogo com regras e seu plano

didático-pedagógico voltado para o ensino dos números racionais.

Podemos afirmar então, que a metodologia de investigação inscreve-se num

quadro que se configura concomitantemente interpretativo e analítico (FIORENTINI;

CASTRO, 2003), contribuindo para uma reflexão acerca da Matemática Inclusiva e o

uso dos jogos com regras.

Ressaltamos que para consecução deste estudo, elegemos nosso referencial

teórico tendo em vista construir um caminho com obstáculos possíveis de superação.

Para além da fundamentação acerca de grupo colaborativo mencionado anteriormente,

nos apoiamos nos estudos desenvolvidos por Kranz (2014, 2015), pioneira nos estudos

do Desenho Universal Pedagógico e nossa principal referência no tocante aos jogos com

regras e à Matemática Inclusiva; e por Vygotsky e nos estudos da Psicologia Histórico-

Cultural referentes ao conceito de mediação e colaboração no processo de ensino e de

aprendizagem.

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No que tange ao ensino dos números racionais e à Educação Matemática

referendamos nosso estudo em D’Ambrosio (2001, 2013), Fiorentinni (2013), Carvalho

(1997), Pèrez (s/d) e Caraça (1989), dentre outros, uma vez que estes possibilitaram a

compreensão da importância do ensino da Matemática, particularmente, do ensino dos

números racionais, no desenvolvimento cognitivo e social dos indivíduos.

Assim, nosso percurso metodológico iniciou com o estudo dos nossos

referenciais teóricos e metodológicos objetivando nos fundamentarmos para o trabalho

em campo e o desenvolvimento do nosso produto educacional. A partir daí, tendo a

certeza que esse referencial seria ampliado, partimos para o trabalho com o grupo

colaborativo e elaboração do nosso produto educacional, que foi dividido em quatro

etapas:

1ª etapa: planejamento e realização de sessões do grupo colaborativo para

estudo e elaboração de recursos pedagógicos junto aos professores de

Matemática.

2ª etapa: planejamento e confecção do jogo com regra à luz do Desenho

Universal Pedagógico proposto por Kranz (2011, 2015).

3ª etapa: aplicação do recurso pedagógico (jogo com regra) construído pelo

grupo colaborativo junto a turmas do 6° ano do Ensino Fundamental em

uma perspectiva colaborativa e inclusiva.

4ª etapa: avaliação da aplicação do recurso (jogo com regras) pelos alunos

do 6° ano e pelo grupo colaborativo.

Nosso locus foi uma escola da rede municipal de ensino na cidade de

Natal/RN, localizada na Zona Norte da cidade, no bairro de Igapó. A escolha da mesma

se deu pela proximidade junto à equipe docente e pedagógica da escola, tendo em vista

nossa atuação durante sete anos como coordenadora pedagógica na instituição. Outro

fator pertinente para a escolha da escola foi a disponibilidade do grupo de professores

de Matemática que atuam nos anos finais do Ensino Fundamental em participar do

projeto (o que foi fundamental para o trabalho).

Participaram do grupo colaborativo três professores de Matemática da

instituição (duas mulheres e um homem), licenciados em Matemática pela UFRN e a

pesquisadora – colaborada. Os momentos do encontro do grupo ocorreram,

quinzenalmente, na hora-atividade (momento destinado aos profissionais para estudo e

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planejamento). É importante frisarmos que na rede municipal de ensino da cidade do

Natal/RN, os professores de Matemática planejam semanalmente, às quartas-feiras.

Os encontros se subdividiram em momentos de estudo e reflexão, sempre

tecendo um diálogo com a prática educativa e as nuances que a envolve. Nesse

processo, de ação dialógica, estabelecemos os pressupostos do jogo que seria criado

pelo grupo, bem como o conteúdo com qual iríamos trabalhar. Frisamos que essa

escolha se deu a partir do planejamento da professora titular da turma escolhida para a

aplicação do jogo.

A elaboração do jogo se deu em conjunto ou seja, com todo os participantes do

grupo colaborativo. As reuniões do grupo colaborativo extrapolaram os espaços

destinado a ele, criando vínculos e troca de experiência e conhecimento entre os

participes do grupo para além dos muros da escola.

Nesse interim, a confecção do jogo se deu, em especial, por mim, com o apoio

do Grupo de Pesquisa em Educação Matemática e Inclusão e do Laboratório de

Acessibilidade da Biblioteca Zila Mamede (BCZM).

Após a elaboração do recurso pedagógico – o jogo com regras – aplicamos o

mesmo em duas sessões junto a uma turma do 6° ano do Ensino Fundamental, e

procedemos a análise do material coletado através da filmagem das sessões e do registro

escrito, por parte dos docentes durante as sessões do grupo colaborativo e aplicação do

jogo e dos discentes, após a vivência do jogo, almejando, então, evidenciar as

potencialidades e fragilidades inerentes a um trabalho colaborativo com professores de

matemática que atuam nos anos finais do Ensino Fundamental tendo em vista o ensino

dos números racionais no 6°ano a partir do uso de jogos com regras na perspectiva da

Educação Matemática Inclusiva e Colaborativa.

Nosso trabalho está subdivido em três capítulos, nos quais buscamos

fundamentar, descrever e analisar a importância desse estudo para a Educação Básica e,

ao final, algumas considerações acerca do estudo.

No primeiro capítulo buscamos resgatar um pouco do ensino da Matemática no

Brasil e sua importância no repensar a escola a partir da inclusão, apresentando um

resgate histórico do ensino da Matemática e do ensino inclusivo no Brasil, e dos estudos

inerentes à Educação Matemática Inclusiva.

Dando continuidade a nossa linha de estudo, abordaremos no segundo capitulo,

a partir dos nossos referenciais, o ensino da Matemática na perspectiva inclusiva à luz

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do conceito de mediação presente nos estudos da Psicologia Histórico-Cultural, e como

essa corrente colabora com os estudos referentes aos jogos com regras.

No terceiro capitulo, apresentaremos nosso percurso metodológico, ao mesmo

tempo que buscaremos refletir sobre as possibilidades do uso dos jogos com regras no

ensino dos números racionais em uma perspectiva inclusiva a partir dos estudos em um

grupo colaborativo.

Por fim, teceremos algumas considerações a partir do estudo dos resultados

obtidos apontando os pontos positivos e negativos de um trabalho desenvolvido nessa

perspectiva, tentando responder a nossa questão foco bem como ao objetivo maior de

um trabalho acadêmico em nível profissionalizante que é, por mim compreendido como

o de subsidiar e auxiliar práticas educativas que favoreçam a melhoria da Educação

Básica nas escolas brasileiras, uma vez que o produto final desse trabalho está

direcionado para o apoio aos processos de ensino e de aprendizagem.

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CAPITULO I - LEVANTANDO AS PAREDES: UM POUCO DA HISTÓRIA DA

EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E SUA IMPORTÂNCIA NO REPENSAR A

ESCOLA A PARTIR DA INCLUSÃO.

Excluem-se da escola os que não conseguem aprender, excluem-se do

mercado de trabalho os que não têm capacidade técnica porque antes

não aprenderam a ler, escrever e contar e excluem-se, finalmente, do

exercício da cidadania esses mesmos cidadãos, porque não conhecem

os valores morais e políticos que fundam a vida de uma sociedade

livre, democrática e participativa.

Paulo Freire

Sabemos que a sociedade atual vive um paradoxo: de um lado o desenvolvimento

técnico-científico poderia possibilitar uma qualidade de vida sequer sonhada há séculos; por

outro lado, as injustiças sociais, agravadas pelas diferenças na distribuição de renda,

características marcantes dos países em desenvolvimento, que expõem a maioria da

população a condições de vida extremamente precárias.

Nesse contexto, a educação escolar assume papel fundamental já que lhe cabe o

ensino dos saberes sistematizados pela humanidade ao longo de sua história, de forma

competente, bem como dos conhecimentos formais, historicamente acumulados,

auxiliando os indivíduos à compreensão da sociedade em que vivemos para nela

atuarem de forma consciente e crítica.

Reportando-se ao universo educacional de crianças e jovens, a instituição escolar

assume o papel de preparar cidadãos para uma sociedade cada vez mais desenvolvida

tecnológica e cientificamente, bem como heterogênea, multicultural e globalizada.

Assim, o espaço escolar deve ser pensado para e com todos e todas, partindo do

princípio de que os processos de ensino e de aprendizagem devem estar pautados no

respeito e valorização dos saberes e conhecimentos de seus atores e no trabalho com a

diversidade sociocultural, religiosa e política.

1.1. Educação Matemática: uma breve discussão

O ensino da Matemática, juntamente com as outras áreas do conhecimento,

assume a tarefa de contribuir com o exercício pleno da cidadania destes indivíduos.

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Todavia, ao longo da História da Educação Brasileira, a Matemática é concebida como

“vilã”, sendo a ela, principalmente, atribuídos os altos índices de repetência e evasão

escolar. Essa área do conhecimento é considerada muitas vezes como corpo de

conhecimento imutável, que deve ser assimilado pelo sujeito. Esta atribuição é, na

verdade, um espectro que ronda a Educação Matemática desde sua afirmação enquanto

linguagem e/ou ciência. Todavia, é importante compreendermos como essa concepção

foi sendo construída e validada no espaço escolar.

Nesse sentido, Saito (2015) nos diz que a Matemática é uma construção humana,

e a mesma não evoluiu de forma linear, devendo ser considerados os diversos momentos

históricos e culturais pelos quais caminhou. O autor também aponta a importância de se

compreender que as histórias relacionadas à Matemática, conhecidas por nós na

atualidade, nem sempre foram pensadas no contexto que hoje conhecemos: “[...] cada

uma dessas histórias foi escrita em diferentes épocas e contextos, atendendo a diferentes

contingências que, nem sempre, foram ou são ‘matemáticas’ no sentido que

conhecemos hoje” (SAITO, 2015, p. 21).

A Matemática como conhecemos hoje só surgiu no final do Século XIX, pois,

anteriormente, os conhecimentos matemáticos eram diluídos em outras áreas do

conhecimento, conhecidas como matemáticas.

O modelo de Matemática lógico dedutivo, ainda presente em nossa época,

originou-se com a civilização grega, no período que vai, aproximadamente, de 700 a.C.

a 300 a.C., abrigando sistemas formais, logicamente estruturados a partir de um

conjunto de premissas e empregando regras de raciocínio preestabelecidas (BRASIL,

2001, p. 25).

Os avanços sociais, políticos e econômicos das civilizações possibilitaram o

desenvolvimento da Matemática (que teve origem no período paleolítico, surgida das

necessidades práticas impostas pelo contexto social), que passou por vários momentos

qualitativamente diferentes até assumir o seu caráter científico, conhecido por nós na

atualidade.

Segundo Miorim (1998), o ensino da Matemática começou a acontecer de forma

intencional no período das antigas civilizações orientais. Desde então, considerada uma

ciência nobre, seu ensino foi reservado apenas a uma classe privilegiada. Na

Antiguidade, aos escribas, dirigentes, filósofos; hoje, aos que conseguem chegar e

permanecer e aprender nas escolas.

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Durante séculos, essa concepção – de ciência nobre – direcionou o ensino de

Matemática causando consequências desastrosas para o ensino dessa disciplina, sentidas

por nós até hoje.

No Brasil, os jesuítas foram os responsáveis pelas primeiras escolas no Brasil. No

que tange à Educação, a ênfase dada pelos padres da Companhia de Jesus recaía sobre os

estudos que conduziam a uma cultura clássica e humanística, sendo a Matemática ensinada

como simples ferramenta necessária às demandas imediatas do dia a dia (PITOMBEIRA,

1998).

Miorim (1998) nos diz que existem poucas informações sobre o ensino de

Matemática nos colégios “dos jesuítas”. Muitos padres desta congregação enxergavam

com “maus olhos” as Matemáticas. "Os estudos das relações misteriosas entre os

números e entre estes e as letras – a gematria – inquietavam os religiosos” (MIORIM,

1998, p. 28).

Entretanto, em meados de Século XVIII, com a revolução cartesiana, as escolas

jesuíticas começaram a atribuir certa importância ao ensino das Matemáticas; em

algumas escolas, graças ao empenho de alguns mestres, os estudos matemáticos foram

mais incentivados.

Em 1759, os jesuítas foram expulsos do Brasil e principiou-se, então, um total

descaso e abandono para com a educação. Embora fosse a catequização e a reprodução

da cultura européia, os eixos da educação jesuítica, por aproximadamente 200 anos,

esses padres foram a maior referência educacional do país.

Com o intuito de amenizar o “caos” instituído com a expulsão dos jesuítas, em

1772, a reforma pombalina criou as chamadas “aulas régias” que tinham por objetivo

preencher a lacuna deixada pela eliminação da estrutura escolar jesuítica. Apesar de serem

um retrocesso para a educação, de acordo com Miorim (1998), as aulas régias

possibilitaram a “revisão” e modificação dos conteúdos escolares, especialmente por meio

da introdução de novas disciplinas como: Aritmética, Álgebra e Geometria.

Durante todo o período colonial e imperial, paralelos às aulas régias, foram criados

seminários e colégios mantidos por ordens religiosas, escolas e professores particulares

(especialmente no Rio de Janeiro) e os Liceus das províncias (o Atheneu, no Rio Grande do

Norte em 1835 e os da Bahia e Paraíba em 1836). “O objetivo comum de todos esses

estabelecimentos de ensino secundário era a preparação dos alunos para o ingresso nas

academias militares e escolas superiores” (MIORIM, 1998, p. 85).

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Em síntese, nada mudou para a Matemática, seu ensino ainda era restrito a uma

parte da casta dominante com o intuito de fornecer “ferramentas” para ascensão escolar

e/ou social.

Por volta de 1837, o ensino da Matemática assumiu um caráter mais “pragmático”,

a concessão ao Colégio Pedro II, enquanto estabelecimento – modelo, proporcionou

avanços significativos no que diz respeito à elaboração de programas oficiais de

Matemática para o ensino primário, ginasial e secundário em todo país.

Já na República, todo o Sistema Educacional Brasileiro passou por uma profunda

reforma conhecida como a Reforma Benjamim Constant1. O então primeiro-ministro da

Instrução, Correios e Telégrafos, Benjamim Constant, inspirado pelas premissas

positivistas, em especial pela filosofia de Augusto Comte, tentou introduzir uma formação

científica em detrimento da libertária. No que diz respeito ao ensino de Matemática, as

bases positivistas tinham tal ciência – a Matemática – como fundamental, contemplando sua

aplicação como um todo. Todavia, as propostas apresentadas por Benjamim Constant não

lograram êxito, enfrentando grandes resistências, até mesmo por parte de alguns

positivistas. Em 1891 sua reforma foi revogada.

Conforme Pitombeira (1998, p. 38), uma tradição em todos os currículos, desde a

reforma de 1930, era o estudo compartimentalizado da Matemática. Havia todo um ano

dedicado, por exemplo, à revisão da Aritmética, um outro à Álgebra, e, ainda, outros à

Geometria e à Trigonometria Elementares. Além disso, para cada tópico tratado um texto

diferente.

Entretanto, nenhuma das várias reformas que ocorreram após a de Constant, até

1930, produziram mudanças significativas no ensino da Matemática. Este continuou sendo

destinado apenas para preparação das profissões liberais como: advogados, médicos e

engenheiros. Só após a 1ª Guerra Mundial surgiu em todo o mundo um sentimento de

mudança, de renovação social, cultural, política e educacional.

Nesse momento de mudanças, em que se manifestava claramente o conflito entre o novo e o velho em todos os setores da vida social, ‘entre o

novo regime político e as velhas oligarquias, entre o capitalismo

industrial e o predomínio da economia agrícola’, entre a arte antiga e a

moderna, a nova proposta educacional tinha de ‘ser’ uma reação categórica, intencional e sistemática contra a velha estrutura do serviço

1 Benjamim Constant foi o Primeiro-ministro do então recém-criado Ministério da Instrução, Correios e

Telégrafos – 1890.

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educacional, artificial e verbalista, montada para uma concepção vencida

(ROMANELLI, 1990, p. 146 apud MIORIM, 1998, p. 89).

Embalado por este movimento de transformação e pelos princípios da Escola

Nova2, o Colégio Pedro II – modelo educacional do país nesse período – “instituíu um

currículo integrado de Matemática, em que durante um mesmo ano se estudava

integradamente álgebra e geometria” (PITOMBEIRA, 1998. p. 98).

Todavia, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais para o 3º e 4º Ciclos

(hoje anos finais do Ensino Fundamental), os movimentos de reorientação curricular

ocorridos no Brasil a partir dos anos 1920 não tiveram força suficiente para mudar a prática

docente e rever o caráter elitista o ensino da Matemática nem tão pouco melhorar sua

finalidade.

Nos anos compreendidos entre 1960 e 1970 todo o ensino da Matemática passou a

sofrer influência do Movimento da Matemática Moderna3. Este movimento que surgiu

enquanto movimento educacional, inserido numa política de modernização econômica foi

posto na linha de frente do ensino uma vez que a Matemática era considerada, juntamente

com as Ciências Naturais, uma via de acesso privilegiada para o pensamento científico e

tecnológico.

Nesse movimento, o ensino assume, então, um caráter puramente científico,

passando a se preocupar de forma excessiva com a formalização, desvinculando-se, ainda

mais, das questões práticas. A organização da Matemática Moderna baseava-se na Teoria

dos Conjuntos, nas estruturas matemáticas e na Lógica, a ênfase era centrada na linguagem

matemática e na simbologia da Teoria dos Conjuntos. “Os alunos não precisariam ‘saber’,

mas sim, saber ‘justificar’ porque faziam. A Teoria dos Conjuntos, as relações e funções,

tornaram-se temas básicos para o desenvolvimento dessa proposta” (MIORIM, 1998, p.

114).

2 Movimento propunha uma nova compreensão das necessidades da infância e questionava a passividade

na qual a criança estava condenada pela escola tradicional. A Escola Nova tem seus fundamentos ligados

aos avanços científicos da Biologia e da Psicologia e tinha como eixo os princípios da atividade e da

vinculação da situação a vida real na escola. 3 Segundo Alves e Silveira (2016, p 6) nos de 1950, ocorreram vários debates acerca do

ensino da Matemática em seus diferentes níveis de ensino. Tais debates desencadearam, de acordo com os

autores, no movimento que no Brasil ficou conhecido como Movimento da Matemática Moderna

(MMM). Esse, baseou-se na formalidade e no rigor dos fundamentos da teoria dos conjuntos e

da álgebra para o ensino e a aprendizagem de Matemática e teve grande força após a Segunda Guerra

Mundial

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Podemos dizer que as ideias da Matemática Moderna não contemplavam os

contextos socioeconômico e político no qual os alunos estavam inseridos. Os pressupostos

educacionais difundidos nos anos 1980, que endossam a “resolução de problemas” como

eixo norteador do ensino da Matemática, caracterizam novos rumos e discussões acerca da

Matemática escolar.

A sociedade, cada vez mais complexa, passa a exigir do cidadão não só

conhecimentos específicos, mas, principalmente, novas maneiras de organização do

pensamento, de tomar decisões e de “olhar” criticamente a sua condição social. “A

capacidade de aprender a aprender, de resolver problemas, de saber trabalhar em grupo,

como parte de equipes multidisciplinares, de expressar suas ideias por escrito ou oralmente”

(PITOMBEIRA, 1998, p. 13) são essenciais frente à nova conjuntura social.

Portanto, podemos afirmar que a Matemática é vista hoje, como um campo de

conceitos e procedimentos que engloba métodos de investigação e raciocínio, formas de

representação e comunicação que envolvem tanto seus modos próprios de compreender,

atuar, organizar e indagar o mundo, construídos historicamente, como também o

conhecimento, gerando nesses processos de interação dos sujeitos com os contextos naturais

e socioculturais.

Em suma, ao contrário do misticismo atribuído à Matemática na Antiguidade, a qual

poucos compreendiam, a Matemática é uma ciência viva, tanto no cotidiano dos cidadãos

como nos centros de produção de novos conhecimentos e pesquisas. Resta trabalharmos

nesta perspectiva na escola. Este é um dos pressupostos de pensar a Educação Matemática

Inclusiva.

Porém, não podemos afirmar que o caráter atribuído a ela enquanto ciência nobre,

“divina”, não continue a assolar os educandos e a preocupar aqueles que se empenham em

desmistificar essa ciência. Para Giardenetto (1998), é ponto consensual entre os

pesquisadores em Educação Matemática, o fato de que o ensino da Matemática tem sido

desenvolvido de forma enfadonha, com ênfase num processo de memorização aleatório

para aquisição de resultados conceituais, “apresentados sem nexo como se fossem pré-

determinados” (GIARDENETTO, 1998, p. 3).

Hoje, apesar do aumento das pesquisas nesse campo do saber e dos caminhos nelas

traçados apontarem que o desenvolvimento cognitivo dos sujeitos se dá por meio da

interação social, ou seja, de sua interação com outros indivíduos e com o meio, as práticas

educativas, em especial no campo da Matemática, na maioria das vezes, ainda são

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permeadas por um ensino mecanizado, propedêutico. Infelizmente, continuamos a

subestimar os conhecimentos advindos das relações socioculturais dos nossos alunos, como

se a Matemática não fosse fruto da atividade humana, apresentando-a, em especial, como

uma ciência estática, acabada, superior e destinada a algumas (poucas) mentes brilhantes.

Partindo do exposto, segundo o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica

(Saeb4), que avalia os Ensinos Fundamental e Médio nas escolas públicas de todo Brasil, um

grande contingente de alunos (70%) concluirá a primeira etapa da escolaridade do Ensino

Fundamental sem ter conseguido, de forma eficaz, dominar uma parte importante das

aprendizagens necessárias à continuidade dos estudos no que se refere ao ensino da

Matemática.

O relatório SAEB (ANEB e ANRESC) traz um panorama das avaliações aplicadas

entre os anos de 2005-2015, referentes às proficiências em Matemática e em Língua

Materna. O mesmo aponta uma evolução discreta nos resultados referentes à Matemática,

contundo, insatisfatório quando pensamos no nível de aprendizagem médio do país.

Segundo a última avaliação (SAEB 2017), os resultados ainda se situam no limite inferior

do nível básico (nível 4 de 10 da Escala de Proficiência) conforme interpretação

apresentada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) e que podemos identificar na

Figura 1 - Gráfico Evolução dos Resultados no Saeb, abaixo apresentada:

Figura 1 – Gráfico Evolução dos Resultados no Saeb / Proficiências médias em

Matemática

Fonte: INEP

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Ao nos reportamos para leitura do gráfico fica, portanto, evidente que embora

tenhamos tido um aumento (mínimo) nos níveis de proficiência em Matemática no Ensino

fundamental nos últimos anos, ainda temos muito a avançar.

Diante de tais colocações, entendemos que a concepção de ensino por parte

daqueles que o executam continua a ter por intuito desenvolver a destreza em técnicas

isoladas apreendidas por uma prática repetitiva (DEMO, 2000).

Compreendemos então que um dos objetivos principais do ensino da Matemática

passa a ser a ampliação do universo de conhecimentos matemáticos dos alunos, por meio de

situações problema que permitam o estabelecimento de relações entre o saber informal e o

formal, proporcionando a incorporação de conhecimentos novos e a aplicação de tais

conhecimentos enriquecidos por novas situações, levando ao rompimento com a visão

propedêutica, tecnicista que ainda permeia as aulas de matemática.

Faz-se necessária uma formação que leve os educadores a considerarem a

realidade dos alunos, buscando novos paradigmas, abordagens ou tendências

pedagógicas inovadoras, que respeitem o aluno como sujeito dos processos de ensino e

de aprendizagem, sendo este um processo pleno de significado e sentido, próximo das

situações cotidianas, dos interesses e necessidades dos educandos. Nesse patamar, a

Matemática, isolada de aspectos socioeconômicos, históricos e culturais distorce a

compreensão de que o saber matemático é um agente transformador da realidade.

1.2. Educação inclusiva: novos caminhos, velhos olhares

O ensino da Matemática no Brasil foi trilhando caminhos que levaram à exclusão de

muitas crianças, jovens e adultos, bem como a criação do estigma da disciplina como sendo

superior e destinada a uma pequena parcela da população, construído ao longo da sua

história e permeado até hoje pelas práticas escolares, não só no Brasil. Durante séculos, a

concepção de ciência nobre direcionou o seu ensino, causando consequências desastrosas

para essa disciplina.

Contudo, é sabido que a História da Educação no Brasil não tem apenas o ensino da

Matemática como vilão. A Educação em nosso país traz marcas de exclusão, abandono e

desprezo que atravessam séculos e ainda nos assombram. Assim, a educação escolar nunca

foi acessível a todos. Pobres, negros, mulheres, durante séculos, foram posto à margem dos

sistemas de ensino.

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Se ampliarmos esse público às pessoas com necessidades educacionais especiais, o

contingente é, ainda, muito maior, uma vez que a escola regular foi pensada, planejada e

destinada para atender os sujeitos ditos normais.

Passos, Passos e Arruda (2013, p. 2-3), ao tratarem da Educação Inclusiva no Brasil,

afirmam que desde a época do império havia uma preocupação para o atendimento de

pessoas com necessidades educacionais especiais em centro especializados, como o

Imperial Instituto dos Meninos Cegos, fundado no Século XIX, hoje conhecido como

Instituto Benjamin Constant.

Segundo os autores, outras instituições especializadas foram sendo criadas: o

Instituto Pestalozzi em 1926; a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) em

1954, dentre outros. Contudo, é importante frisar que o atendimento nessas instituições era

caracterizado, como nos diz Zerbato e Mendes (2018, p. 148) citando Moreira e Baumel

(2001), por propostas segregativas,

[...] que legitimaram currículos inadequados e descontextualizados em relação ao que era ensinado aos demais estudantes e, muitas vezes,

contribuíram para infantilizar o estudante PAEE ou reforçar o estigma de

que eram incapazes de realizar determinadas atividades.

Para Fernandes (2017), esse modelo de organização, que segrega, está vinculado ao

conceito de deficiência, que ainda hoje prevalece na sociedade, que diz respeito a

compreensão de que esse “indivíduo é visto como aquele que necessita do assistencialismo,

da caridade e da benevolência da sociedade, pois não é capaz de exercer seus deveres

sociais de forma autônoma” (FERNANDES, 2017, p. 80).

Ainda conforme Fernandes (2017), em 1960 vários movimentos sociais, em escala

mundial, colocaram em xeque o papel da escola e sua responsabilidade no tocante à

aprendizagem dos sujeitos. No Reino Unido, no ano de 1978, dá-se início ao repensar a

Educação Especial. O documento Warnoock

[...] propôs que o processo educacional abandonasse o paradigma médico

e adotasse o paradigma educativo. Em seu texto, o documento destaca quatro pontos de relevância para justificar o emprego do termo

necessidades educacionais especiais que também passou a ser usado no

Brasil: (1) afeta um conjunto de alunos; (2) é um conceito relativo; (3)

refere-se principalmente aos problemas de aprendizagem dos alunos na sala de aula e (4) supõe provisão de recursos (MARCHESI, 2004, p. 19).

Avaliando os destaques propostos, vemos que o relatório propõe um

conceito de necessidades educacionais especiais ‘englobando não só alunos com deficiências, mas todos aqueles que, ao longo do seu percurso

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escolar possam apresentar dificuldades específicas de aprendizagem’

(WARNOCK, 1978, p. 36 apud FERNANDES, 2017, p. 80-81).

Nesse sentido, o Brasil vem acompanhando as mudanças propostas para “o

repensar” da Educação Especial, acompanhando os movimentos internacionais e buscando,

se não, ainda, na prática, mas já na teoria em forma de leis, avanços no sistema educacional

de forma que todos e todas possam ter equidade no que concerne ao direito de aprender.

Passos, Passos e Arruda (2013) colaboram, nesse sentido, afirmando que no tocante

à Educação Inclusiva no Brasil, a Constituição de 1988 é pioneira ao afirmar em seu Art.

208 que o “dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: III –

atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente

na rede regular de ensino” (PASSOS, PASSOS E ARRUDA, 2013, p. 3).

Ainda para os autores, a partir da Constituição de 1988, diversas leis foram

criadas para garantir a legitimidade do processo educacional inclusivo:

Lei 7.853 de 1989, que trata do apoio às pessoas portadoras de

deficiência e sua integração social;

Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990;

Declaração de Salamanca, de 10 de junho de 1994, que relata sobre

os princípios, políticas e práticas na área das necessidades educacionais especiais;

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, que

descreve sobre a Educação Especial em seu capítulo V;

Decreto nº 3.298 de 1999, que regulamenta a Lei 7.853 de 1989 da

Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência;

Plano Nacional de Educação de 2001, com os objetivos e as metas

para a educação das pessoas com necessidades educacionais especiais;

Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica de

2001;

Resolução do Conselho Nacional de Educação nº 1/2002, que institui

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da

Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação

plena;

Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação

Inclusiva de 2007;

Decreto número 6.571 de 2008, que dispõe sobre o atendimento educacional especializado (PASSOS, PASSOS e ARRUDA, 2013, p. 3).

Outros dois documentos que marcam e fortalecem o processo inclusivo são o Plano

Viver sem Limites; o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, que foi

lançado em 17/11/2011 e contribui, em âmbito legal, para quatro importantes eixos

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relacionados à pessoa com deficiência: acesso à educação, atenção à saúde, inclusão

social e acessibilidade; e o Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei Nacional nº 13.146,

de 6 de julho de 2015, que garante os direitos das pessoas com deficiência considerando

em seu Art. 2° que:

Art. 2° Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem

impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou

sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode

obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de

condições com as demais pessoas (Brasil, 2015).

Para Zebarto e Mendes (2018), pode-se afirmar que os avanços no âmbito das

políticas e dos documentos orientadores na área da Educação Inclusiva apontam

caminhos para “um sistema de ensino idealizado, no qual todos aprendem” (ZEBARTO;

MENDES, 2018, p. 149). Todavia, segundo os autores, a perspectiva inovadora, traçada

nos documentos oficiais orientadores, ainda não contemplaram os problemas reais que

se apresentam no espaço escolar tendo em vista a aprendizagem dos educandos.

Ressaltamos, contudo, que as discussões acerca da inclusão de alunos com

deficiência em salas de aulas regulares têm se intensificado nas duas últimas décadas,

em especial no Brasil, em virtude das agendas que discutem uma educação de qualidade

e voltada para todos. Porém, para Pires e Magalhães (2017, p. 158) “esse processo de

inclusão ainda representa um grande desafio, tanto para o poder público e os processos

formativos, bem como para os professores que estão no chão das escolas”.

É sabido, nessa perspectiva, que as matrículas de alunos com deficiência ou

Necessidades Educacionais Especiais na Educação Básica vêm aumentando nos últimos

anos. Na cidade do Natal, no Estado do Rio Grande do Norte (RN), em particular,

segundo os resultados do Censo Escolar, no ano de 2017 tivemos 430 alunos

matriculados nas escolas da rede municipal de ensino, nos anos finais do Ensino

Fundamental, em 2018 este número foi de 538 alunos. Temos, assim, um aumento

percentual de aproximadamente 20% nas matriculas nessa etapa da Educação Básica.

Todavia, esse aumento não representa melhorias significativas no que concerne aos

processos formativos e educativos. Segundo Pires e Magalhães (2017),

Nos últimos 15 anos, apesar do aumento do percentual das matrículas

destes estudantes no sistema público de ensino brasileiro, os docentes

evidenciam necessidades formativas com vista a desenvolver práticas

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pedagógicas atenta às particularidades de tais estudantes (PIRES;

MAGALHAES, 2017, p. 158).

De acordo com as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação

Básica de 2001 e a Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação

Inclusiva de 2007, o princípio da Educação Inclusiva consiste em garantir o acesso e a

permanência de todos os alunos na escola, permeando o desenvolvimento e a

aprendizagem.

Nessa perspectiva, embora seja determinada por lei a inserção dos alunos com

necessidades educacionais na Educação Básica, uma série de mudanças, não só

legislativas, mas, especialmente, socioestruturais, formativas e educacionais precisam

acontecer tendo em vista a reformulação das práticas educativas e disponibilidade para a

adequação dos espaços e acessibilidade dos materiais para uso em sala de aula.

Assim, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Nº 9394/96) em

vigor, e outros documentos que tratam sobre Educação Inclusiva, como a Declaração de

Salamanca, apontam também que, para ocorrer o processo de inclusão de alunos com

necessidades educacionais especiais no espaço escolar, além dos aspectos supracitados,

necessita-se também de, por exemplo, contratação de profissionais especializados tais

como: fonoaudiólogos, psicopedagogos, psicólogos, professores com formação em

LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais – e Braille , dentre outros, de forma a organizar

não só os aspectos acessíveis, mas também disponibilizar profissionais habilitados para

fomentar o processo educativo.

Concordamos, portanto, com Fernandes (2017, p. 79), quando esta nos diz que

“oferecer educação de qualidade para todos envolve certas limitações e pressupõe todos

como uma unidade”. O esforço colaborativo entre profissionais especializados e

educadores, bem como todas as instâncias envolvidas no processo educacional é que

poderá elaborar e implementar práticas pedagógicas inclusivas (ZEBARTO; MENDES,

2018, p. 149).

1.3. A Educação Matemática inclusiva: um novo caminhar?

Nosso trabalho traz como um dos seus pilares a Educação Inclusiva, entendendo

que esta diz respeito à inclusão de todos, independentemente de seus talentos ou

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aptidões, ou se são pessoas com deficiências físicas ou mentais, ou sua classificação por

origem socioeconômica ou cultural. Ao nos reportarmos ao ensino de Matemática na

perspectiva inclusiva, nossa compreensão vai ao encontro de Kranz (2015, p. 94) ao

afirmar que esta “se remete a uma escola que favoreça a aprendizagem matemática de

todos os alunos”.

Ressaltamos que o termo inclusão vem sendo usado, no contexto da escola,

fazendo referência à inserção nas salas de aulas de alunos com necessidades

educacionais tais como deficiência, transtornos globais de desenvolvimento,

deficiências físicas, altas habilidades e superdotação e/ou déficit de aprendizagem.

Contudo, ao pensarmos de forma mais ampla, inclusão refere-se a um trabalho voltado

para todos e todas, e deve ter caráter colaborativo e co-participativo com vistas ao

desenvolvimento dos alunos.

As discussões em torno da Educação Matemática Inclusiva são recentes,

portanto, ainda são poucos os estudos e pesquisas nessa área. Passos, Passos e Arruda

(2013) em pesquisa acerca dos estudos sobre Educação Matemática Inclusiva no Brasil,

tendo como corpus de estudo quatro grandes periódicos especializados em Matemática

e Educação Matemática, apontam que poucos são os estudos divulgados nessa área,

necessitando de maior atenção uma vez que a matrícula de pessoas com necessidades

educacionais em salas de aula regular tem aumentado nas últimas décadas, sendo

urgente a melhoria do ensino e da aprendizagem na perspectiva inclusiva, em especial

em salas de aula de Matemática, tendo em vista nosso objeto de estudo e pesquisa.

Nesse sentido, Caetano (2018) também nos aponta em sua dissertação de

mestrado, que as pesquisas em Educação Inclusiva e, em especial, Educação

Matemática Inclusiva, ainda são incipientes no meio acadêmico;

Em se tratando das publicações de trabalhos e pesquisas com a

temática Educação Matemática Inclusiva, na perspectiva apontada

anteriormente, após uma busca no portal de periódicos da

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), entre 2011 e 2016, em artigos, dissertações e teses sobre

‘Educação Matemática’, encontramos 980 trabalhos publicados,

72,3% destes estão em Português. Ao refinarmos a busca para ‘Educação Matemática Inclusiva’ no mesmo período, aparecem

apenas 18 trabalhos publicados, 83,3 % em Português (CAETANO,

2018, p. 18).

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Kranz (2011) nos aponta que a ideia da Matemática como ciência superior,

destinada a poucos (como discutido em tópico anterior), permeou a formação de pré-

conceitos acerca do ensino da mesma. Segundo Baldino (1999) apud Kranz (2011), o

ensino da matemática é uma atividade humana assombrada pelo fracasso. A Matemática

é encarada como um bicho de sete cabeças pela maioria dos alunos, sendo uma das

disciplinas escolares com maiores índices de reprovação escolar.

Silva e Alves (2016, p. 4) nos afirmam que

Os resultados das avaliações em larga escala (PISA, SAEB, Prova

Brasil, SAEPE entre outras), dadas as suas limitações, revelam que a

competência dos estudantes que concluem o Ensino Fundamental em matemática está muito abaixo das condições mínimas de

aprendizagem esperadas para essa etapa escolar.

Para os autores, a reprovação em Matemática não compromete apenas o

desempenho acadêmico dos sujeitos que “fracassam” no seu aprendizado, mas exerce

diretamente influência no exercício pleno da cidadania dos mesmos uma vez que,

conforme os autores, os sujeitos que vão sendo excluídos da escola, acabam por assumir

as atividades profissionais que exigem maior esforço físico e menor reconhecimento

social e financeiro (SILVA; ALVEZ, 2016, p. 4).

Kranz colabora nesse sentido quando nos diz que “como a matemática não é para

todos, somente para mentes selecionadas, o fracasso em matemática (..) é naturalizado na

escola” (KRANZ, 2011, p. 34).

Diante disso, ainda conforme Kranz (2011), a escola acaba por naturalizar o

fracasso, em especial no ensino da Matemática. Se nos reportamos para as dificuldades de

inclusão escolar de pessoas com necessidades educacionais especiais, se faz necessário

refletir sobre as práticas pedagógicas que norteiam o ensino dessa disciplina e que

possibilidades existem para revertermos esse quadro e pensarmos em um ensino destinado a

todos e todas.

Entendemos que é função social do ensino da Matemática a promoção e o

acesso, bem como a apropriação e desenvolvimento das questões pertinentes ao

conhecimento matemático consciente, de modo que os sujeitos possam lançar mão

desses recursos para subsidiar as estratégias de leitura do mundo e as relações que se

tecem a partir delas. Dessa forma, faz-se necessária a adoção de metodologias de ensino

inovadoras, entendo estas como metodologias que despertem nos sujeitos o desejo em

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aprender, buscando a mediação entre os atores do processo e seu meio social e que se

voltem para a aprendizagem de todos e todas, independentes de suas limitações físicas,

sociais e cognitivas.

Partindo do exposto, o ensino pensado e voltado para todos e todas deve, então,

ter como princípio a colaboração entre seus pares. Segundo Ferreira (2012, p. 366), “a

colaboração requer implicar-se de forma volitiva e consciente, estabelecer relações mais

igualitárias e democráticas, tendo cada um dos participantes vez e voz, poder de decisão

sobre as ações efetivadas conjuntamente e autonomia”.

Nessa perspectiva, o ensino assume um caráter inclusivo, pautado nos princípios

de igualdade de oportunidades e interação, mediado por ações e relações de respeito,

solidariedade, valorização das diferenças e coparticipação, apresentando novos

caminhos para o ensino da Matemática.

Portanto, almejando um trabalho na área da Educação Matemática direcionando

para todos os alunos, respeitando suas potencialidades e limitações, optei, nesse

trabalho, por repensar, na perspectiva da Educação Matemática Inclusiva, recursos

pedagógicos, nesse caso em particular, os jogos com regras, fundamentados no conceito

do Desenho Universal Pedagógico (DUP) à luz dos estudos de Kranz (2011, 2014,

2015).

Para essa autora “com base nos pressupostos da teoria histórico-cultural acerca

da aprendizagem e do desenvolvimento, o jogo com regras assume importante papel” no

processo de aprendizagem (KRANZ, 2014, p. 103).

No que refere-se à temática do presente estudo, compreender os princípios do

DUP e suas implicações no processo de ensino da Matemática se faz pertinente e

essencial.

1.4. O Desenho Universal em contextos educacionais

A partir das discussões até aqui realizadas, pensar a inclusão escolar hoje,

demanda de nós um esforço em reinventar os conceitos que nos remetem ao que

compreendemos por escola e todas as nuances a eles associadas. O que é escola? Quem

faz a escola? O que é currículo? Quem faz o currículo? O que é conhecimento? Como se

elabora o conhecimento? Essas e outras questões são fomentadas quando entendemos

ser necessário o repensar a escola em seus aspectos físicos, sociais, culturais e

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pedagógicos de modo que esta possa atender, respeitando os princípios da igualdade e

do respeito, a todos os que dele necessitam tendo em vista a sua formação cognitiva e

cidadã.

Ao longo de sua história como locus da sistematização dos conhecimentos

historicamente acumulados e construídos, a escola vem refletindo os padrões

socioculturais, econômicos e políticos da sociedade na qual se encontra inserida. Assim,

a educação inclusiva encontra barreiras construídas pelo estigma social e cultural

inerente ao conceito de deficiência.

Entendemos, nesse sentido, que a deficiência é vista como limitações inatas, ou

incapacidade, por parte de alguns sujeitos em realizar determinadas tarefas. Kranz

(2015) nos traz a reflexão sobre a ideia de homem perfeito que norteia nossa sociedade,

em especial, os estudos da arquitetura, presentes em Vitrúvio e Leonardo da Vince, que

retomou os trabalhos de Vitrúvio.

Segundo a autora, Da Vince descreve o homem perfeito e dessa descrição

demanda a organização espacial e estética para atender a esse ideal humano,

O homem vitruviano, paradigmático portanto na construção de ambientes, traz

consigo uma concepção de homem normal baseada em medidas antropométricas ideais e cujas consequências estão presentes até os dias de hoje

(KRANZ, 2015, p. 83).

Partindo do exposto, concordamos com Kranz (2015) quando esta nos diz que a

ideia de homem padrão gerou barreiras historicamente construídas para pessoas com

deficiência no que se refere a sua ambientação, locomoção e desenvolvimento,

intelectual e físico.

Nesse sentido, surge a ideia de Desenho Universal que questiona a concepção de

homem padrão e amplia a de acessibilidade customizada “(...) que revoluciona os

processos inclusivos, uma vez que concebe o mundo como projetado a priori para as

diferenças, que são parte constitutiva da humanidade” (KRANZ, 2015, p. 86-87).

Para a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (BRASIL,

2012, p. 34), “desenho universal significa a concepção de produtos, ambientes,

programas e serviços a serem usados, na maior medida possível, por todas as pessoas,

sem necessidade de adaptação ou projeto específico”. Colaborando com esse conceito,

Pletsch; Souza; Orleans (s/d, p. 272) afirmam que esse conceito amplia a ideia de ajudas

técnicas específicas, o desenho universal possibilita, em seu conceito, o “acesso e a

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participação de todo as pessoas, independente de usas especificidades sensórias ou

físicas, visando, assim, condições plenas à locomoção, comunicação, informação e ao

conhecimento (IDEM, p. 272).

Segundo Bock, Gesse e Nuernberg (2018), o desenho universal foi idealizado

por Ronald Mace, arquiteto e diretor do Centro sobre o Desenho Universal no North

Carolina State University (NCSU), que introduziu o Desenho Universal (DU), em 1987,

na perspectiva de elaboração de produtos e de ambientes para que o maior número de

pessoas pudesse fazer uso sem, necessariamente, ter que adaptar. Para os autores, no

tocante à educação,

Comumente, percebe-se a ampliação dessa concepção nos produtos e nos

ambientes de fato, mas, quando se trata da educação, é preciso dar uma atenção especial a outros desdobramentos do DU. Acesso universal é a meta principal

de todos. No entanto, alguns princípios e algumas diretrizes enfocam na

eliminação das barreiras no ambiente construído, outras focam nos ambientes e nos contextos de aprendizagem (BOCK; GESSE; NUERNBERG, 2018, p. 148).

Entendo que se faz necessária “uma discussão sobre as possibilidades de se

construir um ensino que valorize as diferenças em um ambiente educacional que garanta

a participação de todos os educandos na atividade de ensino e aprendizagem”

(CAETANO, 2018, p. 73) Foi desenvolvido por Kranz (2015), enquanto princípio

teórico e pedagógico, o Desenho Universal Pedagógico (DUP), a partir de pesquisas

cujos objetivos foram “investigar e analisar as possibilidades pedagógicas e a

importância dos jogos com regras, desenvolvidos, confeccionados e utilizados segundo

os princípios do Desenho Universal” (KRANZ, 2015, p. 31).

Segundo Caetano (2018), Kranz investigou as possibilidades do DUP na

confecção e aplicação de jogos. De acordo com o autor, Kranz (2015) acrescentou a

palavra Pedagógico ao conceito de Desenho Universal intencionando a ampliação das

ideias referentes ao ambiente escolar e sua oferta de “condições físicas de acesso e

práticas pedagógicas que oportunizem a aprendizagem de todos os sujeitos que

considerem o contexto histórico-cultural” (CAETANO, 2018, p. 64).

Para Kranz (2015), os elementos referentes às práticas pedagógicas que

direcionam o desenvolvimento do DUP podem se resumir em,

Recursos pedagógicos acessíveis para todos, na maior extensão possível; Participação de todos os alunos na mesma atividade; Colaboração, interação e

discussão envolvendo todos os alunos; Problematização e desafios com vistas

ao desenvolvimento da criatividade e à aprendizagem; Linguagem oral e escrita

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como mediadores fundamentais; Participação e intervenções do professor como

o adulto experiente e responsável pela mediação pedagógica (KRANZ, 2015, p.

131).

Diante do exposto, o jogo desenvolvido na fase empírica desta pesquisa buscou

assumir os princípios do Desenho Universal Pedagógico pensado por Kranz (2015) e

todas as nuances a ele inerentes. A confecção de jogos ou qualquer material didático

demanda planejamento, organização e recursos. Nesta pesquisa, nosso objetivo, ao

elaborarmos o jogo, estava em pensar nos princípios de colaboração e mediação em uma

perspectiva inclusiva, e que o jogo não deveria ser pensado apenas para os alunos com

deficiência, mas para todos os envolvidos no processo educativo, valorizando a

cooperação e trabalho em grupo.

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CAPITULO II – O ENSINO DA MATEMÁTICA NUMA PERSPECTIVA

INCLUSIVA E COLABORATIVA À LUZ DA PSICOLOGIA HISTÓRICO–

CULTURAL

Podemos afirmar, a partir do que já discutimos, que a Educação Escolar

Inclusiva vem se fortalecendo, em termos legais e dá garantia ao acesso, ao longo dos

últimos anos, em nosso país, muito embora a mesma não tenha, ainda, “se organizando

com e para seus atores” (FERNANDES, 2017, p. 82).

No tocante ao ensino da Matemática, novas perspectivas de ensino ou práticas

educativas têm se configurado, trazendo para o espaço escolar um novo olhar para essa

área do conhecimento, tão marcada por estigmas de ciência superior e destinada a

poucos e, dessa forma, excludente.

Nesse sentido, Moysés (1997) nos diz que, no ensino da Matemática existem

características marcantes que vão desde seu processo de universalização no espaço

escolar até as concepções que norteiam sua prática em sala de aula. Para a autora, tais

características “fazem com que os alunos dos mais diferentes países se comportem de

uma maneira muito similar” (IDEM, p. 61) referente às dificuldades de aprender tal

disciplina.

Moysés (1997) aponta também que as dificuldades advindas desse ensino

clássico da Matemática levaram pesquisadores da área a buscarem novas teorias que

rebelassem a prática da sala de aula. Assim, os estudos no campo da Teoria Histórico-

Cultural passaram a influenciar os movimentos de mudança que levaram à criação do

campo da Educação Matemática que passou a buscar compreender a importância da

interação social, dentre outros fatores, na elaboração e na aquisição do conhecimento.

Os autores da área do ensino da Matemática passaram a reconhecer “a influência do

pensamento de Vygotsky para quem a aprendizagem dos conceitos deveria ter suas

origens nas práticas sociais” (MOYSÉS, 1997, p. 61).

Para a autora, que tem como referência a Teoria Histórico-Cultural, se faz

necessário o repensar do ensino da Matemática tendo em vista buscarmos outros

caminhos nos quais a realidade dos alunos não seja desconsiderada ou que continue a

primar por um ensino superficial e/ou mnemônico.

No tocante ao ensino da Matemática numa perspectiva inclusiva, Fernandes

(2017) aponta que na área da Educação Matemática, no início do Século XXI pouco se

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discutia sobre a inclusão em nosso país. Para referendar seus estudos junto a alunos

cegos e o ensino de conceitos geométricos nessa área, a autora buscou na obra de

Vygotsky, em especial, os estudos denominados por ele de ciência da Defectologia, que

deu suporte para seu trabalho.

Defectologia, segundo Silva, Menezes e Oliveira (2013), foi o temo adotado para

os estudos acerca de crianças que apresentavam algum tipo de deficiência que, no início

do Século XX era chamada de defeito, fosse de origem física ou intelectual. Conforme

os autores, esses estudos tiveram como precursor Vygostky, que voltou seu olhar para

as potencialidades que essas crianças com “defeitos” apresentavam.

Em sua teoria, Vygotsky tinha a preocupação de, “[...] modificar a forma de

compreensão da deficiência, libertando-a do viés biologizante e limitador. Embora

reconhecesse a base orgânica da deficiência argumentava que a questão maior, consistia

na forma como a cultura lidava com ela” (SILVA; MENEZES; OLIVEIRA; 2013, p.

20217).

Ainda conforme Silva, Menezes e Oliveira (2013), a defectologia buscava

perceber as potencialidades das crianças com deficiência criticando o viés da oferta de

estudo para essas em escolas especiais uma vez que é no convívio social, segundo

Vygotsky (1997), onde ocorre nosso desenvolvimento, ou seja, nas interações sociais é

que nos tornamos humanos, adquirindo os conhecimentos sociais, historicamente

construídos, essenciais para a vida em sociedade e nosso crescimento cognitivo e social.

Para Silva, Menezes e Oliveira (2013), na época dos estudos da defectologia o

enfoque terapêutico destinado ao trabalho com crianças com deficiência (física ou

mental) era forte e direcionava o trabalho nas escolas, que recebiam das clínicas as

primeiras informações sobre a criança e com base nesses dados organizavam suas ações

pedagógicas, o que levava a uma situação de estigmatização, na qual a criança passava a

ser vista como limitada a algumas atividades e apta a outras (IDEM, p. 20220)

Vygotsky (1997) trata essa situação como uma seleção, em que de um lado são escolhidos os alunos que podem frequentar a escola normal e

dela usufruir e, do outro, aqueles que não têm condições de participar

desta instituição, sendo a eles destinada a Escola Especial, com todas

as restrições que a deficiência poderia justificar. Afirma, ainda que isto acarretava a separação de crianças em grupos, trazendo danos a

sua formação social e psíquica (SILVA; MENEZES; OLIVEIRA,

2013, p. 20220).

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Partindo do exposto, assim como para Silva, Menezes e Oliveira (2013),

compreendemos que os processos de ensino e de aprendizagem são fundamentais na

consecução dos elementos sociais e culturais que nos formam enquanto seres humanos,

sendo corresponsáveis pelo desenvolvimento do humano. Diante disto, a escola é vista

como uma instituição essencial, “em que os indivíduos ensaiam sua atuação social e se

apropriam dos elementos construídos pela humanidade” (SILVA; MENEZES;

OLIVEIRA, 2013, p. 20226).

Para os autores, na escola

[...] percebemos o exercício da aprendizagem sendo desenvolvido, não

neutro, mas intrinsecamente ligado ao processo histórico-cultural.

Assim, quer a escola, quer a aprendizagem, representa um elemento socialmente constituído pela cultura. Vygotsky afirma que no processo

de desenvolvimento, o homem modifica os modos e procedimentos de

sua conduta, transforma suas inclinações e funções naturais, elabora e cria novas formas de comportamento culturais. O que nos leva a

reconhecer a aprendizagem como um processo passível de

transformações (SILVA; MENEZES; OLIVEIRA, 2013, p. 20226).

No que se refere ao ensino da Matemática numa perspectiva inclusiva, os

estudos de Vygotsky são fundamentais e norteadores para uma mudança de paradigma

desse ensino. O olhar para as potencialidades de cada indivíduo e dos mecanismos

norteadores para seu desenvolvimento conforme os estudos históricos culturais

proporcionam um repensar das práticas tecnicistas que vêm marcando o ensino da

matemática.

Para Silva, Menezes e Oliveira (2013), a aprendizagem é um processo contínuo e

multifacetado, que necessita da mediação de “um outro que atue como agente facilitador

da aprendizagem” (IDEM, p. 20229).

2.1. Mediação e colaboração nos estudos da Psicologia Histórico-Cultural

Os estudos no campo da Psicologia Histórico-Cultural apontam que o conceito

de mediação é central nos estudos de Vygotsky uma vez que favorece a compreensão do

desenvolvimento e do funcionamento das funções psicológicas superiores. Ou seja,

podemos definir, a partir dos estudos dessa corrente que mediação, ou mediação da

aprendizagem, como apresentada em alguns textos, é o processo de aquisição de

conhecimentos realizada por meio de elementos mediadores entre o ser humano e o seu

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ambiente, no caso, os instrumentos e os signos – representações mentais que substituem

objetos do mundo real.

Assim, como Striquer (2017), compreendemos que funções psicológicas

superiores são processos mentais que favorecem o controle consciente do nosso

comportamento, tais como a atenção, a memória, a imaginação, o pensamento, a

linguagem. Segundo a autora, “as funções psicológicas superiores só surgem, se

constituem e se desenvolvem nas interações sociais” (STRIQUER, 2017, p. 142).

Para que o desenvolvimento das funções psicológicas ocorra, a autora nos diz

que, segundo os estudos de Vygotsky, “o homem não se relaciona com o mundo de

forma direta, e sim de forma mediada por meio de instrumentos materiais e

psicológicos” (IDEM, p. 143).

Para o autor, os instrumentos materiais podem ser físicos, tais como os utilizados

pelos professores em sala de aula: vídeos, slides, equipamentos laboratoriais, dentre

outros ou podem ser psicológicos:

(...) os signos, as palavras, os conceitos, os gêneros do discurso, todos

aqueles criados pelas sociedades e na cultura ao longo do curso da história humana, os quais, uma vez internalizados, provocam

‘transformações comportamentais e estabelecem um elo de ligação

entre as formas iniciais e tardias do desenvolvimento individual (VYGOTSKY, 2007, p. 26).

Nesse sentido, Martins e Moser (2012) colaboram ao afirmarem que para

compreendermos as ideias de Vygotsky acerca das funções psicológicas superiores se

faz necessário o entendimento do conceito de mediação em sua obra.

Compreendemos, portanto, mediação como o “processo de intervenção de um

elemento intermediário numa relação; a relação deixa, então, de ser direta e passa a ser

mediada por esse elemento” (OLIVEIRA, 2002, p. 26). Esse processo de intervenção

não se restringe à relação sujeito-sujeito, mas à relação sujeito-conhecimento-sujeito,

compreendendo esses elementos como os mediadores físicos e psicológicos.

Colaborando com as ideias acima, Faria (s/d) nos diz que os homens não se

relacionam diretamente com o mundo, sua relação com os elementos culturais/sociais é

mediada pelos instrumentos físicos e/ou simbólicos, que potencializam a relação entre o

homem e os objetos e/ou fenômenos.

Para Vygotsky (1998),

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[...] o uso de meios artificiais – a transição para a atividade mediada –

muda, fundamentalmente, todas as operações psicológicas, assim

como o uso de instrumentos amplia de forma ilimitada a gama de atividades em cujo interior as novas funções psicológicas podem

operar (VYGOTSKY, 1998, p. 73 apud MARTINS; MOSER, 2012, p.

13).

Assim, pensar o conceito de mediação em nosso trabalho torna-se fundamental

tendo em vista que o jogo, em especial o com regras, pode ser considerado um

instrumento mediador, potencializado pelo sentido da colaboração entre os sujeitos que

fazem uso desse recurso em seus processos de aprendizagem.

Sforni (S/D), ao discutir o conceito de mediação na obra de Vygotsky, afirma

que o termo vem sendo usando de forma restrita, fazendo referência apenas ao apoio

dos professores aos alunos na realização das atividades acadêmicas.

A autora ainda nos diz, citando Ibiapina (2009, p. 215), que “colaboração

significa a ajuda que um par mais experiente dá para um outro, menos experiente, no

momento da realização de determinada atividade”.

Ainda segundo a autora, é possível afirmar a partir dos estudos de Leontiev em

seu texto sobre “O homem e a Cultura”, de 1978, que a experiência acumulada pela

humanidade não se encontra apenas nos museus, livros e/ou escolas. Ela está presente

também nos objetos físicos e na linguagem, na cultura material e intelectual presente

nos espaços sociais. (SFORNI, S/D).

Portanto, a colaboração entre os pares e entre alunos e professores, mediada pelo

objeto escolar – o conhecimento, é essencial na perspectiva histórico-cultural. Fazer uso

de mediadores culturais ou instrumentos físicos e/ou psicológicos é, assim, inerente aos

processos de ensinar e de aprender. A colaboração nesses processos é fundamental visto

que para Vygotsky (2001) o momento central para toda a psicologia da aprendizagem é

a possibilidade de que a colaboração se eleve a um grau superior de possibilidades

intelectuais (VYGOTSKY, 2001, p. 331).

Striquer (2017) ainda nos acrescenta, diante do exposto, que o conteúdo escolar,

é “mais do que a soma de certas conexões associativas formadas pela memória, [...]

mais do que um simples hábito mental; é um ato real e complexo de pensamento que

não pode ser ensinado por meio de treinamento” (VYGOTSKY, 2007, p. 104 apud

STRIQUER, 2017, p. 146).

Para a autora, é necessário que os professores elaborem ações intencionais para a

aprendizagem dos conteúdos escolares, uma vez que não se concebe (na perspectiva

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histórico-cultural) a aprendizagem apenas de forma mnemônica, que trata o

conhecimento como pronto e acabado. “O desenvolvimento dos conceitos pressupõe o

desenvolvimento de muitas funções intelectuais: atenção deliberada, memória lógica,

abstração, capacidade para comparar e diferenciar” (VYGOTSKY, 2008, p. 104), ou

seja, “eles são aprendidos em um processo produtivo em que o aluno é colocado em

atividade mental de comparação, análise, generalização, abstração e síntese”

(STRIQUER, 2017, p. 146).

Assim, a mediação é por nós compreendida, assim como para Berni (s/d, p.

2539), como sendo o processo “que caracteriza a relação do homem com o mundo e

com outros homens”. Ainda segundo a autora, observando e investigando os

conhecimentos que os alunos trazem à escola, o professor deve intervir para reorganizar

tal conhecimento, os elevando para outro patamar (IDEM, p. 2539). O processo de

mediação, então, passa a ser a própria ação docente, na qual “alguém” atua buscando

ampliar os conhecimentos de “outro alguém”, fazendo uso de instrumentos físicos e/ou

psicológicos da sua cultura.

No tocante ao objeto desse estudo, os jogos com regras são compreendidos como

um recurso mediador da aprendizagem uma vez que são “uma atividade coletiva e

colaborativa” (KRANZ, 2015, p. 104), na qual o papel dos docentes como mediadores

se destaca tendo em vista o planejamento e a aplicação desse recurso.

Ressaltamos também que, dessa forma, a perspectiva de Educação Matemática

Inclusiva, tendo como base os pressupostos da Psicologia Histórico-Cultural,

compreende que o desenvolvimento humano se dá a partir das relações sociais que a

pessoa estabelece no decorrer da sua vida, com seus pares e os instrumentos

socioculturais ao seu redor.

2.2. Os jogos com regras enquanto metodologia colaborativa e participativa

Num sentido puramente formal poderíamos considerar toda a sociedade como um jogo, sem deixar de ter

presente que este jogo é o princípio vital de toda a

civilização. A conclusão é de que sem o espírito lúdico a

civilização é impossível (HUINZINGA, 1980).

Kranz (2014) vem afirmando em sua tese acerca dos jogos com regras na

perspectiva do Desenho Universal Pedagógico que diversos estudos têm reafirmado a

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importância do jogo para a aquisição de conceitos matemáticos. Para tanto, a autora nos

diz que para Grando (2004) o uso dos jogos pode ser justificado “pelo fato do jogo

constituir-se em atividade lúdica, envolvendo desejo e interesse, competição e desafio,

que motivam o jogador, levando-o a conhecer seus limites, possibilidades de superação,

o que induz à confiança e à coragem de correr riscos” (KRANZ, 2014, p. 107).

Nesse sentido, nesse tópico não é nossa intenção traçar um estudo extenso acerca

da importância de jogos, em especial, com regras, em âmbito escolar, tendo em vista a

vasta biografia referente a esse tema, mas apresentar, suscintamente, o por quê de

termos optado pelo uso de jogos com regras para o trabalho com a Matemática em uma

perspectiva inclusiva.

Para Kranz (2014), o jogo, na escola, pode ser considerado com um “espaço

privilegiado para a aprendizagem e para o desenvolvimento matemático da criança, uma

vez que nele são propiciadas condições para a interação da criança com os adultos e

com seus colegas” (KRANZ, 2014, p. 106).

Os jogos com regras, para a autora supracitada, são atividade coletiva e

colaborativa (KRANZ, 2015) que possibilitam um trabalho lúdico, desafiador,

inclusivo, uma vez que jogar é uma ação que envolve mais de um partícipe no processo,

levando os sujeitos envolvidos a desenvolverem a atenção, a imaginação, o raciocínio

lógico e o respeito às regras estabelecidas, dentre outras funções psicológicas inerentes

ao desenvolvimento cognitivo e social.

Diante desse quadro, os jogos com regras são, por nós compreendidos, assim como

para Kranz (2015), como atividades de cunho colaborativo. Ou seja,

O jogo com regras é uma atividade coletiva e colaborativa. Em outras atividades pedagógicas os alunos podem estar organizados em grupos,

porém realizando seu trabalho individualmente, sem intervenção ou

interação com o outro. No jogo isso não é possível, pois sem o outro o

jogo não acontece (KRANZ, 2015, p. 121).

Para Muniz (2010, p. 13) o valor dos jogos para a aprendizagem ganha força e

importância a partir dos teóricos construtivistas, como os estudos de Piaget e seus

colaboradores. Entretanto, partindo dos pressupostos teóricos que orientam esse

trabalho, podemos dizer que, especialmente a partir da ideia de que o jogo potencializa a

zona de desenvolvimento proximal, como nos apresenta os estudos de Vygotski (1994),

esses (os jogos) podem ser compreendidos como um importante instrumento

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psicológico, que favorece a aprendizagem e, em particular na nossa pesquisa, as

aprendizagens matemáticas.

Muniz (2010, p. 34) nos diz ainda que “se o jogo possui um valor para a

aprendizagem e para o desenvolvimento da criança”, como nos indica Vygotski (1994),

os educadores devem ter como preocupação “transpor o jogo para o seio dos projetos

pedagógicos sem romper o espírito de liberdade do sujeito” (IDEM, p. 34).

Segundo o autor, a partir desta premissa, os jogos, enquanto instrumentos

pedagógicos, vêm sendo introduzidos como mediadores do conhecimento matemático,

ganhando importância nos discursos dos educadores e dentro da prática pedagógica, a

partir da necessidade da participação efetiva do sujeito na sistematização de seu

conhecimento (MUNIZ, 2010).

Ainda segundo Muniz (2010), a noção de jogo remete-se à criação e resolução

de situações-problema, em especial na Matemática, sendo compreendido (o jogo) como

um instrumento de aquisição da cultura. O jogo se configura, então, como um mediador

de aprendizagens, de representações presentes numa cultura matemática, da qual o sujeito

faz parte.

Para Kranz (2014), jogos com regras envolvem, portanto:

A participação de dois ou mais jogadores, com papéis interdependentes, opostos e cooperativos, configurando-se como uma

atividade coletiva e colaborativa; regras pré-estabelecidas, as quais

conduzirão os participantes no decurso do jogo e que somente poderão ser modificadas com a anuência dos participantes; um objetivo a ser

alcançado, que determinará o vencedor ou vencedores do jogo

(KRANZ, 2014, p. 103).

Os jogos, nessa tipologia, também constituem uma forma interessante de propor

problemas já que permitem que estes sejam apresentados de modo atrativo, favorecendo a

criatividade na elaboração de estratégias de resolução e solução dos mesmos, auxiliando na

formação de atitudes essenciais para o pensamento matemático, tais como: enfrentar

desafios, buscar soluções, pensar criticamente e com o outro, elaborar estratégias, analisar e

ponderar os dados abstraídos, entre outras.

Os jogos com regras podem ser considerados, assim, como alternativa que

fortalece e enriquece o ato pedagógico no que diz respeito aos processos de ensino e de

aprendizagem. Considerando-se que o conhecimento acerca de suas funções e variadas

formas de uso dentro do ambiente escolar é relevante, já que são atividades

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socializadoras nas quais são desenvolvidos a criatividade, a percepção, a imaginação, a

lógica e o raciocínio. Consideramos que os jogos devem, assim, estar inseridos na

prática educativa dos professores de Matemática, enquanto instrumentos da

aprendizagem.

Ao nos reportarmos ao conceito de colaboração e mediação, o uso de jogos no

ensino de Matemática, em especial, possibilita, como nos diz Smole et al (2008), o

desenvolvimento da linguagem bem como de diferentes processos de raciocínio, além

da interação e cooperação entre os educandos e educandos e professores.

Ao se jogar são desenvolvidas habilidades porque,

(...) os alunos têm a oportunidade de resolver problemas, investigar e descobrir a melhor jogada; refletir e analisar as regras, estabelecendo

relações entre os elementos do jogo e os conceitos matemáticos.

Podemos dizer que o jogo possibilita uma situação de prazer e aprendizagem significativa nas aulas de matemática (SMOLE et al,

2008, p. 9).

Smole et al (2008) acrescentam ainda que o ato de jogar é permeado pela

interação e cooperação. Para as autoras, quando se está em situação de cooperação

ocorre a negociação de significados. Uma vez que o diálogo e a troca de conhecimentos

se estabelecem e, consequentemente, aumenta-se a possibilidade de novas

aprendizagens (IDEM, p. 11).

As atividades com jogos precisam se constituir, portanto, de desafios para o

educando, despertando seu interesse e promovendo um efetivo desenvolvimento. Se

assim organizados, os jogos não serão vistos como atividades meramente recreativas, e

sim como forma de aprender. Contudo, é importante ressaltar que a maior ferramenta do

educador será a sua sensibilidade acerca das expectativas dos educandos, bem como sua

interação com os conteúdos a serem trabalhados, propiciando um ambiente de troca e

respeito entre as partes envolvidas no processo.

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CAPITULO III – UM ESTUDO COLABORATIVO SOBRE O USO DE JOGOS

COM REGRAS NO ENSINO DOS NÚMEROS RACIONAIS

Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a

ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de

mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não

apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes.

(Paulo Freire)

Nesse capítulo descreverei o percurso metodológico da pesquisa e a construção

do produto educacional. Vale ressaltar o quanto é complexa a construção escrita de uma

pesquisa educacional. Descrever as dificuldades, as barreiras encontradas, se fazer

entender de forma sucinta, tentando evidenciar a relevância deste trabalho para minha

formação, para formação dos sujeitos envolvidos e as contribuições para a Educação

Matemática, em âmbito maior, nos desafia a vencer o medo e considerar que podemos,

juntos, sonhar com dias melhores no espaço escolar.

Nesse limiar, nossos referenciais foram então pensados tendo em vista um

trabalho de formação que levasse em consideração os sujeitos nos seus aspectos

subjetivos e na ação coletiva que os mesmos desenvolvem na escola, no exercício da

docência contemporânea, de forma a colaborar para repensar o ensino da Matemática,

compreendendo o espaço escolar como privilegiado para essa ação.

No que se refere a nossa opção metodológica, escolhemos formas de pesquisar

que melhor dialoguem com os nossos objetivos de pesquisa, bem como com o nosso

referencial teórico, por se tratar de uma abordagem qualitativa.

Sabemos que as pesquisas no âmbito do ensino da Matemática, especialmente no

campo da Educação Matemática, vêm apontando o trabalho colaborativo como

mecanismo do repensar a prática docente, de acordo com Fiorentini (2013 apud

BORBA et al, 2013, p. 80).

Para Ferreira (2012), a pesquisa colaborativa é uma prática recente no Brasil,

entretanto, os estudos de Ferreira (2002), Ibiapina (2004), Fiorentini (2004), Magalhães

(2004), dentre outros, vêm consolidando essa vertente de pesquisa, que tem como

princípio investigar “com” e não “sobre”, ou seja, um processo de co-construção,

colaboração, mediação entre os partícipes.

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Nesse sentido, segundo Kranz (2014, p. 20), ao assumirmos a Teoria Histórico-

Cultural como fundamentação para nosso estudo, também temos que usá-la como

fundamentação para o método “uma vez que o mesmo reflete sempre o olhar, a

perspectiva do pesquisador com relação às questões por ele estudadas” (IBIAPINA;

FERREIRA, 2005, p. 28 apud KRANZ, 2014, p, 20)

Para Ibiapina (2016) a pesquisa colaborativa proporcionou, ao final dos anos de

1990, a construção de um campo de saberes, onde professores e pesquisadores passaram a

ser parceiros em um processo reflexivo e reconstrutivo da prática pedagógica.

Em colaboração com a autora acima mencionada, Desgagné et al (2007, p. 9) afirma

que a pesquisa colaborativa proporciona a co-construção de um determinado objeto de

estudo entre pesquisador e docentes. Para o mesmo, uma pesquisa colaborativa supõe a

contribuição dos professores em exercício no processo de investigação de um objeto de

pesquisa (DESGAGNÉ et al, 2007, p. 9).

Assim, podemos dizer que a pesquisa colaborativa é um processo de interação,

mediado pela colaboração e reflexão acerca de um dado objeto, no qual pesquisador e

sujeitos colaboradores passam a ter direitos e deveres iguais dentro de uma cadeia de estudo

e reconstrução de conhecimentos e formulação de saberes.

Segundo Desgagné (2007, p. 13), a pesquisa colaborativa compreende, então,

atividades de produção de conhecimentos e desenvolvimento profissional. Nesse sentido,

Ferreira (2012, p. 359) acrescenta afirmando que a pesquisa, nesses moldes, passa a ser

elemento nuclear na formação profissional de professores, uma vez que atrela a construção

compartilhada de conhecimentos e prática pedagógica.

Desse modo, o presente estudo se insere na abordagem qualitativa da pesquisa

educacional, configurando-se como uma pesquisa colaborativa, desenvolvida junto a

docentes de Matemática e alunos de turmas do 6° ano do Ensino Fundamental.

Compartilhando com tais premissas, nosso campo de estudo foi uma escola da

rede municipal de ensino na cidade de Natal/RN, localizada na Zona Norte da cidade,

no Bairro de Igapó. A escolha da mesma se deu pela proximidade junto à equipe

docente e pedagógica da escola tendo em vista nossa atuação durante sete anos como

coordenadora pedagógica da instituição. Outro fator que colaborou foi a disponibilidade

do grupo de professores de Matemática que atuam nos anos finais do Ensino

Fundamental em participar do projeto.

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É valido ressaltar que a pesquisa colaborativa proporciona ao investigador fazer uso

de diversos instrumentos de registro para construir suas elaborações acerca do objeto de

estudo. Dentre estes instrumentos podemos citar a entrevista, a observação e a análise

documental. Fizemos uso, então, para o registro da pesquisa, dos seguintes instrumentos:

entrevista semiestruturada com os professores participantes do grupo colaborativo a fim de

identificar a formação inicial e continuada, bem como o tempo de docência; do diário

reflexivo, no qual foi solicitado, a todos os membros do grupo, o registro reflexivo dos

encontros; registros escritos, gravação áudio/visual das reuniões e registro fotográfico dos

momentos com os professores e alunos envolvidos na aplicação do produto e registro

escrito por parte dos alunos para respaldar e permear nossa análise, bem como referendar a

escrita do nosso texto.

A entrevista e a análise documental dos registros realizados são recursos

metodológicos a serem escolhidos, dependendo da necessidade e de sua utilidade frente ao

problema da pesquisa. A triangulação de dados, ou seja, a recorrência a uma variedade de

instrumentos de registro em diferentes momentos, em situações variadas para a análise do

fenômeno também é um dos recursos possíveis à pesquisa de cunho qualitativo. Nesse

trabalho, especialmente, recorremos a esse recurso como mecanismo de análise reflexiva

sobre os materiais coletados.

A entrevista, nas Ciências Sociais, é uma metodologia de coleta de dados

amplamente empregada. Segundo Farr (1982, apud ESTENBAM, 2010, p. 65)

essencialmente uma técnica, ou método para estabelecer ou descobrir que existem

perspectivas, ou pontos de vista sobre os fatos, além daqueles da pessoa que inicia a

entrevista.

Dentre os instrumentos por nós escolhidos como instrumento para registro da

pesquisa, o diário reflexivo foi nossa principal fonte de registro e análise do grupo

colaborativo uma vez que, percebendo a escola como campo de ação-colaborativa

(SOUSA, 2016, p. 84), os diários reflexivos nos possibilitaram “redescobrir caminhos

percorridos, cenários e fatos vivenciados por uma determinada pessoa em diferentes tempos

e espaços, encaminhando-a a uma reflexão sobre a própria atuação, quer pessoal, quer

profissional” (SOUZA; CORDEIRO, 2007, p. 46 apud SOUZA, 2016, p. 83).

Para Souza e Cordeiro, (2007) o diário reflexivo é importante por constituir-se

como um dos gêneros textuais das escritas que refletem sobre si e de si. Assim, as

escritas registradas por docentes permitem que a compreensão dos discursos

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pedagógicos, norteadores das práticas escolares, em especial dos que ensinam

Matemática, revelem as aprendizagens que ocorrem durante o processo de ação docente.

É importante ressaltar que, ao nos referimos às atividades escritas, concordamos

com Mizukami et al (2002, p. 167-168) ao afirmarem que tais atividades se mostram

importantes na promoção de aprendizagem e desenvolvimento profissional, na medida

em que o ato de escrever pressupõe a realização de “[...] uma reflexão distanciada sobre

o exercício profissional. Organiza-se o pensamento de forma lógica e retomam-se, pela

memória, os acontecimentos ocorridos”. Escrever possibilita enxergar os fatos mais

globalmente, com mais isenção, pensar mais sistematicamente sobre uma reflexão que

já fizemos em um determinado momento.

Entendemos assim, conforme o estudo de Souza (2016) que o papel da escrita

reflexiva na formação de professores envolve: a compreensão do discurso pedagógico e

a análise das aprendizagens decorrentes das reflexões que estes estão fazendo no

processo de formação continuada e em serviço.

Sendo, então, um instrumento, por excelência, centrado no registro reflexivo da

e sobre a prática, o mesmo nos possibilitou vislumbrar, as percepções, aprendizagens,

mudanças e superação de erros com ênfase na reflexão sobre a reflexão através da

escrita dos docentes (SOUZA; CORDEIRO, 2007).

Segundo Zabalza (2004), os diários fazem parte de enfoques ou linhas da

pesquisa de orientação qualitativas e são baseados em documentos pessoais ou

narrações autobiográficas.

Reforçamos que, durante a pesquisa, o diário foi utilizado para registro das

sessões do grupo colaborativo. Neste, cada participante, inclusive a pesquisadora,

registrou suas expectativas, percepções acerca dos estudos realizados, revelando nossos

anseios e reformulações sobre a prática pedagógica.

Diante do exposto, para melhor entendermos o contexto situacional no qual

ocorreu a pesquisa, a seguir descrevemos, de maneira concisa, o locus da pesquisa e os

participantes da mesma.

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3.1. O locus da pesquisa

(...) mais importante do que ter um texto bem elaborado, é construirmos o envolvimento e o crescimento das pessoas,

principalmente dos educadores no processo de construção do projeto,

através de uma participação efetiva naquilo que é essencial na instituição.

(VASCONCELOS, 1995, p. 52).

A Escola Municipal Professora Iapissara Aguiar está situada à Rua Ilhéus, S/N,

Conjunto Panatis III, Potengi, dispondo do contato de telefone 3232-4837 e e-mail

[email protected]. Foi fundada sob o Decreto de Criação nº 2161 de

14/02/1979 e Portaria de Autorização nº 078 de 17/02/1996. A escola oferece o Ensino

Fundamental anos finais nos turnos: matutino, das 7h às 11h 30min e vespertino, das

13h às 17h 30min e a Educação de Jovens e Adultos/EJA no turno noturno, das 19h às

22h.

A mesma está localizada no bairro Potengi, especificamente no conjunto Panatis

III, sendo este o bairro que apresenta melhor qualidade de vida na Zona Norte da

capital. Seu nome é uma alusão ao rio mais famoso do Estado do Rio Grande do Norte,

o Rio Potengi. A construção dos conjuntos habitacionais nas décadas de 1970 e 1980

foi responsável pela rápida expansão da área, que favoreceu o surgimento de pequenos

comércios e prestadores de serviços e, posteriormente, shoppings centers,

hipermercados e grandes varejistas.

No impulso dessa expansão, surgiu a escola pela necessidade de oferecer aos

recém moradores do bairro acesso à educação. Seu nome é em homenagem à professora

Iapissara Aguiar de Souza, que nasceu em Natal, no dia 26 de abril de 1947. Essa

professora formou-se em 1974 pela UFRN no curso de história, exercendo a docência

na Escola Rotary. Dava especial atenção aos alunos mais carentes, aos quais cedia

material gratuito para estudo. Nesta mesma escola alcançou a função de vice-diretora.

No entanto, faleceu em 1978, aos 31 anos de idade, vítima de tétano.

Com o passar do tempo, a estrutura da escola foi expandida para se ajustar à

demanda de alunos e também objetivando a melhoria da aprendizagem com novos

ambientes pedagógicos. Hoje conta com 11 salas de aula, uma biblioteca, uma sala de

vídeo, um Laboratório de Informática e Ciências, um refeitório, um pátio, uma quadra

poliesportiva, área administrativa com direção, secretaria e sala dos professores.

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Apesar de ter passado por uma reforma no ano de 2005, a instituição apresenta,

ainda, uma estrutura comprometida com o tempo em que, principalmente, a instalação

elétrica é insuficiente para a demanda. O refeitório está com mobiliário precário e o

Laboratório de Informática conta apenas com 1/3 dos seus equipamentos em

funcionamento devido à falta de manutenção e substituição de equipamentos por parte

da instituição mantenedora. No tocante à biblioteca, conta com um acervo mais atual,

fruto de doações, em sua maioria. Quanto ao Laboratório de Ciências, o mesmo

encontra-se desativado.

O quadro de funcionários da escola é constituído por um Diretor Administrativo,

graduado em Língua Inglesa, com especialização em língua estrangeira e uma Diretora

Pedagógica, licenciada em Pedagogia, eleitos pelo processo de gestão democrática

através do voto direto no ano de 2015. Seu quadro pedagógico conta com 44 professores,

quatro coordenadoras pedagógicas, cinco professores readaptados, que atuam na

biblioteca e no laboratório de informática, distribuídos nos três turnos de funcionamento

da escola. Tem em seu quadro técnico-administrativo: uma inspetora escolar e um

assistente financeiro (que atendem aos três turnos da escola), cinco servidores efetivos

em secretaria, 22 funcionários terceirizados assim distribuídos: quatro assistentes de

secretariado, oito porteiros, cinco assistentes de serviços gerai, duas merendeiras e três

auxiliares de cozinha.

Embora a escola possua uma quadra poliesportiva, necessitaria de mais e

maiores espaços para a prática de esporte.

A escola, no ano letivo de 2018, matriculou um total de 827 estudantes, no

turno diurno e 329 no noturno, totalizando 1156, com faixa etária entre 10 e 17 anos nos

turnos diurnos e acima de 15 anos, no noturno, distribuídos conforme o quadro a seguir:

Quadro 1 – Distribuição de alunos matriculados.

Modalidade Total de turmas N° de alunos matriculados

Anos finais do E. F.

(matutino)

11 427

Anos finais do E. F.

(vespertino)

11 400

Anos finais do E. F. – EJA

(noturno) – 1° semestre

04 183

Anos finais do E. F. – EJA

(noturno) – 2° semestre

04 146

Total 30 1.156 Fonte: Sistema E-Cidade. Os dados acima estão de acordo com a matrícula de 2018.

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Destacamos que, cumprindo a lei de Inclusão Escolar, a instituição tem 16

alunos matriculados com necessidades educacionais especiais, sendo 14 matriculados

nos turnos diurnos e dois no noturno. Destes, apenas cinco possuem apoio pedagógico.

Os apoios pedagógicos fornecidos pela prefeitura são estagiários de curso de

licenciatura, em sua maioria, em anos iniciais dos cursos, sem formação ou orientação

para o trabalho ao qual são destinados.

Assim, a inclusão é uma realidade parcial e a consideramos de grande

importância, uma vez que a escola deve ser para todos e todas, porém sabemos das

dificuldades em promovê-la em todos os âmbitos. A instituição, contudo, professores e

os apoios pedagógicos, ainda não possuem formação adequada para promover um

trabalho que realmente leve à inclusão, garantindo a aprendizagem e o desenvolvimento

cognitivo de todos e todas.

Quando nos reportamos à análise dos dados ofertados pelo seu quadro anual de

rendimento acadêmico e os fornecidos pelos responsáveis pelas avaliações nacionais

como o Sistema Nacional de Avaliação, através da Prova Brasil, que aponta o Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) das escolas, podemos perceber que a

escola vem apresentando baixo rendimento, em especial em Matemática.

Em 2013, o IDEB estava bem abaixo da meta, apontando grandes dificuldades

no que concerne aos processos de ensino e de aprendizagem, e organização estrutural da

instituição. Ressaltamos que em 2009 o IDEB atingiu 3,9, caindo entre os anos de 2011

a 2013, ficando com o índice de 2,7.

Diante desse quadro, em 2015 a escola apresentou resultados melhores, embora

a taxa de evasão e reprovação continuasse a assustar a equipe gestora e docentes da

escola. O IDEB subiu 1,2 percentuais, ficando com 3,9 após avaliação.

Sabemos que fazer educação pública em nosso país tem sido um desafio. Faltam

professores, a maioria do quadro docente é desestimulado, as condições físicas de

nossas escolas precisam ser revistas com urgência e a credibilidade do ensino público é

atacada, diariamente pelas mídias, favorecendo o aumento do desinteresse do alunado

pela escola e educação escolar.

Portanto, a partir das avaliações institucionais, agregando-se outros fatores como

rotatividade de professores, por exemplo, em 2017, novamente, ocorreu uma queda

considerável no IDEB. A mesma perdeu 0,8 pontos, ficando com o índice de 3,1, fato

que deveria mobilizar e motivar para “o repensar” das nossas ações pedagógicas.

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Realizando, então, uma análise comparativa entre os quadros de rendimento dos

anos de 2015 a 2017, tendo as atas finais de cada ano como documento base para

análise, percebemos, como nos mostra o Quadro 2, que os indicadores de

evasão/abandono e reprovação, em especial nos turnos matutino e vespertino, nos quais

se concentram os maiores números as turmas dos anos finais do Ensino fundamental

regular, têm aumentado gradativamente nas turmas dos 6os e 7os anos paralelamente à

diminuição do número de matrícula inicial.

Quadro 2 – Rendimento Acadêmico do Ensino Fundamental Regular (2015-2017)

2015 6° ANOS

5 TURMAS

7° ANOS

2 TURMAS

8° ANOS

2 TURMAS

9° ANOS

2 TURMAS

APROVADOS- M 106 75 69 71

REPROVADOS - M 53 05 06 02

APROVADOS – V 85 59 61 38

REPROVADOS - V 56 17 03 00

2016 6° ANOS

4 TURMAS

7° ANOS

3 TURMAS

8° ANOS

2 TURMAS

9° ANOS

2 TURMAS

APROVADOS – M 89 76 69 68

REPROVADOS –M 45 22 07 03

APROVADOS – V 81 78 55 60

REPRADOS –V 47 19 21 04

2017 6° ANOS

4 TURMAS

7° ANOS

3 TURMAS

8° ANOS

2 TURMAS

9° ANOS

2 TURMAS

APROVADOS – M 82 64 64 72

REPROVADOS –M 51 50 14 02

APROVADOS – V 64 59 60 58

REPROVADOS –V 64 38 10 03

Fonte: atas dos resultados finais fornecidas pela secretaria da Escola e Sistema e-cidade.

Em 2017, observamos um aumento no número de reprovações como apresenta o

gráfico a seguir:

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Gráfico 1 – Acompanhamento dos dados Acadêmicos (2015-2017)

Legenda: MI – Matrícula Inicial AB – Abandono TR –Transferidos AP – Aprovados REP – Reprovados MF – Matrícula Final

Fonte: elaboração própria

Segundo a direção escolar, preocupados com esses índices, a escola tem buscado

desenvolver um trabalho que prime pela excelência no que diz respeito aos processos de

ensino e de aprendizagem. Trabalhando a partir de projetos didáticos, a equipe

pedagógica e os docentes vêm viabilizando um trabalho de socialização e

sistematização dos saberes vivenciados na escola.

Partindo desse cenário, nas últimas décadas, as demandas sociais em relação à

escola têm aumentado substancialmente. O fenômeno deve-se principalmente ao

crescimento da violência urbana, à falta de perspectivas profissionais como também à

desestruturação do núcleo familiar recorrente em muitas famílias como também a

inexistência de continuidade e/ou de políticas públicas inclusivas.

Cada vez mais, exige-se que a escola colabore para transformar esse cenário,

perceptível do lado de fora de seus muros, tematizando-o em suas atividades diárias

com o objetivo de melhorar o futuro dos estudantes tornando-os em cidadãos aptos para

atuar na sociedade. A Escola Municipal Professora Iapissara Aguiar de Souza, locus do

estudo em questão, não destoa dessa realidade, presente em tantas outras escolas

brasileiras, apresentando baixos índices de rendimento e desempenho acadêmico, grave

distorção idade-série como também taxas de abandono ainda altas.

3.1.1.O grupo colaborativo e seus participantes

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Participaram do grupo colaborativo três professores de Matemática da instituição

(duas mulheres e um homem), licenciados em Matemática pela UFRN e a pesquisadora

– colaborada. Os momentos do encontro do grupo ocorrem na hora-atividade (momento

destinado aos profissionais para estudo e planejamento) com frequência quinzenal. Na

rede municipal de ensino da cidade do Natal/RN, os professores de Matemática

planejam semanalmente, às quartas-feiras. Ressaltamos, conforme supracitado, que a

escola atende alunos matriculados nos anos finais do Ensino Fundamental, tendo no

turno matutino e vespertino, respectivamente, 11 turmas sendo assim subdivididas:

quatro turmas dos 6° anos, três turmas dos 7° anos, duas turmas dos 8° anos e duas

turmas dos 9° anos.

Os três professores partícipes não possuem curso de especialização e apresentam

resistência em participar das formações continuadas ofertadas pela Secretaria Municipal

de Educação. Segundo os mesmos, em conversa informal, tais formações são cansativas

e enfadonhas e não acrescentam nada à prática docente. Dentre eles, dois são efetivos e

uma faz parte do processo seletivo. Seu contrato acabou em setembro de 2018, porém a

mesma continuou a participar dos encontros do grupo colaborativo.

Registramos, também que, embora nosso olhar estivesse voltado,

especificamente, para as turmas do 6° ano, os três professores de Matemática da escola,

do turno matutino, aceitaram participar do grupo tendo em vista que o currículo escolar

deve ser pensado e trabalhado em equipe, de forma a possibilitar uma trajetória de

ensino coerente e pertinente ao desenvolvimento cognitivo.

Obedecendo aos aspectos éticos da pesquisa, quanto à identidade dos mesmos,

optamos por identificá-los por nomes de deuses gregos. Escolhemos os deuses gregos

por gostarmos muito de mitologia e também pelas relações com o conhecimento, e a

construção deste, representado pela cultura grega, bem como sua importância para

Matemática, que tem seu nome de origem grega. Grandes teóricos matemáticos como

Tales de Mileto e o grande filósofo Platão, representam essa época. Nesse sentido, ao

me referir aos professores colaboradores durante o texto, eles estarão assim

identificados:

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Quadro 3 – Identificação fictícia dos professores do grupo colaborativo.

Professora das turmas

dos 6° anos

P. Afrodite

Professora das turmas

dos 8° e 9° anos

P. Atena

Professor das turmas dos

7° anos

P. Ares

Fonte: Elaboração própria.

Inicialmente, dialogamos com os mesmos e apresentamos a nossa proposta de

trabalho. Falamos dos jogos com regras e o foco nos números racionais. Entregamos

uma síntese do projeto.

Na conversa inicial, em 15 de maio de 2018, os professores já apontaram que o

conceito dos números racionais perpassa todos os anos finais do Ensino Fundamental, e

que esperavam que o grupo apontasse caminhos para o trabalho com esse conteúdo.

Também apontaram o desafio de pensar os jogos em uma perspectiva inclusiva, uma

vez que a escola, enquanto sistema, ainda não conseguiu vencer o obstáculo da inclusão.

Discutimos esse conceito evidenciando o trabalho com as turmas heterogêneas quanto

ao desenvolvimento cognitivo, intelectual e alunos com necessidades educacionais

especiais. Em especial, nas turmas dos 6° anos matutinos, temos duas alunas com

necessidades especiais e laudo, com professoras acompanhantes, mas com dificuldades

no processo de enturmação.

Nesse momento também foi solicitada a assinatura dos Termos de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para divulgação dos dados coletados,

gravação em áudio e vídeo dos encontros e registro fotográfico. Combinamos que os

encontros seriam quinzenais, no horário destinado ao planejamento dos mesmos, na

escola.

Como sou coordenadora pedagógica da escola e corresponsável pelos encontros

de formação e planejamento, acordei junto à gestão da escola e aos professores iniciar

as reuniões às 8h, parando às 9h para o intervalo, e retornando às 9h20min, encerrando

às 11h. Nesses dias, a minha atuação seria apenas a de pesquisadora colaboradora (ou

deveria ser) no grupo de estudo colaborativo, pagando no contra turno meu horário de

trabalho.

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3.1.2. Perfil da turma do 6° ano

Nosso produto foi construído colaborativamente e pensado para cooperar com os

processos de ensino e de aprendizagem dos números racionais junto a alunos dos 6°

anos do Ensino Fundamental da escola. O mesmo foi, também, projetado dentro dos

princípios do Desenho Universal Pedagógico, de forma a atender a maioria dos alunos

tendo em vista suas necessidades educacionais.

A princípio, havíamos pensado a aplicação em uma turma do 6° ano do turno

matutino, turno de trabalho da maioria dos professores participantes da pesquisa.

Contudo, tendo como um dos objetivos atender aos alunos com deficiência ou

necessidades educacionais especiais, em um dos encontros do grupo colaborativo,

acordamos que aplicaríamos o jogo junto ao 6° ano G, turma do turno vespertino, na

qual a professora P. Afrodite é titular da disciplina de Matemática.

Essa turma foi escolhida por caracterizar-se como uma turma crítica quanto aos

processos de aprendizagem e por ter alunos com deficiência, e no caso específico, um

aluno autista. Assim, como para Caetano (2018), nossa proposta não é apenas de

trabalhar junto a alunos com deficiência, seja física, intelectual ou transtorno de

desenvolvimento global, mas possibilitar recursos e/ou estratégias de ensino que

envolvam todos os educandos, respeitando as necessidades educacionais de cada um em

um trabalho de colaboração e mediação significativo à aprendizagem e ao

desenvolvimento social e cognitivo.

A turma era composta, inicialmente, por 37 alunos, sendo 15 meninas e 22

meninos, com faixa etária entre 12 e 15 anos, estando todos em distorção idade-série.

Destes, 25 já eram repetentes, alguns com mais de uma reprovação nessa etapa do

ensino, tendo 6 destes alunos sido reprovados na própria escola em 2017.

Os sextos anos são, sem dúvida, divisores de águas na vida dos educandos. As

mudanças desde o número de disciplinas cursadas ao número de professores, produzem

medo, insegurança e, particularmente, reprovação e evasão. As dificuldades referentes

ao processo de aquisição do conhecimento nos anos iniciais também são um obstáculo

tendo em vista que a maioria dos alunos matriculados nessa etapa do ensino não possuí

os conhecimentos básicos para atender ao currículo pensado para esta etapa, como

apontam as avaliações nacionais tais como a Prova Brasil. Diante disso, a turma em

questão não foge à regra.

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De acordo com o resultado da última aplicação da Prova Brasil, no ano de 2017,

e INEP, a Matemática ainda é a disciplina que apresenta o mais baixo rendimento entre

os estudantes brasileiros. Dos 948 961 alunos que realizaram o exame em nível

nacional, apenas 14% desse montante demonstraram o aprendizado adequado no final

do Ensino Fundamental. No tocante a participação dos alunos do Estado do RN, 18 995

estudantes participaram da avaliação, e suas médias ficaram abaixo da nacional.

Quando buscamos os dados da Cidade do Natal/RN, dos 2 240 participantes,

apenas 251 demostraram as habilidades e competências básicas necessárias para a

conclusão do Ensino Fundamental, ou seja, 11% do grupo. Dentre os 11%, 136 alunos

eram da Escola Municipal Iapissara Aguiar (lócus da nossa pesquisa), sendo que apenas

10 alunos, conforme os resultados da avaliação, demostraram o conhecimento

necessário para essa etapa da educação básica, ou seja, 7% dos alunos avaliados.

Quanto ao aluno que tem autismo, o mesmo foi matriculado na instituição em

2017, porém abandonou a escola. Ele estava em turma do turno matutino e por questões

de adaptação ao horário não conseguiu cursar. O mesmo não precisa de estagiário, pois

lê e escreve com competência mínima para esta etapa do ensino, contudo apresenta

maiores dificuldades na disciplina de Matemática. Segundo P. Afrodite, em 2017, o

aluno, nas poucas vezes que assistiu aula, não interagia com ninguém, era inquieto e

avesso a barulho.

A fim de esclarecimento, frisamos que os estagiários são alunos dos cursos de

licenciatura e Pedagogia das universidades presentes no nosso estado, cursando a partir

do 2° período. Esses recebem uma bolsa paga pela Prefeitura do Natal/RN no valor de

R$ 570,00 mais R$ 50,00 de auxílio transporte e não existe seleção ou formação prévia

para os mesmos atuarem na função de estagiário de turmas nas escolas e/ou centros de

educação infantil. Sua função no espaço das escolas do Ensino Fundamental restringe-se

ao apoio pedagógico junto aos alunos que necessitam de acompanhamento

especializado devido a alguma deficiência ou distúrbio/transtorno de aprendizagem.

Assim, em 2018, seu processo de adaptação do aluno com autismo foi positivo.

Passou a frequentar a escola regularmente, a interagir com colegas, professores e equipe

pedagógica da escola. Sua comunicação melhorou, chegando a fazer questionamentos

no espaço da sala de aula e fora dele, sendo escolhido pelos professores da sua turma

como aluno destaque no ano de 2018.

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Traçar o perfil da turma quanto ao seu corpo discente foi primordial para

pensarmos o jogo tendo em vista as limitações dos educandos e como este recurso

poderia auxiliar a docente da turma, no trabalho com a Matemática, em especial, com os

números racionais.

3.2. Os encontros do grupo colaborativo

Os encontros do grupo colaborativo deveriam ser quinzenais, alternando com os

planejamentos das atividades da instituição, mas, embora tivéssemos um planejamento

inicial, vários fatores interferiram no cumprimento desse planejamento, tais como:

demandas externas como convocação do órgão central para reuniões de estudo em torno

da Base Nacional Comum Curricular (BNCC); jogos da copa com suspensão das aulas;

falta de aula por problemas na rede elétrica da escola, dentre outros.

A título de registro, entre o primeiro e segundo encontros levamos quase dois

meses diante das adversidades da dinâmica escolar mencionadas acima. Contudo, ser

coordenadora dos professores me possibilitou estar sempre em contato com eles, e após

o primeiro encontro nossos laços afetivos e de trabalho se estreitaram, o que favoreceu

minha função na escola e minha condição de colaboradora e pesquisadora no grupo.

Para Teles (s/d), pesquisar colaborativamente constitui em construir

conhecimentos ligados à prática de ensino real que asseguram aos professores a

oportunidade de colaborar com a construção do conhecimento científico.

Nesse sentido, para a autora, além da constatação, por parte do pesquisador, de

que a participação e a contribuição do professor são necessárias para a construção

teórica da pesquisa, é necessária também a compreensão do próprio professor de que

sua participação é que sustenta a colaboração. Na medida em que ambos colaboram

mutuamente (professores colaboram com a investigação fornecendo dados para

pesquisa; e o pesquisador colabora com os professores ajudando-os a refletir e

transformar a prática) o processo de colaboração se concretiza (TELES, s/d).

No primeiro encontro apresentamos a proposta de calendário dos encontros

(Anexo A), reforçando a ideia de grupo colaborativo e que o querer estar ali era o

fundamental para o grupo existir. Cada colaborador recebeu uma pasta com caderno e

alguns informes e um kit com canetas e outros objetos para realização dos registros dos

encontros e pós-encontros. Em seguida, realizamos a leitura do texto: o grupo (Anexo

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B), de Madalena Freire, discutindo sobre o sentido de um grupo. Reforçamos a voz e

vez de todos, o respeito e a construção desse grupo no contexto. A P. Atena colocou que

ás vezes percebe em suas relações pessoais o que o texto coloca quanto a se perceber no

outro e o P. Ares afirmou ser complexa essa relação de grupo apresentada no texto.

Reforcei a importância da construção do grupo, que apesar de estar ali como

pesquisadora também, o desafio está na elaboração coletiva do grupo, e que minha

função era de coordenar os encontros, mas principalmente de participar como professora

colaborada, trazendo o desafio, para que juntos, pudéssemos traçar possibilidades de

superação.

Usando como metodologia a aula expositiva dialogada com apoio de slides,

apresentei o meu projeto, expondo os motivos que nos levaram, eu e minha orientadora,

a escolher esse tema e a pensar em um trabalho colaborativo. À medida que íamos

apresentando o projeto, estávamos sempre reforçando a importância da colaboração.

Iniciou-se, então, uma discussão sobre as dificuldades que os professores

licenciados em Matemática encontram com os alunos que iniciam os anos finais do

Ensino Fundamental, a partir da qual foram levantados os seguintes problemas: a má

formação dos pedagogos e da resistência destes, em sua maioria, em ensinar

Matemática; o ensino errado de conceitos, que influenciam a aprendizagem de outros; a

falta de interesse dos alunos; os problemas sociais e familiares que assolam os

estudantes da escola pública; a própria organização da escola quanto a tempo e espaço,

a currículo e gestão da aprendizagem.

A P. Atena citou uma experiência que vivenciou na rede na qual trabalha no

turno vespertino. Segundo a mesma, passou um tempo como professora coordenadora

nessa rede e começou a identificar algumas aberrações no ensino da Matemática nos

anos iniciais do Ensino Fundamental. Segunda ela, ao assumir uma turma uma vez, um

aluno disse que círculo é tudo que rola. Quando foi investigar descobriu que a

professora (pedagoga) estava dando essa conceituação para os alunos. Então, ela propôs

oficinas sobre conceitos matemáticos para os professores dos anos iniciais, mas

identificou a resistência de alguns em rever seus conceitos.

A P. Afrodite e o P. Ares falaram das dificuldades que os alunos apresentam ao

ingressar nos anos finais. A grande maioria não sabe sequer ler números, não

compreendem os princípios básicos das quatro operações, e por vezes, acabam

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avançando, com essas dificuldades. Nesse momento, intervi falando também das

dificuldades dos licenciados em Matemática e das lacunas em sua formação.

A P. Afrodite concordou e acrescentou que, ela mesma, se considera às vezes,

muito tecnicista e “seca” para com os alunos.

Ressaltamos a necessidade de identificarmos as dificuldades e possibilidades de

superação no tocante ao ensino da Matemática para darmos continuidade ao nosso

projeto.

Foram discutidas também as possibilidades do trabalho com os jogos, que seria

construído como produto da minha pesquisa em um manual, mas que o grupo é que

seria responsável pela concepção desse produto. Os professores relataram as suas

experiências com jogos, aumentando, em mim, a confiança no trabalho proposto.

Optei por descrever de maneira mais expansiva nosso primeiro encontro tendo

em vista que esse me deu uma visão mais clara dos caminhos que deveríamos traçar

para alcançar os objetivos do estudo. Não é fácil fazer pesquisa. Mais difícil ainda é

realizá-la em escolas públicas. Desafiador e angustiante: realizar pesquisa em escola

pública na qual você trabalha. Nesse primeiro momento pude perceber, em primeiro

lugar, o quanto é importante encontrar pessoas dispostas a estudar, com sonhos e

utopias não mortos pelo ativismo e falta de respeito e valorização para com os

profissionais da Educação. Nosso grupo se dispôs a participar da pesquisa. Foram

solícitos, mas apresentaram resistência ao “estudar”. Participaram do primeiro encontro

entusiasmados, cheios de ideias, mas frisaram: “somos matemáticos; esse negócio de

muita teoria, muito texto não rola”.

Assim, diante desse primeiro contato, enquanto coordenadora e colega de

trabalho dos mesmos, não foi surpresa a resistência quanto a ler e escrever. Identifiquei,

portanto, alguns desafios:

Desafio 1: motivar e elaborar com eles um plano de estudo e planejamento;

Desafio 2: do primeiro desafio, apresentou-se o segundo - ser coordenadora pedagógica

dos professores e conhecê-los ao ponto de poder apontar as limitações e avanços dos

mesmos. Durante os três anos que trabalho com a maioria do grupo, sempre encontrei

dificuldades de realizar estudos com os mesmos. Posso dizer que é a equipe mais unida

da escola, que interage, troca ideias e busca trabalhar coerentemente, contudo não

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gostam de ler e escrever (com exceção de P. Atena, que afirmou gostar de registrar tudo

e que manteve o caderno de planejamento como o único organizado).

Posso afirmar também que todos são leitores de literatura, mas não gostam de estudos

realizados no campo da Educação e encontram dificuldades em escrever, registrar com

palavras seus sentimentos e ideias. Esse desafio foi o maior por mim identificado, uma

vez que o grupo demandou do registro reflexivo pautado no estudo, para consecução da

pesquisa.

Desafio 3: estar no meu espaço de trabalho e separar meu olhar de pesquisadora do de

parte da equipe e conseguir conciliar minhas atividades acadêmicas com as

profissionais; em dias de encontro do grupo, ao entrar na escola, tinha que sair

reforçando que naquele momento, em especial, era a outra Ana Karla que estava ali,

mas na verdade não existe outra Ana Karla. Professores me procuravam e alunos/pais

também. Tive que aprender a lidar com essa situação, administrar meu tempo uma vez

que conseguir a participação desse grupo já foi uma grande vitória.

Assim, sabemos como as escolas públicas são assoladas pelo sistema: estruturas

físicas caóticas, recursos mínimos, nos últimos tempos, professores desmotivados e

alunos desestimulados. Um conjunto de fatores que levam à falta de credibilidade no

sistema e desvalorização da educação escolar. E se pensarmos em educação inclusiva

esses problemas aumentam e vêm maltratando os atores da escola ainda mais.

Os gestores da educação pensam que incluir é colocar o aluno com necessidade

educacional no espaço da sala de aula, e, em alguns casos, oferecer alguém, que

funcione como cuidador dos mesmos. Desafios! Mas, educação escolar não se construiu

sobre desafios?

Quanto à importância do grupo colaborativo, em seus primeiros registros, os

participantes enfatizaram a importância do mesmo em seus processos formativos, como

exposto em seus registros, transcritos a seguir:

Sempre ouço falar e percebo que a sociedade mudou, isso é fato. O Século XXI

mudou e o ensino tem que mudar. [...] mesmo utilizando o quadro tento fazer com que minha aula seja prazerosa. [...] ter um olhar diferente para cada aluno e

para cada turma, me faz buscar coisas diferentes [...] essa é minha melhor

formação. Estou muito feliz em poder participar de um grupo colaborativo [...] espero aprender muito e ajudar a Ana (P. Atena).

[...] nas formações discutimos com os colegas as diversas formas de encarar

esses problemas e trocando experiências tentamos diminuir as adversidades.

Acredito que o grupo irá contribuir bastante para preencher lacunas deixadas

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durante os anos de formação tanto dos alunos, quanto de nós professores. (P.

Afrodite). [...] sempre é bom ver as ideias e opiniões de outros professores para ajudar na minha prática docente (P. Ares).

Tais relatos nos apontam, inicialmente, que o grupo colaborativo possibilitou

uma ação reflexiva, e as secções (os encontros do grupo colaborativo) do mesmo

possibilitou uma compreensão dos discursos pedagógicos que norteiam as práticas no

âmbito escolar e como estes, os discursos, estão sendo (re)construídos no espaço do

grupo colaborativo, tendo em vista o processo formativo dos professores em formação e

em serviço.

Como vemos, nos trechos dos relatos apresentados, P. Afrodite atesta que o

grupo colaborativo contribuirá com sua formação, evidenciando a importância da troca

de experiência e do trabalho colaborativo, objetivo maior da metodologia da pesquisa.

Foram realizados mais seis encontros, dois a mais que os planejados a priori. Até

o quarto encontro coordenei os mesmos enquanto professora colaboradora e

pesquisadora do grupo, mas, a partir do quinto encontro percebi que meu papel no grupo

foi de coparticipante e, eu, enquanto pesquisadora, me emaranhei nas teias da

construção e da colaboração.

O quinto encontro foi para mim um marco no trabalho. O encontro estava

previamente agendado com os professores. No entanto, no dia anterior à tarde, ocorreu

comigo um imprevisto urgente e solicitei ao grupo mudarmos a data do encontro.

Contudo, o grupo propôs se reunirem sem minha presença; eles estavam eufóricos para

compartilharem as ideias e sugestões para a elaboração do jogo. Acordamos, então, que

os mesmos deveriam gravar o encontro em áudio e compartilhar o mesmo, além de

realizar o registro escrito do encontro.

A P. Atena registrou em seu diário reflexivo o encontro de maneira muito

espontânea e otimista:

Hoje fizemos um esboço de como ficará o mapa com cada sessão e os níveis do

jogo. Estou muito feliz como eu e meus colegas, professores de Matemática, que na sua maioria são muito individualistas, estamos nos dando tão bem (P.

Atena).

Percebemos no registro escrito da professora a importância da escrita reflexiva

na formação de professores tendo em vista que esta nos traz registros que apontam as

reflexões que ocorrem quando vivenciamos processos formativos que nos levam ao

repensar nosso papel diante da nossa profissão.

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Compreendendo, portanto, que os diários possibilitaram uma escrita reflexiva, e

que estas nos levaram a uma compreensão dos discursos pedagógicos que norteiam as

práticas no âmbito escolar e como estes, os discursos, foram sendo (re)construídos no

espaço do grupo colaborativo, é que reforçarmos a importância desse instrumento para o

nosso trabalho, uma vez que concordamos com as ideias de Ferreira (2006) quando esta

afirma que as narrativas de formação (em especial, os diários reflexivos, por nós

adotados) possibilitam, “a elaboração de conhecimentos mais pertinentes, contribuindo

para os processos de formação de professores” (FERREIRA, 2006, p. 60).

Os três últimos encontros foram realizados tendo como foco a construção do

jogo. Cada membro do grupo ficou responsável por atividades que constituíram o

recurso, e a cada encontro socializaram e organizaram a proposta. A minha participação

nesse processo restringiu-se a levá-los a refletir sobre como o jogo com regras, enquanto

elemento mediador e colaborador para a aprendizagem em uma perspectiva inclusiva,

poderia ser pensado e elaborado.

Esses momentos foram riquíssimos para minha formação enquanto

pesquisadora, mas, em especial, para minha condição de participante desse grupo. A

troca de conhecimento, a interação, as angústias e anseios, a euforia de podermos

possibilitar um novo fazer pedagógico, me levaram a perceber a importância do estudo e

da pesquisa em colaboração com o chão da escola.

Estarmos juntos todos os dias não nos tornava um grupo, uma equipe.

Pensarmos juntos sobre nossas vivências profissionais, expormos nossas limitações e

desejos de superação, nos tornou um grupo.

O jogo por nós elaborado traz, com certeza limitações, e por isso precede a

análise de sua aplicabilidade tendo em vista seus objetivos. Contudo é produto de um

trabalho colaborativo e participativo, no qual cada um teve voz, vez e ação.

3.3.O produto educacional: jogos construídos colaborativamente

Nesse tópico elucidaremos como o nosso grupo construiu o produto educacional

originado da nossa pesquisa do mestrado. No tópico 2.2 apresentamos o conceito de

jogos com regras por nós compreendido e como estes podem ser elementos mediadores

do processo de desenvolvimento social e cognitivo.

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Como exposto, a nossa proposta de trabalho consistia em, com o grupo

colaborativo, pensarmos um jogo com regras (ou jogos), numa perspectiva inclusiva,

com base no Desenho Universal Pedagógico, para trabalharmos com alunos do 6° ano

anos. Para usar o recurso metodológico dos jogos com regras, optamos por abordar os

números racionais.

Ribeiro e Souza (2009) apontam que o conceito do número racional tem sido

amplamente discutido em diversas pesquisas em Educação que tratam da aprendizagem

em Matemática. Tais pesquisas, segundo os autores, apontam que para acontecer a

aprendizagem desse conceito é necessário que o seu ensino seja realizado com base nos

diversos significados que este número possui.

O ensino dos números racionais refere-se a sua representação decimal,

fracionária, às dízimas periódicas, às porcentagens, dentre outros, proporcionando aos

alunos compreensão e atuação no contexto cotidiano. Quando os alunos reconhecem e

resolvem problemas envolvendo os números racionais, conseguem, consequentemente,

analisar situações a eles relacionadas no seu cotidiano, já que os mesmos se encontram

em grande parte da nossa vida, seja ela escolar ou não.

Pérez (s/d), complementa essa ideia ao afirmar que são numerosos os contextos

nos quais precisamos dos números racionais. Para a autora, todos utilizamos, em maior

ou menor grau, estes números, seja para trabalhar ou para interpretar corretamente

algumas informações significativas que vivenciamos cotidianamente como ler um

periódico, abastecer um carro, verificar o peso dos produtos no mercado, por exemplo, o

conhecimento mínimo acerca do que os números racionais representam acaba sendo

essencial em nossa vida.

Silva (2006) citando Silva (1997) nos diz que o conceito de número racional é

considerado entre muitos conceitos, uma das ideias matemáticas mais complexas que o

aluno deve encontrar, isso sob as perspectivas prática, psicológica e matemática.

Para o autor a compreensão do conceito dos números racionais na representação

fracionária e decimal depende do entendimento de algumas sub-construções, tais como:

relação parte todo, operador, equivalência, quociente, razão e decimal de um

número racional, porém tais construções na maioria das vezes, não tem ocorrido

em sala de aula, dessa forma constatamos que a prática escolar diária desses alunos está basicamente voltada para as técnicas de operacionalização,

memorização e repetição do que foi estudado em sala de aula. Além disto, a

matemática, isolada de aspectos sócio-econômicos, históricos e culturais

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distorce a compreensão de que o saber matemático é um agente transformador

da realidade (SILVA, 2006, p. 5).

Saber o que estes estudantes “sabem” e como aprenderam deve ser o ponto de

partida para que o educador reflita e então, organize os conteúdos a serem trabalhados.

Segundo Pérez (1988), toda pessoa instruída deveria saber que os números

racionais na sua representação decimal são signos da linguagem matemática que nos

permitem expressar – uma vez fixada a unidade – medidas de quantidades não inteiras.

Nesse sentido, conforme David e Fonseca (1997) ao se pensar na importância desses

números é preciso que se leve em consideração quatro fatores que evidenciam a

necessidade do seu estudo:

1º fator – o prático: os números racionais em suas diferentes representações,

surgem com frequência nas diversas situações relacionadas a processos de medição e índices comparativos;

2º fator – o psicológico: os números racionais oportunizam a promoção do

desenvolvimento intelectual e a expansão de estruturas mentais necessárias ao raciocínio lógico;

3º fator – o matemático: serão as estruturas dos números racionais que

fundamentarão o trabalho com as operações algébricas elementares a serem desenvolvidas ao longo do ensino fundamental;

4º fator – o didático–epistemológico: o trabalho com os números racionais pode

se constituir numa oportunidade de experimentar uma situação de produção de

conhecimento matemático, em respostas a conflitos ou dificuldades surgidas no campo mais restrito dos números naturais (DAVID; FONSECA, 1997, p. 56).

Segundo Caraça (1989), podemos afirmar que os números racionais nasceram da

necessidade de exprimir a medida de um segmento tomando outro como unidade de

medida, de forma a superar a dificuldade que existia na impossibilidade de uma divisão

exata entre números inteiros quando o seu dividendo não era múltiplo do seu divisor. De

acordo com o mesmo, medir e contar são as operações que, com maior frequência,

fazemos uso nas atividades do dia a dia.

Trabalhamos no quarto encontro o planejamento anual da professora responsável

pelas turmas do 6° ano para identificarmos o subtema a ser trabalhado. Chegamos à

conclusão que evidenciaríamos o conceito de números racionais a partir do trabalho

com sua representação fracionária. O posicionamento das professoras foi determinante

para essa escola. As P. Atena e P. Afrodite expuseram o desejo de trabalhar o conceito

de fração, de forma a fortalecer essa aprendizagem junto aos alunos e criar um jogo com

etapas, para trabalhar o conceito e as operações.

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Desde o 2° encontro a construção do jogo começou a se delinear. O desejo de

participação dos integrantes e as ideias em torno do desafio proposto motivou a todos ao

ponto de nos finais de semana ficarmos trocarmos ideias e sugestões acerca da

construção do jogo.

O nosso segundo encontro teve como objetivo discutir os processos de ensino e

de aprendizagem por meio de jogos à luz da Teoria Histórico-Cultural. Introduzimos

nossa discussão refletindo sobre o que é jogo.

P. Ares abriu as falas dizendo que para ele o jogo é algo que força o pensar em

estratégias para ganhar ou alcançar objetivos, e todo jogo deve ter objetivos a serem

alcançados. Já para P. Atena, jogos apresentam estratégias e tem um foco para se puder

avançar. Por sua vez, para P. Afrodite jogos referem-se a conquista, disputa, prazer,

lazer, divertimento. Refletimos então sobre os conceitos postos, como o jogo é visto

pelos alunos, e como vivenciamos os jogos no espaço escolar.

Gostaríamos de frisar que P. Ares é um jogador assíduo de videogames e outros

jogos. Tem uma vivência diária com o ato de jogar e P. Afrodite conhece muito sobre

jogos de videogame e Role Playing Game (RPG), pois fez informática no Ensino Médio

e quando aluna da licenciatura em Matemática foi bolsista e trabalhou com criação de

jogos matemáticos. Essas experiências foram determinantes ao pensarmos e

elaborarmos os jogos.

Assim, guardamos os pontos discutidos e passamos a assistir um vídeo curto,

sobre a teoria de Vygotsky, que retoma os principais conceitos da Teoria Histórico-

Cultural. O vídeo contextualiza a teoria de Vygotsky, baseada em Marx, conceitos como

mediação, cooperação e colaboração, a importância da linguagem e a Zona de

Desenvolvimento Proximal.

Após o vídeo, P. Ares foi logo afirmando que muito pouco lembrava de

Vygotsky, que sua formação foi deficiente na área da Educação. Retomamos os

conceitos do vídeo e com o apoio de um slide, preparado previamente por mim,

retomamos alguns conceitos pertinentes ao projeto como colaboração e jogos com

regras. Enfatizamos que os jogos com regras são essencialmente colaborativos nessa

perspectiva histórico-cultural e nosso desafio está em pensar como trabalhar com pré-

adolescentes e adolescentes jogos colaborativos e em uma perspectiva inclusiva, que,

segundo P. Atena, é desafiadora. Portanto, o primeiro passo é pensar em como

estimular, já que os alunos não apresentam motivação e nem interesse.

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Refletirmos em como temos poucos estudos no desenvolvimento e

aprendizagem de adolescentes e que a maioria das pesquisas se concentram em crianças

memores que dez anos. Essas reflexões só evidenciam a importância do nosso

estudo/grupo. O P. Ares logo lembrou dos jogos de RPG, que são, por excelência, jogos

de tabuleiro colaborativos, onde não há perdedor e nem ganhador, e trabalham a

imaginação e a colaboração entre os jogadores; P. Afrodite colaborou com ele

enfatizando que o jogo é motivador mas que exige um certo grau de maturidade, pois

demanda leitura, interpretação e raciocínio lógico aguçado. Assim, as discussões

giraram em torno desse modelo de jogos, que envolveu a todos.

Passamos, assim, a discutir nos dois encontros seguintes o que são jogos de RPG

e como pensar a criação de um jogo com regras na perspectiva do Desenho Universal.

3.3.1. Role Playing Game – RPG e a colaboração

Role Playing Game (RPG), pode ser traduzido como jogo de interpretação ou de

representação de personagens. O mesmo foi criado em 1974, com o lançamento da

primeira edição do mais famoso RPG do mundo, o Dungeons & Dragons, criado por

Gary Gygax e Dave Arneson que eram elaboradores de jogos de tabuleiro com

miniaturas e estratégia.

Segundo Bressan e Nascimento (2012), em um jogo de RPG, os jogadores

assumem o papel de personagens fictícios em cenários variados, como se fossem heróis

de filmes de aventuras. Este jogo apresenta algumas características base para sua

criação, tais como: a presença de um jogador, chamado de “Mestre”, responsável por

narrar uma aventura para os outros participantes; os demais participantes representam

personagens da história narrada, descrevendo suas ações, fazendo com que a narrativa

seja criada coletivamente (BOTREL; DEL DEBBIO, 1999 apud BRESSAN;

NASCIMENTO, 2012, p. 3).

Em geral, a história é conduzida de forma que os jogadores percebam que

apenas trabalhando em grupo e utilizando as diferentes habilidades de cada

personagem/jogador eles possam atingir o objetivo proposto; resolver os

problemas que aparecerem da melhor forma possível, sem prejuízo para nenhum personagem, sempre buscando a interação entre as partes e o raciocínio

lógico para a resolução desses problemas, por vezes apresentando diversas

propostas para apreciação do grupo e posterior finalização da situação. A ênfase então, no RPG, é a diversão, ou seja, o aspecto lúdico do jogo (BRESSAN;

NASCIMENTO, 2012, p. 3).

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Segundo Grando (2004) apud Machado, Coqueiro e Hermann (2012), jogos

como os RPG, que privilegiam a imaginação, a colaboração entre seus participantes e a

tomada de decisão

[...] representam atividades grupais e possibilitam aos indivíduos trabalharem

com a regularidade, o limite, o respeito e a disciplina, mediante ações

necessariamente subordinadas à regras. Todos esses aspectos se fazem

importantes para a vida do indivíduo em sociedade (GRANDO, 2004, p. 28 apud MACHADO; COQUEIRO; HERMANN, 2012, p. 3).

Para os autores, jogos com características do RPG são divididos em algumas

categorias, destacando os modelos via tabuleiro e via softwares.

Guimarães e Simão (2008, p. 434) apud Machado, Coqueiro e Hermann (2012,

p. 4) “ressaltam que no RPG via Tabuleiro, cada participante representa um personagem

que deve atuar em uma aventura imaginária, sendo o mestre aquele que se destaca entre

esses participantes”.

O RPG é jogado de acordo com um conjunto de regras constitutivas, em forma

de um manual, denominado “sistema”. A ação de cada personagem baseia-se, tipologicamente, em uma ficha, construída pelos jogadores, levando-se em

consideração elementos da inter-relação sistema/cenário. Ela é construída pelos

jogadores, envolvendo negociações diante das expectativas e motivações de cada um. Contém atributos qualitativos e quantitativos de um dado personagem,

que dependem de lances de dados para se expressarem neste ou naquele

momento do jogo, desta ou daquela maneira. Durante a aventura e diante das

sugestões esboçadas pelo mestre, os jogadores estabelecem objetivos mais ou menos claros para a ação de seus personagens e buscam agir em função deles

(GUIMARÃES; SIMÃO, 2008, p. 434-435 apud MACHADO; COQUEIRO;

HERMANN, 2012, p. 4).

Assim, por não permitir um único vencedor ou um único perdedor, podemos

dizer que a finalidade dos RPG é de fomentar a imaginação, o raciocínio e, em especial,

a colaboração entre os jogadores.

Tendo como referência as características principais dos RPG, decidimos que

nosso jogo traria características dos mesmos, tais como: seria um jogo de tabuleiro; teria

um mestre para realizar a leitura das tarefas do jogo – no caso o mestre seriam os

docentes; trabalharíamos com cartas força – ou cartas bônus para cada membro das

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equipes; não haveria perdedores ou vencedores, o objetivo era realizar as tarefas em

colaboração; o jogo aconteceria em duas sessões.

Definidos nossos princípios, partimos para a concepção e a confecção do

mesmo, levando sempre em consideração a base teórica que fundamenta nosso estudo.

3.3.2. Desafio das Frações – o jogo

Os últimos encontros foram destinados à concepção e a confecção do jogo. O P.

Ares foi determinante nessa fase levando as ideias do RPG e nos conduzindo ao

pensarmos juntos mecanismos de construção que fomentassem a ludicidade do jogo, o

desafio que o mesmo tem que apresentar o trabalho colaborativo e os elementos do DUP

e do RPG. Lembramos que o objetivo do grupo consistia em: estudar e construir jogos

com regras em uma perspectiva inclusiva, direcionado para o trabalho com os números

racionais, voltado para os alunos do 6° ano do Ensino Fundamental.

Definimos que o jogo seria de tabuleiro simples e teria apoio de cartas e dados

no formato D 10. Cada fase consistia no trabalho com o conceito dos números racionais

na sua representação fracionário, avançando para as operações com esses números.

O mestre seria o docente da turma, que seria dividida em grupos de 5 alunos

cada. E cada etapa do jogo seria direcionada pelo mestre, sendo de competência das

equipes realizar as tarefas de cada etapa em grupo. As regras deveriam ser apresentadas

no início do jogo e afixadas em um cartaz para leitura de todos.

Todo material do jogo deveria ser confeccionado respeitando os princípios do

Desenho Universal Pedagógico (DUP), sendo esse considerado pelo grupo o maior

desafio.

O jogo foi pensado para uma turma de 35 alunos, número máximo de alunos

matriculados em turmas dos 6° anos permitido pela Rede Municipal de Ensino de

Natal/RN. Assim, para aplicação do jogo, precisamos construir dois modelos do mesmo.

Alguns questionamentos foram lançados: como atender aos cegos nesse

processo? Será que tendo participantes cegos, todos saberiam ler Braille? Em que

aspectos aconteceria a inclusão na perspectiva do DUP. Esses e outros questionamentos

deverão ser respondidos, ou não, na aplicação e validação do produto.

A seguir, apresentamos o jogo:

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O jogo físico é constituído de um tabuleiro (Figura 2) que segue o modelo do

jogo comercial LUDO, onde quatro equipes de cinco alunos podem participar do jogo.

Como o recurso está pensado para a acessibilidade, ele foi confeccionado em preto e

branco, para facilitar para alunos com baixa visão e sua impressão é em alto relevo.

Figura 2 – Tabuleiro do Jogo

Fonte: arquivo pessoal da autora

Cada equipe tem um pino, confeccionado em impressora 3D, trazendo formas

distintas para caracterizar cada equipe, seguindo o modelo de peças do xadrez, como

nos mostra a Figura 3

Figura 3 – Marcadores

Fonte: arquivo pessoal da autora

Acompanhando o tabuleiro, agregam-se um dado D10 (Figura4), que será

utilizado nas tarefas do jogo, aqui chamadas de nível. Esse dado foi confeccionado em

tamanho ampliado, em impressora 3D, e também está em preto e branco com relevo e

uma moeda (Figura 5) contendo em cada face as iniciais M – referente a múltiplos e D –

a divisores, também confeccionada em 3D, três vezes maior que uma moeda de um

Real.

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Figura 4 – Dados D10 ampliados

Fonte: arquivo pessoal da autora

Figura 5 – Moedas para trabalhar Múltiplos e Divisores 3D

Fonte: arquivo pessoal da autora

Temos também um conjunto de régua de fração (Figura 6) e discos de fração

(Figura 7), ambos em madeira, de forma a atender as necessidades de alunos com

cegueira, em especial, e servem para auxiliar nos níveis do jogo; e as cartas (Figura 8)

que são relacionadas para o cumprimento de cada tarefa referentes a cada nível,

impressas em material específico para o trabalho acessível com marcação em Braille.

Figura 6 – Régua de Fração

Fonte: arquivo pessoal da autora

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Figura 7 – Discos de Fração

Fonte: arquivo pessoal da autora

Figura 8 - Cartas Ampliadas e com Braille

Fonte: arquivo pessoal da autora

As cartas força (são as cartas que dão bonificações aos alunos e eles podem usar

durante o jogo) também foram confeccionadas seguindo o mesmo modelo das demais;

O nível 5 de cada sessão são situações problemas expostas em cartas com letras

ampliadas e que serão gravadas em áudio, posteriormente; e as sessões do jogo foram

assim organizadas:

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1.Primeira sessão: os múltiplos e divisores dos números

Nív

el 1

Joguem o D10! (dados). Qual o número caiu? Diga os seus 8 primeiros

múltiplos;

Vocês terão 5 minutos para realizar a tarefa. O zero no D10

equivale ao número 10.

A cada jogada, se cair número repetido, joga-se de novo.

Nív

el 2

Joguem o D10! (dados). A partir do número que cair, apresente todos

os divisores do mesmo;

Vocês terão 5 minutos para realizar a tarefa. O zero no D10

equivale ao número 10.

A cada jogada, se cair número repetido, joga-se de novo.

Nív

el 3

Joguem a moeda. Deu múltiplo ou divisor? Puxem uma carta.

Respondam, de acordo com a moeda, quais os múltiplos ou divisores

do número da carta (no mínimo 3) – Cartas com números diversos

Vocês terão 5 minutos para realizar a tarefa.

Nív

el 4

Puxem uma carta de cada caixa e calcule o MMC entre elas

Vocês terão 8 minutos para realizar a tarefa.

Nív

el 5

Puxem uma carta e respondam o problema. (Problemas envolvendo

MMC)

Vocês terão 8 minutos para realizar a tarefa.

2. Segunda sessão: As frações

Nív

el 1

Puxem uma carta. Representem graficamente a fração apresentada na

carta. Vocês podem fazer uso dos discos de frações.

Vocês terão 5 minutos para realizar a tarefa.

Nív

el 2

Sorteiem uma carta. Que fração vocês puxaram? Dentre as cartas

apresentadas pelo mestre, qual é a fração equivalente a que vocês

puxaram?

Atenção: em duas tentativas, errou, perde a vez e espera a próxima

rodada.

Vocês terão 5 minutos para realizar a tarefa.

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Nív

el 3

Sorteiem uma carta e responda a operação solicitada. (soma e

subtração de fração com denominadores iguais – número natural e

com fração) vocês podem usar a régua de fração como suporte.

Vocês terão 5 minutos para realizar a tarefa.

Nív

el 4

Sorteiem uma carta e respondam a operação solicitada. (soma e

subtração de fração com denominadores diferentes) Vocês podem usar

a régua de fração como suporte.

Vocês terão 8 minutos para realizar a tarefa.

Nív

el 5

Puxem uma carta e respondam o problema. (problemas envolvendo

soma e subtração de frações)

Vocês terão 8 minutos para realizar a tarefa.

E as regras são:

1. As bonificações são dadas pelas cartas força e são: aumento de tempo para

resolver o problema; mudar de carta, quando puder; direito a uma segunda chance;

direito a receber um exemplo do mestre referente ao desafio; O último nível de cada

sessão não permite bônus;

Cada componente do grupo tem uma força (um bônus diferente) que pode ser

usada nas quatro primeiras conquistas e apenas uma vez durante as duas sessões:

Carta do tempo Pode duplicar o tempo para resolver a questão

Carta da sabedoria Pede um exemplo ao mestre de como resolver a questão

Carta da hipnose O mestre ajuda a resolver a questão

Carta da mudança Pode troca de carta

Carta da amizade Pede ajuda de um colega de outro grupo

2. Os 3 primeiros níveis de cada sessão terão 5 minutos, e os níveis 4° e 5°,

oito minutos;

3. A equipe só avança se realizar a tarefa no tempo previsto;

4. A equipe pode fazer uso de um bloco de rascunho e lápis grafite para realizar

cálculos, anotações, gráficos e outros registros que acharem necessário para realizar a

tarefa de cada nível;

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5. O mestre fará a leitura de cada tarefa relacionada aos níveis do jogo sem

poder exemplificar ou auxiliar as equipes, exceto se o grupo fizer uso da carta força de

algum componente;

6. Quem vence a primeira sessão inicia a segunda, seguida das demais equipes;

7. Vence a equipe que primeiro concluir a segunda sessão;

8. Mesmo tendo uma equipe vencedora, todas as equipes devem concluir o jogo;

Partindo do exposto, nosso olhar enquanto pesquisadora para a construção do

jogo apresentou alguns pontos positivos, e pontos que precisam ser ajustados, descritos

no quadro abaixo:

Quadro 4 – Pontos positivos e negativos

Pontos positivos Pontos a serem ajustados

O empenho do grupo no tocante ao

pensar o jogo e construir o mesmo.

A disposição de todos em participar e

cobrar os encontros.

A disponibilidade para estudar e

pesquisar e construir as tarefas colaborativamente.

A resistência em buscar novas formas

de trabalhar os conceitos matemáticos

para além da repetição e

memorização.

A discussão acerca do que são

situações problema em uma

perspectiva sócio histórica.

Fonte: Elaboração Própria

Essas e outras reflexões serão trazidas nos tópicos a seguir, uma vez que

entendemos que atingimos nosso ideal, ou seja, o de formar um grupo colaborativo, ao

ponto de todos terem como seu o objetivo do trabalho. Assim, o produto educacional

desse mestrado não é fruto do trabalho isolado da pesquisadora, ou seja, não é produto

meu, é um produto construído coletivamente no espaço da escola, respeitando suas

limitações que vão desde a dinâmica do espaço/tempo escolar, perpassando pelo

currículo e sua transposição para sala de aula, alcançando as limitações e restrições da

nossa formação docente.

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3.4. Refletindo sobre as possibilidades do uso de jogos com regras no ensino dos

números racionais em uma perspectiva inclusiva

Torna-se necessário construir uma nova perspectiva em relação à formação e ao desenvolvimento

profissional na qual professores e pesquisadores

passem a se ver reunidos como colegas – cada qual com seus saberes e experiências – unidos no

objetivo comum de proporcionar experiências

matemáticas de qualidade para seus alunos

(FERREIRA, 2003, p. 37).

Para Freire (1996) ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as

possibilidades para a sua produção ou sua construção. Assim, podemos dizer que o

conhecimento não é algo pronto, acabado, estabelecido a priori.

Em consonância, D’Ambrosio (1996, p. 18) afirma que todo conhecimento é

resultado de um longo processo cumulativo de geração, organização intelectual, social e sua

difusão, sendo, portanto, um ciclo de aquisição individual e social, que ocorre no presente

como resultado de todo um passado, individual e cultural, visando estratégias de ação no

presente e projetando-se no futuro.

Perceber, então, os processos de ensino e aprendizagem a partir dessas concepções

exige pesquisa e respeito aos saberes prévios que cada indivíduo possui e, principalmente,

compreender a construção social do homem como um processo inacabado.

A práxis educativa envolve então ação e reflexão, permeada pelo planejamento e a

avaliação da sua aplicação tendo em vista os objetivos educacionais.

Diante do exposto, ao formarmós o grupo colaborativo objetivávamos construir

um jogo com regras, pautado nos princípios da Educação Matemática Inclusiva e do DUP.

Para além desse objetivo, nossa maior intensão estava em ofertar recursos pedagógicos que

favorecessem a aprendizagem de todos, permeados pela ludicidade e colaboração entre os

pares.

Os jogos com regras na perspectiva da Teoria Histórico-Cultural ganham

destaque nesse contexto uma vez que, trabalham habilidades que favorecem o

desenvolvimento do pensamento matemático, do trabalho em equipe e da mediação

entre os participantes, potencializando os processos de ensino e de aprendizagem.

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Nesse sentido,

(...) a inserção de jogos no contexto escolar aparece como uma

possibilidade altamente significativa no processo ensino-aprendizagem, por meio do qual, ao mesmo tempo em que se aplica a

ideia de aprender brincando, gerando interesse e prazer, contribui-se

para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social dos alunos (RIBEIRO, 2009, p. 19).

Para tanto, precisávamos aplicar o jogo construído junto aos alunos sujeitos da

pesquisa, e essa ação só seria possível se partíssemos do planejamento.

Segundo Vasconcellos (2000), a ação de planejar no espaço escolar deve ser

compreendida como algo capaz de intervir em uma situação real a fim de transformá-la,

sendo foco do planejamento a função de direcionar o trabalho tendo em vista que este se

realize de forma consciente e capaz de organizar e proporcionar mudanças.

Assim, ao planejarmos, devemos ter clareza dos objetivos a serem alcançados,

tendo em vista a seleção dos recursos, a metodologia e a avaliação, mais coerentes com

a situação vivenciada e o público ao qual se destina.

Nesse tópico buscaremos descrever como aconteceu o nosso planejamento logo

após a concretização física do jogo e antes de sua aplicação junto aos alunos, buscando

refletir acerca das potencialidades e fragilidades do mesmo para o processo educativo.

Levamos em consideração, para tanto, que quando trabalhamos com jogos em

sala de aula, não podemos deixar de lado a dimensão lúdica que os envolve. Os jogos

são desafiadores, motivadores e por si desestabilizam os padrões que conhecemos de

uma sala de aula: sem barulho, todos os alunos enfileirados e professores à frente da

sala fazendo uso da lousa e livro didático.

Para Smole, Diniz e Milani (2007),

Por sua dimensão lúdica, o jogar pode ser visto como uma das bases

sobre a qual se desenvolve o espírito construtivo, a imaginação, a

capacidade de sistematizar e abstrair e a capacidade de interagir socialmente. Entendemos que a dimensão lúdica envolve desafio,

surpresa, possibilidade de fazer de novo, de querer superar os

obstáculos iniciais e o incômodo por não controlar todos os resultados.

Esse aspecto lúdico faz do jogo um contexto natural para o surgimento de situações-problema cuja superação exige do jogador alguma

aprendizagem e um certo esforço na busca por uma solução (SMOLE;

DINIZ; MILANI, 2007c, p. 12).

Assim, esse momento foi de suma importância para o trabalho, nos levou a

refletir sobre a ação dos professores como mediadores da aprendizagem, assim como

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sobre a importância da ação do planejar e vivenciar as ações que propomos ao nossos

alunos.

3.4.1. Planejando a aplicação do jogo

“O planejamento foi muito interessante. Nos permitiu vivenciar

o jogo, ter uma ideia de como será a aplicação real. Também achei interessante ver formas de utilizar o disco de fração e a

régua de fração em sala de aula. Eu, particularmente, nunca

utilizei as réguas para operações com frações, apenas para

construção de frações equivalentes. Mas, achei a ideia bastante

interessante e pretendo utilizá-la” (Registro Escrito da

professora P. Afrodite).

Durante as sessões do grupo colaborativo definimos, a partir do planejamento

da professora titular das turmas dos 6° anos, qual conteúdo seria abordado a partir do

recurso pedagógico, no caso específico, o jogo com regras por nós criado. Nesse

momento também foi pensado a turma na qual iríamos promover a intervenção

respeitando suas características e a relação direta com os princípios presentes na

Educação Matemática Inclusiva e no DUP.

Assim, como discutido em tópicos anteriores, caracterizamos a turma para qual

pensamos e concebemos o recurso. Contudo, nossa intenção era a de ter aplicado nosso

produto durante o ano letivo de 2018 tendo em vista que essa turma estava estudando o

conteúdo base do jogo com regras (os números racionais e sua representação

fracionária) e esse recurso seria utilizado para sistematizar, de forma lúdica e

colaborativa, junto aos alunos da turma, o conteúdo trabalhado pela professora, ao

mesmo tempo em que a aplicação do jogo possibilitaria à docente um olhar reflexivo e

avaliativo acerca da compreensão dos alunos sobre o mesmo.

No tocante a mim, a aplicação do jogo deveria possibilitar-me perceber as

potencialidades e fragilidades do recurso por nós criado, me permitindo avaliá-lo e

propor, se necessário, mudanças que norteiem uma aprendizagem significativa no

sentido da elaboração e formalização do conceito de frações pelos alunos envolvidos na

perspectiva colaborativa.

Devido a dinâmica da escola, que participou em 2018 de uma greve de

professores municipal, de várias paradas em prol de melhorias na educação, dentre

outros fatores como: dias de jogo da copa de mundo nos quais tivemos dias de aula

suspensos, processo eleitoral nacional e estadual onde a escola foi cedida para ser zona

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eleitoral, não foi possível a aplicação do jogo no ano letivo de 2018. Todavia, nossos

alunos permaneceram na escola e decidimos aplicar o jogo para a mesma turma, ainda

no 1° bimestre letivo de 2019.

Registramos, contudo, que na turma, em 2018, havia apenas um aluno com

deficiência registrado, sendo diagnosticado com autismo. A turma, em 2019, perdeu

alguns alunos que foram retidos no ano anterior e novos alunos foram matriculados.

Outro aluno com deficiência, que já era aluno da escola, mas que estudou em 2018 em

outra turma passou a fazer parte também da turma. Este tem deficiência intelectual e é

acompanhando por um estagiário.

Para a aplicação do jogo, o grupo colaborativo voltou a se reunir tendo em

vista o planejamento da aplicação do jogo junto à turma. Novos desafios se

configuraram tendo em vista essa nova realidade: retomaríamos junto aos alunos o

conteúdo trabalhado durante o terceiro bimestre letivo de 2018.

Assim, ao retomarmos nossos encontros, apresentei ao grupo as observações

realizadas pela banca de qualificação do meu trabalho quanto ao jogo com regras na

perspectiva do DUP. Nesse encontro propus algumas sugestões de mudança no recurso

bem como na sua aplicação. O professor P. Ares logo lembrou da importância de

jogarmos/vivenciarmos o jogo para observarmos possíveis situações que poderiam

ocorrer na aplicação junto aos alunos.

Nesse sentido, Kranz (2013, p. 149) aponta que

(...) não é suficiente que os materiais dos jogos matemáticos com

regras sejam confeccionados para a maior extensão possível dos

alunos, sendo necessário e imprescindível que o planejamento contemple mediações pedagógicas que possibilitem a aprendizagem e

o desenvolvimento de todos os alunos, na perspectiva do Desenho

Universal Pedagógico.

A autora ainda acrescenta dizendo que “o planejamento realizado

colaborativamente remete também à importância de pensar as práticas pedagógicas com

antecedência” (KRANZ, 2013, p. 149).

Marcamos, assim, um segundo encontro, no qual vivenciamos o jogo.

Infelizmente, a professora P. Atena não pode se fazer presente tendo em vista o seu

afastamento da escola e seu novo horário de trabalho, incompatível com o do grupo.

Iniciamos definido quem seria o mestre, função à qual logo me candidatei. Minha ideia

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era de mediar as reflexões acerca do jogo, referentes ao tempo pensado incialmente para

cada nível, como seriam apresentadas as regras para os alunos e como faríamos a

aplicação junto aos mesmos.

Definimos o sentido que cada equipe deveria se locomover no tabuleiro,

detalhe aparentemente irrelevante mas de suma importância, que nos levou a rever o

layout do tabuleiro do jogo. Assim, para primeira sessão as equipes jogariam o dado e o

número mais alto sorteado iniciaria o jogo no sentido horário.

Esse momento foi importantíssimo para nós. A cada jogada, parávamos e

discutíamos as possibilidades de questionamentos que poderiam surgir, analisamos as

questões e tarefas propostas. Percebemos que algumas situações propostas nas tarefas

deveriam ser revistas como as operações com frações e as relacionadas a múltiplos e

divisores.

Percebemos a necessidade de aumentar o tempo para cada nível de cada sessão.

Da importância do mestre receber o mapa do jogo com as possíveis respostas tendo em

vista que a função do mestre pode alternar entre professores e alunos, bem como os

níveis de dificuldade de cada tarefa proposta.

Assim, é importante lembrar que todo planejamento das atividades foi

desenvolvido de forma colaborativa, no grupo, mas sempre levando em consideração a

ação docente da professora regente da turma. A mesma buscou sempre ressaltar as

dificuldades que tinha para trabalhar o conteúdo objeto desse trabalho bem como as

potencialidades e limitações dos alunos junto ao mesmo.

Nessa perspectiva, buscamos pensar as tarefas levando em consideração os

instrumentos utilizados pela docente regente junto aos alunos, buscando proporcionar

mediações pedagógicas para que todos os alunos participassem da atividade proposta.

No decorrer de cada nível do jogo fomos realizando anotações de como seria a

realização de cada tarefa. Percebemos que ao utilizarmos a régua de fração na segunda

sessão precisaríamos de três conjuntos desse material para poder possibilitar seu uso,

por parte dos alunos, tendo em vista as questões-tarefas solicitadas.

Para os professores de Matemática, colaboradores e participantes do grupo, o

jogo traz aspectos potencializadores para a aprendizagem, como podemos perceber no

registro escrito do professor P. Ares,

Hoje, podemos planejar como seria a aplicação do jogo (...) jogamos

literalmente e vimos que o mesmo funciona (P. Ares).

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Sendo assim, ao término do jogo definimos que a professora regente da turma

faria uma aula de revisão do conteúdo objeto do jogo, que foi trabalhado com a turma

no ano anterior, e que nesse momento a pesquisadora conversaria sobre seu trabalho

com o grupo de alunos. Em seguida, marcamos com a turma a aplicação do jogo que se

realizou em duas sessões, levando-se em consideração que,

Quanto maior for a possibilidade que um jogo com regras oferece

para a criação de estratégias, mais ampliada será a

problematização, porque criar estratégias envolve entender o jogo, respeitar suas regras, buscar alternativas para ganhar o jogo

– resolvendo os problemas que dele/nele surgem – e, ao mesmo

tempo, criar outras que coloquem os companheiros em situações de fracasso, ou seja, o sujeito não só resolve problemas, mas

também os cria para os colegas. Assim, cada jogador, na

interação com os demais, vai criando novas formas de pensar, a partir do que já conhece e, principalmente, do contexto do jogo

(KRANZ, 2011, p. 50).

Iniciamos, assim, esse tópico com o registro da professora P. Afrodite, no qual

podemos perceber quão importante foi esse momento para o grupo. Posso dizer que para

mim, enquanto pesquisadora, coordenadora pedagógica da escola e professora

colaboradora do grupo, este me permitiu reafirmar que os momentos de planejamento

devem assegurar a sistematização, o desenvolvimento e a concretização dos objetivos

propostos, tendo em vista que concordamos com Vasconcellos (1996), quando este diz

que, do ponto de vista educacional, o planejamento é um ato político pedagógico porque

revela intenções, e a intencionalidade expõe o que se deseja realizar e o que se pretende

atingir.

3.4.2. Jogando o “Desafio das Frações”

Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se

é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios

estéreis, sem valor para a formação do homem.

(Carlos Drummond de Andrade)

Como já registrado, o jogo foi idealizado tendo em vista um conteúdo curricular

programado para turmas dos 6° anos. Pela impossibilidade do mesmo ter sido aplicado

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no período referente a essa etapa escolar, achamos por bem conversarmos com os

alunos acerca do jogo e de como ele foi pensado e concebido, apresentando os objetivos

e realizando uma revisão com os alunos sobre o conteúdo do mesmo.

Assim, destinamos um momento específico para essa ação. Iniciamos com a

professora titular da turma e também participante do grupo relembrando a conversa que

havia tido com os alunos no ano anterior sobre o jogo, explicando porque não foi

possível a realização do mesmo no tempo planejado. A mesma teve o cuidado de

explicar para os alunos novatos do que se tratava, e o conteúdo que seria abordado no

jogo.

Ao me apresentar para turma como pesquisadora no projeto, a mesma ressalta:

Embora Ana Karla seja a pesquisadora, esse trabalho foi construído

coletivamente desde a concepção do tema até o jogo. O grupo que foi formado pelos professores da escola queria escolher um tema que

fosse desafiador para vocês(...) (Registro Oral da fala da professora

Titular da turma – P. Afrodite).

Podemos perceber nessa fala que a perspectiva da colaboração marcou o nosso

trabalho, ao ponto de não concebermos o trabalho como meu ou seu, e sim como nosso.

E assim, o jogo foi apresentado aos alunos. Iniciei minha fala retomando a da

professora, reforçando a função pedagógica do jogo e o conteúdo gerador do mesmo, no

caso, os números racionais na sua representação fracionária. Ressaltei a importância

para a aprendizagem da participação de todos e que o mesmo objetivava a participação

de todos.

Nesse momento falamos, brevemente, sobre Educação Matemática Inclusiva e

de como o jogo seria proposto, deixando para o dia da aplicação a explanação acerca do

jogo, tendo em vista que os alunos teriam contato físico com o mesmo.

Após as apresentações a professora P. Afrodite, iniciou sua revisão. Entregou um

material de apoio para os alunos estudarem em casa já que na rede pública os alunos

devolvem os livros doados no ano anterior para serem reaproveitados no ano seguinte.

Esse material trazia uma síntese dos conteúdos, termos e conceitos matemáticos que

seriam trabalhados no jogo.

Esse momento foi mágico para a professora. A mesma iniciou realizando um

resgate oral do que foi estudado pela turma no ano anterior e propondo questões no

quadro, revisando; os alunos participavam, demostrando lembrarem do conteúdo

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estudado e terem aprendido o conceito básico de fração. Os alunos com deficiências

também participaram, respondendo oralmente questões sobre múltiplos e divisores.

Foram duas aulas destinadas a esse trabalho.

Vale ressaltar que concordamos com Kranz (2013) quando esta diz que,

(...) a presença e a qualidade do uso de jogos matemáticos com

regras, foco desse trabalho, dependerá do professor. Ele é o

responsável pela seleção do jogo e pelo planejamento das

atividades pedagógicas dele decorrentes. Em sala de aula, é

mediador precioso que pode interferir e direcionar o trabalho com

o jogo na sala de aula de diferentes maneiras. Ele pode ser aquele

que opta pelo jogo para passar o tempo, ou seja, para finalizar a

aula, sem um objetivo pedagógico claramente definido; ele pode

ser aquele que entrega o jogo para os alunos, senta em sua mesa e

vai fazer outra tarefa, deixando o espaço do jogo exclusivamente

para os alunos e omitindo-se de sua tarefa de mediador para a

aprendizagem. O professor também pode ser aquele que usa o

jogo unicamente para “fixação” de conteúdo, não concebendo

suas possibilidades para a aquisição de conceitos. (KRANZ,

2013, p. 108 -109)

Partindo dessa premissa, para o dia da aplicação do jogo, o momento acima

relatado foi essencial, sendo a professora a mediadora desse momento. Assim, os

professores, nesse cenário, devem exercer a função de mediadores, que, buscam, em

suas práxis possibilitar estratégias educativas que sejam eficazes para o aprendizado dos

alunos. Seu papel passa a ser, nessa perspectiva, de articuladores do diálogo, devendo

estarem atentos à transformação da comunidade escolar, promovendo a reflexão em

torno das relações escolares e da transformação da prática pedagógica. Nessa trajetória,

os professores precisam, de acordo com os princípios da Teoria Histórico-Cultural,

centrar o seu trabalho na ação humana, acreditando nas mudanças, possuindo, assim, a

capacidade de aceitar e conviver com as diferenças.

Reservamos duas aulas consecutivas para a aplicação da primeira sessão do

jogo. Fiquei responsável em organizar e preparar o material necessário bem como o

espaço para a aplicação do jogo.

No dia da aplicação o grupo colaborativo estava presente, com exceção da

professora P. Atena, que não pode comparecer devido ao trabalho em outra escola e

optamos em trabalhar com dois tabuleiros do jogo e, ainda, que os professores do grupo

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seriam os mestres, ou seja, os responsáveis em apresentar e conduzir o jogo. Conforme

já descrito, cada grupo foi formado por cinco componentes que teriam que trabalhar em

equipe para alcançar o objetivo do jogo que é o de concluir todas as tarefas.

Durante a formação das equipes pela professora titular da turma o aluno com

Autismo não quis participar precisando da minha intervenção junto ao mesmo. Pedi que

ele fosse para um grupo, se se sentisse melhor poderia ficar ao lado da professora P.

Afrodite, no grupo que o outro aluno com deficiência intelectual (DI) se encontrava. A

princípio ele resistiu, se retraiu e disse não ser muito bom em matemática. Insisti. Falei

como era importante para mim e ele foi. Participou pouco, mas quando ajudou ao grupo

em uma resposta sobre múltiplos e divisores todos os alunos no tabuleiro vibraram e ele

se sentiu bem, conforme seu relato escrito:

Figura 9 – Escrita do aluno com autismo

Fonte: arquivo pessoal da autora

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Podemos perceber na escrita do aluno que apesar do medo e receio em não saber

da “matemática” o caráter colaborativo do jogo possibilitou ao mesmo integrar-se ao

grupo e participar. O mesmo é um aluno que tem dificuldades de interação, caraterística

de sua deficiência. Sempre interage com os mesmos colegas e participar de uma

atividade que seria em grupo, se tornou para ele, um grande desafio. Contudo, a

mediação entre os pares, proporcionada pela ação dos docentes e pelo recurso

pedagógico, no caso o jogo com regras, permitiu ao aluno a quebra desse obstáculo no

que tange seu desenvolvimento social e cognitivo.

Outro fator que potencializou a participação do aluno na atividade é a relação

afetiva construída entre ele e eu. Como coordenadora da escola criei vínculos afetivos

com o mesmo, usando a escuta e o diálogo como caminhos para uma relação de

confiança e respeito, que os levaram a me escutar e participar do jogo.

O jogo com regra passa a ser então, além de um recurso pedagógico, um

elemento orientador para prática do docente, possibilitando ao mesmo um olhar

avaliativo e reflexivo da sua prática uma vez que

(...) um aspecto relevante nos jogos é o desafio genuíno que eles

provocam no aluno, que gera interesse e prazer. Por isso, é importante

que os jogos façam parte da cultura escolar, cabendo ao professor

analisar e avaliar a potencialidade educativa dos diferentes jogos e o

aspecto curricular que se deseja desenvolver (BRASIL, 1997, p. 36).

A partir dos relatos escritos dos alunos podemos perceber que o jogo, embora

ainda precise de alguns ajustes no tocante ao seu planejamento e aplicação, cumpriu seu

papel de recurso pedagógico mediador de aprendizagem e desenvolvimento.

Podemos apontar como aspectos a serem repensados a quantidade de alunos por

equipe, tendo em vista o espaço da sala de aula. Em sua maioria, as salas de aula são

pequenas e como o jogo é de tabuleiro e todo planejado para atender às diversas

deficiências presentes na proposta de inclusão escolar tais como alunos com deficiência

física, visual e/ou surdez, dente outras; precisamos de um espaço maior, que possibilite

as equipes ficarem mais próximas e melhor acomodados para o trabalho conjunto.

Alguns alunos se dispersaram no final do jogo. Nos relatos escritos dos alunos, alguns

sugeriram que o mesmo fosse no pátio da escola, que era mais ventilado e teria menos

barulho. Contudo, na Figura 10 identificamos que o jogo cumpriu seu papel no que se

refere ao processo de ensino e aprendizagem, sendo apontada pelos alunos como um

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novo jeito de aprender, apresentando características lúdicas e validando a colaboração

como princípio para a aprendizagem.

Figura 10 - Registro Escrito do Aluno 1

Fonte: arquivo pessoal da autora

No tocante ao DUP para a confecção do jogo, no início da aplicação do mesmo,

apresentei aos alunos e expliquei o porquê das cartas trazerem a escrita em Braille bem

como a necessidade de todo o jogo ser ampliado. Mostrei um dado D10 em tamanho

normal e apresentei o nosso, que é ampliado. Apresentei também os outros recursos do

jogo como as moedas contendo a letras M e D, utilizadas na Sessão 1 do jogo; os

marcadores de cada grupo confeccionados também em tamanho ampliado.

Os alunos ficaram encantados e surpresos com o material do jogo. Alguns

acharam engraçado, outros não conheciam o Braille. Falei de como poderíamos

trabalhar com os surdos, usando a Língua de Sinais e/ou o áudio das questões para

alunos cegos.

Já no que diz respeito ao uso do jogo com regra como recurso pedagógico

mediador da aprendizagem, evidenciamos que os jogos ainda não fazem parte do

planejamento dos docentes envolvidos. Apenas a professora P. Atena relatou ter feito

uso de jogos nas aulas de Matemática.

A professora P. Afrodite relatou fazer uso de alguns materiais didáticos como

Material Dourado e régua de frações e P. Ares só faz uso de jogos durante as feiras e

mostras cientificas da escola, quando solicita aos alunos que pesquisem jogos

matemáticos para apresentarem nesses eventos.

Assim, podemos afirmar que não há a utilização regular de jogos nos planos de

aula, como recurso didático ou alternativa metodológica para o ensino da

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Matemática, dos docentes envolvidos no projeto. Mas, a participação desses no grupo,

na concepção, na confecção e na aplicação do jogo os levou a perceber sobre a

importância e utilização de jogos no ensino da matemática, reflexão essa realizada

através de estudo teórico, pesquisa, confecção de jogos e aplicação desses.

3.4.3. O jogo com regras e suas potencialidades inclusivas no ensino e aprendizagem

dos números racionais

Ao longo do trabalho aqui descrito, ficou evidente, nos registros dos alunos e

professores, que o jogo com regras na perspectiva do DUP, tendo os estudos da Teoria

Histórico-Cultural como base teórica, possibilita a formulação de novos significados ao

processo de ensino e aprendizagem, em especial dos números racionais em sua

representação fracionária.

Permeando o trabalho colaborativo e inclusivo, o jogo com regras é um forte

elemento mediador da aprendizagem uma vez que traz elementos importantes para a

sistematização do conhecimento no campo da matemática.

Assim, partindo do nosso primeiro objetivo específico - avaliar os aspectos

colaborativo, inovador e inclusivo dos jogos com regras no ensino e aprendizagem de

números racionais nos anos finais do Ensino Fundamental, os registros do estudo aqui

em questão, levou a organizarmos nossa análise em três blocos a saber:

a) O jogo com regras e a colaboração

Durante a aplicação do jogo as equipes se auxiliavam. O jogo os motivou de tal

forma que esqueceram a competição e queriam auxiliar nas respostas do jogo,

independente de grupos. Esse aspecto também foi percebido pela professora P. Afrodite:

Acreditava que pelo modelo de sociedade no qual vivemos, o caráter

colaborativo não iria aparecer no jogo. Somos muito focados na

competividade, entretanto foi um aspecto muito presente na aplicação

e para mim o mais bonito na vivência do jogo com os alunos.

O jogo foi realmente colaborativo; eles se ajudavam muito, inclusive

entre os grupos. Estavam realmente empolgados com o jogo, a

dinâmica e o conteúdo. Viram a possibilidade de aprender de forma

diferente e descontraída (Registro escrito da P. Afrodite).

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A colaboração aconteceu também através da mediação entre os pares e dos

professores, enquanto facilitadores da aprendizagem. Nesse sentido, o professor P. Ares

estava muito empolgado. Estava ansioso para ver os alunos jogarem e por vezes ajudava

aos grupos.

No Nível 2, da primeira sessão, ele lembrou que todo número é divisível por 1

(um) ao primeiro grupo e, em seguida chamou a atenção dos demais grupos:

Aí vocês já vão aprendendo. Lembrando né! Que o zero é múltiplo de

todo número natural (Registro oral do P. Ares durante o jogo).

A colaboração entre os docentes e discentes auxiliou no processo de

compreensão das questões envolvendo o conteúdo matemático presente no jogo,

fortalecendo as relações afetivas entre os envolvidos no processo.

b) O jogo com regras e a inclusão

Na figura 11, abaixo, identificamos outro fator positivo do jogo percebido pelos

os alunos. As características inclusivas do jogo e a possibilidade de se trabalhar

ludicamente os conceitos matemáticos.

Figura 11 - Registro Escrito do Aluno 2

Fonte: arquivo pessoal da autora

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Para Kranz (2015, p. 143) o DU “é entendido como uma possibilidade de criar

instrumentos a fim de que o contexto não seja um elemento que imponha barreiras de

modo à construção de defeito secundário”.

O jogo com regras aqui descrito foi pensado então nessa perspectiva, a que de

todos pudessem ter acesso ao mesmo, compreendendo a inclusão não só como a

participação de alunos com deficiência, mas como o processo que possibilita a

colaboração entre os sujeitos de forma a transpor as barreiras sociais, de déficit

cognitivo/intelectual, possibilitando a aquisição de novas aprendizagens.

c) O jogo com regras como elemento mediador da aprendizagem

Os registros do trabalho nos levaram a identificar que diversas estratégias de

cálculo foram utilizadas pelos alunos. Nitidamente alguns ainda apresentavam

dificuldades com a tabuada de multiplicação, mas compreendiam o princípio aditivo da

mesma. Alguns usavam os dedos para somar, outros faziam o cálculo mental

adicionando uma parcela a outra e a maioria usava os algoritmos padrões, como foram

ensinados em sala de aula.

A forma como o professor trabalha em sala o registro escrito da Matemática

ficou evidente quando os alunos tiveram que calcular o Mínimo Múltiplo Comum

(MMC) no Nível 4 da primeira sessão. As figuras abaixo expõem os alunos calculando

o MMC por decomposição (Figura 12) e pelo método da construção do conjunto de

múltiplos (Figura 13), trabalhado em sala.

Figura 12 – Calculando o MMC por decomposição

Fonte: arquivo pessoal da autora

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Figura 13 – Calculando MMC por Construção do Conjunto de Múltiplos

Fonte: arquivo pessoal da autora

Segundo Caetano (2018, p. 101) a aprendizagem é o processo de associação que

realizamos das relações externas, por meio dos signos, sendo orientado internamente, ou

seja, a construção das conexões entre o já vivido e o presente. Para o autor, é com a

ajuda dos signos que a pessoa é capaz de lembrar ativamente, relacionar e comparar

situações já observadas (Idem, 101).

As figuras acima retratam esse movimento de ressignificação da aprendizagem

mediante os desafios propostos pela problematização do jogo. Os alunos buscaram

estratégias de cálculo, trocando experiência, sendo incentivados a superar suas

limitações mediante aos desafios propostos.

Infelizmente a dinâmica da aplicação não permitiu que analisássemos de forma

mais consistente como o jogo possibilitou a sistematização do conhecimento quanto aos

números racionais na sua representação fracionária. Porém, foi perceptível que o mesmo

mobilizou saberes inerentes ao ensino da matemática.

Diante do exposto, a pensarmos na Educação Matemática Inclusiva,

consideramos que se faz necessário que os docentes reinventem o espaço das salas de

aula, sendo estes permeados pela investigação, criatividade, colaboração e mediação,

possibilitando a exploração de diferentes situações potencializadoras da aprendizagem e

do desenvolvimento. O uso de jogos com regras é um dos caminhos capazes de

configurar um ambiente de colaboração e socialização entre os sujeitos envolvidos no

processo educacional e o conteúdo matemático.

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TECENDO CONSIDERAÇÕES

A aplicação do jogo me surpreendeu de forma muito

positiva. Sempre acreditei no potencial do jogo, mas vê-

lo em prática foi muito gratificante (Registro escrito de

P. Afrodite).

Parafraseando Kranz (2015), esse trabalho foi escrito a várias mãos e traz, em

suas entrelinhas, vozes, desejos, sonhos e realizações de seus autores. Quando desafiada

pela minha orientadora a realizar um trabalho colaborativo na perspectiva da Educação

Matemática Inclusiva pensei: essa é uma proposta ousada! Como fazer isso em uma

escola do 6° ao 9° ano? Como pensar um grupo colaborativo com professores

licenciados em Matemática?

Foram muitas as dúvidas e medos, e ao término dessa etapa me sinto mais

desafiada a ser sempre uma pesquisadora curiosa em busca de qualificar minha prática

pedagógica.

A elaboração dessa pesquisa me mostrou que novos caminhos devem ser

sempre traçados e percorridos, ou seja, nós, que fazemos educação escolar e pública,

estamos sempre buscando ou sendo expostos a cursos de formação e atualização

profissional; temos leis, teorias, subsídios no campo das ideias, que nos possibilitariam

um trabalho de qualidade e que respondesse ao nosso maior objetivo: o de ensinar e ser

mediadores no processo de aprender. Assim, temos os caminhos traçados, mas por

vezes não os percorremos ou sequer nos atrevemos a pisá-los. A Educação Matemática

Inclusiva me ensinou isso. Este trabalho me ensinou isso!

Temos um aporte teórico amplo acerca da Educação Inclusiva, temos leis e

estudos que nos respaldam no tocante a nossa prática educativa. Contudo, somos

medrosos ou mal preparados para mudar essa prática. Somos preconceituosos e por vez

ingênuos por não acreditarmos que aprender é para todos.

Nesse patamar, o trabalho em questão favoreceu um novo olhar. Estou na

educação pública desde o ano de 2004 (mas atuando em programas e projetos de

formação desde 2002); como coordenadora pedagógica já tenho dez anos de atuação.

Todavia, foi a experiência do trabalho colaborativo que me mostrou alternativas para o

redimensionamento da minha atuação docente. Trabalhar “com” e não “para”, faz uma

diferença grande quando pensamos em formação docente.

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Podemos dizer então que, no tocante aos nossos objetivos, estes foram

parcialmente alcançados tendo em vista algumas limitações inerentes à dinâmica da

pesquisa no espaço escolar. Nosso objetivo geral consistiu em investigar as

potencialidades do uso dos jogos com regras em uma perspectiva inclusiva no ensino

dos números racionais e, para tanto, estabelecemos como específicos: avaliar os

aspectos colaborativo, inovador e inclusivo dos jogos com regras no ensino e

aprendizagem de números racionais nos anos finais do Ensino Fundamental e elaborar,

como produto educacional, o jogo com regras e seu plano didático-pedagógico voltado

para o ensino dos números racionais.

Partindo desses, ao termos como intenção maior refletir sobre o uso dos jogos

com regras numa perspectiva colaborativa na Educação Matemática Inclusiva,

verificamos que o jogo com regras favorece a colaboração, integrando e favorecendo a

mediação, esta última entendida por nós como ferramenta cultural para o

desenvolvimento social, afetivo e cognitivo, uma vez que, por meio dela acontecem

interações sociais que geram a aprendizagem.

Assim, percebemos que nem sempre foi possível executar o planejado (na

verdade, na maioria das vezes tivemos que replanejar em função da dinâmica da escola,

em especial), e que como já exposto no corpo do trabalho, muitos desafios foram postos

bem como, muitas descobertas e validações no que concerne a relação teoria-prática

foram verificadas.

A partir do trabalho colaborativo, pude perceber também os professores, com os

quais trabalho diariamente, motivados, com disposição para os encontros, expressando

opiniões e planejando juntos. E essa prática foi para além dos encontros do grupo

colaborativo. Os professores de Matemática, em especial, passaram a planejar mais

colaborativamente, trocando ideias, criando projetos de reforço para os alunos e

buscando inserir novos mediadores de aprendizagem em suas práticas, como jogos e

materiais concretos.

A opção pela Educação Matemática Inclusiva feita nesse trabalho favoreceu a

aquisição e sistematização dos conceitos matemáticos desenvolvidos, tendo em vista a

perspectiva colaborativa, participativa, mediada pelos professores, através do jogo com

regra.

Este, o jogo, mostrou-se favorável a aprendizagem, trazendo a colaboração como

princípio, possibilitando o trabalho em equipe e a mediação entre os pares, tão

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importante quanto a mediação dos professores no processo de aprendizagem como

defendido por Vygotsky.

O desenvolvimento da pesquisa também ressaltou nossas fragilidades. A

formação inicial dos docentes, aqui os professores de Matemática, ainda está pautada

em uma perspectiva tecnicista. Percebemos nos relatos escritos e orais, a preocupação

com um ensino propedêutico, tendo o livro e os exercícios de fixação como recursos

guias de sua prática, nos apontando a necessidade de proporcionar, no espaço da escola

e da formação continuada desses docentes, experiências mais colaborativas, que

possibilitem dar vez e voz a todos, acreditando que essa troca de saberes, de

experiência, permeada pelo estudo e reflexão, levará a uma reformulação da prática

educativa que vá ao encontro dos princípios fundantes desse estudo.

Enquanto pesquisadora, o aprender a aprender e a fazer é processo contínuo e

inacabado. Portanto, nunca tive tanta certeza das verdades presentes em Freire (1996, p,

27) ao afirmar que: “Não há saber mais ou saber menos. Há saberes diferentes.”

Aprendi a cada estudo, a cada orientação, a cada encontro com os professores, a cada

olhar e participação dos alunos na hora do jogo, a cada choro e sorriso presente nesse

trabalho que somos seres de aprendizagem, que nos tornamos humanos a partir da

interação com o outro e que assim como para Vygotsky, a mediação e a colaboração

com meus pares é o que me faz entender o mundo a minha volta e nele me desenvolver

de forma integral.

O jogo criado pelo grupo colaborativo enquanto recurso pedagógico,

potencializador para o ensino dos números racionais, em especial em sua representação

fracionária, favoreceu uma prática educativa inclusiva, abrindo caminhos para futuros

estudos. E assim sendo, a pesquisa aqui apresentada cumpriu com os seus objetivos

delineados a priori. Almejamos, no entanto, que esse jogo abra caminhos para novos

recursos a serem produzidos e esse estudo seja, assim, ampliado de forma a podermos

vivenciar na prática, uma escola verdadeiramente inclusiva, em todos os seus aspectos.

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Apêndices

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104

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA PROGRAMA DE PÓS–GRADUAÇÃO EM ENSINO DE

CIÊNCIAS NAT URAIS E MATEMÁTICA

APÊNDICE I – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu_______________________________________________________ portador

do RG. Nº __________________, CPF: ______________ aceito participar da pesquisa

intitulada “Matemática Inclusiva: um estudo colaborativo sobre jogos com regras”

desenvolvida pelo (a) acadêmico (a)/pesquisador(a) Ana Karla Varela da Silva Siqueira e permito que obtenha

fotografia, filmagem ou gravação de minha pessoa para fins de pesquisa científica.

Tenho conhecimento sobre a pesquisa e seus procedimentos metodológicos.

Autorizo que o material e informações obtidas possam ser publicados em aulas,

seminários, congressos, palestras ou periódicos científicos. Porém, não deve ser

identificado por nome em qualquer uma das vias de publicação ou uso.

As fotografias, filmagens e gravações de voz ficarão sob a propriedade do

pesquisador pertinente ao estudo e, sob a guarda dos mesmos.

Natal (RN), _____de ________________ de 2018

__________________________________________

Nome completo do (a) pesquisado (a)

__________________________________________

Nome completo do pesquisador (a)

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APÊNDICE II – Descrevendo o Jogo das Frações

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS E

MATEMÁTICA

Ana Karla Varela da Silva Siqueira

NATAL/RN

2019

JOGO

Desafio das Frações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS E

MATEMÁTICA

MATEMÁTICA INCLUSIVA: UM ESTUDO COLABORATIVO SOBRE

JOGOS COM REGRAS

Produto Educacional - Jogo: DESAFIO DAS FRAÇÕES

Ana Karla Varela da silva Siqueira

Orientadora: Profa. Dra. Mércia de Oliveira Pontes

NATAL/RN

2019

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107

DESCRIÇÃO E INSTRUÇÕES DO PRODUTO

EDUCACIONAL

APRESENTAÇÃO

O produto educacional aqui descrito foi desenvolvido a partir da pesquisa de

mestrado intitulada “Matemática inclusiva: um estudo colaborativo sobre jogos com

regras”, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências Naturais e

Matemática (PPGECNM/CCET/UFRN), sob a orientação da professora Dra. Mércia

Pontes.

O mesmo trata-se de um jogo com regras, na perspectiva da Educação

Matemática Inclusiva, tendo como base teórica os estudos da Psicologia Histórica

Cultural e de Cláudia Kranz acerca do Desenho Universal Pedagógico. Está direcionado

para os alunos do 6° ano ensino fundamental e tem como conteúdo os números

racionais, especificamente a introdução do conceito de frações.

Participaram do grupo colaborativo três professores de Matemática da

instituição (duas mulheres e um homem), licenciados em Matemática pela UFRN e a

pesquisadora – colaborada. Os momentos do encontro do grupo ocorreram,

quinzenalmente, na hora-atividade (momento destinado aos profissionais para estudo e

planejamento). É importante frisarmos que na rede municipal de ensino da cidade do

Natal/RN, os professores de Matemática planejam semanalmente, às quartas-feiras.

Os encontros se subdividiram em momentos de estudo e reflexão, sempre

tecendo um diálogo com a prática educativa e as nuances que a envolve. Nesse

processo, de ação dialógica, estabelecemos os pressupostos do jogo que seria criado

pelo grupo, bem como o conteúdo com qual iríamos trabalhar. Frisamos que essa

escolha se deu a partir do planejamento da professora titular da turma escolhida para a

aplicação do jogo.

A elaboração do jogo se deu em conjunto ou seja, com todo os participantes do

grupo colaborativo, onde as reuniões do grupo colaborativo extrapolaram os espaços

destinado a ele, criando vínculos e troca de experiência e conhecimento entre os

participes do grupo para além dos muros da escola.

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Nesse interim, a confecção do jogo se deu, em especial, por mim, com o apoio

do Grupo de Pesquisa em Educação Matemática e Inclusão e do Laboratório de

Acessibilidade da Biblioteca Zila Mamede (BCZM).

Após a elaboração do recurso pedagógico – o jogo com regras – aplicamos o

mesmo em duas sessões junto a uma turma do 6° ano do Ensino Fundamental, e

procedemos a análise do material coletado através da filmagem das sessões e do registro

escrito, por parte dos docentes durante as sessões do grupo colaborativo e aplicação do

jogo e dos discentes, após a vivência do jogo, almejando, então, evidenciar as

potencialidades e fragilidades inerentes a um trabalho colaborativo com professores de

matemática que atuam nos anos finais do Ensino Fundamental tendo em vista o ensino

dos números racionais no 6°ano a partir do uso de jogos com regras na perspectiva da

Educação Matemática Inclusiva e Colaborativa.

Para Kranz (2014), o jogo, na escola, pode ser considerado com um “espaço

privilegiado para a aprendizagem e para o desenvolvimento matemático da criança, uma

vez que nele são propiciadas condições para a interação da criança com os adultos e

com seus colegas” (KRANZ, 2014, p. 106).

Os jogos com regras, para a autora supracitada, são atividade coletiva e

colaborativa (KRANZ, 2015) que possibilitam um trabalho lúdico, desafiador,

inclusivo, uma vez que jogar é uma ação que envolve mais de um partícipe no processo,

levando os sujeitos envolvidos a desenvolverem a atenção, a imaginação, o raciocínio

lógico e o respeito às regras estabelecidas, dentre outras funções psicológicas inerentes

ao desenvolvimento cognitivo e social.

Diante desse quadro, os jogos com regras são, por nós compreendidos, assim como

para Kranz (2015), como atividades de cunho colaborativo. Assim,

O jogo com regras é uma atividade coletiva e colaborativa. Em outras

atividades pedagógicas os alunos podem estar organizados em grupos,

porém realizando seu trabalho individualmente, sem intervenção ou interação com o outro. No jogo isso não é possível, pois sem o outro o

jogo não acontece (KRANZ, 2015, p. 121).

O objetivo do jogo consiste assim em sistematizar os conteúdos trabalhados pelo

currículo escolar destinada a essa etapa da educação básica de forma lúdica e

colaborativa uma vez que compreendemos que jogos com regras possibilitam o trabalho

em grupo, desenvolvendo habilidades fundamentais para o convívio social, além de

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potencializar, se bem planejado e articulado, a atenção, a concentração, o raciocínio

lógico matemático a autonomia nos sujeitos envolvidos.

Assim, o jogo criado foi de tabuleiro, com regras e elementos do RPG tais como

o trabalho em equipe, colaborativo, mediado pelo mestre, elemento que coordena e

orienta o jogo, o dado D 10 e cartas Força (bonificações), além de sessões e etapas a

serem cumpridas para alcançarem o objetivo do jogo que é o de concluir, em equipe,

todos as atividades propostas.

Para melhor compreensão do nosso produto apresentamos a seguir a descrição

do jogo e como jogá-lo (ou jogamos) e o planejamento didático-pedagógico do mesmo

uma vez que nosso trabalho é pautado na perspectiva inclusiva e colaborativa, tendo

DUP como princípio orientador. Ou seja, para pensarmos o processo de ensino e

aprendizagem da matemática se faz necessário percebê-la como uma construção social,

histórica, promotora das transformações dos sujeitos envolvidos. (CAETANO, 2018)

Nesse patamar, a ação de planejar é inerente a perspectiva inclusiva que norteia

esse trabalho. Kranz (2013, p. 149) aponta então que,

(...) não é suficiente que os materiais dos jogos matemáticos com

regras sejam confeccionados para a maior extensão possível dos alunos, sendo necessário e imprescindível que o planejamento

contemple mediações pedagógicas que possibilitem a aprendizagem e

o desenvolvimento de todos os alunos, na perspectiva do Desenho

Universal Pedagógico.

A autora ainda acrescenta dizendo que “o planejamento realizado

colaborativamente remete também à importância de pensar as práticas pedagógicas com

antecedência” (KRANZ, 2013, p.149).

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Descrição e regras do jogo

O jogo físico é constituído de um tabuleiro (Figura 2) que segue o modelo do

jogo comercial LUDO, onde quatro equipes de cinco alunos podem participar do jogo.

Como o recurso está pensado para a acessibilidade, ele foi confeccionado em preto e

branco, para facilitar para alunos com baixa visão e sua impressão é em alto relevo.

Figura 2 – Tabuleiro do Jogo

Fonte: arquivo pessoal da autora

Cada equipe tem um pino, confeccionado em impressora 3D, trazendo formas

distintas para caracterizar cada equipe, seguindo o modelo de peças do xadrez, como

nos mostra a Figura 3

Figura 3 - Marcadores

Fonte: arquivo pessoal da autora

Acompanhando o tabuleiro, agregam-se um dado D10 (Figura4), que será

utilizado nas tarefas do jogo, aqui chamadas de nível. Esse dado foi confeccionado em

tamanho ampliado, em impressora 3D, e também está em preto e branco com relevo e

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uma moeda (Figura 5) contendo em cada face as iniciais M – referente a múltiplos e D –

a divisores, também confeccionada em 3D, três vezes maior que uma moeda de 1 Real.

Figura 4 - Dados D10 ampliados

Fonte: arquivo pessoal da autora

Figura 5 - Moedas para trabalhar Múltiplos e Divisores 3D

Fonte: arquivo pessoal da autora

Temos também um conjunto de régua de fração (Figura 6) e discos de fração

(Figura 7), ambos em madeira, de forma a atender as necessidades de alunos com

cegueira, em especial, e servem para auxiliar nos níveis do jogo; e as cartas (Figura 8)

que são relacionadas para o cumprimento de cada tarefa referentes a cada nível,

impressas em material específico para o trabalho acessível com marcação em Braille.

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Figura 6 – Régua de Fração

Fonte: arquivo pessoal da autora

Figura 7 – Discos de Fração

Fonte: arquivo pessoal da autora

Figura 8 - Cartas Ampliadas e com Braille

Fonte: arquivo pessoal da autora

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As cartas força (são as cartas que dão bonificações aos alunos e eles podem usar

durante o jogo) também foram confeccionadas seguindo o mesmo modelo das demais;

O nível 5 de cada sessão são situações problemas expostas em cartas com letras

ampliadas e que serão gravadas em áudio, posteriormente.

Como jogar:

O jogo traz como mediador a figura do “Mestre”, que no RPG é quem orienta o

jogo, apresentando as regras e coordenando as jogadas. No nosso jogo ele pode ser o

docente ou um aluno escolhido pelo grupo;

O jogo é divido em duas sessões, com cinco níveis cada. Para cada sessão será

utilizado o mesmo tabuleiro, mudando apenas as tarefas de cada nível. Vence a equipe,

que primeiro realizar todas as tarefas. Como é um jogo colaborativo, a equipe que

vencer será aquela que realizar em menos tempo cada atividade proposta;

A turma será dividida em grupos de cinco alunos, para cada tabuleiro serão

quatro grupos;

Cada componente do grupo receberá uma carta força que dará á equipe cinco

bonificações para serem utilizadas durante as duas sessões;

Para iniciar o jogo, propriamente dito, o grupo que tirar o maior número no dado

será o primeiro a jogar. O próximo a jogar será o grupo à sua esquerda;

Antes do jogo começar, o “Mestre” fará a leitura das regras, informando o tempo

para realização de cada tarefa e como funciona as cartas força que cada componente

recebeu;

Para se locomover no tabuleiro, cada equipe andará com o seu pino, respeitando

cada nível realizado;

As regras

1- As bonificações são dadas pelas cartas força e são: aumento de tempo para

resolver o problema; mudar de carta, quando puder; direito a uma segunda

chance; direito a receber um exemplo do mestre referente ao desafio; O último

nível de cada sessão não permite bônus;

2- Cada componente do grupo tem uma força (um bônus diferente) que pode ser

usada nas quatro primeiras conquistas e apenas uma vez durante as duas sessões:

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Carta do tempo Pode duplicar o tempo para resolver a questão

Carta da sabedoria Pede um exemplo ao mestre de como resolver a questão

Carta da hipnose O mestre ajuda a resolver a questão

Carta da mudança Pode troca de carta

Carta da amizade Pede ajuda de um colega de outro grupo

3- Os 3 primeiros níveis de cada sessão terão 5 minutos, e os níveis 4° e 5°, oito

minutos;

4- A equipe só avança se realizar a tarefa no tempo previsto;

5- A equipe pode fazer uso de um bloco de rascunho e lápis grafite para realizar

cálculos, anotações, gráficos e outros registros que acharem necessário para

realizar a tarefa de cada nível;

6- O mestre fará a leitura de cada tarefa relacionada aos níveis do jogo sem

poder exemplificar ou auxiliar as equipes, exceto se o grupo fizer uso da carta

força de algum componente;

7- Quem vence a primeira sessão inicia a segunda, seguida das demais equipes;

Vence a equipe que primeiro concluir a segunda sessão;

8- Mesmo tendo uma equipe vencedora, todas as equipes devem concluir o jogo;

As sessões:

As sessões estão organizadas em níveis. A cada jogada o mestre realiza a leitura

da tarefa e orienta a realização da mesma contando o tempo para sua realização;

1. Primeira sessão: os múltiplos e divisores dos números

Nív

el 1

Joguem o D10! (dados). Qual o número caiu? Diga os seus 8 primeiros

múltiplos;

Vocês terão 5 minutos para realizar a tarefa. O zero no D10

equivale ao número 10.

A cada jogada, se cair número repetido, joga-se de novo.

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Nív

el 2

Joguem o D10! (dados). A partir do número que cair, apresente todos

os divisores do mesmo;

Vocês terão 5 minutos para realizar a tarefa. O zero no D10

equivale ao número 10.

A cada jogada, se cair número repetido, joga-se de novo.

Nív

el 3

Joguem a moeda. Deu múltiplo ou divisor? Puxem uma carta.

Respondam, de acordo com a moeda, quais os múltiplos ou divisores

do número da carta (no mínimo 3) – Cartas com números diversos

Vocês terão 5 minutos para realizar a tarefa.

Nív

el 4

Puxem uma carta de cada caixa e calcule o MMC entre elas

Vocês terão 8 minutos para realizar a tarefa.

Nív

el 5

Puxem uma carta e respondam o problema. (Problemas envolvendo

MMC)

Vocês terão 8 minutos para realizar a tarefa.

2. Segunda sessão: As frações

Nív

el 1

Puxem uma carta. Representem graficamente a fração apresentada na

carta. Vocês podem fazer uso dos discos de frações.

Vocês terão 5 minutos para realizar a tarefa.

Nív

el 2

Sorteiem uma carta. Que fração vocês puxaram? Dentre as cartas

apresentadas pelo mestre, qual é a fração equivalente a que vocês

puxaram?

Atenção: em duas tentativas, errou, perde a vez e espera a próxima

rodada.

Vocês terão 5 minutos para realizar a tarefa.

Nív

el 3

Sorteiem uma carta e responda a operação solicitada. (soma e

subtração de fração com denominadores iguais – número natural e

com fração) vocês podem usar a régua de fração como suporte.

Vocês terão 5 minutos para realizar a tarefa.

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Nív

el 4

Sorteiem uma carta e respondam a operação solicitada. (soma e

subtração de fração com denominadores diferentes) Vocês podem usar

a régua de fração como suporte.

Vocês terão 8 minutos para realizar a tarefa.

Nív

el 5

Puxem uma carta e respondam o problema. (problemas envolvendo

soma e subtração de frações)

Vocês terão 8 minutos para realizar a tarefa.

Planejamento didático-pedagógico

O processo de planejamento didático-pedagógico para a aplicação do jogo junto

aos alunos, levou em consideração as necessidades reais do cotidiano escolar, tendo em

vista os princípios da Educação Matemática Inclusiva.

Para nós, a Educação Matemática Inclusiva diz respeito à inclusão de todos,

independentemente de seus talentos ou aptidões, ou se são pessoas com deficiências

físicas ou mentais, ou sua classificação por origem socioeconômica ou cultural. Ao nos

reportarmos ao ensino de Matemática na perspectiva inclusiva, nossa compreensão vai

ao encontro de Kranz (2015, p. 94) ao afirmar que esta “se remete a uma escola que

favoreça a aprendizagem matemática de todos os alunos”.

Ressaltamos que o termo inclusão vem sendo usado, no contexto da escola,

fazendo referência à inserção nas salas de aulas de alunos com necessidades

educacionais tais como deficiência, transtornos globais de desenvolvimento,

deficiências físicas, altas habilidades e superdotação e/ou déficit de aprendizagem.

Contudo, ao pensarmos de forma mais ampla, inclusão refere-se a um trabalho voltado

para todos e todas, e deve ter caráter colaborativo e co-participativo com vistas ao

desenvolvimento dos alunos.

Portanto, almejando um trabalho na área da Educação Matemática direcionando

para todos os alunos, respeitando suas potencialidades e limitações, optamos, nesse

trabalho, por repensar, na perspectiva da Educação Matemática Inclusiva, recursos

pedagógicos, nesse caso em particular, os jogos com regras, fundamentados no conceito

do Desenho Universal Pedagógico (DUP) à luz dos estudos de Kranz (2011, 2014,

2015).

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PLANO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO: OBJETIVOS E ESTRATÉGIAS

METODOLÓGICAS

Conteúdo: números racionais na sua representação fracionária (Frações)

Objetivos Geral e específicos:

Objetivo Geral: identificar as potencialidades do uso de jogos com regras para o ensino

inclusivo dos números racionais na representação fracionária em turmas do 6° ano do

Ensino Fundamental.

Objetivos específicos:

Avaliar a colaboração e mediação permeada pela vivência pedagógica do jogo

entre os alunos e alunos e alunos e professores;

Identificar em quais aspectos o jogo pode colaborar com o ensino inclusivo dos

números racionais na representação fracionária.

Estratégias Metodológicas

Para alcançarmos os objetivos traçados, nossa metodologia contemplou as

seguintes etapas:

1° ETAPA

Vivência do jogo junto ao grupo colaborativo de professores para ajustar e identificar as

possíveis situações didáticas durante sua aplicação

Após a confecção do jogo, os professores se reuniram para vivenciar o mesmo.

Nesse momento podemos identificar as limitações e potencialidades do jogo

para trabalharmos o conteúdo proposto. Tendo em vista a inclusão, esse

momento foi fundamental para percebermos as questões propostas e ajustarmos

tempo, espaço, pensarmos na organização dos grupos de alunos pautados nos

princípios de colaboração e mediação da Teoria Histórica Cultural.

2° ETAPA

Apresentação do jogo aos alunos e revisão do conteúdo matemático do jogo

Nessa etapa, a pesquisadora e professora titular da turma que o jogo foi aplicado

realizaram a apresentação do jogo. Seus objetivos, como o mesmo foi pensado e

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confeccionado e a importância desse para a aprendizagem dos números racionais

na representação fracionária.

Após a apresentação do jogo e o consentimento dos alunos no tocante a sua

participação na atividade, a professora titular da sala realizou revisão do

conteúdo trabalhado com os alunos fazendo uso da lousa para retomar conceito

de divisibilidade, MMC (Mínimo Múltiplo Comum) e estratégias de cálculo de

adição e subtração de fração, entregando aos alunos uma lista com questões

problemas envolvendo esses conceitos;

Os alunos tiveram a oportunidade de levarem a lista para casa e na aula seguinte

o resolução das questões foram realizada junto aos alunos pela professora.

Nesse momento, os alunos tiraram dúvidas, colaboram entre si e mostraram

interesse pela atividade.

3° ETAPA:

Aplicação do jogo

A aplicação do jogo aconteceu em duas sessões (como está previsto nas regras

do mesmo), cada uma com duração de uma hora e meia.

A turma foi dividida em grupos de cinco, totalizando 8 grupos. Sendo que, para

esse momento usamos dos tabuleiros do jogo, e em cada tabuleiro participaram 4

equipes.

Essa etapa foi fundamental para percebermos as potencialidades e limitações do

jogo proposto enquanto recurso didático;

4° ETAPA:

Avaliação da aplicação do jogo por parte dos alunos e professores

Após o termino do jogo, foi solicitado aos alunos que realizassem um registro

escrito apontando os pontos positivos e negativos do trabalho bem como

sugerindo estratégias para o trabalho em sala de aula o jogo;

Para avaliarmos o jogo, após o trabalho em sala foi marcado mais um encontro

do grupo colaborativo para realizarmos a leitura dos registros dos alunos e

realizarmos o nosso registro. Etapa prioritária para a pesquisa e para atender aos

objetivos do trabalho.

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Frisamos, a partir do exposto, que o jogo é um recurso didático que pode ser

utilizado pelos professores de matemática tanto para elaborar um novo conceito ou

sistematizar um conceito trabalhado, como também, apresentá-lo. Nesse sentido, o

planejamento didático-pedagógico é importante para pensarmos em um trabalho capaz

de explorar as possibilidades dos jogos, em especial, dos jogos com regras, avaliando as

consequências desse recurso no processo de ensino e de aprendizagem da matemática,

tendo em vista que este pode ser um facilitador para a aprendizagem matemática.

REFEREÊNCIAS:

CAETANO, Danilo Borges. Estratégias e mediações para o ensino de geometria

plana à luz do Desenho Universal Pedagógico na perspectiva da Educação

Matemática Inclusiva. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Goiás. Centro

de Pesquisa Aplicada à Educação (CEPAE), Programa de Pós Graduação em Ensino na

Educação Básica, Goiânia, 2018.

CARAÇA, B. J. Conceitos fundamentais da matemática. 9.ed. Lisboa: Livraria Sá da

Costa, 1989.

KRANZ, C. R. Os jogos com regras na educação matemática inclusiva. Dissertação

(Mestrado em Educação), Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2011.

KRANZ, C. R. Os jogos com regras na perspectiva do desenho universal:

contribuições à educação matemática inclusiva. Tese (Doutorado em educação)

Programa e Pós-Graduação em Educação). Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, Natal/RN, 2014.

KRANZ, C. R. O desenho Universal pedagógico na educação matemática inclusiva.

São Paulo, Editora Livraria da Física, 2015 (Coleção Contexto de Ciências)

SMOLE, Kátia Stocco; DINIZ, Maria Ignez; MILANI, Estela. Cadernos do Mathema

– Jogos de Matemática de 6º a 9º ano. Porto Alegre: Artmed, 2007.

VYGOTSKI, Levi Semyonovitch. A formação social da mente.7. ed. São Paulo:

Martins. Fontes, 2007.

VYGOTSKI. Construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes,

2001.

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APÊNDICES

Cartas da 1ª Sessão

Nível 3 – cartas com números para dizer múltiplos ou divisores

12 – 15 – 20 – 48 – 50 – 36 – 24 – 25 – 77 - 81

Nível 4 – caixas com conjunto de cartas

Conjunto 1: 3 – 6 – 8-10-15

Conjunto 2 – 12 – 16- 18- 24 - 30

Nível 5 – questões problemas

1. Juliana percorre os 400 metros de uma pista de atletismo em 4 minutos, e

Marina percorre a mesma distância em 5 minutos. Em determinado momento, as

duas estarão juntas. Depois de quantos minutos elas voltarão a se encontrar?

2. De uma rodoviária partem ônibus para João Pessoa (PB) a cada 3 horas, para

Natal (RN) a cada 6 horas e para Recife (PE) a cada 8 horas. Em determinado

dia, às 7 horas da manhã, partiram, ao mesmo tempo, ônibus para essas três

cidades. Após quantas horas essa coincidência voltou a ocorrer?

3. Rosa mora sozinha em uma cidade a 200 quilômetros de distância de seus

sobrinhos Roberto, Mário e Rosana. Para evitar que a tia Rosa fique muito

tempo só, seus sobrinhos combinaram de visitá-la da seguinte forma: Roberto

costuma visita-la a cada 12 dias, Mário, a cada 20 dias, e Rosana, a cada 18 dias.

Supondo que eles se encontraram hoje na casa da tia Rosa, daqui a quantos dias

será o próximo encontro?

4. Em um sítio, há uma rua de laranjeiras e, ao seu lado, uma rua de limoeiros. Os

pés de laranja são plantados a cada 4 metros, e os de limão, a cada 6 metros. No

início das ruas, foi plantado um pé de laranja na frente de um pé de limão. De

quantos em quantos metros isso acontece?

5. Em certo país, as eleições para presidente ocorrem a cada 4 anos, e para

senador, a cada 8 anos. Em 2014, essas eleições coincidiram. Determine em que

ano isso irá acontecer novamente.

6. Hoje, Joana e Antônia se encontraram em um mesmo cinema que costumam

frequentar. Joana vai a cada 18 dias, e Antônia, a cada 24 dias. Daqui a quantos

dias as duas amigas se encontrarão novamente nesse cinema?

7. Um ciclista da uma volta em torno de um percurso em 12 minutos. Já outro

ciclista completa o mesmo percurso em 20 minutos. Se ambos saem juntos do

ponto inicial, de quantos em quantos minutos se encontrarão no mesmo ponto de

partida?

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8. Alguns cometas passam pela terra periodicamente. O cometa A visita a terra de

12 em 12 anos e o B, de 32 em 32 anos. Em 1910, os dois cometas passaram por

aqui. Em que ano os dois cometas passarão juntos pelo planeta novamente?

Cartas da 2° Sessão

Nível 1 – frações

1/3 – 1/2 - 2/5 – 1/6 – 5/6 – 6/5 – 4/3 – 10/7

Nível 2 – frações equivalentes

Nível 3 – operações com denominadores iguais

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Nível 4 - Cartas de somas de frações

a)

b)

c) =

d) =

e)

f)

g)

h)

i)

j)

k)

l)

Nível 5 – questões problemas

1- Toda produção mensal de latas de refrigerante de uma certa fábrica foi

vendida a três lojas. Para loja A foi vendida metade da produção; para a loja B

foram vendidos da produção e para a loja C foi vendido o restante da

produção. Que fração da produção foi vendida a loja C?

2- No início de uma viagem, um carro tinha o tanque de gasolina cheio até de

sua capacidade. No final da viagem, a gasolina ocupava apenas do tanque.

Que fração representa a parte do tanque corresponde a gasolina gasta nesse

percurso?

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3- Em certa competição de triatlo, os atletas devem nadar do percurso, correr

e pedalar o restante. Que fração do percurso um atleta deve percorrer sem a

bicicleta?

4- Luiz pintou o de um muro na primeira hora, na segunda hora e o restante

do muro na terceira hora. Que fração do muro Luiz pintou na terceira hora?

5- Isaque pode jogar videogame por de hora. Ele já jogou de hora. Que

fração de horas aqui ainda pode jogar?

6- Um fazendeiro semeia de sua fazenda com milho e com soja. Qual é a

fração que representa o total semeado?

7- Do quintal da casa de Elaine, é ocupado por um jardim e por uma horta.

Que fração do quintal é ocupada pelo jardim e a horta?

8- Em uma empresa existem três opções para as cores dos uniformes dos

funcionários. dos funcionários escolheu a cor rosa, a cor verde e o restante

escolheu a cor azul. Que fração dos funcionários escolheu a cor azul?

9- A figura mostra duas barras idênticas de chocolate que foram divididas, cada

uma delas, em partes iguais. A área destacada representa a quantidade de

chocolate consumido por pessoa:

A quantidade total de chocolate consumido foi:

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10- Dois meses atrás o prefeito de uma cidade iniciou a construção de uma

nova escola. No primeiro mês foi feito da obra e no segundo mês da obra. A

que fração da obra corresponde a parte ainda não construída da escola?

Tabuleiro

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Cartas do Jogo Acessíveis

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Dado D 10

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Régua de Fração

Discos de Frações

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Cartas Ampliadas e com Braille

Dados D10 impressos em impressora 3D - ampliados

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Moedas para trabalhar Múltiplos e Divisores impressas em 3D

Marcadores de tabuleiro