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Marco Antonio Ribeiro Vieira Junior Renan Rodrigo Corrêa Gomes
Daniel Damous Dias
Fisiopatologia das principais doenças associadas ao vírus Linfotrópico de células T
humano Tipo I 1° Edição
São José dos Pinhais 2021
2021 by Brazilian Journals Editora Copyright © Brazilian Journals Editora Copyright do Texto © 2021 Os Autores
Copyright da Edição © 2021 Brazilian Journals Editora Diagramação: Sabrina Binotti
Edição de Arte: Sabrina Binotti Revisão: Os autores
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
Conselho Editorial: Profª. Drª. Fátima Cibele Soares - Universidade Federal do Pampa, Brasil. Prof. Dr. Gilson Silva Filho - Centro Universitário São Camilo, Brasil. Prof. Msc. Júlio Nonato Silva Nascimento - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, Brasil. Profª. Msc. Adriana Karin Goelzer Leining - Universidade Federal do Paraná, Brasil. Prof. Msc. Ricardo Sérgio da Silva - Universidade Federal de Pernambuco, Brasil. Prof. Esp. Haroldo Wilson da Silva - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Brasil. Prof. Dr. Orlando Silvestre Fragata - Universidade Fernando Pessoa, Portugal. Prof. Dr. Orlando Ramos do Nascimento Júnior - Universidade Estadual de Alagoas, Brasil. Profª. Drª. Angela Maria Pires Caniato - Universidade Estadual de Maringá, Brasil. Profª. Drª. Genira Carneiro de Araujo - Universidade do Estado da Bahia, Brasil. Prof. Dr. José Arilson de Souza - Universidade Federal de Rondônia, Brasil. Profª. Msc. Maria Elena Nascimento de Lima - Universidade do Estado do Pará, Brasil. Prof. Caio Henrique Ungarato Fiorese - Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil. Profª. Drª. Silvana Saionara Gollo - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Brasil. Profª. Drª. Mariza Ferreira da Silva - Universidade Federal do Paraná, Brasil. Prof. Msc. Daniel Molina Botache - Universidad del Tolima, Colômbia. Prof. Dr. Armando Carlos de Pina Filho- Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. Prof. Dr. Hudson do Vale de Oliveira- Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Roraima, Brasil. Profª. Msc. Juliana Barbosa de Faria - Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Brasil. Profª. Esp. Marília Emanuela Ferreira de Jesus - Universidade Federal da Bahia, Brasil. Prof. Msc. Jadson Justi - Universidade Federal do Amazonas, Brasil. Profª. Drª. Alexandra Ferronato Beatrici - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Brasil. Profª. Msc. Caroline Gomes Mâcedo - Universidade Federal do Pará, Brasil. Prof. Dr. Dilson Henrique Ramos Evangelista - Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Brasil. Prof. Dr. Edmilson Cesar Bortoletto - Universidade Estadual de Maringá, Brasil. Prof. Msc. Raphael Magalhães Hoed - Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, Brasil. Profª. Msc. Eulália Cristina Costa de Carvalho - Universidade Federal do Maranhão, Brasil. Prof. Msc. Fabiano Roberto Santos de Lima - Centro Universitário Geraldo di Biase, Brasil. Profª. Drª. Gabrielle de Souza Rocha - Universidade Federal Fluminense, Brasil.
Prof. Dr. Helder Antônio da Silva, Instituto Federal de Educação do Sudeste de Minas Gerais, Brasil. Profª. Esp. Lida Graciela Valenzuela de Brull - Universidad Nacional de Pilar, Paraguai. Profª. Drª. Jane Marlei Boeira - Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Brasil. Profª. Drª. Carolina de Castro Nadaf Leal - Universidade Estácio de Sá, Brasil. Prof. Dr. Carlos Alberto Mendes Morais - Universidade do Vale do Rio do Sino, Brasil. Prof. Dr. Richard Silva Martins - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul Rio Grandense, Brasil. Profª. Drª. Ana Lídia Tonani Tolfo - Centro Universitário de Rio Preto, Brasil. Prof. Dr. André Luís Ribeiro Lacerda - Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil. Prof. Dr. Wagner Corsino Enedino - Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil. Profª. Msc. Scheila Daiana Severo Hollveg - Universidade Franciscana, Brasil. Prof. Dr. José Alberto Yemal - Universidade Paulista, Brasil. Profª. Drª. Adriana Estela Sanjuan Montebello - Universidade Federal de São Carlos, Brasil. Profª. Msc. Onofre Vargas Júnior - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano, Brasil. Profª. Drª. Rita de Cássia da Silva Oliveira - Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brasil. Profª. Drª. Leticia Dias Lima Jedlicka - Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Brasil. Profª. Drª. Joseina Moutinho Tavares - Instituto Federal da Bahia, Brasil Prof. Dr. Paulo Henrique de Miranda Montenegro - Universidade Federal da Paraíba, Brasil. Prof. Dr. Claudinei de Souza Guimarães - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. Profª. Drª. Christiane Saraiva Ogrodowski - Universidade Federal do Rio Grande, Brasil. Profª. Drª. Celeide Pereira - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Brasil. Profª. Msc. Alexandra da Rocha Gomes - Centro Universitário Unifacvest, Brasil. Profª. Drª. Djanavia Azevêdo da Luz - Universidade Federal do Maranhão, Brasil. Prof. Dr. Eduardo Dória Silva - Universidade Federal de Pernambuco, Brasil. Profª. Msc. Juliane de Almeida Lira - Faculdade de Itaituba, Brasil. Prof. Dr. Luiz Antonio Souza de Araujo - Universidade Federal Fluminense, Brasil. Prof. Dr. Rafael de Almeida Schiavon - Universidade Estadual de Maringá, Brasil. Profª. Drª. Rejane Marie Barbosa Davim - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil. Prof. Msc. Salvador Viana Gomes Junior - Universidade Potiguar, Brasil. Prof. Dr. Caio Marcio Barros de Oliveira - Universidade Federal do Maranhão, Brasil. Prof. Dr. Cleiseano Emanuel da Silva Paniagua - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Brasil. Profª. Drª. Ercilia de Stefano - Universidade Federal Fluminense, Brasil.
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Brazilian Journals Editora São José dos Pinhais – Paraná – Brasil
www.brazilianjournals.com.br [email protected]
D541f Dias, Daniel Damous
Fisiopatologia das Principais Doenças Associadas ao Vírus Linfotrópico de Células t Humano Tipo I / Daniel Damous Dias, Marco Antonio Ribeiro Vieira Junior, Renan Rodrigo Corrêa Gomes. São José dos Pinhais: Editora Brazilian Journals, 2021. 47 p.
Formato: PDF Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader Modo de acesso: World Wide Web Inclui: Bibliografia ISBN: 978-65-86230-46-8 DOI: 10.35587/brj.ed.0000703
1. Fisiopatologia. 2. Hltv. I. Dias, Daniel Damous. II. Junior, Marco Antonio Ribeiro Vieira. III. Gomes, Renan Rodrigo Corrêa. IV. Dr(a) Arnaldo Jorge Martins Filho. V. Título.
CDU - 577
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
AUTORES
Daniel Damous Dias - Foi bolsista de iniciação científica pelo CNPq junto ao Laboratório de Entomologia Médica da Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas do Instituto Evandro Chagas. Possui Graduação em Biomedicina pela Universidadade da Amazônia (UNAMA) e atualmente é Mestrando pelo Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária na Amazônia da Universidade do Estado do Pará (UEPA) em parceria com o Instituto Evandro Chagas (IEC). Renan Rodrigo Corrêa Gomes - Graduado em Ciências Naturais pela Universidade do Estado do Pará (UEPA) e Biomedicina pela Universidade da Amazônia (UNAMA). Atualmente é pós-graduando em Biologia Celular e Molecular pela Faculdade Única de Ipatinga. Marco Antônio Ribeiro Vieira Júnior - Graduado em Biomedicina pela Universidade da Amazônia
APRESENTAÇÃO
Esta publicação trata-se de um estudo profundo da literatura sobre a fisiopatologia das principais doenças associadas ao Vírus Linfotrópico de Células T Humano Tipo I (HTLV-I), um vírus ainda desconhecido por grande parte da sociedade e que até o momento não possui cura para a sua infecção.
Nesta edição, ressaltam-se as principais características referentes às vias de transmissão, os mecanismos de infecção do HTLV-I e as consequências para os indivíduos portadores, emitindo um importante alerta para a saúde pública e assim refletir na necessidade de discutir novas estratégias que viabilizem políticas de enfrentamento mais eficazes.
Este livro cumpre a função de promover uma reflexão a cerca da importância de políticas públicas direcionadas para a mudança no cenário de doenças negligenciadas, com foco nas enfermidades associadas ao HTLV-I e as dificuldades no diagnóstico, atendimento e acompanhamento dos portadores deste vírus, sugerindo a elaboração de novas pesquisas para aprofundar o conhecimento da fisiopatologia da infecção pelo HTLV-I.
RESUMO: O vírus Linfotrópico de células T humano Tipo 1 (HTLV-I) é um vírus de RNA pertencente a família retroviridae, assim como o HIV, e está frequentemente associado a uma mielopatia inflamatória conhecida como Paraparesia espástica tropical, a leucemia/linfoma de células T em adultos, Uveíte e a Dermatite Infecciosa. O HTLV-I apresenta três vias de transmissão: através de relações sexuais desprotegidas com pessoas infectadas, compartilhamento de materiais perfurocortantes e a transmissão materno-infantil a qual pode ocorrer pelo contato da criança com o sangue contaminado da mãe, no momento do parto, ou através da amamentação. Estima-se que exista de 15 a 20 milhões de infectados pelo HTLV-I no mundo e que grande parcela desta população desconheça ser portadora do vírus, devido ao fato de que na maioria dos casos a infecção é assintomática. No cenário mundial o HTLV-I apresenta certa endemicidade em regiões da Ásia (principalmente Japão), África equatorial, Oriente Médio, América Central e América do Sul (Destacando-se o Brasil). No Brasil não há diagnóstico para o HTLV-I nos serviços primários de saúde pública, os dados sobre infectados se baseiam principalmente a partir das triagens sorológicas em bancos de sangue, estas instituições obedecem à recomendação do Ministério da Saúde, o qual institui que primeiramente sejam feitos testes de triagem (ELISA Indireto e Aglutinação) e posteriormente testes confirmatórios (Imunofluorescência Indireta, Western blot e PCR). Esta limitação no diagnóstico da infecção pelo HTLV-I associada a carência de estudos epidemiológicos e do pouco conhecimento a respeito da infecção e da fisiopatologia das doenças associadas ao vírus, refletem na qualidade do tratamento dos portadores, que muitas vezes recebem diagnósticos incorretos e desconhecem os reais efeitos da infecção. Este trabalho propõe a aplicação de uma revisão bibliográfica com a finalidade de informar e discutir os modos de transmissão e as doenças associadas a infecção, bem como analisar a fisiopatologia das principais doenças associadas ao HTLV-I e desse modo chamar atenção para aspectos fisiopatológicos que ainda não estão totalmente esclarecidos.
PALAVRAS CHAVES: HTLV-I, Mielopatia, Leucemia de Células T, Paraparesia Espástica Tropical.
ABSTRACT: The Human T-cell Lymphotropic Virus Type 1 (HTLV-I) is an RNA virus belonging to the retroviridae family, as well as HIV, and is often associated with an inflammatory myelopathy known as tropical spastic paraparesis, adult T-cell leukemia/lymphoma, Uveitis, and Infectious Dermatitis. HTLV-I has three routes of transmission: through unprotected sex with infected persons, sharing sharps and mother-to-child transmission, which may occur through contact with the mother's contaminated blood at the time of delivery, or through breastfeeding. It is estimated that there are 15 to 20 million HTLV-I-infected in the world and a large portion of this population is unaware of the virus, due to the fact that in most cases the infection is asymptomatic. In the world scenario, HTLV-I has some endemicity in regions of Asia (mainly Japan), Equatorial Africa, Middle East, Central America and South America (Notably Brazil). In Brazil there is no diagnosis for HTLV-I in primary public health services, data on infected are mainly based on serological screening in blood banks, these institutions follow the recommendation of the Ministry of Health, which establishes that first be screening tests were performed (Indirect ELISA and Agglutination) and subsequently confirmatory tests (Indirect Immunofluorescence, Western blot and PCR). This limitation in the diagnosis of HTLV-I infection associated with the lack of epidemiological studies and the lack of knowledge about the infection and pathophysiology of virus-associated diseases, reflect on the quality of treatment of carriers, who often receive incorrect diagnoses and do not know the real effects of the infection. This paper proposes the application of a literature review to inform and discuss the modes of transmission and diseases associated with infection, as well as to analyze the pathophysiology of the main diseases associated with HTLV-I and thus draw attention to pathophysiological aspects that are not yet fully understood. KEY WORDS: HTLV-I, Myelopathy, T-cell Leukemia, Tropical Spastic Paraparesis.
SUMÁRIO CAPÍTULO 01 .................................................................................................................. 1
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 02 .................................................................................................................. 3
JUSTIFICATIVA
CAPÍTULO 03 .................................................................................................................. 4
OBJETIVOS
CAPÍTULO 04 .................................................................................................................. 5
METODOLOGIA
CAPÍTULO 05 .................................................................................................................. 6
HTLV-I VIRUS E SUA TRANSMISSÃO
CAPÍTULO 06 .................................................................................................................. 9
EPIDEMIOLOGIA
CAPÍTULO 07 ................................................................................................................ 11
FISIOPATOLOGIA DAS PRINCIPAIS DOENÇAS ASSOCIADAS AO HTLV-I
CAPÍTULO 08 ................................................................................................................ 22
DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO PELO HTLV-I
CAPÍTULO 09 ................................................................................................................ 27
TRATAMENTO DAS PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES
CAPÍTULO 10 ................................................................................................................ 29
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 30
1
CAPÍTULO 01
INTRODUÇÃO
O vírus linfotrópico de células T humano Tipo I (HTLV-I) é um retrovírus de
RNA da família Retroviridae, o qual possui dois sorotipos conhecidos: HTLV-I e
HTLV-II (LOUREIRO, 2008). O HTLV-I foi isolado pela primeira vez em 1980, nos
Estados Unidos, a partir de linfócitos de pacientes diagnosticados com linfoma
cutâneo, já o HTLV-II foi isolado dois anos depois, a partir de células esplênicas de
pacientes com leucemia de células pilosas, no entanto ainda não foi associado à
doença humana (ARAÚJO, 2012).
O HTLV-I infecta linfócitos T humanos e é frequentemente associado a uma
doença inflamatória conhecida como Paraparesia espástica tropical e a
leucemia/linfoma de células T em adultos, porém os mecanismos que desencadeiam
tais patologias ainda não foram completamente elucidados (SANTOS &
RODRIGUES, 2012).
A infecção pelo HTLV-I apresenta certas questões que tornam estudos
epidemiológicos mais dificultosos, dentre as quais o período de latência
indeterminado, o qual pode ser de décadas ou se estender durante toda a vida do
indivíduo sem que o mesmo apresente qualquer sintoma (MENDES, 2010).
A transmissão desse vírus segue a mesma linha dos retrovírus, ocorrendo
através de relações sexuais desprotegidas com pessoa infectada, transfusão de
sangue contaminado e transmissão materno-infantil, principalmente por meio do
aleitamento materno, sendo estas duas últimas formas de contágio mais raras,
devido aos testes de triagem sorológica que já são feitos em bancos de sangue e
bancos de leite (PEREIRA & MESQUITA, 2015).
O diagnóstico precoce para a infecção pelo HTLV-I nos serviços primários de
saúde pública é inexistente, principalmente pelo fato de que na maioria dos casos a
infecção permanece assintomática durante muito tempo, possibilitando assim que o
indivíduo dissemine o vírus sem ter conhecimento de que é soropositivo
(HORIGUCHI et al., 2014). A triagem sorológica nos bancos de sangue é a principal
forma de diagnóstico investigativo a respeito do HTLV-I, e para este diagnóstico, é
orientado que seja aplicado primeiramente uma etapa de triagem, utilizando
principalmente os testes de ELISA Indireto e Aglutinação de partículas,
2
posteriormente as amostras positivas devem ser submetidas aos testes
confirmatórios Western blot e da reação em cadeia de polimerase (PCR)
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013).
A infecção pelo HTLV-I não tem cura e não há indicação de tratamento
nos casos assintomáticos, porém nos indivíduos portadores que apresentam
complicações neurológicas (mielopatia) é aconselhado acompanhamento
contínuo com neurologista para administração de fármacos que visem amenizar
determinados sintomas e em casos em que o portador apresente complicações
motoras é indicado uso de relaxantes musculares, juntamente com seções de
fisioterapia (CASTRO-COSTA et al., 2005).
Os dados à cerca do número de infectados pelo HTLV-I no mundo são
baseados em estimativas e sugerem um valor em torno de 10 a 20 milhões de
portadores de HTLV-I e apesar de o vírus notadamente circular por todo o
planeta, observa-se uma prevalência, segundo localização geográfica e fatores
étnicos (SIQUEIRA et al., 2009).
Fabbro et al., (2008) comentam que áreas como o sudeste do Japão, ilhas
do Caribe, América do Sul e África Equatorial são regiões que apresentam alta
prevalência para HTLV-I, assim como a maioria dos infectados serem mulheres
com idade relativamente elevada e muitas nem terem conhecimento a respeito
da doença, por isso torna-se importante a execução de estudos e campanhas
que visem a difusão de informações a respeito do HTLV-I e seus impactos na
saúde humana.
No cenário nacional Mello (2013) relata que o vírus HTLV-I está presente
em todo o território brasileiro, se mostrando mais presente nas regiões Norte e
Nordeste e que o Brasil possui cerca de 2,5 milhões de portadores do vírus,
sendo o país com maior taxa de infectados no mundo.
3
CAPÍTULO 02
JUSTIFICATIVA
Santos e Lima (2005) reinteram sobre a carência de estudos
epidemiológicos da população em geral, que possibilitem conhecer a real
prevalência do vírus HTLV-I em território nacional, os autores ressaltam que a
maioria dos dados de prevalência do HTLV-I são obtidos a partir da análise de
doadores nos bancos de sangue ou em centros hemoterápicos.
Medeiros (2017) atenta ao fato de que os levantamentos epidemiológicos
relativos a prevalência do HTLV-I são insuficientes para entender a real dinâmica
da infecção, pois a notificação de casos não é compulsória. O autor chama a
atenção também para o fato da triagem para o HTLV-I não fazer parte da rotina
obrigatória do pré-natal, o que pode potencializar a transmissão do vírus através
do aleitamento materno.
Pereira e Mesquita (2015) afirmam que há um desconhecimento da
população em relação ao vírus HTLV-I, os autores ressaltam que mesmo entre
os profissionais da saúde a falta de conhecimento técnico-científico a respeito do
vírus é recorrente e que este fato colabora para a morosidade no diagnóstico e
laudos incorretos o que dificulta o tratamento dos portadores e das doenças
associadas a este vírus. Cruz (2011) discute que a ampla disseminação do
HTLV-I é favorecida pela falta de conhecimento a respeito desse vírus, este fato
sustenta-se a escassez de estudos, políticas públicas de saúde, mobilização da
população e a hábitos e costumes em diferentes segmentos sociais.
Este trabalho objetiva fazer uma revisão na literatura a respeito da
fisiopatologia das principais doenças associadas ao vírus Linfotrópico de células
T Humano Tipo I, relatando como ocorre a infecção e transmissão deste vírus, o
diagnóstico e o tratamento das principais complicações, bem como evidenciar o
cenário de negligência por parte do poder público em relação ao diagnóstico,
atendimento e acompanhamento dos portadores deste vírus e a necessidade de
elaboração de novas pesquisas para aprofundar o conhecimento da
fisiopatologia da infecção pelo HTLV-I.
4
CAPÍTULO 03
OBJETIVOS
Objetivo geral
• Analisar a fisiopatologia das principais doenças associadas à infecção pelo
vírus Linfotrópico de células T humano tipo I.
Objetivos específicos
• Comentar sobre as principais metodologias de diagnóstico da infecção pelo
HTLV-I;
• Discorrer sobre as medidas de tratamento das principais
complicações decorrentes da infecção pelo HTLV-I.
5
CAPÍTULO 04
METODOLOGIA
4. TIPO DE ESTUDO
Este trabalho foi elaborado a partir de uma revisão na literatura nas bases
de dados PUBMED, SCIELO, Portal de Periódicos CAPES e ARCA (FIOCRUZ),
bem como pesquisas livres na plataforma Google. As palavras-chave utilizadas
para a pesquisa dos artigos foram HTLV-I, Paraparesia espástica,
Leucemia/Linfoma de células T, Fisiopatologia HTLV e suas respectivas
correspondentes em língua inglesa.
4.1 COLETA DE DADOS
A compilação de artigos ocorreu nos meses de Janeiro a Novembro de
2019, totalizando 171 artigos, os quais foram selecionados de modo que
contemplassem os objetivos propostos neste estudo e que não tivessem mais de
15 anos de publicação, entretanto, alguns artigos foram exceção a este critério,
pelo fato de representarem descobertas ou colocações significativas ao ponto de
ainda serem citados em vários artigos atuais.
4.2 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
A análise e discussão dos dados obtidos a partir da leitura dos artigos
ocorreu no período de Maio a Novembro de 2019 seguindo a linha de raciocínio
do presente trabalho, destacando artigos que contemplassem os mecanismos de
infecção, transmissão, fisiopatologia das principais doenças associadas ao vírus
HTLV-I e aspectos relacionados ao histórico e filogenia deste vírus.
6
CAPÍTULO 05
HTLV-I VIRUS E SUA TRANSMISSÃO
O HTLV-I é um vírus que infecta linfócitos T de seres humanos e foi o
primeiro retrovírus humano a ser descrito, sendo associado a Leucemia de células T
do adulto (ATLL) e a paraparesia espástica tropical (HAM/TSP) (LANNES et
al., 2006).
A partícula viral do HTLV-I apresenta envelope constituído em sua maior
parte pelas proteínas gp21 e gp46, o RNA e as enzimas virais localizam-se no
interior do capsídeo viral, constituído pela proteína p24, este capsídeo é envolvido
por uma matriz constituída pela proteína p19 (Figura 1).
Figura 1 - Representação da partícula viral HTLV-I.
Fonte: Ministério da Saúde (2004).
Segundo a classificação viral, o HTLV-I pertence à família Retroviridae,
subfamília Orthoretrovirinae e ao gênero Deltaretrovírus, possuindo duas fitas
simples de RNA, sendo cada uma acompanhada por uma molécula da enzima
transcriptase reversa, a qual retrotranscreve o RNA em DNA viral e insere este DNA
viral no núcleo da célula hospedeira, produzindo os pró-vírus (CABRAL, 2010).
A integração dos pró-vírus ao genoma da célula hospedeira fomenta a
multiplicação do vírus a partir da síntese de RNA viral, utilizando-se o DNA pró-viral
7
como molde (PROIETTI, 2015). O RNA viral será empacotado, formando partículas
virais que serão maturadas a partir da proteólise de proteínas do capsídeo, após
este processo obtêm-se a partícula viral madura com capacidade infecciosa (Figura
2) (OTAGUIRI, 2013).
Figura 2 - Esquema da replicação do HTLV-I.
Fonte: Ministério da Saúde (1998).
A transmissão do HTLV-I acontece de maneira semelhante ao vírus HIV,
podendo caracterizar-se em três vias: Transmissão por contato sexual
desprotegido com pessoa infectada, transmissão materno-infantil e transmissão
parental (CAMPOS, 2016).
Romanelli et al., (2010) apontam que a transmissão por relações sexuais
desprotegidas com pessoas infectadas é a principal forma de contágio, e que
este tipo de transmissão ocorre com maior frequência do homem infectado para
a mulher, representando uma taxa de risco de 61 %, sendo mais rara a
transmissão de mulher infectada para o homem (taxa de risco de 0,4 %), por
fatores possivelmente ligados a morfofisiologia do trato genito-urinário feminino e
a questões socioeconômicas.
8
Mello (2013) discorre que as relações sexuais desprotegidas atreladas a
fatores como múltiplos parceiros sexuais e a presença de lesões ou feridas nas
genitálias são elementos que aumentam o risco de transmissão do HTLV-I por
via sexual, sendo o uso de preservativos a melhor maneira de se prevenção
contra esta infecção.
O Ministério da Saúde (2013) aponta que a transmissão materno-infantil
pode ocorrer em virtude do contato da criança com o sangue materno infectado
durante o parto ou por meio da amamentação, no qual a mãe infectada transmite
o vírus para seu filho através do leite materno. O autor ressalta que a detecção
da infecção no pré-natal e a não amamentação em caso de infecção materna,
são as principais medidas de prevenção à transmissão materno-infantil.
A transmissão pela via parental pode ocorrer através do compartilhamento
de agulhas, seringas ou outros materiais perfuro-cortantes que estejam com
sangue contaminado, este tipo de transmissão é muito comum entre usuários de
drogas intravenosas (SANTOS, 2013).
A transmissão através da doação de sangue ocorre muito raramente, pois
desde 1993 os bancos de sangue são obrigados a fazer triagem sorológica para
o HTLV, o que possibilitou reduzir drasticamente os casos de infecção por esta
via de transmissão (CAMPOS, 2016).
9
CAPÍTULO 06
EPIDEMIOLOGIA
O HTLV-I é mundialmente distribuído, apresentando-se endêmico no Japão,
América Central e do Sul, África Equatorial, Oriente Médio e Malanésia. Estima-se
que 15 a 20 milhões de pessoas estão infectadas pelo HTLV-I no mundo
(BLATTNER, 1987; ESHIMA et al., 2009; ARRUDA et al., 2019).
A origem do vírus é amplamente discutida, algumas pesquisas sugerem que
o HTLV-I tenha se originado na África, por transmissão interespécies, a partir de
primatas não-humanos, sendo levado ao novo mundo (Caribe, estados unidos e
América do Sul) pelos negros africanos durante o período de tráfico de escravos no
século 16 (MANNS & BLATTNER, 1991; AMOUSSA, 2018).
De acordo com achados arqueológicos, antropológicos e genéticos, as
migrações dos ancestrais ameríndios ocorreram em duas ou mais rotas
independentes. Da mesma forma, os movimentos migratórios, em direção à América
do Sul, também ocorreram por meio de duas rotas possíveis: uma em direção à
Amazônia e outra descendo a costa do pacífico paralelamente à cordilheira dos
Andes (ROTHHAMMER, 1989; NEMEK, 2000).
A presença do HTLV-I entre descendentes de africanos residentes no Caribe
e na América Latina, sugere que a África é o reservatório primário desse vírus
(GOUBAU et al., 1990). Especificamente nas Américas, muitos estudos da
heterogenicidade molecular entre isolados virais de várias regiões como África e
Ásia, sugerem que o HTLV chegou neste continente há cerca de 12.000 anos
através de migrações oriundas da Ásia (MANNS & BLATTNER, 1991;
AMOUSSA, 2018).
Quase 20 anos após a identificação do vírus linfotrópico humano um padrão
epidemiológico se evidencia: um comportamento de “cluster”, ou seja, tendência a
agrupamento, em áreas geográficas diferentes pelo mundo (Figura 3). Há variação
da prevalência de acordo com a região geográfica; a prevalência aumenta com a
idade, sendo a soropositividade maior no sexo feminino (MANNS & BLATTNER,
1991). O fato do vírus se apresentar de forma endêmica em grupos raciais
diferentes parece refletir a tendência de cluster da infecção e não uma
predisposição genética para adquirir o vírus, porém o fator genético parece ser
10
importante no desenvolvimento de patologias nos infectados (SOARES et al., 2001).
Figura 3 - Estimativas do número de portadores infectados pelo HTLV-I com base em aproximadamente 1,5 bilhão de indivíduos de áreas endêmicas conhecidas e dados epidemiológicos.
Fonte: Adaptado de A. Gessain and O. Cassar (2012).
Numerosos estudos sobre a prevalência do HTLV-I têm sido realizados em
alguns países, especialmente Brasil, Peru, Colômbia, Chile, Argentina e Guiana
Francesa, pois o continente Americano representa a maior área endêmica para
infecção pelo HTLV-I e doenças associadas (GESSAIN & CASSAR, 2012). No Brasil,
o HTLV-I foi primeiramente descrito em 1986, por Kitagawa et al., em uma
comunidade japonesa residente em Campo Grande (MS), com soroprevalência de
13 %, sendo a maioria dos indivíduos oriundos de Okinawa, sul do Japão (KAPLAN
et al., 1990).
O HTLV-I encontra-se presente em todos os estados onde foi pesquisado, com
prevalências variadas (ISHAK et al., 2003), sendo considerado endêmico,
principalmente no estado da Bahia (MEXOTO et al., 2007). Estimativas apontam que
aproximadamente 2,5 milhões de pessoas estejam infectadas pelo vírus, o que torna
o Brasil o país com maior número absolutos de casos, essa alta prevalência varia
entre as regiões brasileiras, apresentando baixa ocorrência na região Sul do país e
alta nas regiões Norte e Nordeste (GLÓRIA et al., 2015).
Apesar de a região Norte do país apresentar elevada prevalência para o
HTLV-I, estudos envolvendo o perfil epidemiológico em Belém, no Estado do Pará,
Brasil, ainda são escassos (GLÓRIA et al., 2015; SILVA et al., 2018).
11
CAPÍTULO 07
FISIOPATOLOGIA DAS PRINCIPAIS DOENÇAS ASSOCIADAS AO HTLV-I
O HTLV-I é agente etiológico que pode estar associado à leucemia/linfoma de
células T (ATLL) do adulto (UCHIYAMA et al., 1987), a paraparesia espástica
tropical associada ao HTLV-I (GESSAIN et al., 1985), sendo também, relacionado a
outros quadros clínicos como dermatite infecciosa (NISHIOKA et al., 1989;
MORGAN et al., 1998), uveíte (MOCHIZUKI et al., 1996), entre outras. Embora a
grande maioria dos infectados permaneça como portador assintomático, cerca de
1 % (KONDO et al., 1987) a 5 % (BLATTNER et al., 1982) desses indivíduos tem
chance de desenvolver algum tipo de doença associada ao HTLV-I (OLIVEIRA et
al., 2017).
7.1 LEUCEMIA/LINFOMA DE CÉLULAS T DO ADULTO
A Leucemia/linfoma de células t do adulto (ATLL) ocorre em cerca de 5 % dos
indivíduos infectados, manifestando-se em geral, após longo período de latência e
constitui forma grave de leucemia/linfoma, que ocorre na vida adulta, pelo menos 20
a 30 anos após a infecção, sendo que homens e mulheres são igualmente afetados,
entretanto, indivíduos infectados na infância tem maior risco de desenvolver ATLL
(MURPHY et al., 1989; PROIETTI, 2015).
A leucemia de célula T do adulto é uma agressiva proliferação linfóide
associada à infecção pelo HTLV-I (UCHIYAMA et al., 1977) o qual causa
transformação e expansão clonal de células T, resultando em aproximadamente 1 -
4 % com um número estimado de 10 a 20 milhões de hospedeiros infectados, com
uma média no período de latência maior que 50 anos (KAPLAN, 1993; GESSAIN et
al., 1996). A média de tempo estimada entre infecção pelo HTLV-I e malignância é
de 20 a 30 anos (TUKODOME et al., 1989)
Dados epidemiológicos indicam que a ATLL se desenvolve principalmente em
indivíduos infectados no nascimento e sugere que a idade no início da infecção viral
pode ser importante para o desenvolvimento da leucemia (YAMAGUCHI et al.,
1983; MURPHY et al., 1989; BLATTNER, 1990). No Japão, o período de latência da
doença é em média 60 anos, enquanto no Brasil a doença manifesta-se uma
década mais cedo, não responde satisfatoriamente à quimioterapia e é geralmente
fatal (BITTENCOURT & FARRÉ, 2008; ROMANELLI, 2010).
12
A ATLL afeta quase exclusivamente adultos e é extremamente rara em
crianças, embora alguns casos infantis tenham sido descritos (POMBO et al., 1990).
Os indivíduos soropositivos assintomáticos que apresentam integração monoclonal
do DNA proviral nos linfócitos do sangue periférico são considerados casos pré-
ATLL, esta condição ocorre em cerca de 1,7 % dos portadores (IMAIZUMI et
al., 2005).
A malignidade da ATLL é caracterizada por apresentar quadros de
hipercalemia, hepatomegalia, esplenomegalia, linfodenopatia, envolvimento da pele
e presença de linfócitos anormais, além de manifestações clínicas gerais como mal-
estar, febre, dispinéia, dor abdominal, sede, sonolência e icterícia (UCHIYAMA et
al., 1977; TAKATSUKI, 2005). No soro de pacientes com ATLL são detectados altos
níveis de Lipoproteína de Alta Densidade (HDL) e forma solúvel de interleucina-2 de
cadeia alpha e aparência de característica de células leucêmicas profundamente
contorcidas ou núcleo lobulado (UCHIYAMA, 1997; UCHIYAMA, 1977; TAKTSUKI,
1977). Os diversos aspectos clínicos da ATLL proporcionaram quatro subdivisões,
as quais denominam-se aguda, crônica, linfomatosa e indolente (UCHIYAMA, 1997).
A ATLL de forma aguda é mais agressiva, apresenta aspectos clínicos como
linfadenomegalia, hepatosplenomegalia, lesões gastrointestinais, cutâneas, ósseas
e do sistema nervoso central, algumas características do curso da doença a
excluem dos demais subtipos (UCHIYAMA, 1997). As principais manifestações são
leucemia aguda, abundância de linfócitos atípicos no sangue, hipercalemia e lesões
cutâneas. Dada a agressividade desta forma, há rápida evolução para o óbito
(SHINOYIAMA, 1991).
Shinoyiama (1991) relata que a forma crônica da ATLL se assemelha a forma
aguda, devido a diversidade de características clínicas semelhantes, entretanto, os
pacientes crônicos apresentam linfocitose absoluta, incluindo presença de linfócitos
T anormais e ocasionalmente células em formato de flor. O autor comenta que os
valores de HDL apresenta-se duas vezes maior que o valor normal, não exibindo
hipercalemia ou envolvimento do Sistema Nervoso Central, ossos e trato
gastrointestinal, porém pode apresentar envolvimento linfonodal, de fígado, baço,
pele e/ou pulmões e no sangue periférico podem ser identificados 5 % ou mais de
linfócitos anormais (Figura 4).
13
Figura 4 - Presença de pápulas disseminadas recorrentes na fase crônica em um adolescente que teve dermatite infeciosa associada ao HTLV-I
Fonte: Bittencourt & Farré (2008).
Na forma indolente da ATLL os pacientes apresentam um nível normal de
linfócitos (<4x109/l) e 5 % ou mais de linfócitos de células T no sangue periférico.
Parâmetros bioquímicos como Desidrogenase lática (LDH) aumenta em até 1,5
vezes do valor normal; há ausência de derramamentos cavitários, acometimento do
sistema nervoso central, baço, fígado, ossos e trato gastrointestinal, entretanto,
pode haver lesões na pele e/ou pulmão (Figura 5). No caso dos pacientes que
apresentam Linfócitos T anormais no sangue periférico com valor menor que 5 %, é
necessário que o estudo histológico comprove lesões cutâneas e pulmonares
(SHINOYIAMA, 1991).
Figura 5 - Eritrodermia e descamação acentuada observadas na forma Indolente.
Fonte: Bittencourt & Farré (2008).
14
Na forma linfomatosa da ATLL há presença de linfadenomegalia, ausência de
linfocitose com 1 % ou menos de linfócitos anormais, para esta classificação é
necessária comprovação histológica de linfadenopatia e nenhuma manifestação
leucêmica, a qual é definida como ausência de linfocitose (<4x109/l) (SHINOYIAMA,
1991).
7.2 PARAPARESIA ESPÁSTICA TROPICAL/MIELOPATIA ASSOCIADA AO HTLV-I
A paraparesia espástica tropical (TSP/HAM) é uma doença inflamatória
imune correlatada à infecção pelo HTLV-I (GESSAIN, 2000; COUTINHO et al.,
2011), na qual tecidos e nervos podem ser danificados, principalmente ocular,
reumática e dermatológica, sendo predominante em áreas tropicais (CASTRO-
COSTA et al., 1994), estima-se que 20 milhões de indivíduos estejam infectados no
mundo GESSAIN (2000), entretanto apenas uma pequena proporção, em torno de
0,25 a 5 % dos portadores do vírus desenvolve o quadro de mielopatia
(GONDIM, 2016).
Castro-Costa (1996) caracterizou como uma doença de evolução lenta e
progressiva, apresentando sinais piramidais variáveis e diversos graus de injúrias
esfincterianas e sensitivos, já os membros superiores (exceto hiperreflexia) bem
como as funções cerebrais e do tronco encefálico são eximidos na mielopatia por
HTLV, pois a afecção acomete preferencialmente os níveis mais baixos da medula
torácica ROPPER (2009), análises neurológicas geralmente mostram fraqueza e
espasticidade nos membros inferiores com padrão adutor. (ARAÚJO et al., 1998;
MILAGRES, 1998).
Um estudo realizado por FRANZOI (2007) revelou que as características
epidemiológicas dos pacientes não apresentaram divergência quando comparadas
aos dados presentes na literatura, no qual pacientes foram predominantemente
mulheres cuja média de idade é de 40 anos e que devido sua alta prevalência no
Brasil tem havido uma crescente demanda para tratamento de reabilitação de
indivíduos com TSP/HAM nos últimos anos.
A principal manifestação sintomática é a Síndrome do neurônio motor
superior, originando-se em uma das pernas, sendo evidente na parte proximal,
progredindo para bilateralidade no curso da doença em meses ou anos, com a
evolução da doença, a mobilidade do paciente passa a restringir-se ao uso de
cadeira de rodas (COOPER, 2009). Ropper (2009) cometa que os sinais sensoriais
apresentam redução das sensações vibratórias e proprioceptivas difusamente
15
abaixo do nível torácico, além de dormência, dores lombares que muitas vezes
irradia para a perna. O autor relata que achados como Sinal de Babinski e
hiperreflexia (com predomínio nos membros inferiores) são frequentes e comumente
observados e as manifestações neurodegenerativas como atrofia muscular
neurogênica ou polimiosite são raramente relatadas.
A progressão da doença contribui para o surgimento de disfunções na bexiga
e intestino, além de severa constipação, infecções urinárias são recorrentes devido
a dissinergia do músculo destrusor do esfincter durante a micção, sendo estas
complicações do trato urinário secundário os principais agravos (ARAÚJO, 2002;
MORI et al., 2004). A sintomatologia da infecção pode mostrar-se atípica,
apresentando possíveis complicações na qual o paciente pode relatar febre, mal-
estar, forte desconforto abdominal, litíase urinária, vesículo-refluxo uretral,
pielonefrite crônica, insuficiência renal crônica e sepse no trato urinário (RIBAS et
al., 2002; MORI et al., 2004).
Outras possíveis manifestações da TSP/HAM são síndromes cerebelares,
encefalites, esclerose lateral amiotrófica e Parkinson, dessa maneira, há grande
necessidade de se considerar um diagnóstico diferencial de condições neurológicas
de origem desconhecida (VERDONCK et al., 2007; GONÇALVES et al., 2008;
COOPER (2009). Atualmente são poucos os estudos de evidência epidemiológica
que possam certificar a associação de tais complicações com a infecção pelo HTLV-
I (COOPER, 2009).
ARAÚJO et al., (2009) sugerem que em áreas endêmicas para HTLV-I testes
devem ser realizados em pacientes com sinais e sintomas de mieolopatia e
anormalidades na substância branca do cérebro (através de imagem por
ressonância magnética), de modo que se possa averiguar a possível associação de
tais alterações com a infecção pelo HTLV-I. Os mecanismos de fisiopatogênese da
TSP/HAM, os quais promovem as lesões no tecido nervoso, ainda não estão bem
elucidados, pois não está claro se a mielopatia se desenvolve devido à uma
resposta imunológica celular e humoral contra às células infectadas ou pela
citotoxicidade da própria infecção viral (PROIETTI, 2015). Embora o sítio mais
frequente de lesão do sistema nervoso na infecção pelo HTLV-I seja a corda
espinhal torácica, que conduz o desenvolvimento da TSP/HAM, o vírus pode afetar
todos os componentes neuroaxiais, incluindo músculos, porém o dano muscular não
é relacionado pela invasão direta das fibras musculares pelo o vírus, mas pelo
16
processo de imuno-mediação (OZDEN et al., 2004).
Mesmo com considerável viremia, os portadores assintomáticos de TSP/HAM
apresentam marcadores imunológicos tal como hipergamaglobulinemia com altos
títulos de anticorpos para HTLV-I, níveis elevados de citocinas pró-inflamatórias,
tanto no soro como no fluido cérebro-espinhal, além da crescente frequência de
elevadas populações e subpopulações de células T no sangue periférico e medula
espinhal afetada (NAGAI et al., 1998; GRETEN et al., 1998).
A mielopatia conduz um processo inflamatório de desmielinização crônica e
progressivo (Figura 6), em níveis baixos da medula (torácica baixa, lombar e sacra),
ocasionado pela infiltração parenquimatosa de células CD4 (linfócito helper
modificado) (MERSKEY & BOGDUK, 1994). A inflamação envolve a medula
espinhal, provocando comprometimentos motores (fraqueza e espasticidade em
membros inferiores); sensitivos (parestesias e dores neuropáticas), distúrbios
esfincterianos vesicais e instinais, além de disfunção erétil no homem (MERSKEY &
BOGDUK, 1994); (OSAME et al., 1987); (FURUKAWA et al., 2000); (IJICHI et al.,
1989).
Figura 6 - Desmielinização medular pelo vírus HTLV-I: indivíduo saudável (esquerda) e um paciente
com HAM/TSP (direita).
Fonte: NAP-USP (2019).
Em um estudo realizado por Araújo e Serpa (1996) de HAM/TSP no Brasil, os
autores demonstraram taxas de prevalência de 14,7 % a 57,0 % para o HTLV-I
entre os pacientes com mielopatia espástica tropical. A predominância da patologia
17
ocorre entre mulheres e os fatores de risco correlacionados foram promiscuidade
sexual e transfusão de sangue (BITTENCOURT & FARRÉ, 2008). Com base nestes
dados, inquéritos sorológicos em áreas com alta prevalência de HTLV-I são
necessários para triagem dos indivíduos acometidos pela infecção, possibilitando
também, compreender de forma mais acurada os aspectos epidemiológicos e
fisiopatológicos da infecção pelo HTLV-I (ROMANELLI, 2010).
7.3 DERMATITE INFECCIOSA ASSOCIADA AO HTLV-I
A Dermatite infecciosa associada ao HTLV-I (DIH) é uma forma de eczema
crônico, recidivante e que afeta crianças soropositivas para HTLV-I, infectadas por
transmissão vertical, geralmente por amamentação por volta dos 18 meses de
idade, porém esta doença também pode ser esporadicamente evidenciada em
adultos, fato este que ainda precisa ser elucidado (OLIVEIRA, 2009).
A DIH é caracterizada principalmente pela presença de descamação, crostas
e exsudação, com infecção purulenta, prurido e adenopatia leve a moderada
(OLIVEIRA, 2009). Argôlo (2014) comenta que as manifestações dermatológicas
afetam as regiões do couro cabeludo, retroauricular, narinas, pescoço, virilha, axila
(Figura 7), pernas e torso, podendo aparecer em alguns casos blefaroconjutivite
(Figura 8), uma inflamação que afeta as pálpebras e a conjuntiva.
Figura 7 - Placas eritemato-exsudativas na região das axilas.
Fonte: Oliveira et al., (2017).
18
Figura 8 - Blefaroconjutivite em criança portadora de HTLV-I.
Fonte: Bittencourt e Oliveira (2005).
As manifestações dermatológicas da DIH mimetizam-se a outras doenças,
tais como a dermatite seborreica, dermatite atópica e micose fungoide, dificultando
uma investigação mais apurada da doença, necessitando averiguar além da
presença de dermatite crônica, recidivante em dois ou mais sítios, pesquisar também
a sorologia positiva para HTLV-I concomitantemente a cultura positiva da pele ou
narinas para Staphylococcus aureus e/ou Streptococcus β-hemolítico (CORREIA et
al., 2017).
Oliveira (2009) e Correia (2017) comentam que os mecanismos patológicos
da DIH ainda são desconhecidos, bem como os motivos da maioria das crianças
portadoras de HTLV-I serem assintomáticas, entretanto os autores ressaltam que o
desenvolvimento da DIH tenha um caráter multifatorial, envolvendo fatores
genéticos, imunológicos e destacando que os portadores de DIH geralmente
apresentam carga viral elevada.
A desregulação imunológica ocasionada pela infecção pelo HTLV-I
provavelmente seja um fator significativo na presença de superinfecção por
Staphylococcus aureus e/ou Streptococcus β-hemolítico, o que pode justificar
persistência das lesões na pele e a recidiva da DIH após interrupção do uso de
antibióticos (ROMANELLI et al., 2010; SENA, 2015). Futsch et al., (2018) comentam
que o HTLV-I é capaz de produzir uma proteína viral TAX, a qual é capaz de
transativar citocinas pró-inflamatórias, as quais seriam responsáveis pela
19
manutenção e ampliação da reação inflamatória cutânea. A evolução da DIH
apresenta-se de forma crônica e recidiva, sendo controlada com o uso prolongado
de antibióticos, entretanto, próximo a adolescência a gravidade da infecção
bacteriana parece diminuir em alguns casos (MELO; SEVERINO;
CAVALCANTE, 2017).
Histologicamente a DIH não apresenta diferenças significativas em
comparação a outros eczemas, o que dificulta a utilização da análise histológica
como forma de diagnóstico, geralmente apresenta hiperqueratose associada ou não
a paraqueratose, com crostas, acantose (Figura 9) e infiltrações de linfócitos T na
derme (Figura 10) (OLIVEIRA et al., 2017).
Figura 9 - Acantose (espessamento da camada da epiderme com presença de crosta purulenta.
Fonte: Bittencourt e Oliveira (2005).
Figura 10 - Infiltração de Linfócitos T na derme.
Fonte: Bittencourt e Oliveira (2005).
20
A DIH pode estar associada com desenvolvimento futuro, ou mesmo na
infância e adolescência, de HAM/TSP e ATLL, acredita-se que a expressão da
proteína viral TAX leva a uma desregulação do ciclo celular que inibe o mecanismo
de apoptose, fazendo com que a proliferação celular desordenada ocasione o
aparecimento de células malignas (WEILER et al., 2019).
7.4 UVEÍTE ASSOCIADA AO HTLV-I
A Uveíte Associada ao HTLV-I (HAU) é uma inflamação intra-ocular que pode
afetar totalmente a úvea ou algumas das suas estruturas (íris, corpo ciliar e coroide),
presente apenas nos portadores sintomáticos do vírus HTLV-I, a HAU apresenta
como sintomas principais embaçamento visual (Opacidade vítrea), “moscas
volantes”, ardor, prurido, dor, sensação de corpo estranho e vermelhidão na região
frontal ocular (Figura 11) (KAMOI & MOCHIZUKI, 2012; NOZELA, 2014).
Figura 11 - Região frontal ocular apresentando vermelhidão.
Fonte: Oftalmonews (2019).
A HAU é mais comum em adultos de meia idade, entretanto alguns casos em
crianças foram registrados na literatura, possivelmente em razão da elevada carga
proviral e da resposta imunológica do indivíduo em relação a infecção pelo HTLV-I,
o que também pode estar relacionado ao fato de que pacientes com HAM/TSP têm
mais propensão a desenvolverem HAU, porém este fato ainda precisa ser melhor
elucidado (NOZELA, 2014; COSTA, 2016).
Os mecanismos fisiopatológicos da HAU ainda não estão totalmente
esclarecidos, entretanto, sabe-se que a presença de DNA proviral associado a
21
linfócitos T infiltrados no humor aquoso, principalmente TCD3+, causam a liberação
de citocinas que levam a reação inflamatória local, caracterizando a uveíte
(OLIVEIRA & AVELINO, 2007; CAMPOS, 2016; MELO et al., 2017).
O diagnóstico da HAU baseia-se primariamente na sorologia positiva ou não
do paciente para o vírus HTLV-I, desse modo, através de exclusão, faz-se o
diagnóstico diferencial em relação a outros tipos de uveítes que estão associadas a
moléstias como sífilis e doença de Behçet (KAMOI & MOCHIZUKI, 2012;
BRUXELAS, 2019).
22
CAPÍTULO 08
DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO PELO HTLV-I
A principal dificuldade no diagnóstico precoce da infecção pelo HTLV-I está
relacionada ao fato da maioria das infecções serem assintomáticas, desse modo, o
diagnóstico da infecção ocorre principalmente em unidades hemoterápicas e
laboratórios de saúde pública, fato este homologado como obrigatoriedade desde
1993 de modo a se evitar a transmissão do vírus através da doação de sangue
(CAMPOS, 2016).
O Ministério da Saúde orienta que o diagnóstico da infecção seja feito
inicialmente com testes de triagem (ELISA Indireto e Aglutinação de partículas) e
caso a amostra seja positiva, executa-se os testes confirmatórios
(Imunoflorescência Indireta, Western blot e PCR), os quais também são testes que
diferenciam o vírus HTLV I do HTLV II (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
8.1 ELISA INDIRETO
Silva (2016) comenta que nos testes de ELISA Indireto é observada a
interação antígeno-anticorpo a partir da ação de enzimas (fosfatase alcalina ou
peroxidase), a qual é revelada por um cromógeno, através do aparecimento de
coloração (Figura 12).
Figura 12 - Representação de um teste de ELISA Indireto.
Fonte: Ministério da Saúde (1998).
23
Os resultados obtidos podem ser soro reagente (positivo), soro não reagente
(negativo) ou inconclusivo, em decorrência principalmente da presença de
anticorpos em baixos níveis, sendo estes resultados definidos a partir da verificação
da intensidade colorimétrica, levando em consideração um valor de corte ou “cut-off”
(CRUZ, 2011).
8.2 TESTE DA AGLUTINAÇÃO DE PARTÍCULAS
A metodologia da Aglutinação de partículas se baseia na interação de
antígenos virais HTLV com partículas do látex, esta interação forma complexos de
partículas na presença de anticorpos específicos para o HTLV (Figura 13)
(ROMANELLI et al., 2010).
Figura 13 - Representação de um teste de Aglutinação para HTLV.
Fonte: Ministério da Saúde (1998).
No teste de Imunofluorescência Indireta (IFI) os antígenos virais (HTLV I ou
HTLV II) são fixados em lâmina de vidro numa área previamente demarcada,
posteriormente é adicionada a amostra diluída, caso seja positiva, a amostra
apresentará anticorpos específicos (anticorpos primários), que se ligarão aos
antígenos virais (HTLV I ou HTLV II) presentes na lâmina (MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2004).
Os testes de aglutinação são utilizados em menor escala, devido à
possibilidade de resultados falso-positivos ou falso-negativos serem mais evidente
24
em comparação a outros testes, fato este relacionado à manipulação inadequada de
reagentes ou ao efeito prozona, pois excesso de anticorpos na amostra podem
bloquear os sítios antigênicos e inibir a reação de aglutinação, ocasionando reações
indeterminadas (ROMANELLI et al., 2010).
8.3 IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA
A adição de um conjugado composto por uma anti-imunoglobulina humana
ligada ao isoticianato de fluoresceína promoverá a emissão de fluorescência, a qual
funcionará como um sinalizador para a existência da reação antígeno-anticorpo
(Figura 14) (SILVA, 2016).
Figura 14 - Representação do teste de Imunofluorescência indireta.
Fonte: Ministério da Saúde (1998).
A (IFI) é um método simples, de baixo custo, porém há a necessidade de
padronização da técnica, ter acesso a bons equipamentos de microscopia
fluorescente e profissionais devidamente treinados para a correta interpretação dos
resultados, de modo a se evitar erros que comprometam o diagnóstico
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1998).
8.4 WESTERN BLOT
O teste imunoenzimático de Western blot é a metodologia mais utilizada na
confirmação da infecção pelo HTLV, esta metodologia permite verificar a presença
de anticorpos contra as principais proteínas do vírus (Figura 15) (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2016).
25
Figura 15 - Proteínas do HTLV usadas no critério de interpretação do teste de Western blot.
Fonte: Ministério da Saúde (2004).
Na metodologia de Western blot é utilizado um suporte sólido de
nitrocelulose, no qual será adsorvido os antígenos virais, posteriormente é
adicionada a amostra que se quer investigar, e caso esta for reagente, irá conter
anticorpos específicos (anticorpos primários) que se ligarão aos seus respectivos
antígenos presentes no suporte sólido de nitrocelulose (JHONSON, 2019).
O suporte de nitrocelulose é lavado para retirada dos anticorpos em excesso
e em seguida é adicionado uma anti-imunoglobulina ligada a uma enzima
(peroxidase ou fosfatase alcalina) que se conectam aos anticorpos específicos
ligados aos antígenos virais, posteriormente um substrato-cromógeno da enzima é
adicionado e ocorrerá reação nos locais onde houve a ligação anticorpo primário-
antígenos virais (VENTURA, 2019).
A atividade enzimática sobre o substrato-cromógeno promove a coloração
nos locais onde ocorreu a ligação anticorpo primário-antígenos virais, dando origem
às bandas, após a lavagem para a retirada do excesso de coloração inespecífica,
inicia-se a análise dos resultados obtidos e segundo a presença de determinados
antígenos virais a metodologia de Western blot permite um diagnóstico diferencial
para o HTLV I e HTLV II (Figura 16) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016).
26
Figura 16 - Parâmetros de resultados para HTLV-I e HTLV-II de acordo com as bandas encontradas no teste de Western blot.
Fonte: Ministério da Saúde (2004).
8.5 A REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE
A infecção pelo HTLV não se caracteriza por apresentar viremia plasmática,
desse modo à detecção de RNA viral no plasma ou soro se mostra um método
ineficiente para o diagnóstico, por este motivo a verificação da presença de DNA
proviral contido nos linfócitos T infectados, é a melhor escolha para o diagnóstico
molecular (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
A reação em cadeia da polimerase (PCR, na sigla em inglês) irá verificar a
presença ou não do DNA proviral nos linfócitos T do indivíduo (SILVA et al, 2018).
Este método utiliza iniciadores conhecidos como primers, os quais devem ser
específicos para a região do material genético viral (JACKISCH et al., 2017).
A PCR permite a amplificação de sequências do DNA proviral, mesmo que
este se apresente em pequenas quantidades, contribuindo na elucidação de
padrões indeterminados em testes de Imunofluorescência Indireta ou Western blot,
no diagnóstico da infecção ou co-infecção pelo HTLV I e HTLV II (CAMPOS et
al., 2015).
Apesar da considerável contribuição da PCR para o diagnóstico diferencial da
infecção pelo HTLV, é notório o fato de que esta metodologia apresenta elevados
custos de aplicação, atrelado ao fato de que a lisura de seus resultados depende
diretamente de aspectos como a utilização correta de primers, quantidade e a
qualidade de DNA extraído empregado no processo (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2016).
27
CAPÍTULO 09
TRATAMENTO DAS PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES
Os pacientes que apresentarem sorologia positiva para o HTLV-I e que
estejam manifestando sintomas como: ascite (inchaço no abdômen), derrame
pleural, lesões osteolíticas e presença de linfócitos com morfologia atípica em flower
cells (Figura 17) e núcleos polilobulados, devem ser monitorados, pois estes são
importantes sinais clínicos da leucemia/linfoma de células T (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 1998). Outras manifestações clínicas também podem ser evidenciadas, tais
como: astenia, dor abdominal, tosse, artropatia, diarreia e episódios de infecções
repetidas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1998).
Figura 17 - Morfologia atípica de linfócitos (flower cells).
Fonte: Blood Work (2016).
Os pacientes com leucemia/linfoma de células T (ATLL) são geralmente
imunodeficientes, com predisposição a infecções oportunistas e podem apresentar
um curso clínico arrastado e muitas vezes assintomático até ocorrer a progressão
da doença para a forma aguda (SANTOS & RODRIGUES, 2012). Nos casos com
lesões de pele, a fotoquimioterapia extracorpórea é usada com benefícios
promovendo a regressão das lesões, porém, não evita a transformação em forma
aguda posteriormente, pois caracteriza-se como uma doença bastante agressiva e
de evolução fatal (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1998).
28
A paraparesia espástica tropical (HAM/TSP), é uma mielopatia associada ao
HTLV-I, e que se caracteriza por causar fraqueza, enrijecimento dos membros
inferiores e o comprometimento do equilíbrio dinâmico (SHUBLAQ et al., 2010).
Todos os grupos musculares podem ser acometidos, de maneira a tornar a marcha
espástica, ou seja, o indivíduo apresenta um caminhar rígido arrastando os pés
(SHUBLAQ et al., 2010).
O tratamento medicamentoso da HAM/TSP se baseia na administração de
fármacos que atuam no sistema nervoso central, de modo a promoverem o controle
da espasticidade e consequentemente amenizar o enrijecimento dos membros
inferiores sendo o principal deles o baclofeno, outros fármacos induzem o
relaxamento muscular, pois possuem ação ansiolítica e sedativa, e são derivados
dos benzodiazepínicos (RIBAS & MELO, 2002).
O tratamento fisioterápico da HAM/TSP destina-se a melhora da qualidade de
vida e diminuição da morbidade da mielopatia, pois os exercícios ativos e/ou
passivos melhoram a espasticidade e o equilíbrio e preservam a integridade articular
(COLLA et al., 2014). A Dermatite infecciosa associada ao HTLV-I (DIH) é
notoriamente uma patologia de caráter crônico e que está sempre associada a
infecção bacteriana por Staphylococcus aureus e/ou Streptococcus β-hemolítico,
portanto o tratamento com uso prolongado de antibióticos como a eritromicina ou de
associação dos fármacos sulfametoxazol/trimetoprim é o mais indicado (MELO,
2017). O acompanhamento da DIH deve ser feito de forma contínua, pois a
descontinuação da antibioticoterapia promove a rápida recidiva da doença
(STEGLICH et al., 2015).
Bruxelas (2019) aponta que nos casos de Uveíte Associada ao HTLV-I (HAU)
o tratamento mais eficaz é a utilização de corticosteroides, principalmente a
prednisolona, sendo a dose de acordo com o quadro clínico do indivíduo afetado. O
autor ressalta que na maioria dos casos a resposta ao tratamento é favorável,
entretanto a recidiva da HAU está presente em aproximadamente 60 % dos
pacientes, tornando necessário um acompanhamento a longo prazo destes
indivíduos.
29
CAPÍTULO 10
CONCLUSÃO
É notório o fato de que a infecção pelo HTLV-I é um grave problema de
saúde mundial, seja pelos diferentes mecanismos de transmissão viral ou pelo fato
de que muitas pessoas são portadoras assintomáticas de HTLV-I e acabam
disseminado o vírus sem ter o real conhecimento, devido principalmente a
diagnósticos inconclusivos ou equivocados.
A carência de estudos epidemiológicos mais específicos contribui para o
cenário de negligência em relação a infecção pelo HTLV-I, o mapeamento de novas
áreas endêmicas ou de grupos de riscos é de suma importância para o
direcionamento de políticas públicas que visem informar a população sobre este
vírus ainda tão desconhecido.
Torna-se necessária uma ampla mobilização da sociedade para o
reconhecimento da importância e das consequências da infecção pelo HTLV-I nos
portadores, bem como atentar a comunidade científica para a elaboração de novos
estudos que visem elucidar totalmente os mecanismos patológicos da infecção, de
modo que se busque medidas terapêuticas mais eficazes para melhorar a qualidade
de vida dos indivíduos portadores de HTLV-I.
30
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