7
I Congreso Latinoamericano de Ecología Urbana “Desafíos y escenarios de desarrollo para las ciudades latinoamericanas” Junio 2012 2149 Conhecimento popular e fitoterapia em atenção primária a saúde Zanon Martins, Márcio Augusto; Oliveira Silva, Valéria; Massanet, Thais y Santos Roveratti, Dagmar RESUMO As preocupações com a conservação do meio ambiente devem incluir o reconhecimento dos saberes tradicionais, principalmente aqueles relacionados à flora local. O Brasil detém um terço da flora mundial e uma enorme diversidade cultural constituída da miscigenação entre brancos, negros e índios os quais são detentores de importante saber etnobotânico. Tem uma massa populacional carente de recursos financeiros, um sistema de saúde saturado pela demanda, preços exorbitantes dos remédios alopáticos e parca produção de fitoterápicos. Em 2008 foi lançado o “Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos” que incentiva o tratamento de doenças por meio de plantas medicinais no Sistema Único de Saúde. Esta medida valoriza a riqueza da flora e seu uso racional considerando-se as condições socio- econômicas de populações que apresentam carência de recursos para atendimento à saúde. A região metropolitana de São Paulo é uma das áreas mais densamente urbanizadas do mundo e abriga uma população que trouxe das suas origens muitos conhecimentos sobre a flora, sobretudo sobre as plantas medicinais. O presente trabalho se propôs resgatar este conhecimento numa comunidade urbana de São Paulo/Brasil. Buscou-se valorizar práticas tradicionais do uso de plantas medicinais orientando a comunidade sobre o uso adequado de remédios caseiros, contribuindo para a implantação da Farmácia Viva nas unidades básicas de saúde, correspondendo às diretrizes da ONU no que se refere à utilização de plantas medicinais pelas populações. Foram conduzidas pesquisas etnobotânicas para levantar dados sobre o uso de plantas medicinais junto aos profissionais de saúde e moradores. Verificou-se que a população utiliza cerca de 33 espécies de plantas sendo que as mais utilizadas são: Coleus basbatus Benth, Matricaria chamomilla L., Cymbopogon citratus Strapf. e Ginkgo biloba L. Estas pesquisas permitiram conhecer as espécies e como são utilizadas, dados que orientaram a implantação de canteiros de ervas medicinais em um terreno existente no bairro. Foram realizadas palestras para capacitação dos agentes de saúde e orientação da comunidade no uso e manipulação adequada das espécies medicinais. O resultado mais expressivo deste trabalho foi a implantação do horto de plantas medicinais no bairro com a participação dos agentes de saúde de saúde e moradores. Tem-se buscado, também, através do trabalho com as espécies medicinais, sensibilizar a população para importância da conservação e preservação da flora local. Num segundo momento, pretende-se incentivar o uso do conhecimento obtido para geração de renda dos moradores mais carentes, através da produção de produtos artesanais como óleos, xampus, sabonetes e sachês. Palavras – chave: Conhecimento popular; plantas medicinais; fitoterapia. RESUMEN CONOCIMIENTO POPULAR Y FITOTERAPIA EN LA ATENCIÓN PRIMARIA DE SALUD Las preocupaciones con la conservación del medió ambiente deberían incluir el reconocimiento de saberes tradicionales, principalmente aquellas que están relacionados con la floresta local. Brasil posee un tercio de la floresta mundial y una inmensa diversidad cultural. Tienen una masa de población carente en recursos financieros, un sistema de salud saturado por la demanda, precios exorbitantes de medicamentos alopáticos y escasa producción fitoterápica. En el 2008, fue lanzado el “Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos” que incentiva al tratamiento de enfermedades por medio de plantas medicinales en un sistema único de salud. Esta medida valoriza la riqueza floral y su uso racional considerando las condiciones socioeconómicas de poblaciones que presentan escasos recursos para cuidar de la salud. La región metropolitana de São Paulo tiene una de las zonas mas densamente urbanizadas del mundo y abriga una población que trajo con sus orígenes muchos conocimientos sobre la flora. Este trabajo tiene como propósito rescatar este

Marcio Augusto Zanon Martins

Embed Size (px)

DESCRIPTION

ICongreso Latinoamericano de Ecología Urbana “Desafíos y escenarios de desarrollo para las ciudades latinoamericanas” RESUMO CONOCIMIENTO POPULAR Y FITOTERAPIA EN LA ATENCIÓN PRIMARIA DE SALUD Junio 2012 2149

Citation preview

Page 1: Marcio Augusto Zanon Martins

I Congreso Latinoamericano de Ecología Urbana

“Desafíos y escenarios de desarrollo para las ciudades latinoamericanas”

Junio 2012

2149

Conhecimento popular e fitoterapia em atenção primária a saúde

Zanon Martins, Márcio Augusto; Oliveira Silva, Valéria; Massanet, Thais y Santos Roveratti, Dagmar

RESUMO As preocupações com a conservação do meio ambiente devem incluir o reconhecimento dos saberes tradicionais, principalmente aqueles relacionados à flora local. O Brasil detém um terço da flora mundial e uma enorme diversidade cultural constituída da miscigenação entre brancos, negros e índios os quais são detentores de importante saber etnobotânico. Tem uma massa populacional carente de recursos financeiros, um sistema de saúde saturado pela demanda, preços exorbitantes dos remédios alopáticos e parca produção de fitoterápicos. Em 2008 foi lançado o “Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos” que incentiva o tratamento de doenças por meio de plantas medicinais no Sistema Único de Saúde. Esta medida valoriza a riqueza da flora e seu uso racional considerando-se as condições socio-econômicas de populações que apresentam carência de recursos para atendimento à saúde. A região metropolitana de São Paulo é uma das áreas mais densamente urbanizadas do mundo e abriga uma população que trouxe das suas origens muitos conhecimentos sobre a flora, sobretudo sobre as plantas medicinais. O presente trabalho se propôs resgatar este conhecimento numa comunidade urbana de São Paulo/Brasil. Buscou-se valorizar práticas tradicionais do uso de plantas medicinais orientando a comunidade sobre o uso adequado de remédios caseiros, contribuindo para a implantação da Farmácia Viva nas unidades básicas de saúde, correspondendo às diretrizes da ONU no que se refere à utilização de plantas medicinais pelas populações. Foram conduzidas pesquisas etnobotânicas para levantar dados sobre o uso de plantas medicinais junto aos profissionais de saúde e moradores. Verificou-se que a população utiliza cerca de 33 espécies de plantas sendo que as mais utilizadas são: Coleus basbatus Benth, Matricaria chamomilla L., Cymbopogon citratus Strapf. e Ginkgo biloba L. Estas pesquisas permitiram conhecer as espécies e como são utilizadas, dados que orientaram a implantação de canteiros de ervas medicinais em um terreno existente no bairro. Foram realizadas palestras para capacitação dos agentes de saúde e orientação da comunidade no uso e manipulação adequada das espécies medicinais. O resultado mais expressivo deste trabalho foi a implantação do horto de plantas medicinais no bairro com a participação dos agentes de saúde de saúde e moradores. Tem-se buscado, também, através do trabalho com as espécies medicinais, sensibilizar a população para importância da conservação e preservação da flora local. Num segundo momento, pretende-se incentivar o uso do conhecimento obtido para geração de renda dos moradores mais carentes, através da produção de produtos artesanais como óleos, xampus, sabonetes e sachês. Palavras – chave: Conhecimento popular; plantas medicinais; fitoterapia. RESUMEN CONOCIMIENTO POPULAR Y FITOTERAPIA EN LA ATENCIÓN PRIMARIA DE SALUD Las preocupaciones con la conservación del medió ambiente deberían incluir el reconocimiento de saberes tradicionales, principalmente aquellas que están relacionados con la floresta local. Brasil posee un tercio de la floresta mundial y una inmensa diversidad cultural. Tienen una masa de población carente en recursos financieros, un sistema de salud saturado por la demanda, precios exorbitantes de medicamentos alopáticos y escasa producción fitoterápica. En el 2008, fue lanzado el “Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos” que incentiva al tratamiento de enfermedades por medio de plantas medicinales en un sistema único de salud. Esta medida valoriza la riqueza floral y su uso racional considerando las condiciones socioeconómicas de poblaciones que presentan escasos recursos para cuidar de la salud. La región metropolitana de São Paulo tiene una de las zonas mas densamente urbanizadas del mundo y abriga una población que trajo con sus orígenes muchos conocimientos sobre la flora. Este trabajo tiene como propósito rescatar este

Page 2: Marcio Augusto Zanon Martins

I Congreso Latinoamericano de Ecología Urbana

“Desafíos y escenarios de desarrollo para las ciudades latinoamericanas”

Junio 2012

2150

conocimiento en una comunidad de São Paulo/Brasil. Tratamos de mejorar las prácticas tradicionales del uso de plantas medicinales orientando a la comunidad sobre el uso adecuado de remedios caseros, contribuyendo para la implantación en Farmacia Viva en las unidades básicas de salud, correspondiendo a las directrices de la ONU en lo que se refiere a la utilización de plantas medicinales por las poblaciones. Fueron conducidas investigaciones etnobotánicas para recolectar datos sobre el uso de plantas medicinales junto a los profesionales de la salud y la población. Verificamos que la población utiliza cerca de 33 especies de plantas siendo que las mas utilizadas son: Coleus basbatus Benth, Matricaria chamomilla L., Cymbopogon citratus Strapf. y Ginkgo biloba L. Estas investigaciones permitieron conocer las especies y como son utilizadas, por la comunidad. Fueron realizadas palestras para la capacitación de los agentes de salud y orientación de la comunidad en el uso de manipulación adecuada de las especies medicinales. El resultado más expresivo de este trabajo fue la implantación de un jardín de plantas medicinales en el barrio con la participación de los agentes de salud y moradores. Fue buscado, también, através del trabajo con las especies medicinales, sensibilizar a la populación para la importancia de la conservación y preservación de la flora local. Además, pretendemos incentivar el uso del conocimiento obtenido para generar ingresos de los moradores mas carentes, através de la producción de productos artesanales como aceites, shampoo, jabones e sachês. INTRODUÇÃO

Práticas relacionadas ao uso popular de plantas são executadas por parte da população brasileira como uma alternativa de busca na cura de doenças e sintomas, tanto nas áreas rurais quanto urbanas, proporcionando assim uma melhoria na qualidade de vida e oferecendo outra forma de tratamento além dos medicamentos alopáticos.

Pesquisas etnobotânicas que antigamente abordavam tão somente populações ditas

tradicionais hoje estão se concentrando cada vez mais nas populações de grandes cidades devido ao uso de plantas com maior frequência no tratamento de doenças.

Segundo Cosendey et al (2000), o sistema público de saúde no Brasil ainda não possui

uma política de assistência farmacêutica capaz de suprir satisfatoriamente todas as necessidades medicamentosas da maioria da população. O Sistema Único de Saúde (SUS) gratuito existente no país muitas vezes não consegue atender de forma adequada a alta procura da população, sendo esta, em sua maioria, carente de recursos financeiros suficiente para pagar por serviços particulares de saúde ou medicamentos alopáticos indicados pelo serviço (PILLA, AMOROZO, FURLAN; 2006). Devido a essas dificuldades a procura por fitoterápicos tem se mostrado uma alternativa para a população mais carente e uma saída imediata para diversas indisposições.

De acordo com a legislação sanitária brasileira, fitoterápico é uma classe de

medicamento obtida exclusivamente através de matérias-primas ativas vegetais, caracterizada pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância de qualidade (MINISTÉRIO DA SAÚDE; 2004). A definição que está em vigor até os dias atuais acrescenta a forma pela qual a segurança e a eficácia do medicamento devem ser validadas: através de levantamentos etnofarmacológicos de utilização, documentações tecnocientíficas em publicações ou ensaios clínicos, não se considerando medicamento fitoterápico aquele que, na sua composição, inclua substâncias ativas isoladas, de qualquer origem, nem as associações destas com extratos vegetais (FITOTERAPIA & TERAPIAS COMPLEMENTARES; 2010).

Em 2006, foi aprovado pelo governo federal a Política Nacional de Plantas Medicinais e

Fitoterápicos, por meio do Decreto nº 5.813, de 22 de junho de 2006. Dando sequência às metas dessa iniciativa federal, em 2008 foi lançado o “Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos - PNPMF”. Tal programa visa “garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional”. São objetivos do programa, entre outros, ”inserir plantas medicinais, fitoterápicos e serviços

Page 3: Marcio Augusto Zanon Martins

I Congreso Latinoamericano de Ecología Urbana

“Desafíos y escenarios de desarrollo para las ciudades latinoamericanas”

Junio 2012

2151

relacionados à Fitoterapia no SUS, com segurança, eficácia e qualidade, em consonância com as diretrizes da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS”, além de “promover e reconhecer as práticas populares e tradicionais de uso de plantas medicinais e remédios caseiros” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). Recentemente, na portaria nº 2.982, de 26 de Novembro de 2009, o Ministério da Saúde, no Anexo II, divulgou os medicamentos fitoterápicos e homeopáticos que poderão ser adquiridos e utilizados nas unidades de saúde dos Municípios, Distrito Federal e/ou Estados. Apesar destas iniciativas oficiais, a utilização de fitoterápicos nas Unidades Básicas de Saúde ainda é incipiente, principalmente pela carência de maiores informações sobre o assunto e pela ausência de profissionais especializados. Poucos municípios vêm implementando nas suas unidades de saúde ações neste sentido.

A região metropolitana de São Paulo é uma das áreas mais densamente urbanizadas

do mundo e abriga uma população que trouxe das suas origens muitos conhecimentos sobre a flora, sobretudo sobre as plantas medicinais. Para resgatar este conhecimento numa comunidade urbana do município de São Caetano do Sul, onde os programas de saúde têm um grande alcance e demanda, o presente projeto realizou um levantamento etnobotânico para identificação das plantas medicinais utilizadas pela comunidade e profissionais de saúde do Bairro Cerâmica que frequentam os serviços da Unidade Básica de Saúde - UBS Moacir Gallina e verificou o nível de conhecimento das pessoas quanto ao modo de uso: indicação terapêutica, forma de preparo, parte utilizada e procedência. Buscou-se valorizar práticas tradicionais do uso de plantas medicinais orientando a comunidade sobre o uso adequado de remédios caseiros, por exemplo. Esta unidade foi estudada como projeto piloto para a introdução da fitoterapia no município de São Caetano do Sul. MATERIAIS E MÉTODOS

O levantamento das espécies de plantas medicinais utilizadas pelos usuários e profissionais de saúde da UBS Moacir Gallina foi realizado através de entrevistas dirigidas. As entrevistas com os profissionais de saúde foram direcionadas aos profissionais da linha de frente do contato com o usuário, como auxiliares e técnicos de enfermagem. Tais entrevistas foram previamente agendadas, ou realizadas com as pessoas que se encontravam no local naquela data e horário específico. A partir destas entrevistas foram elaborados dois tipos distintos de questionários semi-estruturados, sendo um dirigido aos profissionais de saúde contendo perguntas especificas sobre diversos aspectos da utilização da fitoterapia na unidade básica de saúde e outro direcionado à população residente no bairro. A coleta de dados foi realizada no período de maio de 2011 à janeiro de 2012.

A população amostral para a aplicação dos questionários foi definida através de sorteio das ruas do bairro e do número das casas, aleatoriamente, por meio de tabela de dígitos aleatórios, onde qualquer dos dígitos possuíam igual probabilidade de figurar em qualquer posição da tabela. No total foram sorteadas 11 (onze) ruas do Bairro Cerâmica, onde 10% das casas de cada rua foram visitadas totalizando 158 pessoas entrevistadas.

Com as entrevistas realizadas, os dados como idade, grau de formação, sexo,

espécies mais citadas pelos participantes e conhecimentos sobre plantas medicinais foram agrupados e analisados para identificação do perfil dos entrevistados e conhecimentos sobre o uso de fitoterápicos.

A fim de se identificar as espécies, obter suas características essenciais como nome

popular, nome científico, família botânica, uso tradicional e uso descrito na literatura, foram realizados levantamentos bibliográficos e comparações com literatura específica. Após a coleta de dados da população do bairro e dos profissionais de saúde, todos os dados foram tabulados em forma de tabelas e analisados. RESULTADOS

Page 4: Marcio Augusto Zanon Martins

I Congreso Latinoamericano de Ecología Urbana

“Desafíos y escenarios de desarrollo para las ciudades latinoamericanas”

Junio 2012

2152

O levantamento realizado durante o período da pesquisa apontou as espécies vegetais mais utilizadas e o conhecimento quanto ao modo de uso de plantas medicinais pelos pela comunidade (Tabela 1) e profissionais da saúde (Tabela 2), conforme demonstrado a seguir:

Tabela 1 - Relação das espécies vegetais citadas como plantas medicinais pela comunidade do Bairro Cerâmica / São Caetano do Sul (SP)

* Citações: Cada número corresponde ao número de vezes em que cada item foi citado nas entrevistas.

Page 5: Marcio Augusto Zanon Martins

I Congreso Latinoamericano de Ecología Urbana

“Desafíos y escenarios de desarrollo para las ciudades latinoamericanas”

Junio 2012

2153

Tabela 2 - Relação das espécies vegetais citadas como plantas medicinais pelos profissionais de saúde do Bairro Cerâmica / São Caetano do Sul (SP) * Citações: Cada número corresponde ao número de vezes em que cada item foi citado nas entrevistas.

Verificou-se que a população utiliza cerca de 33 espécies de plantas sendo que as mais

utilizadas foram: o Boldo (Coleus basbatus Benth), a Camomila (Matricaria chamomilla L.), a Erva Cidreira (Cymbopogon citratus Strapf.) e Ginkgo biloba (Ginkgo biloba L.). As principais formas de utilização dessas plantas foram por meio da infusão de folhas e flores em água quente.

No questionário voltado aos profissionais de saúde as plantas mais citadas foram a

Camomila (Matricaria chamomilla L.), a Amora (Morus sp.) e o Guaco (Mikania glomerata Spreng.) sendo a principal forma de utilização das duas primeiras o chá, e da última o xarope.

Também foram mencionadas diversas indicações terapêuticas e formas de preparo para a

mesma planta, como no caso da Erva Cidreira (Cymbopogon citratus Strapf.) e do Hortelã (Mentha piperita L.).

A partir dos questionários, foi verificado que a maioria do público entrevistado obtém as

plantas medicinais através de compra (53%), seguido por cultivo em casa (25%) e por final, colhida em lugar próximo (22%).

Das 158 pessoas entrevistadas, 65% tinham algum conhecimento sobre as plantas

medicinais e 35% não tinham conhecimento sobre a fitoterapia.

Page 6: Marcio Augusto Zanon Martins

I Congreso Latinoamericano de Ecología Urbana

“Desafíos y escenarios de desarrollo para las ciudades latinoamericanas”

Junio 2012

2154

As entrevistas também possibilitaram analisar que entrevistados de idade mais avançada possuem maior conhecimento sobre plantas medicinais, os quais são passados de geração em geração por familiares. Nenhum dos entrevistados afirmou ter recebido receituário médico para o tratamento fitoterápico para o problema de saúde na UBS ou formalmente em qualquer outro sistema de saúde.

Além das entrevistas dirigidas, foi realizada uma palestra para capacitação dos funcionários da UBS Moacir Gallina onde foi abordado o Programa Nacional de Plantas Medicinais. Os participantes ficaram cientes sobre os objetivos e a finalidade do programa e a lista de plantas aprovadas pela ANVISA oferecidas pelo SUS às UBSs.

Através dos questionários voltados aos moradores do Bairro Cerâmica verificou-se o interesse da comunidade em implantar um horto de plantas medicinais no bairro. O horto de plantas medicinais para uso da comunidade foi implantado, em 2012, em terreno cedido pela ONG Biomas, com a participação de agentes de saúde e moradores do bairro. O local vem sendo utilizado para incentivar a aplicação dos conhecimentos sobre as plantas medicinais na geração de renda dos moradores mais carentes uma vez que estão sendo conduzidas ou estão programadas palestras e oficinas para produção de produtos artesanais a base de plantas medicinais como óleos, xampus, sabonetes e sachês.

CONCLUSÕES

A abordagem feita aos moradores em forma de questionário ajudou a entender de forma direta os conhecimentos que eles têm sobre fitoterapia. Durante as entrevistas foi observado que grande parte dos entrevistados gostaria que o Sistema Básico de Saúde ou qualquer outro tipo de atendimento médico adotasse o tratamento com plantas medicinais de forma alternativa para os pacientes, reduzindo assim o custo no tratamento em relação aos medicamentos alopáticos.

Ficou claro, também, que os profissionais da saúde da unidade em questão não tinham

conhecimento do Programa Nacional de Plantas Medicinais e da possibilidade de introdução da fitoterapia em atenção primária a saúde com apoio do poder público.

O conjunto de resultados obtidos mostrou que o conhecimento sobre o uso de plantas medicinais continua sendo passado de geração para a geração, como nos modelos tradicionais e que as pessoas mais velhas possuem maior conhecimento sobre o assunto. De forma geral, os modos de uso dos fitoterápicos informados pela população foram condizentes com o descrito na literatura específica. As plantas mais citadas, como a hortelã, camomila e o boldo são conhecidas praticamente por todas as pessoas que foram entrevistadas.

A implantação do horto de plantas medicinais mostrou-se de interesse geral da

população, tanto de moradores quanto dos profissionais da saúde, possibilitando a aquisição de medicamentos naturais de uma forma mais barata do que quando utilizam medicamentos alopáticos. REFERÊNCIAS COSENDEY, M.A.E. et al. Assistência farmacêutica na atenção básica de saúde: a experiência de três estados brasileiros. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 16(1):171-182, 2000. FITOTERAPIA & TERAPIAS COMPLEMENTARES. Definições de fitoterápicos segundo a legislação brasileira. Disponível em: <http://www.fitoterapia.com.br/ portal/index.php?option=com_content&task=view&id=54&Itemid=64>. Acesso em: 07 nov.2010.

Page 7: Marcio Augusto Zanon Martins

I Congreso Latinoamericano de Ecología Urbana

“Desafíos y escenarios de desarrollo para las ciudades latinoamericanas”

Junio 2012

2155

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução de Diretoria Colegiada nº 48 de 16 de março de 2004. Aprova o regulamento técnico de medicamentos fitoterápico junto ao Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. DOU. Diário Oficial da União, Poder Executivo, DF, Brasília, 18.mar.2004 MINISTÉRIO DA SAÚDE. Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Brasília, 2008. PILLA, M. A. C; AMOROZO, M. C. M.; FURLAN, A. Obtenção e uso das plantas medicinais no distrito de Martim Francisco, município de Mogi-Mirim, SP, Brasil. Acta Botanica Brasilica, São Paulo, 20(4): 789-802, 2006.