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Universidade Católica de Pelotas Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento MARINA PERES BAINY PERFIL EPIDEMIOLÓGICODOS PACIENTES COM TRAUMATISMO CRÂNIO ENCEFÁLICO ADMITIDOS EM UMA UNIDADE DE TRATAMENTO INTENSIVO DE REFERÊNCIA NO SUL DO BRASIL Pelotas 2017

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UniversidadeCatólicadePelotas

ProgramadePós-GraduaçãoemSaúdeeComportamento

MARINAPERESBAINY

PERFILEPIDEMIOLÓGICODOSPACIENTESCOMTRAUMATISMO

CRÂNIOENCEFÁLICOADMITIDOSEMUMAUNIDADEDETRATAMENTOINTENSIVO

DEREFERÊNCIANOSULDOBRASIL

Pelotas

2017

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MARINAPERESBAINY

PERFILEPIDEMIOLÓGICODOSPACIENTESCOMTRAUMATISMO

CRÂNIOENCEFÁLICOADMITIDOSEMUMAUNIDADEDETRATAMENTOINTENSIVO

DEREFERÊNCIANOSULDOBRASIL

Projeto de pesquisa apresentado ao

Programa de Pós-Graduação em Saúde

e Comportamento da Universidade

Católica de Pelotas como requisito

parcial para obtenção do título de

Mestre.

Orientador:Prof.Dr.JeanPierreOses

Pelotas

2017

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

B162p Bainy, Marina Peres

Perfil epidemiológico dos pacientes com traumatismo crânio encefálico

admitidos em uma unidade de tratamento intensivo no Sul do Brasil. /

Marina Peres Bainy. – Pelotas: UCPEL, 2017.

43 f.

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Pelotas, Programa de

Pós-Graduação em Saúde e Comportamento, Pelotas, BR-RS, 2017.

Orientador: Jean Pierre Oses.

1. traumatismo crânio encefálico. 2. epidemiologia. 3. trauma craniano. I.

Oses, Jean Pierre, or. II.Título.

CDD 616.8

Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Cristiane de Freitas Chim CRB 10/1233

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Dedicatória

Aosmeusmaioresamores,meusfilhosAntonelaeLorenzo,porseremosresponsáveisporafloraramelhorporçãoqueháemmim.

Aomeugrandecompanheirodevida,meugrandeamor,meumaridoRicardo,responsávelpelosmaisbelostonscomquevejoavida.

Àminhamãe,Gladis,pormeensinarosverdadeirosvaloresdavidaededicar-seaomáximoparaqueeuchegasseatéaqui.

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AgradecimentosAomeuorientadorProf.Dr.JeanPierreOses,pelosensinamentos,peladisponibilidadeeconstante estímulo durante esta formação, mantendo meus pés no chão, mesmo nosmomentosdeexaustão.AProfa.Dra.KarenJansen,pelacompetência,pelocarinho,peladisponibilidade,portodooconhecimentoamimtransmitidoduranteesteperíododeconvivência.AoProf.Dr.MárcioOsórioGuerreiro,por, alémdaminha formaçãocomo Intensivista,nutrir fraterna amizade ao longo desta trajetória, mas, principalmente, por me fazeracreditarqueestesonhoseriapossível.Porsermeumaiorexemploaseguir.Ao Prof. Dr. Ricardo Silva, por compartilhar seus saberes e aceitar fazer parte destemomentotãoimportantecomomembrodabancadeavaliação.AosmeusamigosecolegasdemestradoTalitaVilaMartins,AnaPaulaBarbosa, IsabelClasenLorenzet,DanielaNogueiraZambrano,GustavoRealeCamilaLoureiroporcadacafé,porcadaestudocoletivo,portornaremesteprazeraindamaior.AoHospitalSãoFranciscodePauladaUCPel,nonomedoProf.ClaudioStapassoliFilho,porpermitirqueeste trabalho fosserealizadodemaneira tãoharmônicaerespeitosa.Estainstituiçãoeseuscolaboradoresmerecemtodomeucarinho,respeitoegratidão.Aminha grande amiga e competente colega, Bianca Rodrigues Orlando, pelo carinho,pela presença, pela compreensão e auxílio neste e outros tantosmomentos deminhavida.

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PARTEI–PROJETO

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IDENTIFICAÇÃO

Título: Perfil epidemiológico dos pacientes com traumatismo crânio encefálico

admitidosemumaUnidadedeTratamentoIntensivodereferêncianoSuldoBrasil

Mestranda:MarinaPeresBainy

Orientador:Prof.Dr.JeanPierreOses

Instituição:UniversidadeCatólicadePelotas(UCPEL)

Curso:MestradoemSaúdeeComportamento

LinhadePesquisa:Epidemiologia

Data:junhode2017

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7Sumário

RESUMO 8

1 INTRODUÇÃO 9

2 OBJETIVOS 112.1 OBJETIVOGERAL 112.2 OBJETIVOSESPECÍFICOS 11

3 HIPÓTESES 13

4 REVISÃODELITERATURA 144.1 QUADRODEREVISÃO 14

5 MÉTODO 195.1 DELINEAMENTO 195.2 AMOSTRA 195.3 VARIÁVEISEINSTRUMENTOS 195.4 COLETADEDADOS 205.5 SELEÇÃOETREINAMENTODEPESSOAL 205.6 ESTUDO-PILOTO 215.7 PROCESSAMENTOEANÁLISEDEDADOS 215.8 CRONOGRAMA 215.9 ORÇAMENTO 215.10 ASPECTOSÉTICOS 22

6 REFERÊNCIAS 23ANEXO1–ESCALADECOMADEGLASGOW 24ANEXO2–INSTRUMENTODECOLETADEDADOS 25

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8RESUMO

Introdução

Globalmente,otraumatismocrânioencefálico(TCE)representaumgraveproblemade

saúdepública,sendoresponsávelporaltamorbidadeemortalidade,principalmenteem

jovens de idade produtiva e idosos. Alguns estudos reportam o TCE como uma

“EpidemiaSilenciosa”,poisseusefeitoscatastróficosàsociedadenãosãoimediatamente

perceptíveisnemtãopoucoprevisíveisemsuatotalidadeepotencialidade,justificando

aimportânciadeinvestimentosempesquisaecampanhasdeprevençãovoltadasaesta

enfermidade.

Objetivo

Conhecer o perfil epidemiológico de pacientes vítimas de TCE internados em uma

UnidadedeTerapiaIntensivadereferêncianoSuldoBrasil.

Método

Trata-se de um estudo de base documental, retrospectivo, tendo como população

acessível pacientes admitidos por traumatismo crânio encefálico em internação na

Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário São Francisco de Paula, da

UniversidadeCatólicadePelotas,RioGrandedoSul.

Resultadosesperados

Espera-seque,atravésdaidentificaçãodoperfilsóciodemográficodestespacientes,das

causasque levaramao trauma,das lesõesneurológicasmais comumenteencontradas,

assimcomodecomplicaçõesdecorrentesdoTCE,realizaçãodeneurocirurgia,tempode

utilização de suporte ventilatório, tempo de internação emUTI, ocorrência de parada

cardiorrespiratória,entreoutrasvariáveis,possamosidentificarlacunasdeintervenção

paraaçõesdeprevençãoedemelhorianaqualidadeassistencial.

Palavras-chave

Traumatismocrânioencefálico;Epidemiologia;Traumacraniano.

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91 INTRODUÇÃO

Otraumatismocrânioencefálico(TCE)éaprincipalcausademorteedeficiência

empacientesvítimasdetrauma.Maisde50%dasmortesportraumasãoatribuídasao

TCE e, aproximadamente 40% dos sobreviventes do traumatismo crânio encefálico

apresentam deficiências a longo prazo.(1-3) Conforme projeção realizada pela

OrganizaçãoMundialdeSaúde(OMS),oTCEdevetornar-seaterceiraprincipalcausade

mortalidadee incapacidadeglobalatéoanode2020.(4)Estima-sequea taxaanualde

incidênciadeTCEnosEstadosUnidossejade558casospor100.000pessoas,naEuropa

de 235 casos por 100.000 pessoas, enquanto no Brasil estes dados ainda são

imprecisos.(1,4) Em concordância com a realidademundial, os estudos aqui realizados

demonstramqueas causasmais comunsdeTCE sãoos acidentes automobilísticos, as

quedaseaviolênciaurbana,apesardehaverdiscretavariabilidaderegional.Noestado

doRioGrandedoSul75%dascausasdeTCEsãodecorrentesdeacidentesnotrânsito,

envolvendoatropelamentos,acidentesdecarrooumotocicletas.(5-7)

O TCE atinge indivíduos de todas as faixas etárias, mas há uma distribuição

bimodalentrejovenseidosos,sendosuaocorrênciamaioremhomens.(3,7)Empaísesde

economiaemergente,comoChinaeÍndia,constata-seaelevaçãononúmerodevítimas

de TCE causados por acidentes automobilísticos, graças ao aumento no uso do

transporte automotivo, enquanto em várias regiões da Europa e Estados Unidos

percebe-se um cenário inverso com marcada queda nesta incidência, graças às

campanhas de prevenção aos acidentes de trânsito. Por outro lado, o aumento da

expectativa de vida saudável de algumas populações trouxe um incremento na

incidência deTCE causado por quedas, conduzindo à reflexão sobre a necessidade de

investimentosempolíticasdeprevençãoemsaúdedestinadasaestetipodeagravo.(1,8,9)

OTCEéumeventoextremamentedinâmicoqueiniciacomumainjúriamecânica

capaz de desenvolver vários processos fisiopatológicos bastante heterogêneos,

envolvendo danos celulares, vasculares, metabólicos e moleculares.(7) Clinicamente, o

TCEéavaliadoatravésdaEscaladeComadeGlasgowquemensuraocomprometimento

neurológico,avaliandooníveldeconsciênciaecoerênciaatravésdetrêscaracterísticas

clínicas: respostaverbal,ocularemotora (anexo1).Osdesfechosclínicosdecorrentes

deste tipo de trauma estão relacionados a dois tipos de lesão: as primárias e

secundárias. As lesões primárias estão relacionadas ao impacto inicial (fratura,

laceração, contusão, lesão cerebral difusa, hemorragia sub aracnóide, hematomaextra

dural, hematomasubdural) e as lesões secundárias sãoaquelasdesenvolvidasdepois

do trauma inicial (edema, hemorragias e uma cascata de processos patológicos que

causamisquemiaeresultamnumapiorcondiçãoclínica).(12-15)

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10A definição da intensidade do TCE é realizada, tradicionalmente, através da

mensuraçãodaEscaladeComadeGlasgow(GCS)emleve(GCS13-15),moderado(GCS

9-12) ou grave (GCS3-8), sendoum referencial para as tomadasdedecisão frente ao

cuidado do paciente acometido por tal agravo. Apesar disto, não deve ser utilizada

isoladamente como norteadora da complexa rede de ações e cuidados necessários no

atendimentodestasvítimas.(3,11)

Apesardasmelhoriasjáinstituídasnossistemasdesaúdeecuidadosintensivos,

estudos reportam que a mortalidade ligada ao TCE ainda está em torno de 40%,

tornando evidente a necessidade de ampliação em pesquisas nesta temática para a

adequadaimplementaçãodeprotocolosclínicosefluxospadronizadosdirecionadosao

atendimentodestespacientes.(10,16,17)

O presente estudo tem por objetivo caracterizar o perfil epidemiológico das

vítimasdeTCEadmitidosemumaUnidadedeTerapiaIntensivadereferêncianoSuldo

Brasilpara,destaforma,contribuircomoplanejamentoeaotimizaçãodoscuidadosem

saúdevoltadosaestetipodeagravo,atentandoascaracterísticasregionais.

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112 OBJETIVOS

2.1 Objetivogeral

O presente estudo tem por objetivo caracterizar o perfil epidemiológico das

vítimas de traumatismo crânio encefálico admitidos em uma Unidade de Terapia

Intensiva de referência em trauma do Sul do Brasil, para, desta forma, elaborar um

diagnósticoquecontribuaparaaimplementação,execuçãoeavaliaçãodeestratégiasde

prevençãoedecontroledesteagravoesuascomplicações.

2.2 Objetivosespecíficos

• RelacionarotipodetraumaquelevouaoTCEcomaidadedavítima;

• Relacionar a idade dos pacientes classificados como portadores de TCE

moderadoegravecomodesfechoóbito;

• RelacionarotipodetraumaquelevouaoTCEcomodesfechoóbito;

• RelacionarotipodetraumaquelevouaoTCEcomaclassificaçãodegravidade

doTCE(atravésdosescoresdeGlasgow)nosmomentosdachegadaaoPronto

SocorroedainternaçãonaUTI;

• RelacionaraclassificaçãodegravidadedoTCE(atravésdosescoresdeGlasgow)

comodesfechomorteencefálica;

• RelacionaraclassificaçãodegravidadedoTCE(atravésdosescoresdeGlasgow)

comonúmerodediasdeinternaçãonaUTI;

• RelacionaraclassificaçãodegravidadedoTCE(atravésdosescoresdeGlasgow)

comonúmerodediasdeinternaçãohospitalar;

• RelacionaraclassificaçãodegravidadedoTCE(atravésdosescoresdeGlasgow)

comonúmerodediasdeventilaçãomecânica;

• Identificar a média de dias de internação na UTI entre todos os pacientes da

amostra;

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12• Relacionararealizaçãodeneurocirurgiacomarealizaçãodemonitorizaçãoda

pressãointracraniana;

• Relacionar o número de pacientes em morte encefálica com a realização de

doaçãodeórgãosetecidos.

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133 HIPÓTESES

• Acidentes automobilísticos e violência urbana estão mais associados a faixa

etária jovem, enquanto as quedas e atropelamentos estãomais associados aos

idosos;

• Existe relação entre a maior faixa etária dos pacientes com TCE grave e o

desfechoóbito;

• Acidentesautomobilísticoseviolênciaurbanasãoasprincipaiscausasdeóbito

naamostraanalisada;

• AcidentesautomobilísticoseviolênciaurbanaestãomaisassociadosaTCEsde

maiorgravidadequandocomparadosasquedaseatropelamentos;

• Pacientes com TCEs demaior gravidade apresentammaior chance de evoluir

paramorteencefálica;

• PacientescomTCEsdemaiorgravidadeapresentammaiortempodeinternação

emUTI;

• PacientescomTCEsdemaiorgravidadeapresentammaiortempodeinternação

hospitalar;

• PacientescomTCEsdemaiorgravidadeapresentammaiortempoemventilação

mecânica;

• AmédiadeinternaçãodasvítimasdeTCEemUTIserádesetedias;

• AmaiorpartedospacientescomTCEquerealizamneurocirurgianãorealizam

monitorizaçãodapressãointracraniana;

• Amaiorpartedospacientesqueevoluemparamorteencefálicarealizamdoação

deórgãos.

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144 REVISÃODELITERATURA

OpresenteprojetobaseousuarevisãobibliográficanaPubmed,Medline,Scieloe

Lilacs.Justificando-seaabordagemdescritaespecialmentenofatodecontemplardesta

formaaprincipalbasededadosdalínguainglesa(BibliotecaNacionaldeMedicinados

EstadosUnidos),dospaíseslatino-americanosedalínguaportuguesa.

4.1 QuadrodeRevisão

Autor,Ano,Revista

Objetivo Metodologia Resultados

Wouter Peeters,2015, ActaNeurochir

Descrever aepidemiologiadotraumacrânio encefálico naEuropa e estimar ametodologiadosestudosdeincidência.

Revisão sistemática emeta-análise de 28artigos que descrevem aepidemiologia do TCEnospaíseseuropeus.

Quedaseacidentesdetrânsitoforamasduascausasmais frequentes.AsquedasocorrerammaisqueosacidenteseoTCEfoimaisfrequenteemidosos.Nameta-análise,ataxadeincidênciaglobaldeTCEfoide262por100.000

G. M. Jonsdottir,2016, ActaAnaesthesiologicaScandinavica

Descrever dadospopulacionais sobrepacientes com TCEatendidos em UTIs naIslândia, durante umperíodode15anos.

Estudo retrospectivo detodas as admissões porTCE em uma UTI daIslândia entre 1999 e2013.

Houveumtotalde583internações,onde72%eramhomens e a idade média foi 41 anos. 42% dospacientesapresentouTCEgrave,omecanismomaiscomum foi a quedade altura, amortalidade foi de18,2%.A idade avançada, a gravidadeda lesão e aavaliação da saúde crônica são fatores de riscoindependente para a morte. Glasgow não foi fatorprognósticoindependenteparaodesfecho.

Tara Shivaji, 2014,BioMedCentralNeurology

Identificar o perfil sóciodemográfico das vítimasde TCE e suas causas naEscócia.

Estudo retrospectivoavaliando internaçõespor TCE entre 1998 e2009naEscócia.

Deum total de208.195atendimentoshospitalarespor TCE 47% foram causados por quedas. Doispicosdeocorrênciaforamidentificadosemadultosjovenseidosos.

Nino Stocchetti,2012, Journal foNeurotrauma

Descrever as principaiscaracterísticas clínicasdeumasériedecasosdeadultos com TCE,focando nas diferentesfiaxas etárias e verificaros principaisdeterminantes dosdesfechosem6meses.

Estudo prospectivo queavaliou todos ospacientesmaiores de 18anosque internaramem3 UTIs na Itália, dejaneiro de 1997 adezembro de 2007,respeitando o tempo demenos de 24 horas dotrauma. Dados sóciodemográficos e clínicosforamcoletados

1366 pacientes foram analisados e 44% destestinham 50 anos ou mais. A mortalidade foi oprincipal desfecho desfavorável 6 meses após otrauma em pacientes idosos. Análise de regressãologística indicam que vários parâmetroscontribuíram de forma independente para odesfecho (GCS, pupilas, achados TC, hipotensoprecoce).Oresgateprecoce,otratamentocirúrgicoeoscuidadosintensivospodemproduzirexcelentesresultados nos pacientes até 59 anos, comresultados favoráveis ainda possíveis em 39% doscasosentre60-69anos.

Kristin Salottolo,2016, Journal foCriticalCare

Caracterizar astendências e oprognóstico do TCEgrave.

Estudo retrospectivomulticêntrico de cincoanos que incluiupacientes com TCE emGlasgow 3, analisandocaracterísticas clínicas,demográficas emortalidade.

Foram incluídos 481 pacientes e as característicaspopulacionais mudaram ao longo do tempo. Emrelaçãoàsquedasapopulaçãotornou-semaisvelha,enquanto com a etiologia dos acidentesautomobilísticos a população tornou-se mais novaao longo dos anos. A mortalidade por quedasaumentou substancialmente de 25% para 63%,enquanto por acidentes automobilísticosapresentou tendência descendente (50% a 38%,p=0,28). Preditores de mortalidade foramgravidade da lesão e idade igual oumaior que 65anos

MerilinSampaiodaCruz Passos, 2015,Arquivo BrasileirodeNeurocirurgia.

Traçar o perfil clínico esócio demográfico dasvítimasdeTCEatendidasna área vermelha daemergência de umhospitaldereferênciaemtraumaemSergipe.

A amostra foi compostapor 96 vítimas de TCE,para coleta de dadosforam usadosinstrumentoestruturado, prontuárioefichadeatendimento.

A maioria tinha de 18 a 30 anos e era homem. Amaioria dos acidentes ocorreu em via pública commotos e a maioria dos TCEs foi classificada emgrave. Para a grande maioria foi adotado otratamento conservador. 100% de monitorizaçãonão invasiva; 81,3% fez uso de nutrição enteral;60,4% com balanço hídrico e 77,1% com sondavesical;64,6%foramtransferidosparaoutrasáreasdohospitale21,9%evoluíramparaóbito.

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Jamshid Ghajar,2000,TheLancet.

Revisar a fisiopatologiado TCE e dois principaisguidelines utilizados emseu manejo préhospitalarehospitalar.

Capítulo de revisãosobreoassunto.

Avanços em cuidados intensivos, imagens ereorganização de sistemas de trauma levaram aumareduçãopronunciadanasmortesedeficiênciasresultantesdeTCE.Opróximoavançonaprevençãododanocerebral secundárioestá ligadoaomelhorreconhecimento pré-hospitalar e tratamento doTCE.Ensaiosclínicosrandomizadosprospectivosdefármacos ou abordagens de tratamento compráticas baseadas em evidências irão fortalecer arecomendação de diretrizes e fechar o ciclo dapesquisaclínicaparaapráticaabeiraleito.

Pramod K. Dash,2010, The Journalof the AmericanSociety forExperimentalNeuroTherapeutics.

Revisar o papel debiomarcadores nodiagnóstico, prognósticoeavaliaçãodaeficáciadotratamentodoTCE.

Revisãodeliteratura. Existe grande lacuna para a utilização debiomarcadoresnoTCE,principalmentenoscasosdelesões leves que não são prontamente detectadasusando as técnicas atuais de diagnóstico, assimcomonadefiniçãodo riscodedesenvolvimentodelesõessecundáriasassociadasaotraumainicial.

Bogdan A. Stoica,2010, The Journalof the AmericanSociety forExperimentalNeuroTherapeutics.

Esclarecer questõescríticas de pesquisasobre osmecanismos demorte celular emodulaçãoe implicaçõespara o tratamento emTCE.

Análisedabasehistórica. Este é um mecanismo extremamente complexo eheterogêneo que requer muitas pesquisas, mas éclaroeevidentequeaabordagemdoTCEdevesermultifacetadanoquetangeestratégiasparaevitaramorte celular pós-traumática. Por isso, o uso decombinações ou tratamentos multi potenciaisdevem ser o foco das pesquisas clínicas e fluxosassistenciaisfuturos.

Talita GuerraGaudêncio, 2013,RevistaNeurociências

Analisarpesquisas sobrea epidemiologia de TCEnoBrasil.

Foi realizado umarevisão da literatura nasbases de dados SCIELO,USP, LILACS, ABEN,RBTI,UFRN,ACMeACS,com artigos publicadosentre2002e2011.

A análise mostrou predominância do sexomasculino.Afaixaetáriamaisatingidaéentre21e60anoseamaioriasofreuqueda.Maisde50%dasvítimasdeacidentedetrânsitoquetiveramTCEnãofaziam o uso de EPI. Em relação à gravidade dotrauma, detectaram-se dois extremos, a maiorquantidadeeradeTCEleveeemseguidaTCEgrave.Na TC encontrou-se uma predominância noshematomassubduraisseguidosdefraturas.

Sayuri Jinadasa,2016,AnesthesiologyClin.

Revisar as melhoresestratégias demanutenção etratamento do pacientevítimadeTCE.

Revisão na literaturaapósapublicaçãodetrêsedições dos Guidelinespara o manejo do TCEgrave.

Poucos estudos foram realizados para avaliar oimpacto da implementação destes Guidelines nomanejo do TCE grave. Apesar disso, algunsresultadospositivospuderamserpontuadosligadosa qualidade assistencial e poucos desfechos.Portanto, é necessária maior avaliação daimplementação do uso destas diretrizes, assimcomodeseusimpactos.

Tomoki Wada,2017, InternationalJournal of the CareoftheInjured.

Analisar se pacientescom TCE apresentammelhores desfechosquando atendidos emhospitais de grandevolume de atendimentocomparados aquelesatendidos em hospitaisdepequenoporte.

Estudo de coorteretrospectivo, utilizandobancodedadosnoJapão,categorizando oshospitais conforme ovolume de atendimentoanual em quatrocategorias(baixo,médio-baixo,médio-altoealto).

O volume de atendimento hospitalar não pareceinfluenciarosdesfechosdospacientescomTCE.

BetiseMeryAlencarS.M.Furtado,2004,Revista

BrasileiradeEpidemiologia

IdentificaroperfildospacientesatendidosnaemergênciadoHospitaldaRestauraçãoemPernambuco,eavaliaras

mudançasapósamunicipalizaçãodosserviçosdesaúdeem1994.

Análisededadosem16.383prontuáriosdepacientes

atendidosnosanosde1993,1997e2001.

Agrandemaioriadosdiagnósticosfoirealizadaporqueixascompatíveiscomatençãoprimáriadesaúde(74,5%)eafaixa

etáriacommaiornúmerodeconsultaséde20-49anos,epertencentesaosexomasculino.Nãofoiobservadamelhoradonúmerodecasosatendidosenãoclassificadoscomoemergência

mesmoapósimplantaçãodoserviçosdePSF.

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16OTraumatismoCrânioEncefálico(TCE)édefinidocomoumalesãoocorridano

cérebro,causadaporqualquertipodeforçafísicaexterna,representandoamaiorcausa

demortalidade e incapacidade em alguns países. Envolve danos não somente físicos,

mas,também,emocionaiseeconômicosàtodaasociedade.(11)

OsdadosestatísticosreferentesaoTCEnoBrasilaindasãoinsuficientes.Estima-

sequeos registros realizadosnasemergênciasnãocorrespondamao totaldepessoas

acometidas pelo TCE, pois muitas delas não chegam até os centros de referência,

impactando no real diagnóstico da incidência deste agravo. Esta ideia se sustenta ao

identificarmosquenosEstadosUnidos,porexemplo,maisde25%dasvítimasdeTCE

jamaisreceberamqualquertipodeatendimentomédicoreferenteaesteacidente.Neste

país as principais causas de TCE são os acidentes automobilísticos, quedas de altura,

práticasdeesporteseacidentescomarmasde fogorelacionadosàviolênciaurbana.(5)

No Brasil, apesar da discreta variabilidade regional, asmais frequentes causas são as

quedas,osacidentesautomobilísticoseasagressões.JánoestadodoRioGrandedoSul,

75% das causas de TCE são decorrentes de acidentes no trânsito, envolvendo

atropelamentos,acidentesdemotocicletaeautomóveis.(6,7)

Em pesquisa realizada no ano de 2015, através de entrevista com pacientes

internados,aRedeSARAHdeHospitaisverificouque22,3%dassuasinternaçõesforam

motivadasporcausasexternas.Estascausasexternasenglobamacidentesdetrânsitoe

violência propriamente dita. Os acidentes de trânsito foram a primeira causa de

internação,com48,9%doscasoseasdemaisagressõesconstituíramasegundacausa,

com 24,8% dos casos. As quedas representaram 15,2% das internações. De extrema

importância atentar ao dado referente ao tipo de acidente de trânsito envolvido na

causadoTCE,pois52%doscasos foramdecorrentesdeacidentescommotocicletase

36,8% com automóveis. Entende-se que o crescente aumento na frota nacional de

motocicletasfavoreceuoincrementodoenvolvimentodestacategoriaemacidentesde

trânsito,sejamelescondutoresoupassageiros.(18)

Estudos reportam que a faixa etária de maior prevalência está entre 15 e 24

anos, havendo um risco especialmente elevado entre adolescentes, adultos jovens e

pessoascomidadeinferiora2esuperiora75anos.Alémdisso,aocorrênciadeTCEé

maioremhomens,empessoasdemenorclassificaçãosocioeconômica,comdesordens

cognitivasepsiquiátricas.(6) Portanto, compreendendoqueestaenfermidadeacomete,

principalmente, jovens que se encontram na fase mais produtiva da vida, o impacto

social e financeiro relacionadoaoTCEébastante significativo tantopara suasvítimas

quanto para suas famílias.Em contrapartida, mundialmente, existe uma tendência ao

aumentodecasosdeTCEcausadoporquedasligadaaoaumentonaexpectativadevida

saudável de algumas populações. Este fato deve ser catalisador para o incremento de

ações em educação e prevenção em saúde focados nesta faixa etária específica, pois

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17doenças crônicas, utilização de múltiplas medicações, alterações neurológicas senis,

entreoutrascaracterísticas,aumentamosriscosparaquedasepotenciaistraumatismos

crânioencefálicos.(9)

Considerando os dados expostos e a variabilidade regional, percebe-se que de

formaglobal,mesmocomo crescimentodonúmerodeTCEs causadosporquedas, os

acidentesdemotocicletaeautomóvelaindarepresentamamaiorproporçãonacadeia

causal. Logo, percebemos que, apesar da grande evolução tecnológica e empenho nas

campanhasdeprevençãoaosacidentes,aindaexistegrandelacunadeaçõesvoltadasa

contençãodestegraveproblemadesaúdepública.

Alémdecompreenderaepidemiologiadesuaocorrência,évitalentendermosa

fisiopatologiacomplexaenvolvidadaocorrênciaeevoluçãodotraumacrânioencefálico.

OTCEédefinidocomotodootipodepatologiadecorrentedeumaforçafísicaexterna,

penetranteounão,comconsequentesalteraçõesósseasnocrânio, laceraçõesnocouro

cabeludo, comprometimento demeninges, encéfalo ou vasos sanguíneos.(11) As lesões

penetrantes podem ser causadas por armas de fogo, armas brancas ou por outros

objetosexternos,resultandoemlesõesdotipohematomasehemorragiaslocalizadas.Já

as lesões não penetrantes costumam ser causadas por movimentos de aceleração e

desaceleraçãobruscosemumplanolinear,rotacionalouemambos,causandoprejuízoa

funçõesneurológicas,edemaou lesãocerebraldifusa.(8)Independentementedotipode

ferimento que promoveu o TCE, existem duas etapas na evolução deste tipo de

traumatismo:a lesãoprimáriaea lesãosecundária.Alesãoprimária,quecorresponde

aoprimeiroestágio,écaracterizadapelodanotecidualcerebralqueocorrenomomento

do acidente, podendo ser focal (fraturas, lacerações, hematomas, contusões) oudifusa

(lesão axonal/cerebral difusa, edema cerebral, congestões vasculares). Quando esta

lesão se inicia, o danomecânico direto promove ruptura de tecidos e demembranas

celulares,assimcomodabarreirahemato-encefálicaevascular,oquepermiteoacesso

diretodeconstituintessanguíneosaoparênquimacerebraleviceeversa.Emsituações

mais extremas, no caso da lesão cerebral difusa, a força do impacto promove ruptura

nasbainhasdemielinadosaxônios,oqueresultaemprejuízooutotalperdadeimpulso

axonal,previamentenominadacomolesãoaxonaldifusa.(13)

Apósminutosdaocorrênciado traumae, consequentemente, à instauraçãoda

lesãoprimária,háoiníciodoprocessodelesãosecundária,oqualpodeevoluirpordias,

semanasoumesesapósoevento,deacordocomaevoluçãoclínicadavítima.A lesão

secundáriasurgeemconsequênciaderespostasfisiológicasaoeventotraumáticoe/oua

condiçõessub-ótimasoudeletériasocorridasnoperíodopós-trauma.Umexemploéo

edema que pode surgir após uma contusão cerebral, através de ruptura da barreira

hemato encefálica com lesão endotelial (edema vasogênico), do desequilíbrio entre

sangue e tecidos (edema osmótico) e a resposta celular à cascata bioquímica (edema

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18citotóxico).Tambémocorreperdadaautorregulaçãocerebrovascular (capacidadeque

osvasoscerebraisapresentamemconstringiredilatarnointuitodemanterapressão

deperfusãocerebral).Então,edemacerebralehematomascausamaumentodapressão

intracraniana, desenvolvendo áreas de hipoperfusão, acúmulo de lactato e isquemia,

associadosapioresdesfechosclínicos.(15)

Quantoagravidade,oTCEéclassificadodeacordocomapontuaçãoatribuídaao

pacientenaEscaladeComadeGlasgow (GCS).Diz-sequeoTCEé levequandoaGCS

pontuade13a15,queémoderadoquandopontuade9a12egravequandooescore

pontuade3a8.Estaavaliaçãodeveserrealizadaomaisprecocementepossívelapósa

ocorrência do insulto pelo médico generalista ou neurologista/neurocirurgião, mas é

indispensável que o profissional seja adequadamente capacitado para tal. Caso o

profissionalmédiconãoapresenteperíciaparatalexecuçãopode,aorealizaraavaliação

deformaequivocada,prejudicaroplanejamentodasestratégiasdeatendimentoparao

sujeito em questão.(3,12) Esta classificação da gravidade do TCE de acordo com GCS

demonstrou ser preditiva na avaliação a longo prazo dos pacientes, mas, além disso,

compreender acerca das alterações tomográficas, alterações no padrão pupilar,

monitorar a pressão intracraniana e atentar para variações hemodinâmicas são

primordiaisparaaqualificadapráticaclínica.(16,17)

Nesse contexto, a presente pesquisa representa uma importante ferramenta

paraestudarascausaseascircunstânciasdosagravosqueocasionamoTCEemnossa

região, assim como identificar o perfil de suas vítimas para, então, contribuir com

melhoriasemestratégiasdeprevençãoetratamentodesteinsulto.

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195 MÉTODO

5.1 Delineamento

Estudodebasedocumental, retrospectivo, tendo comopopulação alvo vítimas

de traumatismo crânio encefálico admitidos em internação na Unidade de Terapia

Intensiva(UTI)deadultosdoHospitalUniversitárioSãoFranciscodePaula(HUSFP)da

UniversidadeCatólicadePelotas/RS,duranteoperíododejaneirode2010ajaneirode

2017.

5.2 Amostra

Aamostra será constituídade todosospacientes internadosnaUTIdoHUSFP

porTCEentrejaneirode2010atéjaneirode2017.

5.2.1Critériosdeinclusão:

-ApresentarTCEcomocausadaadmissãonaUTI.

5.2.2Critériosdeexclusão:

- Pacientes que apresentem TCE, mas esta não seja a causa principal da

internação.

5.3 Variáveiseinstrumentos

• Sexo(feminino/masculino)–dicotômica

• Idade(emanoscompletos)–discreta

• Datadotrauma–variávelnumérica

• DatadachegadaaoProntoSocorro–variávelnumérica

• DatadainternaçãonaUTI–variávelnumérica

• Escala de Coma de Glasgow (escore) – recodificada em grave (valores),

moderado(valores)eleve(valores)–ordinal

• ClassificaçãodoTCE(leve/moderado/grave)–nominal

• Tipo de acidente que levou ao TCE (acidente de carro/acidente de

moto/atropelamento/quedadealtura/agressão/ferimentoporarmadefogoou

branca/outros)–nominal

• Realizaçãodeneurocirurgia(não/sim)–dicotômica

• Realizaçãodemonitorizaçãodapressãointracraniana(não/sim)-dicotômica

• Mortalidade(não/sim)–dicotômica

• Ocorrênciadeparadacardiorrespiratória(não/sim)–dicotômica

• Evoluçãoparamorteencefálica(não/sim)–dicotômica

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20• Doação de órgãos e tecidos pelos pacientes em morte encefálica (não/sim) -

dicotômica

• NúmerodediasdeinternaçãoemUTI–discreta

• Númerodediasemventilaçãomecânica–discreta

5.4 Coletadedados

ApartirdosdadosdeinternaçãodaUTI,serãoselecionadastodasasvítimasde

traumatismo crânio encefálico e que internaramnaunidadepor estemotivo.A partir

destes registros, os pesquisadores farão busca ativa dos prontuários no Serviço de

ArquivosMédicoseEstatística(SAME)doHospitalUniversitárioSãoFranciscodePaula,

daUniversidadeCatólicadePelotas.

Os registros serão realizados em um formulário semiestruturado elaborado

pelos pesquisadores composto de dados sócio demográficos (gênero, idade,

procedência),dadosrelacionadosagravidadedoTCEesuaetiologia(EscaladeComade

GlasgownachegadaàUnidadedeEmergênciaenaUTIdurantesasprimeiras48horas

de internação, tipodetraumaqueocasionouoTCE,tipode lesãocerebralevidenciada

naavaliaçãotomográficainicial,níveldesedaçãonasprimeiras48horasdeinternação),

realização ou não de neurocirurgia, se houve ou não monitorização da pressão

intracraniana,númerodediasdeinternaçãonaUTI,dadosrelacionadosascomplicações

decorrentesaotrauma(númerodediasemsuportedeventilaçãomecânica,realização

detraqueostomia,ocorrênciadeparadacardiorrespiratória,óbito,evoluçãoparamorte

encefálica), dados laboratoriais (hematócrito, hemoglobina, creatinina, ureia, sódio,

proteínaC reativa, albumina), dados epidemiológicos depadronização assistencial (se

houve avaliação do neurocirurgião na sala de emergência e se houve registro do

Glasgownafichadeatendimento),diasdeinternaçãonaUTIeatéaaltahospitalarese

houvedoaçãodeórgãosnoscasosdemorteencefálica.

5.5 Seleçãoetreinamentodepessoal

Paraacoletadedadosserãoselecionadosacadêmicosdocursodemedicinada

Universidade Católica de Pelotas, de acordo com o desempenho no treinamento e a

disponibilidadedehoráriosparaacoletadedadosedemaisatividadesenvolvidas.No

treinamentoserãoabordadososaspectoséticosdoestudo,questõessobrepreservação

dosigilodedadoseproteçãodoprontuário,bemcomoasdemaisinformaçõestécnicas

necessáriasaocorretopreenchimentodoinstrumento.

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215.6 Estudo-piloto

Um estudo piloto será realizado afim de testar a versão final do instrumento,

treinaraequipeealogísticadacoletadedados.OestudopilotoserárealizadonoSAME

e, para tal, estima-se incluir quatro pacientes a cada pesquisador que participar do

treinamento.

5.7 Análisedosdados

AanálisedosdadosserárealizadanoprogramaSPSS22.0.Paratal,inicialmente,

ascaracterísticasdaamostraserãorepresentadasporfrequênciasabsolutaserelativas,

quando as variáveis forem categóricas, e representadas por média e desvio padrão

quandoasvariáveisforemnuméricas.

Para as análises entre as variáveis categóricas será utilizado o teste Qui-

quadrado. Paraanáliseentrevariáveiscategóricasenuméricasseráutilizadootestet

ou análise da variância (ANOVA). Valores de p<0,05 serão considerados

estatisticamente significativos.

5.8 Cronograma

ATIVIDADES 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

Revisãodeliteratura x x x x x x x x x x x x x x x x X x x x x x x x

Elaboraçãodoprojeto x x x x x x x x x

Qualificaçãodoprojeto x

Preparaçãodoquestionário x

SubmissãoaoCEP x

Seleçãoetreinamentodos

entrevistadores x x

Estudo-pilotoepreparação

dotrabalhodecampo x x

Coletadedados x x x x

Processamentodosdados x x x

Análise x x x

Redaçãodoartigo x x x

Defesadadissertação x

Obs.:Omês01refere-seajulhode2015.

5.9 Orçamento

Esteprojetoenvolvecustosmínimosqueserãofinanciadospelospesquisadores

doestudo,semsobrecargafinanceiraparaasinstituiçõesenvolvidas.

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5.10 Aspectoséticos

Este projeto respeita todas as diretrizes e normas regulamentadoras de

pesquisas envolvendo seres humanos da resolução no 466. Espera-se submeter este

projetonaPlataformaBrasillogoapósaqualificaçãodomesmo.

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23REFERÊNCIAS

1. PeetersW,BrandeR,PolinderS,BrazinovaA,SteyerbergEW,LingsmaH,etal. Epidemiology of traumatic brain injury in Europe. Acta Neurochir (Wien).2015;157:1683-96.2. T. Wada ea. Relationship between hospital volume and outcomes inpatientes with traumatic brain injury: A retrospective observational study using anationalinpatientdatabaseinJapan.InternationalJournaloftheCareoftheInjured.2017.3. JonsdottirGM,LundSH,SnorradottirB,KarasonS,OlafssonIH,ReynissonK,et al. A population-based study on epidemiology of intensive care unit treatedtraumaticbraininjuryinIceland.ActaAnaesthesiolScand.2017;61(4):408-17.4. WorldHealthOrganizationG.ProjectionsofMortalityandBurdenofDiseaseto2030:DeathsbyIncomeGroup.2002.5. LeibsonCL,BrownAW,RansomJE,DiehlNN,PerkinsPK,MandrekarJ,etal.IncidenceofTraumaticBrainInjuryAcrosstheFullDiseaseSpectrum:APopulation-BasedMedicalRecordReviewStudy.NationalInstitutesofHealth.2011;22:836-44.6. SaúdeMd.MinistériodaSaúde.2016.7. Stefani MA, Plotnik R. Traumatismo Cranioencefálico. Rotinas em ProntoSocorrodePortoAlegre2Edição.2004;1:361-71.8. Shivaji T, Lee A, Dougall N, Thomas M, Cameron S. The epidemiology ofhospitaltreatedtraumaticbraininjuryinScotland.BMCNeurol2014;14:1-7.9. Stocchetti N, Paterno R, Citerio G, Beretta L, Colombo A. Traumatic BrainInjuryinanAgingPopulation.JournalofNeurotrauma.2012;29:1119-25.10. Salottolo K, Carrick M, Levy AS, Morgan BC, Slone DS, Bar-Or D. TheEpidemiology, Prognosis and Trends of Severe Traumatic Brain Injury PresentingGlasgowComaScaleof3.JournalofCriticalCare.2016.11. Gaudêncio TG, Leão GM. The Epidemiology of Traumatic Brain Injury: ABibliographicalSurveyInBrazil.RevistadeNeurociências.2013;21:427-34.12. Passos MSC, Gomes KEP, Pinheiro FGMS, Paula CLP, Oliveira DML, SousaJúnior AS. Clinical and Sociodemographic Profile of Traumatic Brain Injury VictimsAttendedonEmergencyRedAreafromaHospitalReference inTraumaofSergipe.ArquivoBrasileirodeNeurocirurgia.2015;34:274-9.13. GhajarJ.Traumaticbraininjury.THELANCET.2000;356:923-29.14. DashPK,ZhaoJ,HergenroederGW,MooreAN.Biomarkersforthediagnosis,prognosis and evaluation of treatment efficacy for traumatic brain injury.Neurotherapeutics.2010;7.15. Stoica BA, Faden AI. Cell death mechanisms and modulation in traumaticbraininjury.Neurotherapeutics.2010;7:3-12.16. JinadasaS,BooneMD.ControversiesintheManegementofTraumaticBrainInjury.AnesthesiologyClin.2016;34:557-75.17. Ferreira CB, Bassi E, Lucena L, Carreta H, Miranda LC, Tierno PF, et al.Measurement of intracranial pressure and short-term outcomes of patients withtraumaticbrain injury:apropensity-matchedanalysis.RevistaBrasileiradeTerapiaIntensiva.2015;27:315-21.18. Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, Traumatismo Crânioencefálico.Dsiponível em:<http://www.sarah.br/páginas/doencas/po/p_07_traumatismo_cranioen.htm>

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24ANEXOS

ANEXO1–EscaladeComadeGlasgow

ESCALADECOMADEGLASGOW

AberturaOcular RespostaVerbal RespostaMotora

---- ---- 6.Obedeceacomandos

---- 5.Orientado 5.Localizaestímulos

4.Espontânea 4.Confuso 4.Movimentoderetirada

3.Estímulosonoro 3.Palavras 3.Posturaemflexão

2.Estímuloálgico 2.Emitesons 2.Posturaemextensão

1.Nenhuma 1.Nenhuma 1.Nenhuma

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25ANEXO2–Instrumentodecoletadedados

PerfilEpidemiológicodosPacientescomTraumatismoCrânioEncefálicoAdmitidosem

umaUnidadedeTratamentoIntensivodeReferêncianoSuldoBrasil

1.Númerodoquestionário___ quest___

2.Data__/__/____ data__/__/____

3.Númerodoprontuário______ pront______

4.Datadachegadanoprontosocorro:__/__/____ dPS__/__/____

5.Sexo:(1)masculino(2)feminino sexo_

6.DatainternaçãonaUTI:__/__/____ dUTI__/__/____

7.Idade:__(anoscompletos) idade__

8.TipodetraumaquelevouaoTCE:(0)Acidentedecarro(1)Acidentedemoto/bicicleta(2)

Atropelamento(3)Quedadealtura(4)Agressão(5)Ferimentoporarmadefogo/branca

(6)Outros:_____________________ tiptrauma_

9.EscaladeComadeGlasgownachegadaaoprontosocorro:__ GCE__

10.EscaladeComadeGlasgownainternaçãonaUTI:__ GCEuti__

11.EscaladeComadeGlasgownahora24:__ GCE24__

12.EscaladeComadeGlasgownahora48:__ GCE48__

13.EscaladeSedação(RASS)nainternaçãonaUTI:__ RAuti__

14.EscaladeSedação(RASS)nahora24:__ RA24__

15.EscaladeSedação(RASS)nahora48:__ RA48__

16.ClassificaçãodograudoTraumatismoCrânioEncefálico:(1)Leve(2)Moderado(3)Grave tCE_

17.DiasdeinternaçãonaUTI:__ dUTI__

18.Diasdeventilaçãomecânica:__ dVM__

19.Tipodeinternação:(1)SUS(2)Convênio tipin_

20.Realizaçãodeneurocirurgia:(1)Não(2)Sim ncirur_

21.Houvemonitorizaçãodepressãointracraniana?(1)Não(2)Sim mPIC_

22.RealizaçãodeTomografiaComputadorizadadeCrânio:(1)Não(2)Sim tc_

23.Tipodealteraçãotomográfica: tiptc_

24.Óbito:(1)Não(2)Sim obito_

25.SESIM:QUANTOSDIASAPÓSOTRAUMA:__dias dobito__

26.ParadaCardiorrespiratória:(1)Não(2)Sim para_

27.Pacienteevoluiuparamorteencefálica?(1)Não(2)Sim ME_

28.Foidoadordeórgãos?(1)Não(2)Sim DO_

29.RegistrodeavaliaçãodoNeurocirurgiãonoPS:(1)Não(2)Sim neps_

30.RegistrodaEscaladeComadeGlasgownoPS:(1)Não(2)Sim regps_

31.Realizoutraqueostomiaduranteainternaçãohospitalar:(1)Não(2)Sim traq_

32.Datadaaltahospitalar:__/__/____ dalta__/__/____

EspaçoEs

NúmerodoProntuárioPesquisador

___________________________________________

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26PerfilEpidemiológicodosPacientescomTraumatismoCrânioEncefálicoAdmitidosem

umaUnidadedeTratamentoIntensivodeReferêncianoSuldoBrasil

33.Númerodoquestionário___ quest___

34.Procedência:(1)Pelotas(2)Outromunicípio:____________________________ proc:_

35.DataaltadaUTI:__/__/____ dal:__/__/____

36.CreatininachegadaUTI:____ creat:____

37.Creatinina24hUTI:____ creat24:____

38.Creatinina48hUTI:____ creat48:____

39.PCRuchegadaUTI:____ PCR1:___

40.PCRu24hUTI:____ PCR2:___

41.PCRu48hUTI:____ PCR3:___

42.UréiachegadaUTI:____ ur:___

43.Uréia24hUTI:____ ur24:___

44.Uréia48hUTI:____ ur48:__

45.HematócritochegadaUTI:____ ht:__

46.Hematócrito24hUTI:____ ht24:__

47.Hematócrito48hUTI:____ ht48:__

48.HemoglobinachegadaUTI:____ hb:__

49.Hemoglobina24hUTI:____ hb24:__

50.Hemoglobina48hUTI:____ hb48:__

51.BalançoHídrico24hUTI:____ bh24:_____

52.BalançoHídrico48hUTI:____ bh48:_____

53.AlbuminachegadaUTI:____ alb:__

54.Albumina48hUTI:____ alb48:__

55.SódioséricochegadaUTI:____ sod:___

56.Sodiosérico48hUTI:____ sod48:___

57.Comorbidades:(1)Não(2)Sim com:_

58.Politraumatismoassociado:(1)Não(2)Sim pol:_

EspaçoEsNNúmerodoProntuário

Pesquisador_________________________________________

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PARTEII–ARTIGO

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Perfilepidemiológicodospacientescomtraumatismocrânioencefálicoadmitidos

emumaUnidadedeTratamentoIntensivodereferêncianosuldoBrasil

Autores:

MarinaPeresBainy1,2,FernandaPedrottiMoreira2,KarenJansen2,JeanPierreOses1

Filiações:

1. FaculdadedeMedicinadaUniversidadeFederaldePelotas

2. ProgramadePós-GraduaçãoemSaúdeeComportamentodaUniversidadeCatólica

dePelotas

Autorcorrespondente:

MarinaPeresBainy

+555321288404/991494612

[email protected]

RuaGonçalvesChaves,373,sala411C.Centro,Pelotas–RS

CEP96015-560

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29RESUMO

Introdução: O traumatismo crânio encefálico (TCE) é uma das principais causas de

mortalidadeemadultosjovens,ocasionandoimportanteimpactosocialeeconômico.

Objetivo:Traçaroperfilepidemiológicodasvítimasdetraumatismocrânioencefálico

admitidasemumaUnidadedeTerapiaIntensiva(UTI)dereferênciadosuldoBrasil.

Método:Estudodebasedocumental,retrospectivo,tendocomopopulaçãoalvovítimas

deTCEadmitidoseminternaçãonaUTIdereferênciaparatrauma,emummunicípiodo

suldoBrasil.Foramelegíveistodosospacientesqueinternaramnestaunidadedurante

operíododejaneirode2010ajaneirode2017.ParaclassificaçãodegravidadedoTCE

foiutilizadaaEscaladeComadeGlasgow(GCS).

Resultados:Foramincluídosnoestudo220prontuáriosdevítimasdeTCE.Amaioria

eradosexomasculino(80,9%),comidademédiade38,63anos(+19,42),sendoaidade

mínimade11anosemáximade93anos.QuantoagravidadedoTCE,deacordocoma

classificação da GCS, 58,20% foi considerado grave, 28,20%moderado e 12,7% leve.

Entre as causas mais comuns estão os acidentes automobilísticos, seguidos de

atropelamentos, quedas de altura e violência urbana. Quanto ao desfecho, 32,9%

evoluíramparaóbitoe67,1%obtiveramaltaclínica.

Conclusão:Opresenteestudoevidenciouqueotraumatismocrânioencefálicoacomete,

em maior proporção, adultos jovens e do sexo masculino, que os acidentes

automobilísticosrepresentamoprincipalmecanismodotraumaequeoTCEgravefoio

maisocorrenteentreasadmissões.

Palavras-chave: Traumatismo crânio encefálico, Unidade de Terapia Intensiva,

Epidemiologia.

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30

ABSTRACT

Background:Thetraumaticbraininjury(TBI)isoneofthemaincausesofmortalityin

young-adults,whichgeneratesimportantsocialandeconomicimpacts.

Objective:To trace the epidemiological profile of victimswho sufferedTBI andwere

admittedtoaReferenceIntensiveCareUnitinsouthernBrazil.

Method:Documental-basedandretrospectivestudy,whichhadaspopulationvictimsof

TBI admitted to a reference ICU for trauma, in a city in the south of Brazil. All

participantswereeligibleintheunitduringtheperiodofJanuary2010toJanuary2017.

TheGlasgowComaScalewasusedtoclassifyingthegravityoftheTBI.

Results: In this study, 220 charts of victims of TBI were included. Themajority was

male(80.9%)andaveragelywere38.63yearsold(+19.42),beingtheminimumage11

years old, and maximum of 93. Regarding the gravity of TBI, according to the GCS

classification, 58.20% was considered severe, 28.20% moderate, and 12.7% mild.

Amongthemostcommoncausesaretheautomobileaccidents,followedtohitches,fall

from heights, and urban violence. In what concerns the disclosure, 32.9% evolved to

death,and67.1%obtainedclinicaldischarge.

Conclusion:Thepresentstudyevidencedthattraumaticbraininjuryaffects,ingreater

proportion, young-adults, males, that automobile accidents represent the main

mechanism for trauma, and that the severe TBI was the most prevalent among the

hospitaladmissions.

Keywords:Traumaticbraininjury,IntensiveCareUnit,Epidemiology.

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31INTRODUÇÃO

O traumatismo crânio encefálico (TCE) já foi denominado de “ Epidemia

Silenciosa” por ser um dos principais responsáveis pela mortalidade entre adultos

jovenssem,noentanto,terseusefeitosimediatamenteperceptíveisemsuatotalidadee

potencialidade. Apesar de promover importante impacto social e econômico, parece

desconhecido de forma real pela população.1-3 Conforme projeção realizada pela

OrganizaçãoMundialdeSaúde(OMS),oTCEdevetornar-seaterceiraprincipalcausade

mortalidadeeincapacidadeglobalatéoanode2020.4Estima-sequeaincidênciaanual

deTCEnosEstadosUnidossejade558casospor100.000habitantes,naEuropade235

casospor100.000habitantes, enquantonoBrasil estesdadosainda são imprecisos.1-5

Emconcordânciacomarealidademundial,osestudosaquirealizadosdemonstramque

ascausasmaiscomunsdeTCEsãoosacidentesautomobilísticos,asquedaseaviolência

urbana,apesardehaverdiscretavariabilidaderegional.NoestadodoRioGrandedoSul,

75% das causas de TCE são decorrentes de acidentes no trânsito, envolvendo

atropelamentos,acidentesdecarrooumotocicletas.6,7

O TCE atinge indivíduos de todas as faixas etárias, mas há uma distribuição

bimodalentrejovenseidosos,sendosuaocorrênciamaioremhomens.4,8Empaísesde

economiaemergente,comoChinaeÍndia,constata-seaelevaçãononúmerodevítimas

de TCE causados por acidentes automobilísticos.1,9,10 Entende-se como justificativa o

fatodasociedademodernaganharmeiosdelocomoçãocadavezmaisvelozes.Poroutro

lado, em várias regiões da Europa e Estados Unidos, percebe-se o contrário, com

marcada queda nesta incidência, provavelmente ligada amelhoria nas campanhas de

prevençãoaosacidentesde trânsito. Jáo aumentonaexpectativadevida saudávelde

algumas populações evidenciou elevação na incidência de TCE causado por quedas,

conduzindoàreflexãosobreanecessidadedeinvestimentosempolíticasdeprevenção

emsaúdevoltadasaestetipodeagravo.1,9,10

O TCE é definido como qualquer patologia decorrente de uma força física

externa,penetranteounão, comconsequentes alteraçõesósseasno crânio, lacerações

nocourocabeludo,comprometimentodemeninges,encéfaloouvasossanguíneos.11Sua

gravidadeédefinidaatravésdaEscaladeComadeGlasgow(GCS),poisestaclassificação

demonstrouserpreditivanaavaliaçãoalongoprazo.Apesardisto,sabe-sequeoTCEé

umeventoextremamentedinâmicoque iniciacomuma injúriamecânicaeevoluicom

vários processos fisiopatológicos heterogêneos, como danos celulares, vasculares,

metabólicos e moleculares. Assim, na prática clínica, fatores como avaliação pupilar,

reconhecimentodealteraçõestomográficas,controlehemodinâmicoemonitorizaçãoda

pressão intracraniana são cruciais para avaliar e planejar o tratamento destes

pacientes.3,12

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32A lesão que se estabelece imediatamente após o trauma é chamada de lesão

primária,enquantoalesãosecundáriasurgeapóshoras,diasousemanas.13-15Estalesão

secundáriaéumprocessode feedback positivo cíclicodeedemacerebral, aumentoda

pressãointracraniana,diminuiçãodofluxosanguíneocerebralemortecelular.Poristo,

devesermonitorada,controladaeabordadaatravésdeumaatendimentoqualificadoe

especializadonocuidadodasvítimasdestetipodeenfermidade.16Apesardasmelhorias

já instituídas nos sistemas de saúde e cuidados intensivos, estudos reportam que a

mortalidade ligada aoTCEainda está em tornode40%.17Esta altamortalidade torna

evidente a necessidade de pesquisas focadas na identificação de estratégias para a

adequadaimplementaçãodeprotocolosclínicosefluxospadronizadosdirecionadosao

atendimentodestespacientes.

O presente estudo tem por objetivo caracterizar o perfil epidemiológico das

vítimasdeTCEadmitidasemumaUnidadedeTerapiaIntensivadereferêncianoSuldo

Brasil para, ao atentar as características regionais, contribuir com a prevenção, o

planejamentoeaotimizaçãodaassistênciaaesteagravo.

MÉTODOS

Estudodebasedocumental, retrospectivo, tendo comopopulação alvo vítimas

deTCEadmitidosem internaçãonaUnidadedeTerapia Intensiva (UTI)deadultosdo

Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP) da Universidade Católica de

Pelotas/RS.Foramelencadostodosossujeitosqueinternaramnestaunidadeduranteo

período de janeiro de 2010 a janeiro de 2017. Para tal, os pesquisadores realizaram

busca ativa dos dados nos prontuários médicos arquivados no Serviço de Arquivos

MédicoseEstatística (SAME)doHUSFP,duranteoperíodode janeiroaabrilde2017.

Foram respeitadas todas as questões éticas envolvidas no manuseio destes dados,

incluindoanãoidentificaçãodospacientesincluídos.

Os registros foram realizados em um formulário semiestruturado elaborado

pelos pesquisadores composto de dados sócio demográficos (gênero, idade,

procedência)edadosrelacionadosagravidadedoTCEesuaetiologia.Agravidade clínica

foi avaliada através da Escala de Coma de Glasgow. A pontuação GCS varia de 3 a 15, sendo

que de 13 a 15 é considerado TCE leve, de 9 a 12 é considerada TCE moderado e de 8 a 3,

como TCE grave. Quanto à etiologia foram classificados em acidentes automobilísticos

separados em automóveis (22,3%) e motocicletas (77,7%), atropelamentos, quedas de altura,

violência urbana (ferimentos por arma de fogo e arma branca e agressões) e outros (acidentes

com cavalos e carroças, por exemplo). Também foram registrados os achados

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33tomográficos,a realizaçãoounãodeneurocirurgia, sehouveounãomonitorizaçãoda

pressão intracraniana e dados relacionados as complicações decorrentes ao trauma

(número de dias em suporte de ventilação mecânica, realização de traqueostomia,

ocorrênciadeparadacardiorrespiratória,óbito,evoluçãoparamorteencefálica).Dados

epidemiológicosdepadronizaçãoassistencial,númerodediasde internação(naUTIe

hospitalar) e se houve doação de órgãos nos casos demorte encefálica foram outros

aspectosavaliados.

Os dados obtidos no formulário elaborado pelos pesquisadores foram

codificados e digitados no software SPSS 22, o mesmo foi utilizado para as análises

estatísticas.Paratal,inicialmenteosdadosforamdescritivospormédiaedesviopadrão

(DP) ou frequência absoluta (n) e relativa (%). Para os testes de hipóteses foram

utilizando os testes Qui-Quadrado e ANOVA. Foram consideradas associações

estatisticamentesignificativasquandop<0,05.

RESULTADOS

Foram identificadas 239 internações por TCE atendidos em um centro de

tratamentointensivodereferêncianosuldoBrasil,entre2010e2017,deacordocom

os registros hospitalares. No entanto, 19 prontuários não foram encontrados,

totalizandoassim,osdadosde220 internaçõeselegíveisparao estudo.Amaioria era

proveniente do próprio município (70,9%), do sexo masculino (80,9%) e com idade

médiade38,63anos(±19,42),sendoaidademínimade11anosemáximade93anos.

QuantoaotipodeTCE,deacordocomaclassificaçãodaGCS,58,20%foiconsiderado

grave,28,20%moderadoe12,7%leve.Entreascausasmaiscomunsestãoosacidentes

automobilístico(47,3%),seguidosdeatropelamento(15,9%),quedadealtura(15,5%)e

violênciaurbana (15,5%).O tempomédiode internaçãonaUTI foi de10,43 (±12,07)

dias. Quanto ao desfecho, 32,9% evoluíram para óbito e 67,1% tiveram alta clínica

(Tabela1).

A tabela 2mostra as características demográficas e clínicas dos pacientes em

relaçãoagravidadedotraumacrânioencefálico.Houvepredomíniodosexomasculino

noTCEleve,moderadoegrave(p=0,024).Acidenteautomobilísticofoiaprincipalcausa

quelevouaoTCEleve(55,5%),moderado(37,1%)egrave(32,1%)(p=0,023).Pacientes

comTCEgravetiverammaiormédiadediasdeinternaçãonaUTI(p<0,001),bemcomo

dediasdeventilaçãomecânica(p=0,044).Damesmaforma,amortalidadefoimaiornos

pacientes com TCE grave (45,7%; p<0,001), sendo 18,8% com morte encefálica

(p=0,005).

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34Aoestratificarnossaamostraporfaixaetária,observamosqueotipodetrauma

mais frequente na faixa etária até 35 anos foi acidente automobilístico (62,8%) e na

faixa etária acimade65 anos foi a quedade altura (50,0%;p<0,001). Para as demais

variáveis demográficas e clinicas, não observamos diferença em relação a faixa etária

(Tabela3).

Entre as principais causas de óbito está acidente automobilístico (37,5%),

seguidodeatropelamento(23,6%),quedadealtura(16,7%)eviolênciaurbana(16,7%).

Daqueles que foram submetidos a neurocirurgia (n=71; 32,7%), apenas 20,8%

apresentarammonitorizaçãodapressão intracraniana (p<0,001)e36,6%evoluírama

óbito(p=0,060).Entreospacientesqueevoluíramparamorteencefálica(n=26;11,9%),

apenas42,3%foramdoadoresdeórgãos.

DISCUSSÃO

Opresenteestudoevidenciouqueotraumatismocrânioencefálicoacomete,em

maiorproporção,adultosjovensedosexomasculino,queosacidentesautomobilísticos

representamaprincipalcausadotraumaequeoTCEgravefoiomaisocorrentedentre

asadmissões.

Cabe ressaltar que os achados deste estudo devem ser interpretados

considerando algumas limitações. Pois, ao utilizar prontuários como fonte de dados,

percebemos que muitas informações não são adequadamente registradas ou são

perdidas dentro das próprias instituições, uma limitação comum entre os estudos de

basedocumental.Repetidasvezes,nosdeparamoscomprontuáriosincompletosecom

padrõesderegistrodiferentesnasprópriasevoluçõesmédicasedeenfermagem,poisa

Terapia Intensiva é uma especialidade que passa por atualizações de maneira

extremamente dinâmica e peculiar, ocasionando mudanças nos protocolos de

assistência. Além disso, o padrão das informações oriunda das Unidades de Pronto

Atendimento, também foi bastante heterogêneo,muitas vezes não contendo sequer a

avaliação do status neurológico do paciente, através da GCS. No entanto, identificar

retrospectivamente o perfil das vítimas de TCE internadas em umaUTI de referência

paratrauma,permitearealizaçãodeumaanálisecríticavoltadaaosfluxosassistenciais

estabelecidos até o momento, assim como aos principais desfechos, salientando a

relevânciadestetrabalho.

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35Emacordocomaliteratura,verificou-sequeamaioriadasvítimasdeTCEsãodo

sexomasculinoepertencemafaixaetáriaprodutivadapopulação(87,7%ocorrematé

64 anos de idade).1,3 Entre as justificativas para a maior ocorrência do TCE entre

indivíduos do sexomasculino está a hipótese de que estes sofremmaior exposição a

situaçõesperigosas comoutilizaçãodeálcool edrogas,dirigir emaltavelocidade,não

utilizarequipamentosdeproteçãoindividual,alémdeexecutaratividadeslaboraisfora

deseusdomicíliosemmaiorproporçãoqueasmulheres.11,12,18Apesardoestudoocorrer

emuma cidadede abrangênciadeumaCoordenadoriaRegional de Saúde e, portanto,

atenderváriosmunicípiosdaregião,amaiorpartedaamostrafoicompostaporpessoas

queresidiamnomesmomunicípiodoHospital.Umadaspossíveisexplicaçõeséo fato

destalocalidadedosuldoBrasilapresentaremtornode330.000habitantes,residindo,

em sua maioria, na zona urbana, onde está a maior concentração de veículos

automotorescirculantes.6,18

Quantoagravidade,maisdametadedoscasos foramdeTCEgrave,emacordo

com alguns resultados prévios. Uma avaliação retrospectiva dos casos de TCE

internadosemumhospitalde referênciapara traumanoanode2014nonordestedo

Brasil, evidenciouque55,2%dos casoseramTCEgrave.12Emoutroestudopublicado

em2017foramavaliadas,retrospectivamente,583internaçõesporTCEemumaUTIda

Islândia, entre os anos de 1999 e 2013, constatando que 42% destes pacientes

apresentavamTCEgrave.3OutrodadodeextremarelevânciaéofatodoBrasilpossuir

número insuficiente de leitos de UTI comparado ao número de leitos de internação

hospitalar,assimcomoademandaexternadepacientes,alémdemarcadodesequilíbrio

na distribuição destes leitos em relação as suas Unidades Federativas. Este fato,

certamente,impactanotempodeesperaenapossibilidadedeinternaçãonoambiente

de tratamento intensivo, podendo influenciar na amostra de pacientes que chegam a

estelocal,priorizandoainternaçãodecasosmaisgraves.18

AlémdeevidenciarmosmaiorocorrênciadeTCEgraveentreindivíduosdosexo

masculino, amaioria tinhaaté35anosequandoomecanismodo trauma foi acidente

automobilístico. Na África Oriental, um estudo avaliou pacientes admitidos por TCE

grave entre 2013 e 2015, encontrando resultados semelhantes em relação ao

mecanismoque ocasionou o trauma (66,1%por acidentes de trânsito), ao sexo (80%

eram homens) e a idade das vítimas (média de 32+20 anos).19 No Brasil, um artigo

publicadoem2011traçouoperfilepidemiológicodospacientescomTCEinternadosem

umaUTIdereferênciaduranteosanosde2008e2009.Dos93pacientesincluídosneste

estudo,88,2%eramhomens,55,9%apresentaramcomomecanismocausaldo trauma

algumacidenteautomobilístico,tinhammédiadeidadede34,6anos(+16,7)eamaioria

apresentouTCEgrave (67,7%).20Esta relação tambémaparece emoutraspublicações

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36de países com economia emergente, como China e Índia, que possivelmente, pelo

aumentonousodotransporteautomotivo,verificou-semaiorproporçãodeste tipode

acidente como causa de TCE grave na população jovem.1,8,9 Também de extrema

relevâncianosachadosdenossoestudo, éodadodequeospacientes comTCEgrave

apresentarammaiormédiadediassobventilaçãomecânicaedediasdeinternaçãona

UTI.Esta informaçãoestáemacordocomevidênciaspréviasacercado impacto social

que as sequelas funcionais promovidas pelo TCE grave podem causar. Em uma

publicação do ano de 2007, observou-se que a amplitude deste impacto é severa.

Independente das variabilidades regionais ligadas aos aspectos epidemiológicos

observados em países de distintas condições sócio demográficas e econômicas, a

gravidadedoTCEéresponsávelporgerarsequelasqueimpactamfortemente,alémda

sobrevida,ascondiçõesequalidadedevidadeseussobreviventes.21

Emrelaçãoaomecanismodotrauma,evidenciou-sequeamaioriadoscasosfoi

desencadeada por acidentes automobilísticos, seguidos de atropelamentos, quedas de

altura e violência urbana. É importante salientar que do total de acidentes

automobilísticos, a grandemaioria foi commotocicleta (77,2%). Esta informação está

em concordância comoutra publicação brasileira do ano de 2013que, através de um

levantamento bibliográfico nacional, mostrou que 50% dos TCEs avaliados foram

causadosporacidentesdemotocicleta,estandoassociadosounãoaoinadequadousode

equipamentosdeproteção individual.11Em2012,tambémnoBrasil,aRedeSARAHde

Hospitais, que representa uma das principais potencias em reabilitação a nível

internacional, publicou dados coletados através de entrevista com os pacientes

internadosnaquelainstituição,verificandoque22,3%desteseramvítimasdelesõespor

causas externas. Dentre estas causas estão os acidentes de trânsito e a violência

propriamentedita.Osacidentesdetrânsitoforamaprimeiracausadeinternação,com

48,9%doscasoseasdemaisagressõesconstituíramasegundacausa, com24,8%dos

casos.QuantoaotipodeacidentedetrânsitoenvolvidonacausadoTCE,52%doscasos

foram decorrentes de acidentes com motocicletas, tornando evidente a importância

destefatorcausalenvolvidonesteagravo.22

Ao estratificar nossa amostra por faixa etária, assim como em outras

publicações,observamosqueotipodetraumamaisfrequentenafaixaetáriaacimade

65anosfoiaquedadealtura.Umestudoqueavaliou1366vítimasdeTCEadmitidosem

trêsUTIsneurocirúrgicasna Itália, descreveuasquedas comooprincipal fator causal

empacientes acima de 65 anos de idade, em ambos os sexos.9 Emumametanálise, a

epidemiologiadoTCEnaEuropafoiavaliadaentreestudosdedezesseispaíses.Apesar

deevidenciarqueacidentesautomobilísticosequedassãoosprincipaisfatorescausais

deTCE,asquedasassumiramaprimeiraposiçãoemcausalidadenaparcelamaisidosa

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37dapopulação.Dosvinteecincoestudosavaliados,quatorzemostraramasquedascomo

causamais frequente e houvemarcada relação entre o predomínio deste fator causal

nos países de melhor desenvolvimento econômico e com populações de maior faixa

etária.1 Percebe-se, então, a importância de atentar a presentes mudanças nas

tendênciasdecausalidadedoTCE,porcontadealteraçõesnoperfiletáriodapopulação,

nas condições de saúde e na economia nos diversos países, sendo este um potente

instrumentoparaauxiliarnareduçãodaincidênciadesteagravodeformaglobal.

Emnossoestudo,umterçodospacientesevoluíramparaóbito,sendooacidente

automobilísticoeoTCEgraveosprincipaisfatoresderiscoparaoóbito.Estesachados

estãodeacordocomosdadosencontradosemdoisestudosbrasileirosjásupracitados,

tornandobastanteevidentearelaçãodosacidentesautomobilísticoscomagravidadedo

TCE e a maior mortalidade.12,20 Além disso, as publicações internacionais também

apoiamamaiorrelaçãoentreTCEgraveemortalidadeeinferemqueesteagravoseráa

terceiraprincipalcausademortalidadeglobalatéoanode2020.2,4,13Aindaemrelação

ao desfecho, nosso estudo demostrou que, apesar da maior parte da amostra ser

compostadepacientescomTCEgrave,amaioriadestesrecebeualtaclínicahospitalar.

Estedadomerecedestaque,pois,apesardetodasasdificuldadesenvolvidasnestesetor

do cuidado, a qualidade assistencial certamente é a grande responsável por este

desfecho.

Finalmente, cabe ressaltar que, dos 26 pacientes que evoluíram para morte

encefálica, somente 42,3% foram doadores de órgãos e tecidos. Este dado envolve a

observação da amostra em um intervalo de tempo onde a instituição da abertura e

conclusãodosprotocolosdemorteencefálica,assimcomoaconscientizaçãodasequipes

frente aos fluxos demanutenção do potencial doador de órgãos e tecidos, esteve em

curva crescente de evolução. Por isso, muito provavelmente, se observarmos um

intervalomaisrecentefocadosnestecapítuloassistencial,deveremosidentificarmaior

proporcionalidadenasdoaçõesdeórgãosfrenteaonúmerodemortesencefálicas.Estae

outras questões ainda não respondidas servirão de mola propulsora para que

continuemosatrabalharnaqualificaçãodocuidadodenossospacientes,noregistrodos

dadosreferentesaelese,principalmente,napesquisavoltadaamelhoriadedesfechos

clínicos, pois prevenção, tratamento e planejamento de estratégias de atendimento

ainda representamuma lacunanaabordagemdoTCE.Conheceroperfil local ligadoa

ocorrência do TCE, considerando as mudanças nas tendências de sua ocorrência,

permiteaosprofissionaisdesaúdeegestorespúblicosautilizaçãodepráticasbaseadas

emevidências,assimcomoaconstruçãodepolíticasdeprevençãorealmentepotentes,

enfatizandoaimportânciadesteestudo.

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40Tabela1.Distribuiçãodospacientescomtraumacrânioencefálico.

Variáveis Distribuiçãodaamostra

Sexoa Feminino 42(19,1%)Masculino

178(80,9%)

Idadea Até34anos 117(53,2%)De35a64anos 76(34,5%)Acimade64anos

27(12,3%)

Procedênciaa,* Pelotas 155(70,8%)Outrascidadesdaregião

62(28,3%)

GravidadedoTCEa,* Leve 28(12,8%)Moderado 62(28,4%)Grave

128(58,7%)

Tipodetraumaa Acidenteautomobilístico 104(47,3%)Atropelamento 35(15,9%)Quedadealtura 34(15,5%)Violênciaurbana 34(15,5%)Outros

13(5,9%)

DiasdeinternaçãonaUTIb

10,43(±12,07)

Diasdeventilaçãomecânicab

9,53(±17.10)

Realizaçãodeneurocirurgiaa,* Não 146(66,4%)Sim

72(32,7%)

Monitorizaçãodapressãointracranianaa,* Não 200(90,9%)Sim

18(8,2%)

Politraumatismoassociadoa,* Não 141(66,2%)Sim

72(33,8%)

Desfechoclínicoa,* Altahospitalar 147(67,1%)Óbito

72(32,9%)

Total 220aDadosapresentadosporfrequênciarelativa(n)eabsoluta(%);bDadosapresentadospormédia

edesviopadrão(±).*Dadoscommissing.

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41

Tabela2:Característicasdemográficaseclínicasdospacientesemrelaçãoagravidade

dotraumacrânioencefálico.

Variáveis GravidadedoTCE p-valorLeve Moderado GraveSexoa 0,024Feminino 5(17,9%) 19(30,6%) 18(14,1%) Masculino

23(82,1%) 43(69,4%) 110(85,9%)

Idadea 0,044Até35 14(50,0%) 29(46,8%) 76(59,4%) 36-65 8(28,6%) 25(40,3%) 40(31,2%) Acimade65

6(21,4%) 8(12,9%) 12(9,4%)

Tipodetraumaa 0,023Acidenteautomobilístico 9(32,1%) 23(37,1%) 71(55,5%) Atropelamento 4(14,3%) 11(17,7%) 20(15,6%) Quedadealtura 9(32,1%) 15(24,2%) 10(7,8%) Violênciaurbana 4(14,3%) 10(16,1%) 19(14,8%) Outros

2(7,1%) 3(4,8%) 8(6,2%)

Dias de internação naUTIb

4,39±0,83 7,58±6,07 13,11±14,50

<0,001

Dias de ventilaçãomecânicab

7,11±4,33 5,68±1,71 11,95±1,51

0,044

Desfechoclínicoa <0,001Altahospitalar 23(82,1%) 53(85,5%) 69(54,3%) Óbito

5(17,9%) 9(14,5%) 58(45,7%)

Morteencefálicaa

- 2(3,2%) 24(18,8%) 0,005

Total 28(12,8%) 62(28,4%) 128(58,7%)

---

aTesteQui-Quadrado,dadosapresentadosporfrequênciarelativa(n)eabsoluta(%);bANOVA,dadosapresentadospormédiaedesviopadrão(±).

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Tabela3:DescriçãodaamostradeacordocomafaixaetáriadasvítimasdeTCE.

Variáveis Até35anos

De36a65anos

Acimade65anos

p-valor

Sexoa 0,260Feminino 22(18,2%) 12(16,4%) 8(30,8%) Masculino

99(81,8%) 61(83,6%) 18(69,2%)

Tipodetraumaa <0,001Acidenteautomobilístico 76(62,8%) 25(34,2%) 3(11,5%) Atropelamento 10(8,3%) 16(21,9%) 9(34,6%) Quedadealtura 4(3,3%) 17(23,3%) 13(50,0%) Violênciaurbana 25(20,7%) 9(12,3%) - Outros

6(5,0%) 6(5,0%) 1(3,8%)

Politraumatismo

47(40,2%) 20(28,6%) 5(19,2%) 0,066

DiasdeinternaçãoUTIb

11,05±1,18

10,82±1,42

6,42±1,12 0,196

Dias de ventilaçãomecânicab

11,02±1,78

9,30±1,77 3,23±4,76 0,108

Paradacardiorespiratóriaa

22(18,2%) 20(27,4%) 11(42,3%) 0,114

Desfechoclínicoa 0,090Altahospitalar 87(71,9%) 47(65,3%) 13(50,0%) Óbito

34(28,1%) 25(34,7%) 13(50,0%)

Morteencefálicaa

14(11,6%) 10(13,9%) 2(7,7%) 0,696

Doadordeórgãosa

7(5,8%) 4(5,6%) 1(3,8%) 0,925

Total 121(55,0%)

73(32,3%)

26(11,8%)

---

aTesteQui-Quadrado,dadosapresentadosporfrequênciarelativa(n)eabsoluta(%);bANOVA,dadosapresentadospormédiaedesviopadrão(±).