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MAPEAMENTO DO USO DA TERRA E RESPECTIVO ZONEAMENTO - ÁREA 4 - DO PROJETO RS BIODIVERSIDADE LITORAL MÉDIO Porto Alegre, janeiro de 2014

MAPEAMENTO DO USO DA TERRA E RESPECTIVO … · ZONEAMENTO - ÁREA 4 - DO PROJETO RS ... Na maior parte das plantas, aproximadamente 45 a 50% da energia eletromagnética é refletida,

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MAPEAMENTO DO USO DA TERRA E RESPECTIVO

ZONEAMENTO - ÁREA 4 - DO PROJETO RS

BIODIVERSIDADE – LITORAL MÉDIO

Porto Alegre, janeiro de 2014

1. INTRODUÇÃO

Um dos maiores problemas enfrentados pelas regiões em crescimento é a redução na

qualidade de vida devido à degradação ambiental. Dentre os mecanismos de planejamento à

disposição do Poder Público passível de ser utilizado para minimizar os efeitos da degradação

ambiental está o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE). O ZEE tem se destacado como um

instrumento estratégico de planejamento territorial regional, que busca a compatibilização entre o

desenvolvimento econômico e a melhoria e manutenção da qualidade ambiental.

O ZEE está definido no Decreto Nº 4.297, de 10 de Julho de 2002, regulamentando o art. 9°,

inciso II, da Lei Nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Esta regulamentação definiu o ZEE como

instrumento de organização do território a ser obrigatoriamente seguido na implantação de planos,

obras e atividades públicas e privadas. Estabelece medidas e padrões de proteção ambiental, com

vistas a assegurar a qualidade ambiental, dos recursos hídricos e do solo e a conservação da

biodiversidade, garantindo o desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de vida da

população.

De maneira geral, o ZEE consiste na divisão de determinado território em áreas onde se

autorizam determinadas atividades ou restringe-se, de modo absoluto ou relativo, o exercício de

outras em razão das características ambientais e socioeconômicas do local. Pelo zoneamento

ambiental são instituídos diferentes tipos de zonas, nas quais o Poder Público estabelece regimes

especiais de uso na busca da melhoria e recuperação da qualidade ambiental e do bem-estar da

população.

Neste aspecto, os dados derivados de sensoriamento remoto constituem uma ferramenta

amplamente empregada como subsídio na elaboração de ZEE. Através destes dados, é possíve l o

mapeamento do uso e cobertura do solo, o qual constitui um elemento básico para planejamento

ambiental. Este mapeamento retrata as atividades econômicas desenvolvidas no município que

podem acarretar pressões e impactos sobre os elementos naturais. As formas de uso e cobertura são

identificadas (tipos de uso), espacializadas (mapa de uso e cobertura do solo) e quantificadas

(percentual de área ocupada por cada tipo). As informações sobre esse tema devem descrever não só

a situação atual, mas as mudanças recentes e o histórico de ocupação de uma dada área (SANTOS,

2007).

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Sensoriamento Remoto

Os dados obtidos a partir de sensores remotos permitem o estudo de diversas variáveis

ambientais, devido à sua aplicabilidade nas diversas áreas das ciências e a possibilidade de adquirir

dados sobre grandes extensões geográficas. Como consequência, nas últimas décadas o

sensoriamento remoto tornou-se uma importante fonte de informação para o monitoramento dos

recursos terrestres (JENSEN, 2009). Pode ser definido como uma técnica de se obter informações

sobre um determinado objeto, área ou fenômeno, através de dados coletados por um equipamento,

que não entra em contato direto com o objeto, área ou fenômeno estudado (LANDGREBE, 1978;

LILLESAND; KIEFER, 1987). Para Novo (1998), o sensoriamento remoto consiste na utilização

conjunta de modernos sensores, equipamentos para processamento de dados, equipamentos para

transmissão de dados, aeronaves, espaçonaves etc., com o objetivo de estudar o ambiente terrestre

através do registro e da análise das interações entre a radiação eletromagnética e as substâncias

componentes do planeta Terra em suas mais diversas manifestações.

O sensoriamento remoto parte do princípio de que cada objeto tem uma característica única

de reflexão e emissão de energia eletromagnética. Com isso, pode-se identificar e entender o objeto

ou condições ambientais através dessa unicidade de comportamento. Portanto, dois objetos

diferentes irão interagir distintamente com a energia eletromagnética, pelo menos em alguns

comprimentos de onda, permitindo assim sua identificação e diferenciação (NOVO, 1998).

A aquisição de dados de sensoriamento remoto envolve quatro partes básicas: a fonte de

energia eletromagnética, a atmosfera, o alvo e o sensor. Em sensoriamento remoto passivo, a

principal fonte de energia eletromagnética é o Sol. A energia eletromagnética, ao se propagar pela

atmosfera, sofre modificações em sua intensidade e em sua distribuição espectral. Ao atingir a

superfície terrestre, a energia interage com os objetos, podendo ser refletida, transmitida e/ou

absorvida. A porção da energia absorvida em uma região do espectro pode ser refletida ou

transmitida em outra região do espectro (SILVA, L., 1978). A fração transmit ida e/ou emitida pelos

objetos presentes na superfície terrestre, irá novamente atravessar a atmosfera, sofrendo novas

modificações, atingindo o sensor, o qual registrará a energia que chegou (LILLESAND; KIEFER,

1987). Segundo Novo (1998), para que o sistema de aquisição funcione é necessário preencher as

seguintes condições: existência de fonte de radiação, propagação da radiação pela atmosfera,

incidência da radiação sobre a superfície terrestre, ocorrência de interação entre a radiação e os

objetos da superfície e radiação que retorna ao sensor após atravessar a atmosfera. A energia

registrada pelo sensor é transformada em um sinal passível de interpretação e transmitida para uma

estação receptora na Terra, onde os dados são gravados, podendo posteriormente ser convertidos em

imagem.

As imagens geradas por sensores remotos captam de forma sequencial a intensidade média

da energia eletromagnética refletida por uma área do terreno, equivalente ao tamanho do pixel

(picture element). Estas imagens são constituídas por um conjunto de pixels arranjados de forma

matricial, onde cada um tem uma localização definida em um sistema de coordenadas (linha e

coluna) representadas por “x” e “y” (CRÓSTA, 1993). A análise das imagens pode ser realizada

visualmente e/ou digitalmente, tendo por finalidade extrair informações sobre o alvo (RICHARDS,

1986). De acordo com Ponzoni e Shimabukuru (2007), a identificação de alvos em imagens

produzidas por sensores remotos mediante interpretação visual é eficaz quando o interesse é acessar

as características geométricas e a aparência geral desses objetos. Contudo, o uso do computador

para o tratamento digital das imagens possibilita a análise de tantos pixels e de tantas bandas quanto

forem necessárias.

Implícita aos dados de sensoriamento remoto está a chamada resolução. Segundo Campbell

(1996), em um sentido geral, a resolução refere-se à habilidade do sensor registrar e exibir detalhes

finos. Para Swain e Davis (1978), resolução é uma medida da habilidade de um sistema óptico de

distinguir sinais que são espacialmente próximos ou espectralmente similares. Em dados de

sensoriamento remoto, têm-se quatro diferentes resoluções: espacial, espectral, radiométrica e

temporal. A resolução espacial representa a capacidade do sensor de distinguir objetos. Indica o

tamanho do menor elemento da superfície individualizado pelo sensor. A resolução espectral está

relacionada à largura espectral em que opera o sensor, portanto, define o intervalo espectral no qual

são realizadas as medidas, sendo que, quanto maior for o número de medidas num determinado

intervalo de comprimento de onda, melhor a resolução espectral. A resolução radiométrica define a

eficiência do sistema em detectar pequenos sinais, ou seja, refere-se à maior ou menor capacidade

do sistema sensor em detectar e registrar diferenças na energia refletida e/ou emitida pelos

elementos que compõe a cena (rochas, solos, vegetações, águas, entre outros). A resolução temporal

está relacionada com a repetitividade com que o sistema sensor pode adquirir informações

referentes ao objeto (MORAES, 2002).

2.1.1 Comportamento espectral da vegetação

No que se refere à vegetação, podemos criar uma curva típica da vegetação em laboratório.

Esta curva consiste na medida dos valores de reflectância ao longo do espectro eletromagnético.

Segundo Gates (1980), três são os principais mecanismos que influenciam a quantidade de energia

eletromagnética refletida pelas folhas: os pigmentos existentes, os espaços ocupados pela água e ar,

e as estruturas celulares internas das folhas. Além disso, o estádio fenológico, os aspectos sanitários

e as condições climáticas também são fatores que influenciam na energia eletromagnética refletida

(MOREIRA, 2001). A Figura mostra uma típica curva de reflectância da vegetação verde,

identificando as regiões de resposta espectral de maior significância.

Figura 1. Comportamento espectral da vegetação (adaptada de Swain e Davis, 1978).

Na região do visível (0,4 a 0,7µm) a resposta espectral da vegetação é dominada pela ação

dos pigmentos fotossintetizantes (HOFFER, 1978). Estes pigmentos, geralmente encontrados nos

cloroplastos, são: clorofila (verde), caroteno (amarelo), xantofila (amarelo) e antocianina

(vermelho), sendo que as concentrações destes pigmentos podem variar intensamente de espécie

para espécie (HOFFER, 1978; PONZONI; SHIMABUKURO, 2007). Segundo os mesmos autores,

na porção do espectro visível é possível observar que na região do azul, a energia é absorvida por

todos os pigmentos (próximo a 0,445µm), mas somente a clorofila absorve na região do vermelho

(0,645µm). A maioria das plantas é moderadamente transparente na região do verde, apresentando

um pico de reflectância em 0,54µm, o que é responsável pela coloração verde da maioria das folhas.

A Figura 1 ilustra os efeitos dos diferentes pigmentos na curva de reflectância espectral da

folha. A clorofila normalmente mascara os pigmentos amarelos (carotenos e xantofilas), porém,

durante o processo de senescência ou de estresse, a clorofila geralmente desaparece, possibilitando

a dominância destes dois pigmentos, sendo este o primeiro motivo para a coloração amarelada das

folhas. As folhas na quais ocorre a predominância de antocianina apresentam uma baixa reflectância

na região espectral do azul e do verde e um aumento marcante na região do vermelho. Nas folhas

com clorofilas e antocianina, a reflectância é baixa em toda a faixa do visível em razão da absorção

diferenciada destes dois pigmentos (HOFFER, 1978).

Figura 1. Efeito de diferentes pigmentos na reflectância da folha (adaptada de Swain e Davis, 1978).

No infravermelho próximo (0,7 a 1,3µm), a reflectância aumenta notavelmente devido às

folhas verdes absorverem pouca energia. Nesta região, a resposta espectral de uma folha saudável é

dominada pela estrutura celular interna, sendo pouco afetada pelos pigmentos e pelo conteúdo de

água (HOFFER, 1978; RICHARDS, 1986). A região é caracterizada por uma alta reflectância, alta

transmitância e baixa absortância. Na maior parte das plantas, aproximadamente 45 a 50% da

energia eletromagnética é refletida, 45 a 50% é transmitida e apenas 5% é absorvida. A radiação, ao

incidir na estrutura foliar, é espalhada pela cutícula e epiderme para as células do mesófilo e

cavidades de ar, onde sofre novo espalhamento seguido de reflexões e refrações múltiplas, o que

justifica a maior reflectância nesta faixa espectral. Hoffer (1978) demonstrou que folhas com o

mesófilo lacunoso mais compacto, como as do milho, espalham menos a energia incidente,

apresentando menores valores de reflectância no infravermelho próximo, quando comparadas com

as folhas da soja.

Na região do infravermelho médio (1,3 a 2,6µm) ocorre uma forte absorção determinada

pela água, principalmente em 1,4µm, 1,9µm e 2,7µm, nas chamadas bandas de absorção

(RICHARDS, 1986). Os picos de reflectância são em 1,6 e 2,2µm, entre as bandas de absorção da

água. À medida que o conteúdo de água no interior das folhas diminui nesta região, a reflectância

aumenta, sendo que mudanças no formato típico da curva espectral começam a ocorrer apenas

quando o conteúdo de água é menor que 50% (HOFFER, 1978).

2.1 2 Comportamento espectral dos solos

Os solos consistem em uma mistura complexa de materiais com várias propriedades físicas e

químicas que podem afetar as características de reflectância e absortância. Em geral, diferentes

tipos de solos apresentam curvas com formato semelhante, mas com diferenças na amplitude,

devido à quantidade de matéria orgânica e óxido de ferro, porcentagem de areia, silte e argila, e

rugosidade da superfície (HOFFER, 1978, LILLESAND; KIEFER, 1987) Estes fatores são

variáveis e inter-relacionados, influenciando significativamente na reflectância dos solos, o que

torna sua interpretação bastante complexa.

A textura do solo é determinada pela proporção de areia, silte e argila, sendo que a

quantidade presente de cada um destes materiais é responsável pela sua nomenclatura. Solos

argilosos são compostos por partículas muito pequenas, apresentando poucos espaços livres. Já os

solos arenosos, apresentam partículas maiores, ocorrendo grandes espaços vazios, permitindo um

maior movimento de ar ou de água. A água presente no solo está localizada nestes espaços entre as

partículas e também aderida a elas (fina camada). Nos solos mais argilosos, por estes espaços serem

menores, a água não é drenada nem evaporada rapidamente, quando comparado com solos mais

arenosos, que apresentam partículas maiores e, consequentemente, espaços maiores entre as

partículas. Esta relação entre o tamanho da partícula de solo e o teor de umidade tem um impacto

significativo na resposta espectral dos solos (HOFFER, 1978). Solos mais arenosos são

normalmente bem drenados, resultando em baixa umidade e relativamente alta reflectância. Assim,

quanto maior o tamanho da partícula, menor a quantidade de água retida, consequentemente, maior

a reflectância.

Na porção visível do espectro ocorre um decréscimo na reflectância de solos mais úmidos,

em virtude de ficarem mais escuros com o aumento do teor de umidade, absorvendo uma maior

quantidade de radiação eletromagnética quando comparados com solos mais secos. Na região do

infravermelho, com o aumento da umidade, passam a ser observadas as bandas de absorção do solo,

situadas em 1, 4, 1,9 e 2,7µm (as mesmas da vegetação). Os solos apresentam também duas bandas

de absorção por hidroxilas, situadas em 1,4 e 2,2µm, presentes nos solos argilosos (RICHARDS,

1986). Solos arenosos somente apresentam bandas de absorção quando úmidos, diferentemente de

solos siltosos e argilosos, que mesmo aparentemente secos, apresentam todas as bandas de absorção

da água. Outros dois fatores que reduzem a reflectância dos solos são o conteúdo de matéria

orgânica e a presença de óxido de ferro. A Figura 2 mostra a curva de reflectância de um solo

siltoso com vários teores de umidade.

Figura 2: Curva de reflectância de solo siltoso com vários teores de umidade (adaptada de Swain e Davis, 1978)

2.1.3 Comportamento espectral da água

Ao estudar o comportamento espectral da água é importante destacar a sua diferente

interação com a radiação eletromagnética frente às diversas formas em que é encontrada

(líquida, sólida (na forma de cristais de neve ou gelo), gasosa (aerossóis)). Segundo Novo

(1998), a água no estado líquido apresenta baixa reflectância (entre 0,38µm e 0,70 µm),

absorvendo toda a radiação acima de 0,70µm. A água em forma de nuvens (gotículas de água

em suspensão – aerossóis) apresenta altíssima reflectância (entre 0,38µm e 2,5µm), com

bandas de absorção em torno de 0,10µm, 0,13µm e 0,20µm. A água em forma de neve (água

em forma de cristais) apresenta elevada reflectância entre 0,70µm e 1,2µm.

A maior parte da superfície terrestre está coberta por água no estado líquido, sendo

representada, quase que essencialmente, pelos oceanos salinos. A identificação da água na

forma líquida via dados de sensoriamento remoto pode ser realizada através da utiliza ção de

informações das regiões do infravermelho próximo e infravermelho médio, uma vez que a água

absorve grande quantidade da energia incidente nestes dois intervalos de comprimento de

onda, destacando-se dos demais alvos presentes na superfíc ie terrestre, principalmente da

vegetação (HOFFER, 1978; RICHARDS, 1986; LILLESAND; KIEFER, 1987).

Nos comprimentos de onda da região do visíve l é onde a água reflete a maior

quantidade de energia eletromagnética incidente (Figura 4). De acordo com Richards (1986),

de maneira geral, os valores de reflectância são baixos, na ordem de menos de 10% e, quanto

mais turva a água, maiores serão os valores refletidos, conforme pode ser observado na Figura

4 (HOFFER, 1978). Além disso, a presença de algas diminui a reflectância nas regiões do azul

e do vermelho e aumenta na região do verde, sendo um bom indicativo para verificar a

presença de algas no ambiente aquático (HOFFER, 1978; LILLESAND; KIEFER, 1987).

Figura 3. Curvas de reflectância da água turva e límpida (adaptada de Swain e Davis, 1978).

3. OBJETIVO

Realizar a caracterização e mapeamento do uso atual da terra, zoneamento das classes de uso e

identificação das restrições e potencialidades de uso de cada zona de modo a subsidiar o

Zoneamento Ecológico-Econômico – ZEE da área 4 – Litoral Médio do Projeto RS Biodiversidade.

4. METODOLOGIA

4.1 Área de estudo

A região do presente estudo engloba os municípios de Barra do Ribeiro, Capivari do Sul,

Mostardas, Palmares do Sul, Tapes, Tavares, São José do Norte e Viamão. Abrange uma área de

aproximadamente 18.244 km², conforme mostrado na Figura 5.

Figura 5: Área de estudo

Esta região está inserida na provìncia geomorfológoca conhecida como planície costeira, a

qual, segundo Teixeira e Neto (1986), pode ser dividida em Palnície Costeira Externa e Planície

Costeira Interna. A primeira é caracterizada pela presença marcante de dunas, sendo for mada por

depósitos sedimentares marinhos lagunares, eólicos do período Quaternário. Por sua vez, a segunda

divisão estende-se na mesma direção da linha da costa, sendo que a maior parte está localizada entre

as Lagoas dos Patos, Mirim e Planalto Sul-Riograndense.

O sistema lagunar costeiro é composto por grande número de lagoas, às vezes, formando um

verdadeiro colar paralelo à praia, interligadas, com frequência, por canais. Nesta região estão

localizadas as duas maiores lagoas do Brasil, a Lagoa do Patos e a Lagoa Mirim, sendo que a

primweira é a principal via de transporte fluvial s ligar o porto de Porto Algre aos Porto de Rio

Grande, entre outros.

No que tange a vegetação, o local é caracterizado por apresentar formações pioneiras. Nestas

áreas encontram-se espécies desde herbáceas até arbóreas, com ocorrência de variadas formas

biológicas, adaptadas às diferentes condições edáficas. As formações vegetais encontradas são de

influência marinha (restinga), fluvial (comunidades aluviais) e fluvio-marinha (manguezal e campos

salinos). Estas áreas são caracterizadas pela ocorrência de uma vegetação típica das primeiras fases

de ocupação de novos solos. Estas Formações Pioneiras não são sensíveis a grandes amplitudes

térmicas, razão pela qual são encontradas esparsamente distribuídas desde a Planície Costeira, a

leste, onde ocorrem temperaturas médias superiores a 15°C e a oeste, onde são inferiores a 15°C

durante os meses de junho, julho e agosto. Nessas áreas encontram-se espécies desde herbáceas até

arbóreas, com ocorrência de variadas formas biológicas, adaptadas às diferentes condições edáficas

reinantes. Por estarem basicamente sob influência marinha ou fluvial, estas áreas estão subdivididas

em duas formações: Áreas de Influência Marinha – “Restinga”; e Áreas de Influência Fluvial –

“Fluvial”.

4.2 Mapeamento do uso e cobertura do solo

Para a elaboração do mapa de uso e cobertura do solo da área de estudo, foram utilizadas as

imagens do satélite Spot 5 disponibilizadas pela Secretaria do Estadual de Meio Ambiente do

Estado do Rio Grande do Sul (SEMA/RS) de diferentes épocas do ano. A classificação das imagens

de satélite seguiram de forma supervisionada a partir da interpretação visual de forma, textura,

tonalidade/cor e comportamento espectral das unidades que compõe a paisagem. Segundo

Florenzano (2002), a forma consiste em uma expressão topográfica ou de contornos dos objetos ou

alvos da cena avaliada. Uma área de cultivo florestal, por exemplo, pode ser diferenciada pelas suas

formas geométricas, mesmo que as espécies sejam as mesmas encontradas em uma floresta nativa.

Já o padrão, está relacionado com o arranjo espacial dos objetivos em uma determinada superfície.

Desta forma, uma área de cultivo florestal pode ser diferenciada de uma floresta nativa pelo

espaçamento e distribuição das árvores no talhão. Por sua vez, a textura está relacionada com a

rugosidade dos objetos. Utilizando o mesmo exemplo anterior, uma área de floresta plantada tende

sempre a ter uma rugosidade menor do que uma floresta nativa, uma vez que todos os indivíduos

cultivados são da mesma espécie, são plantadas no mesmo período e recebem o mesmo manejo,

portanto, apresentam praticamente a mesma altura, o que acarreta a diminuição da rugosidade. A

tonalidade e cor constituem os dois elementos que estão intrinsecamente relacionados com a energia

refletida pelos alvos terrestres. Uma floresta natural poderá ser diferenciada de um corpo hídrico

pela maior quantidade de energia refletida nos comprimentos de onda do infravermelho,

principalmente no infravermelho próximo.

Nesta etapa de interpretação visual das imagens de satélite, foram definidos os elementos

que compõem a paisagem (classes de uso e cobertura do solo). A classificação das imagens de

satélite seguiu-se de forma supervisionada, utilizando o algoritmo pixel a pixel de Máxima

Verossimilhança Gaussiana. Este algoritmo utiliza apenas a informação espectral de cada pixel para

achar regiões homogêneas. Foram elencadas nove classes de uso e cobertura do solo, a saber: areais

(praias e dunas), campos arenosos, campos com cultivos diversificados e pastagens, floresta

estacional, mata de restinga e banhados, orizicultura, florestamento, áreas urbanizadas, lagoas e

drenagem. A Tabela 1 mostra a caracterização de cada uma das classes incluídas neste estudo.

Tabela 1. Descrição das classes de uso e cobertura do solo.

Areais: praias e dunas

As áreas ocupadas por esta classe estão, na sua essência,

localizadas na porção leste na área de estudo, compreendendo a

faixa do litoral e a porção correspondente às dunas.

Fisionomia dos areais: praias e dunas.

Detalhe da vegetação fixadora dos areais e das dunas.

Campos arenosos

Os campos arenosos compreendem uma faixa de vegetação

natural rasteira sob um solo arenoso, típico de regiões litorâneas.

Na região, estas áreas são comumentemente utilizadas para a

criação de gado.

Fisionomia dos campos arenosos com vegetação rasteira utilizada para o pastoreio.

Campos com cultivos diversificados e

pastagens

As áreas com campos com cultivos diversificados e pastagens são

representadas pela alteração da paisagem natural pelo homem.

Nesta classe estão inseridos, essencialmente, os locais com solo

exposto e agricultura. As áreas de solo exposto são aquelas

utilizadas, principalmente para a agricultura, mas que

momentaneamente não estão sendo cultivadas. As áreas

agricultura são cultivadas com culturas anuais.

Campos com cultivos diversificados e pastagens.

Floresta estacional

Nesta classe estão inseridas as formações nativas arbóreas da

Floresta Estacional ocorrentes na área avaliada em médio e/ou

avançado de regeneração.

Encosta e topo de morro apresentando floresta estacional em estágio avançado de regeneração.

Mata de restinga e banhados Esta classe compreende um conjunto de comunidades vegetais

características dessa região com forte influencia marinha.

Observam-se formações vegetais rasteiras e de porte herbáceo-

arbustiva.

Detalhe dos banhados e da vegetação associada na área de estudo.

Orizicultura Na área avaliada, o cultivo de arroz é um elemento marcante na

paisagem. Extensas áreas apresentam-se ocupadas por esta

cultura, que aparece em muitas situações, associadas com as

lagoas naturais que ocorrem na região.

A cultura do arroz é muito difundida na área do Projeto Biodiversidade.

Florestamento Na área de estudo, a silvicultura é caracterizada principalmente

pelo plantio de Pinus spp.. O Pinus é uma espécie arbórea

exótica, invasora, agressiva e contaminante, uma vez que suas

sementes se propagam com facilidade e possui capacidade de

desenvolvimento razoável, mesmo em áreas de solos rasos, o que

representa elevado risco à manutenção da integridade das áreas de

campos de altitude.

Detalhe das áreas com florestamento de espécies exóticas de Pinus.

Área urbana

A área urbana corresponde ao trecho que engloba a área

construída.

Tomada aérea da área urbana de Mostardas.

Lâmina d’água A lâmina d’água representa, essencialmente, a reservação de água

na forma de lagoas naturais e artificiais. Essa água é utilizada, em

larga escala, para a irrigação da cultura do arroz, que predomina

na região analisada.

Vista geral das lâminas de água das lagoas da área de estudo.

4. RESULTADOS

A Figura 6 mostra o mosaico das imagens do satélite Spot que abrangem a área avaliada. A

Figura 7 e a Tabela 2 são mostrados os resultados da classificação das imagens de satélite.

Figura 6: Mosaico das imagens do satélite Spot

Figura 7: Mapa de uso e cobertura do solo gerado a partir das imagens do satélite Spot

Analisando a Tabela 2 e a Figura 7 é possível observar a presença mais expressiva de áreas

com atividades agrosilvopastoris e orizicultura, seguido pelo reflorestamento, que na presente

região é essencialmente composto por Pinus elliotti.

Tabela 2: Dados de uso e cobertura do solo

Classe km² %

Florestamento 681,94 3,74

Floresta estacional 349,94 1,92

Vegetação de banhado 332,32 1,82

Vegetação de dunas 366,77 2,01

Agropastoril 2849,73 15,62

Orizicultura 2289,34 12,55

Dunas 546,41 2,99

Água 10775,8 59,06

Áreas urbanas 51,89 0,28

TOTAL 18.244,14 100,00

Figura 8: Zoneamento Eco lógico-Econômico para o mapeamento de uso e cobertura do solo.

Figura 9: Mapeamento realizado em 1992.

6. REFERENCIAS

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